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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO MESTRADO EM AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO PLANEJAMENTO E CRESCIMENTO URBANO: UM ESTUDO SOBRE OS PLANOS DIRETORES DA CIDADE DE LAJEADO, RIO GRANDE DO SUL Alencar Wissmann Alves Lajeado, fevereiro de 2010

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AMBIENTE E DESENVOLVIM ENTO

MESTRADO EM AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO

PLANEJAMENTO E CRESCIMENTO URBANO: UM ESTUDO SOBRE

OS PLANOS DIRETORES DA CIDADE DE LAJEADO, RIO GRAND E

DO SUL

Alencar Wissmann Alves

Lajeado, fevereiro de 2010

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AMBIENTE DESENVOLVIMENTO

MESTRADO EM AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO

PLANEJAMENTO E CRESCIMENTO URBANO: UM ESTUDO SOBRE

OS PLANOS DIRETORES DA CIDADE DE LAJEADO, RIO GRAND E

DO SUL

Alencar Wissmann Alves

Dissertação apresentada no Programa de Pós-

Graduação em Ambiente e Desenvolvimento,

como exigência parcial para obtenção do grau

de Mestre em Ambiente e Desenvolvimento.

Orientadora: Profa. Dra. Neli T. G. Machado

Lajeado, fevereiro de 2010

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ALENCAR WISSMANN ALVES

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AMBIENTE DESENVOLVIMENTO

MESTRADO EM AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO

PLANEJAMENTO E CRESCIMENTO URBANO: UM ESTUDO SOBRE

OS PLANOS DIRETORES DA CIDADE DE LAJEADO, RIO GRAND E

DO SUL

BANCA EXAMINADORA

Professor(a)_______________________________________ ________________________________

Julgamento________________________________ Assinatura____________________________

Professor(a)_______________________________________ ________________________________

Julgamento________________________________ Assinatura____________________________

Professor(a)_______________________________________ ________________________________

Julgamento________________________________ Assinatura____________________________

Professor(a)_______________________________________ ________________________________

Julgamento________________________________ Assinatura____________________________

Data da defesa _______/_______________/2010

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha orientadora, Professora Neli T. G. Machado, pela

oportunidade e paciência de realizar o trabalho sob sua orientação e ao Marcos R.

Kreutz, Mestre prestativo, com suas considerações sempre oportunas e bem-vindas.

Agradeço à minha amada família, as mulheres da minha vida, a esposa

Analice e filhas Ana Carolina e Ana Raquel, pelo incentivo, apoio, compreensão e

carinho.

Agradeço a Deus, que zela por nós.

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RESUMO

O objetivo da dissertação é analisar o conjunto de elementos formadores dos Planos Diretores Lei 2.729/74, Lei 4.788/92 e a Lei 7.650/06 estabelecendo a evolução histórica do planejamento urbano da Cidade de Lajeado, Rio Grande do Sul. Procura identificar a influência ideológica dominante em determinados períodos da história, busca entender quais as forças propulsoras do desenvolvimento da Cidade de Lajeado e a lógica para a formação dos espaços urbanos. O texto tem início com uma breve introdução histórica, em seguida trata da localização e dados econômicos da Cidade de Lajeado, após situar a Cidade de forma geográfica e econômica, apresenta a importância e noções de como ocorreu o planejamento urbano. Mostra aspectos do planejamento, problematiza os maiores desafios para o Planejamento Urbano. Neste sentido, busca soluções para os desafios apresentados, procura trazer elementos na tentativa de projetar um futuro provável e desejado. Mostra como se desenvolveu o planejamento urbano num contexto histórico da Cidade de Lajeado, com suas alterações territoriais, o seu Plano Diretor. Relata os princípios norteadores de um Plano Diretor. Aborda a problemática ambiental contextualizada com os Planos Diretores de Lajeado. Verifica o crescimento e mudança na estrutura de gestão da Cidade. Busca fazer uma análise da legislação atinente à matéria e do território da Cidade de Lajeado. Por fim, retoma os critérios identificados como definidores do planejamento e crescimento urbano da Cidade de Lajeado, Rio Grande do Sul, posiciona-se quanto à questão de como se deu o desenvolvimento da Cidade e de seus Planos Diretores, bem como sua importância.

Palavras Chaves : planos diretores, planejamento, território, espaços urbanos.

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ABSTRACT

The purpose of this paper is to analyze the group of former elements of Management Plans Law 2.729/74, Law 4.788/92 and Law 7.65-/06, estabilishing the historic evolution of the urban planning of city of Lajeado, Rio Grande do Sul. It seeks to identfy the dominant ideological influence on certain history periods, aiming to understand which are the impulsive forces of Lajeado City's development and the logic for the formation of the urban spaces. The text begins with a short historic introduction, then talks about the localization and economic data of Lajeado City, after place the City in geographic and economic way, presents the matter and notions of how happened the urban planning. It shows aspects of the planning, problematizes the main challenges for the urban planning. This way, seeks solutions for the presented challenges, seeks elements on an attempt to project a probable and desirable future. It shows how was developed the urban planning on a historic context of the City of Lajeado, with its territorial changes, its Management Plan. Narrates the guiding principles of a Management Plan. Deals the ambiental problematic contextualized with Lajeado's Management Plans. Verifies the growth and change on the City's management structure. Seeks to do an analysis of the legislation regards the theme and the Lajeado City's territory. Lastly, retakes the criteria identified as defining of the urban planning and growing of the City of Lajeado, Rio Grande do Sul, stands on the question of how happened the development of the City and its Management Plans, as well as its importance. Lastly, retakes the criteria identified as deining of the urban planning and growing of the City of Lajeado, Rio Grande do Sul, stands on the question of how happened the development of the City and its Management Plans, as its importance.

Keywords : management plans, planning, territory, urban spaces.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Localização do município de Lajeado/RS....................................... 22

FIGURA 2 - Uso do solo do município de Lajeado/RS em 2000........................ 28

FIGURA 3 - Imagem da Rodovia BR 386 em 1971............................................ 47

FIGURA 4 - Ocupação nos diversos períodos do solo do município de

Lajeado/RS......................................................................................

52

FIGURA 5 - Os vetores do crescimento do município de Lajeado/RS............... 88

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LISTA DE ANEXOS

ANEXO A - Entrevista com Vilar Majolo.......................................................... 119

ANEXO B - Entrevista com Wilson Haussen Jaques...................................... 141

ANEXO C - Entrevista com Venâncio Eugênio Diersmann............................. 151

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 10

2 A LOCALIZAÇÃO E OS DADOS ECONÔMICOS DE LAJEADO/RS .............................. 21

3 PLANEJAMENTO URBANO DE LAJEADO................... ................................................. 29

4 O CONTROLE DO ESPAÇO URBANO ...................... ..................................................... 31

5 ASPECTOS DO PLANEJAMENTO ......................... ........................................................ 34

6 CONSTRUÇÃO DO PLANEJAMENTO IDEAL ................. ............................................... 38

7 DESENVOLVIMENTO URBANO ........................... .......................................................... 42

7.1 Primeiro período histórico ..................... ..................................................................... 44

7.2 Segundo período histórico ...................... ................................................................... 45

7.3 Terceiro período histórico..................... ...................................................................... 46

7.4 Quarto período histórico ....................... ...................................................................... 48

7.5 Quinto período histórico ....................... ...................................................................... 48

7.6 Sexto período histórico ........................ ....................................................................... 49

8 ALTERAÇÕES TERRITORIAIS .......................... ............................................................. 50

9 PLANO DIRETOR .................................... ........................................................................ 53

9.1 Os Planos Diretores de Lajeado ................. ................................................................ 57

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9.1.1 O primeiro Plano Diretor de desenvolvimento i ntegrado de 1974......................... 58

9.1.2 O segundo Plano Diretor de desenvolvimento in tegrado de 1992 ........................ 62

9.1.3 O terceiro e atual Plano Diretor de desenvolv imento integrado de 2006.............. 64

10 PRINCÍPIOS NORTEADORES DO PLANO DIRETOR ......... ......................................... 73

10.1 Funções sociais da propriedade................ ............................................................... 73

10.2 Funções sociais da cidade..................... ................................................................... 74

10.3 Sustentabilidade .............................. .......................................................................... 74

10.4 Gestão participativa.......................... ......................................................................... 75

11 A PROBLEMÁTICA AMBIENTAL E OS PLANOS DIRETORES D E LAJEADO ........... 77

11.1 O primeiro Plano Diretor de Lajeado e a proble mática ambiental.......................... 77

11.2 O segundo Plano Diretor de Lajeado e a problem ática ambiental ......................... 78

11.3 O terceiro Plano Diretor de Lajeado e a proble mática ambiental ........................... 80

12 CONTEXTO SOCIOAMBIENTAL CONTEMPORÂNEO E A CIDADE DE LAJEADO.... 82

13 OS VETORES DA EXPANSÃO URBANA DE LAJEADO........ ...................................... 85

14 ESTRUTURAS DE GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO DA CIDAD E DE LAJEADO/RS

............................................................................................................................................ 89

15 O TERRITÓRIO DE LAJEADO ......................... ........................................................... 101

16 CONCLUSÃO....................................... ........................................................................ 109

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 113

ANEXOS ........................................................................................................................... 118

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1 INTRODUÇÃO

Ao longo dos tempos, o planejamento do futuro tem sido uma preocupação

permanente das pessoas. A humanidade sempre teve ânsia de poder prever o seu

destino, mesmo nos remotos tempos quando se pensava que o futuro era um

capricho dos deuses ou da natureza.

Sem dúvida, o futuro se constituiu na própria essência do planejamento que

se traduz nas escolhas da sociedade, tornando-se referencial para definir suas

ações, trazendo consigo a racionalidade e análise técnica para tratar as incertezas.

Agnes Heller (1989) apud Buarque (2003) afirma que “toda ação é dirigida

para um objetivo, que consiste naquilo ainda não alcançado; trata-se do futuro, sem

o qual não há presente”.

Embora necessário o uso de técnicas no planejamento, persiste a questão

sobre a possibilidade de antecipação de eventos futuros, principalmente com o

crescimento acelerado do espaço urbano interligado à função social da Cidade e da

propriedade juntamente com as mudanças de paradigmas que caracterizam a

entrada no século XXI.

Esta característica de projetar, de construir é intrínseca do homem. Mesmo os

primeiros grupos humanos, que eram nômades, delineavam uma área para de lá

extrair os recursos para a sua subsistência.

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Séculos mais tarde, a partir da domesticação de plantas e animais, o homem

começa a se estabelecer em determinados locais, ou seja, ele procura ambientes

adequados que ofereçam as condições necessárias para fixar o seu grupo.

Quando os primeiros colonizadores europeus chegaram à América, eles

procuraram estabelecer cidades, inicialmente na costa litorânea para uma melhor

exploração dos recursos naturais existentes, bem como para o escoamento destes

produtos para a Europa.

Mais tarde ocorre o processo de interiorização: começam a se dirigir para o

interior do continente em busca das riquezas que o novo continente proporcionava.

Assim aconteceu com os europeus. Em busca de seus sonhos de novas

terras, fixaram-se em todo o Brasil, especialmente na região do Vale do Taquari/RS,

onde há uma forte presença de alemães e italianos.

Observa-se que todos os grupos que se estabeleceram na América, mesmo

que alguns destes tenham sido dirigidos, planejavam e construíam suas habitações,

suas indústrias, o comércio, entre outros, promoveram o processo de urbanização.

Através da pesquisa “Crescimento, planejamento urbano e os Planos

Diretores da Cidade de Lajeado, Rio Grande do Sul”, vinculada ao Programa de

Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento da UNIVATES–PPGAD, pretende-

se desvendar o papel assumido pelos Planos Diretores no urbanismo praticado

pelos governos locais como instrumento, entre outros, para a consecução de planos

e metas governamentais, analisando o impacto das ações transformadoras sobre o

espaço urbano e os instrumentos legais para atingir determinados fins.

A hipótese é de que os Planos Diretores, de certa forma, disciplinaram o

processo de urbanização da Cidade. Entretanto, ao se cogitar esta hipótese,

ressalta-se o principal problema: como estes planos auxiliaram nesta organização

territorial. Enquanto as transformações espaciais e a dinâmica do território de

Lajeado se davam de forma mais lenta e relativamente previsível e, principalmente,

quando se tratava de curto e de médio prazo, o planejamento podia ser por meras

definições gerais, intuitivas do futuro.

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À medida que a dinâmica territorial fica mais complexa e as mudanças se

aceleram, aumenta a necessidade de um maior rigor e de sistematização do

planejamento, o que leva à necessidade do aprimoramento de técnicas e de pessoal

para tal fim.

A partir da urbanização e da disciplinação do espaço geográfico da Cidade de

Lajeado/RS, proporcionadas pelos Planos Diretores, justifica-se a realização deste

estudo.

A metodologia utilizada para a realização deste estudo dividiu-se em três

partes. Na primeira, a pesquisa bibliográfica. A segunda etapa foi de análise de

documentos históricos do município de Lajeado, entre eles as atas da Câmara de

Vereadores, assim como os próprios Planos Diretores. A última etapa apresenta

entrevistas semi-estruturadas com atores envolvidos na execução destes projetos,

vereadores e o funcionário da Câmara Municipal que assessorava os trabalhos dos

vereadores na época do primeiro Plano Diretor.

Considerando o exposto, este trabalho está dividido em dezesseis capítulos,

após a abordagem dos aspectos pertinentes a um trabalho científico no qual são

delineados os objetivos, metodologia, hipótese e problema sobre o estudo proposto,

faz-se uma descrição da Cidade de Lajeado/RS.

No segundo capítulo, “Localização e Dados Econômicos”, apresenta-se a

localização geográfica de Lajeado, juntamente com os dados econômicos do

município.

No terceiro capítulo “Planejamento”, abordam-se os principais objetivos na

busca do planejamento urbano da Cidade. Por muito tempo, as decisões quanto ao

aspecto urbanístico foram tomadas com base apenas na intuição de seus atores e

agentes. Com o advento do primeiro Plano Diretor, começa uma tendência que

normatiza os objetivos e define as ações.

A necessidade estratégica para se buscar financiamentos federais e fins

fiscais, assim como o controle do espaço urbano de Lajeado e a decisão de se

tomar decisões de longo prazo, baseadas em decisões mais técnicas conforme

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determinados padrões previstas em seu Plano Diretor, tornam-se uma importante

ferramenta de gestão, e o planejamento ganha espaço e relevância no município.

No quarto capítulo, “O controle do espaço urbano”, aborda-se que, com a

iniciativa do então Prefeito da época Alípio Hüffner e o advento do primeiro Plano

Diretor, começa uma tendência que normatiza os objetivos e define as ações.

Parte significativa das atividades do poder público está voltada para a

definição do futuro, atividades estas que procuram não só antever os eventos e a

realidade que espera a sociedade, como também tenta regrar e influenciar na

definição do amanhã.

Os “Aspectos do planejamento” estão contemplados no quinto capítulo, no

qual o planejamento urbano é visto como um sistema não-linear (caótico), uma vez

que tende também a apresentar determinados padrões.

O Planejamento Urbano lida com cenários relativamente complexos, e as

dinâmicas dos territórios, que convivem com contínuas mudanças estruturais,

normalmente lidam com realidades nas quais os resultados de uma mudança

original não são proporcionais às causas, também múltiplas e diversificadas.

Estes talvez sejam os maiores desafios para o Planejamento Urbano:

combinar o conhecimento dominante e as teorias e os pensamentos consolidados

nos meios técnicos e científicos e a capacidade de análise e de interpretação da

realidade.

O Planejamento Urbano constitui parte importante, na medida em que oferece

uma orientação para as tomadas de decisões sobre iniciativas e ações para a

construção do futuro almejado pela sociedade.

Ao planejar as condições futuras no contexto Urbano da Cidade, o

planejamento permite que as ações sejam organizadas e os investimentos sejam

orientados na perspectiva de otimizar os resultados e favorecer a construção do

futuro desejado.

Na medida em que o Planejamento Urbano trata das complexidades,

procurou-se levantar os aspectos mínimos que devem contemplar a incerteza dos

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eventos futuros ao se planejar, combinando a dimensão política e técnica, e

interesses entre os agentes e atores sociais.

Já no sexto capítulo, “Construção do planejamento”, procura-se trazer

elementos na tentativa de projetar um futuro provável e desejado, desconstruindo a

visão determinista da impossibilidade de interpretar as possibilidades do amanhã.

As considerações das dimensões econômica, sociocultural, ambiental,

tecnológica, político-institucional, são fundamentais para que se compreenda a

capacidade de percepção dos múltiplos determinantes do futuro, procurando ter uma

visão a partir de uma análise das suas características internas, de dentro para fora,

a fim de identificar os elementos exógenos que podem influenciar os processos e os

eventos endógenos.

Como todo sistema que tem uma dependência do entorno, a transformação

do território de Lajeado é influenciado, em maior ou menor grau, pelo que acontece

no âmbito mais amplo, do qual é um subsistema. Assim como recebe múltiplas e

diferenciadas influências, também influencia seu entorno, trazendo uma dinâmica

territorial própria, conforme as suas características e seu grau de interdependência

em relação ao contexto.

Como se busca no planejamento o resultado da combinação dos processos

endógenos de seu território, com a combinação dos processos exógenos, a

estratégia de planejamento não pode ser elaborada desconsiderando as alternativas

de desenvolvimento futuro macrorregional e os desdobramentos e impactos

particulares delas em seu território, procurando identificar as tendências do entorno

que podem criar as condições favoráveis ou desfavoráveis para o desenvolvimento

da Cidade.

Com base nesse planejamento, deve-se avaliar as oportunidades e as

ameaças para definir suas prioridades estratégicas para a construção do

planejamento territorial. As variáveis externas determinam os prováveis

comportamentos e variações exógenos que, combinados aos processos endógenos,

definirão as possibilidades futuras.

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O sétimo capítulo, “Desenvolvimento urbano”, delineou estudos sobre as

transformações urbanas, principalmente, em relação às mudanças de paradigma,

tanto de cunho econômico, como social e político, após a segunda guerra mundial,

levantando reflexões sobre o fenômeno da urbanização.

No que se relaciona à Cidade de Lajeado, será utilizado um dos primeiros

estudos oficiais sobre a urbanização da Cidade, realizado por Selhorst et. al (2000),

economista e professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com sua

equipe técnica, composta pelos também professores da UFSM, os arquitetos Edson

Luiz Bortoluzzi da Silva, Decio Bevilacqua, Edilaine Gomes Monteggia, e os

engenheiros civis, Carlos J. Kümmel Félix, Sérgio Renato de Medeiros.

Nesse estudo Selhorst et. al (2000) divide a história do município em seis

períodos históricos buscando resgatar a trajetória da formação da Cidade Lajeado.

Também Christillino entende que, assim como um organismo é formado por suas

partes, um processo histórico é constituído por suas facetas regionais. Não é

conveniente se restringir a elas, mas nem tampouco desprezá-las (Christillino, 2004,

p. 24).

A partir desse aspecto selecionamos o estudo como uma das principais fontes

de análise do crescimento e o planejamento urbano de Lajeado.

No oitavo capítulo, “Alterações territoriais”, englobam-se situações e a

identificação dos agentes sociais que alteraram o espaço urbano de Lajeado, do

primeiro período da ocupação até o final do segundo período de ocupação do

território de Lajeado, de 1801 a 1953.

Em 173 anos de ocupação 1801 a 1974 a área do perímetro urbano da

Cidade de Lajeado consolidou-se em aproximadamente 28,85 km². Entre 1974 e

1992, passadas quase duas décadas, a área do perímetro urbano de Lajeado passa

para aproximadamente 41,45 km², e, atualmente, é de 78,22 km², com uma

expansão de seu perímetro urbano em média de 45% em cada década, a partir de

1974.

No capítulo nono, “Plano Diretor”, são descritos os planos propriamente ditos,

sua base legal e os aspectos históricos. O Plano Diretor é uma Lei Municipal, por

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força do Art. 182 da Constituição Federal de 1988, a qual prevê que a política de

desenvolvimento urbano será executada pelo Poder Público Municipal.

Segundo Villaça (2005) a idéia de Plano Diretor existe no Brasil a pelo menos

desde 1930, quando Agache, urbanista francês organizou o Plano Diretor da cidade

do Rio de Janeiro. Nesse plano aparece pela primeira vez a palavra “plan directeur”,

no mesmo ano foi publicado em francês, conhecido como Plano Agache, mas nunca

foi traduzido pelo poder público.

O Decreto nº 5.031, de 2 de abril de 2004, deliberado pelo Conselho das

Cidades descreve de acordo com a Resolução 034/2005 o conteúdo mínimo que um

Plano Diretor Municipal deve ter.

Importante ressaltar que o Plano Diretor Municipal deverá conter as diretrizes

de desenvolvimento urbano para a Cidade por um período de pelo menos 10 anos,

devendo estas diretrizes estar embasadas no orçamento municipal São abordados,

nesse capítulo, os Planos Diretores da Cidade de Lajeado.

O décimo capítulo, “Princípios norteadores do Plano Diretor”, traz os

princípios que devem fazer parte de um Plano Diretor, entre eles a função social da

Cidade, com um ambiente ecologicamente equilibrado; a função social da

propriedade, que está condicionada às funções sociais da Cidade; a

sustentabilidade, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-

lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações A gestão participativa que

deve estar presente no processo de elaboração e na gestão do Plano Diretor.

Os princípios elencados acima devem estar contidos no Plano Diretor, e, com

o envolvimento da maioria ou de todos os cidadãos, será possível uma gestão

participativa, buscando-se uma Cidade que cumpra sua função social, cuja

propriedade também cumpra a sua função social, atingindo desta maneira a

sustentabilidade com relação ao meio ambiente prevista na nossa Carta Maior.

O objetivo do décimo primeiro capítulo, “A problemática ambiental e Planos

Diretores de Lajeado”, é analisar a problemática ambiental com a visão de autores

que tratam do tema, resgatando e traçando no tempo um paralelo de como se deu a

relação do homem com o ambiente e os Planos Diretores da Cidade de Lajeado.

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O tema começou a preocupar os políticos há cerca de 25 anos. A primeira

grande manifestação internacional foi a conferência de Estocolmo em 1972, e a

entrada do tema nas ciências sociais ocorreu também na década de 1970. Para

Sachs (2000), não pode haver política ambiental bem sucedida se ela não for

organicamente ligada a uma política de progresso social, desenvolvimento e meio

ambiente.

O décimo segundo capítulo “O contexto sócio-ambiental contemporâneo e a

Cidade de Lajeado”, traça um paralelo contextual com a Cidade e sua lógica

evolutiva. São analisadas as configurações espaciais da Cidade de Lajeado, com o

estudo da lógica evolutiva que reflete o pensamento de cada período histórico. O

contexto socioambiental também não foge a esta lógica, e seus Planos Diretores

passam a incorporar por força da legislação estes ideais socioambientais e

considerá-los.

No décimo terceiro capítulo, “Os vetores de expansão urbana de Lajeado”,

abordam-se os aspectos da mudança de direção nas configurações urbanas da

Cidade. Selhorst et. al (2000) observa que a ocupação urbana da Cidade de Lajeado

toma corpo; seu núcleo urbano corresponde diretamente às modificações na

densidade demográfica, que cresceu numa taxa anual de 5% ao ano, o crescimento

é periférico e contínuo, destacando-se a direção norte, induzida pelas rodovias de

acesso a Passo Fundo, via Encantado e Soledade, à produção agro-pastoril cede

espaço à industrialização e ao comércio e serviços, principalmente de apoio ao setor

de transportes. Para Selhorst et. al (2000), um fator externo que contribuiu

sobremaneira no desenvolvimento de Lajeado foi a BR 386, "antiga RS 13", que une

a capital, Porto Alegre, a região da produção, a rodovia atravessou a Cidade, nessa

época, perifericamente.

Selhorst et. al (2000) destaca que na área urbana de Lajeado o uso

residencial predomina (66,02%), seguido do comercial (17,04%), da prestação de

serviço (9,50%) e do industrial (7,44%).

As características descritas elencados acima mencionam a existência de duas

realidades que se opõem. Conforme Reis (2006), simultaneamente a profundas

alterações sócio-espaciais. Observa-se a modificação da característica primária que

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constitui o embasamento dessa visão: o campo passa a abrigar de forma expressiva

as atividades do tipo não agrícolas.

O décimo quarto capítulo, “Estruturas de gestão do desenvolvimento da

cidade de Lajeado”, faz a análise, através das legislações, de como se estruturavam

e quais eram os agentes e atores em determinados períodos. O debate sobre

estruturas de gestão do desenvolvimento é atual e apresenta diferentes enfoques. O

desenvolvimento de Lajeado é uma realidade ainda pouco analisada através da

legislação. A verificação do planejamento tático e operacional precisaria operar de

forma conjunta à dinâmica de outras estruturas de governança territorial constituídos

sob a forma de espaços de colaboração público-privada, como, por exemplo, a

experiência do Conselho de Desenvolvimento Econômico do Município e o Conselho

Municipal de Urbanismo.

Através da análise da legislação, percebe-se a preocupação dos

representantes da Cidade de Lajeado com o desenvolvimento, buscando positivar

seus atores e agentes, que variam de acordo com determinada época histórica.

Parte-se da hipótese de que a legislação possa constituir-se em instrumento

de planejamento tático e operacional das ações de desenvolvimento local,

articuladas em estruturas de governança territorial com o caráter de espaços de

colaboração público-privada.

O município de Lajeado assume uma gestão do desenvolvimento a partir de

estruturas de governança territorial buscando a prática democrática na sua

dimensão representativa, a necessidade de estruturas de governança associada à

democracia representativa.

A Cidade de Lajeado buscou seu desenvolvimento em uma cultura

democrática representativa, com seus atores sociais capazes de desenvolver formas

de organização e recursos estratégicos que lhes permitam definir seus processos de

negociação e construção de projetos de interesses comuns.

As estratégias e as iniciativas de desenvolvimento local propõem-se a

estimular a diversificação da base econômica local, favorecendo o surgimento e a

expansão de empresas.

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No décimo quinto capítulo, “O território de Lajeado”, apresenta-se uma visão

globalizada de aspectos ligados ao território de Lajeado Traz a nova natureza do

território e pretende fazer um retrato da nova natureza do território, capaz de permitir

a visualização de determinados momentos históricos em relação ao momento

histórico nacional.

Os Planos Diretores e fatos relevantes foram escolhidos para caracterizar a

formação socioespacial da Cidade de Lajeado, na tentativa de explicar a formação

de Lajeado a partir de seu território.

A análise do uso do território de Lajeado trará os fundamentos da abordagem,

na tentativa de explicar como esse território é usado, mostrando o movimento das

configurações do espaço local e nacional como um todo.

O que está em análise é o território usado, como sinônimo de espaço

geográfico. O processo de reconstrução da sociedade e do território pode ser

entendido a partir da categoria formação socioespacial. Santos, Silveira (2005)

entendem que a divisão territorial do trabalho cria uma hierarquia entre os lugares e

redefine, a cada momento, a capacidade de agir das pessoas, das firmas e das

instituições.

Lajeado segue as constatações de Santos, Silveira (2005), sendo o primeiro

período comandado pelo que os autores chamam de tempos lentos da natureza,

quando comandam as ações humanas tanto os grupos indígenas como os primeiros

europeus, empenhados todos, cada qual ao seu modo, em amansar esses ritmos.

A segunda fase é a dos diversos meios técnicos, que gradualmente buscam

atenuar a força da natureza; que vai desde o fim do período colonial até por volta da

década de 1970.

A terceira fase é a construção e a disseminação do meio técnico-científico-

informacional, caracterizado por uma revolução das telecomunicações. Informação e

finanças passam a configurar a nova geografia, distinguindo os lugares segundo a

presença ou escassez das novas variáveis-chave.

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20

O território de Lajeado ganha novos conteúdos e impõe novos

comportamentos, e a irradiação do crescimento territorial se instala em áreas

contínuas no sentido norte/sul.

O território de Lajeado é hoje usado a partir de seus acréscimos de ciência e

técnica, cujas características definem um novo meio geográfico. Tanto a sua

constituição como o seu uso exige parcelas grandes de informação. Santos, Silveira

(2005) entendem que são os produtores e os possuidores das informações que

decidem seus usos; assim, esses atores em Lajeado são o Estado as empresas, os

proprietário de terras e empreendedores imobiliários, que transformam as

informações em formas revolucionárias de controle do território.

Da análise do território utilizado de Lajeado, levando-se em conta o seu uso,

Selhorst et. al (2000) constata que na área urbana de Lajeado o uso residencial

predomina (66,02%), seguido do comercial (17,04%), da prestação de serviço

(9,50%) e do industrial (7,44%). Para Santos, Silveira (2005), há interdependência e

a inseparabilidade entre a materialidade, que inclui a natureza, e o seu uso, que

inclui a ação humana, isto é, trabalho e política.

Lajeado estabelece-se, assim, como mais apta ao exercício de determinadas

produções. Seu território é mais propício para sediar atividades globais, com a

conseqüente alienação de outras. Para Santos, Silveira (2005), a mesma lógica

justifica a desvalorização e revalorizações do território: certas frações do território

aumentam de valor em dado momento, enquanto outras, ao mesmo tempo e por via

de conseqüência, se desvalorizam, expansão das lógicas monetaristas,

desconsiderando tanto a nação quanto o território.

As considerações finais estão contempladas no último capítulo.

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2 A LOCALIZAÇÃO E OS DADOS ECONÔMICOS DE LAJEADO/RS

O município de Lajeado localiza-se na região geopolítica Vale do Taquari

(FIGURA 1), Estado do Rio Grande do Sul. A região é integrada por 36 municípios e

tem aproximadamente 319 mil habitantes. Segundo estimativas do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, de julho de 2009, a população de

Lajeado era de 72.208 mil habitantes. Situada em região estratégica, a Cidade de

Lajeado possui uma série de diferenciais responsáveis por projetar seu destaque

sócio-econômico, entre eles, o acesso rodoviário para os diversos pontos do Estado,

a distância de 117 km de Porto Alegre, a capital riograndense, e o fácil acesso à

ferrovia e ao porto fluvial instalado junto ao Rio Taquari, entre outros.

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FIGURA 1 – Localização do município de Lajeado/RS

Fonte: MCN Univates, 2005.

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Segundo a Relação Anual de Informações, RAIS, da Prefeitura de Lajeado1

(2009), a estrutura fundiária do município de Lajeado está constituída por cerca de

400 pequenas propriedades. Algumas delas ainda estão situadas no perímetro

urbano, e têm uma área média de 10 hectares.

A disponibilidade de mão-de-obra na propriedade rural não é abundante.

Duas razões principais são apontadas: uma delas é o número de aposentados neste

meio, cuja percentagem pode atingir 70%; a outra diz respeito aos jovens, que na

maioria exercem atividades no meio urbano.

