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    PLANTAS MGICAS:VISO ESPIRITUAL

    Vera FresAntonio Rocha

    H duas espcies de conhecimento: huma cincia e uma sabedoria mdica.

    A compreenso animal pertence ao homem

    animal, mas a compreenso dos mistriosdivinos pertence ao esprito de Deus nele.

    (Fundamento Sapientia - Paracelso)

    O conhecimento indgena do poder curativo das plantas tem provocado espanto nacincia contempornea, pois trata de um outro tipo de cincia, muito antiga, quedifere dos princpios da lgica e dos cinco sentidos convencionais, conduzindo a

    estados alterados de conscincia.Richard Schultes, um dos maiores botnicos do mundo moderno, afirma que tratardesse assunto um verdadeiro desafio, pois, dentro da medicina indgena, asdoenas do corpo e da alma esto intimamente ligadas.

    A Amaznia a regio que abriga a maior quantidade de espcies botnicas verdadeira riqueza natural , que manifestam no homem no s foras orgnicascomo espirituais.

    As divindades existentes nas plantas so manipuladas com sabedoria peloxama-nismo amaznico, tradio importantssima baseada no uso de plantassagradas como o cip jagube (Banisteriopsis caapi) e a folha rainha (Psychotriaviridis), que em cozimento originam o ch ayahuasca, conhecido como santodailme, vegetal, ag, camampi etc...

    O cip, para os ndios, fator de todo o saber e em seus rituais mgicos lhesper-mite prever o futuro, comunicar-se com os antepassados, descobrir os inimigose as causas das doenas. Para as comunidades que utilizam o santo daime, odespertar para o mundo espiritual, instrumento de revelao para o autoconhe-cimento.

    O ch daime tem obtido sucesso nas doenas nervosas, leishmaniose (feridabraba), mal de Parkinson, malria e cncer, desintoxicando o organismo eestabe-lecendo o equilbrio teraputico do doente. tambm utilizado para

    fornecer o diagnstico e indicar o tratamento das doenas.O que acontece com o xam que toma o daime um desdobramento de suapessoa, que consegue, por meio da concentrao, sair do prprio corpo e ver quala doena ou problema que o outro tem; da mesma forma como acontece com oefeito Kirlian, quando se v a aura.

    Os xams entendem que a sade depende do perfeito equilbrio do corpo, dossentidos, da mente e do esprito, da a necessidade de todos os canais estarem

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    desobstrudos para que a energia possa fluir e assim obter resultados satisfatrios.A sade encarada como uma ddiva de Deus e muitas vezes as doenasacontecem pela desarmonia da pessoa com a realidade espiritual nessa vida ouem encarnaes passadas. Por isso, para se obter a cura, necessrio tambmter merecimento, pois algumas doenas so crmicas e no tm remdio, s a

    compreenso espiritual.A utilizao de ervas medicinais muito Importante para o xam ou curandeiro,pois muitas receitas dependem do seu conhecimento no preparo do medicamento,ou seja, a bebida mgica. No caso, o santo daime ir mostrar a ele quais as ervasque aquela pessoa precisa para se restabelecer.

    O ch usado tambm no parto das mulheres, pois acelera as contraes,facilitando o trabalho. E cercado de um ritual prprio, onde todos os que deleparticipam tambm ingerem a bebida. Quando a criana chora, o sinal de que oesprito encarnou naquele ser.

    Ayahuasca, assim como o peyote (Echinocactus vilianosii), utilizado pelos ndios

    mexicanos, e a marijuana (Carinabis sativa) de uso dos ndios guajajaras doMaranho, so Plantas Mestras que abrem a percepo e nos permitem umaentrada a estados de realidade diferentes do nosso cotidiano. Constitui-se em umoutro plano ou dimenso de existncia em que se confundem os limites de tempo eespao, fazendo-se tudo presente. O Universo no s o mundo que a nossacultura acostumou-se a ver, mas vrios mundos superpostos e paralelos.

    O rito de transio ao qual o doente se submete num ritual com Plantas Mgicas no caso do santo daime uma forma de medicina muito antiga, anterior aosincas, que renasce na regio amaznica a partir do conhecimento ancestral dosgrupos indgenas que vivem na regio.

