Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE ARQUITETURA MESTRADO EM ARQUITETURA E URBANISMO Pirajá: Um Bairro e Um Parque A vegetação como fator de aumento da biodiversidade e da qualidade de vida nos biomas urbanos. Dissertação submetida ao Programa de Pós Graduação da Universidade Federal da Bahia, Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, área de concentração Desenho Urbano, como parte dos requisitos par obtenção do título de Mestre. Fábio Henrique Soares Angeoletto Orientador: Professor Doutor Angelo Serpa SALVADOR, BAHIA 2000

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Dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo (UFBA) com metodologia de planejamento ambiental participativo de espaços públicos e privados. Key-words: ecologia urbana; arborização urbana; quintais; planejamento participativo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIAFACULDADE DE ARQUITETURA

MESTRADO EM ARQUITETURA E URBANISMO

Pirajá: Um Bairro e Um Parque A vegetação como fator de aumento da biodiversidade e da qualidade

de vida nos biomas urbanos.

Dissertação submetida ao Programa de Pós

Graduação da Universidade Federal da Bahia,

Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, área de

concentração Desenho Urbano, como parte dos

requisitos par obtenção do título de Mestre.

Fábio Henrique Soares Angeoletto

Orientador: Professor Doutor Angelo Serpa

SALVADOR, BAHIA2000

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ANGEOLETTO, Fábio. Pirajá: Um Bairro e um Parque – A Vegetação Como Fator de Aumento da Biodiversidade nos Biomas Urbanos. Mestrado em

Arquitetura e Urbanismo da UFBA. XXX p. ilust.

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BANCA EXAMINADORA:

Prof. Dr. Angelo Serpa (Orientador)

Prof ª Dr ª Evelyn Hartoch (UFBA)

Prof. Dr Sílvio Soares Macedo (USP)

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Página par avaliação:

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AGRADECIMENTOS

Listas de agradecimentos são muito difíceis de se elaborar. Há um risco de

chafurdar-se em uma pieguice lacrimosa, ou, o que é pior, esquecer de alguém

cujo auxílio foi valioso. Corramos o risco.

Encabeçando esse rol, agradeço ao professor, educador e ex-reitor da

Universidade Federal da Bahia, Luis Felippe Perret Serpa, pela participação em

minha banca de defesa de projeto de dissertação. Ele me fez compreender que

meu discurso era bipartido (ecologia / urbanismo), e que o grande desafio dessa

dissertação era unir temas aparentemente opostos num todo coerente.

Muitos são os colegas, poucos os amigos: a arquiteta Ida Matilde Pela,

companheira de mestrado, revelou-se uma amiga rara. Quase sempre nos

deixávamos levar em conversas mui produtivas, não importando o lugar. O croqui

do projeto inicial de uma praça em Pirajá foi talentosamente desenhado por ela.

Sua ajuda na inserção de mapas e fotos neste trabalho foi fundamental. Ida é um

dos poucos seres humanos com os quais conviver vale a pena. Com Francisco

Amaral, um apaixonado pelas árvores, também travei diálogos bastante

estimulantes, que resultaram em algumas das idéias aqui expostas.

Minha história aqui na Bahia é bastante ligada ao professor Angelo Serpa,

orientador desta dissertação, que conheci assim que cheguei, em 1994. Para

mim, o Angelo é um exemplo de jovialidade acadêmica, que, com suas finas

idéias, vem disseminando mudanças.

Á Solange Albuquerque, meu reconhecimento ao seu trabalho, superando as

muitas difculdades em fazer trabalhar a contento uma biblioteca com problemas,

como a falta de um fichário. Á Jandira Borges, secretária acadêmica do Mestrado,

um outro exemplo de profissionalismo, resolvendo com presteza e agilidade os

problemas burocráticos comuns aos mestrandos.

À colega de mestrado Liliane Araújo, à professora Lectícia Scardino Scott Faria

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(UFBA) e ao professor Roberto Luís de Monte-Mór (UFMG) pelas dezenas de

importantes referências bibliográficas gentilmente cedidas. Aos estudantes do

Colégio Estadual Alberto Santos Dumont, que participaram dos plantios de mudas

nos quintais de Pirajá; e aos moradores de Pirajá, especialmente aos situados no

entorno do "Buraquinho" pelo entusiasmo e perseverança. À Ana Marcia

Domingues, pelo auxílio na formatação do texto.

À professora Evelyn Hartoch, pela participação na banca de defesa de projeto e

de defesa pública da dissertação; e ao professor Sílvio Soares Macedo, da

Universidade de São Paulo, pela participação na banca de defesa pública. Á

Maria, e à Bebel, pela inspiração. Ao Tinoco por ser o que é, e à Lena, por ser

seu oposto, meus reconhecimentos.

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Esta dissertação é dedicada às árvores

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RESUMO

A dissertação Pirajá: Um bairro e um Parque - A Vegetação como fator de Aumento da Biodiversidade e da Qualidade de Vida nos Biomas Urbanos é dividida em duas partes. Na

primeira, é realizada uma discussão teórica sobre o ideário que classifica as cidades como a

antítese da natureza, e as conseqüências negativas desse ideário no planejamento urbano.

Procura-se demonstrar que essa oposição é falsa, uma vez que as cidades também são

ecossistemas, e que, apesar destes sistemas ocuparem uma área ínfima da biosfera - cerca de

3% - seus impactos sobre os demais sistemas são bastante grandes, pois as aglomerações

urbanas importam uma miríade de materiais (cuja obtenção via de regra descaracteriza o meio

ambiente) e exportam grandes quantidades de dejetos e outros poluentes causadores de diversos

impactos ao ambiente. Também é discutida a importância da presença de vegetação - sobretudo

árvores - aos ecossistemas urbanos, pelos inúmeros benefícios proporcionados pelos vegetais

(eles atuam retirando poluentes do ar, proporcionando microclimas mais aprazíveis, estruturando

espaços livres. Há ainda outras benesses); bem como a freqüentemente incorreta e insuficiente

utilização de vegetação nos projetos arquitetônicos e paisagísticos.

Na segunda parte são apresentados os resultados de um estudo de caso realizado no bairro de

Pirajá (Salvador, BA). Os dados nortearam um plano de arborização para os quintais (dados

obtidos através de mapeamento dos quintais) e para espaços livres (dados obtidos através do

método de sintaxe espacial). Pirajá, um bairro habitado por moradores de baixa renda, é contíguo

ao Parque Metropolitano de Pirajá, uma área de mata atlântica com cerca de 1550 ha. A

vegetação utilizada nos quintais e espaços livres foi selecionada pela maior capacidade de

atração e manutenção de polinizadores e dispersores de sementes - animais imprescindíveis à

recomposição de áreas desmatadas no interior do Parque (além de, obviamente, redundarem nos

benefícios acima comentados). Os moradores participaram do planejamento de pequenas praças

arborizadas, sendo que uma foi de fato executada. Espera-se que esses moradores contribuam

para a gestão da praça, uma vez que o bairro é periférico e pouco assistido pelos poderes

públicos.

Palavras chave: planejamento urbano, planejamento ambiental, planejamento participativo,

ecologia urbana, paisagismo, arborização urbana, gestão participativa de espaços públicos,

educação ambiental.

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ABSTRACT

The thesis Pirajá: a District and a Park - The Vegetation like a Tool to the Increase of Biodiversity and life Quality in the Cities is divided into two parts. The first part is a

theorical discussion on the common/traditional classification of cities and

nature as opposing entities, and the resultant negative consequences to urban planning. It has

demonstrated that this antagonism is false.

Cities are also ecosystems and (these systems occupy a small area in the planet,

bur their impacts over other ecosystems are to large. The importance

of arborization to cities is also addressed.

The second part shows the results of a case study realized in Pirajá

(Salvador, Bahia, Brazil), a poor district adjacent to the urban, tropical

forest Parque Metropolitano. The main goal of the study case was increase

the presence of trees in the district, to improve quality of life of

Pirajá's residents, and to attract insects, birds and bats: animals

indispensable to the Park's reforestation

Key-words: urban planning, environmental planning, urban arborization,

environmental education.

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SUMÁRIOINTRODUÇÃO...................................................................................................................................9

SALVADOR, BAHIA.........................................................................................................................1

2000.................................................................................................................................................1

5.1 O MÉTODO DE SINTAXE ESPACIAL.................................................................................................1215.2 AS CATEGORIAS SINTÁTICAS .......................................................................................................122

5.2.1 Espaço Convexo Médio (Y)...................................................................................1225.2.2 Integração dos espaços convexos pelas linhas axiais (C / L)...............................1235.2.3 Conectividade (Co)................................................................................................123 1235.2.4 Relativa assimetria do sistema axial (RA).............................................................123

5.2.5 ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE O USO DO MÉTODO DE SINTAXE ESPACIAL COMO FERRAMENTA PARA O PLANEJAMENTO DA ARBORIZAÇÃO URBANA.............................................................................................125

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INTRODUÇÃO

A reprodução de modelos urbanos que ignoram ou menosprezam fatores

biológicos tem ocasionado diversos impactos ambientais e má habitabilidade, em

parte devido ao despreparo de planejadores, e a atuação de forças político-

econômicas às quais a observação desses fatores é um empecilho.

Um outro motivo para a repetição desses modelos está no ideário que classifica

as cidades e a natureza como entidades separadas. De acordo com esse ideário,

a natureza situaria-se fora dos limites das cidades, ou no máximo, encontraria-se

somente em enclaves, cerceada pelo urbano.

Essa antítese traduz-se na execução de planos que, ao desconsiderarem

premissas ambientais, provocam impactos negativos, cuja escala varia do local ao

global. As Ciências Biológicas, em particular a Ecologia, renegam essa oposição,

ao classificar as cidades como ecossistemas, cujos ambientes de entrada e de

saída provocam substanciais alterações na biosfera.

Dada a crescente complexidade das cidades, propusemos que as cidades sejam

classificadas como biomas, isto é, não como ecossistemas, mas como mosaicos

de ecossistemas com diversidade biológica variável.

No segundo capítulo discutiram-se as forças sócio-econômicas que influenciam o

crescimento das cidades. Estas desenvolvem-se sobretudo através da

urbanização da pobreza e da riqueza, cada qual produzindo impactos ambientais

diversos. Também debateu-se as atuais tendências de urbanização, no mundo e

no Brasil.

No terceiro capítulo, defendeu-se o uso da arborização urbana como um

instrumento para a resolução de desequilíbrios ecológicos causados pelas

cidades, e para a obtenção de maior qualidade de vida.

Após essas considerações teóricas, um estudo de caso é apresentado, tendo

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como objeto o bairro de Pirajá (Salvador, Bahia). Inicialmente procedeu-se a

descrição do subúrbio ferroviário, região onde está inserido o bairro. A seguir foi

descrito o bairro, principalmente sob o ponto de vista da arborização. O Parque

Metropolitano de Pirajá (contíguo ao bairro), e sua importância são discutidos;

bem como os projetos e tentativas de sua preservação por parte dos governos

municipais e organizações não governamentais.

Apresentado o objeto de estudo, os resultados da aplicação de uma abordagem

metodológica que possibilitou a elaboração de estratégias de aumento da

diversidade vegetal em Pirajá são expostos e discutidos. Finalmente, a aplicação

dessas estratégias (plantio de árvores nos quintais e planejamento participativo

para a execução de uma praça arborizada no bairro) são detalhadas e discutidas.

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CAPÍTULO 1

Cidades e Natureza: Uma Antítese?

A natureza na cidade é uma brisa noturna, um redemoinho girando contra a fachada de um

edifício, o sol e o céu. A natureza na cidade são cães e gatos, ratos no porão, pombos nas

calçadas, ratazanas nos bueiros, falcões encastelados nos arranha-céus. É a consequência de

uma complexa interação entre os múltiplos propósitos e atividades dos seres humanos e de outras

criaturas vivas e dos processos naturais que governam a transferência de energia, o movimento

do ar, a erosão da terra e o ciclo hidrológico. A cidade é parte da natureza.

(Anne Whiston Spirn, 1995)

Cidades não são naturais.

(Lester Brown, fundador e diretor do World Watch Institute, 2000)

1.1 A oposição entre cidades e naturezaOs últimos anos registram um crescente interesse por um corolário de questões

conhecido como Problemática Ambiental. Ressalte-se que tal interesse não é

manifestado apenas por parte das universidades e dos institutos de pesquisa,

mas também por outros setores da sociedade, como as ONG's (organizações

não governamentais). No discurso dessas entidades ambientalistas, uma grande

ênfase é dada às questões ecológicas globais, como a destruição da camada de

ozônio, o desmatamento das florestas tropicais, entre outras.

Entretanto, predomina um senso comum que classifica as cidades como a

negação da natureza. Essa oposição parece balizar as ações do Poder Público

Federal. O Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA), do Governo Federal

instituiu um fundo para financiar propostas que

devem buscar a recuperação, manutenção ou melhoria da qualidade ambiental e o

uso racional e sustentável dos recursos naturais. Espera-se que desenvolvam, de

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forma clara e objetiva, ações que utilizem sustentavelmente o potencial natural de

uma região e que contribuam para solucionar e/ou minimizar problemas ambientais

relevantes, visando contribuir com a Política Nacional do Meio Ambiente (FNMA,

1999).

O Projeto Espaço Livre1 (ao qual esse trabalho de pesquisa está vinculado)

solicitou ao Fundo Nacional - que os negou - recursos para a instalação de um

viveiro - escola com capacidade de produzir 6 mil mudas / ano. As mudas seriam

usadas para aumentar a presença de vegetação nos bairros contíguos ao Parque

Metropolitano de Pirajá, um fragmemento florestal com cerca de 1550 hectares,

localizada na capital da Bahia, e assim dinamizar a presença de polinizadores e

dispersores de sementes, vetores que poderiam auxiliar a recuperação de áreas

degradadas no interior do Parque. A justificativa do Fundo para a recusa da

liberação dos recursos foi o fato de tratar-se de um projeto de arborização

urbana.

Diante dos benefícios da presença de vegetação à qualidade ambiental urbana, e

dos inúmeros estudos que atestam a importância de corredores de vegetação nas

cidades para a manutenção de espécies da flora e fauna que muitas vezes tem

papéis relevantes em paisagens ecológicas (vide classificação de GILBERT,

neste capítulo) fica transparente a negação da cidade como parte da natureza na

política ambiental federal.

A análise das páginas na rede mundial de computadores do Greenpeace e do

World Wildlife Fund (WWF), que são organizações não governamentais com

ramificações em todo o planeta, é bastante reveladora. Em nenhum dos "sites"

encontra-se qualquer menção às cidades como ecossistemas. A WWF (1999)

descreve todos os principais sistemas ecológicos brasileiros, menos as cidades.

Elas só aparecem em discursos vagos sobre desenvolvimento sustentável.

1 Nas palavras do professor Angelo Serpa, coordenador do projeto, o Projeto Espaço Livre de

Pesquisa-Ação se insere nas atividades de pesquisa do Mestrado em Geografia e do Programa

de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFBA, e visa experiementar novas

possibilidades de intervenção no espaço construído para habitação, em Salvador. O projeto

integra estudantes de graduação, pós-graduação e pesquisadores com atuação em áreas de

urbanização popular (SERPA, 1999-e).

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No sítio do GREENPEACE (1999-a; GREENPEACE, 1999-b), há inclusive uma campanha

que sugere que os visitantes enviem mensagens eletrônicas ao Presidente da

República Federativa do Brasil pedindo o fechamento da Estrada do Colono. Com

aproximadamente 17 km, ligando Capanema e Serranópolis do Iguaçu, a Estrada

atravessa o Parque Nacional do Iguaçu. Por pressões de movimentos

ambientalistas, foi fechada em 1986, através de uma decisão da Justiça Federal.

Em 12 de janeiro de 1998 ela foi reaberta ao tráfego, permanecendo assim até

hoje (SINCRO, 1999) .

O Greenpeace enumera várias razões para o fechamento da Estrada, como a

possibilidade de morte de animais no seu percurso, a caça e a extração de

espécies da flora; e a presença de venenos como agrotóxicos e aqueles

provenientes dos motores dos veículos. Estranho, em se tratando de uma ONG

ambientalista, é não haver nenhuma menção ao fato de que os veículos, ao

passarem pela Estrada, deixam de circular cerca de 150 Km, em estradas

próximas ao Parque, evitando assim a emissão de centenas de toneladas anuais

de poluentes que afetariam-no mais amiúde (ANGEOLETTO, 1999-a).

Também não se discutem os benefícios da Estrada para a população da região

oeste paranaense, particularmente para a micro-região do entorno da Estrada,

nem as iniciativas das prefeituras vizinhas ao Parque para preservá-lo, como por

exemplo a criação de duas entidades, a Associação dos Municípios Pró

Reabertura da Estrada do Colono, que fiscaliza as áreas do Parque que são

contíguas às cidades-membro; e o Movimento Amigos do Parque, que

estabeleceram normas para a utilização da estrada e cuidam da sua

fiscalização2.

Pouco se discute sobre as cidades, como se seus problemas não guardassem

relação com a preservação do ambiente: seriam problemas urbanos; inerentes à

urbanização, e não problemas ambientais. É ainda corrente a idéia de natureza

2 Para BUSARELLO (1990), embora a crise ambiental do planeta venha sendo amplamente

discutida, questões inerentes ao ambiente urbano são relegas a segundo plano pelos movimentos

ambientalistas.

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como natureza bruta ou museu natural (SERPA, 1995, p. 114; SERPA, 1998, p.

49, 50). Ocorre que, como afirma ELLEN (1989 in DIEGUES, 1996, p. 14),

SPIRN (1995, p. 20) e SERPA (1995, p. 114; SERPA, 1998, p. 49, 50), não existe

natureza em estado puro, e mesmo os mais recônditos ecossistemas sofrem

influência antrópica – direta ou indireta.

O cidadão comum partilha desse ideário: para ele, a natureza situa-se fora dos

limites da cidade, natureza são as praias paradisíacas que o recebem nas férias,

ou a mais inatingível floresta tropical, salva da mácula do urbano. Assim, no

imaginário da sociedade brasileira a questão ambiental refere-se a problemas de

uma ordem distante (a camada de ozônio, as chuvas ácidas, etc. RODRIGUES,

1998, p. 136).

Esse imaginário é alimentado pelos meios de comunicação, que veiculam

reportagens sobre esses problemas, aparentemente desconexos da realidade

urbana, ou sobre pitorescas viagens à natureza, que sempre está situada fora dos

limites das cidades. Essa maneira de abordar os problemas, que é repercutida

constantemente pelo mass media, alimenta tendências políticas e ideologias de

caráter fortemente conservador, e obscurecem a aceleradíssima devastação

ambiental urbana que vem ocorrendo sobretudo nas metrópoles do 3º mundo

(PACHECO & LOUREIRO, 1992, p. 47).

Há também poucas publicações abordando os problemas ambientais urbanos do

terceiro mundo, geralmente os livros sobre ambiente discutem apenas o

desmatamento das florestas tropicais dos países em desenvolvimento, o buraco

da camada de ozônio, etc, isto é, a maior parte do debate ambiental concentra-se

nas questões globais que ameaçam o planeta e os grandes ecossistemas,

deixando-se num plano secundário, os efeitos nefastos da degradação ambiental

no contexto sócio-urbano (JACOBI, 1993 in SILVA & FERNANDES, 1996, p. 54;

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ENVIRONMENT and URBANIZATION, 1989, p. 76).

CAMPBELL (1992, p. 191) e FRANCO (1997, p. 212) não escondem a ironia

dessa situação distorcida: enquanto que problemas imediatos, circunscritos ao

ambiente mais próximo (a casa / o bairro), como a falta de saneamento3, são

freqüentemente ignorados por grupos ambientalistas e poderes públicos; as

atenções internacionais voltam-se para questões como o buraco na camada de

ozônio e etc.

Quando o tema Ecologia é mencionado, salta aos olhos o fato de que poucas

referências são feitas ao problema árboreo nas cidades, como se os problemas

ecológicos só estivessem circunscritos fora do perímetro urbano. Quando há, o

planejamento é pouco eficiente no tocante ao aumento e conservação das

árvores urbanas (KNIJNIK, 1985, p. 199). Em suma, enquanto cresce a

preocupação com o ambiente, ainda enxerga-se a cidade como um lugar de

negação da natureza, ou como o local onde sua presença é restrita a poucos

espaços.

É provável que essa percepção, que classifica a cidade e seu entorno como

categorias antagônicas, seja explicada em parte pela ruptura dos estreitos

vínculos e compromissos que unem os citadinos ao meio ambiente. O indivíduo é

independente em um nível sem precedentes da luz do dia e das condições

metereológicas, das estações do ano e das matérias primas autóctones, assim

como de quase todos os ciclos naturais. É evidentemente uma independência

ilusória. As cidades sobreviveriam poucos dias se o fluxo de matéria e energia

vindo de ecossistemas próximos e distantes cessasse (QUEIJO & MONTAÑEZ,

1989, p. 69).

3 Ou no caso de Salvador, a falta de uma adequada arborização nas encostas. O

desmoronamento de encostas acarreta tragédias previsíveis e que se repetem, como a de maio de

1999, quando toneladas de terra soterraram a Av. Suburbana, matando várias pessoas. É claro

que a atenção não deve ser desviada das questões globais, o fato é que elas necessariamente

serão resolvidas à partir das cidades.

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Há outras explicações plausíveis para a desvinculação entre os habitantes das

cidades e a natureza. Na história da relação das sociedades com a natureza

quase sempre tem estado presente a idéia de que esta deva ser dominada para

servir ao homem. A natureza é tida como recurso exterior ao homem, que é criado

à imagem e semelhança de Deus, e, portanto, superior à natureza, que deve

serví-lo (RODRIGUES, 1998, p. 18, 40). Esse ideário está implícito inclusive nos

programas dos partidos políticos brasileiros. Para RODRIGUES (1998, p. 34),

tanto a esquerda como a direita brasileiras enxergam a natureza como um

recurso a ser explorado, ou então como um mero obstáculo a ser transposto.

A aparente independência do urbanita em relação aos ciclos naturais está

materializada no urbanismo moderno (HAHN, 1998), cujo ideário prega um

absoluto desprezo pelo meio físico: ele é apenas um substrato a ser moldado. O

CIAM (Congresso Internacional de Arquitetos Modernistas ) de 1951 declara que

a natureza do núcleo urbano é uma paisagem cívica, que é produto do homem, e,

portanto, oposta à paisagem natural4. E ainda que na paisagem cívica em alguns

casos os elementos naturais - árvores inclusive - estariam fora de lugar (sic)

(CIAM, 1951 in SIMEOFORIDIS, 1997, p. 11).

Nas palavras da bióloga Maria Angela Faggin Pereira LEITE (1994, p.140):

As práticas do urbanismo (...) não fazem uso do conjunto de características naturais e

sociais de um lugar - da natureza desse lugar - para avaliar, selecionar, emitir juízo ou

implantar concepções de organização urbana, mas parecem procurar perpetuar,

numa atitude temerária, a reprodução de modelos parciais, generalizantes e

dogmáticos, que apesar de reduzir a natureza ao urbano, não têm a capacidade de

integrar o natural e o construído (...)

4 No período modernista, a arquitetura de exteriores era considerada uma atividade periférica. Os

arquitetos dessa época estavam ligados às idéias de progresso, geometria, ordem, e a imagem da

máquina, o que tornava difícil incorporar a natureza orgânica à paisagem construída. Infelizmente,

até hoje o termo paisagismo carrega uma conotação cosmética em relação ao projeto

arquitetônico (FRANCO, 1997, p. 9, 19; LEITE, 1996, p. 62, SOARES, 1984, p. 91).

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Le Corbusier previa que os arranha-céus seriam a salvação da paisagem,

separando a população do solo e permitindo que a paisagem se espalhasse por

debaixo dos edifícios. A partir dessa formulação corbusiana se desenvolveu uma

visão ideológica da paisagem, considerada como o cenário passivo da escultura

(o edifício). Esse modelo simplista, inflexível e destrutivo da paisagem, que

separa o edifício em artificial e a paisagem em natural, ainda persiste na prática

da Arquitetura. Freqüentemente projetos paisagísticos com formas deliberadas

são criticados por "competirem" com a forma esculptórica dos edifícios próximos

(SCHWARTZ in ROSSEL, 1997 p. 125, 126).

Mesmo os arquitetos e planejadores que procuraram introduzir a natureza na

cidade, através de parques e jardins, entendiam a cidade como algo estranho à

natureza, e seus projetos como enclaves naturais na urbe (SPIRN, 1995, p. 21).

A oposição entre cidades e natureza ecoa na prática da arquitetura, cuja relação

com a paisagem ainda é dominada pelas tradições do desenho modernista: os

edifícios são concebidos como artefatos esculptóricos isolados, como se não

trocassem energia e materiais com o meio. Quanto à vegetação, parece haver um

receio de que a folhagem prejudique a arquitetura, daí sua sub-utilização5. Isso

reforça a visão da natureza como um local para onde os citadinos dirigem-se nos

finais de semana, mas nunca como algo associado às edificações de uma cidade.

As implicações estéticas negativas que decorrem desta visão são óbvias, e mais

dramáticas são as conseqüências para a saúde6 das populações urbanas (WINES

1997, p. 32).

Uma pequena digressão faz-se necessária, na discussão da relação entre o

desenho urbano modernista e a natureza. No século XIX, nos Estados Unidos,

havia uma percepção muito forte que ligava a época heróica dos pioneiros à

imagem de uma natureza intocada. Por isso, inicia-se uma tradição antiurbana

com Thomas Jefferson. Outros intelectuais levam adiante as idéias de Jefferson,

5 É pertinente ressaltar que o paisagismo modernista – ao menos no Brasil – contrapõe-se a essa

postura. Vide por exemplo a obra de paisagistas como Rosa Kliass ou Roberto Burle Marx.

6 Os benefícios da arborização no ambiente urbano serão tratadas no capítulo 3.

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como R. Waldo Emerson, Thoreau, Henry Adams, entre outros. Esses autores

criticam a cidade, sob diferentes perspectivas, e defendem a restauração de um

estado rural compatível com a sociedade industrial (CHOAY, 1992, p. 17).

As idéias antiurbanas cristalizam-se no século XX, em um novo modelo, a

Broadacre City, proposto pelo arquiteto americano Frank Lloyd Wright.

Influenciado por Emerson, Frank Lloyd acusa a cidade de alienar o indivíduo no

artifício, e afirma que só o contato com a natureza pode permitir um

desenvolvimento humano harmonioso. Apesar do nome "city", a proposta de

Wright, elimina não só as metrópoles, mas também a idéia de cidade em geral,

pois a natureza volta a ser um meio contínuo, onde as funções urbanas

encontram-se dispersas (CHOAY, 1992, p. 29).

A tentativa de Wright de não negar a diversidade topográfica, mas, ao contrário,

procurar preservar a natureza em suas particularidades (CHOAY, 1992, p. 31), é

louvável. Porém nota-se claramente em suas idéias a antítese cidade / natureza,

cujos ecos ainda são percebidos nos discursos de planejadores. O que Lloyd

Wright defendia era a reintrodução da natureza na vida dos citadinos, sem

aperceber-se que ela nunca esteve ausente.

É interessante que, apesar de Wright entender que a arquitetura está

subordinada à natureza (CHOAY, 1992, p. 31), não há no seu esforço teórico

contribuições da Ecologia (ciência constituída desde o século XIX), que permitam-

no descrever técnicas urbanas de menores impactos ambientais. Impactos que

invariavelmente estariam presentes caso Broadacre City tivesse sido realmente

adotada como modelo de cidade, pois Wright defendia o automóvel, o avião, e

técnicas de comunicação para vencer o isolamento das funções urbanas

(CHOAY, 1992, p. 31). Em suma, apesar dos equívocos, houve entre os

modernistas quem pregasse uma outra relação entre arquitetura e natureza,

diferente daquela materializada nas obras de Le Corbusier e seguidores.

Em grande medida, os arquitetos comungam do ideário o qual preconiza que as

cidades são forjadas principalmente por forças sociais e econômicas, e que a

natureza desempenha um papel meramente estético, de embelezamento da urbe,

19

Page 21: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

através da criação de parques e espaços arborizados (SPIRN, 1995, p. 17). É

preciso esclarecer que felizmente tem crescido o número de profissionais -

arquitetos, urbanistas e planejadores, cuja atuação é pautada em premissas

ambientais. Não obstante, é preciso generalizar o modus operandi desses

profissionais.

Entre os urbanistas persiste a crença de que cidades são a antítese da natureza.

Essa crença dominou a forma pela qual a cidade é percebida e continua a afetar a

forma como ela é construída (SPIRN, 1995, p. 21). Poucas vezes a cidade é

pensada como parte do ambiente natural onde está inserida: uma pesquisa

realizada no URBANDATA, que agrupa mais de dez mil referências de pesquisas

urbanas, encontrou apenas 97 classificáveis como ambientais (TORRES, 1995, in

RODRIGUES, 1998, p. 111).

A negação da cidade como uma parte da natureza constitui o que DIEGUES

(1996, p. 13) classifica como mito moderno da natureza intocada, uma tentativa

de reedição do paraíso perdido. O conceito de natural/selvagem é

fundamentalmente uma percepção urbana. Daí a dicotomia urbano/natural, sendo

o natural áreas que devem ser preservadas como templos intocáveis, segundo

esse ideário (DIEGUES, 1996, p. 53). O ideário a que se refere Diegues

transparece na análise feita por aquele autor em documentos do IBAMA dos anos

80, onde descobriu-se que este Instituto propunha até mesmo a retirada de

populações tradicionais (como ribeirinhos, caiçaras e indígenas) das reservas

ecológicas, ignorando que esses povos contribuíram para o aumento da

biodiversidade dos sistemas que eles têm habitado há séculos (segundo

OLIVEIRA, 1992, in DIEGUES, 1996 há vários estudos que apontam nesse

sentido).

1.2 Conseqüências da oposição entre cidades e natureza para o planejamentoO ideário da cidade como um artefato, em oposição à natureza, evidentemente

tem ocasionado erros na condução do planejamento das cidades. A UNESCO

(1981 in DIAS, 1994, p. 96) preconiza o planejamento de base ecossistêmica como um pré-requisito essencial para a sobrevivência e o bem estar das

20

Page 22: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

populações humanas no futuro. Enquanto que a estabilidade dos ecossistemas

"naturais" aumenta com o crescimento de sua complexidade, o oposto ocorre com

os sistemas urbanos.

Parte dessa vulnerabilidade deve-se ao fato do não reconhecimento das comunidades urbanas como ecossistemas: o planejamento das cidades

carece de uma visão sistêmica (DASMANN 1972, in DIAS, 1994, p. 19). O

planejamento urbano tem sido feito muito mais a partir dos critérios econômicos

do que os ecológicos (MOTA in LIMA, 1993, p. 19; ZAREMBA, 1986, p. 80). Para

LOMBARDO (1997, p. 46), é preciso repensar os conceitos ambientais no urbano,

visando o estabelecimento de novas metodologias e técnicas aplicáveis ao

planejamento do ambiente urbano.

Ao desconsiderar critérios ambientais, o planejamento das cidades agravou

alguns problemas e mesmo causou outros: água e ar poluídos, recursos

dilapidados, demandas crescentes de energia. Na verdade, os problemas

ambientais urbanos não são diferentes daqueles que afetavam as cidades

antigas, exceto quanto ao grau e à extensão de terra urbanizada (SPIRN, 1995,

p. 21).

Um exemplo de como a desconsideração de critérios ambientais podem ser

prejudiciais: recentemente a cidade de Boston inaugurou um centro de compras e

uma torre de escritórios. Investidores esperavam um lucro maciço obtido por uma

explosão de vendas. Esse retorno não ocorreu, pois as ásperas condições de

vento, criadas pela torre, afastaram os consumidores. A parte aberta do shopping

era sistematicamente fustigada por ventos fortes que atiravam partículas de areia

nas pessoas. A maioria das lojas do shopping foram fechadas (SPIRN, 1995, p.

44, 45).

Outro bom exemplo de um planejamento equivocado, que desconsidera

processos naturais está materializado na barragem de Assuã. Ao ser erigida no

alto do rio Nilo, no Egito não foi levada em conta a ecologia do caramujo

transmissor da esquistossomose. Antes da barragem, os caramujos eram levados

pelas águas do Nilo. Com a barragem aumentou o número de canais onde os

21

Page 23: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

caramujos puderam proliferar, e a doença espalhou-se rapidamente pelo Egito

(SPIRN, 1995, p. 261).

Para a arquiteta e paisagista Anne W. Spirn, não é comum que arquitetos e

urbanistas projetem para a economia de energia e diminuição de danos a saúde

(poluentes, etc). Arquitetos, paisagistas, engenheiros muitas vezes não têm noção

de como seus projetos irão afetar o ambiente da cidade como um todo (SPIRN,

1995, p. 76, 79, 255). A maioria dos arquitetos e planejadores têm demonstrado

desconhecer (ou desconsiderar) a dependência de nossa espécie em relação aos

ecossistemas da biosfera, bem como o inter-relacionamento entre esses sistemas

(FITCH, 1976, in NERY, 1992, p.1).

Embora o número de profissionais, cuja prática da profissão leva em

consideração critérios ambientais venha aumentando, frequentemente não

conseguem levar as suas idéias e conceitos integrados a termo. Muitas vêzes

eles se esbarraram em decisões contrárias, baseadas menos em premissas

técnicas do que em considerações de ordem político-econômica, tanto de grupos

de interesse fortes, como também por parte das instituições que os empregam.

Contribui para essa prática de planejamento equivocada a falta de compreensão

de aspectos ecológicos da urbanização (SILVA, 1996, p. 310; ZAREMBA, 1986,

p. 96), bem como uma insuficiência de instrumentos e políticas mobilizadoras

para entender, intervir, e transformar a realidade ambiental (PAULA & BRITO,

1997).

Uma boa parte da mão de obra qualificada não está preparada para as realidades

e problemas do ambiente urbano. Além disto, há uma falta de comunicação entre

a comunidade científica e os responsáveis pelo planejamento, gestão e tomada

de decisões, por isso, apenas uma pequena parte da pesquisa ambiental é

22

Page 24: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

aplicada em planejamento e gestão (CELECIA, 1994, p. 3; CELECIA, 1997, p. 6).

Outro fato preocupante é o caráter quase sempre corretivo, e não antecipativo,

das políticas urbanas (ALVA ,1995, p. 40, 46), o que contribui para agravar os

problemas ambientais enfrentados especialmente pelas grandes cidades.

Felizmente, no campo das políticas urbanas vem ganhando espaço, ainda que de

maneira incipiente, a idéia de que uma abordagem integrada dos problemas

urbanos, enfocados sob a óptica do meio ambiente, pode gerar uma nova agenda

de questões a serem contempladas no planejamento e gestão das cidades.

SPIRN (1995, p. 21) preconiza uma nova atitude para com a cidade. Esta precisa

ser reconhecida como parte da natureza e ser projetada de acordo com isso.

Essa desconsideração dos processos naturais tem sido onerosa e perigosa.

Houston é devastada por enchentes, causadas pela urbanização das nascentes,

as árvores de Boston e Detroit morrem pelo excesso de poluição, tornando cara a

sua reposição (SPIRN, 1995, p. 26).

1.3 A cidade do ponto de vista ecológicoODUM (1985, p. 45) desarma a separação cidade / natureza quando classifica a

cidade como um ecossistema7 heterotrófico. Isso significa que, sob o prisma da

Ecologia, as cidades8 estão para a natureza assim como estão as mais recônditas

florestas tropicais.

7 Ecossistemas ou sistemas ecológicos, segundo ODUM (1985, p. 10-11) são sistemas abertos

compostos pôr: (1) substâncias inorgânicas; (2) compostos orgânicos, que ligam os fatores

abióticos (ambiente) e os bióticos (seres vivos); (3) os ambientes atmosférico, hidrológico e do

substrato, incluindo o regime climático e outros fatores físicos; (4) produtores; (5) consumidores; e

(6) decompositores

8 Diversos autores corroboram ODUM: FORATINNI, DIAS, GILBERT, CESTARO, ULTRAMARI,

CIUDADES PARA UN FUTURO MÁS SUSTENIBLE.

23

Page 25: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Anne Spirn defende a idéia de uma natureza contínua, com diferentes gradações

que vão da floresta à cidade. A autora prossegue afirmando que o conceito de

ecossistema é uma ferramenta poderosa pois permite a cada morador perceber

seu impacto cumulativo sobre a cidade, e ao arquiteto de cada edifício ou parque

perceber o lugar de seus projetos no todo (SPIRN, 1995, p. 269).

Todos os ecossistemas são sistemas abertos, ou seja, representa parte

importante dos estudos de um sistema ecológico reconhecer que existe um

ambiente de entrada (entrada no sistema de energia, materiais e organismos) e

um ambiente de saída (exportação de energia e materiais processados e

emigração de organismos). Assim, não é tão importante a delimitação da caixa central de um ecossistema, até porque, se a caixa fosse um recipiente

impermeável (um lago ou uma cidade, por exemplo), o seu conteúdo vivo não

sobreviveria a um fechamento dessa natureza. Um ecossistema, para que seja

funcional, precisa de uma entrada para que sejam mantidos os processos vitais e

um meio para exportação da energia e materiais processados.

Atualmente, com o planeta se urbanizando rapidamente, as cidades serão melhor

compreendidas do ponto de vista ecológico se forem classificadas como biomas9,

ou seja, como conjuntos de sistemas ecológicos freqüentemente bastante

variados, que abarcam desde o quintal de uma residência até reservas de mata,

áreas verdes, e também paisagens com um alto grau de edificação, mas que

abrigam diversas formas de vida além da humana.

9 RAVEN & EVERT (1996, p. 612) definem um bioma como um conjunto de ecossistemas

terrestres, climaticamente controlados, que são caracterizados por uma vegetação própria e entre

os quais existe um intercâmbio de água, nutrientes, gases e componentes biológicos, incluindo

pessoas.

24

Page 26: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

GILBERT (1989, p. 2) identifica 3 tipos principais de ecossistemas no ambiente

urbano: a paisagem tecnológica, onde a paisagem biológica foi

substancialmente trocada por substitutas artificiais; a paisagem jardim, onde

elementos biológicos podem subsistir desde que haja um contínuo manejo e a

paisagem ecológica onde elementos naturais persistem sem qualquer

intervenção.

