Perfil das crianças e adolescentes vítimas de morte …...taxas de mortalidade em comparação com...
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I
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA
Fundada em 18 de fevereiro de 1808
Monografia
Perfil das crianças e adolescentes vítimas de morte
violenta no período de 2005 a 2010 em Salvador
Jéssica Moreira Ferreira
Salvador (Bahia)
Outubro, 2016
II
FICHA CATALOGRÁFICA
Ferreira, Jéssica Moreira
Perfil das crianças e adolescentes vítimas de morte violenta no
período de 2005 a 2010 em Salvador / Jéssica Moreira Ferreira. --
Salvador, 2016.
34 f. : il
Orientador: Raul Barreto Filho.
TCC (Graduação - Medicina) -- Universidade Federal da Bahia,
, 2016.
1. External causes. 2. Adolescent. 3. Death. I. Filho, Raul
Barreto. II. Título.
III
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA
Fundada em 18 de fevereiro de 1808
Monografia
Perfil das crianças e adolescentes vítimas de morte
violenta no período de 2005 a 2010 em Salvador
Jéssica Moreira Ferreira
Professor orientador: Raul Coelho
Barreto Filho
Monografia de Conclusão do
Componente Curricular MED-
B60/2016.1, como pré-requisito
obrigatório e parcial para
conclusão do curso médico da
Faculdade de Medicina da Bahia
da Universidade Federal da Bahia,
apresentada ao Colegiado do Curso
de Graduação em Medicina.
Salvador (Bahia)
Agosto, 2016
IV
Monografia: Perfil das crianças e adolescentes vítimas de morte violenta
no período de 2005 a 2010 em Salvador, de Jéssica Moreira Ferreira.
Professor orientador: Raul Coelho Barreto Filho
COMISSÃO REVISORA:
Raul Coelho Barreto Filho (Presidente, Professor orientador), Professor do
Departamento de Patologia e Medicina Legal da Faculdade de Medicina da
Bahia da Universidade Federal da Bahia.
Lícia Maria Oliveira Moreira, Professora do Departamento de Pediatria da
Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia.
Fabiana Nery Fernandes, Professora do Departamento de Neurociências e
Saúde Mental da Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da
Bahia.
TERMO DE REGISTRO ACADÊMICO:
Monografia avaliada pela Comissão Revisora, e
julgada apta à apresentação pública no XI Seminário
Estudantil de Pesquisa da Faculdade de Medicina da
Bahia da Universidade Federal da Bahia, com
posterior homologação do conceito final pela
coordenação do Núcleo de Formação Científica e de
MED-B60 (Monografia IV).Salvador (Bahia), em
___ de _____________ de 2016.
V
Monstros são reais. Fantasmas são reais também.
Vivem dentro de nós e, às vezes, eles vencem.
(Stephen King)
VI
Aos meus pais, Nanci
Moreira e Gineclê Ferreira
VII
EQUIPE Jéssica Moreira Ferreira, Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA. Correio-e:
Raul Coelho Barreto Filho, Professor da Faculdade de Medicina da
Bahia/UFBA.
INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
Faculdade de Medicina da Bahia (FMB)
FONTES DE FINANCIAMENTO 1. Recursos próprios.
VIII
AGRADECIMENTOS
Ao meu professor orientador, Doutor Raul Coelho Barreto Filho, por ter
proposto a ideia do tema desta monografia. Por esclarecer todas as minhas
dúvidas com paciência e atenção e mostrar-se sempre solícito.
As minhas amigas Ingrid Monteiro Silva e Loiana das Neves Silva, pelo total
apoio que me ofereceram para conclusão do trabalho. Por não deixarem que eu
desistisse e pela preocupação demostrada.
À minha família pela paciência e compreensão nos momentos mais difíceis da
minha jornada.
1
SUMÁRIO
.