    Ayahuasca, Liana dos Espritos

    Aqui encontramos um exemplo dinmico da magia vegetal, que as comunidadesindgenas amaznicas nos apresentam. Trata de um ritual, legado de antigas luminosas civilizaes: a utilizao das plantas mgicas, plantas de poder para acura de todas as enfermidades. Para falar da ritualstica da ayahuasca (bebida queabre os olhos do esprito) devemos discorrer sobre a natureza de duas esp-cies

    vegetais: o cip jagube (Banisteriopsis caapi) e a folha rainha (Psichotria viridis),pois do casamento dessas plantas que obtemos a bebida milagrosa, a luz queassinala o caminho do viajante.

    O descobrimento desse ch requereu do seu autor grande conhecimento dabotnica oculta capaz de gerar com essa unio vegetal investigando, na naturezadas plantas, duas que realizassem o processo alqumico um elementalpodero-sssimo (um rei sol coroado).

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    Banisteriopsis Caapi

    uma planta do elemento fogo, muito seca e de natureza grave (masculina). Ela a cobra de fogo que anda no meio do fogo mas que necessita da umidade paramultiplicar-se. Essa umidade e frieza de que carece a finalidade da sua natureza,pois com ela se completa e se nutre: como o ventre e a matriz contendo overdadeiro calor natural para animar o nosso jovem Rei (Nicholas Flamel O Livrodas Figuras Hieroglficas). No por outra razo que constatamos nos rituaismgicos do santo daime diversas aluses prprias da alquimia: Sol e Lua omasculino e o feminino naturezas opostas que se completam no propsito degerar a vida. E como diz Flamel em suas Figuras Hieroglficas: So o sol e a luade fonte mercurial e origem sulfurosa que pelo fogo continuado ornam-se de

    hbitos reais para vencer toda coisa metlica, slida, dura e forte assim queestiverem unidos num s (Sol-Lua) e mudados em quintessncla.

    O Banisteriopsis um vegetal gneo e se une Psychotria viridis (do elementogua) num ritual mgico. O fogo um elemento misterioso e ningum conhece asua composio qumica. O fogo anima toda a vida mas no pode, segundo osalquimistas, viver sem a gua, pois nela que ele habita e dela que obtm a suapotncia. E o esprito de Deus se movia sobre a superfcie das guas. E disseDeus, seja feita a luz e a luz se fez. O fogo do esprito fecunda as guas da vida.No entanto o fogo no pode unir-se gua bruta e necessita ento transmut-laem vapores. Exemplos dessa alquimia encontramos na natureza as guasevaporando e transformando-se em nvens que a seguir se transmutam em fogo

    (raios), precipitando-se ento para baixo como chuva e novamente as guaslibertam o fogo que h em toda semente. Dessa maneira, afirma o sbioalquimista:

    Tens, portanto, duas naturezas casadas onde uma concebeu a outra, e por essaconcepo est convertida em corpo de macho e o macho no de fmea, isto ,foram feitos um S corpo que o andrgino dos antigos... Desta maneirarepresento-te que tens duas naturezas reconciliadas que (se forem conduzidas eregidas sabiamente) podem formar um embrio na matriz do vaso e depois dar-te aluz um Rei poderosssimo, invencvel e incorruptvel, porque ser urnaquintessncia admirvel.

    A magia vegetal, ao utilizar o Banisteriopsis c. e a Psychotria v., reproduz todos osprocessos da alquimia interior a gnese mediante a sbia transmutao doselementos. Casando ambas as naturezas vegetais fogo e gua; masculina efeminina o fogo fecundando a gua, convertendo-se em um s corpo e dandoorigem a uma terceira fora obtemos isto que, com tanta propriedade, osseguidores da doutrina do santo daime dizem em seus hinos: Eu no me chamodaime, eu sou um Ser Divino. Um ser originado das naturezas divinas de duasespcies vegetais, com as qualidades do fogo e da gua, que fogo e gua ao

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    mesmo tempo.

    Este um segredo que somente os alquimistas profundos conhecedores dastransmutaes dos elementos poderiam conceber.

    Psychotria Viridis

    uma planta do elemento gua. Sua natureza fria e de grande umidade. Assimcomo grande parte das plantas desse elemento, a Psychotria v. (responsvel pelosefeitos psicodlicos da ayahuasca) possui um forte efeito luminoso e sedante.

    Para os iniciados na ayahuasca, fica evidente que so as folhas da Psychotriaviridis que abrandam os efeitos do cip. Isto quer dizer que as folhas so suaves edo o conforto da Me e o cip, com sua natureza severa, d a fora e corrige

    como um Pai.O preparo da ayahuasca obedece a uma ritualstica. Essa ritualstica simboliza erealiza a perfeita transmutao dos elementos: gua e fogo (as naturezas internasdesses vegetais) manipulados durante o processo de magia vegetal.