Um aspecto surpreendente dos biomas urbanos, é que estes apresentam um

maior número de espécies vegetais e animais que sistemas agrícolas e

reflorestados, perdendo apenas para biomas "naturais".

A grande Londres, por exemplo, apresenta cerca de 1850 espécies de vegetais e

200 de aves. É mister afirmar que essa biodiversidade não necessariamente

corresponde a uma riqueza ecológica, já que é baixa a percentagem de espécies

raras ou de ambientes específicos (CESTARO, 1985, p. 54).

Os assentamentos humanos sempre se constituíram em alguma forma de

transformação do meio natural preexistente. Desde a pré-história o meio natural

vem sendo modificado, transformado ou comprometido10 (MOHR, 1985, p. 31).

10 É bastante significativo que a primeira grande crise ambiental registrada historicamente tenha

ocorrido na região onde pela primeira vez surgiu uma aglomeração urbana, em 3500 a.C., na

Baixa Mesopotâmia (POITING,1992 in TUR, 1997).

25

Page 27: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Porém, a rápida urbanização que temos assistido nos últimos 50 anos tem

mudado a fisionomia do planeta mais do que qualquer outra atividade humana.

Para WHITE (1985, p. 13) a urbanização é atualmente a maior força ecológica,

que envolve amplas transformações do solo, água, ar, recursos energéticos e de

populações humanas; suficientes para influenciar o clima e os ciclos

biogeoquímicos globais.

Essa constatação da força de influência da urbanização pode parecer um

equívoco, quando verifica-se que a área ocupada pelos biomas urbanos situa-se

entre somente 1 e 5% da parte terrestre do globo11. Ocorre que, por possuírem

extensos ambientes de entrada e saída, estes sistemas alteram sobremaneira a

natureza de rios, florestas, campos, oceanos e a própria atmosfera. Segundo

JOHNSON (1999), WORLDWATCH INSTITUTE (1999) e GIRARDET (1997, p. 9),

as cidades ocupam cerca de 2% da superfície terrestre, mas contribuem para o

consumo de 76% da madeira industrializada e 60% da água doce12.

Isto significa que embora as cidades sejam descritas como entidades geográficas

isoladas, elas dependem dos recursos naturais de vastas regiões muito além de

suas fronteiras. Para quantificar o volume de recursos consumidos pelas cidades,

REES & WAKERNAGEL criaram um conceito, a pegada ecológica (ou

ecological footprints) para medir a dependência entre as cidades e seus

hinterlands. A pegada ecológica é definida como o total da área de terra produtiva

e água requeridos permanentemente para produzir todos os recursos consumidos

e absorver todos os dejetos produzidos por uma determinada população. Desde o

11 Mesmo após a intensa urbanização ocorrida nos últimos 100 anos, a área ocupada pelos

espaços urbanos é uma pequena fração da superfície dos continentes. Os EUA, por exemplo, têm

53% de sua população ocupando apenas 0,7% do território nacional (DAVIS, 1977, in SERRA,

1987, p. 7). 50% da população mundial vive em cidades com mais de 20 mil habitantes, e ocupam

uma área inferior a 2% dos continentes. No Brasil, em apenas 9 regiões que ocupam menos de

5% do território nacional, vivem aproximadamente 45% da população (CESTARO, 1985, p. 51).

12 Para se ter uma idéia da magnitude do ambiente de saída dos biomas urbanos: cientistas que

estudam a neve da Antártida, os peixes de mares profundos e as águas subterrâneas encontram

resíduos químicos feitos pelo homem (SANTOS, 2000)

26

Page 28: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

começo deste século, a pegada ecológica cresceu 5 vezes nos países

industrializados (ALBERTI, 1997, p. 3).

A pegada ecológica de cidades como Los Angeles ou Londres provavelmente

possui área entre 100 e 300 vezes maior do que a área ocupada pelos próprios

assentamentos. A pegada ecológica de Londres, com 12% da população

britânica, estende-se hoje por cerca de 20 milhões de hectares, o que equivale ao

total de terras produtivas da Grã-Bretanha (GIRARDET, 1999, p. 11). Se o padrão

dos londrinos fosse estendido ao resto das populações urbanas do mundo, seriam

necessários três planetas Terra para sustentarem a todos (JOHNSON, 1999).

DARLING & DASMANN (1972, in DIAS, 1994, p. 19) defendem que as cidades

ocupam o mesmo nicho global dentro da biosfera, explorando os mesmos

recursos, das mesmas maneiras. Isso gera uma competição muito forte, que

fomenta crescentes pressões ambientais, ao mesmo tempo em que a qualidade

de vida de boa parte dos citadinos deteriora-se.

1.4 Impactos dos biomas urbanos sobre a biodiversidadeUm impacto dos biomas urbanos sobre a biosfera, a contínua perda de biodiversidade, merece especial atenção, pelas conseqüências deletérias que

poderão advir.

Áreas urbanas são sinônimos de perturbação de ecossistemas e de erosão de

diversidade biológica (MURPHY, 1997, p. 89-97) aqui entendida como o grau de

variedade na natureza, incluindo tanto o número quanto a freqüência de gens,

espécies e ecossistemas em determinada região. É normalmente considerada em

três níveis diferentes: diversidade genética, de espécies e de ecossistemas

(PAULA, 1997, P. 246)].

Historicamente, as áreas urbanas foram as primeiras regiões onde houve

matança excessiva de vida selvagem para obtenção de alimento, peles e penas.

Essas áreas foram pioneiras também no sentido de terem programas de

derrubadas e erradicação de "ervas daninhas". Outro fator de redução de

biodiversidade é a introdução de espécies animais exóticas que caçam as

27

Page 29: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

populações nativas, competem por recursos limitados e agem como vetores de

doenças e parasitas para os quais os organismos nativos muitas vezes são

bastante suscetíveis. A biodiversidade pode ser impactada de outros modos

através da emissão de poluentes na atmosfera e em cursos d’água.

Esse conjunto de fatores contribui para perturbações nos ecossistemas presentes

em áreas urbanas e para o desaparecimento de populações de organismos

nessas e em outras áreas. A taxa natural de extinção de espécies, que durante os

últimos 600 milhões de anos foi de cerca de uma espécie por ano, hoje é cerca de 100 vezes ou talvez milhares de vezes maior (EHRLICH & EHRLICH, 1981;

MYERS, 1986; SOULÉ, 1986; RAVEN, 1987; WESTERN & PEARL, 1987,

WILSON, 1987 in MYERS, 1997, p. 36).

Com a redução da biodiversidade, serviços ecológicos essenciais, como a

regulamentação da qualidade e quantidade da água, a regeneração de plantas e

animais, a ciclagem de nutrientes e a exclusão de extremos climáticos podem ser

prejudicados ou totalmente perdidos (BRADY, 1997, p. 522), o que é

preocupante.

Essa é a razão antropocêntrica mais importante para a preservação da

biodiversidade: o papel que os microrganismos, as plantas e os animais

desempenham no fornecimento de serviços livres sem os quais não é possível a

sobrevivência da humanidade, assim a manutenção de reservas de água doce,

estabilização climática global, a polinização de lavouras, a manutenção da

fertilidade dos solos pelos microrganismos, a diminuição da poluição atmosférica

são exemplos desses serviços aos ecossistemas, inclusive às cidades [EHRLICH,

1997, p. 28, 31]).

São consensos à comunidade científica: a necessidade imperiosa da manutenção

da biodiversidade, bem como a dificuldade imposta pelas atividades antrópicas

nessa manutenção (CHALLINOR, 1997, p. 629).

À medida em que os serviços dos ecossistemas começarem a faltar, a

mortalidade de doenças epidêmicas e respiratórias, os desastres naturais e

28

Page 30: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

especialmente a fome diminuirão a expectativa de vida humana, que entrará em

colapso e provavelmente desaparecerá em algum ponto antes do final do século

XXI. A extrapolação das tendências atuais na redução da biodiversidade implica

em um desfecho para a civilização nos próximos 100 anos, algo similar a um

inverno nuclear (EHRLICH, 1997, p. 28, 32).

As afirmações do professor Paul Ehrlich, da Universidade de Standford, apesar de

serem deveras apocalípticas, não são fruto de nenhuma profecia visionária de

Nostradamus, mas simplesmente de suas observações científicas (derivadas das

conseqüências da diminuição dos serviços ecológicos). Talvez a humanidade não

pereça, dada sua notável capacidade de adaptação aos mais diversos habitats e

situações. Não obstante, caso continue em vigência as atuais relações

econômicas frente aos processos sócio-ambientais, é certo que a qualidade de

vida será cada vez mais restrita a poucos.

Os biomas urbanos influenciam negativamente a biosfera, mas há também

diversos aspectos positivos a serem destacados. A idéia da cidade como um

conjunto de ecossistemas torna possível visualizá-la como um lugar em que uma

grande variedade de recursos - naturais, humanos e sociais - são entrelaçados,

criando-se uns, consumindo-se outros, enquanto alguns são deixados como

resíduos (CAMPBELL, 1992, p. 183). É portanto uma idéia valiosa para as

práticas de educação ambiental, pois contribui para a negação da oposição

cidade / natureza.

Do ponto de vista ecológico, é melhor que as pessoas concentrem-se em cidades,

pois suas necessidades são atendidas mais facilmente. O uso de energia é mais

eficaz nas cidades do que em assentamentos dispersos (ALBERTI, 1997, p. 3;

SPIRN, 1995, p. 272, de la BARRA, 1999). Também é mais fácil corrigir eventuais

impactos ambientais, bem como melhorar a qualidade de vida dos urbanitas

29

Page 31: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

(LUGO, 1991, p.34). À despeito das muitas vantagens da concentração de

pessoas nas cidades, é preciso contudo discutir seus limites.

O arquiteto Sílvio Soares MACEDO (1987, p. 14) lista uma série de

desvantagens na adoção de torres de apartamentos como o principal padrão de

habitação, entre eles: perda definitiva do jardim e do quintal particular e perda da

rua como espaço de "estar", pois esta passa a servir quase que exclusivamente

como eixo de circulação de veículos. A verticalização é uma solução interessante

às grandes cidades, mas é questionável sua adoção em pequenas e médias

cidades.

Do ponto de vista da sociedade, as cidades produzem uma grande quantidade de

informações, conhecimento, cultura e tecnologia, exportando-os para outros

sistemas (CELECIA, 1994, p. 2; CELECIA, 1997, p. 5).

O gigantismo das cidades não é em si um problema. Na medida em que seus

citadinos podem aproveitar os recursos de informação disponíveis nas cidades, é

nelas onde podem ser encontradas as soluções para uma boa parte de seus

problemas (CAMPBELL, 1992, p. 182). E as ferramentas disponíveis para

enfrentar os problemas ambientais urbanos são variadas e sofisticadas, é preciso

apenas que sejam aplicados (SPIRN, 1995, p. 27).

Essas afirmações contradizem totalmente o ambientalismo romântico e ingênuo

que prega a "volta" à natureza através da ruralização da sociedade. Populações

difusas seriam muito mais difíceis de serem sustentadas, e as insídias aos

ecossistemas provavelmente seriam maiores. A filosofia do "preservar a qualquer

custo", comum nesse categoria de ambientalismo, é muito difícil de ser

implementada, quando a humanidade depara-se com um crescimento contínuo de

sua população, que precisa de recursos para sobreviver (LUGO, 1991, p. 27, 34).

30

Page 32: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Para concluir, o problema não está nas cidades em si, mas na maneira ecológica

e socialmente desequilibrada pela qual são construídas. Urge que sejam

abandonadas formulações simplistas como a de EDE (1999) e SOBRAL (1994),

que classificam as cidades como um câncer, como uma doença progressiva e

sem cura, que se espalha pelo mundo. Pensá-las como compartimentos

destacados da natureza contribui para o agravamento de seus impactos, pois

corrobora uma inércia dos planejadores, preocupados apenas em verificar as

condições técnicas para a execução de uma obra, e não em discutir, por exemplo,

limites ecossistêmicos para a urbanização ou a elaboração de técnicas

arquitetônicas que permitam uma coexistência entre diversos ecossistemas que

compõem os biomas urbanos.

Também é desanimadora a posição dos biólogos13 e ambientalistas ao insistirem

numa ideologia onde o humano aparece sempre como vilão, como um destruidor,

necessariamente incompatível com qualquer outro sistema que não os urbanos,

sendo necessário sempre criar reservas que o excluam. Afinal, com a expansão

do fenômeno urbano (vide discussão sobre as atuais tendências de urbanização

no capítulo 2), torna-se impossível a compreensão (e resolução) dos grandes

temas nacionais (entre eles a questão ambiental) sem relacioná-los com a

questão urbana (FERREIRA, 1995, p. 74).

Para corrigir essa visão distorcida dos problemas ambientais, CAMPBELL (1992,

p. 192) propõe a adoção de um novo ethos ambiental, que leve em conta tanto o

bem estar de populações humanas quanto a importância da preservação da

diversidade biológica. Na prática da arquitetura e do urbanismo essa ethos

poderia traduzir-se em combinações mais adequadas entre as três categorias de

sistemas ecológicos mais comuns nas cidades (MONTE-MÓR,1994, p. 178).

13 Essa posição é influenciada por falhas no ensino de graduação. Na minha graduação tive 180

horas de Ecologia, repartidas em três cadeiras e não fazia parte do currículo de nenhuma delas o

tópico ecossistemas urbanos. Em 1997 e 1999 ministrei dois cursos em Encontros de Estudantes

de Biologia, um nacional e um regional e mesmo alunos oriundos de graduações em Biologia

consideradas excelentes ignoravam a noção de cidade como ecossistema.

31

Page 33: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Afinal, a urbanização não é uma catástrofe a ser evitada, mas um processo a ser

dirigido e regulado dando-se prioridade à organização do ambiente humano.

Atitudes ecológicas em relação à prática do urbanismo não devem ser

identificadas como uma restrição ao crescimento urbano. A Ecologia deve criar

com a Tecnologia novas formas de urbanização favoráveis ao homem e seu bem

estar (ZAREMBA, 1986, p. 70, 104), bem como a seus parceiros responsáveis

pela manutenção da vida: os microrganismos, plantas e animais.

CAPÍTULO 2

Urbanização e Degradação Ambiental

Vejo o mundo como um organismo vivo do qual somos parte, não os donos, não os inquilinos,

sequer os passageiros. Explorar esse mundo na escala que fazemos seria tão tolo quanto

considerar supremo o cérebro e dispensáveis as células dos outros órgãos. Seríamos capazes de

minerar nosso fígado em busca de nutrientes para algum benefício de curta duração?

(James Lovelock, 1997)

Cidades são conjuntos de ecossistemas onde não apenas influem dinâmicas

naturais, mas sobretudo dinâmicas sociais. Essas dinâmicas ou forças são

determinantes para a existência de inúmeros problemas ambientais que

manifestam-se por toda a biosfera, como ficou explicitado no capítulo anterior.

32

Page 34: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Mas as forças sócio-econômicas que promovem a urbanização também são

responsáveis por problemas ambientais inerentes ao âmbito urbano.

Para Patrícia BORJA (1997, p. 18), as cidades têm crescido segundo duas lógicas

distintas: a social e a econômica. A primeira - e mais representativa - produz as

cidades dos excluídos, a cidade informal, produto do processo de apropriação do

espaço por um extrato populacional que não tem acesso à terra, moradia,

emprego e renda, através da ocupação de áreas geralmente pobres e insalubres.

A segunda está a mercê dos interesses do capital imobiliário.

A classificação de Patrícia Borja, que divide as forças de urbanização em sociais

e econômicas, não é totalmente adequada. A urbanização realizada pela pobreza

também têm uma importância econômica relevante, pois permite a manutenção,

dos trabalhadores nas cidades, que, obviamente, são as peças fundamentais de

qualquer sistema produtivo.

2.1 A urbanização da pobrezaA urbanista Erminia MARICATTO (1996, p. 16) observa que nas cidades

brasileiras a ocupação ilegal de terras é informalmente consentida, e mesmo

incentivada pelo Estado, que no entanto não admite o acesso formal à terra e à

cidade. Isso se dá por conta da articulação entre legislação, mercado e renda

imobiliária. Permite-se a ocupação em áreas de proteção ambiental, de modo

oficioso, ao não exercerem-se represálias14 (KOWARICK, 1979, p. 89). Isto

raramente ocorre em áreas valorizadas pelo mercado imobiliário baseado em

relações capitalistas. Quer dizer: setores mais pauperizados da população

habitam áreas mais sujeitas aos agravos ambientais (JACOBI, 1996, p. 19, de la

BARRA, 1999).

14 Os assentamentos empobrecidos em beiras de mananciais, parques, fundos de vale, margens

de córregos têm recrudescido, segundo SACHS (1989 in SILVA & FERNANDES, 1996).

33

Page 35: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

MARICATTO (1996, p. 26) conclui que enquanto os imóveis não têm valor como

mercadoria, ou têm valor irrisório, a ocupação ocorre sem intervenção do Estado.

Este só interfere, através da legislação e do direito oficial, quando as áreas

adquirem valor de mercado, isto é, as leis do mercado são mais efetivas que as

normas legais. É comum a remoção de bairros sub-normais15 pelo poder público,

quando seus terrenos adquirem valor de mercado ou causem algum tipo de

constrangimento a bairros abastados que situem-se nas proximidades

(KOWARICK, 1979, p.79).

É exatamente o que tem ocorrido no Alto de São João, um bairro sub-normal, e

que está literalmente encravado dentro de uma área de Mata Atlântica - o Parque

de Pituaçu. O Parque situa-se próximo à orla, faz divisa com diversos bairros de

classe média. Moradores do bairro denunciam pressões da prefeitura para que

desocupem a área, usando inclusive expedientes ilegais, como a demolição de

barracos, à noite, por pessoas não identificadas. A Prefeitura argumenta que se

trata de uma área pública e de proteção ambiental16.

Se esta é realmente a razão, pergunta-se: por que as sucessivas administrações

municipais não têm dado a mesma atenção à imensa área de Mata Atlântica que

é um Parque Metropolitano desde 1978? Esta área - o Parque Metropolitano de

Pirajá, está completamente cerceado por mais de 36 bairros e ocupações, onde

impera a pobreza e em alguns casos, a pobreza crítica. Houve inclusive uma

proposta, idealizada pelo prefeito Renan Baleeiro, de derrubada da mata (sic)

para a construção de bairros populares17 (ANGEOLETTO, 1999). Em tempo: não

se defende aqui a retirada de moradores, mas a negociação. Os dois Parques

têm populações consolidadas, que têm ou deveriam ter direitos sobre o solo que

ocupam. De outro ângulo, não é aceitável que os Parques simplesmente

15 PELLEGRINI (1982, p. 16) define bairros sub-normais como aqueles onde o nível de vida é

decisivamente mais baixo do que o da cidade no qual se inserem.16 Para a retirada de moradores de baixa renda instalados nos arcos da Av. Contorno, próximos ao

Solar do Unhão, ponto turístico de Salvador, a prefeitura usou como argumento a falta de conforto

ambiental, e mesmo com um laudo do Laboratório de Conforto Ambiental da UFBA atestando o

contrário, eles foram relocados (HARTOCH, 1997). 17 Uma discussão sucinta sobre este episódio é encontrada no capítulo 4.

34

Page 36: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

desapareçam.

O assentamento de moradores em terras impróprias, encostas, manguezais,

matas, é uma característica das grandes cidades. Esses assentamentos são

gerados pelos altos preços da terra urbana, que obrigam os pobres a

estabelecerem-se em áreas marginais, que via de regra são importantíssimas do

ponto de vista ambiental. Há, portanto, uma conexão evidente entre problemas

ambientais e sociais das cidades. As classes populares buscam moradia mais

barata, avançando sobre áreas frágeis, enquanto na cidade há infra-estrutura já

instalada, mas inacessível a elas, porque as cidades crescem excluindo as

classes populares (TAGNIN, 1999, in LOPEZ, 1999).

Para se ter uma idéia dessa inacessibilidade, dados da cidade de São Paulo são

bastante esclarecedores. Na capital paulista, nos últimos cinco anos, foram

lançados cerca de 61 mil apartamentos de médio e alto padrão, mais de R$ 75 mil

a unidade, contra 47,5 mil unidades para pessoas de "baixa renda" até R$ 75 mil

a unidade, segundo a Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio. Enquanto

isso, o número de favelados subiu de 1,07 milhão,11% da população em 91, para

1,9 milhão, 19% da população em 93 (FLORESTA, 1999).

Os que não participam das condições adequadas de qualidade de vida são

aqueles que partilham dos "resíduos" do processo de urbanização brasileira:

habitam em situação precária, muitas vezes em bairros que não contam com

fornecimento adequado de água, luz e esgotamento sanitário (RODRIGUES,

1998, p. 108; FERNANDÉZ, 1998; EHRLICH, 1974, p. 190, 192; JACOBI, 1996,

p. 19). Outros equipamentos imprescindíveis, como praças, áreas verdes e ruas

arborizadas são raras ou inexistentes. É o que ocorre nas cidades indianas

(CENTRE FOR SCIENCE AND ENVIRONMENT, 1989, p. 13), como em Bangkok

(PHANTUMVANIT & LIENGCHARERNSIT, 1989, p. 38), Accra (capital de

Ghana), São Paulo (STEPHENS & AKERMAN, 1997, p. 196), Bogotá

(CASTAÑEDA, 1989, p. 18), bem como na esmagadora maioria dos centros

urbanos dos países em "desenvolvimento", e em menor proporção nas cidades

do primeiro mundo.

35

Page 37: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Se fossem confeccionados mapas das cidades do 3º mundo mostrando os índices

de perigos para a saúde ocasionados por variáveis ambientais, certamente na

maioria das cidades, as áreas de maior risco seriam aquelas ocupadas pelas

populações de menor renda (SATTERTHWAITE, 1993, p. 103).

Segundo PEDRÃO (1996, p. 18), as grandes cidades sofrem com o agravamento

da tensão ambiental, causada pela concentração industrial e pela urbanização da

pobreza. Evidentemente há um preço há pagar pelas calamidades desse tipo de

urbanização, um preço que é maior para os pobres urbanos, que às vezes o

pagam com as próprias vidas, seja quando toneladas de terra de uma encosta

desabam sobre eles, ou quando a proximidade com fontes de poluição vão aos

poucos minando sua saúde.

Porém, as demais classes sociais também pagam um preço. A depredação

ecológica e urbana refletem-se negativamente no processo de expansão do

capital, pois implicam na canalização de recursos que poderiam ser dirigidos para

investimentos produtivos e sociais (KOWARICK, 1979, p.52).

2.2 A urbanização da riquezaA relação entre moradia pobre e degradação ambiental é evidente, o que não

significa que a produção do ambiente construído pela iniciativa privada ou pelo

Estado não provoque danos. A construção do Conjunto Habitacional José

Bonifácio, em São Paulo (SP) com mais de 250 mil habitantes, é um excelente

exemplo da insipiência estatal no que tange ao ambiente urbano: para seu

assentamento, o relevo foi arrasado, resultando em gigantescos movimentos de

terra (MACEDO, in SERPA, 1996-b, p. 162).

Na esfera privada são comuns os aterramentos de mangues para a construção

de condomínios de luxo (MARICATTO, 1996, p. 65), já que a especulação

imobiliária ignora os impactos ambientais e sócio-econômicos do crescimento

urbano que ela promove (CELECIA, 1994, p. 2; CELECIA, 1997, p. 5).

Arembepe, no litoral norte baiano é um exemplo de práticas de especulação

imobiliária que resultam em empobrecimento dos ecossistemas e paisagens

36

Page 38: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

locais. O balneário, bem como outros pontos do litoral norte, vem experimentando

um processo de urbanização qualificado pela arquiteta Eline MENEZES (1999, p.

102) como convenientemente mal ordenada ou, em termos ainda mais

explícitos, ordenada para o lucro, no qual o aterramento de lagoas de água doce

próximas às praias para fins de construção é uma constante.

Uma prática comum dos especuladores é a retenção de terrenos, o que contribui

para um processo de produção de espaços urbanos segregados. Os vazios

(lotes) são um dos principais fatores de crescimento desordenado das cidades,

pois criam periferias cada vez mais distantes. E a valorização desses vazios está

associada à implementação de melhorias promovidas pelo poder público, que

desempenha um papel fundamental na dinâmica da especulação imobiliária.

(KOWARICK, 1979, p. 80, 81).

A construção do Shopping Center Iguatemi, em Fortaleza, é um exemplo

extremamente representativo da urbanização promovida pela riqueza. E mais do

que isso, descreve com perfeição a subordinação completa do poder público à

esfera privada, e ainda, a linha cada vez mais tênue que separa o público e o

privado, quando interesses particulares prevalecem sobre a esfera pública.

O Shopping foi construído no manguezal banhado pelo Rio Cócó, numa zona de

expansão de classe média. É de propriedade do então governador Tasso

Jereissati. Após o término das obras, Jereissati conseguiu aprovar uma lei

estadual impedindo que qualquer outra edificação se instalasse naquela

imediação, usando a argumentação de "proteção ambiental". Depois de

promulgada a lei, o próprio governador infringiu-a, ao construir a via Sebastião de

Abreu, que liga o Shopping aos bairros de Papicu e Dunas, onde localizam-se

residências de classe média alta e mansões. Enquanto isso, em um imenso

manguezal banhado pelo Rio Ceará, numa zona de expansão da pobreza,

centenas de pessoas estão continuamente instalando-se sobre o mangue, sem

que haja uma lei de proteção ou qualquer ação do poder público nesse sentido

(José Clewton Nascimento, comunicação pessoal, 1999).

37

Page 39: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

2.3 A urbanização extensivaA urbanização promovida por ricos especuladores ou por aqueles que muitas

vezes vivem abaixo da linha da pobreza é hoje um fenômeno planetário (BORJA,

1997, p. 16; BORJA, 1996, p. 81). Segundo MONTE-MÓR (1994, p. 171),

vivemos, atualmente, uma urbanização extensiva dos territórios, definida pelo

professor mineiro como a

urbanização que estende-se para além das cidades, em redes que penetram

virtualmente todos os espaços, integrando-os em malhas mundiais, o que representa

a forma sócio-espacial dominante que marca a sociedade de Estado contemporânea

(...).

Em outra oportunidade, este autor aprimora esse conceito, ao afirmar que

formas contemporâneas de produção do espaço (...) têm gerado um processo de

extensão das condições gerais de produção para além dos limites das cidades e

áreas urbanas. Tal extensão pode dar-se de modo contíguo às áreas urbanizadas,

por crescimento extensivo do tecido urbano, ou por fragmentos concentrados no

território regional, urbano e rural. Há uma ubiqüidade de serviços e práticas, antes

restritas à vida urbana, o que faz com que diversas características do consumo

coletivo humano existam quase indiscriminadamente tanto nas áreas rurais como

urbanas. (MONTE-MOR & COSTA, 1997, p. 109).

Para MILTON SANTOS,

designações como "região urbana" ou "zona rural" ganham um novo conteúdo. Numa

área onde a composição orgânica do capital é elevada, onde quantidade e qualidade

das estradas favorece a circulação e as trocas, onde a proximidade de uma grande

cidade e a especialização produtiva e espacial conduz a complementariedades, o

campo se industrializa, torna-se objeto de relações capitalistas avançadas (...).

(SANTOS, 1992, p. 69).

38

Page 40: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

O arquiteto e político italiano Giulio Carlo Argan, conseguiu, de maneira sucinta e

poética, explicitar como as cidades, com a globalização, espalham suas

ramificações por sobre toda a biosfera ao afirmar que

a natureza não esta mais além dos muros da cidade; as cidades não têm mais muros,

mas estendem-se em desesperadores labirintos de cimento, desfiam-se nas sórdidas

periferias de barracos e, para lá da cidade, ainda é cidade, a cidade das auto

estradas e dos campos cultivados industrialmente (ARGAN, 1993).

Outrossim, não é mais possível sustentar a distinção entre meio ambiente natural

e construído, uma vez que as paisagens ecológicas tendem a ser ilhadas pelas

redes da urbanização extensiva (ANGEOLETTO & SERPA 1997, p. 84).

2.4 Alguns dados reveladoresO crescimento em número e extensão das cidades, sem que seus benefícios

fossem estendidos a todos os urbanitas, e com um aumento espantoso da

exclusão social e espacial - uma característica marcante da urbanização

extensiva - pode ser melhor visualizado nos dados compilados nos parágrafos

que se seguem.

A partir da fundação de Jericó, a população urbana demorou cerca de 9 mil anos

para chegar a 38% do total mundial, em 1975. Desde então, já saltou para 47% e,

segundo projeções das Nações Unidas, chegará a 55% em 2015 e a 61% em

2025, sendo que na América Latina essa proporção será de 77% (ONU, 1991, p.

9-11). Ou seja: em apenas 50 anos, os moradores das cidades terão sido

multiplicados de 1,5 bilhão para 5 bilhões de pessoas - o equivalente a 500

cidades de São Paulo. No início do próximo milênio, em 2006, pela primeira vez

na história da humanidade a quantidade de pessoas morando em cidades será

maior do que a população rural do planeta. (TOLEDO, 1999). As cidades estão

39

Page 41: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

crescendo em número e tamanho.

A tendência à urbanização, que hoje presenciamos, vem acompanhada de uma

outra, manifestada principalmente no terceiro mundo18, onde vivem 75% da

população mundial: a marginalização social e cultural de uma significativa parcela

dos habitantes dos centros urbanos (DIAS, 1994, p. 13; VERAS, 1996, p. 556).

Um bilhão de pessoas vão morar em barracos de madeira, amontoadas em

cortiços ou em instalações sem as mínimas condições de higiene. Esse é o

prognóstico urbano menos pessimista para o próximo século, segundo a ONU e a

WATER-AID (organização inglesa de desenvolvimento sanitário). Esse cenário deve

predominar em países em desenvolvimento, onde estima-se que 50% da

população urbana passe a viver em sub-habitações. (FLORESTA, 1999). Há 800

milhões de famintos no mundo e, a cada ano, a população famélica aumenta em

25 milhões (TOGNOLLI, 1999, p. 30).

Dados do relatório do Banco Mundial, intitulado "Política Urbana e

Desenvolvimento Econômico - Uma Agenda para os Anos 90", indicam que: 1) até

o ano 2000, 20 dos 25 maiores núcleos urbanos mundiais se encontrarão no

Terceiro Mundo; 2) a OMS calcula que nos anos 90 cerca de 30 milhões de

crianças terão morrido de diarréia e pneumonia, provavelmente a maior parte nas

grandes cidades (SERVA, 1993, in SILVA, 1996, p. 314)19.

No Brasil, em pouco mais de 50 anos, a população urbana praticamente triplica,

saltando de 26,35% para atuais 75% (SANTOS, 1994, p. 135). No 2000, estima-

18 De acordo com uma projeção das Nações Unidas, apenas 7% da população do 3o mundo será

rural em 2010 (CAMPBELL, 1992, p. 184).19 Segundo cálculos da ONU, 1 bilhão de crianças poderão tornar-se adultos incapacitados em

2020, a menos que uma agressiva campanha de alimentação seja lançada em todo o planeta

(ZEEK!CLIP, 2000) .

40

Page 42: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

se que 80% da população viverá em centros urbanos. Esse percentual deve

chegar a 88% em 2025 - segundo projeções das Nações Unidas (FOLHA de SÃO

PAULO, 1999-b).

Em 1996, 66% dos urbanitas brasileiros (cerca de 75 milhões) não dispunham de

esgoto sanitário, 18% não contavam com água encanada e 47% não dispunham

de coleta de lixo. Somente 3% do lixo coletado tem disposição final adequada,

enquanto outros 63% são lançados em cursos d'água e 34% a céu aberto.

(SILVA, 1996, p. 314). Atualmente 70,8% dos pobres e 57,6% dos indigentes

brasileiros concentram-se nas cidades e metrópoles (RODRIGUES, 1998, p. 107).

2.5 A urbanização extensiva e a globalização econômicaA sustentabilidade ecológica das metrópoles é dificultada pela aceitação cega das

regras do mercado internacional, que militam contra os interesses da maioria das

populações das cidades (ALVA, 1995, p. 53). SANTOS (1994, p. 79) afirma com

precisão que o planejamento urbano, obediente aos parâmetros das cidades

internacionais, comandantes da economia globalizada, termina por estabelecer

as condições para uma modernização que negligencia a maior parte das cidades

e de suas populações.

O Estado, com a globalização econômica, redefine-se para a satisfação das

exigências do sistema econômico mundial, mostrando-se

(...) em conseqüência, ineficiente para a satisfação das demandas que

tradicionalmente a sociedade dele espera. (FIGHERA, 1994, p. 112).

Nesses espaços de racionalidade, o mercado é tornado tirânico e o Estado tende a

ser impotente. Tudo é disposto para que os fluxos hegemônicos corram livremente,

destruindo e subordinando os demais fluxos. Por isso, também, o Estado deve ser

enfraquecido, para deixar campo livre à ação soberana do mercado. (SANTOS, 1994,

41

Page 43: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

p. 33-34)

No mundo globalizado, as metrópoles subdesenvolvidas concentrarão não

apenas população, mas também miséria. Crescendo num ritmo veloz, terão

muitas dificuldades para administrar as necessidades básicas de tanta gente,

multiplicando as carências de habitação, transportes e saneamento básico. Mas

não serão as únicas a enfrentar esses dilemas. Mesmo metrópoles do topo da

hierarquia da rede global de cidades, como Nova Iorque, também sofrem com

congestionamentos, poluição e violência (FOLHA de SÃO PAULO, 1999-a).

2.6 Urbanização versus superpopulaçãoDezenas de autores, dos mais ilustres àqueles que opinam sem qualquer base

científica, em diversas publicações, que abarcam desde livros, artigos em

periódicos até publicações em revistas e jornais, têm expressado sua

preocupação com o aumento contínuo da população, o que ocasionaria um

aumento quantitativo e qualitativo dos impactos ambientais, sobretudo num

período no qual a humanidade experimenta uma urbanização nunca antes vivida.

De fato, a partir dos anos 1990, os seres humanos têm gastado apenas 11 anos

para dobrar sua população20 (SUPERINTERESSANTE, 1993, p. 28, 29).

Entretanto, essa discussão está fora de foco. Quase sempre quando o tema

superpopulação vem à tona, há uma mensagem subliminar (ou, às vezes,

explícita) que diz: interrompa-se o crescimento da população humana. Ora, o

crescimento vegetativo da humanidade per se não é o problema, e é risível

20 Porém, a reprodução da população urbana é apenas uma das causas da explosão urbana. Na

média mundial, 40% do crescimento da urbanização se deve à migração do campo para a cidade

(TOLEDO, 1999). E ao que parece, o crescimento populacional caminha para um cenário de

estabilização. As projeções sobre crescimento da população vêm sendo revisadas para baixo pela

ONU, porque a taxa de fecundidade tem caído rapidamente (LEITE, 1999).

42

Page 44: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

atribuir à natureza (isto é, à capacidade reprodutiva do Homo sapiens sapiens) a

culpa pelos inúmeros desastres sócio-ambientais que temos continuamente

produzido e reproduzido .

E este é precisamente o foco: estamos crescendo num sistema que prima pelo

desperdício e pela desigual distribuição de recursos, onde cada recém-nascido é

ou um novo perdulário ou um novo miserável, e, ambos, cada qual a seu modo,

irão contribuir para a destruição daquilo que LOVELOCK (1997, p. 622) afirma ser

nossos órgãos externos, tão importantes quanto os internos: os sistemas

ecológicos.

Felizmente, a idéia do crescimento populacional como o maior fator de pobreza e

degradação ambiental aos poucos vem sendo substituída por uma visão que

incorpora a tecnologia e a distribuição de recursos. Se 25% da população mundial

consome 75% da energia e 89% da produção de madeira do planeta, a relação

população/ambiente deve ser vista sob uma perspectiva mais complexa (HOGAN,

1993, in RODRIGUES, 1998, p. 120).

As cidades do hemisfério Norte são responsáveis pela utilização de grande

parcela dos recursos, consumo de energia e poluição ambiental, enquanto que no

hemisfério Sul as cidades sofrem com a pobreza (MMA, 1988 in BORJA, 1997, p.

16, 170). No terceiro mundo, a acelerada urbanização e o aumento da pobreza

propiciam demandas que dificilmente são resolvidas pelo Poder Público. Tanto os

padrões de consumo no Norte como a pobreza gritante do Sul são

comprovadamente insustentáveis do ponto de vista ecológico (ALBERTI, 1997, p.

3).

Não por acaso, pesquisa do historiador Arnold TOYNBEE (1972, in SAHTOURIS,

1996, p. 289; SAHTOURIS, 1998) demonstrou que o declínio de 27 civilizações

43

Page 45: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

teve em comum a inflexibilidade frente a situações de estresse social, ambiental,

econômico e a concentração de recursos.

É evidente que as cidades globais21, aquelas que concentram poderio econômico,

tentarão impedir, inclusive pelo uso da força, que o resto do mundo alcance o

mesmo padrão de consumo, o que aliás seria impossível, pois viveríamos um

colapso de recursos e energia. Muito tem se alardeado que o consumo per capita

de energia mundial permaneceu quase estável na última década, querendo-se

indicar com isso que o sistema global estaria começando a corrigir suas

disfunções.

Mas, sem dúvida, como assinalou ESTEVAN (1998, in ESPÍ, 1998), uma análise

mais meticulosa dos dados disponíveis demonstra que o consumo per capita de

energia cresceu nos países "desenvolvidos" cerca de 10%, enquanto que os

países pobres foram obrigados a reduzi-lo em 7% (ESPÍ, 1998). As afirmações de

Mariano Vásquez Espí traduzem-se em uma equação muito simples: menos

recursos e energia para os países em desenvolvimento, menores possibilidades

de resolução de seus problemas urbanos e ambientais.

2.7 Algumas conclusõesOs problemas ecológicos parecem se referir apenas aos homens e às suas

relações com a natureza, e não às relações dos homens entre si (RODRIGUES

1998). O fato é que os problemas ambientais não estão circunscritos nem

geográfica, nem socialmente. Diferentes em escala, em conseqüências, em poder

de difusão, há problemas ambientais gerados pela opulência e pela miséria

(PAULA & BRITO, 1997, p. 206).