ÍNDICE DE FIGURA, GRÁFICOS, QUADRO E TABELAS 2
I. RESUMO 3 II. OBJETIVOS 4 III. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 5
IV. METODOLOGIA 9
V. RESULTADOS 11
VI. DISCUSSÃO 18
VII. CONCLUSÕES 23
VIII. SUMMARY 24 IX. REFERÊNCIAS IBLIOGRÁFICAS 25
2
ÍNDICE DE FIGURAS, GRÁFICOS E TABELAS
TABELAS TABELA 1. Quantitativo de mortos necropsiados no IMLNR por sexo do
indivíduo (2005-2010) 11
TABELA 2. Medidas de resumo da variável idade dos indivíduos necropsiados no
IMLNR (2005-2010) 12
TABELA 3. Causa da morte das vítimas necropsiadas no IMLNR (2005 - 2010) 14 TABELA 4. Cinco meios mais utilizados nos homicídio de vítimas necropsiadas
no IMLNR (2005-2010) 14
TABELA 5. Três principais ocorrências de Outros Acidentes de mortos
necropsiados no IMLNR (2005-2010) 15
TABELA 6. Quantitativo de corpos necropsiados no IMLNR por distrito de
ocorrência das mortes (2005 - 2010) 17
GRÁFICOS GRÁFICO 1. Percentual de mortos necropsiados no IMLNR por sexo do indivíduo
(2005-2010) 12
FIGURAS FIGURA 1. Box-plot da variável idade 13 FIGURA 2. Box-plot da variável idade por sexo 13 FIGURA 3. Causa da morte de vítimas necropsiadas no IMLNR (2005-2010) 15 FIGURA 4. Box-plot da variável idade por causa da morte 16
3
I. RESUMO
Perfil das crianças e adolescentes vítimas de morte violenta no período de 2005 a 2010
em Salvador. Introdução: Atualmente os jovens são as principais vítimas por causas externas,
acidentes e violências, estabelecendo tal fato como um dos maiores problemas de saúde
pública. De acordo com a Organização Mundial da Saúde um milhão de crianças até 14 anos
morrem em decorrência de acidentes todos os anos no mundo e cerca de 50 milhões ficam
com sequelas permanentes. No Brasil, mais da metade dos óbitos por causas externas são
devidos a agressões, os acidentes de transporte foram a segunda principal causa de morte
entre jovens, e a maioria é do sexo masculino. O município de Salvador representa 53% do
total de óbitos da população infanto-juvenil de todo estado baiano. Objetivos: Analisar um
perfil de mortes violentas dos jovens soteropolitanos, identificando a principal causa da morte
e seu principal grupo de risco, para apontar estratégias preventivas. Metodologia: Trata-se de
um estudo descritivo, realizado com crianças e adolescentes de 0 a 19 anos, necropsiados no
Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, no período de 2005 a 2010 da cidade de Salvador. As
variáveis estudadas foram sexo, idade, causa da morte e distrito sanitário de ocorrência.
Resultados: Relacionado ao sexo 89% é masculino e 11% feminino, a principal causa da
morte foi homicídio (76%), destes 91% foi provocado por arma de fogo, seguido de outros
acidentes (12%) e acidente de veículo (10%). Quanto a idade 50% tinha entre 17 e 19 anos.
Os Distritos Sanitários de maiores ocorencias foram Subúrbio Ferroviário (10,9%),
Cabula/Beirú (8,0%) e Itapuã (7,4%). Conclusão: O perfil das crianças e adolescentes
encontrado foi de meninos, entre 17-19 anos, residentes em bairros periféricos de Salvador,
vítimas de homicídio provocado por arma de fogo. O índice de homicídios no decorrer do
estudo aumentou em 250%. Há a necessidade de implementação de novos programas sociais
para mudar a situação.
Palavras chave: 1. External causes; 2. Adolescent; 3. Death.
4
II. OBJETIVOS
PRIMÁRIO
Analisar o perfil de mortes por causas externas das crianças e
adolescentes, de 0 a 19 anos, da cidade de Salvador no período de
2005 a 2010.
SECUNDÁRIOS
1. Conhecer a principal causa de morte violenta das crianças
e adolescentes dessa região
2. Identificar o grupo de risco mais prevalente
3. Reconhecer estratégias de prevenção para ocorrência de
tais óbitos
5
III. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
As causas externas – acidentes e violências – são, atualmente, um dos maiores
problemas de saúde pública, atingindo praticamente todas as faixas etárias, com maior
expressão nas mais jovens.
A Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à
Saúde – 10ª Revisão (CID-10) – subdivide as causas externas em causas não intencionais (que
incluem os acidentes de transporte, de trabalho, quedas, envenenamentos, afogamentos e
outros tipos de acidentes), causas intencionais relacionadas às agressões e lesões
autoprovocadas, e eventos cuja intenção é indeterminada (Matos e Martins, 2012).
A violência caracteriza-se como um grave problema social, que tem consequências
também na saúde pública, afetando indivíduos em todo mundo. Em sua origem e
manifestações, é um fenômeno socio-histórico e acompanha toda a experiência da
humanidade. Portanto, ela não é, em si, uma questão de saúde publica, mas transforma-se em
problema para a área, porque afeta a saúde individual e coletiva e exige, para sua prevenção e
tratamento, formulação de políticas especificas e organizações de praticas e serviços
peculiares ao setor (Sousa, 2012).
Além dos custos sociais, econômicos e emocionais, os acidentes e violências são
responsáveis não só por grande parte das mortes, mas também por traumatismos não fatais e
sequelas que exercem grande impacto em longo prazo, repercutindo na família, na sociedade e
penalizando crianças e adolescentes em plena fase de crescimento e desenvolvimento.
Atualmente, milhares de crianças morrem a cada ano de acidentes ou violência, e
milhões de outras sofrem as consequências de lesões não fatais, contribuindo para a perda de
anos potenciais de vida. Quanto à morbidade, para cada morte de menor de 18 anos, estima-se
que há 12 crianças internadas em hospital ou com invalidez permanente e 34 que necessitam
de cuidados médicos ou não foram à escola ou trabalho por causa de uma lesão (Matos e
Martins, 2013).
De acordo com a Organização Mundial da Saúde um milhão de crianças até 14 anos
morrem em decorrência de acidentes todos os anos no mundo e cerca de 50 milhões ficam
com sequelas permanentes.
6
Globalmente, mais de 95% de todas as mortes por causas externas em crianças
ocorrem em países em desenvolvimento. Embora a taxa de mortalidade infantil seja muito
menor entre crianças de países desenvolvidos, as lesões intencionais e não intencionais ainda
são uma das principais causas de morte, responsáveis por cerca de 40% de todos os óbitos
infantis (Matos e Martins, 2013).
