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Mestrado Integrado em Medicina Dentária da Universidade do Porto Artigo de Revisão Bibliográfica Perfis de microRNA deteção e aplicação no diagnóstico de cancro oralBohdana Petrivna Holub Porto, 2020

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Mestrado Integrado em Medicina Dentária da Universidade do Porto

Artigo de Revisão Bibliográfica

“Perfis de microRNA – deteção e aplicação no

diagnóstico de cancro oral”

Bohdana Petrivna Holub

Porto, 2020

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“ Perfis de microRNA – deteção e aplicação no diagnóstico de

cancro oral”

Unidade Curricular “Monografia de Investigação / Relatório de

Atividade Clínica”

Artigo de Revisão Bibliográfica

Bohdana Petrivna Holub

Aluna do 5º Ano do Mestrado Integrado em Medicina Dentária da Faculdade de

Medicina Dentária da Universidade do Porto

[email protected]

Orientadora

Prof. Doutora Paula Cristina dos Santos Vaz Fernandes

Professora Auxiliar com Agregação da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do

Porto

[email protected]

Coorientador:

Dr. Nuno Teixeira Tavares

Mestre em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

Especialista em Oncologia Médica

[email protected]

Porto, 2020

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Resumo

Introdução: A oitava neoplasia maligna mais frequente a nível mundial é o Cancro da Cabeça

e do Pescoço (CCP). O prognóstico, em estádios não iniciais, é ainda desfavorável, apesar

dos avanços no diagnóstico e terapêutica. Diversos estudos reconhecem a associação entre a

desregulação dos miRNAs e o aparecimento de neoplasias malignas orais. Em biópsia líquida

estas moléculas evidenciam elevado potencial no diagnóstico do cancro oral, sugerindo que

elevados níveis de miRNAs desregulados presentes em fluídos humanos possam ser detetados

e correlacionados com desenvolvimento inicial de cancro oral.

Objetivos: Objetiva-se efetuar uma abordagem concisa sobre as diversas técnicas de deteção

de miRNAs e sobre aplicabilidade dos mesmos no diagnóstico de neoplasias malignas orais.

Material e Métodos: Para a realização desta tese foram efetuadas pesquisas de artigos

científicos na base de dados PubMed® (National Library of Medicine, National Center for

Biotechnology Information) com o limite temporal 2009 a 2019. Foram considerados artigos

redigidos em inglês, a partir dos seus títulos, resumos e com base na relevância para o tema.

Esta pesquisa foi posteriormente complementada com a consulta de artigos relacionados com

os das pesquisas originais. Obtiveram-se 469 artigos, dos quais foram selecionados 246 e 126

foram incluídos.

Desenvolvimento: Os seguintes conceitos foram explorados individualmente: mecanismos

de desregulação dos miRNAs, as suas funções no cancro oral, as diversas técnicas de deteção

dos miRNAs e a aplicabilidade dos mesmos para o diagnóstico do cancro oral.

Conclusão: O miRNAs possuem um papel determinante a nível das vias celulares na

patogénese do cancro oral. No entanto, são necessários estudos futuros no sentido de se

esclarecer melhor o mecanismo de ação do miRs no desenvolvimento do cancro oral. Existem

diversos métodos válidos de deteção dos miRNAs, embora na generalidade apresentem

vantagens e limitações. A saliva é cada vez mais usada como uma “biópsia líquida”, uma vez

que constitui uma fonte de biomarcadores para o diagnóstico do cancro oral.

Palavras-Chave: miRNA, cancro oral, biomarcadores de diagnóstico, deteção dos miRNAs.

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Abstract

Introduction: Head and Neck Carcinoma is the eighth most common kind of human cancer

worldwide. Even if diagnostic and therapeutic methods cntinue evolving, the prognosis of

oral cancers in non-initial stages is still poor. Many studies found a strong association between

the development of oral cancer and deregulated miRNAs profiles. Recently, using liquid

biopsy, numerous studies confirmed the potential diagnostics value of miRNAs in oral cancer.

This suggests that deregulated miRNAs when detected in human fluids can be linked to the

initial development of oral cancer.

Objective : This article aims at performing a literature review on the recent advances in

miRNA detection and their use in diagnosis of oral carcinomas.

Material and Methods: Article search was conducted in PubMed database, including articles

published from 2009 to 2019. Only papers written in English were included based on their

abstracts and relevance to the theme. The original keyword-based search was further

complemented by references cited in the former articles. A total of 469 publications were

obtained, with 246 being selected for this review and 126 being included.

Development: The dysregulation mechanisms of miRNAs, their functions in oral cancer,

different detection techniques of miRNAs and their use in oral cancer diagnosis are explored

individually. A discussion analyzing all of the concepts mentionned above is also presented.

Conclusion: Numerous studies demonstrated the role of miRNAs in cellular processes of oral

cancer. However, future studies are necessary in order to discover new processes used by

miRNAs in the developpment of oral cancer. MiRNAs are important candidates for the

controll of oral cancer, so, one of the most popular investigation fields is the analysis of the

newest miRNAs detection methods. Various methods and techniques were studied and each

of them has their advantages and limitations. The saliva, out of all human fluids, is the most

often used in the liquid biopsy as a biomarker for the oral cancer diagnosis even if it still has

some limitations mentioned in this review.

Keywords: miRNA, oral cancer, diagnostic biomarkers, miRNA detection.

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Índice

Resumo ...................................................................................................................................... 1

Abstract ..................................................................................................................................... 2

Índice ......................................................................................................................................... 3

Índice de Tabelas ...................................................................................................................... 4

Índice de Figuras ...................................................................................................................... 5

Lista de Abreviaturas ............................................................................................................... 6

1.Introdução .............................................................................................................................. 9

2.Material e métodos .............................................................................................................. 11

3.Mecanismos de desregulação dos miRNAs ....................................................................... 12

3.1.Mecanismos genéticos: .............................................................................................. 13

3.2.Mecanismos epigenéticos: ........................................................................................ 15

3.3.Alterações no processamento dos miRNAs: ........................................................... 16

4.Perfis de miRNAs alterados no cancro oral ...................................................................... 17

4.1.Carcinoma Oral de Células Escamosas (COCE) ................................................... 17

4.2.Carcinoma Adenóide Cístico Salivar (CACS) ........................................................ 21

4.3.Lesões prémalignas ................................................................................................... 22

5.Estratégias recentes de imagiologia molecular usadas na deteção da expressão

diferencial dos diversos miRNAs no cancro oral ................................................................. 24

5.1.Imagiologia de Bioluminescência (IBL) .................................................................. 25

5.2.Ressonância Magnética (RM) .................................................................................. 26

5.3.Imagiologia Cerenkov ............................................................................................... 27

5.4.Técnicas de amplificação de ácidos nucleicos ......................................................... 27

5.5.Deteção dos miRNAs recorrendo a nanoparticulas de ouro ................................. 32

6.miRNAs – marcadores biológicos auxiliares no diagnóstico do cancro oral. Perspetiva

da biópsia líquida ................................................................................................................... 32

6.1.MiRNAs circulantes no sérum/plasma como biomarcadores do cancro oral ..... 34

6.2.MiRNAs salivares como biomarcadores de cancro oral........................................ 36

7.Discussão .............................................................................................................................. 39

8.Conclusão ............................................................................................................................. 41

Referências .............................................................................................................................. 42

Anexo 1 – Declaração de Autoria da Monografia ............................................................... 53

Anexo 2 – Parecer do Orientador para entrega definitiva do trabalho apresentado ...... 54

Anexo 3 – Parecer do Coorientador para entrega definitiva do trabalho apresentado .. 55

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Índice de Tabelas

Tabela I - Interações entre os microRNAs e os genes relacionados com o COCE. ................ 19

Tabela II - Lista de microRNAs adicionais com poder de diagnóstico do CEL. .................... 34

Tabela III - MicroRNAs reportados por apresentarem concentrações desreguladas nos fluídos

corporais, relevantes para o diagnóstico do cancro oral ........................................................... 38

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Índice de Figuras

Figura 1 - Danos produzidos pela radioterapia num paciente com CCP. ............................................... 9

Figura 2 - Esquematização da pesquisa e da seleção das referências bibliográficas. ........................... 12

Figura 3 - Esquema ilustrativo de diversos mecanismos de desregulação dos miRNAs. .................... 13

Figura 4 - Esquema ilustrativo sobre o silenciamento epigenético e sub-expressão dos miRNAs com

função supressora tumoral. .................................................................................................................... 15

Figura 5 - Esquema ilustrativo da regulação do miR-34a pelas proteínas p53e SIRT1 por feedback

negativo. ................................................................................................................................................ 16

Figura 6 - Imagem ilustrativa de COCE da mucosa bucal. .................................................................. 18

Figura 7 - Esquema ilustrativo sobre a a ação do miR-21 no desenvolvimento do COCE. ................. 18

Figura 8 - Carcinoma escamoso da língua. .......................................................................................... 20

Figura 9 - Mecanismo de ação dos miRs sobre-expressos, no desenvolvimento e prognóstico do CEL.

