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Planejamento do desenvolvimento sustentável do meio ambiente e florestas no Paraná Alex Sandro Nogueira 1 Ailson Augusto Loper 2 Blas Enrique Caballero Nuñez 3 Roberto Bruno Dammski 4 Resumo: Este trabalho tem por objetivo ampliar o alcance e difusão das propostas decorrentes da participação da sociedade paranaense no planejamento do desenvolvimento sustentável, especialmente no que se refere ao tema “Meio ambiente e Florestas”, a partir dos resultados consolidados do Fórum “Futuro 10 Paraná”. Esse evento se desenvolveu no decorrer do ano de 2005, na forma de um painel de reflexões e proposições, apresentados por mais de cinco mil líderes de todas as regiões do Estado, reunidos no Relatório Final “Consolidação - Propostas Estaduais”, agrupadas em onze temas. A coleta dessa grande manifestação da sociedade foi facilitada pelo uso do método de investigação valorativa, aplicada nos fóruns realizados nas oito regiões do Estado. O grande destaque dessa consulta refere-se ao ideal comum apresentado pela sociedade refletido na busca por uma melhor qualidade de vida, por meio das seguintes metas: desenvolvimentos econômico, social e ambiental sustentáveis. Concernente ao desenvolvimento sustentável do meio ambiente e florestas – foco deste trabalho, verificou-se que requer a implementação das seguintes propostas: conscientização, educar e capacitar, articular a gestão pública, dotar o Estado de infra-estrutura ambiental, alcançar os objetivos legais, preservar de maneira sustentável e investigar novas tecnologias. O tratamento de resíduos sólidos e o incentivo à pesquisa de fontes alternativas de energia foram objetivos bem destacados pelas lideranças do Fórum dentro do tema Meio Ambiente e Florestas. No que se refere à análise do problema, a metodologia do marco lógico permitiu elencar o aumento de emissões de gases poluentes, a utilização não sustentável de recursos naturais, a introdução e uso de espécies exóticas de maneira inadequada, a ocupação urbana desordenada e o tratamento/disposição de resíduos antrópicos inadequados, como as principais causas da degradação ambiental no estado do Paraná, bem como, o aumento de concentração de gases poluentes, a redução da biodiversidade, alteração das características físico químicas do solo e a intensificação do processo de poluição hídrica, como seus efeitos potenciais. Assim, pode-se concluir que a análise a partir do método de objetivos/meios e do marco lógico contribuem para o encaminhamento do planejamento regional do Estado do Paraná. Palavras-chave: Meio Ambiente e Florestas (Paraná); Desenvolvimento Sustentável; Metodologia de Objetivos e Meios. Abstract: This paper has for objective extend and diffuse of the proposals of participation the paranaense society in the planning sustainable development, especially as for the subject “Environment and Forest”, analyzing the consolidated results of the event Fórum Futuro 10 Paraná. This event developed during 2005 in 1 Mestrando em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Endereço eletrônico: [email protected] . 2 Mestrando em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). 3 Professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Endereço eletrônico: [email protected] . 4 Graduando em Economia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

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Planejamento do desenvolvimento sustentável do meio ambiente e florestas no Paraná