Os agressores do ambiente urbano podem ser tanto uma determinada indústria

quanto o conjunto de proprietários de veículos de um município (PACHECO &

21 Nova Iorque, Londres e Tóquio são exemplos de cidades globais.

44

Page 46: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

LOUREIRO, 1992, p. 49), ou ainda famílias miseráveis que ocupam terras do

Parque Metropolitano de Pirajá, em Salvador. Não há maniqueísmos na questão

ambiental: atores e interesses interpenetram-se numa teia ambígua.

Também há uma ambigüidade, no que concerne a atribuição de

responsabilidades pelos problemas ambientais urbanos. Geralmente o citadino é

responsabilizado e punido (RODRIGUES, 1998, p. 31, 32), quando na verdade

grande parte da responsabilidade pertence ao poder público e ao capital.

Um exemplo bastante ilustrativo desse desvio de responsabilidades pode ser

obtido numa rápida análise dos freqüentes desmoronamentos de encostas em

Salvador. São comuns declarações de técnicos de nível superior da prefeitura,

que se dizem perplexos com a insistência dessas pessoas em construírem seus

barracos nas encostas (sic)22. Quando, em maio de 1999, seis dias consecutivos

de chuva provocaram a morte de 12 pessoas na Região Metropolitana de

Salvador, os prefeitos da região culparam a intensidade das chuvas, o dobro da

média de maio, e as invasões pelos deslizamentos que provocaram as mortes

(REVISTA ÉPOCA, 24/05/1999).

Novamente, como no caso da superpopulação, atribui-se à natureza a culpa por

décadas de não ação, de abandono, como se chover fosse uma aberração, uma

fatalidade contra a qual não há remédio nem prevenção. E é possível prevenir:

cerca de 95 a 99% dos danos causados por deslizamentos de solo poderiam ser

evitados por um melhor planejamento e projetos e construções apropriados. Os

elementos básicos para a preservação de deslizamentos são conhecidos a

séculos (SPIRN, 1995, p. 120, 131). Entretanto, como foi dito acima, não cabe

aqui nenhum maniqueísmo: os moradores das encostas têm uma parcela de

responsabilidade, ao desmatarem as encostas, deixando o solo vulnerável à ação

da água das chuvas.

22 A respeito da enchente que desabrigou milhares de pessoas em janeiro de 2000, na região

Sudeste, o coordenador da Defesa Civil do estado de São Paulo, coronel Jorge Lopes, declarou:

"O poder público (...) não mandou ninguém construir sua casa de forma irresponsável", referindo-

se às moradias localizadas próximas ao rio Paraíba do Sul (FOLHA DE SÃO PAULO, 10/01/2000).

45

Page 47: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Mesmo assim, é preciso que fique claro que é o capital - e não a sua força de

trabalho, e muito menos os elementos naturais - o grande responsável pela

deterioração da vida metropolitana (KOWARICK, 1979, p. 53). O capital deteriora

a metrópole, ao não dar acesso à cidade para as classes trabalhadoras e ao

promover diretamente a urbanização da especulação e, indiretamente, aquela

realizada pela pobreza, ambas cegas às premissas ambientais.

Contando com a participação da população, os planejadores poderiam ao menos

consolidar bairros instalados sobre manguezais, áreas verdes, matas, áreas

próximas a mananciais, promovendo melhorias urbanas, e traçar com seus

moradores limites para o seu crescimento, protegendo deste modo o valor

ambiental desses ecossistemas, a exemplo do que foi feito em um bairro

construído sobre um manguezal em Vitória, Espírito Santo.

Na capital capixaba, uma parceria sólida entre prefeitura e ocupantes de um

manguezal, cuja área ocupa cerca de 10% do território do município, possibilitou a

preservação do sistema ecológico, com a concomitante melhoria da qualidade de

vida dos envolvidos. Todas as ações do projeto tiveram a participação da

população local. A aliança permitiu que se estabelecesse um limite à ocupação, e

em troca, o bairro foi urbanizado (PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA, 1997).

Todavia, desafortunadamente, o controle do uso do solo e o desenvolvimento

urbano têm sido insatisfatório, pois seus instrumentos - destaca-se aí o

planejamento - são enfraquecidos nos países em "desenvolvimento" pela

corrupção, pelo poder da demanda de novos assentamentos (especulação

imobiliária) e por interesses diversos (CAMPBELL, 1992, p. 195, 196). Disso

resulta que os problemas ambientais urbanos têm se avolumado a passos

gigantescos, enquanto sua resolução é assaz lenta (JACOBI, 1996, p. 20), ou

nem mesmo ocorre.

Multiplicam-se os problemas urbano-ambientais na mesma proporção em que

assistimos a ingerência dos poderes públicos sobre eles. Por um lado, assiste-se

a disseminação de práticas administrativas incrementalistas que, maquiando a

cidade, dão a impressão de dinamismo e operância aos gestores urbanos. Troca-

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Page 48: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

se um planejamento integrado pela construção de um urbanismo pontual e

fragmentado, muitas vezes erigido para corroborar ações demagógicas em

vésperas de eleições (PAVIANI, 1994, p. 182-183, 187).

Nos anos 90, a urbanização brasileira tem tomado novos rumos. Estudo inédito

mostra que há uma interiorização do crescimento: as cidades médias, entre 100

mil e 500 mil habitantes, foram as que registraram o maior crescimento absoluto

nos anos 90, superando as metrópoles (FOLHA de SÃO PAULO, 1999-a; FOLHA

de SÃO PAULO, 1999-b). Essa tendência pode ser bastante positiva, se as

municipalidades conseguirem tramar uma sólida parceria entre os diversos

segmentos do poder público, incluídas aí as universidades, organizações civis e

população, pois as cidades médias que contarem com esse pacto poderão obter

significativos progressos através do planejamento participativo, inclusive a

redução de custos na implantação e manutenção de projetos.

A urbanização extensiva impõe desafios colossais aos profissionais interessados

em contribuir para a obtenção de cidades mais equilibradas, do ponto de vista

social e ambiental. Há muito o que fazer.

Uma medida que não é custosa e que dá resultados em pouco tempo é a

arborização urbana. Não apenas o ato de arborizar calçadas e passeios, mas de

usar a vegetação como elemento de projetos paisagisticos, visando estruturar,

nos bairros com problemas de infra-estrutura e ambientais, espaços públicos

densamente arborizados, que sirvam ao lazer e à socialização, onde antes

haviam apenas vazios que acumulavam lixo. A vegetação, sobretudo as árvores

podem, se adeqüadamente usadas, proporcionar vários benefícios aos biomas

urbanos, e às populações humanas, como a redução da poluição e atração de

vida silvestre.

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Page 49: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

CAPÍTULO 3

Arborização Urbana: Uma Ferramenta para a Melhoria da Qualidade de Vida e Atração de Biodiversidade

"A umbaúba é uma árvore que não serve para nada"

(Declaração de um engenheiro civil à reportagem do jornal A Tarde (edição de 7/2/1988), quando

questionado da derrubada de uma mata de umbaúbas no bairro de Brotas, à revelia do IBDF, que

previa a preservação de 30% dessas árvores).

48

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GREY & DENEKE (1978, in MILANO, 1994, p. 210) definem a arborização urbana

como o conjunto das terras públicas e privadas revestidas de vegetação

predominantemente arbórea que uma cidade apresenta. Para Sattler, arborização

urbana é o conjunto da vegetação arbórea natural e cultivada que uma cidade

apresenta. (SATTLER, in SANCHOTENE, 1994, p.16).

Os vegetais são seres complexos, que por suas características biológicas e

ecológicas desempenham uma série de funções sumamente importantes para

uma maior qualidade de vida dos urbanitas. É fato que a arborização contribui

para a melhoria da saúde física e mental das populações urbanas. Características

artificiais do ambiente urbano, como microclimas, qualidade do ar e paisagem

geralmente determinam a ocorrência de aspectos negativos à qualidade de vida

humana; estes problemas podem ser bastante minimizados pela arborização

(MILANO, 1994, p. 209, 210; DETZEL, 1994, p. 50).

São impressionantes os benefícios oriundos da presença de vegetação no

ambiente urbano. Não obstante, ainda é majoritário entre os arquitetos,

paisagistas e planejadores o uso decorativo dos vegetais, talvez pela falta de

informações a respeito dessas benesses. Em geral a vegetação ocupa espaços

residuais dos projetos arquitetônicos, e sua presença tímida impede a

maximização dos benefícios. Nem mesmo as várias possibilidades de uso das

plantas como estruturadoras de espaços, através da manipulação de um cabedal

de técnicas que, teoricamente, deveria ser de domínio dos arquitetos - parecem

ser convenientemente exploradas. Seu mal (pouco) uso vem ocasionando

deseconomias, como desastres ecológicos, aumento da poluição sonora,

atmosférica e visual e danos à saúde (MACEDO, 1997, p.38).

3.1 Pequeno histórico da arborizaçãoO burgo medieval ou a pequena cidade renascentista caracterizavam-se pela total

ausência de árvores em seus espaços abertos, o que era justificável, pois a

"natureza" era encontrada praticamente intacta a poucas centenas de metros das

cidades daqueles momentos históricos. Com o advento das grandes cidades

essas transformações passam a ser permanentes, acentuando-se a partir da

49

Page 51: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Revolução Industrial. Nesse momento, a virtual ausência de vegetação passa a

constituir-se em um problema. (MOHR, 1985, p. 31).

Para MEIRA FILHO, 1976; WALLACE, 1939 e BLOSSFELD, 1983 (in LIMA,

1993, p. 5) a primeira notícia sobre arborização no Brasil data do século XVIII,

onde o arquiteto e naturalista Antônio José Landi teria plantado mangueiras em

Belém do Pará. Estes autores também assinalam como data provável o início do

século XIX, no Rio de Janeiro, época em que os plantios de árvores nas cidades

difundiam-se pelo mundo.

De qualquer sorte, já no início do século XX, os projetos de reforma urbanística

atribuíam grande importância à vegetação na composição urbana (MARX, 1980,

in LIMA, 1993, p. 6)

Não obstante, de um modo geral, há pouco tempo as plantas passaram a fazer

parte da imagem do espaço público das cidades brasileiras. Até o século XIX a

vegetação era limitada pelos muros dos quintais, pois seria uma atitude

incoerente reintroduzi-la no tecido urbano, depois de "árduas batalhas" para

manter as ruas e praças livres do "mato". No início do século XX, estas cidades

são bem cuidadas e arborizadas, com um número impressionante de parques,

praças e jardins. Infelizmente esse conjunto se perde com a introdução da

"ditadura do automóvel", com o previsível e conseqüente alargamento das vias

públicas, redundando na retirada da arborização e destruição de parques. A

diminuição das áreas verdes também se deu pela implantação de sistemas de

distribuição elétrica e de bondes (GOYA, 1994).

Como consequência deste processo de desenvolvimento, em inúmeras cidades

brasileiras, a arborização foi gradativamente extinguindo-se, relegada ao

abandono, ou sequer chegou a compor efetivamente os ecossistemas urbanos

(VERAS, 1985, p. 189).

3.2 Benefícios da vegetação aos biomas urbanos3.2.1 Possibilidades de uso arquitetônicoA vegetação proporciona melhoria estética do ambiente urbano (MILANO, 1984;

50

Page 52: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

MILANO 1988) e mitiga a poluição visual (DETZEL, 1994, p. 50). Os arbustos e

árvores são formas arquitetônicas que podem reforçar funcional e esteticamente

o projeto urbanístico. Também contribuem dando um aspecto mais estável e

consolidado às intervenções recentes (GREATER LONDON COUNCIL, 1985, p.

15).

Para SERPA & MUHAR (1996, p. 19-25), as características visuais das plantas,

podem alterar a percepção de um usuário no espaço aberto. Plantas de textura

fina, por exemplo, aparentam ser maiores e estarem mais distantes do

observador, deste modo dando a impressão de um espaço ser maior do que de

fato é. Essa ilusão de ótica pode ser usada a favor do planejador, quando este

seleciona vegetação adequada aos espaços para os quais planeja, evitando que

os usuários possam desenvolver sensações de claustrofobia devido ao pouco

espaço ou de desolação por estarem em área muito grande.

A vegetação urbana pode ser usada como cortina, bloqueando vistas

indesejadas, ou separando espaços que possuem utilizações diversas.

(REETHOF & HEISLER, 1976, in SMARDON, 1988, p. 90; LEMENHE, 1997, p.

165-166; CAVALHEIRO, 1994, p. 228; MILANO, 1994, p. 209, 210).

Os vegetais podem direcionar o movimento através da paisagem. A arborização

de vias públicas pode orientar motoristas, fornecendo-lhes perspectiva (LIMA,

1993, p. 206).

Entre os principais usos arquitetônicos da vegetação (de acordo com BOOTH,

1983, p. 69-82; LEMENHE, 1997, p. 165-166; SANTOS & CARVALHO, 1997 e

LACOMBE, 1993 p. 1) estão a organização do ambiente externo e a criação de

espaços. A vegetação pode ser usada como muros, tetos e pisos numa

paisagem, pode definir e organizar o espaço. O senso de espaço depende de

delimitações criadas por modificações, seja no nível do solo ou em outro plano.

Sem uma definição física por barreiras, pode-se criar, no nível do solo, espaços

implícitos com o uso de grama ou arbustos de pequeno porte.

No plano vertical, as plantas podem influenciar a percepção do espaço de

51

Page 53: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

diversos modos. Conjuntos de árvores com troncos largos podem criar muros, tão perceptivos quanto maior for a largura dos troncos. A folhagem das árvores é

outra maneira de criação desses muros. A densidade e altura das folhas afeta a

sensação de cerceamento. Quanto mais altas forem as árvores, e mais próximas

e grandes suas folhas, maior é essa sensação.

No plano aéreo, acima da altura média de um ser humano, podem ser criados

tetos que obstruem total ou parcialmente a visão do céu, afetando a escala

vertical do espaço. A sensação de teto é mais forte quando a copa das árvores

estão sobrepostas.

Outro uso interessante da vegetação no ambiente construído é a estruturação de

espaços. No caso dos espaços semi-abertos, o campo de visão do usuário é

parcialmente obstruído, de um ou mais ângulos, a partir do uso de plantas de

maior porte, atuando como muros que remetem à visão precisamente aos ângulos

desejados. Esses espaços são apropriados para residências, onde a privacidade

é requerida em uma direção, e não em outras.

Os espaços fechados são obtidos pelo uso de conjuntos de árvores com copas

densas. Deste modo obtemos tetos fechados, com a vista orientada para as

aberturas entre os troncos. Pode ser criado um túnel de árvores ao longo de uma

estrada, contribuindo para a orientação do tráfego. Para obtenção de privacidade,

arbustos podem ser plantados entre as árvores de copas densas, obstruindo a

visão do usuário e de observadores externos a ele.

Espaços verticais são criados com árvores de copas afiladas, que orientam a

vista para o céu. Em resumo, o paisagista pode criar diferentes tipos de espaço

usando plantas como elemento de definição. Ele pode ainda usar as plantas para

criar espaços seqüenciais interligados. Podem negar ou acentuar espaços criados

pelo relevo. As plantas podem ser usadas para modificar espaços criados pelas

edificações, originando subespaços em uma escala mais aprazível e humana, o

que é recomendável para grandes espaços abertos.

As plantas também podem ser usadas como pontos focais dominantes, como

52

Page 54: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

conexões visuais entre espaços. Podem ser usadas para complementar a

definição espacial e/ou organização de edificações. Destaca-se neste caso o

cerceamento, que é o cercamento de espaços próximos a edificações. Vegetais

podem conectar espaços, ao defini-los e separá-los de espaços mais externos ao

entorno da edificação. Conjuntos de edificações podem ligar-se através do

plantio no seu entorno imediato (BOOTH, 1983, p. 69-82; LEMENHE, 1997, p.

165-166).

3.2.2 Benefícios físicosTalvez o benefício proporcionado pela arborização mais conhecido é a sua

capacidade de alterar o clima das cidades. O clima urbano é um sistema que

abrange o clima de um dado espaço terrestre e sua urbanização, sendo

constituído por um conjunto de microclimas existentes no interior do espaço

urbano (MONTEIRO, 1976, in HASENACK, 1985, p. 47).

Dentre as principais modificações climáticas produzidas pela urbanização

destacam-se: 1) a alteração das características térmicas da superfície pela

substituição de áreas verdes por áreas construídas, que absorvem mais energia

térmica e impermeabilizam a superfície, gerando uma menor evaporação das

águas da chuva, que escorrem rapidamente pelo sistema de esgoto pluvial; 2) o

aumento da rugosidade urbana que dificulta a penetração do ar da periferia para o

interior da cidade, e 3) as atividades humanas: processos produtivos,

deslocamentos diários dos habitantes, climatização dos prédios que adicionam

calor e materiais particulados à atmosfera, alterando-a, e contribuindo para a

intensificação do efeito estufa.

Isto explica a diferença de temperatura entre as cidades, que pode chegar a 6

graus celsius ou mais em dias de sol (HASENACK, 1985, p. 48, 49; SPIRN, 1995,

p. 67; HEISLER, 1974; LOMBARDO, 1985; in LIMA, 1993, p. 7).

53

Page 55: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

A vegetação contribui significativamente ao estabelecimento de microclimas mais

aprazíveis, reduzindo variações climáticas induzidas pelas atividades urbanas,

entre outros fatores, pelo processo de fotossíntese, que auxilia na umidificação

do ar através do vapor d'água que libera. Geralmente a vegetação tende a

estabilizar o clima sobre seus arredores imediatos, nivelando extremos ambientais

(ROMERO, 1988, p. 31; SATTLER, in SANCHOTENE, 1994, p.16; MILANO,

1984, 1988; TAKAHASHI & MARTINS, 1987; BARTEINSTEIN, 1981; GREY &

DENEKE, 1978; SMITH & DOCHINGER, 1976; BERNATZKI, 1980; IN DETZEL,

1994 p. 50; NAGINO, 1995, p. 27; GATTI, 1999, p. 76; SPIRN, 1995, p. 189;

SILVA & BRANCO, 1987, p. 208; BRASIL, 1997, p. 57; ANDRADE, 2000;

LOMBARDO, 1997; DUARTE, 1997; BUENO & LABAKI, 1997; LOMBARDO &

NETO, 1990). SATLLER, 1992 (in LIMA, 1993, p. 9) indica 30% de cobertura

vegetal como índice recomendado para um adequado balanço térmico na urbe.

É comum, em regiões de clima quente e baixos índices de umidade relativa do ar,

o surgimento de infecções no aparelho respiratório. As árvores mitigam essas

infecções, pois funcionam como bombas hidráulicas, absorvem água do solo e

liberam-na na atmosfera, aumentando a umidade do ar. Uma única árvore pode

transpirar, desde que suficientemente suprida de água no solo, até 400 litros de

água por dia / m2 de área, resultando no mesmo efeito térmico produzido por 5

condicionadores de ar com capacidade de 2500 kcal / h cada um funcionando 20

horas por dia (KRAMER & KOSLOWSKI, 1972, in LIMA, 1993, p. 10; SPIRN,

1995, p. 195; MACEDO, 1997, p. 38; CAVALHEIRO, 1994, p. 230).

A vegetação pode reduzir as despesas com condicionamento térmico nos

ambientes construídos (MASCARÓ 1996, p. 67; SANCHOTENE, 1994, p.16). Em

outras palavras, uma arquitetura de exteriores conseqüente contribui efetivamente

para a economia de energia elétrica. A demanda crescente de energia produz

impactos, representados pela construção de hidroelétricas e pelos milhares de

hectares de terras de interesse agrícola, social e ecológico que são inundadas.

54

Page 56: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

A vegetação urbana possui grande capacidade de alterações de microclima, pois

produz sombra (MELLO FILHO, 1985, p. 119) e filtra ou bloqueia claridade do sol,

é uma grande produtora de vapor d’água, contribuindo para manter o ar dos

ecossistemas urbanos mais úmidos; e ainda, as grandes massas de vegetação,

por exemplo as florestas urbanas - caso do Parque Metropolitano de Pirajá - têm

a capacidade de atuarem como termostato, amenizando altas e baixas

temperaturas.

A influência da vegetação na temperatura do ar está relacionada ao controle da

radiação solar, do vento e da umidade do ar. Sob grupamentos arbóreos, a

temperatura do ar é menor que nas áreas expostas a radiação solar direta. A

diferença se acentua com o aumento do porte da vegetação. A vegetação

também altera a concentração da umidade na atmosfera e nas superfícies

adjacentes. A umidade dos ambientes vegetados está relacionada com a

evapotranspiração.

A umidade relativa do ar sob a vegetação é maior que nos espaços sem ela, entre

3 e 10%, sendo os maiores valores obtidos no verão, devido a maior densidade

foliar verificada nessa estação e os menores valores verificados na primavera,

devido à existência de vazios nas copas (período de floração). O sombreamento

da vegetação ajuda a atenuar condições extremas de frio e calor intenso nos

espaços urbanos (MASCARÓ, 1996, p. 77, 79, 86)

Outra alteração microclimática provocada pela vegetação urbana é a redução da

velocidade do vento (SMARDON, 1988, p. 87; MASCARÓ, 1996, p. 82). A

vegetação pode atuar como uma barreira natural ao vento. Há quatro efeitos

básicos de barreira: obstrução, onde a barreira bloqueia o fluxo do ar; deflexão, onde a direção do fluxo do ar é alterada; a filtragem, que reduz a velocidade do

55

Page 57: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

vento conforme a permeabilidade da barreira e a condução, que direciona o fluxo

do ar, modificando sua velocidade (MASCARÓ, 1996, p. 82, 199; DIAS, 1994, p.

57); FOX & KOEPPEL, 1985, p. 10, 11; CAVALHEIRO, 1994, p. 230; MILANO,

1994, p. 209-210).

O fenômeno ilha de calor urbana, assim denominado porque em geral as

temperaturas decrescem do centro para a periferia, ocorre com maior intensidade

com o céu límpido e sem vento. A destruição das matas, aliada ao irregular

alinhamento de ruas e construções, favoreceu a alteração do relevo e clima,

gerando a formação de ilhas de calor (ROCHA, 1996, p. 3, 4).

Durante o dia, os materiais de que são feitos os edifícios absorvem enormes

quantidades de energia que é liberada à noite. As superfícies pavimentadas ou

edificadas refletem de 15 a 50% da radiação de onda longa sobre ela incidente.

(SPIRN, 1995, p. 71; SATTLER, 1992; in LIMA, 1993,p. 6). As áreas verdes, pela

menor energia armazenada23, e também pela utilização de parte daquela para a

realização da evapotranspiração, liberam menos energia que as superfícies

pavimentadas, o que explica as temperaturas mais amenas registradas nas áreas

vegetadas (HASENACK, 1985, p. 48; SPIRN, 1995, p. 68).

Até mesmo em grandes edificações como shopping centers com grandes

estacionamentos asfaltados e em geral, desprovidos de árvores, já foram

verificadas ilhas de calor. (LIMA, 1993, p. 7) Pequenas ilhas de calor foram

23 A pavimentação irradia 50% a mais de calor que a grama (SPIRN, 1995, p. 71). Idéias simples

e pouco onerosas, como a utilização de blocos entremeados por grama na pavimentação de

estacionamentos, podem reduzir as ilhas de calor (SPIRN, 1995).

56

Page 58: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

detectadas até em pequenos pátios (SPIRN, 1995, p. 69). Isto quer dizer que as

ilhas não estão circunscritas a grandes ou pequenas escalas. Mesmo um

pequeno quintal sepultado pelo concreto pode gerar uma ilha de calor.

AKBARI (1988, in KIELBASO, 1994, p. 5-6) demonstrou que as árvores tem um

efeito positivo no fenômeno das ilhas urbanas de calor. SPIRN (1995, p. 67)

relaciona as ilhas de calor com um aumento dos derrames cerebrais e mortes, no

verão, quando as cidades são atingidas por prolongadas ondas de calor. Além

disso, as árvores proporcionam conforto lumínico, pois protegem as pessoas do

ofuscamento, comuns em dias de acentuada luminosidade (LIMA, 1993, p.11).

Não somente as áreas vegetadas, mas também a arborização viária pode

abrandar as ilhas. Árvores de copa rala interceptam até 80% da radiação solar, e

as de copa espessa, 98% (HEISLER, 1974, in LIMA, 1993, p. 7). Para abrandar o

calor das ilhas, SATLLER, 1992 (in LIMA, 1993, p. 7) recomenda que as árvores

sejam locadas o mais próximo possível das superfícies refletoras.

Um estudo desenvolvido em Piracicaba verificou que, em ruas arborizadas, o

interior das residências tende a mostrar uma menor temperatura, nas manhãs e

tardes, em relação às casas de ruas não arborizadas (CARVALHO, 1982, in

LIMA, 1993, p. 8).

Ruas arborizadas não somente proporcionam proteção da radiação solar, como

57

Page 59: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

também protegem as pessoas das radiações de ondas longas emitidas pelas

construções. Tal proteção é particularmente importante durante as tardes de

verão (HEISLER, 1974, in LIMA, 1993, p. 9).

Outro fenômeno relacionado ao clima que tem conseqüências diretas aos

urbanitas é aquele conhecido como inversão térmica. As inversões são

ocasionais e breves em todas as cidades, mas freqüentes e prolongadas em

cidades com predisposição climática ou topográficas. Podem ocorrer na escala de

uma metrópole ou mesmo de uma rua desfiladeiro. Muitas vezes, inversões

formadas nessas ruas prendem os poluentes ao nível da respiração durante

horas, sobretudo nas cidades mais frias (SPIRN, 1995, p. 64, 72)

As áreas verdes diminuem o escoamento superficial de áreas impermeabilizadas,

embora esse efeito seja de pequeno alcance (CAVALHEIRO, 1994, p. 230; FOX

& KOEPPEL, 1985, p. 10, 11).

3.2.3 Melhoria das condições do ciclo hidrológico e do soloPerdas por erosão são atenuadas na maioria dos solos devido à proteção

representada pela cobertura vegetal. A manutenção dessa cobertura pode reduzir

as perdas por erosão em 98%, em relação ao solo descoberto, proteger rios e

mananciais, estabilizar o solo e renovar a água subterrânea. (MACEDO, 1997,

p.38; TEIXEIRA & SILVA, 1994, p. 156).

3.2.4 A vegetação no combate à poluição

58

Page 60: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

A capacidade da vegetação em bloquear ruídos é controversa, pois existem

autores que a defendem e outros que a negam. SATTLER (in LIMA, 1993, p.11)

descreve um mecanismo que atua na amortização de ruídos. Segundo este autor,

em ruas arborizadas, ocorrem inversões de temperaturas sob a copa das árvores

e isto determina a refração das ondas sonoras e a interação dessas ondas com o

solo, resultando em redução de ruídos. Em conseqüência ruídos podem ser

reduzidos em até 50%. (DETZEL, 1994, p. 50; MILANO, 1994, p. 209, 210;

MILANO, 1984; MILANO, 1988; MESQUITA, 1996, p. 6; LEMENHE, 1997, p. 165,

166; MELLO FILHO, 1985, p. 119; CAVALHEIRO, 1994, p. 228, 230; KIELBASO,

1994, p. 4).

Segundo HERRINGTON, 1974; REETHOF & HEISLER, 1976 in SMARDON

(1988, p. 87) a vegetação urbana não é eficiente para reduzir ou bloquear

barulhos indesejáveis. Entretanto, para MILANO (1988, p. 6) (que cita os mesmos

autores lidos por Richard SMARDON), para MESQUITA (1996, p. 6) e para

LEMENHE (1997, p. 165, 166) os vegetais são efetivamente capazes de diminuir

a poluição sonora. Para Angelo Serpa (comunicação pessoal, 2000), a

capacidade da vegetação em neutralizar ruídos é sobretudo psicológica.

Muito importante é a capacidade da vegetação urbana em interceptar e reduzir a

presença de partículas sólidas em suspensão no ar (SMARDON, 1988, p. 88;

SCHUBERT, 1979; SMITH & DOCHINGER, 1976, IN MILANO, 1988, P. 5;

MILANO, 1994, p. 209, 210).

59

Page 61: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

A vegetacão no ambiente urbano tem a capacidade de fixar poluição e poeira,

através do processo de fotossíntese e a partir de seus próprios elementos

constitutivos: materiais oleosos em suspensão nas folhas. Cortinas vegetais

implantadas dentro das cidades indicam que as árvores são capazes de diminuir

em 10% o teor de poeira do ar. Estima-se em 68,2 e 31,9 toneladas de pó por

hectare a capacidade de remoção dos gêneros Fagus e Picea, respectivamente.

Cada hectare das folhas de árvores, arvoretas e arbustos pode fixar dezenas de

quilogramas de poeira/ano. Ruas arborizadas apresentam até 70% menos poeira

em suspensão em relação às ruas não arborizadas.

Quanto aos poluentes químicos, as espécies vegetais têm a capacidade de

biofiltração e mesmo metabolização de compostos tais como SO2, NO2, O3 e

derivados de cloro e flúor.24

SPIRN (1995, p. 86) recomenda a criação de uma zona tampão formada por

árvores entre áreas residenciais e ruas, como forma de diminuir a concentração

de poluentes no ar. É preferível que as árvores estejam plantadas em áreas não

pavimentadas, pois o solo também é um eficiente absorvente de poluentes.

Estudos franceses indicam que a arborização pode diminuir a taxa de CO2 na

atmosfera25, bem como a quantidade de níquel, cloro, azoto, cádmio; além de

reter de 30 a 40% de poeiras e fumaças no ar. (MACEDO, 1997, p.38; FOX &

KOEPPEL, 1985, p. 10, 11; FELDMANN, 1996, p. 1; SATTLER, 1992 in LIMA,

1993, p. 12; SMITH & DOCHINGER, 1976; ROBERTS, 1980, in LIMA, 1993, p.12;

MELLO FILHO, 1985, p. 119; CESTARO, 1985, p. 54; CAVALHEIRO, 1994, p.

228; BERNATZKY (1980); GREY & DENEKE (1978); HEISLER (1974); JENSEM

& Outros (1976); LAPOIX (1979); POLYNGTON (1977) e SCHUBERT (1979); in

MILANO 1994, p. 209-210; MILANO, 1984, 1988; TAKAHASHI & MARTINS, 24 É evidente que há um limite à capacidade dos vegetais em biofiltrar o ar. Na madrugada do dia

8 de março de 2000, resíduos tóxicos lançados pela Caraíba Metais, empresa situada no pólo

petroquímico de Camaçari, provocaram a morte de dezenas de árvores e de plantações de aipim,

andu e coentro em Leandrinho, distrito de Dias D'avila, Bahia (A TARDE, 12/03/2000).

25 Cerca de 200 árvores são suficientes para absorver o CO2 expelido por um carro que percorra

16 mil quilômetros anuais em jornadas para o trabalho, compras, etc.(VALE & VALE, 1996, p. 174)

60

Page 62: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

1987; BARTEINSTEIN, 1981; GREY & DENEKE, 1978; SMITH & DOCHINGER,

1976; BERNATZKI, 1980; IN DETZEL, 1994 p. 50; YOKOHARI & KATO, 1995, p.

19; SMARDON, 1988, p. 88; LAPOIX (In: MILANO, 1988, p. 6); JENSEN (In:

MILANO, 1988, p. 6); ROBERTS, 1980 (In: MILANO, 1988, p. 6); CESTARO,

1987 (In: MILANO, 1988, p. 6); SPIRN 1995, p. 75; KIELBASO, 1994, p. 4; VALE

& VALE, 1996, p. 174; DIAS, 1994, p. 57; ROMERO, 1988, p. 97; CAVALHEIRO,

1994, p. 228; FOX & KOEPPEL, 1985, p. 10, 11; LOVELOCK, 1991, p.

151;LOMBARDO, 1990; FIRKOWSKI, 1990; ANGEOLETTO, 1999-b; CIUDADES

PARA UN FUTURO MÁS SOSTENIBLE, 1998-A).

Árvores com pecíolos grandes, numerosas folhas, e folhas com pelos têm uma

maior capacidade de absorção de poluentes. Árvores e folhas mais velhas ou

árvores de folhas largas resistem mais a poluição (LIMA, 1993, p. 21).

Uma redução do nível médio de poluição por partículas inaláveis26 na atmosfera

até o patamar de 50 g / m3 implicaria evitar a morte de 6,7% pessoas que hoje

morrem por doenças respiratórias (FELDMANN, 1996, p. 1).

Além da capacidade de retirar poluentes da atmosfera, LAPOIX (1979, In:

26 Para FELDMANN (1996, p. 1), a indústria já não é a principal responsável pela degradação

atmosférica. O ex-secretário de meio ambiente de São Paulo sustenta que atualmente as

emissões veiculares são responsáveis por cerca de 90% da poluição do ar, em parte pelo

planejamento (inconseqüente) que estimulou o transporte individual em detrimento do coletivo.

KOSLOWSKI (1980, in LIMA, 1993, p.20) aponta outros dados: são 30% da poluição seria

causada pelas indústrias e 28% pelos veículos.

61

Page 63: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

MILANO, 1988, p. 6) afirma que as árvores possuem também uma ação anti-

microbiana. Comparando a quantidade de germes no ar de uma floresta em

Fontainnebleau, com a quantidade existente no ar de uma grande loja de Paris, o

autor chegou as seguintes cifras: 50 germes / m3 na floresta, contra 4.000.000 germes / m3 na loja.

3.2.5 Benefícios psicológicosDesde o passado remoto, dos tempos em que o primata homem apenas iniciava

seu afastamento do tronco central dos hominídeos, existe uma relação clara entre

humanos e árvores, inclusive com implicações de natureza psicológica (MELLO

FILHO, 1985, p. 117).

As nuances psicológicas da convivência entre humanos e plantas podem ser

esboçadas nos trabalhos de pesquisa que se seguem. GETZ et al. (1982. In:

ULRICH, 1986) pesquisando moradores de Detroit de etnia negra e branca

constatou que ambos os grupos demonstraram extrema simpatia pela presença

de árvores na cidade. Grupos de árvores de uma mesma espécie podem possuir

um valor simbólico bastante intenso, tornando-se imediatamente associadas a

certos lugares - o que ocorre no litoral do nordeste brasileiro, sempre lembrado

pelos seus coqueirais.

A vegetação é considerada pela maioria dos usuários de espaços públicos

esteticamente e psicologicamente importante (KAPLAN & KAPLAN. In: CARR,

1995, p. 11). Vistas naturais tendem a ser terapêuticas, quando comparadas a

62

Page 64: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

cenas tipicamente urbanas. Visões de vegetação reduzem significativamente o

medo e potencializam outros sentimentos como a afeição. Ao contrário, paisagens

urbanas agravam a ansiedade e o stress. Estas implicações são válidas para

ambos os sexos, e também para populações rurais e urbanas (SMARDON, op.

cit., ULRICH, 1986). Grupos de adultos pesquisados por ULRICH (1986, p. 29-44)

demonstraram preferência por paisagens naturais em relação às urbanas,

sobretudo se essas últimas apresentam escassez de vegetação. Para CESTARO

(1985, p. 54), a vegetação proporciona satisfação psicológica.

ULRICH (1984. In: SMARDON, 1988; ULRICH, 1986; ULRICH, 1990, in

KIELBASO, 1994, p. 4) submeteu à observação pares de pacientes que haviam

sofrido um mesmo tipo de operação, e que tinham em comum variáveis como

sexo, idade, uso de tabaco e hospitalização anterior. Cada um dos pares foi

colocado em 2 quartos absolutamente idênticos, exceto pela vista que se tinha da

janela: um muro de tijolos no primeiro e árvores no segundo. Os pacientes do

segundo quarto tiveram um período pós-operatório menor, menos complicações

pós-cirúrgicas e precisaram de menos doses de analgésicos, o que sugere que a

vista da vegetação teve influência terapêutica nestes pacientes.

63

Page 65: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

ULRICH (op. cit., 1986) estima que os pacientes submetidos à vista com árvores

tiveram um período pós-operatório 8,5% menor do que aqueles submetidos a

outra vista, o que representa um benefício econômico inquestionável,

recomendando a adoção de um planejamento paisagístico que leve em conta

esse fator. Muito dinheiro pode ser economizado, se o arquiteto optar por um

projeto que não trate a edificação como algo descolado do seu entorno.

MOORE (In: CARR, 1995, p. 227) constatou que prisioneiros cujas celas tinham

vistas para paisagens naturais precisavam de menos cuidados médicos do que

aqueles prisioneiros que não tinham acesso àquelas vistas. Essas pesquisas

reforçam o senso comum, segundo o qual elementos naturais podem relaxar,

acalmar e refrescar o espírito, especialmente quando a experiência diária de um

usuário envolva estresse, super estimulação, trânsito por ruas abarrotadas de

pessoas etc. A sensação de relaxamento é fortalecida se o cenário natural do

parque ou praça "remova" o usuário, ainda que temporariamente, dos ruídos da

sua agitada vida urbana.

64

Page 66: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Características da natureza - o céu, a floresta, uma área selvagem, uma praia,

água, desertos - têm significados especiais para as pessoas, pois elas sentem-se

vinculadas a essas características (CARR, 1995, p. 227). Há uma considerável

evidência que, uma vez dada a oportunidade aos usuários para que escolham as

qualidades de futuros espaços públicos, eles irão solicitar a presença de

elementos naturais (BALLING & FALK, 1982; BUKER & MONTARZINO, 1983; DRIVER & GREENE, 1977; KAPLAN, 1983. In: CARR, 1995, p. 225).

Um estudo sociológico de plantio de árvores urbanas descobriu que residentes

participantes de um projeto de plantio de árvores nas ruas de um bairro de baixa

renda em Oakland, EUA, sentiram um aumento do senso de comunidade, um

melhor entendimento entre seus vizinhos e um maior controle sobre seu próprio

ambiente (AMES, 1980, in KIELBASO, 1994, p. 4). LEWIS (1990, in KIELBASO,

1994, p. 4) reportou vários desses projetos em Chicago, Filadélfia, Boston e Nova

65

Page 67: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Iorque, e concluiu que essas atividades melhoram a auto-imagem e auto-estima

dos moradores.

