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Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.3-N.1-Jul./Ago. 2010.

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PERCEPÇÃO DO ENFERMEIRO SOBRE SEU PAPEL NO EXERCÍCIO DA LIDERANÇA

PERCEPTION OF THE NURSE ON HIS PAPER IN THE SERVICE OF THE LEADERSHIP

Edilânia Donizete da Luz Discente de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - UnilesteMG. Rosângela Ferreira da Silva Discente de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - UnilesteMG. Solange de Andrade Avelar Enfermeira Mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade (UFV-UNEC). Especialista em Enfermagem do trabalho. Especialista em Gestão de Serviço da Saúde – (União Social Camiliana – CEDAS) – Graduada em Enfermagem e Obstetrícia (UFJF). Docente do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - UnilesteMG. RESUMO Este artigo tem como objetivo conhecer a percepção do enfermeiro sobre seu papel no exercício da liderança, visando identificar seu entendimento ao definir a diferença entre autoridade e poder, e a distinção entre gerenciar e liderar. Trata-se de uma pesquisa qualitativa. Participaram desta pesquisa 16 enfermeiros de três hospitais, localizados nas cidades de Ipatinga, Coronel Fabriciano e Timóteo, na região do Vale do Aço. Para alcançar os objetivos desse estudo, os dados foram coletados mediante questionário semi-estruturado, aplicado no mês de setembro de 2008. A partir dos resultados encontrados, percebeu-se um perfil de profissionais jovens, com tempo de formação inferior a cinco anos. Ao analisar as respostas, identificou-se que seis enfermeiros não se consideram líderes devido ao seu curto tempo de experiência profissional e por julgarem que necessitam estudar mais. Os participantes apresentaram uma dissonância ao distinguir a diferença entre autoridade e poder, podendo este fato levá-los a agir com poder pensando estar exercendo autoridade.

PALAVRAS-CHAVE: Percepção. Liderança. Enfermagem. ABSTRACT This article has the purpose of knowing the perception of the nurses about their role on leadership, trying to identify their comprehension in the definition of the differences between authority and power, and the distinction between managing and leading. This is a qualitative research. Sixteen nurses, of three hospitals (located in the cities of Ipatinga, Coronel Fabriciano and Timóteo, in the region of Vale do Aço) participated in this survey. To achieve the goals of this study, data were collected by a semi-structured questionnaire, implemented in September 2008. From the results, we find a profile of young professionals, with less than five years of graduation. Analyzing the responses, it appears that six nurses do not consider their self like leaders because of their time of experience, and because they consider that they need to study more. The participants showed a dissonance in the distinction about authority and power. This fact may lead them to act with power, while they think that they are exercising the authority. KEY WORDS: Perception. Leadership. Nursing.

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INTRODUÇÃO Desde meados do século XIX a liderança era caracterizada como

autocrática e autoritária. Nesta concepção, os líderes eram, na verdade, chefes, existindo uma relação distante com seus subordinados, dos quais era exigida alta produtividade no desempenho de trabalhos em série (ROSSETTO; BRANDALIZE, s.d).

Dentre os grandes líderes, bons e maus, que marcaram a história da humanidade, pode-se referenciar a vida de Cristo, que segundo Cury, (1999) foi e continua sendo um grande modelo de liderança, ao contrário de Hitler, um ditador alemão que exerceu o poder e o medo para conduzir uma nação.

Abordando a história da Enfermagem, tem-se como referencial a enfermeira inglesa Florence Nigthtingale, a precursora que fundamentou o exercício da Enfermagem, atuando na Guerra da Criméia, em 1854, e introduziu medidas inovadoras, melhorando a assistência à saúde, conforme Trevizan (1988 apud SPAGNOL, 2002). Florence esteve junto com sua equipe, utilizou uma lâmpada como guia na busca de feridos da guerra, em meio a destroços, sendo um grande exemplo de liderança para a Enfermagem.

Liderar é ter habilidade de influenciar pessoas a trabalharem entusiasticamente, visando atingir objetivos comuns, inspirando confiança por meio da força do caráter. É estabelecer influência positiva, incentivando pessoas a serem o melhor que elas podem ser, a desenvolver todo seu potencial. Para tanto, um líder necessita desenvolver algumas habilidades essenciais, para obter colaboração da equipe e sucesso nas propostas estabelecidas. Saber ouvir é uma das habilidades mais importantes que um líder pode apresentar (HUNTER, 2004, 2006).

