PLANTAS MEDICINAIS TROPICAIS E … · Universidade Nova de Lisboa Instituto de Higiene e Medicina...

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UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA INSTITUTO DE HIGIENE E MEDICINA TROPICAL PLANTAS MEDICINAIS TROPICAIS E MEDITERRÂNICAS COM PROPRIEDADES BIOCIDAS NO CONTROLO DE INSETOS VETORES DE AGENTES PATOGÉNICOS DIARA KADY MONTEIRO VIEIRA LOPES ROCHA DISSERTAÇÃO PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM CIÊNCIAS BIOMÉDICAS, ESPECIALIDADE DE PARASITOLOGIA (JANEIRO, 2014)

Transcript of PLANTAS MEDICINAIS TROPICAIS E … · Universidade Nova de Lisboa Instituto de Higiene e Medicina...

  • UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA

    INSTITUTO DE HIGIENE E MEDICINA TROPICAL

    PLANTAS MEDICINAIS TROPICAIS E MEDITERRNICAS

    COM PROPRIEDADES BIOCIDAS NO CONTROLO DE

    INSETOS VETORES DE AGENTES PATOGNICOS

    DIARA KADY MONTEIRO VIEIRA LOPES ROCHA

    DISSERTAO PARA A OBTENO DO GRAU DE DOUTOR EM CINCIAS

    BIOMDICAS, ESPECIALIDADE DE PARASITOLOGIA

    (JANEIRO, 2014)

    http://www.google.pt/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&docid=w72twTN6gPPc9M&tbnid=E8vr6_YseiV1KM:&ved=0CAUQjRw&url=http://www2.dq.fct.unl.pt/SBEgroup/contacts.html&ei=7ipIUq6EL6yP7Aabp4CIAg&bvm=bv.53217764,d.ZGU&psig=AFQjCNGoKLZVbr-Ex28wt5Ci0o5rdicemA&ust=1380547656694629

  • Universidade Nova de Lisboa

    Instituto de Higiene e Medicina Tropical

    Plantas medicinais tropicais e mediterrnicas com propriedades biocidas no

    controlo de insetos vetores de agentes patognicos

    Autor: Diara Kady Monteiro Vieira Lopes Rocha

    Orientadora: Professora Doutora Maria Teresa Loureno Marques Novo (Prof.

    Auxiliar, Instituto de Higiene e Medicina Tropical /Universidade Nova Lisboa

    (IHMT/UNL); Unidade de Parasitologia e Microbiologia Mdicas (UPMM)/ Fundao

    para a Cincia e Tecnologia (FCT))

    Coorientadoras:

    Doutora Olvia Cruz de Matos (Investigadora Auxiliar, Instituto Nacional Recursos

    Biolgicos /L- Instituto Nacional Investigao Agrria e Veterinria; UPMM/FCT)

    Prof. Doutora Marilena Djata Cabral (Coordenadora, Departamento de Cincias

    Biolgicas/Universidade de Cabo Verde)

    Dissertao apresentada para cumprimento dos requisitos necessrios obteno do

    grau de Doutor do Ramo de Cincias Biomdicas e Especialidade de Parasitologia)

    Apoio financeiro da Fundao Calouste Gulbenkian, no mbito do Programa Doenas

    Tropicais Negligenciadas para Licenciados dos PALOPS.

  • ii

    Elementos bibliogrficos resultantes da dissertao

    Publicaes relevantes

    Rocha, D. K.; Matos, O.C.; Moiteiro, C.; Cabral, M.D. & Novo, M.T., 2013. Plantas

    Medicinais Tropicais e Mediterrnicas com Propriedades Biocidas para o Controlo de

    Insetos Vetores. Anais do IHMT, 12: 60-65.

    Rocha, D. K.; Matos, O.C.; Cabral, M.D. & Novo, M.T., 2013. Efeito de leos

    essenciais de Mentha pulegium e Foeniculum vulgare sobre Aedes aegypti (Linnaeus,

    1762). Colquio Internacional Cabo Verde e Guin Bissau, Lisboa. Atas do Colquio

    Internacional Cabo Verde e Guin-Bissau: Percursos do Saber e da Cincia.

    http://coloquiocvgb.wordpress.com/actas/atas-comunicacoes/

    Rocha, D. K.; Matos, O.C.; Novo, M.T.; Delgado, M. Figueiredo, C. & Moiteiro, C.

    Chemical composition and larvicidal activity of leaf essential oils from Mentha

    pulegium and Foeniculum vulgare. Em fase de resubmisso.

    Rocha, D. K.; Novo, M.T., Moiteiro, C. & Matos, O.C. Larvicidal property of Mentha

    pulegium essential oils against Anopheles sp. and Aedes aegypti, 1762, from

    Macaronesia Island. Em fase de resubmisso.

    Publicaes em congressos nacionais e internacionais

    Rocha, D. K. Matos, O.C.; Moiteiro, C., Cabral, M.D. & Novo, M.T., 2013. Larvicidal

    properties of tropical and Mediterranean plants in the control of dengue and malaria

    vectors. Livro de resumos do Encontro Internacional das Doenas Tropicais

    Negligenciadas nos PALOP, realizado no dia 31 de outubro, Fundao Calouste

    Gulbenkian, Lisboa (Comunicao Oral), 14 e 15.

    Rocha, D. K. Matos, O.C.; Moiteiro, C.; Figueiredo C.; Delgado, M.; Amaro, A.;

    Liberato, M.C.; Cabral, M.D. e Novo, M.T., 2013. Bioatividade de plantas tropicais e

    mediterrnicas no controlo de Aedes aegypti. Poster apresentado no mbito do Encontro

    Internacional das Doenas Tropicais Negligenciadas nos PALOP, realizado no dia 31 de

    outubro, Fundao Calouste Gulbenkian, Lisboa.

    Rocha, D. K. Matos, O.C.; Moiteiro, C., Figueiredo C., Cabral, M.D. & Novo, M.T.,

    2013. Insecticidal activity of tropical and mediterranean plant product against Aedes

    aegypti larvae. The International Society for Neglected Tropical Diseases - ISNTD

    Bites 2013 Conference, Royal Geographical Society, 15 de outubro, Londres, (Poster).

    Rocha, D. K.; Matos, O.C.; Cabral, M.D. & Novo, M.T., 2013. Plantas Medicinais

    Tropicais e Mediterrnicas com Propriedades Biocidas para o Controlo de Insetos

    Vetores de Agentes Patognicos, 2 Congresso Nacional de Medicina Tropical, 22 e 23

    de abril, Instituto de Higiene e Medicina Tropical, Lisboa, (Comunicao Oral).

  • iii

    Rocha, D. K., 2013. Potential of Tropical and Mediterranean plants against vector

    control of dengue and malaria. Workshop Bioplant, Plant Natural Products and

    Biotechnology, 25 a 27 de fevereiro, Department of Biology, FCUP IBMC - Instituto de

    Biologia Molecular e Celular, Porto, (Comunicao Oral).

    Rocha, D. K.; Moiteiro, C.; Delgado, M., Novo, M.T., Matos, O.C., 2012. Biological

    activity of two essential oils and their constituents against Aedes aegypti. Acta

    Parasitologica Portuguesa, 19 (1/2), XVI Congresso Portugus de Parasitologia, 29-30

    novembro, Lisboa: 112, 113 (Comunicao Oral).

    Rocha, D. K., Matos, O.C., Novo, M.T., Delgado, M. & Moiteiro, C., 2012. Chemical

    compositions and larvicidal activity of essential oils from Mentha pulegium and

    Foeniculum vulgare. Abstract Book 43rd International Symposium on Essential Oils, 5-

    8 September, Lisbon (ISEO2012): 72 (Poster)

    http://ihmtweb.ihmt.unl.pt/download/DiaraRocha/resumo_Simposio_EO.pdf

    Rocha, D. K., Matos, O.C. Cabral, M.D. & Novo, M.T., 2012. Bioactivity of aromatic

    plants of Tropical and Mediterranean in insect vectors of pathogenic agents. Abstract

    book XV Congresso Ibrico de Entomologia, 2-6 Setembro, Angra do Herosmo,

    Aores:158. (Comunicao Oral).

    http://ihmtweb.ihmt.unl.pt/download/DiaraRocha/Congresso_Ibericovf.pdf

    Rocha, D. K.; Matos, O.C.; Cabral, M.D. & Novo, M.T., 2012. Plantas Medicinais

    Tropicais e Mediterrnicas com Propriedades Biocidas para o Controlo de Insetos

    Vetores de Agentes Patognicos, III Jornadas Cientficas do Instituto de Higiene e

    Medicina Tropical / UNL, 12 de dezembro, (Prmio da melhor Comunicao Oral).

    Rocha, D. K.; Moiteiro, C.; Delgado, M., Novo, M.T., Matos, O.C., 2012. Biological

    activity of two essential oils and their constituents against Aedes aegypti. Acta

    Parasitologica Portuguesa, 19 (1/2): 112,113, XVI Congresso Portugus de

    Parasitologia, 29-30 de novembro, Lisboa, (Comunicao Oral).

    Rocha, Diara K., 2011. Plantas medicinais tropicais com propriedades insecticidas

    (Tropical medicinal plants with insecticidal caracteristics). I Colquio Garcia de Orta.

    Plantas Medicinais. 12 de abril. IHMT, Lisboa, (Comunicao Oral).

    http://ihmtweb.ihmt.unl.pt/download/DiaraRocha/Seminario_GarciadeOrta.pdf

    Rocha, D., 2011. Substncias naturais de origem vegetal com propriedades inseticidas.

    Jornadas sobre a Problemtica da Investigao Cientfica na Uni-CV, Universidade

    Cabo Verde, Praia, fevereiro (Comunicao Oral).

    http://ihmtweb.ihmt.unl.pt/download/DiaraRocha/Congresso_Ibericovf.pdfhttp://ihmtweb.ihmt.unl.pt/download/DiaraRocha/Seminario_GarciadeOrta.pdf

  • iv

    minha filha Ana Margarida,

    ao meu marido Jorge Rocha

    e minha me Ana Rylde

  • v

    Agradecimentos

    Quero agradecer a Deus, pela constante fora que me tem dado ao longo destes trs

    anos e pela Sua imensa Graa nos nfimos detalhes da vida.

    Agradeo Professora Doutora Maria Teresa Novo, por ter aceite ser minha

    Orientadora e pela reviso dos trabalhos, bem como pela amizade demonstrada.

    Co-orientadora Doutora Olvia Matos, os meus agradecimentos por tudo quanto me

    tem ensinado, desde o Mestrado e agora nos trabalhos realizados no mbito da tese de

    Doutoramento. Agradeo, tambm, pelo rigoroso suporte cientfico, pela forma clere

    com que respondia a todos os meus e-mails e pela amizade que me dispensou ao

    longo destes anos.

    Professora Marilena Djata Cabral, agradeo a disponibilidade dispensada, mesmo

    estando geograficamente distante, em ser Co-orientadora deste trabalho.

    Professora Doutora Carla Sousa, agradeo a diligncia com que aceitou integrar a

    minha Comisso tutorial.

    Fundao Calouste Gulbenkian, os meus agradecimentos pelo apoio financeiro

    concedido, sem o qual no teria sido possvel realizar este projeto. Gostaria de

    agradecer Doutora Hermnia Cabral e aos Drs. Laura Silva e Joo Saavedra, que

    sempre me informaram de todos os eventos cientficos que seriam importantes para a

    concretizao deste trabalho.

    Agradeo Unidade de Parasitologia e Microbiologia Mdicas/IHMT/UNL, pelo apoio

    logstico que serviu de suporte realizao deste trabalho.

