perfil do CD inserido na ESF no Estado de PE · 5.1 Desenho de Estudo ... saúde do indivíduo e...
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Fundação Oswaldo Cruz Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães Departamento de Saúde Coletiva
Cicera Lissandra Sá Vieira Macedo
Perfil do Cirurgião-Dentista inserido na
Estratégia de Saúde da Família em municípios do Estado de Pernambuco
RECIFE 2007
CICERA LISSANDRA SÁ VIEIRA MACEDO
Perfil do Cirurgião Dentista inserido na Estratégia de Saúde da Família em
municípios do Estado de Pernambuco
Monografia apresentada como requisito
parcial à obtenção do título de Especialista
no curso de Pós Graduação latu sensu de
Residência Multiprofissional em Saúde
Coletiva do CPqAM/FIOCRUZ/MS.
Orientação: Petrônio José de Lima Martelli.
RECIFE
2007
CICERA LISSANDRA SÁ VIEIRA MACEDO
Perfil do Cirurgião Dentista inserido na Estratégia de Saúde da Família em
municípios do Estado de Pernambuco
Monografia aprovada como requisito parcial
à obtenção do título de Especialista no curso
de Pós Graduação latu sensu de Residência
Multiprofissional em Saúde Coletiva do
CPqAM/FIOCRUZ/MS, pela Comissão
formada pelos Professores:
Aprovada em: ____/____/_____
Banca Examinadora
Orientador: ________________________________
Ms. Petrônio José de Lima Martelli
Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/FIOCRUZ
Debatedor: _________________________________
Rogério Dubousselard Zimmermann UFPE e FOC/ASCES
RESUMO
Esta monografia aborda sobre a incorporação da saúde bucal à Estratégia de Saúde
da Família o que propiciou a inclusão de novos atores, os profissionais de
odontologia. Tendo em vista que a odontologia tem norteado o seu trabalho numa
prática marcadamente curativa com ênfase em atividades restauradoras, questiona-
se a implantação deste novo modelo de atenção à saúde em relação aos
responsáveis pela execução dessa política – os recursos humanos. O objetivo deste
trabalho consistiu, pois em caracterizar o perfil dos Cirurgiões Dentistas inseridos na
Estratégia de Saúde da Família em municípios do Estado de Pernambuco
relacionando-o com as especificidades do programa, para tal foi utilizado o banco de
dados da pesquisa “Modelo de Atenção em Saúde Bucal e Formação do Cirurgião
Dentista inserido na Estratégia de Saúde da Família no Estado de Pernambuco”. Os
resultados mostraram que 70,4% dos CDs são do sexo feminino, com
predominância da faixa etária de 31 a 49 anos de idade, sendo que 65,2% desses
são admitidos sob a forma de contrato. Em relação à formação, 67,8 possuem
formação com foco na Estratégia de Saúde da Família, na qual 92,3% a
consideraram pertinente, além do que 89,6% dos CDs relataram realizar atividades
educativas.
Palavras-chaves: Estratégia de Saúde da Família; Saúde Bucal; Recursos Humanos
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Distribuição por sexo dos CDs inseridos na ESF em municípios do
Estado de Pernambuco
29
Tabela 2- Distribuição por faixa etária dos CDs inseridos na ESF em
municípios do Estado de Pernambuco
29
Tabela 3- Situação dos CDs inseridos na ESF em municípios do Estado de
Pernambuco quanto ao tempo de serviço público
30
Tabela 4- Situação dos CDs inseridos na ESF em municípios do Estado de
Pernambuco quanto ao tempo de formação
31
Tabela 5- Situação dos CDs inseridos na ESF em municípios do Estado de
Pernambuco quanto ao município que trabalham e município que
residem
32
Tabela 6- Situação dos CDs inseridos na ESF em municípios do Estado de
Pernambuco quanto ao tipo de vínculo
33
Tabela 7- Situação dos CDs inseridos na ESF em municípios do Estado de
Pernambuco quanto à formação específica na ESF
36
Tabela 8- Situação dos CDs inseridos na ESF em municípios do Estado de
Pernambuco quanto à modalidade da formação com foco em ESF
36
Tabela 9 - CDs inseridos na ESF em municípios do Estado de Pernambuco
que fizeram formação com foco em ESF segundo instituições
formadoras
37
Tabela 10 Atividades dos CDs inseridos na ESF em municípios do Estado de
Pernambuco segundo á realização de procedimentos não
curativos
40
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACD – AUXILIAR DE CONSULTÓRIO DENTÁRIO
ACS – AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE
CNS – CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE
CNSB – CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE BUCAL
CD – CIRURGIÃO DENTISTA
ESB - EQUIPE DE SAÚDE BUCAL
ESF - ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
FACEPE -FUNDAÇÃO DE AMPARO A CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ESTADO DE
PERNAMBUCO
FUSAM – FUNDAÇÃO DE SAÚDE AMAURY DE MEDEIROS
GM – GABINETE MINISTERIAL
IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
IDH – INDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO
INBRAPE – INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS E PESQUISAS
SOCIOECONÔMICAS
MS – MINISTÉRIO DA SAÚDE
NOAS – NORMAS OPERACIONAIS DE ASSISTÊNCIA Á SAÚDE
NOB – NORMA OPERACIONAL BÁSICA
SUS - SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
PACS - PROGRAMA DE AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE
PAB – PACTO DE ATENÇÃO BÁSICA
PSF – PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
PNAD – PESQUISA NACIONAL DE AMOSTRAS DOMICILIARES
PCCS – PLANOS DE CARGOS CARREIRAS E SALÁRIOS
PDS – PLANO DE DEMISSÕES VOLUNTÁRIAS
RJU – REGIME JURÍDICO ÚNICO
OPAS – ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DA SAÚDE
THD – TÉCNICO DE HIGIENE DENTAL
UBS – UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 8
2 MARCO TEÓRICO 10
2.1 Financiamento da Atenção Básica 12
2.2 Aspectos de Saúde Bucal 14
2.3 Recursos Humanos em Saúde 17
2.4 Recursos Humanos em Odontologia 18
3 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA 21
4 OBJETIVO 23
4.1 Objetivo Geral 23
4.2 Objetivos Específicos 23
5 METODOLOGIA 25
5.1 Desenho de Estudo 25
5.2 Universo da Amostra 25
5.3 População de Estudo 25
5.4 Considerações Éticas 26
5.5 Coleta de Dados 26
5.6 Análise dos Dados 26
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO 28
7 CONCLUSÕES 42
REFERÊNCIAS 44
ANEXO
1 INTRODUÇÃO
8
O Programa de Saúde da Família (PSF) enquanto estratégia de
reorganização da atenção básica busca reforçar os princípios do Sistema Único de
Saúde (SUS), de universalidade, equidade e integralidade das ações com a
finalidade de propiciar o enfrentamento e a resolução dos problemas identificados
através da atuação de uma equipe multiprofissional.
A lei 8080/90 no seu capítulo II entende como integralidade um conjunto
articulado de ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos em
todos os níveis de complexidade do sistema (BRASIL. MS, 2001). Tendo em vista
esse conceito percebe-se que a não inclusão da saúde bucal como parte inerente à
saúde do indivíduo e dessa forma sujeita também a políticas públicas fere, então
uma das diretrizes do SUS.
A inclusão da saúde bucal no PSF se deu operacionalmente a partir de
2001, impulsionada pela perspectiva da construção de políticas públicas de saúde
que pudessem garantir a integralidade do atendimento, compreendendo a saúde
bucal como parte integrante do todo. Além da necessidade de se reorientar as
práticas a elas relacionadas, por meio da ampliação do acesso à saúde bucal da
população brasileira (SILVA, 2006).
