Plano Metropolitano RMBH

78
Abril de 2011 Relatório Final Sumário Executivo

Transcript of Plano Metropolitano RMBH

  • Abril de 2011

    Relatrio FinalSumrio Executivo

  • PLANO DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO INTEGRADO

    DA REGIO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE

    PDDI RMBH

    Relatrio de Definio das Propostas de Polticas Setoriais,

    Projetos e Investimentos Prioritrios

    Sumrio Executivo

  • SUMRIO

    1 Apresentao ............................................................................................................... 1

    2 Proposta de Reestruturao Territorial Metropolitana ................................................ 10

    2.1 Polticas da Dimenso Estruturante Territorialidade ...................................... 20

    2.1.1 Centralidades em Rede ....................................................................... 20

    2.1.2 Regulao do Uso e da Ocupao do Solo ......................................... 21

    3 Eixos Temticos Integradores: Polticas e Programas ................................................. 23

    3.1 Eixo Acessibilidade ......................................................................................... 23

    3.1.1 Mobilidade Metropolitana .................................................................. 24

    3.1.2 Direito ao Espao Cotidiano: Moradia e Ambiente Urbano ............... 25

    3.1.3 Integrao dos Servios de Sade ...................................................... 26

    3.1.4 Assistncia Social ............................................................................... 27

    3.1.5 Democracia Digital ............................................................................ 28

    3.2 Eixo Seguridade .............................................................................................. 29

    3.2.1 Segurana Pblica ............................................ 30

    3.2.2 Gesto dos Riscos Ambientais e de Mudanas Climticas ................ 31

    3.2.3 Segurana Alimentar e Nutricional .................................................... 32

    3.2.4 Formao e Qualificao Profissional ................................................ 33

    3.2.5 Apoio Produo em Pequena Escala ............................................... 34

    3.3 Eixo Urbanidade ............................................................................................. 35

    3.3.1 Democratizao dos Espaos Pblicos .......................................................... 36

    3.3.2 Gesto da Paisagem e Valorizao da Diversidade Cultural ............ 37

    3.3.3 Gesto Territorial da Educao e Cultura .......................................... 38

    3.3.4 Promoo de Atividades Culturais e Criativas .................................. 39

    3.3.5 Financiamento da Cultura .................................................................. 40

    3.4 Eixo Sustentabilidade ...................................................................................... 41

    3.4.1 Desenvolvimento Produtivo Sustentvel ............................................ 42

    3.4.2 Desenvolvimento de Territrios Minerrios ...................................... 44

    3.4.3 Gesto, Proteo e Recuperao dos Recursos Hdricos ................... 45

    3.4.4 Resduos Slidos ................................................................................ 46

  • 3.4.5 Saneamento Bsico ............................................................................ 48

    3.4.6 Delimitao e Recuperao de reas de Interesse para Conservao

    Ambiental .......................................................................................... 49

    3.4.7 Compensao e Valorao de Servios Ambientais ........................... 50

    3.4.8 Mitigao de Gases de Efeito Estufa para uma Economia de Baixo

    Carbono .............................................................................................. 51

    4 Proposta Institucional .................................................................................................. 52

    4.1 Recomendaes, Diretrizes e Aes para Implementao do PDDI .............. 52

    4.2 Apresentao da Matriz de Desenvolvimento Institucional ........................... 57

    4.3 Polticas da Dimenso Estruturante Institucionalidade ................................... 61

    4.3.1 Desenvolvimento Institucional .. ........................................................ 61

    4.3.2 Cooperao Interinstitucional e Intersetorial ...................................... 63

    4.3.3 Modernizao e Atualizao da Estrutura Fiscal dos Municpios ...... 64

    5 Equipe .......................................................................................................................... 65

  • 1

    1 APRESENTAO

    Este documento apresenta o Sumrio Executivo do Plano Diretor de Desenvolvimento

    Integrado da Regio Metropolitana de Belo Horizonte PDDI-RMBH, contratado pela

    Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e Poltica Urbana Sedru, do Governo do

    Estado de Minas Gerais, junto Fundao Instituto de Pesquisas Econmicas,

    Administrativas e Contbeis de Minas Gerais Fundao Ipead, e elaborado por uma equipe

    coordenada pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional Cedeplar, da

    Faculdade de Cincias Econmicas FACE, da Universidade Federal de Minas Gerais

    UFMG, com a participao direta de professores e alunos de ps-graduao e graduao, de

    vrias unidades e departamentos da UFMG. Os estudos envolveram tambm professores e

    pesquisadores do Observatrio de Polticas Urbanas OPUR, da Pontifcia Universidade

    Catlica de Minas Gerais PucMinas, e da Escola de Design da Universidade Estadual de

    Minas Gerais UEMG. A equipe tcnica do Plano Metropolitano incluiu tambm professores

    e pesquisadores de outras unidades de ensino superior e centros de pesquisa no Estado, alm

    de consultores nas reas de planejamento urbano e ambiental, transportes, polticas pblicas e

    outros estudos setoriais.

    Esta Equipe Tcnica contou ainda com o apoio institucional e o acompanhamento

    tcnico permanente da Subsecretaria de Assuntos Metropolitanos, da Sedru Secretaria de

    Estado de Desenvolvimento Regional e Poltica Urbana, como tambm de membros do

    Conselho Deliberativo de Desenvolvimento Metropolitano, que constituram uma Equipe de

    Acompanhamento Tcnico e Institucional presente em todas as etapas do trabalho.

    Os problemas metropolitanos identificados e as polticas e programas propostos para

    implementao foram discutidos com vrias equipes tcnicas setoriais do Governo do Estado,

    em inmeras reunies organizadas por temas do PDDI as reas Temticas e os Estudos

    Complementares, na primeira fase (Ciclo A), e os Eixos de Integrao Temtica e suas

    respectivas Polticas, na fase de propostas (Ciclos B e C). Essas reunies tcnicas, realizadas

    na Sedru e em outras secretarias, reuniram rgos estaduais atuantes naqueles temas, alm de

    representantes das prefeituras, resultando em encontros ampliados e inter-setoriais, com o

    objetivo de conhecer melhor e discutir os diversos programas e projetos j existentes no

    mbito do Governo do Estado, para balizar, articular e integrar as vrias propostas, tanto entre

  • 2

    si (muitos rgos do Estado conhecem pouco os programas dos seus pares), quanto com as

    snteses e nfases em construo no mbito (e escalas) do Plano Metropolitano.

    O PDDI contou tambm com a colaborao voluntria de reconhecidos especialistas

    nas reas de planejamento urbano e de transportes, em especial, mas tambm em outras reas

    de estudo, atravs da participao ativa em reunies tcnicas para discusso e balizamento das

    propostas trazidas pela equipe do Plano, j incorporando e sintetizando o processo

    participativo sistemtico conduzido nas oficinas e seminrios. Os estudos e propostas foram

    tambm apresentados parcialmente em fruns acadmicos e em reunies polticas no Estado e

    nos Municpios, alm de apresentaes no Conselho Deliberativo Metropolitano, na Granbel,

    na Fiemg, entre outros locais e instituies, sempre com a participao e acompanhamento da

    Sedru-MG.

    Finalmente, a Equipe Tcnica e a Equipe de Acompanhamento Tcnico e Institucional

    do Plano contaram, acima de tudo, com o debate pblico que incluiu dezessete oficinas de

    trabalho realizadas nos municpios metropolitanos e trs seminrios de apresentao e

    discusso, realizados em Belo Horizonte.

    O processo de mobilizao social e comunitria para participao na elaborao do

    PDDI envolveu mais de 3.000 participaes, distribudos entre 610 organismos e/ou

    entidades, sendo 61 do Poder Pblico Estadual, 241 do Poder Pblico Municipal (Executivo e

    Legislativo, sendo 55 vereadores) e 308 da Sociedade Civil organizada: empresas, ONGs,

    sindicatos, conselhos e associaes comunitrias, entre outros. A dinmica central do

    processo participatrio consistiu nas 15 oficinas que compuseram os trs ciclos de debates,

    concludos com trs seminrios.

    PROCESSO PARTICIPATIVO DO PDDI-RMBH

    importante ressaltar o ineditismo desta experincia de elaborao de um Plano

    Metropolitano sob responsabilidade direta de instituies de ensino superior, representando

    algo novo no planejamento metropolitano em Belo Horizonte, no Estado e no Brasil. A

  • 3

    validade e o sentido ltimo desta experincia dependem de sua continuidade, que dever

    consolidar um processo de planejamento crtico e permanente.

    Deste modo, cumpre ressaltar o sentido crtico dos estudos desenvolvidos, qual seja,

    uma abordagem da realidade metropolitana voltada para a compreenso da totalidade. Assim,

    para alm dos estudos analticos, parciais e operativos, dos vrios aspectos abordados, busca-

    se sua rearticulao com a totalidade.

    Em segundo lugar, deve-se enfatizar o carter do planejamento ora proposto, coerente

    com a contemporaneidade. A experincia de planejamento metropolitano que conhecemos na

    RMBH, e no pas, foi construda no contexto da ditadura militar e pautada por uma

    tecnocracia que lhe dava legitimidade. Pautava-se no conhecimento tcnico especializado

    como capaz de ditar os caminhos ideais para a ao do Estado sobre a sociedade. Em

    contraposio a essa viso tecnocrtica do planejamento, surgiram correntes centradas na

    mobilizao social e no aprendizado social, que colocam a sociedade no apenas como

    objeto, mas tambm como sujeito do planejamento. Esta abordagem contempornea

    pressupe um processo contnuo de mtuo aprendizado entre planejadores e sociedade.

    Neste contexto, a abordagem crtica supera o sentido analtico e funcional de um

    planejamento reformista, sem desqualific-lo, mas limitando-o ao seu carter operacional e

    imediato e indo alm, com o objetivo de pensar a totalidade em transformao e buscar

    construir processos voltados para a transformao social, econmica e ambiental.

    O objetivo do PDDI , portanto, construir um processo de planejamento

    metropolitano na RMBH envolvendo seus municpios, o estado de Minas Gerais, os rgos

    federais ali atuantes, a sociedade civil organizada em seus movimentos sociais, associaes

    empresariais e populares e tambm, complementarmente, os municpios que compem o

    Colar e o Entorno Metropolitano. Trata-se de construir um processo perene de discusso,

    colaborao e integrao de conhecimentos, no curto, mdio e longo prazos, e de redes de

    informao que permitam a anlise, a crtica e o monitoramento permanentes das mltiplas

    aes dos vrios agentes que atuam no espao e territrio metropolitanos.