    Doutora Cndida Liberato, agradeo a forma afvel com que sempre me acolheu e

    pelas excelentes lies de botnica, tendo o seu contributo muito enriquecido os meus

    conhecimentos.

    Doutora Cristina Moiteiro e Doutora Cristina Figueiredo da Faculdade de Cincias

    (FCUL), agradeo o constante apoio cientfico na caraterizao qumica das plantas,

    todas as facilidades concedidas e os valiosos esclarecimentos.

    Doutora ngela Barreto Moreno, pela sua total disponibilidade para discusso e

    esclarecimentos de dvidas sobre a anlise estatstica dos dados. Obrigada irm pelo

    incentivo perseverana.

    Doutora Ana Amaro, agradeo pela sua colaborao na anlise microscpica e nas

    fotografias, e pelas inmeras sugestes. minha colega e amiga Ana, dos tempos da

    Faculdade, o meu bem-haja.

    Ao Professor Doutor Eduardo Mendes Ferro e ao Professor Doutor Antnio dos Santos

    Grcio, meus Orientadores cientficos do Mestrado, obrigada pelo apoio e incentivo ao

    longo do meu percurso.

  • vi

    Doutora Helena Ramos, Professora Doutora Odete Afonso e ao Doutor Carlos

    Pires, os meus sinceros agradecimentos pelo incentivo ao longo dos anos e por todo o

    conhecimento cientfico que sempre me transmitiram.

    Agradeo ao Professor Doutor Paulo Almeida, meu Orientador cientfico em vrios

    projetos de investigao, pelo incentivo na busca do conhecimento.

    A todos os meus colegas da Unidade de Parasitologia, obrigada pelo estmulo e

    amizade. Ao Mestre Gonalo Seixas, agradeo pela cedncia de bibliografia e ao

    Tcnico Operacional Sr. Jos Ferreira, pela ajuda na manuteno das colnias de insetos

    e Mestre e minha amiga Catarina Alves por toda a sua amizade e ajudas nos ensaios.

    Aos Especialistas em Designer Sr. Lus Marto e Sra Slvia Duarte pelo apoio nos

    aspetos grficos de preparao dos CDs.

    Os meus agradecimentos s Instituies de Cabo Verde, nomeadamente UniCV, INIDA

    em Santiago e Ministrio do Desenvolvimento Rural em Santo Anto, pelas

    informaes e meios disponibilizados, fundamentais ao desenvolvimento das etapas

    iniciais deste projeto. Muito agradeo o apoio do Dr. Hailton Spencer, na captura dos

    mosquitos, e o Engenheiro Manuel Delgado, pelo apoio na colheita das plantas.

    Igualmente, Eng. Carla Monteiro e Sra. D. Conceio Fortes, pelo suporte no

    terreno. Ao Dr. Samuel Semedo e Dra. Vera Cruz, obrigada pelas informaes sobre a

    flora de Cabo Verde.

    Agradeo, ao Doutor Hanano Yamada e ao Doutor Jeremie Gilles da International

    Atomic Energy Agency Laboratories pela cedncia dos mosquitos.

    Aos colegas do INIAV em Oeiras, obrigada por estes trs anos de camaradagem e muito

    incentivo. Obrigada aos Tcnicos Paula Vasilemko e Mrio Santos pelas ajudas no

    laboratrio.

    s tias ngela e Fernanda, por terem gentilmente fornecido vasto material vegetal

    proveniente das suas propriedades.

    minha tia ngela, muito obrigada pelos longos anos de dedicao.

    Ao meu tio Santos Camacho e a minha av Silvestra Monteiro, uma homenagem

    pstuma muito sentida. Sei que na Eternidade, ho-de estar radiantes ao verem toda a

    minha caminhada.

    A todos os meus familiares que de perto ou de longe me apoiaram o meu bem-haja, mas

    um agradecimento muito em especial aos meus pais, que sempre me incentivaram nos

    grandes desafios. minha me, um agradecimento muito e muito especial pela infinita

    pacincia, por estar sempre por perto e por nunca ter deixado de acreditar em mim.

    Um agradecimento especial ao meu marido Jorge, que sempre me acompanhou nos

    trabalhos de campo e por valorizar muito o meu esforo. minha filha Ana Margarida

    agradeo pelo apoio grfico, por toda a compreenso, pacincia e carinho, amo-vos

    muito.

  • vii

    Resumo As parasitoses e as arboviroses tm um impacto social e econmico considervel, em

    particular nos pases tropicais e subtropicais. Problemas financeiros e de gesto, assim

    como as alteraes ambientais, a resistncia dos vetores aos inseticidas e dos agentes

    patognicos aos frmacos, o aumento e respetiva mobilidade da populao humana

    contriburam no s para o incremento da prevalncia de doenas transmitidas por

    vetores, como tambm para a sua emergncia ou reemergncia em novas regies.

    O progressivo aumento de resistncias nos insetos vetores tem levado restrio

    progressiva da aplicao de inseticidas qumicos e/ou introduo de novos compostos

    sintticos.

    O presente estudo surgiu da necessidade de desenvolver novas medidas de controlo

    vetorial, mais seguras para o ambiente, e consistiu na avaliao das propriedades

    biocidas de plantas medicinais tropicais e mediterrnicas, (Sambucus nigra, Melia

    azedarach, Azadirachta indica, Foeniculum vulgare e Mentha pulegium), bem como na

    avaliao da sua utilidade no controlo dos culicdeos vetores de agentes patognicos da

    malria e arboviroses, nomeadamente, Anopheles arabiensis e Aedes aegypti, em Cabo

    Verde.

    Este trabalho englobou um conjunto de aes, nomeadamente a colheita, o

    processamento e o rastreio sobre alvos biolgicos, de extratos vegetais e leos

    essenciais (OE). Foram realizados extratos brutos de folhas de S. nigra, M. azedarach e

    A. indica com solventes de diferentes polaridades. Estes extratos foram posteriormente

    analisados por Cromatografia em Camada Fina e fracionados por Cromatografia em

    Coluna. Os OEs de M. pulegium e de F. vulgare, obtidos por hidrodestilao das partes

    areas ou por via comercial foram caraterizados qualitativamente e quantitativamente

    por Cromatografia Gasosa e Espetrometria de Massa e confirmada a identificao dos

    seus constituintes por Ressonncia Magntica Nuclear.

    Os bioensaios inseticidas foram efetuados de acordo com os testes padronizados da

    Organizao Mundial de Sade. Os resultados foram analisados estatisticamente com

    recurso aos programas Microsoft Excel 2010 e SPSS para Windows e aos testes

    estatsticos considerados relevantes.

    Quanto s trs primeiras plantas referidas apenas o extrato de S. nigra revelou atividade

    em larvas do 3 estdio de Ae. aegypti. Estas so tambm mais suscetveis ao OE de F.

    vulgare (amostras de Cabo Verde e Portugal respetivamente CL50= 23,3 e 28,2 lL-1

    )

    comparativamente ao leo de M. pulegium (amostras de Cabo Verde e Portugal

    respetivamente CL50= 136,1 e 107,3 lL-1

    ). Embora no se tenham registado diferenas

    altamente significativas entre as plantas em estudo, de salientar que as concentraes

    necessrias para eliminar 50, 90 e 99% da populao so menores quando se aplica o

    OE de F. vulgare. Quanto ao An. arabiensis optou-se por avaliar apenas o OE de

    F. vulgare, no tendo sido observadas diferenas significativas comparativamente a Ae.

    aegypti. Os resultados de bioensaios com os compostos ativos de ambas as espcies

    vegetais evidenciaram a existncia de efeitos sinergistas. Os adultos demonstraram

    maior sensibilidade ao OE de F. vulgare de Cabo Verde. Este estudo permitiu uma

    caraterizao qumica e avaliao de atividade de plantas de regies geogrficas que

    ainda no tinham sido estudadas com resultados bastante promissores.

    Palavras Chave: Aedes aegypti, Anopheles arabiensis, controlo vetorial, plantas

    medicinais.

  • viii

    Abstract

    Parasitoses and arboviroses have a considerable economic and social impact,

    particularly in tropical and subtropical countries. Financial and management problems,

    as well as environmental changes, vectors resistance to insecticides and of pathogens to

    drugs, the crescent density of human population and of their mobility, contributed not

    only to increase the prevalence of vector-borne diseases, but also to their reemergence

    or emergence in new regions. The progressive increase of insects resistance to known

    insecticides has led to the progressive restriction of the application of chemical

    insecticides and/or the introduction of new synthetic compounds.

    The present study arose from the need of developing new vector control measures,

    environmentally safe, and consists on the evaluation of biocidal properties of medicinal

    tropical and Mediterranean plants (Sambucus nigra, Melia azedarach, Azadirachta

    indica, Foeniculum vulgare and Mentha pulegium) and on their quantification, on

    mosquitoes vectors of pathogens causing malaria and arboviruses, namely Aedes

    aegypti and Anopheles arabiensis from Cape Verde.

    A set of actions are included in this work, like the harvesting, processing and screening

    of plant extracts and essential oils (EO) on biological targets. Crude extracts from

    leaves of S. nigra, M. azedarach and A. indica were performed with solvents with

    different polarities. These extracts were subsequently analyzed by Thin Layer

    Chromatography and fractionated by Column Chromatography. The EOs of

    M. pulegium and F. vulgare, obtained by steam distillation of leaves and the aerial parts

    were characterized qualitatively and quantitatively by Gas Chromatography and Mass

    Spectrometry and confirmed by identification of its constituents by Nuclear Magnetic

    Ressonance.

    Insecticide bioassays were conducted according to standardized tests of the World

    Health Organization. The results were statistically analyzed using the program

    Microsoft Excel 2010 and SPSS for Windows and the statistical tests considered

    relevant.

    From the first three plants mentioned only the S. nigra extracts showed activity against

    the 3rd stage larvae of Ae. aegypti. These larvae were also more susceptible to EO of

    F. vulgare (samples from Cape Verde and Portugal respectively LC50 = 23.3 and

    28.2 lL-1

    ) than those of M. pulegium (samples from Cape Verde and Portugal having

    LC50 = 136.1 and 107.3 l lL-1

    , respectively). Although there were no significant

    differences between the plants studied, it was noted that concentrations required to

    eliminate 50, 90 and 99% of the larvae populations are lower when applying the EO

    of F. vulgare. For Anopheles arabiensis we choose to evaluate only the EO of

    F. vulgare, and no significant differences were observed between these results and those

    obtained against Ae. aegypti.

    The results of the bioassay with the active compounds isolated from M. pulegium and

    F. vulgare evidenced the existence of synergistic effects. Adults showed greater

    sensitivity to OE F. vulgare from Cape Verde. This study allowed the chemical

    characterization and activity assessment of plants from two different geographic regions

    that were not studied before with highly promising results.

    Keywords: Aedes aegypti, Anopheles arabiensis, vector control, medicinal plants.

  • ix

    ndice

    Elementos bibliogrficos resultantes da dissertao .

    Dedicatria ..

    Agradecimentos ..

    Resumo ...

    Abstract ...

    ndice....

    ndice de Figuras ....

    ndice de Tabelas

    ndice de Anexos ....

    Lista de Abreviaturas .

    I. Introduo ...

    I.1. Nota Prvia ..

    I.2. Malria em frica .

    I.2.1.Vetores da regio Afrotropical ..

    I.2.2. Posio sistemtica do gnero Anopheles

    I.2.3. Ciclo de Vida do gnero Anopheles .

    I.3.Dengue ...

    I.3.1. Vetores de Dengue

    I.3.2. Posio sistemtica do gnero Aedes ...

