Plano de Manejo da APA Municipal de São Bento do Sul

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PLANO DE MANEJO CONTEXTUALIZAÇÃO E ANÁLISE DA REGIÃO DA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO APA MUNICIPAL DO RIO VERMELHO/HUMBOLD ENCARTE 1

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Plano de majedo da área de proteção ambiental municipal do Rio Vermelho/Humbold de São Bento do Sul

Transcript of Plano de Manejo da APA Municipal de São Bento do Sul

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    CONTEXTUALIZAO E ANLISE DA REGIO DA UNIDADE DE CONSERVAO A

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    ENCARTE 1

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Situao da Sade nos municpios do entorno da APA Municipal do Rio

    Vermelho/Humbold ................................................................................... 41

    Tabela 2 - Infraestrutura de Saneamento .................................................................. 42

    Tabela 3 - Abastecimento de gua ............................................................................ 43

    Tabela 4 - Evoluo do PIB ....................................................................................... 45

    Tabela 5 - Produo Agrcola Permanente ................................................................ 46

    Tabela 6 - Produo Agrcola Temporria ................................................................. 47

    Tabela 7 - Produo Pecuria ................................................................................... 47

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Localizao da APA Municipal do Rio Vermelho/Humbold ....................... 12

    Figura 2 - Geomorfologia da Regio da APA Municipal do Rio Vermelho/Humbold .. 15

    Figura 3 - Sistemas independentes de drenagem de Santa Catarina ....................... 16

    Figura 4 - A APA Municipal do Rio Vermelho/Humbold em relao s bacias

    hidrogrficas de Santa Catarina ............................................................... 17

    Figura 5 - Geologia da Regio da APA Municipal do Rio Vermelho/Humbold ........... 18

    Figura 6 - Municpios do entorno da APA Municipal do Rio Vermelho/Humbold ....... 29

    Figura 7 - Evoluo da Populao ............................................................................ 39

    Figura 8 - Evoluo IDH-M ....................................................................................... 40

    Figura 9 - Nascidos Vivos ......................................................................................... 41

    Figura 10 - Destinao do esgoto gerado nos municpios do contexto regional .......... 42

    Figura 11 - Evoluo no nmero de matriculas no perodo entre 2003 a 2009 ........... 44

    Figura 12 - Composio do PIB .................................................................................. 45

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    SUMRIO

    1. INTRODUO ................................................................................................... 5

    1.1. Histrico de Criao ................................................................................................. 7

    1.2. Ficha Resumo da Unidade de Conservao APA Municipal do Rio

    Vermelho/Humbold ....................................................................................................... 10

    2. LOCALIZAO DA REA .............................................................................. 11

    3. CONTEXTUALIZAO E ANLISE DA REGIO DA UC .............................. 13

    3.1. Meio Fsico .............................................................................................................. 13

    3.2. Meio Bitico ............................................................................................................ 21

    3.2.1. Flora .................................................................................................................. 21

    3.2.2. Avifauna ............................................................................................................. 26

    3.2.3. Mastofauna ........................................................................................................ 27

    3.3. Meio Socioeconmico ............................................................................................ 28

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .................................................................... 49

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    LISTA DE SIGLAS

    AER - Avaliao Ecolgica Rpida

    APA - rea de Proteo Ambiental

    ANA Agncia Nacional das guas

    CEPA - Centro de Educao Ambiental e Pesquisa

    EUA Estados Unidos da Amrica

    EXPOAMA Exposio Agropecuria e do Meio Ambiente

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IGH-M ndice de Desenvolvimento Humano Municipal

    INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa

    INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

    MEC Ministrio da Educao

    PIB Produto Interno Bruto

    PM - Plano de Manejo

    PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

    PTRS Tratamento Participativo de Resduos Slidos

    RPPN Reserva Particular do Patrimnio Natural

    SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservao

    TMCA Taxa Mdia de Crescimento Anual

    UC - Unidade de Conservao

    UFSC Universidade Federal de Santa Catarina

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    1. INTRODUO

    As florestas tropicais constituem um patrimnio natural nico, expresso em um

    conjunto de variadas formaes vegetacionais que abriga inmeras formas de vida

    (COSTA JUNIOR et al., 2008), provavelmente concentrando a maior riqueza de

    espcies por metro quadrado. O Brasil um dos pases com maior rea de florestas

    tropicais (BORM; OLIVEIRA-FILHO, 2002; CERVI et al., 2007), graas a sua grande

    extenso territorial, variedade de climas e solos (LEITO-FILHO, 1987).

    Entre as florestas tropicais que ocorrem no Brasil, destaca-se a Mata Atlntica, que

    originalmente se estendia continuamente ao longo da costa brasileira, penetrando at

    o leste do Paraguai e nordeste da Argentina. Porm, como resultado do processo de

    colonizao e ocupao do territrio brasileiro, concentrados inicialmente nas regies

    prximas do litoral, esta formao sofreu transformaes drsticas, com acentuada

    perda de ambientes, de modo que, atualmente, mais de 80% dos fragmentos

    remanescentes apresenta menos de 50 ha, a maioria dos quais j alterados e sob

    diferentes estgios sucessionais. Estima-se que os remanescentes de Mata Atlntica

    ocupem cerca de 7% da rea original do bioma (LEITO-FILHO, 1987; MORELLATO

    e HADDAD, 2000; RIBEIRO et al., 2009; TABARELLI et al., 2005).

    A Mata Atlntica um dos biomas brasileiros com elevada prioridade para o

    estabelecimento de unidades de conservao, abrangendo o complexo conjunto de

    ecossistemas associados. O bioma abriga extraordinria diversidade de espcies

    endmicas e uma parcela significativa de biodiversidade (RODERJAN et al., 2002;

    SOS MATA ATLNTICA e INPE, 2008), sendo considerado um hotspot para a

    conservao (MYERS et al., 2000), ou seja, uma formao reconhecida mundialmente

    pelo grau de ameaa acentuado e pela urgncia por medidas conservacionistas.

    Vrios autores atribuem a elevada biodiversidade do bioma grande amplitude

    latitudinal e altitudinal que caracteriza a rea de ocorrncia da Mata Atlntica, o que,

    associado a outros fatores ambientais (variao de solos e distncia do mar, por

    exemplo), resulta em ambientes distintos (CAMPANILI; PROCHNOW, 2006;

    MANTOVANI, 2003). Nesta formao h vrias fitofisionomias, que geralmente

    assumem feies especficas desde as terras baixas at as cotas mais elevadas,

    como Floresta Ombrfila Densa, Floresta Ombrfila Mista, Floresta Estacional

    Semidecidual, Floresta Estacional Decidual, alm de formaes pioneiras sujeitas a

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    condies ambientais particulares, como restingas, manguezais e lagoas (RODERJAN

    et al., 2002).

    O estabelecimento de unidades de conservao , em todo o mundo, a principal

    estratgia para conservar a variedade de formas de vida, ou biodiversidade. Hoje,

    essas reas so uma garantia para o futuro da humanidade, os refgios em que ainda

    contamos com vrios bens e servios ambientais oferecidos apenas pela natureza.

    Atualmente, cerca de 10% do territrio nacional ocupado por alguma unidade de

    conservao federal instituda por ato do Poder Pblico.

    A Lei Federal n 9.985, de 18 de julho de 2000, que instituiu o Sistema Nacional de

    Unidades de Conservao da Natureza (SNUC), enquadra a rea de Proteo

    Ambiental (APA) como uma unidade de conservao de uso sustentvel, que admite

    atividades humanas, desde que orientadas e reguladas para evitar danos ambientais e

    buscando um uso sustentvel dos recursos naturais existentes.

    Assim, as APA geralmente so reas extensas, com ocupao humana j existente e

    atributos abiticos, biticos, estticos ou culturais especialmente importantes para a

    qualidade de vida e ao bem-estar de populaes humanas. Tem como objetivos

    bsicos proteger a diversidade biolgica, amostras de ambientes naturais e, ao

    mesmo tempo, disciplinar o processo de ocupao e buscar a sustentabilidade no uso

    de recursos locais.

    A fim de conservar os recursos naturais da regio do planalto norte catarinense, nos

    municpios de So Bento do Sul, Campo Alegre, Rio Negrinho e Corup foi criado o

    Consrcio Intermunicipal da Bacia Hidrogrfica do Alto Rio Negro, ou apenas

    Consrcio Quiriri. Entre os projetos associados a esse consrcio, destaca-se o

    Projeto de reas de Proteo Ambiental, do Programa de Unidades de Conservao.

    Por meio desse programa, cinco APAs foram criadas (BOLLMANN, 2005; TEIXEIRA,

    2004).

    A APA Municipal do Rio Vermelho/Humbold uma dessas unidades, cuja criao,

    assim como as demais reas do Consrcio Quiriri, se baseou em projeto de lei

    assinado em conjunto por vereadores das Cmaras Municipais de Campo Alegre, Rio

    Negrinho e So Bento do Sul (Parlamento do Consrcio) (BOLLMANN, 2005;

    TEIXEIRA, 2004).

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    O planejamento um processo consolidado para auxiliar na implementao de

    unidades de conservao. Como um produto central do planejamento, o plano dever

    amparar as decises na APA, para que elas considerem o contexto e as necessidades

    de manejo, definindo condies de uso, prioridades e rumos especficos.

    1.1. Histrico de Criao

    Em 1990 houve um primeiro sinal de preocupao socioambiental que hoje resulta no

    Consrcio Quiriri e na existncia da APA objeto deste estudo, quando a Lei Orgnica

    Municipal de So Bento do Sul incluiu um captulo especfico sobre o cuidado e a

    preocupao com o ambiente e os recursos naturais (BOLLMANN, 2005).

    Em 1995, como fruto de um curso de planejamento ambiental participativo por bacia

    hidrogrfica, a idia de um consrcio intermunicipal para o tratamento de vrias

    matrias, incluindo questes ambientais, foi levada aos trs prefeitos poca dos

    municpios de Rio Negrinho, So Bento do Sul e Campo Alegre. Assim se iniciou o

    processo de organizao dos municpios de forma integrada, por meio da criao de

    um Consrcio e, no ano 2000, o municpio de Corup, mesmo sendo de outra bacia

    hidrogrfica, mas limtrofe a municpios do Consrcio, ingressou no Consrcio Quiriri

    (BOLLMANN, 2005).

    No artigo 241 da Emenda Constitucional 19, de 4 de junho de 1998, consta que a

    Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios disciplinaro por meio de lei os

    consrcios pblicos e os convnios de cooperao entre os entes federados,

    autorizando a gesto associada de servios pblicos, bem como a transferncia total

    ou parcial de encargos, servios, pessoal e bens essenciais continuidade dos

    servios transferidos.