............................................................................................................................................................... 20

Figura 10 - Tumefação extra-oral da glândula salivar submandibular esquerda. ................................. 21

Figura 11 - Imagem histopatológica com coloração com hematoxilina e eosina de um CACS (10x).

(Hipermagnificação de 100x no canto superior direito). ....................................................................... 21

Figura 12 - Esquematização dos diferentes miRNAs desregulados no CACS..................................... 22

Figura 13 - Diferentes tipos de LO. ...................................................................................................... 23

Figura 14 - Método de deteção de células cancerígenas testado em ratos recorrendo a IBL. .............. 25

Figura 15 - Esquema ilustrativo dos microRNAs desregulados nos pacientes com glioblastoma

multiforme. ............................................................................................................................................ 26

Figura 16 - Ilustração sobre o esquema de ação do let-7 e a emissão de fotões de luz visível. ........... 27

Figura 17 - Amplificação de Círculo Rolante. ..................................................................................... 28

Figura 18 - Deteção do miR-21 pela DSN. .......................................................................................... 29

Figura 19 - Esquema ilustrativo do modo de ação do LAMP. ............................................................. 30

Figura 20 - Esquema ilustrativo do modo de ação do SDA. ................................................................ 31

Figura 21 - A biópsia líquida auxilia na deteção precoce do cancro oral. ............................................ 33

Figura 22 - Esquema sobre os microRNAs desregulados no plasma, de pacientes com COCE/CEL,

apresentando elevado potencial na deteção do cancro oral. .................................................................. 34

Figura 23 - Esquema ilustrativo dos microRNAs salivares com utilidade no diagnóstico do COCE. . 36

Figura 24 - Ilustração de microRNAs salivares desregulados. ............................................................. 37

Figura 25 - Esquema ilustrativo dos microRNAs salivares detetados em pacientes com LPO. .......... 38

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Lista de Abreviaturas

AUC - Área abaixo da curva ROC

Bim - Bcl-2-like protein 11

CACS - Carcinoma adenóide cístico salivar

CAMK2N1 - Calcium/Calmodulin Dependent Protein Kinase II Inhibitor 1

CCP - Carcinomas da Cabeça e do Pescoço

CDC73 - Cell Division Cycle 73

Cdk6 - Cyclin Dependent Kinase 6

CDKN1B - Cyclin-dependent Kinase Inhibitor

CDKN1C - Cyclin-dependent kinase inhibitor 1C

CEL - Carcinoma escamoso da língua

c-Myc - MYC Proto-Oncogene, BHLH Transcription Factor

COCE - Carcinoma Oral de Células Escamosas

Dicer-1 - endoribonuclease Dicer

DKK2 - Dickkopf-related protein 2

DND1 - Dead end protein homolog 1

DSN - Amplificação baseada na Nuclease Específica de Duplexos

Drosha - drosha ribonuclease III

E2F1 - E2F Transcription Factor 1

F-PNA - péptidos fluorescentes de ácido nucléico

Fluc - Firefly luciferase

Gluc - Gaussia Luciferase

hNIS - Human Sodium-Iodide symporter

IBL - Imagiologia de bioluminescência

K-ras - KRAS Proto-Oncogene, GTPase

LAMP - Amplificação Isotérmica Mediada por Alça

LLC - leucemia linfocítica crónica

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LO - leucoplasia oral

LOAR - lesões orais de alto risco

LPO- liquen plano oral

MET - MET Proto-Oncogene, Receptor Tyrosine Kinase

miRNAs / miRs - microRNAs

Myc - MYC proto-oncogene, bHLH transcription factor

p53 - tumor protein p53

PCNA - Proliferating Cell Nuclear Antigen

PCR - Reação em cadeia da polimerase

PDCD4 - Programmed Cell Death 4

PDIA3P - Protein Disulfide Isomerase Family A Member 3 Pseudogene 1

pri-miRNAs - miRNAs primários

pre-miRNAs - precursores dos miRNAs

PTEN - Phosphatase and tensin homolog

RAS - gene codificador da Ras GTPase

RCA - amplificação de círculo rolante

RCAHR - RCA hiper-ramificado

RCAP - produtos amplificados de ácidos nucleicos criados por RCA

RECK - Reversion-inducing cysteine-rich protein

RISC - complexo de silenciamento induzido por RNA

Rluc - Renilla luciferase

RM - ResonÂncia Magnética

SDA - Amplificação de Deslocamento de Cadeia

SDS - Síntese pelo Deslocamento da Cadeia

SIRT1 - NAD-dependent deacetylase sirtuin-1

SOX7 - SRY-Box Transcription Factor 7

Sp1 - Sp1 Transcription Factor

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TIMP1 - TIMP Metallopeptidase Inhibitor 1

TIMP3 - TIMP metallopeptidase inhibitor 3

UBE2B - Ubiquitin Conjugating Enzyme E2 B

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1.Introdução

O cancro oral é o tipo mais comum dos Carcinomas da Cabeça e do Pescoço (CCP). (1)

Constitui a oitava neoplasia maligna humana com maior prevalência de morte (Figura 1). Com

220 000 novos casos que surgem anualmente, apresenta uma elevada frequência global (5%).

(2)

Figura 1 - Danos produzidos pela radioterapia num paciente com CCP. Fonte: http://www.headandneckcancerpatient.com/radiation-damage.html

(Adaptado e sem autorização do autor)

O Carcinoma Oral de Células Escamosas (COCE) integra um conjunto de neoplasias com

origem na mucosa de recobrimento oral. É, por isso, a entidade que se considera como o

representante major do cancro oral, constituindo 90% de todos os tipos de neoplasias malignas

orais. (3) Diversos fatores de risco estão associados ao COCE, entre os quais, um dos mais

relevantes, é a infeção pelo papilomavirus humano (HPV). Uma das razões desta associação é

a elevada afinidade do vírus pelos queratinócitos. (4)

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O exame clínico é o primeiro meio de deteção clínica do COCE, complementado pela biópsia

incisional para caraterização histopatológica.

Devido à pequena sensibilidade do exame visual, o COCE é comummente detetado em estadios

avançados. Consequentemente, o prognóstico torna-se desfavorável, por metastizar

rapidamente e recorrer frequentemente, apresentando uma taxa de sobrevivência a 5 anos de

47%. (5) (6)

Assim, a investigação centra-se muito na pesquisa de biomarcadores fiáveis para o diagnóstico

simplificado e precoce do cancro oral. Os microRNAs (miRNAs) apresentam-se como

potenciais candidatos destes biomarcadores.

Os miRNAs são cadeias simples de RNAs (com cerca de 22 nucleótidos) que não codificam

proteínas, mas são uns dos principais reguladores negativos da expressão génica. O genoma

humano contém aproximadamente 2500 miRNAs, que interagem com cerca de 60% de todos

os genes, ligando-se às sequências complementares das extremidades não traduzidas 3´ dos

RNAs mensageiros (mRNAs) alvos. (7) (8)

O miRNA, uma vez ligado ao mRNA alvo, anula a expressão deste último, degradando-o ou

suprimindo a sua translação, permitindo a regulação de genes supressores tumorais e de

oncogenes. Diversos mRNAs constituem o alvo de um só miRNA o que resulta na regulação,

por este último, de numerosas vias biológicas implicadas na génese do cancro (de que

constituem exemplo a proliferação, diferenciação, migração e apoptose celular). (6)

No núcleo celular, os miRNAs são transcritos, a partir dos pri-miRNAs, que são sequências

localizadas entre os intrões, nos genes, e nas regiões intergénicas. A polimerase II ou III de

RNA é a enzima responsável pela catalisação da transcrição. (8)

Os pri-miRNAs são processados pelo complexo RNAase III endonuclease Drosha. Os pre-

miRNA são formados por sequências de 60-110 nucleótidos (9), que são exportadas para o

citoplasma, sendo recortados em duplas-cadeias, curtas, de miRNAs e desenrolados por

helicases específicas, formando os miRNAs maduros. No entanto, estes últimos não são capazes

de exercer as suas funções até serem incorporados com as proteínas Argonaute no RISC. Uma

vez incorporados, regulam o mRNA por processos mencionados anteriormente. (8) (6)

A desregulação dos miRNAs deve-se principalmente a fatores externos, nomeadamente

substâncias químicas ambientais, stress celular, às modificações ocorridas durante a transcrição

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e aos defeitos de processamento dos miRNAs. Isto leva ao metabolismo anómalo dos miRNAs

alvos, desregulando assim os genes que controlam a génese do cancro. (7)

A presença de determinados miRNAs circulantes nos fluídos humanos, associa-se com o

desenvolvimento e a manifestação de uma variedade de cancros orais. Estes dados sugerem o

potencial dos miRNAs na biópsia líquida para a deteção inicial das neoplasias malignas orais.

