Platão e a Teoria do Conhecimento

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Platão e a Teoria do Conhecimento

O presente texto tem por base a exposição presente no livro Introdução à História da Filosofia, no capítulo dedicado a Platão, cujo título é Platão e o nascimento da razão ocidental, de Marilena Chauí.

Vejamos, então, a noção de modos de conhecimento, onde se distingue “os meios para adquirir conhecimento, o próprio conhecimento e o objeto conhecido”.

I I I I IA D C E B

AB: totalidade do sensível e do inteligívelAD: eikasiaDC: pístia, doxaCE: diánoiaEB: nóesis

Entre as partes estabelece-se uma proporcionalidade rigorosa:Assim, AC/AD = CB/EB e DC/CE = AD/EB

Vejamos outra representação:

O primeiro grau é a eikasía, palavra da mesma raiz de eikón (imagem, ícone), indica aquelas coisas que são apreendidas numa percepção de segunda mão, isto é, são as imagens de uma coisa sensível, como os reflexos no espelho ou na água, pinturas, esculturas, imagens na memória. Este primeiro nível costuma ser traduzido por imaginação, com o sentido de imagem que é cópia da coisa sensível. Platão também fala em simulacro. Assim, a poesia, a pintura, a escultura, a retórica pertencem a esse nível mais baixo do conhecimento, porque nos oferecem uma imagem da coisa sensível e não a própria percepção da coisa sensível. A eikasía é uma conjuntura feita a partir de imagens ou de reflexos das coisas.

O segundo grau é a pístis (crença) ou doxa (opinião), isto é, a confiança que depositamos na sensação e na percepção. É um conhecimento necessário para o uso da vida, tendo por objeto as coisas naturais, os seres vivos, os artefatos, etc. É a opinião acreditada sem verificação; conhecimento que não foi demonstrado nem provado, mas

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passivamente aceito por nós pelo testemunho de nossos sentidos, por nossos hábitos e também pelos costumes nos quais fomos educados. Varia de pessoa para pessoa, de sociedade para sociedade, de época para época. É subjetivo e convencional.

O terceiro grau é a dianóia, isto é, raciocínio dedutivo ou demonstrativo ou raciocínio discursivo. É o conhecimento dos objetos matemáticos (aritmética, geometria, estereometria, música ou harmonia, astronomia, tudo quanto se refere a estruturas proporcionais). A matemática surge, assim, como um método de conhecimento que nos permite passar da aparência (imagem e crença-opinião) a um primeiro contato da inteligência com a essência das coisas. Duas de suas características principais explicam por que não é ela a forma mais alta do conhecimento. Em primeiro lugar, o matemático precisa representar ou ilustrar sensivelmente seu objeto por meio de linhas, pontos, traços, superfícies e diagramas; embora seu objeto seja puramente ideal e não material, para compreendê-lo o matemático ainda precisa recorrer a representações sensíveis. Em segundo lugar, cada ramo da matemática começa pela admissão de princípios não questionados nem demonstrados, isto é, axiomas, postulados e definições, cuja verdade é assumida sem que sua causa seja conhecida. Em outras palavras, a diánoia é o pensamento que opera hipoteticamente, por raciocínios que concluem de modo correto e verdadeiro a partir de premissas não demonstradas, isto é, de hipóteses. É o conhecimento hipotético-dedutivo.

O quarto grau ou quarto modo é a episteme (ciência, isto é, saber verdadeiro), palavra da mesma família do verbo epístamai que significa saber, pensar, conhecer, no sentido de algo adquirido e possuído (ter um saber, ter um conhecimento). Mas o quarto modo é também nóesis (ação de conceber uma coisa pelo espírito ou pelo intelecto, ato intelectual de conhecimento), palavra derivada do verbo noéo (compreender pelo pensamento, inteligir). Este nível, o mais alto, é o que conhece as essências, que Platão designa com a palavra eîdos, a idéia, a forma inteligível, a verdade incondicionada, o princípio. A dialética é o movimento que permite à alma, subindo de hipótese em hipótese, chegar ao não-hipotético, isto é, não condicionado por outra coisa, ao princípio verdadeiro, à idéia. Aqui, o pensamento trabalha exclusivamente com as formas inteligíveis, indo de umas a outras, sem nunca recair no raciocínio hipotético, nem na opinião, nem no simulacro.