Pessoas ainda têm medo de praticar o vegetarianismo

3

Click here to load reader

description

Falta de informação faz muitos fugirem da alimentação sem carne | Então você decidiu tornar-se vegetariano, mas ainda falta dar aquele último passo. Talvez você ainda consuma algum peixe ou ave “só de vez em quando”, ou talvez você ainda coma carnes todos os dias, mas esteja pensando tão seriamente e com tanta convicção sobre o assunto que você já se considera um vegetariano (o que obviamente é um engano). Por Dr George Guimarães

Transcript of Pessoas ainda têm medo de praticar o vegetarianismo

Page 1: Pessoas ainda têm medo de praticar o vegetarianismo
Page 2: Pessoas ainda têm medo de praticar o vegetarianismo

Pessoas ainda têm medo de praticar o vegetarianismo

Por Dr George Guimarães

Falta de informação faz muitos fugirem da alimentação sem carne | Então você decidiu tornar-se vegetariano, mas

ainda falta dar aquele último passo. Talvez você ainda consuma algum peixe ou ave “só de vez em quando”, ou talvez você

ainda coma carnes todos os dias, mas esteja pensando tão seriamente e com tanta convicção sobre o assunto que você já

se considera um vegetariano (o que obviamente é um engano).

Pensando nisso, o que falta para você fazer a transição final? O que impede as pessoas de darem o último passo em

direção ao vegetarianismo, mesmo aquelas que já entenderam, em todas as esferas, que a dieta vegetariana é a melhor

escolha?

Na minha observação, a resposta a esta pergunta reside num único sentimento: o medo. Ele é a grande barreira que

impede as pessoas de concretizarem a sua decisão, levando-as a criar desculpas para si mesmas ou a aumentar barreiras

que poderiam ser transpostas com alguma atitude positiva. Esse medo pode ser o medo de parecer diferente, de ter que

enfrentar os amigos ou familiares, de ficar desnutrido, de ter que abrir mão do paladar, entre outros.

Sobre o medo de parecer diferente, existe inclusive o medo de ter que frequentar lugares para os quais a pessoa criou uma

ilusão estereotipada e cujo simples pensamento já a remete a uma sensação de temor do diferente ou desconhecido. Um

exemplo disso é imaginar, sem nunca ter frequentado um, que todos os restaurantes vegetarianos são lugares onde temos

que deixar os sapatos na porta e recitar mantras em sânscrito antes de comer. O que não é necessariamente ruim, mas

também não representa a maioria dos estabelecimentos nesse ramo.

Esse é um medo muito fácil de ser resolvido, geralmente com uma simples experiência. Mas acreditem: há pessoas que

têm temor de ter uma primeira experiência em um restaurante vegetariano. Por outro lado, a surpresa e satisfação que elas

experimentam são proporcionais, haja vista que, com muito sabor e um ambiente acessível à realidade da maioria das

pessoas, os restaurantes vegetarianos em geral cumprem bem o papel de dissipar este mito. A mesma experiência, seja

num restaurante vegetariano ou na casa de um amigo, pode ser válida para dissipar o mito de que, para se tornar

vegetariana, a pessoa terá que abrir mão do paladar.

Ela causa desnutrição?

O medo de ficar desnutrido é sem dúvida um dos maiores medos que se impõe como uma barreira para a transição final.

Na minha experiência no consultório, onde atendo exclusivamente a pacientes que são vegetarianos ou que estão

justamente buscando dar esse último passo, eu observo que o que a maioria das pessoas busca é o aval de um

profissional especializado que diga a elas: “vá em frente, vai ficar tudo bem”.

Elas já tomaram a decisão, já estão prontas, mas falta-lhes libertarem-se da última ponta de apego ou medo do novo e

diferente. É claro que a informação é importantíssima para isso, e é para isso que elas me procuram e de fato levam

consigo informações que farão toda a diferença para o sucesso da sua dieta vegetariana.