(10)

A partir deste conhecimento, acerca dos miRNAs, diversas técnicas inovadoras de deteção

destes tem vindo a ser desenvolvidas.

Esta dissertação tem como objetivo apresentar de forma concisa a base das funções oncogénicas

e supressoras tumorais dos miRNAs no cancro oral, bem como efetuar uma abordagem sobre

algumas técnicas, consideradas atuais, na deteção destas biomoléculas e sobre o seu potencial

como biomarcadores no diagnóstico do cancro oral, recorrendo à biópsia líquida.

2.Material e métodos

Para a realização desta revisão bibliográfica procedeu-se a uma pesquisa na base de dados

PubMed®, com as palavras chave combinadas e com os marcadores booleanos AND e OR:

MicroRNA, oral cancer, diagnostic biomarkers e MicroRNA detection com limitação temporal

de 2009 a 2019 e ao idioma inglês. Foram também utilizadas algumas referências de artigos

específicos pela relevância da temática abordada nas mesmas.

Um dos critérios de inclusão de artigos foi a presença de informação relevante para o

conhecimento sobre os mecanismos de desregulação dos miRNAs, sobre técnicas inovadoras

de deteção dos miRs e sobre o uso destes como biomarcadores biológicos no diagnóstico do

cancro oral. Como critérios de exclusão utilizou-se: rejeição de artigos com idioma diferente

do inglês e de artigos não relacionados com COCE/CCP/cancro oral e/ou miRNA.

Apresentando-se em esquema uma súmula dos resultados obtidos (Figura 2)

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Figura 2 - Esquematização da pesquisa e da seleção das referências bibliográficas.

3.Mecanismos de desregulação dos miRNAs

Muitos cancros orais e outras patologias que afetam a cavidade oral estão associados à

expressão desregulada dos miRNAs. (7) Diferentes miRNAs podem atuar como supressores

tumorais ou como promotores tumorais, participando no início e na progressão dos vários

cancros orais. Alterações na expressão dos miRNAs poderão estar na origem da patogénese,

metástase e quimioresistência do cancro oral. (8)

Um miRNA pode participar em diferentes vias moleculares, provocando diversos efeitos

biológicos em células e tecidos variáveis. Cada miRNA pode igualmente alterar a função

supressora/oncogénica de qualquer outro miRNA. (11)

Vários mecanismos podem estar na base desta desregulação e estão agrupados em quatro

principais categorias. A Figura 3 esquematiza estes mecanismos. (7)

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Figura 3 - Esquema ilustrativo de diversos mecanismos de desregulação dos miRNAs.

3.1.Mecanismos genéticos:

Os miRNAs podem atuar como genes supressores tumorais (quando localizados em regiões

cromossómicas ausentes na neoplasia maligna) ou como oncogenes (quando estão em áreas

amplificadas na neoplasia maligna), dependendo dos genes alvos que regulam. (12)

O ganho ou perda de material cromossómico nos genes codificadores de miRNAs (Figura 3),

portanto em mutações, pode ocorrer com bastante facilidade devido à fragilidade dos locais

onde estes genes estão presentes, alterando a expressão dos miRNAs. (8)

Um estudo efetuado por Mohammad e colaboradores, demostrou que a perda da expressão no

gene CDC73 (Cell Division Cycle 73) estimulava a proliferação das células da linha KB (linha

celular implicada no COCE). Como a sobrexpressão do miR-155 (miRNA oncogénico) levava

a sub-expressão do gene CDC73, estes resultados indicam que o miR-155 regula a expressão

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do gene CDC73 interagindo especificamente com a região 3′-UTR. As mutações nesta região

podem levar à uma alteração do processo no qual o miRNA visa o gene alvo. (13)

Um outro estudo determinou diferentes padrões de expressão dos miRNAs nas amostras de

pacientes com COCE, tendo-se verificado que o cluster do miR-17-92 estava desregulado,

sobre-expresso, sub-regulando os genes supressores tumorais PTEN (phosphatase and tensin

homolog), E2F1 (E2F Transcription Factor 1) e Bim (Bcl-2-like protein 11). (14)

Este cluster consiste em seis miRNAs (miR-17, miR-18a, miR-19a, miR-20a, miR-19b1 e miR-

92-1). A região cromossómica que codifica este cluster encontra-se amplificada numa grande

variedade de tumores sólidos humanos, e, consequentemente, leva a sobre-expressão deste

cluster.

Os miRNAs deste cluster promovem proliferação celular, inibem a apoptose e induzem a

angiogènese tumoral, entre outras ações. Outros miRNAs sobre-expressos numa variedade de

tumores humanos, atuam sobre genes supressores tumorais importantes, diminuindo a sua

expressão. Por exemplo, o miR-21 atua diretamente sobre os genes PTEN, PDCD4

(Programmed Cell Death 4), TIMP1 (TIMP Metallopeptidase Inhibitor 1) e o miR-221/222,

atua sobre os genes PTEN, CDKN1B (cyclin-dependent kinase inhibitor), CDKN1C (Cyclin-

dependent kinase inhibitor 1C) e TIMP3 (TIMP metallopeptidase inhibitor 3). (15)

Os miRNAs com a função supressora tumoral apresentam deleções ou mutações nos genes

codificadores, participando no aparecimento de vários cancros humanos como é o caso do miR-

16 que se encontra sub-expresso no cancro oral. (15) (16)

Os membros da família let-7 (let-7a, let-7b, let-7c, let-7d, let-7e, let-7f, let-7g, let-7i, miR-98 e

miR-202) diminuem a expressão do oncogene RAS (gene codificador da Ras GTPase), que está

na origem de vários cancros humanos, incluindo o carcinoma oral. A deleção parcial ou total

desta família, resulta na sobre-expressão do oncogene. (17)

É importante referir que certos miRNAs podem atuar como oncogenes ou como supressores

tumorais, dependendo do tecido onde atuam. Consequentemente, antes de classificar um

microRNA como um oncogene ou um supressor tumoral, é necessário especificar em que célula

ou tecido é exercida essa função. (15) Um exemplo ilustrativo seria o caso do COCE, onde

asalterações no cromossoma 11 são das mais comuns. A perda de uma parte do braço do

cromossoma 11 (11q), está presente em mais de 50% de COCE e a amplificação da banda

cromossómica 11q13 ocorre em 45 % dos COCE. (18)

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3.2.Mecanismos epigenéticos:

A Figura 3 ilustra os principais mecanismos epigenéticos implicados na desregulação dos

miRNAs. (7)

A desregulação epigenética mais frequentemente encontrada em neoplasias malignas, é a

hipermetilação do DNA dos genes supressores tumorais (Figura 4). A hipometilação do DNA

dos oncogenes também pode ser observada em certas neoplasias malignas, embora menos

frequentemente. (19) O consequente silenciamento epigenético contribui para a proliferação e

invasão das células neoplásicas orais. (8) (20)

Figura 4 - Esquema ilustrativo sobre o silenciamento epigenético e sub-expressão dos

miRNAs com função supressora tumoral.

O silenciamento dos seguintes miRNAs: miR-34b, miR-100, miR-125b miR-137, miR193a e o

miR-203 encontra-se na base e na progressão do COCE. A hipermetilação dos genes

codificadores destes miRs é uma das causas, como é o caso do miR-137, associado a taxas de

sobrevivência baixas no COCE. (19)

A família genética miR-34 (miR-34a, miR-34b e miR-34c), quando presente nas células

neoplásicas induz sua apoptose através da ação inibidora sobre o grupo génico Myc (MYC

proto-oncogene, bHLH transcription factor). Porém, os promotores dos genes codificadores do

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miR-34b e miR-34c são alvo da hipermetilação da região CpG em vários cancros, incluindo o

cancro oral. (8)

3.3.Alterações no processamento dos miRNAs:

As consequências dos defeitos do processamento dos miRNAs (Figura 2) podem ser severas,

nomeadamente defeitos na organogénese. Como constituem exemplo, os defeitos no

processamento de genes efetores da via de formação dos miRNAs, tais como Drosha (drosha

ribonuclease III) e Dicer-1 (endoribonuclease Dicer), que alteram significativamente o fluxo

dos miRNAs. Várias alterações, nomeadamente a diferenciação celular terminal, podem ser

explicadas pela deleção do Dicer-1 do epitélio dentário. A deleção heterozigótica de Drosha e

Dicer-1 está associada à transformação celular e tumoregénese em ratos, e a deleção

hemizigótica de um ou de ambos genes é comum em numerosos cancros humanos. (7)

O mecanismo de inibição por feedback, regula a expressão de alvos transcripcionais do gene

da p53 (tumor protein p53), nomeadamente o miR-34a. A Figura 5 exemplifica este mecanismo.