    Este processo de planejamento implica a construo de um sentido de solidariedade e

    identidade metropolitanas, e tambm o (re)envolvimento das populaes com seus territrios,

    suas comunidades, suas crenas, prticas e valores, tendo o respeito ao espao da vida coletiva

    como um elemento central.

    O PDDI-RMBH insere-se no contexto poltico-institucional mais amplo do processo

    de implantao e consolidao do novo Sistema de Gesto Metropolitana no Estado de Minas

  • 4

    Gerais. O atual modelo institucional de gesto metropolitana foi implantado a partir de 2004,

    aps amplo processo de discusso liderado pela Assemblia Legislativa do Estado, que

    culminou com a Emenda 65 Constituio Estadual. Em 2006, a aprovao das leis

    complementares 88, 89 e 90, estabeleceu o arranjo institucional para gesto e planejamento

    das duas RMs do Estado: Regio Metropolitana de Belo Horizonte RMBH e Regio

    Metropolitana do Vale do Ao RMVA. Em 2007, foi criada a Subsecretaria de

    Desenvolvimento Metropolitano, dentro da Secretaria de Estado de Desenvolvimento

    Regional e Poltica Urbana (Sedru), para implementar o novo arranjo institucional.

    A legislao define como rgos de gesto a Assemblia Metropolitana e o Conselho

    Deliberativo de Desenvolvimento Metropolitano, e como rgo de suporte tcnico, a Agncia

    de Desenvolvimento Metropolitano. Participam tambm do sistema instituies estaduais,

    municipais e intermunicipais relacionadas s funes pblicas de interesse comum

    metropolitano. So definidos como instrumentos de gesto e pilares do sistema o Plano

    Diretor de Desenvolvimento Integrado e o Fundo de Desenvolvimento Metropolitano.

    O Fundo de Desenvolvimento Metropolitano constitudo de recursos do Estado e do

    conjunto dos 34 municpios da RMBH, na proporo de 50% de cada uma das duas partes,

    sendo a contribuio dos municpios proporcional s suas receitas lquidas. Compem ainda o

    Fundo: dotaes oramentrias, transferncias do governo federal, operaes de crdito

    internas ou externas, doaes e outros.

    Em 2007, a partir da Primeira Conferncia Metropolitana, foram instalados o

    Conselho Deliberativo e a Assemblia Metropolitana, e regulamentado o Fundo de

    Desenvolvimento Metropolitano. Na Conferncia, informalmente foi criado o Colegiado

    Metropolitano, como apoio aos membros da sociedade civil eleitos para o Conselho, com

    representaes de 20 entidades dos diversos segmentos. O Colegiado, em sua atuao,

    construiu forte legitimidade.

    A Agncia de Desenvolvimento Metropolitano Agncia RMBH instituda pela Lei

    Complementar 107, de 2009, uma autarquia territorial e especial, de carter tcnico e

    executivo, para fins de planejamento, assessoramento, regulao urbana e apoio execuo

    das funes pblicas de interesse comum na regio metropolitana. Possui autonomia

    administrativa e financeira, personalidade jurdica de direito pblico, sendo vinculada Sedru

    Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e Poltica Urbana, com atuao

    orientada pelo Conselho Deliberativo de Desenvolvimento Metropolitano.

  • 5

    O modelo pressupe o compartilhamento de decises entre o Estado e o conjunto de

    municpios na gesto metropolitana e define a titularidade estadual em relao s funes

    pblicas de interesse comum. Cabe ressaltar que, pela primeira vez, depois de mais de 30 anos

    de existncia da RMBH, a sociedade civil participa do Conselho Deliberativo.

    Como a Agncia RMBH iniciou suas atividades apenas em meados de 2009, a

    Subsecretaria de Desenvolvimento Metropolitano da Sedru assumiu as atividades de apoio

    tcnico ao Conselho e Assemblia em 2008 e 2009, organizando as reunies e se

    encarregando das atividades de planejamento metropolitano. A Subsecretaria foi responsvel

    pela preparao e apresentao do Termo de Referncia para a contratao do PDDI-RMBH.

    Destaca-se a grande vitalidade do Conselho nesse perodo, com presena expressiva de

    conselheiros presentes s reunies, alm do interesse demonstrado por parte de seus membros

    tanto na definio das pautas das reunies, quanto nas discusses e solicitao de informaes

    tcnicas para balizar tais discusses.

    As macro-diretrizes para o planejamento, formuladas no PDDI, foram definidas em

    funo do seu carter transversal (promoo do desenvolvimento sustentvel, reorganizao

    territorial, insero nacional e internacional, gesto metropolitana integrada e controle social),

    metodolgico (consistncia tcnica, inter-setorialidade e participao social) e relacionadas

    s funes pblicas de interesse comum metropolitano (transporte intermunicipal e sistema

    virio; defesa contra sinistro e defesa civil; saneamento bsico; uso do solo metropolitano; gs

    canalizado; cartografia e informaes bsicas; preservao ambiental; habitao; rede de

    sade; desenvolvimento socioeconmico). Foram incorporadas diretrizes definidas nos planos

    diretores municipais e nas polticas e programas existentes nos vrios rgos setoriais da

    administrao estadual e federal.

    A principal referncia para o planejamento metropolitano integrado a construo de

    um sentido de cidadania metropolitana que contribua para um processo de integrao

    socioespacial entre os 34 municpios, implicando maior coeso entre estes, a sociedade civil e

    o governo estadual, articulando a RMBH com o espao estadual e fortalecendo seu papel

    como centro de comando do Estado de Minas Gerais.

    A incluso e empoderamento de municpios e populaes fragilizadas implicam a

    articulao dos vrios projetos, como tambm uma inverso de prioridades metropolitanas

    para polticas e investimentos pblicos, privilegiando o fortalecimento das periferias, o re-

    envolvimento das populaes com suas culturas e prticas socioespaciais e a valorizao das

    vrias identidades da Regio Metropolitana.

  • 6

    Impe-se, assim, a necessidade de construir um Novo Pacto Metropolitano, qual seja,

    um pacto de incluso e de produo de um espao mais integrado social, econmica e

    culturalmente, que seja capaz de fomentar um sentido coletivo de cidadania metropolitana e

    que contribua efetivamente para o fortalecimento da RMBH.

    As vrias aes e proposies de polticas e programas que devero compor o primeiro

    rol de investimentos e de polticas pblicas para a RMBH devero contemplar as muitas

    realidades diferenciadas, em suas mltiplas escalas, tanto internamente Regio implicando

    arranjos intermunicipais, identidades sub-regionais e articulaes locais supra-municipais

    quanto externamente.

    O PDDI-RMBH foi inicialmente estruturado a partir de um Ncleo de Coordenao e

    de equipes aglutinadas em torno de reas temticas. O Ncleo de Coordenao foi composto

    por: Coordenao Geral, Coordenao Territorial e Coordenao para Concertao

    Institucional, alm de trs Coordenaes de Ncleos Temticos de Desenvolvimento

    Econmico, Social e Ambiental. Duas Subcoordenaes Operacionais reuniram aes e

    informaes centrais para o trabalho em dois sistemas Informaes e Comunicaes; e

    Mobilizao Social e Organizao Local. Alm disso, foi criada uma Gerncia Operacional.

    Foram, a princpio, definidas dez reas Temticas Transversais de carter supra-

    setorial, que perpassaram os Ncleos Temticos de Desenvolvimento Econmico, Social e

    Ambiental, com um enfoque transdisciplinar e buscando uma integrao entre as tradicionais

    reas de atuao setorial. Essas reas reuniram os temas prioritrios que foram listados de

    forma isolada no Termo de Referncia que orientou a proposta.

    Na etapa dos diagnsticos que compuseram os Estudos Setoriais, os esforos se

    centraram nas dez reas temticas transversais. Na segunda etapa, iniciada aps o Seminrio

    1, os Ncleos Temticos de Desenvolvimento Econmico, Social e Ambiental passaram a

    ter papel central, identificando e explorando as presenas e mltiplas articulaes temticas

    (transversais) e garantindo a insero das trs abordagens macro-setoriais em todas as

    dimenses do trabalho, cabendo a articulao geral s dimenses territorial e de concertao

    institucional.

    Alm dessa integrao, foram definidos Estudos Complementares que, por sua

    importncia e/ou contemporaneidade, exigiram um esforo especfico por no estarem

    inteiramente cobertos nas reas Temticas Transversais: a questo fiscal e do financiamento;

    os impactos das mudanas climticas; o perfil epidemiolgico e o impacto dos grandes

    equipamentos de sade pblica. Foram tambm realizadas Anlises Espaciais referentes

  • 7

    projeo da expanso da mancha urbana da RMBH; identificao de vocaes e conflitos de

    interesse na ocupao do territrio metropolitano; ao potencial geolgico de ocupao do

    territrio e ao potencial de interao entre as centralidades e o sistema virio.

    O territrio e sua institucionalizao so os elementos centrais do Plano

    Metropolitano, em torno dos quais as propostas de polticas e programas devem se integrar

    para tratar das oportunidades e problemas identificados na escala e mbito metropolitanos.

    A necessidade de buscar um grau ainda maior de integrao e transdisciplinaridade

    levou definio dos Eixos Temticos Integradores (ETIs) para orientar as polticas e

    programas do PDDI-RMBH: Urbanidade, Acessibilidade Seguridade e Sustentabilidade.

    O sentido da Urbanidade o elemento que nos parece melhor responder ao que

    significa ser cidado em uma regio urbanizada e integrada metropolitanamente, trazendo o

    direito cidade como fato central da cidadania metropolitana. Trata-se, portanto, de garantir

    o direito a uma vida integral e plena de oportunidades, caracterizada pelas dimenses,

    diferenas e diversidades prprias de uma regio ampla que se urbaniza e se articula grande

    metrpole estadual.

    O acesso efetivo e democrtico aos servios urbanos e sociais bsicos, assim como as

    condies de ir e vir, trafegando nas vrias escalas metropolitanas, garantindo uma vida

    coletiva capaz de equacionar questes da sade, de educao, dos movimentos

    metropolitanos, da vida quotidiana, enfim, o acesso cidade metropolitana entendido como

    um desejo fundamental foi claramente expresso nas cinco Oficinas do Ciclo A. Assim, a

    Acessibilidade define outro eixo temtico integrador.

    A segurana pblica na vida quotidiana tem tambm sido sempre expressa como um

    desejo fundamental na cidade contempornea, cada vez mais permeada de violncias e

    conflitos. Entretanto, no se trata apenas desse tipo de segurana, mas tambm da segurana

    nas suas dimenses bsicas: alimentar, posse da terra e da moradia, trabalho e renda. Aqui,

    novamente, a questo da cidadania se manifesta com radicalidade: a Seguridade, tomada em

    seu sentido amplo, responde pela necessria assistncia do Estado e da prpria sociedade aos

    seus membros, como tambm ao sentido de sossego, de paz de esprito, de garantia de uma

    vida plena e assistida a todos os cidados.

