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Perspectivismo ameríndio e literatura: por uma sociologia menor

Ivan Tadeu Gomes*

Resumo: O texto que segue refletirá não somente sobre a potência contida nas narrativas

literárias como suporte às pesquisas do cientista social, mas discutirá sobretudo como isso pode

ser feito. Inúmeros trabalhos já tiveram na literatura o suporte para discussões de temas diversos

que orbitam o mundo social. Devido sua flexibilidade, tais narrativas são utilizadas com

diversas finalidades. O sociólogo Norbert Elias está entre aqueles que não se furtam a se valer

da literatura para vir ao auxílio de suas reflexões e análises. Em seu ensaio Sobre o tempo, o

sociólogo se pauta ao romance A flecha de Deus, do escritor nigeriano Chinua Achebe, a fim de

analisar o tempo social além da dicotomia natureza/cultura. Contudo, a forma de olhar que

dirige ao texto, tem leves – porém perceptíveis - contornos etnocêntricos e narcísicos – tomando

emprestada a concepção que o antropólogo Viveiros de Castro dá ao termo freudiano. O

presente ensaio pretende discutir a possibilidade de mirarmos a literatura menos como um

espelho a refletir nossos objetos de pesquisa, mas concebendo-a como antropologia

especulativa: que contém a potência para execussão da difícil tarefa de alteração do próprio

ponto de vista a partir da subjetivação do/no outro – e não sua objetificação. Visando, dessa

forma, contribuir para a ampliação das categorias de análise científica e do pensamento.

Palavras-Chave: Ciências Sociais. Literatura. Norbert Elias. Perspectivismo ameríndio.

Antropologia especulativa.

.esboçando o contorno

Toca a cada uno forjar su escritura-método. Renovar la escritura de las

ciencias sociales no consiste pues en abolir toda regla, sino en darse

libremente nuevas reglas. (JABLONKA, 2016, p.18)

O vasto e amplo mundo das ciências humanas, guarda em seu núcleo a potência

de extrapolar as linhas epistemológicas que dividem os campos produtores de

conhecimento. Extrapolar – veja bem – sem suspendê-los. É importante que haja algum

grau de especificidade. Mesmo toda a crítica com relação à especialização e

compartimentalização da produção de conhecimento não deve se render à sedução do

caos a todo custo. Algum sentido a de se ter – ou se dar; pela lâmina da reflexão. E por

mais difícil que seja imprecisar as linhas limítrofes que separam cada campo de

conhecimento – pelo risco de abusos, incompreensões e até mesmo do ridículo -, a

* Bacharel em Ciências Sociais (UFSC)

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possibilidade – mesmo que mínima - de fazer surgirem novas perspectivas, capazes de

ampliar, refigurar e estilizar o conhecimento, já é motivação o suficiente para dar ritmo

à dança sob as linhas divisórias.

O presente ensaio propõem discutir não apenas as potencialidades inerentes

entre o encontro dos saberes literários e das ciências sociais. Isso já está implícito e não

carece de qualquer defesa – apesar de não haver exageros em fazê-lo. O que se busca

neste texto diz mais respeito ao como fazê-lo. Em outras palavras, como as ciências

sociais podem se servir das narrativas literárias para refletir categorias que são do seu

interesse. Essa questão por si mesma já é bastante ampla, cabendo perspectivas diversas

e com um vasto campo de possibilidades reflexivas. Para afunilar a discussão, a fim de

fincar margens que permita ao pensamento fluir em seu ritmo, escolhi partir do caso

específico da apropriação que Norbert Elias faz do romance A flecha de Deus, que dá

parcial suporte para sua reflexão Sobre o tempo.

Antes de tudo, não posso deixar de registrar que: ao evocar uma narrativa

ficcional, a fim de servir de ponto de apoio para suas reflexões sobre o tempo, Elias já

diz muito sobre o encontro dos dois tipos de narrativa – a saber, ficcional e histórica - e

sobre o lugar em que os coloca. Entretanto, o seu como exige um olhar mais demorado,

uma ruminação sobre suas consequências e limitações. Mais do que criticar e evidenciar

as perspectivas do sociólogo, é em direção à forma de olhar das ciências sociais que se

dirigem as argumentações que seguem. Tendo em vista que não penso que a simples

aproximação dos campos de saber possuem valores positivos em si. É preciso

interpretá-los em intensidade, reconhecendo as potencias e limitações de cada campo do

conhecimento. Dessa forma, o debate ganha corpo e aproximação de ciência sociais e

literatura extrapola o patamar de mera aventura reflexiva para ganhar densidade e,

assim, dar vazão a sua potência.