Alex Sandro Nogueira1 Ailson Augusto Loper2

Blas Enrique Caballero Nuñez3 Roberto Bruno Dammski4

Resumo: Este trabalho tem por objetivo ampliar o alcance e difusão das propostas decorrentes da participação da sociedade paranaense no planejamento do desenvolvimento sustentável, especialmente no que se refere ao tema “Meio ambiente e Florestas”, a partir dos resultados consolidados do Fórum “Futuro 10 Paraná”. Esse evento se desenvolveu no decorrer do ano de 2005, na forma de um painel de reflexões e proposições, apresentados por mais de cinco mil líderes de todas as regiões do Estado, reunidos no Relatório Final “Consolidação - Propostas Estaduais”, agrupadas em onze temas. A coleta dessa grande manifestação da sociedade foi facilitada pelo uso do método de investigação valorativa, aplicada nos fóruns realizados nas oito regiões do Estado. O grande destaque dessa consulta refere-se ao ideal comum apresentado pela sociedade refletido na busca por uma melhor qualidade de vida, por meio das seguintes metas: desenvolvimentos econômico, social e ambiental sustentáveis. Concernente ao desenvolvimento sustentável do meio ambiente e florestas – foco deste trabalho, verificou-se que requer a implementação das seguintes propostas: conscientização, educar e capacitar, articular a gestão pública, dotar o Estado de infra-estrutura ambiental, alcançar os objetivos legais, preservar de maneira sustentável e investigar novas tecnologias. O tratamento de resíduos sólidos e o incentivo à pesquisa de fontes alternativas de energia foram objetivos bem destacados pelas lideranças do Fórum dentro do tema Meio Ambiente e Florestas. No que se refere à análise do problema, a metodologia do marco lógico permitiu elencar o aumento de emissões de gases poluentes, a utilização não sustentável de recursos naturais, a introdução e uso de espécies exóticas de maneira inadequada, a ocupação urbana desordenada e o tratamento/disposição de resíduos antrópicos inadequados, como as principais causas da degradação ambiental no estado do Paraná, bem como, o aumento de concentração de gases poluentes, a redução da biodiversidade, alteração das características físico químicas do solo e a intensificação do processo de poluição hídrica, como seus efeitos potenciais. Assim, pode-se concluir que a análise a partir do método de objetivos/meios e do marco lógico contribuem para o encaminhamento do planejamento regional do Estado do Paraná. Palavras-chave: Meio Ambiente e Florestas (Paraná); Desenvolvimento Sustentável; Metodologia de Objetivos e Meios.

Abstract: This paper has for objective extend and diffuse of the proposals of participation the paranaense society in the planning sustainable development, especially as for the subject “Environment and Forest”, analyzing the consolidated results of the event Fórum Futuro 10 Paraná. This event developed during 2005 in

1 Mestrando em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Endereço eletrônico: [email protected]. 2 Mestrando em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). 3 Professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Endereço eletrônico: [email protected]. 4 Graduando em Economia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

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form of a panel with reflections and proposals, presented for more than a five thousand leads of all the regions of the State, congregated in the final report, “Consolidation – State Proposals”, grouped in eleven subjects. The understanding of this great manifestation of the society was eased by the use the Appreciative Inquiry Methodology applied in events carried through in eight regions of the state. The great fact of this study mentions the common goal presented by society reflected in the search for better quality of life by means of the following goals, development economics, social and environmental, analyzing the sustainable development of the environment and forests - objective of this study, was verified that it requires the implementation of the following proposals: awareness, educate and enable, articulate the public administration, reach the legal objectives, preserve in sustainable way and investigate a new technologic. The treatment of solid residues and incentive to research of alternative source of energy had been objectives detached by the leaderships of the event referring the subject environment and forests. Thus, it can be concluded that analysis from the method goals e instruments contributes for guiding of the regional planning in the Paraná State. Key-Words: Environment and Forest (Paraná State); Sustainable Development; method goals e instruments.

Área I – Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente Paranaense

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Introdução No ano 2025, 83% da população mundial prevista, de 8,5 bilhões de

habitantes, estarão vivendo nos países em desenvolvimento. Não obstante, a

capacidade de que os recursos e tecnologias disponíveis satisfaçam às exigências

de alimentos e outros produtos agrícolas dessa população em crescimento

permanece incerta. A agricultura vê-se diante da necessidade de fazer frente a esse

desafio, principalmente aumentando a produção das terras atualmente exploradas e

evitando a exaustão ainda maior de terras que só marginalmente são apropriadas

para o cultivo.

A percepção dos problemas ambientais, generalizada a partir dos anos

1970, quando surgem, com mais freqüência, em âmbito internacional, manifestações

ecológicas e questionamentos relacionados aos impactos das atividades humanas

sobre a natureza e sua interface com os aspectos econômicos e sociais, fizeram

com que as autoridades governamentais voltassem o foco das discussões globais

para o debate de questões relacionadas ao assunto.