No Brasil, historicamente ao nível da esfera pública, o primeiro tipo de
atendimento odontológico prestado caracterizou-se pela livre demanda através de
uma ótica tipicamente flexneriana baseada em ações curativas e/ou mutiladoras
(ZANETTI et al, 1996). Em Pernambuco, percebe-se que essa trajetória não se deu
diferente do resto do país.
Entretanto a reorganização dentro do novo modelo de atenção à saúde
requer profissionais capacitados com uma visão ampliada da saúde, capazes de
compreender o indivíduo como parte integrante de um núcleo familiar, associada à
necessidade de se trabalhar interdisciplinarmente.
Nesse sentido faz-se premente conhecer o perfil dos profissionais de
odontologia de municípios do Estado de Pernambuco, inseridos nessa estratégia, a
fim de investigar se esse perfil se adequa as diretrizes e objetivos do PSF, no que
tange as questões de sua implantação para promover, proteger e recuperar a saúde.
2 MARCO TEÓRICO
10
O período compreendido entre 1974/1979 constituiu-se como uma fase de
mudanças conceituais importantes no âmbito da discussão das políticas sociais e de
saúde no Brasil o que resultou num movimento crítico de reflexão sobre as políticas
públicas (ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DE SAÚDE, 2003).
O movimento sanitário surgiu no Brasil na segunda metade da década de
70, ainda sobre o regime da ditadura militar e se propôs a elaborar um critica ao
modelo médico vigente (CORREIA, 2000). Inspirado na questão da radicalização da
democracia, o movimento brasileiro que se consolidou enquanto reforma sanitária
propunha um conjunto de mudanças que passava pela democratização da
sociedade, do Estado, e a reorganização das práticas de saúde. Formado por
profissionais, intelectuais, lideranças políticas e movimentos populares, teve os seus
princípios e diretrizes sistematizados na 8º Conferência Nacional de Saúde (CNS)
em 1986 (PAIM, 2002).
Assim, essa fase caracterizou-se no debate político pelo interesse na
investigação sobre os determinantes econômicos, políticos e sociais da conformação
do sistema de saúde brasileiro e na formulação de alternativas de reforma setorial.
As discussões giravam em torno dos problemas e necessidades de saúde da
população e seus determinantes, de propostas políticas e de reordenação do
sistema (ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DE SAÚDE, 2002).
A Constituição Federal de 1988 legitimou a luta desenvolvida pelo
Movimento Sanitário através da concepção de saúde como direito de todos e dever
do Estado e a formulação dos alicerces para a construção de um novo sistema de
saúde com proposta universalizante e descentralizadora (PAIM, 2002). A Lei
8080/90 regulamenta o SUS dentro das diretrizes da universalidade, integralidade da
assistência e participação comunitária (BRASIL, 1990).
O SUS por meio da sua formulação garante para a universalidade da
população, a assistência integral à saúde e totalmente gratuita, independentemente
de sexo, raça, renda ou ocupação.
A Atenção Básica tem sido uma denominação adotada no país,
especialmente no âmbito do SUS, para designar uma abordagem, que
corresponderia ao que se tem chamado, na literatura internacional, de atenção
primária á saúde, consistindo pelo modelo proposto como a “porta de entrada” do
sistema. No Brasil, foi ofertada á população inicialmente através dos centros de
saúde, por meio de equipes multiprofissionais como clínica médica, ginecologia,
11
pediatria, enfermagem e odontologia, além de psicólogos e assistentes sociais. No
início da década de noventa surgiram novos paradigmas que se prestavam a ofertar
para a população a atenção básica à saúde como, por exemplo, o Programa dos
Agentes Comunitários (PACS) e o PSF (ARAÚJO, 2005).
O PSF iniciado em 1991 com a implantação do PACS se consolidou em
1994 quando foi normatizado e adotado como política de intervenção assistencial
pelo Ministério da Saúde (MS), que propunha superar o modelo de assistência à
saúde, marcado pelos serviços hospitalares baseados em ações curativas
(RONCALLI, 2003). Dessa forma o PSF aponta como uma estratégia de
reorganização da atenção básica, sendo hoje melhor denominado de Estratégia de
Saúde da Família (ESF) (MERHY; MALTA; SANTOS, 2004).
De acordo com o documento oficial do MS, a ESF reafirma e incorpora os
princípios básicos do SUS: universalização, descentralização, integralidade e
participação da comunidade. Propõe-se, portanto a reorganizar a prática assistencial
a partir de novas bases em substituição ao modelo tradicional de assistência,
através dos princípios elencados abaixo (BRASIL, 2000a):
I - CARÁTER SUBSTITUTIVO: significa a substituição das práticas
convencionais de assistência por um novo processo de trabalho, cujo eixo esteja
centrado na vigilância à saúde;
II - INTEGRALIDADE E HIERARQUIZAÇÃO: a equipe de saúde da família
inserida no primeiro nível de ações e serviços, denominado atenção básica, deve
estar vinculada à rede de serviços de forma que se garanta atenção integral ao
indivíduo e sejam asseguradas a referência e contra-referência;
III - TERRITORIALIDADE E ADSCRIÇÃO DA CLIENTELA: A equipe de
saúde da família trabalha com território de abrangência definido e é responsável
pelo cadastramento e acompanhamento da população adscrita (vinculada) a área;
IV - EQUIPE MULTIPROFISSIONAL: cada equipe de saúde da família é
composta, minimamente, por um médico generalista, um enfermeiro, um auxiliar de
enfermagem e de quatro a seis Agentes Comunitários de Saúde (ACS). O número
de ACS varia de acordo com o número de pessoas sob a responsabilidade da
equipe - numa proporção média de um agente para 550 pessoas acompanhadas.
Outros profissionais - a exemplo de dentistas, foram incorporados às equipes;
assistentes sociais e psicólogos – podem formar equipes de apoio, de acordo com
12
as necessidades e possibilidades locais. A referência para a abordagem neste
sistema é a família, entendida no seu espaço social, e não mais o indivíduo isolado.
A Política Nacional de Atenção Básica se caracteriza, portanto por um
conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrangem a
promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e a manutenção da
saúde. Desenvolvida através do exercício de práticas gerenciais, sanitárias,
democráticas e participativas, sob a forma de trabalho em equipe, dirigidas a
populações de territórios bem delimitados, pelas quais assumem responsabilidade
sanitária (BRASIL, 2006a).
A responsabilidade pela oferta de serviços de atenção básica à saúde é da
gestão municipal, sendo o financiamento de responsabilidade das três esferas de
governo (BRASIL, 2006b).
2.1 Financiamento da Atenção Básica
A proposta de municipalização das ações de saúde por meio da
desconcentração dos serviços e da descentralização da gestão para os municípios
tornou-se possível através da Norma Operacional Básica (NOB) de 1993 e
posteriormente pela NOB de 1996 que propunha o estabelecimento de novas
sistemáticas para o financiamento das ações e serviços de saúde, especialmente
em nível da Atenção Básica (MARQUES; MENDES, 2003). O período pós-1995 foi
marcado pela expansão da Atenção Básica á Saúde. Essa expansão foi incentivada,
a princípio pelo MS e, posteriormente, pelas secretarias estaduais (SOUSA, 2000).
A NOB-96 previa duas formas para a habilitação dos municípios junto ao
SUS: gestão plena da atenção básica e gestão plena do sistema municipal. Através
dessa NOB foi implantado o Piso da Atenção Básica (PAB), que consiste em um
montante de recursos financeiros destinados ao custeio de procedimentos e ações
de assistência básica, definido pela multiplicação de um valor per capita nacional
pela população de cada município. Além disso, o município recebe incentivo
financeiro ao desenvolver programas como a ESF e PACS, o PAB variável (BRASIL.