    I.3.3. Ciclo de vida do gnero Aedes .

    I.4. Principais Mtodos de controlo vectorial

    I.4.1.Mtodos Biolgicos s.s

    I.4.2. Mtodos Ecolgicos ..

    I.4.3. Mtodos Genticos

    I.4.4. Mtodos Imunolgicos ..

    I.4.5. Mtodos Qumicos

    I.4.6 Repelentes como medida de proteo individual ..

    I.4.7. Bio inseticidas

    I.4.8. Proteo Integrada .

    I.5. Modo de ao dos inseticidas ..

    I.6. Mecanismos de resistncia a inseticidas em mosquitos ..

    I.7. Espcies vegetais em estudo e sua importncia ..

    I.7.1. Sambucus nigra L. .

    I.7.2. Melia azedarach L.

    I.7.3. Azadirachta indica A. Juss ...

    I.7.4.Mentha pulegium L. ..

    I.7.5. Foeniculum vulgare Mill....

    I.8. Caracterizao dos leos Essenciais (OEs) das plantas aromticas e medicinais em

    estudo (M. pulegium e F. vulgare) e vias Biossintticas...

    I.9. Acumulao de OE e sua localizao em rgos .

    II. Objetivos..

    III. Material e Mtodos

    III.1. Caraterizao geogrfica e edafoclimticas do Arquiplago de Cabo Verde.

    III.2. Material vegetal..

    III.2.1. Colheita das plantas ..

    III.2.2. Identificao das plantas e preparao de exemplares para herbrio.

    III.3. Processamento do material vegetal

    III.3.1. Obteno de extratos vegetais........

    III.3.1.1 III. Secagem do material vegetal e produo de extratos

    ii

    iv

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  • x

    III.3.1.2 Filtrao e evaporao..

    III.3.1.3. Anlise cromatogrfica dos extratos orgnicos

    III.3.2. Obteno de leos essenciais de Mentha pulegium e Foeniculum

    vulgare...

    III. 3.2.1. Identificao dos constituintes maioritrios dos OEs por Ressonncia

    Magntica Nuclear (1H e

    13C RMN).....

    III.3.2.2. Anlise qualitativa e quantitativa dos constituintes dos OEs...

    III.3.2.2.1. Cromatografia Gs-Lquido..

    III.3.2.2.2. Cromatografia Gs-Lquido-Espectrometria de Massa.

    III.4. Captura de mosquitos.

    III.4.1. Estabelecimento e manuteno das colnias do mosquito alvo.................

    III.4.2. Otimizao dos bioensaios..

    III.4.3. Bioensaios larvicidas ..

    III.4.4. Bioensaios adulticida ..

    III.5. Anlise microscpica .

    III.6. Anlise estatstica...

    IV. Resultados e Discusso.

    IV.1. Identificao do material vegetal

    IV.2. Rendimento de secagem e extrao do material vegetal

    IV.3. Caraterizao dos extratos de Sambucus nigra por Cromatografia em Camada Fina

    (CCF) e em Coluna (CC)..

    IV.4. Caraterizao dos leos essenciais da Mentha pulegium e Foeniculum vulgare por

    Cromatografia Gasosa acoplada Espetrometria de Massa (GC-MS) e por

    Ressonncia Magntica Nuclear de (1H e

    13C RMN)

    IV.5. Bioensaios larvicidas com os extratos das Meliceas

    IV.6. Anlise estatstica dos bioensaios larvicidas e adulticidas.

    IV.7.1. Bioensaios larvicidas com os extratos do Sambucus nigra em acetato de

    etilo

    IV.7.2. Bioensaios larvicidas com leos essenciais da M. pulegium e F. vulgare...

    IV.7.3. Bioensaios larvicidas com os compostos ativos dos leos essenciais da M.

    pulegium e F. vulgare............

    IV.7.4. Bioensaios adulticidas com leo essencial de F. vulgare

    IV.7.5. Tratamento estatstico dos bioensaios larvicidas e adulticidas

    IV.7.5.1 Anlise estatstica da atividade larvicida...

    IV.8. Anlise microscpica das larvas.

    V. Concluses..........

    VI. Referncias Bibliogrficas.

    Anexos..........

    64

    64

    66

    69

    70

    70

    71

    71

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    80

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    85

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    105

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    111

    112

    112

    121

    124

    131

    157

  • xi

    ndice de Figuras

    Figura 1- Regies e Pases endmicos da malria (1)................

    Figura 2 - Distribuio mundial dos principais vetores, 2010 (2).

    Figura 3 - Exemplares de adultos (fmea) de An. arabiensis, antes e depois de refeio

    sangunea (3) .

    Figura 4 - reas em risco de transmisso de dengue (regies situadas entre as linhas

    negras). A laranja - pases onde j ocorreram surtos de dengue (4).

    Figura 5 - Exemplar de um adulto fmea de Aedes aegypti..

    Figura 6 - Ciclo biolgico de Ae. aegypti. (5)....

    Figura 7 - Representao esquemtica dos principais mecanismos envolvidos na

    resistncia s vrias classes de inseticidas. Adaptado de Brogdon e McAllister, 1998.

    Legenda: Ache - acetilcolinesterase; kdr - knock-down resistance; IGRs - Insect

    Growth Regulators; DDT - Dicloro-Difenil-Tricloroetano..

    Figura 8 - Sambucus nigra.

    Figura 9 - M. azedarach em florao.

    Figura 10 - Azadirachta indica..

    Figura11 - Mentha pulegium...................................................

    Figura 12 - Foeniculum vulgare.

    Figura 13 - Mapa de Cabo Verde, adaptado (8)...

    Figura 14 - As diferentes etapas da preparao do extrato.

    Figura 15 - Ilustrao de sequncia de uma cromatografia CCF. 1-linha de colocao da

    amostra; 2- amostra; 3- distncia que a amostra deslocou-se ao longo da placa; 4-

    frente do solvente. (11).

    Figura 16 - Sistema Clevenger adaptado..

    Figura 17 - Bitopos de Ae. aegypti junto s habitaes na regio de Santiago Norte e

    bitopos de An. arabiensis, junto Barragem de Poilo na ilha de Santiago, em Cabo

    Verde

    Figura 18 - Esquema geral do bioensaio larvicida

    Figura 19 - Imagens do ensaio adulticida.

    Figure 20 - Estrutura qumica dos principais compostos que constituem os OEs da M.

    pulegium e F. vulgare..

    Figura 21 - Curva dose-mortalidade de plantas de Portugal (a) e de Cabo verde (b).

    Figura 22 - Curva dose-mortalidade observada e estimada. Plantas de Portugal (a) e de

    Cabo Verde (b)

    Figura 23. Os valores de R2 obtidos da regresso entre as concentraes observadas e

    estimadas. Portugal (a) e Cabo verde (b). a1- F.vulgare; a2 - S. nigra (ambos em Ae.

    aegypti /L3); a3 - F. vulgare em An. arabiensis /L3; b1 - F.vulgare; b2 - M. pulegium;

    b3 - pulegona e t-anetol (os ltimos em Ae. aegypti /L3

    Figura 24 - Comparao da atividade larvicida dos OEs de F. vulgare Cabo verde (CV) e

    de Portugal (Port) em larvas de An. arabiensis e de Ae.

    aegypti..

    Figura 25 - Comparao da atividade larvicida dos OEs de F. vulgare e da M. pulegium de

    Cabo Verde (CV) e de Portugal (P) e dos respetivos compostos ativos nas larvas do 3

    estdio de Ae. aegypti.

    Figura 26 - Aspetos morfolgicos das larvas de Ae. aegypti observadas ao

    estereomicroscpio (A);1mm e ao microscpio ptico (B), 200 m; cont=controlo;

    lim = limoneno

    4

    6

    7

    10

    12

    13

    33

    36

    38

    41

    43

    46

    58

    61

    65

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    72

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    79

    97

    102

    103

    104

    108

    110

    123

  • xii

    ndice de Tabelas

    Tabela 1 - Modos de ao dos 100 inseticidas/acaricidas mais vendidos

    Tabela 2 - Propriedades biocidas apresentadas por diferentes partes de M.

    azedarach..

    Tabela 3 - Metabolitos presentes em Melia azedarach com atividade biolgica

    descrita..

    Tabela 4 - Propriedades medicinais e atividades biolgicas apresentadas por diferentes

    partes de A. indica.

    Tabela 5- Propriedades medicinais e atividade biolgica de M.

    pulegium

    Tabela 6 - Propriedades biocidas apresentadas por diferentes partes de F. vulgare

    Tabela 7 - Rotina semanal de atividades desenvolvidas para manuteno da colnia de

    Ae. aegypti................................................

    Tabela 8 - Rendimento de secagem das plantas em estudo

    Tabela 9 - Peso dos extratos e Rendimento de extrao

    Tabela 10 - Fator de reteno das manchas observadas na TLC em S. nigra

    (EtOH)

    Tabela 11 - Composio por GC dos leos essenciais de M. pulegium de Cabo Verde e

    Portugal..

    Tabela 12 - Composio por GC dos leos essenciais isolado do

    F. vulgare.................................................................................................

    Tabela 13 - Identificao dos constituintes maioritrios da anlise de RMN de 13

    C do OE

    de Mentha pulegium de Portugal (Equipamento de RMN 400

    MHz)

    Tabela 14- Identificao dos compostos maioritrios da anlise por RMN de 13

    C do OE

    do F. vulgare de Cabo Verde (Equipamento de RMN de 400 MHz)..

    Tabela15 - Testes de Pearson e Verossimilhana do Qui-Quadrado aplicados aos dados

    e os respetivos parmetros estatsticos, [Qui-Quadrado (2), graus de liberdade (df),

    sigma (p) e alfa ( )]..

    Tabela 16 - Atividade do extrato em acetato de etilo (EtOAc) de S. nigra no 3 estdio

    das larvas de Ae. aegypti, 24 horas aps o contacto

    Tabela 17 - Efeito larvicida dos leos essenciais de F. vulgare e M. pulegium em larvas

    do 3 estdio de Ae. aegypti, 24 horas aps contacto

    Tabela 18 - Atividade larvicida do OE de F. vulgare de Cabo Verde e Portugal em

    An. arabiensis, 24 horas aps a exposio

    Tabela 19 - Atividade larvicida dos compostos ativos do F. vulgare (a) e da

    M. pulegium (b) .

    Tabela 20 - Atividade do OE de F. vulgare em mosquitos adultos de Ae. aegypti, (a) e

    em An. arabiensis (b) .............

    Tabela 21 - Anlise estatstica da atividade larvicida face s doses aplicadas dos OEs das

    espcies vegetais em estudo. Testes de Normalidade.

    Tabela 22 - Anlise estatstica da atividade larvicida face s concentraes aplicadas dos

    OEs das espcies vegetais em estudo..

    Tabela 23 - Anlise estatstica da atividade larvicida face s doses aplicadas dos OEs das

    espcies vegetais em estudo.

    Tabela 24 - Anlise estatstica da atividade larvicida e adulticida face s doses aplicadas,

    dos OEs das espcies vegetais e os respetivos compostos. Estatstica descritiva e

    testes de Normalidade..

    30

    40

    41

    43

    46

    49

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    105

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    112

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    115

    116

    117

  • xiii

    Tabela 25 - Anlise estatstica da atividade larvicida e adulticida face s doses aplicadas,

    das espcies vegetais e os respetivos compostos. Testes paramtricos e no

    paramtricos

    Tabela 26 - Coeficiente de regresso de Pearson e nvel de significncia () (2-tailed),

    entre as mortalidades em funo das diferentes concentraes de compostos ativos e

    extratos vegetais estudados..

