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    Pereira Passos: vida e obra

    N 20060802

    Agosto - 2006

    Manoel Carlos Pinheiro, Renato Fialho Jr. - IPP/Prefeitura da Cidade do Riode Janeiro

    ISSN 1984-7203

    C O L E O E S T U D O S C A R I O C A S

    PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

    Secretaria Municipal de Urbanismo

    Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos

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    EXPEDIENTE

    A Coleo Estudos Cariocas uma publicao virtual de estudos e pesquisas sobre o Municpio do Rio deJaneiro, abrigada no portal de informaes do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos da SecretariaMunicipal de urbanismo da Prefeitura do Rio de Janeiro (IPP) : www.armazemdedados.rio.rj.gov.br.

    Seu objetivo divulgar a produo de tcnicos da Prefeitura sobre temas relacionados cidade do Rio deJaneiro e sua populao. Est tambm aberta a colaboradores externos, desde que seus textos sejamaprovados pelo Conselho Editorial.

    Periodicidade:A publicao no tem uma periodicidade determinada, pois depende da produo de textos por parte dostcnicos do IPP, de outros rgos e de colaboradores.

    Submisso dos artigos:Os artigos so submetidos ao Conselho Editorial, formado por profissionais do Municpio do Rio de Janeiro, queanalisar a pertinncia de sua publicao.

    ConselhoEditorial:Ana Paula Mendes de Miranda, Fabrcio Leal de Oliveira, Fernando Cavallieri e Paula Serrano.

    Coordenao Tcnica:Cristina Siqueira e Renato Fialho Jr.

    Apoio:Iamar Coutinho

    CARIOCA Da, ou pertencente ou relativo cidade do Rio de Janeiro; do tupi, casa do branco. (NovoDicionrio Eletrnico Aurlio, verso 5.0)

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    PEREIRA PASSOS: VIDA E OBRA

    Manoel Carlos Pinheiro, Renato Fialho Jr. - IPP/Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro

    Francisco Pereira Passos nasceu em 29 de agosto de 1836, no Municpio dePira, Estado do Rio de Janeiro. Faleceu em 12 de maro de 1913, a bordo do navioAraguaia, em viagem para a Europa. Filho de Antnio Pereira Passos, o Baro deMangaratiba, e Dona Clara Oliveira Passos, Francisco foi criado numa grande fazendade caf, a Fazenda do Blsamo, situada no municpio fluminense de So Joo Marcosque, antes de ser elevado condio de vila por D. Joo VI em 1813, pertencera vilae Municpio de Resende e atualmente distrito de Rio Claro.

    O engenheiro Pereira Passos

    Pereira Passos fez seus primeiros estudos na casa paterna e, ao completar 14anos de idade, seguindo o costume da oligarquia rural, seu pai determinou que fosseestudar na Corte, matriculando-o no Colgio So Pedro de Alcntara, no Rio deJaneiro, no qual completou seus estudos preparatrios. Foram seus colegas de turmaFloriano Peixoto e Oswaldo Cruz. Em maro de 1852, ingressou na Escola Militar,futura Escola Politcnica do Rio de Janeiro, obtendo, em 24 de dezembro de 1856, ograu de Bacharel em Cincias Fsicas e Matemticas, que lhe dava direito ao diplomade engenheiro civil. Pereira Passos foi marcadamente influenciado pelas idiaspositivistas que ganharam fora no Brasil aps a II Revoluo Francesa. Tornou-seamigo de outro ilustre colega de turma: Benjamin Constant, que se tornaria um dosarautos do republicanismo no Brasil.

    Como outros jovens bem nascidos de seu tempo, Pereira Passos ingressou nacarreira diplomtica e, em 1857, foi nomeado adido legao brasileira em Paris, ondepermaneceu at fins de 1860. Neste perodo, completou seus estudos de engenhariana cole Nationale des Ponts et Chausses, na qual foi admitido em 4 de setembro de1858 e freqentou, como ouvinte, os cursos de arquitetura, estradas de ferro, portos demar, canais e melhoramentos de rios navegveis, direito administrativo e economiapoltica. Praticou depois como engenheiro na construo da Estrada de Ferro Paris-Lion-Mediterrane, nas obras do porto de Marselha e na abertura do tnel no MonteCennis. Tambm assistiu a uma das fases mais delicadas da reforma empreendida porGeorges Eugne Haussmann, prefeito do Departamento de Seine (1853-1870)nomeado por Napoleo III.

    Sob o calor e os auspcios da Revoluo Liberal de 1848, dos escombros dosbairros populares mais densos de Paris, arrasados, viu emergirem os contornos danova metrpole que serviria, mundialmente, de modelo para renovaes urbanassimilares. No perodo de 18 anos (1852 a 1870), Georges Eugne Haussmannremodelou todo o espao urbano de Paris, envolto na necessidade de conter ocrescimento das jornadas proletrias e impor a nova ordem social e poltica, pois aeconmica j se desenvolvia. Deste cenrio poltico pode-se dizer que emergiu ourbanismo francs em sua verso moderna baseado em ruas largas, grandesavenidas e bulevares.

    Os contatos com a Europa foram decisivos em dois aspectos fundamentais daformao profissional de Pereira Passos: a engenharia ferroviria e o urbanismo.

