Planejamento e Controle Financeiro

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoria: Maurício Euclides de Melo

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Programa de Pós-Graduação EAD

UNIASSELVI-PÓS

Autoria: Maurício Euclides de Melo

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CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCIRodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito

Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SCFone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Cristiane Lisandra Danna Norberto Siegel Camila Roczanski Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Bárbara Pricila Franz Marcelo Bucci

Revisão de Conteúdo: Bárbara Pricila FranzRevisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais

Diagramação e Capa: Uniasselvi

Copyright © UNIASSELVI 2018Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri

UNIASSELVI – Indaial.

M528p

Melo, Maurício Euclides de Planejamento e controle financeiro. / Maurício Euclides de Melo – Indaial: UNIASSELVI, 2018.

157 p.; il.

ISBN 978-85-53158-28-7

1.Planejamento financeiro – Brasil. 2.Controle financeiro – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 657.72

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Maurício Euclides de Melo

O professor Maurício Euclides de Melo é bacharel em Administração de Empresas pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC (2002), com especialização em Gestão Pública pela Fundação Universidade Regional de Blumenau - FURB (2011) e mestrado em Administração pela Escola Superior de Administração e Gerência, ESAG - UDESC (2012). Atuou na área de Recursos Humanos, em importantes empresas regionais, como a RBS TV - Santa Catarina, Shopping Itaguaçu e a Cia. de Gás de Santa Catarina (SCGás). Na área de gestão organizacional, no cargo de administrador, atuou no Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT) e Advocacia Geral da União (AGU). Atualmente, exerce suas atividades como Coordenador de Negócios, na SCPar - SC Participações e Parcerias S/A,

empresa estadual responsável pelo estabelecimento de participações acionárias em empresas do setor público e

privado, assim como pela gestão de empreendimentos portuários delegados ao Estado de Santa Catarina,

como o Porto de Imbituba e São Francisco do Sul. Para conhecer melhor o autor acesse o Currículo

Lattes, disponível em: <http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4441698P6>.

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Sumário

APRESENTAÇÃO ................................................................... 07

CAPÍTULO 1Princípios de Administração Financeira .............................09

CAPÍTULO 2Demonstração de Resultados .............................................35

CAPÍTULO 3

CAPÍTULO 4

CAPÍTULO 5

CAPÍTULO 6

Alavancagem Financeira e Operacional .............................61

Fluxo de Caixa Para Pequenos Negócios...........................81

Negociação com Bancos, Credores e Devedores ..........115

Novas Moedas: Riscos e Oportunidades Para Pequenas Empresas ............................................................137

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APRESENTAÇÃOManter a saúde financeira de uma empresa, assim como na sua vida

pessoal, é essencial para que se tenha sucesso no alcance dos seus objetivos. Ao avaliar o plano de negócios de uma empresa, por exemplo, um dos capítulos mais discutidos pelos investidores é o de finanças, no qual se verifica o retorno do investimento, a necessidade de capital, os custos de operação e outros indicadores financeiros do negócio. No dia a dia, é essencial que se tenha capital suficiente para cumprir com as obrigações com fornecedores, por exemplo, que esse dinheiro seja apenas o suficiente, pois ele possui valor no tempo, e capital parado perde valor.

Para quem atua em micro e pequenas empresas, conhecer o setor de finanças é tão essencial como conhecer o negócio em que se está empreendendo. Muitos empreendedores possuem um dom, um talento específico para um determinado produto ou serviço, conseguem vender e atingir um mercado, mas muitos não compreendem como funcionam as finanças e acabam por encerrar o seu negócio sem entender onde falharam.

Para cada tipo de negócio existe uma área de concentração dos estudos de administração financeira que impacta mais no seu empreendimento. Por exemplo, ter noção de capital de giro é muito importante para quem trabalha no comércio tradicional, já para quem atua em empresas inovadoras, que possuem uma curva de crescimento exponencial, conhecer a demonstração de resultados, o fluxo de caixa e a alavancagem pode ser essencial para fazer avaliação do seu negócio e trazer mais investidores.

Assim, nesta disciplina, vamos analisar as finanças na ótica dos pequenos negócios, seja para aqueles que são e se manterão tradicionalmente pequenos, seja para aqueles que começam pequenos, mas que tendem a expandir e a tornarem-se grandes no futuro. Trabalharemos os princípios da administração financeira, as demonstrações dos resultados, a alavancagem financeira e operacional, o fluxo de caixa voltado a pequenos negócios, a negociação com bancos, credores e devedores, e também trabalharemos as novas moedas, seus riscos e oportunidades. Esperamos que você tenha se interessado pelo tema e compreendido sua importância.

Bons estudos!

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CAPÍTULO 1

Princípios de Administração Financeira

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem:

Compreender os principais conceitos de administração fi nanceira.

Identifi car as principais rotinas fi nanceiras.

Debater com outros administradores os principais conceitos de administração fi nanceira.

Organizar as atividades inerentes à rotina fi nanceira de uma micro ou pequena empresa.

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PRINCÍPIOS DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA Capítulo 1

ContextualiZaçãoEm empresas grandes, a área de fi nanças é vista pelos demais

departamentos com um misto de admiração e frustração. Isso ocorre, pois, a área de fi nanças é uma engrenagem fundamental para a qual são bombeadas as receitas e integralização de capital, e de onde saem os recursos para os investimentos e custeio da empresa. Se ela não possui recursos, todo o restante da empresa perde a sua função. Assim, quando os projetos da companhia ocorrem conforme o planejado, a área de fi nanças é vista como um braço amigo, aquele que suporta a operação e fornece o capital necessário, contudo, quando é necessário contingenciar recursos, o departamento fi nanceiro acaba frustrando as intenções dos demais departamentos.

Como em pequenos negócios não há essa formalidade e burocracia de áreas, departamentos e processos, a tomada de decisão é muito ágil e rápida. No entanto, é necessário muito conhecimento e disciplina por parte dos empreendedores, para avaliar, como, quando e onde gastar o seu escasso recurso fi nanceiro. Empresas pequenas, geralmente, não possuem um departamento fi nanceiro formal, mas, ainda assim, ele é um componente da empresa, tão essencial quanto em grandes corporações. Por ser, às vezes, invisível aos olhos do empreendedor entusiasta, as decisões de investimento podem não contemplar a relação de risco e retorno adequada, trazendo prejuízos reiterados e inviabilizando negócios.

Neste primeiro capítulo, começaremos a desenhar a área fi nanceira, seus conceitos e principais funções em uma organização, independentemente do seu tamanho. Este capítulo é essencial para o entendimento de toda a disciplina, pois você compreenderá o propósito do estudo das fi nanças para as micro e pequenas empresas.

Finanças e EmpresasPara iniciarmos nossos estudos em planejamento e controle fi nanceiro, cabe

conceituar o termo fi nanças, de um modo geral. Gitman (2002, p. 4) defi ne fi nanças como a arte de gerir o dinheiro, para o autor “a área de fi nanças preocupa-se com os processos, as instituições, os mercados e os instrumentos associados à transferência de dinheiro entre indivíduos, empresas e órgãos governamentais”, ou seja, a área de fi nanças engloba todas as áreas ligadas à gestão de dinheiro, assim, temos desde os processos cotidianos de contas a pagar e a receber, como as transações no mercado fi nanceiro, os sistemas bancários, entre outras áreas. O termo fi nanças é amplo e pode ser usado tanto para empresas quanto para as fi nanças pessoais.

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Para você que está cursando esta disciplina, é interessante perceber que o conhecimento e a habilitação profi ssional na área de fi nanças podem ofertar oportunidades para a sua carreira. Gitman (2002) divide estas oportunidades em duas grandes áreas: serviços fi nanceiros e administração fi nanceira.

• Serviços fi nanceiros: está focado em desenvolver e entregar serviços de assessoramento e produtos fi nanceiros a pessoas, corporações e governo. Nesta área se inserem oportunidades de carreira em serviços bancários, assessoramento em investimentos, fi nanças pessoais, imóveis e seguro.

• Administração fi nanceira: está ligada ao papel do gestor fi nanceiro das companhias, sejam elas grandes, pequenas, ligadas ao setor fi nanceiro ou não (a grande maioria não é), públicas ou privadas, com ou sem fi ns lucrativos. Gitman (2002, p. 4) cita que as tarefas comumente desempenhadas pelo gestor fi nanceiro envolvem: “planejamento, concessão de crédito a clientes, avaliação de projetos de investimentos, e captação de fundos para fi nanciar as operações da empresa”.

Percebe-se que o administrador fi nanceiro possui um papel em qualquer tipo de empresa, basta que ela tenha recursos para serem geridos. Assim, em empresas que possuem poucos colaboradores, nas quais o cargo de gestor fi nanceiro é acumulado com outros, seja no administrativo, vendas ou operações, é essencial entender o papel e a função das fi nanças na organização, para que haja uma disciplina na gestão fi nanceira do empreendimento.

O papel do gestor fi nanceiro de uma organização é infl uenciado por diversos

fatores, como o tamanho da organização, o faturamento e a modalidade jurídica adotada. Para uma melhor compreensão deste último fator, especifi caremos as três modalidades jurídicas mais comumente adotadas pelas organizações.

Gitman (2002, p. 4) cita que as

tarefas comumente desempenhadas

pelo gestor fi nanceiro envolvem:

“planejamento, concessão de

crédito a clientes, avaliação de projetos de

investimentos, e captação de fundos

para fi nanciar as operações da

empresa”.

Modalidades Jurídicas de OrganiZação de Empresas

Gitman (2002) afi rma que as modalidades jurídicas mais comumente adotadas pelas organizações podem ser elencadas em fi rma individual, sociedade por cotas e sociedade por ações.

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PRINCÍPIOS DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA Capítulo 1

a) Firmas Individuais

Segundo Gitman (2002), uma fi rma individual é um tipo de empresa que tem uma única pessoa como proprietária. Trata-se de uma micro ou pequena empresa, por vezes ligada a algum tipo de profi ssional liberal, como arquiteto, advogado, ou então ao comércio varejista, de serviços e construção civil. Uma característica é que o proprietário possui responsabilidade ilimitada, e seu patrimônio pessoal, e não somente o capital integralizado na empresa, pode ser utilizado para quitar dívidas junto aos credores.

No ano de 2008, a partir da sanção da Lei Complementar n° 128/2008, o Brasil passou a contar com um tipo específi co de fi rma individual, o Microempreendedor Individual - MEI. O intuito da implantação desta modalidade de personalidade jurídica é tirar da informalidade milhares de empreendedores. Veja no portal do MEI os pré-requisitos e benefícios ofertados a estes microempreendedores.

Fonte: Disponível em: <http://www.portaldoempreendedor.gov.br/>. Acesso em: 8 jan. 2018.

b) Sociedade por Cotas

Segundo Gitman (2002), uma sociedade por cotas necessita de dois ou mais proprietários que atuem em conjunto para obtenção de lucro, explorando alguma atividade econômica. Por este pré-requisito, as sociedades por cotas costumam ser adotadas por organizações maiores. Segundo o autor, empresas do ramo securitário, fi nanceiro e imobiliário costumam adotar esta forma jurídica. Um contrato de associação ou acordo de acionistas costuma ser os documentos que regram este tipo de sociedade, sendo cada um dos sócios responsável, ilimitadamente, por todas as dívidas da companhia. O conceito ora apresentado está de acordo com a realidade norte-americana, mas, no Brasil, existe uma variação da sociedade por cotas, a sociedade limitada. Na sociedade limitada, os sócios respondem somente até o montante do capital social da companhia (BRASIL, 2011).

c) Sociedade por ações

A sociedade por ações é a forma mais complexa de organização, e por isso costuma ser adotada por grandes corporações. Uma sociedade por ações,

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como defi ne Gitman (2002, p. 6) é um “ente artifi cial criado por lei”. A defi nição de ente artifi cial pode soar estranha, mas ela faz sentido quando você desdobra o conhecimento de sociedade por ações. As chamadas S/A são capazes de contratar e adquirir bens em seu nome, de ajuizarem ações e serem também acionadas na justiça. A responsabilidade nesse tipo de sociedade é limitada e seus proprietários segregam o risco de ter seu patrimônio pessoal afetado diretamente por ações realizadas em nome da companhia.

Os proprietários de uma S/A são seus acionistas, que possuem ações (ordinárias ou preferenciais) de uma companhia. De modo muito resumido, podemos dizer que as ações ordinárias possuem poder de votar nas assembleias, elegendo o conselho de administração e algumas matérias relevantes quanto ao futuro da companhia. As preferências, como o próprio nome já diz, no recebimento de dividendos, partem do lucro da companhia destinado a remunerar o capital investido.

Existem pelo menos duas fi guras que distinguem as S/A das outras formas jurídicas: os acionistas e o conselho de administração. Os proprietários não realizam diretamente a gestão do seu empreendimento, em vez disso, eles elegem um conselho de administração que, segundo Gitman (2002) é a autoridade máxima na gestão da empresa, defi nindo a sua política geral. O conselho de administração, por sua vez, seleciona o presidente ou CEO (chief executive offi cer) que comandará a empresa em suas atividades diárias. Veja na fi gura a seguir, como existe uma diferença entre os acionistas, conselho de administração e presidente. No próprio organograma, fi ca clara a diferenciação da gestão do dia a dia da organização com os acionistas e seus representantes, isso ocorre para que o conselho possa ser independente, e garantir o interesse dos acionistas, monitorando e fi scalizando a gestão realizada pelo presidente. Este precisa ter em mente que não é o proprietário da companhia e não pode conduzi-la para o interesse próprio, precisa maximizar o retorno do acionista, o que pode signifi car, em certas ocasiões, assumir determinados riscos que por sua própria avaliação não o faria. Por exemplo, para uma companhia que já possui um produto bem estabelecido no mercado, que rende um faturamento razoável para manter as contas da empresa em dia, garantindo uma boa remuneração ao seu presidente, este tenderia a não descapitalizar a empresa para investir em novos produtos, arriscando a saúde fi nanceira da companhia, mas poderia estar deixando passar uma oportunidade de maximizar o retorno ao acionista. Assim, o presidente responde às políticas determinadas pelo conselho de administração, representantes dos interesses dos acionistas.

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PRINCÍPIOS DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA Capítulo 1

Figura 1 – Estrutura de uma sociedade por ações

Proprietários

Administradores

Acionistas

que contrata o

conselho deadministração

elegem o

Presidente(CEO)

Vice-presidente de recursos humanos

Vice-presidente

de operações

Vice-presidente de fi nanças

(CFO)

Vice-presidente

de marketing

Vice-presidente de sistemas

de informação

Tesoureiro Controller

Gerente de gastos de capital

Gerente de crédito

Gerente de operações de câmbio

Gerente de assuntos

fi scais

Gerente de contabilidade

de custos

Gerente de planejamento

fi nanceiro e captação de fundos

Gerente de caixa

Gerente do fundo de pensão

Gerente de contabilidade

gerencial

Gerente de contabilidade

fi nanceira

Fonte: Gitman (2002, p. 7).

Toda essa governança diferenciada traz consigo um custo e uma burocracia, fazendo com que ela seja vantajosa para apenas um determinado número de organizações.

O Quadro 1 aborda as vantagens e as desvantagens de adoção de determinada modalidade jurídica para cada tipo de organização.

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Quadro 1 – Pontos fortes e fracos das modalidades jurídicas mais comuns da organização

Firma Individual Sociedade por cotas

Sociedade por ações

Pontos fortes

-Proprietário recebe todos os lucros (e assume todos os prejuízos).-Custo baixo de organização.-Lucro incluído e tributado na declaração de rendimento de pessoa física do proprietário.-Independência. -Sigilo.-Facilidade de dissolução.

-Pode captar mais recursos que as fi rmas individuais.-Poder de endivida-mento ampliado com a existência de mais sócios. -Maior disponibili-dade de poder de gestão.-Lucro incluído e tributado nadeclaração de rendimento de pessoa física dossócios.

-Os proprietários têm responsabili-dade limitada, o que garante que não podem perder mais do que investem. -Pode alcançar porte substancial com a venda de ações. -As participações(ações) são facil-mente transferíveis.-Duração longa. -Pode contratar administradores profi ssionais.-Tem acesso maisfácil a fi nanciamento.

Pontos fracos

- O proprietário tem responsabilidade ilimitada, todo o seu patrimônio pessoal pode ser utilizado para pagar dívidas da empresa.-O poder limitado de captação de recur-sos tende a restrin-gir o crescimento.- O proprietário pre-cisa ser um gestor eclético.-É difícil oferecer car-reiras de longo prazo aos funcionários.-Não tem continui-dade com a morte do proprietário.

-Se o modelo adotado for o de sociedade ilimita-da, os proprietários podem ter respons-abilidade não limit-adas e podem ser obrigados a saldar as dívidas de outros sócios.-A sociedade é dis-solvida quando um dos sócios morre. -É difícil liquidar ou transferir a partici-pação de um sócio.

-Impostos geralmente mais altos, pois o lu-cro é tributado. - Custo mais eleva-do de organização que as outras mo-dalidades.- Sujeita à maior regulamentação governamental.- Não oferece sigilo, porque os acionistas precisam receber demonstrações fi nanceiras.

Fonte: Adaptado de Gitman (2002, p. 5).

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PRINCÍPIOS DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA Capítulo 1

Muito se fala em micro e pequena empresa, mas você sabe classifi car a empresa de acordo com o porte? Qual o critério utilizado? Conhecer estas informações é muito importante na hora de verifi car os encargos tributários e contratar fi nanciamentos. Conheça um pouco mais sobre o enquadramento de empresas de acordo com o porte, acessando o site: <https://goo.gl/4D1Nm3>.

Você deve estar pensando que os tipos mais complexos de organização de empresas nem devem fazer sentido para pequenos negócios, correto? Nem sempre. Isso depende da sua estratégia para a sua empresa. Lembre-se de que determinadas empresas nascem pequenas e tornam-se grandes em um espaço de tempo relativamente pequeno. Empresas da área de tecnologia ou inovação, por exemplo, costumam ter uma curva de crescimento exponencial, e mesmo quando ainda são pequenas, às vezes, precisam adotar a forma de sociedade por ações para receber aporte fi nanceiro de fundos de investimentos. Esta necessidade se faz para que a empresa possa ter mais transparência perante os seus investidores e ao mercado. Mesmo pequenos negócios em áreas tradicionais, como varejo e alimentação, por exemplo, podem ter um crescimento exponencial, e, de novo, tudo depende da estratégia adotada para o futuro do, hoje, pequeno negócio.

A Função de Administração Financeira

Quando falamos em pequenas empresas tendemos a pensar em estruturas pequenas e enxutas, com pouca hierarquia e poucos departamentos. Isso é sim verdade, mas não podemos pensar que uma pequena empresa bem-sucedida não terá as funções inerentes a uma organização comum. Assim, em uma pequena empresa teremos também funções organizacionais que são melhor identifi cadas em grandes corporações. A função fi nanceira, segundo Antonik (2016), é uma atividade que pertence à profi ssão de administrador, e não ao economista e contador, apesar de relacionar-se intimamente com conceitos econômicos e contábeis, como podemos verifi car na Figura a seguir.

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Figura 2 – Administração e suas relações

ADMINISTRAÇÃOFINANCEIRA

MACROECONOMIAPolítica econômica e monetária, indicadores econômicos.Atividade econômica, nível de emprego, crescimento global.

MICROECONOMIANíveis de preços, tendências, riscos, juros, infl açãoMercado, marketing.

CONTABILIDADEReconhecimento da receita na venda do produtoRegime de caixaRegime contábil

FERRAMENTASMatemática fi nanceira, comercial, serviços bancários, custos

Fonte: Antonik (2016, p. 3).

Gitman (2002) afi rma que a função de administração fi nanceira pode ser estudada de acordo com a sua relação com a teoria econômica e contabilidade, por exemplo.

a) Estrutura da função fi nanceira

Gitman (2002) destaca que o porte da empresa é determinante para defi nirmos como a função fi nanceira será estruturada em uma organização. Em micro e pequenas empresas, segundo Antonik (2016), o proprietário acaba assumindo boa parte das funções fi nanceiras, podendo adotar uma contabilidade terceirizada.

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Figura 3 – Organograma empresarial

Fonte: Antonik (2016, p. 5).

À medida em que a empresa vai crescendo, podemos ver departamentos e pessoas especializadas nas atividades descritas na Figura 2. Segundo Gitman (2002), em empresas médias e grandes temos a fi gura do tesoureiro, principal gestor fi nanceiro de uma companhia, responsável pela gestão de caixa, captação de fundos, decisões sobre investimento, gestão do caixa, gerenciamento das atividades de crédito e o planejamento fi nanceiro. O tesoureiro se relaciona diretamente com o Controller, que executa atividades contábeis, como a contabilidade gerencial, gerenciamento fi scal, contabilidade fi nanceira e de custos.

b) Relação com a teoria econômica

As funções do administrador fi nanceiro, segundo Gitman (2002), estão intimamente relacionadas com a teoria econômica, pois é através dela que o administrador fi nanceiro consegue obter informações que o auxiliam nas projeções futuras, no seu planejamento. Por exemplo, as informações oriundas do ambiente macroeconômico, como as taxas de juros, os níveis de preços e a infl ação, são importantes variáveis para compor as projeções futuras de fl uxo de caixa, infl uenciando em parâmetros como reajustes de preços dos produtos vendidos e reajuste salarial dos empregados. Gitman (2002, p. 9) afi rma que um

Tesoureiro, principal gestor fi nanceiro de

uma companhia, responsável pela gestão de caixa,

captação de fundos, decisões sobre investimento,

gestão do caixa, gerenciamento das

atividades de crédito e o planejamento

fi nanceiro.

As funções do administrador

fi nanceiro, segundo Gitman (2002),

estão intimamente relacionadas com a teoria econômica, pois é através dela que o administrador fi nanceiro consegue obter informações que o auxiliam nas

projeções futuras, no seu planejamento.

DiretorAdministrativoe Financeiro

Diretor deMarketing

e ComercialDiretor deOperações

DIRETOR GERAL

EMPRESÁRIO,PROPRIETÁRIO

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princípio econômico muito utilizado na área de fi nanças é a análise marginal, “o princípio de que uma decisão fi nanceira somente deve ser tomada quando os benefícios adicionais superarem os custos adicionais”.

Vamos usar um exemplo bastante simples para ilustrar uma análise marginal. Suponha que você tenha uma padaria, e pretenda lançar um pão sem glúten caseiro, para aproveitar esse nicho de alimentação saudável e obter receitas acessórias com produtos de terceiros. Para isso, é preciso locar uma máquina nova, treinar funcionários, ter uma parte da cozinha totalmente esterilizada de farinha de trigo e outros produtos que contenham glúten. Resumindo, os dados utilizados na análise são os seguintes (dados completamente fi ctícios).

Quadro 2 – Exemplo de Análise Marginal+ Receita com venda de pães com glúten: R$ 4.500,00 + Receitas acessórias com produtos de terceiros sem glúten: R$ 4.500,00- Produtividade mensal do espaço agora dedicado a alimentos sem glúten: R$ 3.000,00.(1) Total de benefícios marginais: R$ 6.000.00Custos Marginais- Custo mensal de uma máquina para pão sem glúten: R$ 2.000,00.- Custo mensal da matéria-prima (farinha especial): R$ 1.000,00.- Treinamento do funcionário especializado em alimentos sem glúten: R$ 1.000,00. (2) Total de custos marginais: R$ 4.000,00. Benefício Líquido (1 – 2): R$ 2.000,00

Fonte: O autor.

No caso fi ctício acima, o empreendedor desta padaria estaria fazendo um bom negócio se diversifi casse seus produtos com opções sem glúten. Veja que estudos de mercado são importantes para posicionar produtos novos, apontando a aceitação e a demanda destas, de onde é possível extrair dados mais confi áveis quanto as projeções de vendas. O papel do administrador fi nanceiro é o de interpretar estes dados e realizar as devidas análises, apontando seus custos e benefícios.

c) Relação com a contabilidade

Distinguir a atividade fi nanceira da contabilidade, principalmente em micro e pequenas empresas, não é tarefa das mais fáceis, como corroboram Antonik (2016) e Gitman (2002). Isto porque a atividade fi nanceira e contábil, muitas vezes, se sobrepõe, com o tesoureiro executando a atividade fi nanceira e o contador registrando os fatos. Essa pequena diferenciação nos papéis de cada função é a base para distingui-las. Gitman (2002) afi rma que existem duas distinções básicas nas funções de administração fi nanceira e contabilidade: uma está relacionada com a ênfase no fl uxo de caixa, e a outra, à tomada de decisões.

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d) Ênfase em fl uxo de caixa

Segundo Gitman (2002, p. 06) “a função primordial do contador é produzir dados para a mensuração do desempenho da empresa, avaliando sua posição fi nanceira, e para o pagamento de impostos”. Assim, o contador prepara as demonstrações fi nanceiras com base em certos princípios predeterminados e geralmente aceitos, reconhecendo receitas no momento da venda (independente do pagamento) e reconhecem as despesas quando realizadas. A esse enfoque é dado o nome de regime por competências. Já o administrador fi nanceiro se preocupa com o fl uxo de caixa, o resultado de entradas e saídas, assim mantém a solvência da empresa, garantindo que as entradas sejam sufi cientes para cobrir as obrigações do período, restando um saldo de caixa positivo. A esse enfoque é denominado regime de caixa.

Exemplo de diferença dos enfoques de competência e caixa: em dezembro de 2017, a padaria Pães e Sabores Ltda., especializada em panetones, iniciou suas operações e vendeu 2.000 panetones a um supermercado, por um valor total de R$ 1.000,00. Para tanto, teve um custo de R$ 800,00. O supermercado acordou em pagá-los em 15 de janeiro de 2018.

O administrador fi nanceiro se

preocupa com o fl uxo de caixa, o resultado de

entradas e saídas, assim mantém a solvência da

empresa, garantindo que as entradas sejam sufi cientes

para cobrir as obrigações do

período.

Tabela 1 – Diferença entre os regimes de caixa e competência

Visão contábil (regime de competência)

Visão fi nanceira (regime de fl uxo de caixa)

Padaria Pães e Sabores (Demonstrações do resultado do exercício encerrado em 31/12/2017.

Padaria Pães e Sabores (Demonstrações do fl uxo de caixa do exercício encerrado em 31/12/2017.

Receita de venda R$ 1.000,00Menos: custos: R$ 800,00Lucro líquido: R$ 200,00

Entrada de caixa: R$ 0,00Menos: Saída de caixa: R$ 800,00Saldo de caixa: - R$ 800,00

Fonte: O autor.

Assim, em um sentido contábil, a operação da padaria em 2017 foi rentável, porém em termos de fl uxo de caixa, ela foi um desastre, pois teve que pagar R$ 800,00 em custos de fabricação com a promessa de obter um retorno de R$ 200,00 em seu fl uxo de caixa, no ano seguinte. Essa operação a descoberto exige do tesoureiro habilidade em negociar com fornecedores, gerir capital de giro etc.

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- Tomada de decisões: segundo Gitman (2002), a segunda diferença básica entre fi nanças e contabilidade está na questão do uso das informações. Os contadores têm por missão coletar e apresentar dados fi nanceiros, com o intuito de evidenciar a situação patrimonial da empresa, produzindo peças contábeis, como o Balanço Patrimonial e a Demonstração de Resultados do Exercício (DRE). Já o administrador fi nanceiro preocupa-se com o fl uxo de caixa da companhia, com os fi nanciamentos e decisões de investimento, ponderando o risco tomado e o potencial de retorno fi nanceiro. Assim, as informações contábeis são elementos da tomada de decisão do administrador fi nanceiro, mas não devem ser as únicas variáveis.

Atividade de Estudos:

1) Empresas pequenas, com pequeno número de funcionários não precisam ter funções fi nanceiras? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

OBJetivo da EmpresaSe alguém te perguntasse, qual o objetivo de uma empresa, o que você

responderia? Lucro? Essa talvez seja a resposta mais recorrente, ao menos é a medida de desempenho de uma organização que é mais conhecida. Antonik (2016, p. 5) afi rma que “o lucro é a razão última de qualquer negócio estabelecido em uma economia de mercado”. No entanto, o autor também faz uma importante ponderação, afi rmando que acima do lucro está a maximização da riqueza ao acionista. Você deve estar se perguntando se o lucro e a riqueza não seriam sinônimos em uma perspectiva empresarial. Sem dúvida que a riqueza de um proprietário de uma empresa tem muito a ver com a lucratividade ou potencial de lucratividade de uma companhia, mas a perseguição do lucro a qualquer custo não deve ser o objetivo de uma empresa, não se ela quiser ser duradoura. O lucro tem um conceito de curto prazo, se pensarmos em um horizonte contábil, resume-se a

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PRINCÍPIOS DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA Capítulo 1

um exercício, um ano. O lucro como único objetivo pode fazer com que a empresa se destrua no longo prazo. Vou exemplifi car para melhorar a compreensão. Um dono de restaurante que sacrifi que a qualidade da comida, sempre utilizando de alimentos de origem duvidosa, e com mão de obra mal qualifi cada, com o intuito de melhorar sua margem de lucratividade, tenderá a fechar suas portas num futuro não muito longínquo. “A maximização da riqueza, por outro lado, contém uma visão de longo prazo, pois se preocupa com a qualidade do produto ou serviço, com a satisfação do cliente e sua fi delização” (ANTONIK, 2016, p. 6). Uma empresa que tenha por objetivo maximizar a riqueza do seu proprietário tem uma visão mais estratégica, posiciona-se perante os concorrentes de forma consistente e oferece valor ao seu cliente.

A maximização da riqueza, por

outro lado, contém uma visão de

longo prazo, pois se preocupa com a qualidade do

produto ou serviço, com a satisfação do cliente e sua

fi delização.

Atividade de Estudos:

1) A empresa deve buscar o lucro ou maximizar a riqueza? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Administração Financeira em Micro e Pequenas Empresas

Ao longo deste capítulo estamos procurando apresentar os conceitos de fi nanças empresariais, destacando as peculiaridades que se aplicam às micro e pequenas empresas. Você já deve ter uma noção, mas é importante ressaltar que as micro e pequenas empresas correspondem a 20% do Produto Interno Bruto do Brasil - PIB - e signifi cam 89% do total de empresas existentes, gerando 60% dos empregos, segundo dados do SEBRAE (2010 apud ANTONIK, 2016). Assim, se você já é um micro ou pequeno empresário, está pensando em montar um negócio próprio, ou pretende ser um dos R$ 56,4 milhões de empregados em micro e

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

pequenas empresas, saiba que o mercado é bastante grande e concorrido, mas que há sim muitas oportunidades. O quadro a seguir traz um mapeamento das micro e pequenas empresas por setores da economia, dividido por regiões.

Quadro 3 – Mapeamento das micro e pequenas empresas do Brasil

Região Total Comércio Serviço Construção Civil

Optantes pelo Simples

Centro-Oeste 437.424 244.265 314.139 63.972 448.219Nordeste 884.980 551.125 1.040.396 122.874 1.048.113Norte 204.840 128.624 230.437 31.243 271.827Sudeste 3.038.613 1.483.694 250.861 428.487 2.776.052Sul 1.406.617 715.850 115.760 250.747 1.093.952Brasil 5.972.474 3.123.558 1.951.593 897.323 5.638.163Percentual 100% 52% 33% 15% 94%

Fonte: Antonik (2016, p. 14).

O quadro traz uma informação importante que se refere à tributação das empresas, 94% delas optam pelo regime de tributação denominado simples, que como o próprio nome já afi rma, é um regime tributário simplifi cado, que cobra muitos impostos em uma única alíquota. Antonik (2016) traz um quadro bastante elucidativo, que compara os regimes tributários passíveis de serem adotados por empresas no país, variando conforme o seu porte, conforme o faturamento.

Quadro 4 – Regimes tributários no Brasil

Regime Tributário

Quem pode adotar Como funciona Muito importante

Simples

Pequenas e mé-dias empresas com faturamento anual de até R$ 3.6 milhões.

Uma série de tributos é paga em uma úni-ca declaração sim-plifi cada. Uma única alíquota sobre o fatu-ramento, sendo maior quanto mais a empre-sa faturar.

Empresas com poucos funcionários e faturamen-to alto podem ter uma con-tribuição previdenciária desproporcional. Em-presas que compram de optantes pelo Simples re-cebem menos crédito de ICMS.

Lucro Presum-

ido

Empresas com faturamento anu-al menor do que R$ 48 milhões

As alíquotas incidem sobre o faturamento total, a partir de per-centuais predeter-minados conforme a atividade executada.

Se a empresa tiver pou-co lucro, pode ser mais vantajoso optar pelo lu-cro real.

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PRINCÍPIOS DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA Capítulo 1

Lucro Real

Todas as empre-sas. Obrigatório para empresas com faturamen-to maior do que R$ 48 milhões.

IR e outros são cal-culados com base no lucro. Além disso, PIS e COFINS podem ser deduzidos com a uti-lização de créditos.

Em caso de lucro alto, outras formas de tribu-tação podem ser mais vantajosas. O cálculo do lucro real é complexo.

Lucroarbitrado

Os indicados pela Receita Fed-eral e o próprio contribuinte. Me-diante condições.

