PINHEIRO-A noção de gênero para análise de textos midiáticos

download PINHEIRO-A noção de gênero para análise de textos midiáticos

of 19

Transcript of PINHEIRO-A noção de gênero para análise de textos midiáticos

  • 5/14/2018 PINHEIRO-A no o de g nero para an lise de textos midi ticos

    http:///reader/full/pinheiro-a-nocao-de-genero-para-analise-de-textos-midiatic

    Jose Luiz :MeurerDesiree Metra-Roth (org'.)

    Generos

    textuaise praticas discursivasSubsidios para 0 ensino da linguagem

    EDEdltora da Unlversldade do Sagrado Cora'tio

  • 5/14/2018 PINHEIRO-A no o de g nero para an lise de textos midi ticos

    http:///reader/full/pinheiro-a-nocao-de-genero-para-analise-de-textos-midiatic

    EDEditora da Universidade do Sagrado Corac;:io

    Rua I rma Ann in da, 10 -5 0CEP 17011-160 - Bauru - SPFone (14) 235 -7 111 - K1X (1 4) 2 35 -7 21 9

    e-mail: eclusc@uscbr

    C57JCeneros textuais e praticas discursivas. subsidios para 0

    ensino cia linguagem I Jose Luiz Meurer, DesireeMorta-Roth (orgs.), - - Bauru, SP EDUSC, 2002.318 p. : il. ; Hem . - - (Colecao Signulll)Inclui bibliografia.I SBN 85-7460 -14 ]- 11. Linguagein. 2. Analise do discurso litenirio. 3. Estilo

    literario. 4. Praticas sociais. 1 . Meurer, Jose Luiz II. Motta-Roth, Desiree. III 'IItulo IV Serie.

    COD. 410

    CO/Jyr igh t ED USC , 2002

  • 5/14/2018 PINHEIRO-A no o de g nero para an lise de textos midi ticos

    http:///reader/full/pinheiro-a-nocao-de-genero-para-analise-de-textos-midiatic

    T U L o l 2/\ l'

    A nocao de generapara an a lise d e textosmidiaticos

    N ajara Fer rar i PINHEIROUniversidade de C axias do Sui

    Persistir ern se ocupar dos generos pode p8recer atual-mente urn passatempo ocioso, qui",] anacronico. Toclossabern que nos aureos tempos dos classicos havia baladas,odes, sonetos, tragedias e comedias, e hoje? (Tzvetan To-c1orov)

    Introducaoo estudo de generos implica urna reflexao sobre certas

    questoes fundamentais como a relacao entre 0 universal e 0hist6rico e sobre 0 conceito de genero. Levando-se em contaque a deterrninacao do estatuto generico de urn texto esta tan-

    259

  • 5/14/2018 PINHEIRO-A no o de g nero para an lise de textos midi ticos

    http:///reader/full/pinheiro-a-nocao-de-genero-para-analise-de-textos-midiatic

    to no querer dizer do produtor quan ta no que e percebidop elo r ecepto r, tend e-s e a conceber qu e essa percepcao Igene-rica] orienta 0 h or iz on te d e expectativas d o r ecepto r d o tex to.

    A p ar tir e li ss o, r et om a -s e a nocao d e g en er a, pm a in ves-tigar o s g en er as m i dia tic os . N o encarninhamento clessa disc us -s ao , d es ta ca m -s e d ois a sp ecto s: (1 ) d es vin cu la r a n o c n o d e ge-n era con fon ne tr ad icio na lm en te co nceb ido n a liter atu ra; (2)apon tar a nocao de genero nas pesqu isas contemporaneas es ua r ele va ncia p ar a a a na lis e d e tex to s m i dia tic os ,

    P ela t ra di ca o l it er ar ia , um genero hist6 rico pode serconsiderado lim con jun to de normas, de regras do [ogo,que deterrn ina a m aneira com o 0 leiter dev er a ler 0 texto.Em outros terrnos , 0 genero e U ln a ins ta ncia qu e d eterm i-na a leitu ra de um tex to desde 0 ponto de vista de sua for-m a e d e s eu co nte ud o.

