PIRES, Ricardo S. Uma Ilha Descontente - Disputas e Conflitos Em Torno Da Memória Sobre a Batalha...

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 [REVISTA CONTEMPORÂ NEA    DOSSIÊ REGIMES AUTORITÁRIOS E SOCIEDADES] Ano 3, n° 3 | 2013, verão ISSN [2236-4846]  186 Uma “ilha descontente”: Disputas e conflitos em torno da memória sobre a Batalha de Okinawa *   Ricardo Sorgon Pires *  Introdução Esse trabalho tem como objeto central a memória de um evento traumático  partilhada por um grupo ainda pouco estudado na academia brasileira, os okinawanos. Devido a esse fato, pretende-se expor, ainda que de maneira breve, alguns aspectos da história desse povo, destacando, em especial, sua relação com os japoneses do arquipélago principal. Desde meados do século XV (quando as ilhas Ryukyu são unificadas em um reino) até a segunda metade do século XIX, o Reino de Ryukyu 1 , formado por um conjunto de pequenas ilhas ao Sul do Japão e próximo à China, possuía relativa soberania com relação aos seus vizinhos. Devido às suas características históricas e geográficas, o povo de Okinawa se formou a partir de matrizes étnicas e culturais diversas, tendo por isso uma cultura fortemente marcada por permutas e miscigenações com diversos povos.  Na segunda metade do século XIX, no contexto do avanço do imperialismo europeu na Ásia e da tentativa do Japão de se constituir em estado-nação moderno aos moldes europeus, o frágil Reino de Ryukyu se converte em um cobiçado ponto estratégico em termos geopolíticos. Nesse âmbito, o recém-formado Império do Japão, utilizando um discurso nacionalista no qual afirmava que os okinawanos eram como que “irmãos” dos japoneses e que esses deveriam “proteger” os primeiros das ameaças ocidentais, o Japão invade as ilhas Ryukyu, derruba a monarquia, e em 1879 transforma o antigo reino em Província de Okinawa, a qual existe até hoje. *  Artigo recebido em outubro de 2012 e aprovado para publicação em janeiro de 2013. * Doutorando em História Social pela Universidade de São Paulo (FFLCH/NEHO). Bolsista CAPES. Contato: [email protected] 1  Existem diversas denominações para esse arquipélago. O nome Ryukyu pode se referir ao arquipélago de maneira genérica, ou ao nome do reino que existiu até o século XIX, que abrangia todas essas ilhas. Okinawa, por sua vez, é o nome da ilha principal do arquipélago, e também o nome da Província (que abrange todo o arquipélago) que foi instaurada pelo governo japonês em 1879.

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Uma ilha descontente

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  • [REVISTA CONTEMPORNEA DOSSI REGIMES AUTORITRIOS E SOCIEDADES]

    Ano 3, n 3 | 2013, vero ISSN [2236-4846]

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    Uma ilha descontente:

    Disputas e conflitos em torno da memria sobre a

    Batalha de Okinawa*

    Ricardo Sorgon Pires*

    Introduo

    Esse trabalho tem como objeto central a memria de um evento traumtico

    partilhada por um grupo ainda pouco estudado na academia brasileira, os okinawanos.

    Devido a esse fato, pretende-se expor, ainda que de maneira breve, alguns aspectos da

    histria desse povo, destacando, em especial, sua relao com os japoneses do

    arquiplago principal.

    Desde meados do sculo XV (quando as ilhas Ryukyu so unificadas em um

    reino) at a segunda metade do sculo XIX, o Reino de Ryukyu1, formado por um

    conjunto de pequenas ilhas ao Sul do Japo e prximo China, possua relativa

    soberania com relao aos seus vizinhos. Devido s suas caractersticas histricas e

    geogrficas, o povo de Okinawa se formou a partir de matrizes tnicas e culturais

    diversas, tendo por isso uma cultura fortemente marcada por permutas e miscigenaes

    com diversos povos.

    Na segunda metade do sculo XIX, no contexto do avano do imperialismo

    europeu na sia e da tentativa do Japo de se constituir em estado-nao moderno aos

    moldes europeus, o frgil Reino de Ryukyu se converte em um cobiado ponto

    estratgico em termos geopolticos. Nesse mbito, o recm-formado Imprio do Japo,

    utilizando um discurso nacionalista no qual afirmava que os okinawanos eram como

    que irmos dos japoneses e que esses deveriam proteger os primeiros das ameaas

    ocidentais, o Japo invade as ilhas Ryukyu, derruba a monarquia, e em 1879 transforma

    o antigo reino em Provncia de Okinawa, a qual existe at hoje.

    * Artigo recebido em outubro de 2012 e aprovado para publicao em janeiro de 2013.

    *Doutorando em Histria Social pela Universidade de So Paulo (FFLCH/NEHO). Bolsista CAPES.

    Contato: [email protected] 1 Existem diversas denominaes para esse arquiplago. O nome Ryukyu pode se referir ao arquiplago

    de maneira genrica, ou ao nome do reino que existiu at o sculo XIX, que abrangia todas essas ilhas.

    Okinawa, por sua vez, o nome da ilha principal do arquiplago, e tambm o nome da Provncia (que

    abrange todo o arquiplago) que foi instaurada pelo governo japons em 1879.

  • [UMA ILHA DESCONTENTE: DISPUTAS E CONFLITOS EM TORNO DA MEMRIA SOBRE A BATALHA DE OKINAWA * RICARDO SORGON PIRES]

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    Em contraste com o discurso oficial, os okinawanos passam a ser tratados como

    cidados de segunda categoria pelos japoneses, no tendo acesso a diversos direitos

    civis e polticos, se no oficialmente, ao menos praticamente. Seguindo uma poltica

    nacionalista, centralizadora e autoritria, os japoneses perseguiam, por diversos meios,

    quaisquer manifestaes culturais, polticas ou ideolgicas que destoavam das oficiais.

    Nesse sentido, os okinawanos, que possuam religio, costumes, lngua e mesmo traos

    fsicos diferentes, sofriam diversas perseguies.