3.2.6 Benefícios econômicosAs árvores contribuem significativamente para o aumento do valor de venda dos

imóveis, representando cerca de 6 a 9% de seu preço final (MORALES, 1980; in

DETZEL, 1994 p. 51; SANCHOTENE, 1994, p.16). Nos EUA, cerca de 5 a 15%

do valor de propriedades são atribuídos à presença de árvores, o que contribui

para o aumento da taxa de propriedade (no Brasil, IPTU) (KIELBASO, 1994, p. 4)

Segundo GOLD (in: MILANO, 1988, p. 6) e BOOTH (1983, p. 70) as árvores nas

cidades aumentam a satisfação dos usuários de parques e praças e contribuem

para o aumento do valor das propriedades. Há uma relação direta entre o

aumento de preço de lotes residenciais e a proximidade de áreas verdes, parques

66

Page 68: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

e espaços abertos. Geralmente, quando confrontados com a possibilidade de

espaços abertos destituídos de, ou com vegetação, seus usuários preferem a

segunda hipótese.

Áreas comerciais com falta de vegetação geralmente são preteridas por aquelas

com vegetação abundante. Construções cujo entorno é vegetado são

freqüentemente mais lembradas pelos passantes, pois isto aumenta sua

67

Page 69: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

atratividade, tornando-as mais notáveis (SMARDON, op. cit.; ULRICH, op. cit., 1986). ULRICH (op. cit., 1986) argumenta que paisagens construídas tal qual

áreas residenciais tendem a ser valorizadas quando contém árvores

proeminentes e que há preferência por vias de circulação residenciais que

contenham abundância de vegetação.

Praças, ruas e outros espaços que incluem em seu desenho combinações de

68

Page 70: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

árvores, flores, grama e outras plantas, podem atrair um maior número de

transeuntes. A atração popular por características naturais são um bom suporte à

vida pública. Vegetação, ruas arborizadas e jardins são partes altamente

valorizadas das cidades (FRANCIS, 1987b; SPIRN, 1984; ULRICH, 1979. In:

CARR, 1995, p. 41-42).

Árvores localizadas estrategicamente entre os edifícios podem reduzir o consumo

de energia utilizada para refrigeração em 50%. Cada 100 milhões de árvores

69

Page 71: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

plantadas perto de residências podem poupar eletricidade correspondente a 22

bilhões de kilowatts / hora, o que traduzem-se em US$ 2,3 bilhões anuais e 9

milhões de toneladas de CO2 retirados da atmosfera (KIELBASO, 1994).

3.2.7 Benefícios ecológicosA diversidade vegetal é um aspecto benéfico aos ecossistemas urbanos. Quanto maior o número de espécies vegetais, maior será a chance de instalação definitiva de uma fauna mais diversificada, pois a vegetação oferece abrigo e

alimento à uma fauna variada, que inclui insetos, pássaros, morcegos e

organismos que habitam o solo. Também maior será a capacidade das plantas

de resistir a variações e de absorver impactos negativos como a poluição ou as

adversidades climáticas. Ao mesmo tempo, uma maior diversidade diminui a

possibilidade de pragas e doenças que afetam fauna e flora. Quanto mais

heterogênea for a vegetação usada na arborização, menor será a probabilidade

de monotonia na paisagem urbana27 (CESTARO, 1985, p. 54; MELLO FILHO,

1985, p. 119; MILANO, 1984, 1988; TAKAHASHI & MARTINS, 1987;

BARTEINSTEIN, 1981; GREY & DENEKE, 1978; SMITH & DOCHINGER, 1976;

BERNATZKI, 1980; IN DETZEL, 1994 p. 50; VOSS, 1985, p. 113; SANCHOTENE,

1994, p. 16, 22; ZELAZOWSKI, 1985, p. 186).

Estimular o aumento da diversidade e da abundância da vida silvestre é positivo.

Além dos serviços ecológicos prestados (vide capítulo 1), um maior número de

espécies nas cidades determina uma competição com animais nocivos -

pombos28, baratas, ratazanas, etc - diminuindo a disponibilidade de alimentos e 27 Contudo, o que em geral ocorre nas cidades brasileiras é uma baixa diversidade vegetal (LIMA,

1993, p. 64; SOUZA, 1994-a, p. 8). Em Curitiba 18 espécies representavam 92% da população

arbórea total (MILANO, 1984) e em Maringá, 15 espécies representavam 96% (MILANO, 1988).

Em Piracicaba, 20 espécies representavam 90% da população arbórea total, sendo que a espécie

mais comum representava 52,3% dos 4904 indivíduos levantados (LIMA, 1993, p. 138). Em

Vitória, em levantamento realizado pela Prefeitura, apenas 3 espécies não atingiam mais de 15%

dos indíviduos da população de árvores (PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA, 1992, p. 15).

28 Os pombos são hospedeiros de vários parasitas e do toxoplasma gondi, protozoário causador

da toxoplasmose, uma infecção que pode atingir vários órgãos, inclusive do sistema nervoso

central e do aparelho da visão (RAMOS, 2000). Sua proliferação é um entrave à conservação do

patrimônio arquitetônico

70

Page 72: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

reduzindo a população desses animais (SPIRN, 1995, p. 240).

A presença per si de muitas áreas verdes podem ter pouco valor à diversidade

biológica, se melhorias para atração de fauna e flora não forem um objetivo do

planejamento (NATURE CONSERVANCY COUNCIL, 1989, p. 39).

Logo, o paisagista não pode negligenciar a oportunidade de "construir" ambientes

específicos ou aproveitar fragmentos de ecossistemas em seus projetos,

viabilizando a permanência e o aumento da vida silvestre. É sempre essencial

saber para quais espécies da vida selvagem se está projetando, a fim de que o

habitat inclua os organismos e os requisitos espaciais apropriados (SPIRN, 1995,

p. 245).

Entretanto, isso é particularmente difícil, pois os dados sobre a vida na Terra são

ainda escassos e inconclusos. Não se conhece nem o número total de espécies

vivas do planeta - as estimativas variam entre 5 e 30 milhões - e muito menos se

sabe sobre sua ecologia.

Geralmente, no processo de urbanização, a vegetação nativa é derrubada e

novas plantas são introduzidas. Disso resulta que, ao redor do mundo, cidades

com climas semelhantes abrigam virtualmente as mesmas espécies vegetais

(SPIRN, 1995, p. 29). Esse fato é evidentemente pouco interessante para a

atração e manutenção de biodiversidade nas cidades e nos ecossistemas

circunvizinhos a elas.

A variabilidade de espécies nativas brasileiras, de suas cores e formas, é

surpreendente. Infelizmente sua utilização em projetos é limitada porque falta

pesquisa básica no Brasil, sobre o uso de nossas espécies para fins urbanísticos

e paisagísticos (IRGANG, 1985, p. 57).

Existem na flora brasileira cerca de 5 a 6 mil árvores merecedoras de estudos,

visando sua introdução na arborização urbana no Brasil. Menos de 100 espécies

são usadas com essa finalidade (MELLO FILHO, 1985, p. 123; MELLO FILHO,

1994, p. 75) e 80% das árvores plantadas nas cidades brasileiras são exóticas

71

Page 73: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

(LORENZI 1992 in RODRIGUES & BREDT, 1994, p. 312).

Para MAGNUSSON & LIMA (1999)

Grande parte das árvores plantadas nas cidades brasileiras, em parques e ruas, não

é nativa, mas importada de outros continentes. Essa estratégia de paisagismo impede

que os próprios brasileiros conheçam a riqueza de sua flora e que os turistas

identifiquem o local em que estão. Selecionar e utilizar espécies nativas, ornamentais

ou frutíferas, poderia trazer uma série de vantagens para as cidades beneficiadas e

valorizaria a natureza brasileira aos olhos das futuras gerações.

3.3 Pressões urbanas sobre árvores

72

Page 74: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Nas cidades, as plantas são submetidas à condições prejudiciais, como:

compactação e impermeabilização do solo, o que dificulta a penetração das

raízes; deficiências minerais do solo; poluição do solo por metais pesados

como chumbo, níquel e cádmio provenientes da queima de combustível e de

resíduos de pneus; poluição do ar excessiva por poluentes como SO2, NO2,

O3, CO2, CO e Cl2; impactos mecânicos (podas, vandalismo29, construção de

edifícios, etc); grandes aglomerados de construções, que funcionam como

barreiras biogeográficas difíceis de serem transpostas por organismos silvestres

nos seus movimentos de polinização e dispersão de sementes (CESTARO, 1985,

p. 55; MOTTA, 1985, p. 64).

O calor emitido por ruas asfaltadas aquece a superfície das árvores e pode até

matá-las, se as plantas estiverem sob condições de pouca drenagem

(ANDRESEN, 1976, in LIMA, 1993, p. 24).

Pequenas diferenças no ambiente físico das ruas fazem uma enorme diferença na

taxa de sobrevivência. As ruas poderiam ser projetadas para fornecer, às raízes,

espaço, ar e água. Em vez disso, práticas correntes agravam as condições já

hostis. As ruas do centro são pavimentadas de uma fachada a outra. A

pavimentação diminui a quantidade de água que chega às raízes. Nessas ruas,

as árvores são plantadas em pequenas covas, que em caso de chuvas

prolongadas podem ficar inundadas, apodrecendo as raízes (SPIRN, 1995, p.

194, 196).

Ao invés de plantadas em espaços pavimentados, SPIRN (1995, p. 210) sugere

que substitua-se o concreto por pó de pedra poroso, que é um subproduto da

britagem. A faixa de pó de pedra permite um maior acesso de ar e água às raízes

das árvores.

29 BIONDI (1985, in LIMA, 1993, p. 35) constatou que Recife, mais 1 / 3 das árvores plantadas nas

ruas e avenidas apresentavam danos físicos causados por atos de vandalismo, embora a autora

tenha constatado posteriormente uma melhora do quadro (BIONDI, 1990). Em Curitiba, 37% das

2750 mudas plantadas em 1999 foram arrancadas; esse percentual chegou a 60% em alguns

bairros (GAZETA DO POVO, 22/12/1999).

73

Page 75: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Os vários fatores de estresse a que as árvores urbanas estão submetidas provoca

a síndrome de resposta das árvores urbanas ao estresse, cujos sintomas são:

menor crescimento, amadurecimento prematuro, menor tempo de vida, maior

suscetibilidade à ataques de fungos, vírus e insetos (FOSTER, 1977 in LIMA,

1993, p. 26). Isto traduz-se em diminuição dos benefícios supracitados e gastos

na recomposição dos vegetais mortos ou senescentes.

3.4 Problemas causados pela arborizaçãoOs principais problemas originados pela prática da arborização são o

escurecimento noturno e diurno de ruas jardins e fachadas de casas; entupimento

de calhas e quebra de telhas; ruas calçadas e propriedades com o piso destruído;

canalizações deslocadas, obstruídas ou quebradas; avarias em fios da rede

74

Page 76: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

elétrica (em algumas cidades as árvores representam cerca de 50% das causas

de interrupção do fornecimento de energia e de telefonia); emboloramento e

danos nas fachadas da edificações e encobrimento de letreiros e placas de

sinalizações. É importante salientar que esses problemas não podem ser

atribuídos aos vegetais e sim ao planejamento, que é falho ou mesmo inexistente

(FERREIRA, 1985, p. 92; MAGALHÃES 1990 in LIMA 1993, p. 43; PEDROSA,

1983; SANTINI & BUENO, 1987 in LIMA, 1993, p. 33; HOEHNE, 1944, in LIMA,

1993, p. 33; MELLO FILHO, 1985, p. 120).

75

Page 77: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

O entupimento de bueiros, por exemplo, pode ser evitado com a coleta regular

dos resíduos orgânicos das árvores: esses resíduos podem ser aproveitados em

programas de compostagem. Toneladas de composto orgânico seriam produzidos

anualmente nas cidades e poderiam ser utilizados na própria arborização, na

adubação das mudas.

3.5 Algumas reflexõesHUDSON (1994, in KIELBASO, 1994, p. 5) calculou que somente os benefícios

76

Page 78: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

oriundos da mitigação da poluição cobrem cerca de 60% dos custos de

manutenção das árvores urbanas. Somando-se a isto a capacidade da

arborização urbana em reduzir o consumo de energia, este percentual eleva-se

para 72%, o que por si só já justifica economicamente o plantio e manutenção da

arborização urbana. É bastante provável que o percentual de retorno aos cofres

públicos seja ainda maior, se forem incluídos nos cálculos de Kielbaso os

serviços ecológicos prestados pela arborização.

77

Page 79: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Os benefícios são incontestáveis, contudo, o planejamento da arborização é

incipiente. Mesmo nos EUA, que têm uma sólida tradição em arborizar suas

cidades, apenas 38% delas podiam estimar o número de suas árvores, e 17%

possuíam um plano de manejo (KIELBASO, 1990, in KIELBASO 1994, p. 8).

No Brasil, apesar de existirem publicações sobre arborização urbana datando de

78

Page 80: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

1944, só a partir da segunda metade dos anos 1980 começam a se organizar

encontros e sistematizar as informações (SANCHOTENE, 1994, p. 23). Não é

leviano afirmar que a situação brasileira, no que refere-se ao planejamento e

manutenção da vegetação urbana, é mais desalentadora do que a norte-

americana.

A falta de planejamento origina mitos relacionados à arborização, como aquele

que diz que a melhor medida para a avaliação de um sistema de áreas verdes é o índice de quantidade de espaço verde por habitante30. Mais importante

que a área total do sistema de espaços verdes é o potencial de oportunidades

que esses espaços oferecem, sendo que a magnitude deste potencial depende da

facilidade de seu acesso visual e físico ao público. Nesse sentido, as áreas

verdes ao longo de corredores terrestres de transporte contribuem bem mais que

blocos maciços de florestas na periferia (WHITE, 1968, in GRIFFITH & SILVA,

1987, p. 37).

A proposição de White é correta. Porém é preciso não esquecer que apesar da

importância da vegetação em estruturar espaços livres para o lazer, ela também

cumpre outros papéis igualmente importantes, como demonstramos nesse

capítulo.

CAPÍTULO 4

Pirajá: Um Bairro e um Parque

Ilusora de pessoas de outros lugares

A cidade e sua fama vão além dos mares

E no meio da esperteza internacional,

A cidade até que não está tão mal

E a situação, sempre mais ou menos

30 Para MACEDO (1997, p. 38) o índice da ONU de 12 metros quadrados de área verde por

habitante é defasado, pois não esclarece critérios de cálculo, distribuição espacial e de

características climáticas. É preciso que ele seja substituído por parâmetros onde o clima tropical

e a realidade das cidades (adensamento, circulação de veículos, poluições e morfologia) sejam

criadores de critérios que definam melhorias ambientais eficientes.

79

Page 81: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Sempre uns com mais, e outros com menos

A cidade não pára, a cidade só cresce

O de cima sobe e o de baixo desce...

(Francisco de Assis França, o Chico Science)

A cidade do Salvador, com cerca de 2.300.000 habitantes, detém

aproximadamente 18% da população baiana. Dois fatores principais

determinaram o crescimento urbano da cidade: a expansão do capital imobiliário,

coordenada pelo poder público; e o povoamento de baixa renda, realizado de

modo informal, pelos fluxos migratórios de áreas rurais ou da própria cidade, o

que resultou num elevado contingente de assentamentos espontâneos (CENTRO DE ESTUDOS SÓCIO AMBIENTAIS, 1997).

Salvador reflete a pobreza que predomina na Bahia, que ocupa a 20ª posição no

ranking de índice de desenvolvimento humano (IDV) da ONU, em comparação

com as outras 26 unidades da Federação. Se fosse um país, a Bahia ocuparia o

106º lugar, num ranking de 174 países (FOLHA DE SÃO PAULO, 9/9/1998). As

elevadas taxas de subemprego e desemprego e a questão habitacional estão

entre os principais problemas da cidade (CENTRO DE ESTUDOS SÓCIO

AMBIENTAIS, 1997, p. 4).

A primeira invasão de Salvador, a do Corta Braço, hoje o bairro do Pero Vaz,

surgiu em 1946. Desde então a ocupação informal do solo urbano ampliou-se

continuamente e se tornou “solução” de moradia para grande parte da população

segregada economicamente. Com a ampla consolidação das áreas habitacionais

ocupadas informalmente, acentuaram-se as diferenças sociais no espaço

construído, mantendo-se a gênese da desigualdade social (GORDILHO in A

TARDE, 12/12/1999-c).

Com cerca de 80% de sua área constituída por encostas, Salvador vem

experimentando um crescimento acentuado. Diariamente surgem novas

ocupações paupérrimas, sem esgoto sanitário, coleta de lixo ou água tratada,

muitas das quais localizadas em áreas de declividade acentuada. Cerca de 70%

80

Page 82: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

da área urbana é ocupada de forma oficiosa31 (SERPA, 1996-d, p. 279; SERPA &

SERPA, 1990, p. 36). Nesse conjunto de áreas moram atualmente cerca de

73,1% da população, afirma a professora Angela Gordilho (GORDILHO in

BANDEIRA, 2000).

BRITO (1995, p. 98-99), observa que, com o crescimento acelerado de Salvador,

especialmente a partir dos anos 70, a urbanização foi se adequando como era

possível à demanda crescente por novas moradias e serviços. Essa demanda

implicou (implica ainda) em dois padrões de construção opostos. Um é aquele

feito por profissionais, os quais, geralmente, procedem menosprezando o entorno

e as oportunidades oferecidas por ele, prevalecendo a construção como único

elemento a ser valorizado na paisagem. E há a arquitetura sem arquitetos,

causadora de problemas diversos, tais como, ocupação irracional das encostas,

insuficiência de espaços abertos nos bairros, entre outros. É realizada pela

população de baixa renda e é dominante em Salvador32.

Como é comum a todas as metrópoles brasileiras, o crescimento urbano de

Salvador deu-se através de um planejamento parcial, que contemplava alguns

loci em detrimento de outros, aliado a um desenvolvimento econômico de base

industrial que atraiu uma corrente migratória contínua. Desta feita, Salvador

apresenta hoje um desenho urbano problemático, com o solo sendo ocupado de

maneira desordenada, com a diminuição de áreas verdes e aumento da

poluição sonora e das praias, pela grande deposição de esgotos (SILVA &

FERNANDES, 1996, p. 57).

31 O termo oficiosa significa que a lei do uso do solo é raramente aplicada: a legislação exige que,

para cada construção, elaborem-se um perfil topográfico, cálculo de volume de desmonte,

relatórios de sondagem, projetos geotécnicos e de escoamento de águas pluviais (SERPA &

SERPA, 1990, p. 36). 32 É mister esclarecer que nos bairros populares residem muitos pedreiros, que, apesar da pouca

escolaridade, são competentes na construção de moradias. Assim, parte dos problemas citados

pela arquitetura popular, podem ser explicados pelas dificuldades topográficas ou outras

peculiaridades que desvalorizam uma área, tornando-a possível de ser ocupada por famílias de

baixa renda.

81

Page 83: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Apesar das condições ecológicas originalmente excelentes, no tocante à

temperatura, pluviosidade, insolação e luminosidade, umidade relativa, textura e

fertilidade dos solos, que permitem uma variada e luxuriante vegetação

paisagística, a arborização de Salvador é deveras modesta. Há uma escassez de

arborização em numerosas avenidas e bairros, principalmente os periféricos (FARIA, 1987, p. 80, 81).

4.1 O subúrbio ferroviário de Salvador (baseado em PEDRÃO, 1998, p. 76 -

93, salvo onde indicado).

O Subúrbio Ferroviário de Salvador, onde localizam-se o bairro de Pirajá e o

Parque Metropolitano de Pirajá, é um dos vetores de expansão de pobreza da

cidade. Do ponto de vista urbanístico, o subúrbio caracteriza-se por possuir

habitações em geral precárias33; pela ausência de um sistema de saneamento

básico; pela baixa qualidade dos serviços públicos, principalmente educação,

saúde, transporte coletivo e coleta de lixo; altas taxas de desemprego e

subemprego e renda familiar média de dois salários mínimos (CENTRO DE

ESTUDOS AMBIENTAIS, 1997, p. 4).

Localizado na parte ocidental de Salvador, próximo à Baía de Todos os Santos, o

Subúrbio Ferroviário tem uma área de aproximadamente 4145 ha, bordeando a

Baía de Todos os Santos. O censo do IBGE de 1991 apontava uma população de

217.361, com projeção de 285.500 pessoas para 200034. O subúrbio é uma área

de concentração de pobreza, que redunda nas agressões ambientais (discutidas

no capítulo 2), sendo considerada a região urbana mais problemática de

Salvador.

Sua ocupação foi inicialmente promovida pelos engenhos de cana-de-açúcar nos

núcleos de Paripe, Plataforma e Periperi. Até a implantação da rede ferroviária, a

área onde está assentado o Subúrbio pouco diferenciava-se do restante do

Recôncavo, onde imperava a produção açucareira.

33 A precariedade do subúrbio traduz-se na pouca valorização de seu solo urbano, cujo metro

quadrado é o mais barato da cidade do Salvador (BRITO, 1997).34 A FABS (Federação das Associações de Bairros de Salvador) estima, no entanto, que a

população atual do subúrbio gire em torno de 600.000 habitantes.

82

Page 84: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

A transição da economia agro-exportadora para a industrial marca o primeiro

impulso de urbanização da área. O setor agrícola é desestruturado, e desenvolve-

se o setor secundário. Esses fatos, aliados a transformações na infra-estrutura

rodoviária do Subúrbio, como a construção da avenida Suburbana em 1969,

originam uma corrente migratória a partir de 1955, a qual reflete-se em uma

expansão significativa da mancha urbana inicial, composta pelos bairros de

Plataforma, Periperi, Coutos e Paripe.

Nos anos 80 implanta-se o loteamento Fazenda Coutos, para onde foram

relocados os invasores das "Malvinas" e surgem duas grandes invasões: a de

"Bate Coração" e "Nova Constituinte". Nesta década fica evidente a falta de

espaço para grandes iniciativas habitacionais. A partir de então intensificam-se as

ocupações de áreas muito acidentadas ou encharcadas, impróprias para habitar,

realizadas por grupos de pobreza extrema.

A designação "Subúrbio Ferroviário" não é precisa, pois projeta uma falsa

impressão de unidade, de homogeneidade da mancha urbana, quando o que se

83

Page 85: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

verifica é o oposto: trata-se de uma região urbana com espaços bastante

diferenciados, de bairros estruturados a invasões, onde predomina a quase total

ausência de infra-estrutura urbana.

Reiteradas pressões de degradação, decorrentes da predominância da pobreza,

têm tornado esta parte da cidade do Salvador progressivamente inadequada ao

habitar. O Subúrbio vem perdendo progressivamente seu valor, pois ficou à

margem de investimentos públicos e privados, que elevaram os preços da terra e

dos espaços urbanizados na parte leste da cidade (orla marítima), com a

previsível desvalorização da parte oeste. A falta de investimentos reflete-se na

deficiência de infra-estrutura e na conseqüente impossibilidade de

desenvolvimento de um setor de comércio e serviços, o que caracteriza o

subúrbio como uma região predominantemente de baixa renda.

Nos bairros do subúrbio predomina um padrão de ocupação construtiva quase

total do território, o que resultou em uma quase ausência de áreas verdes; estas

84

Page 86: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

são poucas e concentradas, localizadas basicamente nas fronteiras do subúrbio,

destacando-se o Parque Metropolitano de Pirajá (PMP) e a área da Base Naval

de Aratu (que é área vedada à circulação de populares). Essa "má distribuição"

dificulta a maximização dos benefícios da presença de espaços vegetados.

O Subúrbio Ferroviário compartilha problemas ambientais comuns a outras

periferias brasileiras: a coleta de lixo é inexistente ou deficiente e a rede de

esgoto não contempla todos os bairros. O parcelamento irregular dos lotes, bem

como a freqüente inexistência de calçadas, problemas características das

periferias brasileiras (ULTRAMARI & MOURA, 1996, p. 1, 3) dificultam e desestimulam a arborização.35

4.2 O bairro de PirajáPirajá é um bairro periférico, outrossim, dado o conceito de periferia ser nebuloso,

cabe aqui breve conceituação.

35 Segundo SANTANA (1996, p. 79), as ruas dos bairros periféricos de Salvador quase sempre

são estreitas, e não estão devidamente preparadas para desempenhar suas funções.

85

Page 87: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

O dicionário MICHAELIS apresenta várias definições para o vocábulo periferia

pe.ri.fe.ri.a sf (gr periphéreia) 1 Geom Contorno de uma figura curvilínea. 2

Estereometria. 3 Superfície de um sólido. 4 Circunferência. 5 Anat Superfície externa

do corpo ou de um órgão. 6 Bot Extremidade marginal da folha. 7 Urb Região distante

do centro urbano, com pouca ou nenhuma estrutura e serviços urbanos, onde vive a

população de baixa renda (DICIONÁRIO MICHAELIS ON LINE, 1999).

Em todas as definições está explicita a oposição centro / arredores. Contudo, a

distância não é o melhor critério para a definição de áreas periféricas da urbe.

BONDUKI & ROLNIK (1979, p. 84, 85) definem periferia como as parcelas do

território que têm baixa renda diferencial.

Apresentar baixa renda diferencial significa uma série de características

conjugadas, onde a distância é apenas uma delas. Quanto maior é o número de

melhorias, maior será a renda diferencial, o que explica a valorização dos

86

Page 88: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

terrenos. Ao relacionar espaço a preços, a renda de terra impõe padrões de

ocupação que segregam o território urbano, produto do trabalho coletivo. A

elevação da renda diferencial de um terreno torna-o cada vez menos acessível às

parcelas menos remuneradas da força de trabalho, que acabam por ser

"expulsas" para periferias cada vez menos urbanizadas (BONDUKI & ROLNIK,

1979, p.77, 79, 80).

Segundo PAVIANI (1994, p. 183), atualmente nem sempre a periferia ocupa os

anéis mais externos da metrópole. Paviani afirma que, em muitas grandes

cidades, os empobrecidos ocupam espaços intercalares do tecido urbano. Ao

mesmo tempo, processos recentes tem gerido periferias nobres, ou, no linguajar

dos empreendedores imobiliários, condomínios fechados, villages ou cidades

jardins, que são ocupados pela classe média ou alta, com capacidade de pagar

pela qualidade ambiental em pontos diferenciados da metrópole.

Para VILLAÇA:

Nossa história urbana é não só a história da espoliação da maioria popular, mas

também a da participação do Estado nessa espoliação, por intermédio das obras

públicas que privilegiam os bairros dos mais ricos; da transferência dos órgãos

públicos para esses bairros; da legislação urbanística que privilegia esses mesmos

bairros; da história das prioridades na destinação dos recursos públicos (VILLAÇA,

1999).

Na evolução urbana do subúrbio ferroviário houve uma ausência de planejamento

dos espaços públicos de uso coletivo, como calçadas, pontos de ônibus, praças,

ou seja: ausência de planejamento, ausência ou insuficiência de injeção de

recursos, como afirmou Villaça no parágrafo anterior (PEDRÃO, 1998).

O bairro de Pirajá adequa-se à visão clássica de periferia, sendo, deste modo, o

registro visível no espaço, dos mecanismos de segregação e exclusão, que

traduzem-se em: habitações insuficientes e de má qualidade, inexistência de

infra-estrutura básica e transporte coletivo deficiente (PAVIANI, 1994, p. 182;

GROSTEIN, 1990, p. 33). Além da falta de infra-estrutura, o bairro sofre com os

altos índices de criminalidade, sendo considerado o mais violento do subúrbio

87

Page 89: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

(Projeto Ecoscâmbio, in ANGEOLETTO; SERPA & SOUZA, 1996, p. 18)

O termo Pirajá significa chuva ou garoa miúda em linguagem indígena. No século

XVI já existiam Engenhos de cana na região onde hoje está situado o bairro de

Pirajá, a exemplo do Engenho de Simão de Andrade. Lá travou-se a batalha de

Pirajá, ganha pelo exército dos libertadores, em novembro de 1822 (TEIXEIRA,

1999). Nessa batalha, decisiva para a definitiva expulsão das tropas portuguesas,

um episódio peculiar garantiu a vitória dos brasileiros. Foi nela que o corneteiro

Luís Lopes teve uma marcante e anedótica participação, dando o toque de

"Avançar Cavalaria e Degolar", ao invés do toque de recuar, como havia sido

ordenado. Com o ataque renovado dos brasileiros, os portugueses debandaram

(CORREIO DA BAHIA, 2/7/1998-a).

A história do bairro é marcada pela exclusão sócio-espacial comum às periferias

brasileiras. Falta de arborização, de equipamentos de consumo coletivo, de

emprego, de saneamento básico são problemas que resistem aos anos, e que

têm sido reportados pela imprensa soteropolitana (FOTOS 01 e 02) {TRIBUNA DA

BAHIA (8/5/1988-a);TRIBUNA DA BAHIA (8/5/1988-b); TRIBUNA DA BAHIA

(8/5/1988-c); A TARDE (8/2/1988); A TARDE (12/7/1982-a); A TARDE (9/7/1982-

b); A TARDE (20/6/1975); A TARDE (7/3/1972)}.

À segregação espacial e às carências somam-se as poucas opções de lazer.

Parece haver, segundo a FOLHA DE SÃO PAULO de 27-08-1996, uma relação

entre a falta dessas opções e o aumento da violência urbana. A paisagem é

bastante árida e escassos são os espaços públicos, há no bairro somente duas

praças. Em contraposição à exuberância da vegetação do Parque contíguo ao

bairro (o Parque Metropolitano de Pirajá - PMP), este apresenta grande parte dos

seus eixos de circulação desprovidos de arborização.

O bairro pode ser subdividido em três tecidos urbanos distintos: um de

crescimento não planejado (Pirajá) e dois planejados e construídos pela URBIS

(Companhia de Habitação e Urbanização da Bahia) (Pirajá I e II). Entretanto, dada

a homegeneidade e a origem comum dos tecidos planejados, e para efeito de

comparação com o tecido espontâneo, resolvemos agrupá-lo em uma só massa,

88

Page 90: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

doravante chamada de Pirajá I.

Tanto em Pirajá, quanto em Pirajá I, é flagrante a escassez de arborização e de

espaços de lazer e socialização. Se no tecido espontâneo essa escassez é em

grande parte conseqüência da produção não planejada das moradias e de seus

espaços livres (FOTOS 03, 04, 05, 06), em Pirajá I não houve qualquer preocupação

da URBIS em arborizar as ruas. Quando entregue aos moradores, em 1981,

coube aos mesmos as iniciativas para arborização do tecido planejado (FOTOS 07,

08, 09, 10).

Pirajá tem apenas uma praça (FOTOS 11, 12) assim como Pirajá I (FOTOS 13, 14),

com o agravante de ser mal localizada, em mais um erro grave da URBIS.

Estranhamente, a URBIS reproduz em Pirajá I problemas comuns no tecido

espontâneo: grande parte das ruas são vielas estreitas - o que dificulta a

arborização - e uma boa parte das residências não têm quintal ou ao menos uma

nesga de terra que pudesse comportar alguma vegetação. Muitos moradores

abriram a golpes de picareta o concreto que revestia a porção de área livre de

suas casas, com o intuito de cultivar plantas medicinais, ornamentais e mesmo

frutíferas.

Em Pirajá, grande parte dos lotes é de propriedade da família Martins Catharino36,

e foram ocupados. Com a despoluição da Baía de Todos os Santos, até 2003,

através das obras de saneamento do Governo do Estado da Bahia (projeto

conhecido como Bahia Azul), espera-se uma valorização das praias do subúrbio

(SERPA, 1999-C, p. 18; PEDRÃO, 1998 P. 84). Este fato tem causado

preocupação à moradores cujos lotes estão em situação irregular. Com a

valorização, é possível que muitos moradores sejam obrigados a comprar os

terrenos ou abandoná-los (SERPA, 1999-C, p. 18).

4.3 O Parque Metropolitano de Pirajá

36 A situação fundiária dos bairros do subúrbio é em grande medida irregular. A família Martins

Catharino vem reclamando o direito de posse de uma propriedade cuja área engloba Plataforma e

estende-se a outros bairros, inclusive Pirajá (SERPA, 1999-c, p.18)

89

Page 91: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

O Parque Metropolitano de Pirajá, contíguo ao bairro, possui área de 1.550

hectares (FOTOS 15, 16). Seu valor ecológico é elevado. Uma das últimas grandes

áreas verdes do Salvador, o PMP caracteriza-se por apresentar uma grande

variedade de ambientes: floresta ombrófila densa (mata atlântica, com

aproximadamente 900 ha), ecossistemas fluviais e marinhos, pântanos e

manguezais. O PMP contém um subespaço de 75 ha, conhecido como Parque

São Bartolomeu (PSB).

Estimativas preliminares para a Mata Atlântica indicam uma diversidade vegetal

mínima de 10.000 espécies, das quais 53% das árvores, 74% das bromélias e

64% das palmeiras são endêmicas. Também são endêmicas, ou seja, só ocorrem

neste ecossistema 214 espécies de aves, das 940 registradas e 73 espécies de

mamíferos (260 espécies registradas); bem como 92% das 183 espécies de

anfíbios (IEF, 1994 in FONSECA, 1997, p. 456).

Em um único hectare de Mata Atlântica no sul da Bahia, podemos encontrar 454

diferentes espécies de plantas, enquanto nas florestas temperadas registram-se

apenas 10 espécies por hectare. É um dos biomas mais ricos em biodiversidade e

também o segundo mais ameaçado do planeta. Calcula-se que 70% da

população brasileira vivem em áreas de ocorrência de Mata Atlântica. "É uma

floresta que está no nosso quintal e seu processo de degradação é contínuo e

contemporâneo. Acontece hoje em ritmo duas vezes mais acelerado do que o

registrado na Amazônia'', alerta Mário Mantovani, diretor da SOS Mata Atlântica

(MUNIZ, 1999)37.

A manutenção das florestas tropicais (como é o caso daquela presente no

parque), segundo LOVELOCK (1991 p. 170-171; 1997, p. 622) é imprescindível,

pois elas atuam na regulação climática global, bombeando à atmosfera

fantásticas quantidades de água em estado gasoso, formando-se nuvens que

amenizam o calor nos trópicos e aquecem regiões distantes (frias) pela liberação

da energia contida no vapor d’água.

37 Estudo realizado pela organização ambiental americana Conservation International (CI), sobre

os pontos biologicamente mais atingidos do planeta, aponta a Mata Atlântica como a área mais

ameaçada do Brasil e a quinta em todo o mundo (REVISTA GALILEU, 1999).

90

Page 92: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Parte da Bacia do Rio do Cobre também compõe esse bioma. A EMBASA

(Empresa Baiana de Águas e Saneamento) mantém uma estação de tratamento

no interior do Parque, sendo responsável pelo abastecimento diário de cerca de

110.000 pessoas. É a mais importante reserva de água potável do Subúrbio

Ferroviário38 (CENTRO DE ESTUDOS SÓCIO AMBIENTAIS, 1997, p. 2), de cuja

existência depende, evidentemente, a preservação do Parque.

Uma digressão é pertinente neste ponto. Há uma importância estratégica na

manutenção de reservas de água nos ecossistemas urbanos. As cidades

importam mais água do que todos os outros bens e matérias primas combinados

(SPIRN, 1995, p. 145). Por manejo inadequado, a oferta desse recurso diminui

rapidamente, sendo provavelmente o principal problema ambiental a ser

enfrentado pelas cidades do planeta, nos próximos 30 anos, segundo

pesquisadores das Universidades de Cambridge e Standford (NOVAES, 1996, p.

52). Segundo a Revista do CREA paranaense (1998, p. 18), a ONU estima que,

em 2005, dois terços da população mundial sofrerão com a falta de água.

O Brasil, a despeito de sua notável disponibilidade de água (cerca de 8% da

água doce disponível no planeta), corre riscos de enfrentar crises de

abastecimento em virtude da acelerada degradação dos recursos hídricos,

principalmente nas regiões metropolitanas (PAULA. In: PAULA, 1997, p. 208).

O abastecimento de água é problema grave em grande parte das metrópoles do

terceiro mundo, ou porque o recurso não existe ou porque é difícil trazê-lo para o

usuário (CAMPBELL, 1992, p. 197).

Outra razão para a conservação dos fontes de água doce é o custo de tratamento

para garantir o suprimento de água potável: US$ 2,00 para tratar 1000 m3 de

água de boa qualidade contra US$ 8,00 para tratar o mesmo volume de água

degradada (TUNDISI & BARBOSA, 1995 in BARBOSA & PAULA, 1997, p. 260).

Além disso, lagoas e rios são uma fonte importante de alimentos (BARBOSA &

38 PARÉS & BORJA (1996, p. 85), em pesquisa no bairro de Ilha Amarela, dectaram que a quase

totalidade dos esgotos do bairro é despejada no rio Mané Dendê, efluente do Rio do Cobre, e

formador da Cachoeira de Oxum , no interior do Parque.

91

Page 93: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

PAULA, 1997, p. 260).

Distribuída de forma desigual pelo planeta, a água chega a ser motivo de conflito

entre países. O mais crítico deles envolve israelenses e palestinos, cujos

mananciais disponíveis dependem de acordos entre Jordânia, Síria, Líbano, Egito

e Arábia Saudita (LOPES, 1999; BÓ, 1999).

Entre os decênios de 70/80 e 80/90, enquanto que a cidade do Salvador

apresentou, para os mesmos períodos, taxas de crescimento de 48,79% e

38,58%; o subúrbio apresentou taxas de crescimento de 87,41% e 68,07%,

respectivamente (CENTRO DE ESTUDOS SÓCIO AMBIENTAIS, 1997, p. 4).

É evidente que o crescimento do subúrbio torna o Parque Metropolitano de Pirajá

(caracterizado adiante) um vetor preocupante de ocupação. De fato, fímbrias do

bairro de Pirajá estendem-se sobre a mata (FOTOS 17, 18) (ANGEOLETTO;

SERPA & SOUZA, 1996 p. 18). Em 1996, 3 hectares de mata ciliar do Rio do

Cobre foram derrubadas39, nas proximidades da barragem da EMBASA.

Para PEDRÃO (1998, p. 82)

(...) a realidade do Parque é hoje a diária ameaça de seu contorno atual, devido, por

um lado, à demanda de solo para habitação, e por outro lado à intensificação de

ocupação lindeira à BR 324 (localizada a leste do parque), principalmente de

equipamentos industriais (...)