Em 1987, a Organização das Nações Unidas (ONU) lança o Relatório

Brundtland – elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e

Desenvolvimento. Este documento fez parte de uma série de iniciativas, anteriores à

Agenda 21, as quais reafirmam uma visão crítica do modelo de desenvolvimento

adotado pelos países industrializados e reproduzido pelas nações em

desenvolvimento, e que ressaltam os riscos do uso excessivo dos recursos naturais

sem considerar a capacidade de suporte dos ecossistemas. O relatório aponta para

a incompatibilidade entre desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e

consumo vigentes.

Fica claro, nessa nova visão das relações homem-meio ambiente, que não

existe apenas um limite mínimo para o bem-estar da sociedade; há também um

limite máximo para a utilização dos recursos naturais, de modo que sejam

preservados (Bezerra e Souza, 2001).

Mais recentemente, com o intuito de articular ações estratégicas de

planejamento regional e desenvolvimento sustentável para o futuro do Paraná,

diversos representantes de entidades e lideranças da sociedade civil articularam no

Estado, ao longo do ano de 2005, um amplo e detalhado painel de

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reflexões/reivindicações que se cristalizaram no Relatório do Fórum “Futuro 10

Paraná”.

Diante da tarefa de assumir um planejamento regional para o

desenvolvimento social, econômico e ambiental no Estado, os resultados de caráter

pró-ativos oriundos do Fórum ‘Futuro10 Paraná’ focalizam ações que visam um ideal

comum, enfocando a abordagem da investigaçãovalorativa.

O uso desta abordagem durante a realização do Fórum buscou, apontou que

a degradação ambiental e a utilização dos recursos florestais de forma predatória,

como um dos princiapis problemas da sociedade paranaense nos dias atuais.

Este trabalho contém um breve comentário em torno do projeto de

planejamento no Paraná, enfatizando os aspectos do desenvolvimento regional. Em

seguida, destaca-se sucintamente os procedimentos aplicados, especificando o

método de objetivos/meios, e o método do marco lógico. Por sua vez, seguem os

resultados do trabalho referentes ao Meio Ambiente e Florestas, com uma breve

discussão em torno das propostas estaduais e, uma análise do problema, através da

abordagem da árvore do problema, uma das fases finais da metodologia do marco

lógico, para explicitar as causas e os efeitos colaterais do probelama central

apontado pela sociedade paranaense, e por fim, as considerações finais da

pesquisa.

1 - Planejamento do desenvolvimento sustentável do meio ambiente e florestas Atendendo os anseios da sociedade, da criação de condições que permitam

o desenvolvimento do meio ambiente e florestas, de forma sustentável, verifica-se a

necessidade de efetuar importantes políticas e diretrizes que regulamentam as

atividades produtivas, o meio ambiente e a macroeconomia, tanto no nível nacional

como internacional, nos países desenvolvidos e nos países em desenvolvimento. O

principal objetivo do desenvolvimento ambiental e florestal sustentável é aumentar a

produção de recursos florestais de forma sustentável e incrementar a qualidade de

vida. Isso envolverá iniciativas na área da educação, o uso de incentivos

econômicos e o desenvolvimento de tecnologias novas e apropriadas, o acesso a

essas ofertas por parte dos grupos vulneráveis, paralelamente à produção para os

mercados; emprego e geração de renda para reduzir a pobreza; e o manejo dos

recursos naturais juntamente com a proteção do meio ambiente.

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No passado a floresta era até mesmo um empecilho para o que se

considerava o ideal de desenvolvimento da época. Atualmente, não é mais

problema, é necessária, principalmente por seus produtos e por sua condição de

permanência ou de longa vida, acaba alterando o ambiente do seu entorno e, com

isso, proporcionando favorecimentos aos cultivos de ciclos curtos, às pastagens, às

criações, à conservação e produção de água, à conservação do solo.

Para CMMAD (1988), “desenvolvimento sustentável é aquele que atende às

necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras

atenderem a suas próprias necessidades”.