A participação da produção primária na receita do município é pequena e está

em declínio. Em 1994, as atividades do setor primário contribuíram com 11,57% do

total, e em 2003, diminuíram para 2,14%.

O setor industrial gerou, em 1995, um Valor Adicional Fiscal - VAF, de R$ 125

milhões, representando 45,87% do Valor Adicionado total do município, que, em

2005, alcançou a cifra de quase R$ 300 milhões, o que representou um incremento

de 126% sobre o ano base.

Nesse contexto, foi fundamental o comportamento da indústria de

beneficiamento, que atingiu um VAF de R$ 171 milhões em 2003 (60% do valor

gerado por todo setor industrial). Outro segmento que teve significativo crescimento

foi o da indústria de transformação, que teve, ao longo do período, um incremento

de 156%. Mas o segmento que mais se expandiu foi o da indústria de

acondicionamento/recondicionamento, que apresentou um incremento de 858%,

apesar de só representar 0,12% no total do VAF gerado em 2005.

Em termos relativos, o setor industrial responde por cerca de 45% do Valor

Adicionado Fiscal gerado em Lajeado, sendo, ao longo do tempo, os segmentos da

transformação e do beneficiamento os preponderantes.

Pelos dados da RAIS de 1997, o setor industrial de Lajeado empregava 5.231

pessoas. Deste contingente, 1.645 pessoas (31,45%) trabalhavam em empresas

com menos de 50 empregados; 1.435, equivalente a 27,43%, em empresas médias,

1 Disponível on line www.lajedo-rs.com.br

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de 50 a menos de 250 empregados; mas 41,12%, totalizando 2.151 pessoas,

estavam empregadas em empresas grandes, com mais de 250 empregados. Em

2005, esta proporcionalidade teve significativas alterações, já que o segmento das

grandes empresas ampliou o volume de mão-de-obra absorvida, enquanto as

empresas de médio porte reduziram sua participação, de 27,43% para 12,87%, e as

empresas pequenas, de 31,45% para 27,92%.

Do total de empregados do Setor Industrial em 1999, 15,4% ganhavam até 2

salários mínimos; 68,55% recebiam de 2 a 5 salários mínimos; 9,03%, de 5 a 10;

2,1% recebiam de 10 a 20; e 0,41% mais de 20 salários mínimos. Em 2003, o

contingente dos que recebiam até 2 salários mínimos passou de 15,4 para 41,5%, e,

em 2005, para 45,63%, ou seja, achatou-se a base da pirâmide salarial, com

significativa redução dos salários pagos, abrangendo quase metade dos

empregados no setor industrial, remunerados com menos de 2 salários mínimos.

O setor industrial de Lajeado é bastante diversificado, com destaque

principalmente para o ramo de produtos alimentícios e bebidas. Seguem-se os

ramos têxtil e artefatos de tecidos, madeira e mobiliário, metalurgia, borracha e

outros.

O setor comercial, atacado e varejo, representava, em 1995, cerca de 30% do

Valor Adicionado Fiscal gerado no município. Incluindo o setor serviços, este volume

atingiu 46,75% de todo VAF gerado. Em 2005, estes índices atingiram,

respectivamente, 32,91% e 55,07%. Isso significa que um terço do segmento

“serviços e outros" é gerado exclusivamente pelo comércio, especialmente o

varejista, e o setor como um todo é responsável por mais da metade do Valor

Adicional Fiscal gerado em Lajeado nos últimos anos.

Pelos dados da RAIS de 1999, o setor comercial empregava 3.597 pessoas.

Dessas, 2.826, ou seja, 78,57% trabalhavam em empresas pequenas com menos de

50 empregados. As demais, 771, representando 21,43%, trabalhavam em empresas

médias de 50 a 249 empregados. Até 2004 ampliou-se significativamente o

contingente de empregos nos estabelecimentos de até 4 empregados, atingindo

1.300 postos de trabalho, mantendo-se com uma representatividade de 25% sobre o

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volume de empregos existentes no setor comercial em Lajeado, apesar de, em

2001, esta participação ter estado em 27,4%.

Outro segmento que apresentou uma boa performance foi a do segmento de

empresas, que tinham entre 50 a 99 empregados. Sua representatividade, em 2004,

alcançou 14% do emprego total do comércio em Lajeado, contrastando com o ano

de 2000, quando este segmento representava apenas 7,16%.

Lajeado, por natureza, apresenta um setor comercial bastante diversificado,

composto por inúmeras micro ou pequenas empresas. Por esse motivo, não há

estabelecimento comercial com mais de 250 empregados. Ao se avaliarem os

estabelecimentos com até 50 empregados, percebe-se que mais de 80% dos

empregados estão colocados neste segmento, remanescendo apenas 18% de

empregados em empresas comerciais com mais de 50 empregados.

Ainda pelos dados da RAIS, 35,92% dos empregados no comércio em 1999,

ganhavam até 2 salários mínimos, e 47,93% recebiam de 2 a 5 salários mínimos.

Esta estrutura se modifica substancialmente nos anos seguintes: o volume dos que

percebem até 2 salários mínimos passa a representar, em 2003, mais da metade

(57,33%) e, em 2005, quase dois terços (62,42%) da mão-de-obra empregada no

setor comercial.

No segmento dos que recebem entre 2 a 5 salários mínimos, há uma total

inversão em relação ao segmento anterior, pois, enquanto em 1999 havia cerca da

metade dos contratados (47,93%) nesta faixa salarial, esta participação se reduz

para 36,21% em 2003, e para 31,71% em 2005.

Os demais segmentos de maior remuneração acompanham esta redução, o

que evidencia o forte achatamento salarial a que esta classe profissional vem sendo

induzida. Avaliando-se o volume de empresas dos setores comerciais e de serviços,

por ramo de atividade, fica claro o quanto o comércio varejista se mostra presente

no município.

Em 1999, este segmento representou 44,77% das empresas comerciais e de

serviços existentes no município. Em 2005, este segmento se mantém em 43,09%.

Em segundo plano, apresenta-se o segmento de "serviços de alojamento,

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alimentação, reparação, manutenção", seguido de perto pelo ramo do "comércio e

administração de imóveis" e do "comércio atacadista". O conjunto de empresas

comerciais e de serviços, entre 1999 e 2005, ampliou-se em 35%.

O setor de serviços, em 1995, representou 17,47% do Valor Adicionado Fiscal

do Município, correspondendo a cerca de R$ 50 milhões. Em 2002 o setor já passou

a responder por 22,63%, o que representa um incremento nominal relativo de

5,16%%, enquanto a variação bruta nominal chegou a ser duplicada, em valores

absolutos.

Destaque-se, no entanto, que estes dados financeiros são provenientes

exclusivamente do ramos de atividade que recolhem ICMS, ou seja, das atividades

econômicas tributadas. Apesar de, em 2003, ter ocorrido uma rápida redução na

participação relativa dos setores comercial e de serviços em função da boa

performance da indústria de beneficiamento, nos anos seguintes esta performance

acaba sendo retomada, fechando em 2005 com uma participação de 32,91% na

área do comércio, e de 22,17% na área de serviços.

Em termos de ramos de atividades mais significativas dentro do Setor

Terciário, destaca-se o volume de empresas do comércio varejista, seguido pelo de

serviços de alojamento, alimentação, reparação, manutenção: logo após, pelos

ramos do comércio e administração de imóveis e do comércio atacadista. O conjunto

de empresas comerciais e de serviços, entre 1999 e 2005, ampliou-se em 35%.

Observando-se a mão-de-obra empregada pelo setor serviços, percebe-se

que as alterações ao longo do período se mostram bastante semelhantes, se

comparadas ao setor comércio, pois, enquanto havia, em 1999, um contingente de

2.748 empregados em empresas com até 50 empregados, em 2005 este volume se

amplia para 3.565 funcionários.

Em termos relativos, isto representava 50,68% da mão-de-obra empregada

no setor serviços em 1999, para, ao final do período, representar apenas 49,68%,

tendo em vista o crescimento das empresas de porte médio, que passaram de 1.095

para 1.338 estabelecimentos, gerando um aumento de 22% no período.

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O maior incremento verificou-se junto ao segmento das empresas maiores,

com mais de 250 empregados, que cresceu de 1.579 para 2.273 estabelecimentos,

o equivalente a um incremento de 44% no período. Monetariamente, 27,7% dos

empregados do setor serviços, em 1999, ganhavam até 2 salários mínimos; já

47,77% recebiam de 2 a 5 salários mínimos.

Em 2003, o volume de assalariados da área comercial que percebiam até 2

salários mínimos se amplia para 34,87% da mão-de-obra empregada, enquanto o

segmento dos que recebiam entre 2 e 5 salários se mantém constante, na faixa dos

48% de empregados nesta atividade. Mas, em 2005, estes números se modificam:

enquanto os empregados de até 2 salários se ampliam para mais de 37%, os que

percebem entre 2 e 5 salários se reduz para 46%. Aqui também ocorreu um

achatamento salarial, o qual, porém, não se mostra tão significativo quanto o

observado na área comercial, especialmente no conjunto dos maiores salários.

De acordo com os dados da RAIS, em 1999 havia 1.551 empregados na

Administração Pública: 38 trabalhavam em pequenos órgãos e 1.513 em um único

órgão com mais de 1.000 empregados. Ao longo do período, esta distribuição

permaneceu estável, com 1,8% de servidores públicos em pequenas empresas, e os

demais 98% em empresas com mais de 1000 empregados.

Do conjunto de empregados no Setor Público, 21,6% recebiam em 1999 até 2

salários mínimos; 57% de 2 a 5; 17% de 5 a 10; e os demais, 4%, recebiam mais de

10 salários mínimos. Em 2003 observa-se uma tendência de mudança nestes

números, o que se confirma em 2005, quando o número de empregados com até 2

salários mínimos se reduz para apenas 6,5% e se amplia a classe seguinte, de 57%

para 84%, mantendo-se as demais relativamente estáveis.

Esta mudança justifica-se porque na função pública o ingresso ocorre

mediante concurso público. Como nos últimos anos foram abertos concursos para

poucas vagas, os servidores já existentes nos quadros ativos acabam agregando

tempo de serviço, o que gera ganhos monetários em seus salários e, por

conseqüência, amplia o volume de trabalhadores da classe intermediária,

especificamente a dos que recebem entre 2 e 5 salários mínimos.

Selhorst et. al (2000) observam que na área urbana de Lajeado (FIGURA 2) o

uso residencial predomina (66,02%), seguido do comercial (17,04%), da prestação

de serviço (9,50%) e do industrial (7,44%). Comparando os dados econômicos com

a utilização do território, conforme constatam os autores, o setor industrial ocupa

uma menor área do território de Lajeado, com 7,44%, mas é o que mais contribui em

Valor Agregado Fiscal para o Município, com cerca de 45% de contribuição, seguido

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pela prestação de serviços, que ocupa (9,50%) do território e contribui com 21% do

Valor Agregado Fiscal; o comercial, com 17,04% do território, com contribuição em

Valor Agregado Fiscal de 32%; o uso residencial predomina, com 66,02% da

ocupação da área urbana, o que permite concluir que a busca por moradia é o que

mais altera as configurações do território da Lajeado, exigindo do poder público

maiores investimentos e planejamento para acomodar a demanda sempre

crescente.

FIGURA 2 - Uso do solo do município de Lajeado/RS em 2000

Fonte: Cadastro técnico municipal de Lajeado/RS em 2000.

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3 PLANEJAMENTO URBANO DE LAJEADO

O olhar voltado para o futuro é uma necessidade e um procedimento

inevitável quando se quer planejamento. Em Lajeado, por muito tempo as decisões

quanto ao aspecto urbanístico foram tomadas com base apenas na intuição de seus

atores e agentes; com o advento do primeiro Plano Diretor, começa uma tendência

que normatiza os objetivos e define as ações.

O Primeiro Plano Diretor é utilizado como estratégia na busca por

financiamentos federais e fins fiscais. Também na tentativa de projeção e controle

urbano de Lajeado, o planejamento urbano passa assim a dar apoio técnico a

atividades desenvolvidas no município. A elaboração do Primeiro Plano Diretor é

uma atividade recente no município. A necessidade de se tomar decisões de longo

prazo, buscando-se com o planejamento decisões mais técnicas, que obedecem a

determinados padrões previstos em seu Plano Diretor, torna-se uma importante

ferramenta de gestão.

Na época, o trabalho desenvolvido na busca pela regulamentação do

crescimento urbano da Cidade, cujo conteúdo também é tributário e fiscal e foi

elaborado pelo SERFHAU (Serviço Federal de Habitação e Urbanismo), teve um

impacto importante: iniciou uma nova visão de planejamento e gestão na Cidade,

diminuiu o imediatismo das visões e das práticas dos atores sociais e dos agentes

públicos e restaurou a preocupação com o planejamento de médio e de longo prazo;

estimulou, portanto, a busca de planejamento do futuro.

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Por outro lado, com a transformação ocorrida no contexto mundial, nacional e

regional, sobretudo pelas alterações provocadas em seu território com a construção

da BR 386, o planejamento ganha espaço e relevância no município.

Nesse meio tempo, houve em todo o mundo grandes mudanças de

paradigmas, e o planejamento estratégico, a antecipação de futuros passou a entrar

no vocabulário dos planejadores. Embora a linguagem nem sempre seja a mesma, a

utilidade do planejamento e a efetiva tomada de decisões têm sido limitadas, por um

lado, em razão das descontinuidades de orientação e, por outro, em virtude da

excessiva instabilidade político-institucional do Brasil na década de 1970.

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4 O CONTROLE DO ESPAÇO URBANO

Parte significativa das atividades do poder público está voltada para a

definição do futuro. Essas atividades procuram não só antever os eventos e a

realidade que espera a sociedade, como também tentam regrar e influenciar na

definição do amanhã.

Na visão de Buarque (2003), o presente é apenas um tênue momento entre o

passado e o futuro, passado este que o condiciona e o determina. Já o futuro é o

momento para o qual estão voltados nossos olhares, nossas inquietações e nossas

ações, por isso; o futuro relaciona-se ao presente tanto quanto o passado, devido à

grande influência que exerce nas atitudes e nas iniciativas das pessoas, dos atores

sociais e dos governos.

A busca do planejamento envolve questões filosóficas entre o previsível e o

imprevisível, de cunho tanto religioso como científico, característica das religiões

ocidentais cristãs. Na religião, manifestam-se quando Deus onipotente define o

destino das pessoas, o livre-arbítrio delimita as escolhas pessoais.

Para Buarque (2003), na visão determinista o futuro já está prefixado por

Deus, traduzindo a idéia de destino como a de um futuro predefinido. Já na visão

indeterminista, o futuro ainda está indefinido porque cabe a Deus determinar o

porvir, o amanhã, segundo sua vontade absoluta, a força divina pode alterar nosso

destino e definir nosso futuro. Segundo esta visão indeterminista, não existe

nenhuma possibilidade de os homens anteciparem o futuro, ou seja, estamos

fadados a esperar as decisões divinas. Para os deterministas, a revelação da

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vontade dos deuses permitiria apenas prever e predizer o amanhã, quando trata das

atitudes e das escolhas dos homens.

Deus determina, de acordo com sua vontade, todas as coisas, os destinos e

mesmo as decisões humanas, eliminando o livre-arbítrio e, portanto, a culpa pelos

descaminhos e desatinos humanos. Segundo Popper (1984), citado por Buarque

(2003), o “determinismo científico” substitui a idéia de Deus pela idéia de natureza, e

a idéia de lei divina pela idéia de leis da natureza, as quais também são onipotentes

e oniscientes e definem o futuro de antemão.

Em um mundo de causas e efeitos, se conhecermos as causas, poderemos

prever os efeitos. Assim, o futuro estaria predefinido e determinado por leis gerais, e

o conhecimento científico poderia prever todos os acontecimentos futuros desde que

tivesse a teoria certa e conhecesse os eventos iniciais. Para Buarque (2003) apud

Bernstein (1997, p. 200), citando Poincaré, segundo a visão determinista da ciência,

“o acaso é apenas a medida de nossa ignorância”, e este acaso reduz-se à medida

que a ciência avança e domina mais informação e mais capacidade de análise.

Assim, o futuro seria absolutamente previsível e as variáveis do amanhã

decorreriam apenas da nossa incapacidade de apreender sobre as causas que

determinariam a realidade futura.

Este seria, de forma simplificada, o pensamento em que se manifesta a

confiança de Jules Henri Poincaré e de Camille Flammarion, citados por Buarque

(2003) no “determinismo científico”. A capacidade de a sociedade definir o seu futuro

e “fazer o seu destino” estaria reduzida pela força dos determinantes históricos e das

circunstâncias.

As decisões humanas não estão desvinculadas e isoladas das causas e das

condições concretas das pessoas. De acordo com Buarque (2003), cada uma delas

está condicionada pela sua história, pela sua personalidade, pela sua estrutura

psicológica e pelos momentos e circunstâncias da sua escolha.

O planejamento é contrário à visão determinista, visão segundo a qual o

futuro está aberto, sendo necessário aprendermos e dominarmos eventos relevantes

para antecipar o futuro. Buarque (2003), citando Bernstein (1997), afirma que

podemos reunir grandes e pequenas porções de informações, mas nunca

conseguimos juntar todas as peças.

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Buarque (2003) ressalta que as teorias não conseguem apreender e

processar a complexidade da realidade estudada e, com isso, reduzem sua

capacidade de antecipação do futuro. Dessa forma, de acordo com a chamada

teoria do caos, também nas ciências exatas vários fenômenos da natureza são

imprevisíveis pelo fato de constituírem sistemas complexos e não lineares.

Como mostra Capra (1996) citado por Buarque (2003), esses sistemas não-

lineares “são estruturalmente instáveis, e os pontos críticos de instabilidade são

denominados ‘pontos de bifurcação’, pois são pontos na evolução do sistema nos

quais aparece subitamente um forqueamento, e o sistema se ramifica em uma nova

direção”.

A necessidade de um controle maior sobre o espaço urbano passa

inevitavelmente pelo planejamento. Com a iniciativa do então Prefeito da época,

Alípio Hüffner, e o advento do primeiro Plano Diretor, começa uma tendência que

normatiza os objetivos e define as ações, ao contrário do que acontecia antes,

quando a intuição dos atores e dos agentes determinava as decisões em relação ao

aspecto urbanístico.

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5 ASPECTOS DO PLANEJAMENTO

A visão determinista não pode definir a impossibilidade e, menos ainda, a

impertinência dos planejamentos de futuro na tentativa de interpretar as

possibilidades do amanhã.

O planejamento urbano não pode ser tratado como um sistema não-linear

(caótico), uma vez que tende também a apresentar determinados padrões. É

evidente que, conforme Buarque (2003) citando Capra (1996), no decorrer do

caminho aparecerá um ponto de bifurcação. Isso é algo que depende da história e

de várias condições externas, e nunca pode ser previsto, a exemplo da construção

da BR 386, que mudou o eixo do crescimento urbano, antes Norte-Sul, para Leste-

Oeste, paralelo à BR 386.

O Planejamento Urbano lida com cenários relativamente complexos e a

dinâmica do território, os quais convivem com contínuas mudanças estruturais.

Normalmente essas dinâmicas territoriais lidam com realidades em que os

resultados de uma mudança original não são proporcionais às causas, também

múltiplas e diversificadas.

Os sistemas complexos caracterizam-se por processos de retroalimentação

que estabelecem condições de auto-organização e de mudança, como indica Capra

(1996) citado por Buarque (2003). Daí a necessidade de Planejamento Urbano. Para

evitar a instalação do caos, existe um conjunto de mecanismos, sobretudo

institucionais e funcionais que organiza a mudança e a dinâmica, permitindo, assim,

a estabilidade. Conforme o autor, deve-se evitar duas armadilhas da antecipação de

futuros: a projeção de tendências do passado, como se a estabilidade fosse

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permanente, e a reprodução das instabilidades conjunturais como uma tendência de

longo prazo, reduzindo a importância da estrutura e dos fatores de continuidade.

Esses talvez sejam os maiores desafios para o Planejamento Urbano, bem

como as tentativas de antecipação de futuro. Conforme Buarque (2003), a análise de

sistemas complexos deve combinar o conhecimento dominante e as teorias e os

pensamentos consolidados nos meios técnicos e científicos com novos paradigmas

e vertentes teóricas que tentam inovar e responder às realidades emergentes. O

autor, citando Godet (1997), diz que a luz cria a sombra e confunde os espíritos e a

capacidade de análise e de interpretação da realidade e, principalmente, as

prospecções do futuro.

O Planejamento Urbano constitui parte importante, na medida em que oferece

uma orientação para as tomadas de decisões sobre iniciativas e ações para a

construção do futuro almejado pela sociedade, visto que o futuro não está

predeterminado e é uma construção social, resultante, portanto, das ações e das

decisões da sociedade. Buarque (2003) citando Godet (1997) enfatiza que o

processo de planejamento não teria nenhum sentido se a natureza e a sociedade

tivessem histórias futuras predefinidas, retirando qualquer espaço de liberdade para

definir o próprio futuro.

Ao planejar as condições futuras no contexto Urbano da Cidade, o

planejamento permite que as ações sejam organizadas e os investimentos sejam

orientados na perspectiva de otimizar os resultados e favorecer a construção do

futuro desejado.

Uma vez que o Planejamento Urbano trata das complexidades deve

contemplar a incerteza dos eventos futuros; ele não constitui uma atividade científica

adequada e apta para explicar o passado, mas limita-se à antecipação de futuros.

Entretanto, ele deve se basear e recorrer, necessariamente, ao conhecimento

científico para estruturar as informações e compreender a lógica e a dinâmica e a

realidade de seu território, de tal forma que permita antecipar a sua evolução futura,

interpretando as relações de causas e efeitos de múltiplas variáveis e de

comportamentos imponderáveis.

Buarque (2003) citando Popper (1975), crítico do “determinismo científico”,

defende que “se a ciência é capaz de explicar ocorrências passadas, deve ser

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capaz, também, de antecipar processos em condições similares”, constituindo uma

aplicação de leis gerais da ciência às especificidades históricas do objeto de análise.

Godet (1985) citado por Buarque (2003) destaca que cenários são

configurações de imagens de futuro condicionadas e fundamentadas em jogos

coerentes de hipóteses sobre os prováveis comportamentos das variáveis

determinantes do objeto de planejamento.

O Espaço Urbano planejado tem uma conotação política e deve ser, ao

mesmo tempo, tecnicamente plausível e politicamente sustentável. Buarque (2003)

esclarece que tal cenário procura administrar o destino com base no desejo,

ajustando-o às probabilidades e às circunstâncias. O planejamento desejado é a

síntese do contraponto entre o presente (antítese) e as idéias e as utopias de uma

sociedade em relação ao seu futuro. O que resulta, para Buarque (2003), num futuro

tão próximo das aspirações quanto possível nas circunstâncias históricas

determinadas.

O Planejamento Urbano é um processo que define as ações e iniciativas

capazes de influenciar os resultados futuros, contribuindo para a construção de uma

realidade desejada, representando uma forma de a sociedade exercer o poder sobre

o seu futuro, segundo afirma Ingeltam (1987) citado por Buarque (2003).

Conforme os estudos realizados, o processo de elaboração de um Plano

Diretor deve ser entendido e voltado para a construção do futuro, que orienta e

molda a vontade dos atores e as decisões coletivas, partindo do princípio de que

podem ser construídas pela sociedade. Nesse sentido, a construção de um projeto

coletivo deve ser capaz de implementar as transformações que levem ao futuro

desejado pela Cidade, como uma proposta convergente dos atores e agentes que

atuam organizando as ações na perspectiva de um desenvolvimento sustentável.

Toda escolha coletiva envolve interesses e percepções, especialmente sobre

o que se pretende alcançar no futuro para a Cidade. Por outro lado, o planejamento

tem uma conotação política que passa necessariamente pela negociação, pela

disputa de interesses dos atores e agentes na formulação política. O planejamento é

sempre um processo político; é também um processo ordenado e sistemático de

decisão, o que lhe confere uma conotação técnica e racional de formulação e

suporte para as escolhas da sociedade.

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Dessa forma, o planejar combina uma dimensão política e uma dimensão

técnica, constituindo uma síntese técnico-política; técnica, por ser ordenada e

sistemática; política, porque as decisões e a definição das prioridades passam por

interesses e negociações entre os agentes e atores sociais. O planejamento, sendo

técnico e político, necessita da participação e de mobilização da sociedade na

tomada das decisões, sempre orientadas pela reflexão técnica com a qual os atores

sociais e os agentes públicos estejam efetivamente comprometidos.

O Plano Diretor ideal tem de ser feito com a participação da sociedade e com

as organizações e não para elas, adaptado às condições e às percepções da

sociedade. Buarque (2003) citando Capra (1996) chama de paradigma social “a

constelação de concepções, de valores, de percepções e de prática compartilhados

por uma comunidade que dá forma a uma visão particular da realidade, a qual

constitui a base de como a comunidade se organiza”.

O principal objetivo do Plano Diretor não é prever o futuro, e sim aumentar a

capacidade da organização por meio do desenvolvimento de uma postura

estratégica e antecipatória, antecipação e interpretação das tendências e dos sinais

que parecem mostrar possibilidades futuras. Se alcançarem esse objetivo, a Cidade

terá condições de responder rápida e eficientemente aos desafios não previstos.

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6 CONSTRUÇÃO DO PLANEJAMENTO

Considerando o planejamento como descrição do cenário atual e previsão do

futuro, de maneira simplificada, pode se afirmar, de acordo com Buarque (2003)

citando Van Der Heijden (1996), que o grande segredo da metodologia de cenários

reside no reconhecimento e na classificação dos eventos em graus diferentes de

incerteza, sendo necessário um modelo teórico para assegurar a plausibilidade das

hipóteses e analisar a consistência das combinações delas, de modo que a

descrição da realidade futura seja fundamentada.

A antecipação de futuros, para Buarque (2003), antes de tudo é uma arte que

incorpora as percepções e as sensibilidades dos especialistas e dos políticos. A

análise e o tratamento técnico dessa sensibilidade requerem um sistema de

interpretação teórica do objeto de estudo que se pretende descrever no futuro.

Segundo a teoria de sistemas, cada objeto de análise constitui “um todo

integrado cujas propriedades essenciais surgem das relações entre suas partes”.

Capra (1996) citado por Buarque (2003) destaca que, embora possamos discernir

partes individuais em qualquer sistema, essas partes não são isoladas, e a natureza

do todo é sempre diferente da mera soma das suas partes.

Ao planejar, não se pode desprezar as dimensões econômica, sociocultural,

ambiental, tecnológica, político-institucional, para que se compreenda a capacidade

de percepção dos múltiplos determinantes do futuro, procurando ter uma visão a

partir de uma análise das suas características internas de dentro para fora e

buscando identificar os elementos exógenos que podem influenciar os processos e

os eventos endógenos.

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Na classificação dos condicionantes, deve-se destacar aqueles mais

relevantes e de maior incerteza, entendendo que alguns deles podem ter um grande

poder de influência, como, por exemplo, a população, que vai determinar o desenho

do futuro, o qual, conforme Buarque (2003), será o comportamento combinado e

diferenciado das incertezas críticas de alta relevância e de alta incerteza, sobre as

quais devem concentrar as análises de plausibilidade e consistência.

O Plano Diretor ideal é uma descrição da realidade futura e compõe uma

direção que converge para os desejos da sociedade em relação ao seu futuro. De

acordo com Buarque (2003), o futuro desejado só se transforma efetivamente em

um cenário se e quando for demonstrada a sua plausibilidade, o que normalmente

leva a uma nova descrição do futuro que a sociedade almeja, futuro este que de fato

pode alcançar.

O ideal do futuro desejado é a consulta à sociedade diretamente interessada

no assunto. A partir dessa consulta, procura-se gerar uma visão coletiva e

convergente dos interesses dos atores sociais. Para Buarque (2003), tal processo,

além de muito mais próximo da visão da sociedade, causa um grande efeito didático

na mobilização e no estímulo à sua fantasia e às suas aspirações futuras num

horizonte de longo prazo, liberando-se, na medida do possível, das restrições de

curto prazo.

A estratégia de planejar é um conjunto de ações ao longo do tempo capaz de

intervir sobre os cenários prováveis com o propósito explícito de alterar o futuro e de

construir um determinado futuro desejado pela sociedade, e constatar como os

atores e suas alianças se redefinem à medida que os desdobramentos da hipótese

de partida geram novas condições sociais, econômicas e políticas.

A estratégia ideal é uma construção político-social, devendo os atores sociais

ocupar uma posição central na sua criação. Cada Plano configura e expressa um

determinado quadro hegemônico, com o predomínio de uma aliança de atores em

torno de um dado projeto, definindo suas prioridades e suas formas de atuação nas

áreas social, econômica, ambiental, regional, científica e tecnológica.

Como todo sistema que tem uma dependência do entorno, a transformação

do território de Lajeado é influenciada, em maior ou menor grau, pelo que acontece

no âmbito mais amplo, do qual é um subsistema, recebe múltiplas e diferenciadas

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influências, mas também influencia seu entorno, trazendo uma dinâmica territorial

própria, conforme as suas características e seu grau de interdependência em

relação ao contexto.

O plano deve estabelecer, em seu contexto, certa hierarquia territorial, mais

ou menos linear, que modera a interdependência tanto endógena como exógena na

qual o território tende a receber bem mais influência do que a exercida por ele sobre

o contexto.

As influências exógenas mundiais, nacionais ou estaduais tendem a ter um

papel importante no território devido à relativa dependência deste em relação aos

processos globais.

O ideal ao se planejar, portanto, deve ser o resultado da combinação dos

processos endógenos de seu território, com a combinação dos processos exógenos.

Por conta disso, há necessidade de estudos prévios que levem em consideração o

contexto, pois tais contextos podem ter diferentes comportamentos.

Com base nessa hierarquia territorial, deve-se pensar nos futuros alternativos

do território, considerando o desempenho futuro do sistema econômico e político

global do qual refletem diversas influências externas, interagindo, positiva ou

negativamente, com os processos endógenos.

A estratégia de planejamento não pode ser elaborada desconsiderando as

alternativas de desenvolvimento futuro macrorregional e os desdobramentos e

impactos particulares delas em seu território, procurando identificar as tendências do

entorno que podem criar as condições favoráveis ou desfavoráveis para o

desenvolvimento da Cidade.

Com base nesse estudo, ao planejar, deve-se avaliar as oportunidades e as

ameaças para definir suas prioridades estratégicas para a construção do

planejamento territorial; as variáveis externas determinam os prováveis

comportamentos e variações exógenos que, combinados aos processos endógenos,

definirão as possibilidades futuras.