    117

    120

  • xiv

    ndice de anexos

    Anexo I - Cromatografias

    Anexo II - Protocolos dos testes de sensibilidade.

    Anexo III - Anlise da Cromatografia TLC e CC do extrato S. nigra (EtOH e

    EtOAc) .

    Anexo IV - Espectros do GC-MS dos leos essenciais

    Anexo V - Espectros de 1H

    13C de NMR dos leos essenciais.

    Anexo VI - Bioensaios larvicidas com os extratos das meliceas

    Anexo VII - Bioensaios larvicidas com os extratos de S. nigra em acetato de etilo e com

    leos essenciais de M. pulegium e F. vulgare..

    157

    159

    163

    166

    169

    172

    174

  • xv

    Lista de abreviaturas

    A -Azadirachta

    Ae - Aedes

    An - Anopheles

    - Nvel de Significncia

    CA - Compostos ativos

    CC - Cromatografia em Coluna

    CI - Intervalo de confiana

    CL(50, 90 e 99) - Concentrao letal que mata 50, 90 e 99% da populao, respetivamente

    CV - Cabo Verde

    DDT - Dicloro difenil tricloroetano

    EtOAc- Acetato de etilo

    EtOH - Etanol

    Fv - Foeniculum

    g - grama

    GC-MS - Cromatografia Gasosa acoplada Espetrometria de Massa

    GST - Glutatio S transferase e monoxigenase

    HPLC - Cromatografia Lquida de Alta Resoluo

    IGR - Insect Growth Regulator, Reguladores de Crescimento de Insetos

    IHMT - Instituto de Higiene e Medicina Tropical

    IICT - Instituto de Investigao Cientfico Tropical

    INRB /INIAV - Instituto Nacional de Recursos Biolgicos e Instituto Nacional de

    Investigao Agrria e Veterinria

    IRS - Indor residual spraying, aplicao de inseticidas residuais no interior

    Kdr - Knock-down resistance, resistncia por silenciamento de genes

    K-S - Kolmogorov-Smirnovs

    Ku. - Kurtosis, Curtose

    M - Melia

    M - Mentha

    Mbar - milibar

    Md - Mediana

    mg L-1

    - Miligrama por litro

    N - Nmero de observaes

    RMN - Ressonncia Magntica Nuclear

    OE - leo essencial

    OMS - Organizao Mundial de Sade

    Port - Portugal

    Rf - ndice de reteno

    RI - ndice de reteno relativa

    s - Desvio padro

    Sk. - Skewness, Assimetria

    S-W - Shapiro-Wilk

    TLC - Cromatografia em Camada Fina

    UniCV - Universidade de Cabo Verde

    X - Mdia

    l L-1 - Microlitro por litro

  • CAPTULO I

    INTRODUO

  • I. INTRODUO

    1

    I.1. Nota Prvia

    Os mosquitos (Diptera: Culicidae) so o grupo mais importante de artrpodes com

    importncia mdica e veterinria, sendo responsvel pela transmisso de doenas

    consideradas graves problemas de sade pblica a nvel mundial.

    As parasitoses e as arboviroses tm um impacte social e econmico considervel, em

    particular nos pases tropicais e subtropicais, o que levou a Organizao Mundial de

    Sade a declarar os mosquitos como inimigo pblico nmero um. Com o

    desenvolvimento do comrcio e meios de transporte, assistiu-se disperso de insetos

    vetores para vrias regies do globo, com a agravante destes se terem adaptado com

    sucesso a meios urbanos.

    Problemas financeiros e de gesto, assim como alteraes ambientais, desenvolvimento

    de resistncia dos vetores aos inseticidas e dos agentes patognicos aos frmacos,

    aumento da densidade populacional humana e acrscimo da sua mobilidade,

    contriburam no s para o incremento da prevalncia de doenas transmitidas por

    vetores, como tambm para a sua emergncia ou reemergncia em novas regies (casos

    da malria na Grcia e de dengue em Cabo Verde e na ilha da Madeira).

    Dado que ainda no existem vacinas e/ou tratamentos eficazes para a maior parte das

    patologias envolvendo transmisso por mosquitos, os programas de controlo vetorial

    constituem uma das principais estratgias de preveno e combate. Os produtos

    qumicos continuam a ser o elemento chave numa abordagem integrada deste controlo

    de vetores. No entanto, o arsenal de inseticidas seguros e eficazes tem vindo a reduzir-

    se devido, quer ao aumento das resistncias causado pela utilizao intensiva e/ou

    incorreta de inseticidas sintticos (consequncia da insustentabilidade econmica dos

    atuais programas de controlo), quer aos efeitos adversos ambientais e em sade pblica.

    O progressivo aumento de resistncias dos insetos vetores de parasitoses e arboviroses

    tem levado restrio progressiva da aplicao de inseticidas qumicos e/ou

    introduo de novos compostos sintticos. Consequentemente, devido reduo do

    nmero de compostos disponveis no mercado, assiste-se a um aumento da procura de

  • I. INTRODUO

    2

    compostos de origem natural, eficazes e mais incuos para o ambiente. Esta exigncia

    do mercado, em conjunto com as presses legislativas exercidas a nvel internacional,

    torna imperativo o investimento na pesquisa de novos produtos, promovendo o

    desenvolvimento de produtos alternativos mais seguros.

    Os produtos de origem vegetal ressurgem, assim, como uma promissora fonte de

    compostos biologicamente ativos para controlo de vetores de agentes patognicos. Dado

    que a sua sntese est muitas vezes associada a mecanismos de defesa das plantas contra

    inimigos naturais, os compostos derivados destas apresentam potencialmente maior

    especificidade para os organismos-alvo, so em geral biodegradveis e comportam

    menores riscos ambientais.

    Um vasto nmero de diferentes espcies de plantas, de vrias regies geogrficas, tem

    revelado potencialidades fitoqumicas, capazes de causar efeitos txicos agudos ou

    crnicos em insetos.

    O presente estudo surgiu da necessidade de desenvolver novos produtos para uso em

    controlo vetorial, mais seguros para o ambiente, e consistiu na avaliao das

    propriedades biocidas de produtos de plantas medicinais tropicais e mediterrnicas

    (Sambucus nigra, Melia azedarach, Azadirachta indica, Mentha pulegium e

    Foeniculum vulgare) em culicdeos vetores de agentes patognicos de malria e

    arboviroses, nomeadamente, Anopheles arabiensis e Aedes aegypti, em Cabo Verde. A

    inovao desta tese a pesquisa de novos compostos provenientes de plantas,

    preferencialmente autctones, que contribuam para a preparao de futuras

    formulaes bio-inseticidas de fcil produo, mxima inocuidade ambiental e que no

    promovam o desenvolvimento de resistncias.

    Neste captulo introdutrio apresenta-se uma descrio geral da importncia dos vetores

    de malria e arboviroses no continente africano, com breve referncia a outras doenas

    por eles transmitidas. Particular nfase dada s medidas de controlo vetorial, modo de

    ao e mecanismos de resistncia aos inseticidas, caraterizao botnica das espcies

    vegetais em estudo, breve descrio das vias de biossntese dos constituintes dos leos

  • I. INTRODUO

    3

    essenciais e rgos de produo. O captulo 2 apresenta os objetivos gerais e especficos

    propostos no mbito do tema da tese. No captulo 3 so descritas as metodologias

    utilizadas no estudo experimental, cujos resultados so apresentados e discutidos no

    captulo 4, comparados com os referidos na literatura, quando possvel. No captulo 5

    so apresentadas as principais concluses e as perspetivas futuras, estando as

    referncias bibliogrficas listadas no captulo 6. Este ltimo captulo foi escrito segundo

    a norma NP-405, integrando as citaes correspondentes a endereos electrnicos

    consultados, que so referidas em numerao rabe ao longo do texto.

  • I. INTRODUO

    4

    I.2. Malria em frica

    A malria uma doena parasitria que tem como agentes etiolgicos protozorios do

    gnero Plasmodium, sendo endmica em 104 pases. Destes, 79 so classificados como

    estando na fase de malria controlada, 10 na fase de pr-eliminao, 10 na fase de

    eliminao e 5 sem transmisso, isto na fase preventiva de reintroduo (WHO, 2012).

    A malria, sendo uma das mais antigas doenas infeciosas conhecidas nas sociedades

    africanas, continua a causar morbilidade e mortalidade elevadas, com consequente

    sobrecarga socioeconmica nas regies particularmente mais afetadas. De acordo com o

    relatrio da Organizao Mundial da Sade (OMS/WHO), em 2010 foram notificados

    cerca de 216 milhes de caso de malria a nvel mundial (WHO, 2012). Mais de 80%

    dos casos e 91% das mortes foram registadas no continente africano, tendo um custo

    anual superior a 12 mil milhes de dlares e causando um atraso no crescimento

    econmico de cerca de 1,3 por cento por ano (TDR/WHO, 2002; RBM/WHO, 2000;

    GHO, 2008; Malaria Foundation Internacional, 2008). Assim, a malria continua a ser

    um dos maiores problemas de sade pblica em regies tropicais e subtropicais

    (Figura 1).

    Figura 1- Regies e Pases endmicos da malria (1).

  • I. INTRODUO

    5

    Atualmente, o continente africano enfrenta grandes desafios, sendo um deles o combate

    endemicidade da malria em cerca de 46 pases, conjuntamente com problemas

    inerentes ao subdesenvolvimento e outras prioridades consideradas relevantes para as

    autoridades locais, (Sachs & Malaney, 2002).

    Em Cabo Verde, a malria foi quase erradicada aps o programa de controlo

    desenvolvido entre 1940 e 1970. Desde 1973 que casos autctones so apenas

    observados na Ilha de Santiago, onde reside aproximadamente metade da populao.

    Surtos epidmicos ocorrem de forma irregular e a populao considerada no-imune

    (Alves, 1994).

    I.2.1. Vetores da regio Afrotropical

    A malria transmitida entre humanos pela picada de mosquitos fmeas do gnero

    Anopheles. Os principais vetores de malria na regio Afrotropical pertencem ao

    complexo de espcies Anopheles gambiae. Este complexo compreende 7 espcies

    gmeas: Anopheles gambiae sensu stricto (s.s.) Giles, 1902; Anopheles arabiensis

    Patton, 1905; Anopheles quadriannulatus Theobald, 1911; Anopheles melas, Theobald,

    1903, Anopheles merus Dnitz, 1902; Anopheles bwambae White, 1985 e Anopheles

    quadriannulatus espcie B (Hunt et al., 1998). Apesar de serem morfologicamente

    semelhantes, estas espcies apresentam diferenas bioecolgicas e comportamentais que

    condicionam o modo como transmitem a doena (White, 1974; Besansky et al., 1994,

    Coluzzi, 1994; Hunt et al., 1998; Coetzee et al., 2000; della Torre et al., 2002). Deste

    complexo, os mais eficientes vetores de malria e tambm com mais vasta distribuio

    geogrfica, so Anopheles gambiae s.s. Giles, 1902 e Anopheles arabiensis Patton, 1905

    (White, 1974, Coetzee et al., 2000). A distribuio geogrfica destas espcies crucial

    para a epidemiologia da malria e definio de medidas de controlo da doena numa

    dada regio (Figura 2).

    http://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%AAmeahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Anopheles

  • I. INTRODUO

    6

    Figura 2 - Distribuio mundial dos principais vetores da malria, 2010 (2).