    Finalmente, um quarto eixo se impe por sua contemporaneidade e sua fora, capaz de

    redefinir os paradigmas atuais: a Sustentabilidade. Refere-se questo ambiental,

    certamente, mas tambm sustentabilidade econmica e social, e sustentabilidade poltica e

  • 8

    cultural. Trata-se, enfim, da continuidade e do fortalecimento dos processos diversificados

    que asseguram uma vida coletiva mais rica, presente e futura.

    A partir das discusses nos Ciclos B e C das Oficinas Pblicas, as propostas foram

    reunidas em 23 polticas ligadas diretamente aos quatro Eixos Temticos Integradores,

    acrescidas de duas polticas na dimenso estruturante da Territorialidade, e trs polticas na

    dimenso estruturante da Institucionalidade, perfazendo assim um total de 28 (vinte e oito)

    polticas.

    Cada Poltica contm um conjunto de programas e aes concertadas, que devero ser

    desenvolvidos e detalhados, em nveis diferenciados, ao longo do processo de planejamento.

    Seguem-se, na apresentao deste Resumo Executivo do PDDI-RMBH:

    a proposta de reestruturao territorial metropolitana e suas duas polticas

    complementares, que integram a Dimenso Estruturante da Territorialidade;

    os quatro Eixos Temticos Integradores e suas respectivas Polticas, que perfazem

    um total de vinte e trs polticas;

    a proposta institucional e suas trs polticas complementares, que integram a

    Dimenso Estruturante da Institucionalidade.

    As propostas aqui apresentadas significam, como mencionado inicialmente, o marco

    inicial de um processo de planejamento que, espera-se, est se implantando de forma perene e

    regular na RMBH. Representam um universo de questes e aes, discutidas o mais

    amplamente possvel com a sociedade e o poder pblico, durante cerca de 15 meses, tempo

    definido para elaborao deste Plano Metropolitano. As universidades envolvidas nesse

    processo se sentem privilegiadas por terem podido contribuir de forma abrangente e efetiva

    para a melhoria das condies de vida metropolitana na RMBH.

  • 9

    QUADRO GERAL DE ORGANIZAO DO PDDI -RMBH

  • 10

    2 PROPOSTA DE REESTRUTURAO TERRITORIAL METROPOLITANA

    Apresenta-se aqui a proposta de reestruturao territorial da RMBH, que tem 2023

    como referncia temporal de mdio prazo, e 2050 como horizonte de longo prazo1. O olhar

    estrutural de mdio e longo prazo ultrapassa a busca operacional de solues imediatas para

    os prementes problemas que afligem a comunidade metropolitana, e procura ser um

    referencial para, em grandes linhas, guiar a ao dos entes pblicos e privados e da sociedade

    civil no sentido da construo de uma RMBH mais dinmica, igualitria e sustentvel. A

    proposta busca dar um norte intencional para o destino da metrpole das prximas dcadas,

    buscando antecipar-se aos desafios e demandas sociais futuros, levando-se em considerao

    as potencialidades e particularidades da RMBH. Sua concretizao implica num maior grau

    de interveno e regulamentao do poder pblico sobre a dinmica econmica e sobre os

    mercados imobilirios, assim como num aumento substancial dos investimentos pblicos no

    provimento daquelas infra-estruturas urbanas indispensveis a uma melhor articulao e

    estruturao do territrio da RMBH. Por fim, ela desdobra-se em duas polticas estruturantes,

    a Poltica Metropolitana Integrada de Centralidades em Rede e a Poltica Metropolitana

    Integrada de Regulao do Uso e da Ocupao do Solo.

    O conjunto de estudos setoriais e estudos complementares elaborados para o PDDI

    apontou as seguintes tendncias gerais para a dinmica territorial da RMBH em curso:

    recrudescimento das desigualdades socioespaciais e do modelo centro-periferia de

    estruturao territorial; crescente perda de mobilidade urbana, associada ao favorecimento do

    transporte privado em detrimento do transporte pblico coletivo, falta de integrao das 1 Esta proposta incorpora uma srie de contribuies externas ao PDDI, das quais as mais significativas so a Proposta de Estruturao Territorial Metropolitana elaborada pelo Colegiado Metropolitano, os estudos e diagnsticos realizados pelo Instituto Horizontes para o Plano Estratgico da Grande Belo Horizonte, e o Plano Macro-Estrutural do Vetor Norte da RMBH, elaborado pela JURONG Consultants para a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econmico (SEDE). A proposta baseou-se tambm nas Macro-Diretrizes para o Planejamento Metropolitano da RMBH, elaboradas pela Assemblia Metropolitana: ... a reorganizao territorial considerada estratgica para a definio do carter do PDDI para a RMBH. Pressupe-se o sistema virio e de transporte como componente indutor da ocupao e do uso do solo, com uma mobilidade metropolitana organizada em rede, que dissemine ao mximo no territrio o acesso s oportunidades de desenvolvimento. Prope-se o estmulo criao de novas centralidades micro-regionais e a habitao como uso estruturante na metrpole, dentre outras intervenes no espao metropolitano que possibilitem a reduo das desigualdades socioespaciais, princpio primeiro de gesto metropolitana segundo a Lei 88/2006 SEDRU. Termo de referncia para contratao de servios tcnicos especializados para elaborao do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado PDDI da RMBH. Secretaria Estadual de Desenvolvimento Regional e Poltica Urbana/Subsecretaria de Desenvolvimento Metropolitano, 2009, p. 9.

  • 11

    polticas de transporte, e orientao predominantemente rdio-concntrica do sistema virio

    metropolitano; grande estoque de lotes vagos por toda a RMBH e em reas perifricas mal

    dotadas de infra-estrutura e equipamentos urbanos; assim como de domiclios vagos ou

    subutilizados em reas centrais; disperso dos loteamentos de alta renda exclusivamente

    residenciais (usualmente fechados), e altamente dependentes do uso do automvel;

    adensamento e verticalizao excessivos em reas de maior valorizao imobiliria com

    agravamento dos impactos no trnsito e das condies ambientais e paisagsticas;

    agravamento dos conflitos entre os diversos usos do solo, como parcelamento do solo, usos

    rurais, minerao, habitao, preservao de mananciais, destinao final de resduos slidos,

    e reas de preservao permanentes; manuteno da excessiva concentrao da oferta de

    servios pblicos e privados no ncleo central de Belo Horizonte; expanso da explorao

    minerria e dos setores metalrgico e siderrgico na RMBH e no seu entorno, com impactos

    ambientais considerveis; tendncia de manuteno dos investimentos privados nos

    municpios j dotados de infra-estrutura ou com base de recursos naturais explorveis.

    A proposta de reestruturao territorial da RMBH visa criar as condies para a

    implementao de uma estratgia de descentralizao concentrada e seletiva, para que se

    passe de uma estrutura monocntrica, com um sistema de transporte radial e convergente para

    um nico centro, para uma estrutura policntrica, organizada em torno de uma rede de

    mobilidade multi-modal (Figura 1). A descentralizao proposta no implica, todavia, na

    continuidade da insustentvel extenso da mancha urbana para alm dos limites j alcanados,

    mas no adensamento e intensificao de usos internos mesma, principalmente no entorno

    das centralidades e ao longo dos principais eixos de transporte. A reduo das desigualdades

    socioespaciais passa necessariamente pela transformao da RMBH numa metrpole

    policntrica e mais compacta, em oposio a um crescimento extensivo ou contnuo da

    mancha urbana do tipo centro-periferia, prevalecente at hoje.

    Para tanto, apia-se nas seguintes proposies, expressas por meios de algumas

    polticas especficas: Criao e/ou fortalecimento de centralidades urbanas em rede2:

    promoo de melhor distribuio e descentralizao do emprego, do comrcio e dos servios

    2 Considera-se centralidade como uma rea urbana com alta densidade econmica, forte heterogeneidade de usos, grande complexidade funcional e adensamento residencial, e caracterizada pela concentrao diversificada de emprego, comrcio e servios pblicos e privados, assim como pela acessibilidade privilegiada. Alm disso, as centralidades devem servir ao fortalecimento das identidades metropolitanas e da vida urbana, atravs do provimento de espaos pblicos e equipamentos de lazer e culturais qualificados.

  • 12

    pblicos e privados, reduo da dependncia em relao ao ncleo central de Belo Horizonte,

    criao de oportunidades de desenvolvimento para reas perifricas; Rede metropolitana de

    mobilidade intermodal eficiente e de baixo impacto ambiental: melhoria das

    possibilidades de articulao e deslocamento entre as vrias pores da RMBH,

    complementao do sistema virio existente, recuperao e complementao da malha

    ferroviria existente para transporte de passageiros, e expanso do metr para a rea

    densamente conurbada da RMBH; Intensificao do uso do espao urbano existente, a

    partir da recuperao de edificaes e reas degradadas, aproveitamento de vazios urbanos e

    parcelamentos vagos, abertura de reas verdes, novas centralidades e espaos pblicos;

    Conteno da expanso urbana perifrica e reduo da presso sobre as reas verdes, reas

    rurais e ambientalmente protegidas, com valorizao e proteo das reas destinadas

    produo agropecuria e artesanal, e estmulo a atividades produtivas sustentveis e criativas

    nas reas de fronteira rural/urbana; Ampliao das reas permeveis urbanas, restaurao e

    revitalizao de cursos dgua, controle da expanso imobiliria, industrial e minerria sobre

    reas de interesse para abastecimento e conservao da biodiversidade; Consolidao de um

    marco regulatrio para o uso e ocupao do solo, que expresse as polticas de

    reestruturao territorial do PDDI, possibilitando que os municpios e o sistema de

    planejamento metropolitano possam exercer seu papel regulador nas disputas pelo espao

    metropolitano, fazendo prevalecer o interesse coletivo metropolitano.