Além de possuir uma reserva de água estratégica, o parque detém um precioso

fragmento de floresta ombrófila densa - ecossistema cuja biodiversidade está

entre os maiores do planeta. As florestas tropicais são o lar de dois terços dos

organismos do mundo (RAVEN, 1997, p. 153), e seu patrimônio genético pode vir

39 As agressões ao patrimônio hídrico do Parque não partem apenas dos excluídos que derrubam

mata ciliar para construir. A URBIS (Urbanização e Habitação da Bahia S/A) foi acionada pelo

Ministério Público da Bahia e Ministério Público Federal, devido a construção de um conjunto

habitacional às margens do Rio do Cobre. Também foram acionadas empresas que exploram

arenoso na região da Lagoa da Paixão, nascente do Rio do Cobre (TRIBUNA DA BAHIA,

09/10/1999).

92

Page 94: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

a ser uma fonte importante de divisas ao Brasil. Os benefícios da preservação do

parque são inúmeros. Diante da evidente importância da sua manutenção, qual

tem sido a atuação do poder público municipal e das organizações não

governamentais?

Como no caso da falta de infra-estrutura em Pirajá, a imprensa baiana também

tem registrado o abandono do Parque São Bartolomeu, bem como sua

progressiva descaraterização (A TARDE, 9/2/1978; DIÁRIO DE NOTÍCIAS,

6/11/1975; A TARDE, 17/7/1979; TRIBUNA DA BAHIA, 24/1/1988-e; JORNAL DA

BAHIA, 10/12/1987; A TARDE, 16/8/1987; A TARDE, 2/8/1982-e; A TARDE,

11/9/1988; CORREIO DA BAHIA, 8/8/88; TRIBUNA DA BAHIA, 28/5/1988-e;

TRIBUNA DA BAHIA, 21/10/1992; A TARDE, 9/9/91; A TARDE, 26/8/1991; A

TARDE, 17/2/1973).

A municipalidade, desde que o Parque foi criado, através do Decreto 5363 de

28/04/1978, apresentou várias propostas para a preservação do Parque, das

quais 4 são aqui analisadas.

Em março de 1982 a Superintendência de Parques e Jardins (SPJ), vinculada à

Secretaria de Urbanismo e Obras Públicas da prefeitura municipal do Salvador

publicou um documento com propostas para a questão do parque, entre as quais

destacam-se:

a eliminação na área do Parque de uma faixa de aproximadamente 100

metros, em sua porção sudoeste;

a construção de uma cerca observando-se a nova delimitação proposta;

definição de espaços específicos reservados às manifestações do candomblé;

A justificativa da 1ª proposta era relocar os moradores para fora do Parque, sem

dispender recursos para tanto. Nas palavras dos autores do documento:

A PMS (Prefeitura Municipal do Salvador) estará, de uma forma realista, atingindo o

objetivo de evitar moradias na área do PSB (Parque São Bartolomeu), sem dispender

recursos financeiros significativos (SUPERINTENDÊNCIA DE PARQUES E

93

Page 95: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

JARDINS, 1982, p. 7).

Fica nítida nessa proposição a ingenuidade de fiar-se apenas em medidas do

poder executivo para estancar a prática de ocupação de solo do Parque.

Em todo o caso, redefinindo-se os seus limites legais, a SPJ defendeu o

cercamento, para, com essa medida, garantir a proteção do Parque contra

qualquer futura invasão.

Poucos meses depois da elaboração do documento da SPJ, o então prefeito

Renan Baleeiro propôs que o Parque fosse loteado para a construção de moradias. Percebe-se aqui uma contradição entre as proposições da SPJ, um

órgão da prefeitura, e a proposta do prefeito Baleeiro.

O fato é que sua idéia despertou muitas controvérsias. Houve muita pressão

contrária, mas é provável que tenha pesado muito mais o fato dos próprios

beneficiários do loteamento se negarem a ocupá-lo, pois segundo eles o Parque

era moradia de Orixás - divindades do candomblé, e os mesmos não queriam

correr o risco de uma profanação (SERRA, 1984, p. 106).

O jornal A TARDE (11/8/1982-c) noticiou o affair :

Objeto de muita polêmica, o Parque foi ameaçado de desapropriação para dar lugar à

instalação de famílias sem residência, mas os representantes dos cultos afro lutaram

para preservar o que consideram um local sagrado para suas práticas religiosas,

chegando agora ao convênio que dará condições a que seja construído o Templo dos Orixás40, no local.

O convênio foi assinado entre a FEBACAB - Federação Baiana dos Cultos Afro -

e o prefeito Renan Baleeiro. Provavelmente visando reparar sua imagem,

arranhada com a proposta de loteamento do Parque, além de assinar o convênio,

o prefeito Baleeiro criou o Conselho de Administração do Parque São Bartolomeu, tendo como presidente Mãe Menininha do Gantois, e como vice o

escritor Jorge Amado. O objetivo do Conselho era analisar, estudar, sugerir e

40 O Templo não foi construído.

94

Page 96: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

viabilizar normas para a regulamentação do uso do Parque. O Conselho era

composto por: 1 membro do Centro de Estudos Afro-Orientais; 1 membro do

Órgão Central de Planejamento;1 membro da Superintendência de Parques e

Jardins; 1 membro da FEBACAB; 1 membro da Fundação Museu da Cidade do

Salvador (A TARDE, 23/8/1982-d). Não há nos periódicos notícias de alguma

deliberação do Conselho.

Na gestão da prefeita Lídice da Mata (1993 - 1996), a Secretaria Municipal de

Planejamento (SEPLAN, s/d) tornou público um documento com diversas

propostas para o Parque São Bartolomeu. Não há menção ao Parque

Metropolitano de Pirajá. Entre as principais propostas cita-se:

a construção de uma cerca de arame farpado visando impedir qualquer

invasão futura

instalação de equipamentos urbanos de apoio ao turismo e às práticas rituais

do candomblé

recuperação da cobertura vegetal da zona oeste do Parque, numa extensão

de 85 hectares.

Essas propostas, bem como outras menos significativas e não comentadas aqui,

têm caráter endógeno, isto é, dizem respeito ao Parque, ou melhor dizendo à uma

porção ínfima do Parque Metropolitano, o Parque São Bartolomeu, com seus 75

hectares, que perfazem apenas 4,84% da área total do Parque. Não há menção

ao cinturão de pobreza que o margeia, e não há propostas que atentem para a

melhoria da qualidade das vidas dos moradores do seu entorno.

Também não há indicativo da metodologia para a recuperação da cobertura

vegetal. É importante ressaltar que a completa recuperação de um ecossistema

complexo como a floresta presente no Parque não se obtém apenas plantando-se

árvores, é preciso estimular a sucessão de grupos de plantas que culminem na

"arquitetura" original da mata, um processo de muitos anos. E afinal, o que

garantiria o cessar dos desmatamentos? São pontos não abordados pela

SEPLAN.

95

Page 97: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

As propostas da gestão seguinte, do prefeito Antonio Imbassahy (1997 - 2000),

abrangem o Parque Metropolitano de Pirajá, e não apenas seu fragmento mais

significativo para o turismo - o Parque São Bartolomeu. O documento (PMS,

1997) apresenta propostas específicas ao Parque Metropolitano e ao Parque São

Bartolomeu.

Para o Parque Metropolitano foram propostas as seguintes ações:

reflorestamento das áreas desmatadas;

implantação de um horto para o cultivo de mudas visando o reflorestamento e

instalação de um apiário, com utilização da mão de obra local nas duas

atividades;

implantação de lojas para a venda de produtos diversos, cuja renda seria

revertida para a manutenção do parque;

cercamento da área do Parque Metropolitano;

Para o Parque São Bartolomeu foram propostas as seguintes ações:

remoção de 427 famílias do interior do parque;

retirada de barracas de comércio próximas a Cachoeira de Oxum;

cercamento da área do Parque São Bartolomeu.

As propostas da gestão Imbassahy, ao contrário das anteriores, aborda o Parque

como um todo, e reconhece que é preciso intervir também em seu entorno,

gerando emprego e renda. No entanto, a proposta da prefeitura não apresenta

alternativas nesse sentido PELA & ANGEOLETTO (1998). Em suma, são

proposições insuficientes, que não alterariam as pressões antrópicas que a área

vem sofrendo. Quanto ao candomblé, não há qualquer proposta que estimule e

garanta sua prática, apesar deste ser um dos objetivos do projeto.

A partir do anos 80, a sociedade, através das organizações não governamentais,

vem apresentando propostas para a preservação do Parque. Em 1987, a AMPLA

(Associação dos Moradores de Plataforma, bairro do entorno do Parque)

promoveu um seminário sobre os problemas do Parque. No documento publicado

96

Page 98: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

(AMPLA, 1987), reconhece-se a impossibilidade de preservação do Parque sem a

adoção de medidas que garantam melhores condições de vida aos moradores do

subúrbio. Entre as propostas defendidas no seminário destacam-se:

o cercamento do Parque;

ações educativas (educação ambiental) nos bairros;

promoção sistemática de eventos culturais que garantissem a freqüência dos

moradores do subúrbio.

A promoção de eventos culturais no Parque não visa apenas atender à demanda

dos moradores por cultura. A ex-coordenadora e uma das fundadoras da AMPLA,

Antonia Garcia, é enfática ao defender que a apropriação do Parque pelos

moradores do subúrbio é a medida mais importante para a sua preservação

(Antonia Garcia, comunicação pessoal, 1999). Para ela, é preciso que os

suburbanos adotem o Parque como seu, descubram seus encantos e

possibilidades de lazer, pois essa forma de apropriação contribuiria enormemente

para inibir a violência no Parque; bem como facilitaria o desenvolvimento de

projetos para sua preservação.

Em 1991, a ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DO PARQUE SÃO BARTOLOMEU / PIRAJÁ, inicia a

formação de um corpo de guias e guardiães do Parque. Foram selecionados 35

adolescentes de escolas públicas do subúrbio. Estes adolescentes eram

remunerados e freqüentavam palestras onde evidenciavam-se aspectos sociais,

ecológicos e culturais relativos ao Parque.

A atuação dos guias e guardiães deveria envolver:

educação ambiental junto à comunidade e usuários;

vigilância sistemática do Parque;

levantamento de flora e fauna;

participação em projetos de produção de mel e mudas para a recomposição

de áreas desmatadas

O documento da Associação é permeado pelo discurso de integração

97

Page 99: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

moradores / Parque. Contudo, também esse conjunto de propostas é marcado

pelo seu caráter endógeno, não há propostas para a resolução dos problemas do

entorno, e é claro o que LEONARDI (1996, p. 18, 19) classifica como

ingenuidade, o fato dos educadores da Associação defenderem a educação

ambiental como a solução para todos os problemas do parque.

Mesmo no campo em que a Associação dispõe-se a atuar - a educação

ambiental - é bastante questionável sua proposta dos guias como difusores do

conhecimento adquirido em sua formação. É evidente a necessidade de difusão

dos conhecimentos relativos ao Parque, mas é pouco plausível confiar essa

tarefa a poucas dezenas de adolescentes, que habitam um universo de milhares

de pessoas.

Quanto ao intento de vigilância por parte dos menores, ele é francamente risível.

Participei da formação de um grupo desses adolescentes em 1995, como

educador, e meus pedidos para excursionar com os "guias e guardiães" dentro

do Parque eram negados, por questões de segurança. Nas poucas vezes que

educadores e coordenadores do projeto caminharam pelo parque, sempre havia

uma escolta da polícia militar.

O GERMÉN (Grupo de Recomposição Ambiental) tornou público, em 1993, um

projeto de recuperação ambiental destinado ao parque. De todos os documentos

aqui analisados, este é o único onde há a real intenção - embasada por uma

metodologia e contratação de pessoal qualificado - de se realizar um diagnóstico

das reais condições sócio-ecológicas do Parque. Por isso, o projeto é bastante

evasivo quanto a propostas de ações, estas são relegadas a um segundo

momento, quando os dados do diagnóstico norteariam intervenções.

Em 1994, a ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DO PARQUE SÃO BARTOLOMEU / PIRAJÁ lança o

Projeto São Bartolomeu / Memorial Pirajá. O objetivo da Associação foi o de

construir uma proposta de Educação Ambiental ampliada, ou seja, não só com

adolescentes mas também com professores e estudantes das escolas públicas

do subúrbio.

98

Page 100: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Indubitavelmente constata-se um avanço na tentativa de difusão das

características e problemas do Parque a um número maior de pessoas, embora a

defesa da educação ambiental como solução para todos os problemas do Parque

continue transparecendo neste segundo projeto da Associação.

Mais recentemente, a partir de 1996, o Centro de Educação São Bartolomeu

(CEASB) inicia suas atividades. Como está explícito em sua denominação, o

CEASB dedica-se a projetos de educação ambiental, em escolas públicas do

subúrbio ferroviário de Salvador. Outra área de atuação do CEASB é a promoção

de atividades de "sensibilização da mídia" (segundo declarações de seus

membros, em matéria de A TARDE de 23/11/96) para os problemas do parque.

No intuito de alertar a população baiana acerca dos problemas do Parque, o

CEASB levou ao Parque Carlinhos Brown e Margareth Menezes, em outra

ocasião havia levado Daniela Mercury, que se declararam aliados de sua

preservação. Em outra reportagem (CORREIO DA BAHIA, 24/8/1996), o CEASB

afirmou que a segurança é atualmente o principal e mais urgente problema do

Parque. A segurança, ou melhor dizendo, a falta dela, é certamente um problema,

mas não o principal nem o mais urgente. A insegurança é somente um reflexo das

condições aviltantes a que estão submetidos os moradores do entorno do Parque.

Em 1999, uma passeata e um abaixo assinado foram promovidos pelo CEASB.

Ambas manifestações tinham como objetivo o reconhecimento do Parque como

Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO (CORREIO DA BAHIA,

21/8/1999).

Cabem aqui duas perguntas. Quais serão os resultados práticos dessa

campanha? Qual é a diferença entre ser um Parque Metropolitano, Federal ou

Patrimônio da Humanidade quando há um histórico de propostas não realizadas

por vários governos municipais desde que o Parque foi fundado? A proposta do

prefeito Renam Baleeiro, acima comentada, demonstra com perfeição a pouca

atenção que o mesmo recebe por parte do poder público.

Nas ações do Associação dos Amigos do Parque São Bartolomeu, e mais

99

Page 101: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

recentemente do CEASB, a maioria dos problemas ambientais do parque está

ocultada pela idéia de que educação ambiental é preservá-lo; está implícita a

idéia de que quem destrói o Parque são os soteropolitanos, e a eles é remetida a

responsabilidade por sua preservação. Não atenta-se para o processo de

produção e reprodução da cidade, que originou o quadro de bairros sub-normais

margeando o Parque41.

Essas práticas, que contribuem para obnubilar as reais responsabilidades e

possibilidades de atuação de cidadãos e poderes públicos, não podem ser

classificadas como educativas. Paula BRÜGGER (in RODRIGUES, 1998, p. 136,

202) define esse tipo de "educação" como adestramento ambiental.

4.4 Algumas conclusões sobre a atuação de poderes públicos e ong's no ParqueEm tese, não há soteropolitano contrário à preservação do Parque, a não ser,

talvez, os excluídos que habitam suas entranhas. O que se constata, porém, é o

isolamento do subúrbio, e a virtual desconsideração do Parque pelos cidadãos de

classe média. Por isso, sensibilizações da mídia ou qualquer outro nome que se

dê à tentativa de chamar a atenção daqueles que estão social e geograficamente

de costas para o subúrbio - concentrados na parte leste da cidade, voltados para

a orla atlântica - são tentativas vãs de resolução dos problemas do Parque.

Tampouco se resolverão esses problemas em atividades tópicas de educação

ambiental em escolas. É fácil convencer escolares e professores sobre a

importância da preservação do Parque. Muito mais complexo é envolver a

esmagadora maioria da população do subúrbio que está fora das escolas em um

trabalho de educação permanente, consorciada à melhoria da qualidade de suas

vidas, através de múltiplas ações, como a estruturação de espaços arborizados

de lazer, tão escassos no subúrbio, ou a estabilização de encostas com o uso de

vegetação arbórea.

41 Em tempo: a Associação foi financiada pela prefeitura do Salvador e o mesmo dá-se quanto o

CEASB, daí a ausência de críticas por parte dessas organizações quanto a omissão das gestões

municipais, cujos planos para o Parque não se concretizaram.

100

Page 102: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Ao invés de maquinar planos que quase sempre não são executados, as gestões

municipais poderiam selecionar projetos e estabelecer parcerias que

redundassem em benefícios permanentes aos moradores do entorno do Parque.

Ressalta-se que muitas das ações de melhoria das condições de vida dos

suburbanos são de baixo custo.

Ao contrário do que às vezes transparece nos discursos de poderes públicos e

ong's, não há uma "fragilidade ecológica" inerente aos ecossistemas do Parque.

Estancando-se as pressões antrópicas, em alguns anos reestabeleceriam-se as

áreas desmatadas, o mangue, a potabilidade das águas. Daí a ineficácia de

propostas de recomposição da flora que ignoram a enorme demanda por solo

urbano para a construção de moradias, presente no subúrbio.

Uma intervenção defendida tanto pelas gestões municipais quanto pelas ong's é o

cercamento do parque. O fato é que a idéia da cerca , por si só é inútil: ela não irá

deter invasores. Mas o cercamento com alambrado ou a colocação de marcos

regulares que delimitassem o parque pode ser uma iniciativa interessante, desde

que se trabalhe com o entorno um contrato natural (faço uso aqui de uma idéia

do filósofo Michel SERRES): os moradores atuariam na fiscalização desse limite

(que, afinal, faz o parque "existir", pois o dá forma) e parcerias diversas

desenvolveriam projetos distintos: arborização de espaços livres, reciclagem de

lixo, teatro, saneamento, educação ambiental42. Isso atingiria o também aquele

cidadão que está fora das escolas.

SERPA (1996-d, p. 281) defende uma alternativa original para o cercamento do

Parque. No lugar de arame, seriam criados pomares de uso coletivo que

funcionassem como "zona tampão", protegendo a mata do interior. Há cerca de

10 anos a FEBACAB sugeriu que grandes estátuas de orixás circundassem o

Parque, demarcando seus limites (Angelo Serpa, comunicação pessoal, 2000).

São idéias interessantes, que poderiam ser fundidas.

4.5 O candomblé e o Parque

42 A exemplo das experiências do Projeto Espaço Livre de Pesquisa / Ação

(www.ufba.br/~esplivre) nos bairros de Plataforma e Pirajá.

101

Page 103: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Outra proposta recorrente nos documentos acima analisados é a garantia de

espaço e infra-estrutura que garantam a prática do candomblé no Parque. Uma

proposta coerente, dada a importância do candomblé para a preservação do

PMP. O Parque São Bartolomeu (FOTOS 19, 20) é a maior referência dos cultos

afro-brasileiros da cidade e do Estado. A floresta, as nascentes, as cachoeiras -

Nanã, Oxum e Oxumaré - e as rochas - Pedra do Tempo e Pedra de Omolu - são

consideradas áreas sagradas, objeto de culto e peregrinação dos praticantes do

candomblé (FOTO 21) desde a metade do século XIX (CENTRO DE ESTUDOS

SÓCIO AMBIENTAIS, 1997, p. 2).

Segundo Angelo Serpa, as ações dos praticantes do candomblé no Parque

exprimem um profundo sentido estético, religioso e até mesmo ecológico, uma

vez que os sacrifícios e oferendas aos orixás; romarias às cachoeiras sagradas e

a coleta de plantas rituais no interior do Parque demonstram uma ligação muito

forte do candomblé com a natureza.

Assim, para seus praticantes, a mata e outros elementos naturais do parque são a

morada de vários orixás: Oxumaré, orixá do arco íris; Nanã, orixá da lama, das

águas subterrâneas e dos pântanos; Oxum, orixá da água doce e da fertilidade;

Obaluaiê, orixá das doenças que mantêm estreitas ligações com a terra e os

troncos das árvores; e Tempo, orixá bantu da caça. Ocorre uma sacralização do

espaço físico, a natureza é humanizada. (SERPA, 1996-c, p. 181, 185; MAMNBA,

1982) Não por acaso, disse certa feita a ialorixá Obá Biyi (in RISÉRIO, 1993) que

Enquanto católicos adoram imagens, a gente do candomblé adora a natureza.

O coordenador do Instituto Nacional de Tradições e Culturas Afro-Brasileiras,

Francelino de Shapanan, afirma que

(...) diferentemente do que muitos pensam, estamos muito preocupados com a

natureza, porque sem ela não há como cultuar os orixás (CABRERA, 1999).

O Candomblé é uma religião que privilegia a natureza, que considera, integra,

incorpora a natureza ao seu repertório simbólico. Árvores, matas e fontes são

102

Page 104: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

monumentos, são referências sagradas (SERRA, 1984, p. 101). É uma religião

que tem como elemento importante a existência de áreas verdes (SERPA &

CORREIA, 1999), daí todo terreiro possuir um espaço com plantas litúrgicas.

Essa característica do Candomblé maximiza a presença de vegetação na cidade

do Salvador, que tem cerca de 3500 terreiros registrados na FEBACAB

(Federação Baiana dois Cultos Afro-Brasileiros).

Por sua singular característica de possuir um vasto espaço natural contíguo ao

bairro, Pirajá é, sem dúvida, um laboratório promissor para a criação de uma

nova relação entre o ambiente construído e o natural , através de um estudo de

caso. Seus dados permitirão a elaboração de um plano de arborização composto

de espécies que aumentem o conforto ambiental no bairro e que possuam

compatibilidade ecológica com a floresta ombrófila densa do Parque, no sentido

de atração e sustentação de vetores ecológicos - polinizadores e dispersores de

sementes, contribuindo dessa maneira para a recomposição de áreas

desmatadas.

FOTOS 01 e 02: Problemas de infra-estrutura no bairro de PirajáFONTE: Fábio H. S. Angeoletto, 1999

103

Page 105: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

FOTOS 03 e 04: Escassez de arborização no tecido espontâneo.FONTE: Fábio H. S. Angeoletto, 1999.

104

Page 106: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

FOTOS 05 e 06: Escassez de arborização no tecido espontâneo.

FONTE: Fábio H. S. Angeoletto, 1999.

105

Page 107: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

FOTOS 07 e 08: Escassez de arborização no tecido planejado.

106

Page 108: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

FONTE: Fábio H. S. Angeoletto, 1999.

FOTOS 09 e 10: Escassez de arborização no tecido planejado.

107

Page 109: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

FONTE: Fábio H. S. Angeoletto, 1999

108

Page 110: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

FOTOS 11 e 12: Praça General Labatut.FONTE: Fábio H. S. Angeoletto, 1999.

FOTOS 13 e 14: Praça do tecido planejado.

109

Page 111: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

FONTE: Fábio H. S. Angeoletto, 1999.

FOTO 15 : O Parque visto do bairrro FONTE: Fábio H. S. Angeolleto, 1999

110

Page 112: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

FOTO 16: O bairro visto do ParqueFONTE: Fábio H. S. Angeolleto, 1999

FOTOS 17 e 18: Ocupações no interior do Parque.

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Page 113: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

FONTE: Fábio H. S. Angeoletto, 1999.

112

Page 114: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

FOTO 19 e 20: Cachoeira de Oxumaré no Parque São Bartolomeu.FONTE: Fábio H. S. Angeoletto, 1999.

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Page 115: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

FOTO 21: Ritual do Candomblé no Parque São Bartolomeu.FONTE: Fábio H. S. Angeoletto, 1999.

CAPÍTULO 5

Abordagem Metodológica

Neste capítulo serão discutidas as abordagens metodológicas utilizadas no bairro

de Pirajá, com o intuito de obter dados que norteadores para a elaboração de um

114

Page 116: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

plano de maximização da vegetação no bairro.

Nos ecossistemas urbanos há dois tipos de espaços onde é preferencial a

introdução de vegetação: os espaços livres de edificações públicos (ruas, praças,

largos etc), quer dizer, qualquer espaço onde não há barreiras físicas que

impeçam a movimentação; e os quintais (espaços privados).

Sabendo que Pirajá é extremamente pobre em espaços públicos de lazer e

socialização, decidiu-se pela aplicação do método de sintaxe espacial como forma

de descobrir vazios urbanos no bairro, que tivessem "vocação" para serem

transformados em pequenas praças arborizadas. As centralidades dos bairros são

as que geralmente sofrem intervenções por parte do poder público, pois são áreas

que concentram um grande número de pessoas, e as obras realizadas têm

"visibilidade".

O mesmo não se verifica em outros espaços de caráter local, isto é, cujos

usuários são principalmente moradores, pessoas cujas casas estão próximas a

esses espaços. Não obstante, a construção de praças locais pode contribuir para

desafogar o uso de espaços centrais.

Para descobrir esses espaços, que são em geral contíguos às edificações de

seus usuários, lançou-se mão do método de sintaxe espacial. O pioneiro na

utilização deste método como uma ferramenta para o planejamento paisagístico e

ambiental foi o professor Angelo Serpa, em um estudo de caso nos bairros de

Plataforma e Cajazeiras [(Salvador, Bahia), SERPA, 1998, p. 189-216].

Uma digressão é necessária para que fiquem claras as razões, motivações e

limitações da utilização desta abordagem metodológica.

O método é derivado da Teoria de Sintaxe Espacial. Esta teoria propõe que

determinadas condições de contato social no espaço público e a apropriação

social do espaço urbano são, em grande parte, condicionadas por arranjos

morfológicos, ou seja, a maneira como se dispõem e se relacionam entre si os

diversos elementos arquitetônicos, que abrigam as atividades humanas e o

115

Page 117: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

espaço público, espaço de relação. Esses arranjos morfológicos, dependendo de

suas regras compositivas propõem, eles mesmos, um certo potencial de contato

social (RIGATTI, 1991, IN RIGATTI, 1995, p. 144).

As premissas da sintaxe espacial tem sido desenvolvidas pela Bartlett Scholl of

Graduated Studies, da University College of London (UCL), capitaneados

sobretudo pelos arquitetos Bill HILLIER e Julienne HANSON, desde a década de

70. O principal objetivo é investigar e compreender melhor a relação entre o

comportamento humano e o ambiente construído. Para os teóricos da sintaxe

espacial, a compreensão do movimento e a comunicação são essenciais para o

sucesso de espaços públicos e privados e para tanto é a configuração do espaço,

sobretudo, quem determina o movimento e a interação das pessoas no ambiente

construído. Atualmente, os pesquisadores do Space Syntax Laboratory, na UCL,

usando técnicas computacionais, podem simular e predizer, por exemplo, os

efeitos mais desejáveis no que concerne a movimentação de pedestres e veículos

nos centros urbanos. Para Bill Hillier, a maneira como os espaços estão

conectados determina o quanto eles serão usados, e esta relação pode ser

prevista matematicamente (NEW SCIENTIST, 1999).

Segundo PEPONIS (1992, p. 81), a teoria de sintaxe espacial surgiu primeiro

como uma tentativa de descrever as propriedades significativas do espaço

urbano. Dados os constituintes elementares do sistema espacial, a sintaxe define

e mede o padrão de suas relações. O objetivo é descrever como o sistema como

um todo se relaciona a cada uma de suas partes constituintes, e como a

multiplicidade dessas relações produz uma estrutura subjacente. A propriedade

fundamental envolvida é a integração.

Pesquisas citadas por PEPONIS (1992, p. 82) em várias cidades mundo afora -

Londres, Brasília e cidades-satélite, Porto Alegre, algumas cidades gregas,

algumas cidades suecas - demostram que o forte grau de integração de um

espaço está correlacionado com o número de pessoas que se movem nele.

Assim, a movimentação pelos eixos de circulação tem uma lógica espacial probabilística. As pessoas tem liberdade para escolher seus percursos. Sem

uma outra coordenação, a estrutura espacial parece gerar padrões de difusão,

116

Page 118: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

modulação e convergência que assimilam os percursos individuais a uma lógica

global. A lógica espacial do movimento também possui uma dimensão social, pois

a movimentação gera uma interface entre pessoas para quem um dado percurso

é a origem ou o destino do seu trajeto, e pessoas para quem ele é apenas um

local de passagem.

Segundo HOLANDA (1988), há duas classes de fatores que contribuem para a

utilização, pelas pessoas, dos espaços abertos de uso coletivo. Existem os

fatores extra-morfológicos - como por exemplo o controle policial sobre

determinado espaço, o que impede a circulação de pessoas - e fatores morfológicos relacionados com a presença ou ausência de pessoas em espaços

abertos. São os fatores morfológicos que interessam à teoria de Sintaxe Espacial.

Dos vários níveis de análise derivados desse fatores destacam-se três, que

relacionam-se: a morfologia física de determinado locus; a categorização social de um espaço e os modos de apropriação de um locus.

A morfologia física compreende o estudo da forma física da cidade (ou fração

estudada). Proximidade ou vizinhança, circunscrição, continuidade ou

descontinuidade, permeabilidade, separação. Esses são os aspectos que,

segundo a teoria, relacionam-se mais diretamente com a constituição de uma

determinada ordem social a partir e em função da arquitetura urbana.

Por categorização social de um espaço, entende-se as categorias sociais -

práticas e agentes - que se encontram impressas nos arranjos espaciais: uma

casa, uma escola são exemplos de categorias sociais espacializadas e é

justamente a estruturação espacial dessas categorias que interessa ao

desenvolvimento da teoria.

Quanto aos modos de apropriação de um locus, eles estão bastante

relacionados com os níveis anteriores, uma vez que, se outros fatores não

intervierem, a morfologia física e a categorização social do espaço implicam num

sistema de co-presença - em outras palavras, um sistema de encontros que

permita a fluidez das relações sociais - nos espaços abertos de uso coletivo. A

maior ou menor co-presença em uma cidade ou fração depende diretamente de

117

Page 119: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

sua sintaxe – seu sistema de barreiras e permeabilidades ao movimento

(HOLANDA, 1997-a, p. 147).

Normalmente, o sistema de encontros é congruente com a morfologia física que o

sanciona. Em caso de incongruência, ou seja, uma forma de assentamento

incoerente com as práticas sociais que ali vicejam, o que comumente ocorre é

uma adaptação do espaço à rede de relações existentes.

De acordo com os postulados da Teoria de Sintaxe Espacial, só haverá um bom

desempenho da forma urbana em relação aos grupos sociais que nele

encontram-se se existir uma congruência entre os estilos de vida dos agentes

sociais e sua capacidade de desenvolverem, nos espaços abertos do

assentamento, um sistema de encontros interpessoais que produza e reproduza

aqueles estilos. A ausência dessa congruência traduz-se em custos sócio-

econômicos elevados, com é o caso por exemplo de problemas de desertificação

de espaços livres de uso coletivo, causados por problemas morfológicos

(HOLANDA, 1988).

Há, desta feita, uma interdependência clara entre as práticas sociais cotidianas e

os lugares onde estas ocorrem. Em Sintaxe Espacial, define-se práticas sociais como o campo de encontros das pessoas de um locus.

A co-presença pode dar-se entre pessoas de categorias diferentes. Distingue-se

os habitantes e os visitantes – pessoas estranhas ao lugar. É importante

esclarecer que o habitante não é somente o morador dos edifícios residenciais,

mas também os professores de uma escola, funcionários de um mercado etc.

Tem-se portanto três tipos distintos de co-presença: habitante – habitante,

habitante – estranho e estranho – estranho. Os atributos morfológicos da fração

estudada é que determinarão o predomínio de um ou outro tipo. Além dos

diferentes níveis de co-presença, percebe-se nos assentamentos humanos dois

tipos de integração entre as categorias sociais. A integração espacial ocorre

quando um certo número de pessoas se identifique com o "grupo" pelo fato de

ocuparem uma mesma porção do território, um bairro residencial, por exemplo.

118

Page 120: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Desta feita, a continuidade do território promove a integração. É o tipo de

integração que verifica-se em Pirajá; e da qual, evidentemente, derivam

numerosas redes formadas a partir do tecido social comunitário que

necessariamente devem ser contactadas, uma premissa para o êxito do

planejamento ambiental participativo que propõe-se para o bairro (cuja discussão

é realizada no 6º capítulo).

No caso da integração transpacial, as pessoas integram-se antes pelos

relacionamentos de classe do que pela continuidade do território. Segundo

PEPONIS (1992, p. 82), em geral os atores sociais pertencem não a uma, mas a

várias comunidades, baseadas no local de residência, de trabalho, ou ainda em

valores e interesses culturais. Exemplificando: os atores sociais de uma

universidade - professores, funcionários, acadêmicos - ali se integram

transpacialmente, pois o grupo não se identifica pelo locus, e sim pelas relações

ali desenvolvidas. Evidentemente, todo grupo social integra-se das duas

maneiras, quer ocupem ou não uma parcela continua do território. Todavia, para a

produção e reprodução da vida cotidiana de determinada classe social, a

tendência é de predomínio de um ou outro tipo de integração, e para o desenrolar

desta, é fundamental uma morfologia física adequada.

Frederico de HOLANDA (1997-B) analisa os aspectos de co-presença de maneira

bastante esclarecedora, primeiro, ao longo da história, citando HOBSBAWN

(1977) que, em um texto no qual lida com as relações entre comportamentos

sociais e estruturas urbanas, comenta que: "as revoluções surgem de situações

políticas, e não porque as cidades são estruturalmente adequadas a elas". Mas

imediatamente acrescenta que as barricadas de maio de 1968 em Paris

aconteceram nas mesmas ruas daquelas de 1944, 1871, 1848 e 1830.

Em outras palavras, ele afirma que a arquitetura e o urbanismo não comandam a

vontade de ninguém, mas que a organização espacial das cidades também

funciona como variável independente, ou seja, os padrões espaciais de Paris não

determinaram eles próprios as insurreições, mas sim determinaram os locais onde

as barricadas foram levantadas.

119

Page 121: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

É pertinente reproduzir aqui alguns aspectos de co-presença pesquisados por

HOLANDA (1997-b) em Brasília. O bordão cidade sem esquinas, traduz-se, à

luz da sintaxe espacial, em poucos pontos de acessibilidade onde possa haver

uma condensação de urbanidade. Quase não há diferenciações de acessibilidade

para o pedestre, o que ocasiona um número elevado de fluxos fracos de

pedestres, mesmo nas áreas mais densas e centrais da cidade. Os eixos de

circulação são entendidos como estradas, não como ruas e avenidas, ou seja

como espaços que permitam uma utilização ambígua - movimento +

permanência, tornando tais espaços e seu entorno mais imediato extremamente

áridos, e mesmo perigosos, para um passante ocasional. Apesar de HILLIER &

HANSON terem proposto uma radical redução da semântica à sintática da

arquitetura (no livro The social logic of space), evidentemente, à sintaxe,

superpõe-se um conjunto de regras e convenções que, em geral, não são

inteligíveis, aparentes, na configuração espacial.

Um exemplo dado por HOLANDA (1997-b) dessa semântica arquitetônica é o

fato de algumas culturas preferirem orientar a entrada principal de suas

edificações em direção ao nascente, outras ao poente, o que implica obviamente

em configurações diferenciadas. Desta feita, as implicações sintáticas dos

espaços abertos de uso coletivo independem da semântica desses loci, ou seja,

mesmo que esses espaços adquiram outra semântica, a aridez a que se refere

Holanda tende a persistir.

Uma das premissas básicas da Teoria de Sintaxe Espacial, segundo a qual a

maior ou menor co-presença em um assentamento está inerentemente

relacionada com a sua configuração espacial, traz à tona o espectro do

determinismo arquitetônico - a forma moldando as relações sociais, um tema

recorrente na literatura relacionada à arquitetura e ao urbanismo, segundo

HOLANDA (1997-B). Outrossim, cabem aqui, ainda que de maneira breve,

algumas considerações a respeito.

Para PEPPONIS (1992, p. 82), a configuração do espaço é importante, não

porque produza diretamente este ou aquele aspecto da cultura, mas porque o

tecido urbano joga um papel fundamental relacionado com a decisão de como

120

Page 122: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

identidades diferenciadas coexistem, expõem-se a comparações e formam parte

da consciência cívica. As propriedades configurativas globais dos arranjos

urbanos ocasionam encontros, não necessariamente interações, entre pessoas

reconhecidamente diferentes, ocasiona a experiência do contato com outros

modos de vida. Em outras palavras, a configuração espacial determina o "notar

potencial dos outros", o que é o pano de fundo para uma sociedade ativa.

Logo, o papel do espaço é limitado, mas não negligenciável, do ponto de vista

cultural, se entende-se o espaço não apenas como um direito político abstrato,

mas também como algo disponível como fato da experiência cotidiana. HILLIER

(1984) propõe que "a forma espacial cria um campo de encontros e co-presença

provável".

Para HOLANDA (1997-b) o debate sobre o determinismo arquitetônico tem sido

colocado de maneira imprecisa, bem como o estudo das relações entre sociedade e espaço. Para este autor, espaço significa a sintaxe das

configurações urbanísticas, o que quer dizer essencialmente o sistema de

barreiras e permeabilidades ao movimento sobre o chão. Por outro lado,

sociedade significa modos de utilização dos espaços abertos de uso coletivo dos

assentamentos humanos. Tem-se acumulado muitas evidências que apontam

para claras determinações entre a sintaxe dos lugares e a maneira pela qual eles

são utilizados.

5.1 O método de sintaxe espacialRIGATTI (1995, p. 144) argumenta que a sintaxe espacial "tem-se mostrado como

importante instrumento tanto de análise como de intervenções urbanísticas pelas

possibilidades de estabelecer relações entre as instâncias sociais e espaciais."

Disto deriva que o método de sintaxe espacial tem sido aplicado por

pesquisadores de áreas distintas, tais como: planejamento urbano e ambiental,

antropologia, sociologia, geografia urbana.

Nas linhas que seguem-se, o método de sintaxe espacial será detalhado, bem

como sua aplicação, para a obtenção de dados que permitam a elaboração de um

plano de vegetação para o bairro de Pirajá. Para a aplicação do método

121

Page 123: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

utilizaram-se cartas cartográficas da CONDER, 1:2000. A sintaxe do bairro será

estudada em dois momentos distintos, utilizando-se cartas de 1976 e 1992.

Espera-se que a aplicação do método nas cartas de 76 e 92 aponte, entre outros

dados, qual é a direção de crescimento tomado pelo bairro.

O método de sintaxe espacial propõe uma análise bidimensional da estrutura

espacial urbana baseado no sistema de espaços abertos de edificação existentes

em cada fração estudada, bem como a sua integração por eixos de circulação -

linhas axiais. É a profundidade e a largura de cada unidade de espaço aberto -

denominado espaço convexo - bem como a disposição dessas unidades na

fração estudada que definem os critérios básicos para análise da forma espacial

urbana (SERPA, 1996-a).

