PERSEGUIÇÃO AOS CRISTÃOS NO CONTEXTO DE 1 DE PEDRO

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 PERSEGUIÇÃO AOS CRISTÃOS NO CONTEXTO DE 1 DE PEDRO  Ao lermos a Primeira Epístola de Pedro, lo go notam os um a forte presença do tema  pers eg uição/ s ofr imento. Já no primeiro capítulo observamos essa temática evidenciando-se a partir do versículo 6 e, não só aí, mas vemos esse assunto permeando todos os capítulos e se tornando o principal dentro da carta. O apóstolo Pedro escreve essa carta a uma igreja dispersa, ou seja, homens e mulheres que estão vivendo em uma região que não lhes é de origem (1.1). Por si só, esse já é um motivo de sofrimento visto que eles não foram viver nessas regiões por livre vontade, mas devido a situações adversas. A palavra grega usada para designar esse estado de estrangeirismo dos destinatários dessa carta é paraikos.  Hernandes D. Lopes nos diz que “um paraikos é alguém que está longe do seu lar, em terra estranha, e cujos pensamentos sempre retornam à pátria” (LOPES, 2012, p. 14). Também, Mueller explica que paroikos é um termo específico e técnico para designar uma classe da população que, embora residente em determinado lugar, não tinha plenos direitos de cidadania (LOPES, 2012, p. 14). Desse modo, por viverem nessas condições eles eram vítimas de segregação e injustiças sociais. Porém, a perseguição da qual Pedro trata nessa carta está relacionada somente ao fato de os destinatários serem cristãos. Quanto a isso, vale ressaltar que não se trata de uma perseguição formal e oficial, instituída por algum imperador, mas, uma perseguição local e circunstancial. Aliás, Pedro trata o governo como um órgão protetor da justiça e que não deve ser temido por aqueles que a praticam (cap. 2). Além disso, boa parte dos estudiosos coloca a autoria dessa carta por volta de 62-63 d.C., contudo, a primeira perseguição oficial contra os cristãos foi decretada por Nero em 64 e culminou na morte do apóstolo Pedro em 65 d.C. No contexto dessa carta vemos os cristãos sendo difamados por todo tipo de calúnia, justamente porque a sua maneira íntegra de viver incomodava aqueles que estavam ao seu redor. Mueller diz o seguinte a esse respeito: Podemos imaginar os que estão de fora do círculo, talvez nem entendendo bem o que está se passando, e todo tipo de falatório que se espalha, muitas vezes com más intenções. Talvez até as autoridades estejam em posição de suspeitar desse movimento religioso de origem oriental, relacionado de alguma forma com os

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Uma breve análise bíblico-histórica do tema "perseguição", evidente na primeira epístola de Pedro.

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  • PERSEGUIO AOS CRISTOS NO CONTEXTO DE 1 DE PEDRO

    Ao lermos a Primeira Epstola de Pedro, logo notamos uma forte presena

    do tema perseguio/sofrimento. J no primeiro captulo observamos essa

    temtica evidenciando-se a partir do versculo 6 e, no s a, mas vemos esse

    assunto permeando todos os captulos e se tornando o principal dentro da carta.

    O apstolo Pedro escreve essa carta a uma igreja dispersa, ou seja,

    homens e mulheres que esto vivendo em uma regio que no lhes de origem

    (1.1). Por si s, esse j um motivo de sofrimento visto que eles no foram viver

    nessas regies por livre vontade, mas devido a situaes adversas. A palavra

    grega usada para designar esse estado de estrangeirismo dos destinatrios

    dessa carta paraikos. Hernandes D. Lopes nos diz que um paraikos algum

    que est longe do seu lar, em terra estranha, e cujos pensamentos sempre

    retornam ptria (LOPES, 2012, p. 14). Tambm, Mueller explica que paroikos

    um termo especfico e tcnico para designar uma classe da populao que,

    embora residente em determinado lugar, no tinha plenos direitos de cidadania

    (LOPES, 2012, p. 14). Desse modo, por viverem nessas condies eles eram

    vtimas de segregao e injustias sociais.

