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399 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 16(2):399-409, abr-jun, 2000 ARTIGO ARTICLE Identidades profissionais médicas em disputa: Congresso Nacional dos Práticos, Brasil (1922) Professional medical identities in contention: The National Practitioners’ Congress, Brazil (1922) 1 Departamento de Pesquisa, Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz. Av. Brasil 4036, sala 401, Rio de Janeiro, RJ 21040-361, Brasil [email protected] André de F. Pereira Neto 1 Abstract The object of this paper is the debate among the Brazilian medical elite during the National Practitioners’ Congress (Congresso Nacional dos Práticos – 1922). The article begins by analyzing a specific moment in the medical profession’s history in early 20 th -century Brazil, specifically Rio de Janeiro’s 1922 National Practitioners’ Congress. The author presents three pro- files of medical practice observed in that context: generalists, specialists, and hygienists. He fur- ther analyzes their characteristics, similarities, and differences, as well as the strategies for pro- fessional affirmation adopted by physicians with these profiles. The article addresses the follow- ing issues:What were the relationships between the specialization process, forms of remunera- tion, and the construction of new professional identities? What identities did medical doctors create for themselves? What were the rivalries between these different professional identities? How did they portray outside competitors, such as the so-called traditional healers? Finally, the author presents several methodological suggestions that may contribute to historical research on the medical profession. Key words Health Occupations; Social Identification; History of Medicine Resumo O objeto deste artigo é o debate travado entre a elite médica brasileira durante o Con- gresso Nacional dos Práticos, realizado no Rio de Janeiro em 1922. Inicialmente apresentamos o conceito profissão do ponto de vista sociológico. Em seguida analisamos um momento da Histó- ria da profissão médica no Brasil: o início do século XX, em particular,o Congresso Nacional dos Práticos. Apresentamos os três perfis de prática médica observados naquele contexto, a saber: Generalista, Especialista e Higienista. Analisamos suas características, semelhanças e diferenças, bem como as estratégias de afirmação encetadas por cada identidade profissional. As questões que orientaram este trabalho foram as seguintes:Que relações foram estabelecidas entre o pro- cesso de especialização e de assalariamento e a construção de novas identidades profissionais? Quais as identidades que os médicos inventaram de si? Que rivalidades foram sendo construídas entre estas diferentes identidades profissionais? Como eles representavam os concorrentes exter- nos, tais como os curandeiros? Finalmente apresentamos algumas sugestões metodológicas que poderão ser aproveitadas em estudos históricos cujo objeto preferencial de análise seja a profis- são. Palavras-chave Ocupação em Saúde; Identificação Social; História da Medicina

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O objeto deste artigo é o debate travado entre a elite médica brasileira durante o CongressoNacional dos Práticos, realizado no Rio de Janeiro em 1922. Inicialmente apresentamos oconceito profissão do ponto de vista sociológico. Em seguida analisamos um momento da Históriada profissão médica no Brasil: o início do século XX, em particular, o Congresso Nacional dosPráticos. Apresentamos os três perfis de prática médica observados naquele contexto, a saber:Generalista, Especialista e Higienista. Analisamos suas características, semelhanças e diferenças,bem como as estratégias de afirmação encetadas por cada identidade profissional. As questõesque orientaram este trabalho foram as seguintes: Que relações foram estabelecidas entre o processode especialização e de assalariamento e a construção de novas identidades profissionais?Quais as identidades que os médicos inventaram de si? Que rivalidades foram sendo construídasentre estas diferentes identidades profissionais? Como eles representavam os concorrentes externos,tais como os curandeiros? Finalmente apresentamos algumas sugestões metodológicas quepoderão ser aproveitadas em estudos históricos cujo objeto preferencial de análise seja a profissão.

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ARTIGO ARTICLE

Identidades profissionais médicas em disputa: Congresso Nacional dos Práticos, Brasil (1922)

Professional medical identities in contention: The National Practitioners’ Congress, Brazil (1922)

1 Departamento de Pesquisa,Casa de Oswaldo Cruz,Fundação Oswaldo Cruz.Av. Brasil 4036, sala 401,Rio de Janeiro, RJ 21040-361, [email protected]

André de F. Pereira Neto 1

Abstract The object of this paper is the debate among the Brazilian medical elite during theNational Practitioners’ Congress (Congresso Nacional dos Práticos – 1922). The article begins byanalyzing a specific moment in the medical profession’s history in early 20th-century Brazil,specifically Rio de Janeiro’s 1922 National Practitioners’ Congress. The author presents three pro-files of medical practice observed in that context: generalists, specialists, and hygienists. He fur-ther analyzes their characteristics, similarities, and differences, as well as the strategies for pro-fessional affirmation adopted by physicians with these profiles. The article addresses the follow-ing issues: What were the relationships between the specialization process, forms of remunera-tion, and the construction of new professional identities? What identities did medical doctorscreate for themselves? What were the rivalries between these different professional identities?How did they portray outside competitors, such as the so-called traditional healers? Finally, theauthor presents several methodological suggestions that may contribute to historical research onthe medical profession.Key words Health Occupations; Social Identification; History of Medicine

Resumo O objeto deste artigo é o debate travado entre a elite médica brasileira durante o Con-gresso Nacional dos Práticos, realizado no Rio de Janeiro em 1922. Inicialmente apresentamos oconceito profissão do ponto de vista sociológico. Em seguida analisamos um momento da Histó-ria da profissão médica no Brasil: o início do século XX, em particular, o Congresso Nacional dosPráticos. Apresentamos os três perfis de prática médica observados naquele contexto, a saber:Generalista, Especialista e Higienista. Analisamos suas características, semelhanças e diferenças,bem como as estratégias de afirmação encetadas por cada identidade profissional. As questõesque orientaram este trabalho foram as seguintes: Que relações foram estabelecidas entre o pro-cesso de especialização e de assalariamento e a construção de novas identidades profissionais?Quais as identidades que os médicos inventaram de si? Que rivalidades foram sendo construídasentre estas diferentes identidades profissionais? Como eles representavam os concorrentes exter-nos, tais como os curandeiros? Finalmente apresentamos algumas sugestões metodológicas quepoderão ser aproveitadas em estudos históricos cujo objeto preferencial de análise seja a profis-são.Palavras-chave Ocupação em Saúde; Identificação Social; História da Medicina

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O tema geral deste artigo é a identidade profis-sional médica. Quando usamos o conceito pro-fissão, amparamo-nos sobretudo em algunsautores norte americanos, tais como Freidson(1970), Larson (1977) e Abbott (1988), da mes-ma forma que em franceses, como Leonard(1978), Goubert (1992), Herzlich (1982) e Guil-laume (1996), os quais definem a profissão co-mo ocupação com prestígio e poder especial.