De acordo com o método, cada ponto do sistema analisado possui uma

dimensão local e uma global, podendo estar mais ou menos integrado aos demais

pontos da fração. Cada fração possui, portanto, um grupo de espaços melhor

integrados e um grupo de espaços mais segregados do todo (HILLIER, 1984, in

SERPA, 1996-a).

5.2 As categorias sintáticas Para o desenvolvimento deste método são propostas várias categorias de análise:

as categorias sintáticas. Segue-se um detalhamento das diversas categorias

utilizadas na análise da morfologia do bairro de Pirajá, de acordo com HOLANDA

(1988).

5.2.1 Espaço Convexo Médio (Y)O sistema de espaços abertos pode ser dividido em unidades elementares,

obtidas a partir da inserção do menor número possível dos maiores polígonos

convexos possíveis, na planta baixa da fração, obtendo-se um mapa de convexidade. Cada espaço convexo é uma porção de espaço aberto definida

pelos espaços fechados. Y é a área média dos espaços convexos de um

assentamento estudado. Pirajá apresenta dois tecidos morfológicos distintos,

segundo as cartas cartográficas de 1992: uma área planejada pelo poder público

(A); e outra de crescimento espontâneo (B). Em A, temos Y=523 m2, e em B,

122

Page 124: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Y=177 m2. Estes dados indicam que é preferencial o uso de vegetação de grande

porte para os espaços livres do tecido planejado. O oposto ocorre em B: é

preferível o uso de vegetação de pequeno e médio porte para os espaços abertos

do tecido espontâneo (ANGEOLETTO, 1998).

Em 1976, a extensão planejada de Pirajá ainda não existia, e a área média de

seus espaços convexos era de 354 m2. A constatação é óbvia: o crescimento da

porção "espontânea", que se deu sem um input de planejamento, em pouco mais

de 15 anos reduziu à metade a área média de seus espaços, reduzindo as

possibilidades de arborização e da realização de projetos paisagísticos que

perpetuassem espaços livres em espaços públicos, e portanto não passíveis de

ocupação para a construção de moradias. A realização destes projetos são de

extrema importância, já que há uma demanda intensa por solo no subúrbio (vide

capítulo 4).

5.2.2 Integração dos espaços convexos pelas linhas axiais (C / L)A partir do mapa de convexidade, e através da inserção do menor número

possível das maiores linhas axiais possíveis perpassando os espaços convexos,

obtém-se o mapa de axialidade. Quanto mais segmentado é este mapa, mais

segregadas serão as subunidades do bairro.

5.2.3 Conectividade (Co)Considera a intensidade de conexões de cada linha axial. Quanto maior a

conectividade, maior a integração das subunidades do bairro, já que espaços

fortemente conectados ao seu entorno, muito provavelmente são espaços onde é

intensa a movimentação de pessoas.

5.2.4 Relativa assimetria do sistema axial (RA)Categoria obtida por fórmula matemática que divide a profundidade média pelo

número de linhas axiais. Profundidade média é a média das distâncias, isto é, o

número mínimo de linhas axiais a serem percorridas entre uma linha qualquer e

todas as outras do sistema.

123

Page 125: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Para a Teoria de Sintaxe Espacial, o binômio simetria / assimetria diz respeito à

maior ou menor integração entre as várias partes de um assentamento analisado.

A categoria sintática Relativa Assimetria do Sistema Axial, cujos valores

costumam variar entre 0 e 1, revela-nos quais são as frações mais integradas e

as mais segregadas de determinada área. Um programa de computador43 calcula

a RA de todas as linhas axiais da fração.

Em Pirajá (tomados o tecido planejado e o "espontâneo") , esses valores variaram

entre 1,48 e 4,35, o que revela portanto um sistema de espaços livres bastante

segregados entre si. Tomando-se os tecidos separadamente temos relativa

assimetria real média em A= 1,65 e B=2,32, ou seja, o tecido planejado é menos

segregado que o espontâneo, embora ambas as frações tenham revelado

espaços bastantes segregados entre si. Em 1976 os valores de relativa assimetria

variavam entre 1,07 e 4,05 (média de 1,65), revelando, portanto, um sistema

ligeiramente menos segregado, que caminhou progressivamente para uma maior

segregação.

Cruzando os dados de Co e RA, foi possível promover a hierarquização dos eixos

de circulação e dos espaços livres que eles percorrem, ou seja, foi possível

selecionar eixos e espaços mais integrados, de importância global, aqueles que

concentram, por exemplo, o tráfego mais intenso, e os de importância local, que

conduzem o morador / visitante aos “recantos” mais segregados do bairro. Para

os eixos que perpassam espaços livres mais integrados, cujo número de pessoas

circulando é grande, recomenda-se o uso de espécies arbóreas, mais propícias

ao fornecimento de sombra. É importante lembrar que as pessoas deslocam-se

pelo bairro predominantemente a pé, e que Salvador apresenta temperaturas

elevadas durante todo o ano.

Os espaços perpassados pelos eixos locais foram investigados quanto a área e

ao relevo. Alguns espaços com vocação para serem transformados em praças,

foram detectados, e um desses espaços foi escolhido para um exercício de

planejamento ambiental participativo (discutido no capítulo seguinte) entre

43 O programa axial 3, foi desenvolvido pela equipe do professor Frederico de Holanda, na

Universdade de Brasília

124

Page 126: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

pesquisadores do projeto Espaço Livre e os moradores do local.

5.2.5 Algumas observações sobre o uso do método de sintaxe espacial como ferramenta para o planejamento da arborização urbana.

A aplicação do método de sintaxe espacial permite a visualização de todos os

espaços livres do bairro, quais são as suas áreas, qual o grau de sua integração /

segregação face aos outros espaços. Isto permite um planejamento que articule

todas essas áreas, respeitando-se suas particularidades. Assim sendo, com

essas informações é possível propor um sistema de espaços vegetados para

Pirajá.

Cabem aqui duas observações importantes sobre o método de sintaxe espacial. A

análise morfológica promovida pelo método é bidimensional, uma vez que o movimento de usuários no meio ambiente urbano dá-se sobretudo num espaço que é bidimensional (negrito meu) (HILLIER, 1984. In: SERPA, 1996-b).

Uma variável importante é esquecida , o relevo. Em Pirajá, cujo relevo é bastante

acidentado, este deve ser levado em conta ao menos como um possível formador

de barreiras que impeçam a livre movimentação, ocasionando a formação de ilhas

espaciais. MERLIN (1988, in DEL RIO, 1991, p. 80) argumenta que o problema

fundamental com o enfoque da teoria de sintaxe espacial é que ela compreende a

morfologia do espaço urbano apenas através de suas duas dimensões planares,

ignorando fatores essenciais como tipologias arquitetônicas, usos de edificações

e legibilidade, ou seja, a facilidade com que as partes podem ser reconhecidas e

definidas em um padrão coerente de conjuntos edificados.

SERPA (1996-b, p. 167) afirma que:

a noção de axialidade sugerida por Hillier & Hanson se revela na prática incompleta,

já que a axialidade do sistema é muitas vezes ‘quebrada’ por barreiras físicas como

ruas e avenidas de tráfego intenso, barreiras muitas vezes intransponíveis para

determinados grupos etários e não considerados pelos autores no desenvolvimento

da metodologia proposta. Na verdade, quando se fala de eixos de acessibilidade,

nem sempre é clara a distinção entre o sistema de percursos motorizados e as vias

de pedestres (...).

125

Page 127: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Um eixo fortemente conectado pode canalizar o tráfego, mas concentrar poucos

pedestres. Pode ocorrer que a aplicação do método revele dados que não

encontrem correspondência no locus estudado, devido a fatores que escapam

aos estritamente morfológicos. O método de sintaxe espacial não pode ser

aplicado apenas na prancheta. Visitas de campo são imprescindíveis para a

confirmação dos dados obtidos.

5.3 Mapeamento dos quintais (De acordo com ANGEOLETTO & SERPA, 1998,

p. 250)

Há uma escassez de espaços livres públicos em Pirajá. Por isso uma estratégia

de aumento da presença de vegetação no bairro precisa necessariamente incluir

os quintais das residências. Para tanto, traçou-se uma abordagem metodológica

para obtenção de dados sobre a presença de espécies vegetais nos quintais

(FOTOS 22, 23, 24, 25, 26, 27).

Inicialmente optou-se por pesquisar os quintais mais próximos ao Parque

Metropolitano de Pirajá, pois havia a intenção futura de plantios nos quintais, para

a atração de polinizadores e dispersores de sementes. Contudo, a literatura sobre

esses animais descreve uma grande capacidade de movimentação para obtenção

de alimentos, não ocorrendo portanto a necessidade de concentrar os plantios.

Tinhamos como hipótese que os quintais mais próximos ao Parque seriam mais

vegetados. Contudo verificamos que não há uma segmentação nítida, ou seja,

quintais com alta diversidade vegetal ocorrem próximos e distantes do Parque.

Os moradores foram entrevistados em relação a :

Vegetação existente nos quintais.

Interesse em participarem da proposta de plantio para o aumento da

diversidade vegetal nesses espaços.

Os quintais visitados foram discriminados quanto à presença de vegetação :

126

Page 128: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Quintais com diversidade vegetal inexistente - no mapa em cor preta.

Quintais com diversidade vegetal baixa -1 a 5 espécies - no mapa em cor

vermelha.

Quintais com diversidade vegetal média - 6 a 15 espécies - no mapa em cor

azul.

Quintais com diversidade vegetal alta - mais de 15 espécies - no mapa em cor

verde.

142 quintais foram visitados e mapeados; e os resultados obtidos foram os

seguintes:

18,3% - 26 quintais - não possuem qualquer espécie vegetal

39,43% - 56 quintais - possuem baixa diversidade vegetal

28,87% - 41 quintais - possuem média diversidade vegetal

13,4% - 19 quintais - possuem alta diversidade vegetal

79,57% das famílias entrevistadas - 113 famílias - declararam-se interessadas

em receber mudas para plantio em seus quintais (PROJETO ESPAÇO LIVRE,

1999-b http://www.ufba.br/~esplivre/primeiro.html).

É significativo o número de quintais com nenhuma ou baixa diversidade vegetal -

57,73%. Tal fato pode ser explicado em parte pela grande demanda por espaço:

as famílias crescem e acabam construindo nos espaços ociosos de seus lotes.

Em algumas edificações - sobretudo no tecido planejado - não há nem mesmo

quintais. Mas há também outras explicações.

A falta de conhecimento dos moradores dos benefícios advindos da presença de

vegetação em seus lotes, leva-os a atitudes extremas, como arrancar todas as

árvores e arbustos e cimentar as áreas livres de seus quintais, o que certamente

contribui para um aumento da temperatura das residências, causando desconforto

ambiental e aumento do consumo de energia elétrica. A prática de cimentar os

quintais em parte deve-se ao anseio dos moradores - muitos dos quais são

127

Page 129: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

originários da zona rural - em adquirir um status de citadino, moradores das

urbes, da terra do cimento em contraposição ao "mato" que habitavam antes.

Também é importante comentar que parte dos quintais com média ou alta

diversidade apresentam grande parte das plantas em vasos, isto significa que

nesses quintais a área para plantio de arbóreas é diminuto ou inexistente. Dada a

afinadade desses moradores às plantas, recomenda-se o estímulo ao cultivo de

vegetação em vasos, os quais podem contribuir para o abrandamento de

pequenas ilhas de calor geradas nas residências.

Foi significativo constatar o grande interesse pelo recebimento de mudas -

presente em quase 80% dos entrevistados (vide no capítulo 6 discussão

detalhada sobre o plantio de frutíferas nos quintais). Seguramente pode-se

estabelecer uma relação entre as famílias entrevistadas que não possuem

qualquer tipo de planta (18,3%) e os 20% que declararam não estar interessados

em receber mudas, pela falta de espaço.

5.4 Mapeamento dos Pomares.Os mapas da CONDER assinalam 180 pomares no bairro de Pirajá, ou seja,

áreas públicas - algumas são cercadas - onde existem árvores frutíferas

plantadas. Foi realizada uma pesquisa por amostragem, onde verificou-se que

cerca de 60% desses pomares, 108 ainda persistem.

Sugere-se que investigue-se em uma outra oportunidade se há um usufruto

público dessas áreas, que, em alguns casos, poderiam receber mobiliário urbano,

aumentando a oferta de áreas de lazer e socialização. Nem todos os pomares são

acessíveis. Alguns estão localizados em terreno acidentado, não obstante,

pomares privados e públicos poderiam ser investigados quanto ao número de

espécies, procedendo-se a seguir o plantio de indivíduos de novas espécies,

aumentando-se assim a biodiversidade nestes locais.

128

Page 130: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

129

Page 131: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

FOTOS 22 e 23: Quintais com baixa diversidade vegetal.FONTE: Fábio H. S. Angeoletto, 1999.

FOTOS 24 e 25: Quintais com média diversidade vegetal.FONTE: Fábio H. S. Angeoletto, 1999.

130

Page 132: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

FOTOS 26 e 27: Quintais com alta diversidade vegetal.FONTE: Fábio H. S. Angeoletto, 1999.

131

Page 133: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

CAPÍTULO 6

Arborizando Pirajá "Se é a destinação maior e o objetivo essencial da Universidade, particularmente da Universidade

Pública, produzir conhecimento, não é menor nem menos essencial este seu outro e

complementar objetivo, que é o de socializar o conhecimento produzido

(Magda Becker Soares, 1996).

Não é possível considerar a reestruturação urbana ecológica apenas de um ponto de vista

exclusivamente teórico. A obtenção de uma solução factível depende de uma relação estreita

entre a teoria e a prática, assim como da cooperação entre as diversas disciplinas, e dos

principais agentes sociais. Os novos procedimentos de planejamento e as novas tecnologias

devem ser desenvolvidos e analisados em situações urbanas reais (...)

(Ekhart Hahn, 1998)

132

Page 134: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Nos capítulos anteriores, discutimos os benefícios originados do aumento da

vegetação nos biomas urbanos; bem como delineou-se uma abordagem

metodológica, cujos dados permitiram a elaboração de um plano de ações para o

aumento da diversidade vegetal no bairro de Pirajá.

Doravante, serão relatadas as ações de fato executadas, que redundaram em

mais de 200 novas árvores plantadas nos quintais de Pirajá.

As implicações da manutenção de espaços vegetados sobre a biodiversidade

serão explicitadas. Discutir-se-ão as vantagens e dificuldades do estabelecimento

de parcerias - planejamento participativo e execução conjunta dos planos - entre

planejadores e comunidade, o que possibilitou os plantios nos quintais do bairro.

Também é oportuna uma descrição da situação da presença de vegetação no

bairro.

No que tange à arborização, uma insuficiência de planificação (cujas causas são

abordadadas no capítulo 4) é facilmente constatada em Pirajá, tanto na porção de

crescimento espontâneo quanto na porção construída pela URBIS. Como foi dito

anteriormente, são apenas duas praças, e há uma generalizada falta de espaço,

em ambos os tecidos, para o plantio de árvores, pois são comuns as vielas

estreitas onde não há calçadas, ou onde estas são reduzidas.

As praças de Pirajá são um excelente material didático para uma aula de

procedimentos a serem veementemente evitados pelos urbanistas.

A praça General Labatut, na porção "espontânea" do bairro, foi reformulada em

1998, no bojo das comemorações dos 450 anos da cidade do Salvador. Na praça

foi usado cimento importado do México, por ser mais propício às técnicas de

pigmentação. Na praça, que tem área total de 1500 m2, a prefeitura plantou duas

palmeiras e 144 m2 de área gramada (CORREIO DA BAHIA,14/9/1998). Quanto

ao disperdício de recursos ao importar-se cimento do México fica evidente o

pouco zelo ao erário.

Quanto ao paisagismo, a reforma evidencia pouco interesse dos técnicos por

133

Page 135: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

questões inerentes à ecologia urbana e ao paisagismo, no que refere-se à sua

decisão de gramar quase 10% da área da praça. Grama é um tipo de vegetação

que requer cuidados intensivos, principalmente regas, grande consumo de água,

e é pouco atrativo à fauna silvestre (BUGIN & MARTERER, 1990). Frondosas

amendoeiras que sombreavam a praça foram arrancadas, e no seu lugar foram

plantadas duas tímidas palmeiras, que sucumbiram. O mesmo destino teve

grande parte do gramado.

A virtual ausência de vegetação na praça motivou um protesto formal de uma

associação de moradores do bairro, denominada Pirajá Rumo ao Terceiro Milênio,

a qual depois de várias solicitações de replantio desconsideradas pela

Superintendência de Praças e Jardins da prefeitura, plantou no dia da árvore de

1999, uma muda de pau-brasil, onde antes fora plantada uma das palmeiras.

A praça da área planificada, construída pela URBIS, por ser mal localizada - no

início da única via de acesso ao tecido - atrai poucas pessoas, é mal arborizada,

está abandonada, e os moradores não sabem nem mesmo qual é seu nome, ou

se há algum.

6.1 Pirajá e o Parque Metropolitano: considerações sobre arborização, diversidade biológica e qualidade de vidaJohn Celecia defende que ações ambientais devem ser direcionadas para o

aumento da eficiência e da auto-suficiência nas cidades, e para a minimização de

seu impacto sobre o entorno, tanto próximo quanto distante (CELECIA, 1994, p. 2;

CELECIA, 1997, p. 5). A maximização da vegetação em Pirajá atende às

proposições defendidas por Celecia, uma vez que o aumento da vegetação

implica em menor consumo de energia elétrica e contribui para a manutenção de

polinizadores e dispersores de sementes, vetores ecológicos imprescindíveis à

recuperação de áreas desmatadas no interior do Parque.

Ecossistemas florestais sujeitos a altos níveis de fragmentação e isolamento dos

remanescentes estão especialmente susceptíveis a um severo processo de

erosão de biodiversidade (FONSECA, 1997, p. 458). No entanto, áreas cujo solo

134

Page 136: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

não foi degradado ao extremo e que fiquem próximas a fontes de colonizadores44,

estão aptas a experimentar um vigoroso processo de regeneração. Dados obtidos

no campo mostram que matas secundárias serão capazes de abrigar flora e fauna

bastante diversificadas após um período mínimo de 10 anos (FONSECA, 1997, p.

466).

Promover o aumento da presença de vegetação nos espaços livres das cidades,

principalmente com espécies arbóreas, é contribuir para uma homeostase

ecológica e climática45. É evidente que mesmo uma cidade fartamente arborizada

não pode substituir uma floresta, mas é preciso que se tenha em mente que

sistemas ecológicos não são compartimentos estanques, há entre eles uma

interligação complexa cujo intuito é a manutenção da vida (ANGEOLETTO, 1998).

É mister enfatizar que a proposta aqui defendida para a preservação do Parque

inclui a melhoria das condições de existência dos moradores do bairro46 , e por

extensão, do subúrbio ferroviário, caso um dia outros bairros do entorno do

Parque venham a ser beneficiados com um programa de arborização similar;

superando métodos de priorização e seleção de áreas para preservação de

espécies que geralmente excluem populações humanas.

Esses métodos, que visam apenas minimizar o problema da perda de espécies

causada pela fragmentação dos habitats naturais são abordagens limitadas, por

não serem capazes de incorporar as atividades antrópicas, e por não

considerarem as questões éticas ligadas à sobrevivência das populações

humanas (PAULA. In: PAULA, 1997, p. 224). 44 No caso do Parque, propõe-se que estabeleçam-se tais fontes através do adensamento da

vegetação em quintais e espaços livres do bairro.45 A ameaça do aquecimento global tem ocasionado o surgimento de propostas de criação de

florestas urbanas, com milhões de árvores a serem plantadas nas próximas décadas

(SCHOEREDER, 1989. In: CARR, 1995 p. 11-12). A fábrica de automóveis Peugeot iniciou em

1999, no Mato Grosso, o plantio de 10 milhões de árvores, com o objetivo de retirar da atmosfera

183 mil toneladas anuais de dióxido de carbono, durante 40 anos (ZEEK!CLIP, 1999).46 Sylvia Mitraud, coordenadora de diversos projetos do Fundo Mundial para a Natureza, o WWF,

defende que uma das melhores formas de preservar o meio ambiente é investir em comunidades

locais que, em geral, sempre estiveram à margem do desenvolvimento econômico (REVISTA E,

1997).

135

Page 137: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

É evidente que a conservação da biodiversidade em ambientes urbanos passa

pela preservação das maiores extensões possíveis de paisagens ecológicas (de

acordo com classificação proposta por GILBERT, vide capítulo 1) . A receita é

simples, mas sua aplicação, complexa. As pressões para a diminuição do

tamanho de paisagens ecológicas é muito forte, o custo da terra é elevado e a

grande maioria do espaço urbano é propriedade particular. Os poucos espaços

abertos de uso público estão submetidos a usos geralmente não compatíveis com a preservação da diversidade biológica47 (MURPHY, 1997).

Não trata-se apenas de preencher espaços com árvores e arbustos, mas usar os

vegetais como elementos de desenho, para que possam ser criados espaços de

lazer, de socialização, onde antes haviam apenas sobras, vazios permeando a

massa construída. No entanto, é necessário não ceder à tentação da política

simplista do quanto mais, melhor, pois aparentemente, o plantio de imensas

quantidades de vegetação obtém efeitos estéticos menos satisfatórios do que

níveis mais moderados de árvores e outras plantas (ULRICH, 1986, p. 40).

Há que se perseguir um ponto de equilíbrio, onde todo potencial estético dos

vegetais possa ser explorado, com o plantio do maior número possível de

indivíduos de variadas espécies. E essa vegetação, escolhida a partir de certas

características que são atrativas a polinizadores e dispersores de sementes, pode

contribuir para a manutenção da diversidade biológica no Parque, como veremos

adiante.

Uma maior diversificação das espécies vegetais utilizadas garante uma paisagem

esteticamente menos monótona (WEBSTER, 1971; RHOADS, 1981; TYZNIK,

1981 in LIMA, 1993, p. 62; LEME & ALMEIDA, 1997, p. 32), além de evitar

problemas biológicos, ecológicos e por extensão, econômicos48. Cada espécie

47 Para uma discussão sobre a importância da manutenção da diversidade biológica, vide capítulo

1.48 Entre 1955 e 1966, 90% das árvores de Illinois morreram pela pouca diversidade de sua

arborização (SPIRN, 1995, p. 198).

136

Page 138: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

deve ter menos de 5% do total da população de árvores plantadas (HIMELICK,

1976 in LIMA, 1993, p. 63).

Por esses motivos a diversificação é fator de fundamental importância para uma

arborização bem sucedida (SANTAMOUR Jr, 1976; FOSTER, 1977 in LIMA,

1993, p. 62).

Maximizar a diversidade vegetal em Pirajá significa estabelecer corredores de ligação entre bairro e parque. Esses corredores são áreas que possuem uma

continuidade na cobertura vegetal, da periferia para o centro, e que possibilitam

um livre transitar das aves (VOSS, 1985, p. 113).

Ligando ecossistemas, os corredores têm grande potencial para aumentar a

biodiversidade, quando permitem o movimento da vida animal da periferia ao

centro e entre ilhas de habitats, que, de outro modo, ficariam isoladas (SPIRN,

1995, p. 245).

Muitas críticas têm sido feitas à aplicação dos corredores verdes urbanos, pois

argumenta-se que as zonas edificadas que separam espaços livres vegetados

não são uma barreira absoluta, como os oceanos. Contudo, para SUKOPP &

WERNER, (1982 e 1987, in NATURE CONSERVANCY COUNCIL, 1989, p. 17), o

grau de isolamento de um sítio pode determinar uma diminuição do seu número

de espécies, e, portanto, há uma justificativa ecológica para a "construção" e

manutenção desses corredores - ademais há outros fatores, como os benefícios

que a vegetação proporciona.

Em Salvador, esses corredores poderiam ser "construídos" ligando as paisagens

ecológicas entre os bairros, e permitindo o fluxo gênico entre elas

Todo conhecimento sobre a execução de espaços livres de edificação

densamente arborizados, os quais permitem a atração e manutenção de uma

fauna silvestre mais diversificada, não tem sido aplicado em Salvador. Os novos

projetos de parques na capital baiana pecam pela ausência de vegetação de

porte (SERPA, 1998, p. 55; SERPA, 1999-a, p. 15). A pouca consideração à

137

Page 139: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

premissas ecológicas em projetos paisagísticos parece, infelizmente, não estar

restrita à Bahia. A arquiteta norte-americana Anne Spirn, em análise de projetos

recentes de parques, constatou que as árvores tem desempenhado um papel

meramente decorativo (SPIRN, 1995, p. 190).

A acessibilidade dos usuários aos espaços livres vegetados é outro fator ao qual

os urbanistas precisam estar atentos. Há uma discussão estéril, e recorrente,

sobre um suposto índice mínimo de área verde / habitante que deveria existir nas

cidades. O propalado índice teria sido elaborado pela Organização Mundial de

Saúde (OMS), e seria de 16 m2 / habitante. Em Salvador, o índice estaria na casa

dos 5 m2 / habitante (CARVALHO, 1996)

No entanto, segundo Angelo Serpa

O professor Felisberto Cavalheiro, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências

Humanas, da Universidade de São Paulo, fez, há alguns anos, uma consulta formal à

OMS e não recebeu nenhuma confirmação sobre a existência do índice. Desconhece-

se também a metodologia que permitiu o cálculo da tão propalada cota de 16 metros

quadrados por habitante. Para o professor titular de paisagismo da FAU / USP, Sílvio

Soares Macedo, não se tem notícia da veracidade de tal índice, e seu uso irrestrito e

irresponsável como referência para o planejamento de áreas verdes tem levado a

equívocos, colocando, por exemplo, canteiros centrais de avenidas e rotatórias em pé

de igualdade com praças e parques (...) Tais índices não têm valor algum, se não

estiverem associados a critérios de distribuição e acessibilidade, específicos para

cada cidade ou lugar (SERPA, 2000).

Em Salvador, a distribuição e o acesso às áreas verdes é desigual e muitas vezes

excludente (SERPA, 1999-A, p. 15). O bairro de Pirajá é um bom exemplo da

inutilidade de tal índice e da exclusão a que se refere Serpa: sua contiguidade

com os 1550 hectares do Parque Metropolitano certamente o credenciariam ao

título de bairro com a maior metragem de área verde por habitante de Salvador. O

que se verifica é o oposto: completamente abandonado, o Parque é refúgio de

latrocidas e estupradores, por isso os moradores do bairro evitam-no. Ademais,

não há uma infra-estrutura que permita um fluxo considerável de pessoas.

138

Page 140: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Atração de vida silvestre e acessibilidade aos usuários: duas idéias norteadoras

para projetos paisagísticos. Praças e parques com essas características são

excelentes para práticas de educação ambiental. Esses espaços, se

adequadamente projetados, é óbvio, podem ser excelentes oportunidades para

educação ambiental de crianças e adultos, pois estes podem acompanhar os

ciclos naturais de animais e plantas (EKBLAD, 1993, p. 127). Crianças podem ser

ensinadas a compreender as dinâmicas de ambientes naturais visitando um

jardim ou parque; e podem compreender que os vegetais crescem no solo, e não

em latas ou supermercados (FOX & KOEPPEL, 1985, p. 10, 11).

Além do mais, as plantas não manifestam comportamento exigente, raramente

são perigosas aos seres humanos, costumam ter aromas agradáveis e são

culturalmente vistas como benignas, sendo por isso bem aceitas nas cidades

(ASHTON, 1997).

6.2 Planejando com e para os moradores de PirajáDentre os principais problemas enfrentados na implantação e manutenção da

arborização, dois não são resolvidos no âmbito técnico: a omissão da comunidade

em relação ao plantio e à conservação de áreas verdes e a tímida prioridade

política - poucos recursos - atribuída aos programas de arborização (MESQUITA,

1996, p. 85).

Uma alternativa para contornar a falta de recursos é o envolvimento da população

na execução dos plantios, de modo a estabelecer-se uma relação afetiva entre a

comunidade beneficiada e a vegetação plantada, facilitando assim a manutenção

do arvoredo (MESQUITA, 1996, p. 87).

As proposições de Mesquita estão corretas, porém, é desejável ir além, e buscar

a participação da população não apenas na execução, mas também no

planejamento da arborização, principalmente quando a vegetação será usada

para estruturar espaços para o usufruto dessas pessoas. FOX & KOEPPEL

(1985, p. 80) recomendam que o desenho dos espaços públicos tenham uma

maior participação comunitária.

139

Page 141: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

O planejamento deve obedecer a princípios que permitam a apropriação do

espaço urbano pela população. O planejador deve atuar fomentando um processo

participativo de planejamento. É preciso que os planejadores se detenham mais

no cotidiano daqueles para quem planejam, e é necessária uma linguagem de

conciliação de interesses entre os planejadores e membros de uma comunidade

(SERPA, 1995, p. 135; SERPA, 1996-d, p. 284).

Os planejadores, se atuarem como facilitadores, podem contribuir para que

membros da comunidade para a qual se está planejando tenham voz ativa, quer

dizer, interfiram de fato na montagem do plano, revelando seus anseios em

relação às futuras modificações que seu bairro sofrerá (SERPA, 1999-b, p. 17).

A esta categoria de planificação chamaremos planejamento participativo, e os

próximos parágrafos serão dedicados à sua conceituação, à explicitação de suas

vantagens e dificuldades.

O planejamento participativo constitui um processo político, uma ampla discussão

da construção do futuro da comunidade na qual participe o maior número possível

de membros das categorias que a constituem. Mais do que uma atividade

meramente técnica, é um processo político vinculado às decisões de uma maioria,

em benefício dessa maioria. Assim, o planejamento participativo passa a

constituir-se como um conjunto de instrumentos técnicos a serviço de uma causa

política, pois usam-se essas técnicas para atingir de modo mais rápido e eficaz os

objetivos determinados pela coletividade. Esta passa a ser sujeito da história, pois

compreende que desenvolvimento não é um pacote de benefícios dados à

população, mas um processo no qual a população adquire maior domínio sobre

seu próprio destino (CORNELY, 1980, p. 1-3).

Não há paralelo, portanto, entre o planejamento participativo e simples reuniões

entre planejadores do poder público e a comunidade, para que esta legitime

determinadas decisões tomadas nos gabinetes, sem sua participação. Tampouco

é participativo um planejamento que contacta setores comunitários apenas para a

execução de planos previamente preparados sem qualquer participação popular

(CORNELY, 1980, p. 1-3).

140

Page 142: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Algumas vantagens do planejamento participativo:

1) proporciona uma imagem favorável da população envolvida junto ao plano ou

projeto em elaboração;

2) com a participação maciça, é possível a obtenção de dados qualitativos,

evitando que o conhecimento sobre a área e a comunidade sejam apenas

quantitativos, ou seja, retratem apenas parte da realidade;

3) estimula a comunidade a tomar conhecimento de seus problemas reais e

desenvolver sua criatividade na busca de soluções;

4) como produto de um processo participativo, tem-se um plano de metas mais

adaptado à realidade que se quer mudar;

5) o risco de abandono do(s) plano(s) por uma posterior administração municipal

é diminuído, pois a comunidade, organizada, terá condições de pressionar os

administradores a levarem o(s) plano(s) avante. (CORNELY, 1980, P. 4-5)

Na execução dos planos é em geral solicitada a participação ativa da

comunidade, com trabalho ou materiais, dependendo do tipo de projeto. A

descoberta da realidade em que vivem principia a motivação, que é um

mecanismo psicossocial que faz com que almejem modificar essa situação

(CORNELY, 1980, p. 10-12). As principais diferenças entre o planejamento

técnocrático e o participativo estão delineadas na tabela que se segue.

Tabela 1 - Planejamento Tecnocrático X Planejamento ParticipativoPlanejamento Tecnocrático Planejamento participativo1 - Baseia-se puramente na racionalidade.

2 - É de inspiração funcionalista, com visão de

sociedade de ordem.

3 - É um método de controle social.

4 - Segue um modelo autoritário e elitista,

concentrador de decisões e excludente das

maiorias.

1 - É um processo político.

2 - É de inspiração dialética, de sociedade em

movimento e em construção.

3 - É um método de libertação de

potencialidades.

4 - Usa modalidades democráticas, dialogadas,

de negociação entre os atores sociais.

141

Page 143: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

5 - Os técnicos sabem o que é certo e bom,

pensam e projetam as decisões, o povo deve

obedecer e executar

6 - É verticalista e descendente: a base não tem

formação para decidir sobre a forma mais

racional de organizar a sociedade.

7 - Diz-se politicamente neutro.

8 - É tecnicamente complicado e pouco

produtivo

5 – Os técnicos vão ao povo, debatem os

interesses de diferentes grupos, e dispõem seu

saber específico a serviço das causas

populares.

6 - É horizontal e ascendente: os grupos da

base aprendem a defender seus interesses e

participar. Seu conteúdo é pedagógico.

7 - É finalista: uma seqüência de ações técnicas

a serviço das mudanças sociais.

8 - Bem assessorado, é altamente eficaz.

FONTE: CORNELY, 1980; CORNELY, s/d

Um bom exemplo de como o planejamento tecnocrático é pouco produtivo: entre

1976 e 1982, o HPD, um órgão do município de Nova Iorque, planejou e

executou, sem qualquer participação dos futuros usuários, 96 espaços abertos ao

custo de US$ 3,6 milhões. O resultado: a maioria desses espaços foi

completamente abandonada e / ou sofreu ação de vândalos. Nova Iorque

compreendeu que é melhor trabalhar com a comunidade do que apenas fazer

coisas para ela. O processo de participação popular não é simples, mas resulta

em maiores benefícios à comunidade. As atividades de planejamento de espaços

abertos podem ser o germe para outras atividades que requeiram participação

popular (FOX & KOEPPEL, 1985, p. 77, 78).

A participação popular é o fator mais importante para o sucesso dos espaços

públicos arborizados. Em Nova Iorque, 73% dos participantes em projetos de

praças, parques, hortas e jardins declararam como principal motivo de seu

envolvimento a possibilidade de limpar e embelezar seu bairro. Usando plantas

para mudar a imagem dos bairros, os espaços criados desenvolveram um senso

de orgulho nos moradores. Pessoas que movimentam-se nesses locais chegaram

a mudar suas rotas, caminhando mais apenas para poder passar/passear por

esses espaços (FOX & KOEPPEL, 1985, p. 68). Para ARAÚJO & ARAÚJO,

(1997, p. 25), programas municipais de arborização que não contem com o apoio

142

Page 144: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

e a participação da população estão fadados ao fracasso.

O êxito de planos de arborização de cidades como Maringá e Curitiba, cidades

paranaenses que estão entre as mais arborizadas do Brasil, são principalmente

uma conseqüência do forte apoio popular (MILANO, 1994, p. 212-213). A

arborização de espaços abertos é uma ótima atividade de organização da

comunidade, porque proporciona um rápido e pouco custoso símbolo visual do

esmero comunitário (FOX & KOEPPEL, 1985, p. 69).

As vantagens de proceder-se um planejamento que leve em conta a real

participação da população a ser beneficiada pelo projeto são muitas, e a tabela 1

explicita essas vantagens. O que Mesquita, Cornely, Milano e Fox & Koeppel não

explicitam são as dificuldades de se levar a cabo essa categoria de planejamento.

Nos anais de Encontros e Congressos sobre arborização urbana, vários autores

defendem a participação popular na prática da arborização, sem contudo delinear

um método de trabalho que permita o sucesso na planificação e execução de

projetos de maximização da diversidade vegetal nos biomas urbanos.

Outrossim, entendemos que é útil registrar a seguir algumas dificuldades

inerentes ao planejamento participativo. Também é pertinente descrever uma

experiência de planejamento conjunto entre os pesquisadores do projeto Espaço

Livre e moradores de Pirajá que resultará na execução de uma pequena praça

arborizada (FOTOS 28, 29), como forma de contribuir para o estabelecimento de

uma abordagem metodológica que facilite a adoção do planejamento participativo

pelos urbanistas, o que desafortunadamente não tem sido uma constante

(YAMADA, 1995, p. 36).

A principal dificuldade está na apatia da população, a qual para Hannah Arendt é

um fruto do fraco engajamento sociopolítico da moderna sociedade de massas

(ARENDT, 1990, in FORATTINI, 1996, p. 332). A apatia também tem como causa

a relação viciada entre poderes públicos e comunidades. Os moradores de Pirajá

já acostumaram-se a promessas abortadas, não cumpridas, feitas pelos poderes

públicos e por candidatos. Isso foi bastante perceptível nas primeiras

aproximações com aqueles que habitam o entorno da área escolhida, a partir da

143

Page 145: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

aplicação do método de sintaxe espacial, para o planejamento ambiental

participativo49.

Além das promessas não concretizadas, é comum que os moradores recebam

materiais de candidatos - é comum a "doação" de cimento para asfaltar vielas do

bairro - numa prática perniciosa: o clientelismo.

Conjugadas à apatia estão as diferenças culturais entre planejadores - estes

vindos de um ambiente acadêmico e de bairros onde os problemas que buscam

resolver em geral não existem - um outro "mundo", portanto - e os moradores. Os

técnicos têm uma linguagem e uma motivação diferentes daquelas dos grupos

locais, pois estão vinculados às esferas de poder, e não às redes locais.

Esse desencontro de linguagens torna o relacionamento entre planejador e

comunidade superficial (VILLASANTE, in SERPA, 1999-b, p. 17). As distinções

entre aspirações e linguagens podem produzir um autêntico diálogo de surdos,

resultando na não participação da comunidade, o que, óbvio, determina o

fracasso da planificação conjunta.

6.3 Definindo uma metodologia de planejamento participativoUma medida fundamental a ser tomada pelo planejador que busca uma real e

efetiva participação comunitária na elaboração de um projeto é a identificação das

redes que determinam as relações sociais do grupo. É vital que uma maior

atenção seja dada a estruturas, como redes de parentesco, grupos de

trabalhadores, cooperativas, associações; que são usadas para disseminar

informações e conhecimento, bem como para recrutar participação na melhoria de

bairros (CAMPBELL, 1992, p. 182, 194).