A determinação das bases de cálculo de IRPJ e CSLL é sem-pre a do lucro presu-mido, com acréscimo de 20%.

Importante ter um en-quadramento adequa-do perante a Receita Federal.

Fonte: Adaptado de Antonik (2016, p. 16).

Veja no site da Receita Federal quem pode se enquadrar no regime de lucro arbitrado e como isso ocorre. Acesse: <http://www.receita.fazenda.gov.br/publico/perguntao/dipj2012/CapituloXIV-LucroArbitrado2012.pdf>.

Segundo Antonik (2016), o regime tributário do Simples não é uma decisão tão elementar de ser tomada. Ele engloba oito tributos (IRPJ, PIS, COFINS, CSLL, INSS patronal, IPI das industrias, ISS dos prestadores de serviço e ICMS). As alíquotas do tributo podem ter uma variação de 4% a 22,45%, dependendo do setor de atuação (comércio, indústria ou serviços).

A partir de primeiro de janeiro de 2015 passou a vigorar a Lei Complementar 147/2014, incluindo 140 novas categorias de empresas ao Super Simples, podendo alcançar até 450 mil empreendimentos no Brasil.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Segundo Antonik (2016), uma informação importante com relação ao regime tributário do Simples, é que as alíquotas de contribuição incidem sobre o faturamento da empresa. Essa questão é relevante, pois faturamento não é o mesmo que lucro, e dependendo do arranjo fi nanceiro da companhia, sua margem de lucro pode ser pequena, e uma alíquota incidindo sobre o faturamento poderá ser pior do que uma que incida diretamente sobre o lucro. Por exemplo, empresas que tenham um faturamento alto, com margens de lucro pequenas, e poucos empregados, podem ter uma oneração maior com o INSS embutido no regime tributário do Simples (alíquota única), do que pagar separadamente INSS e impostos sobre lucro.

Conforme afi rma Antonik (2016), em resumo, as principais vantagens do regime tributário do Simples são as seguintes:

1. Tributação com alíquotas mais brandas e progressivas.2. Recolhimento unifi cado em uma única Guia, que pode abranger tributos

estaduais e municipais.3. Cálculo simplifi cado sobre uma base única (receita bruta mensal).4. Dispensa obrigatoriedade da escrituração comercial para fi ns do fi sco,

sob algumas condições de guarda e armazenamento.5. Dispensa a empresa de contribuir para o sistema S (Sesi, Senai, Sesc,

Senac e Sebrae), assim como das contribuições de salário educação e contribuição sindical patronal.

6. Dispensa a empresa de sujeitar-se à retenção na fonte de tributos e contribuições para órgãos da administração federal.

7. Isenção de tributação sobre os rendimentos que forem destinados aos sócios, exceto quando se tratar de pró-labore, aluguéis e serviços prestados.

Antonik (2016) destaca a importância de um assessoramento técnico com

um contador especializado, de modo que se possa planejar corretamente o enquadramento tributário da empresa.

Discorremos um pouco sobre as micro e pequenas empresas e sua tributação para introduzir as principais funções fi nanceiras realizadas nestas organizações. A primeira destas funções corresponde justamente ao planejamento, do qual o planejamento tributário abordado anteriormente é um importante componente. As demais atividades correspondem à função de investimento e administração de capital de giro. Vamos ver com mais detalhes cada uma delas nos tópicos a seguir.

a) Função Planejamento

Antonik (2016) afi rma que as micro e pequenas empresas são aquelas que mais sofrem com a falta de profi ssionalização por uma falta de cultura na

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PRINCÍPIOS DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA Capítulo 1

educação em gestão. Saiba, portanto, que você que está cursando esta pós-graduação está a alguns passos à frente. Em pesquisa realizada pelo Sebrae (2016), podemos perceber que 25% dos micro e pequenos empresários alegaram problemas de gestão como um dos motivos determinantes para o fechamento das empresas. Se levarmos em consideração que impostos, custos, despesas, juros, vendas, demanda e concorrência podem ser objeto de um prévio planejamento, e elas correspondem a 50% dos motivos alegados como determinantes para o fechamento das micro e pequenas empresas. Podemos inferir que problemas de gestão e planejamento de forma ampla, correspondem a 75% dos motivos determinantes para o fechamento de empresas. Para quem vai montar um negócio próprio, é uma informação bastante relevante e quem deixar de considerá-la tem grandes chances de estar nesta estatística nos próximos anos, afi nal, apesar de estar em queda, a taxa de mortalidade de empresas no Brasil ainda é alta, 23,4% das empresas criadas há dois anos, em 2012, fecharam as portas. Este índice, em 2008, era de 45.8%.

Figura 4 – Motivos determinantes para fechamento de empresas no Brasil

Fonte: Sebrae (2016, p. 7).

Planejar a empresa é averiguar a demanda para o produto ou serviço, compor os custos, formar o preço de venda, compreender os públicos de interesse, defi nir objetivos de curto, médio e longo prazo, averiguar a viabilidade fi nanceira, enquadramento tributário adequado, fazer orçamentos, simulações, atribuir usos e elencar as fontes dos recursos, ou seja, o planejamento de uma empresa sempre irá convergir para o planejamento fi nanceiro, para um orçamento, uma planilha, um fl uxo de caixa projetado. Somente com este se poderá defi nir os investimentos a serem realizados. A função investimento, aliás, é o próximo tópico a ser estudado.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

b) Função Investimento

Segundo Antonik (2006), a função de investimento também pode ser compreendida como a administração da estrutura de ativos de uma empresa. Assim, quando uma empresa decide investir, ela está disponibilizando recursos para a conta do ativo, seja disponibilizando recursos no caixa, estoques ou no patrimônio da companhia, por exemplo, com o intuito de que estes rendam benefícios econômicos futuros.

Se você não teve contato com termos técnicos da contabilidade, ou precisa recordar, vale o seguinte lembrete dos conceitos de ativo, passivo e patrimônio líquido:

a) Ativo é um recurso controlado pela entidade como resultado de

eventos passados e do qual se espera que resultem futuros benefícios econômicos para a entidade.

b) Passivo é uma obrigação presente da entidade, derivada de eventos já ocorridos, cuja liquidação se espera que resulte em saída de recursos capazes de gerar benefícios econômicos.

c) Patrimônio Líquido é o valor residual dos ativos da entidade depois de deduzidos todos os seus passivos.

Fonte: Comitê de Pronunciamentos Contábeis - CPC 00 (2011, p. 16).

O investimento é o passo seguinte ao planejamento de uma estratégia organizacional, pois defi nindo-se os objetivos, as metas a serem alcançadas,

realizam-se os investimentos na empresa para que esta possa gerar um retorno fi nanceiro, um benefício futuro. Veremos com mais detalhes a análise de investimentos quando trabalharmos a gestão de fl uxo de caixa no Capítulo 4. É importante compreender que a gestão de investimentos é uma função de administração fi nanceira que será capaz de suportar a operação da empresa, gerando benefícios futuros. Um item essencial para suportar a operação da empresa, principalmente em seu ciclo operacional, é o investimento em capital de giro. Tópico que detalharemos a seguir.

É importante compreender

que a gestão de investimentos é uma função de administração

fi nanceira que será capaz de suportar

a operação da empresa, gerando benefícios futuros.

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PRINCÍPIOS DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA Capítulo 1

c) Função Administração do Capital de Giro

Antes de falarmos de capital de giro, é importante resgatarmos um conceito contábil de Ativo e Passivo Circulante. Segundo Gitman (2002), Ativos Circulantes e Passivos Circulantes são, respectivamente, bens e direitos a receber no curto prazo e, obrigações, também de curto prazo. Estes grupos de Ativos e Passivos fornecem uma imagem do funcionamento da empresa no dia a dia, da sua operação. Essa afi rmação fi ca mais evidente quando esmiuçamos os itens que compõem cada conta. Assim, no grupo de Ativos Circulantes temos: estoques, contas a receber, caixa e aplicações fi nanceiras de curto prazo. Já no grupo de Passivos Circulantes temos: contas a pagar, despesas a pagar e instituições fi nanceiras a pagar. Isto faz com que a administração fi nanceira de curto prazo seja uma das atividades mais intensas do administrador fi nanceiro.

Gitman (2002) afi rma que o Ativo Circulante, também chamado de capital de giro, é uma proporção dos investimentos realizados na empresa que circula, ou seja, que gira, para que a empresa possa produzir ou prestar o seu serviço, pagar suas obrigações e receber a receita. Em uma situação ideal, até certo ponto utópica para a maioria das empresas, a necessidade de capital de giro seria zero, pois se contrataria fornecedores a prazo e se receberia à vista ou até mesmo antecipado. A necessidade de capital de giro varia de empresa para empresa, e o setor de atividade é relevante para essa defi nição. Por exemplo, empresas que trabalham com produção, geralmente precisam de estoque e recebem as vendas a prazo, então precisam de um capital para poder girar a produção, entregar o produto e manter suas atividades em operação até receber o pagamento do seu cliente. Parte da receita é injetada novamente como capital de giro e, assim, o ciclo recomeça. Empresas que trabalham prestando serviço podem ter uma necessidade de capital de giro menor, pois não se utilizam de estoque e muitas recebem logo após a realização do serviço. Caso o recebimento seja a prazo já confi guramos uma necessidade de capital de giro maior. Empresas que trabalham por projetos, como construtoras, precisam ter uma boa estratégia de capital de giro, pois a preparação do produto é longa, os custos são elevados e a venda depende da situação do mercado quando o produto estiver disponível.

Antonik (2016) traz um gráfi co bastante interessante, que ajuda a compreender a importância do capital de giro em uma organização. Na Figura 5, temos o ciclo operacional de uma companhia que inicia suas atividades no dia zero e recebe a sua primeira receita 150 dias após. A todo esse ciclo é dado o nome de ciclo operacional.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Figura 5 – Ciclos operacionais e fi nanceiros

Fonte: Antonik (2016, p. 23).

Vamos imaginar que a companhia citada seja uma fábrica de móveis para o varejo que está iniciando suas atividades. No dia zero a empresa recebe a matéria-prima para a fabricação dos móveis (madeiras, parafusos, fi xadores, lixa, tinta, fi tas, puxadores, acabamentos, dentre outros), os quais deixa estocados durante trinta dias até fi nalizar sua linha de montagem e treinar funcionários. O pagamento negociado com os fornecedores é realizado a prazo, em 30 dias a contar do recebimento. Após esse período, inicia a fabricação, que leva mais 40 dias para concluir. Com o produto acabado, leva 15 dias até fechar a venda dos móveis a uma grande rede varejista, a qual negocia um prazo de 65 dias para o pagamento, ou seja, a empresa começou a ter custos no dia 30, quando pagou seus fornecedores e despesas internas (funcionários, aluguel etc.), terminou o produto no dia 70 e só recebeu no dia 150. O ciclo que compreende o período

90 dias 120 dias 150 dias60 dias30 dias0 dias

Ciclo econômico (85 dias)

Venda de produtoacabado (85 dias)

Recebeduplicata(150 dias)

Recebimento docliente (150 dias)

Entrada deMP no estoque

Termina a fabricaçãoIniciada a

fabricação

Compra deMP a crédito Desembolso

(30 dias)

PMPF CC (120 dias)

PMPF (30 dias)

PMC (65 dias)PMF (40 dias) PMV

PTE (85 dias)

PME (30 dias)

PMV (15 dias)Le

gend

a:

CC - ciclo de caixa - fi nanceiro (120 dias)MP - matéria -primaPMV - período médio de venda (15 dias)PTE - período total de estoque (85 dias)PMF - período médio de fabricação (40 dias)PME - período médio de estoque de matéria-prima (30 dias)PMC - período médio de cobrança de duplicatas (65 dias)PMPF - período médio de pagamento de fornecedor (30 dias)

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PRINCÍPIOS DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA Capítulo 1

médio de estoque (PME), o período médio de fabricação (PMF), o período médio de venda e cobrança (PMV e PMC), descontado do prazo médio de pagamento de fornecedores (PMPF), é conhecido como ciclo de caixa. Assim temos:

Quadro 5 – Fórmula do ciclo de caixa

Ciclo de Caixa: PME+PMF+PMV+PMC – PMPF = 30 + 40 + 15 + 65 – 30 = 120 dias

Fonte: Antonik (2016, p. 24).

Vamos imaginar que uma empresa possua uma necessidade anual de capital de giro de R$ 180.000,00 para um ciclo de caixa de 120 dias e que ela possua apenas custos variáveis, ou seja, todos estes custos são proporcionais aos produtos vendidos e podem ser a esse atribuídos/repassados. Se a empresa consegue reduzir esse ciclo em 30 dias, ou seja, alterando o ciclo de caixa para 90 dias, negociando melhor com fornecedores, ou então antecipando seus recebimentos, ou um pouco de cada, ela tem uma economia de R$ 45.000.00, pois a necessidade de capital de giro para 90 dias passaria para R$ 135.000,00. O exemplo acima é hipotético e sempre haverá custos fi xos que precisam ser considerados, gerando um resultado que não é diretamente proporcional, mas sem dúvida o ganho com a redução do ciclo de caixa será signifi cativo. Isso demonstra a importância da administração do capital de giro em pequenos negócios, ele pode ser uma das chaves do sucesso da organização.

Atividades de Estudos:

1) Qual o papel do planejamento na administração fi nanceira? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2) O que é capital de giro? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Algumas ConsideraçÕes Este capítulo teve a intenção de ser uma introdução ao planejamento e

controle fi nanceiros aplicados a pequenos negócios. Iniciamos resgatando uma visão ampla da área fi nanceira e suas principais aplicações, como a área de serviços fi nanceiros e a administração fi nanceira. Embora distintas, estas áreas se correlacionam, pois, a administração fi nanceira interna das empresas se relaciona com instituições fi nanceiras, seja para aplicar suas receitas, seja para tomar fi nanciamento para executar suas atividades.

Fizemos, também, um apanhado sobre as formas de constituição de empresas, seus níveis de risco e responsabilidade dos acionistas, de modo que você pudesse ter uma noção dos custos de estruturação das empresas e facilidade para obter fi nanciamentos, por exemplo.

Após essa noção geral, adentramos mais especifi camente na estrutura do campo de estudos de fi nanças e sua correlação com os campos de estudos da contabilidade e economia, assimilando as suas semelhanças e divergências.

Partimos então para a compreensão dos objetivos da empresa, que é a

maximização da riqueza dos acionistas a longo prazo em detrimento da busca única pelo lucro a curto prazo. A partir daí, aprofundamos nossos estudos fi nanceiros nas micro e pequenas empresas, iniciando por uma visão geral destas, incluindo o planejamento tributário.

Por fi m, fi nalizamos com as principais funções exercidas pelo administrador

fi nanceiro em pequenas companhias, que são as funções de planejamento, investimento e de administração do capital de giro.

No próximo capítulo, adentraremos um pouco no estudo da contabilidade, especifi camente nas Demonstrações do Resultado do Exercício (DRE), mas com uma visão aplicada à área de fi nanças, com a identifi cação de indicadores que ajudarão a monitorar o desempenho e a saúde fi nanceira da empresa.

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PRINCÍPIOS DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA Capítulo 1

ReFerÊnciasANTONIK, L. R. Empreendedorismo: gestão fi nanceira para micro e pequenas empresas. São Paulo: Elsevier, 2016.

BRASIL. Economia e emprego. Diferenças entre tipos de empresas. 2011. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2011/11/diferencas-entre-tipos-de-empresas>. Acesso em: 20 dez. 2017.

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento conceitual básico (R1) para elaboração e divulgação de relatório contábil-fi nanceiro. 2011. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=80>. Acesso em: 3 jan. 2018.

GITMAN, L. J. Princípios de administração fi nanceira. 7. ed. São Paulo: Harbra, 2002.

SEBRAE. Apresentação dos relatórios de sobrevivência das empresas no Brasil. 2016. Disponível em: <https://m.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/sobrevivencia-das-empresas-no-brasil-102016.pdf>. Acesso em: 2 jan. 2018.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

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CAPÍTULO 2

Demonstração de Resultados

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem:

Defi nir as demonstrações de resultado de uma empresa.

Localizar os indicadores fi nanceiros de desempenho da micro e pequena empresa.

Examinar uma demonstração de resultados do exercício.

Avaliar o impacto das receitas, despesas, custos e investimentos no resultado do exercício.

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DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS Capítulo 2

ContextualiZaçãoVocê já ouviu falar nessa expressão: o poder de uma nação está diretamente

relacionado à estabilidade de suas instituições? Esta expressão está presente no trabalho de North (2003 apud ANTONIK, 2016). Douglas Cecil North é um economista americano que desenvolveu uma teoria sobre o amadurecimento das instituições, a qual fazia referência à correlação entre o grau de amadurecimento das instituições de determinados países ao seu nível de desenvolvimento econômico e social. A partir deste trabalho, fi cou evidente que quanto mais uma nação possuía um alto grau de amadurecimento institucional (leia-se baixos níveis de corrupção, leis que não se alteram facilmente, consenso no judiciário quanto à interpretação destas, funcionários públicos capacitados, serviço público efi ciente etc.) maior era o grau de desenvolvimento de uma nação, ou seja, menores eram os seus níveis de pobreza e maior a sua renda per capita, educação, sensação de segurança etc. North (2008 apud ANTONIK, 2016, p. 107) afi rma que “as instituições podem ser interpretadas como sendo as regras de um certo jogo, que determinam o que os jogadores podem fazer”. Aqui entra muito o conceito de normativas em um sentido amplo, que engloba não só as instruções de um modo geral, como leis, decretos, resoluções, assim como os próprios entes que os elaboram e fi scalizam.

As empresas fazem parte deste arcabouço institucional e são um espelho da maturidade de um país. Assim, em países nos quais há uma estabilidade na legislação, no judiciário, as empresas possuem uma competitividade mais justa, haja vista que a regra é igual para todos e todos são igualmente fi scalizados e obrigados perante a lei. Assim, se uma empresa possui um bom desempenho, este tenderá a estar relacionado a uma gestão mais efi ciente dos seus recursos ou no diferencial de seu produto, em vez de estar relacionado a um enquadramento tributário diferenciado e específi co que não está acessível a todos, por exemplo.

A contabilidade, como já vimos no Capítulo 1, possui duas grandes funções, demonstrar a situação patrimonial e o resultado da empresa, apurando os tributos a serem recolhidos com base neste desempenho. Assim, no meio empresarial, a contabilidade exerce um importante papel como instituição. Neste capítulo exploraremos com mais detalhes o papel da contabilidade em uma organização, entenderemos o seu papel quanto à Demonstração dos Resultados do Exercício e compreenderemos a sua função enquanto instituição, como regra do jogo da gestão de uma empresa.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

ContaBilidade Gerencial O papel de um instituto contábil sólido é importante no ambiente empresarial

para que se possa ter transparência na gestão das empresas e uma certeza de que estas estão agindo conforme as regras do jogo. Entretanto, esse papel contábil é também importante para o sucesso do próprio negócio. Verifi camos que uma das funções de um administrador fi nanceiro é o planejamento fi nanceiro, como recorda Antonik (2016). Este planejamento visa estabelecer uma previsão de uma situação futura desejada para o empreendimento, elencando os custos, despesas e receitas necessários para o alcance deste objetivo. Em termos fi nanceiros, o planejamento se traduz em um orçamento, uma planilha que permite simular as operações fi nanceiras da companhia no curto, médio e longo prazo. No entanto, de nada adianta planejar se o empreendedor não acompanhar o desempenho da sua companhia. Essa é uma parte fundamental do processo de planejamento: a mensuração e controle dos resultados. A partir disso, o empreendedor poderá ajustar a sua mira para atingir o alvo. Utilizando-se de mecanismos de controle, é possível rever o planejamento inicial com vistas a alcançar o objetivo.

Lembre-se de que o planejamento é um exercício de prever situações futuras, que estão sujeitas a todos os tipos de mudança. Por exemplo, às vezes, a demanda estimada para determinado produto poderá variar, e você necessitará ajustar os preços para atingir seu objetivo, seja para manter a rentabilidade ou livrar-se de um estoque excedente. Antonik (2016) divide o planejamento empresarial em três fases: planejamento, apuração dos resultados e análise de desempenho, como

podemos verifi car na fi gura a seguir. Esse ciclo é contínuo, pois a análise de desempenho permite comparar a nossa meta traçada com aquela executada e, assim, ajustar novamente nosso planejamento para chegar mais próximo do alvo. Caso esta meta tenha sido atingida, pode-se, então, traçar metas mais desafi adoras e melhorar ainda mais o desempenho da empresa. Financeiramente, a aferição destas metas utiliza de ferramentas contábeis, hoje harmonizadas de acordo com regras internacionais.

Na relação entre a necessidade de um instituto contábil sólido e a apuração do desempenho da empresa, ressaltamos: com uma instituição de normas e regras contábeis fortes, as empresas contam com uma ferramenta que dá credibilidade na apuração de seus resultados, sabendo que estes são medidos através de um critério padrão, podendo, então, agir para realizar mudanças na gestão da companhia que resulta em dados de entrada diferentes, que proporcionem resultados distintos.

Com uma instituição de normas e regras

contábeis fortes, as empresas

contam com uma ferramenta que dá

credibilidade na apuração de seus

resultados, sabendo que estes são

medidos através de um critério padrão, podendo, então, agir para realizar

mudanças na gestão da companhia que

resulta em dados de entrada diferentes, que proporcionem

resultados distintos.

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DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS Capítulo 2

Imagine que você tem por objetivo perder peso, por exemplo, e que sua balança não é confi ável, pois dependendo da condição climática pode pesar dois quilos a mais ou a menos. Assim, por mais que você modifi que sua alimentação, não saberá exatamente se está diminuindo ou aumentando o seu peso. A contabilidade é como se fosse uma balança, precisa ser confi ável e estável, de modo que as empresas possam aferir seu resultado, sabendo que ao aplicarem seus esforços em determinada ação que o altere, este será corretamente identifi cado pelas demonstrações contábeis.

Figura 6 – Fases do planejamento empresarial

Fonte: Antonik (2016, p. 111).

No próximo tópico, iremos identifi car os principais relatórios contábeis que devem ser compreendidos e utilizados por empreendedores que atuam nas micro e pequenas empresas.

DemonstraçÕes de Resultado AtravÉs da ContaBilidade

Evidenciar o resultado de uma determinada empresa não é tarefa simples. Como já abordamos, para termos um resultado confi ável, é preciso adotar normas e critérios amplamente aceitos, assim, tanto o empreendedor quanto outras pessoas e entidades interessadas na empresa poderão ter certeza de que a empresa está traçando um caminho virtuoso ou necessita de ajustes em sua rota para melhorar o desempenho. A utilização deste arcabouço de normas exige profi ssionais capacitados e dedicados, mas o empreendedor deverá saber ler e interpretar o resultado destes relatórios contábeis, de modo que possa ter a exata noção do caminho que estão tomando as fi nanças da sua empresa. Antonik (2016) afi rma que as peças fundamentais para análise de desempenho de uma organização são as seguintes:

Planejamento

Apuração de resultados

Análise dedesempenho

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

a) Demonstrações do Resultado do Exercício (DRE)

Segundo Gitman (2002), a demonstração de resultados segue a lógica do regime de competência para projetar o lucro/prejuízo e refl ete a posição fi nanceira geral da companhia.

Como o próprio nome defi ne, a Demonstração do Resultado do Exercício - DRE - é um dos instrumentos mais comumente utilizados quando falamos em aferir o desempenho de uma empresa.

Antonik (2016) afi rma que este instrumento também pode ser conhecido como demonstração de lucros e perdas, pois uma das suas

funções principais é demonstrar o lucro ou prejuízo aferido em um determinado exercício (período de tempo geralmente coincidente com o calendário civil, de 1 de janeiro a 31 de dezembro). Este instrumento é baseado no conceito de competência, ou seja, para a DRE, o importante é o fato gerador do lançamento contábil, independente de este ter uma contrapartida imediata que represente uma entrada ou saída no caixa da companhia. Utilizaremos o Quadro 6, que traz uma DRE da empresa NIW Produtos Florestais Ltda., explorando as principais contas que compõem este demonstrativo.

Segundo Gitman (2002), a demonstração de

resultados segue a lógica do regime de competência para projetar o lucro/

prejuízo e refl ete a posição fi nanceira

geral da companhia.

Quadro 6 – Demonstração do Resultado do Exercício

NIW Produtos Florestais Ltda.

Demonstrações de Resultado do Exercício, 31 de dezembro de 2012 (R$)

2012

Receita operacional líquida (1) R$ 257.772,46

Custo da mercadoria vendida (2) R$ 149.508,03

Margem Bruta R$ 108.264,43

Salários e benefícios R$ 58.464,25

Despesas de comercialização R$ 16.994,70

Outras despesas R$ 12.098,76

Despesas operacionais (3) R$ 87.557,72Depreciação (4) R$ 7.850,84

Total das despesas operacionais R$ 95.408,56

Lucro operacional R$ 12.855,87

Despesas fi nanceiras (5) R$ 4.413,59

Lucro líquido do exercício R$ 8.442,28

Fonte: Tracy (2007 apud ANTONIK, 2016, p. 113).

Page 41: Planejamento e Controle Financeiro

41

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS Capítulo 2

• Receita Operacional Líquida (1): na receita operacional líquida temos aquilo que a empresa realmente recebeu pelas suas vendas, descontados os tributos incidentes sobre a venda, e eventuais descontos ou abatimentos realizados.

• Custo da Mercadoria Vendida (2): no custo da mercadoria vendida, teríamos os custos diretamente relacionados à fabricação do produto, como mão de obra aplicada diretamente na produção, o valor da matéria-prima, gastos gerais relacionados à produção, exemplo, aluguel da unidade fabril, energia elétrica da unidade fabril, manutenção do maquinário etc. Lembre-se de que o custo aqui apurado refere-se às mercadorias efetivamente vendidas, então deve-se somar o estoque inicial e descontar o estoque fi nal, pois, se a mercadoria está no estoque, não foi vendida. Importante salientar que estes custos não se misturam com outras despesas administrativas, e mão de obra não relacionada à produção. Aqui temos uma conta específi ca para apurar o custo da mercadoria vendida.

• Despesas Operacionais (3): na conta do Custo das Mercadorias Vendidas temos a apuração direta do custo daquilo que é fabricado e efetivamente vendido, mas quando falamos em resultado de uma empresa, esse processo fabril é gerenciado e possui, portanto, uma administração, e nem todos empregados da empresa trabalham na sua linha de produção, muitos trabalham na área de vendas, na área administrativa, recursos humanos etc. Assim, nas despesas operacionais, temos englobado o montante de despesas relacionadas diretamente à operação da companhia. Não confunda operação da companhia com processo de fabricação.

• Depreciação (4): a depreciação também é considerada uma despesa operacional, mas convém tratarmos dela em separado, dada a sua complexidade. Muitos dos custos e despesas referentes à confecção dos produtos e operação da companhia são adquiridos e consumidos num curto espaço de tempo. Utilizaremos como exemplo a compra de papel e tinta para impressão de documentos na empresa NIW Produtos Florestais. Eles se referem a despesas operacionais e são totalmente consumidos à medida que os documentos são impressos, o que não ocorre com um maquinário adquirido para corte de madeiras, por exemplo. Vamos supor que este maquinário possua um valor de R$ 100.000,00, e sua vida útil esteja estimada em 5 anos (60 meses). No ano da aquisição é lançado na contabilidade o valor de aquisição da máquina, um desembolso de caixa, mas a cada ano da vida útil da máquina, é possível lançar um valor referente a 1/5 do seu custo de aquisição como despesa de depreciação

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42

PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

(os lançamentos mensais correspondem a 1/60 do valor de aquisição do bem). Assim, anualmente, durante cinco anos, a empresa lança uma despesa de R$ 20.000,00 referente à depreciação deste bem, que é utilizada como abatimento da base de cálculo do imposto a pagar para aquelas empresas que se utilizam do regime tributário de lucro real.

Na fi gura a seguir, Antonik (2016) cita um exemplo do passo a passo do lançamento de uma despesa a ser depreciada.

Figura 7 – Bens depreciáveis

Fonte: Antonik (2016, p. 116).

Quem defi ne a duração de um bem para fi ns de depreciação é a Receita Federal, através do Regulamento do Imposto de Renda – RIR. Para compreender melhor como os bens são depreciados, verifi que a Subseção II – Depreciação de Bens do Ativo Imobilizado do RIR, acessando o site: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3000.htm>.

1º passo

Compra de máquina por R$ 6.000,00

Contador lança a compra no imobilizado

Todos os meses o contador lança 1/60

na despesa (R$100,000)

2º passo 3º passo

Compra de material de escritório por

R$82,00

O contador lança a compra

diretamente no resultado

Nada

Bens de alto valor com vida útil controlada pela Receita

Bens de baixo valor, sem vida útil controlada pela Receita

Page 43: Planejamento e Controle Financeiro

43

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS Capítulo 2

• Despesa Financeira (5): a despesa fi nanceira, segundo Antonik (2016), refere-se aquelas despesas realizadas com atividades que não estão relacionadas à atividade da empresa, mas sim na aquisição de capital e também em investimentos realizados pela empresa em produtos fi nanceiros. Vejamos, por exemplo, uma empresa que toma um empréstimo para o capital de giro. Esta companhia arcará com custos de juros e encargos sobre esta dívida, que podem ser bastante representativos para o resultado da empresa. Outro exemplo pode ser a aplicação fi nanceira da sobra de caixa da companhia. Essa receita auferida também deve ser contabilizada em separado. Assim, poderemos saber e diferenciar as receitas e os custos de produção e operação, vinculados à atividade empresarial exercida pela companhia, daqueles custos e receitas oriundas da atividade da companhia junto ao mercado fi nanceiro. Uma empresa que possui uma receita fi nanceira alta e um receita operacional baixa, não está executando bem a atividade para a qual foi criada, apesar de poder estar sendo lucrativa.

Como pudemos verifi car no quadro anterior, a NIW Produtos Florestais Ltda. apurou um lucro líquido do exercício no valor de R$ 8.442,28 e, para chegar neste valor, foram subtraídas da receita operacional líquida, o custo das mercadorias vendidas, as despesas operacionais, a depreciação e as despesas fi nanceiras. Veja que o lucro bruto corresponde a R$ 12.855,87, praticamente 50% superior ao lucro líquido, o que signifi ca dizer que se não houvesse despesas fi nanceiras, a empresa teria um lucro um tanto quanto mais elevado.

b) Balanço Patrimonial (BP)

Segundo Gitman (2002), o Balanço Patrimonial representa uma posição fi nanceira da empresa em uma determinada data, que geralmente coincide com o fi nal do calendário civil, 31 de dezembro. Ele iguala os Ativos (bens e direitos), com a soma de fi nanciamentos realizados com terceiros e de seus proprietários (sócios). A fi gura a seguir demonstra uma síntese de um Balanço Patrimonial, separado em duas semiesferas, representando que o lado do Ativo deve ter igual contrapartida com a soma do Passivo e do Patrimônio Líquido. Gitman (2002) ensina que o Balanço Patrimonial deve segregar as contas conforme a sua liquidez, ou seja, a rapidez com a qual se pode transformar os Ativos em entrada de caixa, e os Passivos, em saída de caixa. Temos uma primeira separação no balanço a ser assim apresentada: Ativos e Passivos de curto prazo e Ativos e Passivos de longo prazo. Os Ativos e Passivos com liquidez prevista para serem realizadas em até um ano, são denominados de Ativos e Passivos Circulantes ou Ativos e Passivos Correntes, como afi rma Antonik (2016).

Segundo Gitman (2002), o Balanço

Patrimonial representa uma

posição fi nanceira da empresa em uma determinada data, que geralmente

coincide com o fi nal do calendário civil, 31 de dezembro.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Os demais Ativos e Passivos são considerados de longo prazo, com realização superior a um ano. Os Ativos se denominam realizáveis no longo prazo e os Passivos, exigíveis a longo prazo. Assim, na conta dos Ativos, o caixa é o ativo mais líquido, e representa as disponibilidades em dinheiro da companhia e é sempre a primeira conta a ser descrita no Balanço Patrimonial. Na sequência, são descritas as contas de Ativo em ordem decrescente de liquidez.

Figura 8 – Balanço Patrimonial - Síntese

Fonte: Adaptado de Gitman (2002).

Podemos verifi car no quadro a seguir, que os Ativos permanentes imobilizados, como o próprio nome já diz, são os menos líquidos e, portanto, os últimos listados. Assim ocorre no Passivo, os empréstimos de longo prazo representam as dívidas que mais demorarão a serem exigidas, portanto, são as últimas a serem listadas, em detrimento das contas a pagar, que apresentam as dívidas com fornecedores que devem ser logo quitados.