A profissão diferencia-se da ocupação emrazão de chegar a adquirir, por meios políticos,culturais e ideológicos, extraordinária autori-dade cognitiva e normativa. A atividade profis-sional, do ponto de vista cognitivo, deve deterpelo menos três características: ser complexa eincompreensível por leigos; ser institucionali-zada em estabelecimentos de ensino e ser apli-cável, de modo a resolver problemas tidos co-mo relevantes pela sociedade. Deste modo, oprofissional satisfaz a primeira condição – ne-cessária, mas não suficiente – para reivindicarexclusiva jurisdição acerca de determinada ati-vidade.

Do ponto de vista normativo, o profissionaldeve submeter-se a longo treinamento, orien-tado por currículo padronizado, repleto de eta-pas e exigências. Durante o período universi-tário e ao longo de toda a sua atividade, devesujeitar-se aos mecanismos de regulação deconduta, formalizado em um Código de Ética,relativo a seus pares, a seus concorrentes e aseus clientes. Em geral, as demais atividades domundo do trabalho prescindem de um códigoformal que as regule e que padronize sua con-duta. Tal dimensão normativa faz com que asprofissões se tornem comunidades com identi-dade, compromisso pessoal, interesses especí-ficos e lealdade corporativa, permitindo queconquistem, assim, prestígio junto à clientela.

Para Machado (1996), o exercício da ativi-dade do profissional no mercado de trabalhodeve desenvolver-se com ampla autonomiaeconômica e técnica. A autonomia econômicapermite que o profissional tenha liberdade deatuar em sua esfera exclusiva de competência.Por sua vez, a dimensão técnica da autonomiapressupõe, no entender de Schraiber (1993),que o profissional seja capaz de invalidar o ser-viço do leigo, comprometendo-se com a orga-nização de efetivo controle de admissão.

Além disso, segundo Starr (1982), o profis-sional deve empreender todo um conjunto deestratégias de persuasão voltadas aos clientes,para que estes se submetam à sua autoridadecultural. Para tanto, o consumidor de serviçosdeve ser alguém nem muito organizado social-mente nem muito informado, assim ele rece-berá as determinações do profissional sem con-

testação. Desta forma, a orientação do profis-sional passa a ser entendida pelo cliente comoalgo superior a um conselho e inferior a umaordem. Com o intuito de atingir essa situação, oprofissional utiliza-se de meios simbólicos.

A literatura especializada enfatiza ainda anecessidade de serem levadas em considera-ção as especificidades de cada atividade profis-sional. No caso, a profissão médica apresentaparticularidades que precisam ser ressaltadas.

O médico entra em contato íntimo e diretocom a vida privada de seu cliente. Ele participade momentos cruciais dessa existência, servin-do de intermediário entre o saber generalizan-te e o caso particular. As circunstâncias da do-ença promovem a aceitação de seu julgamento.Um dos fatores que explicam o sucesso da me-dicina está associado ao poder que esta profis-são tem de fomentar a dependência do clienteno que diz respeito ao conhecimento e à com-petência do médico. Esta dependência é cons-truída ideologicamente ao longo de um proces-so histórico.

Neste artigo, não analisaremos um longoperíodo histórico. Concentraremos nossa aten-ção no contexto brasileiro do início do séculoXX. Examinaremos especificamente os anaisdo Congresso Nacional dos Práticos, realizadono Rio de Janeiro em 1922. O momento em queeste evento foi efetuado, os atores que estive-ram presentes e os temas que foram debatidosjustificam a escolha de tal objeto empírico (Pe-reira Neto, 1997).

Até o princípio do século XX predominava,no Brasil, o exercício profissional em bases li-berais: o médico dependia de capacidade pró-pria para exercer sua atividade. Tinha autono-mia para determinar as condições e o valor deseu trabalho. Além disso, o conhecimento mé-dico entendia o corpo humano como um todoindivisível. A habilidade e a sensibilidade eramos principais atributos do médico. O conheci-mento era obtido com anos de experiência prá-tica. Contudo, a partir do início do século XX co-meçaram a ocorrer, no Brasil, alterações na ba-se do conhecimento médico e nas políticas pú-blicas da área da saúde que interferiram em se-melhante identidade profissional hegemônica.

O processo de especialização, observávelem outras atividades no mundo do trabalho, fezcom que o conhecimento médico passasse a serorganizado segundo a área do corpo ou o trata-mento de doenças específicas. O trabalho mé-dico começou a assumir um caráter parcelar,promovendo práticas interdependentes, soli-dárias e coletivas, pois requeriam a interven-ção de vários profissionais. Além disso, a incor-poração de forte arsenal tecnológico permitiu

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que o diagnóstico se tornasse cada vez maispreciso, aumentando os custos da produção doserviço, como enfatizou Donnangelo (1975).

Ao mesmo tempo, o Estado brasileiro deuinício ao abandono da postura liberal que ado-tara, até então, frente à problemática social. Aesse respeito, Luz (1982) expôs como a questãosocial começou a deixar de ser vista como coi-sa de polícia para tornar-se questão política. OEstado passou a assumir, aos poucos, o papelde gerente e produtor de serviços em diversasáreas, sobretudo na saúde. Através de um pro-cesso lento e progressivo, pleno de ações e rea-ções, pôde ser observada tal mudança de pos-tura. Um sinal neste sentido pode ser identifi-cado, em 1920, na criação do DepartamentoNacional de Saúde Pública (DNSP), primeiraorganização estatal de dimensões nacionaisque contava com estrutura hierarquizada e bu-rocratizada. Sua finalidade era atingir desde amedicina preventiva e a curativa até a enge-nharia sanitária. O incremento da presença doEstado na área da saúde guardava expressivopotencial de promover o assalariamento médi-co, fundando, por sua vez, esferas públicas deatuação profissional com visíveis conotaçõespolíticas. Além disso, facultava os serviços dasinstituições públicas ao cliente tradicionalmen-te atendido em consultórios particulares.