Entretanto, para viabilizar o desenvolvimento sustentável do meio ambiente

e florestas, é crucial o planejamento e desenvolvimento de um amplo conjunto de

políticas e programas com o envolvimento de todos os atores da sociedade.

O planejamento é uma ferramenta essencial no complexo processo de

formulação de políticas e programas, que deve continuamente identificar problemas,

reavaliar prioridades, desenvolver soluções e avaliar e selecionar ações (Holanda &

Ferreira, 1986).

No Paraná, um dos Estados com maior representatividade no negócio

florestal brasileiro, a exploração de suas florestas iniciou oficialmente em 1765, com

o advento de um decreto do Rei D. João V de Portugal, esse decreto autorizava o

corte de pinheiros do planalto curitibano, para serem usados na construção da Nau

“São Sebastião”. Porém, a falta de infra-estrutura, fato comum na colônia brasileira

daquela época, fez com que a atividade exploratória madeireira concentra-se na

faixa litorânea do estado, mantendo-se até meados do século XIV, de forma

incipiente (Associação, 2004).

Somente em 1873, com a abertura da estrada da graciosa, aliada a

construção da estrada de ferro Curitiba-Paranaguá em 1985 e do Ramal Morretes-

Antonina em 1891, que a exploração florestal, notadamente da espécie Araucária

angustifólia, ganhou os planaltos paranaenses, dando inicio a uma das atividades

econômicas mais importantes para o estado (Associação, 2004).

Atualmente a cobertura de florestas nativas no Paraná totaliza 4,52 milhões

de hectares, perfazendo um remanescente de 24,9% das áreas de florestas

primitivas, outrora existentes no Estado. Sendo que, 41,1% do total remanescente

das formações florestais, é representado por florestas em estágio de sucessão inicial

(vegetação de pequeno porte). As áreas de florestas em estágio médio e avançado

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de sucessão representam respectivamente 45,2% e 13,7 %do total de florestas do

estado (IAP, 2002).

O Paraná ocupa no ranking brasileiro o terceiro lugar em área plantada de

florestas, destacando-se os gêneros Pinus e Eucalyptus.

Segundo o IAP (2002), em 2001 a área de florestas plantadas no estado do

Paraná atingia o patamar de 688,4 mil hectares, ou seja, 3,4% da área total do

estado. Sendo que destes, 105,6 mil hectares eram compostos por espécies do

gênero Eucalyptus e 532,4 mil hectares plantados com espécies do gênero Pinus.

Os restantes 50,3 mil hectares eram compostos por outras espécies arbóreas,

principalmente Araucária.

Segundo dados apresentados pelo estudo setorial da Associação (2004),

anualmente no estado do Paraná as áreas florestais são exploradas de forma

sustentável, no ano de 2000, foram explorados aproximadamente 123 mil hectares,

na forma de desbastes e corte raso, resultando em uma produção de toras na ordem

de 22 milhões de metros cúbicos. É importante ressaltar que 97% da produção de

madeira em toras do estado são provenientes de florestas plantadas.

A cadeia produtiva da madeira é um dos principais negócios do Paraná,

responsável por 20% do Produto Interno Bruto - PIB estadual, 8,3% do Valor Bruto

da Produção - VBP e 8,6% das exportações, configurando-se como o segundo

produto da pauta de exportações do agronegócio, depois dos produtos do complexo

soja. Além disso, o setor é responsável pela geração de 76 mil empregos diretos e

aproximadamente 158 mil empregos indiretos (SEAB, 2006).

Nesta cadeia produtiva estão os setores madeireiro, moveleiro, papel e

celulose, chapas reconstituídas e o consumo de madeira para a siderurgia e carvão

vegetal.

Segundo Vasques; Nogueira; Kirchner (2006), a atividade florestal, na região

sul do Brasil, notadamente no Paraná, ao longo dos últimos trinta e cinco anos

contribuiu para a mudança sócio-econômica de diversas regiões, pois permitiu a

expansão da indústria de base florestal. Entretanto, as regiões paranaenses com o

menor Índice de Desenvolvimento Humano - IDH, são prioritariamente regiões onde

o relevo é acidentado e por conseqüência a atividade florestal predomina. A Figura 1

ilustra os resultados referentes à distribuição do IDH no Paraná, apresentados pelo

IPARDES (2000).