Quadro 7 – Balanço Patrimonial

NIW Produtos Florestais Ltda.Balanço Patrimonial, 31 de dezembro de 2012 (R$)

2011 2012 DiferençasCaixa R$ 30.695,41 R$ 51.550,75 R$ 20.855,34Duplicatas a receber R$ 12.024,27 R$ 13.131,95 R$ 1.107,68Estoques R$ 19.870,70 R$22.124,45 R$ 2.208,30Despesas pré-pagas R$ 5.757,28 R$ 5.404,68 -R$ 352,60Total dos ativos correntes R$ 67.767,78 R$92.211,83

• Ativo • PassivoPassivo Circulante

Passivo Não Circulante

(Realizável a Longo Prazo)

AtivoCirculante

Ativo não Circulante

(Realizável a longo Prazo e

Permanente)• Patrimônio Líquido

Capital Social

Reservas de CapitalReservas de Lucro

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DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS Capítulo 2

Imobilizado R$ 68.367,17 R$ 79.121,80 R$ 10.754,63Depreciação acumulada -R$ 14.782,44 -R$ 22.633,27 -R$ 7.850,84Imobilizado líquido R$ 53.584,73 R$ 56.488,53 Total dos ativos R$ 121.352,52 R$ 148.700,35 PassivoContas a pagar R$ 25.282,44 R$ 23.074,14 -R$ 2.208,30Despesas provisionadas R$ 5.943,95 R$ 7.199,03 R$ 1.255,08Empréstimos de curto prazo R$ 8.826,13 R$ 17.652,25 R$ 8.826,13Total dos passivos correntes R$ 40.052,52 R$ 47.925,42 Empréstimos de longo prazo R$ 26.478,38 R$ 35.304,50 R$ 8.826,13Capital social MB R$ 44.130,63 R$ 46.337,16 R$ 2.206,53Lucros retidos R$ 10.691,00 R$ 19.133,27 R$ 8.442,28Patrimônio Líquido R$ 54.821,62 R$ 65.470,43 Total dos passivos R$ 121.352,52 R$ 148.700,35 PassivoContas a pagar R$ 25.282,44 R$ 23.074,14 -R$ 2.208,30Despesas provisionadas R$ 5.943,95 R$ 7.199,03 R$ 1.255,08Empréstimos de curto prazo R$ 8.826,13 R$ 17.652,25 R$ 8.826,13Total dos passivos correntes R$ 40.052,52 R$ 47.925,42 Empréstimos de longo prazo R$ 26.478,38 R$ 35.304,50 R$ 8.826,13Capital social R$ 44.130,63 R$46.337,16 R$ 2.206,53Lucros retidos R$ 10.691,00 R$ 19.133,27 R$ 8.442,28Patrimônio Líquido R$ 54.821,62 R$ 65.470,43 Total dos passivos R$ 121.352,52 R$ 148.700,35

Fonte: Tracy (2007) apud Antonik (2016, p. 119).

No Patrimônio Líquido, segundo Gitman (2002, p. 38), fi cam “os direitos dos proprietários da empresa, portanto, contém as contas de capital social, reservas de capital, e reservas de lucro, por exemplo”. No caso da empresa NIW Produtos Florestais Ltda., o Patrimônio Líquido é composto pelas contas de capital social e lucros retidos.

Com a DRE e o Balanço Patrimonial em mãos, o administrador fi nanceiro possui ferramentas importantes para começar a elaborar a demonstração do Fluxo de caixa, que também se apoia em outros relatórios fi nanceiros gerenciais.

c) Demonstrações do Fluxo de Caixa (DFC)

Segundo Gitman (2002), a demonstração de fl uxos de caixa representa o resumo das entradas e saídas de dinheiro em uma companhia, em um determinado período, sempre de acordo com o momento exato em que ocorrem, ou seja, o regime adotado é o regime de caixa.

Segundo Gitman (2002), a demonstração de fl uxos de caixa

representa o resumo das entradas e

saídas de dinheiro em uma companhia, em um determinado

período, sempre de acordo com o momento exato

em que ocorrem, ou seja, o regime

adotado é o regime de caixa.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Vamos explorar o exemplo da empresa NIW Produtos Florestais Ltda., que nos apresenta uma DRE, já apresentada acima (Quadro 6), um Balanço Patrimonial (Quadro 7) para montarmos um demonstrativo do fl uxo de caixa (Quadro 10). Para compreender o conceito destes três instrumentos, nós iremos transitar entre esses, portanto, fi que atento para não se perder quando mencionarmos um determinado quadro, ele pode não ser o quadro que está na sequência. Vamos partir das contas da DRE para montarmos a nossa demonstração de fl uxo de caixa.

• Receita Operacional Líquida: você já verifi cou que a nossa DRE traz uma Receita Operacional Líquida no montante de R$ 257.772,46. Antonik (2016) nos lembra que nem todas as receitas ali mencionadas, estão disponíveis no caixa da companhia. No quadro anterior, pudemos verifi car que temos a conta duplicatas a receber, no valor de R$ 13.131,95, ou seja, parte das vendas realizadas, da receita do ano de 2012, não foi recebida. Isso não é sinônimo de inadimplência, mas, sim, da estratégia de venda da empresa, que foi a de conceder um prazo para pagamento de seus clientes. Veja que assim como você sempre procura comprar de seus fornecedores a prazo para melhorar o seu ciclo de caixa, como vimos no Capítulo 1, os seus clientes também tenderão a comprar mercadorias a prazo. Podemos apurar que faltou R$ 1.107,68 no caixa da companhia. Ao aferir Balanço Patrimonial (Quadro 7) a conta Duplicatas a Receber, que no ano de 2011 era de R$ 12.024,27, teve uma majoração para R$ 13.131,95, ano de 2012. Antonik (2016) afi rma que a empresa está fi nanciando os clientes em R$ 1.107,68 no ano de 2012. Assim, a empresa deixou de obter este montante em caixa devido a sua estratégia de venda, mas em termos contábeis, no regime de competência, esse valor ajuda a empresa a obter um lucro maior, pois está presente na conta de receita operacional líquida.

• Custo da Mercadoria Vendida (2): quando falamos em Caixa, na

demonstração do Resultado do Exercício (Quadro 6), podemos verifi car que a empresa teve uma despesa contabilizada de R$ 149.508,03 como Custo das Mercadorias Vendidas, mas na verdade o desembolso de caixa foi na ordem de R$ 4.462,05, isto porque tivemos um aumento no valor dos estoques, de R$ 19.870,70 (2011) para R$ 22.124,45 (2012), e uma diminuição no contas a pagar de R$ 2.208,30, de 2011 para 2012, isto signifi ca que a empresa fi cou devendo menos de um ano para o outro. Somando-se a diferença do valor dos estoques (R$ 2.253,75) mais a diferença em contas a pagar, temos um excedente de desembolso de caixa no total R$ 4.462,05.

• Despesas Operacionais (3): como afi rma Antonik (2016, p. 115), quando transpomos estas despesas operacionais para ótica de um fl uxo de

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47

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS Capítulo 2

caixa, temos que ter o cuidado de observar que “algumas despesas são pagas depois de incorridas, pois quando compramos insumos ou outros bens necessários à produção ou à prestação de serviços negociamos um prazo com os fornecedores”. Isso pode ocorrer também com os salários dos funcionários, pois algumas empresas pagam a remuneração de seus colaboradores no quinto dia útil do mês seguinte ao mês trabalhado. Os salários são contabilizados no mês a que se referem, mas o desembolso de caixa ocorre no mês subsequente. Pode ocorrer também o inverso, algumas despesas operacionais podem incorrer antecipadamente, como o pagamento de um sinal para um pedido de mobiliário para área administrativa. Essa informação pode ser difícil de encontrar nos relatórios contábeis, devendo haver registros específi cos de todas despesas incorridas na empresa. No caso da NIW Produtos Florestais, foi possível verifi car em outros relatórios gerenciais que, do valor contabilizado de R$ 87.557,72 em 2012, R$ 916,15 fi cou para ser pago em 2013, ou seja, do valor de R$ 23.074,14, de Contas a Pagar, existente no Balanço Patrimonial (quadro 7), R$ 916,15 são referentes a despesas operacionais.

• Depreciação: ainda, como despesa operacional, temos a depreciação, que teve uma variação, entre 2011 e 2012, de R$ 7.850,84, como demonstrado no Quadro 8. Esse valor é acrescido ao fl uxo de caixa, pois ele está descontando a nossa base de receitas, contudo ele é um valor meramente contábil e não há efetivamente um desembolso de dinheiro para pagar a depreciação.

Quadro 8 – Imobilizado e Depreciação

Itens do balanço 2011 2012 Diferença

Imobilizado R$ 68.367.17 R$ 79.121,80 R$ 10.754,63Depreciação -R$ 14.782,44 -R$ 22.633,17 R$ 7.850,84Acumulada

Fonte: Antonik (2016, p. 117).

• Despesas Financeiras: algumas das despesas fi nanceiras também podem ocorrer em períodos distintos daqueles contabilizados na DRE. Assim, Antonik (2016) aponta que a empresa registrou R$ 4.413,59 em despesas fi nanceiras, como juros de fi nanciamento, por exemplo, que ocorreram no ano de 2012. Destes valores realizados, verifi cou-se que R$ 111,65 não foram efetivamente pagos no ano, sendo originados no mês de dezembro de 2012 e com pagamento previsto para janeiro de 2013.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

O Quadro 9 traz um resumo das diferenças entre a DRE 2011 e 2012, dos quais podemos destacar os itens que compõem o cômputo do fl uxo de caixa mencionado acima. Entram nesta conta, a margem bruta (R$ 5.569,73, que são as variações das contas Receita Operacional Líquida e Custo da Mercadoria Vendida), o total das despesas operacionais, acrescentando a depreciação e as despesas fi nanceiras.

Quadro 9 – Comparativo entre regime de Caixa e Competência

NIW Produtos Florestais LtdaDemonstrações de Resultado do Exercício, 31 de dezembro de 2012 (R$)

2012 Diferenças

Receita operacional líquida (1) R$ 257.772,46 -R$ 1.107,68

Custo da mercadoria vendida (2) R$ 149.508,03 -R$ 4.462,05

Margem Bruta R$ 108.264,43 -R$ 5.569,73Salários e benefícios R$ 58.464,25

Despesas de comercialização R$ 16.994,70

Outras despesas R$ 12.098,76

Despesas operacionais (3) R$87.557,72 R$ 916,15

Depreciação (4) R$ 7.850,84 R$ 7.850,84

Total das despesas operacionais R$ 95.408,56 R$ 8.766,99Lucro operacional R$ 12.855,87

Despesas fi nanceiras (5) R$ 4.413,59 R$ 111,65

Lucro líquido do exercício R$ 8.442,28

Diferença entre regime competência e caixa (2) R$ 3.308,91

Fluxo de caixa gerado pelas atividades operacionais (1) R$ 11.751,19

(1) Lucro líquido do exercício + Fluxo de caixa líquido (R$8.442,28 + R$3.308,91 = R$11.751,19)

(2) Diferença entre regime competência e caixa = -R$5.569,73 + R$8.766,99 + R$ 111.65 = R$ 3.308,91

Fonte: Adaptado de Tracy (2007 apud ANTONIK, 2016, p. 113).

Page 49: Planejamento e Controle Financeiro

49

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS Capítulo 2

Assim, temos que o Fluxo de Caixa Líquido é a soma do lucro líquido com a diferença das apurações entre o regime de caixa e as competências das contas: Margem Bruta, Despesas Operacionais (Somada a Depreciação) e Despesas Financeiras.

Outra forma de demonstrar o fl uxo de caixa seria realizar um quadro com as variáveis de fl uxo de caixa das atividades operacionais, de investimento e fi nanciamento. Esse demonstrativo de fl uxo de caixa é mais completo e traz informações até agora não abordadas, como as atividades de investimento e fi nanciamento.

Assim, temos que o Fluxo de Caixa Líquido é a soma

do lucro líquido com a diferença das

apurações entre o regime de caixa e as competências

das contas: Margem Bruta, Despesas

Operacionais (Somada a

Depreciação) e Despesas Financeiras.

Quadro 10 – Demonstração de Fluxo de Caixa

NIW Produtos Florestais Ltda.

Demonstrações de fl uxo de Caixa, 31 de dezembro de 2012 (R $)

Composição do Fluxo de

Caixa

Cálculo fi nal do Fluxo

específi co

Cálculo do Saldo de

Caixa Total

Fluxo de caixa das atividades operacionais

Lucro líquido do exercícioAumento em duplicatas a receber

-R$ 1.107,68

Aumento em estoques -R$ 2.833,63

Redução em despesas pré-pagas

R$ 352,60

Depreciação R$ 7.850,84

Redução no Contas a Pagar

-R$ 2.208,30

Aumento de despesas provisionadas

R$ 1.255,08

Subtotal do Fluxo Opera-cional

R$ 3.308,91

Lucro líquido do exercício R$ 8.442,28

Total de Fluxo Operacional R$ 11.751,19

Fluxo de caixa das atividades de

investimentoAumento no imobilizado -R$ 10.754,63

Page 50: Planejamento e Controle Financeiro

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Fluxo de caixa das atividades de

fi nanciamento

Aumento em empréstimo de curto prazo

R$ 8.826,13

Aumento em empréstimos de longo prazo

R$ 8.826,13

Aumento de capital R$ 2.206,53

Total do Fluxo de Finan-ciamento

R$ 19.858,79

Aumento no caixa durante o ano

R$ 20.855,34

Caixa no início do ano

R$ 30.695,41

Caixa no fi nal do ano

R$ 51.550,75

Fonte: Tracy (2007 apud ANTONIK, 2016, p. 121).

Com base no demonstrativo de fl uxo de caixa, o empreendedor conhecerá a sua disponibilidade fi nanceira imediata, mas precisa fi car atento que muitos destes recursos possuem usos destinados. Discutiremos detalhadamente sobre o fl uxo de caixa no Capítulo 4, no qual abordaremos também o fl uxo de caixa livre.

Atividades de Estudos:

1) A empresa pode confi ar apenas no Balanço Patrimonial e na DRE para elaborar sua demonstração de fl uxo de caixa? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2) Explique a diferença entre custo das mercadorias vendidas e despesas operacionais.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Page 51: Planejamento e Controle Financeiro

51

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS Capítulo 2

Índices FinanceirosOs índices fi nanceiros são uma importante ferramenta para analisar o

desempenho de uma organização. Gitman (2002) afi rma que os índices fi nanceiros medem duas categorias basicamente: o risco e o retorno. Assim, através do Balanço Patrimonial e da DRE podemos calcular o risco fi nanceiro atrelado a uma determinada empresa, assim como o retorno que oferece ao acionista ou ao seu proprietário. Estes índices são também muito utilizados por instituições bancárias, para determinar a taxa de juros de um fi nanciamento, por exemplo. Para empresas que possuem um risco maior, as taxas de juros são maiores, haja vista que o risco de inadimplemento das parcelas de um fi nanciamento são maiores. Do mesmo modo, potenciais investidores em empresas, além de averiguar o risco, também analisarão o retorno ofertado, para ver se estão compatíveis e aceitáveis. Esses são motivos bastante importantes para que você tenha uma contabilidade confi ável, de modo a não distorcer essas informações e passar uma mensagem errada da sua situação fi nanceira da companhia. Neste capítulo, trabalharemos quatro grupos de conceitos de índices:

- Índices de liquidez.- Índices de atividade.- Índice de endividamento.- Índice de rentabilidade.

Para tanto, faremos referência ao Balanço Patrimonial e à DRE da empresa NIW Produtos Florestais Ltda., já apresentadas anteriormente.

a) Índice de liquidez

O índice de liquidez, segundo Gitman (2002), mede a capacidade da empresa cumprir obrigações de curto prazo a medida em que elas ocorrem. Esse índice é considerado a solvência geral da empresa. Uma liquidez baixa costuma indicar que uma difi culdade fi nanceira de caixa se avizinha e pode trazer problemas de fl uxo de caixa. Os índices de liquidez comumente utilizados são:

• Índice de liquidez corrente: segundo Gitman (2002), mede a capacidade da empresa de saldar suas obrigações de curto prazo. A fórmula do índice de liquidez corrente é a seguinte:

O índice de liquidez, segundo Gitman (2002), mede a capacidade da

empresa cumprir obrigações de curto prazo a medida em que elas ocorrem.

Índice de Liquidez Corrente =Ativo Circulante

Passivo Circulante

Page 52: Planejamento e Controle Financeiro

52

PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Como o próprio nome do índice já indica, ele refere-se ao Ativo e Passivo Circulante/Corrente, aqueles de curto prazo. No caso da NIW Produtos Florestais Ltda., a conta seria a seguinte:

R$ 92.211,83 = 1,92R$ 47.925,42

Temos um número, agora temos que interpretá-lo. Aqui é que mora o perigo, pois não existe uma ciência exata na interpretação destes índices. Em geral, quanto mais alto for o índice, mais líquida a empresa é. Gitman (2002) afi rma que a aceitação de índices de liquidez menores está relacionada à previsibilidade dos fl uxos de caixa. Assim, em empresas que possuem contratos de longo prazo fi rmes, ou demandas que não variam muito, conseguem ter um fl uxo de entradas de caixa previsíveis e podem lidar com Passivo Circulante mais próximo do Ativo Circulante. São exemplos destas empresas as concessionárias de serviço público.

Empresas que atuam no mercado de inovação, por exemplo, devem ter um índice de liquidez alto, de modo que possam lidar com o declínio da demanda por um produto e consigam se reposicionar no mercado com atualizações ou

outros produtos, por exemplo. Não conhecemos muito do setor específi co no qual a NIW trabalha, mas se for extração de madeira de refl orestamento, uma indústria com alta previsibilidade, um índice próximo a dois pode ser bastante aceitável.

• Índice de liquidez seca: segundo Gitman (2002), este índice é uma variável do índice de liquidez corrente, a sua diferença é que o índice de liquidez seca subtrai o estoque, por este ser o Ativo menos líquido do grupo de contas do Ativo Circulante. Isto ocorre, pois, o estoque pode conter produtos inacabados (difíceis de vender) e por ele ser vendido a prazo, tornando-se de imediato contas a receber e não caixa. A fórmula do índice de liquidez seca é a seguinte:

Segundo Gitman (2002), este índice é uma variável do índice de liquidez corrente, a sua

diferença é que o índice de liquidez

seca subtrai o estoque, por este ser o Ativo menos líquido do grupo

de contas do Ativo Circulante.

Índice de Liquidez seca =Ativo Circulante - Estoques

Passivo Circulante

Como o próprio nome do índice já indica, ele refere-se ao Ativo e Passivo Circulante/Corrente, aqueles de curto prazo. No caso da NIW Produtos Florestais Ltda., a conta seria a seguinte:

R$ 92.211,83 – R$ 22.124,45 = 1,46R$ 47.925,42

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DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS Capítulo 2

Assim como na interpretação do índice de liquidez corrente, a interpretação do índice de liquidez seca depende do setor de atividade. Gitman (2002, p. 46) afi rma que um índice de liquidez seca de pelo menos 1 é ocasionalmente recomendado. Para escolher entre um e outro índice, cabe uma interpretação do quão facilmente o estoque de uma empresa pode se tornar caixa. Se o estoque for mais líquido, opta-se pelo índice de liquidez corrente, se for menos líquido, pelo índice de liquidez seca.

b) Índices de atividade

Os índices de atividade, segundo Gitman (2002, p. 47) “medem a velocidade com que as várias contas são convertidas em vendas ou caixa – entradas ou saídas”. Ainda que a liquidez tenha a capacidade em indicar a facilidade com que Ativos e Passivos se tornam entradas ou saída de caixa, nos índices de atividade estamos lidando com questões relacionadas diretamente à operação da companhia, como o giro do estoque e giro total do ativo.

• Giro do estoque: esse índice é importante, pois mede a liquidez do estoque de uma empresa, podendo ser usado para determinar o índice de liquidez a ser utilizado (corrente ou seco).

Os índices de atividade, segundo

Gitman (2002, p. 47) “medem a

velocidade com que as várias contas

são convertidas em vendas ou caixa –

entradas ou saídas”.

Giro de estoques =Custo das Mercadorias Vendidas

Estoque

Veja que neste índice buscamos informações de dois demonstrativos contábeis distintos, o Custo das Mercadorias Vendidas (DRE) e Estoque (Balanço Patrimonial).

R$ 149.508,03= 6,76

R$ 22.124,45

A interpretação deste índice, segundo Gitman (2002) deve ser comparado a valores de outras empresas do mesmo setor, ou então, com o giro da mesma empresa em períodos distintos. No caso da NIW Produtos Florestais Ltda., o seu estoque girou 6,76 vezes durante o ano de 2012. Um supermercado, por exemplo, tende a ter um giro de estoque muito mais alto, enquanto um estaleiro que fabrica embarcações poderá ter um giro menor, tudo depende do setor e modelo de negócio da empresa.

• Giro do ativo total: o giro do ativo total indica a efi ciência que a empresa possui para utilizar seus ativos e transformá-los em vendas. O cálculo do giro de ativo total é feito da seguinte forma:

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Giro do ativo total =Vendas

Ativo total

Novamente vamos buscar informações na DRE e Balanço Patrimonial.

R$ 257.772,46= 1,73

R$ 148.700,35

Podemos dizer, então, que o ativo total da empresa girou 1,73 vezes em 2012. Quanto maior o giro do ativo total, mais efi ciente é a empresa em transformar seus ativos em vendas. No caso da NIW Produtos Florestais Ltda., girar quase duas vezes o ativo total em um ano é um bom resultado.

c) Índice de endividamento

O índice de endividamento, segundo Gitman (2002, p. 49) “indica o volume de dinheiro de terceiros usado para gerar lucros”, ou seja, o quanto de capital a empresa buscou junto a bancos e outras fontes de recursos externas à companhia, para fi nanciar a sua operação. Esse índice é importante para ser analisado pelos sócios, pois, antes da distribuição de lucros aos acionistas, é necessário quitar as obrigações com credores. Para instituições fi nanceiras, analisar o

endividamento de uma empresa está relacionado à capacidade de pagamento do fi nanciamento e também ao risco a que estas estão tomando em fornecer crédito. São basicamente dois indicadores: o índice de endividamento geral e o índice de cobertura de juros.

• Índice de endividamento geral: o índice de endividamento geral mede

a proporção dos ativos de uma empresa que é fi nanciada por capital de terceiros. Seu cálculo é realizado da seguinte forma:

O índice de endividamento, segundo Gitman

(2002, p. 49) “indica o volume de dinheiro de terceiros usado para gerar lucros”.

Índice de endividamento geral =Passivo Exigível Total

Ativo total

R$ 17.652,25 + R$ 35.304,50= 36%

R$ 148.700,35

Podemos verifi car que a empresa possui um fi nanciamento de 36% dos ativos com capital de terceiros, quanto mais alto for este índice, maior será o seu

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DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS Capítulo 2

grau de endividamento, e mais elevada a sua alavancagem fi nanceira. Veremos com maiores detalhes a alavancagem fi nanceira no Capítulo 3.

• Índice de cobertura de juros: esse índice também pode ser conhecido como índice de cobertura do serviço da dívida, isto porque ele refl ete a capacidade da empresa em saldar os juros previstos em contratos de fi nanciamentos. O seu cálculo é feito da seguinte forma:

Índice de cobertura de juros =Lucro antes de juros e imposto de renda

Juros

Essas informações constam na DRE, que no caso da NIW Produtos Florestais Ltda., refere-se ao lucro operacional dividido pelas despesas fi nanceiras, que nesse caso específi co está referindo-se somente aos juros. Então temos:

R$ 12.855,87= 2,91

R$ 4.413,59

Gitman (2002) afi rma que um índice de cobertura de juros entre 3 e 5, preferencialmente mais próximo a este, é o recomentado. Ainda assim, podemos dizer que o lucro operacional da NIW Produtos Florestais Ltda. poderia reduzir até 66% [(2,91 – 1,0) / 4,50] e a empresa ainda poderia pagar os R$ 4.413,59 de juros.

d) Índices de rentabilidade

A rentabilidade da empresa, leia-se, a lucratividade, é um dos fatores que mais preocupa seus proprietários e também é um dos primeiros itens a serem analisados pelos interessados em investir em uma empresa, pois mede o retorno fi nanceiro do empreendimento. Assim, diversos itens podem ser retirados de uma DRE e Balanço Patrimonial, com vistas a aferir a rentabilidade das companhias. Aqui abordaremos a margem de lucro bruto e líquido e o retorno do ativo total.

• Margem de lucro bruto: esse índice, conforme explica Gitman (2002, p. 52), “mede a porcentagem de cada unidade monetária de vendas que resta após o pagamento do custo dos produtos vendidos”. Quanto maior a margem de lucro bruto, menor será o custo dos produtos vendidos. O cálculo da margem de lucro bruto é assim calculado:

A rentabilidade da empresa, leia-se, a lucratividade,

é um dos fatores que mais preocupa seus proprietários e também é um dos primeiros itens a serem analisados pelos interessados em investir em uma empresa, pois mede o retorno fi nanceiro do empreendimento.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Margem de lucro bruto =Lucro bruto

Receita de vendas

Para calcularmos a margem de lucro bruto da NIW produtos fl orestais Ltda., iremos consultar a DRE, e teremos a seguinte equação:

R$ 108.264,43= 42%

R$ 257.772,46

Assim, temos que a empresa NIW produtos fl orestais Ltda. apresenta uma margem de lucro bruto de 42%, que pode ser comparada a outras empresas do mesmo setor, ou mesmo na evolução anual.

• Margem de lucro líquido: esse índice, conforme explica Gitman (2004), mede a proporção de cada unidade monetária de vendas que sobra após o pagamento de todos custos e despesas, inclusive juros, impostos e dividendos. Assim como a margem de lucro bruto, quanto maior, melhor. O cálculo desta margem é assim realizado:

Margem de lucro líquido = Lucro líquidoReceita de vendas

Para a Margem de Lucro Líquido consultaremos apenas a DRE da empresa NIW Produtos Florestais Ltda., que nos fornecerá a seguinte equação:

R$ 8.442,28= 3,3%

R$ 257.772,46

Assim, temos que a margem de lucro líquido da empresa NIW Produtos Florestais Ltda. é de 3,3%. Gitman (2002, p. 54) afi rma que “uma boa margem de lucro líquido varia consideravelmente de setor para setor”, sendo que uma margem de 10% poderia ser considerada baixa no caso de uma joalheria, mas 1% poderia ser considerado uma boa margem para um supermercado. Essas variações podem estar relacionadas ao risco do negócio e ao giro do estoque, por exemplo.

• Retorno do ativo total: o retorno do ativo total, segundo Gitman (2002) mede o modo como a administração da companhia transformou em lucros os ativos disponíveis. Desta forma, quanto mais alto for o retorno do ativo, melhor a empresa terá desempenhado a sua função em transformar ativos em lucros. A forma de cálculo do retorno do ativo total é a seguinte:

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DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS Capítulo 2

Retorno do ativo total =Lucro líquido

Ativo total

Assim, para esse índice, buscaremos informações na DRE e Balanço Patrimonial da empresa NIW Produtos Florestais Ltda., que nos remeterá à seguinte equação:

R$ 8.442,28= 5,7%

R$ 148.700,35

Isso quer dizer que para cada real investido em ativos na companhia, ela retornou 5,7 centavos. Para termos uma análise mais criteriosa, é importante compararmos este retorno com outras empresas do mesmo setor, ou mesmo verifi car a evolução deste índice ano após ano.

Atividade de Estudos:

1) Analise o Balanço Patrimonial a seguir:

Quadro 11– Balanço Patrimonial da Companhia das Letras ABC, 31 de dezembro de 2017

ATIVO PASSIVO

Ativo Circulante Passivo Circulante

Caixa R$ 260.100,00 Fornecedores R$ 60.700,00

Clientes R$ 650.000,00 Impostos a pagar R$ 51.800,00

Bancos R$ 200.100,00 Total do circulante R$ 112.500,00 Aplicações fi nanceiras

R$ 350.000,00

Estoques R$ 394.000,00 Exigível a longo prazo

Total do Circulante

R$1.854.200,00 Empréstimos de longo prazo

R$ 12.000,00

Total Exigível a Longo Prazo

R$ 12.000,00

Realizável a Longo Prazo

Créditos judiciais R$ 20.000,00 Patrimônio Líquido R$ 160.000,00

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Total do Realizável a longo prazo

R$ 20.000,00 Capital Social R$ 4.700,00

Lucros acumulados R$ 1.800.000,00 ATIVO PERMA-NENTE

Total do Patrimônio Líquido

R$ 1.964.700,00

Máquinas e equi-pamentos

R$ 20.000,00

Veículos R$ 50.000,00 Móveis e utensílios R$ 27.000,00 Instalações R$ 70.000,00 Equipamentos de computação

R$ 48.000,00

Total Permanente R$ 215.000,00 Total do ativo R$ 2.089.200,00 Total do Passivo R$ 2.089.200,00

Considerando o balanço da empresa fi ctícia, companhia das Letras ABC, encerrado em 31 de dezembro de 2017, e de posse das informações de que a receita de vendas do ano corresponde a R$ 3.000.000,00, lucro líquido R$ 100.000,00, calcule:

a) o índice de liquidez corrente;b) o giro total do ativo; c) a margem de lucro líquido; d) o retorno total do ativo.

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS Capítulo 2

Algumas ConsideraçÕes Neste capítulo entramos em alguns temas que são essenciais para o

administrador fi nanceiro, mas que geralmente são terceirizados e pouco acessados pelo proprietário de pequenas empresas: os relatórios contábeis. Por mais que as pequenas empresas não sejam obrigadas, em sua maioria, a publicar tais relatórios, como a DRE, Balanço Patrimonial e Demonstrativo do Fluxo de Caixa, é importante que os gestores fi nanceiros os utilizem como ferramenta gerencial.

A elaboração desses relatórios deve ser incumbência de profi ssionais competentes e capacitados, haja vista que o padrão dos lançamentos segue inúmeras regras como você pode perceber, desde a ordem da apresentação das contas de um balanço até a determinação do percentual de depreciação de um determinado bem.

Os dados apresentados na DRE e Balanço Patrimonial não apenas nos permitirá apurar a lucratividade da empresa corretamente, como nos fornecerá informações essenciais para apurar a Demonstração do Fluxo de Caixa da empresa e também inúmeros índices fi nanceiros.

Esses índices fi nanceiros nos auxiliam a mensurar o resultado da companhia, além do lucro apurado na DRE. A partir da utilização de índices, podemos verifi car como a empresa gira o seu estoque, o risco e sua capacidade de endividamento e como ela transforma seus ativos em lucro, por exemplo.

Desse modo, fi ca claro como a contabilidade pode ser uma ferramenta de gestão importante para o alinhamento da estratégia fi nanceira de um empreendimento. A partir desses relatórios, podemos planejar metas futuras e corrigir traçados, de modo que o objetivo de longo prazo da empresa seja alcançado.

No próximo capítulo, exploraremos a alavancagem fi nanceira e operacional das empresas, entrando em temas como o impacto do fi nanciamento para o resultado fi nanceiro das organizações. Até mais!

ReFerÊnciasANTONIK, L. R. Empreendedorismo: gestão fi nanceira para micro e pequenas empresas. São Paulo: Elsevier, 2016.

GITMAN, L. J. Princípios de Administração Financeira. 7. ed. São Paulo: Har-bra, 2002.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

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CAPÍTULO 3

Alavancagem Financeira e Operacional

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem:

Defi nir o conceito de alavancagem fi nanceira e operacional.

Identifi car o uso mais adequado de cada tipo de alavancagem.

Aplicar alavancagem fi nanceira para fi nanciar as contas próprias.

Selecionar opções de alavancagem operacional para fi nanciar as vendas a clientes.

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ALAVANCAGEM FINANCEIRA E OPERACIONAL Capítulo 3

ContextualiZaçãoNão sei se você já fez uso de ferramentas de administração na sua vida

pessoal, como uma planilha de orçamento para controlar suas fi nanças ou para fazer um planejamento de férias, por exemplo. Poder aplicar estes conhecimentos na vida pessoal, com certeza é uma das vantagens de se conhecer essa área de estudos mais profundamente. Quando lidamos com pequenos negócios, às vezes, fazemos o inverso, trazemos nossas práticas pessoais para dentro da companhia, sem analisar tecnicamente as consequências que isso traz para o negócio.

Para alguns empresários, lidar com temas como dívida ou fi nanciamento é muito difícil. Algumas pessoas possuem a cultura de que dívidas e fi nanciamento são ruins para a empresa e o ideal seria ter uma estrutura de capital totalmente próprio. Na vida pessoal isso pode ser sim uma verdade, uma vez que, para a grande maioria, a fonte de recursos ou suas receitas são provenientes de um trabalho assalariado, com rendimento fi xo mensal, e as suas despesas são realizadas com itens, também em sua maioria, que não representam uma relação direta com o incremento de recursos. Além disso, existe o risco deste trabalho assalariado esgotar-se e suas dívidas permanecerem. No entanto, quando falamos de empresas, as dívidas a serem realizadas estão ou devem estar ligadas a sua fonte de receitas, direta ou indiretamente. Assim, se eu fi nancio algo para minha empresa, estou fazendo isto com o intuito de gerar receitas e trabalhar com o capital de terceiros, podendo representar um retorno maior, uma vez que o capital próprio é escasso, e, portanto, tem um custo elevado. Antonik (2016) afi rma que fi nanciar faz parte do cotidiano das empresas, e existem muitas oportunidades a custo baixo para empreendedores. Quando falamos de fi nanciamento em empresas, estamos também falando de alavancagem fi nanceira.

