Poesia e Imaginário

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Jamille Rabelo de Freitas (IC/Fapemig/UFU) Profa. Ms. Karyne Pimenta de Moura (SME / PMU) Doutoranda Kamilla Kristina S. F. Coelho e Imaginá rio

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Apresentação realizada no POEIMA - Grupo de Pesquisa Poesia e Imaginário, em 07 de outubro de 2011.

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Page 1: Poesia e Imaginário

Jamille Rabelo de Freitas (IC/Fapemig/UFU)

Profa. Ms. Karyne Pimenta de Moura (SME /

PMU)

Doutoranda Kamilla Kristina S. F. Coelho

(Capes/UFG)

Poesia e Imaginár

io

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Da essência do mito e de sua presença na literatura.

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A origem do mito e a história da humanidade

Mircea Eliade (1907 - 1986):

historiador das religiões romeno,

considerado um dos fundadores da

história moderna das religiões e

grande estudioso dos mitos.

Elaborou uma visão comparada das

religiões, encontrando relações de

proximidade entre diferentes

culturas e momentos históricos.

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• Mircea Eliade: in illo tempore, época remota,

exemplaridade. Se pauta no mito cosmogônico, a partir da

volta às origens, para, daí, explicar o surgimento de uma

dada realidade.

• “Ao relatar como o cosmos, o homem e toda a natureza

tiveram origem, o mito, sobretudo o cosmogônico, é

modelo exemplar de todos os atos humanos”. (MELLO,

2002, p. 30).

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Fundamentos dos mitos

• Repetição periódica de uma palavra reveladora;

• Situados atemporalmente;

• As histórias exemplares;

• A essência das coisas e a unidade com o universo;

• Significam o existir por aproximá-lo do sagrado.

• Homem – mundo;

• O Ser e a Palavra.

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Mito e literatura

“(...) os mitos sobrevivem na produção literária –

lenda épica, balada, romance – ou, de forma

atenuada, nas superstições, hábitos, nostalgias,

sem que com isso percam suas estruturas e

valores.”(Idem, ibidem, p. 32)

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• A relação entre os mitos e a enunciação de atos

exemplares de seres sobrenaturais ou excepcionais entre

os humanos.

• Adolpho Crippa, em Mito e cultura (1975): Os mitos

“reproduzem ou repropõem gestos criadores e

significativos”.

• A consciência humana conhece a verdade e emite valores

a partir dos mitos.

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Adolpho Crippa:

• A consciência mítica e a consciência humana.

• Os mitos fundamentam capacidades ilimitadas.

• Manifestam-se em todas as forças expressivas.

• Assimilável pelo espírito humano, anterior a qualquer

formulação lógica.

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Claude Lévi-Strauss (1908 -2009)

• Antropólogo social, professor e

filósofo francês. Fundador da

antropologia estruturalista.

• Investigou os povos indígenas do

Brasil, em campo, de 1935 a 1939

e publicou uma extensa obra,

reconhecida a respeito da

influência dos mitos para a

humanidade.

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Lévi-Strauss:

• Mediante investigações antropológicas, foi percebida

na mente humana a capacidade de ser a mesma em

qualquer época e contexto. As mentes se diferenciam

de acordo com as culturas.

In: Mito e significado (1985)

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C. G. Jung (1875- 1961)

• Psiquiatra suíço fundador

da psicologia analítica.

• Deixou contribuições para a

Antropologia, Sociologia e

Psicologia.

• Investigou os arquétipos

que constituem o

inconsciente coletivo.

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• Os mitos estão vivos no inconsciente humano, nas

produções e nos sonhos.

• Retorno à origem e à essência das coisas a partir dos

arquétipos.

• Arquétipo: “do grego arkhétypon, modelo primitivo,

ideia inata.”

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C. G. Jung e o inconsciente coletivo

• Estrutura cerebral herdada que produz imagens

primordiais coletivas.

• “O inconsciente coletivo, ao contrário do individual, é

idêntico em todos os homens e constitui o

fundamento psíquico universal, presente em cada ser

humano.”(Idem, ibidem, p. 36)

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Mitos e arquétipos

“No mito, o molde arquetípico manifesta-se em

imagens simbólicas, provenientes da psique

coletiva. (...) Os arquétipos manifestam-se através

dos símbolos, que dão corpo aos significados

latentes no inconsciente suprapessoal ou coletivo e,

ao mesmo tempo, enviam ao inconsciente pessoal

mensagem que fornece elementos para o encontro

dos sentidos buscados no desenrolar da vida.”(Idem,

ibidem, p. 38)

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Mitos e literatura

•A

literatura se serve da dupla funcionalidade

do mito, estrutural (é uma narrativa) e

semântica (revelação).

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Gilbert Durand (1921 - )

“O mito é um sistema

dinâmico de símbolos,

arquétipos e esquemas,

sistema dinâmico que, sob

o impulso de um esquema,

tende a se compor em

narrativa.”

(Idem, ibidem, p. 38)

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E. M. Mielietinski

• Mito e literatura se assimilam desde as origens:

• Narrativa;

• Drama e lírica;

• O renascimento até o século XVII;

• Hamlet e Dom Quixote;

• O romantismo.

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• Mito: revelador de verdades atemporais e critica a

sociedade contemporânea.

• A mitologia tradicional se expressa de outras formas

>> James Joyce e Thomas Mann.

• Passado e presente se aproximam na literatura

latino-americana.

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Motivos da tradição mítica recuperados no teatro contemporâneo

• Contexto: Guerras Mundiais e situações de opressão

cultural, ideológica, social.

