Pesquisa-ação

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ CAMPUS ITABIRA PROFESSOR VITOR G. CARNEIRO FIGUEIREDO CURSO DE ENGENHARIA DE SAÚDE E SEGURANÇA ESS021 ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DO TRABALHO Lucas Carvalho RA: 20926 Luciana Rodrigues Lopes RA: 22243 Luís Felipe Teles França RA: 25418 Marciene Ferreira Coelho RA: 21455 Thaís Braga RA: 19554 Willian Dias da Cruz RA: 19556 PESQUISA-AÇÃO ITABIRA/MG - 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ – CAMPUS ITABIRA

PROFESSOR VITOR G. CARNEIRO FIGUEIREDO

CURSO DE ENGENHARIA DE SAÚDE E SEGURANÇA

ESS021 – ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DO TRABALHO

Lucas Carvalho – RA: 20926

Luciana Rodrigues Lopes – RA: 22243

Luís Felipe Teles França – RA: 25418

Marciene Ferreira Coelho – RA: 21455

Thaís Braga – RA: 19554

Willian Dias da Cruz – RA: 19556

PESQUISA-AÇÃO

ITABIRA/MG

- 2015 –

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INTRODUÇÃO

Os contextos de trabalho cada vez mais passam por alterações nas relações

técnicas e sociais existentes no meio produtivo, enfatizando que os profissionais adotem

perfis interdisciplinar e multidisciplinar. Nessa situação cabe aos profissionais passarem

por um processo de aprendizagem oriundas do contexto prático a fim de adotarem

competências para realização das tarefas propostas.

Na psicologia do trabalho assume-se que os processos de aprendizagem são

processos psicológicos, consequentemente inerentes ao indivíduo, e influenciado pela

experiência e contexto de trabalho.

Existem duas tradições de estudo da aprendizagem: a tradição

behaviorista ou comportamental, baseada nas teorias SR, e a tradição

cognitivista, baseada nas teorias SOR. Nas teorias comportamentais, o

estudo da aprendizagem está concentrado na mudança de

comportamento relativamente duradoura (resposta R), resultado da

interação do indivíduo com o seu ambiente (estímulo S). As teorias

cognitivistas aceitam que a mudança de comportamento depende da

interação do indivíduo com o ambiente (S), porém acrescentando a

ideia de que o indivíduo realiza processos mentais de aquisição,

manutenção, retenção e transferência de conhecimentos, habilidades e

atitudes. Esse processamento de informações por parte do indivíduo

(O) é que geraria mudança de comportamento (R). A noção de

competência tem afinidade com o modelo SOR da tradição

cognitivista (BORGES-ANDRADE, 2008 apud CARVALHO et al.,

2009, p. 41).

Dentro do ambiente organizacional torna-se necessário uma nova abordagem da

aprendizagem com objetivo de levantar as competências adquiridas pelos trabalhadores

durante a atividade de trabalho, portanto, propõe-se a inversão da lógica do processo,

incorporando o aprendizado à vida cotidiana das organizações e incentivando mudanças

nas estratégias educativas, de modo a focar a prática como fonte do conhecimento e

colocar o profissional a atuar ativamente no processo educativo (JESUS et al., 2011).

Torna-se então necessário um meio de investigação que levante as competências

dos trabalhadores inseridos em um contexto onde o sujeito tenha participação no

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processo e que promova a interação entre os diversos grupos sociais existentes e os

pesquisadores, surgindo a pesquisa-ação.

Por meio da pesquisa-ação, torna-se possível a resolução de problemas

cotidianos por com o auxilio de estratégias de ação transformadora, o que nem sempre é

obtido por meio das práticas convencionais (Koerich et al., 2009).