    De volta ao Brasil, em 1860, Pereira Passos dedicou-se construo e expanso da malha ferroviria brasileira, num momento em que a economia cafeeira

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    crescia em importncia. Foi partcipe na construo da ferrovia Santos-Jundia,inaugurada em 1867, que muitos embaraos traria ao Imprio. Substituto de J.Whitaker na comisso encarregada dos estudos e explorao do traado deprolongamento da Estrada de Ferro D. Pedro II at o Rio So Francisco (1868),trabalhou decisivamente na integrao da primeira malha ferroviria nordestina; em

    conseqncia, em setembro de 1869, foi nomeado engenheiro-presidente da E. F. D.Pedro II.Em 10 de dezembro de 1870, foi alado ao cargo de consultor tcnico do

    Ministrio da Agricultura e Obras Pblicas. No ano seguinte, em companhia do Barode Mau, viajou novamente Europa, na condio de Inspetor Especial das Estradasde Ferro subvencionadas pelo governo imperial, o qual confiou-lhe a delicada missode firmar, em Londres, um acordo liqidando a questo do capital garantido E. F.So Paulo Railway, que ligava Santos a Jundia. Permaneceu na Europa at aassinatura definitiva do acordo, em 1873.

    Sua outra tarefa na Europa teve um carter mais tcnico. Durante a suapermanncia em Londres, Pereira Passos teve oportunidade de visitar vrios pases da

    Europa. Na Sua, conheceu a estrada de ferro que subia o Monte Righi, com rampasde at 20o, utilizando um sistema novo, com trilho central dotado de encaixes, nosquais uma roda dentada se apoiava para impulsionar o trem. A pedido de Mau,Pereira Passos estudou esse sistema, mais tarde usado na subida da serra paraPetrpolis. O primeiro trecho foi construdo por iniciativa de Mau e ligava Porto Maua Raiz da Serra. Foi a primeira estrada de ferro construda no Brasil. Pereira Passosusou esta tcnica, de cremalheira, na expanso do trecho entre Raiz da Serra ePetrpolis cidade onde morou em seu retorno ao Brasil e na construo, em 1882,da primeira estrada de ferro turstica do pas, a Estrada de Ferro Corcovado.

    Nessa mesma poca, a convite do Baro de Mau, Pereira Passos adquiriu eassumiu a direo do Arsenal de Ponta da Areia, inaugurado pelo prprio Mau dezanos antes e em condies precrias desde o fim da Guerra do Paraguai. Modernizadopor Pereira Passos, o arsenal passou tambm a produzir trilhos, vages etc. Mas, porausncia de uma poltica protecionista, voltada aos interesses nacionais, a empresasucumbiu, anos depois, frente concorrncia externa e aos ventos de liberalismoeconmico.

    Continuando sua escalada pblica, em 1874 foi nomeado engenheiro doMinistrio do Imprio, presidido ento pelo Conselheiro Joo Alfredo conhecido porseus ideais abolicionistas. Com o novo cargo, Pereira Passos ficou com a incumbnciade acompanhar todas as obras de engenharia do governo imperial.

    Um pouco mais tarde, por solicitao do Conselheiro, Pereira Passos integrou a

    comisso responsvel por apresentar um plano geral de reformulao urbana para acapital, que deveria prever alargamentos de ruas, construes de grandes avenidas,arrasamentos de morros, canalizaes de rios e mangues e outras medidas de grandeimpacto para uma cidade reconhecidamente insalubre e exposta a toda sorte dedoenas e epidemias.

    Do levantamento, realizado nos anos 1875 e 1876, resultaram dois relatriosextremamente minuciosos que serviram de esboo para o futuro plano diretor dacidade sob a administrao Pereira Passos.

    Entre 1876 e 1880, Pereira Passos dirigiu a E. F. D. Pedro II. No perodo,conduziu a ampliao da estao da Corte e as construes do ramal ferrovirio e daestao martima, na Gamboa. Este complexo foi inaugurado em junho de 1880.

    Nesse ano, Pereira Passos viajou de novo para a Europa. Durante sua estadaem Paris, no inverno de 1880 a 1881, freqentou cursos na Sorbonne e no Collge de

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    France e escreveu uma nota contendo Renseignements statistiques sur ls cheminsde fer au Brsil, que foi publicada na Revue Generale des Chemins de Fer, em julhode 1881. Na mesma ocasio, visitou fbricas, empresas de transporte, siderrgicas eobras pblicas na Blgica e na Holanda. Em abril de 1881, foi contratado comoengenheiro consultor pela Compagnie Gnrale de Chemins de Fer Brsiliens que

    detinha os direitos para a construo de uma ferrovia no Paran, ligando o porto deParanagu capital da provncia, Curitiba.Ao regressar ao Brasil, com plenos poderes para resolver todos os assuntos

    tcnicos relativos ferrovia do Paran, Pereira Passos fixou-se naquela provncia e,em 1882, aps a ferrovia entrar em operao, voltou ao Rio de Janeiro e assumiu apresidncia da Companhia de Carris de So Cristvo, em substituio ao Visconde deTaunay. Em 1884, aps sanear a empresa, props aos seus maiores acionistas aaquisio do projeto do italiano Giuseppe Fogliani, de construo de uma grandeavenida. A proposta foi aprovada pelos 30 maiores acionistas, a concesso foi obtida,mas a idia no chegou a sair do papel. Contudo, era uma antecipao da futuraAvenida Central, que seria construda em sua gesto como prefeito da capital da

    repblica, 20 anos depois, tornando-se o grande marco de sua administrao.Aps diversas proposies, segundo Vaz e Cardoso, foi o projeto de Bernard

    Savaget, de 1890, que deu a melhor soluo para a nova avenida: uma pequenainclinao em relao s demais ruas permitiria Avenida passar rente s encostasdos morros, sem tneis ou arrasamentos. Vencera a proposta de mar a mar, centradana valorizao do porto do Rio.