Em um estudo realizado com os 30 principais países da Europa, demonstrou que as
taxas de mortalidade infanto-juvenil nessa região são relativamente menores se comparadas às
taxas de outros países, e que vem diminuindo desde 2002. Foi evidenciado que a mortalidade
de jovens entre 1-19 anos está associada principalmente com acidentes de transito,
afogamentos, queimaduras, envenenamentos e quedas (Molcho et al., 2015).
Confirmando as tendências europeias, estudos realizados no Reino Unido
demonstraram os mesmos resultados, sendo a Inglaterra o país que apresentou as menores
taxas de mortalidade em comparação com País de Gales, Irlanda do Norte e Escócia, esses
três últimos indicando um aumento da mortalidade de meninos entre 10-18 anos quando
comparado à Inglaterra (Hardelid et al., 2013).
Um estudo mais detalhado realizado na Escócia relata que as taxas de mortalidade em
crianças e adolescentes reduziram pela metade no período de 2002-06 quando comparadas a
10 anos antes. Os riscos individuais de cada causa de morte variam consideravelmente em
cada grupo etário, nos mais velhos destacam-se os acidentes de transito, e nos mais jovens
destacam-se assalto/homicídio, fogo e asfixia. Em crianças < 1 ano a taxa de mortalidade por
agressão/homicídio foi maior, reduzindo com o aumento da idade. O suicídio fica em
evidencia no grupo etário de 10-14 anos, sendo a terceira maior causa de morte nesse grupo
(Pearson e Stone, 2009).
Na Grécia, no período de 2000-09, as principais causas de mortalidade juvenil foram
acidentes de transito, seguidas de uso de drogas ilícitas e suicídio, com taxas de mortalidade
maiores em adultos jovens do que em adolescentes, em homens do que em mulheres, e
apresentaram o mesmo declínio observado em toda Europa com o passar dos anos. O estudo
associa o decaimento das taxas a intervenções no sistema rodoviário do país, e a melhorias
nos serviços de saúde mental (Bacopoulou et al., 2013).
Nos EUA, causas não intencionais são a principal causa de morte de pessoas com
idades entre 1-19 anos, sendo responsável por 37% de todas as mortes nessa faixa etária em
2009, e a quinta maior causa de morte entre os recém-nascidos e lactentes com idade <1 ano.
7
Mortes de causas não intencionais são responsáveis por mais anos potenciais de vida perdidos
antes da idade de 65 anos do que o câncer, doença cardíaca, ou qualquer outra causa de morte.
De 2000 a 2009, a taxa global de morte por lesões não intencional entre pessoas com idades
de 0-19 anos diminuiu 29%, as mortes por acidentes trânsito também diminuíram, mas
continuam a ser a principal causa de mortes por causas externas (CDC, 2012).
É importante resaltar o aumento significativo de 54% nas taxas de mortalidade por
asfixia não intencional nas crianças < 1 ano no período de 2000-09, e um aumento de 91% nas
taxas de mortalidade por envenenamento nos jovens de 15-19 anos, relacionado a uso
inadequado de medicamentos, no mesmo período (CDC, 2012).
Apesar do declínio nas taxas de mortalidade por causas não intencionais nos EUA,
ainda são altas quando comparadas as dos países europeus chegando quase ao dobro (CDC,
2012).
No Brasil, em um estudo realizado no período de 2000-12, as violências e acidentes
foram as principais causas de morte, principalmente no sexo masculino. Mais da metade dos
óbitos por causas externas foram devidos a agressões, os acidentes de transporte foram a
segunda principal causa de morte entre jovens brasileiros. No ano 2000, os óbitos de jovens
por causas externas corresponderam a 65,5% do total de óbitos: 74,5% dos óbitos no sexo
masculino e 32,2% no feminino. Em 2012, essa proporção equivaleu a 71,4% dos óbitos na
população geral: 79,2% no sexo masculino e 38,5% no feminino (Neves e Garcia, 2015).
As taxas de mortalidade geral de jovens no Brasil foram elevadas e apresentaram
tendências estacionárias no período de 2000 a 2012, para ambos os sexos. Contudo, houve
diferenças regionais. Foi observado crescimento na mortalidade entre homens jovens
residentes nas regiões Nordeste e Sul, assim como na população jovem total do Norte e
Nordeste. Na região Sudeste, porém, houve decréscimo nas taxas de mortalidade geral entre
jovens de ambos os sexos. O fato de o aumento ter-se verificado somente no sexo masculino
reforça a hipótese da violência urbana, com a qual os homens têm maior envolvimento. Por
sua vez, a tendência decrescente da taxa de mortalidade geral entre jovens do Sudeste, de
ambos os sexos, pode ser o resultado das intervenções realizadas na região, a exemplo das
ações realizadas no âmbito da Segurança Pública, como a implantação das unidades de polícia
pacificadora (UPP) no estado do Rio de Janeiro, e de medidas voltadas à segurança no trânsi-
to, como as operações da chamada “Lei seca” (Neves e Garcia, 2015).