Em meu auxílio nesta difícil e sinuosa tarefa, busco uma série de categorias de

reflexão, de diversos saberes: que vão da literatura - sobre o conceito de ficção,

antropologia especulativa, mímesis – à antropologia – perspectivismo ameríndio,

multinaturalismo – passando pela filosofia: desterritorialização da linguagem, literatura

menor. Correndo riscos, transito entre estes campos do saber em formato ensaístico –

por sentir nesta modalidade de expressão uma hospitalidade maior à tentiva de pensar o

pensamento com um pouco mais de espaço ao movimento proposto – sem com isso

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tomar o devido cuidado em manter uma certa forma que não destitua os argumentos

apresentados de alguma substância. A forma, aliás, como não poderia deixar de ser, é

largamente influenciada pelos saberes que evoca, sobretudo por pensar, junto com o

historiador Ivan Jablonka, que:

El investigador tiene todo el interés en escribir de manera más sensible, más

libre, más justa. En este caso, la justeza, la liberdad y la sensibilidad están

asociadas a la capacidad cognitiva, como cuando se dice que una

demonstración matemática es "elegante". Una cronologia o unos anales no

producen conocimento, y la idea de que los hechos hablan por sí mesmos es

una muestra de pensamiento mágico. Muy por el contrario, la historia ([SIC]

assim como as ciências sociais) produce conocimento porque es literaria,

porque se despliega en un texto, porque cuenta, expone, explica, contradice,

prueba: porque es un escribir-veraz. (JABLONKA, 2016, p. 18)

.borrando o contorno

Certo, queremos a verdade:

mas por que não, de preferência, a inverdade?

Ou a incerteza?

Ou mesmo a insciência?

Friedrich Nietzsche, Além do bem e do mal, p. 09

As Ciências Sociais têm, como qualidade e característica, constantes crises

epistemológicas. Para muitos, uma fragilidade que as destitui de propriedade e,

consequentemente, de mais espaço no rou de discursos científicos. Assumindo como

potência essa capacidade plural de interpretação do mundo social, outros mergulham

nesse vazio e o manejam como terreno fértil para novas criações de olhares e

interpretações sobre a vida.

A aproximação entre as narrativas literárias e sociológicas pode resultar num

vórtice catalizador da produção de conhecimento e das formas de ver o mundo social.

Ambas lidam com elementos comuns: a fabulação e o imaginário social. Teoria e

ficção, romance e vida misturam-se no olhar interpretativo das narrativas sociais – não

para enclausurar a literatura nas jaulas conceituais, mas para inspirar-se na aura de

liberdade que a ronda.

Así como el investigador puede encarar una demonstración en un texto, el

escritor puede desplegar un razonamiento histórico, sociológico,

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antropológico. La literatura no es necessariamente el reino de la ficción.

Adapta y a veces anticipa los modos de investigación de las ciencias sociales.

El escritor que quiere decir el mundo se erige, a su manera, en investigador.

(JABLONKA, 2016, p. 12)

“La literatura no es necessariamente el reino de la ficción”. Não necessariamente

o reino, mas pertence a uma mesma classe. Independente do lugar onde é colocada a

ficção na literatura, penso que uma é indissociável da outra1. Não vejo necessidade em

querer aproximar o caráter ficcional da literatura ao caráter da (suposta) realidade

daquilo que as ciências sociais se propõem a estudar. Isso porque não concebo a ficção

como antagônica àquilo que é objetivo, mas sim como seu suporte – um suporte sem

pretensão ao status de Verdade. Ao mesmo tempo em que não a vejo adentrar o campo

do falso, concordando com Juan José Saer, quando diz que:

