Pintura mural

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História da Arte I – Bacharelado em Design – IFSul Pintura Mural da Pré-história à Contemporaneidade COITINHO, Manuela A. Graduanda do Curso Bacharelado em Design. Instituto Federal Sul-Rio- Grandense – IFSul ([email protected]) Passados milhares de anos das primeiras manifestações artísticas, a forma mais simples de transmissão de conceitos e valores surge na necessidade de comunicação e continua presente na sociedade, se mostrando em diferentes períodos da história. A pintura mural, também conhecida como muralismo, é o tema escolhido para o presente artigo. Um dos motivos é o fato da grandiosidade da obra enquanto forma: a relação de metros gera fascínio pelo estudo do mural e outro, se não o mais importante, é sua função sociocultural e educativa; para fins acadêmicos serão tangenciados ainda pontos como a relação do uso das cores e de elementos típicos à época dos movimentos que cada tema pertence, assim como a relação dos mesmos e sua função social, sem adentrar nas subdivisões de cada período histórico. Durante o período pré-histórico, não eram oficialmente conhecidas técnicas e materiais que possibilitassem o poder de expressão de ideias, emoções e crenças no que tange as artes, justamente por esse período ser anterior à escrita (MONTEIRO, Acesso 2012). Assim, a geometrização das formas e o naturalismo são as principais características recorrentes do modo como o ser humano representava e registrava visualmente os temas da época. Era de conhecimento comum que, misticamente, a impressão de imagens como animais feridos e em fuga inferia que estes seriam possuídos; por esse mesmo motivo, o homem não retararia seu semelhante, seria perigoso ou inconveniente tal acontecimento (MONTEIRO, Acesso 2012; CAVALCANTI, 1968. p. 1-15).

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História da Arte I – Bacharelado em Design – IFSul

Pintura Mural

da Pré-história à Contemporaneidade

COITINHO, Manuela A. Graduanda do Curso Bacharelado em Design. Instituto Federal Sul-Rio-

Grandense – IFSul ([email protected])

Passados milhares de anos das primeiras manifestações artísticas, a forma mais

simples de transmissão de conceitos e valores surge na necessidade de

comunicação e continua presente na sociedade, se mostrando em diferentes

períodos da história.

A pintura mural, também conhecida como muralismo, é o tema escolhido para o

presente artigo. Um dos motivos é o fato da grandiosidade da obra enquanto forma:

a relação de metros gera fascínio pelo estudo do mural e outro, se não o mais

importante, é sua função sociocultural e educativa; para fins acadêmicos serão

tangenciados ainda pontos como a relação do uso das cores e de elementos típicos

à época dos movimentos que cada tema pertence, assim como a relação dos

mesmos e sua função social, sem adentrar nas subdivisões de cada período

histórico.

Durante o período pré-histórico, não eram oficialmente conhecidas técnicas e

materiais que possibilitassem o poder de expressão de ideias, emoções e crenças

no que tange as artes, justamente por esse período ser anterior à escrita

(MONTEIRO, Acesso 2012). Assim, a geometrização das formas e o naturalismo

são as principais características recorrentes do modo como o ser humano

representava e registrava visualmente os temas da época. Era de conhecimento

comum que, misticamente, a impressão de imagens como animais feridos e em fuga

inferia que estes seriam possuídos; por esse mesmo motivo, o homem não retararia

seu semelhante, seria perigoso ou inconveniente tal acontecimento (MONTEIRO,

Acesso 2012; CAVALCANTI, 1968. p. 1-15).

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Figura 1: Pinturas Rupestres, c. 30.000 - 28.000 a.C., França, Gruta de Chauvet.

Disponível em: <http://umolharsobreomundodasartes.blogspot.com.br/2009/03/pre-historia-e-

considerada-uma-das-eras.html>. Acesso em 25/03/2012.

Com o passar dos anos, essa temática é alterada, saindo da figuração mística real

geometrizada para a figuração de aplicação à pintura decorativa, chegando à

abstração total geométrica, também decorativa (CAVALCANTI, 1968. p. 1-15).

Figura 2: Caçador, c. 6.000 a.C., Cidade de Çatal Hüyük.

Disponível em: <http://umolharsobreomundodasartes.blogspot.com.br/2009/03/pre-historia-

e-considerada-uma-das-eras.html>. Acesso em 25/03/2012.

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Na produção desses grafismos, com a inexistência de materiais para essa

finalidade, os pré-históricos faziam uso de diferentes produtos que possibilitavam a

gradação de claro-escuro, como minerais, frutos, óleos vegetais e animais, carvão

de ossos e madeira. O resultado era uma paleta de cores escura com a presença do

preto, do marrom, do vermelho e do verde, por exemplo. Futuramente os tons de cor

foram discriminados pela utilização de materiais calcinados tornando as artes

rupestres, grafismos até então repletos de personalidade, um indicativo de evolução

da humanidade (CORDEIRO; BATISTA; BARCELOS, 2008).