    As con ven co es g enericas sa o s ign ificad os qu e os in di-v iduos u ti] izarn e recr ia rn para ler 0 tex to a par tir de papeispre-detenninados historicarnente. As r eg ra s s e repetern e sereproduzern, ultrapassando 1im ites d e espaco e tem po e, am e clid a q ue r eco rr em , sinalizarn a ex is te nc ia d e c on tr ato s,de acordos tacitos, perpetuados o u r ecr ia do s, e ntr e produto-r es e r ecep tor es, env olv ido s p ela s pniticas sociais com uns ad ete rr nin ad os g ru po s. E ntelld a-s e p or p nitica s S OC i8 is as p ra -ticas de interacao nos diferen tes u lveis de organ izacao deum a sociedade (Fairclough, 1995a, p. 134).A recorrencia ou a repeticao frequen te e asseguradaquando par te da infonnncao torna-se obr igator ia em urnconjun to de textos. Esse e 0 caso da linguagem Iorm ulaicad e g en er os e sp ec if ic os (genre-specific [ormulaes, tal com o aintrcducao "Era lim a vez", nos con tos de fach, ou s in tagm asc on etiv os , ta is c om o 0 es tereotipo "e enta o", na s narrutivas,b "~II" t t" t -m com o 0 porque e 0 por 'an 0 , na argum en acao(P os ner , 1 99 7, p. 47 ).

    2 6 0

    A identificacao de um a variedade de generos queo pe ra m c len tr o de c1 if e re n te s c on te x to s pos sibi li ta de st aca ra cornp lexa e d inam ica natu reza da linguagem , enquan totexto, na socieclacle contemporanea. P a ra e st ab el ec er Ullpanoram a sobre as producoes midiaticas, po r exernplo, oses tuclos clesenvolviclos por Todorov (1980), Bakhtin(1992), Swales (1990) e Longacre (1992), a respeito daco nfigu racao gen er ica de difer entes tex tos , tem -se to rna doim por tan tes para fundam entar as pesqu isas que em ergemn o fina l da decada de 90 .

    N o B ras il, as pesqu isas sobre configuracao gener icateui side desenvolviclas pO l' M eurer (ver , por exemplo,1998; 2 0 0 0 ) , Motta -R oth (J 99 8a ; 2 0 0 0 ) e H eber le (1997 ;1 99 9) , e nt re outros que inves tigam generos em cliferentescontextos.

    N a co ncep ca o teor ica , 0 conceito bakhtiniano de ge-nera pode ser pensado com o UIlI even to recor ren te de co-m unicacao em que um a clelenninada a tiv id ad e h um a na ,envolvendo papeis e relacoes socia is, e m ediada pela lin-gllagem (Motto-Roth, 1998b, p . 127). C enero , aqu i, estarelacionado a constantes inscritas em tex to s qu e r ep res eI l-ta m u rn da do ev en to co m un ica tiv o (p. ex ., lim tex to pu bli-citar io, urn program a de entrevistas na televisao, um a re-p or ta ge m j or na li sti ca Oll um editor ial em revis tas fem in i-nas) . 0 term o, am plam ente u tilizado pela retor ica , pelateo r ia [iterar ia, pela linguis tica e, m ais recen tem ente, pelat eo r ia m i d ia li ca , e adotado nes te trabalho para fazer refe-r en cia a clifer en tes cla ss es a u tip os d e tex to s.

    N e st e c a pi tu lo , 0 in ter ess e es ta an tes cen tra do no r es-surgim en to dos generos com o Fonte de analise de p roclu tosm idia ticos do que na vinculacao dos m esm os a n 09 80 tra -dicional cle base litera ria . E m fU ll980 disso , ap resen ta-se atransform acao da ll0950 de generos , clescle a perspectiva

    26 1

  • 5/14/2018 PINHEIRO-A no o de g nero para an lise de textos midi ticos

    http:///reader/full/pinheiro-a-nocao-de-genero-para-analise-de-textos-midiatic

    classica, para, em seguida, aproximar alguns conceitos como intuito de redimensionar e ampliar a nocao de generap ar a a a na lis e de textos conternporaneos.

    pesde a literatura class ica, ha uma preocupacao emreunir os textos que obedecam a uma tipologia geral, pelas;;';pecificidacles e pelas diferencas que mantem entre si.Mas 0 gue se pode observar e que os estudos envolvenclotextos e generos nao se esgotam nem nas pesquisas dos clas-sicos, nem naquelas desenvolvidas por auto res conternpora-neos. A prolife racao de "novos" generos cer tamente esta as- 'IIsociada aos avances tecnologicos e a velociclade na comu-nicacao no mundo conternporaneo. A dinamicidade do ,fmeio, porinterferencia ou contaminacao, mcdifica tanto IIas forrnas de relacoes humauas quanto as [onuas de repre- ii 'sent. ar 0mundo atraves das diferentes lingllagens - sonoras)e vis~lais - que, numa grande variedade de textos, frequen-temente, co-ocorrem e interagem.