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Figura 1 - Índice de Desenvolvimento Municipal (IDH-M)

Fonte: IPARDES

2 – Participação da sociedade paranaense

Neste contexto, multiplicaram-se as manifestações de empresários, políticos

e lideranças da sociedade civil sob a urgente necessidade de articulação de um

planejamento para o futuro do Estado, constituindo-se uma parceria inédita, por

iniciativa da Rede Paranaense de Comunicação (RPC), entre esta e as federações

comerciais e empresariais do Paraná, a Federação da Agricultura do Estado do

Paraná (FAEP), do Comércio do Paraná (FECOMÉRCIO) e das Indústrias do Estado

do Paraná (FIEP), o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP), o

Instituto Paraná Desenvolvimento (IPD), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e

Pequenas Empresas do Paraná (SEBRAE-PR), o Sindicato e Organização das

Cooperativas do Paraná (OCEPAR), a Associação Comercial do Paraná (ACP), a

Associação das Emissoras de Radiodifusão do Paraná (AERP), a Federação das

Associações Comerciais e Empresariais do Paraná (FACIAP) e o Instituto de

Engenharia do Paraná (IEP).

Durante o ano de 2005, o Fórum ‘Futuro 10 Paraná’ reuniu as principais

lideranças empresariais, sociais e políticas para discutir e apresentar um plano

estratégico integrado para o desenvolvimento do Estado. Assim, com a finalidade de

criar referências, encontrar soluções e assumir coletivamente caminhos inovadores

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para o futuro do Paraná, foram debatidos os temas mais importantes no âmbito do

desenvolvimento regional sustentável.

O Fórum contou com a participação de mais de 5.000 representantes

empresariais, sociais e políticos de todas as regiões do Estado; estes discutiram

diversos temas para apontar os melhores caminhos de desenvolvimento no Paraná.

A metodologia utilizada como base, de investigação valorativa, levantou nas

principais conquistas de lideranças regionais a oportunidade de criar referências,

buscar caminhos e assumir, coletivamente, um plano estratégico para o

desenvolvimento do Paraná como um todo. Vale destacar que, dessa maneira, os

resultados obtidos no evento não se viabilizaram de uma forma tradicional (induzida

ou impositiva); as propostas foram estruturadas de maneira conjunta e democrática,

através do método utilizado, o que possibilitou a construção de um consenso sobre

conteúdos qualitativos e complexos. A sua aplicação foi extremamente útil para a

definição de políticas do planejamento regional para o Estado.5

O primeiro resultado do Fórum ‘Futuro 10 Paraná’ consistiu na concretização

de um relatório que reuniu os diferentes pontos de vista, enfoques regionais,

fortalezas e prioridades colhidas em suas diferentes etapas, apresentando-as como

um instrumento de planejamento para o Estado, prevendo um período que

compreendesse os anos de 2005 até 2015. O relatório final apontou para os

desenvolvimentos econômico, social e ambiental sustentáveis como as principais

metas a serem perseguidas nos próximos anos pela sociedade paranaense, com a

finalidade de alcançar a melhoria na qualidade de vida da população, ideal comum

surgido nos debates realizados (Fórum ‘Futuro 10 Paraná’; 2005).

3 – Metodologia 3.1 – Análise de Objetivos e Meios

Para elaborar uma análise em torno das propostas para o planejamento do

desenvolvimento sustentável, aplicou-se o “Método de Objetivos e Meios”. Trata-se

de uma metodologia extremamente simples, que consiste em elaborar um diagrama

com uma representação esquemática de idéias hierarquizadas e coerentes, com o

propósito de evidenciar as finalidades, metas qualitativas e objetivos mensuráveis.

5 A metodologia da investigação valorativa foi adotada nas reuniões do Fórum ‘Futuro 10 Paraná’, sob a coordenação da socióloga Ilma Barros, da Federação das Indústrias Paranaenses (FIEP-PR).