No início da Idade Moderna o estudo das cores foi retomado e a pintura mural

apresentava o foco já bastante diferenciado do mural rupestre.

Aqui, há uma interpretação científica do mundo e com a física há a descoberta da

refração da luz, adaptada para as obras de arte pelo uso de cores claras e escuras,

quentes e frias (CORDEIRO; BATISTA; BARCELOS, 2008), trazendo a sensação de

real às pinturas com a volumetria e o distanciamento (perspectiva) resultantes

(HISTORIANET, Acesso em 2012; PROENÇA, 2005). Nessa época já eram

desenvolvidos estudos de arte para materiais e cores; as representações visuais do

período variavam de acordo com a escola renascentista a qual o artista pertencia,

com todas elas priorizando o contraste pela luz, obtido pelas próprias cores e suas

várias tonalidades (CORDEIRO; BATISTA; BARCELOS, 2008).

Dentre os estudiosos à época, Leon Battista Alberti (1404-1472) foi um grande

nome, mas o mais importante da revolução renascentista foi Leonardo Da Vinci

(1452-1519) – seus estudos sobre as cores foram publicados após sua morte,

mostrando diversas técnicas e conceitos criados por ele. Da Vinci reformula ainda o

conjunto de cores puras, as quais chamou de “simples”, pela impossibilidade de

surgir por mistura. Apesar de conhecer muitas expressões que diziam que o preto e

o branco não seriam cores, ele anexa as duas ao seu conjunto, influenciando a

discussão óptica de que o branco simbolizaria a luz e o preto, as trevas

(CORDEIRO; BATISTA; BARCELOS, 2008).

Nesse período, ocorre um súbito revival dos ideais greco-romanos com a vasta

utilização de alegorias (sem muitas relações entre si, unidas pelas formas e a

relação figura x fundo), momento denominado humanismo¹ (CAVALCANTI, 1968. p.

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221-240). Os murais dessa época são feitos por meio de afresco e são

prioritariamente utilizados para a transmissão de cenas bíblicas, nos padrões da arte

que era desenvolvida. Para que existisse a eficiência desses murais, os pintores

eram contratados para realizar a decoração das Igrejas e Capelas principalmente,

criando uma atmosfera de local sagrado, onde somente homens bons e puros

poderiam chegar aos céus. Como exemplo de afresco com alegorias temos A

Primavera onde, ao centro, vemos a deusa Vênus, acima dela o Cupido e à

esquerda as Três Graças. Dentre outros mais conhecidos estão Última Ceia, A

Criação do Homem e A Escola de Atenas onde, neste último, há claramente a

representação do espaço arquitetônico e a ordenação das figuras com equilíbrio e

simetria (PROENÇA, 2005).

Figura 3: Sandro Botticelli, A Primavera, 1478, técnica, 203 x 314 cm, Florença, Galleria

degli Uffizi.

Disponível em: <http://springspring.wordpress.com/2010/03/28/primavera-by-sandro-

botticelli/>. Acesso em 25/03/2012.

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Figura 4: Leonardo Da Vinci, Última Ceia, 1495-1497, afresco com óleo e estuque, 460 ×

880 cm, Milão, Refeitório de Santa Maria delle Grazie.

Disponível em: <http://blog.hipertacular.com/2010/03/05/a-santa-ceia-de-da-vinci/>. Acesso

em 25/03/2012.

Figura 5: Michelangelo, A Criação do Homem, 1511, afresco, 280 x 570 cm, Roma, Capela

Sistina.

Disponível em: <http://www.getinvolved.com.br/?p=4079>. Acesso em 25/03/2012.

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Figura 6: Rafael Sanzio, A Escola de Atenas, 1506-1510, afresco, 500 × 700 cm, Vaticano,

Palácio Apostólico.

Disponível em: <http://nicholasgimenes.blogspot.com.br/2010/10/filosofia-e-util-aos-

administradores.html>. Acesso em 25/03/2012.

Como expressão contemporânea de arte mais democrática existente, temos o grafite

surgindo como forma de contestação político-social que, mostra-se em

manifestações urbanas, as quais lhe conferem uma estética múltipla (VIANA, 2005);

sendo assim, pede uma análise comunicacional por ser esta uma arte voltada ao

grande público, de diversas classes sociais e graus de instrução.

O grafite surge em um momento onde as tecnologias estão em constante mutação e

novas técnicas de reprodução visual se difundem, se prestando, como arte

democrática, a qualquer tipo de representação imagética (VIANA, 2005).

Na análise das imagens do mural contemporâneo inferimos que os grafites fazem

uso de cores instigantes, de acordo com o tema e a finalidade.