    Figura 1 - Metrpole Monodispersa X Policompacta

    A rede de centralidades proposta deve configurar uma nova hierarquia urbana na

    RMBH, conforme apresentado a seguir (Figura 2): Metrpole: trata-se do centro

    metropolitano principal, consolidado no hipercentro de Belo Horizonte e na Savassi, j

    alcanando, a partir das avenidas Raja Gabaglia e N. Senhora do Carmo, a regio do

  • 13

    Belvedere na capital e do Vale do Sereno em Nova Lima; Centros metropolitanos:

    correspondem s novas centralidades propostas - Oeste (Betim), Norte (Ribeiro das Neves) e

    Sul (Nova Lima) - devendo se estruturar em torno de quatro pilares: o uso residencial em

    grande quantidade e densidade, incluindo a habitao de interesse social; a ligao com as

    economias industriais em seu entorno; um forte aspecto cultural e identitrio; e a interligao

    em rede com outras centralidades atravs de estaes da rede de mobilidade multi-modal

    dentro desses novos centros; Sub-centros metropolitanos: tm a mesma funo dos centros

    metropolitanos, porm com menor adensamento e grau de polarizao, dando apoio aos

    centros metropolitanos em reas relativamente distantes destes. Foram selecionados como

    possveis sub-centros metropolitanos: Venda Nova (Belo Horizonte) articulada ao So

    Benedito (Santa Luzia) e ao Morro Alto (Vespasiano), Barreiro (Belo Horizonte) articulado

    ao Eldorado (Contagem), Sabar, Jardim Canad (Nova Lima), e um novo centro Leste, em

    Ravena (Sabar); Centros micro-regionais: constituem um nvel intermedirio entre os sub-

    centros e os centros locais, cumprindo um papel de polarizao para alm do nvel local,

    articulando, por exemplo, um conjunto de bairros e de municpios vizinhos menores; Centros

    locais: correspondem s centralidades de menor nvel, correspondentes a muitas das sedes dos

    municpios menos populosos da RMBH, e que servem como centros de apoio ao meio rural, e

    vm passando por processos de transformao ligados extenso da urbanizao por sobre

    estas reas rurais. Estes centros de nvel local, somados aos micro-regionais, so

    contemplados pelo Programa de Apoio Rede de Centros Micro-Regionais e Locais, da

    Poltica de Centralidades em Rede.

    Os eixos de estruturao metropolitana3 (Figura 2) configuram reas em torno das

    principais vias estruturantes de ligao da RMBH com outras regies do estado e do pas,

    onde se localizam grandes equipamentos de infra-estrutura, reas industriais, usos de grande

    porte ligados ao setor tercirio e outros equipamentos, e formas de ocupao ao longo dos

    eixos, que se localizam de forma mais espraiada no territrio. A presena de atividades

    econmicas de alto valor agregado e alto potencial de gerao de emprego e renda na escala

    dos eixos potencializa o crescimento das centralidades ali localizadas. Os eixos tambm tm a 3 Os eixos de estruturao metropolitana foram pensados a partir de uma concepo de uso e ocupao do solo proposta pelo Plano Macro-Estrutural do Vetor Norte da RMBH, elaborado pela Jurong Consultants para a SEDE Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econmico, chamado naquele documento de corredor de desenvolvimento, e com orientaes semelhantes em relao localizao de equipamentos e usos, funo das centralidades como ns articuladores destes corredores e da infra-estrutura a ser provida nessas reas.

    Figura 13

  • 14

    funo de direcionar o crescimento da metrpole, promovendo a interligao com as reas de

    vacncia fundiria crtica que se desejam adensar ou dar alguma destinao adequada.

    Identifica-se o entorno do futuro Anel Virio de Contorno Norte como um eixo de

    estruturao metropolitana diferenciado, a partir da Proposta de Estruturao Territorial

    Metropolitana, elaborada pelo Colegiado Metropolitano. Diante do inevitvel potencial

    transformador do Rodoanel sobre o uso do solo no seu entorno, e o seu poder de atrao sobre

    a expanso urbana, desejvel pensar num adensamento seletivo do seu entorno,

    resguardadas as reas de proteo ambiental, e garantidas as condies para uma insero

    urbana da via que no reproduza a situao dramtica do atual Anel Rodovirio.

    Para alm das centralidades e dos eixos, prope-se a utilizao da categoria de Lugar

    Metropolitano4. Parte-se do entendimento do Lugar Metropolitano enquanto um espao

    dotado de significativo valor simblico, cultural, histrico e conformador de identidade(s)

    para a coletividade metropolitana. Deve-se buscar conceber estratgias especficas de

    conservao, requalificao, dinamizao, divulgao, sinalizao, facilitao do acesso,

    dentre outras medidas necessrias para que os Lugares Metropolitanos venham a desempenhar

    um potencial de disseminao pelo territrio metropolitano de novas oportunidades de

    desenvolvimento local, assim como contribuir para que os mesmos possam se assentar no

    imaginrio coletivo como referncias simblicas para os cidados metropolitanos. A Figura

    3 apresenta algumas reas e lugares com potencial para tornarem-se Lugares Metropolitanos

    tais como localidades e centros histricos, parques institudos, equipamentos de uso

    coletivo, represas e lagoas, reas verdes e preservadas, serras, bairros reconhecidos etc. ,

    associados aos CACs e aos seus respectivos Complexos Locais.

    4 Os Lugares Metropolitanos propostos articulam-se ao Programa de Conformao de Complexos Ambientais e Culturais CACs, contido na Poltica Metropolitana Integrada de Gesto da Paisagem e Valorizao Cultural, do Eixo Urbanidade.

  • 15

    Figura 2

  • 16

    Figura 3

  • 17

    Figura 4

  • 18

    A proposta de uma rede integrada de mobilidade metropolitana pautou-se pela

    necessidade de criar novas articulaes e fortalecer as ligaes j existentes entre as

    centralidades e as diversas pores da RMBH. Torna-se necessrio criar articulaes virias

    que reduzam a necessidade de acessar o ncleo central da capital, alm de promover o

    fortalecimento de novas centralidades. A distribuio viria radial deve ser rompida em prol

    de uma estrutura em rede, que, alm de promover a integrao das diversas centralidades

    metrpole, tambm crie uma articulao entre elas. A Figura 4 apresenta a rede de

    centralidades associada s propostas do sistema rodovirio de mbito metropolitano.

    A RMBH um importante entroncamento ferrovirio nacional, e a extensa malha

    existente corta a regio de leste a oeste e de noroeste a sul, passando pela rea central de Belo

    Horizonte e atingindo 20 dos municpios da Regio Metropolitana. As trs concessionrias

    privadas que fazem uso dessa malha FCA, MRS e EFVM trabalham predominantemente

    com transporte de carga, e alguns trechos da malha ferroviria encontram-se hoje desativados

    ou abandonados. Por atender grande parte dos municpios da RMBH, fundamental pensar

    o resgate desta rede para o transporte intermunicipal e regional de passageiros, antes realizado

    pelos chamados trens de subrbio.

    A proposta de uma rede metropolitana de transporte sobre trilhos foi formulada a

    partir da rede ferroviria existente e de uma compilao de propostas j elaboradas, acrescida

    de prolongamentos e novas ligaes que buscam criar uma rede metropolitana de transporte

    sobre trilhos mais integrada e abrangente. As linhas propostas procuram atender s principais

    centralidades da RMBH, existentes e propostas, buscando articulaes ainda no existentes e

    proporcionando seu desenvolvimento. A Figura 5 apresenta a rede de centralidades associada

    s propostas da rede metropolitana de transporte de passageiros sobre trilhos.

  • 19

    Figura 5

  • 20

    2.1 POLTICAS DA DIMENSO ESTRUTURANTE TERRITORIALIDADE

    As duas polticas a seguir so parte dos fundamentos bsicos da dimenso estruturante

    de Territorialidade do PDDI. Elas foram concebidas como desdobramentos da proposta de

    reestruturao territorial, qual do operacionalidade e concretude.

    2.1.1 POLTICA METROPOLITANA INTEGRADA DE CENTRALIDADES EM

    REDE

    Essa Poltica visa fortalecer uma rede metropolitana de centralidades, em

    contraposio excessiva concentrao urbana no ncleo central de Belo Horizonte. Busca-se

    assim: a) promover uma melhor distribuio e descentralizao do emprego, do comrcio, dos

    equipamentos de uso coletivo e dos servios pblicos e privados no territrio metropolitano;

    b) reduzir a dependncia em relao ao ncleo central de Belo Horizonte e a necessidade de

    deslocamentos de longa distncia; c) e criar novas oportunidades de desenvolvimento scio-

    econmico, cultural e de lazer para reas e municpios perifricos da RMBH.

    Considera-se centralidade como uma rea urbana com alta densidade econmica, forte

    heterogeneidade de usos, grande complexidade funcional e adensamento residencial, e

    caracterizada pela concentrao diversificada de emprego, comrcio e servios pblicos e

    privados, assim como pela acessibilidade privilegiada. Alm disso, as centralidades devem

    servir ao fortalecimento das identidades metropolitanas e da vida urbana, atravs do

    provimento de espaos pblicos e equipamentos de lazer e culturais qualificados.

    A implementao de novas centralidades, bem como o reforo s centralidades

    existentes, requer diversas aes integradas do poder pblico, tais como: localizao

    estratgica de equipamentos de alcance metropolitano; proviso de servios e espaos

    pblicos diversificados; incremento de acessibilidade por diversos modos de transporte;

    proviso de infra-estrutura bsica e produtiva; recuperao da valorizao imobiliria privada

  • 21

    decorrente do investimento pblico, para financiamento da infra-estrutura de suporte exigida;

    incentivo instalao de empreendimentos de servios avanados e atividades produtivas

    modernas no seu entorno; adequaes nas legislaes municipais de uso e ocupao do solo;

    uso dos instrumentos de poltica urbana previstos no Estatuto da Cidade; e preparao de

    planos urbanos locais e participativos para qualificao dos centros existentes e urbanizao

    planejada das reas selecionadas como novas centralidades na RMBH.

    Os quatro programas propostos pela Poltica Metropolitana Integrada de Centralidades

    em Rede so:

    Programa de Criao e Fortalecimento da Rede de Centros Metropolitanos;

    Programa de Requalificao de reas Centrais;

    Programa de Apoio Rede de Centros Micro-regionais e Locais;

    Programa de Monitoramento da Rede de Centralidades e da Dinmica de

    Desconcentrao Urbana na RMBH.

    2.1.2 POLTICA METROPOLITANA INTEGRADA DE REGULAO DO USO E

    DA OCUPAO DO SOLO

    Esta Poltica tem por objetivo a consolidao de um marco regulatrio para o uso e

    ocupao do solo, que expresse as polticas de reestruturao territorial e a territorializao

    das propostas do PDDI, possibilitando que os municpios e o sistema de planejamento

    metropolitano possam exercer seu papel regulador nas disputas pelo espao metropolitano,

    fazendo prevalecer o interesse coletivo metropolitano.