8
No estado da Bahia, no ano de 2009, de todos os homicídios registrados 93,6% foram
homens e 6,4% mulheres. A faixa etária mais atingida foi de 15 a 24 anos, representando
45,5% das mortes. Esses dados mostram um perfil conhecidos em outros estudos, onde os
jovens do sexo masculino são as principais vitimas de homicídio (Sousa, 2012).
Em relação a distribuição espacial das taxas de homicídio na Bahia, observa-se que as
maiores taxas concentram-se no litoral do estado, com destaque para o município de Salvador
que representa 53% do total de óbitos por homicídio (Sousa, 2012).
Em um estudo realizado em Salvador no período de 1988 a 1994, demonstrou um
crescimento do risco de morte por causas externas no grupo de 10-19 anos e no aumento da
proporção de óbitos na faixa etária de 15-19 anos, que passou do quinto grupo mais
acometido por mortes violentas em 1988, para o terceiro em 1994, reafirmando a importância
das mortes violentas nesse grupo etário, principalmente em decorrência dos homicídios. A
sobremortalidade masculina variou entre quatro e seis vezes em relação à feminina. Foram os
jovens de 15 a 19 anos e os idosos que apresentaram taxas crescentes no período (Freitas et
al., 2000).
As maiores taxas de mortalidade por causas externas, nos anos de 1991 e 1994, foram
verificadas nos distritos sanitários de São Caetano, Subúrbio Ferroviário, Cabula /Beiru,
Liberdade e Pau da Lima. Os homicídios constituíram-se no tipo mais frequente de morte
violenta em cerca de 75% dos 12 distritos sanitários de Salvador, ultrapassando os acidentes
de trânsito e apresentando um crescimento das taxas entre 1991 e 1994 (Freitas et al., 2000).
As características dos óbitos por causas externas podem variar conforme a idade da
vítima, sexo, cor ou raça e outros fatores. Conhecer o perfil e as circunstâncias em que
ocorrem os óbitos por causas externas pode fornecer subsídios para o planejamento de
estratégias de prevenção e ações mais específicas, para reduzir os óbitos e as sequelas dos
acidentes e violências (Matos e Martins, 2012).
9
IV. METODOLOGIA
TIPO DE ESTUDO
Trata-se de um estudo descritivo, no qual são analisados dados sobre determinada
amostra da população, com o objetivo de delinear um perfil da mortalidade de crianças e
adolescente da cidade de Salvador.
POPULAÇÃO DE ESTUDO
Todos os indivíduos necropsiados no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues
(IMLNR) na faixa etária de 0 a 19 anos, no período de 2005 a 2010.
FONTE DE DADOS
Os dados foram obtidos a partir do banco de dados do IMLNR, com autorização do
mesmo para tal coleta, no período de 2005 a 2010, com os indivíduos classificados por idade,
sexo, cor, naturalidade, causa da morte, subcausa da morte, data do óbito, hora do óbito,
bairro de ocorrência e resultado da necropsia.
VARIÁVEIS DA PESQUISA
As variáveis de escolha para o estudo foram idade, sexo, causa da morte e distrito
sanitário de ocorrência. Idade como variável quantitativa e as demais como variáveis
qualitativas, com cruzamento das variáveis idade por sexo e idade por causa da morte.
10
ANALISE DE DADOS
Os dados foram analisados com o programa estatístico SPSS Statistics 21. Foram
separadas em variável quantitativa (idade) e qualitativa as demais (sexo, causa da morte e
distrito sanitário de ocorrência). A variável idade foi analisada para medidas de resumo em
mínimo, quartil 1, média, mediana, quartil 3, máximo e desvio padrão demonstrada em tabela
e gráfico Box-plot. As variáveis sexo, causa da morte e distrito sanitário de ocorrência foram
analisadas com medidas de proporção demonstradas em tabelas e gráfico de setores.
ASPECTOS ÉTICOS
O presente estudo foi realizado exclusivamente com dados secundários obtidos de
registros do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues. Essa base de dados preserva a identidade
dos indivíduos, de modo que o presente estudo respeitou os princípios da ética em pesquisa
envolvendo seres humanos, em conformidade com a Resolução do Conselho Nacional de
Saúde (CNS) nº 466, de 12 de dezembro de 2012.
11
V. RESULTADOS
O banco de dados analisado representa todos os corpos de crianças e adolescentes em
uma faixa etária de 0 a 19 anos, necropsiados no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues
(IMLNR), localizado na cidade de Salvador. Todos os indivíduos mandados ao IMLNR
faleceram por morte de causa indeterminada ou morte violenta, a qual está enquadrada os
homicídios, suicídios e os acidentes.
Os dados foram colhidos a partir de registros do IMLNR, com data de inicio 01 de
janeiro de 2005 e data de término 31 de dezembro de 2010, totalizando um período de seis
anos. Com base nesses critérios o total foram 3.466 cadáveres.
A análise da tabela 1 e do gráfico 1 permite a identificar que os indivíduos do sexo
masculino corresponde a 89,44% do total, e os indivíduos do sexo feminino corresponde a
10,47% do total, em 0,08% não foi possível a identificação pelo sexo.