A pesquisa-ação tem sua origem ainda incerta, porém pode-se dizer que é uma

metodologia com influências das linhas positivistas nos anos de 1946 e 1948 e é, muitas

vezes, tratada como sinônimo de pesquisa participante ou pesquisa colaborativa, porém

nem toda pesquisa participante é pesquisa-ação. É uma metodologia que tem sido

bastante utilizada no desenvolvimento de pesquisas em diversas áreas como na

educação, política, agronomia, publicidade e propaganda, assim como nas áreas

organizacional e de saúde, e foca as ações e transformações específicas que respondam

a problematização das situações enfrentadas. A pesquisa-ação objetiva,

simultaneamente, intervenção, elaboração de conhecimento e seu desenvolvimento

(VERGARA, 2005 apud TERENCE &FILHO, 2006).

PESQUISA-AÇÃO

O método de pesquisa-ação tem significativa participação popular, tornando-se

assim importante para uma construção social de conhecimento, por meio da interação e

cooperação dos atores, sendo utilizado frequentemente quando há interesses coletivos

na resolução de problemas. Explorar o potencial do método de pesquisa-ação no estudo

das organizações revela-se uma possibilidade de conciliação entre o sujeito e o objeto

da investigação na medida em que ele tem o mérito de preconizar a combinação da

qualidade formal. A intenção está em transformar aqueles que produzem o

conhecimento para que eles sejam sujeitos nos processos de transformação da realidade

investigada (LIMA, 2005).

Dubost, um dos autores citados nos estudos utilizados, define o método de

pesquisa-ação como uma “ação deliberada visando a uma mudança no mundo real,

realizada em escala restrita, inserida em um projeto mais geral e submetida a certas

disciplinas para obter efeitos de conhecimento e de sentido”. A transformação é

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construída coletivamente pelos pesquisadores e atores sociais, implicados com a

realidade investigada (LIMA, 2005). Para Koerich et al. (2009) “Na pesquisa-ação o

processo de investigação, de educação e de ação acontecem concomitantemente”.

Segundo Grittem, Meier e Zagonel (2008), o planejamento do método de

pesquisa-ação é flexível, mas constitui uma série de etapas que podem ocorrer de

diversas formas e, em sua maioria, são desenvolvidas na informalidade do cotidiano das

atividades. O processo é composto por 12 etapas que estão interligadas e podem ser

sobrepostas, proporcionando um maior dinamismo ao processo. Essas etapas são:

Fase exploratória: etapa em que os pesquisadores estabelecem os

objetivos da pesquisa;

Tema da pesquisa: é escolhido um marco teórico para nortear a pesquisa

que interesse ao pesquisador e aos sujeitos investigados;

Colocação dos problemas: discussão sobre a relevância do estudo;

O lugar da teoria: articulação com um referencial teórico de acordo com

o local onde será realizada a pesquisa;

Hipóteses: suposições formuladas pelos pesquisadores;

Seminário: tem a função de coordenar as atividades do grupo, promover

discussões e tomadas de decisões;

Campo de observação, amostragem e representatividade qualitativa: a

amostragem e representatividade são discutíveis e pode abranger uma

comunidade geograficamente concentrada ou dispersa;

Coleta de dados: a coleta de dados pode ser feita através de entrevistas,

questionários, estudos de jornais e revistas e grupos de observação;

Aprendizagem: a capacidade de aprendizagem dos participantes é

aproveitada e enriquecida, decorrente de uma aprendizagem conjunta;

Saber formal e saber informal: há uma interação entre o saber prático e o

teórico, que se funde na construção de novos conhecimentos;

Plano de ação: essa etapa tem o objetivo de definir os atores, a relação

entre eles, quem são os líderes, quais os objetivos e critérios de avaliação

da pesquisa e quais as estratégias a serem utilizadas;

Divulgação externa: retorno dos resultados da pesquisa aos participantes.

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O método de pesquisa-ação é interessante, porém apresenta algumas limitações

assim como outros métodos. Uma das limitações é o tempo necessário para a execução

do método e efetivação das ações. Sendo assim, não é recomendado para estudos com

restrições de tempo. Outra dificuldade apontada em alguns estudos está na manutenção

da imparcialidade do pesquisador, frente às discussões do grupo (Grittem; Meier;

Zagonel, 2008).