Podemos, portanto, afirmar que a verdade não é necessariamente o contrário

da ficção, e que quando optamos pela prática da ficção não o fazemos com o

propósito obscuro de tergiversar a verdade. Quanto à dependência hierárquica

entre verdade e ficção, segundo a qual a primeira possuiria uma positividade

maior que a segunda, é desde já, no plano que nos interessa, uma mera

fantasia moral. (2009, p.02)

A ficção tem a qualidade de mesclar o empírico ao imaginário. O romancista,

como o pesquisador, apreende os acontecimentos sociais que o cerca e, a partir de seu

método particular, cria uma narrativa sem pretensão de expor o – problemático conceito

de – real propriamente dito. Por outro lado, podemos dizer que sua obra pode ser mais

um olhar sobre o mundo social. Essa característica confere ao romance um ponto de

partida para a pesquisa que tem legitimidade e potência para trabalhos no campo das

Ciências Sociais. Penso que esse encontro pode ser de grande contribuição para ambas

as áreas de conhecimento, chegando mesmo a movimentar os limites impostos que as

separam, frutos de uma cultura científica que reflete o compartimento dos saberes desde

há muito. A interpretação do social tende a se tornar mais verossímil na união desses

diversos olhares e modos de apreender a vida. A aproximação num mesmo tecido entre

a prosa das ciências sociais com as narrativa literárias, tendem a ampliar a compreensão

das narrativas humanas como um todo – sem, contudo, partir de uma hierarquia que é

“mera fantasia moral”. Por isso:

El problema, en consecuencia, no es"saber si el historiador debe o no hacer

literatura, sino cuál hace". Se puede decidir lo mismo del escritor con las

ciencias sociales: el problema no es saber si habla de lo real, sino si se da los

medios de comprenderlo. (JABLONKA, 2016, p. 23)

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Partindo do ponto de vista de que todo romance é uma ficção mimética; que,

segundo Aristóteles, em sua Poética, a “mímesis supõe um ato de adequação ou

correspondência entre a imagem produzida e algo anterior que o guia” e que “(…) a

mímesis aristotélica adquire um acentuado grau de liberdade quanto a este algo anterior

(…).” (LIMA, 2014, p. 31), penso que o mímema tem um caráter de imbricamento com

os acontecimentos sociais ou existenciais que pretende reproduzir – tenha ela maior ou

menor grau de liberdade quanto à forma de expressá-los.

Ela (a mímesis) apenas não é moldada pelo princípio da semelhança senão

que pelo vetor da diferença, em suas diversas formas (…). Por mais radicais

que sejam as formas de diferença, elas sempre mantêm um resto de

semelhança, uma correspondência, não necessariamente com a natureza mas

sim com o que tem significado em uma sociedade, com a maneira como a

sociedade concebe a própria natureza. (LIMA. 2014, p. 46, grifo meu)

Não à toa, sociólogos com trabalhos científicos notadamente reconhecidos já se

utilizaram das prosas ficcionais para poder dar lastro aos seus argumentos, ou mesmo

servir de documento para suas hipóteses sociológicas. É o que faz Norbert Elias em seu

ensaio Sobre o tempo.

.o narcisismo de Elias

Em seu ensaio, Norbert Elias busca olhar para o dispositivo2 tempo com o

estranhamento necessário para que este seja descolado do tecido social. Em outras

palavras, o transforma em objeto, utilizando um método genealógico para analisá-lo, a

fim de tentar demonstrar as arbitrariedades contidas no decorrer da formulação e da

construção dos conceitos e concepções de tempo. Nesse árduo trabalho de

desnaturalizar o tempo, mostrando-o como um elemento sociocultural construído ao

longo de gerações, o sociólogo descreve como os fenômenos naturais foram, em

determinado momento, essenciais para o desenvolvimento da demarcação do tempo

como é hoje concebida nas sociedades Ocidentais modernas.

Em um trecho do ensaio, a fim de “encontrar lembranças autênticas da vida

numa aldeia tradicional” (ELIAS, 1998, p.130) (grifo meu), com a finalidade de

apreender a transição de poder desta mesma aldeia para o Estado (inglês) que então

passava a colonizá-lo, o sociólogo diz que, para efetuar sua análise, “seremos obrigados

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a nos apoiar essencialmente em fontes escritas” (ibidem). Como fonte de análise é

escolhido o romance A flecha de Deus, do escritor nigeriano Chinua Achebe3.