Tabela 1. Quantitativo de mortos necropsiados no IMLNR por
sexo do indivíduo (2005-2010)
Sexo Frequência
Absoluta
Frequência
relativa (%)
Feminino 363 10,47%
Masculino 3100 89,44%
Não Informado 3 0,08%
Total 3466 100%
12
Gráfico 1
A seleção foi feita entre indivíduos de 0 a 19 anos. A tabela 2 representa medidas de
resumo para a variável idade, a partir dela podemos analisar que, no período estudado, a
média da idade de mortos necropsidados no IMLNR foi de 15,81 anos com desvio-padrão de
4,26. Avaliando a figura 1 verifica-se que 50% das vítimas tinha idade entre 17 e 19 anos, e os
25% dos indivíduos tinham idade entre 0 e 15 anos. Crianças com idade inferior a 11 anos são
considerados outliers, ou seja, possui idade discrepante em relação à maioria do grupo.
Tabela 2. Medidas de resumo da variável idade dos indivíduos
necropsiados no IMLNR
Mínimo Quartil 1 Mediana Quartil 3 Máximo Média Desvio-padrão
0 15 17 18 19 15,81 4,26
11% 89%
0%
Percentual de mortos necropsiados no IMLNR por
sexo do indivíduo (2005-2010)
Feminino Masculino Não Informado
13
Figura 1. Box-plot da variável idade.
A figura 2 analisa o cruzamento das variáveis idade por sexo. Demonstra que a
variabilidade entra a idade é maior nas as vítimas do sexo feminino, e metade das meninas
tinha idade inferior a 14 anos. Já as vítimas do sexo masculino apresentam idades bastante
próximas, e a maior parte das vítimas do sexo masculino está entre 13 e 19 anos. Idade
inferior a 11 anos entre os meninos já é considerada outliers.
Figura 2. Box-plot da variável idade por sexo.
14
A tabela 3 mostra que as três causas de morte mais frequentes das vítimas foram:
homicídio (76,25%), outros acidentes (12,55%) e acidente de veículo (10,15%). O número de
suicídio foi de 29 pessoas (0,83%) e não existia informação no registro de 7 vítimas (0,20%)
quanto ao motivo da morte.
Tabela 3. Causa da morte das vítimas necropsiadas no IMLNR
(2005 - 2010).
Causa da morte Frequência
Absoluta
Frequência
relativa (%)
Homicídio 2643 76,25%
Outros acidentes 435 12,55%
Acidente de veículo 352 10,15%
Suicídio 29 0,83%
Não informado 7 0,20%
Total 3466 100%
Na tabela 4 pode-se obsevar os cinco principais meios utilizados nas mortes por
homicídio, sendo a arma de fogo (91,29%) e a arma branca (4,80%) os que contem os maiores
números, os outros representam menos de 1% cada. Dentre os outros acidentes, as três
maiores ocorrências que levaram os jovens ao óbito foram: afogamento (33,33%), queda
(18,62%) e queimadura (16,55%), podendo ser observado na tabela 5.
Tabela 4. Cinco meios mais utilizados nos homicídio de vítimas
necropsiadas no IMLNR (2005-2010).
Tipo Frequência
Absoluta
Frequência
relativa (%)
Arma de fogo 2413 91,29%
Arma branca 127 4,80%
Espancamento 24 0,90%
Agressão 19 0,71%
Linchamento 12 0,45%
15
Tabela 5. Três principais ocorrências de Outros Acidentes de
mortos necropsiados no IMLNR (2005-2010)
Tipo Frequência
Absoluta
Frequência
relativa (%)
Afogamento 145 33,33%
Queda 81 18,62%
Queimadura 72 16,55%
Através da Figura 3 observa-se que houve uma tendência crescente no quantitativo
anual de homicídios no período estudado. Já os demais casos não apresentaram uma diferença
significativa dentre os anos apresentados.
Figura 3
A figura 4 analisa o cruzamento das variáveis idade por causa da morte, verifica-se
que existe uma associação entre homicídios e suicídio, estes são mais comuns entre
indivíduos de 13 e 19 anos. Não foi observado nenhum óbito devido ao suicídio entre pessoas
com menos de 13 anos. Foram considerados fora do normal os homicídios ocorridos em
2005 2006 2007 2008 2009 2010
Acidente de veículo 69 67 66 53 50 47
Homicídio 251 256 330 559 636 611
Outros 89 87 68 80 66 45
Suicídio 7 7 7 5 0 3
0
100
200
300
400
500
600
700
Títu
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Causas da morte de vítimas necropsiadas no IMLNR (2005 - 2010)
16
crianças com idade inferior a 13 anos. A metade das vítimas de homicídio e suicídio tinha
idade superior a 18 anos. Com relação a óbitos por conta de acidente de veículo, 50% das
pessoas tinham idade maior do que 16 anos e 25% tinham idade de 0 a 10 anos. As vítimas
que tiveram causas classificadas como outros acidentes tiveram idade bastante proporcional,
sendo 50% entre 0 e 10 anos e os outros 50% de 10 a 19 anos.