• Duas reescrituras de Antígona de Sófocles: Antigone de

Jean Anouilh e A Antígona de Sófocles de Bertolt Brecht,

ambas produzidas na década de 40 do século XX, no

contexto da Segunda Guerra Mundial.

• Antígona é a voz que se levanta contra o poder para

denunciar seus abusos:

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“Não te bastava

Reinar sobre os irmãos da própria cidade,

A doce Tebas, onde

Se vive sem medo, na sombra das árvores;

Tu tinhas que arrastá-los a Argos distante,

E dominá-los também ali. A um converteste em

verdugo

Da pacífica Argos, mas ao outro apavorado,

Exibe-o agora despedaçado para apavorar o teu povo.”

(BRECHT, 1993, p. 217)

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• A Antígona brechtiana recusa-se a compreender ou a

silenciar seus protestos.

• Determinação e coragem, os mesmos traços já

presentes na criação sofocliana, que ultrapassam os

limites do tempo. “Assim como a guerra é uma presença

constante na história da humanidade, também a atitude

de Antígona de afrontamento do poder pretende ser um

modelo indelével para gerações presentes e

futuras.”(PASCOLATI, p. 1866, 2006)

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Nelson Rodrigues: Álbum de Família, Anjo Negro, Doroteia, Senhora dos

Afogados

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Mito e

Poesia

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Mito e poesia

“Mito e linguagem brotam do mesmo impulso de formação

simbólica, a partir de uma experiência emotiva. Da mesma

fonte indivisível deriva a arte, especialmente a poesia, que,

‘em determinados motivos míticos-mágicos’, mantém

conexão com esse estágio anterior, solo do mito.” (p.p. 43-

44)

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Os cantos e os mitos• T

emas: assuntos sobrenaturais;

• P

resença de ritmo e melodia como recursos mnemônicos;

• A

proximação entre o homem e os mistérios que envolvem a condição humana;

• M

anifestação da linguagem: dimensão simbólica.

“Os temas

sagrados são matéria essencial desses cantos primeiros. Rodeado de dúvidas

impenetráveis, o homem primitivo procura dominá-las através da palavra,

estabelecendo uma relação menos distanciada com os mistérios que o

envolvem.” (p. 45)

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Os arquétipos e as imagens simbólicas

“Essas imagens [os arquétipos] são símbolos arquetípicos que se

expandem por muitas obras literárias e, assim, passam a pertencer

à literatura como um todo. É próprio do símbolo, ou ‘arquétipo’ (...)

o caráter da permanência na tradição literária, porque constitui

patrimônio cultural da humanidade.” (p.48)

O poema lírico, ao privilegiar as imagens simbólicas, bem como as

metafóricas (...), provoca a ruptura com a linguagem cotidiana e,

desse modo, instaura o ‘sagrado’. Nesse sentido, ‘poesia é

mitologia’; em suas manifestações primitivas, ‘limita-se a dizer o

sagrado e talvez nunca cesse de sacralizar, mesmo quando parece

laicizar-se”. (p. 48)

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“[...] poesia é símbolo ou expressão simbólica – linguagem

que se oculta e se mostra, ao mesmo tempo; poesia é ritmo

que faz pulsar as palavras e possibilita o retorno a um tempo

original, no ato de criar e em cada ato de leitura; expressão

simbólica e movimento rítmico associam-se para proceder a

uma revelação”. (p. 53)

“Os poetas são os intérpretes da consciência humana, lugar e

princípio gerador das representações mitológicas e poéticas.

Ao poetizar, o artista dissolve os contornos do eu e do

mundo, ratificando a unidade”. (p. 56)

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“Mito e poesia são, assim, produções da cultura humana

que têm em comum certo uso da linguagem, que difere do

profano ou do prosaico. Traços de origem arcaica e mítica

marcam a produção poética na sua evolução até a

modernidade, e o deciframento do poema lírico exige, em

primeiro lugar, a compreensão dos elementos e categorias

que nele predominam”. (p. 57)

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ÓrficaNão me destruas, Poema,enquanto ergoa estrutura do teu corpoe as lápides do mundo morto.Não me lapidem, pedras,se entro na tumba do passadoou na palavra-larva.Não caias sobre mim, que te ergo,ferindo cordas duras,pedindo o não-perdidodo que se foi. E tento conformar-teà forma do buscado.Não me tentes, Palavra,além do que serásnum horizonte de Vésperas. (SILVA, 2004, p. 30)

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Referências• BRECHT, Bertolt. A Antígona de Sófocles. In: Teatro completo. Rio

de Janeiro: Paz e Terra, 1993.

• CRIPPA, Adolpho. Mito e cultura. São Paulo: Convívio,1975.

• DURAND, Gilbert. Les structures anthropologiques de

l’imaginaire. Paris: Bordas,1984.

• LÉVI-STRAUSS, Claude. Mito e significado. Lisboa: Ed. 70, 1985.

•MELLO, Ana Maria Lisboa de. Poesia e imaginário. Porto Alegre:

EDIPUCRS, 2002.

•PASCOLATI, Sônia Aparecida Vido. Faces de Antígona no teatro

moderno. In: Revista Estudos Linguísticos. Araraquara: Editora

UNESP, 2006.

•RODRIGUES, Nelson. Teatro completo. (Org.) Sábato Magaldi. Rio

de Janeiro: Nova Aguilar, 2003.

• SILVA, Dora Ferreira da. Hídrias. São Paulo: Odysseus, 2004.