Existe também a alavancagem operacional, que se dá dentro da própria empresa. É uma espécie de fi nanciamento interno da companhia, na qual ela lida com a venda de seus produtos e serviços e seus custos, de modo a gerar um saldo positivo, um ponto de equilíbrio a partir de uma quantidade de produtos vendidos que é capaz de cobrir sua operação.

Neste capítulo, abordaremos os conceitos detalhados de alavancagem fi nanceira e operacional, seus usos e aplicações, de modo que você possa identifi car e utilizar essa ferramenta na gestão fi nanceira de pequenos negócios.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Introdução À Alavacagem Financeira e Operacional

Gitman (2002, p. 434) afi rma que a alavancagem “é o produto do uso de ativos ou fundos a custo fi xo para multiplicar retornos para os proprietários da empresa”. Para isso, Antonik (2016) afi rma que existem duas frentes: a alavancagem operacional e fi nanceira. Gitman (2002) afi rma que, de um modo geral, a alavancagem aumenta o risco de uma empresa. Isto ocorre, pois, a alavancagem pressupõe uma ausência de recursos da companhia para quitar os seus compromissos. Isso signifi ca dizer que a empresa não possuirá recursos disponíveis imediatos em caixa para cobrir sua operação. Se eu fi nancio uma máquina na minha empresa, contando com o recebimento de vendas que realizei a prazo, eu tenho o risco de não receber as vendas e não poder quitar o fi nanciamento. No entanto, esse risco é controlável pela empresa. E isso, segundo Gitman (2002), é interessante, pois o retorno também pode ser positivo. Além de o custo de capital de terceiros poder ser menor do que o custo do capital próprio, ele pode ser deduzido como despesa fi nanceira, e aumentar a lucratividade da empresa. Essa equação melhora a relação de risco e retorno, ou seja, uma empresa alavancada traz um retorno maior do que uma empresa não alavancada, mas também traz consigo um certo grau de risco.

Custo do capital próprio: Segundo Gitman (2002), pode ser defi nido pela taxa mínima de retorno exigida no negócio pelos proprietários.

Gitman (2002, p. 434) diz que “em virtude do seu efeito sobre o valor, o administrador fi nanceiro deve saber como medir e avaliar a alavancagem, particularmente ao tomar decisões sobre a estrutura de capital da empresa”. Quando se fala em estrutura de capital, está se falando sobre o montante de capital próprio e de terceiros que será utilizado na companhia para fi nanciar suas operações.

Segundo Gitman (2002), a estrutura de capital é uma das áreas mais complexas no tocante à tomada de decisões fi nanceiras da empresa, pois possui implicações diretas no custo do capital, seja ele próprio ou de terceiros. Vamos explicar melhor: como você pode se atentar ao conceito técnico sobre o capital próprio, este apresenta um custo, ao contrário do que muitos empresários pensam. Se você é o proprietário da empresa e colocar seu capital, e não pagar

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ALAVANCAGEM FINANCEIRA E OPERACIONAL Capítulo 3

juros para ninguém, como é que esse dinheiro terá custo? Você pode ser o dono do dinheiro, mas está aplicando no negócio para receber um retorno sobre ele, correto? Então, o custo deste dinheiro está relacionado às oportunidades que você deixa de usufruir para aplicar no projeto. Assim, se tiver uma oportunidade de aplicar R$ 100.000,00 no seu negócio - no qual eu arriscar esse capital com os contratos de fi nanciamento que irei realizar, com dívidas trabalhistas, além de todas as incertezas presentes no mercado, como aceitação do produto, variação da demanda, obsolescência etc. - é comum que espere receber mais do que receberia se aplicasse o mesmo montante em um investimento fi nanceiro com histórico de rendimento e garantido por um fundo garantidor de crédito do governo. Assim, se este investimento conservador render uma taxa de juros média de 10% a.a., espera-se que o negócio, pelo risco associado a ele, renda mais. Assim, poderia dizer que o custo do capital próprio seria o equivalente a 10% a.a., pois se está deixando de aplicar recursos neste rendimento garantido para arriscar no meu negócio. Segundo Gitman (2002) o capital próprio é representado no Balanço Patrimonial pelo Patrimônio Líquido, no qual fi cam concentrados os valores das ações, capital ordinário, e lucros retidos.

Já o capital de terceiros, pode ser representado pelo passivo exigível a longo prazo, no qual se concentram as dívidas da empresa com terceiros que fi nanciam a operação da companhia, como empréstimos para capital de giro, por exemplo. A fi gura a seguir ilustra como podemos identifi car a estrutura de capital da empresa no Balanço Patrimonial.

Figura 9 – Estrutura de Capital da empresa

Fonte: Gitman (2002, p. 445).

Ativo

Passivo circulante

Exigível de longo prazo

Patrimônio líquidoAções preferenciaisCapital ordinárioAções ordináriaisLucros retidos

Capital de dívida(emprestadode terceiros)

Patrimôniolíquido (capitalpróprio)

Estruturade capital

total

Balanço patrimonial

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

A alavancagem de uma empresa, como corroboram Gitman (2002) e Antonik (2016), são importantes indicadores a serem verifi cados no momento de se discutir a estrutura de capital de uma empresa, existem três tipos básicos de alavancagem:

• Alavancagem operacional: refere-se à utilização de custos fi xos para compor as vendas, de modo que estes possam aumentar a lucratividade da empresa.

• Alavancagem fi nanceira: refere-se à relação de fi nanciamento através do uso de capital de terceiros, para aumentar a lucratividade da empresa.

• Alavancagem total: é a conjugação dos dois tipos de alavancagem acima elencadas, que pode a aumentar o retorno do capital investido para o proprietário da companhia.

Neste capítulo, nós vamos detalhar cada um dos tipos de alavancagem mencionadas, mas antes, vamos entender o conceito de ponto de equilíbrio, para facilitar a compreensão destes.

Análise do Ponto de EquilíBrio A análise do ponto de equilíbrio, segundo Gitman (2002), também

pode ser denominada análise de custo-volume-lucro. Isto porque ela é utilizada para identifi car o nível de operações necessárias para pagar todo o custo operacional da empresa e averiguar o retorno obtido com determinados níveis de venda. Assim, segundo Gitman (2002, p. 434), o ponto de equilíbrio operacional “consiste no nível de vendas necessário para cobrir todos os custos operacionais. Neste ponto, o lucro antes dos juros e imposto de renda é igual a R$ 0,00.

Assim, segundo Gitman (2002,

p. 434), o ponto de equilíbrio operacional

“consiste no nível de vendas necessário para cobrir todos os custos operacionais.

Quadro 12 – Alavancagem total

Alavancagem Operacional

Receita de Operacional líquida

Alavancagem Total

(-) custo da mercadoria vendida(=) lucro bruto(-) despesas operacionais(=) lucro antes dos juros e do imposto de renda e da contribuição social (LAJIR)

Alavancagem Financeira

(-) despesas fi nanceiras(=) lucro antes do imposto de renda e da contribuição social(-) imposto de renda e contribuição social(=) lucro após o imposto de renda e a con-tribuição social

Fonte: Adaptado de Antonik (2016, p. 93).

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ALAVANCAGEM FINANCEIRA E OPERACIONAL Capítulo 3

Segundo Antonik (2016), para calcular o ponto de equilíbrio, é necessário que façamos uma decomposição dos custos fi xos e variáveis da empresa. O custo fi xo é aquele que ocorre em função do tempo e não guardam diretamente uma proporção com as vendas. Assim, independente de haver ou não vendas, estes custos são incorridos, como aluguel das instalações, despesas de salários da área administrativa etc. Já os custos variáveis decorrem das vendas, como comissão de vendedores, matéria-prima etc.

O Quadro 11 trouxe um resumo de uma DRE com os componentes da alavancagem total (operacional e fi nanceira). Quando tratamos de ponto de equilíbrio operacional, temos um enfoque na alavancagem operacional, e vamos, agora, representá-la algebricamente, para que você possa compreender como é calculada.

Então, segundo Gitman (2002), transformando os componentes do Quadro 11 de forma algébrica temos as seguintes variáveis:

P = Preço unitário de venda;Q = Número de unidades vendidas;CF = Custo operacional fi xo por período;CV = Custo operacional variável por período.

Assim, para obtermos uma fórmula para determinar o lucro operacional (lucro antes de juros e imposto de renda) temos a seguinte equação:

Lucro Operacional = (P X Q) – CF – (CV XQ)De forma simplifi cada a equação pode ser resumida em: Lucro Operacional = Q X (P – CV) - CF

Se o ponto de equilíbrio ocorre a partir do momento em que o lucro operacional da empresa se iguala a zero, podemos então determinar a quantidade mínima necessária de produtos a serem vendidos para atingirmos o ponto de equilíbrio. Deste modo, de acordo com Gitman (2002), a fórmula para o ponto de equilíbrio é a seguinte:

Q =CFP - CV

Onde a quantidade “Q” passa a ser o ponto de equilíbrio da empresa.

Para melhor compreender, vamos nos utilizar de um exemplo trazido por Gitman (2002), de uma pequena loja de pôster, a qual possui R$ 2.500,00 de custo fi xo e vende cada unidade a R$ 10,00 e seu custo operacional variável é R$ 5,00 por unidade vendida. Assim, temos o seguinte ponto de equilíbrio para a loja citada.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Q =CF

=R$ 2.500,00

= 500 unidadesP - CV R$ 10 - 5

Figura 9 – Alavancagem operacional, custos e análise de ponte de equilíbrio

Fonte: Gitman (2002, p. 435).

Assim, se quisermos ter uma melhor visualização do ponto de equilíbrio da nossa empresa de pôsteres, poderemos então representar as variáveis acima através de um gráfi co.

Pelo gráfi co, podemos verifi car que as linhas de receita de vendas e custo operacional total se cruzam em 500 unidades de vendas, este ponto de cruzamento é o ponto de equilíbrio operacional, e a partir deste momento a empresa passa a cobrir todas as suas despesas operacionais e fornecer um lucro operacional e essa relação segue crescente, veja que para a venda de 1.000 unidades, eu possuo um custo de aproximadamente R$ 7.500,00 e uma receita de R$ 10.000,00.

Figura 10 – Análise do ponto de equilíbrio operacional

Fonte: (Gitman 2004, p. 436).

Item

Alavancagem operacional

Representaçãoalgébrica

Receita de vendasMenos: custos operacionais fi xosMenos: custos operacionais variáveisLucro antes de juros e imposto de renda

(P x Q) - CF - (CV X Q) Laji

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ALAVANCAGEM FINANCEIRA E OPERACIONAL Capítulo 3

O ponto de equilíbrio é sensível, além da quantidade de produtos vendidos, a variações no custo operacional fi xo, ao preço de venda por unidade e ao custo operacional variável por unidade.

O Quadro 13 sintetiza cada os efeitos do aumento das variáveis que compõem a fórmula do cálculo do ponto de equilíbrio. O efeito da diminuição das variáveis seria o inverso do exemplifi cado no referido quadro.

Quadro 13 – Sensibilidade do ponto de equilíbrio operacional a aumento das variáveis fundamentais

Aumento da variável Efeito sobre o ponto de equilíbrio operacional

Custo operacional Fixo (CF) Aumento

Preço de venda por unidade (P) Redução

Custo operacional variável por unidade (CV)

Aumento

Fonte: Gitman (2002, p. 437).

Atividades de Estudos:

1) Verifi que o efeito do ponto de equilíbrio, simulando as seguintes variáveis da nossa loja de pôsteres:

a) Custo fi xo de R$ 2.500,00, preço de venda por unidade de R$ 12,50 e custo variável por unidade de R$ 5,00. ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

b) Custo fi xo de R$ 2.500,00, preço de venda por unidade de R$ 10,00 e custo variável por unidade de R$ 7,50. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

c) Custo fi xo de R$ 3.000,00, preço de venda por unidade de R$ 12,50 e custo variável por unidade de R$ 7,50.______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Alavancagem OperacionalSegundo Gitman (2002), a alavancagem operacional ocorre quando temos

custos fi xos presentes na estrutura de resultados da empresa. Isto signifi ca dizer que quando temos a possibilidade de utilizar custos fi xos para aumentar a rentabilidade do LAJIR da empresa, temos demonstrada a existência de uma

alavancagem operacional. Segundo Gitman (2002, p. 437) “podemos defi nir alavancagem operacional como a possibilidade de uso dos custos operacionais fi xos para ampliar os efeitos de variações de vendas sobre o lucro da empresa antes de juros e imposto de renda (LAJIR)”.

Para termos uma melhor compreensão da alavancagem operacional, nada melhor do que nos utilizarmos de um exemplo. Para facilitar, vamos recorrer ao exemplo da nossa loja de pôsteres, já mencionada por Gitman (2002). Lembrando então das premissas iniciais da nossa loja: Preço de venda (P) = R$ 10,00; Custo operacional variável (CV) = R$ 5,00 por unidade; Custo operacional fi xo (CF) = R$ 2.500,00. Com este conjunto de variáveis, a fi gura a

seguir (gráfi co da alavancagem operacional) demonstra que para uma quantidade de 1.000 unidades vendidas, nós conseguimos um LAJIR de R$ 2.500,00 e para uma quantidade de 1.500,00 unidades, este LAJIR cresce 100%, ou seja, passa a ser de R$ 5.000,00. A utilização do gráfi co é muito interessante, pois nos proporciona a visualização de múltiplos cenários em único instrumento.

“Podemos defi nir alavancagem

operacional como a possibilidade de

uso dos custos operacionais fi xos

para ampliar os efeitos de variações de vendas sobre o lucro da empresa antes de juros e

imposto de renda (LAJIR)”.

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ALAVANCAGEM FINANCEIRA E OPERACIONAL Capítulo 3

Figura 11 – Alavancagem operacional

Fonte: Gitman (2002, p. 438).

Assim, também podemos perceber que, se utilizarmos a base de 1.000 unidades vendidas como parâmetro, haverá uma redução de 50% de unidades vendidas, passando para 500 unidades, e chegaremos a um LAJIR de zero, ou seja, uma redução de 50% na quantidade de unidades vendidas diminui em 100% o LAJIR, enquanto que um aumento de 50% gera um LAJIR 100% maior. É importante entender que a alavancagem operacional atua nas duas direções, permitindo tanto um aumento da rentabilidade quanto a sua diminuição.

É importante entender que a alavancagem

operacional atua nas duas direções,

permitindo tanto um aumento da

rentabilidade quanto a sua diminuição.

Nosso conhecimento sobre cada tema evolui na medida em que aumentamos nossa base de pesquisa. Com este intuito, verifi que o artigo Análise do Ponto de Equilíbrio e Alavancagem Operacional como Ferramentas de Gestão - disponível nos anais do 2º Congresso UFSC sobre Controladoria e Finanças de vendas. Este artigo revê a teoria sobre o ponto de equilíbrio e alavancagem operacional e foco no suporte à decisão que estas ferramentas de análise proporcionam, como a continuidade ou a descontinuidade de produtos e impactos resultantes da volatilidade do mercado. Acesse: <http://dvl.ccn.ufsc.br/congresso/anais/2CCF/20080810175743.pdf>.

Page 72: Planejamento e Controle Financeiro

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Figura 12 – LAJIR em diversos níveis de venda

Fonte: Gitman (2002, p. 439).

Antonik (2016) ressalta a importância de o administrador fi nanceiro manter uma planilha com os custos fi xos e variáveis sempre atualizada, pois pode ser uma essencial ferramenta de decisão. Veja o exemplo no qual uma empresa possui um custo fi xo de R$ 20.000,00, os quais já estão sendo pagos na integralidade pelas unidades produzidas atualmente, a um preço de R$ 8,00. O custo variável corresponde a R$ 5,00. Esta operação fornece um lucro de R$ 15.000,00 para empresa. Caso alguém faça uma oferta de adquirir 5.000 produtos dessa empresa, mas com um desconto de 25%, ou seja, por um preço de R$ 6,00 a unidade.

O quadro a seguir demonstra, do ponto de vista fi nanceiro, a viabilidade de aceitar tal proposta.

Quadro 14 – Simulação de venda

Unidades vendidas (1) 5.000Preço de venda unitário (2) R$ 6,00Receita R$ 30.000,00Custo fi xo R$ 0,00Custo variável unitário (3) R$ 5,00Custo variável (1x3) ': R$ 25.000,00LAJIR R$ 5.000,00

Fonte: Adaptado de Antonik (2016, p. 99).

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ALAVANCAGEM FINANCEIRA E OPERACIONAL Capítulo 3

É importante salientar que a ferramenta de simulação de venda baseada na alavancagem operacional é apenas uma das variáveis a serem utilizadas no momento de decisão deste tipo de operação de venda, fatores como política de posicionamento de preço da empresa devem ser levados em consideração também.

Atividade de Estudos:

1) Considere a seguinte situação: uma empresa possui um custo fi xo de R$ 20.000,00, os quais já estão sendo pagos na integralidade pelas unidades produzidas atualmente, a um preço de R$ 8,00. O custo variável corresponde a R$ 5,00. Esta operação fornece um lucro de R$ 15.000,00 para empresa. Caso alguém faça uma oferta de adquirir 5.000 produtos dessa empresa, mas com um desconto de 50%, ou seja, por um preço de R$ 4,00 a unidade, qual o resultado poderia ser obtido? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Grau de Alavancagem Operacional Segundo Gitman (2002), o grau de alavancagem operacional (GAO) é

a representação numérica da alavancagem de uma empresa, um importante indicador a ser monitorado pelos administradores fi nanceiros. Para obter o GAO, utilizamos a seguinte equação:

GAO =Variação Percentual do LAJIR

Variação Percentual das Vendas

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Segundo Gitman (2002, p. 438), “sempre que a variação percentual do LAJIR resultante de uma variação percentual nas vendas é maior do que a variação percentual das vendas, ocorre alavancagem operacional”.

Assim, para os exemplos hipotéticos utilizados nas fi guras 10 e 11, nos quais houve variação na quantidade de produtos vendidos, temos o seguinte grau de alavancagem.

Caso 1 – GAO =+ 100%

= 2+ 50%

Caso 2 – GAO =- 100%

= 2- 50%

Como temos um resultado maior que 1, fi ca evidente que tanto no caso 1, quanto no caso 2, há uma importante alavancagem operacional.

Gitman (2002) traz uma fórmula mais direta para compreendermos e calcularmos o GAO com maior facilidade, que seria a seguinte:

GAO no nível de

referência Q =

Q X (P – CV)

Q X (P – CV) - CF

Onde temos:

Q = Quantidade de produtos vendidos; P = Preço do produto vendido; CV = Custo variável por unidade vendida;CF = Custo fi xo.

Assim, usando os exemplos de Gitman (2002), no qual Q = 1.000; P = 10,00; CV = R$ 5,00 e CF = R$ 2.500,00, temos a seguinte equação:

GAO no nível de

referência 1.000 =

1.000 X (R$ 10,00 – R$ 5,00)= 2

1.000 X (R$ 10,00 – R$ 5,00) – R$ 2.500,00

Page 75: Planejamento e Controle Financeiro

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ALAVANCAGEM FINANCEIRA E OPERACIONAL Capítulo 3

A empresa pode gerenciar o custo operacional jogando custos que são fi xos para variáveis e vice e versa. Por exemplo, se deixarmos de pagar um vendedor apenas através de comissão e implantarmos um salário fi xo com uma variável perante as vendas, estamos deixando de ter um percentual do custo variável direto sobre as vendas, e aumentando nosso custo fi xo. O mesmo pode ocorrer em um contrato de aluguel, o qual pode ser alterado para refl etir um modelo híbrido, uma parte fi xa e uma parte variável conforme as vendas.

Gitman (2002) traz uma simulação, na qual a nossa empresa de pôsteres resolve implementar um salário fi xo para seus vendedores, em detrimento ao salário variável que é praticado atualmente. Isto impacta numa redução R$ 0,50 no custo variável por unidade vendida e incorre num aumento de R$ 500,00 nos custos fi xos. Então passamos a ter:

Q = 1.000; P =10,00; CV = R$ 4,50 e CF = R$ 3.000,00.

Apesar das variações, o LAJIR continuou no mesmo patamar, R$ 2.500,00. No entanto, averiguando o GAO, tivemos uma elevação de 10%, veja:

GAO no nível de referência 1.000 =

1.000 X (R$ 10,00 – R$ 4,50)=

R$ 5.500,00= 2,21.000 X (R$ 10,00 – R$ 4,50) –

R$ 3.000,00R$ 2.500,00

Isso demonstra que, quanto maior a quantidade de custos fi xos com relação a custos operacionais variáveis, maior será o grau de alavancagem operacional. Uma empresa com custos fi xos elevados possui também um risco maior, haja vista que possuirá um grande número de contas a pagar independente de sua produção e venda. O modelo de negócios deste tipo de empresa requer receitas recorrentes e em grandes volumes. Custos fi xos elevados também difi cultam a empresa em momentos de sazonalidade de mercado ou em crises fi nanceiras, pois a reestruturação pode ser custosa, como no caso de demissão de colaboradores, que, em geral, possuem um regime de trabalho por tempo indeterminado, requerendo indenizações.

Isso demonstra que, quanto maior a quantidade de custos fi xos com relação a custos

operacionais variáveis, maior será o grau de alavancagem operacional.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Atividade de Estudos:

1) Vamos continuar explorando nosso comércio de pôsteres, mas agora vamos supor que a decisão da empresa seja a de diminuir o aluguel fi xo, e passar a ter uma parcela do aluguel variável conforme as vendas, isto diminuirá o custo fi xo de R$ 2.500,00, para R$ 1.500,00, e o custo variável passará a ser de R$ 6,00, ante os R$ 5,00 praticados anteriormente. O preço do produto continuará a R$ 10,00, com 1.000 unidades vendidas por período. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Alavancagem FinanceiraAssaf e Martins (1989 apud ANTONIK, 2016) afi rmam que a alavancagem

fi nanceira ocorre quando a empresa toma recursos de terceiros a um custo Z e aplica estes recursos na empresa com um rendimento a uma taxa X. Claramente, para esta operação ser vantajosa, Z deve ser menor que X, de uma forma razoável. A diferença entre essas taxas se refl etirá no patrimônio líquido da empresa, aumentando-o ou diminuindo-o.

Gitman (2002, p. 440) afi rma que “a alavancagem fi nanceira resulta na presença de custos fi nanceiros fi xos na estrutura de resultado da empresa”. Assim, tomando capital de terceiros, a empresa alavanca seu resultado. Assim, para aquelas empresas que se utilizam da tributação via lucro real, temos o abatimento do custo de capital de terceiros da base de cálculo do lucro líquido, reduzindo o valor de imposto de renda a pagar. Antonik (2016) afi rma que para aquelas empresas que utilizam lucro presumido, ou então optam pelo regime simplifi cado de tributação, essa vantagem de alavancagem não se dá de forma tão direta. Ainda assim, utilizar-se de recursos de terceiros pode ser uma vantagem pelo escasso capital próprio, deixando-o disponível para outros investimentos.

Page 77: Planejamento e Controle Financeiro

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ALAVANCAGEM FINANCEIRA E OPERACIONAL Capítulo 3

Veja o apanhado que Ferreira Filho et al. (2010) traz sobre o uso de fontes de recurso no momento de se criar um novo negócio. O artigo é interessante, pois foca nas micro e pequenas empresas, principalmente na questão da consciência do empreendedor em analisar e comparar o custo e o retorno de cada tipo de capital aportado. Importante atentar também para os dados relacionados ao acesso ao fi nanciamento de micro e pequenas empresas no Brasil. Boa leitura. Acesse: <http://www.imb.go.gov.br/pub/conj/conj18/artigo07.pdf>.

Voltando às empresas que apuram seu resultado através do lucro real, é importante compreendermos como a apuração do grau de alavancagem fi nanceira é realizada, para entendermos o seu efeito sobre o resultado da empresa.

Grau de Alavancagem FinanceiraO grau de alavancagem pode ser calculado pela divisão da taxa de

remuneração de capital próprio (TRCP) pela taxa de remuneração do Ativo (TRA).

GAF =TRCPTRA

A taxa de remuneração do capital próprio pode ser entendida como o retorno fi nanceiro pelo qual os proprietários da empresa são remunerados pelo capital integralizado na companhia, ele é medido dividindo-se a diferença entre o lucro líquido e as despesas fi nanceiras pelo patrimônio líquido. A taxa de remuneração do ativo, ou retorno sobre o ativo total, mede como a empresa transforma seus ativos em lucratividade, e sua forma de cálculo foi vista no Capítulo 2, e é o resultado da divisão entre o lucro líquido e o ativo total. Assim, para melhor exemplifi car, temos:

TRCP =Lucro líquido – Despesas Financeiras

Patrimônio Líquido

TRA =Lucro Líquido

Ativo Total

Vamos agora nos apropriar de um caso apresentado por Antonik (2016), para melhor exemplifi car a alavancagem fi nanceira.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

TRCP=R$ 160.000,00 – R$ 0, 00 (L.L. – D.F.)

= 16%R$ 1.000.000,00 (P.L.)

TRAR$ 160.000,00 (L.L.)

= 16%R$ 1.000.000,00 (A.T.)

Como podemos ver, se aplicarmos a fórmula do grau de alavancagem fi nanceira, teremos uma alavancagem fi nanceira nula.

GAF =TRCP

=16%

= 1TRA 16%

Contudo, se a empresa toma um empréstimo de R$ 600.000,00, ou seja, 60% do seu ativo é fi nanciado por terceiros, ou seja, a empresa possui um passivo total e R$ 600.000,00. Este fi nanciamento possui um custo médio de capital na ordem de R$ 13% ao ano, ou seja, ele custa para empresa R$ 78.000,00. Agora, vamos realizar um novo cálculo e verifi car o grau de alavancagem fi nanceira da companhia.

TRCP=R$ 160.000,00 – R$ 78.000, 00 (L.L. – D.F.)

= 20,57%R$ 1.000.000,00 (P.L.)

TRAR$ 160.000,00 (L.L.)

= 16%R$ 1.000.000,00 (A.T.)

Já verifi camos que a taxa de remuneração do capital próprio foi maior, resultado da alavancagem fi nanceira, mas agora vamos saber qual é o grau desta alavancagem fi nanceira.

GAF =TRCP

=20,5%

= 1,28 ou 28 %TRA 16%

Suponha que a empresa fi ctícia SKF gerou um lucro líquido de R$ 160.000,00 através de seus ativos que somam um total de R$ 1.000.000,00. Numa primeira hipótese, imaginemos que ela tenha obtido este lucro no ano de 2017 sem utilizar-se de nenhum capital de terceiros, e nenhuma outra dívida há no passivo desta companhia, portanto, o seu patrimônio líquido é também de R$ 1.000.000,00. Lembrando que este caso é hipotético, apenas para compreendermos a teoria.

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ALAVANCAGEM FINANCEIRA E OPERACIONAL Capítulo 3

Isto signifi ca dizer que, na situação anterior, na qual não havia nenhuma alavancagem fi nanceira, os proprietários da empresa possuíam um retorno de R$ 16% sobre o seu capital próprio, que era de R$ 1.000.000,00. Agora, com a alavancagem, os proprietários investem menos (R$ 400.000,00) e obtém um retorno maior R$ 20,5%. Assim, ainda restam R$ 600.000,00 na conta dos proprietários para serem utilizados em outros projetos ou investimentos fi nanceiros.

Atividade de Estudos:

1) Como vimos anteriormente, empresas que não utilizam o regime tributário do Lucro Real não possuem a mesma vantagem direta em alavancar seu negócio fi nanceiramente. Por quê?________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Alavancagem TotalGitman (2002) afi rma que a alavancagem total é um refl exo da alavancagem

operacional e fi nanceira, ou seja, a alavancagem total é uma combinação dos dois tipos de alavancagem. Assim, se a empresa possui um grau elevado de alavancagem operacional e fi nanceira, também terá um alto grau de alavancagem total, isto também ocorre no inverso, se os graus de alavancagem fi nanceira e operacional forem baixos, a alavancagem total também será baixa.

Assim, vejamos, se numa mesma empresa possuímos um grau de alavancagem operacional de 2,2 e um grau de alavancagem fi nanceira de 1,28, por exemplo, a empresa terá um grau de alavancagem total de 2,86. Para chegarmos a esse resultado, utilizamos a fórmula do grau de alavancagem total (GAT).

GAT = GAO X GAF

A alavancagem total é um indicador importante de como a empresa se fi nancia para poder realizar suas operações. Uma empresa muito alavancada, possui um risco elevado, e deve apresentar um retorno atraente para o proprietário ou investidores, uma vez que o seu capital para honrar os compromissos assumidos

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Algumas ConsideraçÕes Neste capítulo, começamos a conhecer ferramentas importantes no

planejamento da concepção da estrutura de capital da empresa. Iniciamos compreendendo o que é estrutura de capital da empresa, e onde localizar a estrutura de capital próprio e de terceiros nas demonstrações contábeis, especifi camente o balanço patrimonial.

Uma vez identifi cada esta estrutura, passamos a discutir a existência do custo de capital próprio, que mais à frente neste mesmo capítulo foi retomada para comparar com o custo do capital de terceiros.

Começamos nossas abordagens sobre alavancagem discutindo o ponto de equilíbrio, para entender qual a quantidade mínima de mercadorias vendidas que iguala o lucro antes dos impostos a zero, ou seja, uma quantidade de mercadorias vendidas que sustenta o dia a dia da empresa, sem ofertar retorno algum ao proprietário. Passamos então para o grau de alavancagem operacional, o qual identifi ca a partir de um indicador numérico, o quanto a empresa está se alavancando com base nas vendas realizadas, e percebemos que este grau de alavancagem possui uma relação direta com a variação dos custos fi xos e variáveis da empresa.

O segundo tipo de alavancagem que exploramos foi a alavancagem fi nanceira, que se utiliza do capital de terceiros para majorar o retorno aos proprietários da empresa, e seu grau de alavancagem refl ete o impacto do fi nanciamento no lucro líquido da companhia.

Por fi m, trabalhamos o conceito de alavancagem total, o qual refl ete a conjugação da alavancagem fi nanceira e operacional da empresa.

No próximo capítulo vamos explorar a construção e a administração de fl uxo de caixa voltado a pequenas empresas, passando por estudos de viabilidade econômico-fi nanceira.

ReFerÊnciasANTONIK, L.R. Empreendedorismo: gestão fi nanceira para micro e pequenas empresas. São Paulo: Elsevier, 2016.

GITMAN, L.J. Princípios de administração fi nanceira. 7. ed. São Paulo: Har-bra, 2002.

pode não estar no caixa da empresa, ou, se está no caixa, possui um passivo a ser quitado com terceiros.

Page 81: Planejamento e Controle Financeiro

CAPÍTULO 4

Fluxo de Caixa Para Pequenos Negócios

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem:

Nomear as etapas de construção de um fl uxo de caixa.

Conhecer os indicadores fi nanceiros de viabilidade de um fl uxo de caixa, como Valor Presente Líquido, Taxa Interna de Retorno e Payback.

Esquematizar um fl uxo de caixa de um projeto ou negócio.

Analisar a viabilidade econômico-fi nanceira de um projeto ou negócio.

Page 82: Planejamento e Controle Financeiro

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

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FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS Capítulo 4

ContextualiZaçãoVamos começar contextualizando este capítulo com uma afi rmação de Gitman

(2002, p. 84): “o fl uxo de caixa, o sangue da empresa, é o tema de preocupação básica do administrador fi nanceiro”. Esta afi rmação tem um impacto forte na expressão: “o sangue da empresa”. No corpo humano, o sangue leva nutrientes, células de defesa, oxigênio e outros elementos essenciais para a sobrevivência. Assim, na empresa, o fl uxo de caixa afeta toda a organização. Por mais que a empresa possua um balanço lucrativo, se a equação do fl uxo de caixa não estiver bem resolvida, a empresa acaba deixando de operar, entrando em falência em seus vários órgãos; a produção para, sem produção as vendas deixam de ocorrer, sem vendas o capital de giro falta, os salários atrasam, os credores acionam a empresa na justiça e aí o processo de quebra já está em andamento.

O fl uxo de caixa se faz importante para os pequenos negócios devido ao acompanhamento do funcionamento do dia a dia da empresa. Controlar as entradas e saídas de caixa é fundamental para monitorar a liquidez da empresa, a sua capacidade de honrar compromissos fi rmados e se redirecionar em caso de alguma eventualidade. Existe um equilíbrio entre aquisição de ativos, compra de matérias-primas, capacidade de produção, vendas e recebimento destas, para que a empresa não tenha um mal funcionamento, que é identifi cado sobretudo no caixa.

Outro aspecto que requer muita atenção dos administradores fi nanceiros são as projeções de fl uxos de caixa. Estas são utilizadas para o planejamento da companhia como um todo ou para um projeto específi co, e a partir destas projeções é que são verifi cados indicadores de viabilidade e rentabilidade do negócio ou projeto.

Neste capítulo, vamos compreender aspectos do fl uxo de caixa operacional e do fl uxo de caixa livre, suas etapas de construção e apresentação, assim como iremos nos concentrar em indicadores de viabilidade econômico-fi nanceira de projetos.