A estruturação de forma clara do Plano Diretor deve buscar identificar os

fatores locais que afetarão o futuro de seu território; analisar as características

endógenas e exógenos; definir as possibilidades externas mais relevantes que

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influenciarão seu território; trazer os prováveis impactos que sofrerá o seu território,

além de procurar identificar a capacidade de controle territorial sobre eles.

O Plano Diretor sofre o efeito e influência combinada, tanto do contexto

mundial e nacional como regional. A combinação das influências endógenas e

exógenas é que dará forma ao futuro territorial mais provável, juntamente com a

posição de cada um dos atores e agentes sociais em seus apoios, neutralidade,

oposição e rejeição diante das alternativas futuras da realidade, não apenas as

ações governamentais, mas também todo conjunto de decisões que decorrem de

interesses diferenciados e negociados dos atores sociais envolvidos.

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7 DESENVOLVIMENTO URBANO

As transformações urbanas, principalmente em relação às mudanças de

paradigma, tanto de cunho econômico como social e político, após a segunda guerra

mundial, levantam reflexões sobre o fenômeno da urbanização. O entendimento das

questões que atingem a sociedade nas correntes migratórias, quando indivíduos

trocam o campo pela cidade, reflete de forma impactante no ambiente, na sociedade

e na economia.

Um dos primeiros estudos oficiais sobre a urbanização da cidade de Lajeado

foi realizado por Selhorst et. al (2000), economista e professor da Universidade

Federal de Santa Maria (UFSM), juntamente com sua equipe técnica, composta

pelos também professores da UFSM, os arquitetos Edson Luiz Bortoluzzi da Silva,

Decio Bevilacqua, Edilaine Gomes Monteggia, e os engenheiros civis, Carlos J.

Kümmel Félix e Sérgio Renato de Medeiros.

Em convênio firmado entre a Prefeitura Municipal e UFSM, Selhorst et. al

(2000) fizeram estudos da realidade da Cidade de Lajeado, em relação ao uso e

ocupação do solo, infra-estrutura urbana, serviços públicos, aspectos administrativos

e a legislação municipal.

Nesse estudo, Selhorst et. al (2000) dividem a história de Lajeado em seis

períodos históricos, buscando resgatar a trajetória da formação da Cidade. Também

Christillino entende que, assim como um organismo é formado por suas partes, um

processo histórico é constituído por suas facetas regionais. Não é conveniente se

restringir a elas, tampouco desprezá-las (Christillino, 2004, p. 24).

A partir desse aspecto, selecionamos o estudo como uma das principais

fontes de análise do crescimento e planejamento urbano de Lajeado.

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Na concepção de Pesavento (2007), a Cidade

é sempre um lugar no tempo, na medida em que é um espaço com reconhecimento e significação estabelecidos na temporalidade; ela é também um momento no espaço, pois expõe um tempo materializado em uma superfície dada. Porém, em termos de Cidade, esse tempo contado se dá sempre a partir de um espaço construído, e não é possível pensar um sem o outro. Quando se trata de representificar a memória - ou a história - de uma Cidade, a experiência do tempo é indissociável da sua representação no espaço (Pesavento, 2007, p. 15).

Para urbanização utilizamos o conceito da Lei 5.172, de outubro de 1966,

que, em seu artigo 32, caracteriza como zona urbana a definida na lei municipal,

observados no mínimo dois requisitos de existência de melhoramentos entre eles

meio-fio ou calçamento, com canalização de águas pluviais, abastecimento de água,

sistema de esgotos sanitários, rede de iluminação pública, com ou sem posteamento

para distribuição domiciliar, escola primária ou posto de saúde a uma distância

máxima de 3 (três) quilômetros do imóvel considerado. Para o conceito de Cidade,

consideramos uma determinada área urbanizada, no caso específico, Lajeado.

Planejar o desenvolvimento e o crescimento urbano adquire importância, pois

o planejamento tenta resolver e amenizar os impactos da migração campo/Cidade

que afeta todas as áreas da sociedade. Dessa forma, a presente pesquisa torna-se

um instrumento que contribui para a melhoria da qualidade de vida da Cidade.

Esta dissertação tem como objeto de análise os Planos Diretores de 1974,

1992 e de 2006. Aspectos, como a evolução espacial, serão visualizados pelo Mapa

Temático da Evolução da Ocupação Urbana e do Mapa Temático do Crescimento

Urbano.

A Cidade de Lajeado, devido à sua localização e geografia, passa a atrair

pessoas de várias regiões não só do Brasil bem como do continente europeu.

Kreutz, ao estudar o contexto ambiental e as primeiras ocupações humanas no Vale

do Taquari, no Rio Grande do Sul, conclui que o ambiente foi um fator determinante

para a colonização do Vale do Taquari/RS para as populações pré-coloniais e para

os imigrantes europeus (Kreutz, 2008, p. 137).

Lajeado passa a ter importância visto que as pessoas identificam seu

território como um lugar onde seus sonhos e aspirações podem vir a se concretizar.

A materialização desses sonhos e aspirações é que passa a dar forma à Cidade.

Zapata (2005) salienta que o desenvolvimento local se apóia na idéia de que as

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localidades e territórios dispõem de recursos econômicos, humanos, institucionais,

ambientais e culturais, além de economias de escalas não exploradas, que

constituem seu potencial de desenvolvimento.

7.1 Primeiro período histórico

Schierholt (1993) relata que o início da história contemporânea da região

hoje denominada Cidade de Lajeado se dá quando José Inácio Teixeira e seu irmão

João Inácio Teixeira, em 1800, recebem terras do Governo Imperial: José recebeu

3900 braças de frente por meia légua de fundo, João recebeu 3250 braças de frente

por meia légua de fundos, na “Serra do Taquari”. O povoamento teve início por volta

de 1801, quando os irmãos João e José Inácio Teixeira dividiram suas sesmarias

em fazendas, a de Conventos e a de Lajeado, hoje bairros de Carneiros e Centro,

construíram galpões para abrigo dos peões, escravos e seus feitores, objetivando a

exploração de madeira e erva-mate destinadas ao mercado de Porto Alegre, onde

moravam. Como cita Schierholt,

com a Guerra dos Farrapos (1836 a 1845), as fazendas em Lajeado ficaram totalmente arruinadas. Seu herdeiro, José Inácio Teixeira Júnior, vendeu para Batista & Fialho Companhia. Batista & Fialho Companhia, empresa colonizadora privada, que as dividiu e revendeu em lotes coloniais para os imigrantes alemães e teuto-brasileiros, vindo Antonio Fialho de Vargas e sua família a se estabelecer em Conventos por volta de 20 de março de 1855 (Schierholt, 2001, p. 13).

O então proprietário das terras, Fialho de Vargas, começa a transformar o

território:

Fialho de Vargas mandou em 1862 construir um engenho de serrar madeira e moinho, sendo este o primeiro complexo industrial de Lajeado, o arroio recebeu o nome de Arroio do Engenho. Escolheu o local mais adequado para o novo porto do Rio Taquari, logo abaixo da cachoeira e foz do arroio Lajeado, para elo entre o engenho e o porto, abriu uma estrada de nome Rua Santo Antônio, atual Rua Júlio de Castilhos. Fialho de Vargas, na mesma época 1862 mandou medir uma área de terrenos, destinada a uma praça, igreja, escola e casa paroquial. Foi o primeiro Plano Diretor urbano, com isso, deu-se o início do fenômeno da urbanização (Schierholt, 2001, p. 14).

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Conforme citado acima Selhorst et. al (2000) divide em seis os períodos

históricos: no primeiro período, de 1800 a 1891 na ocupação territorial de Lajeado percebe-

se a influência da cultura portuguesa na implantação da estrutura espacial urbana, tanto no

traçado ortogonal como na ocorrência de dois núcleos, um portuário e outro comercial. Em

1891, Lajeado torna-se sede do município (Selhorst et. al, 2000, p. 3):

A morfologia do tecido urbano, neste primeiro momento, apresenta um traçado ortogonal definido a partir de dois eixos. Estes refletem os dois principais fatores de crescimento do povoado: um paralelo ao Rio Taquari abrigando as funções portuárias e outro, perpendicular a esse, no divisor de águas dos Arroios do Engenho e Encantado, onde desenvolvem-se as atividades de prestação de serviços voltados ao abastecimento da população rural, principalmente da Colônia de Conventos, atual bairro de Conventos. Dentre estas atividades destacam-se o "Armazém Secos e Molhados" e o "Engenho" pertencentes a Antônio Fialho de Vargas, proprietário das terras onde desenvolve-se o núcleo do povoado (Selhorst et. al, 2000, p. 23).

O Rio Taquari-Antas serviu como “estrada líquida” por onde chegaram os

primitivos colonizadores e mesmo os povoadores, que se estabeleceram em suas

margens. O rio serviu inclusive para o escoamento dos produtos (Ferri, 2000, p. 22).

Ao longo do curso do rio Taquari existiam mais de cinqüenta portos e ancoradouros para carga e descarga dos barcos, os fatores que influíram para o declínio da navegação no rio Taquari, são apontados, entre outros, alteração do leito do rio, por assoreamento provocado pela grande enchente ocorrida em 1941; falta de apoio oficial à navegação fluvial; incremento em qualidade e quantidade da malha rodoviária no Estado; surgimento em maior escala, do transporte rodoviário; advento de nova legislação trabalhista, que dificultou os horários dos marinheiros embarcados. A navegação foi desaparecendo aos poucos, permanecendo apenas o transporte de Mariante até foz e Porto Alegre (Ferri, 2000, p.22-23).

7.2 Segundo período histórico

No segundo período, de 1891 a 1953, Selhorst et. al (2000) observam que a

ocupação urbana da Cidade de Lajeado toma corpo. Seu núcleo urbano

corresponde diretamente às modificações na densidade demográfica, que cresceu

numa taxa anual de 5% ao ano. O crescimento é periférico e contínuo, destacando-

se a direção norte, induzida pelas rodovias de acesso a Passo Fundo via Encantado

e Soledade e pelo favorecimento topográfico, já que as demais são limitadas pela

hidrografia.

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A Cidade, por sua vez, começa a abrigar esse contingente populacional com um acréscimo também nas suas funções, que neste momento começam a ser incrementadas pelo setor industrial. A navegação perde o seu apogeu, do mesmo modo que as estradas vão ganhando importância, visto as melhorias na infra-estrutura que dão melhores condições de acesso por terra. Principalmente as ligações à Passo Fundo (via Encantado) e à Soledade (Selhorst et. al, 2000, p. 23).

7.3 Terceiro período histórico

No terceiro período, de 1953 a 1969, com a construção da BR 386, a locação

da rodovia gerou no sítio urbano a especulação imobiliária, que levou a valorizar

grandemente aquele eixo.

O apoio à produção agropastoril cede espaço à industrialização e ao comércio

e serviços, principalmente de apoio ao setor de transportes. Segundo Selhorst et. al

(2000), um fator externo que contribuiu sobremaneira no desenvolvimento de

Lajeado foi a BR 386 (FIGURA 3) "antiga RS 13", que une a capital, Porto Alegre, à

região da produção, Nordeste-Noroeste do Estado, ficando conhecida por "Estrada

da Produção". A rodovia atravessou a Cidade, nessa época, perifericamente.

O eixo principal de crescimento urbano (Norte-Sul) tem sua direção invertida para Leste-Oeste (paralelo à BR 386), proporcionando uma nova configuração à malha urbana. O primeiro caracterizado pelos usos de comércio e serviços (principalmente varejista) e o segundo pelas atividades industriais, de comércio e prestação de serviços de apoio ao transporte rodoviário (Selhorst et. al, 2000, p. 4).

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FIGURA 3 – Imagem da rodovia BR 386

Fonte: Acervo Foto Flash, 1971.

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7.4 Quarto período histórico

O quarto período, de 1970 a 1979, bem como os dois posteriores, é

organizado a partir dos dados de aprovação dos projetos de loteamentos constantes

do Cadastro Imobiliário Urbano do Município de Lajeado, criado em 1974 (Selhorst.

et. al, 2000, p. 5).

De acordo com Selhorst et. al (2000), a ocupação ocorre predominantemente

contínua à mancha urbana consolidada. No entanto, alguns loteamentos são

implantados sem a preocupação de garantir essa continuidade, como é o caso da

vila Santo Antônio (ao sul da área urbanizada) e do Bairro Montanha (a oeste) os

quais, conforme se verifica no Diagnóstico do Plano Diretor Integrado (1974), item

4.3.3.3 Estrutura do Território Urbano, não existiam quando da implantação do

perímetro urbano.

Com isso são criadas "novas localizações" surgidas em função da definição, pelo Plano Diretor Integrado (1974), de um perímetro urbano cuja área de abrangência (aproximadamente 28,85 km²) supera os espaços já urbanizados e consolidados. Essas geram a valorização dos interstícios, a chamada "especulação imobiliária". Nesse processo um "lugar" não chega a saturar-se e parte-se para a "criação" de outro, ocasionando um aumento dos custos de implantação e manutenção da infra-estrutura e serviços urbanos, por parte do poder público, bem como o risco da descontinuidade da malha viária (Selhorst et. al, 2000, p. 5).

Quanto à geometria das áreas parceladas, consistem em retângulos

correspondentes às glebas rurais. Para Selhorst. et. al (2000), o Plano Diretor

Integrado tem efeito positivo no que diz respeito à elaboração e implementação de

novas leis, como a do código de edificações.

7.5 Quinto período histórico

O quinto período, de 1980 a 1989, é marcado pela intensificação do processo

de criação de "novas localizações", cada vez mais distantes do centro urbano,

principalmente para Oeste. Ocorre em proporção maior que a ocupação das áreas

contíguas ao núcleo urbano consolidado (Selhorst. et. al, 2000, p. 6).

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Observa Selhorst. et. al (2000) que é visível o agravamento dos problemas já

citados, tais como o poder público ter de suprir e manter a infra-estrutura urbana de

parcelas distantes e com baixíssima densidade de ocupação.

7.6 Sexto período histórico

No sexto período, de 1990 a 2000, a expansão do perímetro urbano ocorre

para o Sudoeste.

No sexto período, assim como no período anterior, verifica-se que o processo de criação de "novas localizações" predomina sobre a ocupação de áreas contíguas à infra-estrutura urbana existente. A diferença está na direção predominante das "novas localizações". Na década de 80 observa-se um vetor de crescimento urbano para Oeste, enquanto na de 90, este ocorre para Sudoeste em função das expansões do perímetro urbano, respectivamente, em 1992 e 1998. A área do perímetro urbano de 1992 é de aproximadamente 41,45 km², quanto a do atual é de 78,22 km² (Selhorst. et. al, 2000, p. 6).

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8 ALTERAÇÕES TERRITORIAIS

De acordo com Corrêa (2003), os agentes sociais que alteram os espaços

urbanos são os proprietários dos meios de produção, sobretudo os grandes

industriais, os proprietários das terras, os empreendedores imobiliários e o Estado

(Corrêa, 2003).

Passado um século e meio de ocupação territorial, que vai do primeiro

período da ocupação até o final do segundo período de ocupação do território de

Lajeado, de 1801 a 1953, basicamente os agentes sociais que alteraram o espaço

urbano foram os proprietários das terras e o poder público municipal. Os primeiros,

pela exploração dos recursos naturais disponíveis; o segundo, por alterar os

espaços visando acomodar as necessidades crescentes da população por moradia e

infra-estruturas básicas, como transporte, saúde e educação.

No terceiro período, é inegável a contribuição da construção da BR 386 para

a Cidade. Essa construção gerou nova configuração urbana, e a especulação

imobiliária levou a valorizar grandemente o novo espaço criado.

Percebe-se a presença do Governo Federal imprimindo novo ritmo para o

desenvolvimento. A BR 386 fez parte do Plano Rodoviário Nacional, implementado

pelo governo militar na década de 1960. Também estavam presentes os agentes

imobiliários, que aproveitaram o novo espaço criado para dar novos contornos à

Cidade, valorizando a nova área, sobretudo com o surgimento de novos comércios e

serviços voltados para o transporte terrestre, tanto de pessoas como de

mercadorias.

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Em 173 anos de ocupação, que vão de 1801 a 1974, a área do perímetro

urbano da Cidade Lajeado consolidou-se em aproximadamente 28,85 km²; já de

1974 a 1992, passadas quase duas décadas, a área do perímetro urbano de

Lajeado passa para aproximadamente 41,45 km²; e, atualmente, é de 78,22 km²,

com uma expansão de seu perímetro urbano em média de 45% em cada década

desde 1974. Um dos fatores que proporcionaram um aumento tão rápido do

crescimento do perímetro urbano foi, sem dúvida, deflagrado pela construção da BR

386, seguido pela forte especulação dos agentes imobiliários, presente até os

tempos atuais. As atividades agropastoris cedem espaço para a indústria, o

comércio e a prestação de serviços.

Como bem observa Santos (1989), o desenvolvimento da rede viária acaba

favorecendo o crescimento urbano, conjuntamente com o melhoramento das

técnicas agrícolas e o cultivo voltado para a exportação, os quais reduzem a

importância da mão-de-obra necessária à produção. Para o autor, a atração que a

Cidade exerce é puramente psicológica: as pessoas pretendem encontrar melhores

condições de vida, o que provoca a migração para as Cidades.

O mapa temático (FIGURA 4) representa o deslocamento da ocupação do

solo do município de Lajeado/RS, nos diversos períodos.

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FIGURA 4 - Ocupação do solo do município de Lajeado/RS nos diversos períodos

Fonte: Cadastro técnico municipal de Lajeado/RS.

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9 PLANO DIRETOR

O Plano Diretor é uma Lei Municipal por força do Art. 182 da Constituição

Federal de 1988, na qual se prevê que a política de desenvolvimento urbano será

executada pelo Poder Público Municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, e

tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e

garantir o bem-estar de seus habitantes.

Para Nygaard (2005), os tradicionais Planos Diretores podem ser

considerados como o instrumento mais completo que o Estado já teve à sua

disposição para interferir na organização e no controle do espaço urbano. Segundo

o autor,

a organização se dava por princípios geométricos, foram formalizados na cartilha da política urbanizadora colonial espanhola Leyes de Índias, que orientou holandeses, franceses, ingleses e os portugueses. Esta política valorizava especialmente as praças, que eram o centro de reunião da vida urbana em que se realizavam as cerimônias cívicas e toda sorte de festividades, e onde se concentravam os edifícios principais, igreja, câmara e a casa dos governadores. Os métodos do urbanismo português, antes de serem conduzidos por um código legislativo de âmbito geral, como o espanhol, limitavam a sua legislação ao disposto nas Ordenações do Reino (Nygaard, 2005, p. 25).

A idéia de Plano Diretor segundo Villaça (2005), existe no Brasil pelo menos

desde 1930, quando Agache, urbanista francês, organizou o Plano Diretor da cidade

do Rio de Janeiro. Nesse plano, publicado em francês e conhecido como Plano

Agache, nunca foi traduzido pelo poder público, aparece pela primeira vez a palavra

“plan directeur”.

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A Constituição Federal de 1988 traz consigo a redemocratização da gestão

do país, com a retomada de suas autonomias político-administrativas: os municípios.

Assumiram uma maior responsabilidade pela preservação ambiental e pelo seu

planejamento e desenvolvimento urbano.

Nesse sentido, o município tem obrigação constitucional de enfrentar os

problemas urbanos, sendo necessária a implementação de seu Plano Diretor na

busca de programas habitacionais de infra-estrutura, de regularização fundiária,

saneamento e de transportes urbanos, buscando o desenvolvimento urbano

municipal, num esforço conjunto de forma integrada com a sociedade civil e entes

governamentais, mesclando-se a técnica com a participação da sociedade.

O Decreto nº 5.031, de 2 de abril de 2004, deliberado pelo Conselho das

Cidades, descreve, de acordo com a Resolução 034/2005, o conteúdo mínimo que

um Plano Diretor Municipal deve ter.

Segundo a Resolução 034/2005, o Plano Diretor deve prever, no mínimo,

ações e medidas para assegurar o cumprimento das funções sociais da cidade. A

Constituição Federal de 1988, em seu artigo 182, § 2º, estabelece que a propriedade

urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de

ordenação da cidade expressas no Plano Diretor, considerando o território rural e

urbano.

Para Fiorillo, a função social da cidade só será cumprida quando proporcionar

aos seus habitantes uma vida com qualidade, propiciando de fato e de direito o

exercício dos direitos fundamentais em estrita consonância com o art. 225 da CF/88

(Fiorillo, 2008, p. 42).

O Plano Diretor deve conter estratégias para o desenvolvimento da cidade,

para a reorganização territorial do município, considerando sua adequação aos

espaços territoriais adjacentes e suas estratégias estabelecidas serão definidas de

forma a garantir espaços coletivos de suporte à vida na cidade, as funções sociais

da cidade e da propriedade urbana.

Para atender às necessidades da população serão definidas áreas de

equipamentos urbanos e comunitários, mobilidade, transporte e serviços públicos,

bem como áreas de proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural

e construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico.

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A acessibilidade e a mobilidade sustentável devem ser garantidas a todos os

cidadãos por meio do desenho dos espaços públicos e do sistema viário básico, que

deve ser buscado no Plano Diretor.

Os serviços de esgotamento sanitário, água potável, coleta e disposição de

resíduos sólidos e o manejo sustentável das águas pluviais, de forma integrada às

políticas ambientais, de recursos hídricos e de saúde, devem ser contemplados no

planejamento.

A garantia de terra urbanizada para todos os segmentos sociais deve estar

prevista, especialmente visando à proteção do direito à moradia da população de

baixa renda e das populações tradicionais, contemplando áreas para todas as

atividades econômicas, especialmente para os pequenos empreendimentos

comerciais, industriais, de serviço e agricultura familiar.

O Plano Diretor deverá contemplar critérios para a caracterização de imóveis

não edificados, subutilizados e não utilizados, e ter critérios para a aplicação do

instrumento estudo de impacto de vizinhança.

A delimitação das áreas urbanas onde poderão ser aplicados o parcelamento,

a edificação e a utilização compulsórios deve considerar a existência de infra-

estrutura e de demanda para utilização, definindo o prazo para notificação dos

proprietários de imóveis previstas pelo art.5º, § 4 º, do Estatuto da Cidade.

As áreas de uso e ocupação do solo, previstos no Plano Diretor, devem ser

definidas em consonância com o art. 2º da Resolução 034/2005 e as respectivas

destinações nos mapas, e descrição de perímetros.

O Estatuto da Cidade deve delimitar a área de aplicação no Plano Diretor do

direito de preempção, que é o direito de preferência que o Poder Público Municipal

terá para a aquisição de imóvel urbano objeto de alienação oneroso entre

particulares, e outorga onerosa que permite ao proprietário construir acima do

coeficiente básico definido para zona, dentro do limite máximo de densidade fixado

pelo plano diretor, mediante uma contrapartida do direito de construir e de alteração

de uso, operações urbanas e a transferência do direito de construir.

A instituição das Zonas Especiais, prevista no art. 5º da Resolução 034/2005,

considerando o interesse local, deverá destinar áreas para assentamentos e

empreendimentos urbanos e rurais de interesse social.

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Os territórios ocupados pelas comunidades tradicionais, tais como as

indígenas, quilombolas, ribeirinhas e extrativistas, devem ser demarcados, de modo

a garantir a proteção de seus direitos. É necessário demarcar também as áreas

sujeitas a inundações e deslizamentos, bem como as áreas que apresentem risco à

vida e à saúde, e a implementação da política de regularização fundiária.

A participação das comunidades deve ser incentivada na gestão das áreas de

interesse social, definindo os instrumentos de regularização fundiária, na

produção de habitação de interesse social.

O Plano Diretor deve ter previsão de instâncias de planejamento e gestão

democrática para implementação e revisão, conforme previsto pelo art. 42, inciso III,

do Estatuto da Cidade, apoiando e estimulando o processo de gestão democrática e

participativa, além de garantir uma gestão integrada, que envolve poder executivo,

legislativo, judiciário e a sociedade civil.

O Plano Diretor deverá definir os instrumentos de gestão democrática do

Sistema de Acompanhamento e Controle Social, tais como o Conselho da Cidade ou

similar, conforme estabelecido na resolução 13 do Conselho das Cidades,

conferências municipais, audiências públicas, segundo parâmetros estabelecidos na

Resolução nº 25 do Conselho das Cidades, consultas públicas, iniciativa popular,

plebiscito, referendo.

O Art. 8º da Resolução 034/2005 prevê que, nos casos do art. 41, § 2º do

Estatuto da Cidade, o plano de transporte urbano integrado, ora denominado de

Plano Diretor de Transporte e da Mobilidade, deverá garantir a diversidade das

modalidades de transporte, respeitando as características das cidades, priorizando o

transporte coletivo que é estruturante sobre o individual, os modos não-motorizados

e valorizando o pedestre.

A Resolução 034/2005 editada pelo Conselho das Cidades (Concidades) é a

instância de controle social e participação da sociedade para atuar junto ao

Ministério das Cidades. O Conselho foi criado em 2003, na 1ª conferência Nacional

das Cidades da FRENAVRU (Frente Nacional de Vereadores pela Reforma Urbana);

os vereadores têm três representantes titulares e três suplentes.

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O Conselho debate e delibera sobre as diretrizes gerais da Política de

Desenvolvimento Urbano no país, envolvendo as áreas de planejamento territorial,

habitação, saneamento e mobilidade urbana.

O Concidades aprovou as seguintes resoluções:

• Res. 25/05, que trata do processo participativo;

• Res. 34/05, que trata do conteúdo mínimo;

• Res. 9/06, que trata dos prazos para aprovação.

Diante de necessidade de planejamento das cidades brasileiras, houve muitos

avanços no sentido de se descentralizar a responsabilidade para planejar o

desenvolvimento municipal nas diretrizes da política urbana.

Importante ressaltar que o Plano Diretor Municipal deverá conter as diretrizes

de desenvolvimento urbano para a cidade por um período de pelo menos 10 anos,

devendo estas diretrizes estar embasadas no orçamento municipal.

9.1 Os Planos Diretores de Lajeado

Na busca por financiamentos federais e fins fiscais, nasce a idéia de fazer o

primeiro Plano Diretor da Cidade de Lajeado, a partir da Constituição Federal de

1988, que traz consigo a redemocratização da gestão do país. Com a retomada de

suas autonomias político-administrativas, os municípios passam a ter obrigação

constitucional de enfrentar os problemas urbanos, sendo necessária a

implementação de seu Plano Diretor, como a seguir será abordado.

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9.1.1 O primeiro Plano Diretor de desenvolvimento i ntegrado de 1974

No caso da Cidade de Lajeado, faz-se necessário tecer consideração sobre o

SERFHAU, criado através da Lei nº 4.380 de agosto de 1964, que nasceu como

instrumento de investigação do Governo Federal no setor habitacional, e através do

Decreto Federal nº 59.917/66, que regulamenta o SERFHAU, estabelecendo suas

finalidades e modo de operação, e cria o Fundo de Financiamento de Planos de

Desenvolvimento Local integrado, adquirindo competência para coordenar e

elaborar a política nacional de planejamento local integrado formulada segundo

linhas de desenvolvimento regional.

No Brasil, conforme o historiador e sociólogo Branco (2009), em 1964, com o

início do Governo Militar, o planejamento passa a ser elaborado através de critérios

técnicos e especializados. Tudo que tivesse cunho ideológico e populista contrário

ao regime dominante precisaria ser apagado. Planejar era a palavra de ordem. Em

1964, o Presidente Castello Branco baixou o Ato Institucional nº 2 (AI-2), extinguindo

o pluripartidarismo e implementando o bipartidarismo. É criada a ARENA (Aliança

Renovadora Nacional), de apoio ao governo, e MDB (Movimento Democrático

Brasileiro), de oposição ao governo militar.

Para Branco (2009), entre 1969 e 1973, no governo do presidente da

república Emilio Garrastazu Médice, a economia brasileira registrou taxas de

crescimento que variavam em média 12 por cento ao ano. A expansão do setor

industrial e as exportações agrícolas aumentaram significativamente, gerando

milhões de novos postos de trabalho. O governo federal, para sustentar e ampliar o

desenvolvimento e crescimento da economia, investia vultosas somas de recursos

financeiros em infra-estrutura, construção de hidrelétricas, estradas e pontes.

Santos (2008) observa e reconhece o aumento espetacular do crescimento

numérico da população urbana brasileira. A residência dos trabalhadores agrícolas é

cada vez mais urbana, a agricultura moderna repele os pobres, os espaços urbanos

passam a atrair os trabalhadores da agricultura capitalizada.

Para Santos (2008), a unicidade das técnicas e a convergência dos

momentos, a mais-valia no nível global contribui para o processo de

internacionalização. Para o autor, tudo se mundializa: produção, dinheiro, o crédito,

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a dívida, o consumo, a política e a cultura. Este motor único o autor chama de

globalização.

Esse período da economia brasileira ficou conhecido como o "milagre

econômico". A Cidade de Lajeado, considerada ponto estratégico com localização

geográfica privilegiada é beneficiada por este processo desenvolvimentista. O então

prefeito da época, da ARENA, partido de apoio ao Regime Militar, teve sensibilidade

para aproveitar os recursos que o governo federal disponibilizava para aquelas

cidades que desejavam receber verbas federais para investimentos em habitação e

infra-estrutura. Logo tratou de estruturar um Plano Diretor, adaptado às exigências

do governo federal.

Em 1973, o então prefeito municipal Alípio Hüffner, da ARENA, através da Lei

2.658 de 11 de junho de 1973, firmou convênio com a Superintendência de

Desenvolvimento da Região Sul (SUDESUL) e a Secretaria do Desenvolvimento

Regional e Obras Públicas (SDO-RS), através de uma equipe de técnicos vinculados

ao Departamento de Assistência aos Municípios (DAM) do SERFHAU, Serviço

Federal de Habitação e Urbanismo, entidade autárquica vinculada ao Ministério do

Interior.

O SERFHAU foi, até o ano de 1974, responsável pela elaboração e

coordenação da política nacional do planejamento local integrado, tendo ainda como

objetivo colaborar com os governos municipais na execução do planejamento local

integrado e na organização e operação dos serviços municipais, bem como estudar

e propor diretrizes para o desenvolvimento dos municípios.

Um dos objetivos foi a organização de um cadastro imobiliário, para fins

fiscais e de planejamento, juntamente com a elaboração do Plano Municipal de

Desenvolvimento Integrado, compreendendo os aspectos econômico, social, físico-

territorial e institucional.

A equipe técnica do SERFHAU (Lei 2.658/73) era composta por Gerson Luiz

da Silveira, advogado e coordenador; Odival Limeira Lima, economista; José Albano

Wolkmer, arquiteto; Itamar Morais Amador, arquiteto; Dorival Casagrande Ramos,

economista e contador; Elze Mangueira Viana, assistente social; e Maria das Graças

Cruz Limeira Lima, técnica em educação.