    De acordo com Davidson et al., 1967, An. gambiae s.s. predomina nas regies de

    floresta mais hmidas, enquanto An. arabiensis, como o prprio nome sugere, est mais

    frequentemente associado a regies ridas e zonas de savana seca, onde a estao das

    chuvas curta e as precipitaes so relativamente baixas. Estas espcies esto mais

    associadas ao ser humano e apresentam maior distribuio geogrfica, ocorrendo em

    simpatria em extensas reas da sua distribuio. As espcies An. merus e An. melas

    esto adaptadas a bitopos de gua salobra. An. melas um importante vetor da malria

    em vrias localidades ao longo da costa Oeste Africana, principalmente na poca seca,

    quando a populao de An. gambiae s.s. menos abundante. A espcie An. merus

    encontra-se em zonas costeiras da frica Oriental e considerado um vetor secundrio

    da doena (Gilies & de Meillon, 1968; Cuamba & Mendis, 2009).

    An. arabiensis apresenta um ndice de antropofilia varivel, utilizando tambm como

    hospedeiros outros animais (nomeadamente gado), variando a sua preferncia trfica em

    funo dos hospedeiros presentes nas imediaes dos bitopos larvares. Tem uma

    longevidade curta e pica tanto no interior como no exterior das habitaes (endo e

  • I. INTRODUO

    7

    exofgico) o que dificulta o seu controlo pela aplicao de inseticidas dirigida

    populao de fmeas em atividade (Fontenille et al., 1997).

    O primeiro culicdeo assinalado em Cabo Verde (Praia, Santiago) ter sido An. gambiae

    s.l. por A. Vieira, em 1909, designado de An. costalis. [fide SantAnna, 1920; Ribeiro et

    al., 1980]. An. arabiensis, nica espcie vetora de malria presente no arquiplago

    (Alves, 1994), conjuntamente com An. pretoriensis (Theobald, 1903) tero praticamente

    desaparecido em 1969 em todas as ilhas, excepto Santiago, na sequncia de esforos

    desenvolvidos no mbito de um programa de erradicao. A espcie foi posteriormente

    encontrada na maioria das ilhas, excepto Brava, Sal e Santo Anto. A malria no

    constitui um problema prioritrio de Sade Pblica em Cabo Verde mas, dada a

    vulnerabilidade e a recetividade do pas, necessria uma vigilncia epidemiolgica

    permanente orientada para a preveno, deteo precoce e conteno de epidemias,

    tratamento correto dos casos e monitorizao da eficcia do tratamento, bem como

    vigilncia e controlo entomolgicos (Alves, 1994; Alves et al., 2010; Ministrio da

    Sade, 2009).

    An. arabiensis (Figura 3) foi descrito em Cabo Verde como um mosquito antropoflico,

    de tendncia exofgica e exoflica, com uma rea de distribuio entre a costa e 500

    metros de altitude (Cambournac, 1982). As larvas desta espcie encontram-se presentes,

    ao longo do ano, em tanques e poos agrcolas, levadas, tanques domsticos mal

    cobertos, poas temporrias e charcos, constituindo os primeiros bitopos larvares

    permanentes. No entanto, tem como locais de criao mais produtivos as poas nas

    margens das ribeiras, pegadas de animais e charcos temporrios expostos ao sol

    formados durante a poca das chuvas pelo que, durante este perodo, h tendncia para

    uma proliferao significativa do vetor, que tambm facilitada pelo aumento da

    temperatura.

    Figura 3 - Exemplares de adultos (fmea) de An. arabiensis, antes (foto da autora) e

    depois de refeio sangunea (3).

  • I. INTRODUO

    8

    I.2.2. Posio sistemtica do gnero Anopheles

    Os mosquitos do gnero Anopheles pertencem Famlia Culicidae, uma das mais

    importantes da Ordem Diptera.

    De acordo com a classificao sistemtica de Richard & Davis (1977) a posio

    sistemtica do gnero Anopheles a seguinte:

    Reino - Animalia

    Filo - Arthropoda

    Classe - Insecta

    Subclasse - Pterigota

    Ordem - Diptera

    Subordem - Nematocera

    Famlia - Culicidae

    Subfamlia - Anophelinae

    Gnero - Anopheles

    A subfamlia Anophelinae inclui trs gneros (Anopheles, Bironella e Chagasia), sendo

    o gnero Anopheles o nico com importncia mdica, por a ele pertencerem espcies

    vetoras de Plasmodium spp, vrias arboviroses e filarioses (Service, 1980; Ruppert &

    Barnes, 1996) que afetam humanos. Existem aproximadamente 430 espcies conhecidas

    de Anopheles, das quais cerca de 70 so vetores de malria (Warrell & Gilles, 2002).

    I.2.3. Ciclo de vida de Anopheles

    Durante o seu ciclo de vida, o mosquito passa por quatro fases: ovo, larva, pupa e

    adulto. Como todos os mosquitos, Anopheles apresenta uma fase imatura aqutica e

    uma fase adulta area. O ciclo inicia-se com a oviposio, durante a qual a fmea

    deposita os seus ovos individualmente (em mdia 50-300 ovos) superfcie da gua, em

    bitopos ou criadouros larvares que variam de espcie para espcie. Os mais comuns

    incluem colees de gua naturais tais como margem de rios, lagos, lagoas, poas

    temporrias e pntanos; ou artificiais como tanques e canais de irrigao. No entanto,

  • I. INTRODUO

    9

    diferentes espcies de mosquitos tendem a fazer a postura em bitopos com

    propriedades fsicas e qumicas muito especficas (Mullen & Durden, 2009). Os ovos,

    em forma de canoa, apresentam flutuadores laterais que impedem a submerso e,

    frequentemente, apresentam um padro ornamental caraterstico da espcie.

    Destes ovos eclodem larvas de primeiro estdio, que sofrem trs mudas at atingirem o

    quarto estdio de desenvolvimento, e que se alimentam por filtrao de partculas em

    suspenso na gua (bactrias, protozorios, outros microrganismos e detritos orgnicos).

    A larva em ltimo estdio sofre uma metamorfose transformando-se em pupa. Nesta

    fase quiescente, os culicdeos no se alimentam mas movimentam-se, geralmente, em

    resposta a estmulos, passando a maior parte do tempo superfcie da gua para respirar

    e tm forma caraterstica, em vrgula. Nos trpicos esta fase dura dois a trs dias,

    enquanto em regies temperadas pode durar nove a doze dias. Ocorrem alteraes

    profundas dos tecidos (metamorfose) que culminam na emergncia do adulto, iniciando-

    se assim a fase terrestre do ciclo de vida. Aps a emergncia, os adultos procuram

    abrigos perto do bitopo para repousar. Na maior parte dos casos, a cpula ocorre 24-48

    horas aps a emergncia, geralmente em enxames de machos formados ao anoitecer.

    Em geral, as fmeas acasalam uma nica vez, acumulando o esperma numa estrutura

    designada por espermateca. Aps a cpula, as fmeas procuram um hospedeiro

    vertebrado para efetuar uma refeio sangunea, necessria maturao ovrica que,

    uma vez concluda, leva a fmea a procurar um local aqutico adequado para realizar a

    oviposio. (Faust et al, 1975). O perodo compreendido entre a procura de hospedeiro

    para realizar a refeio sangunea e a maturao dos ovos designado de ciclo

    gonotrfico e pode durar dois a cinco dias. Os machos no so hematfagos,

    alimentando-se de sucos vegetais.

    I.3. Dengue

    A dengue uma doena infeciosa febril aguda causada por um vrus da famlia

    Flaviviridae, gnero Flavivirus, que inclui quatro tipos imunolgicos DENV-1,

    DENV-2, DENV-3 e DENV-4, e tem como principais vetores duas espcies de

    http://www.combateadengue.com.br/?p=31http://www.combateadengue.com.br/?p=31

  • I. INTRODUO

    10

    mosquito, nomeadamente, Aedes aegypti (Linnaeus, 1762) e Aedes albopictus, (Skuse,

    1894), (Gubler & Kuno, 1997; Borges, 2001).

    Esta infeo uma das mais importantes doenas reemergentes nos trpicos (Gubler &

    Kuno, 1997), sendo responsvel por cerca de 100 milhes de casos/ano numa populao

    em risco de 2,5 a 3 bilies de pessoas (WHO, 1997; Roriz-Cruz et al., 2010),

    constituindo um grave problema de sade pblica em regies tropicais e subtropicais

    (Figura 4). A febre hemorrgica da dengue (FHD) e a sndrome de choque da dengue

    (SCD) atingem pelo menos 500 mil pessoas/ano, apresentando taxas de mortalidade de

    at 10% para pacientes hospitalizados e 30% para pacientes no tratados (Holmes et al,

    1998; Gubler, 1998, Sylla et al., 2009). A dengue endmica no sudeste asitico e tem

    originado epidemias em vrias regies tropicais, em intervalos de 10 a 40 anos (Gubler

    & Clark, 1995).

    Figura 4 - reas em risco de transmisso de dengue (regies situadas entre as linhas

    negras). A laranja - pases onde j ocorreram surtos de dengue (4).

    I.3.1. Vetores de dengue

    O vrus de dengue transmitido por mosquitos que pertencem ao gnero Aedes,

    nomeadamente Aedes aegypti e Aedes albopictus.

    http://www.combateadengue.com.br/?p=34http://pt.wikipedia.org/wiki/Dengue#cite_note-WHO_1997-2#cite_note-WHO_1997-2http://pt.wikipedia.org/wiki/Febre_hemorr%C3%A1gicahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Taxa_de_mortalidadehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Pacientehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Hospitalhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sudeste_asi%C3%A1ticohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Tr%C3%B3pico

  • I. INTRODUO

    11

    Embora originrio da regio Afro-tropical Ae. aegypti apresenta, atualmente, uma

    distribuio cosmotropical. Esta expanso est associada capacidade dos seus ovos

    suportarem longos perodos de dessecao, podendo assim ser inadvertidamente

    transportados devido a atividades humanas. A disperso e estabelecimento de

    populaes destes mosquitos tem sido favorecida, assim, atravs da disponibilidade de

    criadouros larvares (baldes, pneus, contentores artificiais), atravs de transporte

    martimo ou areo de ovos/ adultos para outros lugares do mundo e atravs do aumento

    da urbanizao em precrias condies sanitrias, gerando situaes ideais para a

    criao desta espcie (Jansen & Beebe, 2010; Williams et al., 2010).

    I.3.2. Posio sistemtica do gnero Aedes

    Aedes (Stegomyia) aegypti (Linneaus, 1762) pertence ordem Diptera, subordem

    Nematocera e famlia Culicidae. Esta famlia inclui cerca de 3500 espcies e

    subespcies distribudas por todos os continentes, excepto na Antrtica e em algumas

    ilhas, podendo ser encontradas abaixo do nvel do mar at altitudes superiores a 3000

    metros (Marquardt, 2010). A famlia dos culicdeos subdivide-se em trs

    subfamlias: Anophelinae, Culicinae e Toxorhynchitinae. Os gneros Anopheles,

    Culex e Aedes so aqueles que apresentam maior nmero de espcies e subespcies

    com relevncia para a sade humana.

    De acordo com a classificao sistemtica de Richard & Davis (1977) a posio

    sistemtica do gnero Aedes a seguinte:

    Reino Animalia

    Filo Arthropoda

    Classe Insecta

    Ordem Diptera

    Famlia Culicidae

    Subfamlia Culicinae

    Gnero Aedes

  • I. INTRODUO

    12

    Ae. aegypti considerado o principal vetor de trs importantes arboviroses - dengue

    (vrus da famlia Flaviviridae, gnero Flavivirus, DENV), febre-amarela (vrus da

    famlia Flaviviridae, gnero Flavivirus, YFV) e chikungunya (vrus da famlia

    Togaviridae, gnero Alphavirus, CHIKV), sendo tambm um importante agente de

    incomodidade provocando reaes alrgicas no ato da picada.