As relações sociais são muito complexas e continuamente escapam aos técnicos,

por isso necessitamos entender o jogo de suas redes complexas, com seus

49 De fato, na última reunião realizada, quando os materiais tinham sido comprados, e os

trabalhos, iniciados, uma moradora comentou que eu não tinha sido o primeiro a acenar com a

possibilidade de uma área de lazer no local, e que como as outras propostas não se realizaram, os

moradores davam como certo o fracasso dos nossos esforços.

144

Page 146: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

variados tipos de vínculos, estes, freqüentemente variáveis. Em um primeiro

olhar, de maneira muito imediata e cotidiana, vemos a existência de redes

primárias (redes familiares de amizade ou vizinhança), vujos vínculos são fortes, e

cuja convivência tem suas próprias regras peculiares (VILLASANTE, 1998).

Tomás Villasante distingue três redes: A rede do poder; a dos grupos organizados

(ong's, associações populares etc), que perfazem no máximo 5% da população; e

as redes submersas, onde estão a esmagadora maioria da população. Estas

redes informais, do cotidiano, são facilmente construídas (VILLASANTE, 1996, p.

131).

FISCHER (1993 in SCHERER-WARREN, 1996, p. 169), afirma que do tecido

social de base informal (vizinhança, parentesco, amizade) podem se formar redes

submersas com maior estabilidade e permanência do que as redes associativistas

que tem como unidade focal a associação de moradores. É o que se verifica em

Pirajá, cuja associação de moradores não influencia as redes submersas

O planejador, quando aproxima-se dos membros das redes submersas, percebe

que não tardam a aparecer os porta-vozes, líderes informais, que falam pelo

grupo. Esses comunicadores são essenciais para o desenvolvimento de um

processo de participação, de cidadania (VILLASANTE, 1996, p. 131).

Ao anunciarmos nossa intenção de estabelecer uma parceria que redundasse na

construção de uma pequena praça arborizada, logo se destacou uma moradora,

Gorette, que desde o primeiro contato abraçou entusiasticamente a idéia. A

moradora atuou organizando as reuniões, sempre que solicitávamos um novo

contato com os moradores interessados.

Foram 6 reuniões, com participação média de 13 pessoas (FOTOS 30, 31). Em

todas as reuniões era majoritária a participação de mulheres. Seus maridos,

amigos ou parentes muitas vezes estavam presentes, mas preferiam não

participar diretamente. Na primeira reunião, foi apresentado aos presentes um

projeto prévio, a sugestão dos planejadores para a área, um ponto de partida na

negociação dos anseios dos técnicos e da população envolvida. Cópias do projeto

145

Page 147: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

foram distribuídas, com as devidas explicações, para apreciação geral, mesmo

daqueles que não haviam participado.

Na segunda reunião foram registradas as opiniões dos moradores a respeito do

projeto prévio; bem como suas idéias e desejos para o espaço que estava

nascendo. Duas reivindicações prevaleceram neste encontro: que o espaço

tivesse algum equipamento de lazer infantil e que um córrego poluído que corta a

área da praça fosse canalizado (ANGEOLETTO, 2000-a). As mães declararam-se

bastante aflitas com seus filhos pequenos, que muitas vezes costumavam

frequentar um descampado onde era comum a presença de usuários de drogas.

Também as deixava aflitas o contato das crianças com as águas contaminadas do

córrego, daí a veemência de suas aspirações em transformar o espaço em um

local seguro para seus filhos50.

Cópias da planta baixa da fração foram distribuídas aos participantes da terceira

reunião, para que os mesmos desenhassem o que imaginavam para a praça.

Algumas casas da planta foram marcadas, para facilitar o reconhecimento do

terreno. Houve uma resistência considerável dos moradores, pois eles alegaram

que "não sabiam desenhar"; "que iria ficar feio", etc. Foi preciso explicar que não

importava a beleza do traço, e sim as idéias registradas nas cópias. Os

participantes ficaram responsáveis pelo levantamento da situação fundiária do

espaço, isto é, se a área não pertencia a um ou mais donos.

A maioria dos desenhos contém quadras esportivas, vegetação e equipamentos

para o lazer infantil. As quadras esportivas, cimentadas, pelo desejo dos

moradores, estava fora das possibilidades financeiras, além de contrariar as

metas do Projeto Espaço Livre (maximização da vegetação em Pirajá [SERPA &

ANGEOLETTO, et alii, 1997, p. 66, 67]).

Planejamento participativo demanda insumos na forma de educação, para a

50 Para CAVALCANTE & LIMA (1995), é comum a carência de espaços livres de edificação

privados em bairros periféricos. Isso somado à falta de recursos contribuem para que espaços a

contíguos às residências sejam usados como área de lazer. No caso do "Buraquinho" infelizmente

a presença do esgoto impossibilitava o brincar.

146

Page 148: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

capacitação progressiva dos comunes. É bastante provável que a comunidade

cometa erros, cabendo ao técnico argumentar e defender seus pontos de vista

perante a mesma, mas isso deverá ser feito de forma didática, demonstrando

claramente o raciocínio e munindo a comunidade de instrumentos que a

permitirão decidir melhor (CORNELY, 1980, p. 9). E desta forma procedeu-se,

explicando aos participantes a importância da arborização, suas vantagens em

relação à hipotética pavimentação da área.

Boas e más notícias permearam a quarta reunião. Os participantes foram

informados de que haveriam recursos da União Européia garantidos para a praça

- cerca de US$ 850,00 - o que lhes causou grandes júbilos. Dois "donos"51 foram

identificados. Um permitiu sem problemas a execução da praça em seu terreno;

porém, o outro negou permissão, o que diminuiu a área livre disponível52. Não

fora a primeira negativa à realização do projeto. Antes de contactarmos os

moradores do "Buraquinho" - nome dado por eles ao entorno imediato de suas

casas - houve uma tentativa anterior de realização da praça em um outro espaço,

cujo "dono" negou-se veementemente a ceder o terreno, a não ser em caso de

compra. Na sua argumentação o "proprietário" questionou a validade de "fazer

uma praça para 'vagabundos'" (no caso, seus vizinhos), poucas horas após esse

diálogo tenso, imediatamente cercou sua posse com arame farpado.

Vale observar que esse terreno está localizado em uma área de extrema pobreza

do bairro. Não é precipitado afirmar que naquele locus a miséria é desagregadora,

fragilizando a existência de redes submersas.

A quinta reunião foi a que registrou um maior número de participantes, 26. Seu

51 o vocábulo donos aparece entre aspas porque na verdade poucos são os reais proprietários dos

lotes que habitam. Em geral os terrenos são ocupados.52 Senhor José, o proprietário do terreno, ao notar a movimentação para a limpeza da área, para a

execução da praça, permitiu que seu lote fosse incorporado ao projeto - não para o plantio de

árvores e locação de bancos, como estava previsto originalmente - mas ao menos para a

colocação de duas pequenas traves de metal para a prática do "bába" (pelada, futebol) pelas

crianças e adolescentes. Essa concessão foi muito importante, pois um espaço abandonado num

bairro com alta densidade populacional pode rapidamente transformar-se num depósito de lixo

(FOX & KOEPPEL, 1985, p. 68).

147

Page 149: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

objetivo foi o estabelecimento de um cronograma de ações. Pela primeira vez a

presença masculina foi grande (cerca de 10 participantes). Uma surpresa

agradável foi a capacidade de organização dos interessados. Ao longo das 2

horas de reunião, logo se formou uma comissão de pedreiros, que se

responsabilizou pela execução da canalização do esgoto e da construção dos

bancos. As mulheres tomaram a si a tarefa de limpeza da área e de auxiliar os

plantios, numa etapa posterior à canalização. Ao responsável técnico coube a

tarefa de comprar os materiais necessários, cuja lista foi fornecida pela comissão

de pedreiros.

No final da sexta reunião, onde decidiu-se pela construção de uma gangorra e

um balanço para o lazer infantil, um dos participantes me perguntou se eu tinha a

intenção de candidatar-me a vereador. Diante da minha surpresa, ele se explicou:

disse que "nada era de graça", e que portanto algum propósito eu deveria ter. Eu

lhe respondi que não ambicionava me candidatar a nada, e que meu próposito era

relatar a experiência na minha dissertação de mestrado. Esse diálogo releva o

clientelismo ao qual os moradores estão acostumados, onde geralmente a

concessão de benefícios está vinculada a uma troca - votos, apoio à campanha

de determinado candidato.

Os moradores pediram a iluminação da praça, já preocupados com possíveis

ações de vandalismo. Foi interessante constatar que eles mesmos resolveram a

questão. Conseguiram a doação de uma lâmpada de sódio, e a instalaram.

Obtiveram também, por meio de doações, as varas de ferro necessárias à

canalização. Trabalharam na canalização do esgoto sem a minha presença.

Segundo seus relatos, foi um trabalho realizado por 16 homens, coordenados

pela comissão de pedreiros. Prefiri estar ausente nesta fase, de modo a estimular

a auto-organização dos cômunes. Fica evidente aqui que, se nos primeiros

contatos foi necessário um input de mobilização (apesar das reuniões serem

marcadas com antecedência, era preciso chamar as pessoas em suas casas), a

partir do momento em que eles assumiram a parceria, passaram a agir sem a

presença do técnico.

Outros fatos corroboram essa afirmação. A decisão de transformar o terreno do

148

Page 150: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

senhor José em uma quadra de chão batido para a prática de futebol e volei foi

dos dos moradores, e eles construíram pequenas traves de madeira e compraram

uma rede. É uma solução interessante, pois durante o dia crianças e

adolescentes batem o "bába" (futebol) e à noite, com a iluminação, os adultos

jogam voleibol.

Registre-se que esses usos já estão ocorrendo, mesmo antes do término das

obras, atraindo crianças e adultos de outros recantos do bairro, mesmo dado o

caráter local da praça. Também é digna de menção uma festa de inauguração,

que as mulheres estão organizando. Elas arrecadaram algum dinheiro, que será

usado para a confecção de doces e salgados e para a compra de refrigerantes.

A preocupação com vândalos e a "auto-organização" dos moradores sinaliza um

comprometimento com a gestão da futura praça, e este na verdade é o maior

desafio: a manutenção do espaço. Mais complexo do que transformar um antigo

ponto de lixo em uma praça arborizada, é garantir sua permanência.

No relato de uma experiência similar de planejamento urbano participativo

ocorrida em Plataforma (Salvador, Bahia), Angelo SERPA (1999-e) demonstra

sua preocupação em associar os trabalhos a um morador, pois conflitos latentes

entre vizinhos podem originar práticas de retaliação e não participação.

Como dissemos anteriormente, a moradora Gorette atuou como porta-voz do

grupo, em parte por sua adesão incondicional ao projeto e também por ser uma

das poucas pessoas da área com telefone, o que facilitava o andamento dos

trabalhos.

Inicialmente esta escolha troxe alguns problemas. Surgiu o boato de que a praça,

após concluída, seria cercada com arame farpado, e só Gorette e os demais

participantes poderiam utilizá-la. Ato contínuo, sacos de lixo começaram a

reaparecer53 na área. Foi uma clara reataliação à possibilidade de "privatização"

53 Durante anos a área foi um ponto de lixo, pois os moradores preferiam deixar o lixo acumular

próximo às suas casas, do que subir uma ladeira para depositá-lo no container da LIMPURB.

Alguns moradores resolveram reverter a situação, e conseguiram, não sem alguns conflitos.

149

Page 151: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

do local. Felizmente a questão foi contornada, explicitando-se nas reuniões o

caráter público da praça, e esclarendo-se o papel de Gorette.

Até a finalização dessa dissertação a situação dos trabalhos era a seguinte: a

canalização do esgoto estava concluída, e a construção dos bancos havia sido

iniciada. A artista plástica e acadêmica do Mestrado em Belas Artes da UFBA,

Sheilla Dias de Souza, fará, em caráter voluntário, com as crianças do entorno,

mosaicos com pedaços de azulejos coloridos, nos bancos. Resta ainda plantar as

mudas de árvores frutíferas e de hera, trabalho que será realizado com as

moradoras; e construir a gangorra e o balanço.

6.4 Alguns comentários sobre os aspectos técnicos da execução da praça Geralmente, quando existem planos urbanos para áreas verdes, eles não

proporcionam instrumentos que permitam explorar o potencial da árvore como

estruturadora de espaços urbanos nem tampouco a conquista de novos espaços

de socialização (MALINSKI, 1985, p. 37). No projeto final da praça, procurou-se

explorar não só o potencial arquitetônico da vegetação, mas também sua

capacidade de propiciar microclimas mais amenos e de atração e manutenção de

polinizadores e dispersores de sementes, vetores ecológicos imprescindíveis à

recomposição de áreas desmatadas no interior do PMP.

Algumas populações de vida selvagem mantidas pelos grandes parques urbanos

se estenderão às áreas residenciais, mas apenas quando o planejamento paisagístico oferecer essa possibilidade. O Rock Creek Park, em Washington, D.

C., fica num grande vale ribeirinho. Dois bairros muito diferentes confinam com o

parque a leste e a oeste. A oeste ficam ruas arborizadas com casas residenciais e

jardins paisagísticos, bem como alguns conjuntos de casas e apartamentos. A

leste está um bairro muito mais denso, com poucas árvores e quase nenhum

paisagismo. No leste encontram-se pardais, pombos e estorninhos - considerados

nocivos - em abundância, e poucos pássaros silvestres. Nos espaços arborizados

do oeste, dá-se o oposto: poucas aves nocivas e muitos piscos-de-peito-ruivo,

cardeais, tordos e gaios (SPIRN, 1995, p. 243, 244).

Para a atração e manutenção dos vetores ecológicos, optou-se pelo uso de

150

Page 152: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

árvores frutíferas. As árvores frutíferas, geralmente produzem copiosos

suprimentos de pólen e néctar, o que atrai várias espécies de insetos (GILBERT,

1989). Essa grande variedade de insetos é um atrativo a mais para pássaros, que

também são atraídos pelas oportunidades de nidificação e acomodação com

segurança (GILBERT, 1989, p. 252).

A capacidade da vegetação em atrair e manter uma fauna de polinizadores54 e

dispersores de sementes55 deve ser tomado como um critério de planejamento paisagístico, assim como atenta-se para a cor, textura e forma dos vegetais. Por

isso elaboramos duas tabelas de preferências de polinizadores e dispersores de

sementes em relação às flores e frutos, que foram levados em conta na

arborização da praça em Pirajá (ANGEOLETTO,1998).

Tabela 2 – Preferências dos polinizadores em relação às floresPOLINIZADORES CARACTERÍSTICAS FLORAIS QUANTO A FLORAÇÃO

INSETOS

(especialmente abelhas)

Flores que abrem-se durante o

dia, têm cores claras (creme, azul,

lilás, amarelo), odor agradável,

em geral não muito forte, tamanho

variável (pequenas, médias ou

grandes). Geralmente produzem

algum recurso floral que é

oferecido ao polinizador

(como por exemplo néctar).

1) Produção de flores grande e

evidente, por um curto período

de tempo (polinização não

específica por variadas espécies

de insetos)

2) Pequena e pouco evidente.

Produção de flores por um

período prolongado (polinização

específica por grandes

mariposas, borboletas e

abelhas).PÁSSAROS Flores em geral tubulares, cores Pequena e pouco evidente

54 Segundo JANZEN (1980, p. 21), do ponto de vista do vegetal, polinização é uma maneira de

aumentar ao máximo o fluxo de genes para as outras flores e a recepção de genes de outras

plantas (obviamente de uma mesma espécie). Isso garante a produção de sementes que

possibilitam a continuidade da espécie.

55 MORELATTO (In: MORELATTO, 1995, p. 64-65, 67) explica que a dispersão é o transporte das

sementes para longe da planta-mãe. Este processo de retirada ou saída do diásporo (unidade que

será dispersa, seja o fruto ou a semente) da planta mãe pode ser realizado por animais, vento e

mais eventualmente pela própria planta-mãe ou pela água. Na maioria das florestas tropicais, a

maior parte das sementes é dispersa por animais (cerca de 40,8%). Os dispersores mais comuns

são aves, morcegos e macacos.

151

Page 153: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

(especialmente

beija-flores)

variando entre o laranja e o

vermelho, e localizadas na

superfície da copa da planta

produção de flores, por um período

prolongado (polinização

específica).MORCEGOS Flores produtoras de néctar, que

abrem-se durante a noite,

grandes, esverdeadas, brancas

ou roxas

Pequena e pouco evidente

produção de flores, por um período

prolongado (polinização

específica).

Tabela 3 – Preferências dos dispersores em relação aos frutosDISPERSORES CARACTERÍSTICAS DOS FRUTOS DISPERSADOS

PÁSSAROS Geralmente oleaginosos ou açucarados. Cores vivas. Carnosos, suculentos ou

frutos secos que, quando abertos, apresentam sementes com arilo (polpa

nutritiva)MORCEGOS Geralmente oleaginosos ou açucarados. Verdes ou verde-amarelados.

Obs.: os morcegos podem carregam frutos grandes, que normalmente não são

consumidos pelo tamanho excessivo, através de suas garras.Fonte (T2 e T3): ANGEOLETTO (1998), baseado em JANZEN (1980) e LEITÃO FILHO &

MORELATTO (1995).

Não há dúvidas sobre a capacidade das árvores frutíferas em atrair polinizadores

e dispersores, contudo, seu uso na arborização de espaços públicos tem

defensores e detratores.

Para Mello Filho, o uso de frutíferas depende do grau de cultura da população

citadina. Assunção, no Paraguai, tem laranjeiras na sua arborização, na Suíça

são comuns as cidades arborizadas com macieiras e pereiras (MELLO FILHO,

1985, p. 122).

SANCHOTENE (1985, p. 111), defende o uso de frutíferas na arborização de

espaços públicos contrapondo-se a autores que desaconselham a presença

dessas árvores, por serem um convite a depredação. A autora argumenta que já é

hora de viabilizar uma arborização mais racional, mesmo com a carência de

educação ambiental de grande parte da população do Brasil.

MANICA (1985, p. 102), sugere o uso de frutíferas como abacateiros, caquizeiros,

caramboleiras, coqueiros, figueiras, jaqueiras, jaboticabeiras, nespereiras,

nogueiras, pereiras e goiabeiras na arborização de praças, parques e jardins.

152

Page 154: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

É sabido que superfícies de concreto cobertas com vegetação irradiam 50% a

menos de calor (SPIRN, 1995, p. 71), o que obviamente torna o clima do entorno

mais aprazível. Sabendo-se que grande parte da área da praça é cerceada por

muros, optou-se pela utilização abundante de hera para cobrir os muros, o que

torna o espaço mais agradável, do ponto de vista visual e climático56.

Grande parte dos usuários da praça serão crianças. Outrossim, adotar-se-ão as

sugestões de FERREIRA, que recomenda que, ao selecionar-se árvores para

espaços de recreação infantil, é preciso que elas apresentem ramos resistentes,

folhas caducas, ausência de espinhos, raízes pivotantes, frutos comestíveis,

floração vistosa, crescimento rápido, fácil cicatrização dos ramos, etc

(FERREIRA, 1985, p. 90).

Espaços de recreação infantil contribuem enormemente para o desenvolvimento

das crianças. Estudos com animais jovens e evidências indiretas provindas de

crianças indicam que um ambiente sensorial rico no início da existência pode

determinar a extensão do futuro desenvolvimento mental (EHRLICH, 1974, p.

192, 193; NATURE NEUROSCIENCE, in FOLHA de SÃO PAULO, 22/02/2000).

As desvantagens das grandes cidades - poluição, falta de infra-estrutura,

pouquíssimas oportunidades de recreação, entre outros - são bastante

intensificados para os pobres. Muitos desses problemas poderiam ser sanados ou

abrandados por um projeto mais criativo das casas e seus arredores (EHRLICH, 1974, p. 190, 192)57.

56 Espaços livres de edificação têm sido projetados com mais área pavimentada e menos árvores,

e por isso têm menor potencial em melhorar a qualidade do ar e o conforto climático (SPIRN,

1995, p. 76).57 O professor de economia da Universidade de Chicago, Alexandre Sheinkman, comparou vários

indicadores sociais com as taxas de violência em centenas de cidades americanas. Não há

nenhuma relação entre renda e crime, constatou. Daí o sucesso da tese do capital social, a

medida das relações que um indivíduo tem, capazes de integrá-lo, evitando a marginalidade. É

medido pela força das igrejas, da família, da escola, dos centros comunitários, dos espaços para lazer (DIMENSTEIN, 1999). Há, portanto, uma relação entre o fato de Pirajá ser considerado o

bairro mais violento do subúrbio e sua extrema escassez de espaços de socialização.

153

Page 155: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Entretanto, espaços livres de edificação devem ser projetados para atender a

múltiplas funções, que não apenas a recreação: as árvores e demais plantas

desses espaços podem atuar retirando poluição do ar, contribuindo para o

estabelecimento de climas mais amenos (SPIRN, 1995, p. 273), e atraindo uma

diversidade maior de animais selvagens.

A integração de todas as áreas livres de uma cidade num plano unificado que

inclua praças e parques, corpos d'água e correntezas, várzeas, encostas,

afloramentos rochosos e até estacionamentos e rodovias podem resultar num

sistema de espaços abertos coeso, cuja finalidade será melhorar o clim a, atrair a

fauna silvestre etc (SPIRN, 1995, p. 287).

6.5 Arborizando os quintais de PirajáMELLO FILHO (1985, p. 118, 122), classifica a arborização de espaços privados

como importante, pelo aumento da concentração de árvores cujo custo de

manutenção não onera o erário público. Há inclusive cidades como Recife, onde

a arborização de quintal, supera em muito a massa vegetal dos espaços

públicos, o mesmo ocorrendo nas pequenas cidades brasileiras.

O espaço que muitas vezes falta nas calçadas e passeios pode sobrar nos

espaços privados, daí a importância de plantios nesses loci (KNIJNIK, 1985, p.

199, 200).

O primeiro passo para concretização de plantios de mudas de frutíferas nos

quintais do bairro foi a elaboração e realização de um minicurso aos estudantes

do ensino médio do colégio estadual Alberto Santos Dumont, em Pirajá.

O curso denominado A importância da vegetação para o nosso bairro, com 6

horas-aula de duração, teve cerca de 60 participantes. Os conteúdos ministrados

versaram sobre a cidade do ponto de vista ecológico; o Parque Metropolitano de

Pirajá; sobre os benefícios da arborização e sobre os resultados da pesquisa

sobre diversidade vegetal realizada nos quintais do bairro (capítulo 5).

154

Page 156: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

No final do minicurso os estudantes foram convidados a participar como

voluntários de um plantio de 200 mudas de árvores frutíferas (FOTOS 32, 33) (cujas

espécies estão discriminadas na tabela 4) em 29 dos quintais pesquisados.

Tabela 4 - Espécies plantadas nos quintais

Nome popular Nome científicoAbio Lucuma spAbricó Prunus spAmeixa Prunus spAmora Morus spFruta-do-conde Annona spGroselha Rubus spGraviola Annona spJambo Jambosa spLaranja Citrus spManga Mangifera spPitanga Eugenia spTamarindo Tamarindus spTangerina Citrus sp

Cinco estudantes participaram do plantio. O número é pequeno, diante do grande

entusiasmo verificado por ocasião do convite. A evasão provavelmente deu-se

pelo pouco tempo de contato com os estudantes - o minicurso teve duração de 3

dias; e também pelo temperamento instável, próprio da adolescência. Porém o

mais importante foi a seriedade dos cinco participantes, sempre pontuais nos

compromissos assumidos e desdobrando-se para efetivar os plantios. Um dos

adolescentes inclusive dirigiu o veículo que transportou as mudas pelo bairro.

A maior dificuldade dos plantios foi o deslocamento das mudas pelo bairro.

Mesmo com o aluguel de uma Kombi para o transporte, havia alguns quintais

onde só se chegava a pé, descendo ladeiras íngremes. Isso limitou os quintais

contemplados em 29, de um total de 142 pesquisados.

Por outro lado, a receptividade dos moradores foi ótima, mesmo que muitos não

se lembrassem mais de nossa visita anterior, pois a distância de tempo entre o

final da pesquisa nos quintais e os plantios foi considerável (17 meses). Muitas

pessoas nos abordavam, perguntando se éramos do "governo", da "prefeitura" ou

155

Page 157: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

do IBAMA. E a maioria dessas pessoas solicitava uma ou mais mudas para

plantio em seus quintais. Tais fatos são indicativos de que um programa de

plantios nos espaços privados do bairro terão maciço apoio popular.

6.6 Comentários sobre os plantios nos quintais Os quintais com alta diversidade de espécies vegetais, atuam como pequenos

fragmentos florestais capazes de cumprir com eficiência as funções atribuídas à

arborização e às áreas verdes urbanas (MACEDO & JOSÉ, 1997, p. 23). Por isso

não optou-se somente por plantios em quintais de baixa diversidade, mas também

naqueles de alta diversidade vegetal.

Os quintais e jardins presentes nos espaços livres de edificação privados estão

entre os mais frágeis ecossistemas presentes nos biomas urbanos. Eles são

compostos em muitos casos por espécies exóticas, que vegetam em condições

de clima e solo diferentes. A continuidade desses sistemas requer contínua

manutenção. A falta de manejo leva a uma extinção local, acompanhada de

simplificação. Não obstante, os jardins e quintais freqüentemente são o habitat de

dezenas de espécies (GILBERT, 1989, p. 5, 262).

Depreende-se das informações dos parágrafos anteriores, que quintais

arborizados podem atrair uma grande variedade de animais silvestres, com o

devido manejo. No caso de Pirajá, espera-se que os quintais sejam pródigos na

atração de insetos, aves e principalmente morcegos.

Estes mamíferos voadores são polinizadores de um conjunto de espécies de

plantas, nunca de uma única espécie. Eles podem viajar grandes distâncias em

busca de alimento. Os morcegos voam até 16 km em visita às flores. Outro

fato interessante é que esses animais podem memorizar trajetos, o que permite

que eles voltem às mesmas plantas diariamente58 (JANZEM, 1980, p. 24).

Vários estudos demonstram que mais de 95% das sementes de espécies

pioneiras e secundárias que chegam às clareiras, ou áreas desmatadas, no caso

58 Os beija-flores também são capazes de percorrer grandes distâncias na procura por alimento

(JANZEM, 1980, p. 24, 26).

156

Page 158: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

do Parque, são trazidas pelos morcegos, deixando clara a importância destes

animais para a recomposição natural das florestas tropicais (FARIA. In:

MORELATTO, 1995, p. 103)

Nas cidades de regiões tropicais é comum a presença de morcegos nectarívoros

e frugívoros que utilizam as plantas como abrigo e fonte de alimentos (SAZIMA &

SAZIMA, 1977; UIDA, 1980; MULLER & REIS, 1992, in RODRIGUES & BREDT,

1994, p. 312). Sua presença provavelmente deve-se à arborização urbana.

RODRIGUES & BREDT (1994, p. 316) alertam para os transtornos que morcegos

podem trazer à população, que em geral tem aversão aos mamíferos voadores,

por desinformação. O mesmo ocorre com as corujas, eficientes predadores

urbanos de ratos e ratazanas, e que infelizmente são perseguidas em

praticamente todo o mundo, inclusive no Brasil, por serem tidas como agourentas

(COSTA-NETO, 1999). Cabe aos educadores a tarefa de desmistificar lendas e

preconceitos, esclarecendo o papel importante que esses animais desempenham

nos biomas urbanos.

Nossa intenção inicial era de promover plantios somente em quintais no limite

entre o Parque e o bairro, mas dada a grande capacidade de deslocamento dos

polinizadores vertebrados, entendemos que qualquer quintal estava apto a

receber as mudas.

6.7 Conclusões Quanto às áreas verdes urbanas, GRIFFITH & SILVA (In: MILANO, 1988, p. 8;

MILANO, 1990, p. 62) afirmam que, embora a maioria das cidades brasileiras

tenham praças, parques e outras áreas verdes, poucas têm estes espaços

organizados de modo que não sejam apenas mais uma coleção avulsa de

espaços abertos. Muitas áreas verdes podem ter pouco valor para a

biodiversidade, por isso, melhorias progressivas para atração de fauna e flora

devem ser um objetivo do planejamento (NATURE CONSERVANCY COUNCIL,

1989, p. 39). Uma dessas melhorias é a instalação de corredores verdes. Em

Salvador, o Parque Metropolitano de Pirajá poderia ser ligado a outros fragmentos

de mata atlântica, como o Parque de Pituaçu.

157

Page 159: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

GILBERT (1989, p. 311, 316) defende a manutenção de paisagens ecológicas,

por exemplo áreas de mata, mediante um input de desenho que permita uma

congruência com usos antrópicos, porém com o mínimo de alterações. MILANO

(1994, p. 213) recomenda enfaticamente o emprego de soluções alternativas

para a preservação do maior número de áreas verdes possíveis, como o

aproveitamento de áreas "marginais": fundos de vale que foram transformados em

parques, ruas de pouco tráfego transformadas em áreas verdes, aproveitamento

de áreas de mineração desativadas como espaços livres públicos, a exemplo do

que ocorreu em Curitiba (MILANO, 1994, p. 213).

Mesmo as ervas daninhas em terrenos baldios são importantíssimas, e deveriam

ser mantidas, pois: retêm a umidade, protegem o solo contra a evaporação,

fertilizam-no com raízes, folhas e flores e sementes mortas, apressam a decomposição de restos de argamassa e cascalho e criam um ambiente

favorável aos microrganismos e outras plantas. Se não forem perturbadas,

processa-se o fenômeno de sucessão vegetal, e em alguns, anos as árvores

estabelecem-se (SPIRN, 1995, p. 206, 218).

Uma vez estabelecida a comunidade arbórea, uma manutenção mínima é

requerida, ou mesmo não é necessária qualquer manutenção. (SPIRN, 1995, p.

206, 218). Spirn está certa, o problema no caso dos terrenos baldios é a imagem

de desleixo - o que pode ser mudado pela prática de educação ambiental - e o

problema da segurança, pois poderiam esconder meliantes.

Não apenas nos espaços livres deve se planejar para o aumento da

biodiversidade. Edifícios não precisam atuar necessariamente como barreiras à

sua presença. Em áreas densamente edificadas, um aumento dos habitats da

vida silvestre pode ser obtido pelo cultivo de jardins nos telhados, e do plantio de

trepadeiras nos muros. Cavidades para o descanso de morcegos ou para a

nidificação de aves podem ser desenhados nos projetos das edificações

(NATURE CONSERVANCY COUNCIL, 1989, p. 25), embora projetos dessa

natureza possam sofrer oposição dos incorporadores imobiliários.

158

Page 160: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

Muitas fundações originadas na iniciativa privada têm um papel importante na

arborização de espaços abertos, contribuindo, a fundo perdido, para a execução

de inúmeros projetos. Segundo uma diretora da "Vincent Astor Foundation", que

financia projetos que variam de grandes parques a jardins e hortas comunitárias

em Nova Iorque, é compensador observar que pequenas quantias de dinheiro

permitem a execução de um espaço comunitário (FOX & KOEPPEL, 1985, p. 26).

Este argumento talvez seja o mais importante na defesa de projetos de

arborização, pois é aquele que consegue sensibilizar burocratas. Em Pirajá, com

os US$ 1193,00 repassados pela União Européia, foi possível executar uma

pequena praça arborizada (custo de US$ 850,00) e plantar 200 mudas de árvores

frutíferas nos quintais (custo de US$ 393,00). Vale ressaltar que, no caso da

praça, 54% dos recursos foram utilizados para a canalização do esgoto, sem o

que não seria possível a execução do projeto.

Se futuramente obtivermos outros recursos, algumas idéias poderiam ser postas

em prática no bairro. Em outras áreas detectadas pela aplicação do método de

sintaxe espacial, poderiam ser transformadas em praças locais, através de

exercícios de planejamento participativo que estimulassem a gestão comunitária

dos espaços.

Como o bairro (incluída a porção planejada) em geral possui ruas estreitas, o

plantio de árvores ou arvoretas nestas vias poderia ser feito em recipientes

funcionais e estéticos (HOEHNE, 1944; GOLD, 1987; PALERMO Jr, 1987 in

LIMA, 1993, p. 83).

São comuns edificações de um ou dois pavimentos com a laje descoberta (FOTOS

34, 35). Como a demanda por solo é intensa, o aumento das famílias geralmente

implica no sacríficio da vegetação dos quintais, para a construção de novas

unidades habitacionais. Uma campanha poderia ser realizada no bairro,

envolvendo os moradores para que eles separassem garrafas plásticas de água

mineral e refrigerantes. As garrafas poderiam ser transformadas em "porta-

mudas", e milhares delas poderiam preencher os espaços das lajes. Uma

solução, entre outras necessárias, para o problema de acúmulo de plástico na

159

Page 161: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

biosfera, e, sobretudo, uma maneira de amealhar espaço para a vegetação, onde

este é escasso.

Em comparação com outras intervenções urbanas, a arborização possui um baixo

custo por habitante, e sua execução pode contar com apoio e participação

comunitária, principalmente no plantio e na fiscalização e manutenção das mudas

plantadas (SOUZA, 1994, p. 233). A participação cidadã na vida da comunidade é

um dos direitos assinalados na Declaração Universal de 1948 (ALVES, 1996, p.

447); e projetos como o executado em Pirajá são uma forma de estímulo ao

exercício deste direito.

160

Page 162: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

FOTOS 28 e 29: Área selecionada para o exercício de planejamento participativo.FONTE: Fábio H. S. Angeoletto, 1999.

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Page 163: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

FOTO 30 e 31: Reuniões de planejamento participativo. FONTE: Fábio H. S. Angeoletto, 1999.

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Page 164: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

FOTO 32 e 33:.Plantios nos quintais.FONTE: Fábio H. S. Angeoletto, 1999.

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Page 165: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

FOTOS 34 e 35: Lajes das edificações, espaços possíveis par o aumento de vegetação no bairroFONTE: Fábio H. S. Angeoletto, 1999.

CONSIDERA ÇÕES FINAIS

É preciso gestar as antíteses de Bauci, uma das cidades invisíveis de CALVINO

(1991). Nessa hipotética urbis, há apenas contato visual com a natureza: a cidade

ergue-se sobre longas pernas de flamingos.

A ficção de Calvino descreve muito bem o ideário que separa o urbano e a

natureza, e que acaba por traduzir-se, nas ações ou não ações de arquitetos,

planejadores, ambientalistas e moradores, em cidades reais, onde a pouca

atenção dada à premissas ambientais redundam em desperdícios energéticos;

destruição de ecossistemas próximos e distantes; e má habitabilidade.

A pouca consideração dispensada aos fatores biológicos no planejamento urbano

pode em parte ser explicado pela falta de uma cadeira de ecologia urbana nos

cursos de arquitetura, biologia, geografia, administração, entre outros. Trata-se de

164

Page 166: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

uma disciplina que deveria ser introduzida nos currículos não como optativa, mas

como obrigatória. O jargão ecológico, dominado pelos biólogos, precisa ser de

uso corrente entre os arquitetos59; assim como os biólogos precisam ter como

parte de sua formação noções de planejamento urbano e paisagístico. É preciso

descartar o raciocínio que enxerga a arquitetura e a biologia como profissões

antagônicas, exatamente como enxerga-se cidades e natureza.

Há um diálogo que precisa ser travado mais amiúde entre a arquitetura e o

urbanismo e as ciências naturais. O aprofundamento desse diálogo é contudo

dificultado pelo corporativismo e pela excessiva departamentalização da Ciência.

A arquiteta e paisagista Anne Whiston Spirn lamenta a falta de comunicação entre

ecológos, engenheiros civis, planejadores, arquitetos e paisagistas. As barreiras

que separam as disciplinas acadêmicas são mais fortes que suas ligações, fato

que constitui um obstáculo à compreensão dos biomas urbanos. Conhece-se

muito mais sobre botânica, geologia, sociologia e economia do que sobre as

ligações entre elas. As recompensas por se manter dentro de uma disciplina

acadêmica e as punições por se trabalhar fora da principal corrente dessa

disciplina excedem em muito qualquer vantagem e garantem que qualquer

trabalho interdisciplinar será, antes, uma exceção do que a norma por muito

tempo ainda.

Θ Θ Θ

Uma das metas desta dissertação foi contribuir par a generalização de um

urbanismo atento aos fatores biológicos, através da criação de novas

combinações entre os diversos ecossistemas que compõem os biomas urbanos,

atentando para o incremento da biodiversidade no ambiente urbano, sem que isso

implique necessariamente em prejuízos ao fator antrópico. Sabemos que os

vegetais iniciam praticamente todas as cadeias alimentares da biosfera, e as

árvores também são habitats para dezenas de espécies. A melhoria da qualidade

de vida no bairro pode ser obtida em parte com o aumento da vegetação nos seus

59 Se é fato, como afirma o professor Décio Pignatari (2000), que mesmo a tecnologia em conforto

ambiental é, em grande medida, ignorada pelos arquitetos brasileiros, há muito a se reformular

nos currículos dos cursos de arquitetura e urbanismo.

165

Page 167: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

espaços abertos.

Por sua condição de bairro escassamente arborizado, e pela proximidade com o

Parque Metropolitano de Pirajá, o bairro de Pirajá pode servir de paradigma para

um planejamento que procure a maximização da biodiversidade no bioma urbano

e dos benefícios originados da presença de vegetação nestes mosaicos de

ecossistemas que são as cidades.

Uma grande ênfase foi dada à importância da arborização aos biomas urbanos, e

aos vários dilemas ambientais que a vegetação pode resolver ou ao menos

atenuar. Contudo é preciso esclarecer que as árvores não são o remédio

universal, a panacéia para todos os problemas ambientais urbanos.

Veja-se por exemplo o caso da poluição atmosférica. A literatura sobre poluição

do ar é fértil em artigos que defendem o uso do solo ou das árvores como

absorvedores da poluição atmosférica, sem considerarem o que será dos

contaminantes depois que não mais estiverem em suspensão no ar. Ocorre que

os poluentes fluem através dos sistemas, do ar para solo, para a água e para os

organismos; do solo para a água e para os alimentos.

A conclusão é simples: árvores não são a solução para a poluição atmosférica

urbana, elas são paliativos eficazes. A solução definitiva está no uso de energias

menos poluentes e no estímulo ao transporte coletivo de massa.