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A Câmara de Vereadores de Lajeado na época da aprovação do Plano Diretor

era composta por dez vereadores da ARENA: Aloysio Canisio Rockenbach, Aray

Mello Christ, Balduino Laux, Bernardino Rios Pinto, Claudio Pedro Schumacher,

Dario Affonso Diel, Germano Ademar Nied, José Inásio S. Gonçalves, Nelson

Francisco Brancher, Venâncio Eugênio Dirsmann; e cinco do MDB: Élio Henrique

Corbellini, Hermes Paulo Reginatto, Romeu Benjamin Kempfer, Rubert Titze, Wilson

Haussen Jacques. A ampla maioria os projetos que interessavam ao executivo eram

facilmente aprovados, como foi o caso do Plano Diretor de Desenvolvimento

Integrado.

Foram elaborados pelos técnicos da SERFHAU a legislação básica,

montagem de órgãos, cursos e treinamento de servidores, e os trabalhos foram

desenvolvidos no período de julho a outubro de 1973.

Importante ressaltar que uma das condições, na época, para que os

municípios pudessem receber recursos provenientes de entidades governamentais,

destinados a programas de habitação e urbanismo, era o município estar com seu

código de obras adaptado às normas técnicas do SERFHAU, na previsão do §1º do

art. 55 da Lei 4.380/64.

Ao serem analisados os relatórios de 1973, produzidos pela equipe do

SERFHAU, seu coordenador constata o desajuste entre o crescimento físico-

territorial e a estrutura jurídica legal, deixando ao livre arbítrio as decisões isoladas

de cada um.

Friza o coordenador que as decisões devem ser tomadas por critérios técnico-

científicos sobre o empírico, através da Lei de Zoneamento, que cortará a atual

desorganização urbanística, sendo uma das principais causas a ausência de

legislação urbanística adequada, sendo que o Plano Municipal de Desenvolvimento

Integrado será composto também pelo Código de Obras e a Lei de Loteamentos.

Para a equipe do SERFHAU, a Lei de Zoneamento deve ser um instrumento

de estímulo à construção moderna, que regulará a densidade e volume das

edificações no solo urbano, através de índices de aproveitamento e taxas de

ocupação e dos afastamentos e recuos obrigatórios, tratando também, em termos

gerais, da fixação de áreas verdes e da localização de indústrias.

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Em 18 de março de 1974, com o advento da Lei 2.729, é aprovado o Plano

Municipal de Desenvolvimento Integrado de Lajeado, fruto do trabalho do

SERFHAU.

Busca a referida Lei traçar a política de desenvolvimento urbanístico e, para o

cumprimento da Lei 2.729/74, na previsão de seu Art. 5º e seus incisos, deverão ser

observadas as seguintes leis: a Lei de Zoneamento, para o uso do solo, índices de

aproveitamento, taxas de ocupação, alturas e recuos obrigatórios, dimensões

mínimas dos lotes, número de construções no mesmo lote, desapropriação; a Lei de

Loteamentos, para loteamentos, desmembramentos e arruamentos; o Código de

Obras, quando for construção, reconstrução, ampliação, alteração, demolição ou

qualquer outra espécie de obra, tanto na sede do município ou na sede dos distritos;

a Lei de Organização Administrativa, quando se tratar da organização de obras e

serviços municipais e da assessoria de planejamento e coordenação; o Código de

Posturas, quando se referir a medidas de polícia administrativa; e o Código

Tributário, especialmente com finalidades extrafiscais, referente à organização

urbana e especulação imobiliária.

Em 18 de março de 1974, é aprovada a Lei 2.732, Lei de Zoneamento, que

passa a disciplinar a matéria para o uso do solo, definindo índices de

aproveitamento, taxas de ocupação, alturas e recuos obrigatórios, dimensões

mínimas dos lotes, número de construções no mesmo lote, desapropriação,

alinhamento, altura, número de pavimentos.

A mesma Lei 2.732/74 define a área urbana, área de expansão urbana e a

área rural; classificadas pelos seus usos predominantes, as áreas urbanas do

município ficam divididas em zonas: residencial, comercial, industrial e especial.

Produzido pela equipe do SERFHAU o primeiro Plano Diretor de

Desenvolvimento Integrado de Lajeado, Lei 2.729 de 18 de março de 1974, foi

criado e definido por critérios que valorizavam o cientificismo para o planejamento

urbano e a administração pública e traziam a marca do autoritarismo político militar

da época.

Conforme depoimento do Majolo (2010), funcionário da Câmara de

Vereadores daquela época, muitos dos projetos do então Prefeito Alípio Hüfner já

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estavam prontos e eram encaminhados para a Câmara de Vereadores, onde ele

tinha maioria, sendo aprovados sem problemas ou discussões.

Em depoimentos dos vereadores da época, Sr. Wilson Haussen Jaques

(MDB) relata que praticamente não tinha oposição ao governo Alípio. Segundo ele,

aquilo que fazia bem para o Município, “a gente apoiava” (Jaques, 2010).

O vereador Venâncio Eugênio Diersmann (ARENA), relata que a Câmara não

teve grande participação no debate, no exame técnico da matéria, até porque “nós

como vereadores, nós não tínhamos na época uma equipe de assessoramento que

inclusive nos desse respaldo para validar e avaliar” (Diersmann, 2010).

Para Nygaard (2005), os tradicionais Planos Diretores podem ser considerados

como o instrumento mais completo que o Estado já teve à sua disposição para

interferir na organização e no controle do espaço urbano. Para o autor,

a organização se dava por princípios geométricos, foram formalizados na cartilha da política urbanizadora colonial espanhola Leyes de Índias, que orientou holandeses franceses, ingleses e os portugueses. Esta política valorizava especialmente as praças, que era o centro de reunião da vida urbana em que se realizavam as cerimônias cívicas e toda sorte de festividades, e onde se concentravam os edifícios principais, igreja, câmara e a casa dos governadores. Os métodos do urbanismo português, antes de serem conduzidos por um código legislativo de âmbito geral, como o espanhol, limitavam a sua legislação ao disposto nas Ordenações do Reino (Nygaard, 2005, p. 25).

Este processo centralizador marcado pelo golpe militar de 1964 manteve-se

até o advento da Constituição Federal de 1988, que restabelece o processo

democrático e o federalismo.

9.1.2 O segundo Plano Diretor de desenvolvimento in tegrado de 1992

A dinâmica do território, para Dallabrida (2007), refere-se ao conjunto de

ações relacionadas ao processo de desenvolvimento, empreendido por agentes,

organizações e instituições de uma sociedade identificada histórica e

territorialmente. Desse processo dialético global-local, de ação-reação, cujas

intenções são projetadas pela dimensão global, mas acontecem no território,

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resultam as diferenciações ou desigualdades territoriais que, em decorrência desta

dinâmica, exigem a necessidade de adequar o Plano Diretor de Lajeado às novas

realidades e à Legislação Federal no aspecto do Parcelamento do Solo Urbano.

Um dos problemas em nível nacional e que precisava ser enfrentado eram os

loteamentos clandestinos e irregulares, que proliferavam nos grandes centros

urbanos, causando sérios danos ao meio ambiente. Em 19 de dezembro de 1979 é

aprovada Lei Federal 6.766, que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano, numa

tentativa do Governo Federal de enfrentar o problema.

Os adquirentes de lotes de parcelamentos clandestinos ou irregulares, em vez

de buscarem seus prejuízos junto aos loteadores, exigem do poder público municipal

a regularização do empreendimento.

O modelo de divisão de competências adotado pela Constituição Federal de

1988, prevê que compete à União a edição de norma geral sobre o desenvolvimento

urbano, cabendo ao Município editar leis implementadoras das diretrizes adotadas.

O município teve que adaptar-se à legislação federal sobre parcelamento do

solo urbano, através das funções previstas em seu Plano Diretor, para melhor dispor

acerca do espaço urbano local.

O Município não possui uma Lei específica sobre Parcelamento do Solo

Urbano (Lei de Loteamento). A legislação referente a Parcelamento do Solo Urbano

está inserida na Lei do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, Lei nº 4.788, de

05 de junho de 1992.

O Capítulo III desta Lei é dedicado ao Parcelamento do Solo Urbano,

contemplado nos artigos 126 até 168. Este Capítulo III do Plano Diretor de

Desenvolvimento Integrado está embasado e adequado à Lei Federal 6.766, de

19/12/79, que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano, em seus artigos e na

sua abrangência.

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9.1.3 O terceiro e atual Plano Diretor de desenvolv imento integrado de 2006

O atual Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de Lajeado foi

promulgado pela Lei nº 7.650, em 10 de outubro de 2006, alterado pela Lei nº 7.837,

de 08 de agosto de 2007.

A edição anterior era de 1992, a qual já tinha sofrido várias alterações. A

partir de 2002, sob a coordenação da Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do

Vale do Taquari – SEAVAT, foi realizado um estudo de revisão do Plano Diretor, em

obediência às determinações do Estatuto da Cidade - Lei Federal nº 10.257, de 10

de julho de 2001.

A Constituição Federal de 1988, em seus artigos 182 e 183, passa a dar

diretrizes sobre a política urbana do país.

Em seu Art. 182, a Constituição Federal de 1988 prevê que a política de

desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público Municipal, conforme

diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento

das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.

O Constituinte atribuiu competência especial aos municípios para execução

da política urbana, a cargo do Poder Público Municipal, cujos objetivos são ordenar

o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de

seus habitantes, conforme diretrizes fixadas em lei.

Conforme Bastos e Martins (1990), o Plano Diretor é uma tentativa de superar

as tradicionais leis de zoneamento, voltadas exclusivamente à ordenação do solo

urbano, com regras relativas a edificações, à definição da destinação de diversas

áreas urbanas, inclusive sobre o parcelamento do solo (Bastos, Martins, 1990, p.

203).

O Plano Diretor, aprovado pela Câmara Municipal, é obrigatório para cidades

com mais de vinte mil habitantes; é o instrumento básico da política de

desenvolvimento e de expansão urbana (§ 1º art. 182 da CF/88).

Bastos e Martins (1990) entendem que o Plano deve fazer mostra de um

grande equilíbrio entre a necessidade de impor parâmetros num processo que, se

relegado a si mesmo, pode conduzir ao caos, e a necessidade de preservar a

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liberdade e a propriedade, valores assegurados constitucionalmente (Bastos,

Martins, 1990).

A propriedade urbana, para Bastos e Martins (1990), não está sujeita a uma

modalidade qualquer de exigência feita em nome de uma teórica concepção do que

seja função social do imóvel. Só se admitem exigências que digam respeito à

ordenação da cidade, inseridas no Plano Diretor (Bastos, Martins, 1990, p. 216).

A Constituição Federal de 1988, no § 2º do artigo 182, estabelece que a

propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências

fundamentais de ordenação da cidade expressas no Plano Diretor.

Para Fiorillo, a função social da cidade só será cumprida quando proporcionar

aos seus habitantes uma vida com qualidade, propiciando de fato e de direito o

exercício dos direitos fundamentais em estrita consonância com o art. 225 da CF/88

(Fiorillo, 2008).

Derani (2005) entende que o art. 225 da Constituição Federal de 1988 inova

na abordagem dos recursos naturais, modificando a orientação da economia de

mercado. Afirma que, com eles nascem os princípios do direito ambiental, que

norteiam a construção do desenvolvimento sustentável que direciona a prática de

produção normativa.

O Estatuto da Cidade, Lei 10.257, de 10 de julho de 2001, entrou em vigor no

dia 10 de outubro de 2001 e regulamentou os artigos 182 e 183 da Constituição

Federal de 1988.

Com o advento do Estatuto da Cidade, a obrigação prevista na Constituição

de 1988 estipulou, para elaboração do Plano Diretor para os Municípios com mais

de vinte mil habitantes e os Municípios inseridos em região metropolitana, um prazo

limite de cinco anos contados a partir do início da vigência da Lei 10.257/01, período

que findava em 10 de outubro de 2006.

Inclusive o Art. 52 do Estatuto da Cidade prevê punição ao Prefeito que não

tomar as providências necessárias para o cumprimento de tal obrigação. Ele incorre

em improbidade administrativa nos termos da Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992.

Fiorillo esclarece que, a partir do Estatuto da Cidade, o uso da propriedade só

pode ser entendido à luz do que estabelecem os incisos III e IV do art. 1.º da CF

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(dignidade da pessoa humana em face da ordem jurídica do capitalismo) (Fiorillo,

2008).

Sarlet (2007) entende que os direitos fundamentais que integram o sistema

constitucional pátrio atual são a concretização do princípio fundamental da dignidade

da pessoa humana. E entende o autor que os direitos fundamentais estão

vivenciando o seu melhor momento na história do constitucionalismo brasileiro.

A Lei 10.257, Estatuto da Cidade, de 10 de julho de 2001, em seu Art. 2º

juntamente com seus incisos e alíneas, passa a dar as diretrizes gerais para a

política urbana e tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções

sociais da cidade e da propriedade urbana, garantindo a cidades sustentáveis o

direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana,

ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e

futuras gerações.

A gestão deve ser democrática, por meio da participação da população e de

associações representativas dos vários segmentos da comunidade, na formulação,

execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento

urbano.

Dallabrida (2007) afirma que devemos assumir a gestão territorial a partir de

estruturas de governança buscando a ampliação da prática democrática, não

podendo resumir-se a um regime político que contemple eleições livres apenas para

cargos políticos.

É fundamenta, no processo de urbanização, o atendimento ao interesse

social, a cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores da

sociedade, planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial

da população e das atividades econômicas do Município e do território sob sua área

de influência, de modo a evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus

efeitos negativos sobre o meio ambiente.

Na visão de Boisier (1996), o desenvolvimento regional trata de um processo

em curso:

a gestão regional se traduz em processos sistemáticos e permanentes de negociação para cima (principalmente com o governo nacional e secundariamente com os outros agentes externos), para os lados, ou seja, com o conjunto de gentes e atores propriamente regionais, e para baixo, com os municípios e outros atores da base social (Boisier, 1996, p. 129).

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67

A oferta de equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços

públicos deve ser adequada aos interesses e necessidades da população e às

características locais.

Além disso, a ordenação e controle do uso do solo deve ocorrer de forma a

evitar a utilização inadequada dos imóveis urbanos, a proximidade de usos

incompatíveis ou inconvenientes, o parcelamento do solo, a edificação ou o uso

excessivo ou inadequado.

Em relação à infra-estrutura urbana, a preocupação é evitar a instalação de

empreendimentos ou atividades que possam funcionar como pólos geradores de

tráfego, sem a previsão da infra-estrutura correspondente, a fim de evitar a retenção

especulativa de imóvel urbano que resulte na sua subutilização ou não utilização, a

deterioração das áreas urbanizadas, a poluição e a degradação ambiental.

Carvalho (2001) esclarece que o alcance social proposto pelos Planos

Diretores, tradicionalmente tratados como educação, saúde, habitação, assistência

social, transportes, devem referir-se a intervenções que busquem reduzir

desigualdades, segregações e exclusões sociais, contribuindo, em última instância,

para a expansão da cidadania. Nesse sentido, a interpretação do planejamento

urbano e o Plano Diretor devem ser vistos como instrumentos norteadores,

adquirindo o status de políticas públicas.

O Plano Diretor deve prever a integração e complementaridade entre as

atividades urbanas e rurais, tendo em vista o desenvolvimento socioeconômico do

Município e do território sob sua área de influência.

É imprescindível adotar padrões de produção e consumo de bens e serviços e

de expansão urbana compatíveis com os limites da sustentabilidade ambiental,

social e econômica do Município e do território sob sua área de influência,

juntamente com a justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do processo

de urbanização.

O Plano Diretor deve fazer a adequação dos instrumentos de política

econômica, tributária e financeira e dos gastos públicos aos objetivos do

desenvolvimento urbano, de modo a privilegiar os investimentos geradores de bem-

estar geral e a fruição dos bens pelos diferentes segmentos sociais; deve realizar a

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68

recuperação dos investimentos do Poder Público de que resulte a valorização de

imóveis urbanos.

O Poder Público promoverá a proteção, preservação e recuperação do meio

ambiente natural e construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico

e arqueológico, realizando audiências entre Poder Público Municipal e a população

interessada nos processos de implantação de empreendimentos ou atividades com

efeitos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou construído,

visando ao conforto ou à segurança da população.

Cabe ao Poder Público a regularização fundiária e urbanização de áreas

ocupadas por população de baixa renda, mediante o estabelecimento de normas

especiais de urbanização, uso e ocupação do solo e edificação, consideradas a

situação socioeconômica da população e as normas ambientais, simplificando a

legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo e das normas edilícias, com

vistas a permitir a redução dos custos e o aumento da oferta dos lotes e unidades

habitacionais.

Cabe ao Poder Público promover a isonomia de condições para os agentes

públicos e privados na promoção de empreendimentos e atividades relativos ao

processo de urbanização, atendido o interesse social.

Para Carvalho (2001), o planejamento urbano deve ser uma proposta social

que busca transformar a sociedade, garantir o bem-estar dos cidadãos, assim como

acesso ao uso da cidade. Ao administrar situações de conflito, deve atribuir para si

a responsabilidade pela administração de situações de conflito social e suas

soluções.

O atual Plano Diretor de Lajeado procurou se adequar ao Estatuto da Cidade,

objetivando o desenvolvimento urbano da Cidade de modo integrado e buscando

maximizar e obter a melhoria da qualidade de vida da população e o incremento do

bem-estar da comunidade.

O atual Plano Diretor pretende ordenar o crescimento físico, econômico,

social e administrativo, otimizando o aproveitamento dos recursos administrativos,

financeiros, naturais, culturais, juntamente com os agentes e atores do município.

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69

Além disso, procura suprir as necessidades da população para habitação,

trabalho, lazer, cultura, saúde e o convívio com a natureza, buscando a conservação

do patrimônio ambiental com a proteção ecológica e paisagística.

O município, através de seu Plano Diretor, procurou desenvolver uma política

integrada aos órgãos e entidades federais, estaduais e microrregionais, promovendo

a participação comunitária na busca de uma gestão democrática, participativa e

descentralizada, objetivando o uso e ocupação do solo, visando à função social da

propriedade urbana.

O acompanhamento da aplicação da legislação municipal fica a cargo do

Sistema Municipal de Planejamento, “SIMPLA”, responsável pela atualização

através do Plano Diretor Integrado de Lajeado, “PDDI”, assegurando por normas e

procedimentos orçamentários a aplicação de critérios técnicos, econômicos e

administrativos na busca de prioridades para o município planejar seu

desenvolvimento urbano, promovendo a integração dos planos e programas

setoriais.

Ficou assegurada à comunidade orientação sobre a aplicação e alterações da

legislação urbanística, mediante audiências públicas, buscando uma gestão

democrática nos preceitos do Art. 40, §4º, I do Estatuto das Cidades, Lei

10.257/2001.

Para um melhor planejamento do desenvolvimento urbano, o território do

Município de Lajeado foi dividido em Unidades Territoriais de Planejamento (UTP),

cuja função servirá de base de informação estatística, qualificando um determinado

espaço urbano conforme a população e densidade demográfica, o uso

predominante, os equipamentos urbanos, a relação com o meio ambiente, e o

patrimônio histórico e cultural.

A busca por um maior equilíbrio entre os níveis global e local tem como

objetivo atender as diretrizes físico-espaciais do desenvolvimento urbano, na

programação de recursos financeiros com sua implementação pelo Sistema

Municipal de Planejamento “SIMPLA”, e fica a cargo da Secretaria de Planejamento.

Para cooperar com o Sistema Municipal de Planejamento “SIMPLA”, foi criado

o Conselho de Política Urbana, cujas decisões ficam sujeitas à homologação do

Chefe do Executivo Municipal, composto por vinte membros titulares e seus

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suplentes, designados pelo Prefeito, com renovação bienal e com a seguinte

representação: dois membros da SEAVAT (Sociedade de Engenheiros e Arquitetos

do Vale do Taquari), dois membros do CREA/RS (Conselho Regional de Engenharia

e Agronomia do Rio Grande do Sul), um membro da OAB/RS (Ordem dos

Advogados do Brasil do Rio Grande do Sul), o Secretário do Planejamento da

Prefeitura Municipal, dois representantes do setor de Engenharia e Arquitetura da

Prefeitura Municipal, dois representantes da Secretaria de Meio Ambiente, um

representante da Secretaria de Administração, um representante da UAMBLA

(União das Associações de Moradores de Bairros de Lajeado), dois representantes

das Associações de Moradores de Bairros, um representante da ACIL (Associação

Comercial e Industrial de Lajeado), um representante da CDL (Clube de Diretores

Lojistas), um representante do Setor Imobiliário, dois representantes da Câmara

Municipal de Vereadores, um representante da Secretaria de Obras e Serviços

Urbanos.

A preocupação municipal é articular-se com os demais municípios, mediante

convênios, criando áreas comuns a fim de evitar a conurbação.

A comunidade, tanto pessoa física como jurídica, pode, através de

associações de moradores, a fim de promover seus interesses locais, intervir no

processo de planejamento, desde que tenha, em cada unidade territorial, seu

domicílio ou sede. Tais reivindicações deverão ser encaminhadas ao Conselho de

Política Urbana, mediante requerimento à Secretaria de Planejamento para a

respectiva convocação da audiência pública.

Um dos instrumentos a disposição da Administração Municipal para a

implementação do Plano Diretor é a desapropriação de imóveis urbanos, feita com

prévia e justa indenização em dinheiro, prevista no § 3º art. 182 da Constituição

Federal de 1988.

Conforme Bastos e Martins (1990),a exigência constitucional de a indenização

ter de ser prévia há de ser entendida em toda a sua latitude, obstando ao ente

expropriante a tomada do imóvel, ainda que a decisão judicial respectiva já tenha

transitado em julgado (Bastos, Martins, 1990).

Uma das faculdades do Poder Público Municipal, mediante lei específica para

área incluída no Plano Diretor, é de exigir, nos termos da lei federal, do proprietário

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do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu

adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de parcelamento ou

edificação compulsórios, imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana

progressivo no tempo, desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida

pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de

resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o

valor real da indenização e os juros legais (§ 4º, I, II, III art. 182 da CF/88).

O que ora se faculta ao Poder Público é uma seriação de medidas de cunho,

inequivocamente, coercitivo, que desembocam na possibilidade de uma

desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública (Bastos, Martins,

1990, p. 222).

O reconhecimento da usucapião, pelo ordenamento jurídico estatal, significa a

preocupação do Poder Público em acentuar a necessária preponderância do

interesse social, inerente à coletividade, sobre aquele de caráter meramente

individual e particular (Bastos, Martins, 1990, p. 227).

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 183, traz a previsão de que

aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinqüenta metros

quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua

moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário

de outro imóvel urbano ou rural.

O equilíbrio ambiental define efetivamente a diferença entre o direito pretérito

antes da CF/88 e o direito atual. O uso da propriedade está condicionado ao

ambiente cultural, ao meio ambiente do trabalho e ao meio ambiente natural e ao

meio ambiente artificial (Fiorillo, 2008, p. 42).

A garantia do direito a cidades sustentáveis (art. 2º,I), destinadas aos

habitantes em decorrência de cada um dos valores impostos ao Poder Público

municipal e, por via de conseqüência, direitos assegurados aos cidadãos (Fiorillo,

2008, p. 49).

Lenzi apud Richardson (1997), aponta críticas ao conceito desenvolvimento

sustentável utilizado pelos autores das Ciências Sociais, como sendo vago e

impreciso. Segundo esse autor, desenvolvimento sustentável não é apenas um

engano político; representa uma fraude, uma vez que tenta obscurecer a contradição

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entre a finitude da terra e o caráter expansionista da sociedade industrial (Lenzi,

2006, p. 3).

Para Corrêa (2003), é preciso considerar, entretanto, que a cada transformação

do espaço urbano, este se mantém simultaneamente fragmentado e articulado,

reflexo e condicionante social, ainda que as formas espaciais e suas funções

tenham mudado. Conforme o autor:

A complexidade da ação dos agentes sociais inclui práticas que levam a um constante processo de reorganização espacial que se faz via incorporação de novas áreas ao espaço urbano, densificação do uso do solo, deterioração de certas áreas, renovação urbana, relocação diferenciada da infra-estrutura e mudança, coercitiva ou não, do conteúdo social e econômico de determinadas áreas da cidade (Corrêa, 2003, p. 11).

Para Braga (1995), o Plano Diretor é um plano de diretrizes e metas,

contemplando o uso do solo urbano, o parcelamento do solo urbano, saneamento

básico, habitação e transportes urbanos, podendo e devendo tratar de assuntos

referentes à zona rural; deve ser democrático e transparente.

Villaça entende que o debate sobre o Plano Diretor deve vir de baixo para

cima, e não ser um evento ao qual a maioria comparece convidada pela minoria

(Villaça, 2005).

Os primeiros Planos Diretores no Brasil são basicamente uma imposição do

Governo Federal e, conforme Braga (1995), eram encarados pelos municípios como

instrumento útil apenas para conseguir financiamentos públicos. Lajeado não foge a

essa constatação.

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10 PRINCÍPIOS NORTEADORES DO PLANO DIRETOR

O Plano Diretor, sendo uma Lei Municipal por força do Art. 182 da

Constituição Federal de 1988, que prevê que a política de desenvolvimento urbano

será executada pelo Poder Público Municipal, deve ser norteado por princípios que

garantam o bem estar de seus habitantes, conforme elencados abaixo.

10.1 Funções sociais da propriedade

A Constituição Federal de 1988, no § 2º do artigo 182, estabelece que a

propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências

fundamentais de ordenação da cidade expressas no Plano Diretor.

A propriedade urbana, segundo Bastos e Martins (1990), não está sujeita a

uma modalidade qualquer de exigência feita em nome de uma teórica concepção do

que seja função social do imóvel. Só se admitem exigências que digam respeito à

ordenação da cidade, inseridas no Plano Diretor (Bastos, Martins, 1990, p. 216).

A função social da propriedade está condicionada às funções sociais da

cidade. Para que a propriedade imobiliária cumpra sua função social, deverá ser

utilizada como suporte de atividades ou usos de interesse do município.

A propriedade cumprirá sua função social quando o uso e ocupação forem

compatíveis com a oferta de infra-estrutura, saneamento e serviços públicos e

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comunitários, respeitando o direito de vizinhança, segurança do patrimônio público e

privado, preservando e recuperando o ambiente natural e construído.

10.2 Funções sociais da cidade

Para Fiorillo, a função social da cidade só será cumprida quando proporcionar

aos seus habitantes uma vida com qualidade, propiciando de fato e de direito o

exercício dos direitos fundamentais em estrita consonância com o art. 225 da CF/88

(Fiorillo, 2008, p. 42).

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso

comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público

e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras

gerações, reza o art. 225 da CF/88.

Para atingir seu objetivo de ordenar pleno desenvolvimento das funções

sociais da cidade, previsto do art.2º do Estatuto da Cidade, entende Fiorillo (2008)

que necessariamente deve se compatibilizar com a dignidade da pessoa humana

(art. 1º, III, da CF/88) a moradia, o trabalho e o consumo. O VIII do art. 2º do

Estatuto da Cidade ratifica como diretriz geral a adoção de padrões de produção e

consumo de bens e serviços e de expansão urbana compatíveis com os limites da

sustentabilidade ambiental, social e econômica do Município e do território sob sua

influência.

10.3 Sustentabilidade

Os Planos Diretores de Lajeado e da maioria das cidades brasileiras

passaram a incorporar o conceito de sustentabilidade a partir do advento do Estatuto

da Cidade, Lei 10.257/01.

Sustentabilidade, à luz da Constituição Federal de 1988 em seu Capítulo VI

do Meio Ambiente, no Art. 225, garante que todos têm direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia

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qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de

defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

O equilíbrio ambiental define efetivamente a diferença entre o direito pretérito

antes da CF/88 e o direito atual. O uso da propriedade está condicionado ao

ambiente cultural, ao meio ambiente do trabalho e ao meio ambiente natural e ao

meio ambiente artificial (Fiorillo, 2008, p. 42).

A garantia do direito a cidades sustentáveis (art. 2º,I), destinadas aos

habitantes em decorrência de cada um dos valores impostos ao Poder Público

Municipal e, por via de conseqüência, direitos assegurados aos cidadãos (Fiorillo,

2008, p. 49).

Para Corrêa (2003), é preciso considerar, entretanto, que a cada transformação

do espaço urbano, este se mantém simultaneamente fragmentado e articulado,

reflexo e condicionante social, ainda que as formas espaciais e suas funções

tenham mudado. Conforme o autor:

a complexidade da ação dos agentes sociais inclui práticas que levam a um constante processo de reorganização espacial que se faz via incorporação de novas áreas ao espaço urbano, densificação do uso do solo, deterioração de certas áreas, renovação urbana, relocação diferenciada da infra-estrutura e mudança, coercitiva ou não, do conteúdo social e econômico de determinadas áreas da cidade (Corrêa, 2003, p. 11).

10.4 Gestão participativa

A gestão participativa é um princípio que deve estar presente no processo de

elaboração e na gestão do Plano Diretor, e, no corpo do texto legal, deve se refletir

na previsão de um Sistema Municipal de Planejamento e Gestão.

Dallabrida (2007) ressalta que devemos assumir a gestão territorial a partir de

estruturas de governança, buscando a ampliação da prática democrática, não

podendo resumir-se a um regime político que contemple eleições livres apenas para

cargos políticos.

Na visão de Boisier (1996), a gestão regional se traduz em processos

sistemáticos e permanentes de negociação para cima (principalmente com o

governo nacional e secundariamente com os outros agentes externos), para os

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76

lados, ou seja, com o conjunto de gentes e atores propriamente regionais, e para

baixo, com os municípios e outros atores da base social.

Para Carvalho (2001), o alcance social proposto pelos Planos Diretores,

tradicionalmente tratados, deve referir-se a intervenções que busquem reduzir

desigualdades, segregações e exclusões sociais, contribuindo, em última instância,

para a expansão da cidadania. Neste sentido a interpretação do planejamento

urbano e o Plano Diretor devem ser vistos como instrumentos norteadores,

adquirindo o status de políticas públicas.

Para Braga (1995), o Plano Diretor é um instrumento eminentemente político,

cujo objetivo deve ser de dar transparência e democratizar a política urbana; é

necessário que haja equilíbrio entre o aspecto técnico e políticas de planejamento.

O Plano Diretor para Braga (1995), é um plano de diretrizes e metas,

contemplando o uso do solo urbano, o parcelamento do solo urbano, saneamento

básico, habitação e transportes urbanos, podendo e devendo tratar de assuntos

referentes à zona rural; deve ser democrático e transparente.