Além disso, é um estudo pouco explorado no âmbito organizacional e apresenta

algumas outras dificuldades que podem comprometer o processo: entraves resultantes

de fatores ligados à cultura organizacional; o receio de os colaboradores

comprometerem seu futuro profissional; interferências de interesses da direção ou dos

patrocinadores da pesquisa podem colocar em dúvida os reais objetivos da investigação;

dificuldades em partilhar o projeto com equipes formadas por pessoas com traços de

personalidade, formação e responsabilidades muito diferentes; divulgação de dados e

informações considerados sigilosos pela organização; e a dificuldade de o pesquisador

divulgar os resultados da pesquisa (LIMA, 2005).

Todos os envolvidos nos espaços pesquisados têm voz ativa no processo da

pesquisa-ação. Segundo Thiollent (2005) “a participação das pessoas implicadas nos

problemas investigados é absolutamente necessária”. O método promove a participação

dos usuários na busca de soluções aos seus problemas (Grittem; Meier; Zagonel, 2008).

A pesquisa-ação tem o propósito de interpretar e explicar aspectos da realidade

para, assim, ser possível intervir sobre ela, identificando problemas por meio da

formulação de diagnósticos, concebendo planos de ação, avaliando eventuais efeitos

indesejados e, quando necessário, aperfeiçoando as alternativas de solução com o

compromisso de contribuir para processos de transformação da realidade (LIMA, 2004

apud LIMA, 2005).

Contribui para processos democráticos, efetivos e contínuos de aprendizagem e

de mudança organizacional, quando o método é aplicado. Essa aprendizagem ocorre

devido à participação ativa dos pesquisadores e dos colaboradores na condução do

processe de investigação (LIMA, 2005).

O método de pesquisa-ação tem se destacado como um

recurso metodológico capaz de equilibrar o rigor que caracteriza os

procedimentos típicos de uma investigação acadêmica (dimensão

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formal) e o compromisso com a transformação da realidade (dimensão

política). Este método está fortemente associado à abordagem

qualitativa, justamente aquela mais orientada pela realização de

exercícios em que prevalecem os recursos da argumentação, da

reflexão, e da compreensão orientados para processos deliberados de

intervenção frente a situações consideradas insatisfatórias, isto é,

presta-se a alterar as condições percebidas como passíveis de

transformação (CHIZZOTTI, 2003 p.89 apud LIMA, 2005).

Este método de pesquisa compreende o ciclo de compartilhamento, subjetivação

e participação coletiva. Dessa forma, pode ser aplicado em diversas áreas que desejem

transformações obtidas com a pesquisa e a ação, uma vez que pode ser estruturado em

etapas que requerem a participação coletiva e que se iniciam na identificação do

problema e finaliza com uma transformação no contexto, como mostrado na figura

abaixo (Koerich et al., 2009).

A pesquisa-ação enquanto ferramenta metodológica realizada por

meio do agir comunicativo e participativo, favorece o

compartilhamento de saberes, além de tecer uma estrutura relacional

de confiança e comprometimento com os sujeitos que integram a

realidade a ser transformada” (Koerich et al., 2009).

Os conceitos de ato de investigação e ato substantivo auxiliam no entendimento

da pesquisa-ação, uma vez que o ato de investigação incentiva à indagação e o ato

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substantivo relaciona-se a associação à promoção de alterações no meio (Koerich et al.,

2009).

RESUMO DO ARTIGO: Educação permanente em enfermagem em um hospital

universitário

Autores: Maria Cristina Pinto de Jesus

Mariangela Aparecida Gonçalves Figueiredo

Sueli Maria dos Reis Santos

Arlete Maria Moreira do Amaral

Letícia de Oliveira Rocha

Michel Jean Marie Thiollent

A atividade exercida pelos profissionais da saúde indica a necessidade do uso da

educação permanente, uma vez que essa pode ser considerada como um meio de

qualificação dos envolvidos e de atualização das competências e conhecimentos. A

educação permanente se diferencia das demais práticas por considerar que o

conhecimento advém do aprendizado adquirido na rotina das organizações e da prática,

e por focar em ações interdisciplinares. Dessa forma, esta estratégia educacional

possibilita a construção do conhecimento em diversos ambitos.