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Esse método pode ser utilizado tanto para a elaboração de um plano, programa ou

projeto, como para testar a própria consistência das articulações ordenadas em um

planejamento. A seguir se apresenta o procedimento, conforme LU (1975, p. 25)::

Classificam-se os objetivos segundo o seu grau de generalidade, em cinco

categorias. Da direita para a esquerda, passa-se do mais particular ao mais geral.

Cada elemento da direita serve de instrumento para o da esquerda e assim por

diante. Geralmente, utilizam-se cinco grupos, a saber:

I) Finalidades: gerais, sempre qualitativos e correspondentes ao longo

prazo (análise prospectiva);

II) Buts2: menos gerais que as finalidades, porém sempre qualitativos,

entre o médio e o longo prazo, representando estratégias de desenvolvimento;

III) Objetivos: formulação precisa, quantitativos (comportando "metas", que

representam quantificações dos indicadores associados), geralmente fixados para o

horizonte do plano (por exemplo, cinco anos);

IV) Sub-Objetivos: correspondem a objetivos decompostos (são em geral

identificados como programas), quantitativos, situados entre o curto e o médio prazo;

V) Meios: são os instrumentos de ação disponíveis para se alcançar

sucessivamente os sub-objetivos, os objetivos, os “buts” e as finalidades. Esses

instrumentos podem ser de duas naturezas distintas: quer meios de política

econômico-financeira, quer projetos específicos, cuja implantação é viabilizada

através desses instrumentos existentes e/ou outros que venham a ser criados.

As ações representadas em um diagrama são classificadas segundo o grau

de generalidade, conforme ilustrado no Diagrama 1:

2 Esta expressão francesa -"But”- ou seu sinônimo inglês "goal" - é muitas vezes traduzida para o português, pelo termo "meta". Entretanto, como em português a expressão "meta" corresponde a urna quantificação do objetivo fixado à horizonte do plano (isto é, ao termo francês "cible") - neste documento deixou-se de traduzir e conservou-se o termo "but" para designar os objetivos qualitativos situados entre o médio e o longo prazo.

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Diagrama 1 - Esquema gráfico da análise de objetivos e meios

Fonte: LU (1975).

As finalidades do planejamento podem ser gerais ou específicas. As

finalidades gerais sempre correspondem ao longo prazo (análise prospectiva). As

metas são menos gerais que as finalidades, entre o médio e o longo prazo,

representando as estratégias de desenvolvimento. Os objetivos indicam

qualificações das metas fixadas para o horizonte do plano. Os sub-objetivos

correspondem a objetivos decompostos (são em geral identificados como

programas) situados entre o curto e médio prazo; e os meios são os instrumentos de

ação disponíveis para se alcançar o planejamento.

3.2 – Metodologia do Marco lógico Vale ressaltar que a análise de objetivos e meios se constitui uma parte dos

elementos de planejamento fundamentado no marco lógico3. O Modelo de Marco

Lógico (MML) trata-se de um conjunto de ferramentas agregadas que podem ser

usadas para facilitar o processo de elaboração, descrição, acompanhamento e

avaliação do projeto de planejamento. (ASDI; 2003).

3 O Modelo do Marco Lógico (MML) surgiu no contexto da cooperação internacional, na década de 1970, pela United States Agency for International Developments (USAID). Para maiores detalhes sobre a metodologia do MML, consultar: (ASDI; 2003).

Finalidades Metas Objetivos Sub-objetivos Meios

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Segundo Penteado (2007), O Marco Lógico (também conhecido como

Logical Framework, LogFrame, MPP - Matriz de Planejamento de Projetos) é um

método desenvolvido pela USAID para elaboração, descrição, acompanhamento e

avaliação de programas e projetos. É utilizado por diversas agências internacionais

de financiamento, como o Banco Mundial, o BID e a GTZ alemã – que o incorporou

ao seu método ZOPP (iniciais, em alemão, de Planejamento de Projetos Orientado a

Objetivos).