    Portanto, a formao de consrcios uma forma de organizar a regionalizao de

    forma ascendente, por ser formado a partir dos municpios, de suas caractersticas

    locais e suas dificuldades, para discutir aes regionais, sem que os municpios

    percam a autonomia. uma parceria baseada em uma relao de igualdade jurdica,

    na qual todos os participantes municpios tm a mesma importncia. Conclui-se,

    assim, que esses consrcios possibilitam uma territorializao dos problemas

    (TEIXEIRA, 2004). Estima-se que j existe algo como 10 outras iniciativas similares

    em Santa Catarina, incidindo sobre 30% dos municpios do estado (BOLLMANN,

    2005).

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    O processo de organizao dos municpios citados se baseou na constatao de

    vrios problemas socioambientais, como destinao inadequada de resduos,

    destinao de esgoto, lixes municipais inadequados, iniciativas locais de reciclagem,

    etc. Ainda segundo Bollmann (2005), houve incontveis averiguaes de

    irregularidades. Portanto, a criao do Consrcio uma reao a um contexto de

    degradao do meio ambiente que incide no apenas sobre um determinado

    municpio isoladamente, mas por toda uma regio, o que reforou a necessidade de

    integrao intermunicipal (TEIXEIRA, 2004).

    Alm de levar essas informaes aos prefeitos, no processo tambm houve todo um

    esforo para mobilizao, articulao e participao de outros representantes da

    sociedade. Cerca de 20% da populao dos municpios foi envolvida, de forma direta e

    indireta, nesse processo de disseminao de informaes e conhecimentos,

    totalizando 20.000 pessoas, por meio de reunies, palestras, seminrios, treinamentos

    e veiculaes em rdio, jornais e na televiso (TEIXEIRA, 2004).

    Como resultado desse trabalho, no maior evento regional poca, a 5 Exposio

    Agropecuria e do Meio Ambiente (EXPOAMA), realizada em 28 de setembro de

    1997, com a presena de mais de 10.000 pessoas, houve a assinatura da ata de

    constituio do Consrcio Quiriri, com a presena de prefeitos, vereadores,

    deputados estaduais, secretrios de estado e um representante do governador de

    Santa Catarina. O comprometimento pblico, respaldado pela presena de

    autoridades e do pblico em geral, marcou ento um ato pblico irreversvel

    (BOLLMANN, 2005).

    A partir de ento, o Poder Pblico Municipal se ocupou de preparar uma sustentao

    jurdica para o Consrcio Quiriri, expressa em mais de 20 leis municipais sancionadas

    nos seus primeiros trs anos de existncia. Essas leis tratam da participao dos

    municpios no Consrcio, de normas aos municpios caso haja desvinculao do

    Consrcio, declara o Consrcio Quiriri como de utilidade pblica, autoriza o Poder

    Executivo a conceder contribuio financeira ao Consrcio, alm de previses para

    despesas com manuteno e despesas com servios de consultoria. Tambm, essa

    base legal propiciou a cooperao entre a Universidade Federal de Santa Catarina e o

    Consrcio Quiriri, embasou medidas relacionadas com limpeza pblica, incineraes

    de resduos infectantes, sem contar as leis que criaram cinco APAs vinculadas aos

    propsitos do Consrcio (BOLLMANN, 2005).

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    O Consrcio Quiriri se sustenta em certos princpios, que devem ser respeitados por

    todos os membros, como o no-partidarismo, o uso de bacia hidrogrfica como

    unidade de planejamento ambiental, a integrao do estado com a sociedade civil,

    inclusive com organizaes no-governamentais, buscando tratar os recursos naturais

    como limites a serem respeitados, como se eles fossem as divisas poltico

    administrativas (BOLLMANN, 2005).

    Atravs do Consrcio, houve um processo de investigao sobre questes

    socioambientais em todos os nveis e segmentos dos grupos sociais abrangidos pelos

    quatro municpios vinculados iniciativa. Esse trabalho caracterizou a situao

    socioambiental de cada segmento e definiu ento prioridades para aes especficas,

    em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Como resultado,

    foram definidos quatro grandes programas de ao: Tratamento Participativo de

    Resduos Slidos (PTRS), Unidades de Conservao, Educao Ambiental, Turismo

    Rural e Recursos Naturais (TEIXEIRA, 2004).

    No diagnstico participativo, notou-se que o lixo era um dos problemas centrais a ser

    enfrentado. As prprias comunidades sugeriram a implementao de programas de

    coleta seletiva e reciclagem e a aplicao de algum tipo de punio s pessoas que

    despejassem lixo em terrenos baldios ou em cursos dgua (TEIXEIRA, 2004). Mais de

    80% dos participantes do diagnstico participativo em So Bento do Sul e 70% em Rio

    Negrinho destacaram a gravidade do quadro de poluio dos rios em decorrncia do

    despejo de lixo. Atravs do Programa de Tratamento Participativo de Resduos Slidos

    (PTRS) do Consrcio Quiriri, houve uma das transformaes mais significativas em

    mbito local. Antes, os resduos gerados nos municpios tinham destinos variados,

    muitas vezes eram misturados resduos domiciliares e industriais, inclusive

    substncias perigosas, infectantes e at subprodutos de petrleo (solventes, tintas,

    vernizes) (TEIXEIRA e JACOBI, 2000).

    Como resultado do PTRS, o municpio de So Bento do Sul, por exemplo, passou a

    reciclar metade do resduo gerado, totalizando cerca de 2.000 toneladas/ms. Os

    resduos industriais tambm passaram a ter destino adequado. Cinco anos aps a

    criao do Consrcio, um conjunto de medidas aplicadas j revelou resultados

    visveis, inclusive com gerao de renda (TEIXEIRA, 2004).

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    Vinculadas ao Programa de Unidades de Conservao do Consrcio Quiriri, foram

    criadas cinco unidades, totalizando 47.085 ha (24% da rea dos quatro municpios). O

    Programa de Unidades de Conservao, onde se insere o Projeto de reas de

    Proteo Ambiental - APAs, resultou na aprovao de leis municipais durante uma

    reunio conjunta de vereadores das cmaras municipais de Campo Alegre, Rio

    Negrinho e So Bento do Sul (Parlamento do Consrcio) no ano de 1998 (TEIXEIRA,

    2004).

    Assim, buscou-se definir legalmente as reas onde h ambientes naturais a serem

    protegidos ou utilizados com mais cautela, com a finalidade de assegurar a qualidade

    de vida da populao local, inclusive no sentido de garantir a potabilidade da gua em

    lugares considerados como reserva de abastecimento pblico (BOLLMANN, 2005;

    TEIXEIRA, 2004).

    1.2. Ficha Resumo da Unidade de Conservao APA Municipal do Rio

    Vermelho/Humbold

    DENOMINAO

    rea de Proteo Ambiental Rio Vermelho/Humbold

    Nome dos Proprietrios

    Prefeitura Municipal de So Bento do Sul - SC

    Nome do Representante

    Marcelo Hubel

    Contato

    Secretaria Municipal de Meio Ambiente

    Endereo

    Prefeitura Municipal de So Bento do Sul

    Rua Jorge Lacerda, 75 Centro - So Bento do Sul - SC

    CEP: 89.280-902

    Telefone/Fax/e-mail/site

    Fone: (47) 3631-6000

    e-mail: [email protected]

    Site: www.saobentodosul.sc.gov.br

    rea da APA (em ha)

    rea da APA 23.000 ha

    Principal municpio de acesso APA

    Municpio de So Bento do Sul, no estado de Santa

    Catarina.

    Municpio e estado abrangido

    Municpio de So Bento do Sul, no estado de Santa

    Catarina.

    Coordenadas (geogrficas ou UTM)

    A APA se localiza entre as coordenadas

    7095000 7080000 N e 660000 680000 E.

    Data e nmero ato legal da criao

    Lei Municipal n 246, de 14 de agosto de 1998

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    DENOMINAO

    rea de Proteo Ambiental Rio Vermelho/Humbold

    Marcos e referncias importantes nos limites

    e confrontantes

    Estao Ferroviria Rio Vermelho

    Biomas e/ou ecossistemas

    Mata Atlntica

    Distncia dos centros urbanos mais prximos

    Aproximadamente 6 km da sede do municpio So Bento

    do Sul - SC

    Principal meio de chegada APA

    Automvel

    2. LOCALIZAO DA REA

    A APA Municipal do Rio Vermelho, criada atravs da Lei Municipal n 246, de 14 de

    agosto de 1998, localiza-se na regio norte-nordeste de Santa Catarina, no municpio

    de So Bento do Sul, em uma rea de cerca de 23.000 ha (Figura 1).

    Esta regio situada em elevaes que vo de cerca de 200 a 1200 m de altitude,

    tendo sua composio vegetal composta desde Floresta Ombrfila Densa Sub-

    Montana, Floresta Ombrfila Densa Montana, Floresta Ombrfila Mista e campos de

    altitude, em diferentes nveis de regenerao, inclusive formaes primrias.

    Est situada a 237 km do municpio de Florianpolis, capital do estado, com acesso

    pela BR-101 e SC-413.

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    Figura 1 - Localizao da APA Municipal do Rio Vermelho/Humbold

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    3. CONTEXTUALIZAO E ANLISE DA REGIO DA UC

    Foi criado, atravs da Lei Municipal n 2.754, de 28 de maro de 2011, no municpio

    de So Bento do Sul o Museu Natural Entomolgico Ornith Bollmann, com o objetivo

    de registrar, documentar e preservar o material provindo de pesquisas de campo,

    sendo uma fonte constante de pesquisa, visando a transmisso e o acesso do cidado

    ao conhecimento e a construo ou desenvolvimento da cultura, est institudo para o

    desenvolvimento de pesquisa de carter cientfico, educativo e de exposio, de

    indivduos representantes da fauna, flora e recursos naturais.

    3.1. Meio Fsico

    De acordo com a classificao de Kppen, o clima da regio sul brasileira do tipo Cf,

    subtropical e sempre mido, sujeito a influncia de massas de ar.

    A caracterizao geomorfolgica da regio onde est inserido o municpio de So

    Bento do Sul constitui basicamente trs unidades geomorfolgicas morfoestruturais

    (Figura 2):

    - Serras do Leste Catarinense;

    - Planalto de So Bento do Sul;

    - Patamar de Mafra.

    As Serras do Leste Catarinense

    So caracterizadas pela seqncia de serras dispostas de forma subparalela.

    Dispem-se na direo predominante NE-SW. Comeam nas proximidades de

    Joinville e se estendem para o sudoeste. A caracterizao geomorfolgica feita pela

    seqncia de serras dispostas de forma subparalela.