    Qmmdo se lisa 0 Ierrno linguagem, adota-se aqu i ac on ce pc ao h al li da ya na em que a Iinguagem e considerada~Ill sistema sociossemi6tico que relaciona varies sistemasde significac;@o constituintes da cu]tura_l.!!!!.!lapa,_ na produ-~~o d~ se_~~t:iflos,materializando-se no ~ e _ 2 ( t 2 (Halliday &Ha-san, 1985).

    Reportando-se a origem literaria da nocao de gene-ros, Cenette (1998) procura tracar uma linha historica, re-visitando autores tais como Diomedes, Frye, Schlegel,Goethe, Scholes e Todorov, que pensaram os generos emcliferentes epocas da historia da literatura. Nessa aborda-

    gem historica, atribui a Aristoteles e a Platao, a distincao~~t;-~hes fOf1l1asgenericas fundamentais: C ! lirico, 0 epico;_~ dramatico - mesmo gu~, a priori, a concepcao generi-; ; 1 tenha s ido rechacada pelos dois filo sof os . E m tal d iv is ao ,a-sdis tiI~coes estao fundamentalmente vinculadas ao modo~k~l~a~;]; ou de representacao da realiclacle.> " No ~ecu]o 4, ao clef inir os generos, Diomedes, siste -matizanclo Platao, define-os segundo a representacao guefazem do autor e dos personagens nas obras. Ao lirico per-tencem as obras em que fala apemls 0 autor , ao epico, aque-las ern q ue a uto re s e personagens tern direito a voz e, aodramatico, estao associadas obras em que apenas os perso-nagens [a lamo Assim concebida, .....divisaoIundameutal ti-nha urn esta tuto bern definido, pois estava fundado explici-tmnent~ no modo de" e nunciacao dos textos. Para Geneile(1998), os modes de enunciacao podem ser qualificadoscomo form as naturais, ao menos, no rnesmo sentido que secoriceituam Ifnguas naturais.

    Embora 0 moclo ck_enun

  • 5/14/2018 PINHEIRO-A no o de g nero para an lise de textos midi ticos

    http:///reader/full/pinheiro-a-nocao-de-genero-para-analise-de-textos-midiatic

    tera tu ra. No entanto, m esm o considerando a divisao de ge-neros ultrapassada , B lanchot nile deixa de inves tigar aso bra s s ob 0 pon to de vis ta de um genero, a litera tu ra. Paraele a Iiteratura e 0 "genero", unico e t ot al .

    A ss im c om o p er ceb id os pO I B lanchot, os tex tos ou asobras, a gr up ac lo s e m hmcao de conven~?~~, - de normatiza-~o es o u class ificacoes , estar ia m sub ord in ado s a estrutur as~ oer citiv as e in ib id or as d a c ria tiv id ad e q ue a pr is io na rn o s tex -t;;eIPortant;, seus proclutores; a regr as e a mod el o s r f gi d~ s ,l im i ta do re s d o e sp a< :; o de criacao. A s d iv er gen cia s en tr e es set e6 ri co , - qu e ~ ef ut a 0 m odelo tradicional de genero e aque-le s q ue , c om o B ak htin (1 99 2), r eiv in dic am 0 esp aco d a cr ia -< :;a oliter ar ia , p ar ece m e sta r a po ia da s n a v is ao , b as ta nte r es tr i-ta, de que os generos podern ser considerados um conjuntod e n or m as coercitivas, conforrnadoras de l im p ad ra o.

    Genette (1998) e T od or ov (1980), po r afastarem-se.c1 8 con cep cao classica, creem que os g ener os 8U tj gOS nao .'desgparecern, eles a pen as s ao substitufdos.por.formas gene-ricas novas. P ar a T od or ov (id .), "nao sa o '03'27 g eller os q ued ~s a~ ar ecer am , J l~ a so s-g en er os -d o-p as sa do q ue f or am s ub s-ti tu id os p or o utr os ".