MS, 2001). Os incentivos que fazem parte da fração variável do PAB são
13
correspondentes a R$ 2.200,00 por ACS/ano e de R$ 28.800,00 a 54.000,00 por
equipe de saúde da família/ano, de acordo com a faixa de cobertura populacional
(RONCALLI, 2003). A portaria Nº. 650/GM, de 28 de março de 2006, aumenta esse
incentivo, estabelecendo o valor de R$ 350,00 ACS/mês e de R$ 5.400 a 8.100,00
por equipe de saúde da família /mês (BRASIL, 2006a).
Através da vigência da NOB/96 a participação dos recursos federais no
financiamento da saúde pública apresentou mudança qualitativa. De um lado, a
União deixou de usar o pagamento direto ao prestador do serviço de saúde como a
forma preferencial de alocar recursos, passando a priorizar as transferências a
municípios. De outro, focalizou a Atenção Básica como prioridade, de modo que os
recursos a ela destinados foram cada vez mais significativos no total das
transferências (MARQUES; MENDES, 2003).
Em 2001, pela primeira vez, os recursos destinados para o PAB variável
igualaram-se aos repassados para o PAB fixo (12,23% e 12,22%, respectivamente).
Entre os componentes do PAB variável, os grandes destaques no ano de 2001
foram a ESF e Epidemiologia e Controle de Doenças (MARQUES; MENDES, 2003).
A presença cada vez mais importante da ESF no interior do PAB variável é marcante
em todo o período. Para se ter uma idéia, entre 1998 e 2003, enquanto os recursos
destinados para a totalidade da Atenção Básica foram ampliados em 67%, os
recursos para esta estratégia aumentaram em 1074% (MENDES; MARQUES,
2004).
Autores como Marques e Mendes (2004) consideram que embora os
incentivos federais sejam positivos, principalmente em municípios que não
desenvolvam nenhum desenho de atenção à saúde, podem ser nocivos na medida
em que ‘’engessam’’ as políticas públicas de saúde. Além disso, os municípios
podem incorrer no erro de viabilizar as políticas públicas federais, a fim de angariar
recursos, mesmos que essas não correspondam às necessidades locais.
14
2.2 Aspectos da saúde bucal
Quanto à incorporação das equipes de saúde bucal (ESB) á ESF, essa se
deu a princípio através da iniciativa de alguns municípios, como Curitiba e Distrito
Federal em 1995; Camaragibe (Pernambuco) em 1998, com iniciativas que vão
desde o treinamento dos ACS no sentido de incluírem instruções relativas à saúde
bucal em suas atividades, até a inclusão do Cirurgião-dentista (CD) na equipe da
ESF. Posteriormente a essas iniciativas o MS normatizou e incorporou a constituição
da ESB no seio da ESF, no final do ano 2000, e repassou os primeiros incentivos em
meados de 2001 (MARTELLI, 2001).
A portaria Nº. 1444, de 28 de dezembro de 2000, do MS, estabelece
incentivo financeiro para a reorganização da atenção à saúde bucal prestada aos
municípios por meio da ESF; além de definir que o trabalho das ESB na ESF estará
voltado para a reorganização do modelo de atenção e para a ampliação do acesso
às ações de saúde, garantindo-se a atenção integral aos indivíduos e às famílias,
mediante o estabelecimento de vínculo territorial (BRASIL, 2000b).
A inclusão das ESB na ESF se deu em 2001 fortemente influenciada pelos
resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1998, que dentre outros
dados, observou que até aquele ano 18,7% da população brasileira nunca havia se
consultado com um dentista (IBGE,1998).
Segundo a portaria N°1444/00 do MS os municípios que qualificarem as
ações de saúde bucal receberão incentivo financeiro anual por equipe implantada,
além de estabelecer que cada ESB deverá atender em média 6.900 (seis mil e
novecentos) habitantes, ou que para cada ESB implantada deverão ser implantadas
2 ESF (BRASIL, 2000b).
A Portaria N°. 267/2001 permitiu a participação ofi cial de uma ESB para
cada duas ESF, sendo regulamentada duas modalidades de ESB: Modalidade I,
composta por um CD e um Auxiliar de Consultório Dentário (ACD); e a Modalidade
II, acrescida de um Técnico de Higiene Dental (THD) (SULIANO; BARBOSA, 2004).
A partir da Portaria Nº. 673/GM de 30 de junho de 2003, o MS passou a
financiar as ESB na proporção de 1:1 com relação à ESF, com cada ESB passando
15
a cobrir, em média, 3.450 pessoas, havendo reajustes nos incentivos anuais de
custeio, cessando os efeitos da Portaria Nº. 1.444/00. Além disso, houve incentivos
para compra de equipamentos odontológicos, instrumentais e materiais clínicos de
prótese dentária (BRASIL, 2003).
A Política Nacional de Saúde Bucal (Brasil Sorridente) aumentou ainda mais
o valor dos incentivos repassados para as ESB da ESF. Com a Portaria Nº. 74/GM
de 20 de janeiro de 2004, novos reajustes foram efetuados. Por meio dessa portaria
foi concedido um equipo odontológico completo para as equipes habilitadas na
modalidade II e definido uma correção no incentivo adicional para R$ 6.000.00,
destinado à compra de equipamentos e materiais clínicos permanentes; e R$ 1 mil
para o compra de materiais clínicos de prótese dentária (BRASIL, 2006a).
A Portaria GM/MS Nº. 1.434, de 14 de julho de 2004, a fim de ressaltar o
princípio da eqüidade, melhorar o acesso aos serviços de saúde e diminuir as
desigualdades regionais, aumentou o incentivo à saúde da família e à saúde bucal
em 50%. Foram privilegiados os municípios com maiores dificuldades; Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) igual ou menor a 0,7; municípios com população de
até 50 mil habitantes (estados da Amazônia Legal) e 30 mil habitantes (demais
estados da federação) e municípios com populações quilombolas ou assentamentos
(BRASIL, 2004a).
A Portaria Nº. 650/GM, de 28 de março de 2006, define para a modalidade I
a transferência de R$ 1.700,00 ESB/mês e para a modalidade II R$ 2.200,00
ESB/mês, além do valor de R$ 7.000,00 transferido em parcela única para cada ESB
implantada, como recurso para investimento nas Unidades Básicas de Saúde (UBS)
e realização do Curso Introdutório (BRASIL, 2006a).
A Portaria N°. 648/GM, de 28 de março de 2006, defi ne que as
competências específicas para o CD que atua na atenção básica por meio da ESF
são:
I - realizar diagnóstico com a finalidade de obter o perfil epidemiológico para o
planejamento e a programação em saúde bucal;
II - realizar os procedimentos clínicos da Atenção Básica em saúde bucal,
incluindo atendimento das urgências e pequenas cirurgias ambulatoriais;
III - realizar a atenção integral em saúde bucal (promoção e proteção da saúde,
prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação e manutenção da
16
saúde) individual e coletiva a todas as famílias, a indivíduos e a grupos específicos,
de acordo com planejamento local, com resolubilidade;
IV - encaminhar e orientar usuários, quando necessário, a outros níveis de
assistência, mantendo sua responsabilização pelo acompanhamento do usuário e o
segmento do tratamento;
V - coordenar e participar de ações coletivas voltadas à promoção da saúde e à
prevenção de doenças bucais;
VI - acompanhar, apoiar e desenvolver atividades referentes à saúde bucal com os
demais membros da Equipe de Saúde da Família, buscando aproximar e integrar
ações de saúde de forma multidisciplinar.