Hunter (2004) afirma que não se gerencia pessoas, seres humanos podem ser liderados e não gerenciados. Relata que pode-se gerenciar recursos, finanças, negócios e até a si mesmo, sem contudo poder exercer o gerenciamento de outra pessoa. Gerenciar está relacionado à resolução de problemas, na busca de estratégias para alcançar as metas propostas.

O poder se baseia no medo, e é algo que impõe sobre o outro aquilo que achamos ser o “certo”, fazendo com que uma tarefa seja executada em um determinado tempo, sem dar ao outro liberdade de escolha. Poder é a faculdade de forçar ou coagir alguém a fazer sua vontade, por causa de sua posição ou força, mesmo que a pessoa prefira não o fazer (HUNTER, 2004).

Este tipo de poder em uma liderança hospitalar pode se tornar negativo, pois lidera-se uma equipe que trabalha diretamente com seres humanos debilitados, que precisam de atenção e de uma assistência humanizada. Segundo Hunter (2006), o líder nunca usa só de poder, força ou coage alguém a segui-lo.

Para obter bons resultados com sua equipe, o líder deve primeiro conquistar e ser exemplo, exercendo sua autoridade. “Toda autoridade precisa ser conquistada antes de exercida” (HESSELBEIN et al, 1998).

Há necessidade de não se perder o equilíbrio. O líder que não estiver cumprindo as tarefas e só se preocupar com o relacionamento não terá sua liderança assegurada. A chave para a liderança é executar as tarefas enquanto se constroem os relacionamentos (HUNTER, 2006).

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Kouzes e Posner (1997) definem as cinco regras básicas de uma liderança exemplar. A primeira é desafiar o estabelecido, inovar para alcançar melhorias. Os líderes precisam ser criativos, pioneiros, almejarem penetrar no desconhecido. Seguindo, descrevem que a liderança deve inspirar uma visão compartilhada, ou seja, acreditar no sonho, confiar na sua concretização, considerar o sonho ou a visão sendo a força que inventa o futuro. Ao encontro desse contexto, pode-se referir a Swindoll (1992), que aborda as características essenciais que impressionam na liderança. O autor afirma que a primeira delas é a visão, a habilidade de ver acima e além da maioria, expandindo os limites das circunstâncias adversas e das estatísticas, permanecendo firme diante dos obstáculos, chamados de impossibilidades, restrições e dificuldades.

A terceira regra básica da liderança exemplar, definida por Kouzes e Posner (1997), é capacitar as pessoas para a ação, valorizar o trabalho em equipe, ter um relacionamento fundamentado na credibilidade e na confiança. Seguindo para a quarta regra, os autores descrevem que um líder deve apontar caminhos, fazendo isso pelo exemplo pessoal e pela dedicada execução de suas tarefas. Desse modo, constroem o compromisso partindo de simples ações diárias, gerando progresso e impulso na equipe. Suas atitudes são mais importantes que suas palavras e devem ser coerentes com as mesmas.

Hunter (2006), ao estudar os grandes líderes de todas as áreas, dentre elas a religiosa, a política e a militar, afirma que Jesus é o maior líder de todos os tempos. Relata que no livro de Mateus, no Novo Testamento da Bíblia, Jesus declara algo que é fundamental e definitivo sobre a liderança: que para liderar, dever-se primeiro servir. Se alguém quiser influenciar as pessoas e liderá-las, deve servir, sacrificar-se e procurar o bem maior de seus liderados. O líder servidor não está preso a status ou títulos, fato que o aproxima de seus seguidores, que poderão tê-lo com referência ao buscar direções e metas para suas vidas.

Assim, o líder servidor é o líder do futuro. É aquele capaz de proporcionar esperança, em vez de desespero e medo. A liderança servidora vê nas diferenças a riqueza da diversidade, valorizando a participação de cada um para a construção de um todo, favorecendo a interatividade da equipe, onde todos os membros possam crescer aprender e desenvolver todo seu potencial também no ambiente no qual trabalham (HESSELBEIN et al,1998).