    N a tentativa de legitim ar os es tudos de generos, pro-curando definir a origem deles, Todorov (id., p. 46 ) afinnaque:

    'Hll afirrnacao, alern de nao lim itar ~ es tuclo dos ge~f'n_:~~~a I itera tur a,

  • 5/14/2018 PINHEIRO-A no o de g nero para an lise de textos midi ticos

    http:///reader/full/pinheiro-a-nocao-de-genero-para-analise-de-textos-midiatic

    ~m llm a atualizaeao constan te , nao s6 do m eio e dos incli-viduos, m as tam bern de suas producoes. D es sa fo rm a , urng en ~r ~ '~ le antigarnente se~\;e para aquele universo, talcom o fo i concebiclo , para 0 universe da literatura.

    Embora seja relevante, a icl~ a con sem _ ~l_s !e g~ n~ ~! l r .9S_Chi~i

  • 5/14/2018 PINHEIRO-A no o de g nero para an lise de textos midi ticos

    http:///reader/full/pinheiro-a-nocao-de-genero-para-analise-de-textos-midiatic

    f ug az es , m a is volateis como 0 telejo rn al o u a s r ep or ta ge nsde beleza e moda em revistas femininas.

    Es s a f ugac ic la c le imprime um carater voluvel aOS ge -neros, pais perrnite a variabilidade, a troca , a mudanca, am ixagem , a hibr idacao. E e ness a pers pectiva que su rgemas mais variados generos, os quais , seguindo a logica espa-co/temporal, se definem socio-historicamente, refletindo adinamica e as caracteristicas da sociedade e da cultura ci aq ual sa o representatives.

    A mediacao entre uma infiniclade de generos e as es-pecificidadesconstitutivas d e t ~x t; s ~ 'Uenundados particu-Lues inicia com a perspectiva bakhtin iana de generos p ri-m ar ies - clas in teracoes cia vida cotidiana - ~ de generos se-cundarios - d o s d is cu r so s Iiterarios, cientificos, ideo16gicos.Estes com plexificariam os generos p rirneiros, pois apare-cern em circunstancias cl e uma comunicacao cultural rna iscornp lexa e rela tivarnente m ais evoluida . ~o processo def or m a9 ao , o s g en er os secundarios absorvem e t ra n smu t ar n(d af ~ ~ ar ater voliivel e lnbrido) qs generos primaries. Q .?generos primaries, na cornposicao d os g en er os secunda-rios, transforrnam-se dentro destes e adquirem urna carac-terfstica particularperdem su a relacao irnediata com a rea-lidade existen te . A ss im , urn d iaJogo ou urna car ta, quandoi~c1os Dum rom ance, j cl ndo S80 rn ais u m d ialogo coti-s liano ou um a carta pessoal, m as par te do rom ance.

    Nessa inter-relacao e nt re g en er os primaries e secun-darios de urn lado e processos his t6ricos de form acao dosgelleros secundarios de outro, define-se a natureza doenunciado e dai proven: a poss ibilidade de lim a variedaded e g en er os , urna d iv er sid ad e d e "novos generos" que cor-respondern a codigos, a regular idades fundadas sob um araiz un iversa l, m arcada pela situacionalidade, a que possi-b ili ta a c ri ac ao . E pela s itua cion alid ade q ue se relativiza 0

    univers al. P or is so , CLcarater universalde urn g eQ er o es ta IIvinculado a s caracter fs ticas de urn espaco e de urn tem po I'~ , _ - . " . . fimper~tivos, determinantes de producoes e p rocl l! .. tO~ en~IJlima detenninada socieclade.

    A s it ua ci on ali cl ac le f az a historia e, nessa perspectiva,articula experiencias i ' ! lCE~jc1uaisa experiencias colet ivas,d~s~~~i;-aJ~a~~'assi~n,linguagem , a form a e 0 con teudo det~Xt~s-especfficos. . _- _. .--'-P;;~l< ;b -;r ~l ara r el ac ao e sp ac o/ te m po , a p ar ti r da s for-mulacoes de B akh tin sob re 0 rom ance e a relacao c1es te como sistem a de rep resentacao do hom em , clo seu m undo e desuas l in g ua g en s , c he ga -s e a ideia de que a "experiencia pes-soal e

  • 5/14/2018 PINHEIRO-A no o de g nero para an lise de textos midi ticos

    http:///reader/full/pinheiro-a-nocao-de-genero-para-analise-de-textos-midiatic

    9_~~saidenticlade, im12o!~tatambern a relacao espaco/teinpo,P2!3 as mudancas deflagradas 1 1 < 1 _ _ sociedade sao tarnbem .percebidas e deixam marcas nas producoes artisticas, litera-rias au midiaticas.