    Ae. aegypti um mosquito de cor escura de fcil identificao, visto que apresenta no

    seu trax, nomeadamente no escudo, escamas brancas dispostas em linhas laterais

    longitudinais formando um desenho que lembra uma lira (Figura 5).

    Figura 5 - Exemplar de um adulto fmea de Aedes aegypti (fotografia da autora).

    I.3.3. Ciclo de vida do gnero Aedes

    Ae. aegypti, tal como todas as espcies de culicdeos, apresenta uma fase imatura

    aqutica e uma fase adulta area/terrestre (Figura 6). O ciclo inicia-se com a oviposio,

    durante a qual a fmea deposita os seus ovos individualmente em guas limpas e

    paradas, preferencialmente em bitopos de reduzidas dimenses, frequentemente com

    origem na atividade humana. Nestes incluem-se, frequentemente, pneus, vasos de

    plantas, baldes ou qualquer recipiente que se encontre dentro ou na periferia de

    habitaes. Os ovos so colocados superfcie da gua ou perto dela, demorando as

    larvas dois a trs dias a eclodir (Wong et al., 2011). Estes ovos tm a caracterstica

    peculiar de resistirem dessecao durante longos perodos de tempo e eclodirem

    quando submergidos em gua. Dos ovos eclodem as larvas que passam, atravs de

    mudas, por quatro estdios de desenvolvimento designados por L1, L2, L3 e L4. As

  • I. INTRODUO

    13

    larvas alimentam-se da matria orgnica presente no seu bitopo. A larva em ltimo

    estdio sofre uma metamorfose transformando-se em pupa. O perodo larvar pode durar,

    em mdia, sete a nove dias temperatura mdia de 25C. O mosquito permanece na fase

    de pupa cerca de dois dias. Nesta fase, considerada de quiescente, os culicdeos no se

    alimentam mas movimentam-se, geralmente, em resposta a estmulos. Das pupas

    emergem os mosquitos adultos, que vo copular e alimentar-se de nctares aucarados

    (machos e fmeas) e, no caso das fmeas, de refeies sanguneas.

    Figura 6 - Ciclo biolgico de Ae. aegypti (5).

    Ae. aegypti caracteriza-se por ser uma espcie com hbitos sinantrpicos (vivem na

    proximidade, ou interior, de habitaes humanas), tende a repousar no interior de

    habitaes/instalaes animais pelo que se designa de endoflica e tem preferncia por

    se alimentar em humanos ou seja, apresenta elevada antropofilia (Jansen et al.,2010).

    Normalmente apresentam atividade de picada diurna, podendo alimentar-se, fora ou

    dentro das habitaes, em um ou em vrios hospedeiros durante o mesmo ciclo

    gonotrfico (Jansen e Beebe, 2010). Aps a refeio, as fmeas preferem locais

    abrigados e escuros para o repouso. A atividade de picada apresenta em regra dois

    picos: um a meio da manh e outro ao final da tarde (Halstead, 2008). As fmeas

    apresentam uma esperana mdia de vida de aproximadamente 8 a 15 dias, enquanto

    que os machos trs a seis dias, o que depende de fatores como a humidade, nutrio e

    temperatura ambiente (Donalsio e Glasser, 2002). A disperso autnoma dos adultos

  • I. INTRODUO

    14

    habitualmente limitada, aproximadamente 30-50 metros por dia para as fmeas, o que

    significa que uma fmea raramente visita mais do que duas ou trs casas ao longo do

    seu ciclo de vida (Reiter et al., 1995).

    I.4. Principais mtodos de controlo vetorial

    O principal objetivo de um programa de controlo de vetores a diminuio do contacto

    humanos-vetor, com a consequente reduo da transmisso do agente etiolgico at ao

    limiar crtico abaixo do qual a doena provocada por esse agente patognico deixa de

    constituir um problema de sade pblica. A reduo da densidade vetorial no depende

    de um nico mtodo, resulta da conjugao de vrios mtodos que se adequam

    realidade local, e que permitam sua execuo de forma integrada e seletiva (Collins et

    al, 2000).

    I.4.1. Mtodos biolgicos s. s.

    O controlo biolgico de mosquitos envolve a reduo de uma populao atravs da

    introduo no meio ambiente de inimigos naturais, tais como parasitas, agentes

    patognicos, competidores, ou toxinas produzidas por um organismo e predadores.

    Estes, por sua vez, incluem insetos, vrus, bactrias, protozorios, fungos, plantas

    superiores, nemtodos e peixes. A eficcia da aplicao destes agentes requer bons

    conhecimentos da bioecologia dos insetos alvos, bem como dos seus bitipos. Este

    mtodo, normalmente, revela ser mais vantajoso comparativamente aos inseticidas

    convencionais, pelo facto de ser especfico para o seu alvo e de causar poucas alteraes

    noutros organismos. Alm disso, possvel que os agentes biolgicos possam fornecer

    um controlo a longo prazo depois de uma nica introduo.

    Na natureza existem diversos organismos, que atuam como larvicidas nomeadamente:

    -Peixes larvvoras como Gambusia affinis (Baird & Girard) introduzido em

    1900 ou o Poecilia reticulata (Wilhelm C. H. Peters,1859); os peixes preferencialmente

    utilizados no controlo biolgico tm caractersticas de certo modo peculiares: devem ter

    como alimentos preferenciais os mosquitos relativamente aos outros alimentos

  • I. INTRODUO

    15

    disponveis, ser de pequenas dimenses, de modo a poderem penetrar entre a vegetao

    aqutica, ter uma elevada taxa reprodutiva em pequenas pores de gua, ser tolerantes

    poluio, salinidade, flutuaes trmicas e deslocao e tambm, convm que sejam

    autctones das regies onde se pretende fazer o controlo, (WHO, 1997).

    Na ltima dcada a potencialidade de coppodes predadores (Mesocyclops spp., Brown

    et al., 1991; Kay et al., 2002), crustceos nocivos principalmente para as larvas dos

    mosquitos (Aedes aegypti e outros) em primeiro e segundo estdio, tem vindo a ser

    referida. Os macro-parasitas, como o Romanomermis culicivorax Ross & Smith, 1976

    (Nematoda), que parasitam as larvas de mosquitos tambm revelaram-se como possveis

    agentes de controlo biolgico (Forattini, 2002, Lacey et al., 2001). Resumindo, so

    referidos:

    -Nemtodes, tais como mermitdeos, como agentes parasitrios das larvas dos

    mosquitos.

    -Microparasitas, agentes infeciosos que visam a reduo da populao de

    mosquitos, como alguns fungos dos gneros Coelomomyces Keilin, 1921,

    Culicinomyces Couch, 1974, Lagenidium Schenk, 1859 e algumas espcies de

    protozorios dos gneros Amblyospora Hazard & Oldacre 1975, Parathelohania

    Codreanu 1966 e Edharzardia aedis (Kudo, 1930). Atualmente bactrias larvicidas e

    produtos txicos das prprias bactrias, por exemplo, Bacillus thurigiensis (Bti) e

    Bacillus sphaericus Meyer & Neide, 1904 (Fathy, 2002), so os agentes patognicos

    mais utilizados no controlo biolgico. Estas bactrias vivem no solo, produzem toxinas

    de elevado poder inseticida que atuam a nvel das clulas gstricas da larva, provocando

    lise. Uma das vantagens do uso dessas bactrias como larvicidas o facto de serem

    incuas para vertebrados, permitirem a sobrevivncia de insetos benficos e inimigos

    naturais e aps cerca de 20 anos de utilizao (Bti) no se tem registado o

    desenvolvimento de resistncia em populaes naturais. No entanto, apesar de ainda no

    se dispor de dados mais concretos, resultados de estudos laboratoriais, demonstraram

    que em algumas populaes de mosquitos possa desenvolver-se resistncia ao Bti

    (Tabashnik, 1994). Outra desvantagem utilizao do Bti que este apresenta baixa

    estabilidade quando exposto ao meio ambiente e para que seja prolongada a ao

    inseticida h necessidade de vrias aplicaes. Em contrapartida B. sphaericus tem

  • I. INTRODUO

    16

    algumas vantagens comparativamente ao Bti, pois mais persistente em ambientes

    poludos, podendo ser reciclado (no requer aplicaes constantes), contudo o seu

    espetro de ao sobre mosquitos menor quando comparado ao Bti (Lacey et al., 2001).

    -Fungos entomopatognicos (Metarhizium anisopliae e Beauveria bassiana,

    Lord, 2005; Thomas et al., 2007) como agentes patognicos de mosquitos tm sido

    largamente explorados (Scholte et al., 2003; Scholte et al., 2004), especialmente no que

    se refere ao controlo de populaes com elevado nvel de resistncia aos inseticidas

    qumicos (Farenhorst et al., 2009; Kikankie et al., 2010; Howard et al., 2010).

    -Mosquitos predadores do gnero Toxorhynchites Theobald, 1901 (Culicidae),

    tambm so utilizados no controlo biolgico.

    -Nos vrus que atacam insetos, de referir a famlia Baculoviridae. As partculas

    virais desta famlia so oclusas em corpos proteicos polidricos, no caso do gnero

    Nucleopoliedrovirus (vrus de poliedrose nuclear), e em corpos granulares, no caso do

    granulovrus (vrus de granulose), (Azevedo, 1998). O mecanismo de ao pela

    ingesto de plantas contaminadas com corpos proteicos de incluso (CPIs) de

    baculovrus. Os CPIs virais so dissolvidos no intestino do mosquito, onde libertam os

    viries (nucleocapsdeos mais envelope), cujas membranas se fundem s

    microvilosidades do intestino.

    I.4.2. Mtodos Ecolgicos

    Os mtodos ecolgicos consistem na modificao do meio fsico e /ou bitico tornando-

    o desfavorvel para as espcies alvo, nomeadamente atravs de intervenes de

    engenharia sanitria, (drenagens e aterros, uso de substncias tensioativas nos bitopos),

    quer pela alterao do meio bitico (por recuperao de ecossistemas humanos

    empobrecidos, alterao de culturas, regularizao da vegetao das margens de cursos

    de gua). Este tipo de controlo pode ainda ter como objetivo a diminuio do contacto

    entre humanos e o vetor (aplicao de redes mosquiteiras nas habitaes), que por

    consequncia, ir diminuir a possibilidade de transmisso ao ser humano do agente

    patognico, contribuindo assim, para a diminuio das taxas de transmisso da doena

    (WHO, 2009).

  • I. INTRODUO

    17

    I.4.3. Mtodos Genticos

    Os mtodos genticos tm como objectivo provocar ou induzir diretamente na espcie-

    alvo alteraes genticas desvantajosas ou indiretamente para o agente etiolgico que

    transmite. Em 1955, Knippling props o conceito de introduzir insetos estreis na

    populao como forma de controlar pragas com importncia agrcola, tendo sido esta

    tcnica designada de SIT (sterile insect technique) (Knippling, 1955). Esta consiste na

    criao em massa, esterilizao pela irradiao e libertao de um grande nmero de

    machos numa determinada rea. Machos que ao acasalar com fmeas locais reduzem a

    capacidade reprodutiva da populao e por conseguinte a dimenso da mesma. A

    erradicao da populao local pode ser conseguida com a libertao de um nmero

    suficiente de machos estreis durante um determinado perodo de tempo. Esta tcnica

    especfica para a espcie e incua para o ambiente. Outra tcnica, tambm integrada

    nos mtodos genticos, a RIDL [Release of Insects Carrying a Dominant Lethal,

    Thomas et al., (2000)], que surgiu no ano 2000 e baseia-se na produo de mosquitos

    transgnicos, em que as fmeas apresentam um gene letal passvel de ser reprimido em

    criao laboratorial (para a manuteno em colnia), mas que quando expresso permite

    apenas a sobrevivncia dos machos (Jansen e Beebe, 2010). Esta tcnica est

    particularmente avanada no desenvolvimento de colnias de Ae. aegypti, em que as

    fmeas produzidas apresentam um fentipo incapaz de voar devido ao uso de um

    transgene no promotor do msculo que interfere no voo (Fu et al., 2010).