No contexto em que foi baseada a construção do estudo (Hospital Universitário

– HU), notou-se a presença de disfunções no processo de capacitação dos trabalhadores

de enfermagem (que era direcionado aos auxiliares e técnicos de enfermagem)

considerando-se a constante necessidade de mudanças impostas pelas práticas de saúde

ajustadas aos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). Dessa forma, a insatisfação

da direção de enfermagem deste hospital diante dos modos de capacitação adotados e da

ausência de mudanças nas práticas exercidas atuou como estímulo para a execução deste

estudo.

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Diante das manifestações dos trabalhadores do hospital universitário, docentes e

estudantes da Faculdade de Enfermagem da instituição federal de ensino, o objetivo do

estudo voltou-se para a identificação das demandas e expectativas e fatores que

interferem na qualificação dos trabalhadores deste hospital. Assim, a busca por

compreender as necessidades de qualificação dos trabalhadores, os fatores que

interferem nas ações de capacitação e os meios de institucionalizar um núcleo de

educação permanente orientou o desenvolvimento do estudo.

A análise foi realizada em Minas Gerais, no período entre outubro de 2007 e

setembro de 2008, em um Hospital Universitário. A amostra foi composta por cento e

quatorze trabalhadores, sendo trinta e cinco enfermeiros, setenta técnicos e nove

auxiliares de enfermagem. Ressalta-se que a amostra possuía tanto trabalhadores

efetivos quanto contratados. A pesquisa-ação foi utilizada como fundamento teórico-

metodológico por possibilitar a edificação de conceitos por meio da participação de

todos os sujeitos envolvidos na atividade, a produção e troca de saberes, propiciando

mudanças nas concepções e nas ações realizadas. Com base nesta metodologia,

realizaram-se as seguintes etapas: levantamento participativo das necessidades de

capacitação dos trabalhadores de enfermagem no contexto do trabalho; ampla discussão

e tematização com os participantes; definição de princípios para a elaboração de uma

proposta de capacitação para diferentes categorias de enfermagem. Os dados foram

coletados por meio de oficinas educativas.

Para incentivar as verbalizações e descrições dos trabalhadores acerca da

atividade, reconhecer as demandas de capacitação, os elementos que atuam como

barreira nesse processo e as expectativas dos trabalhadores, foram utilizadas perguntas

norteadoras. Para coleta das informações fornecidas e discutidas pelos profissionais,

utilizou-se gravador digital, cartazes e fotografias. Já a analise dos dados foi realizada

em três fases: observação, classificação e conclusões. Assim, obtiveram-se os seguintes

temas: demandas e expectativas de qualificação para o trabalho de enfermagem; fatores

que interferem nas práticas de capacitação e capacitação na perspectiva da educação

permanente. Os resultados são apresentados a seguir.

Demandas e expectativas de qualificação para o trabalho de enfermagem: por

meio da identificação das demandas de qualificação, destacou-se a importância

dos conhecimentos técnico-científicos, da valorização profissional e da

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autonomia, como elementos para a execução da atividade do enfermeiro. Não

obstante, foi reconhecida a importância dos fundamentos científicos no trabalho

com pacientes e da capacitação, como meio de preservar e retomar os

conhecimentos. Os trabalhadores identificaram as disfunções nos processos de

capacitação implementados no hospital, uma vez que estes não correspondiam

com a realidade. A necessidade de novas metodologias para o processo de

educação permanente também foi ressaltada.

Fatores que interferem nas práticas de capacitação: a gestão das práticas e a

política institucional foram apontadas como fatores capazes de interferir nas

ações de capacitação. Por meio da colocação dos funcionários, notou-se que o

enfermeiro é ausente e se distancia das suas funções, como a de líder de equipe

de enfermagem; notou-se também que a estrutura física da instituição interfere

na efetividade das ações de capacitação. Ressalta-se que o hospital, segundo os

participantes do estudo, não dispõe de locais adequados para atividades básicas

como refeição, descanso e atenção à saúde dos funcionários. Assim, manifestou-

se a necessidade de estruturação das rotinas de trabalho.