    Esse entrelacarnento espaco/tempo e suas combina-coes sao carac terfsticas bas tante fortes e 0 cronotopo diferen-cia categorias arnplas, define generos e dis tincoes gener icase estabe lece as fronteiras entre as varias subcategor ias intra-genericas. E nessa rede que Bakhtin conecta a relaciio cro-notopc/genero, pais, na sua concepcao, urn cronotopo empar ticular define urn genero ou urn subgenero particular.As formulacoes bakhtinianas a respeito da constitui-

  • 5/14/2018 PINHEIRO-A no o de g nero para an lise de textos midi ticos

    http:///reader/full/pinheiro-a-nocao-de-genero-para-analise-de-textos-midiatic

    mesma teoria abre quando se procura investigar textos COI1-ternporaneos, busca-se, por analogia, adaptacao ou transpo-sicao, perceber os generas em textos contemporaneos.

    Urn estuclo que envolva textos contemporaneos dequalquer ordem ~ fflmicos, jornalisticos, televisuais - clevealiar fundamentos da concepcao tradiciona] a conceitos einvestigacoes consistentes desenvolvidas por diferentes te6-ric os. As fonnas genericas - visao do numdo - abrern-se acriat iviclacle. A criatividade sofre Hilla forte influencia dofolclore do carnava] (Bakhtin, 1997), da carnavalizacao queperpassa todos os generos, d et erm i nan do -I he s p a rt ic ul ar i-dades fundamentais e colocando-lhes imagens e palavrasnuma relacao especial com a realidade.o carnaval e lima forma sincretics de espetaculo decarater ritual, mu i to c or u pl ex a e v a ri ad a q u e, sob urna basecarnavalesca geml, apresenta diversas matizes e variacoesdependentes cbs diferencas de epoca, de povos e de Ieste-ios particulates. 0 carnaval criou toda uma linguagem. def orma s c on cr et o- se ns o ri ai s s ir n bo li ca s e nt re grandes e COf11-plexas acoes de massas e gestos carnavalescos. Essa lingua-gem exprime de maneira diversificada e, pocle-se dizer,bern articulada (como toda linguagem), lima cosmovisaocamavalesca una (porem cornplexa), que the penetra todasas formas.

    o caruaval 1 1 a O e urn fenomeno banal, n em l it er a ri o;e uma grandiosa cosmovisao universalmente popular e porisso cleve s e r en tendido como 11m genera popular que variacom as epocas e os povos, visto que 0 carnaval criou todauma linguagem de forrnas concreto-sensoriais simbolicas(Bakht in, icl. ). Alianclo as concepcoes bakhtinianas de orono-topo e carnaval iza

  • 5/14/2018 PINHEIRO-A no o de g nero para an lise de textos midi ticos

    http:///reader/full/pinheiro-a-nocao-de-genero-para-analise-de-textos-midiatic

    II

    I nizada em eshigios (obrigat6rios ou opcionais) nurna 0[-clem fixa au parcialmente fixada, mais do que uma f6rmu-la,e uma estrutura potencial.

    Para explicitar a nocao de texto adotada aqui apoio-me na concepcao de Fowler (1991) que preconiza 0 textocomo uma co-producao de escritores/falantes/produtores ede leitores/ouvintes/receptores que negociarn a natureza eo significado de urn objeto (texto) com base em seus co-nhecimentos de mundo, de sociedade e de linguagem maisou menos cornpartilhados.

    Construido como um "modele", a texto e parte c1es-sa pratica de co-producao. Oestaca-se aqui que essa ideiade moclelo nao se atrela a nocao de estrutura objetiva, masa lima ideia que pre-existe na mente dos usuaries. Saocomo que uniclacles tacitus do conhecimento cornpartilha-do, percebidas de forma coerente e interpretadas como sig-nificativas. 0reconhecimento de certas caracter fsticas per-mitem que, por exemplo, os leitores/telespectadores detuna novela telenovela tenham uma expectativa hem pre-cisa da Iinha da histor ia, clo tratamento de cliferentes carac-terfsticas e dos significaclos de diversas atmosferas e es tilos.

    Essas expectativas, em geml, nao estao explic itadasno texto, mas podem ser proj etadas para dentro do textopelo leitor, com base nas pistas Oll marcas deixadas peloescritor.