    No perodo republicano, Pereira Passos foi designado fiscal na construo daEstrada de Ferro Bahia So Francisco, de 573km de extenso, inaugurada em 1896.

    O prefeito Pereira Passos

    Antecedentes

    Um perodo bastante tumultuado adveio com a Proclamao da Repblica, em15 de novembro de 1889. De fato, o Imprio fora duramente golpeado com a Abolioda Escravatura (1888), iniciativa exigida, sobretudo, pelo capital ingls. Outros fatorescontriburam para tanto, como a influncia do republicanismo francs e a opo gradualda elite cafeeira pelo uso da mo-de-obra assalariada.

    So emblemticos desta conjuntura: a cassao dos ttulos de nobreza, ainstalao do Governo Provisrio, a Revolta da Armada, a ditadura dos marechais e

    sua transio para a Repblica Civil, efetuada atravs do voto direto censitrio.Da primeira eleio direta republicana redundou o governo de Prudente deMoraes (1894-1898), que enfrentou forte depresso econmica proveniente doEncilhamento (1888-1891), como ficou conhecida a crise provocada pela polticaeconmica mal dimensionada de Rui Barbosa. J o governo Campos Salles (1898-1902) buscou sanear poltica e economicamente o pas. Utilizou-se, para isto: doFunding Loan (1898), do acordo da dvida; da execuo de um plano financeiro; e dapoltica dos governadores.

    No Governo Rodrigues Alves (1902-1906), a Repblica conseguiu, enfim,respirar aliviada. Convidado ento pelo ministro da Justia, J. J. Seabra, a colaborarcom o novo governo, Pereira Passos exigiu poderes discricionrios para assumir o

    cargo de prefeito do Distrito Federal. Com base nesta solicitao, foi aprovada, em 29de dezembro de 1902, lei especial que adiava as eleies do Conselho Municipal

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    (Poder Legislativo) e estabelecia plenitude de poderes ao prefeito. A este era vetadoapenas criar e elevar impostos. Estavam dadas as condies de execuo dogigantesco e controvertido plano de reforma da Cidade, elaborado em 1875.

    Neste perodo, o Rio de Janeiro enfrentava graves problemas sociais,acentuados pelo rpido e desordenado crescimento. Com o declnio do trabalho

    escravo, a cidade passara a receber grandes contingentes de imigrantes europeus e deex-escravos, atrados pelas oportunidades de trabalho assalariado. Entre 1872 e 1890,a populao duplicou, passando de 274 mil para 522 mil habitantes. A explosodemogrfica e, sobretudo, o aumento da pobreza, agravaram a crise habitacional queperdurava desde meados do sculo XIX. Na Cidade Velha e suas adjacncias, reacentral do Rio, o problema era mais acentuado, pois ali se multiplicavam as habitaescoletivas e eclodiam as violentas epidemias de febre amarela, varola e clera-morboque conferiam cidade fama internacional de porto sujo. Este quadro favorecia odiscurso articulado dos higienistas sobre as condies de vida na cidade, os quaispropunham intervenes drsticas para a restaurao do equilbrio da cidade, vistacomo um organismo doente. O primeiro plano urbanstico para o Rio de Janeiro foi

    elaborado entre duas epidemias muito violentas (1873 e 1876), mas graas estabilidade poltico-econmica, a duras penas alcanada no governo Campos Sales,Rodrigues Alves pde promover, entre 1903 e 1906, o ambicioso programa derenovao urbana da capital.

    Apoiada nas idias de civilizao e beleza, de regenerao fsica e moral, areforma urbana, tratada como questo nacional, sustentou-se no trip: saneamento,abertura de ruas e embelezamento, e objetivou a atrao de capitais estrangeiros parao pas. Com a reforma, houve intensa valorizao do solo urbano da rea central,determinante na expulso da populao de baixa renda ali concentrada. Cerca de1.600 velhos prdios residenciais foram demolidos. Parte considervel da imensamassa atingida pela remodelao permaneceu no centro, em suas franjas e fendasdeterioradas, pois a Zona Norte e os subrbios, apesar do rpido crescimento, noconstituam alternativa de moradia para os que sobreviviam de biscates ou recebiamdirias irrisrias. Apenas os de remunerao estvel e suficiente para as despesas detransporte, aquisio de terreno, construo ou aluguel de uma casa mudaram-se paraa Zona Norte e os subrbios. Desta forma, ao lado das tradicionais habitaes coletivasque se disseminaram nas reas adjacentes ao Centro (Sade, Gamboa e CidadeNova), surgiu nova modalidade de habitao popular: a favela.