No Congresso Nacional dos Práticos, médi-cos brasileiros eruditos e famosos reuniram-separa discutir o que deveria ser feito diante des-tas virtuais modificações. Entre eles encontra-vam-se cidadãos detentores de riqueza, respei-tabilidade e conhecimentos e que ocupavampostos de direção no Estado ou em instituiçõesda sociedade. Alguns tinham perfil mais clíni-co, enquanto outros dirigiam instituições res-ponsáveis por elaborar políticas higiênicas delongo alcance. Os dados biográficos permitemconcluir que o Congresso Nacional dos Práticosreuniu a elite médica brasileira da década de1920, tal como no caso francês analisado porWeisz (1988).

A Sociedade de Medicina e Cirurgia do Riode Janeiro havia organizado oito congressosmédicos no período compreendido entre 1888e 1922. O Congresso Nacional dos Práticos nãofoi, assim, a primeira reunião de médicos bra-sileiros. O que o diferenciou dos eventos ante-riores? Lendo e analisando os anais dos con-gressos médicos anteriores a 1922, podemosconstatar que predominavam ora os temas quegeravam curiosidade científica ora os debatesa respeito das estratégias públicas de profilaxiadas doenças infecto-contagiosas. O CongressoNacional dos Práticos assumiu sua especifici-dade em relação aos congressos médicos ante-

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riores em virtude de, nele, terem sido aceitosapenas os trabalhos que diziam respeito aoexercício e ao ensino da medicina, conformerege seu Regulamento (1918). O evento trans-correu como em um palco em que a elite médi-ca divergiu quanto às estratégias de preserva-ção de seu prestígio, autoridade e autonomia.Na platéia estavam presentes representantesdo poder executivo e legislativo, de sociedadescientíficas, de associações profissionais e de fa-culdades de medicina.

A expectativa dos organizadores era de in-tervir no curso do acontecimentos. O Congres-so Nacional dos Práticos realizou-se na cidadedo Rio de Janeiro, então capital da República,entre os dias 30 de setembro e 7 de outubro de1922, ou seja, um mês e meio antes da investi-dura de Artur Bernardes como Presidente daRepública, eleito em março, em meio a convul-sionado processo de sucessão.

Diante dos elementos apresentados acimapodemos atestar a importância histórica doevento. Neste trabalho, sua escolha como fonteprincipal de análise justifica-se pelo fato de asseiscentas e dezenove páginas publicadas emsuas Actas e Trabalhos (Primeiro Congresso Na-cional dos Práticos, 1923) traduzirem boa partedos embates e controvérsias profissionais pre-sentes no seio da elite médica durante a Primei-ra República no Brasil (1889/1930). Nos deba-tes travados identificamos a presença de trêsperfis de identidade profissional médica: o Ge-neralista, o Especialista e o Higienista. Os doisgrandes eixos de tensão existentes entre eleseram os elementos que confrontavam o genera-lismo à especialização e os que contrapunhama prática em serviços públicos àquela exercidaem serviços privados.

O perfil que denominamos generalista ca-racteriza-se por privilegiar valores próprios àidentidade profissional hegemônica no Brasilaté o início do século XX. Nesse período, o mé-dico era identificado como produtor individualde serviços, portador de conhecimento abran-gente a respeito do doente e da doença. Longede ser uma ciência, um saber complexo e siste-maticamente constituído, a medicina era vistacomo arte. A relação médico-paciente pauta-va-se pela intimidade, confiança e obediência.Assim, o médico generalista buscava organizaro cotidiano do cidadão desde seus hábitos dehigiene mais íntimos até as intervenções cirúr-gicas em que o risco de vida era eminente.

No mercado de trabalho, ele configurava aexpressão mais precisa do produtor individualde serviços de saúde: o médico exercia indivi-dualmente sua atividade e não contava comauxílio nem de outro médico nem de qualquer

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profissional de saúde. A relação era, portanto,individualizada e direta. Por esta razão, ressal-tavam-se os atributos individuais em detrimen-to de elementos próprios ao trabalho em equi-pe, em que o profissional se submete a proce-dimentos racionais ou burocráticos. Além dis-so, os exames diagnósticos em laboratório e-ram considerados prescindíveis. Esse tipo demédico examinava, identificava a origem dador, prescrevia medicamentos e operava, sefosse o caso, sem a ajuda de terceiros ou doaparato tecnológico. Para ele, o mais importan-te era o contato direto, individualizado e in-substituível com seu paciente. Segundo tais ca-racterísticas, a prática médica deveria depen-der, sobretudo, da sensibilidade e da experiên-cia do profissional adquiridas ao longo de anosde trabalho.

Até o início do século XX, o consultório fun-cionava, muitas vezes, como um mini-hospi-tal, freqüentemente instalado na residência dopróprio médico. Para nós, o médico de perfilgeneralista era produtor individual de servi-ços, na medida em que detinha total liberdadede estabelecer o valor, a duração e as condi-ções em que se desenvolveria a consulta: nãoexistia, entre ele e o paciente, qualquer media-ção burocrática. Para ele, a autonomia técnicae a econômica estavam garantidas em sua ple-nitude.

O médico generalista era, portanto, alguémque valorizava mais a arte e a subjetividade emdetrimento da racionalidade técnica. Além dis-so, sua prática estava voltada para o indivíduoe não para as coletividades. Seu padrão idealde relação com o mercado de trabalho se davasob a forma liberal em consultório particular enão sob a forma assalariada em estabeleci-mento público ou privado. Os generalistas, emgeral, enfatizavam o lado artístico e altruísta daprática profissional. Como afirmou Meireles(1923:164), quem não seguisse estes princípiosnão seria “nunca um verdadeiro médico”. Destaforma, os generalistas reiteravam valores quedeveriam nortear a prática profissional ideal,desqualificando as demais.

No início do século XX, este perfil começa-va a sofrer lento e constante processo de modi-ficação, conquanto ainda fosse dominante noBrasil. A identificação de uma mencionada cri-se funcionava como estratégia retórica paraseu fortalecimento. O assalariamento médico –mesmo que irrisório, se comparado ao mesmoprocesso observado no pós-30 – era identifica-do como uma das principais razões da erosãodesta prática. Os clientes coletivos, como di-ziam, iam sendo vistos como vetores de trans-formação da organização do trabalho médico

tanto em relação à amplitude de seu mercadoquanto em relação aos níveis de autonomiaque passariam a presidir a relação com seu pa-ciente.