Figura 5 - Esquema ilustrativo da regulação do miR-34a pelas proteínas p53e SIRT1 por

feedback negativo. Fonte: https://www.researchgate.net/figure/Cytology-of-apoptosis-The-different-stages-of-apoptotic-cell-death-

start-by-cellular_fig3_274013152

(Adaptado e sem autorização do autor)

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Mutações no gene da p53 e/ou do STIR1 impedem a biogénese eficaz do miR-34a nos

queratinócitos, contribuindo para o desenvolvimento do COCE (Figura 5). (21)

4.Perfis de miRNAs alterados no cancro oral

A cavidade bucal constitui uma das 10 localizações mais frequentes de neoplasias malignas.

Três casos sobre quatro afetam a população mundial. (7)

Nas últimas décadas, vários estudos foram realizados com o objetivo de encontrar os padrões

de miRNAs mais frequentemente desregulados em diferentes tipos de cancro oral. Centenas de

miRNAs foram identificados, e dados como certos, repetindo-se em vários estudos. Isto

justifica a diversidade de miRs encontrados e, do mesmo modo, explica o porquê de

determinados miRNAs serem identificados em determinados trabalhos e ausentes noutros.

Torna-se, assim, pertinente realçar que diferentes miRNAs podem ser encontrados em

diferentes carcinomas orais e variar a sua expressão. (22)

4.1.Carcinoma Oral de Células Escamosas (COCE)

Os COCEs representam mais de 90% de todos os cancros orais (Figura 6). (23) Diversos estudos

analisaram os principais miRNAs envolvidos no aparecimento e progressão deste tipo

histológico de neoplasia maligna. Os seguintes miRs sobre-expressos foram os mais

frequentemente encontrados: o miR-21, miR-7, miR-34, miR-155, miR-182 e miR-185.

Numerosos miRNAs sub-regulados foram igualmente detetados, dos quais se destacam: a

família let-7, miR-23b, miR-125a, miR-125b e miR-145. (7) (24)

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Figura 6 - Imagem ilustrativa de COCE da mucosa bucal. Fonte: https://www.merckmanuals.com/professional/ear,-nose,-and-throat-disorders/tumors-of-the-head-and-

neck/oral-squamous-cell-carcinoma

(Adaptado e sem autorização do autor)

A Figura 7 esquematiza os diversos mecanismos de ação do miR-21 no desenvolvimento do

COCE e do Carcinoma associado a fibroblastos. (6) (25) (26) (24)

Figura 7 - Esquema ilustrativo sobre a a ação do miR-21 no desenvolvimento do COCE.

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19

A Tabela I esquematiza os diversos genes e miRs implicados no desenvolvimento do COCE e

como estes se relacionam.

Tabela I - Interações entre os microRNAs e os genes relacionados com o COCE.

miR-34a expressão do gene do

receptor da interleucina 6

Fenótipo mais

agressivo do COCE

(27)

miR-155 expressão do gene

CDC73 Fenótipo mais

agressivo do COCE

(6)

miR-182-5p expressão do CAMK2N1

(Calcium/Calmodulin

Dependent Protein Kinase

II Inhibitor 1)

Proliferação celular

menos agressiva

(28)

expressão do PDIA3P

(Protein Disulfide

Isomerase Family A

Member 3 Pseudogene

1)

expressão do miR-185-5p Fenótipo mais

agressivo do COCE

(29)

família let-7 expressão do oncogene

RAS

Fenótipo mais

agressivo do COCE

(15) (17)

miR-23 expressão do MET (MET

Proto-Oncogene, Receptor

Tyrosine Kinase)

Diminuição da

migração e invasão

neoplásica

(30)

miR-145 expressão do proto-

oncogéne c-Myc (MYC

Proto-Oncogene, BHLH

Transcription Factor) e do

gene Cdk6 (Cyclin

Dependent Kinase 6)

Pior prognóstico do

COCE

(31)

4.1.1.Carcinoma Escamoso da Língua (CEL)

A localização preferencial do COCE é a língua (Figura 8). (23) O CEL é um dos tumores

malignos mais frequentes e possui rápida capacidade de invasão e de metástase. (32) Existem

numerosas alterações dos miRNAs observadas neste cancro, o que o torna quase como uma

entidade independente do COCE. É, por isso, importante dedicar uma parte desta revisão à sua

análise.

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Figura 8 - Carcinoma escamoso da língua. Fonte: https://www.webmd.com/cancer/tongue-cancer-facts#1

(Adaptado e sem autorização do autor)

O miR-184, miR-21 e o miR-24 mostraram-se frequentemente sobre-expressos neste tipo de

cancro (Figura 9), ao contrário do miR-100, miR-125, miR-138, miR-159, miR-740, miR-133a

e miR-133b que foram detetados em défice. (7) (33) (34) (32) (35)

Figura 9 - Mecanismo de ação dos miRs sobre-expressos, no desenvolvimento e prognóstico

do CEL.

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21

Em contraste, a expressão reduzida dos miRNAs, com a função supressora tumoral, tais como

o miR-100, miR-125, miR-138, miR-159, miR-740, miR-133a e miR-133b regula a migração,

invasão e progressão das células malignas. A expressão diminuída destes miRNAs pode

desencadear vários mecanismos biológicos que estimulam a carcinogénese. (7) (36)

4.2.Carcinoma Adenóide Cístico Salivar (CACS)

O Carcinoma Adenóide Cístico Salivar (CACS) é um carcinoma muito comum das glândulas

salivares (Figura 10,11). (7)

Figura 10 - Tumefação extra-oral da glândula salivar submandibular esquerda. Fonte: https://www.researchgate.net/figure/Lateral-view-of-the-left-side-of-neck-showing-swelling-in-left-submandibular-

gland_fig1_301676209

(Adaptado e sem autorização do autor)

Figura 11 - Imagem histopatológica com coloração com hematoxilina e eosina de um CACS

(10x). (Hipermagnificação de 100x no canto superior direito). Fonte: https://www.researchgate.net/figure/Hematoxylin-and-Eosin-stained-HP-section-10x-of-Adenoid-cystic-

carcinoma-solid_fig3_301676209

(Adaptado e sem autorização do autor)

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22

A Figura 12 esquematiza a ação de diversos miRNAs, desregulados no CACS. (37) (7)

Figura 12 - Esquematização dos diferentes miRNAs desregulados no CACS.

As desregulações dos miRNAs mencionados (Figura 12) parecem estar associadas ao

comportamento mais invasivo do CACS, encontrando-se implicadas várias vias genéticas e

biológicas, embora nem todas as funções oncogénicas / supressoras tumorais destes miRs sejam

conhecidas. (7) (38)

A título de exemplo, o miR-375 tem as proteínas Sp1 (Sp1 Transcription Factor) e ciclina D1

como alvos e funciona inibindo a proliferação celular. O miR-455 infraregula o gene supressor

tumoral UBE2B (Ubiquitin Conjugating Enzyme E2 B). (22)

O estudo de Shin e colaboradores, em contrapartida, detetou o miR-181a como estando sub-

expresso no carcinoma oral. Neste estudo, a interação deste com o gene K-ras (KRAS Proto-

Oncogene, GTPase) inibia a proliferação celular. (39)

4.3.Lesões prémalignas

A leucoplasia oral (LO) (Figura 13) é a manifestação mais comum de lesões prémalignas orais,

tendo como principais fatores de risco o tabaco, o álcool, infeções por HPV e a predisposição

genética. (7)

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Figura 13 - Diferentes tipos de LO.

a - Leucoplasia Homogénea

b - Leucoplasia Ulcerada

c - Leucoplasia Nodular

d - Leucoplasia Proliferativa Verrugosa Fonte: https://cdn.technologynetworks.com/ep/pdfs/potentially-malignant-disorders.pdf

(Adaptado e sem autorização do autor)

Huan e colaboradores, realizaram um estudo afim de identificar e comparar os diferentes

padrões de expressão dos miRNAs entre os tecidos com leucoplasia oral e os tecidos onde esta

lesão se transformou em COCE (LO-COCE) e conseguiram identificar diferenças

significativas. Foram encontrados 3 miRNAs-padrão: miR-129-5p, miR-296-5p e miR-450b-5p.