    A Poltica surge tambm da necessidade de compatibilizao das polticas municipais

    a partir de uma viso integrada de territrio metropolitano. Temas como o tratamento das

    zonas de fronteira, de reas lindeiras ao sistema virio principal proposto, das reas de

    influncia das novas centralidades e grandes equipamentos, das zonas de proteo de

    mananciais dentre outras, so claramente de interesse comum. Neste mesmo sentido, o

    controle do uso e da ocupao do solo atravs de aes que assegurem a utilizao do espao

    metropolitano sem conflitos e sem prejuzo proteo do meio ambiente (artigo 8. Inciso da

  • 22

    Lei Complementar 89/2006) enquadra-se entre as Funes Pblicas de Interesse Comum que

    integram o arcabouo legal do planejamento e gesto metropolitanos. A criao do Sistema

    Integrado de Regulao do Uso do Solo SIRUS pela Secretaria de Estado de

    Desenvolvimento Regional e Poltica Urbana j representa a materializao inicial desta idia,

    na medida em que todos os zoneamentos municipais definidos pelos respectivos planos

    diretores e leis de ocupao e uso do solo foram representados em conjunto segundo uma

    nica legenda, possibilitando a visualizao e a anlise da compatibilidade entre zonas no

    contexto metropolitano.

    A superposio da rede de centralidades ao conjunto de zoneamentos municipais em

    vigor informa a necessidade de compatibilizao das respectivas zonas e padres de uso e

    ocupao s diretrizes do PDDI. O mesmo ocorre no caso das reas lindeiras aos grandes

    eixos virios existentes e propostos e no entorno de equipamentos de alcance metropolitano.

    Os quatro programas propostos pela Poltica Metropolitana Integrada de Regulao do

    Uso e da Ocupao do Solo so:

    Programa Integrado do Macrozoneamento Metropolitano;

    Programa de Regulao do Uso e da Ocupao do Solo;

    Programa de Apoio Elaborao e Reviso das Legislaes Municipais;

    Programa de Apoio Regularizao Fundiria Sustentvel.

  • 23

    3 EIXOS TEMTICOS INTEGRADORES: POLTICAS E PROGRAMAS

    3.1 EIXO ACESSIBILIDADE

    A Regio Metropolitana de Belo Horizonte marcada por desigualdades diversas nas

    condies e meios de acesso a uma variedade de servios, equipamentos e centralidades

    essenciais ao pleno exerccio da cidadania e bem-estar de sua populao. Estas disparidades

    so expresso do histrico recrudescimento da concentrao espacial das atividades

    produtivas, especialmente em sua poro central, assim como pela distribuio assimtrica da

    populao, cada vez mais forada a ocupar espaos perifricos, sem as condies mnimas de

    habitao.

    De fato, a estrutura espacial da RMBH demasiadamente polarizada pelo ncleo

    central de Belo Horizonte, inibindo o fortalecimento e surgimento de centralidades sub-

    regionais ou de nvel intermedirio. O planejamento metropolitano dever buscar, entre suas

    diretrizes, a desconcentrao das atividades econmicas e dos equipamentos pblicos,

    induzindo a localizao em centralidades que ainda podem se fortalecer ou apontando para a

    necessidade de se criar outras novas. Esta uma meta de amplo alcance, uma vez que

    conformar o suporte territorial para uma srie de aes em vrias reas e setores, por

    exemplo, promovendo uma regionalizao compartilhada entre os servios de sade,

    educao, esporte e lazer, cultura e desenvolvimento social; bem como uma requalificao

    urbanstico-ambiental.

    Dada a complexidade e abrangncia que permeiam estes temas, as condies de

    interao entre as pessoas ainda so inadequadas: entre elas e as instituies, os servios

    pblicos, a moradia, enfim, o seu ambiente urbano. Por isso, o eixo Acessibilidade integra

    polticas e programas que tm em comum a busca pela ampliao das condies e meios de

    acesso a uma variedade de servios, equipamentos e centralidades da RMBH. Para que a

    acessibilidade seja plena preciso melhorias em vrios aspetos, que vo desde os

    deslocamentos no territrio metropolitano at a disponibilidade das Tecnologias da

    Informao e Conhecimento, passando pela moradia digna e pelos servios de sade e

    assistncia social.

  • 24

    3.1.1 POLTICA INTEGRADA DE MOBILIDADE METROPOLITANA

    A RMBH caracterizada por assimetrias em seu territrio, demogrficas, econmicas

    e na consolidao de centralidades, uso do solo, disponibilidade de bens, servios e

    informaes. O histrico fortalecimento da concentrao espacial das atividades e

    equipamentos restringe a satisfao das necessidades bsicas da populao, impedindo o

    pleno exerccio da cidadania metropolitana. Esta concentrao foi acentuada, historicamente,

    pelo sistema virio rdio-concntrico e pelos investimentos em infra-estrutura e equipamentos

    que privilegiam as regies centro-sul e oeste. Estes problemas so agravados pela reproduo

    e manuteno de precariedades nos servios prestados pelas modalidades coletivas de

    transportes pblicos e pelo uso crescente do transporte privado, resultando em espacialidades

    urbanas antagnicas, divergentes e desiguais. A concepo dos espaos pblicos, sobretudo

    nas reas centrais, tem privilegiado os modos individuais, em detrimento dos modos coletivos

    e no-motorizados.

    A Poltica Integrada de Mobilidade Metropolitana prope esforos no sentido de

    dinamizar a integrao territorial da RMBH e fortalecer a estrutura metropolitana em rede,

    com o objetivo de ampliar as condies de acessibilidade, especialmente da populao de

    baixa renda, inclusive aos espaos naturais e de lazer, aperfeioar o sistema virio dos

    municpios integrantes da regio e a rede de transporte pblico, integrar sistemas de transporte

    sustentveis (no motorizados) aos sistemas convencionais, ampliar reas destinadas

    circulao de pedestres, reduzir o uso de veculos privados atravs do incentivo do uso do

    transporte coletivo, alm de racionalizar e otimizar o transporte de cargas.

    Programa de Adequao e Implantao de Infra-Estrutura Viria;

    Programa de Adequao e Implantao da Infra-Estrutura Ferroviria;

    Programa de Integrao do Transporte Pblico Coletivo;

    Programa de Incentivo ao Transporte No-Motorizado;

    Programa de Racionalizao da Logstica Metropolitana de Distribuio Fsica de

    Cargas em Belo Horizonte;

    Programa de Integrao Institucional e Tarifria de Transportes.

  • 25

    3.1.2 POLTICA METROPOLITANA INTEGRADA DE DIREITO AO ESPAO

    COTIDIANO: MORADIA E AMBIENTE URBANO

    A habitao uma funo pblica de interesse comum que sofre diretamente os

    impactos de escala metropolitana produzidos por fenmenos como dinmica imobiliria,

    investimentos pblicos, grandes empreendimentos produtivos, condies ambientais ou

    estrutura de transporte e mobilidade, etc. Ao mesmo tempo, a habitao no constitui, em si

    mesma, um equipamento ou servio metropolitano que possa ser determinado a partir de um

    planejamento nessa escala. Pelo contrrio, o espao da moradia e de seu ambiente urbano

    imediato se define, em grande parte, por caractersticas especficas de cada pequena poro do

    territrio. Sua qualidade uma qualidade na escala microlocal. Assim, mais do que projetar

    este ou aquele modo de vida na metrpole, cabe ao planejamento metropolitano oferecer

    condies favorveis para que a menor escala urbana possa se desenvolver com autonomia,

    articulando-se com diretrizes mais abrangentes, sem ser dominada por elas. Da mesma

    maneira que o planejamento metropolitano uma condio para a sustentabilidade

    socioambiental em grande escala, a autonomia da atuao coletiva na produo do espao

    cotidiano uma condio para a sustentabilidade socioambiental na escala microlocal.

    A Poltica Metropolitana Integrada de Direito ao Espao Cotidiano: Moradia e

    Ambiente Urbano foi formulada como um conjunto de programas, projetos e aes

    interdependentes, que podem criar condies para a autonomia da produo do espao

    cotidiano na escala microlocal de uma maneira congruente com a dinmica metropolitana

    como um todo. Um aspecto essencial nesse sentido a implementao de medidas que

    ponham limites atuao do setor imobilirio privado sobre o territrio, a fim de melhorar a

    qualidade dos espaos cotidianos da RMBH, em especial aqueles ocupados pela populao de

    menor renda, sanando a inadequao habitacional e a precariedade urbana.

    Programa de Regulamentao Metropolitana de Direito ao Espao Cotidiano;

    Programa de Gesto do Espao Cotidiano;

    Programa de Intensificao do Uso Social da Cidade;

    Programa de Construo Cooperativa.

  • 26

    3.1.3 POLTICA METROPOLITANA DE INTEGRAO DOS SERVIOS DE

    SADE

    A formulao de polticas e programas pblicos de sade para a RMBH deve estar

    inserida no contexto institucional do sistema pblico de sade brasileiro e dos princpios que

    norteiam sua organizao. De acordo com a Constituio Federal de 1988, o Sistema nico

    de Sade SUS tem como princpios bsicos a universalidade, equidade e integralidade, e

    est organizado por meio de uma rede regionalizada, hierarquizada e descentralizada,

    integrada por rgos e instituies pblicas federais, estaduais e municipais e, de forma

    complementar, por entidades de iniciativa privada.

    A montagem desta rede vem sendo implementada ao longo destes mais dos vinte anos

    de vigncia do SUS atravs de uma srie de normas operacionais que trataram da

    regulamentao, organizao e gesto do sistema, com vistas a se alcanar os princpios que

    norteiam o SUS. Estas normas vm passando por um processo permanente de reviso em prol

    do aprimoramento do processo de construo do SUS, que tem como grande desafio a

    descentralizao e municipalizao das aes e servios de sade.

    Em 2006 foi lanada uma nova normativa nacional, o Pacto pela Sade constitudo

    pelo Pacto pela Vida, o Pacto em Defesa do SUS e o Pacto de Gesto que apresenta

    diretrizes e compromissos condensados entre os gestores do SUS nas trs esferas de governo,

    agregando os pactos anteriormente existentes e redefinindo os instrumentos de regulao,

    programao e avaliao.

    A implementao da Poltica Metropolitana de Integrao dos Servios de Sade deve

    partir de um levantamento aprofundado, que inclua informaes detalhadas sobre a situao

    epidemiolgica, a infra-estrutura existente e os investimentos j realizados e previstos,

    possibilitando estabelecer uma escala de prioridades, necessidades de investimentos e

    programas com o objetivo de aprimorar a organizao da assistncia sade, a qualificao

    da gesto e do cuidado para a consolidao de uma rede assistencial regionalizada,

    hierarquizada e resolutiva na RMBH.

    Programa de Estmulo Integrao dos Servios de Sade na RMBH.