Capacitação na perspectiva da educação permanente: a ausência de condições

para a aplicação dos conhecimentos adquiridos nas capacitações e para as

mudanças na prática manifesta-se como uma dificuldade para a vivência do que

é aprendido. Os profissionais participantes do estudo manifestaram a

necessidade de mudanças nas práticas de capacitação, indicando a necessidade

de que as ações de educação permanente e os dispositivos de mudanças

caminhem lado a lado. A falta de participação dos profissionais da enfermagem

nas decisões relacionadas ao processo de capacitação também foi ressaltada.

Por meio das análises realizadas no decorrer do estudo e objetivando a

proposição de práticas de capacitação, foi sugerida a criação do Núcleo de Educação

Permanente do Hospital Universitário, o que inclui meios para o aperfeiçoamento,

difusão dos conhecimentos e melhoria das ações de capacitação, como programas de

aperfeiçoamento e especialização em serviço, estágios e vivências, dentre outros.

A aplicação da pesquisa-ação possibilitou o destaque dos conceitos de

capacitação e qualidade na atividade dos profissionais de enfermagem, sendo a

capacitação apontada também como meio de valorização do trabalhador. A construção

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coletiva de conhecimentos além de proporcionar sentimento de pertencimento ao grupo

e valorização, auxiliou na proposição de melhorias e soluções de forma coletiva.

Dessa forma, a utilização da pesquisa-ação como referencial para a realização da

pesquisa ocasionou um olhar sobre a realidade do trabalho, a percepção de problemas e

a proposição de novos meios para as práticas de capacitação.

OUTRAS APLICAÇÕES DA PESQUISA-AÇÃO

Argtigo: Metodologia de pesquisa-ação na área de gestão de problemas ambientais

Autores: Michel Thiollent

Generosa de Oliveira Silva

O desenvolvimento agrícola passa por diferentes desafios sociais e ambientais, e

são necessários novos métodos e teorias são para suprir as expectativas econômicas que

se revelaram restritivas em termos socioambiental e cultural, e que levaram a problemas

de deterioração do meio ambiente, que consequentemente reflete nas condições de

saúde.

Será mostrado a metodologia participativa, com foco na metodologia de

pesquisa-ação, na questão de relacionamento intercultural que se estabelece entre

pesquisadores e atores. Por fim será descrito um estudo de caso em microbacia

hidrográfica, onde exemplificará alguns aspectos da proposta metodológica.

A pesquisa ação é um método participativo onde os conhecimentos biológicos e

ambiental estão juntos com os conhecimentos socioeconômicos e socioambientais, onde

este último requer uma visão capaz de compreender a dimensão histórica do local,

aspectos de evolução, retrato do passado e planejamento do futuro. Essa metodologia

tem o objetivo de solucionar problemas através da troca de diferentes conhecimentos

entre pesquisadores e atores e nativos, onde o principal foco é a investigação,

pesquisando e gerando soluções para os problemas detectados

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Em muitos projetos a participação dos interessados é limitada, as condições,

modalidades e relação com os pesquisadores devem ser monitoradas. A participação é

mais efetiva quando: a) possibilita um significativo nível e envolvimento; b) capacita as

pessoas na realização de tarefas; c) dá apoio às pessoas para aprenderem a agir com

autonomia; d) fortalece planos e atividade que as pessoas são capazes de realizar

sozinhas; e) lida mais diretamente com pessoas do que por intermédio de representantes

ou agentes.

Nos projetos de pesquisa-ação é comum ocorrer conflitos por pessoas com uma

visão cultural diferente. Para evitar esses conflitos, é importante observar a cultura,

lnguagem e se possível, mapear os conhecimentos de todos os envolvidos, além de

verbalizar sobre os problemas da investigação, e estabelecer normas e critérios que

respeitam ou rejeitam os diferentes atores.