A quinta e última regra básica de uma liderança exemplar, apontada por Kouzes e Posner (1997), é encorajar o coração, ou seja, estimular a perseverança de seus seguidores no caminho para o ápice. Compete também ao líder mostrar às pessoas que elas podem chegar à vitória, alcançar os objetivos traçados. O encorajamento é a relação que os líderes estabelecem entre o reconhecimento, a recompensa, o esforço e o desempenho da equipe.

Retornando às características essenciais que impressionam, descritas por Swindoll (1992), pode-se ressaltar, dentre as mesmas, a prestação de contas. Contextualizando-a à liderança, significa estar aberto para ser questionado, apreciado ou aconselhado, enfim, estar disposto a receber sugestões e críticas. O autor relata que, para tanto, a pessoa deve dispor das seguintes qualidades: a vulnerabilidade, que é a capacidade de suportar mágoas e a disposição para assumir as próprias falhas; a vivacidade, que significa aprender, ouvir e reagir frente à reprovação e aos conflitos. A terceira

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virtude é a disponibilidade, que se refere ao efeito de se ser acessível e responder positivamente às interpelações. A quarta e última característica é a honestidade, ou seja, estar pronto para admitir a verdade, sendo fiel à mesma. Para Hunter (2006), liderança exige honestidade e integridade, sendo as mesmas características indispensáveis a um líder que almeja construir uma relação de respeito e confiança com os seus colaboradores.

Assim, diante do exposto, a presente pesquisa pretende alcançar respostas para o seguinte questionamento: quais dificuldades os enfermeiros enfrentam quando exercem a liderança?

No que se refere à importância da pesquisa para a Enfermagem, principalmente para o enfermeiro-líder, foram traçados os seguintes objetivos: Conhecer a percepção do enfermeiro sobre seu papel como líder e Identificar as dificuldades enfrentadas pelo enfermeiro no exercício da liderança.

O presente trabalho foi idealizado a partir do interesse das pesquisadoras de conhecer as dificuldades e desafios que os enfermeiros enfrentam no exercício de liderar uma equipe, e identificar a percepção desse profissional sobre seu papel de líder. Este artigo visa cooperar com a Enfermagem, uma vez que, apresentados tais fatores, possa haver mudanças e iniciativas para o desempenho de atividades de assistência e liderança cada vez mais humanizadas. METODOLOGIA

Para viabilizar o alcance dos objetivos propostos neste estudo, seguiu-

se a metodologia de pesquisa qualitativa. A pesquisa qualitativa oferece a possibilidade de se compreender um fenômeno, podendo-se identificar e investigar a natureza do mesmo, considerando também os fatores que são relacionados com a sua complexidade (POLIT; BECK; HUNGLER, 2004).

A população analisada foram os enfermeiros atuantes em três instituições hospitalares públicas e privadas, situadas nas cidades de Timóteo, Ipatinga e Coronel Fabriciano, na região do Vale do Aço que totalizavam 23 profissionais. Fizeram parte da amostra 16 enfermeiros que se dispôs a participar do estudo.

A coleta de dados foi realizada no mês de setembro de 2008, por meio de um questionário semi-estruturado. Foi realizado um teste piloto com cinco professores enfermeiros do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais. A média de tempo gasto para se responder cada questionário foi de, aproximadamente, 20 minutos.

O questionário foi aplicado no turno de trabalho dos participantes. Posteriormente, o material apreendido foi submetido aos procedimentos de análise. As respostas dadas a uma mesma pergunta foram classificadas por temas, resultando na listagem das principais informações contidas nos questionários.

A abordagem dos participantes ocorreu mediante autorização prévia das instituições envolvidas. Após contato com os enfermeiros, questionou-se o interesse de participação no estudo, seguido do esclarecimento dos propósitos do trabalho e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Pedimos permissão, também, para trabalhar com dados que fossem obtidos através dos questionários, mantendo o respeito às informações e sigilo dos

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sujeitos, preservando o anonimato destes, respeitando a Resolução do Conselho Nacional de Saúde n. 196, de 10/10/96.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise dos dados permite verificar que na região do Vale do Aço o

número de enfermeiros jovens e recém-formados vem se destacando, como mostra abaixo a (TAB. 1).