    Essas consideraes preliminares so importantes para que se compreenda a

    seguir os impactos causados, nas relaes entre os okinawanos e os demais japoneses

    aps a ecloso da Segunda Guerra Mundial, sobretudo com os resultados da Batalha de

    Okinawa, a subsequente ocupao norte americana (1945-1972), as disputas de

    memrias envolvendo esses dois grupos aps o retorno das ilhas ao territrio japons, e

    por fim, os protestos levado cabo pelos okinawanos nas ltimas dcadas, dentre as

    quais a grande manifestao ocorrida em 2007, resultado de uma tentativa por parte do

    Ministrio da Educao do Japo de alterao ou enquadramento (POLLAK, 1989, p.

    9-12) da memria (nacional e coletiva dos okinawanos) da Batalha de Okinawa, por

    meio de revises nos livros didticos de histria nacionais.

    A hecatombe do pacfico: a batalha de Okinawa - histria e memria

    Considerada como uma das mais sangrentas batalhas da Segunda Guerra

    Mundial, tanto pela ferocidade dos combates quanto pelo nmero de civis mortos,

    sobretudo em termos proporcionais, a Batalha de Okinawa (Abril a Junho de 1945) foi

    um trgico acontecimento na histria dessa ilha, cujos traumas e as dolorosas

    lembranas desse conflito, bem como seus desdobramentos, ainda esto longe de serem

    sublimados pela memria coletiva dos okinawanos.

    Com relao memria coletiva, este trabalho se utiliza do conceito pioneiro

    proposto por Maurice Halbwachs, em seu livro A memria coletiva (2006), o qual foi

    fundamental por defender que a memria antes social do que individual, abrindo

    espao para os futuros trabalhos sobre identidade, mentalidade, inconsciente coletivo,

    dentre outros. Outro conceito de Halbwachs importante nesse trabalho o de

    comunidade afetiva, o qual se refere a um grupo de pessoas que possuem afinidades,

    experincias, expectativas e caractersticas em comum.

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    Esse conceito pode ser aplicado com relao aos okinawanos pelo fato deles

    possurem tais relaes em comum, por serem um grupo tnico e cultural distinto dos

    outros japoneses e, principalmente, devido s marcas deixadas pela experincia coletiva

    da segunda guerra mundial e seus efeitos posteriores. A questo da experincia algo

    fundamental para a construo da memria coletiva. Segundo Halbwachs: [...] Nossa

    memria no se apia na histria aprendida, mas na histria vivida. (HALBWACHS,

    2006, p. 79)

    Como o cerne desse trabalho so questes como disputas de memrias,

    tentativas de impor memrias oficiais e apagar memrias discordantes, um terico

    privilegiado Michael Pollak, socilogo francs que, apesar de influenciado por

    Halbwachs, enfatiza o quanto a memria coletiva objeto de disputas violentas.

    Segundo Pollak:

    [...] Halbwachs, longe de ver nessa memria coletiva uma imposio,

    uma forma especfica de dominao ou violncia simblica, acentua

    as funes positivas desempenhadas pela memria comum, a saber, de

    reforar a coeso social, no pela coero, mas pela adeso afetiva ao

    grupo, donde o termo que utiliza, de comunidade afetiva. Na tradio europia do sculo XIX, em Halbwachs, inclusive, a nao

    a forma mais acabada de um grupo, e a memria nacional, a forma

    mais completa de uma memria coletiva (POLLAK, 1989, p. 3).

    O posicionamento de Pollak importante na discusso concernente s disputas e

    conflitos em torno da memria sobre a Batalha de Okinawa, visto que envolve uma

    memria oficial construda pelo Estado japons, e outra, de um grupo minoritrio, os

    okinawanos, que possui uma memria subversiva2.

    A inteno no discorrer sobre a Batalha de Okinawa em termos

    historiogrficos, analogamente proposta do socilogo Eviatar Zerubavel, o objetivo

    perceber o modo como essa batalha lembrada por okinawanos e demais japoneses, e

    como a memria desse ocorrido convertida em uma narrativa, utilizada para legitimar

    aes (no caso dos okinawanos) ou manutenes (no caso dos japoneses) no presente,

    sendo por isso objeto de batalhas mnemnicas (ZERUBAVEL, 2003, p. 2).

    2 Vale esclarecer, contudo, que apesar de ambas serem memrias (oficial e coletiva) as formas de

    captao de narrativas orais e escritas so diversas e demandam tratamentos metodolgicos especficos.

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    Nesse sentido, ser utilizado apenas alguns dados e referncias elementares

    sobre o conflito para demonstrar o quo traumtico foi esse evento para a populao que

    o vivenciou, e suas repercusses, ainda muito presentes, na memria daqueles que

    presenciaram o fato, o viveram por tabela (POLLAK, 1992, p.201), ou mesmo o

    percebem como algo significativo em sua construo identitria.

    A Batalha de Okinawa, ocorrida j na fase final da segunda guerra mundial, se

    estendeu por cerca de trs meses, ao fim do qual jaziam entre 220,000 a 300,000 mortos

    (os nmeros variam consideravelmente entre as vrias estatsticas realizadas) dos quais

    cerca de 14.000 militares americanos, 100.000 militares japoneses, e uma terrvel cifra

    varivel entre 120.000 a 150.000 civis okinawanos de uma populao, na poca, de

    cerca de 450.000 pessoas3. Ou seja, as estimativas mostram que entre um tero a um

    quarto da populao nativa pereceu diretamente nos combates. Contudo, esses nmeros

    no levam em considerao os milhares de feridos, e os mortos em perodos

    subsequentes devido s doenas, inanio, ferimentos, dentre outros fatores. O nmero

    de mortos nessas pequenas ilhas comparvel, s estatsticas mais conservadoras, ao

    nmero de mortos nos ataques atmicos em Hiroshima e Nagasaki somados, ocorrido

    em Agosto de 1945.