    Em fins de 1905, uma comisso nomeada pelo governo federal para examinar oproblema das habitaes populares constatou que as demolies de prdios iam almde todas as expectativas, forando a populao a ter a vida errante dos vagabundos e,

    o que pior, a ser tida como tal. O relatrio da mesma comisso fazia referncia aoMorro da Favela, atual Providncia pujante aldeia de casebres e choas, no coraomesmo da capital da Repblica, a dois passos da Grande Avenida. A partir de ento, otermo favela designaria, de forma genrica, o mais destacado cone da segregaosocial no espao urbano da cidade.

    O mandato

    Em O Rio de Janeiro de Pereira Passos: Uma cidade em questo II, GiovannaRosso Del Brenna (org.) divide a Administrao Pereira Passos em quatro fases: 1902-1903 - Projetos e Estratgias; 1904 - O ano das Demolies; 1905 - Represso e

    Consenso; e 1906 - O Ano das Inauguraes. Nomeado em 30 de dezembro de 1902,Pereira Passos assumiu no mesmo dia e, desde os primeiros momentos, iniciou uma

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    srie de atos e decretos com o propsito de extirpar velhos hbitos citadinos e imporuma disciplina consoante nova ordem republicana, comprometida que estava com oscapitais franceses e ingleses em sua fase imperialista calcada no escoamento daproduo fabril e na exportao de capitais.

    Exemplares neste particular foram os decretos de 9 de janeiro de 1902 que

    proibiram, no Centro da Cidade, o comrcio ambulante de leite, efetuado com o auxliodo gado bovino, a venda de midos de reses em tabuleiros descobertos e a venda debilhetes lotricos em ruas, praas e bondes.

    Outro decreto suspendeu construes e obras de reforma, em 15 freguesias dacidade, sem licena da Prefeitura. O decreto de 11 de abril de 1903 regulou a apanhae extino de ces vadios. Como resultado, foram capturados 2.212 ces apenasentre abril e maio daquele ano, chegando a mais de 20 mil ces, dois anos depois.Outras proibies decretadas: esmola nas ruas, pingentes dos bondes, cuspidura noassoalho do bonde e criao de porcos no Distrito Federal.

    Aps alguma preparao de campo, iniciou-se, ainda naquele abril, um pequenoensaio de demolies para alargamento e extenso de ruas e avenidas. Quase ao

    mesmo tempo foi apresentado o plano de remodelao da cidade.As aes republicanas se pautavam no discurso sobre a necessidade de sanear

    e higienizar a cidade, livr-la das doenas, impor populao novos hbitos e atitudes,condizentes com as descobertas recentes da biologia e da medicina, ampliar espaos,orden-los, embelez-los, moderniz-los. claro que, por trs dessa ideologia, estavaa consolidao, entre outros, dos interesses: da oligarquia cafeeira, de escoamento desua produo com ampliao das estradas de ferro e do Porto do Rio; das construtorasfrancesas; das companhias inglesas de energiae bondes; e da nascente indstria automobilstica norte-americana.

    Marcado por um conjunto grande de demolies, 1904 foi um ano deinsatisfaes e muitos questionamentos jurdicos, efetuados, sobretudo, por moradorese comerciantes do Centro. Ao mesmo tempo, Pereira Passos sofreu pesadas crticasda imprensa, o que, alis, foi uma constante em seu governo.

    O processo de desapropriao e despejo, aliado instaurao da vacinaoobrigatria, liderada pelo Ministro Oswaldo Cruz, redundou na Revolta da Vacina,iniciada em 14 de novembro de 1904, aps a revolta da Escola Militar na PraiaVermelha. Com forte adeso popular, a revolta durou sete dias e resultou nadecretao de estado de stio, prorrogado por Pereira Passos at fevereiro de 1905, eno desterro dos insurretos (os chamados quebra-lampies) para o Acre.

    No ano de 1905, novas aes repressivas e taxativas foram adotadas a fim degarantirem o grosso das inauguraes do ano seguinte, o ltimo do seu mandato, tais

    como: desapropriaes e demolies, a poltica do bota-abaixo; criao de umimposto de 25% para a renovao do calamento das ruas, cobrado aos proprietriosde imveis, etc.

    Em maro de 1906, diante das enchentes que assolaram a cidade, o governo foiacusado de negligenciar o atendimento s vtimas, sobretudo as dos subrbios. Osvolumosos emprstimos tambm foram objeto de crticas. Ironizava-se o modusfaciendi do governo, como numa charge da poca: Derrocam-se casebres; constroem-se palcios... Em vez do Z Pereira... a burguesia, a Belle poque e o seu glamour.

    Apesar das crticas, inegvel que o mandato de Pereira Passos mudoudefinitivamente o perfil da Cidade. Sua atuao privilegiou as regies que atualmentecompem as reas de Planejamento 1 e 2, e resultou num incrvel e colossal

    remodelamento da cidade. Dentro de uma perspectiva ideolgica pragmticopositivistae de evidente compromisso com os capitais franceses e ingleses, a cidade colonial

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    cedeu lugar, de forma definitiva, cidade burguesa, moderna, do sculo XX, quetinha como parmetros as metrpoles europias. Aps as reformas empreendidas naadministrao Pereira Passos, o Rio de Janeiro, remodelado e saneado, recebeu ottulo de Cidade Maravilhosa.