A gestão participativa deve ser buscada na construção e implementação,

Villaça entende que o debate sobre o Plano Diretor deve vir de baixo para cima e

não ser um evento ao qual a maioria comparece convidada pela minoria (Villaça,

2005, p. 93).

Os princípios elencados acima devem ser buscados e estar contidos no Plano

Diretor, pois, com o envolvimento da maioria ou de todos os cidadãos, será possível

uma gestão participativa, buscando-se uma cidade que cumpra sua função social

cuja propriedade também cumpra a sua função social, atingindo desta maneira a

sustentabilidade com relação ao meio ambiente, prevista na nossa Carta Maior.

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11 A PROBLEMÁTICA AMBIENTAL E OS PLANOS DIRETORES D E

LAJEADO

O objetivo deste capítulo é analisar a problemática ambiental com a visão de

autores que tratam do tema, resgatando e traçando no tempo um paralelo de como

se deu a relação do homem com o ambiente e os Planos Diretores da Cidade de

Lajeado.

O tema começou a preocupar os políticos há cerca de 25 anos. A primeira

grande manifestação internacional foi a conferência de Estocolmo, em 1972, e a

entrada do tema nas ciências sociais, também na década de 1970. De acordo com

Sachs (2000), não pode haver política ambiental bem sucedida se ela não for

organicamente ligada a uma política de progresso social, desenvolvimento e meio

ambiente.

11.1 O primeiro Plano Diretor de Lajeado e a proble mática ambiental

A preocupação maior do primeiro Plano Diretor, de 1973, era ajustar o

crescimento físico-territorial e a estrutura jurídica legal. Ele foi produzido pela equipe

do SERFHAU e aprovado pela Câmara de Vereadores. Sua preocupação não era o

meio ambiente, mas sim o aspecto jurídico legal.

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Friza o coordenador da equipe do SERFHAU (1973), o advogado Gerson Luiz

Joner da Silveira, que as decisões devem ser tomadas por critérios técnico-

científicos sobre o empírico, através da Lei de Zoneamento Lei 2.732, de 18 de

março de 1974, que cortará a atual desorganização urbanística, sendo que uma das

principais causas é a ausência de legislação urbanística adequada (PMDI Vol. 5.

Justificativa pg. 1).

11.2 O segundo Plano Diretor de Lajeado e a problem ática ambiental

Já no segundo Plano Diretor de Lajeado, o município teve que adaptar-se à

Lei Federal 6.766/79, que trata sobre o parcelamento do solo urbano, através das

funções previstas no primeiro Plano Diretor, para melhor dispor acerca do espaço

urbano local.

Na década de 1970, em termos nacionais, o problema que precisava ser

enfrentado eram os loteamentos clandestinos e irregulares, que proliferavam nos

grandes centros urbanos, causando sérios danos ao meio ambiente, culminando

com a aprovação da Lei Federal 6.766/79. Diamond (2007) salienta que as

sociedades freqüentemente não conseguem resolver um problema uma vez

detectado, e a referida Lei tenta mudar esta situação.

Em 19 de dezembro de 1979, é aprovada Lei Federal 6.766, que dispõe sobre

o parcelamento do solo urbano, numa tentativa do Governo Federal de enfrentar o

problema das invasões e a desorganização urbanística. Como conseqüência disto,

os Municípios foram forçados a se adaptar à nova legislação. O parágrafo único do

art. 1º da Lei 6.766/79 prevê que os Municípios poderão estabelecer normas

complementares relativas ao parcelamento do solo municipal para adequar o

previsto nessa Lei às peculiaridades regionais e locais.

Na década de 1970, era comum pessoas ocuparem áreas verdes para

construírem suas casas. Segundo Diamond (2007), por analogia ao problema

levantado, alguns indivíduos avaliam corretamente que podem agir em seu próprio

benefício através do comportamento nocivo para outras pessoas, o que os cientistas

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denominam de comportamento racional, porque envolve raciocínio correto, embora

possa ser moralmente repreensível, em especial se não houver lei contra isso ou se

ela não for aplicada efetivamente.

Para adaptar-se à Lei Federal 6.766/79, o Município inseriu no Capítulo III da

Lei do segundo Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, Lei nº 4.788, de 05 de

junho de 1992, a legislação referente ao Parcelamento do Solo Urbano, não

possuindo desta forma Lei específica sobre o tema.

O Capítulo III da Lei do segundo Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado

é dedicado ao Parcelamento do Solo Urbano, contemplado nos artigos 126 até 168.

Este Capítulo III do segundo Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado está

embasado e adequado à Lei Federal 6.766 de 19/12/79, que dispõe sobre o

parcelamento do solo urbano, em seus artigos e na sua abrangência.

A malha rodoviária da Cidade de Lajeado, não contemplada de forma

abrangente no primeiro Plano Diretor, já apresentava sinais de esgotamento. Em

1992, no segundo Plano Diretor este aspecto passa a ter maior atenção das

autoridades. Diamond (2007) destaca que a circunstância mais comum sob a qual

as sociedades não conseguem resolver um problema é quando este problema toma

a forma de uma tendência, oculta por grandes e freqüentes variações.

A malha rodoviária existente na Cidade de Lajeado precisava ser pensada,

planejada e expandida, pois o número de veículos e a necessidade de transporte

coletivo para atender a demanda local eram crescentes.

O trânsito, com o crescimento da Cidade, precisava estar incluído entre as

prioridades no segundo Plano Diretor de 1992, pois estavam se deteriorando, aos

poucos, as condições de trafegabilidade. A cada ano sucessivo, estava em média

ligeiramente pior do que o anterior, de modo que o padrão básico daquilo que

constitui a normalidade piorava gradualmente a cada ano. Percebe-se que, no

segundo Plano Diretor, o meio ambiente ainda não era prioridade, o que vem a

ocorrer somente na edição do terceiro Plano Diretor.

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11.3 O terceiro Plano Diretor de Lajeado e a proble mática ambiental

O terceiro Plano Diretor da Cidade de Lajeado, promulgado pela Lei nº 7.650,

em 10 de outubro de 2006, foi criado por força da Constituição Federal de 1988,

que, em seus artigos 182 e 183, passa a dar diretrizes sobre a política urbana do

país.

O Art. 182 da Constituição Federal de 1988 prevê que a política de

desenvolvimento urbano será executada pelo Poder Público Municipal e, conforme

diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento

das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.

O Constituinte atribuiu competência especial aos municípios para execução

da política urbana, a cargo do Poder Público Municipal. Com o advento do Estatuto

da Cidade. A obrigação prevista na Constituição de 1988 estipulou um prazo limite

de cinco anos para elaboração do Plano Diretor para os Municípios com mais de

vinte mil habitantes e os Municípios inseridos em região metropolitana, contados a

partir do início da vigência da Lei 10.257/01, período este que findava em 10 de

outubro de 2006.

No terceiro Plano Diretor, por força da legislação federal Lei 10.257/01, o

Estatuto da Cidade passa a dar uma maior importância ao meio ambiente tentando

evitar o que Diamond (2007) denomina de normalidade deslizante, ou amnésia de

paisagem, que é a dificuldade das pessoas em lembrar como eram as coisas antes

de determinado fato. São uma importante razão pela qual as pessoas não percebem

um problema em curso até ser tarde demais. O meio ambiente, por força da

legislação agora em todos os níveis do poder público é tema constante, integrando o

terceiro Plano Diretor da Cidade de Lajeado.

Segundo Sachs (2000), o Brasil foi um dos primeiros países a incluir um

capítulo sobre o meio ambiente na Constituição de 1988, o que não é suficiente para

que esses princípios sejam respeitados, mas tê-los na Constituição certamente

ajuda.

A preocupação com o meio ambiente passa a integrar o terceiro Plano Diretor

de 2006, delimitando com mais clareza os espaços urbanos, norteando a expansão

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destes espaços com a preocupação ambiental antes não observada com tanta

intensidade nos Planos Diretores anteriores.

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12 CONTEXTO SOCIOAMBIENTAL CONTEMPORÂNEO E A CIDADE

DE LAJEADO

A mula, para Le Corbusier (2000), traçou todas as cidades do continente

europeu, infelizmente para o autor a cidade de Paris também. Na encruzilhada das

estradas, à beira da água, construíram-se as primeiras choças, as casas se

alinharam ao longo das estradas, ao longo dos caminhos das mulas. Desta maneira

eram desenhadas as configurações espaciais das cidades inclusive Lajeado.

As configurações espaciais da Cidade de Lajeado obedecem a uma lógica

evolutiva que reflete o pensamento de cada período histórico. O contexto

socioambiental também não foge a esta lógica. Seus Planos Diretores passam a

incorporar, por força da legislação, estes ideais socioambientais e considerá-los.

A Cidade de Lajeado não fugiu à regra. Segundo Ferri (2000), o Rio Taquari

serviu como “estrada líquida” por onde chegaram os primitivos colonizadores; eles

se estabeleceram em suas margens, que serviram inclusive para o escoamento dos

produtos.

Quando os irmãos João e José Inácio Teixeira, por volta de 1801, construíram

galpões para abrigo dos peões, escravos e seus feitores, objetivando a exploração

de madeira e erva-mate destinadas ao mercado de Porto Alegre, onde moravam, o

povoamento de Lajeado teve início, conforme Schierholt (1993).

Passados dois séculos da ocupação territorial, que vai do primeiro período da

ocupação, em 1801, até o ano de 2006, os agentes sociais que mais contribuíram

para a alteração do espaço urbano foram os proprietários das terras e o poder

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público municipal. Os proprietários das terras, pela exploração dos recursos naturais

disponíveis; já o poder público municipal, por alterar os espaços visando acomodar

as necessidades crescentes da população por moradia e infra-estrutura básicas,

como transporte, saúde e educação.

Lajeado, no período de 1801 a 2006, não incluía em sua pauta de prioridades

o meio ambiente. O ambiente político-cultural, como configuração contemporânea,

pode ser pensado, segundo Carvalho (2002), no âmbito do movimento contracultural

e do ideário emancipatório dos anos 60, quando surgem os movimentos ecológicos.

Em relação ao contexto socioambiental contemporâneo, para Carvalho (2002)

as novas compreensões do ambiental se dão à luz de uma tradição que antecede e

constitui seu horizonte histórico mais abrangente, afetando o fenômeno ambiental

contemporâneo e suas condições de emergência como fato social contemporâneo,

sendo estas preocupações inseridas com mais objetividade apenas no terceiro

Plano Diretor da Cidade de Lajeado, por força da legislação federal, a Lei 10.257/01,

o Estatuto da Cidade.

Para Carvalho (2002) trata-se de uma problemática eminentemente ética,

uma vez que, na modernidade, tornou-se impossível assegurar uma idéia única de

bem viver. Esse ideal legitima-se sobre bens particulares.

O crescimento urbano da Cidade de Lajeado seguia a lógica de todas as

cidades. Carvalho (2002) destaca que a natureza é entendida como domínio do

selvagem, esteticamente desagradável, em contraposição à civilização. É a

interpretação que está na base do “ethos” moderno antropocêntrico. A idéia de

civilidade e cultura era construída como pólo oposto da esfera associada à natureza,

ao selvagem, à ignorância. A civilização estava associada a valores ilustrados como

cultivo polimento, progresso e razão. É neste momento que se constrói

historicamente a representação da natureza como lugar da rusticidade, do

selvagem, do obscuro e do feio. A cidade, contraponto da natureza selvagem, se

apresentava como lócus da civilidade, o berço das boas maneiras e da sofisticação;

sair da floresta e ir para a cidade era um ato civilizatório. Lajeado atrai as pessoas

por ser um pólo regional diversificado. Estão presentes a educação, serviços,

empregos e a saúde. As pessoas, na busca das atrações que a cidade oferece, vão

forçando um crescimento constante do espaço urbanizado.

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Lajeado segue o modelo que Schumpeter (1982) citado por Dupas (2008)

definiu, ao dizer que a evolução tecnológica é como o motor indutor de um

permanente impulsor para frente do capitalismo. Simultaneamente as tecnologias

destroem e criam o que autor chama como uma força de destruição criativa na

economia, sendo a acumulação a conseqüência desse processo que garantiria o

constante crescimento econômico. A expansão urbana está inserida nesta

concepção, com a criação de novos espaços urbanizados, valorizando e novo e

desvalorizando o velho.

A maior dificuldade é encontrar um sistema alternativo que, de acordo com

Dupas (2008), bem ou mal mantém a máquina da economia em movimento,

encontrar alternativas ao sistema de produção industrial que funciona como uma

máquina que engole maciçamente recursos não renováveis, expelindo gases,

dejetos e moléculas químicas tóxicas, esta é a grande questão que ainda precisa ser

respondida. Ordenar o espaço urbano através do Plano Diretor é uma maneira de

pelo menos tentar proteger o meio ambiente, ordenando o pleno desenvolvimento

das funções sociais da cidade e garantindo o bem-estar de seus habitantes.

A cidade de Lajeado, por força da legislação federal e em função das suas

atividades econômicas, procurou no terceiro e atual Plano Diretor direcionar a

distribuição espacial da população e do território sob sua área de influência, de

modo a evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos

negativos sobre o meio ambiente, alinhando-se com o contexto socioambiental

contemporâneo.

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13 OS VETORES DA EXPANSÃO URBANA DE LAJEADO

Selhorst et. al (2000) (FIGURA 5) observa que na década de 50, a ocupação

urbana da Cidade de Lajeado toma corpo. Seu núcleo urbano, correspondendo

diretamente às modificações na densidade demográfica, cresceu numa taxa anual

de 5% ao ano. O crescimento é periférico e contínuo destacando-se a direção norte,

induzida pelas rodovias de acesso a Passo Fundo via Encantado e Soledade e pelo

favorecimento topográfico, já que as demais são limitadas pela hidrografia.

Conforme o autor:

A cidade por sua vez, começa a abrigar esse contingente populacional com um acréscimo também nas suas funções, que neste momento começam a ser incrementadas pelo setor industrial. A navegação perde o seu apogeu, do mesmo modo que as estradas vão ganhando importância, visto as melhorias na infra-estrutura que dão melhores condições de acesso por terra. Principalmente as ligações à Passo Fundo (via Encantado) e à Soledade (Selhorst et. al, 2000, p. 2-3).

No Brasil, segundo o historiador e sociólogo Branco (2009), em 1964, com o

início do Governo Militar, o planejamento passa ser elaborado através de critérios

técnicos e especializados. Tudo que tivesse cunho ideológico e populista contrário

ao regime dominante precisaria ser apagado; planejar era a palavra de ordem.

Neste contexto, com a difusão das tecnologias, as necessidades de consumo

passam a ter escala global. Santos (2008) vê a unicidade das técnicas e a

convergência dos momentos, a mais-valia no nível global contribui para o processo

de internacionalização para o autor tudo se mundializa: produção, dinheiro, o crédito,

a dívida, o consumo, a política e a cultura. Este motor único o autor chama de

globalização.

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De acordo com Branco (2009), entre 1969 e 1973, no governo do presidente

da República Emilio Garrastazu Médice, a economia brasileira registrou taxas de

crescimento que variavam em média 12 por cento ao ano.

Entre 1969 e 1973, a expansão do setor industrial e as exportações agrícolas

aumentaram significativamente, gerando milhões de novos postos de trabalho. O

governo federal, para sustentar e ampliar o desenvolvimento e crescimento da

economia, investia vultosas somas de recursos financeiros em infra-estrutura,

construção de hidrelétricas, estradas e pontes.

Esse período da economia brasileira ficou conhecido como o "milagre

econômico". A Cidade de Lajeado, considerada ponto estratégico com localização

geográfica privilegiada, é beneficiada por este processo desenvolvimentista, com a

construção da BR 386.

No ano de 1969, com a construção da BR 386, uma inegável contribuição

para esse desenvolvimento, a locação da rodovia gerou no sítio urbano a

especulação imobiliária, que levou a valorizar grandemente aquele eixo.

O apoio à produção agropastoril cede espaço à industrialização e ao comércio

e serviços, principalmente de apoio ao setor de transportes. Segundo Selhorst et. al

(2000), um fator externo que contribuiu sobremaneira no desenvolvimento de

Lajeado, foi a BR 386 "antiga RS 13", que une a capital, Porto Alegre, à região da

produção, Nordeste-Noroeste do Estado, ficando conhecida por "Estrada da

Produção". A rodovia atravessou a Cidade, nesta época, perifericamente.

O eixo principal de crescimento urbano (Norte-Sul) tem sua direção invertida para Leste-Oeste (paralelo à BR 386), proporcionando uma nova configuração à malha urbana. O primeiro caracterizado pelos usos de comércio e serviços (principalmente varejista) e o segundo pelas atividades industriais, de comércio e prestação de serviços de apoio ao transporte rodoviário (Selhorst et. al, 2000, p. 4).

Historicamente, Selhorst et. al (2000) verificam que a ocupação urbana de

Lajeado, o uso comercial e de serviço tendeu a concentrar-se pelas ruas Benjamin

Constant, Júlio de Castilho e Avenida Senador Alberto Pasqualini, também junto às

rodovias; nas proximidades do eixo norte-sul, o uso industrial apresenta maior

concentração junto às rodovias.

Santos (2008) observa e reconhece o aumento espetacular do crescimento

numérico da população urbana brasileira. A residência dos trabalhadores agrícolas é

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cada vez mais urbana, a agricultura moderna repele os pobres, os espaços urbanos

passam a atrair os trabalhadores da agricultura capitalizada.

Quando se excluem as quadras residenciais, Selhorst et. al (2000) verifica

que, junto ao eixo urbano norte-sul, predominam as de uso misto, enquanto junto às

rodovias a ocorrência maior é das quadras predominantemente comerciais,

industriais e de serviços. Isso aponta para uma maior diversificação de funções no

centro da Cidade.

Selhorst et. al (2000) observam que, na área urbana de Lajeado, o uso

residencial predomina (66,02%), seguido do comercial (17,04%), da prestação de

serviço (9,50%) e do industrial (7,44%).

Para Corrêa (2003), as áreas urbanas, são o conjunto de diferentes usos da

terra justapostos entre si. Tais usos definem áreas, como centro da cidade, local de

concentração de atividades comerciais, de serviços e de gestão, residencial,

industrial e aquelas reservadas para futura expansão e lazer.

Santos (1989) destaca que existem diversas cidades dentro da cidade, o que

ele chama de morfologia do tecido urbano, resultado da oposição entre níveis de

vida e entre setores de atividades econômicas e entre classes sociais e o conjunto

de aspectos materiais, através dos quais a cidade se apresenta aos nossos olhos,

ao mesmo tempo como entidade concreta e como organismo vivo.

O fenômeno urbano, conforme Pesavento (2007), materializa-se pelo visível,

o que reconhecemos imediatamente, visualizado de forma bem distinta da realidade

rural. É algo criado pelo homem, como sua obra ou artefato, suas ruas

movimentadas, o povo a habitá-la, a compor um tecido sempre renovado de

relações sociais.

As características descritas pelos autores elencados acima mencionam a

existência de duas realidades que se opõem. Conforme Reis (2006),

simultaneamente a profundas alterações sócio-espaciais, observa-se a modificação

da característica primária que constitui o embasamento dessa visão: o campo passa

a abrigar de forma expressiva as atividades do tipo não agrícolas.

Para Reis (2006) a indústria fez a cidade expandir e desencadear o processo

de urbanização extensiva, com a incorporação das periferias, mais ou menos

distantes, pelo tecido urbano.

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Lajeado passa também por esse crescimento. A industrialização da

agricultura e o transbordamento do urbano nas áreas rurais sugerem, segundo Reis

(2006), que a transição entre os espaços rurais e urbanos deve ser entendida de

acordo com a formulação teórica do espaço continuum. Nessa perspectiva, a

polarização antagônica é substituída por um gradiente de variações espaciais.

FIGURA 5 - Os vetores do crescimento do município de Lajeado/RS

Fonte: Cadastro técnico municipal de Lajeado/RS

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14 ESTRUTURAS DE GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO DA CIDAD E

DE LAJEADO/RS

O debate sobre estruturas de gestão do desenvolvimento é atual e apresenta

diferentes enfoques. O desenvolvimento de Lajeado é uma realidade ainda pouco

analisada através da legislação. A verificação do planejamento tático e operacional

precisaria operar de forma conjunta à dinâmica de outras estruturas de governança

territorial constituídas sob a forma de espaços de colaboração público-privada,

como, por exemplo, a experiência do Conselho de Desenvolvimento Econômico do

Município e o Conselho Municipal de Urbanismo.

Infelizmente, de acordo com Dallabrida (2004), constata-se que a cooperação

intermunicipal para o desenvolvimento local/regional ainda é incipiente e inexistem

relações de integração significativas entre as diferentes institucionalidades.

A literatura contemporânea aponta que a cooperação entre pessoas,

organizações sociais, empresas ou governos tem sido uma prática utilizada ao longo

da história do homem. Para Dallabrida (2004) problemas de difícil solução

encontram na cooperação a energia necessária para serem enfrentados. Dallabrida

(2004) entende que a cooperação é uma alternativa viável para o desenvolvimento e

execução de projetos e ações para os quais os pequenos e médios municípios, de

forma isolada, não teriam estrutura técnica e financeira.

Através da análise da legislação, percebe-se a preocupação dos

representantes da Cidade de Lajeado com o desenvolvimento, buscando positivar

seus atores e agentes, que variam de acordo com determinada época histórica.

Parte-se da hipótese de que a legislação possa constituir-se em instrumento

de planejamento tático e operacional das ações de desenvolvimento local,

articuladas em estruturas de governança territorial com o caráter de espaços de

colaboração público-privada.

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A Lei 689, de 18 de março de 1958, cria o Conselho Municipal de Urbanismo,

sancionado pelo então Prefeito Municipal de Lajeado, Mário Lampert. A competência

desse conselho era ajudar na elaboração e execução do Plano Geral de

Urbanização, realizando estudos sobre a organização das sedes distritais e sugerir a

arborização das vias e logradouros públicos.

Era composto pelo Prefeito Municipal, um representante do Comércio e

Indústria, um representante do Rotary Club, um representante da imprensa, um

representante da classe cultural ou artística, além dos considerados assessores

permanentes, como o médico chefe do hospital local, o agrônomo representante da

secretaria da agricultura, o chefe dos serviços industriais da prefeitura e um

especialista em urbanismo.

Em 27 de setembro de 1957, Mario Lampert, Prefeito Municipal, sancionou a

Lei 661, que dispunha sobre as exigências para aprovação do plano e das plantas

de loteamento de terrenos.

Em 28 de abril de 1964, o então Prefeito Municipal da Cidade de Lajeado,

Dalton de Bem Stumpf, sancionou a Lei Municipal 1.111/1964, criando o Conselho

de Desenvolvimento Econômico do Município, cuja principal finalidade era incentivar

um interesse mais acentuado na evolução do parque industrial, através de uma

propaganda eficaz, prestando todo e qualquer auxílio aos cidadãos que estivessem

propensos a instalar indústrias no Município de Lajeado, no que tange ao

desembaraço junto às repartições públicas, asseverava o artigo 2º da referida Lei.

A preocupação em cooperar por tratar-se de ato pessoal, presente em nosso

dia-a-dia, no qual muitas vezes agimos de forma inconsciente, pode também ser um

ato coletivo e organizado, que produz resultados sociais, econômicos ou políticos.

A importância da cooperação em nossas atividades é fundamental, pois

muitas das nossas tarefas diárias não poderiam ser realizadas, ou então, se

tornariam desgastantes com uma absorção bem maior de tempo, capital financeiro e

energia.

A cooperação está presente nas diversas relações sociais. A Lei Municipal

1.111/1964, criando o Conselho de Desenvolvimento Econômico do Município,

evidencia a preocupação do poder público da época, juntamente com a sociedade

organizada, com o desenvolvimento industrial do Município, procurando agregar as

forças econômicas, sociais e políticas para o desenvolvimento de projetos públicos

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ou privados, dentre outros, visando à expansão industrial de Lajeado, para alcançar

um objetivo que individualmente seria quase inatingível.

Sua composição foi assim redigida no Art. 4º: O Conselho de

Desenvolvimento Econômico do Município será presidido pelo Senhor Prefeito

Municipal, na qualidade de membro nato, e terá a seguinte composição: Gerentes

dos estabelecimentos bancários, Chefe da CREIA do Banco do Brasil, Chefe do

Escritório da ASCAR (Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural),

Representante da Associação Rural, Representante da Associação Comercial,

Representante da ACVAT (Associação dos Caixeiros do Vale do taquari),

Representante do Rotary Club, Representante do Lions Club, Vigário da Paróquia e

Pastor da Comunidade Evangélica.

Na análise da Lei Municipal 1.111/1964, criando o Conselho de

Desenvolvimento Econômico do Município, Dallabrida (2004) apud Nisbet (1974)

destaca que a cooperação é vista como estrutura institucional que se manifesta

através da legislação, com o propósito de colaborar na consecução de um objetivo

dado.

Tratar-se-á da cooperação contratual entre entes locais, que se efetiva

através de acordo de vontades devidamente formalizado, decorrente de lei e, para

sua efetivação, antes, deve estar presente o espírito de cooperação nos agentes

políticos que irão formalizar o pacto de cooperação.

Martins (1995) citado por Dallabrida (2004) afirma que, por causa das suas

limitações, o ser humano busca, por meio da cooperação com seus semelhantes, a

conjugação de esforços para atingir objetivos que, individualmente, não teria

condições de atingir. Essa necessidade básica de cooperação poderá ser atendida

por organizações. Estas organizações, em 1964, eram constituídas pelos gerentes

dos estabelecimentos bancários, Chefe da CREIA do Banco do Brasil, Chefe do

Escritório da ASCAR, Representante da Associação Rural, Representante da

Associação Comercial, Representante da ACVAT, Representante do Rotary Club,

Representante do Lions Club, Vigário da Paróquia e Pastor da Comunidade

Evangélica.

O governo municipal ficava na maioria das vezes com a função administrativa

e de fomento na relação de cooperação. A cooperação que se percebe em Lajeado

é reflexo do Estado brasileiro, decorrente de uma sucessão de fatos políticos e

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administrativos ocorridos ao longo da história, especialmente, para Dallabrida

(2004), a formação do nosso sistema federativo, o processo de

centralização/descentralização político-administrativa e a fragmentação territorial

decorrente da criação de novos estados e municípios.

Através da verificação da participação na gestão pública e estruturas de

gestão do desenvolvimento, verifica-se no parágrafo único do Art. 4º que poderiam

ser convidados para fazerem parte do Conselho de Desenvolvimento Econômico do

Município até cinco convidados especiais, a critério dos seus membros,

representando as classes conservadoras e observando-se sempre que o total dos

membros do CODEM seja ímpar.

Em relação à descentralização da gestão pública, se a soberania reside no

povo de um país, cada indivíduo constitui parte igual desta e, por conseqüência, tem

igual direito de participar, mesmo admitindo a necessidade do Estado como poder

regulador.

Muitos desses pressupostos, em 1964, não faziam parte da idéia de

cooperação. Os legisladores, certamente influenciados pelos fatos da época, não

incluíam tais princípios, e só passaram a incluir nas legislações mais recentes o

sistema federativo, regime político que prevê o princípio da autonomia administrativa

da União, Estados e Municípios, contemplando a participação cidadã na escolha de

seus governantes. Mas é na Constituição de 1988 que o princípio da

descentralização da gestão pública se manifesta mais claramente.

Comparando com a Constituição Estadual, elaborada a partir de 1989, já a

com a influência da Constituição Federal de 1988, atendendo aos princípios da

descentralização e da participação cidadã na gestão pública, percebe-se o

pioneirismo da Lei Municipal 1.111/1964, criando o Conselho de Desenvolvimento

Econômico do Município. Apenas em 1994 foi promulgada a Lei que previu a

organização de conselhos em cada região, chamados de Conselhos Regionais de

Desenvolvimento.

Na sua origem, os Conselhos Regionais de Desenvolvimento têm entre seus

objetivos efetivar a descentralização das decisões de planejamento do governo,

oportunizando à sociedade organizada participar na proposição de estratégias de

desenvolvimento regional. E, a partir de 2003, foi proposta a criação de Conselhos

Municipais de Desenvolvimento em cada município.

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Em 17 de outubro de 1967, entra em vigor a Lei 2.240, revogando a Lei

1.111/1964, assinada pelo Prefeito Dalton de Bem Stumpf, alterando a sigla para C.

D. C. Conselho de Desenvolvimento Comunitário. Na previsão no Art. 2º, destaca

que incumbe ao Conselho de Desenvolvimento Comunitário realizar estudos sobre o

desenvolvimento econômico, social e urbanístico do Município, estudar e propor

medidas que proporcionem a incrementação do turismo, apresentar ao Governo

Municipal subsídios para o equacionamento dos problemas de desenvolvimento do

Município, promover a difusão da cultura e o estudo da história do Município, opinar

sobre assuntos de sua competência.

Traz no seu Art. 3º da Lei 2.240 de 1967 uma nova composição, conforme

segue: O conselho de Desenvolvimento Comunitário será constituído por 10 (dez)

membros efetivos e 2 (dois) membros natos, representados pela Comunidade

Católica e pela Comunidade Evangélica de Lajeado.

A composição está prevista no parágrafo 1º e inciso I do Art. 3º, conforme

segue: um representante do Poder Executivo, um representante do Poder

Legislativo, um representante da Associação Comercial e Industrial de Lajeado, um

representante da Associação dos Caixeiros Viajantes Alto Taquari, um representante

do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lajedo, um representante do Rotary Club

do Lajeado, um representante do Lions Club de Lajeado, um representante da

Câmara Júnior de Lajeado, um representante da Associação dos Engenheiros

Agrônomos do Alto Taquari, um representante da Comissão Municipal da L.B.A

(Legião Brasileira de Assistência).

Em seu parágrafo 2º do Artigo 3º, estabelece que os membros do Conselho

serão nomeados pelo Prefeito Municipal para mandato de 2 (dois) anos, permitindo-

se a renovação e recondução, todos indicados oficialmente pelas respectivas

entidades, que indicarão também o respectivo suplente. O mandato será exercido

gratuitamente, sendo considerados munus público, como é a previsão do parágrafo

3º do Artigo 3º.

O município de Lajeado assume uma gestão do desenvolvimento a partir de

estruturas de governança territorial, buscando a prática democrática, na sua

dimensão representativa, a necessidade de estruturas de governança associada à

democracia representativa.

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A Cidade de Lajeado buscou seu desenvolvimento em uma cultura

democrática representativa, com seus atores sociais capazes de desenvolver formas

de organização e recursos estratégicos que lhes permitam definir seus processos de

negociação e construção de projetos de interesses comum.