  • 27

    3.1.4 POLTICA METROPOLITANA INTEGRADA DE ASSISTNCIA SOCIAL

    A Assistncia Social definida no texto constitucional como poltica pblica

    componente da Seguridade Social, visando enfrentar a pobreza, garantir os mnimos sociais,

    prover condies para atender s contingncias sociais, promovendo a universalizao dos

    direitos sociais. A metropolizao de Belo Horizonte encerra no seu processo de constituio

    uma srie de contradies expressas no ordenamento territorial e social que determinam

    condies precrias de acesso aos servios urbanos bsicos e ao mercado de trabalho por parte

    significativa da populao. Um elemento tpico da urbanizao brasileira refere-se ao fato de

    que o processo acelerado de urbanizao foi acompanhado por uma periferizao crescente,

    gerando uma srie de presses sobre os servios urbanos bsicos, como habitao, educao,

    sade e saneamento, no contempladas na mesma proporo que o aumento explosivo da

    populao. Nesse contexto crescem a pobreza, o desemprego e a precariedade urbana com

    velhas e novas concentraes.

    Dessa forma, a Poltica Metropolitana Integrada da Assistncia proposta pauta-se pela

    perspectiva de construo de uma metrpole pr-pobre, centrada na dinmica de inverso

    de prioridades no processo de implementao das polticas pblicas em suas mltiplas

    dimenses, com nfase em polticas, programas, projetos e aes voltados para os territrios

    urbanos e rurais pouco estruturados e estratos populacionais vulnerabilizados, para a

    conformao de uma metrpole solidria e um planejamento socialmente inclusivo. Esta

    poltica tem como objetivo reduzir a pobreza e promover a incluso produtiva das populaes

    pobres e socialmente vulnerveis, a partir da consolidao e expanso de um Sistema de

    Proteo Social no-contributivo na RMBH e do desenvolvimento de aes integradas,

    regionalmente, nas reas de educao, sade, interveno urbana e segurana pblica,

    contribuindo para o incremento da estrutura de oportunidades e qualidade de vida da

    populao em situao de risco social.

    Programa de Universalizao da Ateno em Assistncia Social na RMBH;

    Programa de Desenvolvimento da Tecnologia Social;

    Programa de Gesto Colegiada e Controle Social.

  • 28

    3.1.5 POLTICA METROPOLITANA INTEGRADA DE DEMOCRACIA DIGITAL

    A democracia digital refere-se experincia da internet e de dispositivos que lhe so

    compatveis, voltados para o incremento das potencialidades de participao civil na

    conduo dos negcios pblicos. Assim, pode ser entendida como uma tentativa de ampliar a

    participao poltica, ao criar condies para que os cidados possam estar conectados entre si

    e com seus representantes, atravs de novas tecnologias de informao e comunicao,

    denominadas TICs. Trata-se da possibilidade de participar, com auxlio dessas novas TICs, do

    processo democrtico, sem os limites de tempo, espao e outros constrangimentos fsicos.

    Assim, esta participao deve ser entendida como complemento e no como substituto das

    formas tradicionais de participao poltica. Como experincia, o que a democracia digital

    deve assegurar a participao do pblico nos processos de produo e deciso poltica, j

    que o acesso universal s informaes pblicas, a cidadania, a iluminao digital e o governo

    eletrnico fazem parte de um contedo programtico que procura colaborar para o

    aperfeioamento e consolidao da democracia.

    O planejamento integrado da RMBH deve, pois, reconhecer que o direito cidade

    contempornea significa tambm o direito ao conhecimento, informao, cultura,

    aprendizagem, tecnologia e interao. S assim a incluso social e a reduo das

    desigualdades na RMBH sero possveis. A difuso dos benefcios das centralidades

    incrustadas no territrio metropolitano s ser plenamente potencializada com a apropriao

    das TICs, em um meio onde as capacidades de produzir, processar e disseminar o

    conhecimento para o desenvolvimento abranjam o que muitos denominam de Sociedade do

    Conhecimento. Dessa forma, a Poltica Metropolitana Integrada de Democracia Digital tem

    como objetivo ofertar e possibilitar o uso de recursos, informaes, servios, espaos digitais

    consultivos, deliberativos e decisrios para o exerccio pleno da cidadania. Esta poltica est

    estruturada em trs programas complementares:

    Programa Metropolitano Integrado de Governo Eletrnico;

    Programa de Acesso Universal Informao;

    Programa de Iluminao Digital na RMBH.

  • 29

    3.2 EIXO SEGURIDADE

    Sentir-se seguro condio bsica para uma vida plena. ter certeza de condies e

    nveis de vida satisfatrios, sem as vulnerabilidades e os riscos que podem inviabilizar a

    realizao das nossas potencialidades.

    O eixo Seguridade integra aspectos econmicos, sociais e ambientais a fim de garantir

    segurana ao cidado em vrias dimenses: segurana para morar e morar com segurana;

    segurana contra a violncia pessoal e as ameaas vida; segurana alimentar, saber o qu e

    quando comer; segurana no emprego e no trabalho, diminuindo a vulnerabilidade -

    principalmente dos jovens s situaes de risco; segurana para ir e vir onde e quando

    quisermos. Amplia-se, portanto, o conceito de segurana para alm do poder de polcia,

    abrangendo outras situaes que possam significar risco e vulnerabilidade para o cidado.

    Entre os temas tratados esto: a minimizao da violncia/criminalidade atravs de

    medidas preventivas, aes integradas e monitoramento constante, no sentido da garantia do

    respeito aos direitos humanos fundamentais vida, igualdade, segurana, liberdade e o

    acesso justia; a reduo e controle dos riscos provocados pelas relaes entre sociedade e

    natureza relacionadas ao uso e ocupao do solo, ao excesso de emisso de gases txicos e

    gases de efeito estufa, e contaminao da gua; o apoio s atividades agrcolas, com

    destaque para a agricultura familiar e oferta de alimentos com qualidade a preos acessveis; a

    minimizao das dificuldades relacionadas formao e qualificao profissional,

    considerando a oferta de postos de trabalho, o pblico potencial, as caractersticas dos cursos

    de formao e qualificao e as questes culturais que podem incidir nesse processo; as

    possibilidades de fortalecimento e expanso dos empreendimentos em pequena escala que

    atuam no circuito inferior do sistema econmico da RMBH, com nfase para a populao no

    absorvida diretamente pelos grandes investimentos previstos para a regio.

    As polticas do eixo tm, portanto, como objetivo comum, promover condies de

    seguridade para o cidado metropolitano, atravs de sua insero no processo de

    desenvolvimento socioeconmico e ambiental da RMBH, minimizando os riscos e

    vulnerabilidades aos quais, historicamente, vem sendo submetido.

  • 30

    3.2.1 POLTICA METROPOLITANA INTEGRADA DE SEGURANA PBLICA

    As crescentes taxas de criminalidade violenta registradas a partir dos anos 1990 nas

    principais metrpoles brasileiras colocaram em questo as polticas direcionadas para o

    aumento do rigor repressivo, uma vez que elas no foram suficientes para conter os

    indicadores at ento apresentados.

    A perspectiva de formulao de polticas pblicas que buscaram ampliar o

    entendimento e o leque de aes voltadas para esse fenmeno e, portanto, propuseram atuar

    tanto no aspecto da coero quanto da preveno, ganhou mais fora como resposta

    institucional a esse quadro de violncia urbana. So polticas capazes de incluir diversos

    agentes ao campo da segurana e que procuram constituir novos espaos de ao e

    participao da sociedade civil e organizada para o enfrentamento da violncia.

    O conceito de segurana passou a implicar uma pluralidade de dimenses que vo

    desde a questo do combate violncia pessoal e as ameaas vida, at a questo da

    segurana de moradia, da diminuio da vulnerabilidade no mbito do emprego e trabalho, da

    segurana alimentar, do direito de ir e vir, dentre outras.

    A Poltica Metropolitana Integrada de Segurana Pblica pretende estimular a

    integrao de instituies de segurana e de programas e aes de promoo, preveno e

    coero no campo da segurana pblica, visando reduzir os ndices de violncia e

    criminalidade, em especial os homicdios, nos municpios da Regio Metropolitana de Belo

    Horizonte.

    Programa de Integrao das Polcias na RMBH;

    Programa de Fortalecimento e Integrao das Guardas Municipais;

    Programa Metropolitano de Comunicao para a Paz;

    Programa Metropolitano de Preveno e Controle do Trfico e Uso do Crack;

    Programa Metropolitano de Preveno Social da Violncia;

    Programa de Modernizao do Sistema Prisional;

    Programa de Modernizao da Gesto do Sistema Socioeducativo.

  • 31

    3.2.2 POLTICA METROPOLITANA INTEGRADA DE GESTO DOS RISCOS

    AMBIENTAIS E DE MUDANAS CLIMTICAS

    Os riscos ambientais esto associados s relaes entre sociedade e natureza, tanto

    pela forma de ocupao do territrio como pelo uso de recursos naturais, pela produo e pelo

    consumo de bens e servios. Nesse contexto diversos fenmenos naturais passam a

    representar riscos ambientais, como as catstrofes naturais, o aumento da freqncia e

    magnitude das catstrofes meteorolgicas, a ocupao e uso do solo indevidos, a poluio e a

    contaminao da gua e do solo. As mudanas climticas tambm podem ter impacto

    relevante sobre as condies de sade na RMBH, como na disseminao de doenas

    respiratrias, doenas de vetores, atingindo especialmente populaes mais vulnerveis.

    , portanto, necessria tanto uma gesto dos riscos ambientais imediatos, para os

    equipamentos pblicos j instalados e aos riscos j identificados, quanto uma projeo de

    cenrios para os riscos futuros e de medidas a serem tomadas. Nesse cenrio, importante

    identificar as iniciativas existentes, que, embora apresentem limitaes, precisam ser

    ampliadas. A Defesa Civil tem papel importante e no deve estar encarregada apenas do

    trabalho de socorro emergencial, mas tambm em desenvolver um trabalho de educao

    urbana para a gesto dos riscos ambientais. A Poltica Metropolitana Integrada de Gesto dos

    Riscos Ambientais e de Mudanas Climticas tem como objetivos gerais a identificao de

    vulnerabilidades a riscos ambientais e s mudanas climticas e a criao de um sistema

    metropolitano de gesto de riscos, incluindo um Sistema Metropolitano Integrado de Defesa

    Civil.

    Sistema de Controle, Monitoramento e Avaliao do Risco Socioambiental e

    Climtico na RMBH;

    Programa de Desenvolvimento de Instrumentos de Gesto de Risco em reas Rurais e

    Urbanas;

    Programa de Educao Ambiental para Conscientizao, Informao e Preveno da

    Populao em rea de Risco Scio Ambiental;

    Programa de Modernizao da Defesa Civil e Adequao do Sistema de Sade s

    Vulnerabilidades Socioambientais na RMBH.