O livro narra os pontos de vista tanto do colonizador, como do colonizando:

sobretudo de Ezeulu: sacerdote da divindade Ulu. O sacerdote de Umuaro é responsável

por, entre outras designações políticas, definir as medidas de tempo no “calendário” das

seis aldeias unidas sob a proteção dessa mesma divindade. Para isso, o sacerdote se

valia de seus saberes adquiridos ao longo da vida, transmitidos a ele por seu pai – seu

antecessor no podsto do sacerdócio -, para analisar o movimento da lua, a fim de definir

o calendário4 desse conjunto de aldeias.

São evidentes os motivos que levam Norbert Elias a resgatar as fontes presentes

na narrativa (ficcional) do romance: delinear os contornos da violência, presente na

coerção externa, utilizada para o disciplinamento dos corpos com relação à definição de

uma determinada concepção de tempo; e se utilizar dessa demonstração como parte de

sua reflexão sobre o tempo. É louvável seu esforço. Seu método nos coloca de frente

aos mecanismos arbitrários de imposição de uma perspectiva sobre outra. E que, nesse

caso, é focada na narrativa sobre o tempo: como os colonizadores ingleses se utilizaram

de artimanhas para suplantar a perspectiva do colonizando. Contudo, a partir disso,

poderíamos - com certa facilidade, diga-se - usar nossa imaginação para deslocar esse

método a fim de desvelar as formas mais ou menos violentas em que as imposições de

pontos de vista podem migrar para outros campos, outros costumes, outros mundos.

A limitação do como Elias olha para seu objeto de estudo, tangencia justamente

esta esfera: o ponto de vista. Um olhar mais atento, fortemente comprometido com a

tentativa de mergulhar na arte política do deslocamento perspectivista5, nota, sem muito

esforço, um certo grau de etnocentrismo na forma como o sociólogo descreve a forma

do pensamento dos povos do romance – em outros termos, sua ontologia. Dostoievski

diz que “o diabo mora nos detalhes”. E é nos detalhes da linguagem que o canhoto

lambe os beiços – para o bem ou para o mal – ou além desta dicotomia.

O fato de muitas denominações de objetos inanimados trazerem hoje a marca

do masculino, em alguns casos, e a do feminino, noutros, talvez seja um

vestígio de uma situação antiga na qual esses objetos eram percebidos como

pessoas. (ELIAS, 1998, p. 135)

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Norbert Elias, ao taxar tais vestígios como pertencentes a uma determinada

“situação antiga”, está assinando o atestado de óbito do pensamento dessas

coletividades. Se não matando, jogando-os na vala comum do que foi superado, do que

não merece atenção - que não seja com a utilidade de um espelho onde nossa moderna

cultura Ocidental possa mirar-se para poder olhar para si mesma, num estranhamento do

Outro para reafirmar o Mesmo. Inúmeras palavras do texto de Elias chamam minha

atenção pelo forte teor evolucionista e teleológico. Sobretudo quando coloca de frente a

cultura da tribo nigeriana do romance com a “nossa” moderna sociedade Ocidental.

Dicotomias como “estágios anteriores ou primitivos” em oposição a “estágios

posteriores”, são repetidas constantemente ao longo do ensaio, mostrando que “(...) o

etnocentrismo é, como o bom senso (...), a coisa do mundo mais bem

compartilhada”(VIVEIROS DE CASTRO, 2015, p. 35).

Na falta de uma percepção objetiva do enorme aumento da segurança que é

característico das sociedades dos estágios posteriores, com a concomitante

redução da incerteza e da angústia, é impossível nos conscientizarmos do alto

grau de incerteza e perigo experimentado pelas sociedades dos estágios

anteriores. (ELIAS, 1998, p.137) (grifos meus)