    Em termos altimtricos, apresentam-se gradativamente mais baixas em direo ao

    litoral, atingindo, prximo linha da costa, altitudes inferiores a 110 m, onde terminam

    atravs de pontas, pennsulas e ilhas. Na regio da APA Municipal do Rio Vermelho,

    ocorrem as maiores altitudes da unidade, ultrapassando os 900 m em sua poro SE.

    No Vale do Rio Itapocu ocorrem relevos de topos convexos, configurando morros em

    forma de meia laranja, correspondendo a um modelado de dissecao homognea.

    Na regio da APA Municipal do Rio Vermelho o relevo enrgico, com vales

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    profundos em forma de V, controlados estruturalmente e separados por cristas. Os rios

    desta unidade ocorrem no sentido NE.

    A geomorfologia na regio da APA caracterizada por vales profundos com encostas

    ngremes e sulcadas, separadas por cristas bem marcadas na paisagem, esta

    caracterstica favorece a atuao dos processos erosivos, principalmente nas

    encostas desmatadas, podendo inclusive ocorrer movimentos de massa, uma vez que

    o manto do material fino resultante da alterao da rocha espesso, podendo atingir

    at 20 m. Em muitas vertentes encontram-se anfiteatros de eroso ocasionados por

    movimentos de massa, na maioria das vezes subatuais. Uma caracterstica geral

    dada pela intensa dissecao, que basicamente, encontra-se controlada

    estruturalmente, resultando num modelado de dissecao diferencial (SANTA

    CATARINA, 1986).

    Planalto de So Bento do Sul

    Esta Unidade situa-se em toda a poro norte da APA. O aspecto geral do relevo pode

    ser descrito por formas colinosas que se desenvolvem sobre patamares estruturais e

    localmente apresentam certa concordncia topogrfica e parecem corresponder a

    restos de uma superfcie de aplainamento. Altimetricamente este planalto possui uma

    altitude mdia situada entre 850 e 950 m, mas podemos encontrar altitudes maiores

    chegando a 1.120 m no ponto culminante localizado na APA em sua poro NE.

    Patamar de Mafra

    Segundo Rosa e Herrmann (1986), as formaes constitudas por rochas

    sedimentares muito friveis deram origem a um relevo colinoso, com pequena

    amplitude altimtrica que, resultado de um modelado de dissecao fluvial

    homognea, denominado Unidade Geomorfolgica Patamar de Mafra, encontrado no

    extremo oeste da rea da APA.

    O relevo nesta poro pode ser caracterizado como regular, quase plano, que no

    conjunto pode ser individualizado como um patamar intermedirio, predominantemente

    constitudo por uma superfcie colinosa.

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    Figura 2 - Geomorfologia da Regio da APA Municipal do Rio Vermelho/Humbold

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    16/I

    A rede hidrogrfica do estado de Santa Catarina representada por dois sistemas

    independentes de drenagem o Sistema Integrado da Vertente do Interior,

    comandado pela bacia Paran-Uruguai e o Sistema da Vertente Atlntica, formado por

    um conjunto de bacias isoladas (Figura 3).

    A Vertente do Interior abrange uma rea equivalente a 63% (cerca de 60.123 km2) da

    rea do estado, enquanto a Vertente Atlntica, com uma rea de 35.298 km2, ocupa o

    equivalente a 37%. nesta vertente que se encontra a maior bacia hidrogrfica

    exclusivamente catarinense, a bacia do rio Itaja com cerca de 15.000 km2, que conta

    com 3 grandes tributrios: rios Itaja do Norte, Itaja do Oeste e Itaja do sul.

    Figura 3 - Sistemas independentes de drenagem de Santa Catarina

    A Serra Geral o grande divisor das guas que drenam para o rio Uruguai e as que se

    dirigem para leste, desaguando diretamente no Oceano Atlntico. Mais ao norte, a

    Serra do Mar serve como divisor entre a Bacia do Iguau e as bacias da vertente

    atlntica que drenam para o litoral norte.

    Ainda com relao s bacias hidrogrficas do estado de Santa Catarina, estas podem

    ainda ser enquadradas em trs grandes grupos: Bacias do Iguau, Bacias do Uruguai

    e Bacias do Sudeste, pertencendo respectivamente s regies hidrogrficas do

    Paran, Uruguai e Atlntico Sul (AGNCIA NACIONAL DAS GUAS, 2010). A regio

    centro-norte catarinense composta basicamente por trs bacias hidrogrficas do

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    17/I

    grupo de bacias do sudeste, associadas aos rios Itaja-Au, Itapoc e Tijucas,

    drenando diretamente para o Atlntico Sul. A regio da APA Municipal do Rio

    Vermelho insere-se na bacia do rio Itapoc, em seu curso superior (Figura 4).

    Figura 4 - A APA Municipal do Rio Vermelho/Humbold em relao s bacias

    hidrogrficas de Santa Catarina

    A geologia da regio da APA Municipal do Rio Vermelho delineada basicamente pela

    rea do Escudo Atlntico, do Supergrupo Tubaro, alm de Sedimentos Quaternrios

    (Figura 5).

    rea de Sedimentos Quaternrios

    Este domnio corresponde ao dos depsitos sedimentares inconsolidados, formados

    em ambiente marinho, fluvial, durante o Holoceno. Estes depsitos consistem em

    areias, argilas, cascalhos, seixos e sedimentos sltico-argilosos. Na regio da APA

    ocorrem apenas os depsitos aluvionares e coluviais.

    Os depsitos aluvionares tratam-se de sedimentos fluviais que devido ao relevo local

    da APA formam, pequenas plancies, ao longo do curso dos rios. So constitudos por

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    18/I

    Figura 5 - Geologia da Regio da APA Municipal do Rio Vermelho/Humbold

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    19

    areias, argilas, cascalhos e material sltico-argiloso; os sedimentos mais grosseiros

    localizam-se preferencialmente nas regies perto das nascentes dos cursos d gua,

    enquanto os mais finos predominam nas reas de menor energia hdrica. Os

    Depsitos Coluviais tratam-se de acumulao da base de encostas, identificados no

    sop das serras e na base das encostas de elevaes. Os depsitos so

    inconsolidados e mal classificados, sendo constitudos por cascalhos, seixos, areias e

    argilas.

    Supergrupo Tubaro

    Muhlmann et al. (1974), citados por Bortoluzzi et al. (1987), promoveram o Grupo

    Tubaro categoria de supergrupo e os subgrupos Itarar e Guat categoria de

    grupo. Ao mesmo tempo propuseram a subdiviso do Grupo Itarare em quatro

    formaes.

    GRUPO IATARE

    Compreende na Bacia do Paran, todo o pacote de sedimentos de origem glacial e

    periglacial relacionado ao Carbonfero Superior e Permiano Inferior.

    Formao Mafra

    Forma a parte intermediria do Grupo Itarar, sendo constituda por arenitos brancos e

    amarelo-avermelhados, mal selecionados, com diamictitos, conglomerados e argilitos

    subordinados. Sua deposio deu-se em condies ambientais marinhas e

    continentais, com influncia glacial.

    rea do Escudo Atlntico

    Nesta regio, localiza-se o Craton de Lus Alves, elemento tectnico setentrional, a

    grosso modo retangular, cujos limites aproximados norte-sul esto entre os paralelos

    2600 e 2645, portanto quase todo compreendido no contexto da regio. Sua

    extremidade meridional, j fora da APA, est oculta sob os sedimentos da Bacia

    Perifrica Camaqu-Itaja.

    No mbito da regio da APA, os tratos rochosos so constitudos pelo Complexo Lus

    Alves, assemblia petrotectnica de rochas metamrficas principalmente da fcies

    granulito, composio bsica-intermediria gerada no Arqueano e Proterozico

    Inferior.

    As rochas metamrficas da fcies granulito se expressam por gnaisses norticos,

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    gnaisses enderbticos, gnaisses clcico-silicticos, gnaisses kinzigticos, anortositos,

    quartzos e ultramafitos. As rochas pertencentes s outras fcies-anfibolito, epdoto-

    anfibolito e xistos verdes so as seguintes: biotita-gnaisses, metatonalitos,

    metadioritos, metagabros, anfibolitos, diatexitos, metatexitos, serpentinitos, xistos

    magnesianos e rochas cataclsticas (SANTA CATARINA, 1986).

    Margeando a APA em sua poro SE, encontra-se a Sute Intrusiva Serra do Mar,

    compreendendo um conjunto de seis corpos intrusivos que transpassam as rochas do

    Complexo Lus Alves, os quais so conhecidos pela toponmia de Subida, Corup,

    Pira, Dona Francisca, Serra Alta e Morro Redondo, intruso esta que se estende para

    o Paran e que se apresenta como stocks e corpos alongados. Determinaes

    petrogrficas apontam a presena de biotita-granitos, alaskitos, hornblenda-granitos,

    biotita-macrogranitos, granitos cataclticos, sienitos, quartzo-sienito sdico, riebeckita-

    granitos e riebeckita-aegerina-granitos, tipos litolgicos que revelam quimismo alcalino

    a peralcalino. Trata-se de um plutonismo anorognico (interplaca) anlogo aos

    granitos tipo A, e com ligao gentica com os Grupos Itaja e Campo Alegre, podendo

    ser interpretado, assim, como produto de um episdio distensional da crosta terrestre

    ocorrida por volta de 550 milhes de anos.

    Na sua maior parte, os stocks e corpos alongados acima referidos destacam-se

    sobremaneira na topografia, edificando morros ou pequenas serras, que so

    paisagens geomorfolgicas do grande acidente geogrfico do sul/sudeste do Brasil

    conhecido como Serra do Mar.

    No noroeste da rea de estudo encontra-se o Planalto de So Bento do Sul, o qual

    situa-se entre 850 e 950 m de altitude. O substrato pertence ao Grupo Campo Alegre

    onde se localizam as principais nascentes do rio Vermelho. O Grupo Campo Alegre

    constitudo por rochas efusivas e piroclsticas, alm de rochas sedimentares como

    arenitos e conglomerados (SANTA CATARINA, 1986). Kaul (1997, apud CITRONI,

    1998) identificou essa poro como uma margem regenerada do Crton Luiz Alves,

    j Hasui et al. (1975, apud CITRONI, 1998) considerou-a um macio. Tais

    denominaes devem-se ao longo perodo de estabilidade em que essa bacia

    permaneceu. Contudo, a parte norte dessa bacia, margeando o domnio Curitiba, teria

    sido ativada durante a colagem tectnica do Neoproterozico, entre os domnios Luiz

    Alves e Curitiba (SIGA, 1995).