    Evidentemente, um grande nmero de civis mortos era esperado nessa batalha,

    uma vez que o bombardeio intenso e indiscriminado em cidades e reas de populao

    civil foi algo constante e terrivelmente empregado ao longo da Segunda Guerra por

    ambos os lados beligerantes (Londres em 1941, Leningrado e Stalingrado em 1942,

    Dresden, Berlim e Tokyo em 1945, dentre outros). No entanto, no possvel a

    compreenso da matana de civis ocorrida em Okinawa, sem se levar em conta a

    participao do exrcito japons nesse episdio.

    Como acima enunciado, os japoneses, aps anexarem as ilhas Ryukyu em 1879,

    passam a impor uma intensa poltica de niponizao por meio da escola e da

    imprensa. A lngua e a histria japonesa comeam a serem ensinadas nas escolas e

    muitas manifestaes culturais okinawanas so proibidas. A partir de 1936, quando o

    exrcito japons passa a controlar, na prtica, o governo aps um golpe de estado, entra

    em vigor uma poltica ultranacionalista, racialista e xenfoba, a qual estava em gestao

    3O museu oficial Memorial da Paz da Provncia de Okinawa estima em cem mil o nmero de civis

    mortos. Por sua vez, Jos Yamashiro em seu livro (1993, p.226) fala em mais de cento e quarenta mil

    mortos. A contagem precisa impossvel, uma vez que muitos corpos no foram encontrados como os

    milhares soterrados nas cavernas, ou dizimados nos intensos bombardeios, dentre outros casos.

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    em perodos anteriores4. A partir desse momento, grupos minoritrios como os

    coreanos, chineses, os ainu e os okinawanos so ainda mais discriminados.

    Em Okinawa, ocorrem humilhaes pblicas aos residentes que usavam o

    dialeto local ao invs do japons oficial, ou realizavam certas prticas religiosas ou

    culturais tradicionais. Todos estes fatores provocaram fortes descontentamentos

    populares, os quais raramente foram expressos publicamente, no perodo, devido forte

    represso e ao clima beligerante decorrente das constantes guerras nas quais o Imprio

    japons estava envolvido. Esse descontentamento popular, bem como o clima tenso de

    relaes entre esses dois povos chegar a uma situao limite com a Batalha de

    Okinawa.

    No decorrer da chamada guerra do pacfico (1941-1945), entre Estados Unidos e

    o Japo, aps um breve perodo de sucesso e euforia devido a algumas vitrias iniciais,

    aos poucos os japoneses sofrem uma srie de derrotas em importantes batalhas (Mar do

    Coral, Midway, Golfo de Leyte, Guadalcanal, Marianas, Iwo Jima,) em decorrncia,

    entre outros motivos, da esmagadora superioridade industrial-militar americana. Aps a

    liberao pelos aliados dos territrios ocupados pelos japoneses durante a guerra, o

    alvo passa a ser (a partir de 1945) o prprio territrio japons, a comear pelas Ilhas

    Ryukyu, mais ao sul do arquiplago central.

    Logo nas primeiras semanas do conflito em Okinawa, houve um grande nmero

    de civis mortos e feridos, uma vez que os americanos realizaram um intenso

    bombardeio aeronaval por toda a ilha, destruindo vilas, cidades, campos de plantao. O

    bombardeio foi to intenso que ele lembrado pelos moradores da ilha como Tufo de

    ferro (tetsu no bofu). Com a destruio dessas reas abertas, milhares de moradores

    foram em busca de abrigo nas numerosas cavernas existentes em Okinawa. Alm das

    cavernas naturais, o exrcito japons construiu diversos abrigos e tneis subterrneos

    como forma de contrabalancear o esperado poder de fogo incontestvel dos americanos,

    obrigando-os assim a combater na ilha a curta distncia (FEIFER, 2001, p. 90-96).

    Na medida em que a batalha tornava-se desesperadora para os japoneses, os

    soldados imperiais que recuavam em busca de abrigo, muitas vezes, expulsavam os

    civis, refugiados nas cavernas, ponta de baioneta (YAMASHIRO, 1997, p. 227).

    4 Ainda objeto de muitos debates acadmicos a questo de como denominar politicamente o Japo

    durante o governo militar aps 1936. Marcus Willenski (2005, p.77), por exemplo, denomina o Japo nos

    primeiros anos da dcada de 1940 como um Estado Fascista de facto. Hobsbawm (2005, p.135), por sua

    vez, afirma que o governo japons mesmo durante a guerra nunca foi fascista.

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    Nesses casos, muitas famlias inteiras eram dizimadas pelo fogo de artilharia (americana

    e japonesa), as quais ficavam expostas fora dos abrigos. Em outras situaes, segundo

    as denncias do escritor japons Oe Kenzaburo5, os soldados japoneses obrigavam os

    civis escondidos a se suicidarem com granadas para no prejudicar os soldados

    japoneses, garantindo o abastecimento regular de alimentos para as tropas6.

    Muitos cidados da ilha suicidaram-se devido s presses e intensa propaganda

    realizada pelo exrcito japons ao longo de meses, a qual afirmava que os americanos

    eram brbaros que estupravam indiscriminadamente meninas e mulheres e torturavam

    os homens de vrias maneiras.

    Desse modo, muitos civis da ilha convenceram-se de que era prefervel o

    suicdio captura. Muitas pessoas decidiam se matar com toda a famlia usando as

    granadas de mo distribudas pelo exrcito japons unicamente para esse fim, ou se

    jogar dos penhascos nas partes altas da ilha. Todavia, alm dessas presses por parte do

    exrcito, muitos civis foram obrigados a matar a si e aos seus familiares sob a mira dos

    fuzis do exrcito imperial.

    Um caso tragicamente emblemtico dessa situao relatado, na edio de 21 de

    Junho de 2005 no The New York Times, pelo jornalista James Brook ao realizar uma

    matria intitulada 1945 suicide order still a trauma on Okinawa. Nesse artigo, Brook

    entrevista um sobrevivente que tinha 15 anos na poca da guerra, Takejiro Nakamura.

    Em determinado momento, Nakamura relata a seguinte experincia:

    "I heard my sister calling out, 'Kill me now, hurry,"' Nakamura said,

    recalling how his 20-year-old sister panicked at the approach of U.S.

    soldiers. His mother took a rope and strangled his sister.