Não entrarei no mérito da afirmação desse trecho – que, a meu ver, é, por si só,

questionável. O que cabe a esse ensaio é evidenciar para discussão a forma como a

perspectiva do Outro pode ser apropriada pelo discurso do Mesmo nessa postura

narcísica. Antigos e posteriores determinam um local em uma perversa e preexistente

seta teleológica do tempo. Apesar de o sociólogo dizer que ao fazer uso de termos que

remetam à ideia (ou ideal) de progresso, está apenas utilizando-se de um método de

análise que se vale de “uma abordagem sociológica evolucionista, que tome por regra a

simples evidência dos fatos” (ELIAS, N. 1998, p. 75), a leitura que faz da ontologia

dessa coletividade africana, dita primitiva, narrada no livro de Chinua Achebe,

evidencia que:

(…) supor que todo discurso “europeu” sobre os povos de tradição não

europeia só serve para iluminar nossas “representações do outro” é fazer de

um certo pós-colonialismo teórico a manifestação mais perversa do

etnocentrismo. (VIVEIROS DE CASTRO, 2015, p.21)

As marcas desse etnocentrismo - desse apego ao seu próprio ponto de vista, sem

qualquer esforço para desloca-lo para adentrar e entender o ponto de vista do Outro -

são visíveis não apenas nas dicotomias e nas armadilhas verbais de Elias. Na genealogia

do tempo que o sociólogo desenvolve, parte-se do acúmulo de saber que a moderna

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sociedade Ocidental lança mão, ao longo de gerações, para que o tempo viesse a se

tornar esse objeto despersonificado o bastante para habitar os calendários e relógios de

pulso de forma tão natural e onipresente – além de totalitária. Em contraposição a essa

forma de apreender o tempo, Elias elege o multinaturalismo6 presente na cultura dos

povos do romance como exemplo da forma de apreensão do tempo de “sociedades em

estágio primitivo”.

Objetos como a lua ou o sol eram apreendidos como uma espécie de pessoas

(por esses homens dos estágios anteriores) (…). Ao primeiro surgimento da

lua nova, as pessoas tinham o costume de saudá-la devidamente, como

convinha, com palavras como “teu rosto que se encontra com o meu”. Esse

exemplo ilustra com muita clareza um modo de experiência ingenuamente

egocêntrico ou engajado. (ELIAS. 1998, p.136, grifo meu)

Ora, Elias, não estaria o egocentrismo encharcando a forma com a qual você percebe o

pensamento do Outro? Não quero insinuar com este questionamento que a lua deve ou

pode ser encarada como uma potencial homicida7. Apenas penso que o perspectivismo

ameríndio - como proposta epistemológica de Viveiros de Castro -, tem o potencial de

contribuir não apenas para redesenhar enriquecedoramente a forma como as Ciências

Sociais olham para aquele – no sentido mais amplo que essa palavra pode ter - que

escolhe estudar, mas sobretudo como um catalizador do pensamento crativo, a partir da

especulação possível por esse olhar perspectivado, quando dirigido ao Outro de forma

anti-narcísica – sobretudo quando o pesquisador se vale da literatura como ponto de

partida de sua pesquisa:

A perspectiva da antropologia especulativa, assim, é a que deriva desse

encontro – não é a perspectiva de um mundo ou de outro, mas a de sua

tradução recíproca: uma entre-perspectiva, uma perspectiva caleidoscópica,

composta e atravessada por mais de uma perspectiva, como talvez toda

perspectiva, quando tornada corpo (textual ou xamânico), seja marca de um

encontro de perspectivas: as técnicas corporais dos xamãs, o parentesco que o

constitui, as relações interespecíficas que compõem a sua experiência, todos

esses outros e suas perspectivas dão corpo à perspectiva xamânica ; assim

como o ponto de vista do autor, do narrador, dos personagens, mas também

os paratextos, a edição, a crítica e as interpretações, todas essas perspectivas

dão corpo ao texto, constituem a perspectiva de uma ficção literária.

(NODARI, A. 2015, p. 83)

.O Anti-Narciso

Sublinho: proliferar a multiplicidade.

Viveiros de Castro, Metafísicas Canibais, p. 28

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A formação acadêmica do cientista social é, via de regra, pautada em

epistemologias objetivistas da modernidade Ocidental – sobretudo na sociologia e na

ciência política. Ao longo do curso de graduação, em consequência disso, somos

induzidos a pensar que: conhecer é “objetivar”.