Fluxos de Caixa da Empresa Se representarmos um fl uxo de caixa esquematicamente, podemos verifi car

a sua complexa dinâmica. A Figura 14 tem justamente esse objetivo, ilustrar de forma esquemática as suas diversas entradas e saídas. Gitman (2002) observa que os saldos de caixa e as aplicações fi nanceiras de curto prazo, dado a liquidez deste último, devem ser considerados equivalentes para fi ns de computo das reservas de liquidez de uma empresa. Assim, existem três grandes divisões quanto aos fl uxos de caixa de uma empresa:

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

• Fluxos Operacionais: são estradas e saídas que estão relacionadas à produção de bens e serviços e à venda destes.

• Fluxos de Investimento: estes fl uxos estão relacionados à compra e à venda de ativos imobilizados, assim como em participação da empresa em outras companhias.

• Fluxos de Financiamento: referem-se às operações de captação de fi nanciamentos ou capital próprio.

Quando combinados, esses três tipos de fl uxo de caixa afetam os saldos de caixa de uma companhia em determinado momento.

O quadro a seguir aponta exemplos de classifi cações das entradas de caixa, que serão as fontes de recursos, e das saídas, aplicações dos recursos.

Quadro 15 – Entradas e saídas de caixa

Entradas (fontes) Saída (aplicações)

- Redução de qualquer ativo- Aumento de qualquer passivo

- Lucro líquido depois do imposto de renda

- Depreciação e outras despesas não desembolsadas

- Venda de ações

- Aumento de qualquer ativo- Redução de qualquer passivo

- Prejuízo líquido

- Pagamento de dividendos

- Recompra ou cancelamento de ações

Fonte: Gitman (2002, p. 87).

Se você possui um mercado de bairro, e o seu saldo de contas a pagar aumentasse R$ 1.000,00, devido a prazo concedido na aquisição de matérias-primas, por exemplo, durante um ano, podemos considerar que houve uma entrada de caixa, uma vez que houve o aumento do passivo, dívida, e você não pagou/desembolsou recursos, mas adquiriu um item do ativo. Se o estoque de produtos disponíveis para a venda desta empresa subisse R$ 2.500,00, a variação seria equivalente a uma saída de caixa, uma vez que recursos estão sendo aplicados, imobilizados neste ativo, está ocorrendo um aumento do ativo.

Importante salientar que estamos falando em regime de caixa, e não de competência, e como vimos no Capítulo 2, um elemento que permite a construção do demonstrativo do fl uxo de caixa são as diferenças entre o regime de caixa e a competência, assim, se temos um recurso que entra no ativo pelo regime de competência, como uma dívida a ser paga, desembolsada lá na frente, temos

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FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS Capítulo 4

um saldo de caixa positivo, e se temos uma saída de recursos para aumentar um ativo, temos uma saída de caixa. Um exemplo, para ser mais claro: digamos que você tem R$ 10.000,00 para fazer uma viagem, do qual R$ 5.000,00 são para passagens aéreas e hospedagem, R$ 3.000,00 para alimentação e R$ 2.000,00 para compras. Se você resolve parcelar a hospedagem e a passagem aérea em 10x sem juros, você tem um valor de R$ 5.000,00 como uma entrada de caixa, a qual você poderá utilizar para aumentar a sua cota de compras ou fazer refeições em restaurantes melhores, por exemplo. Quando você utiliza os R$ 2.000,00 para comprar um smartphone à vista, por exemplo, você está aumentando seu ativo, mas está tendo uma saída de caixa.

Figura 13 – Fluxos de Caixa da Empresa

Fonte: Gitman (2002, p. 87).

Antonik (2016) e Gitman (2002) fazem algumas observações importantes na montagem do fl uxo de caixa, as quais elencamos a seguir:

Mão-de-obra Salários

Matérias-primas

Contasa pagar

Despesasgerais

Produtoem processo

Produtoacabado

Imposto de renda

Vendas

Contas a receber

Despesas operacionais

(incluindo depreciação e juros)

Caixae títulos

negociáveis

Participação

Ativo Fixo

Exigível(curto e

longo prazo)

Patrimônio

Compras

Vendas

Compras

Vendas

Pagamento

Restituição

Vendas à vista

Empréstimo

Restituição

Depreciação

Cobrança de vendas a crédito

Pagamento de dividendos em dinheiro

Venda de ações

Recompra de ações

Pagamentoprovisionado

Pagamentode compras

a crédito

(2) Fluxos de investimentos(1) Fluxos operacionais

(3) Fluxos de fi nanciamento

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

• A redução do saldo de um ativo não circulante, é uma entrada de caixa, pois o recurso que estava preso a este ativo é liberado para outra fi nalidade. Já, por outro lado, o aumento de um ativo não circulante é uma saída de caixa, uma vez que um volume maior de recursos está se prendendo a este. Perceba que a conta caixa é um ativo, mas quando tratamos de fl uxo de caixa, temos que a considerar em separado, como o esquema da fi gura anterior, pois é nesta conta em que entram e saem os recursos.

• A depreciação é uma despesa que não ocorre de fato, pois não é desembolsada. Contudo, ela permite uma dedução da base de cálculo para fi ns de tributação do imposto de renda, devendo ser adicionada ao lucro líquido para gerar o fl uxo de caixa gerado pelas operações da companhia. Perceba então, que uma empresa pode ter prejuízo líquido, mas pode ter um fl uxo de caixa positivo das operações, quando a depreciação, por exemplo, supera o prejuízo líquido do período.

• Na elaboração do fl uxo de caixa deve-se estar atento para incluir apenas as variações brutas dos ativos permanentes, e não as líquidas, uma vez que a depreciação é tratada como uma entrada de caixa em separado, e procedendo desta maneira, evita-se uma contagem dupla deste item.

Atividade de Estudos:

1) Em 2017, a Empresa Copy & Paste Soluções gráfi cas teve um aumento no seu ativo permanente de R$ 10.000,00 e seu saldo de contas a pagar aumentou R$ 2.000,00. Podemos afi rmar que, na demonstração de fl uxo de caixa houve:

a) Uma saída de caixa de R$ 12.000,00;b) Uma entrada de caixa de R$ 10.000,00;c) Uma saída de caixa de R$ 8.000,00;d) Uma entrada de caixa de R$ 2.000,00.

Page 87: Planejamento e Controle Financeiro

87

FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS Capítulo 4

Fluxo de Caixa Operacional (0,5 Pg)Segundo Gitman (2002), o Fluxo de Caixa Operacional (FCO) é

aquele gerado pelas atividades operacionais, como venda de produtos ou prestação de serviços, de uma companhia. O autor destaca que existem diversas formas de representar o fl uxo de caixa operacional das empresas, e somarmos o lucro líquido depois do Imposto de Renda à depreciação é uma delas.

FCO = Lajir – Imposto de Renda + Depreciação

Se buscarmos no Quadro 16 (DRE da Niw Produtos Florestais Ltda.), poderemos calcular o fl uxo operacional da companhia, aplicando a fórmula anterior.

FCO = R$ 8.442,28 – R$ 1.266,34 + R$ 7.850,84 = R$ 16.293,12

O autor destaca que existem

diversas formas de representar o fl uxo

de caixa operacional das empresas, e somarmos o lucro líquido depois do

Imposto de Renda à depreciação é uma

delas.

Quadro 16 – DRE NIW Produtos Florestais Ltda.

NIW Produtos Florestais Ltda.DREl, 31 de dezembro de 2012 (R$)

2012Receita operacional líquida R$ 257.772,46Custo da mercadoria vendida R$ 149.508,03Margem Bruta R$ 108.264,43Salários e benefícios R$ 58.464,25Despesas de comercialização R$ 16.994,70Outras despesas R$ 12.098,76Despesas operacionais R$ 87.557,72Depreciação R$ 7.850,84Total das despesas operacionais R$ 95.408,56Lucro operacional R$ 12.855,87Despesas fi nanceiras R$ 4.413,59Lucro líquido Antes do IR (LAJIR) R$ 8.442,28Imposto de Renda R$ 1.266,34Lucro Líquido depois do IR R$ 7.175,94

Fonte: Adaptado de Tracy (2007 apud ANTONIK, 2016, p. 114).

Assim, podemos afi rmar que a operação da NIW Produtos fl orestais Ltda. gerou um fl uxo de caixa de R$ R$ 16.293,12.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Fluxo de Caixa Livre O fl uxo de caixa livre representa o montante de capital com

liquidez imediata, que pode ser destinado aos fornecedores de capital da empresa, ou seja aos proprietários, que forneceram capital próprio, e aos credores de fi nanciamento, que forneceram capital de terceiros. Este montante de capital está disponível, segundo Gitman (2002, p. 91), “após a cobertura de todas as necessidades operacionais e o pagamento de investimentos em ativos permanentes e ativos circulantes da empresa”. Assim, o Fluxo de Caixa Livre (FCL) pode ser calculado pela seguinte equação:

FCL = FCO – Investimentos em ativos permanentes líquidos (IAPL) – Investimentos em ativos circulantes líquidos (IACL).

O investimento em ativos permanentes líquidos é calculado pela variação em ativos permanentes líquidos + a depreciação.

O fl uxo de caixa livre representa o montante de

capital com liquidez imediata, que pode

ser destinado aos fornecedores

de capital da empresa, ou seja aos proprietários, que forneceram capital próprio, e aos credores de

fi nanciamento, que forneceram capital

de terceiros.

Quadro 17 – Balanço Patrimonial Niw Produtos Florestais Ltda.

NIW Produtos Florestais Ltda.Balanço Patrimonial, 31 de dezembro de 2012 (R$)

2011 2012 DiferençasCaixa R$ 30.695,41 R$ 51.550,75 R$ 20.855,34Duplicatas a receber R$ 12.024,27 R$ 13.131,95 R$ 1.107,68Estoques R$ 19.870,70 R$22.124,45 R$ 2.208,30Despesas pré-pagas R$ 5.757,28 R$ 5.404,68 -R$ 352,60Total dos ativos correntes R$ 67.767,78 R$92.211,83 Imobilizado R$ 68.367,17 R$ 79.121,80 R$ 10.754,63Depreciação acumulada -R$ 14.782,44 -R$ 22.633,27 -R$ 7.850,84Imobilizado líquido R$ 53.584,73 R$ 56.488,53 Total dos ativos R$ 121.352,52 R$ 148.700,35 PassivoContas a pagar R$ 25.282,44 R$ 23.074,14 -R$ 2.208,30Despesas provisionadas R$ 5.943,95 R$ 7.199,03 R$ 1.255,08Empréstimos de curto prazo R$ 8.826,13 R$ 17.652,25 R$ 8.826,13Total dos passivos correntes R$ 40.052,52 R$ 47.925,42 Empréstimos de longo prazo R$ 26.478,38 R$ 35.304,50 R$ 8.826,13Capital social R$ 44.130,63 R$46.337,16 R$ 2.206,53Lucros retidos R$ 10.691,00 R$ 19.133,27 R$ 8.442,28Patrimônio Líquido R$ 54.821,62 R$ 65.470,43 Total dos passivos R$ 121.352,52 R$ 148.700,35

Fonte: Tracy (2007 apud ANTONIK 2016, p. 119).

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FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS Capítulo 4

No caso da empresa NIW Produtos Florestais Ltda., em ativos permanentes líquidos, temos uma variação do ano de 2011 para 2012 de R$ 2.903,80 (R$ 53.584,73 – R$ 56.488,53) e uma depreciação acumulada em 2012 de R$ 7.850,84. Assim, temos que os investimentos em ativos permanentes líquidos foram de R$ 10.754,63 ou:

IAPL = R$ 2.903.80 + 7.850,84 = R$ 10.754,63

Gitman (2002) faz uma importante ressalva, afi rmando que caso essa variação aponte um resultado negativo, signifi ca então que temos uma entrada de caixa, uma vez que a empresa vendeu mais ativos permanentes do que acumulou neste mesmo período.

Quanto ao investimento em ativo circulante líquido (IACL), este é calculado pela diferença das variações de ativos circulantes e passivos circulantes espontâneos. Por passivo circulante espontâneo, entende-se a soma das contas a pagar (fornecedores) com demais despesas a pagar, mas é importante ressaltar, que os fi nanciamentos de curto prazo não fazem parte desta equação, uma vez que eles representam um dos grupos de fi nanciadores que possuem direitos sobre o fl uxo de caixa livre (FCL), como comentamos no início deste tópico. Assim, a equação do IACL é a seguinte:

IACL = Variação de ativos circulantes – Variação dos passivos circulantes (Contas a pagar “fornecedores” + Despesas a pagar).

Analisando o balanço da Niw Produtos Florestais Ltda., percebemos que houve uma variação de ativos circulantes (correntes) no valor de R$ 24.444,05 (R$ 92.211,83 – R$ 67.767,78) e uma variação negativa de R$ 953,22 na variação dos passivos circulantes espontâneos - contas a pagar e despesas provisionadas [(23.074,14 + 7.199,03) - (R$ 25.282,44 +5.943,95)], assim temos um IACL de R$ 25.397.27, ou seja:

IACL = R$ 24.444,05 – (-R$ 953,22) = R$ 25.397.27

Assim, para calcularmos o FCL:

R$ 16.293,12 – R$ 10.754,63 – R$ 25.397,27 = - R$ 19.858,80.

Assim, podemos afi rmar que a NIW Produtos Florestais gerou um caixa livre negativo para os acionistas no montante de - R$ 19.858,80. Esta saída de caixa se deve ao alto valor investido em ativos circulantes líquidos: R$ 25.397.27.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Atividade de Estudos:

1) Dado a DRE e balanço patrimonial da Companhia das Letras ABC, de 31 de dezembro de 2017, calcule o fl uxo de caixa operacional.

DRE da Companhia Letras ABC, 31 de Dezembro de 2017

Receita operacional líquida R$ 30.000.000,00 Custo da mercadoria vendida R$ 17.250.000,00 Margem bruta R$ 12.750.000,00 Salários e benefícios R$ 6.900.000,00 Despesas de comercialização R$ 1.955.000,00 Outras despesas R$ 1.380.000,00 Despesas Operacionais R$ 10.235.000,00 Depreciação R$ 908.500,00 Total das despesas operacionais R$ 11.143.500,00 Lucro Antes dos Juros e Imp. (LAJIR) R$ 1.606.500,00 Despesas Financeiras (juros) R$ 517.500,00 Imposto de Renda R$ 163.350,00 Lucro líquido do exercício R$ 925.650,00

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS Capítulo 4

Orçamento de CaixaO orçamento de caixa de uma empresa é um instrumento de

planejamento, segundo Gitman (2002), muito utilizado para prever as entradas e as saídas de caixa, utilizado para planejamento de curto prazo, mas que também pode ser utilizado como uma forma de estimar o valor de uma empresa e a sua viabilidade econômico-fi nanceira.

Vamos, agora, abordar as etapas necessárias para a construção de um orçamento de caixa, que são: mensuração da previsão de vendas, preparação do orçamento de caixa e o cálculo do fl uxo líquido de caixa, saldo fi nal, fi nanciamentos e saldo excedente de caixa.

a) Previsão de vendas

Segundo Gitman (2002) a previsão de vendas é um ingrediente básico do planejamento de caixa da empresa. Esta afi rmação é muito importante, pois é a partir de uma previsão de vendas bem realizada que a empresa poderá estabelecer seu faturamento e sua necessidade de produção, por exemplo. A partir daí também é possível estabelecer o nível de custos e despesas necessárias para operar a empresa. Quanto maior for a fi delidade dos dados de vendas apurados, melhor será o orçamento de caixa da companhia, e o proprietário terá uma maior certeza do resultado que poderá ser apurado. Segundo Gitman (2002) é possível realizar uma previsão de vendas baseada em dados externos, internos ou em uma combinação dos dois.

• Previsão interna: este tipo de previsão se baseia na experiência da equipe interna de vendas da empresa, por exemplo, através de estimativas de funcionários que lidam diariamente ofertando os produtos ou serviços ao cliente. Estes colaboradores costumam ter uma boa percepção das variações do mercado no curto prazo. Os dados colhidos da equipe de vendas podem ser organizados e ajustados por um gerente que tenha uma visão mais ampla do mercado de modo a torná-los mais confi áveis.

• Previsão externa: as previsões externas buscam comparar o histórico de vendas da empresa com indicadores de atividade econômica, como o Produto Interno Bruto, desenvolvimento do mercado imobiliário, índices de empregabilidade, renda per capta, dentre outros. Gitman (2002) afi rma que o nível de vendas de uma empresa costuma guardar uma relação estreita com o andamento da economia, assim se a previsão de atividade econômica tende para um crescimento, as vendas da empresa tenderão a seguir essa previsão, e o contrário também é verdadeiro.

O orçamento de caixa de uma empresa é um instrumento de planejamento,

segundo Gitman (2002), muito utilizado para

prever as entradas e as saídas de caixa, utilizado

para planejamento de curto prazo,

mas que também pode ser utilizado como uma forma de estimar o valor de uma empresa

e a sua viabilidade econômico-fi nanceira.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Com vistas a ajustar essas previsões, as empresas costumam combinar estes dois tipos de previsões, pois, por vezes, elas podem ser confl itantes. Por exemplo, mesmo que uma crise econômica esteja em andamento, com dados de PIB e empregabilidade em baixa, algumas empresas podem ter um volume crescente de vendas, pois cada empresa enxerga o momento de crise de um modo diferente, algumas se destacam e acabam concentrando as vendas para consumidores menos sujeitos aos efeitos da crise. Assim, a equipe interna da empresa, que conhece bem o seu tipo de cliente, pode ajustar os dados da previsão externa.

b) Preparação do orçamento de caixa

Gitman (2002) afi rma que o orçamento de caixa possui dois componentes básicos, que são os recebimentos ou receitas previstas e os pagamentos realizados. Contudo, cada recebimento pode ter origens diversas, assim como os pagamentos, que costumam ser bem mais volumosos. Nós iremos explorar estes dois componentes básicos com mais detalhes a seguir.

• Recebimentos: como comentamos, o recebimento pode ter origens diversas, como:

- Vendas previstas: este montante de vendas é apenas uma linha de caráter informativo, como comenta Gitman (2002), uma vez que ela serve de base de cálculo para o percentual de vendas à vista, e o percentual de vendas a prazo que serão recebidas nos períodos subsequentes.

- Vendas à vista: representam aquelas vendas realizadas e pagas dentro do mesmo período.

- Recebimentos de contas a receber: neste montante temos uma entrada de caixa referente às vendas a prazo, que entrarão no referido período.

- Outros recebimentos: são recebimentos de outras fontes distintas das vendas realizadas pela empresa, pode ser uma receita fi nanceira, a venda de um ativo, o recebimento de algum crédito tributário etc.

- Total dos recebimentos: aqui temos uma conta que totaliza todas as entradas de caixa do orçamento.

Vejamos no quadro a seguir um exemplo de como os recebimentos podem ser demonstrados em um orçamento de caixa.

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FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS Capítulo 4

Quadro 18 – Quadro de recebimentos projetados

Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Vendas Previstas R$ 100,00 R$ 200,00 R$ 400,00 R$ 300,00 R$ 200,00 Vendas à vista R$ 20,00 R$ 40,00 R$ 80,00 R$ 60,00 R$ 40,00 Recebimentos de contas a receber

R$ 50,00 R$ 130,00 R$ 260,00 R$ 270,00

Outros Recebimentos R$ 30,00 Total de Recebimentos R$ 120,00 R$ 290,00 R$ 610,00 R$ 620,00 R$ 540,00

Fonte: Adaptado de Gitman (2002, p. 96).

Perceba que da venda realizada, apenas uma parte é recebida à vista, 20%, 50% recebido em um mês e 30% e 50% em dois meses.

• Pagamentos: os pagamentos representam saídas de caixa da empresa e podem ser realizados para usos diversos, segundo Gitman (2002), os mais recorrentes são:

- Compras: aqui são alocadas as compras realizadas em função dos produtos fabricados ou serviços prestados, eles podem ter uma relação proporcional com a vendas previstas, por exemplo. Na construção de um fl uxo de caixa, o valor das compras é segregado em compras à vista e compras a prazo, e essa linha assume um caráter apenas informativo, estando às compras efetivamente realizadas nas linhas correspondentes às modalidades à vista e a prazo.

- Pagamento de aluguel: muitas das unidades de empresas são alugadas, e não próprias, então a despesa de aluguel é um item de despesa recorrente nos orçamentos de caixa das empresas.

- Salários e vencimentos: aqui entram os pagamentos previstos para serem realizados em função da mão de obra da empresa, incluindo as despesas de remuneração variável com as vendas.

- Pagamento de impostos: aqui entram todos os impostos que são pagos, como encargos sobre remuneração, faturamento, imposto de renda etc.

- Gastos com ativos permanentes: são gastos realizados com manutenção ou aquisição de ativo permanente.

- Pagamentos de juros: as despesas com fi nanciamentos são segregadas, para melhor apurar as despesas fi nanceiras da empresa.

- Amortização de empréstimos: o valor da parcela referente ao principal de um fi nanciamento, ou seja, sem os juros, deve ser apresentada separadamente.

O Quadro 19 traz um exemplo de como podem ser demonstrados os pagamentos projetados em um orçamento de caixa.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Quadro 19 – Quadro de pagamentos projetos

Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Compras R$ 70,00 R$ 140,00 R$ 280,00 R$ 210,00 R$ 140,00 Compras à vista R$ 7,00 R$ 14,00 R$ 28,00 R$ 21,00 R$ 14,00 Pagamento de fornecedores (a prazo) R$ 49,00 R$ 112,00 R$ 224,00 R$ 203,00 Pagamento de aluguel R$ 5,00 R$ 5,00 R$ 5,00 Salários e Vencimentos 48,00 38,00 28,00Pagamento de impostos 10,00 20,00 44,80 33,80 22,80Gastos com ativos permanentes 130,00 Pagamento de juros 10,00Amortização de empréstimos 20,00Total dos Pagamentos R$ 17,00 R$ 83,00 R$ 237,80 R$ 451,80 R$ 302,80

Fonte: Adaptado de Gitman (2002, p. 97).

Perceba que, assim como os recebimentos, as compras são realizadas a prazo, neste caso com o pagamento de 10% à vista, 70% em um mês e 20% em dois meses.

c) Fluxo líquido de caixa, saldo fi nal, fi nanciamento ou saldo excedente

Os quadros anteriores alimentarão um orçamento de caixa sintético, o qual resume as entradas e saídas de caixa de uma companhia, expondo o saldo de caixa, quando positivo, ou a necessidade de fi nanciamento, quando negativo. Assim, ao subtrair o total de recebimentos dos pagamentos executados, temos um fl uxo líquido de caixa do período apurado. No entanto, precisamos lembrar que, exceto se for o primeiro mês de operação, a empresa já possui um histórico de caixa, e ele traz um saldo anterior, ao qual denominamos saldo inicial de caixa. O fl uxo líquido de caixa precisa somar esse saldo inicial para então obter o saldo fi nal de caixa. A empresa normalmente estipula um saldo mínimo de caixa para cobrir eventualidades, este saldo mínimo precisa estar sempre disponível em caixa, como uma espécie de fundo de reserva. Assim, do saldo fi nal de caixa, extraímos o valor correspondente ao saldo mínimo desejado pela empresa e temos um resultado. Se este resultado for positivo, temos um saldo excedente de caixa, que pode ser aplicado em títulos de curto prazo, se for negativo, existe a necessidade de um fi nanciamento de curto prazo. O quadro a seguir resume a demonstração de um orçamento de caixa.

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FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS Capítulo 4

Quadro 20 – Orçamento de caixa consolidado

Outubro Novembro DezembroTotal de recebimentos R$ 210,00 R$ 320,00 R$ 340,00 Menos: total dos pagamentos R$ 213,00 R$ 418,00 R$ 305,00 Fluxo líquido de caixa -R$ 3,00 -R$ 98,00 R$ 35,00 Mais: saldo inicial de caixa R$ 50,00 R$ 47,00 -R$ 51,00 Saldo fi nal de caixa R$ 47,00 -R$ 51,00 -R$ 16,00 Menos: Saldo mínimo de caixa R$ 25,00 R$ 25,00 R$ 25,00 Financiamentos exigido -R$ 76,00 -R$ 41,00 Saldo excedente de caixa R$ 22,00

Fonte: Adaptado de Gitman (2002, p. 98).

Perceba que as informações de um período alimentam os períodos subsequentes, como o saldo inicial de caixa, que é obtido através do saldo fi nal de caixa do período anterior.

Atividade de Estudos:

1) De toda elaboração de um orçamento de caixa, por que a previsão de vendas é a etapa mais fundamental? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Valor do DinHeiro no Tempo Quando trabalhamos com fl uxo de caixa, nós distribuímos as entradas e

saídas de recursos conforme ocorrem, por um determinado período de tempo. Estamos sempre trabalhando para aperfeiçoar o nosso ciclo de caixa, recebendo valores à vista e postergando pagamentos. Além de melhorar nossa necessidade de capital de giro, esse exercício também se baseia em um conceito que se denomina em valor do dinheiro no tempo. Gitman (2002) afi rma que os administradores fi nanceiros estão sempre se defrontando com oportunidades de obter taxas de retorno favoráveis à empresa através de investimentos em projetos ou mesmo em aplicações fi nanceiras tradicionais como a renda fi xa, por exemplo. Quando analisadas estas oportunidades, é sempre levado em consideração que um real hoje vale mais que um real a ser recebido em qualquer data futura. Isto ocorre porque um real na sua mão na data de hoje é líquido e você pode aplicar em qualquer oportunidade que aparecer. Já se você tiver a promessa de receber um real daqui a dois dias você já perde as oportunidades de investimento que estão disponíveis hoje e amanhã, além de não ter a certeza de que vai receber e em quais condições o mercado estará quando receber. Digamos que você está planejando comprar um carro. Você tem R$ 100.000,00 para receber daqui a duas semanas. Hoje o valor do carro está R$ 90.000,00. Quando você receber esse valor o carro sofrerá um reajuste de 10%. Será que valeria a pena pagar juros de R$ 2.000,00 para adiantar esse valor em uma semana e comprar o carro no preço atual? Se o uso desse recurso ia ser totalmente destinado para a aquisição do veículo, em uma semana você teria o saldo de R$ 1.000,00. Se pagar os juros, ainda te sobram R$ 8.000,00. Essa é uma situação bastante específi ca, mas ajuda a compreender que o dinheiro hoje vale mais do que em qualquer data futura.

São basicamente dois conceitos que nos ajudam a compreender o impacto do valor do dinheiro do tempo em fl uxos de caixa empresariais: valor futuro e valor presente.

O valor futuro é de mais fácil compreensão, pois muitos de nós já estamos familiarizados com o conceito devido a nossas fi nanças pessoais. O valor futuro nada mais é do que a quantia fi nal de uma aplicação, ou série de aplicações, capitalizada a uma determinada taxa de juros, a ser obtida em uma data futura. Seria, por exemplo, o saldo fi nal da sua aplicação fi nanceira daqui a dez anos.

Já o valor presente é uma conta que não estamos habituados a fazer no nosso dia a dia, e ele representa o valor atual de uma série de aplicações que estão projetadas para acontecer em datas futuras. Como vimos, um real hoje vale mais do que um real amanhã, portanto, para calcular o valor presente, precisamos fazer uma capitalização inversa, descontando os valores futuros a uma determinada taxa.

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FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS Capítulo 4

Gitman (2002, p. 130) afi rma que “as técnicas de valor futuro medem os fl uxos de caixa no fi nal da vida de um projeto” e as técnicas de valor presente, no início (data zero)”.

Gitman (2002, p. 130) afi rma que “as

técnicas de valor futuro medem os fl uxos de caixa no

fi nal da vida de um projeto” e as técnicas de valor

presente, no início (data zero)”.

Figura 14 – Composição do Cálculo de Valor Futuro e Valor Presente

Fonte: Gitman (2002, p. 131).

As oportunidades de investimento, sejam em projetos, sejam em aplicações fi nanceiras, possuem prazos distintos, assim como desembolsos e fl uxo de recebimentos variados. Para comparar o valor agregado ao seu investimento, segundo Gitman (2002), você deve compará-los a valor presente, ou seja, quanto este investimento vale na data zero.

Vamos aprofundar um pouco mais os conceitos de valor futuro e valor presente para fi xar melhor estes conceitos.

Valorfuturo

Valor composto

Valorpresente

Final do ano

0 1 2 3 4 5

Desconto

-$ 10.000 $ 3.000 $ 5.000 $ 4.000 $ 3.000 $ 2.000

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Vamos entrar agora em conceitos de matemática fi nanceira. Se você não conhece ou recorda bem destes conceitos básicos, acesse o link a seguir para revisar o conteúdo: <https://secure.upf.br/pdf/2008IdoJoseSchneider.pdf>.

a) Valor futuro

Como você viu, valor futuro corresponde ao saldo fi nal de uma aplicação, de um investimento. Assim, utilizamos o conceito de juros compostos para capitalizarmos um montante inicial (valor presente) em um determinado período, e assim, obtermos o valor futuro. A fórmula do valor futuro é a seguinte:

VFn = VP x (1 + i)n

Onde:

VFn = Valor futuro no fi nal do período nVP = principal inicial ou valor presenteI = Taxa de juros por período (anual, mensal, diária etc.)n = número de períodos (anos, meses, dias etc.)

Vamos supor que você faça uma aplicação de R$ 800,00 do seu saldo de excedente de caixa do ano de 2017 em uma renda fi xa que rende 6% ao ano. Em cinco anos, qual seria o seu rendimento? Vamos calcular.

VF5 = R$ 800,00 x (1 + 0,06)5 = R$ 800 x (1,338) = R$ 1.070,40

Esquematicamente, podemos verifi car o valor futuro da aplicação em 5 anos, através da fi gura 17.

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FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS Capítulo 4

Figura 15 – Cálculo do Valor Futuro

Fonte: Gitman (2002, p. 132).

Atualmente, estas fórmulas são pouco utilizadas de forma manual, mas sim através de planilhas eletrônicas, como o Microsoft Excel. Gitman (2002) ilustra como o cálculo pode ser feito através desta ferramenta.

Figura 16 – Exemplo do cálculo de valor futuro em Planilha Eletrônica

Fonte: Gitman (2004, p. 136).

A Figura 17 ilustra os diversos valores futuros que podem ser obtidos ao aplicarmos R$ 1,00 a diferentes taxas e períodos.

Figura 17 – Relação de valor futuro com as variáveis de períodos e taxas

Fonte: Gitman (2002, p. 137).

Final do ano

0 1 2 3 4 5

VP= $ 800

VF₅ = $ 1.070,40

A B1 VALOR FUTURO DE UMA QUANTIA INDIVIDUAL2 Valor presente $ 8003 Taxa de juros, % ao ano composta anualmente 6%4 Número de anos 55 Valor futuro $ 1.070,58

O conteúdo da célula B5 é = VF (B3,B4,0,-B2,0).Um sinal negativo antecede B2 porque o valor presente é uma saída de caixa (um depósito feito por Jane Farber).

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Assim, como você pode ver na Figura 16, um valor de R$ 1,00 assume diferentes valores futuros quando variamos as suas taxas e períodos de capitalização.

Quando tratamos de administração fi nanceira e investimentos, muitas vezes

temos depósitos periódicos e iguais, que renderão ao fi nal de um período (n), um determinado montante, que somado ao valor presente, nos dará o valor futuro. A esse tipo de fl uxo de caixa de investimento damos o nome de anuidades, apesar de ela poder ser representada em períodos menores, como meses ou até mesmo dias. Vamos utilizar a base anual para fi xarmos o conceito. Vamos utilizar também, para melhor compreensão, o conceito de anuidade ordinária, que é aquela depositada ao fi nal de cada ano, e que rende juros a partir do ano seguinte da sua aplicação. Assim, para um período de 5 anos, o primeiro depósito rende quatro anos de juros, do fi nal do ano 1 até o fi nal do ano 5, e o último não rende juros.

O cálculo do valor futuro de um fl uxo de caixa de anuidades pode ser identifi cado na Figura a seguir.

Figura 18 – Valor futuro de anuidades

Fonte: Gitman (2002, p. 138).

Você pode perceber claramente que é feito um cálculo separado de valor futuro para cada anuidade e elas são somadas ao fi nal para verifi car o valor futuro total. Assim, a fórmula do valor futuro total pode ser deduzida da seguinte forma.

VFAn = PMT X (FVFAi,n)

Onde:

VFAn = Valor Futuro para um período nPMT = Montante depositado ao fi nal de cada períodoI = Taxa de juros para o períodon = Número do período

$ 1.311 1.225 1.145 1.070 1.000$ 5.751

Final do ano0 1 2 3 4 5

$ 1.000 $ 1.000 $ 1.000 $ 1.000 $ 1.000

Valor futuro

Page 101: Planejamento e Controle Financeiro

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FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS Capítulo 4

FVFAi,n = Fator de valor futuro da anuidade, que é calculado da seguinte forma:

1

11

nt

i nt

i −

=

= +∑,FVFA ( )

No qual o período (t), refere-se ao ano correspondente ao depósito efetuado. Assim, o fator de valor futuro de uma anuidade corresponde ao somatório dos fatores de valores futuros de cada anuidade, lembrando-se de que elas ocorrem no fi nal de cada período, por isso há o desconto de um período em cada fator (t – 1).