    "I tried to also strangle myself with a rope," he recalled, lifting his now-weatherbeaten hands to his neck. "But I kept breathing. It is really tough to kill yourself." Minutes later, the Americans took them captive.

    5 Cabe ressaltar que o escritor e Prmio Nobel de Literatura Oe Kenzaburo foi processado em 2005 por

    um ex-comandante e pela famlia de um ex-soldado, ambos do exrcito japons em 1945, pela acusao

    de calnia e difamao e exigiam indenizaes e que os livros do escritor fossem recolhidos e proibidos

    de circulao. Em 2007 a justia japonesa absolveu Oe das acusaes, reconhecendo, portanto, como

    legtima a viso do escritor de que o exrcito japons no apenas incitou como forou os habitantes da

    ilha de Okinawa a se suicidarem. Contudo, pouco depois o Ministrio da Educao props as alteraes

    nos livros didticos de histria. (BETING, 2007, p.12) 6 A coletnea de ensaios denomina-se Notas de Okinawa foi publicada em 1970 e citada pelo jornal

    Japan Times de 10 de Novembro de 2007.

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    "The U.S. soldier touched me to check if I had any weapons," he recalled. "Then he gave us candy and cigarettes. That was my first experience on coming out of the cave." His mother lived into her 80s. "We talked about the war," said Nakamura, who became a village leader. "But to the end, she never once talked about killing her daughter*" (BROOK, 2005).

    Nesse relato, possvel perceber que o trgico acontecimento se deu devido

    intensa propaganda realizada pelo exrcito japons, a qual realmente convenceu parte da

    populao civil de que era prefervel o suicdio captura. Com relao memria,

    relevante pensar na questo do silncio por parte da me de Nakamura. A esse respeito,

    o trabalho de Michael Pollak Memria, esquecimento silncio contribui de maneira

    muito significativa.

    Como afirma Nakamura, ele e a me conversaram sobre a guerra e seus efeitos,

    isso porque apesar de traumtico, essa situao limite foi, com o tempo, superada e, no

    caso de Nakamura (que um lder comunitrio) como de tantos outros okinawanos, essa

    memria do perodo da guerra no deveria ser esquecida pela memria coletiva (no

    caso, os okinawanos), tampouco pela memria nacional, como o quer certos grupos e

    polticos japoneses. Em termos pollakianos essa memria subterrnea, tambm

    chamadas de inaudveis e clandestinas, as quais a memria nacional pretende jogar

    para baixo do tapete, resiste, pois ela est intimamente ligada com a identidade desse

    grupo.

    Pollak afirma que determinadas memrias quando muito traumticas, como no

    caso da me de Nakamura, acabam sendo proibidas, indizveis, ou vergonhosas demais

    para serem relembradas e principalmente comunicadas. Segundo ele: existem nas

    lembranas de uns e outros zonas de sombra, silncios, no ditos. As fronteiras desses

    silncios e no ditos com o esquecimento definitivo e o reprimido inconsciente no

    * Eu ouvi minha irm gritando, 'Me mate agora, rpido!', disse Nakamura, lembrando como sua irm

    mais velha de 20 anos entrou em pnico diante da aproximao dos soldados americanos. Sua me pegou

    uma corda e a estrangulou.

    Eu tambm tentei me estrangular com uma corda, ele lembra, levando suas mos agora envelhecidas ao pescoo. Mas eu continuei respirando. realmente muito difcil se matar. Minutos depois, os americanos os levaram como prisioneiros.

    O soldado americano me tocou para verificar se eu tinha alguma arma, ele lembra. Depois ele nos deu doces e cigarros. Essa foi minha primeira experincia ao sair da caverna Sua me viveu at os 80 anos de idade.

    Ns falvamos sobre a guerra, disse Nakamura, que tornou-se um lder da aldeia. Mas at o fim, ela nunca, sequer uma vez, falou sobre ter matado sua filha. (traduo livre do autor)

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    so evidentemente estanques e esto em perptuo deslocamento (POLLAK, 1989, p.

    8).

    Segundo esse raciocnio, pode-se pensar na quantidade de memrias silenciadas

    e indizveis, decorrentes desse episdio, que em breve se perdero com a morte de seus

    portadores sem que esses tenham conseguido comunic-la, apesar de sua importncia

    para uma compreenso mais apurada desse conflito, especialmente no tocante s

    trgicas experincias daqueles que a vivenciaram.

    Retomando as questes anteriormente colocadas, faz-se necessrio realizar uma

    breve explicao acerca da ideologia ultranacionalista presente entre os militares

    japoneses. Tal ideologia, propugnada pelo exrcito imperial foi construda a partir de

    uma reatualizao e intensificao de uma longa tradio filosfica e marcial dos

    antigos samurais que no aceitavam a vergonha da derrota. Assim, os militares a partir

    de influncias ultranacionalistas concluram que toda a populao japonesa deveria agir

    de acordo com os princpios ticos dos antigos samurais (o Bushido), no havendo

    distino entre civis e militares.

    Os militares japoneses prximo ao trmino da guerra propunham um sepukko

    coletivo, um sacrifcio nacional. A rendio seria a verdadeira morte, a morte em si,

    seria uma redeno digna, a apoteose coletiva, que seria construda pela morte

    voluntria de cada indivduo que deveria, nesse ato supremo, mostrar sua reverncia

    para com a ptria a ao imperador. A chamada doutrina da lana de bambu (Takeyari

    shugi) era emblemtica nesse sentido, visto que propunha armar e treinar os civis com

    lanas de bambu, simbolizando a ideia da no rendio e da resistncia suicida contra os

    inimigos7.

    Outro motivo pelo qual houve muitos civis mortos na Batalha de Okinawa foi a

    dificuldade de distino, por parte dos soldados americanos, entre civis e militares. Isso

    se deu no apenas porque muitas batalhas ocorreram nas cidades e vilas, mas tambm

    porque os militares japoneses invadiam muitas casas de civis para us-las como

    barricadas para combater os americanos.

