Periódicos brasileiros e a fuga de artigos de alto impacto

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Periódicos brasileiros e a fuga de artigos de alto impacto Rubenildo Oliveira da Costa Bibliotecário - Serviço de Documentação Odontológica/FOUSP Mestre em Ciência da Informação - PUCCamp E-mail : [email protected] Lúcia Maria S. V. Costa Ramos Diretora Técnica - Serviço de Documentação Odontológica/FOUSP Doutoranda em Ciência da Informação - USP E-mail : [email protected] São Paulo, SP, Brasil

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Pôster apresentado à CONFOA 2013 (06 a 09 de outubro de 2013 - São Paulo, SP, Brasil) - Rubenildo Oliveira da Costa, Lucia Maria S.V.C. Ramos

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Periódicos brasileiros

e a fuga de artigos de alto impacto

Rubenildo Oliveira da Costa

Bibliotecário - Serviço de Documentação

Odontológica/FOUSP

Mestre em Ciência da Informação - PUCCamp E-mail : [email protected]

Lúcia Maria S. V. Costa Ramos

Diretora Técnica - Serviço de Documentação

Odontológica/FOUSP

Doutoranda em Ciência da Informação - USP

E-mail : [email protected]

São Paulo, SP, Brasil

Page 2: Periódicos brasileiros e a fuga de artigos de alto impacto

De 2008 a 2011, houve um aumento de 240% (de 31 para 111) no número de títulos de periódicos brasileiros

indexados no Journal Citation Report (JCR), base de dados que calcula o Fator de Impacto (FI) de periódicos

científicos (PACKER, 2012), refletindo no aumento da classificação do Brasil no Ranking de artigos indexados.

Porém, tem-se observado o baixo desempenho desses títulos nas últimas edições do JCR - objeto de discussão

nas edições de 2010, 2011 e 2012 do Seminário de Avaliação dos Periódicos Brasileiros no JCR, evento

promovido pela Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de

São Paulo (FAPESP).

Acredita-se, como causa desse problema, na existência de um círculo vicioso que impede o aumento do FI de

periódicos brasileiros. Se por um lado os pesquisadores brasileiros preferem publicar suas pesquisas de maior

impacto em títulos de periódicos estrangeiros com alto FI, citando os mesmos títulos; por outro lado, os

periódicos brasileiros costumam publicar mais artigos de pesquisadores brasileiros (até mesmo de sua própria

instituição - alto índice de endogenia), e as citações recebidas são na sua maioria de pesquisadores e/ou

periódicos brasileiros.

A partir dessa hipótese, objetiva-se calcular o FI de periódicos a partir da produção científica da USP na área de

Odontologia, comparando o comportamento de publicação dos pesquisadores em periódicos brasileiros e

estrangeiros. E, com isso, demonstrar que é possível avaliar a produção científica além dos indicadores

bibliométricos de periódicos científicos disponibilizados pelas bases de dados de citação SJR/Scopus e

JCR/Web of Science.

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Quadro 1 - Cálculo do Fator de Impacto, segundo a

produção científica da USP na área de odontologia

METODOLOGIA

Aplicação de técnicas bibliométricas, utilizando os softwares livres BibExcel (análise

bibliométrica) e Pajek (representações gráficas). O universo da pesquisa é formado por 797

artigos de pesquisa publicados pela USP na área de Odontologia no período de 2009 a 2010

e indexados na SCOPUS (Base de Citação mais abrangente). Os 797 registros

bibliográficos da base foram recuperados no mês de setembro de 2012.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os 797 artigos da USP foram publicados em 79 títulos de periódicos de odontologia dos 206

indexados na indexados na Scopus. O quadro 1, ao lado, apresenta apenas os 20 primeiros

títulos “mais importantes”, segundo o impacto da produção da USP, classificados a partir do

mesmo cálculo do FI do JCR. Por exemplo, no primeiro título Oral Microbiology and

Imunology divide-se o número de 87 citações recebidas por 6 artigos publicados por

pesquisadores da USP, resulta no FI de 14,500. A classificação foi definida considerando

que as 2.037 citações recebidas pelos 20 títulos representam 65% do total. Portanto, 20

periódicos publicaram 267 artigos de alto impacto, que receberam 65% do total de citações.

Ou seja, a produção científica de maior impacto da USP na área de odontologia foi

publicada em 20 títulos de periódicos, caracterizando o núcleo.

Portanto, é possível observar que na lista dos 20 títulos de periódicos não existe periódico

brasileiro. Isso confirma a apropriação dos artigos científicos brasileiros de alto impacto

pelos periódicos estrangeiros, que são de acesso controlado por grandes editoras; FI acima

da média da área de odontologia; a maioria possui Qualis A.