4 – Resultados e Discussão Num sentido amplo, pode-se afirmar que planejar é antecipar estratégias

para que os objetivos pretendidos sejam alcançados. No processo de planejamento

se estabelece uma ‘situação ideal’ a partir de uma determinada ‘situação vigente’, ou

seja, é criada uma imagem prospectiva da realidade (LU; 1975).

O processo de planejar o desenvolvimento sustentável, que por definição, é

aquele que atende às necessidades dos presentes sem comprometer a

possibilidade de as gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades, do

ponto de vista ambiental, constitui-se em utilizar as informações sobre fatores

físicos, naturais, sociológicos e políticos de uma região, para estabelecer as formas

de uso idôneas para a mesma. Operam-se idealmente em níveis macro, meso e

micro (região), correspondente às esferas federais, estaduais e municipais, cabendo

a esta última efetuar o controle dos processos de ocupação territorial e o seu ajuste

dentro dos níveis mais amplos do planejamento.

4.1 – Análise dos objetivos e meios

As categorias de propostas apresentadas para o desenvolvimento ambiental

sustentável representam conjuntamente o direcionamento das lideranças que

participaram das oito etapas regionais do Fórum ‘Futuro 10 Paraná’. Nessas etapas

foram levantadas diversas propostas a partir de 11 temas, apresentados no

diagrama 2:

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Diagrama 2 - Finalidades, metas e temas do Fórum “Futuro 10 Paraná” Finalidade Metas Temas

Fonte: Elaborado a partir do ‘Fórum Futuro 10 Paraná. Propostas estaduais (Relatório final).

Por meio do esquema de objetivos e meios acima, identificou-se a finalidade

geral da sociedade que é proporcionar uma melhoria na qualidade de vida da

população no Estado. Como metas principais foram traçadas as seguintes:

desenvolvimento econômico sustentável, desenvolvimento social sustentável e

desenvolvimento ambiental sustentável. Em relação aos temas, estes foram

elencados como segue: Agronegócio; Comércio, Turismo e Serviços;

Industrialização e Urbanização; Infra-estrutura; Pesquisa, Tecnologia e

Universidade; Visão Política e Gestão Pública; Saúde e Qualidade de Vida; Cultura e

Educação; Mobilização e Responsabilidade Social; Segurança e Meio Ambiente e

Floresta.

Especificamente, no que se refere ao tema “Meio Ambiente e Floresta”

(diagrama 3), o desenvolvimento sustentável requer a implementação das seguintes

propostas: conscientização, educar e capacitar, articular a gestão pública, dotar o

Estado de infra-estrutura ambiental, alcançar os objetivos legais, preservar de

maneira sustentável e investigar novas tecnologias.

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Diagrama 3 - Representação esquemática de objetivos e meios do tema “Meio Ambiente e Florestas”

Tema Metas (propostas)

Objetivos (resultados)

Meios (ações)

Fonte: elaborado a partir do ‘Fórum Futuro 10 Paraná. Propostas estaduais (Relatório final).

Em relação aos 22 objetivos consolidados no Relatório, os principais

resultados a serem alcançados são: construir comitês de bacias e mananciais;

aumentar o número de agentes fiscalizadores que atendam a demanda do Estado;

criar financiamento e incentivos fiscais para produção de biomassa.

O tratamento de resíduos sólidos e o incentivo à pesquisa de fontes

alternativas de energia foram objetivos bem destacados pelas lideranças do Fórum

dentro do tema Meio ambiente e Floresta. Nota-se que, a visão política englobando

a gestão pública permeou a maioria das ações do tema, sendo evidenciada a

importância do setor público para a viabilização das metas.

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4.2 – Análise do problema Os problemas centrais apresentados pela sociedade paranaense referente

ao tema meio ambiente floresta são: a degradação ambiental e a utilização não

sustentável dos recursos florestais. Para esses problemas foram apontadas de

forma sucinta as principais causas, bem como, seus principais efeitos. Estes

resultados podem ser visualizados no Diagrama 4.