    No mesmo artigo do Jornal The New York Times, citado acima, James Brook

    alega que muitos historiadores de Okinawa estimam que, durante o conflito, cerca de

    7Com relao a esse assunto, ver a obra de PINGUET, Maurice. A morte voluntria no Japo. Rio de

    Janeiro: Rocco, 1987. Sobretudo o captulo XII. E tambm o livro de BENEDICT, Ruth. O crisntemo e

    a espada: Padres da cultura japonesa. So Paulo: Perspectiva, 1972.

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    mil civis okinawanos foram assassinados friamente pelos soldados japoneses por serem

    pegos utilizando o dialeto local, sendo acusados, por isso, de espionagem.

    Em suma, todos esses exemplos demonstram um considervel desprezo por parte

    dos militares japoneses com relao aos civis okinawanos. O arquiplago, que foi

    foradamente anexado ao Japo em fins do sculo XIX e que desde o sculo XVII havia

    restringindo ao mnimo sua fora militar, teve um destino tragicamente irnico por ter

    sido o nico territrio japons invadido antes do fim da guerra, o que sofreu maior

    destruio, sobretudo em termos humanos, tendo sido tambm palco da maior e mais

    sangrenta batalha da Guerra Pacfico e finalmente, o nico territrio japons a ser

    anexado pelos E.U.A. e convertido em um complexo de bases militares.

    O Peo sacrificado: Okinawa diante das relaes Japo - Estados Unidos no

    ps- guerra

    O fim da Batalha de Okinawa, e pouco tempo depois da prpria Segunda Guerra

    com a rendio do Japo em Agosto de 1945, no significou o fim da trgica situao

    vivida pelos civis do pequeno arquiplago. Para maioria deles, essa batalha foi

    completamente desnecessria, haja visto a rendio japonesa pouco tempo depois.

    Ademais, milhares morreram devido ao completo descaso do exrcito japons que no

    priorizou a segurana dos habitantes. Segundo o historiador okinawano Aniya Massaki

    no artigo Compulsory Mass Suicide, the Battle of Okinawa, and Japan's Textbook

    Controversy:

    The Battle of Okinawa, fought with the understanding that Japans defeat was inevitable, was the last ground combat between Japan and the US in the Pacific War. For the Japanese imperial government, the maintenance of the national polity was the first principle, and gaining time to prepare for the decisive battle on the mainland and negotiations for the conclusion of the war were crucial. [...] [It] was not a battle to protect the people (kokumin) of the

    mainland. It was a preliminary battle before eventually taking the

    entire nation (kokumin subete) to death along with the Emperor*

    (MASSAKI, 2007).

    *A Batalha de Okinawa, travada com o conhecimento de que a derrota do Japo era inevitvel foi o ltimo

    combate terrestre entre o Japo e os EUA na Guerra do Pacfico. Para o governo imperial japons, a

    manuteno da poltica nacional era o primeiro princpio, e ganhar tempo para preparar as defesas para a

    batalha decisiva no continente [as ilhas principais] e para as negociaes para a concluso da guerra era

    crucial.

  • [UMA ILHA DESCONTENTE: DISPUTAS E CONFLITOS EM TORNO DA MEMRIA SOBRE A BATALHA DE OKINAWA * RICARDO SORGON PIRES]

    195

    Para alm desses fatores, que por si s bastariam para um profundo rancor e

    descontentamento por parte dos moradores da ilha, cabe destacar tambm que diante das

    negociaes entre Japo e EUA, logo aps a guerra, se acertou entre as partes que

    Okinawa seria o nico territrio japons anexado aos EUA, e a pequena ilha seria

    convertida em uma grande base militar americana em razo da sua estratgica posio

    geopoltica fundamental no contexto da Guerra Fria, na qual os norte-americanos

    julgavam fundamental barrar o expansionismo sino-sovitico no Extremo-Oriente.

    Nesse sentido, Okinawa foi uma importante base aeronaval dos EUA durante a Guerra

    do Vietn (1964-1975).

    Nos dias de hoje, existem 14 bases norte-americanas neste pequeno arquiplago

    que representa apenas 0,6 por cento do territrio japons, e quase vinte por cento do seu

    territrio est ocupado por essas bases, onde circulam mais de 29 mil militares dos EUA

    (aproximadamente dois teros do nmero total de soldados e bases americanas

    existentes em todo o Japo. (INOUE, 2007, p. 2)

    Segundo o pesquisador Shuzen Hokama, citado por Yamashiro (1993, p. 226),

    Okinawa acabou sendo o peo sacrificado no xadrez da defesa do Japo

    metropolitano. O Japo derrotado sacrificou Okinawa (a provncia mais devastada) em

    nome da soberania nacional, mais uma vez demonstrando o descaso para com os

    okinawanos, considerados, na prtica, cidados de segunda classe8.

    Okinawa ficaria sob jurisdio americana at 1972, quando reintegrada ao

    Japo aps anos de presses da populao da ilha, e em menor escala da populao

    japonesa, em prol de um movimento criado em Okinawa chamado (Ninhon Fukki Undo)

    Movimento de Volta ao Japo. Entretanto, como visto, o fim do controle poltico por

    parte dos EUA de maneira alguma significou o fim ou mesmo a diminuio de suas

    bases e de seu efetivo militar na ilha em razo da permanncia dos interesses

    americanos na regio e ao fato do governo japons ser aliado a Washington.