A criação do Departamento Nacional de Sa-úde Pública, em 1920, gerou, neste sentido,uma série de reações relacionadas com as po-tenciais alterações que esta nova estrutura pú-blica poderia introduzir no mercado de traba-lho médico. Dizemos potenciais em razão de oCongresso Nacional dos Práticos ter-se realiza-do dois anos após a promulgação do DecretoLei 14.354, de 15 de setembro de 1920, que cria-ra este Departamento (Brasil, 1921). Assim, asmodificações apresentadas no texto da lei res-tringiam-se, até então, ao papel: entre 1920 e1922 não foram implementadas medidas quealterassem substancialmente o mercado de tra-balho médico e a presença do Estado na saúdepública. No que se refere à assistência médica,o artigo 261 do Decreto Lei 14.354 (Brasil, 1921)instituía o isolamento nosocomial ou domici-liário aos doentes portadores de qualquer umadas vinte moléstias sujeitas à notificação com-pulsória, a saber: febre amarela, peste, cólera,tifo, varíola, difteria, infecção puerperal, oftal-mia de recém-nascidos, infecções do grupo ti-fo-paralítico, lepra, tuberculose, impaludismo,escarlatina, sarampo, disenterias, meningite,paralisia infantil, tracoma, leishmaniose e co-queluche.

Neste artigo analisaremos de que maneira aimplementação desta política de assistênciamédica poderia ou não afetar a organização domercado de trabalho médico. Esse interessejustifica-se na medida em que a universaliza-ção do atendimento, bem como sua gratuida-de, teria condições de atrair pacientes com altopoder aquisitivo, tradicionalmente atendidospor médicos particulares ou em estabeleci-mentos privados de assistência. Nosso objetivoserá, sobretudo, compreender como os médi-cos identificados com o perfil generalista rea-giram a esta potencial transformação.

O mesmo Decreto Lei facultava o isolamen-to domiciliar aos portadores de uma das vintemoléstias citadas que residissem em quarto“arejado e independente, revestido de piso defácil desinfecção”. Afora isso, exigia-se o paga-mento de uma taxa que se destinava ao custeiodos serviços diários de enfermagem sanitária.

Segundo Damazio (1996), predominavam,no Rio de Janeiro do início do século XX, os cor-tiços, ou seja, habitações populares e coletivaslocalizadas próximo a estalagens ou cocheiras,onde a insalubridade e a imundície prospera-vam. Além disso, o rendimento diário dos ope-rários e a faixa salarial do funcionalismo públi-

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co não garantiam os custos mínimos exigidos,por lei, para o isolamento domiciliar.

Assim, podemos concluir, que o isolamentodomiciliar não estava sendo previsto nem paraos desempregados e demais trabalhadores in-formais residentes nos cortiços, nem para a-queles que recebiam baixos salários mensais. Acaracterística da residência e a faixa salarial dopaciente impediam que segmentos menos fa-vorecidos socialmente tivessem condições deoptar pelo isolamento domiciliar. Esta alterna-tiva ficava restrita às classes privilegiadas. Forado controle institucional e burocrático de umnosocômio, a autonomia técnica teria melho-res condições de vicejar.

No Congresso Nacional dos Práticos, Mi-guel Couto – um dos mais renomeados médi-cos generalistas brasileiros do início do século,catedrático da Faculdade de Medicina e Presi-dente da Academia Nacional de Medicina – de-fendeu que o internamento no hospital fossevisto como “uma exceção e o tratamento no do-micílio a regra” (Couto, 1923:562). No caso doisolamento nosocomial, o Regulamento esta-belecia procedimentos que variavam de acor-do com a moléstia.

Em relação à cólera, tifo, infecção puerpe-ral, oftalmia, infecções tifo-paratíficas, impalu-dismo, escarlatina, sarampo, disenterias, me-ningite, paralisia infantil, tracoma, leishmanio-se e coqueluche não constava na lei qualquervalor ou tabela que relacionasse os custos pelainternação. No caso da varíola e da tuberculo-se, a gratuidade restringia-se à prevenção ouao diagnóstico da moléstia. Depois de confir-mado o diagnóstico, não havia menção a comose daria o acesso e a permanência dos pacien-tes nas instituições nosocomiais públicas.Quanto à febre amarela, lepra e doenças vené-reas, a gratuidade limitava-se ao enfermo combaixo poder aquisitivo. Os demais pacientespagariam taxas estipuladas em tabelas forneci-das pela Saúde Pública.

No início da década de 1920, a extensão dagratuidade no atendimento nosocomial nãoestava ainda plenamente definida por lei. Osgeneralistas intervieram neste tema, propondoformalmente a segmentação social do atendi-mento médico em instituições públicas.

Miguel Couto foi um dos que reiteraram es-ta idéia, propondo que os hospitais públicos ti-vessem “... enfermarias gratuitas, pequenas sa-las para a diária de cinco mil réis e quartos par-ticulares para dez mil réis” (Couto, 1923:563). Opaciente deveria comprovar seu nível de rendapara poder ser encaminhado a um desses es-paços. A lógica que inspirava o posicionamen-to de Couto era a seguinte: se o paciente tives-

se que pagar para ser atendido numa institui-ção pública, preferiria a clínica particular, ondepagaria igualmente, recebendo, entretanto, tra-tamento de melhor qualidade. Além disso, se agratuidade universal fosse eliminada, diminui-ria o temor que tomava conta de médicos comoMiguel Couto: ver sua clientela fugir para as ins-tituições públicas. Era necessário, portanto, ga-rantir que as pessoas com alto poder aquisitivonão fossem atendidas nas enfermarias gratuitas.