Para uma série de 5 depósitos anuais no valor de R$ 1.000,00 cada, a uma taxa de juros de 7% ao ano, temos o seguinte cálculo:

VFAn = PMT X (FVFAi,n)VFAn = R$ 1.000,00 X (1,311 + 1,225 +1,145 + 1,070 +1,000) = 5.750,74

Uma maneira mais efi ciente de realizar este cálculo seria através de uma planilha eletrônica, a qual podemos verifi car exemplifi cada na Figura 19.

Figura 19 – Cálculo do valor futuro de uma anuidade em uma planilha eletrônica

Fonte: Gitman (2002, p. 142).

b) Valor presente

Gitman (2002, p. 137) afi rma que o valor presente também conhecido como desconto de fl uxo de caixa, tem como objetivo responder pergunta: “se posso obter i% aplicando meu dinheiro, qual é o máximo que estou disposto a pagar agora pela oportunidade de receber VFn reais daqui a n períodos?”. Esse processo é a lógica inversa de capitalização ou juros compostos, que vimos anteriormente, no cálculo do valor futuro. Nós iremos descontar o fl uxo de caixa a uma taxa (i), que agora passa a ter o nome de taxa de desconto, ou outros sinônimos que você verá na literatura, como custo de oportunidade, taxa mínima de atratividade, custo de oportunidade e retorno exigido. A fórmula do valor presente é a seguinte:

A B1 VALOR FUTURO DE UMA ANUIDADE ORDINÁRIA2 Prestação anual $ 1.0003 Taxa de juros, % ao ano composta anualmente 7%4 Número de anos 55 Valor futuro de uma anuidade ordinária $ 5.750,74

O conteúdo da célula B5 é = VF (B3,B4,-B2).Um sinal negativo antecede B2 porque o pagamento

anual é uma saída de caixa

Page 102: Planejamento e Controle Financeiro

102

PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

( )1

11n

nn n

VFVP VF x

ii

= = +

( )-

Onde:

VP = principal inicial ou valor presenteVFn = Valor futuro no fi nal do período n i = Taxa de juros por período (anual, mensal, diária etc.)n = número de períodos (anos, meses, dias etc.)

Vamos exemplifi car para facilitar a compreensão. Digamos que você receba uma proposta para receber uma quantia de R$ 1.700,00 daqui a oito anos. O seu custo de capital hoje é 8% ao ano. Quanto esse valor vale hoje? Para responder a essa pergunta, precisamos aplicar a fórmula apresentada anteriormente para descobrir o valor presente, e quanto será efetivamente o resultado desta operação.

VP = R$ 1.700,00 = R$ 1.700,00 = R$ 918,42(1 + 0,08)8 1,851

Portanto, temos que o valor a receber de R$ 1.700,00, vale hoje, na verdade, R$ 918,42. Isto porque você tem um custo de capital de 8% ao ano. Quando trabalharmos a viabilidade econômico fi nanceira, você compreenderá melhor este conceito. Por hora cabe ressaltar que o valor de R$ 1.700,00 daqui a oito anos, a um custo de capital de 8% ao ano, representa R$ 918,42 nos dias atuais, como podemos verifi car esquematicamente na Figura 20.

Figura 20 – Cálculo do valor presente

Fonte: Gitman (2002, p. 138).

O cálculo do valor presente também pode ser realizado através de planilhas eletrônicas, e sua formatação básica pode ser verifi cada na Figura 21.

0 1 2 3 4 5 6 7 8

Final do ano

VP= $ 918,42

FV₈= $ 1.700

Page 103: Planejamento e Controle Financeiro

103

FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS Capítulo 4

Figura 21 – Exemplo de cálculo do valor presente em planilha eletrônica

Fonte: Gitman (2002, p. 139).

Assim como o valor futuro, o valor presente apresenta diferentes valores quando descontadas a taxas distintas e em valores distintos, quanto maior o custo de oportunidade, menores serão os valores presentes.

Figura 22 – Relação de valor presente com as variáveis de períodos e taxas

Fonte: Gitman (2002, p. 139).

Quando analisamos projetos de investimento, geralmente trabalhamos com uma série de recebimentos futuros ao longo de algum número de períodos. Gitman (2002) afi rma que quando esta série de recebimentos possui o mesmo valor, tem-se então uma anuidade. Uma anuidade ordinária é aquela que ocorre no fi nal de cada período, semelhante ao que vimos com o computo de anuidades para valores futuros.

Na Figura 23, podemos verifi car que para cada anuidade é feito um cálculo de valor presente, sendo estas somadas ao fi nal, mostrando o valor presente total da série.

A B1 VALOR PRESENTE DE UMA QUANTIA INDIVIDUAL FUTURA2 Valor futuro $ 1.7003 Taxa de juros, % ao ano composta anualmente 8%4 Número de anos 85 Valor presente $ 918,46

O conteúdo da célula B5 é = VF (B3,B4,0,B2).Um sinal negativo antecede VP para transformar o valor

presente em uma quantia positiva.

Page 104: Planejamento e Controle Financeiro

104

PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Figura 23 – Valor presente de anuidades

Fonte: Gitman (2002, p. 143).

Assim, a fórmula de valor presente da anuidade pode ser demonstrada como segue:

VPAn = PMT X (FVPAi,n)

Onde:

VPAn = Valor Presente para um período nPMT = Montante a ser recebido ao fi nal de cada períodoi = Taxa de desconto para o períodon = Número do período FVPAi,n = Fator de valor presente da anuidade, que é calculado da seguinte

forma:

( )1

11

n

i n tt

FVPAi=

=+

∑,

Vamos partir para um exemplo, de modo que possamos deixar claro o conceito de valor presente para uma anuidade ordinária. Vamos supor que sua empresa possua uma série de recebíveis no valor de R$ 700,00 por ano, a ocorrerem ao fi nal de cada período, num total de cinco anos. O seu custo de oportunidade é 8%. Assim, ao aplicarmos a fórmula anterior temos:

VPAn = PMT X (FVPAi,n)VPAn = R$ 700,00 X (0,680 + 0,735 + 0,793 + 0,857 + 0,925) = R$ 2794,90

Assim, para uma série de anuidades ordinárias de R$ 700,00, temos um valor presente total de R$ 2.794,90.

0 1 2 3 4 5

$700 $700 $700 $700 $700

$ 648,20599,90555,80514,50476,70

$ 2.795,10

Final do ano

Valor presente

Page 105: Planejamento e Controle Financeiro

105

FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS Capítulo 4

Um modo mais efi ciente de calcularmos este valor presente para uma série de anuidades ordinárias é a utilização de uma planilha eletrônica. A Figura 24 demonstra como este cálculo pode ser realizado na planilha.

Figura 24 – Planilha eletrônica para o cálculo do valor presente de uma anuidade

Fonte: Gitman (2002, p. 144).

Indicadores de ViaBilidade de ProJetos

Como já comentamos, na área de fi nanças, os administradores lidam com diversas oportunidades de investimento e uma das atividades deste profi ssional é a de selecionar projetos viáveis e que maximizem a riqueza do proprietário da companhia. Para isso, existem pelo menos três técnicas de análise, que são também indicadores da viabilidade de projetos: Período de Payback, Valor Presente Líquido e Taxa Interna de retorno. Estas duas últimas técnicas, segundo Gitman (2002), baseiam-se nos conceitos de valor do dinheiro no tempo.

Vamos utilizar um exemplo base, trazido por Gitman (2002, p. 338) para

ilustrar nossos conceitos a partir deste momento, o qual será adaptado para nossa realidade brasileira. A empresa Copy & Paste Soluções Gráfi cas Ltda. está analisando dois projetos de investimentos. O projeto A prevê um investimento inicial de R$ 42.000,00, com fl uxo de anuidade ordinária de recebíveis de R$ 14.000,00 anuais durante 5 anos. O projeto B tem um investimento inicial de R$ 45.000,00 com um recebimento de R$ 28.000,00 no primeiro ano, R$ 12.000,00 no segundo e uma sequência de anuidades de R$ 10.000,00 nos três anos subsequentes, totalizando também cinco anos de recebimentos.

A B1 VALOR PRESENTE DE UMA ANUIDADE ORDINÁRIA2 Prestação anual $ 7003 Taxa de juros, % ao ano composta anualmente 8%4 Número de anos 55 Valor presente de uma anuidade ordinária $ 2.794,90

O conteúdo da célula B5 é = VF (B3,B4,-B2).Um sinal negativo antecede B2 porque o pagamento

anual é uma saída de caixa.

Page 106: Planejamento e Controle Financeiro

106

PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Quadro 21 – Exemplo de fl uxo de caixa de capital de projetos

Dados de gastos de capital da Copy & Paste Soluções Gráfi cas Ltda.Projeto A Projeto B

Investimento Inicial R$ 42.000,00 R$ 45.000,00Ano Entradas Operacionais de Caixa

1 R$ 14.000,00 R$ 28.000,002 R$ 14.000,00 R$ 12.000,003 R$ 14.000,00 R$ 10.000,004 R$ 14.000,00 R$ 10.000,005 R$ 14.000,00 R$ 10.000,00

Fonte: Adaptado de Gitman (2002, p. 338).

Grafi camente, podemos representar os dois projetos de capital conforme a Figura 26. A primeira seta representa uma saída de caixa, portanto seu sentido é abaixo da linha de tempo, e as demais setas que representam a entrada de caixa possuem sentido inverso, para cima, acima da linha de tempo. Vamos passar agora para a discussão das técnicas de análise de investimentos, iniciando pelo payback.

a) Payback

Segundo Gitman (2002, p. 339) o payback é “o tempo necessário para que a empresa recupere seu investimento inicial em um projeto, calculado com suas entradas de caixa”.

Quando tratamos de anuidades, o payback é calculado dividindo-se o investimento inicial pela entrada de caixa anual. Já em uma série mista, é preciso acumular as entradas de caixa período a período, até que o saldo acumulado das entradas de caixa superou o valor do investimento inicial, no período em que isto ocorrer, temos o período

de payback. As decisões de investimento, referente à aceitação de um projeto são as seguintes:

• Se o período de payback for igual ou abaixo do período aceitável pelos proprietários da empresa, o projeto é aceitável.

• Se o período de payback for maior do que o período aceitável pelos proprietários, o projeto é recusado.

Gitman (2002) destaca que o payback é visto como uma técnica não sofi sticada de análise de viabilidade e aceitação de projetos, uma vez que não leva em consideração o valor do dinheiro no tempo.

Segundo Gitman (2002, p. 339) o

payback é “o tempo necessário para que a empresa recupere

seu investimento inicial em um

projeto, calculado com suas entradas

de caixa”.

Page 107: Planejamento e Controle Financeiro

107

FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS Capítulo 4

Você pode compreender um pouco mais sobre payback e análise de investimentos acessando o link a seguir. Neste artigo, há também uma informação que ajuda a utilizar o payback de forma mais sofi sticada, levando em conta o valor presente dos fl uxos de caixa. Acesse: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-92511992000300001>.

Figura 25 – Representação gráfi ca de Fluxo de Caixa de projetos de capital

Fonte: Gitman (2002, p. 339).

Assim, calculando o payback do projeto, dividimos o investimento inicial (R$ 42.000,00) pelas anuidades (R$ 14.000,00) e temos o período de payback em 3 anos.

No Projeto B, vamos acumulando as entradas de caixa e verifi camos que entre o ano 2 e o ano 3 temos o payback, pois no ano 2 temos um saldo acumulado de R$ 40.000,00 e no ano 3, um saldo acumulado de R$ 50.000,00. Nesse caso, o payback será em 2,5 anos. Assim, caso o período mínimo de recuperação do investimento da empresa Copy & Paste Soluções Gráfi cas fosse de 2,7 anos, o projeto B seria aceitável e o projeto A recusado.

Final do ano

0

0

1

1

2

2

3

3

4

4

5

5

$ 14.000

$ 28.000 $ 12.000 $ 10.000 $ 10.000 $ 10.000

$ 14.000 $ 14.000 $ 14.000 $ 14.000

$ 42.000

$ 45.000

Projeto A

Projeto B Final do ano

Page 108: Planejamento e Controle Financeiro

108

PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

b) Valor Presente Líquido

O valor presente líquido, como o próprio nome da técnica já indica, é considerado uma técnica sofi sticada de análise de investimento, pois considera o valor do dinheiro no tempo. Essa técnica, segundo Gitman (2002), desconta o fl uxo de caixa do projeto a uma taxa estipulada, que assume, como já abordamos, nomenclaturas distintas, como taxa de desconto, taxa mínima de atratividade, custo de capital ou custo de oportunidade.

Segundo Gitman (2002, p. 342), Valor Presente Líquido (VPL) “é obtido subtraindo-se o investimento inicial de um projeto (FC0), do valor presente de suas entradas de caixa (FCt), descontadas a uma taxa igual ao custo de capital da empresa (K).”, ou seja:

VPL = Valor presente das entradas de caixa – Investimento Inicial

Segundo Gitman (2002, p. 342), Valor

Presente Líquido (VPL) “é obtido subtraindo-se o

investimento inicial de um projeto (FC0),

do valor presente de suas entradas de caixa (FCt ),

descontadas a uma taxa igual ao custo de

capital da empresa (K)”.

01

01

1

,

( )

( )

nt

tt

n

t k tt

FCVLP FC

K

FC x FVP FC

=

=

= −+

= −

Supondo que o custo de capital da empresa seja 10%, já podemos calcular o VPL dos dois projetos de investimentos. O uso desta técnica requer bastante atenção, e seu cálculo tradicional, aplicando a fórmula acima, pode ser esquematizado na Figura 26.

Figura 26 – Cálculo de VPLs para o fl uxo de caixa de capital da empresa Copy & Paste Soluções Gráfi cas Ltda.

Fonte: Gitman (2002, p. 345).

Final do ano

Final do ano

Projeto A

Projeto B

0

0

1

1

2

2

3

3

4

4

5

5

$ 14.000

$ 28.000

-$ 42.000

-$ 45.000

$ 14.000

$ 12.000

$ 14.000

$ 10.000

$ 14.000

$ 10.000

$ 14.000

$ 10.000

k=10%53.071

25.4559.9177.5136.8306.209

VPLA= $ 11.071

VPLB= $ 10.924

k=10%k=10%

k=10%k=10%

k=10%

$ 55.924

Page 109: Planejamento e Controle Financeiro

109

FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS Capítulo 4

Perceba que o somatório das entradas de caixa oriundas do projeto A é de R$ 53.071,00, e todas elas foram descontadas ao custo de capital da empresa (K), de 10%, o VPL do projeto A é de R$ 53.071 (FCt) – R$ 42.000,00 (FC0) = R$ 11.071,00. Para o projeto B o esquema é ainda mais detalhado, já que cada entrada de caixa precisa ser descontada individualmente, e somam o valor presente total de R$ 55.924,00. O VPL do projeto B é de R$ 55.924 (FCt) – R$ 45.000,00 (FC0) = R$ 10.924,00.

Os critérios de decisão quanto à tomada de decisão, utilizando-se a técnica de análise de investimento VPL são as seguintes:

• Se o VPL for maior que zero, o projeto é aceitável.• Se o VPL for menor que zero, o projeto é recusado.

Segundo Gitman (2002), quando o VPL é maior que zero, a empresa está obtendo um retorno superior ao seu custo de capital, portanto, mantendo o valor da empresa e gerando mais riqueza aos seus proprietários.

Uma forma mais usual de se calcular o VPL é utilizando-se de uma planilha eletrônica, cálculo que pode ser demonstrado conforme a Figura 27.

Figura 27 – VPL através de planilha eletrônica

Fonte: Gitman (2002, p. 346).

c) Taxa Interna de Retorno (TIR)

A taxa interna de retorno (TIR) é, segundo Gitman (2002), uma das técnicas mais sofi sticadas de orçamento de capital, e, também, uma das mais difíceis de

A B C

1 DETERMINAÇÃO DE VALOR PRESENTE LÍQUIDO2 Custo de capital da empresa 10%3 Ano Fluxo de caixa no fi nal do ano4 Projeto A Projeto B5 0 $ (42.000) $ (45.000)6 1 $ 14.000 $ 28.0007 2 $ 14.000 $ 12.0008 3 $ 14.000 $ 10.0009 4 $ 14.000 $ 10.00010 5 $ 14.000 $ 10.00011 VPL $ 11.071 $ 10.92412 Escolha de projeto Projeto A

O conteúdo da célula B11 é = VPL ($C$2,B6:B10)+ B5.Copie a célula B11 para a célula C11.

O conteúdo da célula C12 é SE (B11>C11,B4,C4)

Page 110: Planejamento e Controle Financeiro

110

PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

ser calculada. No entanto, o seu conceito é simples. A TIR é taxa de desconto (K) que iguala o VPL a zero. O que signifi ca um VPL igual a zero? Quando se tem uma taxa de desconto que iguala o VPL a zero, signifi ca dizer que essa taxa é o retorno que o projeto

em análise está proporcionando ao acionista. Essa taxa precisa ser comparada ao custo de capital da empresa, ou melhor, a uma taxa mínima de atratividade. Assim, a empresa pode determinar que para investir em um determinado projeto, ela requer um determinado percentual acima do custo de capital da empresa, esta seria então a taxa mínima de atratividade. Para uma TIR maior que a taxa mínima de atratividade teríamos um projeto atraente, do contrário, não. A fórmula de cálculo da TIR poderia ser expressa conforme a equação a seguir.

A TIR é taxa de desconto (K) que

iguala o VPL a zero.

( )0

1

01

01

1

$

( )

nt

tt

nt

tt

FCFC

TIR

FCFC

TIR

=

=

= −+

=+

Como você pode perceber, a TIR assume o valor de K (custo de capital), igualando o VPL a zero. Assim, o cálculo manual da TIR é de extrema difi culdade, devendo ser um cálculo de tentativa e erro, por sucessivas aproximações, substituindo o valor de K na equação, até que tenhamos um VPL igual a zero. Graças à evolução da tecnologia da informação podemos realizar este cálculo através de uma planilha eletrônica, a qual pode ser verifi cada na Figura 28.

Figura 28 – Cálculo da TIR através de planilha eletrônica

Fonte: Gitman (2002, p. 347).

A B C

1 DETERMINAÇÃO DE TAXA INTERNA DE RETORNO2 Ano Fluxo de caixa no fi nal do ano3 Projeto A Projeto B4 0 $ (42.000) $ (45.000)5 1 $ 14.000 $ 28.0006 2 $ 14.000 $ 12.0007 3 $ 14.000 $ 10.0008 4 $ 14.000 $ 10.0009 5 $ 14.000 $ 10.00010 TIR 19,9% 21,70%11 Escolha de projeto Projeto B

O conteúdo da célula B10 é = TIR (B4:B9).Copie a célula B10 para a célula C10.

O conteúdo da célula C11 é SE (B10>C10,B3,C3).

Page 111: Planejamento e Controle Financeiro

111

FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS Capítulo 4

Transpondo os cálculos da TIR grafi camente, podemos projetá-los conforme a Figura 29.

Figura 29 – Cálculo de TIRs para Fluxos de Caixa de Capital da empresa Copy & Paste Soluções Gráfi cas Ltda.

Fonte: Gitman (2002, p. 347).

Perceba que, ainda que a empresa estipule dois pontos percentuais acima do custo de capital da empresa, chegando a uma taxa mínima de atratividade de 12%, ambas as TIRs são bastante superiores, sendo a do projeto A: 19,9% e a do projeto B: 21.7%. Se os dois projetos tiverem riscos semelhantes, podemos afi rmar que a escolha deve se dar pelo projeto B, uma vez que este apresenta uma TIR maior.

Atividade de Estudos:

1) O Shopping Regional de Blumenau “Vale Encantado Mall” (fi ctício) enfrenta difi culdades fi nanceiras e a partir de maio de 2019 será adquirido por uma grande rede de Shopping Centers. O Superintendente do Shopping gostaria de saber sobre a viabilidade fi nanceira de operar estacionamento pago no local durante os primeiros quatro meses de 2019 (jan-abr), visando sanar parte de suas dívidas atuais. Supondo que o investimento inicial para o projeto é de R$ 250.000,00 e este gerará um fl uxo de anuidades ordinárias ao longo dos próximos quatro anos, no

Final do ano

Final do ano

Projeto A

Projeto B

0

0

1

1

2

2

3

3

4

4

5

5

$ 14.000

$ 28.000

-$ 42.000

-$ 45.000

$ 14.000

$ 12.000

$ 14.000

$ 10.000

$ 14.000

$ 10.000

$ 14.000

$ 10.000

TIR?42.000

VPLA= $ 0 TIRA= 19,9%

VPLB= $ 0 TIRB= 21,7%

TIR?TIR?

TIR?TIR?

TIR?

45.000

Page 112: Planejamento e Controle Financeiro

112

PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

valor de R$ 125.846,00. O custo de capital mensal desta empresa é de 2,00%. Calcule, o Payback e VPL. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Algumas ConsideraçÕes Começamos o presente capítulo com uma revisão do conceito de fl uxo de

caixa, verifi cando a sua importância para a gestão fi nanceira de uma empresa, uma vez que o fl uxo de caixa demonstra todas as entradas e saídas de recursos na organização.

Verifi camos a diferença entre fl uxos de investimentos e fl uxos operacionais, compreendendo como identifi cá-los e também como reconhecer uma operação que signifi ca uma entrada ou uma saída de caixa, através de comparações realizadas tanto no balanço patrimonial como na demonstração de resultados do exercício.

Na sequência, entramos no conceito de fl uxo de caixa livre (FCL), aquele que está disponível para os fornecedores de capital a empresa (capital próprio e de terceiros), e como calcular tal montante.

Estes conceitos iniciais forneceram suporte para que pudéssemos abordar o orçamento de caixa, um instrumento muito importante para o planejamento fi nanceiro, pois permite elaborarmos uma previsão de entradas e saídas de caixa. Neste tópico, compreendemos como elaborar um orçamento de caixa e quais são seus principais itens.

Page 113: Planejamento e Controle Financeiro

113

FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS Capítulo 4

O orçamento de caixa permite que façamos uma série de análises para tomada de decisão, como as análises de viabilidade de um fl uxo de caixa, porém, antes, foi necessário compreendermos como o dinheiro assume um valor no tempo, para então passarmos para o tópico de viabilidade econômico-fi nanceira.

Uma vez assimilado o conceito de valor do dinheiro no tempo, passamos para a análise de viabilidade econômica fi nanceira de projetos, baseados em orçamentos de caixa, previsões, para então podermos fundamentar a decisão de aceitar ou não projetos e poder escolher projetos que maximizem a riqueza para o acionista. As técnicas de análise de viabilidade exploradas foram: payback, valor presente líquido e taxa interna de retorno.

Concluímos, assim, esse capítulo sobre fl uxo de caixa para pequenos negócios. Espero que você tenha aprendido a importância deste tema para o planejamento e gestão das organizações, sejam elas pequenas, médias ou grandes.

No próximo capítulo entraremos em um assunto um pouco menos matemático, mas com impacto direto sobre o fl uxo de caixa das empresas, pois tratará sobre a negociação com bancos, credores e devedores. Até lá!

ReFerÊnciasANTONIK, L.R. Empreendedorismo: gestão fi nanceira para micro e pequenas empresas. São Paulo: Elsevier, 2016.

GITMAN, L.J. Princípios de administração fi nanceira. 7. ed. São Paulo: Harbra, 2002.

Page 114: Planejamento e Controle Financeiro

114

PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Page 115: Planejamento e Controle Financeiro

CAPÍTULO 5

Negociação com Bancos, Credores e Devedores

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem:

Identifi car os tipos de negociação que podem melhorar o desempenho das micro e pequenas empresas.

Conhecer técnicas de negociação com bancos, credores e devedores.

Arrolar as diferenças nas técnicas de negociação com bancos, credores e devedores.

Selecionar a técnica adequada para cada tipo de negociação.

Analisar os resultados potenciais da aplicação das técnicas e ferramentas de negociação com bancos, credores e devedores.

Page 116: Planejamento e Controle Financeiro

116

PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Page 117: Planejamento e Controle Financeiro

117

NEGOCIAÇÃO COM BANCOS, CREDORES E DEVEDORES Capítulo 5

ContextualiZaçãoNesta disciplina, uma questão que vem sendo bastante reforçada até o

momento é a diferenciação entre os regimes de competência e caixa. Esta diferenciação é importante não só didaticamente, para que você entenda os regimes contábeis e fi nanceiros, mas também por uma questão estratégica: o lucro ocorre em um regime contábil, mas a efetiva disponibilização de dinheiro para a empresa ocorre no regime de caixa. A empresa pode lucrar e não ter liquidez, ao mesmo tempo em que pode ter prejuízo, mas ter dinheiro em caixa.

Até o momento, você tem mergulhado em temas bastante conectados a uma administração fi nanceira técnica, por vezes, se aproximando muito de aspectos contábeis, com cálculos de indicadores baseados em balanço patrimonial e na demonstração do resultado de exercício, por exemplo. Por vezes, também, entramos em questões estritamente matemáticas, com o uso de fórmulas para calcular capital de giro, endividamentos etc. Neste capítulo, vamos entrar em aspectos mais voltados à gestão, mas com impactos diretamente no fl uxo de caixa da empresa. O tema central a ser estudado é a negociação com bancos, credores e devedores.

Negociar com bancos, credores e devedores tem impacto diretamente no fl uxo de caixa da companhia, pois dívidas (seja com bancos ou credores) geram juros e, na pior das hipóteses, execução de garantias e ações judiciais com custos extras para ambas as partes.

A falta de pagamento dos nossos devedores deixa, evidentemente, um furo em nosso fl uxo de caixa. Ainda que tenhamos amarras na concessão de crédito, como o uso de garantias, quando falamos em executar nossos devedores, assumir tais direitos é algo que não é desejável, pois foge do dia a dia da empresa, existe o custo de liquidação que está vinculado à liquidez desta etc. Além do fato de que, quanto maiores são as garantias exigidas para venda de um produto ou serviço, menor o mercado potencial.

Assim, ter habilidade na hora de fornecer e tomar crédito, assim como no momento da negociação destas questões, tornará o fl uxo de caixa da empresa mais consistente, evitando situações fi nanceiras delicadas no futuro.

Page 118: Planejamento e Controle Financeiro

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

O crédito, como corroboram Maia (2007) e Antonik (2016) é fundamental para toda a sociedade, uma vez que ele alavanca e multiplica a capacidade que as empresas e os consumidores possuem de poder fazer negócios. Sem essa ferramenta, as transações seriam limitadas à disponibilidade de recursos com liquidez imediata, o que geraria um volume de negócios muito menor. Muitos empresários até podem imaginar que não se utilizam de crédito, mas talvez estejam se limitando a um conceito de crédito mais estreito, como o fi nanciamento bancário. Este conceito pode ser descrito por Schrickel (1995 apud MAIA, 2007, p. 11) no qual ele defi ne o crédito como “todo ato de vontade ou disposição de alguém de destacar ou ceder, temporariamente, parte do seu patrimônio a um terceiro, com a expectativa de que esta parcela volte a sua posse integralmente, depois de decorrido o tempo estipulado”.

No entanto, segundo Antonik (2016, p. 47), “crédito está presente em todas as políticas fi nanceiras das empresas comerciais e industriais como ferramenta de alavancagem de aquisições, aumento da capacidade de produção ou até simples cobertura de furos de caixa”.

Este conceito de crédito pode ser melhor compreendido por Sandroni (1999 apud MAIA, 2007, p. 11): “crédito é a transação comercial em que um comprador recebe imediatamente um bem ou serviço adquirido, mas só fará o pagamento depois de algum tempo determinado”.

Esse último conceito é mais amplo, e agrega também as simples transações comerciais nas quais há postergação de pagamento. Assim, de forma bastante sintética, podemos conceituar crédito como o ato de tomarmos um serviço ou adquirirmos um produto, sem realizar o pagamento de imediato.

Se adquirimos uma matéria-prima, com promessa de pagamento para daqui 30 dias, estamos tomando um crédito direto com nosso fornecedor, e este passa a ser nosso credor.

Em vez de fi nanciarmos diretamente com o fornecedor, poderíamos negociar um desconto sobre o valor de face das mercadorias, pagando tudo à vista. Para isso, podemos utilizar nosso caixa, ou então pegar dinheiro emprestado com terceiros, como as instituições fi nanceiras, os bancos. Entretanto, para que essa

modalidade seja interessante, é importante que o percentual de desconto à vista supere os juros que serão pagos pelo fi nanciamento.

CrÉdito

Assim, de forma bastante sintética,

podemos conceituar crédito como o

ato de tomarmos um serviço ou adquirirmos um produto,

sem realizar o pagamento de

imediato.

Se adquirimos uma matéria-prima, com promessa de pagamento para daqui 30 dias, estamos

tomando um crédito direto com nosso fornecedor, e este passa a ser nosso

credor.

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NEGOCIAÇÃO COM BANCOS, CREDORES E DEVEDORES Capítulo 5

O crédito também está presente na política de vendas da empresa, e precisa ser levado em consideração quando formamos o preço de venda de nossos produtos ou serviços.

É preciso ter noção de que vender a prazo, muitas vezes, é a única forma de tornar um negócio viável, mas ao mesmo tempo, entregar um produto ou serviço agora para receber em períodos futuros traz consigo um risco de não recebimento.

Esse risco de não ingresso dos recursos no tempo devido abre uma lacuna no fl uxo de caixa da empresa, que precisa ser preenchida. Historicamente, é possível calcular o percentual de inadimplência e, por consequência, o montante de recursos que provavelmente deixarão de ingressar no caixa da empresa. Para cobrir esta lacuna, a empresa pode tomar empréstimos ou transferir o risco da cobrança para um terceiro, como ocorre nas vendas a prazo através do cartão de crédito.

Você sabia que cada forma de venda a prazo possui uma série de vantagens e desvantagens? Conheça um pouco mais pesquisando no SEBRAE através do link a seguir: <http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/o-preco-e-a-infl uencia-na-escolha-do-tipo-do-pagamento,224ad1eb00ad2410VgnVCM100000b272010aRCRD>.

Assim, o custo fi nanceiro de se fi nanciar o cliente somado ao risco do não ingresso destas receitas no caixa da empresa deve compor o preço de vendas a prazo, conforme ilustra a Figura 30.

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Figura 30 – Formação do preço de venda

Fonte: Antonik (2016, p. 53).

Antonik (2016) afi rma que as micro e pequenas empresas são aquelas mais propensas ao risco de crédito, e um dos motivos que mais impactam neste risco refere-se à análise do crédito.

Antonik (2016) afi rma que dada a importância do crédito, faz-se necessário uma maior profi ssionalização e técnica na sua concessão. Não quer dizer que se deve ter uma política de conceder mais ou menos crédito, mas adotar critérios e correr riscos que tenham retornos proporcionais, sendo rigoroso na hora de conceder créditos. Veja na Figura 31 como uma política de crédito errada pode ter efeitos adversos sobre as vendas de uma empresa. Segundo Antonik (2016) são três as regras básicas no momento da concessão do crédito:

• Verifi car o histórico de pagamento do cliente: essa regra tem o intuito de verifi car se o cliente tem um histórico de inadimplemento, se é um mal pagador. Isto é possível de aferir verifi cando o cadastro do cliente em entidades que controlam este tipo de histórico, como Serasa, por exemplo. Se há um histórico de atrasos de pagamentos, o que pode fazer com que o cliente tenha uma atitude diferenciada na aquisição do seu produto ou serviço?

• Preço de custo da mercadoria vendida à vista

• Custo fi nanceiro ou juro do fi nanciamento do cliente

• Risco envolvido na atividade de fi nanciamento dos cliente

Preço de venda a prazo

Risco

Juros

À vista

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NEGOCIAÇÃO COM BANCOS, CREDORES E DEVEDORES Capítulo 5

Figura 31 – Políticas de Crédito

Fonte: Antonik (2016, p. 48).

• Averiguar a capacidade de pagamento do cliente: este é um ponto importante, pois caso o cliente não demonstre ter uma renda recorrente e em um montante sufi ciente, como ele poderá quitar a dívida com a sua empresa. Além de ter uma renda recorrente esta deverá ser capaz de cobrir as necessidades básicas de sua subsistência, quitar outros débitos que porventura o cliente tenha e ainda quitar as dívidas contraídas na sua empresa.

• Avaliar a existência de risco sistêmico: Antonik (2016) afi rma que este tipo de avaliação é mais impactante para clientes com fi nanciamento de longo prazo, pois refere-se a questões da economia como um todo, como recessões, infl ação elevada, alta de juros etc. Assim, para compras que se consolidarão no longo prazo, é preciso saber se o cliente terá condições de arcar com os compromissos assumidos mesmo que a economia tenha tomado rumos adversos no futuro.

A seguir vamos verifi car com mais detalhes a análise de crédito.