Nosso jogo epistemológico se chama objetivação; o que não foi objetivado

permanece irreal ou abstrato. A forma do Outro é a coisa. (VIVEIROS DE

CASTRO. 2015, p. 50, grifo meu)

O Outro é a coisa. Não só a lua e o sol, como se refere Elias, são objetos nessa

análise. Também o são as sociedades dos estágios anteriores. Quando tratadas como

objetos, é inevitável: forma-se o telos. A comparação, feita desse modo, com essa

dicotomia evolucionista – mesmo que manifesta como destituída daquele valor

Iluminista – ainda possui em si algum valor. O valor de espelho. O valor de objeto

insuficientemente analisado.

Como alternativa epistemológica, Viveiros de Castro nos apresenta o livro que

nunca foi – e nunca será – escrito: O Anti-Narciso. Em Metafísicas Canibais, a

proposição de uma outra forma de ver - a saber, o perspectivismo -, sugere um outro

viés analítico. Não mais o Outro como espelho. Não mais a objetificação. Frente ao

animismo ao qual Elias supõe praticarem aqueles povos por ele referenciados, o

perspectivismo guarda um lugar para a personificação daquele que pretende interpretar.

O xamanismo ameríndio é guiado pelo ideal inverso: conhecer é personificar;

tomar o ponto de vista daquilo que deve ser conhecido. Ou antes, daquele;

pois a questão é a de saber “o quem das coisas” (Guimarães Rosa), saber

indispensável para responder com inteligência à questão do “por quê”. A

forma do Outro é a pessoa. (VIVEIROS DE CASTRO, 2015, p. 50) (grifo

meu)

Guardemos as devidas proposições: Viveiros de Castro fala do lugar do

antropólogo amazonista; e quando fala, parte de seus estudos sobre os povos indígenas

que fizeram derivar os conceitos de perspectivismo e multinaturalismo ameríndio – e

não daquelas sociedades nigerianas do livro de Chinua Achebe. Entretanto,

desterritorializar o conhecimento, tomando emprestado o que pode servir como

potencializador para o que aqui discutimos - o método sociológico de análise de Norbert

Elias -, nessa antropofagia deslocada, justifica o ato.

A transversalidade de se fazer uso de uma narrativa literária para orientar

determinada discussão sobre temas sociológicos, além de legítima, é fértil. As

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possibilidades que Norbert Elias desperdiça ao sepultar o pensamento daqueles povos,

sob seu viés etnocêntrico, são sintomáticas: o esgotamento de nossas categorias de

análise nas ciências sociais, por se privarem, muitas vezes, do mergulho profundo em

outras formas de pensar. O conhecimento Ocidental contemporâneo, por mais que se

faça valer da síntese de um enorme amontoado de saberes, perde em intensidade quando

deprecia outras perspectivas ontológicas e as descarta rapidamente por entendê-las

superadas.

Para sua análise sobre o tempo, a forma como Elias se dirige à cultura daquele

povo narrado no romance serve ao seu propósito: construir uma linha tosca e grosseira

da evolução dos saberes. Mas não podem passar batidos os custos do projeto. Vejo nisso

o quadro de toda uma tradição do conhecimento “europeu”. Olhar para o Outro e de sua

forma de ver com altivez e soberba.

Analisando o mesmo trecho citado por Elias (ACHEBE Apud ELIAS, 1998, p.

132), onde a lua é personificada pelos personagens, e descartando sua interpretação

deste fenômeno como animismo – pautado numa concepção multiculturalista -,

colocando em seu lugar a perspectiva do multinaturalismo proposta por Viveiros de

Castro, percebemos menos uma forma primitiva de ver o mundo do que uma ontologia

diferente.

Esse reembaralhamento das cartas conceituais levou-me a sugerir a expressão

“multinaturalismo” para designar um dos traços contrativos do pensamento

ameríndio em relação às cosmologias “multiculturalistas” modernas:

enquanto estas se apoiam na implicação mútua entre unicidade da natureza e

multiplicidade das culturas – a primeira garantida pela universalidade

objetiva dos corpos e da substância, a segunda gerada pela particularidade

subjetiva dos espíritos e dos significados -, a concepção ameríndia suporia,

ao contrário, uma unidade do espírito e uma diversidade dos corpos.