VII - contribuir e participar das atividades de Educação Permanente do THD, ACD
e ESF;
VIII - realizar supervisão técnica do THD e ACD;
IX - participar do gerenciamento dos insumos necessários para o adequado
funcionamento da unidade de saúde da família (BRASIL, 2006).
A fim de promover a atenção integral à saúde e tendo a saúde bucal um
histórico de exclusão social de grande parte da população, foram reajustados os
investimentos em saúde bucal dentro do teto da atenção básica, o que permitiu, por
assim dizer, o delineamento de uma política nacional de saúde bucal.
A transferência de recursos para a atenção básica, e o repasse à saúde
bucal em Pernambuco, apresentaram uma evolução considerável no período de
2002 a 2005, sendo que em 2002 o montante total de recursos para a atenção
básica equivalia a 229.033.783,64 e em 2005 esse número passou para
334.597.316,76. No que diz respeito à porcentagem de incentivo à saúde bucal,
esse valor passou de 3.364.916,46 em 2002 para 16.471.300,00 em 2005, o que
corresponde a um aumento na evolução do incentivo de cerca de 63,72% (SILVA,
2006).
Resta saber se o crescente volume nos recursos destinados à saúde bucal,
por si só, será o responsável pelo redesenho da saúde bucal, através da
transformação do modelo de atenção á saúde de uma ótica tipicamente curativista
para uma outra de caráter preventivo-promocional e que de fato incluíra de maneira
resolutiva e qualificada grande parte da população até então a margem dessa
assistência.
17
2.3 Recursos Humanos em Saúde
Nesse contexto, a fim de se viabilizar políticas públicas em saúde, tal qual a
saúde bucal, faz-se imprescindível discutir os recursos humanos em saúde. Esse,
apesar de ocupar uma temática estratégica da discussão e implementação da
política de saúde há pelo menos três décadas, necessita de uma análise e
atualização, na medida em que há a introdução de modalidades diferenciadas da
relação do Estado com prestação de serviços e a implantação de novos modelos
assistenciais como, por exemplo, a ESF.
Em setembro de 1990, a Lei orgânica da Saúde N° 808 0 no Título IV- Dos
Recursos Humanos - definiu no artigo 27, que a política de recursos humanos na
área da saúde será formalizada e executada, pelas três esferas de governo em
cumprimento: Organização de um sistema de formação de recursos humanos em
todos os níveis de ensino, inclusive de pós-graduação, além da elaboração de
programas de permanente aperfeiçoamento pessoal (BRASIL, MS, 2001).
Os gestores e trabalhadores do SUS concensualizam a relação direta
existente entre a formação de recursos humanos e a qualidade dos serviços
prestados associado ao nível de satisfação dos usuários (COTTA et al., 2006).
A IX Conferência Nacional de Saúde (CNS) de 1992 já apontava a política
nacional de recursos humanos como indispensável para o processo de
implementação do SUS, através da qualificação e formação permanente dos
trabalhadores o que contribuiu para a criação dos pólos de educação permanentes.
A III Conferência Nacional de Saúde Bucal (CNSB) realizada no ano de 2004
em Brasília, contou com a participação de cerca de 90.000 pessoas de todo o país
divididas entre as pré-conferências municipais e estaduais além da etapa nacional.
Durante a mesma foi produzido um relatório final no qual se evidenciou a formação e
trabalho em saúde bucal, como um dos eixos reorientadores da saúde bucal
(CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE BUCAL, 2005).
A Portaria 399, de 22 de fevereiro de 2006, ao tratar das responsabilidades
na Gestão de Trabalho no SUS, atribui aos municípios e estados a prerrogativa de
adotar vínculos de trabalho que garantam os direitos sociais e previdenciários dos
trabalhadores de saúde, promovendo ações de adequações de vínculos, onde for
18
necessário, além da consideração das diretrizes nacionais do Planos de Carreiras,
Cargos e Salários (PCCS) para o SUS, no âmbito da respectiva gestão. A união
caberá além das responsabilidades inerentes aos municípios e estados a
formulação, pactuação, e implementação das diretrizes nacionais para o PCCS
(BRASIL, 2006c).
2.4 Recursos humanos em Odontologia: Aspectos históricos
Segundo Queluz (2003) os recursos humanos na área de odontologia
apresentaram uma evolução histórica marcada por cinco etapas evolutivas:
• Ocupação indiferenciada - A mais antiga na evolução da profissão que se
apresenta de forma esporádica ou secundária;
• Diferenciação Ocupacional - A odontologia é exercida como ocupação
principal. O ingresso na profissão está aberto a todos que desejem aprender
o ofício, não há restrições governamentais para seu exercício;
• Etapa inicial do profissionalismo - Inicia-se um processo de ensino de maneira
formal e sistemática;
• Etapa intermediária do profissionalismo - A odontologia se consolida como
profissão de nível superior. Surge a necessidade de profissões subsidiárias à
odontologia. Etapa em que se encontrariam a maioria dos países da América
Latina;
• Etapa avançada do profissionalismo - Nessa etapa a profissão está
estruturada com escolas universitárias, ensinos de pós-graduação bem-
organizados, associações profissionais fortes e o exercício ilegal da profissão
praticamente resolvido.
A prática e a educação odontológica tem sido tradicionalmente norteada
pelo paradigma da medicina científica, consolidado a partir da reforma do ensino das
escolas médicas dos Estados Unidos e Canadá na década de 20 do século
passado, graças às recomendações do relatório de Abraham Flexner publicado em
1910, que levaram a uma transformação radical da educação médica norte-
19
americana e, influenciaram posteriormente a educação na América Latina (UNFER;
SALIBA, 2001).
O modelo flexneriano como ficou conhecido tinha como características
preponderantes a ênfase no ensino hospitalar, a visão do corpo humano como uma
máquina, além de se desconsiderar o contexto social do processo saúde-doença.
Esse modelo que influenciou as ciências médicas inclusive a odontologia se
caracterizou pela incorporação de princípios como: biologicismo, individualismo,
tecnificação do ato odontológico e ênfase na odontologia curativa (UNFER; SALIBA,
2001).
Narvai (1994) ao discorrer sobre o perfil formativo do CD brasileiro aponta a
inadequação do preparo dos recursos humanos, sendo esses profissionais formados
de maneira desvinculada das reais necessidades do país, direcionados
precocemente para especialidades, além da não adequação para os serviços onde
deverão atuar.
Desse modo, o trabalho do CD marcadamente centrado numa pratica
curativa com ênfase em atividades restauradoras reproduz nos serviços públicos o
modelo ineficaz da prática privada, demonstrado o descompasso com políticas
reorientadoras como se apresenta a ESF.
3 FORMULAÇÃO DO
PROBLEMA
21
O SUS imprimiu um novo modelo de atenção à saúde baseado nos
princípios da universalidade, equidade, e integralidade das ações o que exigiu uma
reorientação da política de recursos humanos.
Os recursos humanos enquanto agentes das transformações necessárias
para efetivação dessas mudanças retêm a responsabilidade para a condução desse
processo que requer reavaliação das estruturas, práticas e principalmente condutas
profissionais.
A incorporação da saúde bucal na ESF a partir de 2001 ampliou o acesso
dos profissionais de odontologia ao serviço público, que impulsionados pela crise
econômica do país e pela procura cada vez menor aos consultórios odontológicos
particulares pela população, viram o sistema público como uma nova oportunidade
de trabalho. Dessa forma a expansão das ESB permitiu por assim dizer, de forma
estratosférica, a inclusão dos profissionais de odontologia à atenção básica muito
embora sem questionar a formação e aptidão para este novo modelo de atenção.