    Mesma afastando-se cla tradicao literaria, hoje, os es-tudes sobre generos, que envolvem outras areas do conhe-cimento como a liugujstica e ,,1midia, I:J1l9aJn 11180 do ter-mo e clos conceitos que a ela estao vinculados para fazer re-ferencia a tip as de textos. A definicao de genera que se ado-ta no inlcio do trabalho, pode ser aqui traduzida como: asgeneros sao fonnas de textos que coriectaru produtores,

    274

    consumidores, t6picos, meio.jnaneira e ocasiao, isto e , re-lacionam prodncao, recepcao, texto e contexte. A essa ideiaacrescentarn, ainda, que os generos controlam 0 comporta-menta clos produtores dos textos e as expectativas dos re-ceptores em potencial. Os generos podem ser vistos comourn tipo de acordo tacito, um contrato, entre proclutores econsumidores , entre escritores e leitores, entre proclutorese espectaclores , entre Ialantes e ouvintes .

    Articulando as ideias e os conceitos apresentados aolongo desta discussao, 130de-se vincular a nocao de genero arecorrencia de especificidades e :' ! observacfio de certos para-metros sob os quais Un texto e produzido e percebido. Urngenera esta ligado ao reconhecimento de regulariclacles deforma e conteudo de um texto; as fannas e aos significaclossocials convencionalizados clentro de uma comunidade.

    ijl Os generos na analise cle proclutos midiaticos

    Vinculudn originariamente a literatura, a 1 1 0 C S a O degenera na o pode ser ignorada em estudos que focalizern cli-ferentes classes au tipos de textos contemporaneos. Assim,uma investigacao sobre textos midiaticos nao cleve prescin-dir clesses funclamentos, po is envolvern pesquisas sobre osmais variados generos. Mas tambern nao pode [icar restritaaos estudos que consideram a otica tradicional, po i s Essesconstroem seu estatuto com base em textos canonicos que,salvo algumas atualizacoes, mantern-se os niesmos e atra-vessam decadas e seculos sern transfonnacaes.

    Essa talvez seja apenas lima das razoes pela qual 0 ell-foque, quando se dir ige 0 olhar para os proc1utos midiaticos,cleve situar-se entre as bases cia que propoe Bakhtin e as pra-ticas sociais que, ao longo da historia, permitem a recicIageme a transmutacao dos generos. Vale salientar Olinda que a

    275

  • 5/14/2018 PINHEIRO-A no o de g nero para an lise de textos midi ticos

    http:///reader/full/pinheiro-a-nocao-de-genero-para-analise-de-textos-midiatic

    abordagem sobre generos, a partir da teoria do cronotopo ed a ca m av aliz ac ao , e nfa tiz a a r ela cd o entre diversos generos ea possibilidade de di

  • 5/14/2018 PINHEIRO-A no o de g nero para an lise de textos midi ticos

    http:///reader/full/pinheiro-a-nocao-de-genero-para-analise-de-textos-midiatic

    em condicoes determinadas e especfficas para cada esferad a cor n un ic ac ao , i de nt if ic am - s e nos diferentes generos.

    A diversidade de esferas da praxis humana e 0 fato cleque cada esfera cornporta muitos tipos leva 8 constatacaode um a gW llc1e v ar ied ad e d e generos. Es sa he te rogeneida -de, essa possibiliclade de multiplicidade na constituicao cleurn "novo" genero e a possibilidade de dialogo com outrosgeneros fazem emergir 0 conceito de generas hfbridos.

    No universo dos proclutos rnidiaticos, 0 embate emtorno da o rgan iz acao clos textos como generos pareee nu ose encerrar facilmente. As frequentes mudancas provoca~das pela velociclade e tecnologizacao nos meios de cornu-nicacao de massa e 0 desmoronamento de generos ; : i COI1-sagrados nesses meios faz brotar uma vatiedade cle generoslnbridos, construidos em decorrencia cia necessidade de ge-rar 0 "IlOVO"; criar, transforrnar, modificar, mesclar, inovar,o que e , antes de tudo, 0 mesmo. 0 receptor fica n;] expec-tativu do "novo" que, em te levisao, por exernplo, nada mai se do que pela repeticao do "velho" ou do lisa cla estrategiada hibridacao. Urn texto e travestido, maquiludo p8rCl serp ro du zid o e co ns um i do sob es tr utu ra s d eter rn in ad as . A r na -nutencao de e sp ec if ic id a de s g en er ic as (parte fixa) e respon-savel pela inclusao de urn texto em ur n genero.