O miR-129-5p e o miR-296-5p estavam sub-regulados nos tecidos com LO-COCE atuando

como supressores tumorais, ao contrário do miR-450b-5p que se apresentava sobre-expresso,

justificando a sua função oncogénica. (40)

Tecidos com LO, comparativamente com os tecidos sãos, apresentavam sobre-regulação do

miR-21 e do miR-181b. Histologicamente, detetou-se um aumento do rácio núcleo/citoplasma,

do número de figuras mitóticas e hipercromatismo. (41)

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As diferenças na expressão dos miRNAs entre a LO e LO-COCE determinam o

desenvolvimento da neoplasia maligna, a partir da leucoplasia, o que contribui ao diagnóstico

precoce do COCE. (40)

5.Estratégias recentes de imagiologia molecular usadas na deteção

da expressão diferencial dos diversos miRNAs no cancro oral

No cancro oral, certos miRNAs estão significativamente sobre-regulados e são estimuladores

da progressão do cancro silenciando os genes supressores tumorais, nomeadamente os genes

indutores de apoptose. Consequentemente, verifica-se um aumento da proliferação, da invasão

e da metástase no cancro oral. Os miRNAs podem servir de biomarcadores, uma vez que a

análise da sua expressão poderá auxiliar no diagnóstico precoce. (42)

É possível monitorizar os miRNAs, nas LO e nos estádios iniciais do cancro oral, recorrendo a

diferentes métodos. Os métodos mais convencionais incluem a sequenciação computacional do

DNA, métodos baseados na amplificação tais como o PCR em tempo real, a análise molecular

por Northern Blot e técnicas baseadas em hibridização tais como os microarrays e a hibridização

in situ.

Os métodos supracitados apresentam limitações, visto que são principalmente usados na

deteção in vitro dos miRNAs e não monitorizam as funções dinâmicas dos miRs. (43) (44)

Descobertas recentes mostraram que as técnicas de imagiologia molecular não invasiva podem

vir a constituir alternativas aos métodos anteriores, na monitorização in vivo de miRNAs. (45)

Estas, podem mesmo constituir uma nova via de diagnóstico precoce do cancro oral.

Assim, neste capítulo, estão resumidas as principais técnicas inovadoras de deteção dos

miRNAs e são discutidas as suas vantagens e eventuais limitações. De realçar que cada vez

mais se recorre à identificação destes biomarcadores clínicos à partir dos líquidos biológicos.

(45) (44) (46)

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25

5.1.Imagiologia de Bioluminescência (IBL)

A IBL apresenta grande sensibilidade nas análises imagiológicas in vivo devido à ausência de

reflexão dos sinais bioluminescentes.

Figura 14 - Método de deteção de células cancerígenas testado em ratos recorrendo a IBL. Fonte: https://www.nanowerk.com/news/newsid=14179.php

(Adaptado e sem autorização do autor)

As luciferases catalisam a energia química em energia luminosa (Figura 14) e possuem elevada

especificidade para o seu substrato. (44) Os genes Fluc (Firefly luciferase), Rluc (Renilla

luciferase) e Gluc (Gaussia Luciferase) codificam 3 destas enzimas bioluminescentes e,

consequentemente, são amplamente usados em IBL. O Fluc oxida o seu substrato e emite luz

no comprimento de onde de 562 nm, enquanto que o Rluc e o Gluc emitem no comprimento de

onda de 480 nm após a interação com o seu substrato. (47)

Ko e colaboradores realizaram um protocolo, usando o gene “reporter” Gluc, afim de medir a

atividade de miR-124a . O Gluc estava ligado à extremidade 3′UTR do miR-124a, no entanto

recorrendo à via do RNA de interferência, via esta, que inibe a expressão do Gluc separando-o

do miRNA alvo, com a sobre-expressão do miR-124a, concorrendo para a diminuição da

atividade do Gluc. (48)

Um outro exemplo ilustrativo do uso da IBL na deteção da expressão dos miRNAs é a

investigação efetuada por Li e colaboradores. Foi estudada, recorrendo a IBL, a interação

oncogénica ou supressora tumoral entre o miR-214 e o seu alvo, Uma sobre-expressão do miR-

214 e uma sub-expressão do seu alvo, foram detetadas no cancro oral. (49)

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Outros sistemas baseados na mesma técnica, demostraram uma atenuação do sinal na presença

do miR-21, pela repressão dos genes codificadores das luciferases por este miRNA. Assim,

verifica-se que é possível a monitorização e a deteção in vivo dos miRNAs envolvidos na

proliferação e diferenciação celular cancerígena. (50)

A principal limitação da IBL é a impossibilidade de detetar miRNAs localizados numa

profundidade superior a 2 mm. Trata-se de uma limitação quando há necessidade de recolher

as amostras de tecido tumoral, para diagnosticar o cancro oral. (51)

5.2.Ressonância Magnética (RM)

Este método utiliza nanopartículas magnéticas na deteção dos miRNAs.

Ainda não foram publicados muitos estudos sobre a aplicação desta técnica na deteção dos miRs

envolvidos no cancro oral.

Li e colaboradores, estudaram a relação entre as características cancerígenas detetadas por RM

e a expressão diferencial dos miRNAs em pacientes com glioblastoma multiforme. Cada uma

das cinco características analisadas estava associada com a desregulação de certos miRNAs, de

entre elas (Figura 15): (52)

Figura 15 - Esquema ilustrativo dos microRNAs desregulados nos pacientes com

glioblastoma multiforme.

Visto que certos miRNAs estudados se encontram igualmente desregulados no cancro oral, isto

sugere que esta técnica imagiológica também possa ser aplicada no estudo de neoplasias

malignas orais. No entanto, até ao momento de realização desta dissertação, não se encontratam

estudos, relacionando expressões de miRNAs com propriedades óticas da RM, aplicadas no

cancro oral.

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Singh e colaboradores avaliaram o uso da RM no estadiamento das lesões orais malignas

(recorrendo aos parâmetros T1 e T2) e correlacionaram os resultados com as características

clínicas presentes. (53) A principal limitação era a relativamente baixa sensibilidade desta

técnica em relação ao custo dos equipamentos necessários. (51)

5.3.Imagiologia Cerenkov

A Imageria Luminescente Cerenkov é usada na deteção de biomoléculas na cirurgia de

neoplasias malignas, guiada por imagiologia. Consiste na deteção de fotões ópticos Cerenkov

emitidos pelos agentes da tomografía de emissão de positrões. (54) O estudo de Yang e

colaboradores descreve este tipo aplicabilidade. O gene hNIS (Human Sodium-Iodide

symporter) regula a absorção do ião iodo, e como tal tem vindo a ser usado na imagiologia radio

nucleica (Figura 16). (55)

Figura 16 - Ilustração sobre o esquema de ação do let-7 e a emissão de fotões de luz visível.

A verdade que os métodos convencionais impossibilitam a repetição da técnica e, a

complexidade dos procedimentos gera facilmente falsos-positivos. Assim, os novos métodos

tecnológicos, com o objetivo de melhorar a sensibilidade e especificidade de deteção dos

miRNAs, foram desenvolvidos.

5.4.Técnicas de amplificação de ácidos nucleicos

Nestas técnicas são necessárias quantidades relativamente pequenas de miRNAs nos tecidos e

nos fluídos humanos para serem eficazmente detetados. Estas técnicas incluem a amplificação

de círculo rolante (RCA), a amplificação isotérmica mediada por alça (LAMP), a amplificação

baseada na nuclease específica de duplexos (DSN) e a amplificação de deslocamento de cadeia

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(SDA). Estas técnicas permitem a deteção em tempo real usando corantes fluorescentes. No

entanto, estes corantes podem reduzir a eficácia de amplificação. Consequentemente, a

combinação destas técnicas torna-se útil de forma a evitar certas limitações destes métodos,

quando usados isoladamente.