Diante do exposto, alguns aspectos referentes à capacitação, formação e
adequação da prática profissional dos CD inseridos na ESF, precisam ser
investigados, na perspectiva de se traçar qual o perfil desses profissionais.
4 OBJETIVO
23
4.1 Objetivo Geral
• Caracterizar o perfil dos CDs inseridos na Estratégia de Saúde da Família em
municípios do Estado de Pernambuco relacionando-o com as especificidades
do programa.
4.2 Objetivos Específicos
• Apresentar o perfil dos CDs inseridos na Estratégia de Saúde da Família em
municípios do Estado de Pernambuco segundo sexo, faixa etária, tempo de
serviço público, tempo de formado, município de residência, tipo de vínculo e
capacitação.
• Apresentar a compreensão que os CDs inseridos na ESF em municípios do
Estado de Pernambuco têm sobre as diretrizes do programa.
• Investigar se há compatibilidade entre a formação dos CDs e as aptidões
exigidas para a inserção na Estratégia de Saúde da Família em municípios do
Estado de Pernambuco.
5 METODOLOLOGIA
25
5.1 Desenho do Estudo
O estudo é do tipo descritivo de caso exploratório e transversal sobre o perfil
do CD inserido na ESF em municípios do Estado de Pernambuco, adotou uma
abordagem quantitativa, a fim de verificar as características inerentes a esses
profissionais. Foi realizada uma amostra quantitativa com probabilidade proporcional
do Estado de Pernambuco com nível de confiança de 95% e precisão de 4%.
Este estudo originou-se como parte do projeto de pesquisa intitulado
‘‘Modelo de Atenção em Saúde Bucal e Formação do Cirurgião Dentista inserido na
Estratégia de Saúde da Família no Estado de Pernambuco 1“que contou com o
financiamento da Fundação de Amparo a Ciência e Tecnologia do Estado de
Pernambuco- FACEPE e foi executada em parceria com o Núcleo de Ensino em
Saúde Coletiva do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães da Fundação Oswaldo
Cruz- NESC/CPqAM/FIOCRUZ e Associação Caruaruense de Ensino Superior-
ASCES, sob a coordenação do Prof. Petrônio Martelli.
5.2 Universo e Amostra
Assim, o universo do estudo constitui-se dos municípios do Estado de
Pernambuco: Arcoverde, Bonito, Calçado, Camaragibe, Catende, Chã Grande,
Condado, Jaboatão dos Guararapes, Palmares, Paulista, Petrolina, Recife, São José
da Coroa Grande, Sertânia, Vitória de S. Antão.
5.3 População de Estudo
A população de estudo foram os Cirurgiões dentistas inseridos na ESF nos
municípios supracitados.
1 Titulo da pesquisa é ‘‘Modelo de Atenção em Saúde Bucal e Formação do Cirurgião-Dentista inserido na Estratégia de Saúde da Família no Estado de Pernambuco”, cujo material coletado serviu de subsídio para esta monografia
26
5.4 Considerações Éticas
O projeto de pesquisa “Modelo de Atenção em Saúde Bucal e Formação do
Cirurgião Dentista inserido na Estratégia de Saúde da Família no Estado de
Pernambuco” no qual se baseou este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisas da ASCES (145/05 aprovado em 16/02/2005), de acordo com a
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Além disso, esta monografia foi
submetida ao Comitê de Ética do CPqAM/FIOCRUZ sendo previamente aprovada.
5.5 Coleta dos Dados
Todas as informações referentes aos CDs inseridos na ESF de municípios
do Estado de Pernambuco foram retirados do banco de dados da pesquisa “Modelo
de Atenção em Saúde Bucal e Formação do Cirurgião Dentista inserido na
Estratégia de Saúde da Família no Estado de Pernambuco”.
5.6 Análise dos Dados
Os dados referentes aos questionários (Anexo) preenchidos pelos CDs
foram analisados e organizados em planilhas eletrônicas no Excel (Windows), sendo
os resultados apresentados de forma resumida através de tabelas e gráficos.
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
28
Antecipando a discussão dos resultados, é oportuno esclarecer os critérios
de definição da amostra, bem como o processo de coleta dos dados.
Os dados foram coletados em julho de 2005, período em que havia 617 ESB
implantadas. O tamanho da amostra contemplou 305 ESB.
O sorteio dos municípios foi feito com probabilidade proporcional ao número
de ESB. Sendo feito sorteio de 35 municípios para garantir maior estabilidade nas
estimativas. Os municípios foram ordenados por macrorregião para garantir que
todas as regiões fossem contempladas. Foram excluídos da pesquisa os municípios
que não possuíam nenhuma ESB até o momento da quantificação da amostra.
Foram enviados 305 questionários aos CDs inseridos na ESF no Estado de
Pernambuco a fim de aferir a respeito da prática assistencial rotineira desses
profissionais, sendo remetidos a partir de setembro de 2005 por mala direta ou
entregue pessoalmente aos coordenadores de saúde bucal. Foi estipulado um prazo
para o recolhimento desses questionários devidamente preenchidos, do total dos
305 questionários enviados foi recolhido um quantitativo de 115 questionários. O
percentual de questionários adquiridos em relação ao enviado, resultou no
redimensionamento da pesquisa, já que não há como admitir que com esse
quantitativo tem-se o perfil do CD do Estado de Pernambuco, mas de municípios do
Estado.
O incremento das ESB no campo da ESF permitiu a expansão dessas em
todo o país, e em particular no Estado de Pernambuco, o que possibilitou a inclusão
de forma mais veemente dos profissionais de odontologia no campo da atenção
básica. Na medida em que não se discutiu anteriormente qual o perfil condizente
para o trabalho na ESF, tenta-se delinear o perfil atual dos CDs inseridos na ESF em
municípios do Estado de Pernambuco, levando em conta informações tais quais:
sexo, faixa etária, formação, tipo de vínculo; nível de compreensão a respeito das
diretrizes do programa, além da compatibilidade entre a formação e as aptidões
exigidas para o trabalho na ESF.
29
Tabela 1 – Distribuição por sexo dos CDs inseridos na ESF em municípios do Estado de Pernambuco
Sexo Freq. %
Feminino 81 70.4
Masculino 33 28.7
Ignorado 1 0.9
Total 115 100.0
Dos 115 CDs que responderam ao questionário, 70,4% são do sexo
feminino, mostrando que o quadro denominado de feminilização na profissão
odontológica, observado em diversos estudos (ARAUJO e DIMENSTEIN, 2006;
BASTOS et al., 2003; IMPERIANO et al., 2002; RABELLO et al., 2002; SALIBA et
al., 2002;) também está presente na ESF de municípios do estado de Pernambuco.
Além do que, a pesquisa realizada por Haddad et al (2006, p.401) revela que 65,3%
dos concluintes no curso de odontologia no Brasil são do sexo feminino, o que por
sua vez remete a uma realidade nacional de feminilização da profissão.