  • 32

    3.2.3 POLTICA METROPOLITANA INTEGRADA DE SEGURANA ALIMENTAR

    E NUTRICIONAL

    A populao da RMBH vem acompanhando a tendncia mundial de incremento de

    manifestaes de insegurana alimentar. Particularmente no que diz respeito ao territrio

    metropolitano, tais manifestaes se relacionam, por exemplo, falta de apoio agricultura

    familiar, que cumpre funes sociais, culturais, ambientais e econmicas de grande alcance

    para a SAN; elevada participao dos gastos com alimentao no conjunto dos gastos

    realizados pelas famlias de baixa renda; e o excesso de peso e obesidade, que atinge 13,7%

    da populao feminina com mais de 20 anos.

    Para enfrentar essas e outras manifestaes de insegurana alimentar, a Poltica

    Metropolitana Integrada de Segurana Alimentar e Nutricional prope programas que visam:

    apoiar as atividades rurais, com destaque para a agricultura familiar; ofertar alimentos com

    qualidade a preos acessveis; erradicar a fome e a desnutrio; promover o consumo

    alimentar consciente, a agricultura urbana e a qualidade de vida da populao rural na RMBH.

    A poltica visa criar alternativas de articulao entre os espaos rurais e urbanos, por meio de

    programas e projetos que iro atuar sobre a produo, o abastecimento e o consumo alimentar.

    Desta forma, pretende-se que esta poltica se constitua num importante instrumento para a

    reorganizao sustentvel do territrio e para a garantia de espaos de manifestao de

    expresses culturais, capazes de dialogar com os processos dominantes de especializao

    produtiva e de homogeneizao do consumo. Neste sentido, ela se coloca como um

    instrumento de interveno sobre o territrio metropolitano, nas suas duas facetas, rural e

    urbana, buscando integr-las.

    Programa Metropolitano de Apoio s Atividades Rurais;

    Programa de Apoio s Atividades de Abastecimento na RMBH;

    Programa Metropolitano de Agricultura Urbana e Periurbana;

    Programa Metropolitano de Promoo do Consumo Alimentar Saudvel e Sustentvel;

    Programa Metropolitano de Promoo da Qualidade de Vida no Meio Rural.

  • 33

    3.2.4 POLTICA METROPOLITANA INTEGRADA DE FORMAO E

    QUALIFICAO PROFISSIONAL

    No diagnstico da situao de trabalho, emprego e renda na RMBH, identificou-se o

    descompasso entre a demanda e a oferta de oportunidades de trabalho, o que acarreta

    desemprego por um lado e escassez de mo de obra qualificada, por outro. Entre as

    caractersticas de formao propriamente ditas, tambm foi identificada uma lacuna deixada

    pela deficincia nos processos formais de educao e que dizem respeito ao domnio de novas

    tecnologias, ao analfabetismo funcional, conhecimento bsico de lnguas estrangeiras e

    conhecimentos gerais em artes e cincias.

    Assim, h, simultaneamente, crescente dificuldade de reproduo material e social de

    significativas parcelas da populao, e ampliao do hiato entre oferta e demanda de trabalho

    qualificado. Em adio, a tendncia de segregao socioespacial que se verifica no territrio

    decorre em parte da incapacidade daquelas parcelas de populao de competirem com atores

    mais bem dotados tecnolgica e financeiramente e da impossibilidade de alcanarem as

    oportunidades colocadas pela maior integrao da RMBH. Isto , os investimentos

    programados se deparam com uma massa de trabalhadores com formao insuficiente,

    incompleta e profissionalmente desqualificada para a realizao de tarefas especializadas.

    A Poltica proposta busca minimizar as dificuldades apontadas, considerando, alm da

    oferta de postos de trabalho, o pblico potencial, as caractersticas dos cursos de formao e

    qualificao e as questes culturais que podem incidir nesse processo, ampliando a

    capacidade dos trabalhadores de se inserirem no processo de desenvolvimento econmico e

    contribuindo para uma insero mais competitiva da RMBH nos cenrios nacional e

    internacional.

    Programa de Formao para a Qualificao Profissional e Acesso ao Mercado de

    Trabalho;

    Programa de Diversificao das Oportunidades de Formao e Qualificao na

    RMBH;

    Programa de Qualificao Voltada a Setores Tradicionais e de Alta Tecnologia em

    Expanso na RMBH;

    Programa de Qualificao Voltado ao Setor de Turismo.

  • 34

    3.2.5 POLTICA METROPOLITANA INTEGRADA DE APOIO PRODUO EM

    PEQUENA ESCALA

    Esta Poltica tem como objeto um ramo da economia metropolitana caracterizado por

    um montante de investimentos relativamente pequeno, embora realizado por um grande

    nmero de produtores e empreendedores. A produo em pequena escala possui, em termos

    de apropriao da renda gerada (monetria e no monetria), uma capilaridade bastante

    significativa, sendo responsvel pela reproduo de relevante parcela da populao

    metropolitana.

    Esta produo apresenta, portanto, grande potencial para prover trabalho e renda, em

    especial populao no absorvida diretamente pelos grandes investimentos previstos para a

    RMBH. Ademais, possibilita incorporar uma dimenso de preservao de tradies culturais,

    sejam elas alimentares, de expresso esttica, de organizao do cotidiano, do trabalho e do

    modo de vida em geral.

    A Poltica Metropolitana Integrada de Apoio Produo em Pequena Escala visa dar

    visibilidade pequena produo na RMBH, bem como promover sua expanso e integrao

    ao atual movimento de expanso econmica da Regio, por meio do apoio gesto,

    regularizao e instalao de pequenos empreendimentos produtivos, da agregao de

    qualidade e valor aos seus produtos via apropriao tecnolgica e da articulao dos

    empreendimentos entre si e com os grandes investimentos previstos para o territrio

    metropolitano.

    Programa de Elevao da Qualidade e da Competitividade da Pequena Produo;

    Programa de Articulao da Pequena Produo Grande Produo;

    Programa de Apoio Regulamentao e Instalao de Empreendimentos Individuais,

    Empreendimentos Solidrios, Microempresas e Empresas de Pequeno Porte;

    Programa de Criao de uma Rede Metropolitana de Produo e Consumo Solidrio.

  • 35

    3.3 EIXO URBANIDADE

    O eixo Urbanidade traduz e sintetiza aspectos fundamentais da metrpole que

    coletivamente queremos ver construda nas prximas dcadas. A urbanidade tal qual vem

    sendo trabalhada no PDDI um conceito que se relaciona realizao plena da vivncia

    urbana e que expressa qualidades relacionadas solidariedade, percepo e ao sentimento

    de pertencimento ao espao em que se vive, negociao continuada entre os interesses,

    vida cotidiana e ao direito cidade. A urbanidade expresso de algo que , ao mesmo

    tempo, nico e comum a todos, sendo esta dimenso coletiva e solidria que faz com que a

    urbanidade oferea condies necessrias criatividade e pluralidade cultural.

    O urbano por excelncia o lugar do encontro. Talvez esta seja mesmo a melhor e

    mais simples traduo do que representa a vida urbana: o encontro e o espao compartilhado.

    Por conta disto a urbanidade necessariamente feita de diversidades, sociais, culturais, etc.

    Neste sentido, todo o esforo de se pensar a urbanidade na RMBH est pautado nos termos de

    uma construo coletiva, multifacetada e que se quer a todo tempo solidria!

    Alguns pontos de partida fundamentais para a elaborao das polticas neste eixo

    foram, para alm do que j se disse em termos de solidariedade e diversidade: a promoo da

    qualidade de vida e dos espaos; o trabalho com a idia de pertencimento e de identidade para

    com os espaos do nvel da realidade local da comunidade at o da prpria regio

    metropolitana; e o de que tudo isto s pode se materializar se houver condies amplas de

    informao e acesso, ou seja, conhecer e entender o que existe e acontece e a possibilidade de

    ser transitar bem por estes espaos no nvel metropolitano.

    As polticas aqui apresentadas esto informadas por estas diretrizes e se ocupam de um

    conjunto de dimenses variadas e com imprescindveis interaes com os demais eixos. Elas

    dizem respeito aos espaos pblicos, ao patrimnio material e imaterial, diversidade

    cultural, educaco, s atividades culturais e criativas, bem como a uma srie de

    entrecruzamentos relativos gesto, s condies de financiamento, estruturao

    institucional e ao arranjo territorial que visam dar materialidade ao pblica orientada este

    instrumento de planejamento.

  • 36

    3.3.1 POLTICA METROPOLITANA INTEGRADA DE DEMOCRATIZAO DOS

    ESPAOS PBLICOS

    A atual configurao dos espaos pblicos em suas diversas escalas, assim como seus

    usos por distintos atores, refletem e reforam as desigualdades sociais presentes na RMBH.

    Como conseqncia, observamos um acirramento da segregao social e da guetificao dos

    espaos, especialmente se analisarmos a proliferao de enclaves sociais onde os condomnios

    fechados e as favelas se tornam algumas de suas expresses mais visveis. Alm disso, o

    Estado por vezes se abstm da gesto de tais espaos ao permitir que interesses privados

    definam seus usos, alterando de forma crucial a paisagem e comprometendo sua funo

    social, a de permitir e potencializar a manifestao e o encontro entre grupos e indivduos

    distintos. A privatizao e a retrao dos espaos pblicos um processo que vem sendo

    reiteradamente constatado e denunciado nas metrpoles contemporneas nas ltimas dcadas,

    e se coloca como ponto crucial no reordenamento territorial da RMBH.

    preciso ampliar e qualificar a oferta de espaos especialmente multifuncionais e

    integrados em suas diversas escalas, adotando critrios de vulnerabilidade social para

    hierarquizao de prioridades nos investimentos, e a qualificao da parceria pblico-privada

    deve se pautar especificamente pelo interesse pblico e coletivo.

    A Poltica Metropolitana Integrada de Democratizao dos Espaos Pblicos tem

    como objetivo combater o processo de privatizao dos espaos pblicos, atravs da

    interveno na relao entre ordenamento urbano e estrutura social, abordando as relaes

    entre diferentes grupos sociais no territrio metropolitano em suas diferentes escalas.

    Programa de Requalificao, Ampliao e Implantao de Espaos e Equipamentos

    Pblicos;

    Programa de Democratizao do Acesso Informao;

    Programa de Qualificao dos Espaos e Ateno para Acesso dos Usurios;

    Programa de Mobilizao Social para Implementao do Plano Metropolitano:

    LUMEs - Lugares de Urbanidade Metropolitana.