    Encontra-se em estudo uma nova estratgia de controlo baseada no uso de uma bactria

    intracelular, endossimbionte, Wolbachia. Foi comprovado em estudos laboratoriais

    recentes, que certas estirpes de Wolbachia podem reduzir a capacidade do mosquito

    para transmitir doenas, inibindo diretamente a transmisso do agente patognico ou

    reduzindo a sua longevidade (Hancock et al., 2011).

    I.4.4. Mtodos Imunolgicos

    As vacinas anti vetoriais, ao diminurem a longevidade ou fecundidade dos mosquitos,

    so uma potencial alternativa para o controlo vetorial, podendo fazer parte de um

  • I. INTRODUO

    18

    programa integrado de controlo da malria, que continua a ser uma das prioridades

    definidas pela Organizao Mundial da Sade (WHO, 1994).

    I.4.5. Mtodos Qumicos

    Estes mtodos consistem na aplicao de inseticidas, classificados quanto origem, em

    inorgnicos (fluoretos, arseniatos entre outros) e orgnicos. Dentro dos orgnicos

    consideraremos para este caso os compostos naturais (piretrinas, rotenona, nicotina e

    outros), e os compostos de sntese (organoclorados, organofosfatos, carbamatos e

    piretrides). Para alm destes, existem substncias sinergistas, isto , substncias que

    tm a capacidade de potenciar a ao dos biocidas em geral e dos inseticidas em

    particular. Existem ainda constituintes vegetais, os semioqumicos, que tambm atuam

    ou como repelentes ou como atrativos, (Matos, 2000).

    Quanto ao modo de ao, os inseticidas subdividem-se em inseticidas de ao direta,

    tambm designados por inseticidas verdadeiros, e inseticidas de ao indireta (Mendes,

    1989). A maioria das substncias usadas como inseticidas pertence ao primeiro grupo.

    Neste se enquadram as piretrinas, a rotenona e a nicotina, compostos sintticos de uso

    tradicional e ainda os mais recentes como os organofosfatos, organoclorados ou os

    carbamatos (Guilherme et al., 1986). Os inseticidas de ao indireta compreendem os

    repelentes, os atrativos, feromonas, reguladores de crescimento (ecdisonas, hormonas

    juvenis, hormonas anti juvenis), inibidores da oviposio e antifgicos (Koul, 1982;

    Johnson, 1983; Banerji et al., 1985; Jain, 1987; Metcalf, 1987; Scalbert & Haslam,

    1987; Mendes, 1989).

    As substncias larvicidas so aplicadas nos bitopos para induzir mortalidade larvar,

    contribuindo deste modo para a reduo da densidade populacional. No final do sculo

    XIX, chegou-se a utilizar petrleo para controlar os mosquitos, mesmo antes de ter sido

    conhecido o papel de algumas espcies destes insetos no mecanismo de transmisso da

    malria. A aplicao do produto superfcie da gua mata as larvas por asfixia ou por

    envenenamento com os vapores txicos. Este mtodo tem a desvantagem de a sua

    aplicao numa grande superfcie se tornar bastante dispendiosa, apresentar reduzida

  • I. INTRODUO

    19

    eficcia onde h vegetao e efeito no duradouro com maior disperso do agente com o

    vento e ser altamente nocivo em termos ambientais.

    De 1921 at 1940 utilizou-se um composto de arsnico (cuja a formulao foi

    desenvolvida em 1867), conhecido pela designao de verde paris para o controlo de

    larvas de anofelneos (Marquardt, 2010). Este p verde praticamente insolvel em

    gua, ficando as partculas superfcie de gua contaminando e envenenando as larvas

    anofelneas, que vm superfcie para se alimentarem e respirarem.

    O DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano) causa alterao nos canais de sdio das clulas

    das membranas nervosas alterando o impulso nervoso, provocando movimentos

    convulsivos, fases sintomticas de excitao, paralisia e subsequente morte do inseto,

    enquanto o BHC (Hexacloreto de benzeno) e ciclodienos (dieldrina) atuam nos

    recetores GABA (gama cido aminobutrico). O DDT foi amplamente utilizado no

    sculo passado, contudo nos finais da dcada de 70, a Organizao Mundial de Sade

    proibiu a utilizao de organoclorados devido aos seus efeitos ambientais adversos e a

    resistncia dos mosquitos (Marquardt, 2010). Tornou-se percetvel que estes compostos

    tm efeito cumulativo no solo e nos tecidos animais e vegetais, o que constitui um

    inconveniente de reconhecida gravidade. Atualmente estes inseticidas so utilizados em

    caso excepcionais, em pulverizaes intra-domicilirias, podendo a sua ao perdurar

    por um perodo de um ano, aps a sua aplicao.

    Devido ao aparecimento de resistncias aos organoclorados surgiram, como medida

    alternativa os organofosfatos, que so inseticidas com elevada toxidade tanto para

    insetos como para mamferos. Este problema foi ultrapassado em 1950 com a

    descoberta de um composto com vasto espetro de ao e reduzida toxicidade, o

    malatio. Os organofosfatos atuam pela inibio da enzima acetilcolinesterase (AChe) e

    pelo bloqueio da transmisso dos impulsos nervosos, apresentando como limitao a

    baixa especificidade, acabando por eliminar espcies inofensivas (Marquardt, 2010).

    Os carbamatos atuam de forma semelhante aos organofosfatos, inibem a atividade da

    AChe, (Marquardt, 2010). Apesar de serem muito txicos para os mamferos tm sido

  • I. INTRODUO

    20

    particularmente utilizados em pulverizaes intra-domicilirias no controlo da malria

    em reas da Amrica Central.

    Os piretrides foram desenvolvidos a partir das piretrinas, compostos ativos extrados

    das flores do piretro (Chrysanthemum spp) e, tal como o DDT, atuam ao nvel do canal

    de sdio das membranas das clulas nervosas. Entre o final de 1940 e 1950 surgiram

    vrios compostos sintticos de piretrina, muito instveis com a exposio radiao

    ultravioleta. Apresentam como vantagem o facto de se degradarem rapidamente no

    meio ambiente, no se acumulando nos ecossistemas, sendo portanto muito eficazes na

    luta contra os insetos com importncia mdica (Marquardt, 2010).

    Em 1970 foram descobertas a permetrina, deltametrina e lambda-cialotrina, inseticidas

    de grande sucesso, por serem considerados de manipulao segura, estveis radiao

    atmosfrica entre outras caractersticas, o que fez com que esta nova gerao de

    inseticidas se tornasse o grupo com maior impacte comercial. Em 1995, o uso de

    piretrides representava 23% do mercado internacional de inseticidas (Soderlund,

    2008). So utilizados em pulverizaes intra-domicilirias e constituem o nico grupo

    de inseticidas licenciados pela OMS para impregnar redes mosquiteiras.

    Resumindo, os compostos organofosfatos, os carbamatos e os piretrides, por se

    degradarem rapidamente no meio ambiente, deixam menos resduos cumulativos e, por

    conseguinte, so recomendados como larvicidas no controlo dos mosquitos. Como os

    piretrides apresentam tambm elevada toxicidade para peixes, no aconselhvel a sua

    aplicao em controlo larvar de mosquitos.

    De um modo geral, a contaminao da gua por larvicidas temporria e a maior parte

    dos elementos qumicos degradam-se ao fim de alguns dias. Porm, conforme referido

    atrs, os organofosforados tendem a persistir como contaminantes durante mais tempo.

    Dado o problema da resistncia dos mosquitos grande maioria dos larvicidas

    convencionais, torna-se imprescindvel recorrer utilizao de medidas alternativas,

    nomeadamente leos larvicidas, extratos vegetais, reguladores de crescimento dos

  • I. INTRODUO

    21

    insetos, bactrias larvicidas, entre outras. Os ltimos dois grupos referidos no so

    txicos para os peixes, mamferos e outros organismos no-alvos.

    Os larvicidas mais frequentemente utilizados so os organofosfatos, tais como o Abate

    (=Temephos), o fenitrotio e o clorpirifos.

    Os piretrides tais como a deltametrina e a permetrina podem tambm ser utilizados

    como larvicidas. Contudo, como afetam no s os insectos, como j se referiram, mas

    tambm peixes, crustceos e outros animais aquticos, a sua aplicao torna-se restrita a

    casos especficos, sempre sob superviso de equipas especializadas.

    Os reguladores de crescimento de insetos (IGR - Insect Growth Regulator) so

    inseticidas de ao indireta, altamente txicos para os insetos, que atuam inibindo a

    formao de quitina nos estdios imaturos, comprometendo o seu desenvolvimento

    (Service, 2008). Tm como vantagem o facto de apresentar baixa toxicidade para os

    mamferos, aves, peixes e insetos adultos mas, em contrapartida, so muito txicos para

    crustceos e outros imaturos de insetos aquticos. A sua utilizao limitada no s

    devido ao elevado custo, mas tambm restrita disponibilidade nos pases mais

    afetados.

    O pireproxifeno um exemplo bem conhecido de um composto IGR, tratando-se de

    uma hormona juvenil, anloga dos insetos, que afeta muitos artrpodes. Os

    reguladores de crescimento tm sido usados no controlo de pragas agrcolas nas ltimas

    dcadas e tm sido eficazes tambm em mosquitos. Utilizada em baixas concentraes

    previne a emergncia de Ae. aegypti. Doses muito baixas desta hormona podem tambm

    afetar os adultos reduzindo a fecundidade e a fertilidade. Tem ainda como vantagem

    adicional o facto da fmea adulta contaminada poder transferir doses efetivas do

    referido composto para qualquer bitopo por onde ela passa (McCall e Kittayapong,

    2007). Novas frmulas deste produto tm sido desenvolvidas para prolongar a sua

    eficcia por mais tempo e deste modo reduzir a necessidade da sua reaplicao

    (Sihuincha et al., 2005).

    De entre os inseticidas de ao indireta encontram-se ainda as feromonas, compostos

    que interferem na comunicao entre indivduos da mesma espcie. No possuem ao

  • I. INTRODUO

    22

    pesticida, mas as suas caractersticas biolgicas permitem a sua utilizao no controlo

    de pragas (Silverstein, 1981; Mendes, 1989). As feromonas podem ser usadas como

    atrativos em armadilhas, reduzindo diretamente a densidade da populao, ou podem ser

    difundidas no ar induzindo alteraes comportamentais, como por exemplo, dificuldade

    de os machos localizar as fmeas, diminuindo-se deste modo o nmero de

    acasalamentos, e a densidade populacional (Matos, 2000).

    Quando se faz o controlo qumico dos mosquitos na fase adulta, as estratgias de

    aplicao dependem em grande parte dos hbitos de alimentao e repouso da espcie-

    alvo.