    As inudancas, em textos midiaticos, objetivam atraire/ou atender exiger icias de audiencias seletivas gue, muitasvezes, nao supor tarn 0 "novo", COIll saber de inediti smo,mas tambern 1180 suportam 0 "velho", totalmente velho,scm maquilagens all nova roup

  • 5/14/2018 PINHEIRO-A no o de g nero para an lise de textos midi ticos

    http:///reader/full/pinheiro-a-nocao-de-genero-para-analise-de-textos-midiatic

    da publicidade, caracterfsticas dos cliscursos na sociedadecontemporanea ou das cul turas p6s-modernas, 11 8 sua confi-gl1r8

  • 5/14/2018 PINHEIRO-A no o de g nero para an lise de textos midi ticos

    http:///reader/full/pinheiro-a-nocao-de-genero-para-analise-de-textos-midiatic

    na tlV:JS c, pa r isso, estao associadas a convencoes que regemurn genera com 0 p ro p6 sito d e tomar tim tex to m ais eficaze eficien te em um con tex to sociocultural m u ito especffico,considerando, n eS S8 o rclem , um r ecep tor muito especial.Para atingir deterru inados objetivos, lim reporter, po rex er np lo , u sa es tr ate gia s lin gu ls tica s tip ica s p 8r a cr ia r v ar ia sperspectivas na reportagem de um iornal, podendo var iarcles c1 e 8 s eleca o d os fa to s ate 0 u so s ut il d o v oc ab ula ri o.

    As estrategias cliferem em tex tos que se inscrevernem urn me S I1 lO g en er a, e m v is ta c 18 cl if er en te natureza do sm eios que 0 envolvern . Nesse case, nfio ocone urna s im -ples transposicao dos generos literar ios , por exem plo, paraa televisao ou c lo s ge ll erOS c la m t d ia im pressa , tal com o areportagem do jornal, para outre m eio , 0 radio. Esses ge-n er os s of re m constantes redefiuicoes em fU 11 98 0das prati-ca s socia i s, d os mfrlias ou do m eio em que sao produzidose c on s um i d os . Dessa f or m a, B or elli (l995, P: 70) destacaq ue , p ar a se pensar em comedias, tragedies e me l od r ama s ,em w es ter ns , m u sica is OL l film es de terr or , ou O lin da ell! te-Ienovelas, ser ies e program as corn icos e p re ci so r ef le ti rtambern sabre a form a com o eles sao p rocluziclos em seusrespectivos campos , e distribuidos e consumidos 110 in te-rior c la socieclacle .

    Na perspectiva clas praticas discursivas (m eio de p ro-dU 9ao e co ns um e d os tex tos ), as po ss ibilida des d e pr od uca ode reconfiguracces criativas dos generos parecem ilim ita-das , m as tais processos de cria tividade sao de fato substan -c ia lm e nte r es tr in gid os p ela s praticas sociocultnrais que osenv olvern e pelas re lacoes de poeler que, de m aneira m aisall m enos explfcitas, es tao im br icadas em todas as relacoess ociais. E nta o, a adocao de lim genera , com cer tez a 0 rnaisadequado para exp ressar determ inadas in tencoes, im pl iea aaceitacao de suas s ingu lariclades m ais cons tantes, m as nao

    2 8 2

    im plica a

  • 5/14/2018 PINHEIRO-A no o de g nero para an lise de textos midi ticos

    http:///reader/full/pinheiro-a-nocao-de-genero-para-analise-de-textos-midiatic

    uma comunidade fonnada por politicos, jornalistas espe-cia liz ad os , c ien tis ta s p olitic os e seus receptores (Pinto,1 99 9, p . 5 3).

    No interior de urna ordem de discurso, as generosencontram-se numa relacao paradigmatica em gue a opcaopar 11111 c1eles nao exclui necessariaruente as especificidadesde outros generas ~ inclusive de generos pertencentes a ou-tras ordens de discursos. A constatacao que se apresenta re-toma a ideia j