    Principais obras da administrao Pereira Passos

    1903: inaugurao do Pavilho da Praa 15 (21/6); prolongamento da Rua doSacramento atual Avenida Passos, at a Rua Marechal Floriano (27/06); inauguraodo Jardim do Alto da Boa Vista (11/10); incio do alargamento da antiga Rua da Prainha(atual Rua do Acre);1904: trmino do alargamento da antiga Rua da Prainha atual Rua do Acre(fevereiro); demolies do Morro do Castelo (8/03); construo do aqurio do PasseioPblico (18/9); melhoramento da Rua 13 de Maio.1905: incio da construo do Theatro Municipal (03/01); inaugurao da nova estradade rodagem da Tijuca (4/1); alargamento e prolongamento da Rua Marechal Floriano

    at o Largo de Santa Rita (2/2); decreto de alargamento da Rua do Catete (28/4);alargamento e prolongamento da Rua Uruguaiana (setembro); decreto de construoda Avenida Atlntica, em Copacabana (4/11); inaugurao da Avenida Central (atualAv. Rio Branco), marco da administrao Pereira Passos (15/11); inaugurao daEscola-Modelo Tiradentes (24/11); decreto de abertura da Rua Gomes Freire deAndrade, entre a Rua Riachuelo e a do Nncio (29/12); decreto de abertura da AvenidaMaracan (30/12).1906: alargamento da Rua da Carioca (janeiro e fevereiro); inaugurao da fonte doJardim da Glria (24/2); inaugurao da nova Fortaleza na Ilha de Lage (28/6);inaugurao do palcio da exposio permanente de So Luiz (futuro Palcio doMonroe), para os trabalhos da 3 Conferncia Pan-Americana (22/7); inaugurao doalargamento da Rua 7 de Setembro no trecho entre a Av. Central e 1 de Maro (6/9);concluso das obras de melhoramento do porto do Rio de Janeiro e do Canal doMangue (9/11); inaugurao das obras de melhoramento e embelezamento do Campode So Cristvo jardim e escola pblica (11/11); inaugurao da Avenida Beira-Mar(23/11); melhoramento do Largo da Carioca; inauguraes dos quartis do Mier, daSade, So Cristvo e Botafogo; aterramento das praias do Flamengo e Botafogo,com construo de jardins; construo do Pavilho Mourisco, em Botafogo; construodo Restaurante Mourisco, prximo estao das barcas, no Centro; melhorias noabastecimento de gua para a capital.

    Alm destas, merecem registro: melhoramentos da zona suburbana do DF;

    saneamento da cidade; arborizao de diversas reas da cidade; renovao docalamento da cidade; e inaugurao de calamento asfltico; alargamento da RuaCamerino; abertura da Avenida Salvador de S; canalizao do Rio Carioca (da PraaJos de Alencar ao Cosme Velho); construo da Avenida Atlntica; inaugurao daEscola-Modelo Rodrigues Alves, no Catete; liberao de verbas para a construo daBiblioteca Nacional; incio da construo do novo edifcio da Escola Nacional de BelasArtes; incio das obras do edifcio do Congresso Nacional; criao do novo MercadoMunicipal.

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    Realizaes de Pereira Passos

    O Plano de Melhoramentos da Cidade do Rio de Janeiro

    O Plano de Melhoramentos da Cidade do Rio de Janeiro foi elaborado, entre

    1875 e 1876, pela Comisso de Melhoramentos dirigida por Pereira Passos, que oimplementou, cerca de 30 anos depois, na condio de prefeito. As grandes obraspreconizadas pela comisso de salubridade e saneamento, abertura e alargamentode ruas, criao de praas e parques, retificao e embelezamento de logradouros,canalizao de rios, obras virias, remodelao arquitetnica das edificaes e outras mudariam o aspecto do Rio.

    Nas palavras do prprio Pereira Passos, as ruas estreitas, sobrecarregadas deum trfego intenso, sem ventilao bastante, sem rvores purificadoras e ladeadas deprdios anti-higinicos deveriam dar lugar a vias de comunicao duplas e arejadas.As avenidas tornaram-se o principal instrumento da remodelao da cidade, atendendoa dois objetivos: a circulao urbana e a transformao das formas sociais de

    ocupao dos espaos abertos pelas novas artrias.A reforma urbana desafogou o intenso trfego entre o Centro e os diversos

    bairros da cidade. Porm, a questo da circulao urbana no se restringia estruturafsica da cidade, mas tambm os meios de transporte, considerados incompatveis como trfego urbano. A Prefeitura promoveu, ento, a regulamentao do transporte decarga, com alterao nas dimenses de veculos, proibio de rodas queesburacassem as ruas e interdio de veculos de trao animal que sujassem oslogradouros. Alm disso, propiciou a modernizao da estrutura dos servios pblicos,com reorganizao das redes subterrneas de abastecimento de gua e gs, oesgotamento sanitrio, as redes areas de telegrafia e telefonia e, ainda, a previso depostes de iluminao eltrica pblica.

    Outro aspecto da reforma urbana foi o banimento de atividades rurais, comoestbulos, criadouros e hortas, do centro da cidade. Em nome da higiene e da beleza,foram proibidos os antigos quiosques de madeira que vendiam alimentos e a exposiode artigos em umbrais e vos de portas em vias pblicas, permitidos apenas emvitrines. A Prefeitura tambm reprimiu o que considerou como maus hbitos ecostumes: urinar e cuspir nas ruas, embaralhar cabos de energia eltrica, acenderfogueiras, soltar fogos de artifcio, pipas e bales, festas populares, sagradas eprofanas, como: carnaval, batuque, serenata, cultos afro-brasileiros e bumba-meu-boi.Projeto de lei encaminhado ao Conselho Municipal visava a acabar com a vergonha ea imundcie injustificveis dos em mangas-de-camisa e descalos nas ruas da cidade.