    Um dos primeiros mecanismos de aplicao de inseticida na exterminao de mosquitos

    em repouso foi as Flit-guns, designao devida ao nome comercial do inseticida

    pulverizado. As verses mais modernas destes aspersores individuais ainda hoje so

    usadas quer em pulverizaes intra-domicilirias quer na nebulizao de pequenas reas

    de vegetao. Quando devidamente usado torna-se um valioso mtodo de preveno

    (Service, 1986).

    O conhecimentos dos hbitos de repousos dos mosquitos adultos, no interior das

    habitaes antes e/ou depois da refeio sangunea, torna-se relevante nas campanhas de

    controlo baseadas na pulverizao de superfcies interiores, como paredes e telhados de

    habitaes ou de abrigos para animais, com inseticidas residuais (Service, 1986). A

    pulverizao residual de interiores vulgarmente designada pela sigla IRS (indoor

    residual spraying) e uma das principais intervenes no controlo dos vetores da

    malria (van der Berg, 2009; Vatandoost et al., 2009).

    Quando o mosquito vetor apresenta hbitos exoflicos, as aplicaes de inseticida tm

    de ser efectuadas no exterior. O principal volume de qualquer formulao lquida de um

    inseticida consiste no solvente, sendo a quantidade do inseticida ativo reduzida.

    Aumenta-se a eficincia da aplicao se a concentrao da soluo inseticida

    pulverizada for escassa, mas dispersa num grande volume de solvente, numa dada rea.

    Esta aplicao, conhecida como ULV (ultra-low-volume), normalmente feita com

    recurso a veculos automveis ou avies em reas extensas. Os inseticidas utilizados em

  • I. INTRODUO

    23

    nebulizaes ULV, em regra, atuam principalmente sobre a parcela da populao de

    culicdeos que se encontra ativa podendo, no entanto, afectar parte da populao que se

    encontra em repouso em locais expostos. A pulverizao ULV pode ser usada para

    prevenir ou controlar actuais surtos epidmicos, sendo que em situaes de emergncia

    a pulverizao area permite um controlo vetorial mais rpido e eficaz. Este tipo de

    controlo tem sido usado para reduzir drasticamente a transmisso da dengue

    hemorrgica na Amrica do Norte (Service, 2008).

    Os inseticidas qumicos continuam a ter muita relevncia nos programas de luta

    integrada contra os vetores. No entanto, o arsenal de inseticidas seguros e eficazes tem

    vindo a reduzir-se devido, quer ao aumento das resistncias causado pela utilizao

    intensiva e/ou incorrecta de inseticidas sintticos (consequncia da insustentabilidade

    econmica dos atuais programas de controlo), quer aos efeitos adversos ambientais e em

    sade pblica (Zaim e Guillet, 2002).

    I.4.6 Repelentes como medida de proteo individual

    Os repelentes, apesar de no serem classificados como inseticidas, so na sua grande

    parte compostos sintticos, que podem ser aplicados na pele ou roupa para prevenir

    ataques de insetos, carraas e caros ofensivos. A sua aplicao aconselhvel em

    situaes em que outras medidas de controlo no so praticveis ou so impossveis de

    ser implementadas, podendo ainda ser utilizados como mtodo de controlo

    complementar.

    O perodo de maior atividade de picada de uma populao de insetos dura em mdia

    cerca de duas a quatro horas, mas o tempo de repelncia de um composto qumico

    condicionado por fatores como a atividade e o grau de transpirao do indivduo, a

    temperatura ambiente ou a espcie de inseto. No entanto, em muitas circunstncias, a

    aplicao de repelente sobre a roupa/pele exposta pode ser o nico meio possvel de

    proteo contra picadas de insetos. Visto ser necessria uma nica picada de um

    artrpode infetado para a transmisso do agente patognico, torna-se crucial a pesquisa

    de novos produtos repelentes que forneam uma proteo eficiente e prolongada. Os

  • I. INTRODUO

    24

    repelentes de insetos comerciais disponveis normalmente so subdivididos em duas

    categorias - os sintetizados quimicamente e os derivados de leos essenciais (Fradin &

    Day, 2002).

    O DEET (N,N-dimetil-meta-toluamida) o repelente sinttico mais usado desde 1950 e

    considerado o produto padro em relao a todos os outros repelentes, apesar da sua

    eficcia ter considerveis efeitos adversos, no oferecendo uma proteo eficaz a longo

    prazo.

    Apesar do mecanismo de ao e do alvo molecular do DEET no serem ainda

    conhecidos, estudos mostraram que este composto causa um bloqueio nas respostas

    electrofisiolgicas, nos neurnios sensoriais olfativos, aos odores atrativos em An.

    gambiae e Drosophila melanogaster Meigen, 1830. O DEET, que tem sido o repelente

    de insetos de eleio, tem apresentado problemas de toxicidade, pelo que a sua

    utilizao est a ser posta em causa. Assim, aumenta a necessidade de pesquisa de

    novas substncias para uso como repelente.

    Os seres humanos ao longo dos tempos tm vindo a usar compostos derivados de

    plantas, tais como o eucalipto e a citronela ou mesmo incensos, para repelir picadas de

    insetos. Nos ltimos anos, a utilizao deste tipo de repelentes tem aumentado como

    uma alternativa vivel aos inseticidas sintticos.

    O leo de citronela, extrado de vrias espcies de Cymbopogon (erva citronela), apesar

    de demonstrar boa eficcia contra mosquitos, pode causar irritao em peles sensveis e

    dermatites em alguns indivduos, pelo que a sua aplicao apresenta limitaes.

    Um repelente eficiente e seguro tornar-se- til na reduo do contato humano-vetor e,

    consequentemente contribuir para a interrupo da transmisso de doenas por vetores

    (Karunamoorthi & Sabesan, 2009; Logan et al., 2010). Os repelentes de insetos so uma

    alternativa econmica ao controlo vetorial por inseticidas (Vatandoost & Hanafi-Bojd,

    2008), no obstante a sua referida limitao.

  • I. INTRODUO

    25

    A tecnologia de microencapsulao, uma tentativa corrente de resolver o problema da

    durabilidade dos inseticidas piretrides, tambm dos repelentes, tem demostrado

    qualidades acrescidas para reduzir o impacte ambiental dos pesticidas e melhorar o seu

    perfil toxicolgico. Esta metodologia consiste na incluso de um ingrediente ativo numa

    cpsula de polmero e a sua libertao gradual para o exterior, permitindo um

    prolongamento da sua atividade residual. A microcpsula fornece um local de

    armazenamento de uma determinada quantidade do agente funcional e um escudo

    protetor aos efeitos solares, humidade e ao oxignio. A libertao do agente funcional

    ocorre por difuso atravs da cpsula e/ou ruptura das microcpsulas.

    Suspenses microencapsuladas de piretrides esto a ser comercializadas como

    sprays residuais de interiores. A micro-encapsulao revelou outras vantagens tais

    como reduo do impacto ambiental dos pesticidas e melhoramento do perfil

    toxicolgico.

    Uma das metodologias emergentes mais eficazes para a aplicao drmica de repelentes

    naturais consiste na preparao de emulses micrmetras, designadas de nano-emulses

    ou mini-emulses. As nano-emulses so disperses leo-gua com gotculas de

    tamanho compreendido de 100 a 600nm. Tm como vantagem a estabilidade cintica,

    uma solidez fsica a longo prazo e so hidrossolveis sem alterao do seu tamanho, ao

    contrrio das micro-emulses. Preparados de nano-emulses com leo de citronela

    encapsulado por homogeneizao a alta presso, levaram a uma libertao lenta do leo,

    aumentando o tempo de proteo contra mosquitos (Sakulku et al., 2009).

    Apesar dos produtos qumicos como repelentes de mosquitos serem potencialmente

    promissores, impera a necessidade de se encontrar repelentes naturais para o uso

    comum por populaes em zonas endmicas, especialmente aqueles que possam ser

    cultivados localmente e processados com baixa tecnologia.

    A aplicao de repelentes em tecidos, roupas ou redes um recurso ainda pouco

    estudado que tem potenciais benefcios em termos de segurana, nomeadamente na

    reduo da exposio direta a qumicos mais txicos.

  • I. INTRODUO

    26

    I.4.7. Bioinseticidas

    Como tem sido referido, a resistncia aos inseticidas tem ocorrido na maioria dos

    artrpodes, nomeadamente nos vetores de agentes patognicos para seres humanos. Em

    1992, a lista de espcies vetoras resistentes a inseticidas inclua 56 mosquitos

    anofelneos e 39 mosquitos culicneos, piolhos, percevejos, triatomneos, oito espcies

    de pulgas e nove espcies de carraas (WHO, 1992). A resistncia surgiu para todas as

    classes qumicas de inseticidas, incluindo microbianos e reguladores de crescimento de

    insetos (Brogdon et al., 1998).

    Os produtos naturais de origem vegetal ressurgem como uma promissora fonte de

    substncias bioativas potencialmente teis na luta qumica contra os insetos, atuando

    como ovicidas, larvicidas e/ou adulticidas. Dado que a sua sntese est muitas vezes

    associada aos mecanismos de defesa das plantas contra inimigos naturais (Mello e

    Silva-Filho, 2002), os compostos biossintetizados pelas plantas, metabolitos

    secundrios, apresentam geralmente maior especificidade para os organismos-alvo, so

    biodegradveis e comportam menores riscos ambientais (Sukumar et al., 1991; Matos,

    2000; Grayer et al., 2001). Um vasto nmero de diferentes espcies de plantas, de vrias

    regies geogrficas, tem revelado potencialidades fitoqumicas, capazes de causar

    vrios efeitos de toxicidade aguda ou crnica nos insetos (Rocha, 2003; Rasheed et al.,

    2005; Sharma et al., 2006; Amer & Mehlhorn, 2006 a, b; Rocha, et al., 2008, Rose et

    al., 2009, Benelli et al., 2012).

    Extratos vegetais de diversas plantas demonstraram efeitos adversos na fecundao e na

    ecloso dos ovos de mosquitos, exibiram propriedades larvicidas significativas e

    promissoras, incluindo ainda efeitos como reguladores de crescimento (Shaalan et al.,

    2005; Tabanca et al. 2012; Giatropoulos et al. 2012). Piretro, derris, quassia, nicotina,

    anabasina, azadiractina, D-limoneno, cnfora e turpentina so exemplos de importantes

    fitoqumicos inseticidas usados principalmente nos pases desenvolvidos, antes da

    introduo dos inseticidas orgnicos sintticos (Wood, 2003; Sukumar et al., 1991).

  • I. INTRODUO

    27

    Nos ltimos anos, os OEs obtidos de plantas tm sido considerados potenciais fontes de

    substncias biologicamente ativas no controlo de vetores (Kelsey at al., 1984). Os OEs

    so misturas volteis, geralmente aromticas, obtidas por arrastamento de vapor de

    gua, sendo normalmente produtos muito complexos e que tm na sua composio

    principalmente terpenos, com diferentes grupos funcionais, como por exemplo, lcoois

    (e.g. mentol), steres, cetonas (e.g. carvona) e aldedos (e.g. citronelal), entre outros

    (Simas et al., 2004; Sangwan et al., 2001). Muitos destes compostos apresentam

    propriedades biocidas, nomeadamente inseticidas, como o caso da pulegona (Grundy

    & Still, 1985), bactericidas como o carvacrol (Russel, 1986), fungicidas como o citral e

    o citronelol (Duke, 1992; Gata-Gonalves et al., 2003) e herbicidas como o limoneno

    (Lydon & Duke, 1989).

    Apesar de reconhecidas vantagens, como a ao e degradao rpidas, toxicidade baixa

    a moderada para mamferos, maior seletividade e baixa fitotoxidade, os bio inseticidas

    apresentam algumas desvantagens, com