5.4.1. Amplificação de Círculo Rolante (RCA)

Esta técnica está, na maioria dos casos, combinada com outros métodos de deteção. A expressão

dos miRNAs é detetada quantificando os RCAP (produtos amplificados de ácidos nucleicos

criados por RCA). (56)

Xu e colaboradores desenvolveram um método de deteção do let-7 que inclui o RCA. (57) Esta

técnica consiste na criação de sondas “padlock”. Estas últimas são moléculas de DNA com uma

cadeia que apresenta dois segmentos complementares ao miRNA-alvo pesquisado. As sondas

“padlock” com configuração circular (ssDNA) são formadas após a combinação complementar

DNA-miRNA pela enzima ligase de RNA T4. A polimerase de DNA permite a amplificação

repetitiva da sequência deste ssDNA e, consequentemente, da sequência do miRNA alvo. Por

ultimo, o miRNA ligado é separado permitindo novas interações (Figura 17). Os RCAP podem

então ser detetados por uma variedade de métodos. (56) (58)

Figura 17 - Amplificação de Círculo Rolante. Fonte: Ye, Xu et al, 2019

(Adaptado e sem autorização do autor)

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Hong e colaboradores criaram um protocolo simples para detetar os RCAP: foram criados F-

PNA (péptidos fluorescentes de ácido nucleico) complementares ao miRNA alvo. Quando

ocorria a formação do duplexo F-PNA/RCAP devido à presença do miRNA-alvo, o quenching

fluorescente era atenuado, aumentando o sinal luminoso. O oposto ocorria na ausência do

miRNA-alvo. (59)

5.4.2. Nuclease Específica de Duplexos (DSN)

O estudo de Le e colaboradores testou a possibilidade de detetar quantidades muito reduzidas

do miR-21 recorrendo ao DSN (Figura 18). A sonda criada apresentava sequência

complementar ao miRNA, um sinal fluorescente, pela transferência de energia não-radioativa

entre o fluoróforo dador e o recetor, e, um quencher. (60) (61)

A interação com o miR-21 formava um duplexo e o sinal fluorescente aumentava devido a

interação entre os fluoróforos e o quencher (deslocamento de “Stokes”). O sinal fluorescente

intensificava-se quando a enzima DSN eliminava a sonda do miRNA preservando-o intacto. O

miR-21 hibridizava com novas sondas, permitindo a amplificação do sinal. Assim, a deteção

com elevada sensibilidade do miR-21 foi demostrada. (61)

Figura 18 - Deteção do miR-21 pela DSN.

dApy : fluoróforo azul

dTFam : fluoróforo verde

dTTAMRA : fluoróforo vermelho Fonte: Le, Nguyen et al., 2018

(Adaptado e sem autorização do autor)

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30

5.4.3. Amplificação Isotérmica Mediada por Alça (LAMP)

Li e colaboradores usaram o let-7 como iniciador de uma reação LAMP. Foi criado um

protocolo simples que permitia a deteção de quantidades muito reduzidas de miRNAs (até 1.0

amol), em 90 minutos. (62) (63)

Foi criada uma cadeia-modelo de DNA que continha uma sequência complementar ao miRNA

alvo e sequências complementares aos primers externos e internos. Na extremidade 3´da cadeia,

o let-7 foi extendido pela DNA polimerase e hibridizava com o primer interno. Iniciava-se a

síntese pelo deslocamento da cadeia (SDS) de DNA. Após a criação de uma alça na extremidade

5´ da nova cadeia sintetizada, iniciava-se a SDS na extremidade oposta. A cadeia resultante

continha a sequência do let-7. A amplificação continuava com os mesmos passos de

prolongamento e as cadeias amplificadas, apresentando a sequência do let-7, eram detetadas

por corantes fluorescentes (Figura 19). (64)

A principal desvantagem do LAMP é o uso de reveladores indiretos das sequências

amplificadas que podem criar falsos-positivos. (56)

Figura 19 - Esquema ilustrativo do modo de ação do LAMP. Fonte: Li, Li et al., 2011

(Adaptado e sem autorização do autor)

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5.4.4. Amplificação de Deslocamento de Cadeia (SDA)

O SDA consiste na amplificação de cadeias com a sequência do miR e sequência complementar

ao miRNA alvo baseando-se em dois ciclos que se repetem.

O estudo de Shi e colaboradores utilizou o let-7a como miRNA complementar ao primer 1

criado. Pelos processos de hibridização, extensão e corte ocorria a polimerização e produção de

uma cadeia simples de DNA(T*), com sequência complementar ao let-7a. O T* hibridizou com

o primer 2 e, pelos processos supracitados formava-se uma cadeia simples de DNA(T), com a

mesma sequência do let-7a (só ocorria a troca entre os nucleótidos U-T). O aumento das cadeias

T e T* criava cadeias duplas hibridizadas, detetadas pelo corante SYBR Green I (Figura 20)

(65)

Figura 20 - Esquema ilustrativo do modo de ação do SDA. Fonte: Shi, Liu et al., 2014

(Adaptado e sem autorização do autor)

Zhang e colaboradores desenvolveram um método que combinava SDA com RCAHR (RCA

hiper-ramificado). A reação de RCAHR era iniciada pelos primers dos ciclos de SDA e o SYBR

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Green I corava os produtos. Esta combinação detetou quantidades de 1.8 × 10−13 M de let-7a.

(66)

5.5.Deteção dos miRNAs recorrendo a nanoparticulas de ouro

As principais vantagens do método de deteção dos miRNAs recorrendo a nanoparticulas de

ouro são, além da sensibilidade, uma melhor absorção de luz, emissões óticas otimizadas e

propriedades óticas lineares, devido ao pequeno tamanho das partículas. (67)

Este método baseia-se na deteção por emissões fluorescentes. Foram construídas sondas de

DNA, complementares aos miRNAs-alvos, ligados à um fluoróforo e as nanoparticulas de ouro.

Na ausência de hibridização com o miRNA-alvo, o fluoróforo e as nanoparticulas estavam

próximos ocorrendo silenciamento do sinal fluorescente. O sinal acentuava-se na presença do

miRNA-alvo. (68) Huang e colaboradores, quantificaram até 50 pM do miR-21. (69)

6.miRNAs – marcadores biológicos auxiliares no diagnóstico do

cancro oral. Perspetiva da biópsia líquida

A deteção tardia do cancro oral associa-se ao baixo nível de sobrevivência dos doentes. O

exame clínico, seguido pela biópsia tumoral e a análise histopatológica da amostra são usados

no diagnóstico. (70)

As limitações da biópsia convencional são a dificuldade de acesso, as complicações como a dor

e a necessidade de profissionais experientes. (71) (72)

Em 2010, falava-se pela primeira vez no termo “biópsia líquida” no cancro humano. Neste

estudo, as células tumorais circulantes foram propostas como alternativas à biópsia

convencional do cancro da mama. (73)

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33

As biópsias líquidas auxiliam a deteção dos estadios iniciais do cancro e podem contribuir a

monitorização da sua progressão, analisando secreções e fluídos (urina, saliva e sangue). (74)

(75)

Figura 21 - A biópsia líquida auxilia na deteção precoce do cancro oral. Fonte: https://directorsblog.nih.gov/2018/01/30/new-liquid-biopsy-shows-early-promise-in-detecting-cancer/

(Adaptado e sem autorização do autor)

Os RNAs estão presentes nos fluídos corporais de todos os indivíduos apresentando padrões de

expressão variáveis consoante o estadio da doença. A biópsia líquida torna-se um método

minimamente invasivo ou totalmente não invasivo, no diagnóstico do cancro oral. (71) (72)

Os miRNAs são excretados nos fluídos corporais primariamente recorrendo às vesículas

transportadoras de moléculas, os exossomas. (76) (77) (78)

A resistência dos miRNAs à Rnase e a elevados níveis de pH no sérum/plasma confere-lhes

estabilidade. (78) Estudos recentes sugeriram que 10% dos miRNAs estão protegidos da ação

das RNases graças a sua encapsulação nos exossomas e os restantes são protegidos pelo

complexo ribonucleoprotéico Ago2-miRNA. Consequentemente, os microRNAs circulantes

apresentam estabilidade significativa o que as torna potenciais biomarcadores para a deteção

do cancro oral. (79)

O “miRNeasy Serum/Plasma Kit” (Qiagen®) preconiza a extração dos miRNAs do

plasma/serum e o “miRNA isolation kit” (mirVana, ThermoFisher Scientific, CA, USA) da

saliva. (80)

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6.1.MiRNAs circulantes no sérum/plasma como biomarcadores do cancro oral

Diversos estudos demostraram a capacidade de diagnóstico dos miRNAs presentes no plasma

no COCE (Figura 22). Em ratos afetados, foram detetados níveis aumentados do miR-21, miR-

31 e miR-146a em amostras de dois fluidos corporais, entre os quais o plasma, participando no

processo de carcinogénese do CEL. Segundo Hung e colaboradores o miR-146a foi detetado

com especificidade de 92% e com potencial de desenvolver metástases no pescoço. (81) (82)

(83) (84) (85) (86) (81) (87)

Figura 22 - Esquema sobre os microRNAs desregulados no plasma, de pacientes com

COCE/CEL, apresentando elevado potencial na deteção do cancro oral.