TABELA 1 Classificação dos participantes quanto ao gênero, idade e tempo de formação. Instituição A Instituição B Instituição C

Gênero Feminino Masculino Faixa etária 20 – 25 anos 25 – 30 anos 30 – 40 anos Tempo de Formação Menos de 2 anos Entre 2 e 3 anos Entre 3 e 5 anos

3 3 2 2 1 3 2 1

3 2

1 2 2

3 2 0

5 0 2 2 1 4 0 1

Dos enfermeiros participantes, 11 são do sexo feminino e cinco são do sexo masculino. Cinco componentes da amostra encontram-se na faixa etária de 20 a 25 anos. Seis deles têm idade entre 25 e 30 anos e quatro entre 30 e 40 anos. Em relação ao tempo de formação, 10 enfermeiros concluíram a graduação há menos de dois anos, quatro participantes têm entre dois e três anos de graduação, e dois enfermeiros apresentam de três a cinco anos de formação. Mediante a análise, percebe-se um perfil de profissionais jovens, com pouco tempo de formação, e já inseridos no mercado de trabalho.

Buscando a percepção dos enfermeiros referente ao conceito de autoridade e de poder, foi encontrado o exposto nas (TAB. 2) e (TAB. 3).

TABELA 2 Conceito de autoridade. RESPOSTAS OCORRÊNCIA %

É a faculdade de forçar ou coagir alguém a fazer sua vontade, por causa de sua posição ou força, mesmo que a pessoa prefira não o fazer. É o exercício do poder. Habilidade de levar as pessoas a fazerem de boa vontade o que você quer por causa de sua influência pessoal.

Total

2

1

13

16

12,5%

6,25%

81,25%

100%

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De acordo com os dados da TAB. 2, no universo de 16 enfermeiros, 13

conceituaram autoridade adequadamente, conforme a definição de Hunter (2004, 2006).

Estes dados demonstram que os enfermeiros entrevistados reconhecem e diferenciam adequadamente o referido conceito.

TABELA 3 Conceito de poder RESPOSTAS OCORRÊNCIA %

É a habilidade de tomar decisões e gerenciar uma equipe. É a faculdade de forçar ou coagir alguém a fazer sua vontade, por causa posição ou força, mesmo que a pessoa prefira não o fazer. Habilidade de levar as pessoas a fazerem de boa vontade o que você quer por causa de sua influência pessoal. Total

6

4

6

16

37,5%

25%

37,5%

100%

De acordo com a TAB. 3, 12 participantes assinalaram inadequadamente a opção que conceitua poder, somente 4 enfermeiros fizeram a opção correta, considerando os pressupostos de Hunter (2004, 2006).

Ao ser realizada uma análise específica, e correlacionando os dados obtidos nos questionários, observou-se que os mesmos que conceituaram adequadamente o conceito de autoridade, não obtiveram o mesmo êxito na definição do poder. É válido ressaltar que desses 13, cinco aplicaram o conceito de autoridade também para poder, não fazendo a distinção entre ambos.

Somente dois enfermeiros, conceituaram adequadamente tanto a autoridade como o poder, considerando a particularidade de cada um. Sendo assim nos deparamos com uma contradição de conceitos no qual se percebe uma dificuldade dos profissionais diferenciarem os termos autoridade e poder, apesar de obterem os conceitos em sua formação profissional.

Quando questionados quanto a diferença entre gerenciar e liderar nos deparamos com os resultados apresentados na (TAB.4).

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TABELA 4 Diferença entre gerenciar e liderar. RESPOSTAS OCORRÊNCIA %

Gerenciar Relacionado ao setor, serviço; gerência de papéis e materiais. Responsabilizar-se pela equipe, comandar. Processo fragmentado, separado da liderança. Resolução de problemas. Liderar Motivar, tornar-se referência. Exprimir confiança dentro de uma equipe. Assumir posição de autoridade, influenciar e gerenciar pessoas. Total

3 2 3 1 2 2 3

16

18,75% 12,5%

18,75% 6,25%

12,5%

12,5%

18,75%

100%

Quando indagados sobre a diferença entre gerenciar e liderar, observou–se que oito dos 16 enfermeiros apresentaram a percepção que liderar e gerenciar são habilidades distintas, conforme relatos abaixo.