Lajeado, através da Lei Municipal 1.111/1964, que criou o Conselho de

Desenvolvimento Econômico do Município, dá condições favoráveis para a

expressão e participação indispensável de representação e negociação, permitindo

a interação representativa da sociedade para definir as prioridades a partir das

demandas expressadas e negociadas com os demais participantes.

O conceito de governança passa a ser utilizado em publicações

internacionais, principalmente a partir da década de setenta, em meio à necessidade

de novos argumentos para discutir os limites do Estado, que, segundo Dallabrida

(2004) citando Prats (2003), se mostrava incapaz de fazer frente às necessidades de

crescimento de uma cidadania acostumada com altos níveis de bem-estar.

Dallabrida (2004) cita Strom e Müller (1999), que definem governança como

processos de interação entre atores estratégicos. São os que contam com recursos

de poder suficiente para impedir ou perturbar o funcionamento das regras ou

procedimentos de tomada de decisão e de solução de conflitos coletivos; são atores

com poder de veto sobre uma determinada política.

A cooperação, instrumento presente na legislação dos Conselhos de

Desenvolvimento Municipal, nos remete, necessariamente, a uma reflexão sobre

tema, a descentralização político-administrativa e as formas como esta foi

processada ao longo da história.

O Brasil constituiu-se formalmente em 7 de setembro de 1822, com a

proclamação da independência. Sua primeira Constituição, promulgada em 1824,

tem a monarquia como forma de governo.

A característica era o falta de poder local, e a centralização nas mãos do

governo nacional, anulando o poder dos chefes políticos regionais, nutria o espírito

republicano e foi um dos aspectos propulsores do federalismo brasileiro, em 1889,

pelo Decreto nº 1, de 15 de novembro, conforme, artigo 5º do referido decreto.

Na vigência da Constituição de 1891, até 1934, há a configuração de um

federalismo dual entre a União Federal e os Estados-Membros. A partir da

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Constituição de 1934, inicia-se a estruturação do federalismo cooperativo, criando-

se mecanismos de cooperação governamental e a definição da autonomia

municipal, retroagindo com o golpe de 1937, retomando-se uma prática político-

administrativa unitarista.

Com a deposição de Vargas, em 1945, o processo do federalismo

cooperativo é retomado. Dallabrida (2004) citando Bercovici (2004), com relação ao

novo paradigma constitucional, assim refere: “A Constituição de 1946 consolidou a

estrutura cooperativa no federalismo brasileiro, prevista já em 1934, com grande

ênfase na redução dos desequilíbrios regionais, favorecendo, apesar do esforço do

poder federal, a cooperação e a integração nacional”.

O processo democrático e o federalismo sofrem nova interrupção em 1964

com o golpe militar, que durou até 1985. A centralização das decisões caracteriza

todo este período.

A democracia e o revigoramento do federalismo foram restabelecidos em

1988, com a promulgação da nossa Carta Maior, cujo artigo primeiro estabelece que

A República Federativa do Brasil é formada pela União indissolúvel dos Estados e

Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito;

também em seu art. 18 estabelece, a organização político-administrativa

compreendendo a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos

autônomos, nos termos desta Constituição.

A partir de 1988, por força da Constituição Federal, com a autonomia dos

entes federados, União, Estados e Municípios, o princípio da descentralização,

marca do federalismo, está caracterizada na distribuição de competências, tanto

material como normativa.

A capacidade material confere o poder de decidir sobre políticas públicas e

implementá-las, com a descentralização de poder traz consigo a divisão da

arrecadação tributária; a centralização fiscal predominava até a Constituição Federal

de 1988. Em fins da década de 70, agrava-se a crise econômica e o processo de

democratização.

O processo de cooperação pressupõe o desprendimento dos agentes

políticos, pois há a necessidade de ceder parcelas de poder concentrado nas mãos

do governante em favor de novos agentes. Na maioria das vezes, é um processo

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pessoal, do detentor do poder, dependendo da cultura individualista e personalista

fortemente enraizada na nossa sociedade.

No Brasil, a participação nas decisões, tanto políticas como administrativas,

passou a ser mais democrática a partir da nova Constituição de 1988. Nesse

aspecto, Lajeado mostra-se pioneira: através da análise da Lei Municipal

1.111/1964, criando o Conselho de Desenvolvimento Econômico do Município, e

trazendo seus representantes de classes para atuar em conjunto com o poder

executivo da época, na tentativa de desenvolver seu parque industrial e economia.

No campo político, historicamente a União sempre exerceu uma

centralização política, administrativa e financeira muito marcante, chegando a

momentos de desvirtuamento do processo federativo. Com a descentralização de

decisões, Lajeado adota a cooperação, por intermédio de seus agentes e atores

interagindo com o executivo como alternativa para atender sua necessidade de

crescimento industrial e o seu desenvolvimento.

Em 17 de dezembro de 1990, o então Prefeito Cláudio Pedro Schumacher

sanciona a Lei 4.572, Criando o Conselho de Desenvolvimento Econômico

Municipal, CONDEM, para discutir e sugerir as iniciativas de política de

desenvolvimento do município, integrado pelos seguintes membros, conforme

previsão do Art. 1 º: Representante da Associação Comercial e Industrial de Lajeado

ACIL, Representante do Clube de Diretores Lojistas – CDL, Representante da

Associação dos Jovens Empresários do Vale do Taquari – AJVAT, Representante

da Fundação Alto Taquari de Ensino Superior – FATES, Representante da

UAMBLA, Representante da Câmara Municipal de Vereadores; Secretário Municipal

de Indústria e Comércio, Secretário Municipal da Agricultura, Coordenador de

Supervisão e Planejamento.

Em 28 de março de 2000, a Lei Estadual 11.451 acresce dispositivos à Lei

10.283, de 17 de outubro de 1994, e cria os Conselhos Municipais de

Desenvolvimento – COMUDEs, através do Presidente da Assembléia Legislativa do

Estado, Otomar Vivian.

A Lei Municipal 6.982, de 13 de agosto de 2003, sancionada pelo então

Prefeito em exercício, Luís Humberto Kolling, dispõe sobre a criação, estruturação e

funcionamento do Conselho Municipal de Desenvolvimento – COMUDE.

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O Artigo 9º elenca os membros natos do Conselho de Representante, tendo o

Prefeito Municipal, o Presidente da Câmara de Vereadores, o Juiz Diretor do Fórum

e o Coordenador da Promotoria, os presidentes dos conselhos municipais setoriais,

os Parlamentares estaduais e federais, com domicílio eleitoral no município, como

convidados permanentes.

Também são membros, com assento no Conselho de Representantes,

mediante indicação de suas entidades, na previsão do art. 10 da Lei 6.982/2003, um

representante de cada classe produtora ou empreendedora, por suas associações

ou sindicatos, urbanos ou rurais; um representante de cada classe trabalhadora, por

suas associações ou sindicatos, urbanos ou rurais; um representante de cada

entidade da sociedade civil, formalmente organizada, com sede no município e

devidamente habilitadas para o fim de representar suas entidades no âmbito do

COMUDE; até 20 (vinte) cidadãos do município, os quais, por sua atuação passada

ou presente, tenham concretizado significativa parcela de contribuição àquela

sociedade.

A competência do COMUDE está prevista em seu art. 3º com as seguintes

atribuições: promover a participação de todos os segmentos da sociedade local,

organizada ou não, na discussão dos problemas e na identificação das

potencialidades, bem como na definição de políticas públicas de investimentos e

ações que visem ao desenvolvimento econômico e social do município; organizar e

realizar audiências públicas necessárias, em que a sociedade local discutirá e

elegerá as prioridades municipais; elaborar o Plano Estratégico de Desenvolvimento

Municipal; promover e fortalecer a participação da sociedade civil, buscando a sua

integração regional; realizar a interface com atividades do Conselho Regional de

Desenvolvimento do Vale do Taquari, buscando articulações com o Estado;

constituir instância de discussão e formulação de propostas para servirem como

subsídios à elaboração dos Planos Plurianuais, Leis de Diretrizes Orçamentárias e

dos Orçamentos municipal e estadual, bem como articular políticas públicas voltadas

ao desenvolvimento; acompanhar e fiscalizar a execução das ações ou

investimentos escolhidos no COMUDE e incluídos nos orçamentos municipal ou

estadual.

A Lei Municipal 6.982, de 13 de agosto de 2003, dispõe sobre a criação,

estruturação e funcionamento do Conselho Municipal de Desenvolvimento –

COMUDE. O economista Chileno Sérgio Boisier (2007) entende que o

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desenvolvimento local está apoiado na idéia de que as localidades e territórios

dispõem de recursos econômicos, humanos, institucionais, ambientais e culturais,

além de economias de escalas não exploradas, que constituem seu potencial de

desenvolvimento.

As estratégias e as iniciativas de desenvolvimento local propõem-se a

estimular a diversificação da base econômica local, favorecendo o surgimento e a

expansão de empresas.

Porém, as economias locais e regionais crescem quando se difundem as

inovações e o conhecimento entre as empresas e os territórios.

Dallabrida (2008) compreende território como um ator inteligente, que pode

provocar transformações, e não apenas um suporte dos recursos e atividades

econômicas. O desenvolvimento local/endógeno é um processo de crescimento

econômico e de mudanças de paradigmas, liderado pela comunidade local ao utilizar

seus ativos e suas potencialidades, buscando a melhoria da qualidade de vida da

população.

O empoderamento e fortalecimento da comunidade são essenciais para a

compreensão do desenvolvimento local endógeno. Assim, se contemplam valores

como autonomia, democracia, dignidade da pessoa humana, solidariedade,

eqüidade e respeito ao meio ambiente.

A estratégia de apoio ao desenvolvimento local e territorial tem como eixos a

construção de capital social, o fomento adequado aos micro e pequenos

empreendimentos e o fortalecimento da governança local, através da cooperação,

da construção de parcerias e da pactuação de atores por um projeto coletivo de

desenvolvimento com mais eqüidade.

Para Buarque (2006), o planejamento é um processo com conotação política,

pois as decisões tomadas no processo resultam de uma disputa política dos atores,

cada um procurando influenciar no projeto coletivo com os meios e instrumentos de

poder, uma vez que toda a decisão e definição de objetivos passa por interesses e

negociações entre atores sociais.

O planejamento é um processo, segundo Buarque (2006), com conotação

técnica e racional de formulação e suporte para as escolhas da sociedade, já que é

um processo ordenado e sistemático de decisão, uma vez que utiliza instrumentos

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de organização, sistematização e hierarquização da realidade e das variáveis do

processo e um esforço de produção e organização de informações sobre o objeto e

os instrumentos de intervenção.

Buarque (2006) entende planejamento local como um processo de decisão

(tecnicamente fundamentada e politicamente sustentada) sobre as ações

necessárias e adequadas à promoção do desenvolvimento sustentável em

pequenas unidades político-administrativas com relativa homogeneidade

socioeconômica e ambiental.

Dallabrida (2004) percebe, na dimensão social, que a aplicação da

descentralização aumenta significativamente a participação social na gestão pública,

ou seja, é uma forma de divisão e distribuição do poder decisório, antes pertencente

exclusivamente ao Estado, para a sociedade civil organizada.

Presente também está a desconcentração administrativa que, para Dallabrida

(2004), consiste em divisão de funções entre vários órgãos de uma mesma

Administração, sem quebra de hierarquia.

Para Dallabrida (2007), de direito, mesmo que ainda não de fato em todas as

regiões, e apresentando diferentes estágios e trajetórias, a estrutura legal e

organizativa dos COMUDES é minimamente suficiente para constituir-se na

estrutura de poder da sociedade riograndense para a instituição da prática da gestão

territorial que contemple o diálogo e a participação.

No entanto existem “arenas” alternativas de disputa de poder, tanto no campo

empresarial/corporativo, como no campo popular.

A eleição dos representantes ainda sofre demasiada interferência, tanto

governamental como corporativa, a relação entre governo e sociedade civil difere

regionalmente, segundo fatores como o grau de associativismo e a orientação

político-ideológica do poder executivo.

O contexto interno dos Conselhos Municipais difere pela história de sua

estruturação e prática de funcionamento e pela trajetória das forças sociais e

institucionais que neles atuam.

Considerando as exigências atuais de novas estruturas de governança

territorial que facilitem a gestão dos interesses coletivos, a experiência riograndense

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dos COMUDES e COREDES (Conselho Regional de Desenvolvimento do Sul) é

inédita.

Dallabrida (2007) entende, no entanto, que ambos precisam assumir de fato

o papel de espaços de concertação público-privados: espaços de negociação,

constituição de consensos, gestão de conflitos, produção de pactos socioterritoriais,

projetos de desenvolvimento produzidos coletivamente pelos representantes das

diferentes redes de poder socioterritorial.

São espaços que expressam novas relações de poder, ampliando a

democracia e a cidadania através do controle social.

Enfim, COMUDES, para Dallabrida (2007), são espaços de negociação que

possibilitam, no futuro, avançarmos da democracia representativa para a democracia

participativa.

Através da análise da legislação apresentada, verifica-se a mudança dos

atores e agentes envolvidos em determinadas épocas com o desenvolvimento local,

mas, sobretudo, a participação destes agentes e atores se dá através da democracia

representativa. Com o Conselho Municipal de Desenvolvimento e os Planos

Diretores de Lajeado não foi diferente. Talvez possamos evoluir, como assevera o

Doutor Dallabrida, para uma democracia participativa.

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15 O TERRITÓRIO DE LAJEADO

Este capitulo pretende oferecer uma visão globalizada através de aspectos

ligados ao território de Lajeado. Pretende fazer um retrato da nova natureza do

território, capaz de permitir a visualização de determinados momentos históricos em

relação ao momento histórico nacional.

Os Planos Diretores e fatos relevantes foram escolhidos para caracterizar a

formação socioespacial da Cidade de Lajeado, na tentativa de explicar a formação

de Lajeado a partir de seu território.

A análise do uso do território de Lajeado trará os fundamentos da abordagem,

na tentativa de explicar como esse território é usado, mostrando o movimento das

configurações do espaço local e nacional como um todo.

Santos, Silveira (2005) definem o espaço geográfico como união indissolúvel

de sistemas de objetos e sistemas de ações, e suas formas híbridas, as técnicas;

permite pensar o território como ator e não apenas como um palco, isto é, o território

no seu papel ativo.

Santos, Silveira (2005) consideram que o território já usado pela sociedade

ganha usos atuais, que se superpõem e permitem ler as descontinuidades nas

feições regionais, porque determinadas regiões são, num dado momento histórico,

mais utilizadas e, em outro, o são menos. Cada região não acolhe igualmente as

modernizações nem seus atores dinâmicos, cristalizando usos antigos e aguardando

novas racionalidades.

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Santos, Silveira (2005) entendem território como uma extensão apropriada e

usada; no sentido mais restrito, o território é um nome político para o espaço de um

país ou região.

O que está em análise é o território usado, como sinônimo de espaço

geográfico, processo de reconstrução da sociedade e do território; pode ser

entendido a partir da categoria formação socioespacial. Santos, Silveira (2005)

entendem que a divisão territorial do trabalho cria uma hierarquia entre os lugares e

redefine, a cada momento, a capacidade de agir das pessoas, das firmas e das

instituições.

O uso do território pode ser definido, conforme Santos, Silveira (2005), pela

implantação de infra-estruturas, e também pelo dinamismo da economia e da

sociedade. Urbanização, cada vez mais intensa, significa uma maior divisão do

trabalho, um resultado da fluidez aumentada do território. O peso significativo do

mercado externo orienta boa parcela dos recursos coletivos para a criação de infra-

estruturas, serviços e formas de organização do trabalho para o comércio exterior,

uma atividade ritmada pelo imperativo da competitividade e localizada nos pontos

mais aptos para desenvolver essas funções.

Santos, Silveira (2005) esclarecem que isso não se faz sem uma regulação

política do território e sem uma regulação do território para o mercado. É desse

modo que se reconstroem os contextos da evolução das bases materiais

geográficas e também da própria regulação. Assim, as técnicas se incorporam no

território, com sua incorporação ao solo, rodovias, ferrovias, hidrelétricas etc.,

destinados a aumentar a eficácia, a divisão e a especialização do trabalho nos

lugares.

É nesse sentido que um território, segundo Santos, Silveira (2005), condiciona

a localização dos atores, pois as ações que sobre ele se operam dependem da sua

própria constituição.

A história do território brasileiro, para Santos, Silveira (2005), é, a um só

tempo, una e diversa, pois é também a soma e a síntese das histórias de suas

regiões.

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Santos, Silveira (2005) criticam as periodizações feitas por economistas e

sociólogos, como insuficientes, visto que raramente tomam em consideração a

materialidade e os dinamismos do território.

Esses autores constatam que ao longo da história da organização do território

brasileiro, três grandes momentos poderiam, grosso modo, ser identificados: os

meios ‘naturais’, os meios técnicos e o meio técnico-científico-informacional.

Lajeado segue as constatações de Santos, Silveira (2005), sendo o primeiro

período comandado pelo que os autores chamam de tempos lentos da natureza,

comandando as ações humanas tanto os grupos indígenas e os primeiros europeus,

empenhados todos, cada qual ao seu modo, em amansar esses ritmos.

A segunda fase é a dos diversos meios técnicos, que gradualmente buscam

atenuar a força da natureza, e vai desde o fim do período colonial até por volta da

década de 1970.

A terceira fase é a construção e a disseminação do meio técnico-científico-

informacional, caracterizado por uma revolução das telecomunicações, informação e

finanças passam a configurar a nova geografia, distinguindo os lugares segundo a

presença ou escassez das novas variáveis-chave.

A passagem, no meio natural, as diferenciações enraizavam-se na natureza e

o território era caracterizado pelos tempos lentos. Este período vai até a década de

1970.

A partir dos anos de 1970, o meio técnico, a invenção e difusão das máquinas

como formas mais complexas de organização permitiram outros usos do território. O

meio técnico-científico-informacional caracteriza-se por uma produção industrial

diversificada, maior endividamento, maior penetração de firmas estrangeiras,

ampliação das facilidades dentro do país e para os canais de exportação.

O capital comanda o território também de Lajeado e as diferenças regionais

passam a ser diferenças sociais, e não mais naturais.

De um tempo lento, Lajeado passa a um tempo rápido, um tempo

hegemônico único, que, para Santos, Silveira (2005), é influenciado pelo dado

internacional, os tempos do Estado e das multinacionais. O mercado, graças à

ciência, à técnica e à informação, torna-se um mercado global.

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O território de Lajeado ganha novos conteúdos e impõe novos

comportamentos, e a irradiação do crescimento territorial se instala em áreas

contínuas no sentido norte/sul.

Nas últimas décadas, o território conhece grandes mudanças em função dos

acréscimos técnicos que renovam sua materialidade, em função da sedimentação e

expansão do meio técnico-científico-informacional, que Santos, Silveira (2005)

chamam de MTCI. São as novas infra-estruturas de irrigação e as barragens, os

portos e aeroportos, as ferrovias, rodovias e hidrovias, a energia elétrica, as

refinarias e dutos, as bases materiais das telecomunicações, os semoventes e

insumos ao solo.

Santos, Silveira (2005) destacam o aumento do capital fixo, os semoventes e

os insumos ao solo e, em decorrência desse território altamente equipado,

incrementa-se a necessidade de movimento, pois o trabalho é mais especializado e

as formas de cooperação e complementaridade se impõem. Lajeado tenta oferecer

respostas a esse consumo produtivo.

O território de Lajeado é hoje usado a partir de seus acréscimos de ciência e

técnica, cujas características definem um novo meio geográfico. Tanto sua

constituição como o seu uso exige parcelas grandes de informação. Santos, Silveira

(2005) entendem que são os produtores e os possuidores das informações que

decidem seus usos; assim, esses atores em Lajeado são o Estado, as empresas, os

proprietário de terras e empreendedores imobiliários, que transformam as

informações em formas revolucionárias de controle do território.

A especialização dos lugares, que é também uma manifestação da divisão

territorial do trabalho, para Santos, Silveira (2005) exige a produção e a circulação

de torrentes de informação, que ao mesmo tempo a retroalimentam, constituindo a

informação uma nova forma de trabalho. É um fundamento do trabalho

contemporâneo e também um dado relevante da divisão social e territorial do

trabalho. Para esses autores:

O mundo de hoje é o cenário do chamado ‘tempo real’, porque a informação se pode transmitir instantaneamente. Desse modo, as ações se concretizam não apenas no lugar escolhido, mas também na hora adequada, conferindo maior eficácia, maior produtividade e maior rentabilidade aos propósitos daqueles que as controlam (Santos, Silveira,2005, p. 98).

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Com o progresso da ciência e da técnica e a circulação acelerada de

informações, geram-se condições para aumentar a especialização do trabalho nos

lugares. Assim cada ponto no território modernizado é chamado a oferecer novas

aptidões específicas à produção. Selhorst et. al (2000) observam que na área

urbana de Lajeado o uso residencial predomina (66,02%), seguido do comercial

(17,04%), da prestação de serviço (9,50%) e do industrial (7,44%). É a nova divisão

territorial, além de construir especializações essa nova estrutura segmenta o

território, com o que as áreas mais ativas são as que estão mais aptas aos produtos

exigidos pelo mercado.

A partir dos anos de 1970, como uma das manifestações do desdobramento

da divisão territorial do trabalho no Brasil, observam Santos, Silveira (2005), ocorre

um movimento de desconcentração da produção industrial, estendendo-se para

novas áreas do sul. O sul desponta como a região ganhadora nesse rearranjo do

trabalho industrial, passando de 14% do pessoal ocupado em 1970, para 36% em

1990, ultrapassando inclusive São Paulo. 35% do território de Lajeado, com sua

localização estratégica, é beneficiado de toda esta movimentação e crescimento

econômico.

Essas mudanças de localização da atividade industrial provocam uma

valorização de partes do território. Percebe-se isto em Lajeado após o ano de 1969

com a construção da BR 386. A locação da rodovia gerou no sítio urbano a

especulação imobiliária, que levou a valorizar grandemente aquele eixo.

Para Dallabrida (2008), os circuitos espaciais da produção são definidos pela

circulação de bens e produtos, oferecendo uma visão dinâmica, apontando como os

fluxos perpassam o território. Esse movimento é comandado, sobretudo, por fluxos

não obrigatoriamente materiais, tais como capitais, informações, mensagens,

ordens.

A urbanização de Lajeado também aumenta porque cresce o número de

agricultores residentes na Cidade. A cidade, para Santos, Silveira (2005), torna-se o

lócus da regulação do que se faz no campo, imposta pela nova divisão do trabalho

agrícola.

Da análise do território utilizado de Lajeado, levando-se em conta o seu uso,

o que predomina, conforme constata Selhorst et. al (2000), é que na área urbana de

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Lajeado o uso residencial predomina (66,02%), seguido do comercial (17,04%), da

prestação de serviço (9,50%) e do industrial (7,44%). Para Santos, Silveira (2005),

há interdependência e a inseparabilidade entre a materialidade, que inclui a

natureza, e o seu uso, que inclui a ação humana, isto é, trabalho e política.

Santos, Silveira (2005), ressaltam que o espaço é sempre histórico, segundo

os autores:

No território utilizado devemos considerar os fixos, o que é imóvel, e os fluxos, o que é móvel. “Os fixos são, geralmente, constituintes da ordem pública ou social, enquanto os fluxos são formados por elementos públicos e privados, em proporções que variam segundo os países, na medida em que estes são mais ou menos abertos às teses privatistas”. “As configurações territoriais são o conjunto dos sistemas naturais, herdados por uma determinada sociedade, e dos sistemas de engenharia, isto é, objetos técnicos e culturais historicamente estabelecidos. As configurações territoriais são apenas condições. Sua atualidade, isto é, sua significação real, advém das ações realizadas sobre elas. É desse modo que se pode dizer que o espaço é sempre histórico. Sua historicidade deriva da conjunção entre as características da materialidade territorial e as características das ações (Santos, Silveira, 2005, p.247-248).

No território de Lajeado, desde a presença dos primeiros europeus, a

economia é marcada por diversos momentos desde o início da ocupação e,

conforme as respectivas densidades atuais, seu território sofre a influência das

diversas parcelas do país nas lógicas econômicas, demográficas e políticas

contemporâneas, até as transformações mais recentes marcadas pela influência do

processo de globalização.

A dinâmica do território de Lajeado não apaga restos do passado, mas

modifica seu significado e acrescenta ao já existente, criando novos objetos e novas

ações características do novo tempo.

A indústria, que antes carregava o papel motor, divide agora com a

informação este status. O território continua sendo uma parte atuante, o

comportamento dos agentes e dos lugares, direta ou indiretamente, é influenciado, e

muitas vezes subordinado, pela lógica nem sempre local, acarretando efeitos não

desejados e não previsíveis.

As desigualdades territoriais persistem mesmo nos dias atuais e são de

diversas ordens. Assim, temos situações características de zonas de densidade e

rarefação, percebemos a fluidez e a viscosidade do território, espaços da rapidez e

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da lentidão, espaços luminosos e opacos, espaços que mandam e espaços que

obedecem.

O território de Lajeado mostra diferenças de densidade quanto às coisas, aos

objetos, aos homens, ao movimento das coisas. Uma das características atuais é a

necessidade de criar condições para maior circulação dos homens, dos produtos,

das mercadorias dentro do seu território. Sua malha rodoviária não está mais

adequada ao tamanho e à densidade populacional.

Lajeado, considerando o espaço um conjunto indissociável de sistemas de

objetos e de sistemas de ação, possui, dentro de seu território, vários espaços, o

que Santos, Silveira (2005) chamam de espaços da rapidez do ponto de vista

material, espaços luminosos, aqueles que mais acumulam densidades técnicas e

informacionais, ficando assim mais aptos a atrair atividades com maior conteúdo em

capital, tecnologia e organização. Esse espaço tende a ser concentrado ficando o

uso comercial e de serviço nas ruas Benjamin Constant, Júlio de Castilho e Avenida

Senador Alberto Pasqualini. Para Santos, Silveira (2005) é possível falar em

espaços que mandam e espaços que obedecem, mas o comando e a obediência

resultam de um conjunto de condições, e não de uma delas isoladamente.

Atualmente Lajeado é ponto de interseção e superposição entre as

horizontalidades e as verticalidades regionais oferecendo os meios para o consumo

final das famílias e administrações e o consumo intermediário das empresas,

funcionando como entrepostos e fábricas, isto é, como depositárias e como

produtoras de bens e serviços exigidos por ela própria e por seu entorno. Os

sistemas da Cidade constituem uma espécie de geometria variável, levando em

conta a maneira como as diferentes aglomerações participam do jogo entre o local,

nacional e o global. É dessa forma que Lajeado acaba beneficiada ou, ao contrário,

é atingida de forma prejudicial em virtude da resistência desigual dos seus produtos

e serviços de suas empresas face ao movimento de globalização.

A dinâmica urbana atual de Lajeado, apesar da menor capacidade de

comando, mostra a contradição entre as influências dos interesses locais e dos

interesses chamados nacionais e globais, e revela as carências ou os

constrangimentos da política local face à política nacional e global.

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Lajeado também produz em determinado momento da história sua ordem

espacial, que se associa a uma ordem econômica e a uma ordem social. Santos,

Silveira (2005) definem o espaço como um conjunto indissociável de sistemas de

objetos e sistemas de ações. Em cada área os objetos tendem a exercer certas

funções, e os respectivos processos são, em grande parte, submetidos ao papel

regulador de instituições e empresas. A influência das empresas é tanta no controle

do território, que cada ramo de produção produz uma determinada lógica territorial.

Assim, o poder de uso do território varia com a importância da empresa que

atua no território de Lajeado. O uso do espaço acaba por ser um uso hierárquico, na

medida em que determinadas empresas dispõem de maiores chances para utilizar o

mesmo recurso territorial, e para Santos, Silveira (2005), é dessa forma que maiores

lucros são obtidos por alguns agentes, ainda que trabalhem sobre os mesmos bens

e embora estes sejam nominalmente públicos.

Santos, Silveira (2005) entendem que o que de fato resulta na prática é a

vitória de uma lógica econômica a despeito das distorções de ordem social que

possa acarretar; também, como conseqüência dos processos acima descritos,

acrescenta-se a instabilidade do território, fruto da própria turbulência global.

Lajeado estabelece-se, assim, mais apta ao exercício de determinadas

produções. Seu território é mais propício para sediar atividades globais, com a

conseqüente alienação de outras. Para Santos, Silveira (2005), a mesma lógica

justifica a desvalorização e revalorizações do território. Certas frações do território

aumentam de valor em dado momento, enquanto outras, ao mesmo tempo e por via

de conseqüência, se desvalorizam, expansão das lógicas monetaristas,

desconsiderando tanto a nação quanto o território.

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16 CONCLUSÃO

A legislação examinada revelou os aspectos dos diferentes momentos

históricos, a forma que foram elaborados e aprovados, quais os elementos

motivadores de suas implementações.

Com as novas regras democráticas impostas ao jogo político, as leis

passaram a ser negociadas entre os interesses públicos e privados, através de uma

sucessão de alianças que acabam por privilegiar setores hegemônicos mais

organizados da sociedade, no caso, representado especialmente pelo capital

imobiliário.

A Cidade, como local de efetivação das práticas governamentais no âmbito

municipal, sofreu e sofre influência das políticas traçadas em nível federal.

O município, como integrante de um mesmo sistema político-administrativo

nacional, tem sempre na esfera federal o seu modelo. Os planos de urbanização

integram o sistema organizado do planejamento e implementação de metas e

objetivos da administração municipal.

A influência do modelo nacional se deu de forma diferenciada, dependendo

do período histórico e da valorização de diferentes aspectos que afetavam o

desenvolvimento sócio-econômico e político do país.

Lajeado, a partir da Lei 2.729/74, aprova o primeiro Plano Diretor, e passou a

estruturar o planejamento como prática de administração da Cidade, o que se

mantém na atualidade.

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A ênfase organizacional de planos nacionais foi característica do período do

pós-segunda guerra mundial, influenciando as práticas administrativas em todo o

país.

O planejamento passou a ser incentivado como modelo de organização da

ação governamental nacional, o que veio a influenciar na organização administrativa

do município de Lajeado.

Lajeado, como parte integrante de uma realidade macroeconômica, sofre

influência das políticas e sistemas decisórios exógenos sobre o poder local.

Da análise dos dados econômicos, comparando com a utilização do território,

constata Selhorst et. al (2000) que o setor industrial ocupa uma menor área do

território de Lajeado, com 7,44%, mas é o que mais contribui em Valor Agregado

Fiscal para o Município, com cerca de 45% de contribuição, seguido pela prestação

de serviços, que ocupa 9,50% do território e contribui com 21% do Valor Agregado

Fiscal; o comercial, com 17,04% do território, tem contribuição em Valor Agregado

Fiscal de 32%; o uso residencial predomina em 66,02% da ocupação da área

urbana, do que se pode concluir que a busca por moradia é o que mais altera as

configurações do território de Lajeado, exigindo do poder público maiores

investimentos e planejamento para acomodar a demanda sempre crescente por

moradia.