É de notar que, a sub-expressão do miR-184 em tecidos afetados pelo COCE foi igualmente

revelada, por outros autores. (88) (89)

Tabela II - Lista de microRNAs adicionais com poder de diagnóstico do CEL.

Amostra Organismo Potencial de

diagnóstico

Referências

miR-184 Plasma Rato Diagnóstico (82)

miR-139-5p Saliva Humano Diagnóstico (90)

miR-24 Plasma Humano e

estudos in vitro

Dignósico (86)

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miR-21, miR-31

e miR-146a

Plasma,

saliva

Rato Diagnóstico

precoce

(82)

Nos últimos anos, outros miRNAs circulantes associados aos tumores orais, foram apontados

como biomarcadores não invasivos no diagnóstico do cancro oral.

Tachibana e colaboradores investigaram os miRs circulantes no plasma de cinco pacientes com

cancro oral e de pacientes sãos. Recorrendo aos “microarrays”, foram medidos os padrões de

expressão de 1211 miRNAs humanos circulantes. 16 miRNAs estavam sobre-regulados e 4

miRNAs estavam sub-regulados em amostras de plasma dos pacientes com o COCE gengival.

Determinados miRs sobre-expressos, nomeadamente o miR-31, diminuíam após a remoção do

tumor. Estes resultados demostram o potencial de determinados miRNAs na deteção e no

seguimento pós-operatório do COCE. (91) (92)

O miR-223 estava sobre-expresso no plasma de pacientes com cancro (67.7% de sensibilidade

e 61.3 % de especificidade). No entanto, o miR-223 é conhecido por exercer a função supressora

tumoral. Esta discrepância era devida à libertação deste miRNA no plasma pelos tecidos

normais que rodeiam os tecidos com cancro. (91)

Cinpolat e colaboradores testaram a expressão diferencial de 95 miRNAs entre os tumores

malignos das glândulas salivares, os tumores benignos e tecidos glandulares saudáveis servindo

de grupo controlo. O miR-199a aparecia com níveis significativamente elevados (p – 0.042) em

amostras de plasma proveniente de tumores malignos e o miR-30e apresentava-se sobre-

expresso em amostras de plasma de tumores malignos em comparação com os tumores

benignos. Em contrapartida, o miR-23a apresentou-se como potencial supressor tumoral nestas

neoplasias orais, aparecendo sub-regulado no plasma proveniente de tumores malignos, em

comparação com o grupo controlo. Com objetivo de confirmar a aplicabilidade de miRNAs no

diagnóstico de cancro de glândulas salivares, tornam-se necessários estudos adicionais, visto

que os estudos publicados permanecem limitados e, devido ao tamanho limitado das amostras,

apresentam dificuldades em criar uma lista padronizada de perfis dos miRNAs utilizáveis no

diagnóstico de cancro das glândulas salivares. (93)

O estudo de MacLellan e colaboradores comparou os níveis séricos de diversos miRNAs de

pacientes com LOAR (lesões orais de alto risco) com os níveis do grupo controlo. 55 miRs

apresentavam-se desregulados nas LOAR. Cinco miRs (miR-16, let-7b, miR-338-3p, miR-223

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36

e miR-29a) mostraram-se como biomarcadores particularmente úteis na deteção de cancro oral.

A combinação destes perfis de miRNA com técnicas de deteção mais atuais, melhoraria de

modo significativo a deteção do cancro oral. (94) (95)

6.2.MiRNAs salivares como biomarcadores de cancro oral

A saliva é usada como fluído de biópsia líquida em diversos campos científicos, incluindo

doenças orais. (96) A saliva é considerada um filtro do sangue, o que explica a presença na

saliva de moléculas circulantes no sangue. A análise deste fluído é uma oportunidade para

detetar biomarcadores associados com o início e o desenvolvimento do cancro oral. (97) (98)

Adicionalmente, as vantagens de uso da saliva como meio de diagnóstico incluem a

simplicidade, o facto de não ser um método invasivo e ser relativamente económico.

Diversos microRNAs apresentaram-se desregulados em diversos estudos de COCE (Figura 23).

(99) (100) (101) (92) (19) (102)

Figura 23 - Esquema ilustrativo dos microRNAs salivares com utilidade no diagnóstico do

COCE.

Page 39: Perfis de microRNA deteção e aplicação no diagnóstico de ......2 “ Perfis de microRNA – deteção e aplicação no diagnóstico de cancro oral” Unidade Curricular “Monografia

37

Uma variedade de miRs adicionais salivares foram igualmente pesquisados na tentativa de os

confirmar como biomarcadores de diagnóstico de cancro oral (Figura 24). (103) (104)

Figura 24 - Ilustração de microRNAs salivares desregulados.

Rapado-Gonzáles e colaboradores realizaram uma meta-análise, em 2019, com o objetivo de

avaliar a exatidão do uso de miRNAs presentes na saliva e no sangue como identificadores de

COCE nos estadios iniciais. 22 miRNAs presentes em biópsias líquidas estavam desregulados

e os miRNAs sanguíneos e salivares evidenciaram uma exatidão de 91% no diagnóstico precoce

do COCE. Esta meta análise confirmou a importância clínica, estatisticamente significativa,

destas biomoléculas na deteção inicial do cancro oral. (105)

Um outro estudo, analisou a expressão diferencial de miRNAs na saliva de pacientes com

neoplasias malignas da parótida comparativamente a pacientes com neoplasias benignas desta

glândula. Nove miRNAs estavam mais sobre-expressos em pacientes com cancro da parótida

relativamente aos de pacientes com tumores benignos. De entre estes nove, quatro miRs (miR-

132, miR-15b, miR-140 e miR-223), quando pesquisados em combinação, apresentaram

potencial discriminatório entre amostras salivares de tumores malignos da parótida versus

tumores benignos (sensiblidade de 69% e especificidade de 95% com AUC de 0.90). Apesar

dos resultados apresentarem caráter preliminar, são promissores relativamente à aplicabilidade

dos miRNAs no diagnóstico precoce de cancro das glândulas salivares. (106) (107)

A utilidade do uso de miRNAs salivares como biomarcadores de controlo da transformação

maligna de lesões orais foi demonstrada no estudo de Yang e colaboradores. Leucoplasias orais

com semelhanças histopatológicas mas com diferentes características clínicas, foram

analisadas. Perfis de expressão de determinados miRs foram detetados em leucoplasias de baixo

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grau com posterior progressão para o elevado grau e até em carcinoma in situ ou COCE. A

maioria de miRNAs desregulados nas leucoplasias de baixo grau progressivas foram os mesmos

identificados nos casos com COCE (sub-regulação do let-7, miR-145, miR-99 e sobre-regulação

do miR-708, miR-10b, miR-26a e miR-30e). O miR-181c e miR-181b estavam sub-expressos

em leucoplasias progressivas e sobre-expressos em leucoplasias não progressivas. Isto sugere

que determinados miRNAs, nomeadamente a família miR-181 (miR-181a/b/c/d), atuam como

oncogenes ou supressores tumorais dependendo do tipo tecidular. Uma das conclusões do

estudo foi a aplicabilidade potencial de miRNAs salivares na deteção não invasiva de lesões

orais pré-malignas e uma melhoria no diagnóstico histológico das mesmas. (85)

A capacidade de diagnóstico dos miRNAs estende-se à deteção das lesões orais pré-malignas e

à predição da transformação maligna destas lesões como no caso do Líquen Plano Oral (LPO)

(Figura 25). (97)

Figura 25 - Esquema ilustrativo dos microRNAs salivares detetados em pacientes com LPO.

A tabela III inclui miRNAs úteis no diagnóstico do cancro oral.