Figura 4. Box-plot da variável idade por causa da morte
A tabela 6 mostra o percentual em ordem decrescente dos locais onde ocorreram as
mortes no período de 2005 a 2010. Os locais foram classificados nos 12 Distritos Sanitários
de Salvador, Região Metropolitana de Salvador, outras regiões da Bahia que não se
enquadram na região metropolitana e não identificado (N.I.), onde não foi possível identificar
o local da morte por informações insuficientes.
A Região Metropolitana (20,4%) localiza-se no topo da tabela, mostrando-se como um
local de alta ocorrência de morte violenta de jovens, principalmente os municípios de Lauro
de Freitas, Simões Filho e Camaçari. A quantidade de vítimas onde não é possível identificar
o local da morte também é grande (12,4%).
Analisando somente os Distritos Sanitários de Salvador, percebe-se que os de maiores
incidências são Subúrbio Ferroviário (10,9%), Cabula/Beirú (8,0%) e Itapuã (7,4%), e os com
menores números foram Itapagipe (3,3%), Boca do Rio (2,6%) e Centro Histórico (1,4%).
17
Tabela 6. Quantitativo de corpos necropsiados no IMLNR por distrito de
ocorrência das mortes (2005 - 2010)
Distrito Frequência
absoluta
Frequência
relativa (%)
Região Metropolitana 706 20,4%
N.I* 431 12,4%
Suburbio Ferroviário 378 10,9%
Cabula/Beirú 276 8,0%
Itapuã 255 7,4%
Barra/Rio Vermelho 229 6,6%
São Caetano/Valéria 223 6,4%
Outros** 191 5,5%
Pau Da Lima 151 4,4%
Liberdade 129 3,7%
Cajazeiras 126 3,6%
Brotas 117 3,4%
Itapagipe 116 3,3%
Boca do Rio 91 2,6%
Centro Histórico 47 1,4%
Total 3466 100,0%
*Não foi possível identificar o local de ocorrência da morte.
** Outras regiões que não fazem parte da região metropolitana de Salvador.
18
VI. DISCUSSÃO
O presente estudo revelou que os óbitos por causas externas, em relação ao sexo, foi
aproximadamente nove vezes maior no sexo masculino (89,44%) quando comparado ao sexo
feminino (10,47%), confirmando os achados de mortalidade da população mundial infanto-
juvenil (tabela 1 e gráfico 1). A maior vulnerabilidade dos homens em relação a esses agravos
pode ser explicada, em grande parte, por um processo cultural que se inicia na infância,
quando aos meninos é oferecida maior liberdade, enquanto para as meninas, há uma maior
vigilância. Na adolescência e na vida adulta, a maior exposição masculina a agressões e o
maior envolvimento em acidentes de transporte podem significar um contribuição a mais para
o fato de os homens serem as principais vítimas desses eventos (Matos e Martins, 2012).
Quanto a idade o estudo mostrou que metade das vítimas tinham entre 17 e 19 anos, e
25% entre 0 e 15 anos. A variabilidade da idade é maior entre as meninas e metade está
abaixo dos 14 anos, já as vítimas do sexo masculino estão mais concentradas nas idades entre
13 e 19 anos (figuras 1 e 2). Um estudo realizado em 2003 mostrou que 51.043 brasileiros
foram assassinados no país, sendo quase 140 mortes por dia, predominando a faixa etária dos
15 aos 29 anos (40,3%), já apontando essa tendência de concentração de vítimas nos
adolescentes mais velhos (Matos e Martins, 2013), assim como nos estudos realizados em
Salvador nos anos de 1988 e 1994 (Freitas et al., 2000).
A principal causa de morte dos jovens soteropolitanos foi homicídio (76,25%),
seguidas de outros acidentes (12,55%) e acidentes de trânsito (10,15%), situação semelhante
comprovada nos estudos realizados no Brasil e América Latina (Freitas et al., 2000), mas
diferente do que foi encontrado nos estudos feitos na Europa e Estados Unidos, onde a
principal causa de morte são os acidentes de trânsito (CDC, 2012) (tabela 3). O suicídio
(0,83%) ocupou a 4ª colocação nesse estudo e suas vítimas possuíam entre 13 e 19 anos,
sendo que metade delas tinham mais de 18 anos (tabela 3 e figura 4). Já em alguns países
europeus ele ocupa a 3ª colocação dentre as mortes por causas externas, chegando a 6% do
total de óbitos entre os jovens (Bacopoulou et al., 2013), principalmente na faixa etária de 10-
14 anos, significando que os adolescentes europeus morem mais cedo por suicídio (Pearson e
Stone, 2009). Vale resaltar a existencia de uma possível subnotificação do suicídio, tendo em
vista que os acidentes de veículo e os demais acidentes podem ser traduzidos em suicídio após
19
uma investigação mais detalhada, além disso há também os conflitos religiosos, os quais
podem ocasionar relatos pouco fidedignos fornecidos pelos familiares.