Análise de CrÈditoMaia (2007) afi rma que para acreditar naqueles que demandam crédito são

necessários basicamente dois elementos: tempo e informação. Essa afi rmação se baseia na premissa de que só se pode confi ar em quem se conhece. E para conhecer alguém é necessário tempo e histórico de transações passadas.

Tudo que é bom dura

pouco

Risco de crédito aumenta

signi� cativamente

Política de crédito “frouxa”,cliente satisfeito

Vendas disparam

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Analisar crédito, como vimos na breve explanação de Antonik (2016), é fazer uma previsão sobre situações futuras. Situações futuras da economia, situações futuras do pagador. Segundo Maia (2007, p. 18) “análise de crédito é uma atividade que tem por objetivo prever a capacidade e a vontade de um devedor honrar suas dívidas no momento em que se tornem exigíveis”.

Segundo Maia (2007, p. 18) a qualidade da análise de crédito é dependente da capacidade do profi ssional avaliador e da “sufi ciência, integridade e consistência das informações sobre o crédito”.

Os Cs do CrÉditoAntonik (2016) afi rma que a empresa pode usar como apoio ao processo

decisório para concessão de crédito ao cliente uma ferramenta de análise denominada os Cs do crédito. Se analisarmos a concessão de crédito a pessoa física, temos 5 Cs, quando falamos em crédito a pessoa jurídica, segundo Maia (2007), adicionamos um sexto C.

• Caráter: o primeiro C a ser analisado é o caráter. Essa análise se baseia na premissa de que, segundo Maia (2007, p. 19), “as pessoas são diferentes e agem diferentemente diante das diversas situações”. Esse C tem uma importância muito grande na análise, e ele mensura o comprometimento do indivíduo em quitar o crédito assumido. Ele pode contrariar muitas premis-sas objetivas, como a renda do cliente, por exemplo. Muitas vezes, bons pagadores possuem rendas mínimas, mas um compromisso ético de não atrasar suas contas, ao passo que pessoas com alto rendimento podem deliberadamente deixar de pagar suas contas. Este fator é intrínseco de cada pessoa. Como Antonik (2016) e Maia (2007) corroboram, a análise de caráter leva em conta o histórico do pagador e sua pontualidade no pa-gamento de dívidas pregressas, sendo um indicador de que ele tenderá a honrar pagamentos futuros, porém, por óbvio, não é garantia de que isso de fato ocorrerá, por isso a necessidade de uma análise sistêmica.

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NEGOCIAÇÃO COM BANCOS, CREDORES E DEVEDORES Capítulo 5

O Caráter é um ponto fundamental para a concessão de microcrédito, crédito de pequena monta emprestado a pessoas de baixa renda e microempreendedores formais e informais. Esse tipo de crédito possui baixa inadimplência, apesar das pessoas terem baixa renda e muitos tomadores deste tipo de empréstimos não possuírem as formalidades necessárias para conseguir crédito de forma tradicional. Conheça mais do trabalho iniciado por Muhammad Ynus, ganhador do prêmio Nobel de Economia, no link <https://revistas.pucsp.br/index.php/pensamentorealidade/article/download/31679/22480>.

• Capacidade: a capacidade refere-se à condição que o tomador de crédito terá para honrar a sua dívida contraída. Assim, conforme menciona Maia (2007), não basta o cliente ter a vontade, o anseio em pagar as suas contas no momento em que são exigidas, é necessário também ter condições fi nanceiras de fazê-lo. A empresa que concede crédito deve ter isto em mente, é preciso analisar cuidadosamente a saúde fi nanceira do tomador de crédito, seja pessoa física ou jurídica.

• Capital: a análise do capital é determinante para a capacidade de

pagamento e devido a sua importância é destacado como um C específi co a ser analisado. Blatt (1999 apud MAIA 2007, p. 20) defi ne capital como “ a fonte de receita e renda do cliente, ou seja, quais as origens de seus recursos, sua frequência e consistência”. Aqui é feita uma análise especifi ca sobre o capital que o tomador de crédito possui para pagar o que está sendo fi nanciado. Ele refl ete diretamente sobre a capacidade de pagamento. Schrickel (1997 apud MAIA, 2007) afi rma que na análise do capital verifi ca-se como o cliente transforma seu negócio em um rendimento capaz de saldar compromissos futuros.

Para a pessoa física, pode-se analisar o montante de rendimentos e o seu comprometimento com outras dívidas, assim como a estabilidade deste rendimento. Para pessoas jurídicas, a saúde fi nanceira da empresa pode ser verifi cada através da análise de indicadores do balanço patrimonial e demonstração do resultado do exercício, como índices de liquidez, índice geral de endividamento, retorno sobre o ativo etc.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

• Condições: as condições estão relacionadas às variáveis que não são controladas por quem concede e por quem toma o empréstimo, mas que são capazes de afetar o negócio entre as partes no futuro. Por exemplo, neste quesito são avaliados, segundo Antonik (2016, p. 54) “questões am-bientais, como de fenômenos naturais, caráter geral da economia, como infl ação, nível de emprego e níveis de atividade da indústria ao qual o cliente pertence”. Maia (2007) afi rma que avaliar as condições micro e macroeconômicas que permeiam a concessão de crédito ajuda a mensu-rar o risco do negócio. Assim, caso os demais Cs sejam favoráveis, uma condição econômica adversa pode elevar muito o risco de se obter o crédi-to de volta. Um exemplo disso são as variações cambiais. Por mais que o cliente possua caráter, capacidade e capital para quitar as dívidas, se a concessão de crédito envolver importações, sem um seguro cambial, por exemplo, o risco de crédito aumenta consideravelmente, pois a fl utuação do câmbio desfavorável ao negócio do cliente pode ruir com a sua capaci-dade de pagamento.

• Colateral: Collateral é o termo em inglês utilizado para garantia acessória, segundo Maia (2007). Segundo a autora, ela é utilizada para comprom-eter o tomador de empréstimo tanto moral, quanto patrimonialmente. A garantia pode inibir a inadimplência devido ao temor de que a concedente do crédito venha a tomar posse dos bens vinculados à operação. Antonik (2016) afi rma que esta análise é bastante útil, porém nem todas operações de crédito são viáveis de se obter uma garantia, no varejo em geral não é comum a utilização de garantias para pagamentos de créditos.

• Conglomerado: o conglomerado refere-se especifi camente à concessão de crédito a pessoas jurídicas, pois, segundo Maia (2007), está relaciona-da à análise das empresas pertencentes a um mesmo grupo econômico. Segundo Maia (2007), as empresas tendem a seguir a mesma política e diretrizes da empresa controladora ou seu acionista majoritário de forma que as questões relacionadas ao caráter e à capacidade devem seguir um mesmo padrão.

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Atividade de Estudos:

1) Por que, mesmo que o cliente tenha caráter, a empresa deve fazer uma análise conjunta de todos os Cs do crédito? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

InadimplÊncia Segundo Maia (2007), inadimplência trata-se de uma quebra de contrato, de

uma falta de pagamento de um crédito contratado, acordado, que foi exigido no tempo programado e não foi quitado pelo tomador. A regra é o pagamento na data acordada, mas a exceção ocorre e deve ser bem analisada e contabilizada pelo fornecedor do crédito. Maia (2007) afi rma que o adimplemento, o pagamento das dívidas, possui inclusive uma função social, haja vista que permitem uma recirculação de dinheiro, de crédito, de capital. À medida que as taxas de inadimplência caem, os juros acompanham, permitindo uma maior concessão de crédito e aumento do consumo, por consequência a economia melhora, gerando mais renda, mais riqueza para a nação.

Maia (2007) utiliza o código civil para demonstrar que existem dois tipos de inadimplência. A absoluta, que ocorre quando obrigação que deixou de ser cumprida e não pode ser realizada de forma útil ao credor. Para este tipo de inadimplência há previsão de pagamento de juros e atualização monetária e ainda há possibilidade de responsabilizar o devedor por danos morais.

Já o inadimplemento relativo ocorre quando há o cumprimento imperfeito da obrigação, como o pagamento fora da data combinada. Nesse caso, pode haver a cobrança de mora, uma multa pelo fato de não se cumprir integralmente o combinado em contrato.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Negociação com CredoresA empresa pode também chegar a uma situação de inadimplência, e para

isso minimizar essa situação, que se for estendida por muito tempo pode ser a causa de fechamento da empresa, é importante realizar três ações, segundo o Sebrae (2016a): compreender a natureza da dívida, entender o motivo da falta de recursos e negociar a dívida, conforme podemos verifi car na Figura 32.

Figura 32 – Passo a passo para sair da inadimplência

Fonte: Sebrae (2016 a, p. 5).

a) Entendendo a natureza da dívida

Segundo Sebrae (2016a), entender a natureza das dívidas de uma empresa ajuda no planejamento das necessidades de capital de terceiros. Assim, segregando cada tipo de dívida que a empresa tem, é possível saber se a dívida afeta as operações diárias ou então os planejamentos de expansão, dependendo da natureza da dívida, já se saberá o quão grave é a situação. Segundo Sebrae (2016a), são três os grandes grupos de dívidas de uma empresa:

1) Dívidas de investimento.2) Dívidas de capital de giro.3) Dívidas para cobrir fl uxos de caixas negativos.

• Dívidas de investimento

Este grupo de dívidas é normalmente realizado para expansão dos negócios, e tem consigo uma intenção de aumento da produção e por consequência receita. Sebrae (2016a) afi rma que este tipo de fi nanciamento normalmente é realizado com base um planejamento e quanto melhor for este planejamento maiores são as chances de que os pagamentos desta dívida sejam realizados conforme o contrato.

Negociar a dívida

Entender o motivo da falta

de recursos(inadimplência

Entender anatureza da

dívida

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NEGOCIAÇÃO COM BANCOS, CREDORES E DEVEDORES Capítulo 5

O Sebrae (2016a) afi rma que em pequenas empresas, nas quais a pessoa física do sócio por vezes se confunde com a pessoa jurídica (negócio), alguns fi nanciamentos são tomados pela empresa para fi ns pessoais, o que acaba sobrecarregando o fl uxo de caixa da fi rma, trazendo inadimplência. É de fundamental importância que a empresa não se confunda com a pessoa física do proprietário.

• Dívidas de Capital de Giro

Segundo o Sebrae (2016a), quando há um incremento nas vendas, é comum as empresas necessitarem de um capital de giro maior para poder comprar matérias-primas, contratar empregados, pagar energia etc. Essa necessidade pode vir também da concessão de um prazo maior para o pagamento dos clientes.

O recurso para cobrir esse capital de giro excedente pode vir de fi nanciamentos com instituições bancárias ou da negociação direta com fornecedores, estendendo-se o prazo de pagamento ou até mesmo pagando as compras em parcelas.

É preciso calcular se a margem de lucro adicionada pelo aumento de vendas cobre os custos de aquisição de capital de giro adicional, para saber se a operação está compensando.

• Dívidas para cobrir fl uxos de caixas negativos

De acordo com o Sebrae (2016a), a empresa pode ter necessidade de contratar empréstimos visando cobrir fl uxos de caixa negativos, que podem ter três causas distintas:

− Descasamento da necessidade de capital de giro com o capital de giro disponível.

− Imprevistos. − Operação defi citária.

O primeiro caso, do descasamento entre a necessidade de capital de giro e o capital de giro disponível ocorre quando a empresa não supre a necessidade e a consequência é um fl uxo de caixa defi citário.

O segundo caso refere-se aos imprevistos, como um acidente com transportes, crise econômica, dentre outras. Cabe ressaltar que alguns dos imprevistos podem ser previsíveis e podem ser evitados com a contratação de seguros. Dependendo do impacto deste fl uxo negativo, a economia gerada com a não aquisição de um seguro pode não compensar.

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O terceiro caso é a operação defi citária, ou seja, mesmo não havendo imprevistos e com o capital de giro adequado, a empresa não gera resultado e, pior, gera défi cit. Assim, é necessária uma profunda revisão no modelo de negócio da empresa, pois suas premissas não geram resultados e a empresa pode estar perto de fechar suas portas.

b) Entendendo o motivo da inadimplência

O Sebrae (2016a) alerta para a necessidade de as empresas entenderem quais são os motivos exatos que estão ocasionando as dívidas. Os motivos estão relacionados à natureza da dívida, mas devem ser expressados em uma demonstração de resultados do exercício, ou então em um fl uxo de caixa, por um determinado período. Veja o exemplo a seguir de um projeto de operação de um estacionamento por um período de 5 meses. Veja que o problema deste fl uxo de caixa está no tamanho do investimento a ser realizado e no período, ele não é capaz de ser amortizado durante os quatro meses de operação. Um período mais prolongado para amortizar esta dívida poderia resolver o problema, assim como um fi nanciamento, que reduziria a base de cálculo dos desembolsos sobre o lucro.

Tabela 2 – Fluxo de caixa auxiliar

Fonte: O autor.

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Segundo o Sebrae (2016a), outros problemas podem fi car evidentes, como a difi culdade de suportar os juros, defi ciências operacionais etc.

c) Negociando a dívida

Segundo o Sebrae (2016a), uma vez que a dívida se faz presente, e que já foram revistos os processos operacionais da empresa, de modo que ela possa ampliar seu desempenho, é chegada a hora de renegociar a dívida com seus credores.

Um passo importante é a preparação de uma projeção de fl uxo de caixa, que demonstrará a capacidade de pagamento da dívida renegociada, assim como a difi culdade em adimplir a dívida como ela está contratada originalmente. Isso dará confi ança ao credor de que a negociação realizada surtirá efeito e que sua empresa está de fato passando por difi culdades, e o seu problema está nos Cs de Capacidade e Capital e não no C de Caráter, ou seja, você quer pagar a dívida, mas não consegue.

O Sebrae (2016a) afi rma que outros valores além do saldo de caixa disponível ao longo dos períodos podem ser levantados com o intuito de ajudar a amortizar a dívida, como a venda de alguns ativos, como veículos, máquinas e equipamentos, imóveis. Contudo é necessário realizar uma análise para que a venda destes ativos não impacte em fl uxos de caixa futuros, ou seja, para que esta venda não prejudique as operações da empresa.

Importante que o empresário tenha domínio sobre as taxas de juros, prazos e valores de parcela que são possíveis de serem negociados. O Sebrae (2016a) alerta para o fato de que este passo se trata de uma negociação, então é importante ter uma margem de segurança nos valores propostos, uma vez que o credor também poderá barganhar por valores maiores.

O Sebrae (2016a, p. 11) traz algumas sugestões importantes para o momento da negociação com o credor, que são:

• não encare o credor como um adversário, mas sim como um parceiro na busca de uma solução para o problema de ambos; • seja verdadeiro, é a melhor forma de transmitir credibilidade; • conheça profundamente seu negócio, só assim o credor acreditará que você pode gerar os recursos necessários; • evite o envolvimento pessoal na discussão, estamos tratando de negócios; • defi na seus limites na negociação; • lembre-se esta é uma negociação onde ambas as partes podem ganhar juntas.

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Um tipo de credor específi co e que é mubbbito experiente e capacitado no momento da negociação são os bancos, para os quais traremos uma abordagem de negociação específi ca.

NegociaçÂo com BancosSebrae (2018) afi rma que não existem fi nanciamentos específi cos com o

intuito de substituir as dívidas atuais da empresa por dívidas mais baratas. No entanto, existe sempre a possibilidade de renegociação, seja alterando a taxas de juros ou o prazo e valor das parcelas.

Cabe sempre observar os passos da renegociação das dívidas elencadas no item anterior, para identifi car quais as condições de pagamento que podem ser absorvidas pela empresa.

Sebrae (2018, p. 1) afi rma que “quando a empresa estiver com o nome registrado nos cadastros de restrição ao crédito é necessário, primeiro, retirar o nome das entidades de controle cadastral do crédito, tais como Serasa, SPC e Cadin, e só depois partir para um empréstimo”.

Caso haja a necessidade de que um empréstimo novo seja realizado, sem que a empresa quite fi nanciamentos existentes, por motivos de aumento de capital de giro, por exemplo, é preciso que a empresa tenha margem operacional para absorver esta dívida, caso contrário a empresa fi cará com fl uxos de caixa negativos e a situação fi nanceira da empresa se deteriorará, podendo levá-la à falência.

Para determinados casos pode ser interessante quitar as dívidas anteriores por meio de recursos próprios, para então partir para um novo fi nanciamento. Todas estas análises devem ser feitas utilizando-se de um fl uxo de caixa auxiliar, para que as devidas simulações de impacto da dívida possam ser realizadas.

Tenha em mente que bancos são um tipo de credor especializado em cobrança, e que em determinados empréstimos exigem garantias acessórias que podem ser executadas caso as negociações não surtam efeitos.

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NEGOCIAÇÃO COM BANCOS, CREDORES E DEVEDORES Capítulo 5

Atividade de Estudos:

1) Por que é importante utilizar-se de uma planilha de fl uxo de caixa para negociar a dívida da empresa com bancos e credores? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Negociação com DevedoresAssim como negociar com os credores, a negociação com os clientes requer

um planejamento, de modo que tenhamos uma maior efi cácia no retorno das receitas perdidas.

Já abordamos uma etapa importante e preventiva, que é a análise de crédito, mas agora vamos abordar como negociar com os devedores da empresa, pois, mesmo para empresas que adotem uma política de crédito bastante restritiva, o risco da inadimplência é algo a ser considerado e é preciso estar preparado para agir quando ele ocorrer. O Sebrae (2016b) traz um passo a passo para a negociação com os devedores, que envolve:

a) Controle contínuo dos seus devedores

Ter um acompanhamento dedicado à inadimplência auxilia o empreendedor a conhecer o perfi l dos clientes com este comportamento e também auxilia a saber o montante das dívidas e o quanto elas estão impactando no seu fl uxo de caixa. Estas informações serão de grande ajuda também no momento de se rever a política de crédito da empresa, pois ajustes podem ser necessários no prazo de pagamento, ou então na análise cadastral dos clientes.

b) Negociação de um plano de liquidação

É preciso ter um plano de liquidação para quando houver algum atraso, assim alertas podem ser emitidos para corrigir lapsos daqueles clientes que tenham

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Caráter, Capacidade e Capital, mas que porventura esqueceram de efetuar o pagamento em dia. Assim, segundo o Sebrae (2016b, p. 2) os seguintes passos podem ser utilizados para evitar atrasos e inadimplência:

• Contate o cliente assim que for diagnosticada a dívida, perguntando-lhe o motivo do atraso e negociando uma nova data para o pagamento.• Anote: o motivo do atraso, nome e cargo das pessoas contatadas, nova data negociada.• Peça que o devedor lhe envie, via fax/e-mail, solicitação de novo prazo de pagamento, indicando o motivo do atraso. Tente obter um cheque pré-datado com o novo vencimento.• Se o seu cliente não puder pagar de uma só vez o débito, procure negociar um novo plano de liquidação da dívida, ponderando a aplicação de juros.

A ação rápida do empresário poderá evitar maiores impactos desta ausência de receita no fl uxo de caixa do negócio, para isso é importante que setor de fi nanças tenha um procedimento de cobrança padrão, um manual que lhe orientará o que fazer quando identifi car um atraso ou um inadimplemento mais grave. O Sebrae (2016b) traz um exemplo de plano de ação de cobrança composto de 8 etapas:

Etapa 1: envio de carta registrada com identifi cação de recebimento. Esta carta comunica o devedor para honrar a dívida dentro de um curto período de tempo (uma ou duas semanas), caso não ocorra situações mais graves poderão ser acionadas, como medidas de cobrança extrajudicial ou até mesmo judicial.

Etapa 2: encerrar o fornecimento ao cliente devedor. Pode-se também contatar o fi ador para comunicar a situação de inadimplemento do cliente.

Etapa 3: caso nenhuma das ações das etapas anteriores tenham tido sucesso, e não se estabeleceu um plano de negociação, a divulgação do débito junto ao mercado pode pressionar o devedor a entrar em contato e estabelecer este canal. Isto pode ocorrer junto a órgãos especializados de proteção de crédito, por exemplo.

Etapa 4: estabelecer um contato direto com o devedor, presencialmente, de modo que este possa iniciar um processo de negociação.

Etapa 5: acionar a assessoria jurídica para que estabeleça um processo de negociação administrativa do débito e informando que caso não ocorra, medidas extrajudiciais e judiciais serão acionadas. Apesar de já informado via correspondência, o contato de uma assessoria jurídica já demonstrará ao devedor que um processo jurídico está sendo montado.

Etapa 6: realizar cobrança extrajudicial via cartório de protestos.

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NEGOCIAÇÃO COM BANCOS, CREDORES E DEVEDORES Capítulo 5

Etapa 7: realizar a execução do colateral (garantia) e executar o fi ador, quando houver.

Etapa 8: realizar outras ações judiciais de cobrança, pedidos de concordata etc.

O Sebrae (2016b) afi rma que é importante estabelecer um prazo hábil para cada etapa, com o intuito de que o devedor possa fazer contato e estabelecer um canal de negociação da dívida, evitando medidas mais drásticas e recuperando um cliente em potencial.

Em alguns casos, a ausência de garantia ou fi ador fará com que o empresário seja mais propenso a aceitar acordos mais brandos, com a retomada de mercadorias, ou parte destas, ou ainda abrindo mão de juros ou até mesmo parte da dívida.

Atividade de Estudos:

1) Qual a importância do controle contínuo dos devedores para o planejamento fi nanceiro da empresa. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Algumas ConsideraçÕes Neste capítulo entramos em um assunto diferente de todos vistos até aqui

na nossa disciplina de planejamento e controle fi nanceiro: inadimplência e negociação.

Começamos entendendo o conceito de crédito, para o qual buscamos sempre utilizar aquele conceito mais ampliado que não seja um sinônimo direto de fi nanciamento bancário, pois podemos também nos fi nanciar com clientes (recebendo pagamentos antecipados) ou fornecedores (postergando pagamentos). Aqui o conceito utilizado para crédito foi aquele relacionado a receber um produto

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

ou serviço referente a uma negociação sem dar a contrapartida em recursos devida, de forma imediata. Quando falamos em nos fi nanciarmos com clientes, o conceito é o de receber o recurso, sem entregar a contrapartida em produtos e serviços.

Verifi camos que a política de crédito infl uencia o volume de vendas, mas traz consigo um risco de não recebimento dos recursos, ou seja, pode ocorrer de não termos os recursos previstos na data planejada, e isto precisa estar embutido na precifi cação das vendas a prazo, esse custo fi nanceiro de fornecer crédito aos clientes precisa ser computado no preço de venda.

Para reduzirmos os riscos com as vendas realizadas a prazo é preciso realizar uma análise criteriosa do tomador deste benefício. Basicamente, deve-se analisar os 6 Cs do crédito: Caráter, Capacidade, Capital, Condições, Colateral e Conglomerado.

Toda essa análise é uma forma de prevenir a inadimplência, um descumprimento do contrato no tocante a desconformidade entre a necessidade de pagamento dos valores contratados na data acordada.

Cabe destacar que a inadimplência pode atingir tanto os clientes quanto a empresa, e quando ocorre dentro de casa é importante entender a natureza da dívida, entender o motivo da falta de recursos e negociar a dívida, tanto com credores tradicionais quanto com os bancos, que são um tipo de credor específi co e especializado, para o qual é preciso estar preparado para negociar, utilizando-se de estimativas para demonstrar a falta de capacidade e capital para suportar a dívida atual e como ela poderia ser melhor absorvida em uma renegociação.

Por fi m, verifi camos a necessidade de negociar com devedores, identifi cando a necessidade de um plano de cobrança bem estabelecido, que permita uma notifi cação de ações com reforço de cobrança de forma gradual, indo de uma simples notifi cação a uma execução judicial, sem perder de vista as oportunidades de construção de acordos amigáveis ao longo do caminho.

No próximo capítulo, abordaremos um tema bastante novo, que é o uso de moedas virtuais em pequenos negócios, conhecendo as oportunidades e também os riscos presentes neste modelo de negócio.

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NEGOCIAÇÃO COM BANCOS, CREDORES E DEVEDORES Capítulo 5

ReFerÊnciasANTONIK, L. R. Empreendedorismo: gestão fi nanceira para micro e pequenas empresas. São Paulo: Elsevier, 2016.

MAIA, A. S. R. Inadimplência e recuperação de créditos. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Administração, programa de Pós-Graduação em Administração, Londrina, 2007.

SEBRAE. Renegocie o pagamento de empréstimos. 2018. Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/renegocie-o-pagamento-de-emprestimos,7a2d6354c2985410VgnVCM1000003b74010aRCRD>. Acesso em: 15 fev. 2018.

SEBRAE. Entendendo e Negociando suas Dívidas. 2016a. Disponível em: <http://www.bibliotecas.sebrae.com.br/bis/download.zhtml?t=D&uid=e291c76f4ae0136535c0b57fd1f379f3>. Acesso em: 15 fev. 2018.

SEBRAE. Política de Cobrança e controle da inadimplência. 2016b. Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/politica-de-cobranca-e-controle-da-inadimplencia,91ac438af1c92410VgnVCM100000b272010aRCRD>. Acesso em: 15 fev. 2017.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

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CAPÍTULO 6

Novas Moedas: Riscos e Oportunidades Para Pequenas Empresas

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem:

Conhecer o conceito de moedas.

Identifi car novas moedas que podem ser aplicadas a micro e pequenos negócios.

Avaliar os benefícios do uso de novas moedas para micro e pequenas empresas.

Analisar os riscos advindos do uso de novas moedas.

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NOVAS MOEDAS: RISCOS E OPORTUNIDADES PARA PEQUENAS EMPRESAS

Capítulo 6

ContextualiZaçãoComo vimos no Capítulo 1, a área de fi nanças se entrelaça com diversas

outras áreas de estudos, sendo a área de economia e contabilidade aquelas com afi nidades mais tradicionais e presentes na maioria das bibliografi as que trabalham sobre o tema. Ao longo da nossa disciplina fomos tratando a área de fi nanças como uma instituição, que precisa demonstrar certa tradição nas suas ações, de modo que possam se medir os resultados da companhia com confi abilidade e solidez. Estes preceitos são muito importantes para a gestão da empresa e podemos dizer que eles são fundamentos do estudo de fi nanças.

Se você já praticou algum treinamento sistematizado para algum tipo de esporte, como futebol, vôlei ou tênis, sabe que os treinos iniciam com a prática dos fundamentos, aqueles movimentos que são essenciais para movimentos e jogadas mais elaboradas. Assim, trabalhamos o planejamento fi nanceiro nesta disciplina, iniciamos com fundamentos e agora no fi nal compreenderemos temas mais ousados. É nesse contexto que entramos no campo das novas moedas e sua aplicação em pequenos negócios. Esse tema pertence à área de fi nanças, mas pode ser também uma sobreposição com a área de marketing, por exemplo. Só por este fator, podemos afi rmar que estamos cruzando as fronteiras tradicionais do estudo de fi nanças. Vamos dar um passo ainda maior quando tratarmos sobre moedas virtuais, pois entraremos no campo da tecnologia da informação e como o uso de moedas não reguladas pode impactar nos pequenos negócios.

A moeda tradicional é a base das negociações entre empresas e seus consumidores e para compreendermos como o uso de novas moedas pode afetar os pequenos negócios, vamos iniciar nossos estudos com um resgate sobre o surgimento desse veículo de transação comercial tradicional. Bons estudos!

Origem e Evolução do DinHeiroA moeda, como hoje a conhecemos, é o resultado de uma longa evolução. No

início, não havia moeda, as pessoas produziam coisas somente para o seu próprio sustento, como arroz, feijão e outras mercadorias. Até chegarmos na moeda que conhecemos, a sociedade passou por um longo processo de desenvolvimento e evolução, conforme é apresentado a seguir.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

a) Escambo

O Banco Central do Brasil (s.d.) afi rma que a moeda tradicional, que utilizamos hoje no nosso cotidiano, é fruto de uma longa evolução. No início da nossa sociedade organizada utilizava-se o escambo, troca de mercadorias, que não possuíam uma equivalência de valor. As trocas se davam pelo excedente de produtos que cada indivíduo ou família produzia ou extraía. Por exemplo, para quem pescasse mais peixes do que o necessário para sua alimentação poderia trocar por arroz ou feijão. O Banco Central do Brasil (s.d.) afi rma que algumas mercadorias passaram a ser mais procuradas do que outras e estas passaram então a ter uma função de moeda, seria a moeda-mercadoria. Exemplos de moeda-mercadoria: gado, sal, café, entre outros.

Uma curiosidade interessante é que estas moedas deixaram suas referências na origem de algumas palavras até hoje utilizadas quando nos referimos a dinheiro. Segundo o Banco Central do Brasil (s.d.), o salário tem origem na moeda mercadoria sal, que era trocada por serviços prestados na Roma Antiga. Pecúnio (dinheiro) e pecúlio (riqueza acumulada) são derivados do latim pecus, que se refere ao gado. Já a palavra capital, deriva do latim capta, que signifi ca cabeça, em referência às cabeças de gado.

Com o passar do tempo, segundo o Banco Central do Brasil (s.d.), os volumes de negócios passaram a fi car maiores e então a moeda-mercadoria passou a trazer alguns inconvenientes, como o fato de ser perecível, difi cultando o acúmulo de riquezas.

b) Metal

A partir do momento em que o homem descobriu o metal, este passou a utilizá-lo nas suas aplicações cotidianas, como a forja de armas e utensílios domésticos. Segundo o Banco Central do Brasil (s.d., p. 1), por satisfazer os padrões de “entesouramento, divisibilidade, raridade, facilidade de transporte e beleza, o metal se elegeu como principal padrão de valor”. Então, o metal começou a ser trocado sobre as mais variadas formas, como joias, in natura, na forma de utensílios etc.

Para uma transação comercial, utilizando-se os metais em formatos variados, era necessária uma aferição, uma comprovação do grau de pureza e do peso de material dado em troca, para então atribuir o seu valor.

Uma nova evolução ocorreu com a padronização da forma de apresentação do metal, com um peso específi co e uma marca indicativa de valor que permitia identifi car também quem havia emitido esse metal-moeda.

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NOVAS MOEDAS: RISCOS E OPORTUNIDADES PARA PEQUENAS EMPRESAS

Capítulo 6

No início, as moedas tiveram formas de réplica de utensílios, como faca e chave, por exemplo, estas eram encontradas no Oriente Médio. O talento, segundo o Banco Central do Brasil (s.d.), era uma moeda de cobre, que possuía o formato de pele de animal, com circulação na Grécia e em Chipre.

c) Moeda tradicional

Segundo o Banco Central do Brasil (s.d.), a moeda nos formatos mais próximos dos que circulam atualmente só foram surgir a partir de século VII a.c. Eram pequenos objetos de metal, com peso e valor padronizados, identifi cando o emissor, que garantiria o valor da moeda.

Na Grécia, eram produzidas moedas de prata, e na Lídia um lingote oval com ouro e prata, que era denominado eletro.

Na época, o processo de cunhagem de uma moeda era totalmente manual e arcaico, fazendo com que as moedas não tivessem uma padronização na sua forma.

Até o século XIX, as moedas eram cunhadas em materiais preciosos, como ouro e prata, seu valor equivalia e era intrínseco. Assim, segundo o Banco Central do Brasil (s.d., p. 2) “uma moeda na qual haviam sido utilizados vinte gramas de ouro, era trocada por mercadorias deste mesmo valor”.

Ao fi nal do século XIX, as moedas passaram a ser cunhadas de outros metais, e seus valores passaram a representar o valor determinado em sua face, não guardando mais referência ao material em que era produzida.

d) Moeda de papel

Segundo o Banco Central do Brasil (s.d.), na Idade Média, era comum as pessoas armazenarem suas riquezas com ourives e este, como forma de garantia, lhes atribuía um recibo. Este recibo passou, então, a circular como forma de pagamento e passaram a exercer a função de moeda. No país, segundo o Banco Central do Brasil (s.d.), os primeiros bilhetes que foram negociados foram emitidos pelo Banco do Brasil, em 1810, e possuíam grafados à mão o seu valor comercial, assim como as conhecidas folhas de cheques. Com o passar do tempo, os governos assumiram o controle de emissão de cédulas e moedas para coibir a falsifi cação e garantindo o poder de pagamento. Os Bancos Centrais assumem este papel na imensa maioria das nações.

Com o passar do tempo, os governos

assumiram o controle de emissão

de cédulas e moedas para coibir

a falsifi cação e garantindo o poder de pagamento. Os Bancos Centrais

assumem este papel na imensa maioria

das nações.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

e) Sistema Monetário

O sistema monetário, segundo o Banco Central do Brasil (s.d., p. 3), refere-se à forma de organização das moedas de um determinado país: “o conjunto de cédulas e moedas utilizadas por um país forma o seu sistema monetário”. Existe uma regulação própria que rege este sistema e ele é baseado em uma legislação específi ca.

Conheça maiores detalhes do sistema monetário atual do país, acessando o link: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9069.htm>.

O Banco Central do Brasil afi rma que praticamente todas as nações utilizam-se como menor unidade divisional da moeda o centésimo, no qual a menor unidade monetária em circulação equivale a um centésimo da sua unidade de valor. Assim, no Brasil, a unidade monetária corresponde ao real, e a menor unidade em circulação é a moeda de um centavo, correspondente a um centésimo do valor de um real.