Tabela 2 – Distribuição por faixa etária dos CDs in seridos na ESF em municípios do Estado de Pernambuco
Faixa Etária (Anos) Freq. %
24 - 30 41 35.7
31 - 49 54 46.9
50 e mais 18 15.7
Ignorado 2 1.7
Total 115 100
Quanto à faixa etária dos CDs questionados, 46,9% apresentam de 31 a 49
anos de idade, seguido da faixa etária de 24 a 30 anos (35,7%), o que corrobora
30
com os achados de Funk et al. (2004), que em estudo realizado em Passo Fundo –
Rio Grande do Sul - sobre o perfil do CD, encontrou uma faixa de idade entre 25 e
43 anos de idade. Em 2003, o Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas
Socioeconômicas (INBRAPE) realizou uma pesquisa na qual constatou que 29,5%
dos dentistas no Brasil tinham de 26 a 35 anos de idade. Pesquisa realizada por
Haddad et al (2006, p.401) revela que 67,6% dos concluintes no curso de
odontologia no Brasil têm entre 20 a 24 anos de idade.
Tabela 3– Situação dos CDs inseridos na ESF em muni cípios do Estado de Pernambuco quanto ao tempo de serviço público
Tempo de Serviço Público (Anos) Freq. %
1 - 5 54 46.9
6 - 10 11 9.6
11 - 15 14 12.2
16 - 20 15 13.0
21 - 25 7 6.1
26 - 30 6 5.2
31 e mais 1 0.9
Ignorado 7 6.1
Total 115 100
Observando os dados referentes ao tempo de serviço público, pode-se
concluir que a procura dos profissionais da odontologia aos serviços públicos
intensificou-se nos últimos anos, tendo em vista que 46,9% dos CDs possuem
tempo de serviço público de até cinco anos. Esse dado encontra respaldo histórico
na medida em que se reconhece que o incremento da saúde bucal no contexto das
políticas públicas se deu mais veementemente a partir de 2001, quando o MS
passou a normatizar e incentivar financeiramente as ESB no seio da ESF. Há
também que se traçar um paralelo com a própria implantação do SUS que se deu
31
efetivamente a partir da constituição de 1988, quando se aponta que 81,7% dos CD
entrevistados têm entre 1 a 20 anos de serviço público.
Tabela 4– Situação dos CDs inseridos na ESF em muni cípios do Estado de Pernambuco segundo tempo de formação
Tempo de Formação (Anos) Freq. %
1 - 5 40 34.8
6 - 10 8 6.9
11 - 15 14 12.2
16 - 20 20 17.4
21 - 25 19 16.5
26 - 30 7 6.1
31 e mais 6 5.2
Ignorado 1 0.9
Total 115 100
A tabela supracitada revela que cerca de 34,8% dos CD entrevistados
possuem até 5 anos de formado, dessa forma observa-se uma mudança de
paradigma a partir do momento em que o profissional, ao se formar, procura o
serviço público, por identificá-lo como um novo nicho de mercado, o que se deve
também graças ao aumento dos postos de trabalho no SUS (HADDAD et al., 2006).
Analisando o perfil do CD inserido na ESF no Estado do Rio Grande do Norte,
Araujo e Dimenstein (2006) encontraram também uma maior predominância do
tempo de formado no período de até 5 anos
32
Tabela 5– Situação dos CDs inseridos na ESF em muni cípios do Estado de Pernambuco segundo município que trabalham e municí pio que residem
CDs Residentes CDs Não
Residente s
Total Município
Freq. % Freq. % Freq.
Arcoverde 11 100.0 0 0 11
Bonito 3 75.0 1 25.0 4
Calçado 0 0 5 100.0 5
Camaragibe 1 17.0 5 83.0 6
Catende 0 0 1 100.0 1
Chã Grande 0 0 2 100.0 2
Condado 2 29,0 5 71.0 7
Jaboatão dos Guararapes 2 40,0 3 60.0 5
Palmares 2 33,0 4 67.0 6
Paulista 3 33,0 6 67.0 9
Petrolina 11 92,0 1 8.0 12
Recife 28 97,0 1 3.0 29
São José da Coroa Grande 3 60,0 2 40.0 5
Sertania 1 33,0 2 67.0 3
Vitória de S. Antao 4 44,0 5 56.0 9
Ignorado 1 100,0 0 0 1
Total 72 63.0 43 37.0 115
A tabela acima aponta que a maior parte dos CDs entrevistados (63%)
trabalham no mesmo município em que residem. Dentre os municípios que se
destacaram em maior proporção, no que diz respeito aos CDs residentes são
Arcoverde, Recife e Petrolina, o que pode ser explicado em parte pela localização
geográfica e/ou pelo porte do município. Carvalho e Machado (2004) consideram
para o Estado de Pernambuco, municípios de pequeno porte, aqueles de população
abaixo de 50.000 habitantes, médio porte os entre 50.000 e 150.000 habitantes e, de
33
grande porte, os acima de 150.000 habitantes. Dessa forma, Arcoverde, por ser
município de médio porte e estar localizado no sertão, congregou os CDs em sua
região. Recife, localizado na região metropolitana e Petrolina na região do São
Francisco, ambos municípios de grande porte se apresentam, pois, também como
pólos atrativos para fixação dos CDs.
Em outro estudo, Funk et al. (2004) investigaram a permanência do
profissional da odontologia no município onde se formou e constataram que mais da
metade dos entrevistados (57,4%) nunca trabalharam em outra cidade e dentre os
que já haviam trabalhado em outra cidade, 46,4% alegaram a mudança por motivos
profissionais e 34,2% por motivos particulares. Assim, percebe-se uma grande
tendência dos CDs a permanecerem no lugar que residem, seja por razões
profissionais que podem estar ligadas a melhores oportunidades de emprego, de
capacitação, de remuneração, razões pessoais, dentre outras.
Tabela 6 – Situação dos CDs inseridos na ESF em mun icípios do Estado de Pernambuco quanto ao tipo de vínculo
Tipo de Vínculo Freq. %
Concurso 27 23.5
Contrato 75 65.2
Ignorado 13 11.3
Total 115 100.0
A forma de contratação firmada por 65,2% dos CDs inseridos na ESF em
municípios do Estado de Pernambuco, consistindo em vínculo irregular aponta a
realidade de precariedade das relações de trabalho, o que pode contribuir para a
alta rotatividade e insatisfação do profissional, comprometendo dessa forma, a
qualidade da assistência à saúde prestada a população.
A política de Recursos Humanos no Brasil foi marcada nos últimos anos pelo
estabelecimento de relações precárias na saúde, assim como a perda dos direitos
conquistados pelos trabalhadores na Constituição de 1988, constatado através da
34
reforma administrativa por meio da emenda constitucional Nº. 19 de 1998. A reforma
do estado engendrada de forma mais intensa no governo de Fernando Henrique
Cardoso corroborou para as novas modalidades de flexibilização adotadas nas
relações de trabalho. Assim, algumas características do mercado de trabalho
sofreram uma inflexão na década de 1990, entre as já apontadas, a contração do
setor público federal, com expansão da oferta para níveis subnacionais, destacando-
se os municípios e a proliferação de modalidades alternativas de vínculos e
remuneração (BRASIL, 2005).
O MS ao realizar avaliação normativa do PSF no Brasil identificou que do
total de ESB implantadas até então, 32.9% tinham CDs contratados
temporariamente, 29,2% contavam com profissionais contratados por modalidades
precárias ou informais de vínculo trabalhistas e 28,8% por meio da Consolidação
das Leis Trabalhistas (CLT) ou estatutários. Nessa mesma pesquisa se identificou
que 84,5% dos CDs estavam inseridos por tempo igual ou inferior a um ano
(BRASIL, 2004b).
Nesse contexto, o MS criou o DesprecarizaSUS que consiste numa
estratégia de ação cujo objetivo é a desprecarização dos vínculos de trabalho na
saúde, criando a partir desta política o Comitê Nacional Interinstitucional de
Desprecarização do trabalho no SUS, Portaria N°. 2. 430/GM, que entende como
trabalho precário a ausência de garantia para os direitos trabalhistas e
previdenciários consagrados em lei. As Entidades Sindicais que representam os
trabalhadores do SUS ampliam esse conceito admitindo que a ausência de concurso
público ou processo seletivo público para cargo permanente ou emprego público no
SUS também caracteriza o processo de precarização das relações de trabalho
(BRASIL, 2005).