É importante ressaltar que no ponto de vista ético, os pesquisadores não podem

impor alguma mudança ou ideia, ela deve ser concebida e praticado pelos grupos

interessados. O papel dos pesquisadores é de apenas acompanhar e estimular certos

aspectos da mudança decidida pelos grupos interessados.

O estudo foi realizado por meio do Projeto Gestão Participativa da Sub-Bacia do

Rio São Domingos, no qual participaram equipes de pesquisadores da EMBRAPA-

Solos da UERJ e Laboratório Trabalho e Formação da COPPE/UERJ, no município de

São José de Ubá, na região noroeste fluminense entre 2003 e 2004.

Os meios utilizados para a iniciativa foram: (a) estudos de viabilidade técnica,

econômica e social da produção agrícola das comunidades; (b) conseqüente geração de

oportunidades contextualizadas e, se possível, duradouras; (c) ação de formação como

um processo contínuo de atuação voltada para a cidadania. Além do respeito a vida e ao

meio ambiente. Busca-se, para esse fim, uma nova articulação entre atores sociais que

seja autêntica e futuramente institucionalizada, e que tenha auto-organização. As

atividades tiveram a mobilização das pessoas interessadas, que criaram uma

organização autônoma para desenvolver ações de trabalho de campo e pesquisa, criando

o Grupo Gestor, que é um espaço onde agricultores assumem lugar do processo de

elaboração e implantação do trabalho a ser desenvolvido nas comunidades. A confiança

do agricultor é simultaneamente um indicador da sua participação e apresenta-se como:

(a) confiança em si próprio (autoconfiança), condição fundamental para a aquisição de

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autonomia e indicadora dessa autonomia; e (b) confiança nos outros, para formar

cooperação e sinergias, é vista como um indicador de autonomia.

As atividades desenvolvidas para gestão social e organização local da equipe

social e econômica foram: a) mobilização da comunidade, com a eleição de

representantes comunitários para formação do Grupo Gestor; b) realização de um censo

socioeconômico ambiental por meio da aplicação de questionários aplicados pelos

representantes do Grupo Gestor; c) identificação dos sistemas de produção existentes na

área de estudo; d) realização de eventos (dias de campo e seminários técnicos) e)

identificação dos temas prioritários de intervenção do projeto: contaminação por

agrotóxicos, transporte, saúde, estradas e vias de transporte, atendimento médico,

comunicação, educação e lazer, ajustadas à necessidade de preservar o meio ambiente;

f) treinamento de técnicos da Prefeitura e da Universidade de Nova Iguaçu para coleta

de sangue para exame de intoxicação por agrotóxicos via análise); g) realização de

reuniões mensais com o Grupo Gestor; h) edição de quatro boletins informativos

distribuídos na região de atuação do projeto.

Foram realizadas visitas em todas as comunidades, com o objetivo de entender

os problemas enfrentados pela população. Através desses dados, foi possível obter

informações para o conhecimento da realidade local que serviriam de base para discutir

com as comunidades propostas de soluções dos problemas locais.

A pesquisa sobre os acidentes por uso de agrotóxico indica que 30,5% dos

entrevistados já tiveram acidentes pessoais ou na família, como esse percentual é

considerado alto, o uso de agrotóxico foi escolhido com prioridade. A pesquisa

identificou também problemas de salinidade na água, além de outros problemas

identificados pela pesquisa participativa.

No início da intervenção do projeto, muitos membros da comunidade não se

sentiam capaz de mudar a situação, como consequência para a comunidade, observou se

também que houve um crescimento do auto estima e de capacitação coletiva.

Por iniciativa própria, os agricultores passaram a realizar ações mais amplas, por

exemplo, o fato de terem: (a) levado suas reivindicações aos técnicos envolvidos no

Projeto; (b) formado a Associação dos Revendedores de Defensivos Agrícolas do

Noroeste Fluminense do Estado do Rio de Janeiro – ARDANF, responsável pela

construção do Galpão de Recebimentos de embalagens vazias de agrotóxicos no

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município; (c) realizado duas coletas de sangue para análise de colinesterase em 60

pessoas, sendo 50 produtores rurais de tomate e dez não produtores.

