Placemaking, Urbanismo e o Futuro Dos Espaços Públicos

4

Click here to load reader

description

Texto de Silvia Tavares sobre o Placemaking

Transcript of Placemaking, Urbanismo e o Futuro Dos Espaços Públicos

  • Placemaking, urbanismo e o futuro dos espaos

    pblicos

    http://www.placemaking.org.br/home/placemaking-urbanismo-e-o-futuro-dos-espacos-publicos/

    Possivelmente a tendncia mais forte do urbanismo contemporneo a busca e o resgate da escala humana perdida nos tempos do urbanismo moderno. Alm de proporcionar cidades caminhveis e espaos nos quais as pessoas gostam de estar, nos ltimos anos o foco de aes urbanas relacionadas adaptao s mudanas climticas, resilincia, sustentabilidade, segurana, entre outros aspectos, tem se voltado para as necessidades da comunidade. Em outras palavras, solues urbanas devem seguir uma abordagem de baixo para cima (bottom up) ao invs de uma abordagem de cima para baixo (top down)[i][ii]. Para que se obtenha sucesso nessas aes, nada melhor do que construir lugares (placemaking) e evitar no-lugares (placelessness), j que da natureza humana cuidar dos espaos quando de alguma maneira nos preocupamos com eles[iii].

    Re:START Container Mall (Christchurch, Nova Zelndia)

    http://www.placemaking.org.br/home/placemaking-urbanismo-e-o-futuro-dos-espacos-publicos/#_edn1http://www.placemaking.org.br/home/placemaking-urbanismo-e-o-futuro-dos-espacos-publicos/#_edn1http://www.placemaking.org.br/home/placemaking-urbanismo-e-o-futuro-dos-espacos-publicos/#_edn3http://www.placemaking.org.br/home/wp-content/uploads/2015/04/IMG_8165a.jpg
  • No clssico Place and Placelessness, Edward Relph[iv] identifica trs componentes de lugar: o espao fsico, as atividades que nele acontecem e o significado que ele adquire. Relph enfatiza que desses trs componentes provavelmente o mais difcil de ser compreendido o significado e, ainda assim, ele de vital importncia. Significados levam tempo para se desenvolver e espaos precisam desse tempo para que se tornem lugares, como explica Tim Cresswell[v]:

    Espao tem sido visto como uma distino de lugar, como uma rea sem significado (). Quando seres humanos atribuem significado ao espao, e de alguma maneira tornam-se conectados a ele (a atribuio de um nome um exemplo), este espao torna-se lugar. Apesar desse dualismo dos conceitos de espao e lugar estar presente na geografia desde a dcada de 70, ele tem sido confundido com a ideia de espao social ou o espao produzido pela interao social o qual em muitos aspectos tem o mesmo papel de lugar.

    A diferena fundamental entre lugar e espao social que, desde que haja significado, o lugar existe sempre, com ou sem atividade social. Por outro lado, o espao social s existe quando h interao social. Lugar normalmente fruto de intervenes significativas na escala de desenho e at planejamento urbanos. Lugares precisam de conexes urbanas fortes e planejadas, precisam se tornar parte de cotidianos urbanos, precisam ter qualidades que as pessoas apreciem e ento desenvolvam uma ligao especial com essas reas, praas, cantos, sejam eles do tamanho que forem.

    E justamente nesse ponto em que placemaking torna-se ao mesmo tempo uma soluo e um risco. Ativar espaos muito importante, pois fundamental que haja vida e vitalidade em espaos pblicos. Mas da mesma maneira importante que se perceba que, na grande maioria dos casos, a ativao de um espao necessria justamente porque o projeto urbano falhou. A ativao de espaos por evento criao de espao social, e muitas vezes quando o evento acaba, o espao morre com ele. A criao de lugar, por outro lado, mais profunda e permanente.

    http://www.placemaking.org.br/home/placemaking-urbanismo-e-o-futuro-dos-espacos-publicos/#_edn4http://www.placemaking.org.br/home/placemaking-urbanismo-e-o-futuro-dos-espacos-publicos/#_edn5
  • Re:START Container Mall (Christchurch, Nova Zelndia)

    Para que se construa um lugar para a comunidade, ou um senso de lugar sense of place[vi] necessrio que haja certa permanncia, que se d tempo comunidade para que os significados desse lugar sejam desenvolvidos e apreendidos. Uma alternativa possvel aos espaos efmeros o planejamento de atividades sociais por um perodo suficientemente longo, um espao de tempo que sirva de ncora para que comunidade e autoridades locais percebam o valor da rea, invistam nela e a tornem permanentemente viva. Senso de lugar[vii]refere-se ao que o espao tem de nico, que no replicvel, e cabe aos urbanistas entender quem so os usurios da cidade, como eles vivem, o que eles gostam de fazer, o que diferencia uma comunidade da outra, e traduzir esses aspectos em projetos urbanos eficazes e permanentes. Essas dimenses tm que ser incorporadas em polticas pblicas e levadas em considerao desde os primeiros passos do planejamento e desenho urbanos (place-led development).