    Segundo Figueiredo et al. (1991), o Complexo Luiz Alves, tambm denominado por

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    Hartman e Silva (1979) de Complexo Granultico de Santa Catarina, constitudo por

    ortogranulitos, derivados de sute gnea bsica intermediria-cida, de composio

    tonato-granodiortica com diferenciado bsicos subordinados. O complexo granultico

    limita-se ao norte com o Domnio Curitiba, ao oeste a Bacia do Paran, ao sul com o

    Cinturo Dom Feliciano e a calha sedimentar do Grupo Itaja, e a leste como Domnio

    Paranagu. A Unidade Geomorfolgica Serra do Mar isola o planalto do litoral e

    apresenta-se como um conjunto de cristas e picos, separados por vales profundos em

    V` e com encostas ngremes (CARUSO, 2001 p. 42).

    3.2. Meio Bitico

    3.2.1. Flora

    A vegetao florestal predominante na APA Municipal do Rio Vermelho/Humbold

    pertence Floresta Ombrfila Densa. Esta floresta est situada na parte leste de

    Santa Catarina entre o planalto e o oceano, onde as precipitaes so abundantes e

    regularmente distribudas durante o ano, no obstante, um perodo mais intenso no

    vero. A umidade relativa muito elevada (84-86%) nas proximidades da costa,

    diminuindo em sentido a oeste. Trata-se, portanto, de um clima sazonal tropical mido,

    sem perodo seco e com medias trmicas nunca inferiores a 15C (SANTA

    CATARINA, 1986).

    As condies ambientais dessa regio favorecem o desenvolvimento de uma

    multiplicidade de subformas de vida. Ao longo da encosta atlntica e plancies

    quaternrias encontra-se a floresta mais exuberante e complexa, com um grande

    nmero de espcies arbreas com 20-30 m de altura e copas largas que densificam o

    estrato superior. Dentre as espcies que se destacavam pode-se citar a Ocotea

    catharinesis (canela-preta), Ocotea odorifera (canela-sassafras), Cryptocarya

    aschersoniana (canela-fogo), Nectandra oppositifolia (canela-garuva) entre as

    Lauraceae, Sloanea guianensis (laranjeira-do-mato) das Elaeocarpaceae, Alchornea

    triplinervia e Alchornea sidifolia (tanheiro) entre as Euphorbiaceae, Guapira opposita

    (maria-mole) das Nyctaginaceae, Chrysophyllum viride (agua) das Sapotaceae,

    Brosimum lactescens (leiteiro) das Moraceae, Virola bicuhyba (bicuva) das

    Myristicaceae, Matayba intermedia (camboat) das Sapindaceae, Buchenavia kleinii

    (garajuva) das Combretaceae, Cabralea canjerana (canjerana) e Cedrela fissilis

    (cedro) entre as Meliaceae.

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    O estrato mdio era constitudo principalmente por Euterpe edulis (palmiteiro) das

    Arecaceae que domina em algumas regies, alm de Calyptranthes lucida (guamirim-

    ferro) das Myrtaceae, Esenbeckia grandiflora (pau-cotia) das Rutaceae, Sorocea

    bonplandii (cincho) das Moraceae, Ocotea teleiandra (canela-pimenta) das Lauraceae,

    Garcinia gardneriana (bacopari) das Clusiaceae, Bathysa australis (macuqueiro),

    Faramea marginata (pimenteira-selvagem) entre as Rubiaceae, Gymnanthes concolor

    (laranjeira-do-mato) e Pausandra morisiana (almcega-vermelha) entre as

    Euphorbiaceae.

    No estrato arbustivo predominavam Psychotria nuda e Psychotria suterella (grandiuva-

    de-anta), Rudgea jasminoides (pimenteira-das-folhas-largas) entre as Rubiaceae,

    Geonoma schottiana e Geonoma gamiova (guaricana) entre as Arecaceae, Mollinedia

    schottiana e Mollinedia clavigera (pimenteiras) entre as Monimiaceae, Ouratea

    parviflora (canela-veado) das Ochnaceae e Ardisia guianensis (baga-de-pomba) das

    Primulaceae. Eram ainda bastante frequentes espcies de xaxins arborescentes tais

    como Alsophila setosa, Cyathea phalerata, Cyathea corcovadensis e Cyathea delgadii.

    O estrato herbceo era constitudo principalmente por representantes das famlias

    Heliconiaceae, Marantaceae e Poaceae, alm de Pteridfitas (SANTA CATARINA,

    1986; KLEIN, 1978).

    Alm das supramencionadas sinsias essa floresta apresentava uma densidade

    extraordinria de epfitas, onde se destacavam os representantes das famlias

    Bromeliaceae, Orchidaceae, Araceae, Piperaceae, Gesneriaceae, Cactaceae e

    diversas famlias de Pteridfitas e um grande nmero de lianas lenhosas onde

    sobressaem as espcies da famlia Bignoniaceae, Hipocrateaceae e Sapindaceae

    (KLEIN, 1978).

    A Floresta Ombrfila Densa bem como todo o bioma ao qual se encontra inserida

    passou por uma longa histria de uso intensivo e exaustivo de seus recursos, incluindo

    todos os principais ciclos econmicos desde a explorao do pau-brasil, da minerao,

    da cana-de-acar, do caf, do cacau, da explorao da madeira e da pecuria. A

    regio ao menos no incio foi a primeira a ser explorada, quando da colonizao e

    ocupao do pas, devido sua localizao ao longo da costa brasileira (LEITO-

    FILHO, 1987).

    O crescimento populacional tem contribudo para a destruio da floresta, tendo em

    vista a expanso urbana descontrolada. Alm disso, a extensa rede de ferrovias ao

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    longo da regio facilitou a abertura de novas reas de cultivo, explorao desordenada

    de madeira e a expanso de ncleos urbanos (GALINDO-LEAL e CMARA, 2005),

    bem como a abertura de rodovias como, por exemplo, a BR-101 na dcada 1970 e

    outras rodovias estaduais (CAMPANILI e PROCHNOW, 2006). Nas regies litorneas

    a expanso da infra-estrutura turstica teve um impacto negativo significativo nos

    ambientes costeiros (GALINDO-LEAL e CMARA, 2005).

    Segundo Galindo-Leal e Cmara (2005) as causas mais recentes da perda de floresta

    incluem formas intensivas de cultura agrcola como, por exemplo, a soja, subsidiadas

    pelo governo, e a expanso dos reflorestamentos com Pinus e Eucalyptus. Pois, com

    a rpida expanso da indstria de celulose e papel, grandes reas de florestas foram

    suprimidas e substitudas por plantaes homogneas de pinheiros exticos e

    eucaliptos.

    Alm disso, a construo de represas para a produo de energia hidreltrica

    contribuiu substancialmente para a perda de habitats e para mudanas ecolgicas na

    regio. Apesar da devastao ecolgica e social provocada pela construo de

    represas, amplamente reconhecida, vrios projetos hidroeltricos continuam sendo

    implementados (GALINDO-LEAL e CMARA, 2005; CAMPANILI e PROCHNOW,

    2006).

    Desta forma, desde a colonizao sua cobertura original foi sendo substituda por

    extensas monoculturas, reas urbanas, agrcolas e de pecuria, tanto que atualmente

    grande parte da Floresta Ombrfila Densa encontra-se intensamente explorada.

    Na regio do planalto catarinense em altitudes acima de 500 m e climas sem perodo

    seco com ocorrncia de 4 a 6 meses frios (Tm 15C) e at 6 meses quentes (Tm

    20C) durante o ano (SANTA CATARINA, 1986), a Araucaria angustifolia (pinheiro-do-

    paran) imprime um carter fisionmico Floresta Ombrfila Mista. Segundo Klein

    (1978) a Araucaria angustifolia nessa regio ocupava o estrato emergente como

    macrofanerfita (rvore com altura entre 30 e 50 m). Nas bacias e afluentes do rio

    Negro e rio Iguau no Planalto Norte do estado predominavam na sinsia de

    mesofanerfita, a Ocotea porosa (imbuia), Sloanea lasiocoma (sacopema) e Ilex

    paraguariensis (erva-mate). Alm das espcies citadas eram frequentes as seguintes

    rvores: Ocotea odorifera (sassafrs), Ocotea puberula (canela-guaic), Persea major,

    Cryptocarya aschersoniana (canela-fogo), Nectandra lanceolata (canela-amarela)

    entre as Lauraceae, a Eugenia involucrata (cereja), Eugenia pyriformis (uvaia),

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    Myrcianthes pungens (guabiju), Myrcianthes gigantea (araazeiro) e Myrcia obtecta

    (guamirim) entre as Myrtaceae, Matayba elaeagnoides (camboat) e Cupania vernalis

    (miguel-pintado) entre as Sapindaceae, a Mimosa scabrella (bracatinga) entre as

    Fabaceae, as Meliaceae Cedrela fissilis (cedro) e Cabralea canjerana (canjerana),

    Cinnamodendron dinisii (pimenteira) das Canellaceae, Lamanonia ternata (guaraper)

    das Cunoniaceae, Prunus myrtifolia (pessegueiro) das Rosaceae e as canas (Ilex

    dumosa, I. brevicuspis, I. microdonta) e Ilex theezans (congonha) entre as

    Aquifoliaceae.

    A sinsia das arvoretas era formada principalmente pela prpria Ilex paraguariensis

    associada com Casearia decandra (guaatunga) Salicaceae, Sebastiania brasiliensis

    (leiteiro) e Sebastiania commersoniana (branquilho) Euphorbiaceae, Drymis

    brasiliensis (casca-de-anta) Winteraceae entremeados muitas vezes por densas

    touceiras de Merostachys multiramea (taquara) Poaceae (KLEIN, 1978) e em alguns

    locais por Dicksonia sellowiana (xaxim) Dicksoniaceae.

    A Floresta Ombrfila Mista teve significativa importncia no histrico de ocupao da

    regio sul, no somente pela extenso territorial que ocupava, mas principalmente

    pelo valor econmico que representou durante quase um sculo (KLEIN,1985).

    A partir de meados do sculo XIX, consolidou-se um processo gradativo de ocupao

    das terras no interior do sul do Brasil (KOCH e CORRA, 2002), provocando uma

    dramtica reduo das reas com florestas originais na regio (MEDEIROS, 2005).

    Entretanto, no incio do sculo XX a Floresta Ombrfila Mista ainda dominava as

    paisagens do sul do Brasil cobrindo 30% do territrio catarinense, porm, com o

    avano da colonizao interior adentro muitas derrubadas florestais foram

    proporcionadas para a formao dos ncleos urbanos e surgimento de lavouras,

    quase sempre de subsistncia. Alm das derrubadas para instalao urbana e

    ampliao das fronteiras agrcolas, com a construo das ferrovias cresceu muito o

    nmero de serrarias, sendo muitas destas estrategicamente alocadas ao longo das

    ferrovias e, assim, permitindo que a explorao dessa floresta logo se tornasse a

    principal atividade econmica no sul do Pas (KOCH e CORRA, 2002).