Com os resultados positivos obtidos nas unidades demonstrativas, foi iniciada

uma discussão da proposta de reengenharia de produção do tomate ecologicamente

correta.

Apesar de suas limitações, o projeto de São José de Ubá mostrou que é possível

desenvolver uma pesquisa participativa, com interdisciplinaridade, com aspectos de

mobilização próprios à pesquisa-ação, revelando-se capaz de desencadear uma série de

consequências positivas em matéria de organização das comunidades de produtores.

A metodologia participativa e de pesquisa-ação possui as características de um

método flexível para o projeto com equipes interdisciplinares em contato direto com

grupos da população ou das comunidades interessadas na resolução dos problemas

detectados. Tal metodologia é objeto de experimentação tanto no conhecimento quanto

no da prática social. A metodologia participativa e a pesquisa ação oferecem

promissoras possibilidades de pesquisa e de atuação na perspectiva da gestão

agroambiental.

Com a participação efetiva de membros dessas comunidades, observou-se uma

real implicação na identificação e priorização dos problemas e na busca de soluções

mais adequadas ao contexto. A participação voltada à gestão coletiva e à tomada de

decisão foi possibilitada pela construção de um grupo gestor localmente implantado.

Isso seria o início de um processo de empoderamento, promovido pelo projeto

participativo, pelo qual as comunidades se acostumam à ideia de assumirem a gestão de

suas atividades produtivas, assegurando a sustentabilidade pela consideração e

minimização dos riscos ambientais, pela viabilização técnico-econômica da produção e

pelas transformações do meio circundante obtidas com a melhoria da educação e dos

transportes.

RESENHA CRÍTICA

Os objetivos do estudo apresentado eram apontar os elementos que interferiam

no processo de aprendizagem e capacitação dos enfermeiros do hospital universitário,

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juntamente com a elaboração de propostas de melhorias. Por meio da pesquisa-ação, foi

possível compreender os elementos organizacionais que impediam uma aprendizagem

efetiva, sendo que um dos elementos apontados pelos participantes foi o distanciamento

entre as políticas e as práticas do hospital.

Não obstante, observou-se também problemas na comunicação dos funcionários

e distanciamento entre os auxiliares e técnicos de enfermagem, e os enfermeiros, que

atuavam como líderes de equipe. Ressalta-se que muitos dos problemas identificados no

decorrer do estudo possivelmente não seriam identificados se não ocorresse à interação

entre o pesquisador e os participantes, uma vez que esta propiciou não só diálogos entre

as partes, mas também a proposição de medidas coerentes com o contexto e com a

necessidade dos auxiliares e técnicos de enfermagem. Tal fato indica a viabilidade da

metodologia adotada.

Um dos fatores que incentivaram a execução do estudo foi a insatisfação por

parte da instituição em relação as capacitações realizadas e as práticas dos profissionais.

No entanto, com a interação entre os autores e os trabalhadores observou-se que parte

da incoerência entre o que é colocado nas ações de capacitação e na prática dos

trabalhadores se deve à falta de ações e elementos disponibilizados pela própria

organização.

A contribuição do trabalho apresenta-se relevante pela necessidade da constante

aprendizagem dos profissionais da saúde. As situações de trabalho que estes

profissionais lidam são variáveis e a troca de saberes entre eles possibilita maior

conhecimento aos trabalhadores, atualização destes e referências para tomadas de

decisão no decorrer das atividades executadas por eles. A proposta de estruturação de

um Núcleo de Educação Permanente acarretará na troca de experiências necessária para

um processo contínuo de capacitação, reunindo prática e teoria.

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REFERENCIAS

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http://www.fe.ufrj.br/ppge/dissertacoes/dissertacao_michele_thereza_dos_santos.pdf

acesso 13/04/2015