Diagrama 4 - Representação esquemática da árvore de problemas referente ao tema “Meio Ambiente e Florestas”

EFE

ITO

S

PR

OB

LEM

A

CE

NTR

AL

CA

US

AS

Fonte: Elaborado pelos autores.

As principais causas, apontadas degradação ambiental e utilização

predatória dos recursos florestais no Paraná são: o aumento da emissão de gases

poluentes na atmosfera regional/global, utilização não sustentada dos recursos

naturais, introdução e uso de espécies exóticas sem estudos prévios, ocupação

urbana desordenada e sem planejamento, e tratamento e disposição inadequada de

resíduos gerados pelas atividades antrópicas. É importante ressaltar que cada uma

dessas causas são frutos de outras ações, e essas são apresentadas a seguir,

respectivamente para cada um das causas apresentadas anteriormente.

.

Diagrama 5 - Representação esquemática das causas precedentes do aumento da emissão de gases poluentes

Fonte: Elaborado pelos autores.

Diagrama 6 - Representação esquemática das causas precedentes do aumento da utilização não sustentada de recursos naturais.

Fonte: Elaborado pelos autores.

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Diagrama 7 - Representação esquemática das causas precedentes da introdução de espécies exóticas de maneira inadequada.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Diagrama 8 - Representação esquemática das causas precedentes da ocupação urbana desordenada.

Fonte: Elaborado pelos autores.

17

Diagrama 9 - Representação esquemática das causas precedentes do tratamento e disposição inadequados de resíduos gerados pelas atividades antrópicas.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Os principais efeitos colaterais provenientes da degradação ambiental e da utilização não sustentada dos recursos

florestais, são: o aumento da concentração de gases poluentes na atmosfera regional/global, redução da biodiversidade,

alterações nas características físico-químicas do solo e intensificação do processo de poluição hídrica, porém, esses efeitos

principais desencadeiam uma série do outros efeitos, os quais são apresentados a seguir.

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Diagrama 10 - Representação esquemática dos efeitos colaterais do aumento da concentração de gases poluentes na atmosfera regional/global.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Diagrama 11 - Representação esquemática dos efeitos colaterais da redução da biodiversidade.

19

Diagrama 12 - Representação esquemática dos efeitos colaterais das alterações das características físico-químicas do solo.

20

Diagrama 13 - Representação esquemática dos efeitos colaterais da intensificação do processo de poluição hídrica.

Fonte: Elaborado pelos autores.

5 – Considerações finais O presente trabalho se propôs a mostrar que o planejamento do

desenvolvimento ambiental sustentável se pauta por ações interligadas de forma

sistêmica. O “Método de Objetivos e Meios” aplicado para representar as categorias

de ações definidas no Fórum “Futuro 10 Paraná”, pode contribuir para a viabilização

do desenvolvimento e, conseqüentemente, da melhoria da qualidade de vida da

população no Estado do Paraná.

A adoção do método de objetivos/meios permitiu o tratamento das ações de

planejamento, considerando o processo inter-relacionado do desenvolvimento

regional. Bem como, a análise do problema, a partir da adoção da metodologia do

marco lógico, permitiu compilar as principais causas e efeitos do degradação

ambiental e utilização predatória dos recursos florestais, problema este apontado

pela sociedade paranaense.

Assim, os métodos utilizados neste trabalho organizaram a lógica

operacional contextualizada nas finalidades, metas, objetivos e meios a partir do

Relatório do Fórum ‘Futuro 10 Paraná’; diante disto, criou-se mais um material de

apoio que pode fornecer um guia para a viabilização do planejamento regional

/setorial e constituir-se, também, numa excelente ferramenta de gestão da

informação para o planejamento regional sustentável.

Por fim, este trabalho apenas constitui um ‘mapeamento’ dos elementos

principais para estruturar as ações estratégicas em torno do desenvolvimento

regional sustentável no Estado. Pretende-se dar seqüência a este trabalho, através

da elaboração dos outros passos da metodologia do marco lógico, para que com

isso, tenha-se um material completo que possa auxiliar na formulação de políticas

públicas, que visem atingir o desenvolvimento sustentável no território paranaense.

6 – Referências Bibliográficas

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