    Em Santa Catarina a indstria madeireira cresceu de forma impressionante, tambm

    por conta de sua exuberante floresta. De acordo com dados de 1937 haviam 381

    serrarias catarinenses cadastradas Rede de Viao Paran Santa Catarina e j em

    1948 dados do Instituto Nacional do Pinho revelavam 910 serrarias no estado (KOCH

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    e CORRA, 2002), muitas das quais o produto principal provinha da Floresta

    Ombrfila Mista.

    Segundo Koch e Corra (2002) dados histricos datados de 1940 revelam que Santa

    Catarina era o maior exportador de madeira, sendo responsvel por mais da metade

    das exportaes brasileiras. Somente em 1968 exportou-se mais de um bilho de

    metros cbicos de madeira do Brasil (HUECK, 1972), onde 45% do total da produo

    eram provenientes de Santa Catarina (KOCH e CORRA, 2002).

    Na regio do planalto norte catarinense, que abrange os municpios de So Bento do

    Sul, Rio Negrinho, Canoinhas, Mafra, Trs Barras e Porto Unio, a explorao dos

    recursos florestais foi uma prtica muito constante. Essa regio considerada o plo

    moveleiro e madeireiro do Brasil, alm de ser o mais expressivo da Amrica Latina. A

    explorao madeireira nessa regio foi exercida de maneira predatria sob o ponto de

    vista ecolgico, social e econmico, pois at pouco tempo no havia leis para proteger

    a sustentabilidade florestal e pouco se conhecia sobre conservao florestal. Diversas

    espcies foram exaustivamente exploradas na regio, mas principalmente a Araucaria

    angustifolia que na dcada de 70 correspondia a 90% da madeira remetida para fora

    do Pas (SEITZ, 1986), alm de Ocotea odorifera, Ocotea porosa, Dicksonia

    sellowiana e Ilex paraguariensis que so espcies caractersticas da Floresta

    Ombrfila Mista.

    A Floresta Ombrfila Mista do ponto de vista da explorao madeireira a mais

    expressiva dentre as florestas, devido homogeneidade e densidade de sua

    populao arbrea, principalmente por espcies como a Ocotea porosa e a Araucaria

    angustifolia (REITZ et al., 1978).

    Hoje, estima-se que os remanescentes de Floresta Ombrfila Mista, nos estgios

    primrios ou mesmo avanados, no perfazem mais de 0,7% da rea original (MMA,

    2002), o que a coloca entre as fitofisionomias mais ameaadas do Bioma Mata

    Atlntica. As indicaes mais otimistas registram entre 1 a 2% de reas originais

    cobertas por esta floresta nos trs estados do sul (KOCH e CORRA, 2002). Em

    Santa Catarina restam apenas alguns relictos remanescentes com uma rea de

    aproximadamente 2% da original, que perfazem 4.000 km2 distribudos em fragmentos

    dispersos (MEDEIROS, 2000).

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    Outro aspecto que ressalta a criticidade da Floresta Ombrfila Mista a carncia de

    espaos legalmente protegidos, sob a forma de unidades de conservao, na sua rea

    de ocorrncia original (MEDEIROS, 2005).

    Devido ao intenso processo de degradao e fragmentao florestal constatado, a

    implantao de UC de proteo integral se insurge como estratgia inadivel.

    3.2.2. Avifauna

    A descrio dos habitats de ocupao da avifauna brasileira feita por Sick (1997)

    insere a APA Municipal do Rio Vermelho/Humbold na seo ecolgica denominada de

    Floresta Pluvial Atlntica.

    Essa seo ecolgica uma das mais ricas do mundo em biodiversidade, sendo

    considerada um Hot Spot de diversidade de vida em todo o mundo. Apesar de ser uma

    das florestas mais ricas em espcies de aves do Brasil, a Floresta Atlntica tambm

    uma das mais ameaadas, sendo assim fundamental a realizao de esforos para a

    manuteno desse patrimnio natural.

    As aves so os vertebrados terrestres mais conspcuos nas paisagens naturais ou

    artificiais, sendo possvel observar grande variedade de espcies. Por causa dessa

    caracterstica e da convivncia prxima e quase sempre harmoniosa com o ser

    humano, as aves so as mais admiradas e protegidas de todas as formas de vida

    terrestre (GONZAGA, 1982).

    Essa classe de vertebrados apresenta um grande nmero de espcies que habitam

    diferentes ambientes, tendo importante papel ecolgico nos ecossistemas. Alm do

    mais estudado e conseqentemente conhecido, o grupo das aves se destaca, sendo

    bastante utilizado como ferramenta para avaliao ambiental (FAVRETO et al., 2008).

    Por responderem de forma eficiente s alteraes ambientais, sendo, portanto,

    consideradas como timas indicadoras de qualidade ambiental, as aves sempre so

    contempladas em estudos que visem o manejo e monitoramento ambiental de uma

    determinada rea (ALMEIDA, 1986; ANDRADE, 1993 e SICK, 1997).

    Embora apresente todas as vantagens mencionadas, a falta de inventrios

    avifaunsticos em muitas regies do pas nem sempre permite a utilizao deste grupo

    de uma forma mais eficiente para subsidiar adoes de medidas de manejo para a

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    conservao de ambientes naturais, em especial, para a elaborao e implantao de

    PM em UC.

    Para o territrio de Santa Catarina, embora as pesquisas ornitolgicas tenham

    progredido nos ltimos anos, muitas regies consideradas importantes para a

    conservao dos recursos naturais, ainda carecem desses estudos (ROSRIO, 1996).

    Na regio onde se insere a APA Municipal do Rio Vermelho/Humbold, com exceo de

    alguns trabalhos pontuais, no existem estudos mais aprofundados com a avifauna

    local, o que infelizmente no permite a determinao mais conclusiva da real

    composio desse grupo animal para a referida UC.

    Os resultados apresentados no diagnstico avifaunstico devero orientar as aes

    necessrias para promover o zoneamento e a conservao ambiental da APA

    Municipal do Rio Vermelho/Humbold, de forma a garantir a manuteno do maior

    nmero possvel de espcies de aves.

    3.2.3. Mastofauna

    Os mamferos representam um dos grupos animais mais diversos e complexos,

    apresentando vrias formas e adaptaes que os possibilitam ocupar uma ampla

    variedade de ambientes aquticos e terrestres (EISENBERG; REDFORD, 1999).

    Os mamferos terrestres desempenham importante papel na manuteno da

    diversidade dos ambientes naturais, agindo como dispersores e predadores de

    sementes e plntulas, removedores de carcaas e detritos, servindo de presa, ou

    como predadores e reguladores de populaes de outras espcies (PARDINI, et al.,

    2004).

    Atualmente so conhecidas cerca de 5.418 espcies de mamferos no mundo

    (WILSON; REEDER, 2005), e o Brasil contabiliza 652 espcies, com mais 6 espcies

    exticas que voltaram ao estado selvagem no territrio nacional (REIS, et al., 2006).

    O estado de Santa Catarina tem em sua mastofauna terrestre, (excluindo-se as

    espcies marinhas) cerca de 120 espcies nativas, (CHEREM et al., 2004) dentro de 9

    ordens: Didelphimorphia (cucas e gambs, 12 espcies), Xenarthra (tatus e

    tamandus, 06 espcies), Chiroptera (morcegos, 40 espcies) Primates (macacos, 03

    espcies), Lagomorpha (coelho-do-mato, 01 espcie), Carnvora (cachorro-do-mato,

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    quati, gatos-do-mato, lontra, 15 espcies), Perissodactyla (anta, 01 espcie),

    Artiodactyla (porcos-do-mato, veados, 05 espcies), e Rodentia (ratos-do-mato,

    esquilo, ourio, cutia, capivara, pre, 35 espcies), e dentro deste total, 33 se

    encontram em algum grau de ameaa segundo recm criada lista das espcies

    ameaadas do estado de Santa Catarina (IGNIS, 2010).

    So diversas as causas do declnio populacional destas espcies, e entre eles os

    principais e mais comuns so alteraes do habitat causadas pelo homem, como o

    desflorestamento, construo de rodovias, hidreltricas ou empreendimentos

    imobilirios e industriais, caa, poluio e a introduo de espcies exticas. Estas

    condies unidas falta de adaptabilidade de algumas espcies, podem ocasionar

    extines locais, ao passo que outras espcies mais generalistas, podem aumentar

    seus nveis populacionais originando um declnio da biodiversidade local (QUADROS;

    CCERES, 2001).

    Uma das solues mais efetivas e utilizadas no mundo para a manuteno da

    biodiversidade, a criao de UCs, que podem ter a conservao de espcies como

    seu principal alvo, ou com outros fins, como a manuteno de recursos hdricos,

    patrimnio histrico, ou de locais paisagsticos, que tambm podem ajudar a garantir a

    manuteno de reas naturais, restringindo e ordenando os usos dentro destas reas

    a partir da criao e implantao de PM.

    3.3. Meio Socioeconmico

    O estudo socioeconmico definiu como contexto regional o municpio de So Bento do

    Sul, onde a APA est inserida e os municpios que so vizinhos a esta, que so:

    Campo Alegre, Corup, Jaragu do Sul e Rio Negrinho (Figura 6).

    O estudo no incluiu o municpio de Pin no Paran, tendo em vista que, mesmo

    estando localizado a norte do municpio de So Bento do Sul, no tem nenhuma

    ligao com a APA, que se encontra na regio sul do mesmo municpio.

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    Figura 6 - Municpios do entorno da APA Municipal do Rio Vermelho/Humbold

    Fonte: Prefeitura de So Bento Sul (2010)

    Histrico

    Campo Alegre

    Contam os cronistas que o primeiro homem branco que passou pelo municpio de

    Campo Alegre foi Alvar Nunes Cabeza de Vaca, explorador espanhol que

    acompanhou a expedio da Harvaes a Florida (EUA) em 1527, naufragou nas costas

    do atual estado do Texas, foi nomeado administrador da Colnia Rio da Prata (Uruguai

    e Argentina) que se estendia tambm ao Paraguai.

    Em luta com os ndios guaranis, onde hoje se situa Assuno no Paraguai, os

    espanhis estavam cercados. Cabeza de Vaca recebeu pedido de auxilio e, com suas

    tropas, dirigiu-se a Assuno, mas tentando alcan-la por terra. Desembarcou seus

    homens, armas e cavalos em local perto de So Francisco do Sul, subindo a Serra do

    Mar em local ainda duvidoso, mas suas descries dos campos da regio da

    Floresta no deixam dvidas quanto a sua passagem por aqueles campos. Daqui

    dirigiu-se direo ao norte, saindo nos campos prximos de Curitiba, isto no ano de

    1542. De Curitiba dirigiu-se para o oeste, passando pelos campos de Ponta Grossa e

    alcanando Assuno, onde auxiliaram os espanhis a derrotar os ndios. Conta a

    histria que ao desembarcar no litoral catarinense, Cabeza de Vaca, alm de homens,

    trazia cavalos para o transporte de cargas, mas que ao passarem pelos campos de

    Campo Alegre, poucos animais restavam.