  • 37

    3.3.2 POLTICA METROPOLITANA INTEGRADA DE GESTO DA PAISAGEM E

    VALORIZAO DA DIVERSIDADE CULTURAL

    Tradicionalmente, natureza e cultura so tratadas de maneira separada pelas polticas

    pblicas de proteo e promoo do patrimnio. Em muitos dos casos, tal perspectiva implica

    em iniciativas pouco eficazes de proteo e valorizao do patrimnio paisagstico, rgos

    com pouca transversalidade em planejamento e aes e oramentos e dotaes financeiras

    dspares, que reforam esse distanciamento. A cultura deve ser considerada como o conjunto

    dos traos distintivos espirituais e materiais, intelectuais e afetivos que caracterizam uma

    sociedade ou um grupo social e que abrange, alm das artes e das letras, os modos de vida, as

    maneiras de viver em sociedade, os sistemas de valores e as tradies e as crenas. Alm

    disso, importante considerar as interaes e relaes significativas entre o homem e o meio

    ambiente natural, numa perspectiva que privilegia os aspectos materiais e simblicos deste

    processo de apropriao territorial, o que inclui todas as formas de apropriao social pelos

    sujeitos sociais, muitas das vezes consideradas, a priori, como no notveis pelos rgos do

    patrimnio. Com isso, recoloca-se, de certa forma, o prprio campo do patrimnio cultural,

    abrindo-se uma perspectiva contempornea para, ao lado das novas contribuies, refletir de

    forma mais integrada sobre diversas idias tradicionais do campo da preservao.

    Outro aspecto relevante refere-se importncia do incremento de aes especficas

    para a valorizao da diversidade cultural na RMBH. Nesse sentido, so propostos programas

    voltados, por um lado, para o reconhecimento e valorizao das expresses culturais urbanas,

    com aes destinadas a pblicos diferenciados, e, por outro, para apoio aos modos de viver e

    de produzir do campo e de populaes tradicionais. Dessa forma, pretende-se empreender

    iniciativas capazes de promover a valorizao dos aspectos culturais que imprimem

    identidade aos grupos sociais e territrios.

    Programa de Conformao de Complexos Ambientais Culturais;

    Programa de Valorizao e Promoo da Diversidade Cultural na RMBH;

    Programa de Promoo de Rotas Tursticas.

  • 38

    3.3.3 POLTICA METROPOLITANA INTEGRADA DE GESTO TERRITORIAL

    DA EDUCAO E CULTURA

    A poltica de educao conquistou slida institucionalidade no Brasil. O pacto

    federativo entre Unio, estados e municpios estabelece responsabilidades e competncias no

    atendimento da demanda por educao. Ao longo das ltimas dcadas, a poltica educacional

    brasileira teve como foco prioritrio a universalizao do acesso ao Ensino Fundamental, na

    faixa etria de 7 a 14 anos, tendo em vista o cumprimento da exigncia estabelecida pela

    Constituio Federal, promulgada em 1988, que determinou esse nvel de ensino como direito

    pblico subjetivo. Nos anos recentes, o acesso ao ensino fundamental obteve um crescimento

    significativo, tornando-se quase universal: os dados da Pesquisa Nacional de Amostra

    Domiciliar (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) demonstram

    que, em 2006, a taxa de atendimento faixa etria de 7 a 14 anos foi de 97,6%.

    Dessa forma, outros desafios ganharam visibilidade nas polticas educacionais. A

    necessidade de ampliao dos anos de escolaridade da populao brasileira colocou como

    referncia a garantia da educao bsica, composta da educao infantil, ensino fundamental e

    ensino mdio. O alcance dessa meta encontra limites de vrias ordens: a dificuldade de

    cobertura do atendimento educacional de acordo com a demanda, sobretudo no ensino mdio

    e na educao infantil; a ineficcia na soluo da baixa qualidade do ensino pblico, que

    acaba por produzir desigualdades escolares, como reprovao, distoro idade-srie, evaso e

    analfabetismo; a carncia de proposies para atender aos segmentos da populao que

    demandam propostas especficas, como o caso da infncia e da juventude, sobretudo na

    faixa dos 15 a 17 anos que no concluiu o ensino fundamental, adultos analfabetos,

    populaes do campo, quilombolas e indgenas. Dessa forma, a Poltica se pauta na

    universalizao e qualificao educacional para garantia do direito educao bsica em

    todos os nveis e modalidades de ensino.

    Programa de Universalizao do Direito Educao Bsica;

    Programa de Reconfigurao da Dinmica Escolar: ampliao do tempo escolar na

    dinmica do territrio.

  • 39

    3.3.4 POLTICA METROPOLITANA INTEGRADA DE PROMOO DE

    ATIVIDADES CULTURAIS E CRIATIVAS

    A economia criativa parte de um contexto onde se consolida a passagem da

    sociedade industrial para a do conhecimento, na qual a fase analgica vem sendo substituda

    pela digital e as relaes humanas, ainda que bastante presenciais, encontram novos espaos,

    como o das redes sociais. Para alguns, trata-se apenas de um adjetivo para referenciar o setor

    da economia associado produo de bens e servios artstico-culturais. Entretanto, outros o

    associam incorporao de novas tecnologias de comunicao e produo artstico-cultural,

    entendendo-o como um setor produtivo. Essa abordagem remete, assim, a atividades

    produtivas altamente concentradas em criatividade, em grande medida artstica, e em

    tecnologias sofisticadas, onde opera mo de obra mais qualificada, garantindo

    competitividade aos produtos. O criativo abarca todo o circuito necessrio produo de

    cultura, e a economia criativa englobaria, portanto, os setores de propaganda, arquitetura,

    artes plsticas, artes performticas, antiguidade, artesanato, design, moda, cinema, fotografia,

    msica, edio de livro, rdio e televiso.

    No campo da formulao de polticas, a atividade criativa est associada ao sucesso de

    iniciativas voltadas para o desenvolvimento local. Em grande medida, essas atividades so

    urbanas, posto que sua existncia requer a proximidade com seus produtores e consumidores.

    Nesse contexto, surge o conceito de cidades criativas, complexos urbanos que possuem

    diversas atividades culturais e alta concentrao de emprego criativo, como lcus da assim

    chamada indstria criativa. Assim, diferentes estratgias de desenvolvimento podem ser

    aplicadas para o desenvolvimento do setor criativo, combinando a dimenso cultural com a

    extenso da infra-estrutura de transportes, alojamento e alimentao, segurana pblica, etc.

    Programa de Capacitao de Gestores Culturais;

    Programa de Capacitao de Produtores Criativos;

    Programa de Construo e/ou Reocupao de Equipamentos Voltados s Artes,

    Produo Criativa e ao Conhecimento Fbricas Criativas;

    Programa de Estmulo Economia Criativa.

  • 40

    3.3.5 POLTICA METROPOLITANA INTEGRADA DE FINANCIAMENTO DA

    CULTURA

    No financiamento das atividades promotoras do desenvolvimento socioeconmico de

    uma regio, a cultura requer participao ativa do Estado como agente investidor. Entretanto,

    a cultura no conta com nenhum instrumento efetivo de financiamento, de modo que o

    fomento da atividade criativa e cultural pressupe uma poltica estruturada com essa

    finalidade. Recentemente, com a criao do Sistema Nacional de Cultura (SNC), tornou-se

    evidente a preocupao em compreender as polticas de cultura como um programa nacional e

    sistmico e, nesse contexto, tambm o financiamento.

    Um resultado desse propsito um novo programa que tramita no Congresso

    Nacional, o PROCULTURA Programa Nacional de Fomento e Incentivo Cultura. Nele, os

    instrumentos de financiamento esto definidos como: Fundo Nacional da Cultura (FNC),

    Incentivo Fiscal a Projetos Culturais, Fundo de Investimento Cultural e Artstico (Ficart) e

    Vale-Cultura, criado por lei especfica. No mbito do novo programa, o FNC ser destinado

    proviso de recursos para instituies pblicas, privadas sem fins lucrativos e pessoas fsicas.

    O Ficart tem natureza comercial, com a criao de condomnios fechados caracterizados por

    comunho de recursos destinados aplicao em projetos culturais e artsticos. Outro

    mecanismo seria o j conhecido mecenato, ou seja, incentivos fiscais para projetos em cultura.

    Entretanto, o panorama na RMBH para difuso de mecanismos de financiamento de

    atividades culturais no territrio metropolitano no animador. Atualmente, os rgos

    gestores das leis de incentivo so as Secretarias de Cultura estaduais e municipais. Na regio,

    apenas trs municpios possuem secretarias exclusivas de Cultura (Itaguara, Nova Lima e

    Sabar) e trs possuem fundaes exclusivas de Cultura (Belo Horizonte, Betim e Caet).

    Oito municpios possuem secretarias de Educao e Cultura e, em 18 municpios, a cultura

    est aliada a diversos outros setores. A mdia de investimento municipal para a Cultura, em

    2005, foi de apenas 0,6%.

    Estudo Complementar de Diagnstico Institucional e Jurdico para Criao de

    Mecanismo de Financiamento de Atividades Culturais.

  • 41

    3.4 EIXO SUSTENTABILIDADE

    O esforo de planejar e orientar o desenvolvimento da RMBH realizado no mbito do

    PDDI envolve a dupla tarefa de propor polticas que tratem de maneira adequada os diversos

    problemas e desequilbrios que acumulados ao longo da histria da regio, alm de preparar a

    RMBH para os desafios permanentemente criados pelas constantes mudanas da economia

    local, nacional e internacional. Assim, as polticas programas e projetos includos no PDDI

    devem ter sempre uma lanterna de popa isto , um olhar para as demandas sociais que se

    acumularam ao longo do tempo e uma lanterna de proa, um olhar para o futuro, um esforo

    continuado de construo de melhores condies de vida para as geraes futuras.

    Essa caracterstica, comum a todas as polticas distribudas nos quatro eixos que

    compe o plano, ainda mais evidente nas polticas de Sustentabilidade, uma vez que elas

    expressam de maneira marcante a tenso permanente entre passado e futuro.

    Dentro dessa perspectiva, o PDDI adotou um conceito bastante amplo de

    Sustentabilidade. Com efeito, esse conceito inclui todas as questes ambientais relevantes,

    comumente tratadas de maneira acessria ou marginal na literatura. Contudo, muito

    importante ressaltar que o PDDI incluiu nesse eixo, de maneira inovadora, todas as questes

    relacionadas estrutura produtiva dos municpios da RMBH. Nessa escolha est implcito o

    pressuposto de que o crescimento econmico mais inclusivo da RMBH s pode ocorrer a

    partir do tratamento de sua relao e seus impactos sobre o meio amb