Mas eu também observo em muitos dos meus pacientes que, além da sensação de segurança que somente a informação

pode lhes conferir, há também uma sensação de alívio, algo como “que bom que agora eu posso acreditar naquilo que eu

já sabia estar certo o tempo todo”. E de fato, no campo nutricional, com a informação e cuidado corretos, deixamos para

trás o aquilo que poderíamos temer, restando apenas aquilo do que desfrutar!

Seja qual for o medo, a chave está na informação e na coragem de experimentar. Atualmente, a informação sobre o tema

está amplamente disponível àqueles que a procurarem. Quanto à coragem, no caso específico de dar o último passo em

direção ao vegetarianismo, estamos falando de uma ação ou experimento que oferece poucos riscos.

Page 3: Pessoas ainda têm medo de praticar o vegetarianismo

No campo da nutrição, o experimento está certamente destinado a ser bem-sucedido se for aliado à informação. No campo

gastronômico, o maior risco que a pessoa corre é o de aprender os nomes de novos alimentos ou ter que pagar por uma

refeição que não a agradou.

Já no campo social, esta é uma área mais delicada, pois há o risco de criar conflitos com pessoas queridas ou ambientes

críticos. Mas com algum estudo, a pessoa pode estar preparada para saber argumentar de maneira a minimizar os conflitos

e assim guiar as discussões para o caminho da resolução ao invés do caminho do enfrentamento improdutivo.

Com tantas pessoas tornando-se vegetarianas, esta área complexa que é a dos relacionamentos humanos já vem sendo

bastante explorada e experimentada no que diz respeito ao tema, por pessoas que provavelmente já passaram por

situações muito parecidas com a do novo adepto. Fazendo uso dos diversos fóruns eletrônicos e outras formas de troca de

experiências e apoio, os erros e acertos de outros podem servir como um rico aprendizado que ajuda a minimizar os

conflitos sociais.

Se você é uma dessas pessoas que ainda não se permitiu dar o último passo, procure lembrar-se do que foi que te motivou

desde o início. Se o motivo foi pela sua saúde, você só tem a ganhar em fazer a transição o quanto antes. Os medos de

carências nutricionais não passam disso mesmo: medos.

As justificativas criadas por você (ainda que inconscientemente) no intuito de te ajudar a manter a boa saúde estão mais

provavelmente adiando esta conquista de um grau superior de saúde. As informações, os estudos científicos e as

experiências individuais trazem uma mensagem bastante clara: é possível adotar uma dieta vegetariana em qualquer fase

da vida, bastando para isso observar alguns cuidados nutricionais que são relativamente fáceis de serem seguidos.

Informe-se e vá em frente!

Se o que te motivou foi uma questão ambiental, é desnecessário dizer que nesse campo estamos correndo contra o tempo

e qualquer desculpa que possamos inventar para justificar o apego a uma dieta centrada na carne não ajudará a amenizar

o impacto exagerado que exercemos sobre o planeta e que atualmente o coloca à beira da destruição.

O que precisamos é de ação, sobretudo de uma revisão daquelas ações que realizamos ao menos três vezes por dia ao

sentarmos à mesa. Cada dia que você adia para dar o próximo passo é um dia em que você cometeu ao menos três erros

perfeitamente evitáveis que afetam diretamente a saúde do planeta.

Se o motivo que te despertou para o vegetarianismo foi a questão animal, é desnecessário dizer que cada dia que você

perpetua a sua racionalização para buscar justificar a sua impossibilidade em parar de comer carne é um dia fatal para os

animais. E para esses, assim como para o planeta, as suas desculpas são sem efeito.

Você tem o poder para fazer a mudança que deseja fazer em sua vida e o último passo está logo aí, bem à sua frente.

Basta munir-se de informação, despir-se dos medos e caminhar, um grande passo a cada dia. Você não demorará a

descobrir que a caminhada não é apenas mais fácil do que você imaginava.

Ela é também repleta de surpresas e ganhos diversos pelos quais você nem esperava, pois se mantinham encobertos

pelos medos que você outrora cultivava. Este último passo em direção ao vegetarianismo é, na verdade, apenas um dos

primeiros passos dentre os que podem ser considerados essenciais para trilhar o caminho da saúde, da consciência

ambiental e do respeito a todas as formas de vida.