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    Campo Alegre, no incio do sculo XIX em 1807 no passava de um pequeno

    povoado. Seu comrcio era representado por um estabelecimento comercial de

    propriedade de Francisco Bueno Franco, o povoado contava com um pequeno nmero

    de habitantes. A este juntaram-se Olimpio de Oliveira, Augusto Schroeder e outros.

    Nesta poca o municpio tornou-se mais importante. O comrcio teve grande atividade

    e dentro da vila j se contavam doze casas comerciais. Todo o movimento comercial

    do norte do estado, assim como do sul e interior do vizinho estado do Paran,

    obrigatoriamente passava por essa cidade, em trnsito pela estrada Dona Francisca.

    Com a abertura de novas vias de comunicao entre Santa Catarina e Paran, que

    desviavam quase que totalmente o comrcio de Campo Alegre, o municpio foi

    decaindo. Os postos fiscais, ao longo do rio Negro, faziam cobrana de impostos de

    exportao e importao, o que igualmente ajudou a desviar o comrcio. Anos aps,

    grande parte da populao do municpio, constituindo famlias inteiras, debandou em

    busca de novos ncleos de colonizao, especialmente para Ouro Verde, hoje

    Canoinhas, e para Rio Negrinho.

    No perodo de 1853 a 1857, engenheiros fizeram diversas exploraes para uma

    melhor e mais fcil subida da serra, encontrando a melhor maneira pelo Vale do Rio

    Seco. Em 1858 por solicitao da Cia. Colonizadora, o governo imperial aprova a

    construo da estrada, que ligaria Joinville - So Miguel - Tijucas do Sul - Curitiba.

    Quando a construo da estrada chegou onde hoje a cidade de Campo Alegre, j

    existiam alguns moradores, localizados ao lado do Salto Branco. No dia 23 de agosto

    de 1827, o governo imperial comeou a medio dos lotes coloniais e construiu o

    primeiro rancho de Campo Alegre, na hoje localidade de So Miguel, distante apenas

    5 km do centro da cidade. A cidade foi nomeada de Froeliches Feld, que traduzido

    significa Campo Alegre, nome recebido devido s belas paisagens naturais que

    existiam.

    Foi muito discutido a questo dos limites deste municpio com o Paran. Os

    povoadores de Campo Alegre, em sua maior parte filhos do Paran, pugnavam para

    que o lado (pra c do rio) fosse catarinense. Nesse ponto, foram pelo trajeto

    apresentado pelo doutor Joaquim Augusto do Livramento, que fixava a linha de

    demarcao pelo rio Sai-guassu, rio Negro e Iguassu. Em 1851, as divisas das

    Provncias do Paran e Santa Catarina ainda eram desconhecidas, o que causava

    muitas brigas e confuses. O Paran considerava a divisa pelo rio Negro, com sua

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    nascente localizada no Quiriri, as mesmas divisas doadas princesa Dona Francisca

    por seu irmo Dom Pedro II quando ela se casou com o prncipe de Joinville. Com a

    fundao da Colnia Da. Francisca criou-se a Cia. Colonizadora de 1849 pelas mos

    do ento Senador Alemo, Sr. Schroeder, a qual contratou com o governo imperial a

    colonizao das terras da princesa por europeus.

    Assim, a imposio pela divisa da Serra do Mar provocou descontentamento geral

    entre os habitantes, pois seu territrio ficava enquadrado dentro do estado do Paran.

    Mas pelo que demonstram os fatos, Santa Catarina nunca deixou de considerar

    Campo Alegre como seu, incluindo, respectivamente, nas comarcas de Joinville e

    Serra Alta. O mesmo acontecia no estado do Paran.

    No km 53 da Estrada Dona Francisca, havia um posto fiscal (barreira) que era divisa

    natural do municpio entre os dois estados.

    Entre os primeiros povoadores destacam-se Francisco dos Reis Carneiro, Amncio

    Alvez Correa, Joaquim Machado dos Santos, Manuel Soares, Jose Soares e

    Anastcio Preto de Chaves.

    Em 1876, novos colonos juntaram-se aos primeiros colonizadores, adquirindo lotes de

    terras, que faziam parte do territrio do Contestado Estado do Paran. Em 1888 o

    povoado tornou-se distrito de So Bento do Sul e, em 18 de maro de 1897,

    conquistou sua emancipao poltica e administrativa.

    A Serra Dona Francisca acabou transformando a povoao na rota obrigatria entre

    Santa Catarina e Paran. Alm da localizao privilegiada, Campo Alegre ainda

    contava com a fartura da erva-mate. O brilho das dcadas de ouro comeou a

    desaparecer com a abertura de novas rotas e a decadncia do plantio e exportao da

    erva (PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPO ALEGRE, 2010).

    Corup

    A histria de Corup remonta ao ano de 1541 quando a expedio de Don Alvar

    Nues Cabeza de Vaca percorreu o clebre Peabiru: caminho indgena pr-cabraliano

    que ligava os Andes ao Oceano Atlntico. O Peabiru iniciava na desembocadura do rio

    Itapocu, em Barra Velha, subindo por ele at a confluncia dos rios Novo e Humbold e

    dali pela atual Avenida Getlio Vargas subia a Serra do Mar, pelo traado da atual

    estrada de ferro at as nascentes do rio Banhados e seguindo o rio Negrinho, o rio

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    Negro, o rio Iguau e o rio Paran at o Paraguai, alm disso, tambm interligava

    trilhas indgenas menores. Este caminho foi muito usado at 1850, quando ele foi

    retalhado pela construo de rodovias e a ferrovia, mas ainda possvel percorrer o

    traado geral.

    Em 1849, foi criada a Sociedade Colonizadora Hamburguesa, mais tarde substituda

    pela Companhia Hansetica de Colonizao que englobou os bens da anterior, com o

    objetivo de povoar as terras dos prncipes Dona Francisca, Franois de Orleans e do

    Conde dEu, esposo da princesa Dona Isabel. Em 1895 a Cia Hansetica, por seu

    diretor Karl Fabri, adquiriu por compra, mais de 635.000 ha de terra, dos quais, 35.000

    ficavam no alto vale do rio Itapocu e deram origem a Corup, e por contrato, as terras

    deveriam ser colonizadas num prazo de vinte anos por imigrantes europeus.

    O primeiro nome de Corup foi Hansa Humboldt, em homenagem ao naturalista

    alemo Alexandre von Humboldt. A data de fundao refere-se ao dia em que Otto

    Hillbrecht e seu filho e Wilhelm Ehrhardt compraram os primeiros lotes coloniais,

    respectivamente os de nmero 6, 7 e 1. Estes pioneiros, vindos da Alemanha,

    desembarcaram em So Francisco do Sul em 30 de junho de 1897 e em 07 de julho

    de 1897 chegaram a Hansa Humboldt vindos de barco pelo rio Itapocu, sendo este o

    nico caminho de acesso at 1900. Desembarcaram na confluncia dos rios Humboldt

    e Novo, seguiram por um picado, hoje a Avenida Getlio Vargas, at o galpo dos

    imigrantes onde foram recebidos pelo agrimensor Eduard Krisch. O galpo no

    passava de um rancho feito de troncos tendo cobertura de folhas de palmito.

    Os trs primeiros focos irradiadores da civilizao catarinense foram So Francisco do

    Sul (1658), Desterro, atual Florianpolis (1666) e Laguna (1676). Corup estava

    integrada administrao de So Francisco do Sul qual se ligavam Joinville,

    Jaragu do Sul e todas circunvizinhanas. Com a criao do Distrito de Joinville,

    Corup foi anexada a administrao de Joinville via Jaragu do Sul; mais tarde criou-

    se o Distrito de Jaragu do Sul e, finalmente, em 11 de maio de 1908 foi criado o

    Distrito de Hansa Humboldt, sendo o primeiro intendente o Sr. Ernesto Rckert. Em

    virtude do Decreto Lei Estadual do Governador Nereu Ramos de n 941, de 31 de

    dezembro de 1943, a partir de 01 de janeiro de 1944 Hansa Humboldt passou a

    chamar-se Corup. Pelo Decreto Lei Estadual n 348, de 21 de junho de 1958, foi

    criado o municpio de Corup e sua instalao ocorreu no dia 25 de julho de 1958.

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    Antes mesmo da fundao oficial de Hansa Humboldt j eram conhecidos os

    acidentes geogrficos de Corup, tais como as serras e principalmente as fortes e

    altas quedas de gua que do planalto despencam plancie. Em 1879 foi organizada

    uma expedio, liderada por Albert Krhne, com a incumbncia de encontrar um futuro

    caminho entre Hansa Humboldt e So Bento do Sul e que desse tambm ligao a

    Curitiba. Nesta expedio foram denominados o rio Ano Bom, o rio Humboldt e a

    Estrada Bomplandt. Bomplandt era companheiro de viagens de Alexandre von

    Humboldt. J pelo lado contrrio, havia o caminho aberto por Emlio Carlos Jourdain,

    seguindo o Vale do Rio Novo. Nesta poca tambm foram denominados o afluente do

    rio Novo, o rio Isabel, em homenagem princesa, e o afluente deste, o rio Paulo.

    Todas estas denominaes so utilizadas at hoje.

    A partir de dezembro de 1897 o nmero de imigrantes foi aumentando. Em novembro

    de 1899 foi fundada a comunidade evanglica. Tambm em 1899 foi fundado o

    primeiro hotel, pelo casal Wilhelm e Maria Pieper, e chamava-se Hotel Pieper. Em

    1902, 26 lotes tinham casas edificadas e outros 16 haviam sido vendidos. Em 1906

    iniciou o Orquidrio Catarinense, com Roberto Seidel que at hoje, comercializa e

    exporta orqudeas e bromlias. Em 1909 foi construda a capela catlica. Em 1910,

    chegou o primeiro trem vindo de So Francisco do Sul e em 2 anos, os trilhos

    avanaram at So Bento do Sul. Cada chegada e partida era uma festa, um encontro

    social, cultural e econmico. A estao ficava apinhada. Em 1915 foi construdo o

    primeiro salo de Hansa, o Salo Estrela.