Couto, como os demais generalistas, temiaa fraude. Receava que alguém com condiçõesde pagar por esses serviços, fingisse pobrezapara não pagar a consulta e o tratamento. Paraevitar que isso ocorresse, Couto (1923:563) pro-pôs que fosse realizada uma “sindicância paracomprovar ou não a fraude”. Finda a sindicân-cia, seria avaliado se o cidadão deveria ressar-cir ou não os cofres públicos. Em suma, o intui-to dos médicos generalistas era garantir a mai-or liberdade possível ao médico profissional li-beral nos estabelecimentos públicos que se-riam construídos e, ao mesmo tempo, desen-corajar os cidadãos de posses a freqüentá-los.Este também poderia ter sido o objetivo dosmédicos especialistas, que viviam da clínica li-beral. No entanto, consideramos ser o hospitalo locus privilegiado para o exercício da práticamédica especializada, uma vez que o hospitalmoderno comporta a intervenção de váriosprofissionais, dispostos hierarquicamente, a-lém de incorporar forte arsenal tecnológico pa-ra o diagnóstico e o tratamento.

O perfil de prática profissional que deno-minamos especialista reiterava a importânciada racionalidade científica, da precisão dodiagnóstico, postulando o treinamento metó-dico e sistemático, a observação e a experi-mentação. Além disso, o trabalho era visto co-mo atividade de equipe. Nesse caso, cada pro-fissional, segundo sua especialidade, deteriasua parcela de responsabilidade no processode tratamento e cura. Para esta identidade pro-fissional, por um lado, o conhecimento médicodeveria ser, ao mesmo tempo, esotérico, inatin-gível, institucionalizado e aplicável às deman-das concretas. Em tal aspecto residia a princi-pal divergência destes médicos com os de per-fil generalista. Por outro lado, os especialistasaproximavam-se dos generalistas, pois igual-mente centravam o sentido de sua prática pro-fissional no indivíduo. A medicina era, paraambos, uma atividade com fins exclusivamen-te curativos.

No Congresso Nacional dos Práticos, os es-pecialistas também afirmaram sua identidade,desqualificando as demais concepções de prá-tica profissional.

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O relator mais idoso do Congresso foi Pací-fico Pereira, que contava então 76 anos de ida-de. Sua atuação profissional transcorrera noEstado da Bahia durante o século XIX. Comoboa parte dos médicos de seu tempo, combi-nara a atividade clínica – em ginecologia – coma pesquisa básica – em histologia, anatomia epatologia. Seu prestígio entre a corporação eratão elevado que os relatores presentes conferi-ram-lhe o título de Praeceptor Brasiliae. Emtermos de poder e prestígio públicos, PacíficoPereira chegara a exercer o cargo de Diretor daFaculdade de Medicina da Bahia, assim comoda Saúde Pública Estadual da Bahia.

Em seu discurso, Pereira (1923:526) afir-mou: “Ninguém pode negar (...) que não só omédico mas qualquer sábio, em nossos dias, tor-na-se cada vez mais um especialista, desde quese exige que seja um mestre no ramo restrito queescolheu, e que os gênios universais, especialis-tas em todos os gêneros, (...) caíram em descré-dito”. Analisando suas palavras, podemos con-cluir que a arrogância na defesa de um idealprofissional não foi exclusividade dos defenso-res do padrão generalista de identidade profis-sional. “Ninguém pode negar” constitui exercí-cio de retórica e conformou uma estratégia pa-ra tentar convencer o conjunto da categoria deque este relator apresentava uma verdade in-contestável. Em geral, quando se afirma enfati-camente que “ninguém pode negar” algo, é por-que tal questão está sendo negada por alguém.O esforço de sua argumentação teria sido nosentido de retirar qualquer crédito dos especia-listas de todos os gêneros, ou seja, do médico clí-nico, dotado de conhecimento globalizante, co-mo queriam os generalistas.

As palavras de Pacífico Pereira serviam i-gualmente para reforçar sua visão, favorável aotrabalho especializado, condenando a práticamédica clínica generalista. Para os especialis-tas, o paciente não deveria, nem poderia, des-confiar das prescrições do médico, sobretudoporque este seria o portador da ciência.

Nos anos vinte, o processo de especializa-ção da medicina estava em gestação. A presen-ça de associações de obstetrícia, ginecologia,oftalmologia, otorrinolaringologia, psiquiatria,neurologia, dermatologia, sifiligrafia e pedia-tria no Congresso Nacional dos Práticos tradu-zia um dos sintomas de tal processo em termosde organização profissional.

Oswaldo de Oliveira tinha 38 anos de idadeem 1922, contava dezoito de formado e já eracatedrático de Clínica Médica da Faculdade deMedicina, membro titular da Academia Nacio-nal de Medicina e médico clínico da Santa Casa.Além disso, detinha larga produção científica,

sobretudo na área da cardiologia. Analisandoas reformas do ensino médico, Oliveira (1923:403) afirmou: “Invidia medicorum pessima. As-sim sendo explica-se o triste e lamentável des-prestígio atual da classe médica: os argumentospara descrédito do ensino da faculdade terão re-caído sobre os que nela estudaram, sobre os mé-dicos em geral de cuja ciência se duvida, e a cu-jo valor profissional não se dá grande impor-tância”.

Para Oliveira, a confiança recíproca presen-te na relação criada entre médico e pacienteconfigurava elemento imprescindível para osucesso da prática médica. Em seu modo deentender, os curandeiros estabeleciam todo otipo de estratégias para retirar esta confiança,com a finalidade de obter êxito. A invidia emrelação ao médico era, segundo este relator,pessima. Duvidar da ciência? Jamais. Discordardo diagnóstico médico? Nunca. Esta explicaçãotraduz a relação de poder que se queria estabe-lecer entre médico e paciente, bem como a au-toridade que os especialistas queriam imputarà ciência médica alopática oficial. A defesa in-transigente do primado da ciência serviu, por-tanto, de argumento contundente dos especia-listas contra as práticas exercidas por curan-deiros.

As sociedades nativas americanas e as po-pulações oriundas do continente africano exer-ceram papel decisivo na formação social e cul-tural brasileira. Nos dois casos predominavampráticas de cura que utilizavam componentesda natureza associados freqüentemente a fortecaráter religioso: práticas de cura não reconhe-cidas pela ciência médica alopática dominante.

As leis em vigor coibiam a ação dos deno-minados curandeiros, condenando-os ao paga-mento de significativas multas ou até à prisão.Nas determinações legais consta ainda que oexercício das práticas de cura deveria ser acom-panhado por habilitação formal obtida nas fa-culdades de medicina. Assim ficava legalmentegarantido o monopólio médico neste ramo deatividade. Por sua vez, toda a prática concor-rente que fugisse a este padrão deveria ser pe-nalizada.