    A alquimia que aqui se realiza compara-se ao processo da criao da vida agnese dos mundos: E disse Deus, seja feita a luz e a luz se fez... isto porque ofogo movia-se sobre as guas e pde fecund-la para que nascesse a luz.

    Esses dois elementos vegetais (Banisteriopsis c. e Psychotria v.) de naturezasopostas podem fecundar-se mediante procedimentos da magia vegetal para dar aluz ao Menino de Ouro um ser de incontveis poderes, de natureza flamgera,encerrado no lquido da ayahuasca.

    Para trabalhar com os gnios elementais das plantas, o alquimista necessita demeios prprios, digo, ferramentas. Assim como quando mexemos com aeletricidade necessitamos de ferramentas adequadas: os rituais so chaves comas quais podemos abrir algumas portas, intransponveis para o mundano. Aritualstica tem um fim que exatamente o de chamar a fora para manipul-la,mas somente iniciados podem faz-lo, pois tm autoridade e, antes de tudo,conhecimento. Aquele que no conhece os procedimentos adequados nada podefazer, ainda que o deseje.

    Nas ritualsticas o verbo representa Importante papel: No incio era o Verbo e o

    Verbo estava com Deus e Deus era o Verbo. Assim que os cnticos e mantrasso entoados durante a colheita dos vegetais a quem solicitamos ajuda. No casoda ayahuasca, canta-se, durante todo o preparo do ch, a msica inefvel dosanjos. E como cada uma das espcies vegetais complementar outra em suanatureza Interna masculino e feminino o trabalho de feitio da bebida mgica dividido entre homens e mulheres: os homens colhem e contundem o cip, e asmulheres trabalham com as folhas. Somente os homens devem entrar na matapara reconhecer e colher o cip que de natureza masculina , depois esmag-lo

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    com marretas de madeira. Este um trabalho rduo, que requer a fora masculina.As mulheres so encarregadas da colheita e limpeza das folhas da Psychotria v., oque feito uma a uma. Este um trabalho delicado e prprio da natureza feminina.Durante o feitio, todos consomem a ayahuasca e o silncio s cortado peloscnticos de louvor e graa. Depois, nas panelas, depositam-se cip e folha para

    ferver somente os homens podem manusear o fogo. As mulheres menstruadas soproibidas de participar do ritual de fabricao da bebida sob pena de gorar todo oprocesso.

    H notadamente nesse ritual mgico um casamento entre duas naturezas. Assimcomo da unio entre um homem e uma mulher resulta um terceiro ser, obtemos ofilho Divino da unio entre dois seres elementais, chispas divinas potentes doselementos. Essa alquimia que realizamos no reino vegetal o que pede a naturezadessas duas espcies botnicas a natureza de um quer se completar na do outro ecom a do Outro: um rei no pode viver longe de sua rainha.

    Essa ritualstica portentosa! Ela segue os princpios fundamentais da alquimia eencerra o segredo dos sbios filsofos, aquele segredo que no se pode revelarabertamente sob o risco de sermos considerados loucos.

    Essas plantas de poder que constituem o sumo da ayahuasca, por tudo o que foidito. Devem ser utilizadas em rituais com a finalidade de clarear o nosso universointerior, para que possamos empreender um estudo cada vez mais profundo denossas partes desconhecidas estudo de si, observao de si, trabalho sobre si.

    No ritual do santo daime, observamos que homens e mulheres formam umacorrente contrria e contnua de bailados que se harmonizam com a msica, postoque estes plos contrrios, energias criadoras de toda a natureza Deus Pai-Me, fundem-se em um ponto para gerar a vida, magnfica obra de criao.

    Essas energias so muito bem definidas e representadas em todos os processosrituais que envolvem o ch luminoso do esprito e em tudo este preceito evidenciado, pois nem mesmo o Ser Divino elemental da ayahuasca poderiareceber a vida se tambm para Ele no houvesse um Pai e uma Me.

    Assim que o cip, potncia elemental vigorosa masculina, fecunda com o seufogo as guas elementais da Psychotria viridis princpio feminino por suanatureza convertendo-se ambos em um s corpo, juntando o que se encontravaseparado na natureza.

    Somente os homens que mergulharam no profundo oceano de si prprio possuemeste entendimento, pois nesta vastido insondvel encontram finalmente a prolaoculta dos sbios.

    Plantas Mgicas: Viso EspiritualConstitui o 2 captulo do livro

    Alquimia Vegetal, de Vera Fres eAntonio Rocha Ed. Nova Era, 1977