    Aps a reurbanizao, a Cidade do Rio de Janeiro, anteriormente marcada portraos coloniais, deixou de ser conhecida como Capital da Morte e passou a serchamada de Cidade Maravilhosa.

    Cidade mapeada

    Na virada do sculo XIX para o XX, os esforos de redefinio do ambienteurbano caracterizaram os projetos de interveno urbanstica da administraomunicipal, com reflexo na produo cartogrfica sobre a cidade. A renovaomodernizadora do espao urbano da administrao Pereira Passos redefiniu osparmetros da imagem cartogrfica do Rio de Janeiro.

    Pereira Passos, num dos primeiros atos como prefeito, incorporou a Comissoda Carta Cadastral Diretoria de Obras e Viao, submetendo a cartografia ao

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    A estrada de ferro de cremalheira

    Pereira Passos introduziu o uso do sistema com trilho central dotado deencaixes, nos quais uma roda dentada se apia para impulsionar o trem, conhecidocomo cremalheira, no trecho entre Raiz da Serra e Petrpolis, e na construo da

    Estrada de Ferro do Corcovado.

    A estrada de ferro Corcovado

    Esta foi a primeira estrada de ferro turstica do Brasil. Foi um sonho que PereiraPassos acalentou durante muitos anos, juntamente com os engenheiros seus amigos,Marcelino Ramos, Lopes Ribeiro e Joo Teixeira Soares. Em 1872, de formaaudaciosa, Pereira Passos constituiu a Cia. da E. F. do Corcovado, considerado, napoca, um empreendimento temerrio.

    Hino Bandeira Nacional

    O Boletim do 1 Trimestre de 1906 da Intendncia Municipal, publicado pelaDiretoria Geral de Polcia Administrativa, Arquivo e Estatstica, da Prefeitura do Rio deJaneiro, apresenta a letra e a partitura do Hino Bandeira. O prefeito do Rio deJaneiro, Pereira Passos, solicitou ao poeta Olavo Bilac que compusesse um poema emhomenagem Bandeira, encarregando o professor Francisco Braga, da EscolaNacional de Msica, de criar uma melodia apropriada letra. Em 1906, o hino foiadotado pela Prefeitura, passando, desde ento, a ser cantado em todas as escolas doRio de Janeiro. Aos poucos, sua execuo estendeu-se s corporaes militares e sdemais unidades da Federao, transformando-se, extra-oficialmente, no Hino Bandeira Nacional, conhecido de todos os brasileiros.

    Fonte: Noticirio do Exrcito n 9.352, de 4 de fevereiro de 1998.

    Notcias da pocaFonte: 100 Anos de Repblica: um retrato ilustrado da histria do Brasil.

    Vol.I (1899-1903), Vol.II (1904-1918). So Paulo, Editora Nova Cultural Ltda., 1989.

    Governo vai embelezar o Rio (1902)

    Meu programa de governo vai ser muito simples. Vou limitar-me quase queexclusivamente ao saneamento e melhoramento do porto do Rio de Janeiro. Estasforam palavras informais do Presidente Rodrigues Alves, um paulista de Taubat,assim que deixou a cidade rumo ao Rio, para sua posse no dia 15 de novembro.

    No manifesto oficial, ao tomar posse, ele confirmou: A capital no podecontinuar a ser apontada como sede de vida difcil, quando tem fartos elementos paraconstituir o mais notvel centro de atrao de braos, de atividades e capitais nestaparte do Mundo.

    Rodrigues Alves fazia eco da impresso de muito mais gente, especialmente oscariocas. No s o porto uma rea precria, desorganizada, como tambm grandeparte da cidade cresceu de modo desordenado. Cortios malfeitos amontoam-se emsubrbios de ruas mal traadas. A sujeira geral. Servios pblicos atendem mal. Acapital do pas v, impaciente, outros centros, como a cidade de So Paulo, ganharem

    cores modernas, exibindo riqueza e deixando-a para trs.

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    Para seus planos, o governo destinou verba de 990 contos para higiene,principalmente e nomeou Francisco Pereira Passos, que, como prefeito pleni-

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    potencirio, comandar a grande remodelao urbana. Para outras reas, RodriguesAlves escolheu Ministrio sem dvida competente: Lauro Muller est em ObrasPblicas. O Baro do Rio Branco cuidar das Relaes Exteriores, o general Franciscode Paulo Argolo fica com o Exrcito, o empresrio J. Seabra, na Justia e Interior, eLeopoldo Bulhes Jardim, na Fazenda, entre outros.

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    A eletricidade a marca do sculo nas ruas do Brasil (1902)

    Sculo novo, vida nova. Ainda ontem, nas ruas das cidades, s os tlburis e osbondinhos de burros quebravam o silncio. No fim da tarde, o acendedor de lampiespassava, de poste em poste, anunciando a noite. O novo sculo trouxe uma agitaoenorme. Ruas so esburacadas, dormentes e trilhos so enfileirados, cabos de aoestendem-se pelo alto levando a eletricidade pelo caminho dos bondes.