  • 5/14/2018 PINHEIRO-A no o de g nero para an lise de textos midi ticos

    http:///reader/full/pinheiro-a-nocao-de-genero-para-analise-de-textos-midiatic

  • 5/14/2018 PINHEIRO-A no o de g nero para an lise de textos midi ticos

    http:///reader/full/pinheiro-a-nocao-de-genero-para-analise-de-textos-midiatic

    ___ . P roblem as da poetica de Dostoievski. S ao P au lo :Forense Universitaria, 1997.BORELLI, S. H. S. Generos F i cc i on ai s, m a te r ia li da de ,co t id iano, imaginario In : SOUSA , M . W . M . Sujeito, 0l ad o o cu li o do recep to r . S ao P aulo: B ra siliens e, 1995.DUCROT, O . ; TODOROV, T. Dicionario enciclopedicod as c ie nc ia s d a l in gu ag em . S 80 P au lo : P er sp ectiv a, 1 99 8.FA IR CLO LJG H, N . Medi a d is co ur se . London: Edw ard A r-n old , 1 99 5b .___ .; C r it ic al discourse analysis. L on do n: L on gm a n,1995a.FO lJCAULT, M . A ar qu eo lo gia d o sab er . R io de Ja neiro:F or en se U niv er sita ria , 1 99 5.FOWLER, R Language in t h e n ews: discourse and i de ol og yin t he p r es s. L ondon : R outledge, 1991.CENETTE, C . Ceneros, tipos, m oclos . In: GAL-LARDO, M . A. G . (o rg .). T eo ria d e l os g ene ros l i terarios.Madr id : A r co s/ Li br os , 1998. p . 1 8 3- 23 3.H AL LI DA Y, M . A. K. ; HASAN, R. L ang uag e, c ontext, andtext: A spects of lang uage in a social-s em iotic persp ectiv e.O xfo rd : O xfo rd U niv er sity P res s, 1985.I - IEBERLE, V . M . An invest iga t ion of t ex tu al a nd c on te xt ua lp a ra m et er s i n e di to ri al s of women 's ma ga zi ne s. 1997. Tese(D outora do). U nivers ida de Fed era l de S anta C atar in a, Flo-rianopolis.___ . Two kinds of argum ent in edito rials of wom en'sm aga zines . In ; v an E EM ER EN , F. H . et al (eels.). Procee-di n gs of t h e f ou r th i nt er n at io na l c o nf er en c e of t h e i n te r na t io -nal soc iety for th e study of argumenta t ion . A msterdam : SicS at, 19 99. p. 322-7.

    2 8 8

    LONGACRE , R. E. T he d is cour se strategy of a n a ppea ls let-ter. In: MANN, W . C . ; THOMPSON, S . A . ( e ds .) . D i sc o u r-se descr ip t i on s: D iv er se a na ly se s o f a f un d-r ais in g t ex t A m s te r-d am /P hila delp hia : J oh n B en ia m in s, 1 99 2. p . 1 08 -3 0.I ' .dACHADO, I.0 romance e a v oz: a prosaica d ia l6 gica d eM. B akhtin . R io de Jan eir o: Imago; S ao P aulo: FA PE SP ,1995.______ . Os generos e a ciericia clia l6gica do texto . In:FARACO, C . A . ; TEZZA , C . ; CASTRO, G . (orgs.).Dialog os c om Bakhti11. C ur itib a: E dito ra cia U niv er sid a-de Federal do Parana, 1995.MEURER, J . L. ASfJects o f laguage in self-help counsel-l ing. F lor ian6po lis: U FS C, P rog rar na de Fos -C radua caoem Let ra s /I ng le s._____0conhecim en to dos generos textuais e a form a-9Jo do p rofis sional da linguagem . In: FORTKAMP, M . B .M . ; T OM IT CH , L. M . B . (or gs.). A sp ec to s d a I in gi ii st ic aapl icada: Estudos em homenagern a o pro fes sor H ilarioB olm . Flor ian opolis : In sular , 2 000. p . 149-66.MOTTA-ROTH, D . D iscourse analysis and academ icbook review s: a study of text and disciplinary cultures. In:COLL , J . F . et a l (e els .). Geme studies in Engl i sh (or Acade-m ic P ur poses. Castellon, Espana: Universitat [aume I,1998a. p. 29-48.___ . A visao de eelitores sobre 0 g ener a r esenha aca de-mica . iniercambio, 7, p. 127 -35 , 1 998b.___ . Generos discursivos no ens ino de lm guas paraf in s ac ad emi co s . 1 1 1 : FORTKAMP, M . B . M . ; T OMITCH,L. M . B . (o rgs .). A sp ec to s d a li ng iii stic a a plic ada : estucloser n ho menagern ao pr ofess or H ilario 11 11cio B oh n. F lor ia -nopo lis: I nsular , 200 0. p. 1 67-84.

    2 8 9

  • 5/14/2018 PINHEIRO-A no o de g nero para an lise de textos midi ticos

    http:///reader/full/pinheiro-a-nocao-de-genero-para-analise-de-textos-midiatic

    PINTO , M . J . C0l1111nica9ao e discurso: introducao a