“GERENCIAR - relacionado ao setor, ao serviço; LIDERAR - voltado para o gerenciamento de pessoas, para que estas facilitem o gerenciamento do serviço.” (E1).

“Uma pessoa pode exercer o papel de líder sem necessariamente ter o papel de gerente.” (E9).

“LIDERAR: é motivar, é se tornar espelho, referência. GERENCIAR: não

se gerenciam pessoas e sim papéis.” (E13). As frases a seguir revelam que oito participantes afirmam não existir

diferença entre gerenciar e liderar. “Não. No meu ponto de vista, para gerenciar uma equipe é necessário

ser um bom líder.” (E1). “Não, pois os dois devem seguir juntos para conseguir um bom trabalho

com os funcionários e instituição onde trabalhamos.” (E14). Na TAB. 5 estão expressas as maiores dificuldades encontradas pelos

enfermeiros no exercício da liderança, é preciso considerar que os participantes puderam citar mais de uma dificuldade nessa resposta.

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TABELA 5 Maiores dificuldades encontradas no exercício da liderança. DIFICULDADES OCORRÊNCIA

Compreensão dos funcionários. Delegação de tarefas. Demonstrar autoridade com equipe “rebelde e resistente”. Resistência da equipe quanto às mudanças. Relacionamento com funcionários. Relacionamento, influência com o corpo gerente/ administrativo. Pouco conhecimento prévio sobre liderança. Total

3 3 2 3 3 3 1

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Os relatos abaixo expressam as considerações dos enfermeiros.

“Mostra-se autoridade diante de uma equipe resistente e rebelde. (...)”

(E8). “Lidar com pessoas influentes (sócios) na instituição; - Trabalhar com

diferentes perfis profissionais e pessoais sendo justo com ambos. – Ter um conhecimento prévio de liderança insuficiente para lidar com as situações. (E9)

“(...) é trabalhar em cima de deficiências apresentadas pelo funcionário

antigo da instituição este, que possui vícios às vezes sendo resistente à mudanças...” (E11)

“Ter que exigir do funcionário a execução de um procedimento pelo qual

ele tem a função de executá-lo em seu cotidiano. – Fazer que um funcionário entenda que o meu pedido é para o bem estar do paciente e não para mim.” (E12).

“(...) tentar mudar algo para que melhore o desempenho no serviço e encontrar alguém que não está disposto a mudanças e você ter que trabalhar com ela mesmo ela não querendo mudanças....”(E14).

Pelo exposto na tabela acima, associado a extração das descrições expostas pelos pesquisados foi possível abstrair dos enfermeiros as considerações que dificultam o exercício da liderança. Os participantes expuseram suas opiniões, não ocorrendo relevância de uma dificuldade sobre a outra. Observa-se, contudo, que as cinco primeiras dificuldades presentes na TAB. 5 são referentes ao relacionamento interpessoal e/ou relativo aos conflitos dispostos pelo mesmo. Nota-se que somente um enfermeiro cita como dificuldade o fato de possuir reduzido conhecimento prévio quanto à liderança. Este achado é dissonante frente ao exposto na TAB. 4, onde oito dos 16 enfermeiros afirmam não haver distinção entre gerenciar e liderar; isso sugere que os mesmos não tem conhecimento prévio quanto à liderança.

Os enfermeiros das Instituições privadas relataram que suas maiores dificuldades são concernentes da relação entre os sócios e o corpo gerente/ administrativo. Já os profissionais que trabalham na rede pública referenciam como dificuldade o relacionamento com a equipe.

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Ao serem indagados a respeito de se considerarem líderes ou não, os enfermeiros tiveram a oportunidade de apresentar mais de uma justificativa, conforme a (TAB. 6).

TABELA 6 Você se considera um líder? Por quê? RESPOSTAS OCORRÊNCIA Consideram-se

Equipe e setor sobre sua responsabilidade. Solução de problemas, bom desempenho do trabalho. Delegação de tarefas, capacidade de comandar e gerenciar uma equipe. Ter respeito sem impor medo. Ter autoridade e poder. Não se consideram

Tenho muito que aprender com a vivência e a prática. Necessidade de estudar mais, aprender mais. Aprender a liderar todos os dias.