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Quadro 2 - Cálculo do Fator de Impacto, segundo a

produção científica da USP na área de odontologia

(somente periódicos brasileiros)

No quadro 2, ao lado, sobre a classificação dos periódicos brasileiros, observa-se na

primeira coluna que o periódico melhor classificado “Journal os Applied Oral Science” da

Faculdade de Odontologia de Bauru localiza-se na 41º posição dos 70 títulos de periódicos,

seguido de mais 6 títulos brasileiros. Portanto, todos os títulos obtiveram baixo desempenho

na análise.

Ao comparar os periódicos do núcleo (quadro 1) com os 7 periódicos brasileiros (quadro 2),

podemos identificar algumas discrepâncias: a quantidade de artigos indexados é

praticamente a mesma - 267 e 260, respectivamente. Porém, a diferença entre citações

recebidas é intrigante - 2.037 contra 479, respectivamente. Isto é, enquanto que os títulos

do núcleo são responsáveis por 65% do total de citações, os títulos brasileiros, por apenas

15%.

Assim, os resultados mostram a preferência dos pesquisadores da USP por publicar

pesquisas de alto impacto nos periódicos estrangeiros com FI. Uma das razões desse

comportamento está relacionada às exigências das Agências de Fomento à Pesquisa ao

considerarem o FI (principal critério da classificação da Qualis Odontologia) na avaliação da

produção científica dos pesquisadores. Ora, o FI está relacionado ao periódico e não à

pesquisa. Ademais, se a pesquisa publicada no artigo for de qualidade, ele poderá receber

muitas citações independentemente de onde for publicado, se título de periódico brasileiro

ou estrangeiro, uma vez que a qualidade do processo editorial dos periódicos brasileiros é

parecido com o dos periódicos estrangeiros.

Para comprovar tal afirmação, descreve-se abaixo a estrutura atual dos 3 principais periódicos ligados às Faculdades de Odontologia da USP:

Todos os 3 títulos possuem Qualis B1; Publicação online; Acesso Livre; Principais Bases (LILACS; PubMed; SciELO; SCOPUS); Idioma inglês;

Corpo editorial internacional; Softwares de editoração eletrônica; Atenção à redação científica.

Journal of Applied Oral Science (JAOS): FOB; 9 anos; Bases de Dados (Web of Science/JCR); Submissão online

Brazilian Oral Research (BOR): FO; 26 anos; Ahead of print

Brazilian Dental Journal (BDJ): FORP; 12 anos

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Figura 1 – Rede de colaboração entre unidades da USP a partir dos artigos de

alto impacto dos 20 títulos de periódicos do núcleo Por outro lado, considera-se importante representar como se relacionam

a quantidade de artigos publicados, títulos de periódicos e unidades da

USP a partir dos 20 títulos do núcleo.

Na figura 1, ao lado, o tamanho dos círculos representa a quantidade de

artigos publicados pelo periódico ou unidade (informada também pelo

número entre colchetes), enquanto que a espessura das linhas

representa o grau de relação existente entre os periódicos e/ou unidades

(informada também pelo número localizado no meio de cada linha); as

cores representam os clusters ou agrupamentos; e por último, a

classificação dos periódicos é apresentada após a descrição de cada

título.

Tal análise foi trabalhada a partir dos registros da base DEDALUS da

USP. Por isso, determinadas informações de quantidade de artigos

podem ser menores do que a da base de dados SCOPUS. Contudo, essa

perca de informações interfere minimamente no entendimento da

proposta da figura.

Na área de odontologia, a FOB é a que mais publicou artigos de alto

impacto na USP (88), seguida pela FO (62) e FORP (61). Outras

unidades da USP também publicaram com alto impacto em odontologia.

Dentre elas, o ICB é a que mais publicou (14), inclusive publicou 4 artigos

em um periódicos de alto impacto na avaliação da produção (5º

colocado). O título que está em 1º lugar na classificação publicou 4

artigos: 2 com filiações da FORP, FOB e FMRP; 1 com filiação ICB e 1

com filiação FM, mas ele é verde, por isso, tem mais familiaridade com a

FORP.

O periódico que recebeu mais publicações foi o Oral Surgery Oral

Medicine, Oral Pathology, Oral Radiology and Endodontology (41), mas

está na 19º lugar na classificação da produção. Ele está relacionados

com as três faculdades de odontologia da USP, mais fortemente com a

FOB.