    Por fim, placemaking deve ser pensado e abordado ao mesmo tempo como uma ideia abrangente e uma ferramenta prtica para melhorar comunidades, cidades e regies. Assim, ativao temporria de espaos pode e deve servir de laboratrio e experimentao. Mas para que se os lugares vivam a longo prazo, o desenho e planejamento urbanos so fundamentais. Tentar ativar permanentemente uma rea desconectada da malha urbana infinitamente mais complicado do que um espao que faz parte do dia a dia, do caminho para o trabalho, para o supermercado, a escola, ou a universidade. Por outro lado, se estivermos entendendo corretamente a mensagem e

    http://www.placemaking.org.br/home/placemaking-urbanismo-e-o-futuro-dos-espacos-publicos/#_edn6http://www.placemaking.org.br/home/placemaking-urbanismo-e-o-futuro-dos-espacos-publicos/#_edn7http://www.placemaking.org.br/home/wp-content/uploads/2015/04/IMG_8175a.jpg
  • tirando proveito do laboratrio de hoje, a ativao de espaos ser cada vez menos necessria, pois teremos cada vez mais projetos urbanos bem sucedidos. Projetos efmeros e de pequena escala so poderosos para que se teste solues urbanas, mas eles no so a soluo, ou um fim em si. Um impacto mais profundo em relao ao conforto urbano[viii], tornando os lugares permanentes, requer tanto desenho (em termos de qualidade do lugar) e planejamento urbano (usos e conexes, por exemplo). Fortes conexes e relaes com o entorno onde esto inseridos, fachadas ativadas atravs de usos comerciais no primeiro piso e interaes interior-exterior, acessos e trnsito, sol e controle de ventos, so alguns dos aspectos fundamentais para a consolidao de lugares. Placemakers, urbanistas e governantes precisam trabalhar juntos, testar e entender solues, para ento traduz-las em projetos permanentes.

    [i] Smit, B., Burton, I., Klein, R. T., & Wandel, J. (2000). An Anatomy of Adaptation to Climate Change and Variability. Climatic change, 45(1), 223-251. doi: 10.1023/A:1005661622966

    [ii] Vallance, S., & Perkins, H. (2010). Is another city possible? Towards an urbanised sustainability. City, 14(4), 448-456. doi: 10.1080/13604813.2010.496217

    [iii] Meyer, E. K. (2008). Sustaining beauty. The performance of appearance. Journal of Landscape Architecture, 3(1), 6-23. doi: 10.1080/18626033.2008.9723392

    [iv] Relph, E (1970). Place and Placelessness. London, UK: Pion Ltd.

    [v] Cresswell, T. (2004). Place: A Short Introduction. Oxford, UK: Wiley.

    [vi] Tuan, Y.-F. (1977). Space and Place: The perspective of experience. Minneapolis, MN, USA: University of Minnesota Press.

    [vii] idem

    [viii] Conforto urbano combina aspectos da sociologia urbana e do conforto ambiental em espaos pblicos. Essa abordagem se d atravs das possibilidades de adaptao humana aos diversos microclimas urbanos como um produto cultural mais do que puramente uma fisiolgico. Conforto urbano considera que, quando em espaos urbanos, seres humanos se adaptam ao microclima desde que haja razo para tal, e que essa razo varia de acordo com a cultura e a experincia do usurio. A teoria de conforto urbano foi o tema do doutorado da autora deste artigo na Lincoln University (Christchurch, Nova Zelndia)

    Texto de: Silvia Tavares

    Silvia pesquisadora, brasileira e mora na Nova Zelndia. Ela entregou a tese de doutorado naLincoln University em julho de 2014 e em seguida passou seis meses na Alemanha trabalhando como pesquisadora visitante no ILS (Research Institute for Regional and Urban Development). Silvia desenvolve pesquisa focada em conforto urbano, projeto e microclima urbanos, bem-estar, sade pblica e mudanas climticas. Ela pode ser encontrada atravs do sitehttp://silviatavares.com, e no twitter como @silgtavares.

    http://www.placemaking.org.br/home/placemaking-urbanismo-e-o-futuro-dos-espacos-publicos/#_edn8http://www.placemaking.org.br/home/placemaking-urbanismo-e-o-futuro-dos-espacos-publicos/#_ednrefhttp://www.placemaking.org.br/home/placemaking-urbanismo-e-o-futuro-dos-espacos-publicos/#_ednrefhttp://www.placemaking.org.br/home/placemaking-urbanismo-e-o-futuro-dos-espacos-publicos/#_ednrefhttp://www.placemaking.org.br/home/placemaking-urbanismo-e-o-futuro-dos-espacos-publicos/#_ednrefhttp://www.placemaking.org.br/home/placemaking-urbanismo-e-o-futuro-dos-espacos-publicos/#_ednrefhttp://www.placemaking.org.br/home/placemaking-urbanismo-e-o-futuro-dos-espacos-publicos/#_ednrefhttp://www.placemaking.org.br/home/placemaking-urbanismo-e-o-futuro-dos-espacos-publicos/#_ednrefhttp://www.placemaking.org.br/home/placemaking-urbanismo-e-o-futuro-dos-espacos-publicos/#_ednrefhttp://www.lincoln.ac.nz/http://www.ils-forschung.de/cms25/index.php?lang=enhttp://silviatavares.com/https://twitter.com/silgtavares