O relatório final da III CNSB propõe como uma das estratégias para se
combater a precarização do trabalho odontológico a reafirmação do concurso
público como único meio para contratação de trabalhadores em saúde bucal para
ESF, com jornada de trabalho de 40 horas semanais, além de isonomia salarial
(CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE BUCAL, 2005).
No que se refere à modalidade da formação, a pesquisa captou através dos
questionários que 77,8% dos CDs já haviam concluído algum tipo de formação,
entre capacitação, aperfeiçoamento, especialização e residência. Destes um maior
35
percentual, cerca de 49,4%, realizaram especialização, o que demonstra um maior
interesse dos CDs por cursos de maior duração, na medida em que a Resolução N°
01 do Conselho Nacional de Educação define que os cursos de pós-graduação lato
sensu, tal qual a especialização devem ter duração mínima de 360 (trezentos e
sessenta) horas (BRASIL. MEC, 2001). Corroborando aos achados dessa pesquisa
Araújo e Dimenstein (2006), ao levantarem o perfil dos CDs inseridos na ESF no Rio
Grande do Norte, identificaram que um pouco mais da metade dos profissionais
entrevistados tinham algum tipo de pós-graduação.
A lei Nº. 8080/90 ao tratar da política de recursos humanos dispõe acerca da
necessidade de formação em todos os níveis de ensino, inclusive de pós-graduação,
além da elaboração de programas de permanente aperfeiçoamento pessoal. A Nº.
8142/90 institui o PCCS como uma das condições a serem observadas para o
repasse de recursos da União diretamente para estados, municípios e distrito
federal, prevendo um prazo de dois anos para sua implantação (BRASIL. MS, 2001).
Contudo, o Plano Diretor de Reforma do Aparelho do Estado institui as
ações e os serviços de saúde como atividades não exclusivas do Estado, o que
conseqüentemente concebe a carreira do SUS como não estratégica. Para
contrapor a essa concepção, o Conselho Nacional de Saúde ao realizar um balanço
das dificuldades do SUS nomeou a ausência de uma política de recursos humanos
para a saúde como um dos obstáculos para o desenvolvimento do SUS. A Portaria
N°. 626/GM, de 8 de abril de 2004, permitiu a elabo ração de grupos de trabalho para
discutir o PCCS, através da proposta da elaboração de diretrizes para sua
implementação (BRASIL, 2005).
Segundo o relatório final produzido pela III CNSB tanto a formação de nível
superior quanto a de pós-graduação não estão cumprindo o seu papel no que diz
respeito à formação de profissionais de odontologia comprometidos com o SUS e
com o controle social, identificando ainda um modelo formador dissociado da
realidade brasileira baseado numa visão mercantilista e elitista da odontologia
(CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE BUCAL, 2005).
Dessa forma, percebe-se o quanto essa discussão é recente e precisa ser
aprofundada, sendo que a constituição de grupos de trabalho que discutam essa
temática nas diferentes esferas de governo faz-se imprescindível para sua
implementação.
36
Tabela 7 – Situação dos CDs inseridos na ESF em mun icípios do Estado de Pernambuco quanto à formação específica na ESF
Formação em ESF Freq. %
Sim 78 67.8
Não 30 26.1
Ignorado 7 6.1
Total 115 100.0
Dos 115 CDs entrevistados, 67,8% possuem formação voltada para a ESF.
Assim, percebe-se que os CDs de municípios do estado de Pernambuco identificam
a necessidade de se especializarem na área de saúde pública, mais
especificamente na ESF, na medida em que a formação do CD historicamente
associada a uma prática curativista e técnico-centrada não os tenha permitido a
aptidão necessária para o trabalho na ESF.
Tabela 8 – Situação dos CDs inseridos na ESF em mun icípios do Estado de Pernambuco quanto à modalidade da formação com foco em ESF
Modalidade de Formação Freq. %
Capacitação 3 3.8
Atualização 32 41.0
Especialização 35 44.9
Residência 3 3.8
Ignorado 4 6.5
Total 78 100.0
Dos 67,8% CDs que possuem formação voltada para a ESF, 44,9%
realizaram especialização, esta com a particularidade de ser viabilizada por meio da
parceria com as prefeituras municipais, conforme o relato dos CDs. Os cursos de
37
menor duração, como capacitações e atualizações, que perfizeram o total de 44,8%
das formações com foco na ESF, foram realizadas na sua maioria pela Unidade de
Acompanhamento e Avaliação das Ações de Saúde Bucal (UAAASB) da Secretaria
de Saúde do Estado de Pernambuco (SES-PE).
Tabela 9 –CDs inseridos na ESF em municípios do Est ado de Pernambuco que fizeram formação com foco em ESF segundo instituiçõ es formadoras
Instituições Freq. %
FUSAM 31 39.7
UPE 17 21.8
UFPE 14 18.0
IMIP 3 3.8
ASCES 2 2.6
Ignorado 1 1.3
Outros 10 12.8
Total 78 100.0
A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Universidade de
Pernambuco (UPE), as instituições de ensino mais tradicionais do estado, foram
citadas como responsáveis pela formação de cerca de 40% dos profissionais
entrevistados. A Fundação de Saúde Amaury de Medeiros (FUSAM) que presta
apoio aos municípios do Estado de Pernambuco foi responsável por 39,7% da
formação dos CDs através da UAAASB.
O Conselho Nacional de Educação e a Câmara de Educação Superior
instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de graduação em
odontologia, em vigência desde 2002, sinalizando o perfil do formando
egresso/profissional, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, capaz
de atuar em todos os níveis de atenção à saúde com sólida formação técnico-
cientíca, humanística e ética, orientada para a promoção de saúde, com ênfase na
prevenção de doenças bucais prevalentes (MASETO, 2006).
38
Apesar dessa medida, sabe-se que a necessidade de qualificação do CD já
inserido na ESB é premente, visto que a grande maioria apresenta formação
profissional anterior ao processo de reforma curricular, o que exige a demanda por
cursos de pós-graduação em Saúde da Família e / ou Saúde Pública (MATOS;
TOMITA, 2004).
A reorganização dentro desse novo modelo requer profissionais capacitados
com uma visão ampliada de saúde, capazes de compreender indivíduos, famílias e
comunidade de forma sistêmica e integral. Faz-se necessário, portanto, que os
profissionais estejam capacitados para intervir de forma qualitativa, no sentido de
planejar, desenvolver e avaliar as ações de saúde bucal, buscando responder às
necessidades da comunidade. Para tanto, precisa-se de currículos e programas de
capacitação orientados para atender às necessidades, em consonância com a
realidade dos sistemas municipais (RODRIGUES, 2001).
A) Caráter substitutivo das práticas tradicionais exercidas nas UBS.
B) Adscrição da população sob responsabilidade da UBS.
C) Articulação da referência e contra-referência aos serviços de maior complexidade
do sistema de saúde.
Gráfico 1 – Compreensão dos CDs em relação aos pres supostos básicos da ESF
56% 63% 78%
96% 93%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
A B C D E
PRESSUPOSTOS DA ESF
39
D) Acompanhamento e avaliação permanente das ações realizadas.
E)Estímulo às ações de promoção de saúde, à articulação intersetorial, à
participação e ao controle social.