    Evidentemente, as bases americanas trouxeram muitos problemas para os

    okinawanos. O primeiro deles a prpria questo do espao. H 14 bases americanas

    em uma ilha de mil e duzentos quilmetros quadrados, muitas delas foram construdas

    [] Ela no foi uma batalha para proteger o povo (kokumin) do continente. Foi uma batalha preliminar antes de eventualmente se tomar uma nao inteira (kokumin subete) para morrer juntamente com o

    imperador (traduo livre do autor) 8Nesse sentido, ver tambm INOUE (2007, p. 4)

  • [REVISTA CONTEMPORNEA DOSSI REGIMES AUTORITRIOS E SOCIEDADES]

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    196

    nas poucas terras agricultveis da ilha aps a expulso de seus antigos donos, alguns dos

    quais posseiros das terras h sculos. Ademais, h um grave problema de poluio

    qumica (esgotos) e, principalmente, sonora, devido aos exerccios de tiro, pouso e

    decolagem9 (YAMASHIRO, 1993, p. 230). Alm disso, durante a ocupao, os civis

    okinawanos eram tratados como sub-cidados (apesar de oficialmente americanos), pois

    seus rgos de informao sofriam censura pelo governo americano e havia restries

    nas viagens para o exterior.

    Ainda mais grave so as diversas acusaes de militares americanos de

    estuprarem jovens locais, muitas das quais foram arquivadas, enfurecendo a populao,

    principalmente no perodo anterior a 1972, quando os americanos possuam imunidade

    jurdica e os okinawanos estavam excludos de muitos direitos. Um dos casos mais

    graves ocorreu em 1995 quando trs soldados americanos foram acusados e condenados

    por estuprar uma menina okinawana de doze anos de idade10

    .

    Na poca, houve uma imensa manifestao, com mais de 85.000 pessoas,

    exigindo punies. Apesar de o caso ter sido averiguado e os militares condenados, as

    sentenas foram em torno de sete anos de priso. Uma pena irrisria considerando a

    gravidade do crime, e ao fato de que nos Estados Unidos e mesmo no Japo esse crime

    facilmente seria punido com priso perptua ou at mesmo com pena capital.

    Alm desses problemas, possvel identificar na presena americana uma

    agresso simblica a uma parcela da populao, envolvendo, sobretudo, a traumtica

    memria da guerra. A esse respeito, pode-se pensar, por exemplo, na angstia e no

    desconforto causado pela ocupao, a qual reatualiza e traz a tona constantemente as

    perturbadoras memrias de 1945. Em termos psicanalticos, a presena das bases, dos

    soldados, dos avies, cujos sons so percebidos como muito similares aos B-29 de

    9 De modo a no cair na tentao de uma anlise maniquesta e superficial, importante destacar que a

    questo das bases americanas em Okinawa sempre foi um tema controverso. Apesar da maioria da

    populao de Okinawa ser contra, muitas vezes, as opinies se dividem, uma vez que as bases, para alm

    de seus inconvenientes, so um importante fator econmico de uma ilha cuja economia ainda muito

    frgil. Diversas indstrias, prestadores de servios, e mesmo o setor de comrcio e turismo sofreriam um

    grande golpe se todas as bases fossem retiradas. Alm disso, muitas pessoas recordam que as bases foram

    fundamentais logo aps a guerra, pois forneciam muitos empregos diretos e indiretos, alimentos e

    assistncia mdica num momento de extrema dificuldade e aps um perodo de dominao japonesa

    marcado por fome, pobreza, entre outras dificuldades. Assim, as diversas questes sobre as bases

    americanas demandam um tratamento mais aprofundado, porm, devido s restries desse texto ser

    enfatizado apenas o vis negativo das bases, no que concerne ao seu impacto sobre a memria da guerra de parte da populao da ilha. 10

    Para mais detalhes sobre essa questo ver o livro de INOUE, Masamichi, S. Okinawa and the U.S.

    Military: identity making in the age of globalization. New York. Colmbia University Press, 2007.

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    197

    outrora, causam uma sensao de melancolia da lembrana de uma experincia

    trgica que no consegue ser sublimada pela constante rememorao por meio da

    presena dos antigos inimigos.

    Idelber Avelar pensando em um alargamento do conceito freudiano de luto e

    melancolia para uma situao coletiva afirma que

    De fato, nos primeiros escritos de Freud sobre o trauma, a

    possibilidade de integrar o fato perdido numa srie de recordaes

    associativas, como parte da cura, era visto precisamente como modo

    de permitir que o fato fosse esquecido. [...] a recordao teraputica do

    trauma tem o propsito de produzir seu esquecimento (AVELAR,

    2003, p. 289).

    A partir dessa citao, pode-se perguntar de que forma seria possvel para alguns

    okinawanos considerar o fato perdido (as destruies e mortes causados na guerra)

    como pretrito, se ele diariamente presentificado (um sintoma, portanto de

    melancolia) pela presena dos norte-americanos na ilha? Tal presena impede que o fato

    e, portanto, o trauma, se torne algo do passado. Isso um ponto chave no raciocnio

    psicanaltico, pois somente quando o trauma recordado, o que exige sua preterizao,

    ele pode ser esquecido, e, portanto, superado (ou sublimado), permitindo que se encerre

    o luto de forma saudvel (sem degenerar em melancolia). Portanto, de certo modo,

    alguns okinawanos ainda esto presos nesse quase luto, nesse passado que no quer

    passar, nessa angstia. nesse sentido que os autores Laura Elizabeth e Mark Selden

    escolheram como ttulo de seu livro, Islands of discontent: Okinawan response to

    Japanese and American Power.

    Realizando um rpido panorama, pode-se afirmar que aps um perodo marcado

    por preconceito e autoritarismo por parte do governo japons, culminando com a

    Batalha de Okinawa, os okinawanos entre os anos 1945 a 1972 procuraram se

    niponizarem no intuito de deslegitimar a ocupao americana e pressionar o governo

    japons para seu retorno ao territrio do Japo. No entanto, aps realizado esse feito, h

    uma onda de insatisfao dos okinawanos, contra o governo japons, que

    resignadamente aceitou a permanncia das bases americanas em Okinawa, consolidando

    a posio japonesa de aliana com os EUA no contexto da Guerra Fria.

    A dcada de 1970 um perodo bastante conturbado, uma vez que as bases

    americanas em Okinawa estavam sendo usadas para bombardear o Vietn. As cenas dos

    massacres da populao vietnamita pelos bombardeios causou uma rememorao

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    Ano 3, n 3 | 2013, vero ISSN [2236-4846]

    198

    trgica da guerra de 1945, e acrescentou certo sentimento de culpa pela utilizao das

    bases em seu territrio.