Tabela III - MicroRNAs reportados por apresentarem concentrações desreguladas nos fluídos

corporais, relevantes para o diagnóstico do cancro oral.

miRNA(s) Desregulação Fonte da amostra Referências

miR-181 Sobre-regulação Plasma (6)

miR-196a Sobre-regulação Plasma (6)

miR-191 Sobre-regulação Saliva (7)

miR-203 Sobre-regulação Saliva (7)

miR-182 Sobre-regulação Sangue e Saliva (22)

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39

miR-34a Sub-regulação Sangue e Saliva (22)

miR-16 Sobre-regulação Soro (78)

miR-9 Subre-regulação Soro e Saliva (108)

miR-92a Sobre-regulação Soro (78)

miR-25 Sobre-regulação Soro (78)

miR-195 Sobre-regulação Soro (78)

miR-624 Sobre-regulação Soro (78)

miR-331-3p Sobre-regulação Plasma (109)

miR-603 Sobre-regulação Plasma (109)

miR-1303 Sobre-regulação Plasma (109)

miR-660(-5p) Sobre-regulação Plasma e Saliva (109)

miR-212-3p Sobre-regulação Plasma (109)

miR-194-5p Sobre-regulação Plasma (109)

miR-214-3p Sobre-regulação Plasma (109)

miR-335-5p Sobre-regulação Plasma (78)

miR-18a-5p Sobre-regulação Plasma (78)

miR-205-5p Sobre-regulação Plasma (109)

miR-192-5p Sub-regulação Plasma (109)

miR-150-5p Sub-regulação Plasma (78)

miR-601 Sub-regulação Plasma (109)

miR-375 Sub-regulação Plasma (110)

miR-187 Sobre-regulação Plasma (111)

miR-200b-3p Sobre-regulação Plasma (78)

miR-134 Sobre-regulação Plasma (78)

miR-372 Sobre-regulação Plasma (78)

miR-19a Sobre-regulação Soro (78)

miR-148a Sobre-regulação/Sub-

regulação

Plasma/Saliva (104)

miR-451 Sobre-regulação Soro e Saliva (112)

miR-3651 Sobre-regulação Soro (113)

miR-483-5p Sobre-regulação Plasma (109)

miR-486-5p Sobre-regulação/Sub-

regulação

Soro/Plasma (95) (110)

miR-197 Sub-regulação Saliva (85)

7.Discussão

O cancro oral mais frequente é o COCE. A sua frequência mundial significativa (2-4%) e mau

prognóstico, se não for detetado precocemente, tornam importante a sua investigação. (114)

(115)

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40

Consequentemente, grande parte dos estudos e investigações dedicam-se a este tipo de cancro

oral. O COCE apresenta grande heterogeneidade intra e inter-tumoral e torna-se mais agressivo

ao longo do tempo. As estratégias de diagnóstico precoce do cancro oral estão

consequentemente em constante evolução. (116) (117)

Nas últimas décadas diversas técnicas de biologia molecular promoveram uma nova

compreensão acerca das vias genéticas e moleculares na base oncológica. E, como tal, surgiram

novos meios auxiliares no diagnóstico precoce do cancro oral. É o caso dos MicroRNAs que

regulam até 30% de todos os genes exercendo as suas ações como oncogenes ou supressores

tumorais. Adicionalmente apresentam estabilidade na sua expressão e são de fácil acesso. Os

miRNAs têm a capacidade de diferenciar os subtipos de cancro por apresentarem padrões de

expressão específicos. (118) (119) (120) (7)

A descoberta dos microRNAs representou, assim, uma nova ferramenta auxiliar no diagnóstico

do cancro oral. No entanto, existem ainda muitos aspetos mal elucidados, tais como, a

quantidade de microRNAs que está realmente envolvida na carcinogénese, o número total de

genes-alvo para cada um desses microRNAs, a variabilidade de expressão dos miRNAs

segundo a localização do tumor, o grau histológico deste e a presença de expressões

contraditórias do mesmo miRNA em grupos populacionais diferentes. (121) (122) É, por isso,

necessário, além de outras medidas, formular protocolos standard de análise destes

biomarcadores de forma a melhorar a reprodutibilidade dos resultados. (78)

Neste contexto, os investigadores têm desenvolvido técnicas mais inovadoras de deteção destas

biomoléculas tendo como objetivo melhorar a especificidade das técnicas mais convencionais,

como a PCR. (123) Os sistemas imagiológicos recentes de deteção dos miRNAs, também não

requerem manipulação complexa das amostras e permitem estudos in vivo. No entanto, estas

novas gerações, apresentam desvantagens porque necessitam de modificações genéticas em

indivíduos estudados, para exercer as suas funções de deteção. Exigem igualmente

equipamentos mais recentes, limitando, assim, o seu uso na prática clínica. (45)

No contexto da inovação, numerosos miRNAs desregulados foram detetados na saliva e no

sangue de pacientes com cancro oral, recorrendo à biópsia líquida. As vantagens deste método

são a estabilidade e resistência à degradação dos miRNAs e a classificação dos padrões de

expressão dos miRNAs que corresponde à classificação clinico-patológica do tumor. (107)

(124)

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41

Contudo, desafios persistem. As infeções contribuem à desregulação da expressão dos miRNAs

e os miRNAs circulantes usados na biópsia líquida, podem originar-se de outras células, além

das tumorais. A comunidade científica deve construir protocolos com resultados reprodutíveis,

quando são analisadas amostras idênticas, entre diversos laboratórios. Assim são necessários

métodos “standard” na colheita de amostras, armazenamento e isolamento dos miRNAs, na

sequenciação e na avaliação de dados. Adicionalmente, é necessário determinar o fluído

corporal mais adequado (saliva vs sangue/plasma) para a análise dos miRNAs. (107)

Alguns estudos mencionaram que a saliva, por ser fácil de usar, de aceder, de contactar com as

células da mucosa oral e de apresentar grupos específicos de miRNAs, permanece um dos

fluídos corporais mais adequado para ser usado na biópsia liquida. Porém, as limitações como

a heterogeneidade temporal, tumoral, a variabilidade intra e inter-paciente, o preço das

tecnologias de análise e de deteção e ausência de protocolos standard, persistem. (125) (102)

(126) Novos horizontes devem ser investigados de forma a atribuir informação estável e segura

ao médico, com base nos miRNAs e na sua aplicabilidade no diagnóstico precoce do cancro

oral.

A contínua investigação de tecnologias de sequenciação, deteção e quantificação dos

microRNAs terá como desfecho mais provável um aumento da nossa compreensão e

conhecimento acerca do papel destas biomoléculas no cancro oral. Auxiliará igualmente a

deteção precoce e diferencial das neoplasias orais. Auxiliará igualmente a deteção precoce e

diferencial das neoplasias orais. O grande desafio consistirá, sobretudo, na escolha do método

de deteção e do material de biópsia mais adequados para determinados microRNAs e cancros

orais. Dito isto, será razoável afirmar que os miRNAs, hoje em dia, permanecem como potencial

ferramenta auxiliar no diagnóstico precoce do cancro oral. Contudo, os exames clínico e

histopatológico continuam a ser os métodos de escolha para o diagnóstico de neoplasias

malignas orais.

8.Conclusão

Nesta revisão bibliográfica, foram sumarizados os diferentes aspetos da contribuição dos

miRNAs para o diagnóstico do cancro oral.

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42

Diversos estudos demostraram o papel dos miRNAs nas vias celulares do cancro oral. No

entanto, estudos futuros são necessários para descobrir vias novas. A desregulação dos

miRNAs é um fator de risco significativo de desenvolvimento de cancro oral. De forma a se

alcançar um maior controlo do aparecimento e da progressão das neoplasias orais, vário estudos

analisaram a capacidade dos miRNAs contribuírem no diagnóstico destas. Diversos padrões de

expressão destas biomoléculas em tecidos com cancro oral e tecidos sãos são constantemente

investigados.

Esta revisão analisou igualmente tecnologias imagiológicas de deteção dos miRNAs que foram

reportadas nos últimos oito a dez anos. Visto que os miRNAs são candidatos importantes no

controlo do cancro oral, um dos focos da investigação foi o desenvolvimento de métodos de

deteção destes miRNAs. Diversos métodos e técnicas foram abordados, sendo que cada um

destes apresenta as suas vantagens e limitações. No entanto, destacam-se as técnicas de

amplificação de ácidos nucleicos, porque revelam quantidades relativamente pequenas de miRNAs

nos tecidos e nos fluídos humanos permitindo uma deteção eficaz destas biomoléculas.

Relativamente ao material humano para biópsia do cancro oral, a saliva é cada vez mais usada

como biópsia líquida, uma vez que é uma fonte de biomarcadores (apesar de também apresentar

limitações). A dificuldade na quantificação, na escolha do melhor método de deteção dos

miRNAs na saliva, etc.) confere aos microRNAs potencialidade como método complementar

de diagnóstico do cancro oral mas em simultâneo exige que sejam efetuadas mais investigações

de forma a poderem substituir os métodos de diagnóstico convencionais.

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Anexo 1 – Declaração de Autoria da Monografia

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Anexo 2 – Parecer do Orientador para entrega definitiva do

trabalho apresentado

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Anexo 3 – Parecer do Coorientador para entrega definitiva do

trabalho apresentado