Costuma-se aplicar os maiores valores em cédulas e os menores valores em moedas. A tendência é de que as necessidades diárias dos estabelecimentos comerciais, sobretudo os pequenos negócios, sejam mais volumosas em moedas, haja vista que estas possuem uma durabilidade muito maior do que as cédulas. Assim, para pequenos negócios, as moedas em metal representam uma unidade monetária bastante importante na operação fi nanceira do caixa dos comércios em geral.

f) Moeda Bancária - Cheques

Existe uma moeda denominada moeda bancária, também denominada de moeda escritural, os tradicionais cheques aos quais estamos habituados a conviver no comércio. Esta moeda corresponde, segundo o Banco Central do Brasil (s.d.), a depósitos à vista e substituem as cédulas e as moedas. Apesar de costumeiros, os cheques pré-datados são uma inovação não reconhecida pelos bancos, apesar de ser frequente a sua menção em disputas com órgãos de proteção ao crédito. Na essência, o cheque equivale a um depósito à vista.

Os bancos, geralmente, fornecem folhas de cheques aos seus correntistas de modo que estes possam emiti-los nos valores desejados para realizar

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NOVAS MOEDAS: RISCOS E OPORTUNIDADES PARA PEQUENAS EMPRESAS

Capítulo 6

pagamentos que serão compensados, confrontando o saldo de conta com o valor escriturado no cheque.

O Banco Central do Brasil (s.d.) afi rma que os cheques possuem como vantagens a facilidade de movimentar grandes quantias, sem a necessidade de saques de valores em espécie, economizando tempo e evitando furtos de valores.

O uso do cheque pode cair em descrédito devido às garantias de existência de fundos para quitar a promessa de compra ou saque na conta corrente do emissor, seria o temor pelo conhecido cheque sem fundos. Para o Banco Central do Brasil (s.d., p. 4) “os benefícios propiciados pelo uso do cheque só são possíveis onde leis rigorosas punem os emitentes de cheques sem fundos, amparando, assim, sua circulação”.

g) Cartões de crédito e débito

Um outro substituto das moedas em cédulas são cartões de plástico, emitidos por instituições fi nanceiras, bancos e estabelecimentos comerciais. Estes cartões possuem uma sequência numérica que identifi cam o pagador, e através de uma senha, ou código de verifi cação é possível que seus proprietários possam realizar compras ou pagamentos, e assumindo um compromisso com o pagamento deste valor em data futura, junto à instituição que emite o cartão, ou seja, o comerciante recebe o dinheiro em um curto espaço de tempo, em um ou dois dias, e o cliente possuirá um prazo para pagar que pode variar de alguns dias a até mais de um mês, normalmente.

O comerciante paga um pequeno percentual pela utilização deste serviço e o cliente poderá pagar anuidade pelo uso do cartão. Alguns emissores fornecem descontos progressivos para alguns clientes em função dos volumes de transação realizados no cartão de crédito. Um dos maiores benefícios do uso do cartão de crédito é a possibilidade de realizar transações diretamente pela internet. Cartões de débito possuem uma funcionalidade parecida com os cartões de crédito e sua diferença principal é que o valor é diretamente debitado da conta corrente do usuário, o que diminui alguns riscos para o lojista e a entidade emissora do cartão, neste caso, normalmente os bancos tradicionais. Segundo o Banco Central do Brasil (s.d.), existem algumas variáveis de cartões de débito, como os smartcard, que são cartões pré-pagos, no qual você paga uma fatura que adiciona crédito ao cartão e ele vai sendo consumido como se fosse um cartão de débito vinculado a uma conta corrente em um banco. Existem também os cartões pré-pagos a serem utilizados em viagens internacionais, nos quais são creditados valores na moeda corrente do país ao qual o viajante se destina.O Banco Central do Brasil (s.d., p. 5) afi rma que:

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

[...] o dinheiro, seja em que forma se apresente, não vale por si, mas pelas mercadorias e serviços que pode comprar. É uma espécie de título que dá a sua portadora faculdade de se considerar credor da sociedade e de usufruir, por meio do poder de compra, de todas as conquistas do homem moderno.

Assim, a evolução do dinheiro tradicional, na forma que o conhecemos

na sua essência, evoluiu conforme a nossa abordagem até aqui. No entanto, atualmente estamos vivenciando uma nova etapa, uma quebra de paradigma com o surgimento de novas moedas, as quais abordaremos a seguir.

h) Novas Moedas

Academicamente, ainda estamos tão habituados ao nosso sistema fi nanceiro tradicional, que existe pouca literatura disponível sobre novas moedas e moedas virtuais. Talvez pela sua difi culdade em reconhecê-las como moedas, ou talvez seja pela novidade do tema. Não conseguimos saber com precisão. Para compreendermos este tema, realizamos pesquisas em artigos científi cos recentes e publicações de profi ssionais especializados na área, assim como em entidades internacionais e intergovernamentais de prevenção a fraudes no sistema fi nanceiro.

Para Barreto (2017), quando falamos em moedas virtuais, não necessariamente estamos falando de algo essencialmente novo. Por exemplo, um programa de pontuação no cartão de crédito pode ser considerado uma moeda virtual. Um programa de milhagem de companhias aéreas também, assim como um simples cupom de desconto.

Segundo a Financial ActionTask Force - FATF (2014) a moeda virtual é uma representação digital de um valor que pode ser negociado no universo virtual. A moeda virtual funciona como um meio de troca; e/ou uma unidade de conta; e/ou uma loja câmbio, mas não tem status de moeda legal. Quando a moeda virtual é ofertada a um determinado credor, é considerado uma oferta de pagamento válida. Uma outra característica é de que as moedas virtuais não são emitidas e nem garantidas por qualquer instituição governamental.

Esta validade das moedas virtuais ocorre por um consenso admitido entre os usuários deste tipo de moeda.

A moeda virtual se distingue da moeda tradicional, do dinheiro real, mas em alguns casos pode ser convertida neste, ou seja, em alguns casos pode-se trocar moeda virtual por dinheiro real.

Segundo a Financial ActionTask Force-

FATF (2014) a moeda virtual é uma representação digital

de um valor que pode ser negociado no universo virtual.

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NOVAS MOEDAS: RISCOS E OPORTUNIDADES PARA PEQUENAS EMPRESAS

Capítulo 6

A FATF (2014) alerta para a distinção da moeda virtual do chamado e-money, que é uma representação digital da moeda tradicional utilizada para transferir dados eletronicamente denominados em moeda tradicional.

Assim, podemos verifi car alguns elementos novos na moeda virtual, um deles é a ausência de um controle de emissão e circulação por parte de uma entidade controladora do sistema fi nanceiro nacional, ou seja, nas moedas virtuais não existe um banco central dando garantias de que aquela moeda virtual poderá ser aceita em determinadas transações nem a sua equivalência de valor e muito menos a sua autenticidade.

A FATF - Financial ActionTask Force -, ou força tarefa de ação fi nanceira, numa tradução literal é um órgão intergovernamental criado em 1989 pelos ministros de seus estados membros, dos quais o Brasil é um destes. Os objetivos da FATF é estabelecer padrões e promover a implementação efetiva de medidas legais, regulamentares e operacionais para combater lavagem de dinheiro, o fi nanciamento do terrorismo e outras ameaças relacionadas à integridade do sistema fi nanceiro internacional. Conheça mais sobre o trabalho realizado pela FATF, através do link: <http://www.fatf-gafi .org/home/>.

Segundo a FATF (2014), há dois tipos básicos de moedas virtuais, aquelas conversíveis e aquelas não conversíveis:

• Moedas virtuais conversíveis: este tipo de moeda corresponde àquelas para as quais há um mercado ativo, ou seja, alguém que oferta dinheiro real e outra pessoa que aceita vender a moeda. Veja que, como não há uma regulação, uma obrigação de venda, o mercado deve ser recíproco, deve existir tanto pessoas desejando a compra da moeda quanto pessoas aceitando vendê-las. Um exemplo bastante recente deste tipo de moeda virtual conversível é o bitcoin, o qual vamos explorar mais à frente com maiores detalhes.

• Moedas virtuais não conversíveis: estas moedas foram criadas para serem utilizadas em ambientes específi cos, em comunidades virtuais defi nidas. Assim, não há permissão pelo emissor para a conversão destas moedas em dinheiro real, e caso isso ocorra é comum a previsão

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

de punições para quem realizou a venda. FATF (2014) alerta que mesmo que algumas moedas virtuais não sejam conversíveis, é comum que ocorra a existência de uma espécie de mercado paralelo, no qual estas moedas são transacionadas. Este é um caso típico dos programas de milhagens de companhias aéreas, nos quais há um ambiente específi co para aquisição e acumulação de pontos (milhas), os quais podem ser trocados por passagens aéreas ou então por produtos específi cos em redes comerciais parceiras.

Ainda segundo o FATF (2014), as moedas virtuais podem ser centralizadas ou não centralizadas.

As moedas virtuais não conversíveis são todas centralizadas: isto ocorre pela sua defi nição, pois existe um emissor central que estabelece regras que as tornam não conversíveis. Em contrapartida, as moedas virtuais conversíveis podem ser tanto centralizadas ou descentralizadas.

• Moedas virtuais centralizadas: as moedas virtuais centralizadas possuem uma única autoridade de administração, isto é, um terceiro que coordena todo o sistema. Um administrador emite a moeda, estabelece as regras para seu uso, mantém um livro-razão de pagamento central e tem autoridade para retirar a moeda de circulação. A taxa de câmbio de uma moeda virtual conversível pode ser fl utuante, ou seja, determinada pela oferta e demanda do mercado para a moeda virtual - ou vinculada - ou seja, fi xada pelo administrador em um valor fi xo medido em moeda real. Atualmente, a maioria das transações de pagamentos em moeda virtual envolvem moedas virtuais centralizadas. Exemplos: reservas de bilhetes aéreos com pontos de milhagem, reserva de hotel ou pagamento de combustível com pontos do cartão de crédito.

• Moedas virtuais descentralizadas: estes são tipos específi cos de moedas virtuais não tão usuais nas transações comerciais. As moedas virtuais descentralizadas são distribuídas ponto a ponto e baseadas em programas matemáticos que não possuem autoridade central de administração e nenhum monitoramento ou supervisão central. Um exemplo deste tipo de moeda é o bitcoin.

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NOVAS MOEDAS: RISCOS E OPORTUNIDADES PARA PEQUENAS EMPRESAS

Capítulo 6

Quando se fala em moedas virtuais, ou moedas digitais, especifi camente as criptomoedas (bitcoin, por exemplo), você poderá se deparar com o termo peer-to-peer, ou ponto-a-ponto, esta é uma arquitetura de rede de computadores na qual há comunicação direta entre dois computadores, sem a necessidade de um servidor central, e tanto um ponto quanto outro da rede enviam e recebem informações.

O Quadro 22 resume a taxonomia adotada pela FATF (2014) para conceituar as moedas virtuais.

Quadro 22 – Taxonomia de moedas virtuais

Centralizada Descentralizada

Conversível

Possui administrador central, comer-cialização; existe terceiro que valida as operações; pode ser

trocado por moeda real.

Exemplo: Second Life Linden Dollars.

Usuários (não administrador); não existe terceiro que valida as operações; pode ser trocado por moeda fi duciária.

Exemplo: Bitcoin.

Não Conversível

Administrador centralizado não con-versível, existe terceiro que valida as operações; não pode ser trocado por moeda real.

Exemplo: Programas de pontos de companhias aéreas.

Não existe.

Fonte: Adaptado de FATF (2014, p. 8).

Taxonomia: taxonomia é uma ciência de classifi cação. Esse termo vem das ciências naturais, onde existe uma constante busca por classifi cação, descrição e catalogação de espécies de seres vivos.

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i) Exemplos de Moeda Virtual

Segundo Barreto (2017), temos uma diversidade de tipos de moedas virtuais e pelas suas características podemos classifi cá-las conforme suas propriedades de conversibilidade e centralização.

Uma característica intrínseca das moedas virtuais, como o FATF (2014) descreve, é o fato de não serem emitidas por um agente governamental e serem aceitas em um ambiente virtual como um tipo de pagamento válido. Barreto (2017) traz alguns exemplos de moedas virtuais, as quais vamos descrever com mais detalhes:

• Moedas virtuais vinculadas a jogos eletrônicos

Este tipo de moeda virtual é bastante conhecido do público jovem e com afi nidade com a tecnologia - jogos eletrônicos para ser mais preciso. Uma moeda muito citada em periódicos científi cos é o Second Life Linden Dollars. Second Life é uma plataforma virtual em terceira dimensão na qual os jogadores simulam diversos aspectos da sua vida em um ambiente virtual e utilizam uma moeda virtual, Second Life Linden Dollars, para realizar transações unicamente nesta plataforma. O Second Life Linden Dollars possui um equivalente em moeda real e pode ser convertido pelo usuário do programa. No entanto, essa não é uma regra para moedas virtuais vinculadas a jogos eletrônicos. Segundo a FATF (2014), as moedas podem ser não conversíveis, como a World of Warcraft Gold. Uma característica destas moedas é a de centralização, pois são emitidas e controladas por um único administrador, geralmente o fabricante do referido software computacional.

Esse tipo de moeda pode ser adquirido diretamente pelos usuários dos jogos eletrônicos na plataforma ou ser recebido por recompensa em atividades exercidas dentro do próprio jogo. A conversibilidade auxilia no atrativo para compra da moeda, pois o usuário poderá revertê-la em moeda real caso desista de utilizá-los na plataforma virtual, contudo, há sempre uma taxa de câmbio na conversão, tanto para compra, quanto para venda.

• Programas de recompensa ou fi delidade

Mariotto (2015, p. 39) afi rma que “os Programas de Fidelidade são esquemas estruturados pelas empresas permitindo a concessão de benefícios de forma sistemática ao cliente”. Os benefícios identifi cáveis pelo usuário dos programas de fi delidade são os descontos ou prêmios, mas também existem as sensações de status, participação de um grupo social, agradecimento e reciprocidade.

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NOVAS MOEDAS: RISCOS E OPORTUNIDADES PARA PEQUENAS EMPRESAS

Capítulo 6

Quando se fala em moeda virtual, um dos tipos de programa de fi delidade utilizados como exemplo por Barreto (2017) são os programas de milhas aéreas. Esse tipo de programa de fi delidade surgiu junto às companhias de aviação, que premiam seus usuários pela fi delidade em voar sempre com a mesma companhia aérea. Assim, ao conquistar determinada quantidade de milhas, que pode variar conforme a distância viajada e/ou o valor das passagens adquiridas, o usuário poderá resgatar passagens aéreas ou trocar este valor equivalente por produtos ofertados em lojas parceiras. Com o passar do tempo, as empresas emissoras de cartão de crédito passaram a fi rmar parcerias com as companhias aéreas, e utilizaram sistema de pontuação que pode ser convertido em milhas dos programas parceiros, visando também fi delizar e estimular o uso de seu produto. De forma mais recente, variados programas de fi delidade passaram a fi rmar parcerias e a intercambiar milhas, como redes de postos de combustível, grupos hoteleiros e grandes redes de varejo. Surgiram também programas de pontuação independentes, que fazem aquisição de passagens aéreas diretamente, sem vinculação com uma companhia específi ca, sendo que alguns destes permitem transferir pontos em programas de milhagens vinculados a companhias aéreas.

“A recompensa é um fator importante dentro de um programa de fi delidade. O programa que conduz o cliente mais frequentemente ao resgate de recompensas aumenta sua atratividade” (NUNES; DRÈZE, 2006 apud MARIOTTO, 2015, p. 41). Dowling e Uncles (1997 apud MARIOTTO, 2015) categorizaram as recompensas em diretas e indiretas. As diretas referem-se àquelas que têm relação com o produto comercializado. Assim, uma cafeteria que possui programa de fi delidade que permite ao cliente acumular a quantidade de cafés que ele consome no mês, gerando um café bônus para cada dez consumidos, está fornecendo uma recompensa direta. Já para programas que fornecem outros tipos de resgates, como aqueles não relacionados ao produto ofertado pela empresa, fornecem recompensas indiretas, como é o caso de uma rede de postos de combustíveis que fornece ingressos de espetáculos quando o cliente atingir um determinado volume de abastecimentos. Dowling e Uncles (1997 apud MARIOTTO, 2015), afi rmam que os benefícios diretos costumam gerar uma fi delidade maior do cliente com a marca.

Mariotto (2015) ainda afi rma que as recompensas podem ser imediatas, em que o cliente tem acesso ao benefício no momento da compra, ou ainda a prazo, quando é preciso um decurso de tempo para que o cliente possa ter direito ao benefício. O Quadro 23 ilustra estes tipos de recompensa.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Quadro 23 – Esquemas de tipos recompensa

Fonte: Downling e Uncles (1997 apud MARIOTTO 2015, p. 42).

Estes programas de fi delidade possuem como característica principal o fato de serem centralizados, ou seja, possuírem um único administrador que controla suas regras e não permitirem a conversão direta em moeda real, mas em contrapartida, são aceitos como forma de pagamento válida em uma variedade de lojas e serviços.

Geralmente há algum tipo de punição para quem efetuar a venda deste tipo de moeda virtual em um mercado paralelo, mas que é bastante ativo e de certa maneira, formalizado. A questão aqui é ausência do Estado na garantia e regulação desta moeda virtual, portanto, para que haja uma punição do usuário, existe a necessidade de mover processos administrativos ou judiciais, embasados em provas etc. que movimentaria uma atividade organizada de fi scalização privada dos atos e registros de transações comerciais entre particulares, o que pode até eventualmente ser realizado, mas

de forma mais exemplar do que rotineira, haja vista o tamanho deste mercado e a existência de um mercado paralelo relativamente estruturado.

• Criptomoedas

FATF (2014) afi rma que criptomoeda refere-se a uma moeda virtual conversível descentralizada baseada em matemática que é protegida pela criptografi a. Esta moeda virtual incorpora princípios de criptografi a para implementar uma economia de informação distribuída, descentralizada e segura. A criptomoeda confi a em chaves públicas e privadas para transferir valor de uma pessoa (pessoa física ou jurídica) para outra, e deve ser criptografi camente assinada cada vez que é transferida.

Estes programas de fi delidade possuem como característica principal o fato de

serem centralizados, ou seja, possuírem

um único administrador que

controla suas regras e não permitirem a

conversão direta em moeda real, mas em contrapartida, são

aceitos como forma de pagamento válida em uma variedade de lojas e serviços.

Imediata A prazo

Apoia diretamente à proposta de valor do produto

Outros tipos de recompensa indireta

Tipo de Recompensa

Prazo para a Recompensa

Promoções deMarca/Vendas doFabricante

Exemplo: Promoçõesde preço, descontos

Competições e Loterias

Exemplo: "raspadinhas"

Clubes de Cias Aéreas para frequent-fl yers,Cupons e Tokens

Exemplos: Programa"Tudo Azul" da Cia Aérea Azul

Programas multiprodutos

Exemplos: Multiplus,Smiles, Netpoints, Dotz, FlyBuys na Austrália.

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NOVAS MOEDAS: RISCOS E OPORTUNIDADES PARA PEQUENAS EMPRESAS

Capítulo 6

Quando falamos em criptomoedas, estamos entrando em um mundo completamente novo, numa moeda verdadeiramente virtual. Ela é totalmente conversível, contudo, descentralizada. Não existe um único emissor, pois as transações realizadas são verifi cadas de forma desfragmentada, utilizando-se uma rede ponto a ponto, ou seja, sem passar por um servidor centralizado, com o crivo de seu emissor.

Segundo Boff e Ferreira (2015), em 2009, um artigo formulado por um autor ou grupo de autores, não se sabe ao certo, deu origem ao conceito de Bitcoin. Neste paper, foi introduzida a ideia de uma tecnologia de rede ponto a ponto para ser a base de um sistema monetário eletrônico, através dos quais duas partes realizariam transações sem a necessidade de uma terceira para conceder a validade da transação. De imediato, este artigo desalojou o Estado e uma série de instituições fi nanceiras intermediárias para dar segurança e credibilidade à transação, reduzindo seus custos.

A arquitetura do Bitcoin é complexa se pensarmos enquanto estrutura de um sistema fi nanceiro, mas os usuários geralmente não se atêm a isso no dia a dia quando falamos em transações fi nanceiras tradicionais, que envolve um sistema fi nanceiro, cartões de crédito, sistemas de compensação e taxas de administração e operação embutidas.

De fato, o sistema de Bitcoin é muito inovador e um exemplo disto é o fato de que ele é gerado automaticamente e segundo o FATF (2014, p. 5) “está limitado a 21 milhões de bitcoins (mas cada unidade poderia ser dividida em partes menores), que deverá ser atingido até 2140. Em 2 de abril de 2014, havia mais de 12 milhões e meio de bitcoins, com um valor total de pouco mais de US $ 5,5 bilhões, com base na taxa média de câmbio nessa data”.

Segundo Boff e Ferreira (2015), esta questão de ser autolimitado simula uma escassez e aproxima o bitcoin ao comércio de metais preciosos, como o ouro.

A lógica por trás do bitcoin está na rede de computadores realizada ponto a ponto, sem a necessidade de um servidor central que armazene e gerencie todas as informações. Essa rede funciona como um mosaico, no qual cada informação está em um ponto da rede, fragmentada, e existe um determinado código que pode juntar, buscar, cada fragmento da rede em pontos distintos para montar a informação necessária. É como se para formar a palavra “dinheiro” eu tivesse que buscar cada letra em 7 computadores diferentes, cada um armazenaria uma letra, e tivesse um código que me informasse em quais endereços de computadores eu poderia buscar cada letra e qual a sequência a ser utilizada. Deste modo, todos os usuários da rede poderiam acessar a palavra, pois ela estaria acessível a todos, mas de fato, nenhum dos usuários a teria por completo, nenhum seria dono da palavra inteira, somente de uma parte.

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Nessa lógica, cada transação é verifi cada por um grupo de usuários denominados de mineradores, os quais atribuem a cada transação um código que pode ser verifi cado por todos os usuários do sistema. Estes mineradores recebem uma quantidade de bitcoins por cada transação realizada, mas esta não é descontada da transação comercial realizada, e sim da emissão de novos bitcoins, ao menos até se emitirem todos os 21 milhões de bitcoins.

Boff e Ferreira (2015) trazem um exemplo bastante elucidativo, que nos permite verifi car a diferença entre uma transação realizada com moeda real e outra realizada com bitcoins. Os autores citam como exemplo a compra de um simples café em uma padaria, a qual poderia ser realizada com um cartão de crédito. Nessa transação tão tradicional para o nosso dia a dia, apenas visualizamos o lançamento de um débito a ser quitado em data futura, no vencimento da próxima fatura do cartão, e para o vendedor, fi ca o registro lançado junto à administradora do cartão com a promessa de pagamento em alguns dias úteis, se tudo correr conforme a normalidade. Para começarmos a destrinchar o que está por trás desta operação é preciso esclarecer que o cliente pagou R$ 5,00 e o proprietário da padaria recebeu R$ 4,75, haja vista que a administradora do cartão cobra 5% referente aos custos de administração, que envolve checar e avaliar a veracidade do crédito lançado na fatura do cliente. Fora isso, temos o fato de o cliente e o proprietário da padaria estarem vinculados a um banco, cobrando e exigindo taxas e cadastros diversos. Outro fator relevante nesta transação é que uma série de instituições (públicas e privadas) possuem acesso às transações realizadas. Se a mesma compra fosse realizada com bitcoins, bastaria que o proprietário e o cliente possuíssem um aplicativo instalado no smartphone, o qual faria a leitura de um código no aparelho do cliente, desbloqueando o acesso à quantia de bitcoins referente ao café Esta operação seria disponibilizada publicamente, mas sem revelar o cliente e o comprador, para ser validada pelos mineradores, que até em uma hora fariam a validação da transação e transfeririam os bitcoins para a carteira virtual do proprietário, sem a necessidade de qualquer intermediário.

Atividades de Estudos:

1) O uso de moedas virtuais vem se expandindo nos últimos anos, qual a principal inovação que a diferencia das moedas tradicionais? Explique. ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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2) Qual as diferenças entre uma moeda virtual como milhas de programas de fi delidade e uma criptomoeda? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

j) Vantagens do uso de moedas virtuais

Barreto (2017) afi rma que o uso de moedas virtuais podem trazer inúmeras vantagens, sendo que aquelas relacionadas à redução e, em alguns casos, a eliminação dos custos de transação entre os intermediários que fornecem e verifi cam a veracidade das transações é uma delas. Essas vantagens estão mais presentes com relação às criptomoedas, pois possuem claramente este propósito, o de fornecer anonimato nas transações e realizá-las com uma verifi cação de veracidade colaborativa.

Para as moedas vinculadas a jogos eletrônicos e programas de fi delidade, esta vantagem é parcial, uma vez que as transações realizadas possuem uma identifi cação por parte do administrador central. Algumas destas moedas, como as vinculadas a jogos eletrônicos, podem cobrar uma taxa de administração, explorando um fi lão do sistema fi nanceiro tradicional. Para a empresa, esta é uma vantagem, já para os usuários, uma desvantagem. A fi delização do cliente nos programas de recompensa é outra vantagem adicional.

Usar uma moeda virtual também elimina a necessidade de transporte de numerários e reduz o tempo de efetivação da transação. O armazenamento e transporte de valores é hoje uma preocupação tanto dos comércios quanto das empresas transportadoras, uma vez que existe uma crescente criminalização que atua, em pequena escala, furtando estabelecimentos comerciais e, em grande escala, com assaltos a veículos de transporte de valores.

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A emissão de cédulas tradicionais possui um custo de impressão, além de que a emissão de dinheiro adicional gera infl ação. Ao disponibilizar mais recursos em circulação há maior demanda pelo consumo e a demanda elevada aumentam os preços, gerando então a infl ação. No caso das criptomoedas, o risco de gerar infl ação é nulo, já que elas não estão atreladas a um sistema fi nanceiro tradicional.

Uma outra questão que pode ser vantajosa na aceitação de moedas eletrônicas é o fato de se tratar de uma inovação, e pode ter um apelo comercial se o negócio em questão tiver ligado a um público inovador e com afi nidade tecnológica. Segundo Boff e Ferreira (2015), mais de 82 mil comerciantes no mundo já aceitam o Bitcoin como forma de pagamento. Se levarmos em consideração as parcerias com programas de recompensa, o número de estabelecimentos comerciais que utilizam moedas virtuais pode crescer exponencialmente.

Há, no entanto, uma série de riscos que precisam ser levados em consideração na utilização destas novas moedas.

k) Riscos do uso de moedas virtuais

As características das moedas virtuais também falam muito no momento de ponderar os seus riscos. As moedas virtuais centralizadas, que via de regra não são conversíveis, salvo algumas exceções, dependem da atuação de seus emissores, seus administradores, para continuarem circulando e permanecerem ativas. Assim, quanto mais difundido e sólido o administrador da moeda virtual, melhor será a sua aceitação. O inverso também é verdadeiro, quanto mais restrito e frágil o administrador, menor será a sua aceitação e menor serão as chances de aplicação comercial da moeda. Isto é decorrente do fato de a moeda possuir uma representação de valor somente dentre os seus usuários, pois para todos os efeitos as moedas virtuais não existem como moeda real, e segundo Barreto (2017), elas possuem um escopo de uso limitado a um contexto específi co, ou seja, não podem ser utilizadas como meio de pagamento em qualquer tipo de produto. Moedas virtuais vinculadas a jogos eletrônicos possuem um uso mais restrito, já os programas de recompensas podem ter uma aplicação mais ampla, mas de qualquer modo, sempre limitada às parcerias preestabelecidas pelos programas, e nas condições especifi cadas.

Segundo Barreto (2017), outro risco das moedas virtuais é a baixa preocupação com segurança, uma vez que não possuem protocolos de segurança específi cos.

Mariotto (2015) afi rma que existe uma difi culdade em especifi car o retorno que os programas de fi delização trazem para as empresas que o utilizam, uma vez que o custo é certo, mas o retorno pode ser dissolvido junto a outros esforços

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de vendas, como campanhas de publicidade, descontos, dentre outros. Mariotto (2015) afi rma que os programas de fi delidade com recompensas podem ser percebidos como um entrave para o cliente, uma vez que este precisa exercer cadastros complexos, e pode ter difi culdades em resgatar seus prêmios, como no caso de acessar voos concorridos com pontuações razoáveis.

Já as moedas virtuais descentralizadas e conversíveis são tecnologias mais transparentes, contudo são relativamente novas e complexas de se entender, além de não serem reguladas e supervisionadas por autoridade monetária. O seu uso e valor como moeda depende também da aceitação de seus usuários, o que por si só deixa todo o sistema vulnerável a uma eventual crise de confi ança e uma rejeição de seu uso.

A FATF (2014) ainda alerta para o risco de usos ilícitos da moeda, como lavagem de dinheiro ou fi nanciamento de organizações criminosas, dada a difi culdade em rastrear os proprietários e as transações correspondentes.

Os riscos de uso de moedas virtuais para atividades ilícitas ou que possam lesar seus usuários têm infl amado o discurso de quem defende a sua regulamentação. Ouça o trecho do programa da rádio da Câmara Federal que expõe este dilema (clique em baixar áudio): <https://goo.gl/bV8K6F>.

Algumas ConsideraçÕes No presente capítulo fi zemos um resgate histórico da evolução do dinheiro,

da moeda, nas transações comerciais. Começamos abordando a técnica mais rudimentar de troca de mercadorias: o escambo. Ficou claro desde o início das trocas de mercadorias que algumas mercadorias possuíam mais valor do que outras e a tendência em se concentrar em algumas, como o sal, o gado e o café, por exemplo.

Com o tempo, o metal foi substituindo as demais mercadorias nas trocas comercias até serem cunhadas as primeiras moedas, que tinham o valor do material que eram forjadas. Com o tempo, as moedas passaram a ter o valor que era impresso em suas faces, em vez de o valor do produto do que eram produzidas. A partir daí para a emissão de cédulas em papel era uma questão

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de tempo e então surgiu a necessidade de centralizar o emissor, de modo que se garantisse a autenticidade das cédulas e garantissem o poder de pagamento destas. As modalidades de pagamento evoluíram, mas o papel centralizador do sistema fi nanceiro permaneceu vinculado ao Banco Central do Brasil.

Com o avançar da tecnologia, novas moedas foram surgindo, algumas como forma de rentabilizar operações, como as moedas virtuais vinculadas a programas eletrônicos (vide alguns jogos virtuais), seja como forma de fi delizar clientes, como os programas de recompensas de empresas comerciais (companhias aéreas, companhias de cartão de crédito, redes de varejo etc.) ou ainda com uma forma diretamente alternativa ao uso do dinheiro tradicional, como as criptomoedas.

Verifi camos que estas moedas se diferenciam em diversos aspectos, mas de forma bastante relevante foi possível destacar dois: a centralização da emissão e a validação e sua conversão em moeda real.

As moedas centralizadas (moedas vinculadas a programas eletrônicos e pontos de programas de recompensas) podem ou não ser conversíveis em moedas reais e as descentralizadas são plenamente conversíveis, como as criptomoedas (bitcoin).

Os benefícios do uso de moedas digitais incluem a diminuição dos custos de transação, maior confi dencialidade das operações, dispensa do transporte e armazenamento de valores em espécie, reduzindo assaltos e a criminalidade violenta.

Já os riscos incluem a necessidade de aceitação da moeda, possibilidade de uso ilícito e aplicação geralmente vinculada a um escopo específi co.

O debate pela necessidade de regulação está ganhando força e pode aumentar ainda mais na medida em que as moedas virtuais se demonstrarem como uma ameaça real de substituição da moeda real.

Chegamos ao fi m de mais um capítulo. Espero que você tenha aproveitado a oportunidade para conhecer um pouco da história de evolução das moedas, dos tempos mais remotos aos tempos atuais, incluindo as novas moedas virtuais, suas vantagens e desvantagens. Um grande abraço e até uma próxima oportunidade.

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ReFerÊnciasBANCO CENTRAL DO BRASIL. Origem e evolução do dinheiro. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/htms/origevol.asp>. Acesso em: 20 fev. 2018.

BARRETO, Luciano Porto. Moedas virtuais e digitais. Citações em documentos: apresentação. 2017. Disponível em: <https://jornalggn.com.br/sites/default/fi les/documentos/2017_04_05-moedasvirtuaisedigitais_lucianoportobarreto.pdf>. Acesso em: 22 fev. 2018.

BOFF, S. O.; FERREIRA, N. A. Análise dos benefícios sociais da bitcoin como moeda. ANUÁRIO MEXICANO DE DERECHO INTERNACIONAL, v. XVI, p. 138-159, 2016.

FATF. Virtual currencies key defi nitions and potential AML/CFT Risks. 2014. Disponível em: <http://www.fatfgafi .org/publications/methodsandtrends/documents/virtual-currency-defi nitions-amlcft-risk.html>. Acesso em: 18 fev. 2018.

MARIOTTO, Tomás. Fidelidade ao cartão de crédito em troca de milhas aéreas: um estudo empírico no mercado brasileiro. 2015. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/15069>. Acesso em: 22 mar. 2018.