    Em janeiro de 1920 foi inaugurada a Firma Luz e Fora Hansa que forneceu energia

    eltrica at 1958, quando o dique da represa se rompeu e destruiu a usina. Em 1923

    chegou a Hansa, Carlos Rutzen que comprou uma propriedade que continha casa de

    gneros alimentcios, fazendas, ferragens, aougue, salo com palco para festividades

    como casamentos, teatros, ginstica, reunies sociais, eleies, festas, bailes e

    domingueiras. A ao social e econmica de Carlos Rutzen foi to grande que a Vila

    Isabel passou a ser chamada, popularmente, de Vila Rutzen. Em 1927 o Dr. Adolfo

    Konder visitou Hansa Humboldt e a definiu como Califrnia do Brasil devido

    paisagem e abundncia de laranjas que aqui se encontravam. Em 1928 foi fundado

    o Jornal de Hansa, pelo Sr. Jos Maffezzolli, prtico em tipografia vindo de Brusque.

    De 1914 a 1918 desenrolou-se a Primeira Guerra Mundial. At aquela data, s

    existiam em Hansa Humboldt escolas particulares alems. Estas e outras sociedades

    foram fechadas neste perodo, pelo inspetor Oreste Guimares. Terminada a guerra,

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    estas escolas e sociedades foram reabertas e veio ento, a primeira escola estadual

    ou brasileira, como se dizia. Em grande parte isso foi motivado pelo esprito de

    nacionalismo que varreu o Brasil por causa da guerra e a estrada de ferro, que

    funcionava plenamente e trouxe muitos brasileiros, quer dizer, no de origem alem

    (KORMANN, 1992).

    Jaragu do Sul

    Patrimnio dotal da princesa Isabel casada em 1864 com o Conde D'Eu: terras

    devolutas a serem demarcadas em Santa Catarina Gro-Par (Orleans) e em

    Joinville.

    No ano de 1875, Emlio Carlos Jourdan, engenheiro e coronel honorrio do Exrcito

    Brasileiro, foi convidado para fazer a medio e tombamento de 25 lguas quadradas

    no Vale do Itapocu e rio Negro, assinando contrato em 21 de janeiro de 1876. Na

    mesma poca assinou instrumento particular de arrendamento de 430 ha das terras

    com a princesa Isabel. Aps sua chegada a Joinville, parte para So Bento em 29 de

    fevereiro de 1876 e 49 dias depois retorna a Joinville, em 17 de abril de 1876,

    encerrando a demarcao. Passa a colonizar os lotes e com auxilio de 60

    trabalhadores, inclusive escravos, que cultivam a cana-de-acar, constituindo-se ali

    um engenho de cana, serraria, olaria, engenho de fub e mandioca. O

    Estabelecimento Jaragu, em tupi-guarani Senhor do Vale, ficava entre os rios Itapocu

    e Jaragu e a regio pertencia ao municpio de Paraty (Araquari). Em 17 de abril de

    1883 foi anexada por Joinville. Diante da impossibilidade de reverter a situao

    Jourdan em 1888 desiste deste empreendimento, que foi depredado em 1893.

    Com a Proclamao da Repblica em 1889, as terras dotais passaram para o domnio

    da Unio, e em 1893 para a jurisdio dos estados. As terras devolutas na regio,

    margem direita do rio Jaragu, passam a ser colonizadas pelo estado atravs do

    Departamento de Terras e Colonizao, sediado em Blumenau, a partir de 1891, na

    regio de Garibaldi e Jaragu Alto, com imigrantes hngaros e na regio do rio da Luz

    e rio Cerro com colonizadores alemes e neste ltimo tambm com italianos.

    No ano de 1895, Joinville institui Jaragu como o 2 Distrito, nomeando para

    Intendente, Maximiliano (Max) Schubert e em 22 de agosto criado o Distrito de Paz.

    Mas, em 1896 a regio volta a pertencer a Paraty. Houve ainda a possibilidade de

    formar com Barra Velha um municpio com o nome de Glria. Foram realizadas

    consultas populares em 1897: Georg Czerniewicz e Roberto Buhler lideravam o grupo

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    que defendia a emancipao; Rosemberg, Butschardt e Koch eram do grupo que

    queriam ser anexados a Joinville. Venceu o segundo grupo e Jaragu passou

    efetivamente a ser o 2 Distrito de Joinville.

    Aps alguns anos, de um simples povoado, Jaragu se tornou uma vila

    economicamente ativa, principalmente aps a construo da ferrovia, inaugurada em

    1910. A cidade cresceu ao seu redor e neste burburinho chegavam as notcias, os

    produtos, os visitantes e, escoava-se a produo local.

    Assim, por volta de 1930, o movimento pr-emancipao se formou e pelo Decreto

    Estadual n 565 de 26 de maro de 1934, o Interventor Federal Aristiliano Ramos,

    desmembrou Jaragu de Joinville, tornando-o municpio e nomeando para prefeito, o

    ento Intendente Jos Bauer. No dia 8 de abril de 1934 ocorre a solenidade de

    instalao do municpio na sede da Intendncia de Jaragu, perante inmeras

    autoridades e a comunidade, que muito prestigiou o evento.

    Em 1943, pelo Decreto n 941, o municpio passa a ser Jaragu do Sul. Por sua vez, o

    Distrito de Hansa tambm busca sua emancipao, efetivando-se atravs da Lei n

    348, de 21 de junho de 1958.

    Jaragu cresceu e constitui hoje um parque industrial forte e diversificado, dispondo de

    indstrias de malharias e confeces, metal-mecnica, parapentes e produtos

    alimentcios. Jaragu do Sul do Morro da Boa vista, da industrializao, do trabalho e

    da cultura identificada nas atividades das etnias formadoras de seu povo, negros,

    alemes, italianos, hngaros e poloneses (PREFEITURA MUNICIPAL DE JARAGU

    DO SUL, 2010).

    Rio Negrinho

    Os terrenos a oeste da divisa da Colnia de So Bento, da Companhia Colonizadora

    Hansetica, pertenciam importante famlia "Franco", de Curitiba, que em diversos

    pontos localizou capatazes com a finalidade de vigiarem a terra.

    Foi assim que em 1875 se estabeleceram no local as famlias Ferreira de Lima,

    Simes de Oliveira e Gravi, todas oriundas de So Jos dos Pinhais, no estado do

    Paran.

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    36

    Com a construo em 1880, da Estrada de Rodagem Dona Francisca, trecho de So

    Bento a Rio Negro, via Rio Negrinho, vrias famlias alems da Colnia de So Bento,

    se transferiram para Rio Negrinho, mencionando-se entre elas, as de Jos Brey, Luiz

    Scholz, e a de Carlos Hantschel, que deixaram numerosa descendncia.

    Em 1910 com a construo da estrada de ferro So Paulo - Rio Grande, ramal So

    Francisco - Porto Unio, a localidade tomou grande impulso, e novas famlias vieram

    juntar-se s j existentes. Dentre elas, menciona-se as de Jos Grossi, Victor Soares,

    Capito Alfredo Pinto de Oliveira, Bernardo Olsen, Paulo Wehmut, Jacob Decher, Otto

    Baunmer, Henrique Kwitschal, Henrique Hatschbach, formando, assim, uma aldeia

    entre a ponte do rio Negrinho e o Quilmetro 103, que foi, na realidade, o incio da

    futura cidade de Rio Negrinho. Foi nesta ocasio, que se iniciou a exportao da erva-

    mate e madeira em toras, produtos estes que por largos anos construram o principal

    ramo de comrcio da localidade.

    Com a instalao, em junho de 1918, da firma Jung & Cia., e consequente loteamento

    de terras, novas famlias vieram juntar-se ao ncleo existente. Foi assim que fixaram

    residncia em Rio Negrinho, os Senhores Willi Beckert, Gustavo Schulz, Pedro

    Simes, Max Jantsch, Igncio Kohlbeck, Bernardo Wolff e muitos operrios.

    O municpio de Rio Negrinho um nascedouro de rios, da o nome. Pela Lei Estadual

    n 133, de 30 de dezembro de 1953, Rio Negrinho foi elevado categoria de municpio

    (PREFEITURA MUNICIPAL DE RIO NEGRINHO, 2010).

    So Bento do Sul

    Em 14 de junho de 1873, partiu do Velho Mundo mais um navio lotado de imigrantes,

    com destino ao Brasil. Era o veleiro "Zanzibar", que transportava 141 passageiros

    procedentes da Bomia, Prssia Ocidental, ustria, Polnia Oriental, Saxnia e de

    outros pases.

    No dia 5 de setembro daquele ano, a embarcao ancorou nas proximidades de uma

    ilha ao largo do porto de So Francisco, em Santa Catarina. Dois dias depois, quando

    a nao que os acolhia completava seu 51 aniversrio de independncia, os viajantes

    pisaram pela primeira vez o solo brasileiro. Algumas famlias foram para So Bento.

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    37

    Contratados pela Sociedade Colonizadora de 1849 de Hamburgo, esses autnticos

    bandeirantes destinaram-se a civilizar um planalto cujas florestas muito se pareciam,

    em pujana, com aquelas que os viram nascer na velha Europa Central.

    A 20 de setembro de 1873, a direo da Colnia Dona Francisca enviou serra acima

    os primeiros 70 colonos. Localizando-se, margem de um arroio, em um grande

    barraco de pau-a-pique esses imigrantes austro-bvaros (do Bohmenwaldt),

    pomeranos, bomios do norte (Nordbhmen) e poloneses (Deutsch polen) lanaram

    os alicerces da Colnia Agrcola de So Bento no dia 23 de setembro de 1873.

    Em 1876, no curto espao de 3 dias, foi erguida por 10 homens uma capela na

    Colnia. Depois de benz-la, o Padre Carlos Boegershausen, vigrio da parquia de

    Joinville, celebrou, no dia 8 de maro, a primeira missa em meio ao grande jbilo

    popular.

    No mesmo ano, graas aos esforos de seus desbravadores e de outros colonos de

    variadas procedncias que posteriormente lhes foram somados, pde a colnia

    receber a visita do Dr. Alfredo D'Escragnolle Taunay, ento Presidente da Provncia de

    Santa Catarina. No ano seguinte, l chegou, instalando-se definitivamente, o primeiro

    mdico Dr. Phillip Maria Wolff.

    Tal como nos primeiros dias de sua vida, quando da medio das terras, volta So

    Bento, no ano de 1880, a envolver-se com os paranaenses em questo de limites. Em

    1881, foi organizada a primeira agncia de correio e no mesmo ano construda a

    cadeia. Pertencente a Augusto Henning, data de 1884, a primeira serraria, e em 1885,

    mais uma vez o municpio recebe a visita honrosa do presidente da provncia, nessa

    poca o Dr. Jos Lustosa da Cunha Paranagu.