Para exemplificar, na publicidade temos a campanha “Joga Bonito”², da Nike –

empresa de material esportivo, de grande poder econômico e midiático. Nela foram

usadas cores vivas e alegres bem como deve ser o mundo dos esportes.

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Figura 7: Campanha Joga Bonito, com lançamento em 2006, série de murais de afresco,

dimensões desconhecidas.

Disponível em: <http://wwwjogabonitoblogspot.blogspot.com.br/>. Acesso em 25/03/2012.

Figura 8: Sérgio Settani Giglio, Joga Bonito, 2010, afresco, dimensões desconhecidas,

Berlin, Alemanha³.

Disponível em: <http://www.ludopedio.com.br/rc/index.php/futebolarte/view/1174>. Acesso

em 25/03/2012.

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Citemos também murais de contestação, que apresentam tonalidades mais escuras,

inclusive chegando ao preto; essas cores e tons identificam o tema proposto com

propriedade, como podemos ver nas imagens abaixo (LUPÉDIO, Acesso em 2012;

ARQUITETÔNICO, Acesso em 2012).

Figura 9: Dados desconhecidos.

Disponível em: <http://adrivivalavida.blogspot.com.br/2010/12/bahhh-e-uma-das-coisas-que-

mais-fiz.html>. Acesso em 25/03/2012.

Figura 10: Robert Banks4, Siga seus sonhos, Anos 80, Stencil, dimensão desconhecidos,

Inglaterra.

Disponível em: <http://www.arquitetonico.ufsc.br/banksy>. Acesso em 25/03/2012.

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O estudo das artes nos faz compreender muitas características do ser humano e seu

entorno, como sua forma de pensamento e as mudanças tanto físicas como

psicológicas que sofremos. Com a arte mural (ou muralismo) temos essa questão

nitidamente exposta e, juntamente com as cores usadas em cada momento, torna o

muralismo uma eficiente ferramenta de estudo da humanidade e de comunicação

através dos tempos.

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¹Nesse momento o corpo, gestos e feições são explorados com afinco, colocando o ser humano no centro de

todos os interesses.

²Campanha criada especialmente para a Copa do Mundo da Alemanha; traz a proposta de mostrar que é

possível uma convivência pacífica e com menos preconceitos no mundo do futebol, ilustrando personagens

como os jogadores Robinho, Thierry Henry e Wayne Rooney.

³O grafite no muro intitulado Joga Bonito tem o rosto de quatro jogadores brasileiros: Robinho, Ronaldinho

Gaúcho, Ronaldo e Adriano.

4Artista de rua britânico, cujos trabalhos em stencil são facilmente encontrados nas ruas da cidade de Bristol;

numerosas manifestações de Banksy também são encontradas na capital britânica, Londres, e em várias

cidades do mundo.

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REFERÊNCIAS

MONTEIRO, Marcos de Oliveira. História da Arte Mural . Campo Grande: Curso de Artes Visuais UFMS, sem data. Disponível em: <http://www.oocities.org/br/marcosdeoliveiramonteiro/Enquetes/Historia_da_arte_Mural.htm#PRÉ-HISTÓRIA>. Acesso em: 24 mar. 2012, 19:30.

CORDEIRO, Douglas Farias; BATISTA, Marcos Aurélio; BARCELOS, Celia A. Zorzo. O Universo das cores – da Idade das Cavernas ao Renas cimento . Uberlândia: 5ª Semana Acadêmica da UFU, 2008. Disponível em: <https://ssl4799.websiteseguro.com/swge5/seg/cd2008/>. Acesso em: 21 mar. 2012, 22:40.

CAVALCANTI, Carlos. A Pré-História. História das Artes I . Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. P.1-15.

CAVALCANTI, Carlos. Renascença. In: História das artes I . Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. P. 221-240.

HISTORIANET. A Arte Renascentista . Disponível em: <http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=215>. Acesso em: 25 mar. 2012, 00:50.

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PROENÇA, Graça. O Renascimento na Itália. In: Descobrindo a História da Arte: livro do professor . São Paulo: Ática, 2005. P. 64-75.

VIANA, Maria Luiza Dias. Dissidência e Subordinação: um estudo dos grafites como fenômeno estético/cultural e seus desdobramentos . Criciúma: Grupo de Pesquisa, Ensino e Extensão em Educação Estética da UNESC, set. 2005. Disponível em: <www.gedest.unesc.net/seilacs>. Acesso em: 21 mar. 2012, 22:03.

LUDOPÉDIO. Futebol pelo mundo . Disponível em: <http://www.ludopedio.com.br/rc/index.php/futebolarte/view/1174>. Acesso em: 25 mar. 2012, 19:59.

ARQUITETÔNICO. Banksy . Disponível em: <http://www.arquitetonico.ufsc.br/banksy>. Acesso em: 25 mar. 2012, 20:33.