    O Rio de Janeiro tem bondes eltricos desde 1892, em diversas linhas. Em SoPaulo ele j circulava na Barra Funda, Rua So Bento, alcana a Liberdade. Acaba de

    ser inaugurado tambm esse servio em Belo Horizonte. Mais velocidade, maisbarulho. So os outros nomes do progresso.

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    Casas velhas caem, ruas se alargam: o Rio est em obras (1903)

    A carta Cadastral do Distrito, plano urbanstico do Rio de Janeiro, aprovado emabril, inclui a demolio dos casarios das atuais avenidas Beira-Mar, Mem de S,Passos e Central. Faz parte do projeto tambm o alargamento das ruas da Assemblia,Carioca, Frei Caneca e outras vias adjacentes.

    Como era de esperar, os protestos j se fazem ouvir, pois quase todos esto

    insatisfeitos. Reclamam os tamanqueiros do beco do Fisco, os bacalhoeiros da Rua doMercado e principalmente os proletrios e principalmente os proprietrios dequiosques, essa verdadeira praga que assola o Rio de Janeiro. Seus donos, queformam uma verdadeira confraria, alm de no pagarem impostos e de subornaremfiscais, no tm a mnima preocupao com a higiene. Conseqentemente, os insetosproliferam no lugar, e ao seu redor os restos de comida exalam mau cheiro e atraemces vadios. E so exatamente os proprietrios que mais investem contra o planourbanstico da cidade.

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    Inimigos ironizam a campanha contra a febre amarela (1903)

    S no ano passado a febre amarela matou quase mil pessoas no Rio de Janeiro principalmente no vero, quando os ricos se refugiam nos casares de Petrpolis ecercanias, deixando a capital entregue aos ratos, mosquitos e aos pobres.

    De acordo com o novo plano de saneamento da cidade, o cientista OswaldoCruz promete mudar esse panorama e garante que tal doena no transmitida porcontgio ou infeco, mas por um mosquito rajado, o Stegomia fasciata, que proliferaem guas paradas. Tendo em mos um plano idntico ao que j executam em SoPaulo, pelos mdicos Adolfo Lutz e Emlio Ribas, ele reuniu seus 85 homens tinhapedido 1.200 e mandou-os percorrer quintais, jardins, varejar pores, lacrar caixas-

    dgua nos telhados, jogar querosene em alagados e entrar em residncias,perseguindo mosquitos.

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    L vai o mosquiteiro-mor, diziam as pessoas zombando do Dr. Carneiro deMendona, chefe do batalho. O prprio cientista Cruz foi apelidado de o czar dosmosquitos. No demorou para que a zombaria se tornasse hostilidade. Adversrios dogoverno j duvidam das teses de Cruz e acusam-no de invadir a propriedade privada.

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    Com a vida cara, novidades do sculo so s para quem pode (1903)

    Este mundo mesmo dos ricos. Pelo menos, para viver no Rio de Janeiro, s aspessoas bem situadas tm acesso a todos os confortos do novo sculo. Umgramofone, por exemplo, custa 700 mil-ris. Uma viagem de paquete para a Europano fica por menos de 3 contos e 400 mil-ris. Para construir uma boa casa preciso50 contos. E assim por diante.

    Na capital federal s vivem bem os grandes comerciantes e altos funcionriospblicos. Um caixeiro de loja pode chegar a ganhar 300 mil-ris por ms e com essesalrio j pode se casar. Um quarto mobiliado em penso custa 10 mil-ris, um terno

    bom est na ordem de 80, e a jovem senhora se quiser comprar um vestido de ir missa pode dirigir-se s lojas populares da Rua Uruguaiana e adquiri-lo pelo mesmopreo. Mas geralmente a esposa do caixeiro econmica e costuma comprar tecido ecosturar suas roupas. Para que fiquem com aparncia elegante, ela orienta-se pelosmoldes da revista mensal La Mode Parisienne, que custa 4 mil-ris o exemplar.

    Se o salrio do rapaz for modesto, ele vai pagar 40 mil-ris por ms para morarnum cortio. Conseguir uma casa, mesmo velha, nem pensar. Os aluguis chegam a200 mil-ris. A moa que sonha em ter uma cozinheira deve procurar no mnimo umpequeno comerciante. As criadas ganham 30 mil-ris, o que no muito, porm pesanos pequenos oramentos.

    O preo da alimentao est razovel: 1 quilo de queijo-reino custa 6 mil ris; o

    da manteiga mineira est por 3 mil e 500 ris; o da carne pode ser adquirido at por500 ris. O do acar, 400; o de feijo-preto, 200; o de arroz ingls, 220; o do toucinho,mil ris; o de banha de lata, marca Navio, 2 mil e 500 ris; e uma lata de Leite Moacusta 800 ris.

    Prximo ao centro e nos subrbios, a nascente classe mdia constri casassingelas. So os funcionrios pblicos, pequenos negociantes, mdicos, militares demdia patente, pessoas que se orgulham de ter mesa todos os dias almoo e jantar.E isso realmente um privilgio na capital federal. Essas so despesas tpicas daclasse mdia mas os realmente pobres s de vez em quando podem sonhar comelas. O jeito, para eles, sobreviver , o que significa que at meninos so colocadosem indstrias ou pequenas lojas, para trabalhar 12 ou mais horas por dia. O pequenocomrcio espalha-se por todo canto. incalculvel o nmero de tendas de sapatarias,fbricas de massas, tinturarias, manufaturas de roupas e chapus, que funcionam emfundos de estalagens, de armazns, lugares que o pblico no v, descreveu umestudioso.