    Eram transcorridos 20 anos e a pequena colnia j cogitava de organizar a sua parte

    urbana quando em 1893, o Brasil foi sacudido pela Revoluo Federalista. Essa

    revolta que em pouco tempo tomou carter nacional, teve tambm como palco de

    lutas, a povoao de So Bento, declarada inclusive "Capital Provisria do estado",

    quando o general Argolo, a 10 de novembro, proclamou, do palacete Wolff (residncia

    Kahlhofer) o "Governo Legal de Santa Catarina". E com isso So Bento sofreu as

    conseqncias da guerra civil.

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    Em 1896 as questes referentes aos limites de Santa Catarina com o Paran

    agravaram-se, s terminando em 1904, com a deciso favorvel, ao primeiro, do

    Supremo Tribunal Federal. Ainda em 1896 foi inaugurada a nova linha telegrfica e em

    1906 a primeira rede de iluminao eltrica, e vieram: a seca, em 1924, com enormes

    prejuzos; a enchente, em 1929, quando a gua atingiu o centro da cidade; a geada,

    em 1937, com os termmetros marcando 10C abaixo de zero.

    Em relao sua formao administrativa, o Distrito foi criado pela Lei Provincial n

    801, de 6 de abril de 1876, e o municpio o foi, com territrio desmembrado do de

    Joinville, por fora da Lei Provincial n 1.030, de 21 de maio de 1883, instalando-se a

    30 de janeiro do ano seguinte.

    Em 1911, o municpio era formado por um s distrito, o de igual designao, j em

    1933, aparece constitudo pelo distrito-sede e pelo de Rio Negrinho. Por fora do

    Decreto-Lei Estadual n 941, de 31 de dezembro de 1943, o municpio e seu distrito-

    sede passaram a denominar-se Serra Alta.

    Em virtude da Lei estadual n 247, de 30 de dezembro de 1948, o municpio de Serra

    Alta e seu distrito-sede sofreram alteraes toponmicas, recebendo o nome de So

    Bento do Sul. A composio distrital, entretanto, permaneceu a mesma: So Bento do

    Sul (sede) e Rio Negrinho (PREFEITURA MUNICIPAL DE SO BENTO DO SUL,

    2010).

    Hoje So Bento ocupa lugar de relevante importncia entre os municpios de maior

    expresso no estado.

    Demografia

    Os cinco municpios pertencentes ao contexto regional, de acordo com o IBGE,

    somavam em 1970 uma populao de 75.470 habitantes, apresentando atualmente,

    segundo o Censo de 2010 uma populao de 282.688 habitantes (Figura 7). Assim, a

    taxa mdia de crescimento anual (TMCA) foi de 3,36% ao ano, sendo que 50,3%

    desta populao pertence a Jaragu do Sul, 26,5% a So Bento do Sul, 14,1% a Rio

    Negrinho, 4,9% a Corup e 4,2% para Campo Alegre.

    Segundo os dados do IBGE de 2000, a diviso da populao regional era de 19,49%

    rural e 74,51% urbana, sendo que 50,73% da populao era do sexo masculino e

    49,36% era feminina.

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    A densidade demogrfica regional, dados de 2009, segundo IBGE, de 99,6 hab/km,

    muito superior a densidade demogrfica do estado de Santa Catarina que de 64,8

    hab/km, o municpio de Jaragu do Sul apresenta a maior densidade dos municpios

    com 266,8 hab/km, seguido de So Bento do Sul com 151,3 hab/km, Rio Negrinho

    com 43,87 hab/km, Corup com 34,2 hab/km e Campo Alegre com 23,67 hab/km.

    Dos cinco municpios, o que apresenta o maior territrio de Rio Negrinho com 908

    km, seguido de Jaragu do Sul com 533 km, So Bento do Sul com 496 km e

    Campo Alegre e Corup com a mesma rea de 405 km/.

    0

    20.000

    40.000

    60.000

    80.000

    100.000

    120.000

    140.000

    160.000

    1970 1980 1991 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

    Hab

    itan

    tes

    So Bento do Sul Campo Alegre Corup Rio Negrinho Jaragu do Sul

    Figura 7 - Evoluo da Populao

    Fonte: Modificado IBGE, 2010

    Indicadores Sociais

    Segundo dados do PNUD (1991 e 2000), o ndice de Desenvolvimento Humano

    Municipal (IGH-M), o municpio de Jaragu do Sul apresentava o melhor ndice,

    situando-se em 30 lugar, no ranking nacional e em 9 lugar no ranking catarinense,

    seguido de So Bento do Sul que estava em 81 lugar nacional e 21 lugar estadual,

    enquanto que Campo Alegre foi o municpio que apresentou os piores ndices dentre

    os cinco, ficando em 1.264 lugar em nvel nacional e 210 lugar em nvel estadual,

    entretanto foi o municpio que apresentou maior desenvolvimento estadual, com uma

    evoluo de 11,40% (Figura 8).

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    Jaragu do Sul Campo Alegre Corup Rio NegrinhoSo Bento do

    Sul

    1991 0,79 0,693 0,748 0,724 0,759

    2000 0,85 0,772 0,818 0,789 0,838

    0,6

    0,65

    0,7

    0,75

    0,8

    0,85

    0,9

    Figura 8 - Evoluo IDH-M

    Fonte: Modificado IBGE (2010)

    Sade

    Segundo dados do Ministrio da Sade, no ano de 2009 (com exceo do municpio

    de Corup que no apresenta dados), os municpios do contexto regional

    apresentaram um total de 786 bitos, destes 58,78% eram homens e 41,22% eram

    mulheres. Doenas do aparelho respiratrio somadas representaram 37,53% das

    causas de bitos, no municpio de Jaragu do Sul, 20,6% dos bitos esto

    relacionados a Neoplasia e Tumores. Em Campo Alegre 31,6% dos bitos esto

    relacionados a doenas endcrinas nutricionais e metablicas.

    Para os nascimentos, segundo dados do IBGE (2010), foram registrados um total de

    4.361 nascidos vivos, o que representa uma taxa de natalidade bruta de 1,54%. O

    municpio que apresenta o maior nmero de nascimentos Jaragu do Sul, com 52%,

    e o que possui o menor nmero Campo Alegre, com 3% (Figura 9).

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    26%

    15%52%

    4% 3%

    So Bento do Sul

    Rio Negrinho

    Jaragu do Sul

    Corup

    Campo Alegre

    Figura 9 - Nascidos Vivos

    Fonte: IBGE (2010)

    Os estabelecimentos de sade esto concentrados em grande parte nos municpios

    de Jaragu do Sul, contando com 47% do total e So Bento do Sul, com 27%, onde

    tambm esto a maior parte dos leitos para internao. Corup, conforme dados o

    IBGE (2006), no apresentava nenhum equipamento de diagnstico, conforme mostra

    a Tabela 1.

    Tabela 1 - Situao da Sade nos municpios do entorno da APA Municipal do Rio

    Vermelho/Humbold

    Descrio Campo Alegre

    Corup Jaragu do Sul

    Rio Negrinho

    So Bento do Sul

    Total

    Estabelecimento de Sade 9 8 90 32 52 191

    Leitos para Internao 34 0 211 84 100 429

    Mamgrafo com comando simples 0 0 4 0 1 5

    Mamgrafo com estreo-taxia 0 0 0 0 1 1

    Raio X para densitometria ssea 0 0 4 0 0 4

    Tomgrafo 0 0 3 0 2 5

    Ressonncia magntica 0 0 1 0 0 1

    Ultrassom doppler colorido 0 0 8 0 6 14

    Eletrocardigrafo 1 0 13 4 7 25

    Eletroencefalgrafo 0 0 3 1 0 4

    Equipamento de hemodilise 0 0 9 0 15 24

    Raio X at 100mA 1 0 4 1 2 8

    Raio X de 100 a 500mA 1 0 5 1 3 10

    Raio X mais de 500mA 0 0 3 0 3 6

    Fonte: Modificado IBGE (2010)

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    Saneamento e Abastecimento de gua

    Para o saneamento os municpios apresentavam, conforme dados do IBGE (2000), em

    grande parte, o tratamento do esgoto atravs de fossa sptica, ou seja, 77,18% dos

    moradores, e apenas 10,98% dos moradores contavam com a rede geral de esgoto ou

    pluvial, o restante dos efluentes tm outros destinos, conforme ilustrado na Figura 10.

    Em Corup a utilizao de fossa sptica de 87,6% dos moradores, So Bento do Sul

    apresenta a maior utilizao de rede geral de esgoto ou pluvial, com 15,8%.

    10,98%

    77,18%

    7,08%

    2,48%

    1,05%0,41%

    0,82%

    Rede geral de esgoto ou pluvial

    Fossa sptica

    Fossa rudimentar

    Vala

    Rio, lago ou mar

    Outro escoadouro

    No tinham banheiro nem sanitrio

    Figura 10 - Destinao do esgoto gerado nos municpios do contexto regional

    Fonte: Dados trabalhados a partir de IBGE (2000)

    Tabela 2 - Infraestrutura de Saneamento

    Descrio Campo Alegre

    Corup Jaragu do Sul

    Rio Negrinho

    So Bento do

    Sul Total

    Total 11.553 11.733 107.941 37.517 65.223 233.967

    Rede geral de esgoto ou pluvial 248 496 10.238 3.417 10.302 25.701

    Fossa sptica 6.308 10.281 85.771 27.834 50.389 180.583

    Fossa rudimentar 2.897 469 5.856 4.485 2.848 16.555

    Vala 252 282 4.012 647 600 5.793

    Rio, lago ou mar 158 105 1.551 147 497 2.458

    Outro escoadouro 305 30 197 352 84 968

    No tinham banheiro nem sanitrio 385 70 316 635 503 1.909

    Fonte: Modificado CNM (2010)

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    Em relao ao abastecimento de gua, 81,5% das propriedades dos municpios do

    entorno da APA, segundo dados do IBGE (2000), contavam com rede geral de

    abastecimento, sendo que nos municpios de Jaragu do Sul, Rio Negrinho e So

    Bento do Sul essa forma de abastecimento ultrapassa 80% das residncias. O

    abastecimento atravs de poo ou nascente estava presente em quase 18% das

    residncias, sendo que em Campo Alegre era um pouco mais da metade. Outras

    formas de abastecimento no chegavam a 1% (Tabela 3).

    Tabela 3 - Abastecimento de gua

    Descrio Campo Alegre

    Corup Jaragu do Sul

    Rio Negrinho

    So Bento do Sul

    Total

    Rede geral 5.580 7407 86.945 33.453 57.450 190.835

    Rede geral - canalizada em pelo menos um cmodo 5.508 7375 86.347 33.067 57.112 189.409

    Rede geral - canalizada propriedade ou terreno 72 32 598 386 338 1.426

    Poo ou nascente