Do mesmo modo, advogamos enfaticamente o planejamento, e novamente cabe

a advertência: a planificação não soluciona todas as mazelas ambientais urbanas,

mas um input de planejamento é necessário; principalmente se vinculado à busca

de soluções não onerosas, e que contribuam para dirimir os impactos causados

pelos grandes ambientes de entrada e saída dos biomas urbanos.

Θ Θ Θ

Defendemos nessa dissertação a maximização da vegetação nos bairros, de

166

Page 168: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

modo a criarem-se corredores de ligação entre as áreas verdes (no caso de

Salvador, entre o Parque Metropolitano de Pirajá; Parque de Pituaçu; Parque da

Cidade, entre outros). Essa idéia é corrente nos Estados Unidos e Inglaterra.

Evidentemente, sua transposição para o Brasil esbarra em alguns poréns. Nossa

diversidade biológica é muito maior do que aquela encontrada nos países do

hemisfério norte. Contudo, opostamente a esses países, grande parte de nossa

flora urbana é exótica, e não é possível simplesmente, retirar espécimes arbóreas

de nossas matas e plantá-las nas cidades.

É preciso antes testar a resistência dessas espécies às condições ambientais dos

biomas urbanos, que incluem poluição, calor excessivo, solos compactados, entre

outros problemas. Também é preciso estudar características como crescimento

da copa e das raízes, de modo a previnir contratempos como rachaduras em

calçadas e muros.Não obstante, trata-se de um campo de pesquisas promissor e

necessário.

Θ Θ Θ

Talvez nunca tenhamos necessitado tanto de mudanças de mentalidades. De

novas maneiras de pensar, para entender que o que está em jogo não é a

preservação do mico-leão dourado ou dos simpáticos ursinhos panda. Não é a

natureza, esta entidade tão abstrata, tão longe de nós, "escondida" na floresta

amazônica ou nas geleiras preferidas dos pinguins antárticos, a ameaçada.

A diminuição da diversidade biológica e de seus serviços ecológicos,

surpreendentemente, não põe em risco a natureza, mas apenas nossa espécie.

Mesmo que alteremos tanto o ambiente a ponto de inviabilizar nossa continuidade

na Terra, mesmo que neste caminho suicida levemos milhares de outras formas

de vida, a natureza é suficientemente dinâmica, e responderá às nossas

alterações produzindo novos seres, que reestabelecerão as condições de clima,

fluxos biogeoquímicos, etc, mais propícias à manutenção da vida

167

Page 169: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

(ANGEOLETTO, 2000).

O tempo médio de recuperação da natureza nos casos de extinção em massa de

espécies, como a que atualmente temos provocado, é de 10 milhões de anos

(FERRONI, 2000). Isto significa que os próximos anos serão decisivos, pois se

não formos hábeis para estancar imediatamente essa erosão de biodiversidade,

os danos terão um caráter de perpetuidade.

Os problemas dos seres humanos, e que redundam em diminuição da

biodiversidade, são problemas biológicos em sua origem: destruição de habitats,

deterioração do solo, e mesmo a falta de moradia e comida (WILSON, 1997, p.

19; RAMOS, 1997, p. 545). Eles podem ser resolvidos parcialmente ao se fazer

com que a biodiversidade seja usada como fonte de riqueza econômica

(WILSON, 1997, p. 19).

Θ Θ Θ

É preciso empreender uma restauração ecológica em escala planetária. Para isto,

a "Ecologia da Restauração" (uma ciência que ainda ensaia seus primeiros

passos) terá que se tornar uma importante atividade econômica. Uma de suas

metas será a provisão de uma ampla variedade de produtos comercializáveis

como um subproduto da restauração (TODD, 1997).

A recuperação de uma floresta como o Parque Metropolitano de Pirajá, poderia

ser realizada introduzindo-se espécies que contribuam para a manutenção

daquele sistema, e também desempenhem papéis econômicos. Tal ecossistema

seria um cruzamento entre uma floresta e um pomar, e diversas famílias poderiam

ser beneficiadas no subúrbio.

Entre o arcabouço teórico para a construção de uma ciência e uma prática de

restauração de hábitats, TODD (1997, p. 444) cita o paisagismo como um dos

campos mais relevantes. De qualquer sorte, está claro que a melhor abordagem

metodológica para maximizar a vida silvestre nas cidades ainda é incerta, e

168

Page 170: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

requer habilidades que planejadores, paisagistas e ecólogos não têm, e que

precisam ser buscadas. Este é um novo campo científico, deveras excitante, que

apenas começa a ser praticado, ainda há poucos e incompletos dados (GILBERT,

1989, p. 7, 8). Daí a importância do aprofundamento do diálogo entre arquitetura e

ciências naturais, como foi dito acima.

Θ Θ Θ

Ao mesmo tempo em que a economia abandona progressivamente os limites do

Estado nacional, formando blocos que extrapolam seus limites econômicos e

políticos, cresce também, em importância, a ação localizada, comunitária, como

forma de evitar ou controlar problemas de ordem universal (inclusive, os

relacionados ao ambiente) (TENÓRIO, 1996, p. 106).

CAMPBELL (1992, p. 191, 197) sinaliza como positivo o fato de prefeitos

brasileiros estarem implementando projetos baseados em fortes alianças entre

governos locais e grupos comunitários. Não por acaso, agências internacionais

começam a focalizar os governos municipais como novo alvo de suas operações

de empréstimo na América Latina.

Alianças entre o poder público municipal e a iniciativa privada podem significar um

impulso na criação ou recuperação de espaços livres arborizados. Em Salvador,

já existe um projeto dessa natureza, o Programa de Adoção de Praças, Áreas

Verdes, Monumentos e Espaços Livres, conduzido pela prefeitura de Salvador. O

"calcanhar-de-aquiles" do programa é a lógica da visibilidade: as empresas

escolhem áreas para intervenção na expectativa de retorno imediato através de

propaganda e marketing. Obviamente empresas não se interessão por espaços

localizados em bairros "periféricos" (SERPA, 1999-d, p. 15).

Essa falha, é claro, pode ser sanada. A prefeitura poderia estabelecer parcerias

específicas com os comerciantes dos bairros populares, que mesmo não tendo a

pujança econômica de empresários abastados, sabem o valor da propaganda.

Parcerias também poderiam ser estabelecidas com universidades e ong's, no

169

Page 171: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

sentido de difundir-se a prática de planejamento participativo que, mais do que

apenas recuperar praças, criasse espaços de lazer e socialização densamente

arborizados nos espaços livres desses bairros.

Outra falha grave do programa - esta, muito mais difícil de ser sanada, por

questões de concepção de projetos paisagísticos - é a pouca importância dada ao

aumento da vegetação, principalmente árvores, nas praças "adotadas" por

empresas. O bingo Rio Vermelho, adotou parte do Largo da Mariquita, que é

contíguo à edificação onde a casa de jogos de azar está localizada. Uma de suas

"providências" foi o corte de algumas árvores que atrapalhavam a visualização

de um letreiro eletrônico que faz a propaganda do bingo (CELESTINO, 2000). É

preciso que a prefeitura reveja os critérios adotados para a arborização, se é que

eles existem.

Θ Θ Θ

Em pesquisa com 1000 famílias do município de São Paulo, JACOBI (1996, p.

19-20), constatou que a maioria dos domicílios, de todos os estratos sócio-

econômicos, embora esteja ciente tanto das soluções e possibilidades existentes

para a prevenção dos impactos decorrentes da degradação ambiental,

geralmente aceitam a convivência com esses impactos, assumindo uma atitude

passiva face à existência do problema. Por outro lado, o autor registra um volume

significativo de respostas que enfatizam a relevância da ação governamental

enquanto principal responsável pela preservação ambiental.

Para SILVA & FERNANDES, (1996, p. 61, 62) apesar de uma tímida

conscientização da população soteropolitana de que a problemática ambiental

não será resolvida somente através de ações do poder público, mas também

através de ações da sociedade, onde ainda predomina a crença de que basta a

criação de leis para assegurar-se uma adequada preservação ambiental. Essa é a

opinião de 52,8% dos entrevistados de todas as classes sociais em pesquisa de

Silva & Fernandes.

170

Page 172: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

É óbvio que não se pode isentar o Estado de suas obrigações, mas é urgente que

os citadinos assumam responsabilidades com seu ambiente mais próximo.

Diversificar a cobertura vegetal dos quintais, reciclar o lixo orgânico, dar outras

serventias a garrafas e latas, evitar o desperdício de energia elétrica são atitudes

simples, não onerosas, ao alcance de todos.

Em grande medida essas ações não são correntes porque falta um input de

educação. É preciso que discursos abstratos de preservação do meio ambiente

deêm lugar a ações concretas e cotidianas. É um contrasenso os soteropolitanos

preocuparem-se com a distante floresta amazônica e ignorarem um dos maiores

parque de mata atlântica do Brasil, que fica na sua cidade.

Uma das ações que precisam fazer parte do dia a dia das pessoas é o plantio de

árvores, arbustos e arvoretas. Nos EUA, país com larga tradição em arborização

urbana, para cada árvore existente nas cidades, uma outra poderia ser plantada.

No rítmo atual dos programas de arborização norte-americanos, dobrar o número

de árvores nas cidades levaria 267 anos. Somente um ostensivo programa de

plantios poderia alterar essa realidade (KIELBASO, 1997, p. 8). Não há dados

correlatos sobre a situação brasileira, contudo é bastante provável que o déficit de

árvores nas cidades brasileiras seja maior.

Θ Θ Θ

O mundo se urbaniza velozmente, e a urbanização mais corrente é aquela

efetivada pela pobreza, a qual freqüentemente ocupa áreas de significativo valor

ecológico. Um primeiro olhar sobre essas questões poderia atribuir à distribuição

perversa da renda e a uma política incompetente de saneamento, a

responsabilidade por grande parte das mazelas ambientais urbanas.

A questão é, no entanto, mais complexa. A urbanização promovida pela riqueza

geralmente não atenta à preservação de ecossistemas. São comuns os

aterramentos de manguezais ou devastação de matas para a construção de

grandes complexos urbanos. Além do mais, as cidades são centros de difusão da

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cultura do consumo de bens inúteis, cuja fabricação provoca alterações

ambientais significativas. Se distribuir renda significar apenas habilitar os pobres

ao consumismo e disperdício de recursos, não será esta uma solução para os

dilemas ambientais vividos pela humanidade.

Do mesmo modo, formas tradicionais de saneamento apenas resolvem o

problema da insalubridade para criar outros contratempos. Veja por exemplo o

caso de Salvador. O programa Bahia Azul de saneamento tem como meta dotar a

maior parte da cidade de sistemas de esgotamento sanitário. Mas pouco se

discute sobre o destino final dos dejetos: o oceano atlântico.

Um projeto mais atento à questões ambientais daria outro destino aos dejetos. Na

China, são comuns sistemas que aproveitam as fezes humanas para a obtenção

de gás metano, que pode ser usado para cozinhar. As soluções existem, mas

muitas vezes esbarram em imperativos político econômicos.

Θ Θ Θ

A década de 90 marcou uma virada nas tendências de urbanização brasileira,

com um maior crescimento das cidades pequenas e médias, em relação às

grandes cidades. Muitos dos problemas ambientais freqüentes nas metrópoles

não existem, ou são incipientes, nas cidades menores. É preciso que voltemos

nossas atenções à estas aglomerações, desenvolvendo programas e parcerias

com os governos municipais e populações, com o intuito de não repetir as

mazelas das grandes cidades.

Essas parcerias poderiam inclusive mitigar o desemprego crônico que vêm

afetando até mesmo trabalhadores com alto grau de escolaridade. Programas de

arborização podem empregar de jardineiros a paisagistas, têm um baixo custo, e

os benefícios da maior presença de vegetação nas cidades são muitos.

Recomendamos veementemente para as cidades pequenas e médias o

desestímulo a verticalização. O poder público poderia agir estimulando a

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manutenção de quintais arborizados mediante redução de IPTU (maior número de

árvores, maior o desconto), incentivando incorporadores a canalizar investimentos

na criação de bairros de residências com quintais e espaços livres de edificação

densamente arborizados e de múltiplos usos. Isso estenderia um pouco os limites

das cidades, mas um bom projeto de transporte coletivo de massas solucionaria o

aumento das distâncias.

Sobretudo, recomenda-se o incentivo econômico às práticas ambientalmente

corretas. Deste modo outras idéias também poderiam ser implantadas, como a

criação de florestas urbanas para a produção de madeira, como ocorre em

Zurique e Frankfurt; a transformação de resíduos sólidos de esgoto em adubo,

como acontece na Filadélfia; e Woodlands, no Texas usou seu sistemas de

espaços livres públicos e privados para a drenagem águas das chuvas e

prevenção de enchentes (SPIRN,1995, p. 26). Incentivos também poderiam ser

dados às empresas e ou particulares que construíssem casas ecológicas,

definidas por GRECCO (2000), como habitações construídas com materiais

naturais, renováveis e, acima de tudo, não poluentes. Essa prática é recente no

Brasil, mas em outros países ela é corrente, como na Austrália, onde cerca de

20% das novas construções são de taipa de pilão, ou como na Colômbia e Costa

Rica, onde o bambu é utilizado como estrutura de prédios em lugar de ferro e

concreto.

Em suma, muitas das atividades antrópicas acabam produzindo ambientes

degradados nas cidades, mas com criatividade e respeito ao erário, poderiam ser

desenvolvidos projetos que primassem por uma visão ecossistêmica, gerando

qualidade de vida e renda.

173

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GLOSSÁRIO DE TERMOS

Planejamento

Espaço público

Espaço privado

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ÍNDICE REMISSIVO DE AUTORES

ALBERTI, Marina pp. 25, 28, 42, 155ALVA, Eduardo Neira pp. 39, 155ALVES, José Augusto Lindgren pp. 144, 155AMPLA (Associação dos Moradores de Plataforma) pp. 84, 155ANGEOLETTO, Fábio pp. 33, 100, 115, 149, 155ARAÚJO, Michiko & ARAÚJO, Antonio J pp. 123, 155ARGAN, Giulio Carlo pp. 37, 155ASHTON, Peter S.ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DO PARQUE SÃO BARTOLOMEU / PIRAJÁ PP. 85, 86, 155A TARDE PP. 46, 67, 68, 73, 80, 82, 86, 156

BANDEIRA, Cláudio pp. 68, 156BARBOSA, Francisco R. & PAULA, João Antonio de pp. 69, 156de la BARRA, Ximena pp.28, 32, 156BÓ, Dino Dal pp. 79, 156BÓGUS, Lúcia M. M. pp. 38, 156BONDUKI, Nabil & ROLNIK, Raquel pp. 77, 156

BOOTH, Norman K. pp. 49, 51, 156BORJA, Patrícia C. pp. 31, 36, 41, 156BRADY, Nyle C. pp. 26, 157BRASIL, Heliana M. S pp. 52, 157BUGIN, Alexandre & MARTERER, Bernd pp. 114, 157CABRERA, Valéria pp. 91, 157CALVINO, Ítalo pp. 147, 157CAMPBELL, Tim pp. 28, 44, 79, 126, 157CARR, Stephen pp. 59, 60, 61, 157CARVALHO, Maria Lúcia A. M pp. 119, 157CASTAÑEDA, Fernando Casas pp. 34, 157CAVALCANTE, Eunádia; LIMA, Verônica pp. 127, 157CAVALHEIRO, Felisberto pp 49, 52, 53, 55, 56, 57, 119, 157CELECIA, John pp. 114, 157CELESTINO, Samuel pp. 150, 157CENTRE FOR SCIENCE AND ENVIRONMENT pp. 34, 157CENTRO DE ESTUDOS SÓCIO-AMBIENTAIS pp. 67, 69, 78, 79, 82, 89, 158 CESTARO, Luis Antonio pp. 24, 57, 62, 64, 117, 158

191

Page 193: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

CHALLINOR, David pp. 27, 158CHOAY, Francoise pp. 18, 158CIUDADES PARA UN FUTURO MÁS SUSTENIBLE pp. 22, 57, 158CORNELY, Seno pp. 121, 122, 123, 124, 129, 158CORREIO da BAHIA pp. 73, 80, 87, 113, 158COSTA-NETO, Eraldo Medeiros pp. 141, 158

DEL RIO, Vicente pp. 103, 158DETZEL, Valmir pp. 47, 49, 52, 57, 60, 62, 158 DIÁRIO de NOTÍCIAS pp. 80, 158DIAS, Genebaldo Freire pp. 19, 25, 38, 53, 57, 158DICIONÁRIO MICHAELIS pp. 110, 111, 158DIEGO, Margarita de Luxán pp. 21, 158DIEGUES, Antonio C. pp. 13, 14, 19, 158DIMENSTEIN, Gilberto pp. 134, 158

EDE, Sharon pp 29, 158EHRLICH, Paul pp. 26, 27, 33, 133, 159EKBLAD, Solvig pp 119, 159ENVIRONMENT and URBANIZATION pp. 15, 159ESPÍ, Mariano Vásquez pp. 42, 159

FARIA, Lecticia S. S. pp. 69, 159FELDMANN, Fábio pp. 57, 159FERREIRA, Lair pp. 65, 133, 159FERREIRA, Juca pp. 29, 159FIGHERA, Delfina T. 40, 159FLORESTA, Cleide pp. 33, 38, 159FNMA pp. 13, 159FOLHA de SÃO PAULO pp. 39, 40, 45, 67, 73, 133, 159FONSECA, Gustavo pp. 77, 115, 159FORATINNI, Oswaldo P. pp. 22, 160FOX, Tom & KOEPPEL, Ian pp. 53, 55, 57, 120, 123, 124, 143, 160FRANCO, Maria de Assunção R. pp. 15, 147, 160

GATTI, Marcelo pp. 52, 160GAZETA do POVO pp. 64, 160GÉRMEN pp. 86, 160GILBERT, Oliver pp. 13, 23, 116, 131, 140, 142, 151, 160GIRARDET, Herbert pp. 24, 25, 160GOYA, Claudio R. 48, 160GREATER LONDON COUNCIL pp. 49, 160GREENPEACE pp. 10, 11, 12, 13, 160GRIFFITH, James & SILVA Sebastião pp. 66, 141, 160GRONSTEIN, Marta D. pp. 71, 160

HAHN, Ekhart pp. 16, 110, 160HASENACK, Heinrich pp. 51, 54, 160HOLANDA, Frederico pp. 94, 95, 96, 97, 98,

99, 160

IRGANG, Bruno pp. 63, 161

JACOBI, Pedro pp. 14, 32, 33, 44, 151, 161JANZEM, Daniel H. pp. 141, 161JOHNSON, Liana pp. 24, 25, 161JORNAL da BAHIA pp. 80, 161

KIELBASO, J. James pp. 54, 56, 57, 59, 60, 61, 65, 152, 161KOWARICK, Lucio pp. 32, 34, 35, 44, 161

LACOMBE, Fanny Talice pp. 49, 161LEITE, Marcelo pp. 41, 161LEITE, Maria Angela F. P. pp. 16, 161LEMENHE, José Antonio P. pp. 49, 51, 56, 161LEONARDI, Maria Lucia pp. 85, 161LOMBARDO, Magda pp. 19, 51, 161LOPEZ, Immaculada pp. 33, 161LOVELOCK, James pp. 31, 41, 57, 78, 161LUGO, Ariel E. pp. 28, 29, 162

MACEDO, Maria I. A pp. 47, 52, 55, 57, 162MACEDO, Renato L. G. pp. 140, 162MACEDO, Silvio Soares pp. 3, 28, 34, 119, 162MAGNUSSON, Willian E. & LIMA, Albertina pp. 63, 162MALINSKI, Rogério pp. 130, 162MAMNBA pp. 90, 162MANICA, Ivo pp.132, 162MARICATTO, Ermínia pp. 31, 32, 35, 162MASCARÓ, Lúcia pp. 52, 53, 162MELLO FILHO, Luiz E. pp. 52, 56, 57, 58, 62, 63, 65, 132, 134, 162MENEZES, Eline V. pp. 35, 162MESQUITA, Liana B. pp. 56, 120, 124, 162MILANO, Miguel S. pp. 46, 47, 49, 52, 53, 56, 57, 58, 60, 62, 117, 124, 141, 142, 162MOHR, Udo pp. 24, 47, 162MONTE-MÓR, Roberto Luís de M. pp. 30, 36, 163MORELATTO, Patrícia pp.132, 141, 163MOTTA, Enio P. pp. 64, 163MURPHY, Dennis D. pp. 26, 116, 163MUNIZ, Marize pp. 78, 163MYERS, Norman pp. 26, 163

NAGINO, Yoshiaki pp. 52, 163NATURE CONSERVANCY COUNCIL pp. 62, 118, 142, 143, 163NERY, Jussana Fahel Guimarães pp. 20, 163NEVES, Gervásio pp. 112, 163NEW SCIENTIST pp. 93, 163NOVAES, Washington pp. 79, 163

ODUM, Eugene P. pp. 22, 163

192

Page 194: Pirajá-Um Bairro e Um Parque: A Vegetação como fator de aumento da biodiversidade

ONU pp. 37, 38, 67, 79, 163PACHECO, Regina S. & LOUREIRO, Maria R. pp. 14, 21, 43, 163PARÉS, Maria Isabel & BORJA, Patrícia C. pp. 78, 163PAULA, João Antonio de & BRITO, Fausto R. pp. 21, 42, 163PAULA, João Antonio de pp. 26, 79, 116, 164PAVIANI, Aldo pp. 45, 71, 111, 164PELA, Ida & ANGEOLETTO, Fábio pp. 84, 164PELLEGRINI, Giacomo C. pp. 32, 164PESCI, Rubens pp. 21, 164PEPONIS, John pp. 93, 94, 96, 164PHANTUMVANIT, Dira pp. 34, 164PIGNATARI, Décio pp. 148, 164PMS (Prefeitura Municipal de Salvador) pp. 81, 83, 164PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA pp. 44, 117, 164

QUEIJO, Maria del Carmen & MONTAÑEZ, Margarita pp. 15, 164

RAMOS, Mário pp. 150, 164RAVEN, Peter H. 26, 80, 164 RAVEN, Peter H. & EVERT, Ray pp. 23, 164REVISTA E pp. 115, 164REVISTA ÉPOCA pp.43, 164REVISTA do CREA / PR pp. 79, 164REVISTA GALILEU pp. 78, 164RIGATTI, Décio 93, 98, 164ROCHA, Aristides pp. 63, 164RODRIGUES, Arlette M. pp. 14, 16, 19, 33, 39, 41, 43, 88, 111, 165RODRIGUES, Maria G. R. & BREDT, Angélika pp. 63, 141, 165ROMERO, Marta Bustos pp. 52, 57, 165ROSSEL, Quim

SAHTOURIS, Elisabet pp. 42, 165SANCHOTENE, Maria do C. C. pp. 46, 52, 60, 62, 66, 132, 165SANTANA, Marcos Jorge Almeida pp. 71, 165SANTOS, Aurora G. F. A. & CARVALHO, Adilson de pp. 49, 165SANTOS, Laymert G pp. 25SANTOS, Milton pp. 36, 37, 39, 40, 165SATTERTHWAITE, David pp. 34, 165SEPLAN 82, 83, 165SERPA, Angelo pp. 2, 14, 34, 37, 49, 68, 71, 75, 80, 89, 90, 91, 92, 99, 102, 103, 118, 119, 120, 121, 125, 150, 165SERPA, Angelo & SERPA, Bela pp. 68, 165SERRES, Michel pp. 89, 166SERRA, Geraldo pp. 24, 166SERRA, Olympio pp. 82, 91, 166SILVA, Jair R. da; BRANCO, Ilda H. D. C.;

CESAR, Sebastião F pp. 52, 166SILVA, Paulo R. G. pp. 21, 39, 69, 152, 166SIMEOFORIDIS, Yorgos pp. 16, 166SMARDON, Richard C. pp. 49, 53, 56, 57, 59, 61, 167SOARES, Magda B. pp. 110, 167SOBRAL, Helena R. pp. 29, 167SOUZA, Maria A. L. B pp. 71, 144, 167SOUZA, Hermes M. pp. 117, 167SPIRN, Anne W. pp. 10, 14, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 28, 43, 51, 52, 54, 55, 56, 57, 58, 61, 62, 63, 64, 78, 118, 130, 133, 134, 142, 148, 154, 167STEPHENS, Carolyn & AKERMAN, Marco pp. 34, 167SUPERINTENDÊNCIA de PARQUES e JARDINS pp. 81, 82, 114, 167SUPERINTERESSANTE pp. 41, 167

TAKAHASHI, Leide & MARTINS, S. S. pp. 52, 57, 62, 167TEIXEIRA, Cid pp. 72, 167TEIXEIRA, Wenceslau & SILVA JR, José P. pp. 55, 167TENÓRIO, Fernando pp. 149, 167TODD, John pp. 150, 151, 167TOGNOLLI, Cláudio pp. 38, 167TOLEDO, José R. 38, 40, 167TRIBUNA da BAHIA pp. 73, 80, 167TUR, Antonio Aledo pp. 24, 168

ULRICH, Roger S. pp. 58, 59, 61, 116, 168ULTRAMARI, Clóvis pp. 71, 168ULTRAMARI, Clóvis & MOURA, Rosa pp. 71, 168

VALE, Brenda & VALE, Robert pp. 57, 168VERAS, Lúcia M. S. C. pp. 38, 48, 168VILLAÇA, Flávio pp. 111, 112, 168VILLASANTE, Tomás R. pp. 125, 126, 168VOSS, Walter

WHITE, Anne pp. 24, 38, 66, 168WILSON, Edward pp. 26, 150, 168WINES, James pp. 17, 168WORLDWATCH INSTITUTE pp. 24, 168WWF pp. 10, 168

YAMADA, Takashi pp. 124, 168YOKOHARI, Makoto pp. 57, 168

ZAREMBA, Piotr pp. 19, 21, 30, 169ZELAZOWSKI, Valdemar Hugo pp. 62, 169

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ÍNDICE REMISSIVO DE ASSUNTOS

Ação anti-microbiana das árvores pp. 58Accra pp. 34Acessibilidade às áreas verdes pp. 118, 119Adestramento ambiental pp. 88Agrotóxicos pp. 11, 12Alto de São João pp. 32Ambientalistas pp. 10, 11, 15, 29, 147 Ambiente de entrada pp. 22Ambiente de saída pp. 22Ambiente urbano pp. 19, 21, 23, 34, 43, 47, 49, 56, 102, 147América Latina pp. 37, 40, 149Angela Gordilho pp. 67, 68Angelo Serpa pp. 2, 89, 92, 119Antônia Garcia pp. 85Antônio Imbassahy pp. 83, 84Antônio José Landi pp. 47Arábia Saudita pp. 79Arborização pp. 5, 7, 8, 9, 13, 45, 46, 47, 48, 49,51, 54, 57, 63, 65, 66, 69, 73, 74, 89, 91, 100, 110, 112, 113, 116, 117, 120, 123, 124, 131, 132, 133, 134, 140, 141, 143, 152, 153Áreas de proteção ambiental pp. 32Arembepe pp. 35Arnold Toynbee pp. 42Arquitetos pp. 9, 16, 17, 18, 20, 46, 47, 68, 93, 147, 148Arquitetura pp. 2, 17, 18, 21, 30, 52, 68, 94, 97, 98, 148, 151Árvores pp. 2, 4, 5, 7, 9, 12, 15, 16, 22, 46, 47, 48, 49, 50, 52, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 63, 64, 65, 77, 83, 90, 91, 110, 113, 116, 117, 118, 130, 131, 132, 133, 134, 142, 143, 147, 150, 152, 153Avenida Suburbana pp. 70

Bacia do Rio do Cobre pp. 78Bahia Azul pp. 75Baía de Todos os Santos pp. 69, 75Banco Mundial pp. 39Barragem de Assuã pp. 20Belém-do-Pará pp. 47Benefícios da arborização pp. 49, 51, 58, 60, 61, 65Bill Hillier pp. 93, 97, 98, 99, 102, 103Biodiversidade pp. 7, 9, 13, 24, 26, 27, 46, 63, 78, 80, 109, 110, 114, 115, 116, 118, 142, 147, 148, 150Biólogos pp. 29, 46, 148 Bioma pp. 7, 9, 23, 24, 26, 27, 29, 46, 49, 78,

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110, 114, 117, 124, 140, 141, 147Biosfera pp. 5, 9, 20, 25, 26, 27, 31, 37, 143, 147Bogotá pp. 34 Boston pp. 20, 22, 60Brasil pp. 10Brasília pp. 94, 97Broadacre city pp. 18

Camada de ozônio pp. 10, 14, 15Candomblé pp. 7, 81, 82, 83, 84, 89, 90, 91Capanema pp. 11Carlinhos Brown pp. 87Categorias sintáticas pp. 99CEASB pp. 86, 87Chuva ácida pp.14CIAM pp. 16Ciclos naturais pp. 15, 16, 24, 58, 119Clima pp.24, 51, 52, 53, 55, 63, 133, 134, 140, 149Conjunto Habitacional José Bonifácio pp. 34Corredores de vegetação pp. 13, 66, 118, 142Corujas pp. 141

Daniela Mercury pp. 87Degradação ambiental pp. 7, 14, 31, 34, 41, 152Desenho ambiental pp. 147Desenvolvimento sustentável pp. 10Desmatamento pp. 10, 12, 14, 83Detroit pp. 22, 58Direita pp. 16Dispersores de sementes pp. 5, 91, 115, 116, 130, 131Diversidade vegetal pp. 9, 61, 77, 104, 110, 117, 118, 124, 135, 140

Ecologia pp. 2, 5, 15, 18, 20, 21, 22, 30, 62, 114, 148Ecologia da restauração pp. 148Ecossistemas pp. 5, 10, 14, 15, 19, 20, 22, 23, 26, 27, 28, 29, 31, 35, 44, 46, 48, 52, 61, 62, 63, 78, 88, 92, 114, 115, 118, 140, 147, 148Educação ambiental pp. 5, 28, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 119, 132, 142Egito pp. 20, 79EMBASA pp. 78, 80Encostas pp. 43, 88Ervas daninhas pp. 26, 142Especulação imobiliária pp. 35, 44Esquerda pp. 16Esquistossomose pp. 20Estado pp. 34, 36, 40, 75, 112, 149, 152Estrada do Colono pp. 10, 12E.U.A.pp. 17Evapotranspiração pp. 53, 54

Família Martins Catharino pp. 75

Fauna pp. 13, 61, 62, 85, 114, 115, 117, 118, 131, 134, 140, 142, 151FEBACAB pp. 82, 89, 91Filadélfia pp. 60, 154 Flora pp.13, 62, 63, 85, 89, 115, 117, 142, 151Floresta tropical pp. 10, 14, 22, 78, 80, 141Fortaleza pp. 35 Frank Lloyd Wright pp. 18Fundo Nacional do Meio Ambiente pp. 13

Gestão pp. 5, 21, 82, 83, 84Globalização pp. 37, 39, 40Governo Federal pp. 13

Homo sapiens sapiens pp. 41

IBAMA pp. 12, 13IBGE pp. 69Ilha de calor pp. 53, 54Impactos ambientais pp. 9, 18, 28, 35, 40Inversão térmica pp. 55

Jordânia pp. 79José Clewton Nascimento pp. 36

Largo da Mariquita pp. 150Le Corbusier pp. 17, 18Líbano pp. 79Lídice da Mata pp. 82Londres pp. 24, 25, 94Los Angeles pp. 25

Margareth Menezes pp. 87Maringá pp. 124, 175Mata atlântica pp. 5, 13, 32, 75, 76, 77, 78, 142, 152Maurício de Nassau pp. 48Mercado imobiliário pp. 32Microclima pp. 5, 47, 51, 52, 130Modernistas pp. 18Morcegos pp. 6, 132, 140, 141, 143

Nanã pp. 89, 90Natureza pp. 2, 5, 7, 9, 10, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 22, 24, 26, 28, 29, 37, 41, 42, 43, 47, 58, 60, 63, 90, 91, 143, 147, 148, 149Nova Iorque pp. 40, 60, 123, 143

Omolu pp. 89Organizações não governamentais (ong's) pp. 7, 10, 88, 89, 126, 150, Orixás pp. 82, 89, 90, 91Orla pp. 70, 88Oxum pp. 84, 89, 90Oxumaré pp. 89, 90

Paisagem pp. 16, 17, 23, 47, 49, 62, 68, 73, 117Paisagem ecológica pp. 23

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Paisagem jardim pp. 23Paisagem tecnológica pp. 23Paisagismo pp. 63, 119, 151Parques pp. 17, 18, 48, 60, 61, 63, 119, 123, 130, 133, 134Parque de Pituaçu pp. 18, 142Parque Metropolitano de Pirajá pp. 43, 52, 69, 71, 73, 75, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 114, 115, 116, 116, 117, 118, 119, 135, 141, 142, 151, 152Parque Nacional do Iguaçu pp. 11Parque São Bartolomeu pp. 76Pegada ecológica pp. 25Periferia pp. 40, 51, 66, 71, 118Piracicaba pp. 55, 117Pirajá (bairro) pp. 2, 3, 5, 6, 7, 8, 9, 33, 67, 69, 71, 73, 74, 75, 79, 80, 91, 92, 96, 79, 100, 101, 102, 103, 109, 110, 112, 113, 114, 118, 119, 120, 124, 126, 131, 134, 140, 143, 144Pirajá Rumo ao Terceiro Milênio pp. 114Planejadores pp. 17, 20, 44, 47, 110, 120, 121, 127Planejamento pp. 5, 7, 8, 9, 15, 19, 20, 21, 39, 43, 44, 45, 59, 62, 65, 66, 68, 82, 92, 96, 99, 100, 102, 110, 112, 114, 119, 120, 123, 124, 125, 130, 131, 142, 147, 148Planejamento participativo pp. 8, 9, 45, 121, 122, 124, 126, 128, 150Planejamento tecnocrático pp. 122, 123Poder público pp. 5, 7, 15, 45, 88, 124Polinizadores pp. 5, 91, 115, 116, 130, 131 Políticas urbanas pp. 21Poluição pp. 7, 22, 27, 34, 40, 41, 47, 49, 55, 56, 57, 58, 61, 63, 65, 69, 75, 117, 133, 134Pomares pp. 8, 89, 109Porto Alegre pp. 94Praças pp. 5, 34, 46, 48, 60, 61, 73, 92, 102, 112, 113, 114, 119, 123, 133, 134, 141, 149, 150 Pressões urbanas sobre as árvores pp. 7, 63Problemas causados pela arborização pp. 7, 65Problemática ambiental pp. 10, 152Programa de adoção de praças Projetos pp. 2, 5, 9, 13, 17, 20, 22, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 59, 60, 62, 63, 75, 84, 85, 86, 88, 89, 100, 118, 119, 121, 122, 123, 124, 126, 127, 129, 130, 133, 143, 146, 147, 149, 150, 153, 154Projeto Espaço Livre pp. 13, 102, 104, 124

Quintais pp. 3, 5, 8, 9, 48, 92, 102, 103, 104, 105, 106, 107, 108, 110, 134, 135, 136, 137, 138, 139, 140, 141, 143, 152, 153Qualidade de vida pp. 7, 8, 9, 25, 27, 28, 33, 44, 46, 47, 103, 112, 114, 147, 154Qualidade ambiental pp. 13, 111Questão urbana

R. Waldo Emerson pp. 17, 18Recursos naturais pp. 13, 25Redes pp. 36, 37, 96, 126, 129Renan Baleeiro pp. 33, 81, 82, 87Reservas ecológicas pp. 13Rio de Janeiro pp. 48Rio do Cobre pp. 78, 80Rio Iguaçu pp. 12Rio Nilo pp. 20

Salvador pp. 5, 6, 7, 9, 13, 43, 67, 68, 69, 70, 81, 82, 86, 91, 92, 102, 103, 118, 119, 142, 149, 150, 176São Paulo pp. 33, 34, 35, 37, 38, 151Segregação espacial pp. 73, 112Serranópolis do Iguaçu pp. 11, 12Serviços ecológicos pp. 26, 27, 62, 65, 149Shopping center pp. 20, 35, 36, 54Sintaxe espacial pp. 5, 7, 92, 93, 94, 95, 97, 98, 99, 101, 102, 103Síria pp. 79Subúrbio Ferroviário de Salvador pp. 7, 69, 86Superpopulação pp. 7, 40, 41, 43

Tasso Jereissati pp. 36Tempo (orixá) pp. 89, 90Terceiro mundo pp. 14, 34, 38, 39, 41, 79Thomas Jefferson pp. 17Thoreau pp. 17

UNESCO pp. 19, 87União Européia pp. 129, 143Urbanismo pp. 2, 16, 21, 30, 45, 81, 97, 98, 148Urbanistas pp. 19, 20, 21, 46, 113, 118, 124Urbanização pp. 7, 9, 14, 21, 22, 24, 29, 30, 31, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 44, 45, 51, 62, 68, 70, 73, 153Urbanização extensiva pp. 7, 9, 36, 37, 39, 45URBIS pp. 73, 74, 113, 114

Vitória (ES) pp. 44, 117

Washington pp. 130Woodlands pp. 154

Zurique pp. 154

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Breve Biografia do Autor

Nasci em Maringá (PR), uma das cidades mais arborizadas do Brasil, em 9 de setembro

de 1970. Dois fatores foram decisivos na minha vida: ter estudado em um bom colégio

particular (graças aos esforços de minha mãe, e a uma bolsa parcial), e ter vivido em um

ambiente onde a leitura era muito estimulada. A pouca escolaridade dos meus pais não

os impediu de gostarem muito de ler, revistas, gibis e jornais, o meu pai, e romances,

minha mãe. Assim, desde cedo me habituei a ler e ser curioso.

Entre 1989 e 1994, cursei Biologia na Universidade Estadual de Maringá. Anos de

aventuras, viagens, posições iconoclastas, primeiros contatos com o “fazer” Ciência.

Trabalhei em projetos de extensão em Maringá e em assentamentos do Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, no interior do Paraná. Fui bolsista de iniciação

científica do CNPq, com o projeto Medicina Popular em Bairros de Maringá / PR.

Logo após colar grau, diploma na mochila e até logo Paraná. Chegando em Salvador, em

poucas semanas me deparo, maravilhado, com o amálgama tão peculiar entre o Parque

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Metropolitano e o seu entorno de atividades humanas. Conhecer essa mistura mudou

minha maneira de agir como biólogo. Essa dissertação é um dos frutos dessa mudança.

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