Para os especialistas, as determinações le-gais concernentes ao curandeirismo não eramtidas como suficientes. Muitos médicos pedi-ram a palavra no evento para combater o cu-randeirismo. A estratégia adotada foi construiruma imagem negativa do curandeiro, acompa-nhada de um movimento simetricamente opos-to em relação ao médico alopata, tido como úni-co portador da ciência. Tratava-se de construir,junto à opinião pública e ao Estado, uma ima-gem negativa do curandeiro.

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Em parte, a estratégia identificada no com-bate ao curandeirismo foi a de desqualificação.Se os médicos conseguissem convencer a cli-entela de que o curandeiro era um “ignorante”por não dominar a ciência médica e que o pa-ciente “corria risco de vida” ao ser atendido porele, talvez os clientes não procurassem maisseus serviços. Outra medida propalada incitavaos médicos a delatar os casos de curandeirismoe exigia que o Código Penal tivesse aplicaçãomais enérgica.

Dois comentários merecem ser feitos quan-to à postura dos especialistas em relação à e-xistência do curandeirismo como prática decura concorrente com a médica.

Em primeiro lugar resgatamos algumasidéias expostas por Starr (1982), nas quais en-fatiza a importância das estratégias persuasi-vas e coercitivas, empreendidas por médicosnorte-americanos, visando à consolidação daautoridade cultural. A combinação das duas es-tratégias parece ter dado o tom da posição dosespecialistas, no que se refere aos curandeirosque concorriam com eles no mercado de servi-ços e de prestígio.

Em segundo lugar cabe recuperar, aindaque brevemente, a história do positivismo noBrasil. Esta filosofia contrapôs-se aos princí-pios teológicos e metafísicos dominantes naEuropa durante os séculos XVIII e XIX. A neu-tralidade e a objetividade foram alguns dos ar-gumentos utilizados para justificar o primadoda razão tida como desinteressada. Inicialmen-te, a ciência positiva fez-se revolucionária, namedida em que se contrapôs ao universo devalores feudais. Com o passar do tempo tornou-se hegemônica na ordem capitalista e imperia-lista que se implantava. A intervenção desbra-vadora que o neocolonialismo perpetrou nomundo subdesenvolvido obteve sucesso, entreoutras razões, graças a sua associação com aprodução de conhecimentos científico, formu-lado a partir de matriz positivista. Assim, a ra-cionalidade positivista tornou-se cada vez me-nos neutra e desinteressada, apesar de, formal-mente, pretender manter tais características.

No Brasil, enquanto alguns seguidores dasteorias de Augusto Comte – presos ao primadoda liberdade – pregavam que a atividade pro-fissional deveria ser exercida sem controle doEstado, outros combatiam toda e qualquer prá-tica profissional que fugisse aos ditames daciência. Assim, muitos médicos, amparados naracionalidade alopática, não permitiam quefossem discutidas as bases que estruturavam,no dizer de Kuhn (1989), seu paradigma cientí-fico. Mais que isso, sua volúpia bélica impediaque outros paradigmas – como aqueles intro-

duzidos pela cultura ameríndia e africana – ti-vessem condições de frutificar.

Da mesma forma, desqualificar e perseguircurandeiros poderia ter sido uma estratégiaimplementada por generalistas. Entretanto,para incitar este combate, eles não ampararamseu argumento em uma ciência reputada in-contestável, como fizeram os especialistas.

Desqualificar e perseguir os curandeirostambém poderia ter sido estratégia implemen-tada por higienistas, mas o sentido da iniciati-va seria distinto. Para os especialistas seme-lhante desqualificação visava preservar seumercado de trabalho. Para os higienistas, a me-ta era fazer com que a política pública de saú-de vivificasse. Assim, o médico higienista obte-ria prestígio e poder entre os pares e na socie-dade. Todo e qualquer obstáculo que dificul-tasse este caminho deveria ser removido.

Na verdade, os médicos apresentavam dis-tintas e simultâneas formas de inserção nomercado de trabalho, desde aquela época, noBrasil. A rotina de trabalho de muitos deles or-ganizava-se, então, da seguinte forma: de ma-nhã passavam visita a pacientes em hospitaisfilantrópicos ou públicos ou davam aulas emfaculdades de medicina. No início da tarde fre-qüentavam alguma reunião em estabelecimen-to público de medicina preventiva e higiênicae, no fim da tarde e início da noite, dedicavam-se à atividade em consultório particular, às visi-tas domiciliares ou à cirurgias, conforme o caso.

Os modelos analíticos, em geral, reduzem esimplificam a realidade social a partir da qualsão construídos. Não obstante, os eixos de ten-são analisados, presentes naquele contextohistórico, interferiam nos perfis profissionaismédicos identificados nos anais do CongressoNacional dos Práticos, opondo o generalismo àespecialização e a prática liberal em consultó-rio ao exercício profissional público, ou seja,assalariado.

O perfil de identidade profissional que de-nominamos higienista pode ser avaliado comouma das especialidades possíveis no processode segmentação do conhecimento médico, ob-servável desde o final do século XIX. A carreirado médico higienista integra o campo da racio-nalidade científica, afastando-se dos pressu-postos do perfil generalista, que era regido pelaarte e subjetividade na relação com o paciente.Os higienistas propugnavam uma formação es-pecializada, voltada sobretudo para a preven-ção, a educação higiênica e o diagnóstico, pro-filaxia, tratamento e possível cura das doençasinfecto-contagiosas. Desse modo, a atividademédica não deveria se limitar nem ao conheci-mento clínico abrangente nem a uma especia-

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lização que compartimentasse o corpo do indi-víduo em partes dissociadas. Os higienistas in-troduziram a necessidade de formação espe-cializada voltada ao atendimento das coletivi-dades. O sentido de sua prática estava nortea-do para a educação higiênica e eugênica, bemcomo para a prevenção das doenças das coleti-vidades.

Para alguns higienistas, a pobreza que as-solava o Brasil seria determinada pela ausênciade saúde. Diferindo do pensamento sanitaristapredominante nos dias atuais, pensava-se, noinício do século, que o trabalhador doente nãoteria condições plenas para o exercício de suaatividade, impedindo, em conseqüência, que aNação atingisse o progresso almejado. Para oshigienistas a doença era a causa da miséria enão a miséria a causa da doença.