    Com o ps Guerra Fria, as presses para o fim das bases americanas nas ilhas

    Ryukyu aumentam, pois no haveria mais qualquer motivo, na viso da maioria dos

    habitantes, para a permanncia das bases. Contudo, a fraca determinao do governo

    japons frustra a populao de Okinawa. Ademais, as constantes tentativas do Estado

    japons de alterar os livros didticos de histria para excluir as passagens relativas aos

    massacres e suicdios dos civis okinawanos durante a Segunda Guerra enfureceu grande

    parte da populao da Ilha, sendo uma situao ainda bastante polmica e discutida.

    O embate de memrias: disputas e manipulaes sobre a histria ensinada no

    Japo

    Apesar do fato da censura e da manipulao da histria, com vistas a legitimar o

    Estado, ser algo tpico da construo dos Estados Nacionais, os quais em diversos

    pases, inclusive no Japo, remontam a meados do sculo XIX, a presente discusso

    estar centrada, sobretudo, na censura e manipulao da histria ensinada por parte do

    governo Japons a partir da dcada de 1980.

    De acordo com Miyume Tanji (2006, p. 44), as controvrsias e disputas entre o

    governo japons e Okinawa se iniciaram em meados dos anos 1980, quando o

    Ministrio da Educao do Japo (Monbusho) realizou uma srie de revises nos livros

    didticos de histria referente s aes dos militares japoneses durante a Segunda

    Guerra. Porm, antes de realizar as mudanas, relativas Batalha de Okinawa, o

    governo retirou as referncias sobre as atrocidades cometidas pelos militares japoneses

    contra os civis da China e da Coreia, provocando uma onda de protestos nesses dois

    pases11

    .

    Com relao Batalha de Okinawa, o Ministrio da Educao ordenou que se

    retirassem as referncias sobre o assassinato de civis da ilha pelos militares, e chegou

    mesmo a reduzir a contagem do nmero de civis mortos durante o conflito. Entretanto, a

    polmica principal girou em torno da questo dos suicdios coletivos. No perodo

    11

    Vale ressaltar que o governo japons procurou intervir no somente na histria ensinada, mas em

    diversos campos. Os estudos arqueolgicos, por exemplo, continuam a ter problemas com o Estado

    quando suas pesquisas contradizem a verso histrica oficial. A esse respeito, ver SAKURAI, 2008, p. 49

    e ANDERSON, 2008, p.143.

  • [UMA ILHA DESCONTENTE: DISPUTAS E CONFLITOS EM TORNO DA MEMRIA SOBRE A BATALHA DE OKINAWA * RICARDO SORGON PIRES]

    199

    dessas alteraes impostas pelo Monbusho (1982), houve manifestaes de diversos

    grupos em Okinawa, associaes de professores, historiadores e jornalistas locais,

    dentre outros. Esses grupos afirmavam que o suicdio dos civis da ilha em 1945 foi algo

    imposto pelo exrcito japons.

    A questo central das discusses se deu devido ao Monbusho impor o uso do

    termo suicdios coletivos. Segundo Tanji, ao se utilizar o termo suicdio (jikestu) num

    sentido coletivo, cria-se uma distoro do seu significado original na lngua japonesa,

    uma vez que o mesmo, quando utilizado para se referir ao de uma pessoa, tem uma

    denotao de enfatizar que se trata de um ato de extrema coragem, carregando um

    sentido de glorificao. A inteno do governo japons ao empregar esse termo de

    propor uma separao entre as mortes causadas por suicdio (jiketsu), transformados em

    uma demonstrao de sacrifcio heroico e de lealdade ao Estado japons, das outras

    formas de baixas civis, sobretudo os assassinatos, propriamente ditos, cometidos pelos

    militares.

    Nesse sentido, a culpabilidade do Estado japons de impor as mortes aos civis

    camuflada pelo aparente ato de bravura e nobreza coletiva do jiketsu, fazendo com que

    as mortes dos civis sejam percebidas como comparveis s mortes dos militares. Devido

    a isso, acrescenta Tanji, muitos okinawanos sobreviventes relutam a falar sobre a guerra

    por receio de serem mal interpretados, preferindo muitas vezes o silncio.

    Dentre as diversas formas possveis de se proceder na manipulao de textos

    histricos, no Japo a forma mais utilizada pelo governo precisamente a substituio

    de determinados termos por outros para mascarar eventos ou causar ambiguidades na

    interpretao textual, como demonstra Chiristian Laville (1999, p. 133-134).

    Esse debate em torno da histria e da memria da guerra fez com que, no final

    dos anos 1980, diversos grupos de civis em Okinawa passassem a se preocupar em

    entrevistar e publicar novas experincias de sobreviventes dos combates com o fim de

    produzir verses mais prximas daquelas defendidas pelos residentes.

    Aps esse embate mnemnico inicial, o que se percebe um relativo

    esfriamento das controvrsias nos anos 1990, apesar da criao em 1996 da Sociedade

    japonesa para a reforma nos livros didticos de histria*, a qual demonstra a clara e

    objetiva preocupao do Estado com relao ao controle, censura e manipulao na

    histria ensinada nos bancos escolares.

    * Atarashi Rekishi Kyokasho o Tsukuru Kai

  • [REVISTA CONTEMPORNEA DOSSI REGIMES AUTORITRIOS E SOCIEDADES]

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    200

    Em 2007 os debates voltam a ocorrer de forma agressiva, como visto na grande

    manifestao ocorrida em Okinawa nesse ano, na qual mais de 110.000 pessoas se

    reuniram em protesto contra o Ministrio da Educao do Japo, que imps novas

    alteraes nos livros didticos de histria muito semelhantes quelas dos anos 1980.

    Vale mencionar que esse foi o maior protesto coletivo dos okinawanos desde o retorno

    da ilha soberania japonesa em 1972, surpreendendo o governo japons pelo tamanho

    desdobramento provocado pelas novas medidas.