(VIVEIROS DE CASTRO, 2015, p. 44)

Ao passo que o multiculturalismo como política pública pressupõe a tutela

paternalista da tolerância, o multinaturalismo reconhece uma equivalência do

“espírito”, relegando ao corpo o lugar da diferença, uma vez que “a diferença 'jamais' se

anula completamente” (LÉVI-STRAUSS Apud VIVEIROS DE CASTRO, 2015, p. 49). Onde o

corpo:

(...) é um conjunto de maneiras ou modos de ser que constituem um habitus,

um ethos, um etograma. Entre a subjetividade formal das almas e a

materialidade substancial dos organismos, há esse plano ventral que é o corpo

como feixe de afetos e capacidades, e que é a origem das perspectivas. Longe

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do essencialismo espiritual do relativismo, o perspectivismo é um

maneirismo corporal. (VIVEIROS DE CASTRO. 2015, p. 66)

Ao analisar desse modo a apreensão daquele coletivo com relação ao mundo –

em suma, sua cosmopolítica -, Elias não está sendo somente etnocêntrico. Está também

anulando boa parte da potência contida naquela forma de pensar, em nome da

objetificação acadêmica do conhecimento. Está sendo raiz, ao passo que é o rizoma que

nos interessa.

.perspectivismo ameríndio: por uma sociologia menor

É em intensidade que é preciso interpretar tudo.

Gilles Deleuze & Félix Gattari, Anti-Édipo

Aqui, para falar sobre pensamento nômade, devir e desterritorialização do

pensamento, será preciso levar os passos desse ensaio dançarino até outro campo: o

filosófico, nos servindo daquilo que disseram Deleuze e Guattari. Claro, além de dois

desses termos estarem frequentemente presentes ao longo de seus trabalhos – clara ou

subliminarmente -, as reflexões de Viveiros de Castro estão em afinações muito

próximas a dos pensadores franceses. A epígrafe acima, que abre essa sessão, é a

mesma que dá início ao Metafísicas Canibais. São inúmeras as referências ao trabalho

de ambos ao longo do texto – de novo: clara e subliminarmente.

Já que o presente ensaio é menos traço do que borrão, inicio seu fecho me

referenciando a dupla de pensadores franceses:

Uma literatura menor não é a de uma língua menor, mas antes a que uma

minoria faz em uma língua maior. Mas a primeira característica, de toda

maneira, é que, nela, a língua é afetada de um forte coeficiente de

desterritorialização. (DELEUZE & GATTARI. 2015, p. 35)

Quando Kafka escrevia em alemão na República Tcheca de seu contexto,

descendente de família judia, fazia da desterritorialização da língua um ato político. Um

ato solitário, mas que, ao fim e ao cabo, remetia ao coletivo. Ele podia falar sobre o

conflito de pai e filho – como em Carta ao Pai -, mas nem por isso o texto deixava de

ter um programa político. Nesse sentido, resgatar determinadas narrativas literárias –

como Elias faz ao tornar A flecha de Deus uma referência de seu ensaio -, tem um certo

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caráter político e desterritorializante. O problema reside, como dito antes, no modo

como é (re)tratada essa narrativa do Outro.

O resgate das narrativas literárias tem a potência de mergulhar nas

subjetividades e nas socialidades8 que perpassam o social, sem com isso perder em nada

a qualidade do que – ou de quem – se interpreta. Nisso abrem-se inúmeras

possibilidades ao pesquisador, a partir dessa etnografia ficcional. É por isso que “ler

ficções é altrerar-se, mudar a própria posição existencial, re-situar a própria existência

diante de uma nova inexistência descoberta”(NODARI, 2015, p. 82). Ou seja, “o eu, o

aqui, o mundo se modifica diante de um novo eu-aqui: não se trata de relativismo, mas

de perspectivismo” (Ibidem, p. 80, grifo meu). A fim de buscar nesse exercício o

desenvolvimento da arte de ver, sugiro que se tome como fundamento o perspectivismo

ameríndio de que nos fala o antropológo Viveiros de Castro: não o livro como objeto,

espelho; mas como pessoa, “isto é, como manifestação individual de uma multiplicidade

biossocial” (VIVEIROS DE CASTRO, 2015, p.46). Onde os personagens vão além da

dicotomia entre real e falso. E que mesmo guardados em sua qualidade de

subjetividades inventadas, carregam o potencial de serem absorvidos e observados a

partir da troca de perspectiva entre eles e quem os lê – a saber: nós, leitores.