Foi encontrada uma semelhança entre homicídio e suicídio quando relacionado a
idade, ambos constataram que metade de suas vítimas apresentaram idade superior a 18 anos
(figura 4). Entre os homicídios os pricipais meios utilizados foram arma de fogo (91,29%) e
arma branca (4,80%), confirmando o aumento progressivo constatado no Brasil onde passou
de 50,3% em 1991 para 68% em 2000 (Sousa, 2012) (tabela 4). Um dos fatores que podem
estar influenciando nos óbitos por arma de fogo, possivelmente, é o envolvimento dos
adolescentes e jovens em atividades ilegais como o tráfico e uso de drogas ilícitas e o acesso
facilitado a armas (Matos e Martins, 2012). Revelando assim que não só a população está
armada, mas que o uso da arma de fogo na resolução dos conflitos é a maior das
problemáticas, um dado fundamental que não pode ser desprezado porque altera
completamente a sociabilidade entre as pessoas (Freitas et al., 2012).
Na categoria outros acidentes, a qual representa a segunda maior causa de morte dos
jovens de Salvador, os três tipos de acidentes que mais se destacaram foram afogamento
(33,33%), queda (18,62%) e queimadura (16,55%), e não houve destaque para qualquer grupo
etário, mostrando proporcionalidade semelhante entre as idades (tabela 5 e figura 4). Há que
se considerar que as crianças estão mais expostas aos acidentes por sua própria imaturidade,
curiosidade, intenso crescimento e desenvolvimento, resultando em maior proporção de causa
acidental, principalmente no ambiente doméstico (Matos e Martins, 2012).
Os acidentes de trânsito ficaram com a 3ª colocação, porém quando dividi-se mortes
por causas externas em lesões intencionais (homicídios e suícidios) e lesões não intencionais
(acidentes), ocupam a 1ª colocação entres os acidentes e a 2ª colocação na classificação geral.
Constatou-se que metade das vítimas possuíam idade superior a 16 anos (figura 4). Um fator
que pode estar diretamente ligado às mortes por homicídio e acidentes de transporte é o
acesso mais fácil dos homens a armas de fogo e a carro. Há que se ressaltar que a arma e o
carro são inseridos na vida dos meninos desde criança como brinquedos e passam a fazer
parte do seu cotidiano (Matos e Martins, 2013). Em estudo realizado no ano de 2012, sobre
dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), apontaram uma tríade alarmante
de consumo frequente de álcool, baixa adesão ao uso de cinto de segurança e prática frequente
de dirigir entre escolares brasileiros menores de 18 anos de idade, a qual pode explicar os
dados encontrados (Neves e Garcia, 2015).
20
Uma comparação realizada no estudo entre as causas de morte e a progressão no
período estudado mostrou que houve um aumento significatico de aproximadamente 250%
nos casos de homicídio de 2005 a 2010, nas demais causas de morte houveram redução de
68% em acidentes de trânsito, 50% em outros acidentes e 43% em suicídios (figura 3).
Realidade preocupante que acomete a maior parte do Brasil, de acordo com o relatório
apresentado, em março de 2012, pelo Observatório de Segurança da OEA, o Brasil é o país
com maior índice de homicídios dolosos do continente americano, à frente de Colômbia,
México e Estados Unidos. O relatório destaca que, em toda a região, ocorreram 154.836
homicídios em 2010, com média diária de 424 registros ou 17 a cada hora. Deste total 75%
foram cometidos com armas de fogo (Freitas et al., 2012).
Dentre os corpos que foram necropsiados no IMLNR no período estudado a Região
Metropolitana de Salvador (20,4%) correspondeu ao maior valor encontrado seguido de uma
quantidade razoável de vítimas onde não foi possível a identificação do local em que ocorreu
o óbito (12,4%). Tal fato chama a atenção para o aumento da violência principalmente nos
municípios de Lauro de Freitas, Simões Filhos e Camaçari, os quais são os mais próximos da
cidade de Salvador, e também para precariedade de informações que muitos cadáveres
possuem ao chegar no IMLNR, a qual precisa ser investigada e corrigida (tabela 6).
Em análise somente dos Distritos Sanitários de Salvador nota-se uma mudança nos
distritos mais violentos quando comparados aos resultados encontrados em 1994. Subúrbio
Ferroviário, Cabula/Beiru e São Caetano/Valéria mantiveram-se entre os mais violentos,
havendo apenas alteração na ordem, pois São Caetano/Valéria caiu da 1ª colocação para a 5ª
no quesito violência, e adentraram Itapuã e Barra/Rio Vermelho nas 3ª e 4ª colocações
respctivamente. Dentre as regiões menos violentas em 1994 estavam o Centro Histórico e a
região litorânea indo da Barra a Pituaçu (Freitas et al., 2000), panorama que também foi
modificado no período estudado, destacando-se Centro Histórico (1,4%), Boca do Rio (2,6%)
e Itapagipe (3,3%) (tabela 6).
Embora a violência seja encontrada em vários grupos sociais, se verifica maior índice
de homicídios de jovens em bairros localizados nas áreas de exclusão territorial, onde as
políticas sociais públicas (educação, saúde, lazer, moradia, etc) são mínimas e não alcançam
os grupos de pessoas ali residentes (Lolis, 2008). Os bairros classificados como mais
violentos têm uma população que se ressente de políticas públicas de inclusão social, capazes
de inverter a situação de abandono em que vive a maioria dos moradores dessas áreas. A
21
polícia, quando aparece, muitas vezes, não é com ações preventivas ao crime, nem de
mediação de conflitos. Aparece como parte da própria violência (Freitas et al., 2012). Outros
estudos também relatam que, em família com renda baixa, os pais podem não ser capazes de
supervisionar adequadamente os filhos, que às vezes são deixados sozinhos ou na companhia
de um irmão, para que os pais possam trabalhar. Além disso, crianças que vivem em situação
de pobreza podem ser expostas a perigos ambientais diversos, tais como estruturas físicas que
propiciam o acidente, espaços inadequados para lazer, exposição à rua e suas ameaças, entre
outros (Matos e Martins, 2013).