O objetivo da prática profissional médicadeveria ser lutar pelo progresso do país. Paraatingi-lo, seria necessário sanear o indivíduo,tornando o trabalhador apto para o trabalho.Formar a humanidade, diminuir a pobreza emelhorar as condições de vida da sociedadeeram os compromissos que os higienistas que-riam imputar à identidade profissional médi-ca. Como já expusemos, tanto os especialistasquanto os generalistas orientavam sua ativida-de para o paciente, entendido como entidadeúnica e inconfundível. Para os médicos de per-fil higienista, a cura e o bem-estar do cidadãodeveriam ser obtidos em prol da humanidadee da pátria – aspecto que constitui a maior sin-gularidade deste perfil de identidade profissio-nal. Na história da saúde e da doença no Brasil,este elemento representa uma inflexão inéditano sentido da prática profissional médica.

Da mesma forma que os defensores dosdois ideais de prática profissional analisadosanteriormente, os higienistas fizeram questãode ratificar sua identidade profissional me-diante a desqualificação das demais.

Manoel José Ferreira, tinha 25 anos de ida-de e dois de formado quando da realização doevento. Durante sua carreira, Ferreira chegaraa exercer, entre outros postos de destaque, osde Diretor de Saúde Pública, Presidente do Co-mitê Executivo da Organização Pan-Americanada Saúde, professor catedrático de Higiene ePresidente do Comitê Internacional de Erradi-cação da Malária.

Ferreira (1923:415) afirmou: “No futuro, otreinamento dos médicos deve ser mais ampla-mente desenvolvido sob o ponto de vista de suasrelações com o público. A verdadeira função domédico deverá ser de evitar ao invés de curar adoença. Os seus deveres tendem cada vez mais àoficialização, no sentido que seus serviços de-

vem ser prestados à comunhão e não exclusiva-mente ao indivíduo”.

Quando os higienistas caracterizavam estetipo de identidade profissional como verdadei-ra e de futuro, parece-nos que não faziam ape-nas exercício de retórica. Estas palavras deno-tam crenças e intenções. Elas poderiam acarre-tar, como resultado, a abertura e/ou a amplia-ção dos espaços de participação dos médicosnas esferas públicas, com crescente poder, altaremuneração e incontestável prestígio que es-tavam sendo construídos com a organizaçãodo Departamento Nacional de Saúde Pública.Os higienistas dispunham e representavamseus interesses, lutando pelo monopólio de de-terminada fatia do mercado de trabalho.

Fontenelle, um dos fundadores da Socieda-de Brasileira de Higiene, chefiou os postos deprofilaxia rural, dedicando especial atenção aocombate à tuberculose. Durante o Congresso,defendeu a criação de uma “Escola de Higiene eSaúde Pública”. Neste sentido, Fontenelle (1923:551) afirmou: “A atividade de higiene públicaexige, hoje em dia, profissionais inteiramenteespecializados, (...) Impõe-se, pois, entre nós, acriação de uma Escola de Higiene e Saúde Pú-blica, onde profissionais especializados, do paísou de fora, possam formar os técnicos indispen-sáveis à vasta organização sanitária que neces-sitamos para todo o Brasil”. Sua pretensão era,portanto, obter amparo legal para a exclusivi-dade dessa fatia de mercado.

Ao defender esta proposta, os higienistasestavam lutando pela sofisticação de sua for-mação e de seu conhecimento, estratégias niti-damente destinadas a ampliar seu prestígio epoder junto aos clientes, à sociedade e ao Esta-do. Cabe ressaltar que todos os defensores doperfil higienista atuavam, em 1922, em algumainstância de poder público vinculada à gestãodos serviços de profilaxia, educação ou açãohigiênica.

No processo de afirmação profissional, osmédicos identificados com o perfil generalistaforam capazes de propor ao Estado os limitesda gratuidade no atendimento nosocomial, jáque o atendimento residencial estava restritoàs pessoas com alto poder aquisitivo. Com estalimitação pretendiam garantir que semelhanteclientela não se sentisse atraída por estabeleci-mentos públicos e continuasse a privilegiar oatendimento nos consultórios e clínicas parti-culares.

As vítimas, no processo de afirmação da ló-gica de identidade dos especialistas, foram oscurandeiros, portadores de terapêutica siste-maticamente desqualificada por não se enqua-drar nos parâmetros da ciência alopática ofi-

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cial estabelecida. No processo de afirmaçãodos higienistas, os inimigos foram os generalis-tas e os especialistas, profissionais que viviamda clínica exercida em consultório particular,portanto, da medicina curativa, e que resistiamem fazer a denominada “notificação compul-sória”.

De acordo com o que determinava o recen-te regulamento do Departamento Nacional deSaúde Pública, promulgado em 1920, todos osmédicos deveriam notificar esta instituição lo-go que identificassem um paciente portador deuma das moléstias contagiosas consignadas nalei. Feita a notificação, o paciente poderia per-der seu emprego e até, em caso de isolamento,o contato com a família. O período e a modali-dade de isolamento variavam de acordo com aenfermidade. A readmissão às atividades ordi-nárias de trabalho estava condicionada à auto-rização formulada pelas autoridades sanitárias.

A notificação compulsória interferia, por-tanto, na autonomia do trabalho médico, poisobrigava o médico a adotar determinada con-duta independente de sua vontade. Caso con-trário estaria sujeito a uma série de sanções,multas e, inclusive, à suspensão temporária dodireito ao exercício profissional.

Além disso, a notificação compulsória redi-mensionava o segredo profissional, afetando ocerne da relação médico-paciente baseada, se-gundo o Juramento Hipocrático, em sua invio-labilidade. O médico, durante consulta indivi-dual e privada, poderia identificar um pacientecomo portador de certa doença contagiosa se aanamnese não fosse ligeira e se a relação fossede confiança. Na consulta o paciente ofereceelementos íntimos que permitem o diagnósti-co mais preciso. Obtido nessas condições, odiagnóstico pertence ao domínio do segredoprofissional.

Ferir ou não a liberdade individual. Esta erauma das razões que justificavam a resistênciados generalistas e especialistas em relação aopleno cumprimento da notificação compulsó-ria. Para a mentalidade liberal predominantenas demais identidades médicas, nenhuma de-terminação legal que interferisse na autono-mia do exercício da atividade seria bem-vinda.