2 2 5 2 1 4 2 3

Nove participantes se consideram líderes. Houve predominância da

justificativa que apresenta a capacidade de gerenciar e/ou comandar uma equipe, como também a delegação de tarefas como fatores associados a um líder. É importante observar que os enfermeiros exploram habilidades incutidas ao exercício de gerenciamento, conforme relatos abaixo:

“(...) tenho capacidade de comandar uma equipe...” (E5).

“(...) consigo gerenciar minha equipe...” (E15).

Destacou-se, entre seis participantes que não se consideram líderes, a justificativa de que para desenvolver a habilidade da liderança é necessário um exercício diário, constante, uma vez que a mesma é construída com a vivência.

“(...) ainda há muito que aprender, na prática, na vivência, na teoria...” (E2).

“(...) tenho muito que aprender e vivenciar...” (E3).

“(...) um líder deve ter muitas faculdades que somente em um tempo longo de estudo e experiência podem se desenvolver por completo.” (E9).

Observam-se nas justificativas apresentadas pelos participantes, relatos

sobre o que seria necessário para desenvolverem essa habilidade. As características citadas pelos participantes são diferentes do sugerido por Kouzes e Posner (1997), como características essenciais para desempenhar uma liderança exemplar. CONCLUSÃO

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Ter a percepção de seu papel na liderança é fundamental para que o enfermeiro busque desenvolver no cotidiano a habilidade de ser líder. Porém, vale ressaltar que considerar-se líder, não é sinônimo de liderar efetivamente. Essa afirmação pode ser comprovada quando os enfermeiros, ao serem indagados sobre o porquê de se considerarem líderes ou não, apontaram predominantemente que são pelo fato de comandarem e gerenciarem uma equipe. Tais constatações, pelas próprias atividades, remetem às responsabilidades de gerência.

Entre os enfermeiros que não se consideram líderes, observou-se maior coerência, pois os mesmos mencionam a necessidade de conquistar, pela vivência e pela prática, a habilidade da liderança. Essa percepção pode favorecer um relacionamento no qual os enfermeiros estejam receptivos ao diálogo e à diversidade de opiniões, desenvolvendo uma característica essencial no exercício da liderança, que é o saber ouvir.

A pesquisa contemplou os interesses das pesquisadoras, possibilitando a reflexão de que as dificuldades expostas por alguns enfermeiros podem ser decorrentes do fato de os mesmos não terem clareza em distinguir o ato de gerenciar do exercício da liderança, como também a diferença entre a habilidade de ter autoridade no liderar uma equipe do fato de usar de poder para coagir e impor suas ordenanças. REFERÊNCIAS

CNS. CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Resolução n. 196, de 10 de outubro de 1996. Dispõe sobre pesquisa com seres humanos. Ministério da saúde. Plenário do Conselho Nacional de Saúde. Disponível em: < http://www.sbhh.com.br/pdf/etica/PesqSeresHumanos.pdf>. Acesso em: 8 abr. 2008. CURY, A. J. Análise da inteligência de Cristo: o Mestre dos Mestres. São Paulo: Academia de Inteligência, 1999. HESSELBEIN, F. et al. O líder do futuro: visões, estratégias e práticas para uma nova era. 6. ed. São Paulo: Futura, 1998. HUNTER, J. C. Como se Tornar Um Líder Servidor: Rio de Janeiro: Sextante, 2006. HUNTER, J. C. O Monge e o Executivo: Rio de Janeiro: Sextante, 2004. KOUZES, J. M.; POSNER, Barry Z. O desafio da liderança. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1997. POLIT, D. F.; BECK, C. T.; HUNGLER, B. P. Fundamentos de pesquisa em enfermagem: métodos, avaliação e utilização. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. ROSSETTO L.G.; BRANDALIZE A. O papel do enfermeiro. [S. L], p 1-13, s.d.

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SPAGNOL, C. A. Da Gerência Clássica à Gerência Contemporânea: Compreendendo Novos Conceitos Para Subsidiar a Prática Administrativa da Enfermagem. Revista Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre, v. 23, n. 1, p.114-131, jan. 2002. Disponível em: < http://www6.ufrgs.br/seer/ojs/index.php/RevistaGauchade Enfermagem/article/viewFile/4405/2342 >.Acesso em: 02 ago. 2008 SWINDOLL, C. Como viver acima da mediocridade. Florida: Vida, 1992.