Dentre os pressupostos assimilados pelo CDs, cerca de 96% destes,
compreendem à necessidade da realização de ações de caráter preventivo-
promocional associada à participação comunitária no contexto da ESF; 93%
identificam como um dos princípios da ESF o acompanhamento e avaliação dessas
ações. A necessidade de articulação de uma rede de referência e contra referência
que possa dar suporte a equipe de atenção básica é assimilada por 78% dos CDs
entrevistados.
O quesito referente ao caráter substitutivo das práticas tradicionais
realizadas nas UBS como uma das prerrogativas da ESF foi identificado por 56%
dos profissionais de odontologia o que sugere que apesar da maioria dos CDs (96%)
compreenderem o estímulo ás ações de promoção á saúde como um dos
pressupostos da ESF, de fato não a estejam realizando na medida em que não
compreendem a premência da substituição do modelo realizado nas tradicionais
UBS. Quanto á adscrição da população sob responsabilidade da equipe, 63% dos
CDs entendem, pois como um dos pressupostos da ESF.
A pesquisa ainda questionou a avaliação dos CDs no que diz respeito à
pertinência da formação na ESF em relação às práticas exercidas, sendo que 92,3%
destes identificaram como pertinentes os conteúdos oferecidos. Convém ressaltar
que instituições de ensino como a UPE e UFPE foram responsáveis por 40% dessa
formação. Resta saber se os conhecimentos adquiridos com a formação foram de
fato aplicados na prática da ESF.
40
Tabela 10 – Atividades dos CDs inseridos na ESF em municípios do Estado de Pernambuco segundo á realização de procedimentos nã o curativos
Execução Sim Não
Procedimentos não
Curativos Freq. % Freq. %
Atividades Educativas 103 89.6 12 10.4
Escovação Supervisionada 39 33.9 76 66.1
Aplicação de Flúor 80 69.6 35 30.4
Uso de Selante 19 16.5 96 83.5
Outros 81 70.4 34 29.6
A fim de analisar se essa formação condiz em ações dentro da ESB, foi
solicitado aos CDs que descrevessem quais procedimentos não curativos são
realizados. Dentre os elencados pelos CDs destacaram-se as atividades educativas,
com 89,6%.
A Portaria Nº. 648, de 28 de março de 2006, que aprova a Política Nacional
de Atenção Básica, ao tratar das atribuições do CD na equipe de saúde da família,
discorre sobre a responsabilidade em coordenar e participar de ações coletivas
voltadas à promoção da saúde e à prevenção de doenças bucais (BRASIL, 2006a).
Essa atribuição por sua vez pode ser desdobrada em ações como escovação
supervisionada, aplicação de flúor e uso de selante, executada por 33,9%, 69,6% e
16,5 respectivamente. Vale destacar ainda que a referida portaria também pondera
sobre a responsabilidade do CD em realizar o diagnóstico situacional com a
finalidade de obter o perfil epidemiológico para o planejamento e a programação em
saúde bucal; o que não foi referido por nenhum profissional enquanto atividade no
âmbito da ESF.
7 CONCLUSÕES
42
A ampliação da atenção básica por meio da ESF apresenta-se como parte de
um esforço para que a mudança no paradigma do modelo de atenção á saúde
aconteça dentro dos princípios e diretrizes do SUS, o que inclui a reorganização da
prática odontológica.
Ao se traçar o perfil do CD inserido na ESF em municípios do Estado de
Pernambuco, percebeu-se que assim como no restante do país, há uma
preponderância do sexo feminino, cerca de 70,4%. A faixa etária predominante
encontrada foi de 31 a 49 anos de idade. Em relação ao tempo de serviço público
46,9% dos CDs têm entre 1 a 5 anos, além do que 34,8% desses têm entre 1 a 5
anos de formado. No que diz respeito á fixação do CD, 63%, trabalham no mesmo
município em que residem, destacando-se os municípios de Arcoverde, Recife e
Petrolina como os de maior atração. A forma de contratação firmada por 65,2% dos
CDs inseridos na ESF caracteriza vínculo irregular.
Quanto à capacitação, 67,8% dos CDs têm formação com foco em ESF,
sendo que 44,9% realizaram especialização. Entre as instituições formadoras,
destacaram-se a UFPE e UPE.
Ao se tratar dos conhecimentos necessários para o trabalho junto à ESB,
identificou-se que 96% dos CDs compreendem a responsabilidade de estímulo às
ações de promoção e prevenção á saúde, como uma atribuição do CD, o que se
contrapôs a concepção assimilada por apenas 56% desses a respeito do caráter
substitutivo das práticas tradicionais exercidas nas UBS, como um pressuposto da
ESF.
No que tange aos procedimentos não curativos realizados, destacaram-se as
atividades educativas, escovação supervisionada, aplicação de flúor e uso de
selante como ações realizadas pelo CD.
A inclusão do CD no campo da ESF trouxe além de novas perspectivas de
trabalho a necessidade de adequação do perfil desses profissionais no que diz
respeito às responsabilidades no âmbito da equipe de saúde da família. Percebe-se
que essa discussão embora tardia precisa ser implantada e envolve questões como
a própria mudança do modelo de atenção, a necessidade de formação condizente
com esse novo modelo, além das novas relações de trabalho advindas por meio da
ESF.
REFERÊNCIAS
44
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QUESTIONÁRIO
Questionário a ser preenchido pelos dentistas inseridos nas Equipes de
Saúde Bucal cuja unidade está descrita no envelope.
Nome:
Idade: Sexo:
Município que trabalha: Município que reside:
Tempo de serviço público: Tempo de formado:
Tipo de vínculo empregatício:
Possui algum curso de pós-graduação? Em caso positivo, qual (is)? E em que nível
(is)?
1) Você teve alguma formação para atuar junto a Est ratégia de Saúde da
Família (ESF)?
Em caso positivo, responder:
1.1-Qual o curso?
1.2-Qual a carga horária?
1.3-Tempo de duração?
1.4-Promovido por qual instituição de ensino?
1.5- O curso em questão deu-lhe suporte para sua pr ática, comente.
2) Dos princípios abaixo elencados, selecione 5 que você acha pertinente a ESF?
A) Caráter substitutivo das práticas tradicionais exercidas nas Unidades básicas de
saúde (UBS).
B) Trabalho centrado no cirurgião dentista.
C) Avaliação centrada exclusivamente em resultados.
D) Adscrição da população sob responsabilidade da UBS.
E) Paciente como núcleo central da abordagem.
F) Articulação da referência e contra-referência aos serviços de maior complexidade
do sistema de saúde.
G) Priorização de ações curativas.
H) Estímulo às ações de promoção de saúde, à articulação intersetorial, à
participação e ao controle social.
I) Focalização do complexo estomatognático como área de atuação do CD?
J) Acompanhamento e avaliação permanente das ações realizadas.
3)Cite procedimentos não curativos que você realiza ?
3.1-A realização de tais procedimentos compromete q uanto do seu tempo de
trabalho em horas?
4)Qual o perfil da clientela que você atende? E em que proporção?
5) Na sua visão quem são os responsáveis pelo finan ciamento da atenção
básica? Em que proporção?
6) A introdução da Saúde Bucal na ESF aumentou a oferta de procedimentos na
atenção básica? Sim ou não? Em que proporção?
7) Das especialidades odontológicas abaixo elencada s, para qual ou quais
você tem acesso para referenciar seu paciente?
Cirurgia oral menor ( ) Endodontia ( ) Periodontia ( )
Prótese resinosa ( ) Ortodontia ( ) Dentística especializada ( )
Diagnóstico oral ( ) Pacientes especiais( ) Outra--------------------( )