A violência é um fenômeno complexo e atual e a sua prevenção deve partir de uma
abordagem que exige uma articulação intersetorial, interdisciplinar e multiprofissional, com a
participação do estado e da sociedade civil organizada. Cabe aos gestores, em suas respectivas
áreas de abrangência, estabelecer a indispensável parceria efetiva com diferentes segmentos
governamentais e não governamentais. A sociedade deverá ser mobilizada, sobretudo por
intermédio dos diferentes segmentos sociais que a representam, estabelecendo compromissos
mútuos que resultem em medidas concretas, como, por exemplo, a adoção de hábitos e estilo
de vida saudáveis – elementos capazes de refletir decisivamente na redução dos acidentes e da
violência no país (Matos e Martins, 2013).
Recomenda-se, além de políticas públicas intersetoriais, ações mais efetivas de
prevenção dos óbitos por causas externas e de promoção da saúde dos jovens brasileiros que
incluam o enfrentamento do consumo abusivo de álcool e drogas e o fomento à cultura da paz.
Para os jovens do sexo masculino, essas ações devem ter como objetivo prioritário prevenir
homicídios relacionados à violência urbana e mortes por acidentes de transporte, enquanto
para as mulheres jovens, as ações esperadas devem também incluir a prevenção da violência
doméstica e familiar (Neves e Garcia, 2015).
A qualidade das informações sobre a mortalidade por causas externas também deve ser
melhorada, com o preenchimento correto da Declaração de Óbito. A disponibilidade de dados
mais fidedignos e um melhor conhecimento do perfil epidemiológico das causas externas
devem fundamentar ações específicas para a redução dessas mortes (Matos e Martins, 2012).
Por fim, se faz necessário que se continue avançando na criação de leis, como, por
exemplo, o Estatuto de Desarmamento, Estatuto da Criança e do Adolescente, dentre outras
que visem a proteção e prevenção das mortes juvenis e ainda que sejam criados mecanismos
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eficientes de fiscalização, para que tais leis sejam cumpridas, diminuindo, dessa forma, a
sensação de impunidade (Sousa, 2012).
23
VII. CONCLUSÕES
1. Entre as crianças e adolescentes de 0-19 anos vítimas de morte violenta na
cidade de Salvador no período de 2005-2010 o grupo de risco mais
susceptível encontrado foram meninos, com idades entre 17-19 anos,
residentes nos bairros periféricos da cidade;
2. A principal causa de morte dessa população é por homicídio e seu
principal meio é a arma de fogo;
3. Houve um aumento progressivo e alarmante nas mortes por homicídios no
decorrer do período estudado de aproximadamente 250%;
4. É necessário a implementação de políticas de combate a violência, não
somente com o aumento da segurança pública, mas também com o
incentivo a educação de qualidade, controle do uso de drogas ilícitas e
álcool, educação para prevenção de acidentes, luta contra o tráfico de
drogas e o crime organizado, auxílio a comunidades carentes para que
possa haver mudanças na perspectiva de vida e no futuro dessas crianças e
adolescentes.
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VIII. SUMMARY
Profile of child and adolescent victims of violent death in the period 2005-2010 in
Salvador. Introduction: Currently young people are the main victims of external causes,
accidents and violence, establishing this fact as one of the major public health problems.
According to the World Health Organization one million children under 14 die from accidents
every year worldwide and about 50 million are left with permanent sequelae. In Brazil, more
than half of deaths from external causes are due to assaults, traffic accidents were the second
leading cause of death among young people, and most are male. The city of Salvador is 53%
of all deaths of children and adolescents from all over Bahia state. Objectives: Analyze a
profile of violent deaths of young soteropolitanos, identifying the main cause of death and its
main risk group, point to preventive strategies. Methodology: This is a descriptive study
conducted with children and adolescents 0-19 years necropsied at the Medical Legal Institute
Nina Rodrigues, in the period 2005 to 2010 the city of Salvador. The variables studied were
sex, age, cause of death and sanitary district of occurrence. Results: Related to sex 89% are
male and 11% female, the main cause of death was homicide (76%) of these 91% were caused
by firearms, followed by other accidents (12%) and vehicle accident (10%). As for age 50%
had between 17 and 19 years. Sanitary Districts of major events were Suburbia Rail (10.9%),
Cabula/Beiru (8.0%) and Itapua (7.4%). Conclusion: The profile of children and adolescents
was of boys aged 17-19 years, living in suburbs of Salvador, murder victims caused by
firearms. The homicide rate during the study increased by 250%. There is the need to
implement new social programs to change the situation.
Keywords: 1. External causes; 2. Adolescent; 3. Death.
25
IX. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Londrina, 2000-2003 [tese doutorado em sociologia]. Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho (Campus de Araraquara), Faculdade de Ciências e
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