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    A rua dos elegantes, dos bomios, das damas e das cocotes (1904)

    Ser que o prestgio da Rua do Ouvidor vai acabar? Muitos acham que, quandofor aberta a Avenida Central, a Rua do Ouvidor vai deixar de ser a passarela do Rio deJaneiro. Mas, por enquanto, esse beco de luxo sinuoso continua sendo praticamentea nica opo de consumo para a clientela chique da capital. Espremidos um ao ladodo outro, os 313 prdios da Ouvidor oferecem atraes irresistveis em matria deartigos importados. Sem falar no frisson das suas confeitarias e cafs.

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    A cidade quer ficar nova e torna-se um canteiro de obras (1904)

    Em outubro, os cariocas esto tontos. Toneladas de pedras se amontoam noporto, o centro da cidade lembra uma rea bombardeada, Oswaldo Cruz vacina todomundo. A msica mais tocada do ano, a polca Rato, Rato, de Casemiro Rocha eCludio Costa, satiriza a caada aos ratos comandada pelo Dr. Oswaldo Cruz, paraacabar com a peste bubnica. Oswaldo Cruz deixou a tranqilidade da direo doInstituto Manguinhos, a chamado de Rodrigues Alves, para sanear o turbulento Rio deJaneiro.

    Indiferentes s crticas, as autoridades seguem em frente. Dar um jeito no Rio de

    Janeiro a meta do Presidente Rodrigues Alves, que chamou o engenheiro PereiraPassos para a prefeitura. Pereira Passos convoca dois engenheiros, Francisco Bicalho,encarregado de reconstruir o porto, e Paulo de Frontin, que fica com o Centro. Emfevereiro, foi lanada a pedra fundamental da Avenida Central. Para constru-la, preciso derrubar casas e cortios: o bota-abaixo, com exrcitos de demolidoresexplodindo habitaes e removendo entulho.

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    O Rio de Janeiro no sculo XX (1906)

    O Rio de Janeiro fez uma rpida viagem no tempo para chegar ao sculo XX. Ea nova cara da cidade surge graas a dois inimigos pblicos que se transformaram emheris. O odiado Oswaldo Cruz agora reverenciado como o exterminador dasmolstias tropicais. Pereira Passos, comandante do turbulento bota-abaixo, merece aadmirao geral.

    O carioca se orgulha de viver na cidade mais linda do mundo. Os estrangeirospodem descer sem sustos no porto novo, andar pela bela Avenida do Mangue, oucontemplar as praias caladas da Avenida Beira-Mar. Mas o grande carto-postal dacidade a Avenida Central. Com quase 2 quilmetros de comprimento e 33 metros de

    largura, a avenida custou 46 772 contos de ris, contando despesas de demolio, Prefeitura carioca. O mundo elegante esqueceu a Rua do Ouvidor. Todo o comrcio deprimeira linha de concentra nos prdios imponentes da nova avenida. E seu traado,com calamento de macadame, parece ideal para um engenho cada vez mais presentenas ruas, o automvel.

    Se o Rio se converte em uma metrpole brasileira que mais parecia um pedaoda Europa, So Paulo tambm tenta eliminar seus ares de provncia. Remodela oJardim da Luz, o Largo do Paissandu e constri a Avenida Tiradentes, que dar acessoa toda a zona norte da cidade.

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    O Rio expe ao mundo as riquezas de nosso pas (1908)

    Os cariocas, depois de deslumbrados com a remodelao da cidade efetuadapelo Prefeito Pereira Passos, assistiram incrdulos ao aparecimento de uma cidadeconstituda s de palacetes nos areais da Urca.

    Um imenso e suntuoso portal que d acesso a um mundo de maravilhas. Nointerior dos palacetes abrigam-se verdadeiros tesouros: os frutos da terra e os produtosda nossa indstria.

    A Exposio Nacional, entregue visitao pblica neste 11 de agosto, foiidealizada pelo governo Afonso Pena. Sob o pretexto de comemorar o centenrio daAbertura dos Portos do Brasil ao comrcio mundial, a exposio mostrou aos povos do

    mundo o melhor da produo nacional.E no faltou empenho para o xito do evento. Construram-se imponentes

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    edifcios para abrigar os stands dos expositores; montaram-se dois restaurantes, umteatro, cervejarias e cafs, e at uma mini via frrea para o pblico se locomover emtrenzinhos.

    Afonso Pena contou com a colaborao dos estados. So Paulo e Minas, que,compareceram com pavilhes monumentais, mas todos tiveram espao para expor

    suas riquezas: ouro, pedras preciosas, madeiras, tecidos, produtos agrcolas.Visitantes ilustres, como o secretrio de Estado norte-americano, embaixadoresde diversos pases e homens de negcios vieram para prestigiar a festa. A CapitalFederal reurbanizada tambm foi uma atrao parte.

    O objetivo do governo, atrair libras e dlares para o pas, foi alcanado.Vol. II pgina 19

    Bibliografia

    100 ANOS de Repblica: um retrato ilustrado da histria do Brasil. Vol.I (1899-1903),Vol.II (1904-1918). So Paulo, Editora Nova Cultural Ltda., 1989.

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