Por sua vez, o sucesso do conjunto de me-didas de caráter higiênico dependia da notifi-cação. A partir dela, os programas do Departa-mento Nacional de Saúde Pública poderiamser planejados e implementados. Passados doisanos da promulgação do Regulamento, os mé-dicos clínicos curativos continuavam deixandode notificar. Ao menos, esta era a queixa de to-dos os relatores que se posicionaram a este res-peito.

Henrique Autran chefiava, em 1922, o Ser-viço de Propaganda e Educação Sanitária doDepartamento Nacional de Saúde Pública. Pa-ra Autran (1923:265), “a notificação da moléstiaà autoridade sanitária representa, (...) umacondição indispensável à eficiência do serviçode saúde pública”. A preocupação dos higienis-tas concentrava-se mais na eficiência do siste-ma do que na liberdade individual do médico esua possível contradição com os princípios hi-pocráticos.

Criticando os que argumentavam que a no-tificação compulsória feria o segredo profissio-nal, Autran (1923:269) ainda afirmou: “A esseargumento se opõem as exigências dos altosprincípios sociais, o interesse coletivo da socie-dade, motivos mais que suficientes para obrigaro médico a vencer estes preconceitos e a cumprirseu dever moral e legal, qual seja, influenciar,com a notificação do doente, para que seja efi-ciente a ação de uma campanha, cujo fim éprestar à população serviços inestimáveis sendocomo é seu escopo fazer a profilaxia de umadoença que, sobre acarretar muitos prejuízos so-ciais, eleva grandemente o coeficiente de morta-lidade”.

A retórica do interesse coletivo, nesse caso,assume peso e ocupa seu lugar. O interesse in-dividual do médico em relação a seu pacientepassa a exercer papel secundário. HenriqueAutran queria convencer o conjunto da catego-ria de que a notificação contribuiria para a efi-ciência do sistema e para a diminuição da mor-tandade.

Como vimos, a notificação compulsória po-deria ser utilizada como instrumento de delação,com graves conseqüências para a vida e para otrabalho do cidadão portador de alguma den-tre essas moléstias. A notificação poderia tam-bém interferir na liberdade individual do mé-dico. Contudo, para muitos relatores, o poderde polícia que esta determinação legal repre-senta para a vida do cidadão e do profissionalnão só deveria ser cumprido como ampliado.

Por que razão o médico não revela seu se-gredo ao Estado? Para não ser prejudicado, per-dendo um elemento de sua clientela. Ao oficiarà Saúde Pública que seu paciente era portadorde uma das vinte doenças notificáveis, o médi-co tanto infringia um princípio integrante doJuramento Hipocrático quanto descumpria oartigo 192 do Código Penal, que consideravacrime revelar a qualquer pessoa um segredo ob-tido no exercício da profissão. Do ponto de vis-ta estritamente jurídico, a controvérsia era por-tanto muito grande.

Os médicos generalistas e especialistas, in-seridos de forma liberal no mercado de traba-

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lho dependiam de seus pacientes para seu sus-tento e sobrevivência. Se fizessem a notificaçãocompulsória, corriam o risco de perder a con-fiança que os pacientes neles depositavam.

Se arrolarmos os cargos na área da SaúdePública ocupados pelos relatores que insisti-ram na implementação da notificação compul-sória em 1922, poderemos constatar, sem difi-culdade, que estes ocupavam funções de des-taque e de poder na gestão dos serviços de saú-de pública na década de 20. Os higienista sus-tentaram coerentemente os interesse subja-centes a este perfil de identidade profissional,exigindo que a notificação compulsória fosseimplementada, a despeito dos interesses parti-culares dos médicos clínicos.

Os médicos higienistas afirmaram sua i-dentidade por meio da desqualificação das de-mais. Além disso partiram para a luta contra osmédicos clínicos (generalistas e especialistas)que insistiam em não fazer a notificação com-pulsória.

Para encerrar este artigo gostaríamos de fa-zer alguns comentários de natureza teórica emetodológica. Nosso objetivo é apresentar su-gestões possíveis de serem aproveitadas em es-tudos históricos que façam da profissão seu o-bjeto preferencial de análise.

No nosso entender, o conceito de profissão,do ponto de vista sociológico, é válido enquan-to unidade analítica, se forem levadas em contaas heterogeneidades históricas que o consti-tuem.

Lutar pelo monopólio do conhecimento e daprática, garantir elevados índices de prestígio eremuneração, instituir padrões de comporta-mento em sua relação entre pares, com a socie-dade e com os concorrentes, além de criar me-canismos de persuasão e de coerção que levemo cliente a sujeitar-se a sua autoridade cultu-ral, representam algumas das estratégias pró-

prias às profissões, encaradas do ponto de vistada tradição sociológica, para assegurar suaexistência. Estes atributos distinguem sociolo-gicamente as profissões das ocupações no mun-do do trabalho. Tais atributos devem ser inseri-dos historicamente nas respectivas conjuntu-ras em que estiverem.

Esta análise histórica deve acompanharduas dimensões. Por um lado deve ser levadaem conta a conjuntura histórica mais geral pe-la qual passa a sociedade em que a profissãoestá inserida. A profissão está submetida a umasérie de injunções políticas, econômicas e cul-turais mais abrangentes que não dependem desua intervenção, mas que se impõem, muitasvezes, a ela. Por outro lado, o investigador ne-cessita atribuir importância à análise da profis-são em si. Deve observar o momento históricoque a profissão passa em termos de conquistae de preservação do monopólio do conheci-mento. Além disso é preciso enfatizar a histori-cidade das controvérsias entre identidadesprofissionais distintas ou concorrentes dentrode mesma configuração profissional.

Neste artigo, analisamos a profissão médi-ca, no Brasil, no início do século XX. Naquelecontexto histórico, ela estava submetida à cres-cente presença do Estado que interferia nomercado de trabalho médico ao promover o as-salariamento. Esta tendência política mais ge-ral não dependia da intervenção da profissão;pelo contrário, a ela se impunha. No mesmomomento, a profissão médica, em si, passavapor crescente processo de especialização e deintrodução da racionalidade própria da preci-são técnica. As controvérsias entre identidadesprofissionais distintas ou concorrentes eviden-ciaram-se de forma contundente, mas histori-camente constituídas. Caso o momento fossediferente, outras polêmicas, tensões e hetero-geneidades seriam configuradas.

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