    Talvez o governo japons no esperasse tamanha manifestao em razo do

    tempo decorrido dos protestos nos anos 1980 e ao fato de muitos dos sobreviventes

    terem falecido ou estarem muito idosos. Entretanto, ao contrrio do imaginado, a

    passagem do tempo no apagou essas memrias subterrneas. Como firma Pollak:

    [...] a sobrevivncia durante dezenas de anos, de lembranas

    traumatizantes, lembranas que esperam o momento propcio para

    serem expressas.[...] essas lembranas durante tanto tempo confinadas

    ao silncio e transmitidas de uma gerao a outra oralmente, e no

    atravs de publicaes, permanecem vivas. O longo silncio sobre o

    passado, longe de conduzir ao esquecimento, a resistncia que uma

    sociedade civil impotente ope ao excesso de discursos oficiais. Ao

    mesmo tempo, ela transmite cuidadosamente as lembranas

    dissidentes nas redes familiares e de amizades, esperando a hora da

    verdade e da redistribuio das cartas polticas e ideolgicas

    (POLLAK, 1989, p.5).

    Pollak est se referindo, nesse exemplo, s memrias que emergiram do

    processo de desestalinizao na Europa Oriental, entretanto, possvel traar um

    paralelo, ainda que com diversas ressalvas, com a situao ocorrida no Japo em 2007.

    A nova tentativa de apagar as atrocidades cometidas contra os civis okinawanos durante

    a Segunda Guerra provocou um reavivamento dos traumas ainda no superados, os

    quais permaneceram existindo mesmo nas geraes que no experimentaram

    diretamente o evento. Nesse caso, pode-se pensar no conceito pollakiano de memrias

    herdadas (POLLAK, 1992, p. 4-5) que afirma que a memria coletiva transmitida

    entre as geraes por diversos meios. Em casos de memrias traumticas, a herana do

    ocorrido to forte que alguns descendentes sentem-se como se tivessem passado pela

    experincia traumtica. Ou seja, certos acontecimentos so vividos por tabela, pelas

    geraes subsequentes. Assim, a grande ecloso dos protestos em 2007 um exemplo

  • [UMA ILHA DESCONTENTE: DISPUTAS E CONFLITOS EM TORNO DA MEMRIA SOBRE A BATALHA DE OKINAWA * RICARDO SORGON PIRES]

    201

    de que a memria de 1945 ainda algo fundamental para a definio da identidade de

    ao menos parte considervel dos okinawanos.

    As mudanas ocorridas nesse ano se deram durante um dos governos mais

    conservadores do Japo no Ps Guerra, o do Primeiro Ministro Shinzo Abe (2006-

    2007). Em Maio de 2007, de acordo com o jornal ingls BBC de 18 de Maio, uma

    coalizo liderada pelo Primeiro Ministro aprovou outra lei que afirmava que amar

    nosso pas deveria ser um dos objetivos do ensino obrigatrio japons. Tal lei exigia

    que os professores encorajassem o patriotismo como parte integrante do currculo da

    educao bsica. Apesar dos protestos de diversos grupos e das crticas de alguns

    pases, a medida foi aprovada.

    Com relao s mudanas que versavam sobre a Batalha de Okinawa, aps

    meses de presses e protestos, a situao chegou a um impasse, no qual a proposta

    governamental foi apenas parcialmente aprovada. No obstante, muitos civis de

    Okinawa no se sentiram satisfeitos, pois a resoluo que foi adotada amenizava, ainda

    que no negasse, a participao do exrcito japons no martrio dos civis durante a

    guerra.

    Histria e Memria: algumas consideraes

    No livro Historical knowledge, historical error: a contemporary guide to pratice

    (2007), Allan Megill sugere que o Estado japons continua a suprimir as atrocidades

    cometidas em seu nome na poca da segunda guerra. A memria desse evento ainda

    seria necessria para manter a estabilidade e a coeso poltica e social e, nesse sentido,

    grande parte da populao apoia o governo nessa correo de memria. Desse modo,

    segundo Megill, pode-se pensar que o que se est em disputa entre o governo japons e

    parte dos residentes de Okinawa a questo de quem tem o direito de controlar ou

    impor o que deve ser lembrado sobre o passado (MEGILL, 2007, p. 18).

    Evidentemente, no se trata de uma questo simples de contrapor a histria

    oficial com a verdadeira verso contada pelos sobreviventes da guerra. Como enfatiza

    Megill, algo errado e mesmo perigoso confundir histria e memria. Uma histria

    revisionista da batalha de Okinawa no deve em hiptese alguma ser uma continuao

    ou defesa da memria dos sobreviventes, ou seja, ser uma histria afirmativa

    (MEGILL, 2007, p. 21).

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    202

    Para este terico, histria e memria no podem ser confundidas, pois so

    instncias que, apesar de complementares, so distintas. A memria envolve uma

    grande carga emocional a qual a histria no deve ter (ao menos, no como atributo

    principal). Por sua vez, a histria tem como funo primordial ser uma instncia crtica

    em relao ao passado e memria. somente assim que a histria pode complementar

    a memria, de forma crtica para que no seja confundida ou assimilada por essa ltima.

    A partir desse posicionamento, percebe-se que uma histria revisionista da

    batalha de Okinawa perpassaria, quase que obrigatoriamente, pela memria dos

    okinawanos sobreviventes da guerra. Tal memria, quando analisada criticamente e

    confrontada com outras documentaes disponveis, se torna uma importante matria

    prima na construo dessa histria, a qual pode estar vinculada aos interesses dos

    sobreviventes de Okinawa, desde que seja produzida com o instrumental crtico da

    cincia histrica.

    Assim, a grande preocupao na coleta de testemunhos de sobreviventes pode se

    converter em um efeito colateral resultante das mudanas nos livros didticos pelo

    Monbusho, uma vez que tal recolha permite que sejam produzidas novas obras de

    histria ou de memria que contradigam e auxiliem (conjuntamente, mas cada qual com

    suas caractersticas e objetivos) na resistncia a esse longo trabalho de enquadramento

    de memria realizado pelo Estado japons nas ltimas dcadas.

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