Dos estudos realizados, parece-nos que a lógica do crescimento urbano de

Lajeado está na atração que seu território exerce. A estratégia de apoio ao

desenvolvimento local e territorial tem como eixos a construção de capital social, o

fomento adequado aos micro e pequenos empreendimentos e o fortalecimento da

governança local, através da cooperação, da construção de parcerias e da

pactuação de atores por um projeto coletivo de desenvolvimento com mais

eqüidade, como demonstrado no pioneirismo do então prefeito municipal da Cidade

de Lajeado, Dalton de Bem Stumpf, sancionando a Lei municipal 1.111/1964,

criando o Conselho de Desenvolvimento Econômico do Município.

Lajeado estabelece-se, assim, mais apta ao exercício de determinadas

produções; seu território é mais propício para sediar atividades globais, com a

conseqüente alienação de outras. Para Santos, Silveira (2005), a mesma lógica

justifica a desvalorização e revalorizações do território. Certas frações do território

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aumentam de valor em dado momento, enquanto outras, ao mesmo tempo e por via

de conseqüência, se desvalorizam, expansão das lógicas monetaristas,

desconsiderando tanto a nação quanto o território.

Importante ressaltar que uma das condições para que os municípios

pudessem receber recursos provenientes de entidades governamentais na época,

destinados a programas de habitação e urbanismo, era o município estar com seu

código de obras adaptados às normas técnicas do SERFHAU, na previsão do §1º do

art. 55 da Lei 4.380/64, sendo o que motivou o prefeito da época Alípio Hüffner a

realizar o primeiro Plano Diretor em 1974.

O Primeiro Plano Diretor é utilizado como estratégia na busca por

financiamentos federais e fins fiscais. Também na tentativa de projeção e controle

urbano de Lajeado, o planejamento urbano passa a dar apoio técnico a atividades

desenvolvidas no município.

O Plano Diretor tem um papel fundamental, o qual deve definir os

instrumentos urbanísticos para a promoção da urbanização e regularização

fundiária, abranger os aspectos econômicos e jurídicos, bem como promover a

integração entre a população envolvida, o poder público e os agentes privados.

O Plano Diretor, como uma das formas de exercício das políticas públicas,

deve ser configurado como um instrumento que promova o adequado planejamento

e controle do uso, parcelamento e ocupação do solo urbano.

A implementação de um modelo de desenvolvimento eqüitativo, com a

finalidade de tornar públicas as diretrizes e prioridades de Lajeado com a

participação da municipalidade e a participação efetiva da sociedade, levando-se em

consideração as características socioeconômicas, políticas, demográficas,

estabelecendo diretrizes básicas da política de desenvolvimento e expansão urbana,

está de acordo com o princípio do desenvolvimento sustentável.

A conclusão que pode ser extraída confirma a tese apresentada pela

Constituição Federal de que o Plano Diretor é o instrumento básico da política de

desenvolvimento e expansão urbana, tecnicamente adaptado à legislação maior. Os

três Planos Diretores da Cidade de Lajeado, basicamente foram imposições do

governo federal, o primeiro com o fito de buscar recursos para o município, os

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demais para se adaptarem às novas regras impostas pela legislação, o segundo a

do Parcelamento do Solo Urbano, e o terceiro ao Estatuto da Cidade.

Através da análise da legislação apresentada, verifica-se a mudança dos

atores e agentes envolvidos em determinadas épocas com o desenvolvimento local,

mas, sobretudo, a participação destes agentes e atores se dá através da democracia

representativa. Com o Conselho Municipal de Desenvolvimento com os Planos

Diretores de Lajeado não foi diferente, e talvez possamos evoluir, como assevera o

Doutor Dallabrida, para uma democracia participativa.

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ANEXOS

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ANEXO A - Entrevista com Vilar Majolo

Ficha Técnica da Entrevista

Entrevistado: Vilar Majolo

Justificativa para a escolha do entrevistado: o entrevistado foi funcionário da Câmara

de Vereadores de Lajeado em 1974, Secretário de Planejamento da Prefeitura

Municipal de Lajeado em 1992 e 2006.

Entrevistadores: Alencar Wissmann Alves e Marcos Rogério Kreutz

Local: Rua Cel. Júlio May, 242 – Lajeado/RS

Data: 19 de janeiro de 2010

Duração: 54min08seg

Dados biográficos

Nome: Vilar Majolo

Data de nascimento: 21 de maio de 1945

Formação: Letras

Atuação: Chefe do Gabinete do Prefeito

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Sobre a equipe de trabalho

Pesquisa e levantamento de dados: Alencar Wissmann Alves

Elaboração do roteiro: Alencar Wissmann Alves

Responsável de gravação: Marcos Rogério Kreutz

Transcrição da entrevista: Marcos Rogério Kreutz

Conferência da transcrição: Alencar Wissmann Alves

Trabalho de copidesque: Marcos Rogério Kreutz

Palavras-chave : Lajeado, Plano Diretor, Urbanização, Planejamento

Entrevistador : Sr. Vilar, eu gostaria que o senhor falasse um pouco dos três Planos

Diretores que foram criados em Lajeado, 74, 92 e 2006.

Vilar Majolo: A partir de 73, quando assumiu o prefeito Alípio

Hüfner aconteceram várias modificações na legislação

municipal. O Alípio Hüfner ainda vivo hoje, ele mora no

município de Sério e quando ele terminou o mandato dele, ele

se retirou da vida política e social de Lajeado e foi morar em

Sério. Numa chácara bastante retirada. Na época ele apostou,

como ele tinha apostado no mandato dele na opção de em

Lajeado, o município na época tinha 1.042 km² e hoje está

reduzido em torno de 100 km². Umas emancipações que

aconteceram ficou um município urbano praticamente, e o

Alípio na época, no mandato dele ele fomentou a criação de

uma cooperativa chamada Copromaçã, que o prédio ainda

existe hoje, não sei, mas há pouco tempo funcionava uma

fábrica de móveis é ali na região.

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Entrevistador : Na BR 386

Vilar Majolo: Na 386 antes da ponte do Forquetinha entra a

esquerda, no topo do morro. E esta experiência não deu certo.

Não sei se foi em função do clima local, mas o Alípio nesta

propriedade dele em Sério, ele plantou maça também.

Também não deu certo depois. Ele ficou lá. É uma pena que

isso tenha acontecido, é que o Alípio era um intelectual, ele

tinha uma visão bastante avançada para esta época e ele se

preocupou com a questão da legislação municipal. Eu me

lembro bem, eu estava na Prefeitura de Arroio do Meio na

época, em 72 e o Alípio convidou para ser o secretário de

administração o Rafael Loch que morava em Arroio do Meio. E

o Rafael pediu na época que eu viesse trabalhar na Prefeitura

de Lajeado, eu vim. Já vim antes de ele assumir, o Alípio, uns

dias antes, umas semanas antes. E ele tinha montado a equipe

dele lá na ACIL. Na época a Câmara de Vereadores funcionava

dentro do prédio da antiga prefeitura, era uma sala em que o

Alípio passou a usar como gabinete dele, então a Câmara saiu

de dentro do prédio da prefeitura passou para o prédio da

ACIL. Mais adiante a Câmara foi parar num prédio alugado

onde hoje existe a Ótica Suíça, não Ótica Suíça é na Coplan.

Entrevistador : É.

Vilar Majolo: É um prédio antes, subindo, ali funcionava a

Câmara de Vereadores por muito tempo, onde eu trabalhei

como único funcionário da Câmara e tinha mais vereadores do

que hoje. Fazia todos os trabalhos da Câmara. É, então o

Alípio antes de assumir ele já tinha vários documentos prontos.

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Entrevistador : Tinha um projeto de governo.

Vilar Majolo: Projetos prontos, e na primeira sessão da

Câmara, onde ele tinha a maioria, ele aprovou esta legislação

para poder trabalhar, foi muito interessante esta questão. E

além de ele já ter alguns documentos prontos ele conseguiu

junto ao Governo Federal e ao Governo do Estado a assinatura

desse convênio, isso foi em junho de 73, ele tinha pronto este

convênio, já tudo costurado e então através de uma lei de 73,

ele foi autorizado a firmar este convênio a SUDESUL e a

SERFHAU. E a partir desse momento veio uma equipe de

técnicos para a Prefeitura de Lajeado, organizarem a legislação

principal do município. Eu me lembro bem que eram

profissionais do centro do país, do Rio de Janeiro e alguns de

Porto Alegre, o de Porto Alegre que participou desse grupo era

o arquiteto José Albano Wolkmer, hoje ele é falecido, ele foi

diretor do Museu de Porto Alegre, ali na Praça da Alfândega, é

um museu estadual ou federal, deve ser, e ele foi também

diretor da Faculdade de Arquitetura da UFRGS, e ele faleceu,

faz uns dois anos agora, faleceu cedo. Ele teve câncer de pele

e se propagou para o resto do organismo dele. E esse arquiteto

José Albano Wolkmer ele participou do primeiro, desse plano

de 73,74 e depois novamente em 92. 91, 92 ele prestou

novamente uma consultoria, na época do prefeito Claudio

Schumacher e essa equipe ela preparou todo, toda

organização administrativa. Os modelos de documentos, de

ordens de serviço, toda a questão burocrática, tudo isso eles

trabalharam. Este trabalho existe até hoje. Claro que muita

coisa já mudou neste meio tempo, mas toda a legislação da

prefeitura, este grupo, este convênio permitiu, foi um ganho

muito grande para a Prefeitura e como já comentei a pouco que

esta equipe que veio de fora era uma equipe altamente técnica

e a prefeitura não tinha na época uma equipe de profissionais

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próprios graduados que pudessem implantar o que foi sugerido

e que foi aprovado em lei. Então boa parte dessa

documentação no meu entender ela ficou esquecida, não foi

aplicada na sua totalidade. Mais adiante sim quando este Plano

de 92, já existiam aqui técnicos, arquitetos e engenheiros que

pudessem dar continuidade. Então aquele primeiro plano na

verdade em 74 foi o aprovado o Plano Diretor, a lei do Plano, o

Plano Diretor. Também em 74 a delimitação do perímetro

urbano era bem menor do que é hoje, a Lei de Zoneamento foi

um documento muito importante, o Código de Obras também

data de 74, a Lei da Organização Administrativa, o Código

Tributário Municipal, este sim foi aprovado em 73 já, isso no

início de 73 já tinha este documento e normas de contratação

pela CLT também é de 73. Antes o município só tinha regime

estatutário, então em 73 foi aprovado uma lei que o município

pudesse contratar pela CLT também. Hoje o regime da

prefeitura ele é celetista. Nós temos ainda, deve ter, não sei se

ainda são dez remanescentes do regime estatutário, mas que

também foram inscritos na previdência geral. Então quando se

aposentam ele passam a receber os proventos da Previdência

Geral e a diferença a Prefeitura deve cobrir. Eles recebem

como se estivessem na ativa.

Entrevistador : Nunca houve um fundo de previdência local?

Vilar Majolo: Não nunca houve, embora tivesse por muito

tempo o regime estatutário, nunca teve, nunca existiu uma

previdência própria. Um fundo de previdência própria. Nunca

existiu. Hoje a Prefeitura deve ter em torno de cem inativos e

pensionistas que recebem do caixa da Prefeitura, mas eles

nunca contribuíram para um fundo próprio. Existe hoje um

estudo, um diagnóstico para rever esta questão. Muitas

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prefeituras adotaram o regime próprio novamente para se ver

livre do Fundo de Garantia e todas as despesas que os

município têm. Existe um diagnóstico desse trabalho, mas se

vai acontecer não se sabe, mas algumas prefeituras já

implantaram isso, um regime próprio.

A partir então de 91, no segundo mandato do prefeito Claudio,

perdão no primeiro mandato do prefeito Claudio, então houve

assim um consenso da necessidade de rever este plano. Na

época o prefeito conseguiu assessoria desse arquiteto, José

Albano Wolkmer e mais alguns técnicos do Estado, do Governo

do Estado que auxiliaram neste plano. E em 91 foi feito o Plano

Diretor do sistema viário principal, que antes não existia. O

Plano de 74 não previu isso. Em 74 era um conjunto de leis e a

partir de 91 então quando começou a revisão daquele plano se

passou a integrar todos os documentos num único documento,

o Plano Diretor, zoneamento, loteamento, tudo isso passou

para um único documento. Mas em 91 foi aprovado o Plano

Diretor do sistema viário principal porque se via a necessidade

de reservar espaço para algumas avenidas. Então este plano

de 91, ele previu as perimetrais, as transversais, uma série de

vias do sistema viário principal que a partir de 2002 não foi

revisto, por que a prefeitura na época não tinha uma equipe

qualificada que pudesse trabalhar em cima disso, tanto é que

na, o resto do Plano também, na mensagem, na justificativa

que foi enviada para a Câmara, nesta época se dizia, uma

parte em 2006. A prefeita na época diz assim: “é nosso

propósito promover ainda no atual governo municipal uma nova

revisão geral do Plano Diretor com a ajuda de um grupo técnico

especificamente contratado que deverá também contar com a

colaboração voluntária de setores do poder público municipal e

de organizações da comunidade abrangendo entre outros

itens, especialmente o sistema viário principal”. Este deve ser

revisto como de resto o Plano, isso não foi possível até o ano

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passado, mas continua em aberto este estudo, então uma série

de modificações que a equipe técnica da SEPLAN já anotou

que tem de ser modificado novamente. O Plano Diretor deveria

ser revisto segundo o Estatuto das Cidades, pelo menos a

cada dez anos.

Entrevistador: A cada dez anos.

Vilar Majolo: Mas a recomendação seria a cada cinco ou

menos até pudessem ser feitas novas avaliações, por que não

é uma coisa definitiva, ele deve acompanhar a evolução da

época. Hoje, por exemplo, a experiência é pouca, mas

Xangrilá, Capão da Canoa, onde a gente vai durante o

veraneio, os condomínios fechados, isso vai acontecer aqui

também. Tem um em construção, tem mais um outro em

estudo que é um grupo de professores da Univates compraram

uma área ali em Carneiros, um pouco adiante do Corinthians,

pouco adiante foi comprado uma área que era das freiras aqui

do Madre Bárbara, então ali está em estudo um condomínio

fechado. Eu acho que são professores da Univates pelo que eu

sei.

Entrevistador : Sim professores da Univates.

Vilar Majolo: Então outro que está em construção aqui nos

fundos deste posto, aqui o Posto Fórmula 1, aqui.

Entrevistador : Na BR 386

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Vilar Majolo: Sim nos fundos, ele está em construção. Então

são situações que vão surgindo que tem de ser previstas no

Plano.

Entrevistador: Hoje não tem nada que impede isso?

Vilar Majolo: Não, não tem muitas regras, algumas questões

tipo, surgiu numa ocasião um pedido de um empreendedor em

Conventos. Na propriedade que eles queriam transformar em

um condomínio fechado (o entrevistado faz um desenho da

área para explicar). Compraram a área para implantar um

condomínio fechado. O que nós falamos para eles, o

condomínio fechado não pode ter impedimento para o restante

da população, daquele entorno, uma estrada aqui, uma estrada

aqui [o entrevistado explica a situação no desenho]. Então isso

é um trecho muito longo para não ter nenhuma transversal,

então isto não está escrito ainda, mas isso já é cultura aqui

dentro que a Prefeitura não pode permitir. Se esse morador

que mora quer visitar este aqui [o entrevistado mostra no

desenho] ele deve fazer toda esta volta aqui. Isso vai ser

urbanizado tudo com o tempo, então nós temos que exigir que

eles façam um acesso intermediário aqui. Se eles querem

fechar isto aqui [mostra no desenho] eles podem fechar, mas

devem deixar um espaço aberto para a interligação. Então tem

uma série de situações que a revisão vai ter que contemplar

mais adiante. Então esta revisão que aconteceu mais recente

na época o prefeito Claudio atribuiu a SEAVAT a coordenação

da revisão do Plano Diretor e isso começou em 2002 e a partir

deste momento uma equipe de técnicos da Prefeitura e

técnicos da SEAVAT indicaram alguns representantes, eles

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passaram a fazer audiências públicas em todos os bairros e

nem sempre a participação foi significativa como disse antes,

quer dizer que ainda não temos uma cultura, de, até de

associações de moradores. Agente pode ver a associação de

moradores que tem muitas reivindicações em termos de infra-

estrutura ainda, eles tendem a se agrupar e participar, tipo Alto

do Parque, São Cristóvão, que já tem uma infra-estrutura

implantada, as pessoas, sei lá, se bastam. Na minha rua eu

tenho iluminação pública, eu tenho cabo de televisão a cabo,

eu tenho recolhimento de lixo, tenho.. sei lá, o que eu preciso

eu tenho. Então a tendência eu me retirar de não participar de

outras coisas e isto nos bairros mais distantes onde falta tudo

praticamente, ali a associação de moradores tem mais força,

eles conseguem congregar os moradores mais fácil. Então isto,

esta cultura de participar em reuniões ainda existe muito pouco

em Lajeado. As audiências públicas acontecem, elas tem

pouca participação. Então na época também em alguns bairros

foi mais significativa a participação dos moradores então

nestas reuniões foram explicadas, explicados o que significa o

Plano Diretor. Então técnicos da SEPLAN e profissionais da

SEAVAT eles explicaram qual é a função do Plano Diretor e

isso foi muito esclarecedor na época e anotaram as

reivindicações que eles queriam. Foi dito por exemplo, se

determinado trecho do bairro era uma unidade territorial,

comércio e serviço, era corredor ou era misto ou unifamiliar.

Qual era a idéia deles, então isso era anotado de várias épocas

e gestões puderam ser contempladas, outras não por que eram

tecnicamente não era indicado. E depois a partir de 2004, 2005

quando eu assumi a Secretaria aconteceram reuniões

semanais coordenadas pela SEAVAT é claro mas sempre com

a participação de técnicos da prefeitura na sede do CREA, ali

na Bento Gonçalves, é logo adiante da Associação Rural. E

nestas reuniões então se conseguia revisar todo o Plano e

anotar as modificações que entendiam deveriam ser feitas.

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Agente apresentou isto para a prefeita e aí se fez uma outra

audiência pública onde o Plano foi apresentado e mais uma

audiência na Câmara de Vereadores. E aí o Plano foi

encaminhado para Câmara com a justificativa que eu estava

lendo a pouco onde citava o que estava sendo modificado

assim por diante. Claro que é diferente que nem uma cidade

como Porto Alegre onde existem vereadores que tem

condições de analisar um Plano. Eu vi que o Plano de Porto

Alegre ele teve muita participação de um vereador que conheci

que é o Beto Moesch, filho do Guido Moesch. Guido Moesch foi

deputado estadual que morava em Arroio do Meio, então ele

tem ligação, por isso que agente conhece. O Beto Moesch foi

secretário do Meio Ambiente de Porto Alegre uns anos atrás e

vereador no segundo ou terceiro mandato já. Então assim tem

muitos outros vereadores, como João Carlos Nedel, então são

vereadores que tem condições de avaliar as modificações que

estão sendo sugeridas pelo Executivo num Plano Diretor. Aqui

eu não sei se teve três ou quatro vereadores que puderam, que

tiveram condições de ler o Plano e entender ele. Hoje talvez

tenha mais vereadores com condições de fazer isso.

Entrevistador : Então nos dois primeiros Planos não houve essa adaptação de

algumas emendas. Foram encaminhados e aprovados.

Vilar Majolo: Aprovados. Não sei se houve, pouquíssima

mudança que eles sugeriram. E assim com outras legislações.

Documentos que são encaminhados para a Câmara e daqui a

pouco eles tomam a iniciativa de elaborar um outro Projeto de

Lei que é a mesma coisa que eles aprovaram. Eu me imagino,

eu trabalhei muito tempo na Câmara de Vereadores, fui

funcionário da Câmara aqui de Lajeado e na época eu já sentia

isso. Nós tivemos legislaturas com pessoas muito qualificadas,

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Claudio Schumacher, Venâncio Diersmann, Nelson Brancher,

Rubem Tietze, Wilson Haussen Jacques, tinha médicos como o

Dr. Vilson May, pessoas com muita capacidade então já teve

Câmara, mas teve alguns vereadores desses que na época

eles tinham que se levantar na votação, então tinha alguns que

ficavam olhando, o que era para fazer. Ficavam sentados ou

eram para levantar, não tinha muita decisão própria, iam pelo

grupo. Eu acho assim que tem alguns documentos, Projetos de

Lei que o Executivo manda para a Câmara, hoje é diferente,

mas houve épocas que não conseguiam ler, não tinham tempo

para se dedicar a isso, não tinham tempo para ler.

Entrevistador : É complexo entender um Plano Diretor para um vereador.

Vilar Majolo: Isso vale para arquiteto.

Entrevistador : É muito técnico.

Vilar Majolo: Alguns anos atrás eu fiz um curso de Pós-

Graduação de Gerente de Cidades e ali tinha cadeiras de

Urbanismo, então se estudou profundamente um Plano Diretor

como ele funciona, uma série de coisas e pela convivência

daquele Plano de 92, por que em 91 foi criada a Secretaria de

Planejamento, 91, e na época eu tinha uma outra função aqui

na Prefeitura e o prefeito Claudio me incumbiu de ser o

primeiro secretário desta Secretaria. Foi 92, 92 foi isso. A partir

de 92 passou a ter uma Secretaria de Planejamento e então a

vivência que agente teve lá e se vocês forem falar com o

Edson Carvalho no Planejamento, o gauchinho, é um que

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atende, esse pela vivência que ele tem, ele conhece o Plano

Diretor de cabo a rabo, assim como tem outros funcionários.

Entrevistador : De que forma os Planos Diretores contribuíram para Lajeado?

Principalmente o primeiro.

Vilar Majolo: É claro que a nossa cidade poderia ser diferente

se o Plano tivesse existido antes. Eu sempre tenho como

referência a largura da Júlio de Castilhos por que ela começou

no rio com uma largura maior, uma avenida e quando chegou

no prédio da Intendência que já existia, de lá em diante

passaram a usar a largura que existia ali. Então, claro ninguém

ia derrubar o Prédio da Prefeitura, mas a partir do prédio

poderiam ter alargado novamente. O próprio, a localização de

cemitérios. Aquele cemitério evangélico ali, ouvi de pessoas

contarem, as famílias evangélicas reclamavam da distância do

cemitério da igreja por que era costume, quando se vai para o

interior, normalmente o cemitério é perto da igreja. E aí fizeram

o cemitério lá em cima e então reclamavam que era muito

longe, na época não tinha carro fúnebre, tinha-se que carregar

o caixão até ou de carroça. Mas eu acho assim que felizmente

Lajeado teve um Plano mesmo que não tenha sempre sido

respeitado. Mas o Plano de 74 ele foi muito útil para Lajeado.

Então loteamentos novos que foram surgindo, pelo menos isso

já se passou, e também a ocupação espacial. Hoje quem

trabalha na SEPLAN, toda hora tem questões de contribuintes

ou até de empresas tentando tirar o máximo de proveito de um

terreno, então de não querer respeitar recuo de jardim, recuo

lateral, recuo de fundos, mas os nossos técnicos da SEPLAN

de muito tempo eles são cumpridores da legislação. Claro tem

muita construção que existe hoje que está errado e que não

tem o “habite-se” ainda, as pessoas ainda não conseguiram

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averbar no Registro de Imóveis, não o que eles um dia vão

fazer, mas então esta regularização fundiária, uma hora dessas

o município deve ver esta questão mesmo não tendo atendido

toda a legislação que estas situações possam ser

regularizadas.

Entrevistador : Tem uma previsão de acordo com o Estatuto das Cidades.

Vilar Majolo: É possível isso, mas aqui ainda não aconteceu.

Entrevistador : Regularizar um imóvel que está irregular.

Vilar Majolo: Sim. Então por exemplo a largura da Alberto

Pasqualini começando ali no Posto Faleiro, esta largura não

existia em toda extensão até o trevo e ali a Avenida Acvat, por

exemplo, alguém contou para mim uma época foi uma

exigência dos americanos da Souza Cruz. O bairro recebeu

este nome Americano por que os americanos que eram os

donos da Souza Cruz e ali eles exigiram uma avenida lateral e

exigiram também o alargamento da continuidade por que a

Alberto Pasqualini terminava, a largura terminava no Hotel

Mariani, por ali, na Avenida Acvat.

Entrevistador : No Posto Giovanella tinham construções que avançavam muito na

avenida.

Vilar Majolo: Mais adiante, perto do trevo também. E isso

custou caro ao município, houve várias demolições. Isto custou

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caro, foi no tempo do governo Petry, Erni Petry. Então isto

custou caro para o município, até lá na frente, no Beuren, no

Antoniazzi, aquelas construções houve indenizações. O que vai

tem que acontecer mais adiante no São Cristóvão. A Alberto

Pasqualini tem essa largura até a ponte do Forqueta e se tu

caminhar, a poucos dias fui até a ponte de ferro e fiquei

observando, o asfalto tem menos largura, mas as novas

construções já tiveram que observar o recuo de 30 metros, 15

do eixo mais quatro metros de recuo de jardim. Então se não

tivesse tido o Plano de 74 e não tivesse sido feito esta revisão

em 92, o novo Plano que condensou as demais leis num único

documento e a partir deste momento se tinha um órgão

específico na Prefeitura de cuidar do Plano, o município passou

a ter técnicos graduados para isso, poucos municípios da

região não tem condições de manter um arquiteto em tempo

integral, então normalmente eles contratam uma empresa ou

contratam um profissional para um turno ou dois turnos por

semana coisa parecida para cuidar de suas previsões e alguns

municípios novos como Travesseiro, Forquetinha eles fizeram

um Plano Diretor de ocupação da área urbana que nós ainda

não temos, ainda teria tempo. Em Conventos, por exemplo, já

prever um traçado urbano para Conventos, um traçado urbano

para São Bento, ainda teria tempo. Existe uma via principal e

quando surgi um loteamento, hoje por exemplo, nós temos esta

via aqui [o entrevistado demonstra com um desenho], aqui tem

uma outra via, aqui as glebas estão assim, então esta gleba

aqui começou com um loteamento e previu uma rua aqui, outra

aqui [o entrevistado demonstra com um desenho]. Os demais

vão ter que observar isto aqui, a seqüência, então pode não ser

mais correto isso aqui [o entrevistado aponta no desenho].

Forquetinha fez isso, fez um traçado de todas as ruas que um

dia vão ser abertas e isso seria importante, eles colocaram

marcos lá, pelo que me foi falado, eu não conferi in locu. Foi

conversado que um colono desses quer construir embora a

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área dele ainda não foi loteada e quer fazer uma casa novo,

não vai poder construir onde está previsto passar uma rua,

então as ruas não vão ser necessariamente nas divisas dos

lotes. Então o Plano Diretor ele foi útil para muitas coisas, por

exemplo, calçamentos, ou loteamentos, melhor. Loteamentos

que foram abertos na divisa de propriedades, a rua foi aberta

na divisa de uma propriedade e aí a Prefeitura aceitava meia

largura de rua, 7 metros e o proprietário lindeiro quando ele

quisesse fazer o loteamento ele tinha que prever a rua

restante, ele tinha que doar o restante da rua. E tem áreas que

nunca foram loteadas ainda, então nós temos o caso específico

da Rua Pedro Osvaldo Dahlen ao longo da Univates.

Entrevistador: Ela tem somente uma via.

Vilar Majolo: Tem só, são 7,5 m me parece ali, a largura. Hoje,

uns anos atrás quando eu estive na Secretaria do

Planejamento surgiu a intenção de um loteamento lá em

Conventos e o loteador queria traçar a rua na divisa, esta era a

gleba [o entrevistado mostra com um desenho] e ele queria

colocar a rua aqui na divisa, 7 m, aí nós dissemos que não, ou

ele conseguisse do proprietário lindeiro a assinatura de um

termo que ele estava antecipando o arrumento da propriedade

dele para um futuro loteamento e teria que ser aberta a

totalidade da largura total, os 14 m, ou ele comprasse a faixa

que faltava, os 7 m do vizinho para ele poder unificar as duas

matrículas para poder fazer o loteamento e assim ele

conseguiu a concordância do vizinho. O vizinho entrou com um

projeto de loteamento também ai se conseguiu. Hoje isso não

acontece mais. Houve uma época, quando o Plano não era

respeitado, ou não contemplava isso, mas hoje o arquiteto

Roberto ele não aprova nenhum loteamento se não tiver todas

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as ruas com a largura total exigida por lei. Depois dificulta, por

exemplo, o próprio calçamento, a contribuição de melhorias só

pode ser cobrada de quem faz frente e o outro não quer

contribuir por que ele não está loteando a área dele e lá no

Jardim do Cedro nós temos um caso que é a Avenida Brasil,

chamam de avenida mas na verdade ela tem 7 m de largura, o

lado do Cruzeiro ainda é Lajeado existe um curtume enquanto

este curtume funcionar ali nunca vai lotear e ele não quer doar

nada, não está parcelando a área dele, por que o acesso dele,

ao curtume é na rua da Divisa com Cruzeiro, uma rua acima,

então assim existem muitos conflitos mas eu acho assim que o

Plano Diretor para Lajeado ele foi muito útil embora nem

sempre tenha sido observado na totalidade.

Entrevistador : O senhor tem conhecimento se Lajeado foi um dos pioneiros em

fazer um Plano Diretor?

Vilar Majolo: Aqui na região eu creio que sim, 73, 74, tudo

começou em 73 dever ter sido o pioneiro e esse é um dos

grandes méritos do Alípio Hüfner. Ele tinha esta visão, ele era

uma pessoa bastante temperamental, difícil de lidar com ele,

mas ele tinha uma opinião formada e ele era estudioso no

assunto, ele conhecia de cabo a rabo esta legislação toda e o

esforço dele conseguir firmar aquele convênio valeu a pena.

Entrevistador : O Strasburger falou que quando ele ia a Porto Alegre enquanto ele

não conseguia ele não desistia.

Vilar Majolo: Eu acredito que ele conseguiu muita coisa pela

insistência e para eles se verem livre dele.

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Entrevistador : O homem era batalhador e o Strasburger tem estes levantamentos.

Lajeado na época mais conseguiu financiamentos federais.

Vilar Majolo: No São Cristóvão ali perto onde eu moro, imagina,

o pessoal que não lembra dessa história ou vieram morar

depois, a Escola Érico Veríssimo era uma escola do PREMEM,

uma escola federal e essa escola ele conseguiu. A escola do

SENAI, ao lado, foi ele que conseguiu trazer. O Centro

Esportivo Municipal que é hoje Mário Lampert foi ele que

construiu e no lado debaixo ali, era o Centro Social Urbano foi

ele que conseguiu, hoje o município é o dono da área. O

Estado devolveu para o município a área e funciona um centro

de saúde lá dentro, então são quatro obras importantes ali na

vizinhança, muito próximas uma da outra e assim foram várias

outras obras importantes. Na época se dizia que não tinha mais

arroio que chega para fazer pontes.