A primeira vista, essa proposição pode ser bastante estranha à gama dos métodos

sociológicos de fazer pesquisa. Mas é justamente contra a primeira vista que esse ensaio

investe sua potência – a perspectiva da “primeira pessoa”: aceitemos a relevante tarefa

proposta por Foucault, a de penser autament o pensamento - “pensar 'outramente',

pensar outra mente, pensar com outras mentes” (ibidem, p.25). Ou seja, apropriar-se da

reflexão que o antropólogo traz à sua disciplina, buscando afetar outras áreas do

conhecimento com esse forte coeficiente de desterritorialização que vem do

perspectivismo ameríndio. Elevando dessa forma a sociologia à qualidade de uma

ciência menor, capaz de conceber os platôs que derivam da contingência resultante da

troca entre diferentes perspectivas ontológicas.

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Notas

1. Vale ressaltar as discussões sobre a parcela ficcional que cabe até mesmo às narrativas autobiográficas

– que numa perspectiva derridiana, são concebidas como otobiografias: ou seja, as ficções do discurso

sobre si próprio. Não irei me aprofundar nas discussões sobre essa questão – que são muitas -, vale apenas

trazer para esta reflexão esta perspectiva a fim de ilustrar que mesmo os textos que que comumente se

concebem como narrativas “reais”, baseadas em fatos verídicos, têm, segundo as perspectivas pautadas na

otobiografia, sua parcela de ficcão.

2. AGAMBEN, G. O que é um dipositivo? p. 09 In: outra travessia nº05, Ilha de Santa Catarina: 2º

semestre de 2015.

3. Há disponível no Brasil uma edição traduzida do romance pela Companhia das Letras – que possuo e já

li. Contudo, a fim de dirigir a análise deste ensaio somente ao trabalho de Norbert Elias, preferi

referenciar apenas os trechos que o sociólogo se utiliza para construção de seus argumentos.

4. Aqui, calendário pode ser entendido simplesmente como “o momento de agir”.

5. Arte política do perspectivismo ameríndio em contraposição à arte política do multiculturalismo tutelar

das modernas sociedades Ocidentais. Metafísicas Canibais, Viveiros de Castro, 2015, p. 49 e 50.

6. Para utilizar um conceito de Viveiros de Castro, em contraposição ao “animismo” que Norbert Elias

lança mão para descrever ontologia do povo do romance. Metafísicas Canibais, Parte I, Capítulo 3:

Multinaturalismo.

7. O povo de Umuaro separava a lua entre “Lua boa” e “Lua má” – onde aquela de qualidade

perversa teria a capacidade de matar aquele ou aquela que para ela olhasse e incomodasse: ACHEBE, C.

apud ELIAS, N. 1998, p.132

8. “(…) a socialidade como a ação criadora e subversiva dos atores sociais (...)”. (MAFFESOLI, M.

apud SILVA, C. M. 2005, p. 186)

REFERÊNCIAS

AGAMBEN, Giorgio. O que é um dipositivo? p. 09 In: outra travessia nº05, Ilha de

Santa Catarina: 2º semestre de 2015.

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Horizonte: Editora Autêntica, 2015.

ELIAS, Norbert. Sobre o tempo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 1998.

JABLONKA, Ivan. La historia es una literatura contemporánea: manifesto por las

ciencias sociales. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica,

2016.

LIMA, Luís Costa História. Ficção. Literatura. São Paulo: Companhia das Letras,

2006.

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______. Mímesis: desafio ao pensamento. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2014.

NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Além do bem e do mal: prelúdio para uma filosofia

do futuro. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

SAER, Juan José. O conceito de ficção. Revista Sopro nº 15. Desterro: Cultura e

Barbárie, 2009.

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literatura. Revista Emancipação. v. 5, n. 1. 2005.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Metafísicas canibais: elementos para uma

antropologia pós-estrutural. São Paulo: Cosac Naify, 2015.