    Porm, a perseguio da qual Pedro trata nessa carta est relacionada

    somente ao fato de os destinatrios serem cristos. Quanto a isso, vale ressaltar

    que no se trata de uma perseguio formal e oficial, instituda por algum

    imperador, mas, uma perseguio local e circunstancial. Alis, Pedro trata o

    governo como um rgo protetor da justia e que no deve ser temido por

    aqueles que a praticam (cap. 2). Alm disso, boa parte dos estudiosos coloca a

    autoria dessa carta por volta de 62-63 d.C., contudo, a primeira perseguio

    oficial contra os cristos foi decretada por Nero em 64 e culminou na morte do

    apstolo Pedro em 65 d.C.

    No contexto dessa carta vemos os cristos sendo difamados por todo tipo

    de calnia, justamente porque a sua maneira ntegra de viver incomodava

    aqueles que estavam ao seu redor. Mueller diz o seguinte a esse respeito:

    Podemos imaginar os que esto de fora do crculo, talvez nem

    entendendo bem o que est se passando, e todo tipo de falatrio que

    se espalha, muitas vezes com ms intenes. Talvez at as

    autoridades estejam em posio de suspeitar desse movimento

    religioso de origem oriental, relacionado de alguma forma com os

  • detestveis judeus, e que se excluam assim das festas e cerimnias

    da vida pblica (tambm no prestando culto ao imperador, nem aos

    deuses locais, os patronos (padroeiros) das vrias localidades. Assim,

    os crentes eram ameaados (3.14), injuriados (4.14), tendo de sofrer

    pelo simples fato de serem cristos (4.16). (MUELLER, 1998, p. 39)

    A postura de santidade dos cristos caa sobre os mpios com um peso

    de condenao e, por isso, os pagos falavam mal deles. No s falavam mal,

    como tambm, os isolavam socialmente, faziam levantes populares e, tambm,

    aes policiais localizadas.

    Outro ponto importante que diz respeito ao sofrimento, destacado nessa

    carta, de que ele se faz necessrio. O versculo 6 do primeiro captulo diz:

    ainda que agora, por um pouco de tempo, devam ser entristecidos por todo tipo

    de provao, o que explicita a necessidade daquela provao. Alm disso,

    vemos, tambm, o propsito de toda essa perseguio que para que fique

    comprovado que a f que vocs tm (...) genuna e resultar em louvor, glria

    e honra, quando Jesus Cristo for revelado. Esse processo de provao est em

    absoluta concordncia com os demais escritos do Novo Testamento, desde as

    falas de Jesus nos evangelhos (Mateus 6.10-12, p.ex). Est, tambm, em

    concordncia com os escritos de Paulo, as cartas de Joo, Tiago, e o livro de

    Apocalipse.

    Portanto, fica evidente o quo importante esse tema para a igreja crist

    do perodo apostlico e, tambm, aos crentes do sculo XXI, afinal, recorre

    vrias vezes no decorrer dos escritos neotestamentrios. Como participantes da

    nova aliana em Cristo, cada cristo verdadeiro deve estar disposto a sofrer por

    Jesus Cristo, como nos mostra o versculo 1 do captulo 4: Portanto, uma vez

    que Cristo sofreu corporalmente, armem-se tambm do mesmo pensamento.

    Se Cristo sofreu por ns, devemos nos armar do mesmo pensamento e estar

    dispostos a sofrer por sua nobre causa.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BRUCE, F. F. Comentrio Bblico NVI: Antigo e Novo Testamento. Traduo

    de Valdemar Kroker. So Paulo: Vida, 2008.

  • GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. Traduo de Joo

    Marques Bentes; Fabiano Medeiros e Valdemar Kroker. 3. ed. So Paulo: Vida

    Nova, 2008.

    LOPES, Hernandes D. 1 Pedro: com os ps no vale e o corao no cu. So

    Paulo: Hagnos, 2012.

    MUELLER, nio R. 1 Pedro: introduo e comentrios. So Paulo: Vida Nova,

    1998.