Entrevistador : Na Câmara de Vereadores tem muita foto dele, inaugurando

escolas, pontes.

Vilar Majolo: Eu tenho assim, não digo mágoas, mas que

poderiam ser diferentes na Prefeitura. O Alípio ele tinha o

cuidado de registrar tudo com fotografia e ele tinha um álbum

dele, fazia duas cópias de fotos, uma para a Prefeitura e um

para um álbum dele. E esse álbum dele ele deve ter isso ainda.

Isso ficou com ele, deve estar lá em Sério. O da Prefeitura não

sei que fim levou. Então a Prefeitura ainda devia resgatar a

história através de fotografias. Eu não sei se o Arquivo

Histórico lá na Biblioteca Pública tem isso. Então se cada

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prefeito tivesse feito o que o Alípio fez de fazer um álbum para

ele, ele poderia levar para casa e depois, no dia em que o

Alípio morrer, esta segunda esposa dele, ela não deve ter

interesse por aquilo, os filhos dele também não, nem morram

aqui mais, então aquilo sim é um documento histórico. Eu até a

poucos dias andei recolhendo umas fotografias aéreas que

estavam espalhadas pelo prédio. Poucos dias encontrei mais

uma na sala do Ibagé, no Planejamento, estava encostado

numa parede e eu perguntei o que vocês vão fazer com esta

fotografia aérea aqui. “Não sei, vamos botar fora, seu lá”. Então

deixa para mim que eu vou levar, vou descobrir a data, o ano

em que foi feita e eu fui no arquivo e eu descobri a data da

fotografia, o ano pelo menos. Então eu falei com a secretária

Eliana se é possível nós pendurarmos estes quadros na

recepção do [sic], tem uma parede grande no [sic] , por que lá

no Arquivo Histórico eles também não tem onde guardar. Claro

que o ideal seria guardar numa forma ordenada, num ambiente

sem umidade, mas pelo menos eu vou recolher o que eu

encontrar aqui por dentro, esta aqui [o entrevistado mostra as

imagens] eu consegui identificar. Isto é um documento

histórico, a evolução da cidade.

Entrevistador : Sim

Vilar Majolo: Estamos falando do Alípio, então pode até parecer

que um prefeito quando ele assume ele quer apagar a história

do anterior e isso não deveria acontecer, isso tende a ser mais

nítido quando muda o partido no governo, isso não deveria,

claro as fotografias, eu não sei onde elas estão mas eu ainda

tenho algumas pretensões quando eu me aposentar e

contribuir, fazer um trabalho voluntário, tipo essa das

fotografias de ir atrás. Você já falou que estava pesquisando,

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uma outra questão que ainda não foi melhorada na prefeitura é

ter escrito as tarefas de cada setor. Temos a nossa

organização administrativa ele prevê vários empregos ou

cargos, o que mais tem na prefeitura é o fiscal administrativo,

auxiliar de administração. E o auxiliar de administração pode

atuar em várias secretarias, então digamos que seja um setor

ou Arquivo da Prefeitura, ou então o Setor de Patrimônio da

Prefeitura, o Almoxarifado, então o auxiliar de administração

que vai trabalhar na Fazenda no Setor de Cadastro Imobiliário,

então no Setor de Recursos Humanos, cada função lá dentro,

descrever isto no papel. Quando alguém tira férias o substituto

saiba o que tem de ser feito, a rotina. Isto não está muito claro

ainda no papel, deve ser aperfeiçoado aqui dentro e isso só vai

acontecer se alguém pegar isso, ter como atribuição específica,

fica livre de qualquer outra tarefa para fazer isso e aí começar

setor por setor, sentar do lado de alguém: o que falta aqui, o

que tu faz aqui? Aí em alguma situação eu questionava uns

anos atrás o Setor de Contabilidade por que vocês estão

fazendo esta tarefa? Ah por que nos foi dito que tinha que ser

feito, aí eu perguntei: mas vocês nunca questionaram por que é

feito isso aqui, qual é a utilidade deste documento? Aí não me

souberam responder. Isto está sendo feito desde 73 quando

existia uma escola dentro da Prefeitura, a SERFHAU, a

SUDESUL, na época disseram que tinha que se fazer este

documento e continua sendo feito até hoje.

Entrevistador: Já é uma tradição.

Vilar Majolo: Então, por exemplo, há tempo a gente questionou

a utilidade dos relatórios de cada secretaria faz mensalmente,

então é uma outra tarefa que eu vou atrás disso, vou saber. O

que deve constar num relatório mensal? Quem vai olhar este

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relatório? Quem vai acompanhar, fazer este acompanhamento,

nós temos o Setor de Controle Interno da Prefeitura mas não

tem especificamente esta função. Então tem coisas assim

como existe esta necessidade, o Plano Diretor muito mais,

então o que eu posso dizer. Se eu vou perguntar para as gurias

lá embaixo no Planejamento, as arquitetas, se elas tem

condições de dedicar um dia da semana para rever o Plano. Aí

você olha na prateleira de projetos o que elas tem para

analisar, em termos de obras, nós vamos nos espantar, é muita

construção em Lajeado, é impressionante. Há poucos dias tive

lá, eu não falei para elas, mas como eu conheço o local vi a

prateleira cheia de expedientes que elas devem analisar.

Entrevistador: Sr Vilar, existe, a coisa fica mais técnica, tem técnicos preocupados

com o Ambiente, esses que fazem a coisa acontecer, até a equipe de arquitetos e

engenheiros, ou tem alguém que fala sobre o Ambiente, além da Secretaria do Meio

Ambiente.

Vilar Majolo: Aquele projeto, Lajeado Século XXI ele estava

sugerindo a criação de um Instituto de Planejamento na

Prefeitura. Porto Alegre tem uma Secretaria, o licenciamento

das obras é feito na Secretaria de Obras e eles tem uma

Secretaria de Planejamento que pensa as coisas, não licencia

obras, só planeja a cidade. Aí existe aquela experiência de

Curitiba, eles tem um Instituto de Planejamento, isso foi mais

uma ambição do prefeito da época que é o Jaime Lerner, e ele

praticamente levou o escritório dele para dentro do município,

então aí, Bento Gonçalves fez isso, criou um Instituto de

Planejamento. Nós fizemos uma visita técnica uns anos atrás

na Prefeitura de Bento a este Instituto, e pelo relato que eles

fizeram, na verdade era Secretaria de Planejamento, só deram

outro nome e aí eu perguntei para o dirigente deste instituto,

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era um leigo na época, mas tinha uma arquiteta que era a

diretora do instituto. Aí eu perguntei para ela se eles tinham

tempo para planejar. Ela disse não, só estavam fazendo o

“feijão com arroz” do dia-a-dia, não tinha este tempo para

planejar e isso no meu entender falta aqui na Prefeitura

também. Conversando com o Beto Fluck a poucos dias ele me

disse que ele tem a idéia de reservar um dia da semana para

num primeiro momento concluir a revisão do Código de

Edificações, isto sim é um documento separado. Nós temos o

Plano Diretor, Código de Licitações e Código de Posturas, são

três documentos importantes na Secretaria de Planejamento e

nós já fizemos uma boa parte dessa revisão foi feita no Código

de Edificações mas deve ser concluído. E para contar com a

participação da comunidade é muito difícil, a maioria dos

técnicos, por exemplo, da SEAVAT para alguém fazer um

trabalho voluntário nessa área, difícil arrancar deles alguma

coisa. Eles estão ocupados, o profissional que é bom está

ocupado. Então uma forma de remunerar eles é difícil o

município conseguir fazer isso a não ser através de uma

entidade. Então pelo volume de serviço que hoje existe no

Planejamento eu vejo pouca possibilidade de se planejar. Eles

tem momentos, eles fazem reuniões semanais com a equipe

técnica mas ainda é pouco. Se nós pudéssemos ter um

arquiteto pelo menos e alguns estudantes de Arquitetura que

pudessem se dedicar só a isso. Ver onde existem os gargalos,

onde existem as dificuldades, essa ocupação espacial.

Entrevistador : A própria Univates, tem cursos de Arquitetura, Engenharia,

resolveria aquela coisa do tempo, os estudantes...

Eu acho que a Univates teria muita facilidade, condições de

poder participar de uma revisão na participação mais efetiva,

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uma revisão do Plano. Eu não sei como está o curso de

Arquitetura da Univates, se eles tem um número suficiente

sempre de alunos. Eu vejo outra questão que a Univates criou

o curso de Técnico em Edificações.

Entrevistador: A maior dificuldade é isso, alguém que consiga fazer, ter esta visão

globalizada, de juntar as coisas. Todo mundo é muito especialista para alguma

coisa, eu sou arquiteto, eu sou engenheiro, eu sou advogado, eu sou médico e é

difícil ter uma pessoa que tenha esta visão um pouco geral e que consiga passar

para o outro a importância dessa integração.

Vilar Majolo: Eu não sei como a Univates pensou esta criação

do curso Técnico em Edificações por que ele concorre com o

curso de Arquitetura, então o curto técnico acho que é de dois

anos enquanto a faculdade de Arquitetura é de cinco, então

tem, imagino que tem pessoas dizendo “por que vou fazer um

curso, pagar cinco anos se eu posso fazer em dois. É claro que

tem uma limitação. O técnico tem uma limitação, ele pode fazer

projetos até uma determinada metragem e tem várias

questões, limites que ele tem de observar, não é o mesmo

profissional, um engenheiro ou um arquiteto.

Entrevistador : Acho que era isto. Sr. Vilar, eu gostaria de agradecer a oportunidade

de poder fazer esta entrevista que muito vai auxiliar na minha pesquisa.

Vilar Majolo: Estou sempre à disposição. Obrigado.

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ANEXO B - Entrevista com Wilson Haussen Jacques

Ficha Técnica da Entrevista

Entrevistado: Wilson Haussen Jacques

Justificativa para a escolha do entrevistado: o entrevistado foi vereador do MDB em

1974, época do primeiro Plano Diretor de Lajeado. Foi vice-prefeito na administração

de Darci José Corbellini, entre 31 de janeiro de 1977 a 31 de janeiro de 1983.

Entrevistador: Alencar Wissmann Alves e Marcos Rogério Kreutz

Local: Rua Santos Filho, 401 - Sala 210 – Lajeado/RS

Data: 18 de janeiro de 2010

Duração: 18min14seg

Dados biográficos

Nome: Wilsons Haussen Jacques

Data de nascimento: 23 de setembro de 1931

Formação: Direito

Atuação: Advogado

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Sobre a equipe de trabalho

Pesquisa e levantamento de dados: Alencar Wissmann Alves

Elaboração do roteiro: Alencar Wissmann Alves

Responsável de gravação: Marcos Rogério Kreutz

Transcrição da entrevista: Marcos Rogério Kreutz

Conferência da transcrição: Alencar Wissmann Alves

Trabalho de copidesque: Marcos Rogério Kreutz

Palavras-chave : Lajeado, Plano Diretor, Urbanização, Planejamento.

Entrevistador: Naquela época o Alípio queria fazer o Plano Diretor de Lajeado o

que o senhor recorda na época o que aconteceu na Câmara de Vereadores, teve

algum debate?

Wilson Haussen Jacques: Naquela época em 74, eu fui

vereador, não, não praticamente não tinha oposição ao

governo Alípio, uma oposição destrutiva, tinha uma oposição

construtiva. Aquilo que fazia bem para o município agente

apoiava. Não teve praticamente richa com a bancada

oposicionista na época em que eu fui vereador. Eram tranqüilas

as coisas.

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Entrevistado r: Não tinha aquele acirramento?

Wilson Haussen Jacques: Não, não tinha. Não existia isso.

Entrevistador: O senhor recorda quando falaram do Plano Diretor a vocês ou não.

Simplesmente largaram o projeto e “vamos votar”?

Wilson Haussen Jacques: Não, evidentemente que tinha o

Plano Diretor foi apresentado e foi estudado na época.

Algumas emendas foram procedidas, mas infelizmente agora

não me recordo para dizer mas era estudado e analisado. Era

aprovado o que era melhor para o município.

Entrevistador : Chegava a ter um debate com a oposição? O que naquela época

representava o Plano Diretor? O senhor se recorda?

Wilson Haussen Jacques: Não, não me lembro. Não tem como

descrever alguma coisa.

Entrevistador : Nenhuma coisa relevante do Plano Diretor com foi?

Wilson Haussen Jacques: Não, não me lembro. Fazem 30 anos

maio ou menos.

Entrevistado r: Trinta e quatro. E como era a atuação na época do prefeito Alípio

Hüfner?

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Wilson Haussen Jacques: Sim ele era trabalhador, era

dinâmico. Ele tinha um bom relacionamento com a bancada da

oposição também. A oposição não era intransigente, apesar de

ele ser assim um pouco enérgico, mas ele não oferecia assim

uma resistência.

Entrevistador : Não era do tipo complicador?

Wilson Haussen Jacques: Não, não. Havia diálogo, havia

diálogo.

Entrevistador : E alguma coisa que ele fez que o senhor se lembra, alguma coisa

relevante para a cidade?

Wilson Haussen Jacques: Ele fez muitas coisas, para mim

enumerá-las agora fica muito difícil, mas ele foi um prefeito

razoavelmente bom.

Entrevistador : As relações com o governo estadual e federal eram boas?

Wilson Haussen Jacques: Eram boas. Era um prefeito

trabalhador, dinâmico. O relacionamento com o funcionalismo

público foi relativamente bom. Eu fui quinze anos funcionário

da Prefeitura Municipal de Lajeado.

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Entrevistador: Depois o senhor foi vereador?

Wilson Haussen Jacques: Depois fui vereador.

Entrevistador: O senhor era funcionário?

Wilson Haussen Jacques: Fui, era funcionário. Trabalhei na

Contadoria.

Entrevistador : O senhor já era advogado?

Wilson Haussen Jacques: Antes de ser advogado. Depois eu

me afastei. Fui vice-prefeito também.

Entrevistador: De que prefeito o senhor foi vice?

Wilson Haussen Jacques: Fui vice do Darci Corbellini. Depois

do Alípio. Fui prefeito em algumas oportunidades,

especialmente nas férias do Darci Corbellini. E naquele ano foi

da prorrogação do mandato. De quatro foi prorrogado para seis

anos.

Entrevistador : Como foi a experiência de prefeito na época?

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Wilson Haussen Jacques: Foi boa. Por que eu também não

tinha assim grandes pretensões políticas talvez para introduzir

alguma modificação. Conduzi a administração conforme

projetos já existentes. Eu sempre digo quando passo ali no

canal, tem um pontilhãozinho, uma pontizinha que liga ali

determinadas residências. Fui prefeito quando foi construído.

Entrevistador : A sua obra?

Wilson Haussen Jacques: É a minha obra. Aquilo não dá nem

para falar muito, uma coisa tão insignificante, mas aquilo fui eu

que fiz fora da administração do Darci. Foi era muito agradável

naquele tempo. O relacionamento entre os vereadores era

muito bom.

Entrevistador : Como era Lajeado na década de 1970? Como era a cidade de

Lajeado.

Wilson Haussen Jacques: Bom Lajeado. Vocês são daqui de

Lajeado?

Entrevistador: Sim.

Wilson Haussen Jacques: Sabem perfeitamente o salto que

deu a cidade nos últimos vinte anos. Uma coisa de louco.

Entrevistador : Vocês imaginavam este crescimento?

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Wilson Haussen Jacques: Esta explosão? Não dava para sentir

isso. Se agente mora aqui, os fatos vão ocorrendo

gradativamente. Quando viu está esta situação aí. Tem uma

faculdade que progrediu, uma universidade e assim

sucessivamente e a cidade ficou reduzida com o grande

número de emancipações que aconteceram, reduziu o território

e automaticamente vem muita gente do interior para cá

também.

Entrevistador: Como o senhor vê esta explosão? Na época Lajeado era bem

menor.

Wilson Haussen Jacques: Era bem menor. É eu acho que

Lajeado não tava bem preparada para esta explosão. Se

agente vê o transito, uma coisa fenomenal, infra-estrutura e

construção de tudo quanto é jeito.

Entrevistador : Na época era bem mais fácil de construir. Hoje é bem mais

complicado?

Wilson Haussen Jacques: Bem mais complicado.

Entrevistador : Então na época era bem mais fácil. Não tinha uma preocupação com

o meio ambiente.

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Wilson Haussen Jacques: Claro. É uma coisa que veio também

trancar muita coisa. Hoje em dia não se pode derrubar uma

arvore sem licença. Agora estão tratando até de alterar esse

projeto do meio ambiente. Está sendo modificado, tem projeto.

Entrevistador : No primeiro Plano Diretor o senhor notou que a população percebeu

alguma mudança ou só ficou na esfera política?

Wilson Haussen Jacques: Não, não falavam. Hoje tem 70 mil

habitantes. Naquele tempo, há trinta anos atrás, 20 mil talvez.

Foi um salto muito grande.

Eu fui presidente do MDB doze anos e depois no PMDB dois

anos. Eu fui vice-presidente do Leopoldo e quando ele assumiu

a prefeitura aí eu fui presidente. Hoje sou apenas membro do

Diretório.

Entrevistador : O senhor falou que havia uma boa relação entre os partidos e o

prefeito tinha um bom relacionamento. Havia uma preocupação com os problemas

de Lajeado?

Wilson Haussen Jacques: A Câmera participava. Eu até

criticava quando os vereadores da situação iam pra imprensa

fazerem as reivindicações. Eu achava que eles tinham que

fazer diretamente com o prefeito, com as secretarias. Deixar

por exemplo esta outra parte que não tinha esse acesso, a

oposição. Entendeu como era. Quando nós éramos governo

essas reivindicações se faziam direto com o prefeito. Um

prefeito que era muito bom era o Mario Lampert. Ele era aquele

advogado provisionado e ele era advogado da Prefeitura.

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Entrevistador: Nós vamos entrevistar o Vilar Majolo.

Wilson Haussen Jacques: É o Vilar é daquela época. O Vilar

Majolo é uma boa pedida para dar a entrevista. Era da corrente

arenista daquele tempo.

Entrevistador: Quanto aos problemas de Lajeado, a enchente é uma delas. Em

1941 houve deu uma enchente grande.

Wilson Haussen Jacques: 1941 foi a maior de todas.

Entrevistador: O senhor é daquela época?

Wilson Haussen Jacques: Não. Eu era piá naquela época, eu

tinha dez anos de idade. Aqui foi a maior enchente de todas.

Isso que foi agora não foi uma enchente, foi nem sei o que.

Entrevistador : Foi uma chuva muito forte.

Wilson Haussen Jacques: Um vendaval que houve. Parece que

tinha rompido uma grande barragem, entendeu? Uma bomba

d’água arrasou Marques de Souza. Arrasou.

Entrevistador : Travesseiro também.

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Wilson Haussen Jacques: É. Travesseiro fez uma faxina em

tudo.

Entrevistador : O que o governo na década de 1970 falava sobra a enchente. Havia

alguma preocupação com esta população que morava próxima ao rio?

Wilson Haussen Jacques: Sim. Sempre foi falado em tirar esta

população da zona baixa. População assim sem recursos, mais

nunca foi feito. São sempre medidas paliativas, uma coisa em

profundidade não houve. E também para sanear isso, sanar

para evitar as enchentes, também nunca foi feito nada, foi

falado. Isso é uma coisa muito difícil, eu não acredito.

Entrevistador : Eu gostaria de agradecer o senhor pela atenção e pela entrevista

que o senhor concedeu.

Wilson Haussen Jacques: É uma pena que eu não me recordo

de mais detalhes.

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ANEXO C - Entrevista com Venâncio Eugênio Diersmann

Ficha Técnica da Entrevista

Entrevistado: Venâncio Eugênio Diersmann

Justificativa para a escolha do entrevistado: o entrevistado foi vereador e secretário

da Mesa Diretora no ano de 1974, data do primeiro Plano Diretor de Lajeado.

Entrevistador: Marcos Rogério Kreutz

Local: Rua Júlio de Castilhos, 910 – 4º Andar – Lajeado/RS

Data: 26 de janeiro de 2010

Duração: 18min39seg

Dados biográficos

Nome: Venâncio Eugênio Diersmann

Data de nascimento: 02 de janeiro de 1941

Formação: Letras e Direito

Atuação: Advogado

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Sobre a equipe de trabalho

Pesquisa e levantamento de dados: Alencar Wissmann Alves

Elaboração do roteiro: Alencar Wissmann Alves

Responsável de gravação: Marcos Rogério Kreutz

Transcrição da entrevista: Marcos Rogério Kreutz

Conferência da transcrição: Alencar Wissmann Alves

Trabalho de copidesque: Marcos Rogério Kreutz

Palavras-chave : Lajeado, Plano Diretor, Urbanização, Planejamento

Entrevistador : Qual era o cargo que o senhor ocupava na época do primeiro Plano

Diretor na Prefeitura?

Venâncio Eugênio Diersmann: Cargo na Prefeitura eu não

ocupava. Era vereador e pertenci à mesa diretora em 73 e 74

como secretário. Em 75, 76 eu assumi a presidência.

Entrevistador : De que forma o senhor participou na elaboração do Plano Diretor.

Ou este Plano já veio pronto do Executivo para Câmara aprovar ou a Câmara teve

alguma influência?

Venâncio Eugênio Diersmann: Eu não lembro bem assim de

detalhes, mas quero crer que esse Plano Diretor, ele na época

ele provavelmente veio de uma equipe técnica inclusive do

Governo Central, Governo Federal. Havia um órgão...

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Entrevistador : SERFHAU?

Venâncio Eugênio Diersmann: Sim exatamente. Ele tinha

espalhado Brasil afora modelos desse planejamento urbano e

caiu uma proposta dessas também no município de Lajeado e

foi acolhida, encaminhada pelo chefe do Executivo na época, o

prefeito Alípio Hüfner, penso que a Câmara não teve grande

participação no debate, no exame técnico da matéria até por

que nós como vereadores, nós não tínhamos na época uma

equipe de assessoramento que inclusive nos desse respaldo

para validar e avaliar. Hoje os Legislativos de modo geral estão

melhores aparelhados neste aspecto. Então tenho a impressão

de que se avaliou na casa Legislativa muito pouco. Se acolheu

mais por ser uma proposta técnica, e como tal presumidamente

adequada. Até acrescentando, até por que na época o prefeito

tinha na Câmara ampla maioria. Era o sistema bipartidário. A

ARENA tinha dez vereadores e MDB cinco, sendo de que dos

dez da ARENA, três pertenciam a sublegenda que era uma

espécie de oposição ou quase oposição dentro da ARENA. E

entre esses três figurava eu, o vereador Arai Mello Christ e o

falecido vereador Bernardino Rios Pinto, eram os três entre os

dez da sublegenda. Ora votávamos com o MDB, ora com a

ARENA. Se me perguntar agora se votei na ocasião a favor

não me lembraria. Provavelmente votei a favor, por que se

tinha impressão de que aquilo era uma proposta adequada.

Entrevistador : Na semana passada conversamos com o Sr. Vilar Majolo e ele falou

do Plano Diretor na época foi muito importante. Ele mencionou que certas coisas

foram melhoradas com o tempo.

Venâncio Eugênio Diersmann: É o grande salto em termos de

Plano Diretor foi dado depois no primeiro governo do Sr.

Claudio Schumacher. Aí sim houve também, naquele período

eu trabalhei na Prefeitura provavelmente como Secretário da

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154

Administração ou um cargo de assessoria. Esse Plano Diretor,

esse sim ele teve um embasamento técnico, trabalhavam sim

algo de oito meses por uma equipe técnica especializada,

houve na ocasião o primeiro levantamento aerofotogramétrico,

então este Plano Diretor o que significou na ocasião um grande

avanço em termos de tecnicidade combinada com a realidade

local efetivamente, então me parece que esse sim foi o grande

salto em comparação com aquela primeira providência lá na

década de 70. Embora aquela fosse sem dúvida um

interessante ponto de partida.

Entrevistador : Em seu entendimento qual foi à necessidade de implantar este Plano

Diretor, o que o senhor sentiu na época se houve alguma melhoria. O senhor se

recorda?

Venâncio Eugênio Diersmann: Eu diria que até aquele

momento se agente conseguia sentir em Lajeado, eu não sou

filho de Lajeado, eu sou catarinense. Eu vim a Lajeado em

1962 então eu não conheço assim anos anteriores mas

naquele período na década que precedeu esse primeiro Plano

Diretor o que se tinha eu diria assim era uma espécie de

condução empírica da cidade. Hoje ainda existem

interessantes sinais disso, ruelas que fazem curvas, afunilam,

não tem saída atendendo assim necessidades casuísticas da

época. Então eu diria assim: se levava a condução da coisa

pública rigorosamente de maneira empírica de maneira

casuística mesmo, quer dizer, instala-se um comerciante, ele

precisa ter acesso, saída para seus produtos e aí se faz uma

ruela.

Entrevistador : Então ele realmente ele contribuiu.

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Venâncio Eugênio Diersmann: É o início de uma disciplinação

ou pelo menos o início de uma consciência da necessidade de

disciplinar a organização da vida urbana.

Entrevistador : Isto a população sentiu?

Venâncio Eugênio Diersmann: É, a época era uma época

peculiar, não posso lembrar bem que tipo de efeito teria tido

junto a população. A população de modo geral via na figura do

prefeito da época uma pessoa bastante autoritária, mas era

também uma época de regime autoritário, quer dizer, toda vida

brasileira era diferente. Então havia, eu até diria assim uma

certa naturalidade em se receber uma proposta vinda de cima

para baixo. Hoje seria bem diferente, hoje se carrega muito

nesta idéia da discussão de sistemas nas bases, neste espírito

de trazer as decisões de baixo para cima dentro de uma

pirâmide no processo de decisão sem desprezar naturalmente

os aspectos técnicos também.

Entrevistador : O senhor se recorda na época se houve alguma discussão na

Câmara desse Plano Diretor, o senhor se recorda se houve alguma emenda?

Venâncio Eugênio Diersmann: Disso não lembro realmente, se

houve emendas também, a maneira que foi aprovada, se

houve unanimidade. O que eu lembro é que a relação entre os

dois partidos em Lajeado era uma relação muito cordial.

ARENA e MDB em Lajeado tinham assim uma maneira

interessante de conviver. O MDB votava em matérias em

interesse público, em matérias tidas como interesse público o

MDB votava tranquilamente com a ARENA, não havia este tipo

de coisa. Havia sim situações, digamos assim, situações mais

difíceis, mais complexas ou mais intrincadas, vamos dizer

assim, quando então o jogo era o seguinte: cinco votos do

MDB mais os três da sublegenda davam oito contra sete de

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maneira que havia como derrubar matérias, principalmente

aquelas que dependiam de quorum qualificado por exemplo.

Lembro de uma ou outra situação pesada sim, por exemplo, na

apreciação de vetos do prefeito, onde então a coisa era muito

brigada, voto por voto entre os quinze vereadores. Neste caso

específico do Plano Diretor eu não lembro como foi, tenho a

impressão de que ele foi aprovado por unanimidade ou com

ampla maioria. Mas isso se pode verificar nas Atas da Câmara

de Vereadores. Eu não tenho lembrança.

Entrevistador : O senhor falou no segundo Plano Diretor, o senhor trabalhava na

Prefeitura, e, esse o senhor se recorda como foi a condução na administração do

prefeito Claudio Schumacher?

Venâncio Eugênio Diersmann: Esse se eu posso usar a

expressão, esse foi bem mais “cozinhado”, ele levou muito

tempo, meses para ser trabalhado com esse pessoal técnico

ele passou sim já desde a iniciativa no Executivo, ele passou

por instâncias coletivas colegiadas tipo se não estou enganado

na época já existia o CODULA, Conselho de Desenvolvimento

Urbano, ou este foi criado, existiu ou foi criado naquele Plano

Diretor, hoje ele tem outra denominação mas é um conselho

que examina essas questões, houve assim aquelas reuniões

com segmentos da sociedade, isso tudo seguiu bem outro

ritual. Já no campo da proposta do governo e no Legislativo eu

não lembro assim mas certamente foi bem mais debatido, não

lembro especificamente de dessa ou daquela emenda,

possivelmente algum elemento talvez de flexibilização de

alguns pontos tenha vindo da Câmara. Hoje o que se tem, uma

constatação que se faz, ano após ano é que o poder Executivo

ele tem uma visão mais firme, menos flexível talvez ou menos

tolerância em relação ao Plano Diretor, enquanto percebe-se

pelas iniciativas de projetos de lei isoladas vindo da Câmara de

Vereadores, uma tendência da Câmara no sentido de um maior

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afrouxamento, ou seja, numa linha de maior permissividade

atendendo segmentos isolados da comunidade o que na visão

do Executivo não é uma boa postura. Essa visão do geral, do

conjunto todo, uma visão mais disciplinada da organização,

então até o conjunto, claro a própria lei do Plano Diretor prevê

a possibilidade, o imperativo, de revisão periódica do Plano

Diretor, está na própria lei.

Entrevistador : Esse processo é salutar.

Venâncio Eugênio Diersmann: Exatamente, se não me engano

é de cinco em cinco anos, aí sim...

Entrevistador : O Estatuto das Cidades prevê esta revisão.

Venâncio Eugênio Diersmann: Exatamente, o Estatuto das

Cidades prevê isso, determina isso. Tenho a impressão que em

Lajeado é de cinco anos. Não sei se o Estatuto estabelece

prazo, fala só em revisão periódica.

Entrevistador : Se não me engano a revisão é em dez anos.

Venâncio Eugênio Diersmann: Então esta revisão sim, mais aí

é o que? É um reexame total do Plano Diretor para que aí sim

dentro dos melhores critérios de planejamento se faz

necessário as readequações. O que não parece ser

interessante são estes projetos isolados que atolam a

municipalidade quantitativamente em leis esparsas e que

acabam muitas vezes comprometendo o planejamento global

ou pelo menos diminuindo-lhe a eficácia. Isso se percebe de lá

para cá, desse segundo plano. Então voltando à pergunta

original, como foi, em que sentido ele teria sido diferente, eu

diria: depois sim bem mais trabalhado, bem mais discutido para

daí se transformar num instrumento bem mais eficaz do que

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aquele anterior, agora também o problema, também alguns

itens difíceis de serem operacionalizados.

Entrevistador : Então é isso Dr. Venâncio, eu gostaria de agradecer a entrevista que

o senhor concedeu.

Venâncio Eugênio Diersmann: Estou à disposição, obrigado.

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