PERCEPÇÃO E CONSCIÊNCIA - A Luz Vem do Oriente
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PERCEPÇÃO E CONSCIÊNCIA
José Prudêncio Pinto de Sá – M. I.
O ser humano é dotado de um cérebro funcionalmente
complexo, cujas funções não totalmente foram desvendadas pela
ciência e cujas habilidades e capacidade ainda são
razoavelmente desconhecidas. Admitido como um intermediário
entre o ser consciente e superior, dotado de alma e espírito
(nous), e o corpo físico a que serve, o cérebro se vale de
sensores externos para obter informações sobre o meio físico em
que o corpo vive, armazenando-as e interpretando-as de acordo
com o seu aprendizado anterior e progressivo. Poder-se-ia dizer
que o cérebro, à semelhança dos computadores, está quase
vazio, ao nascer, nutrindo-se de informações, conhecimento e
sabedoria à medida que a vida passa.
Diz-se que, sendo inteligente, o ser humano usa seu
cérebro para construir novas concepções, a partir das idéias
arquivadas em sua memória e dos influxos indutivos
provenientes de seu eu superior. Assim sendo, ele tem
consciência do significado dos acontecimentos vividos ou
observados pelos sensores e avaliados pela mente racional,
perquiridora e pelo eu interior supra físico. Cumpre, aqui, então,
distinguir entre o que se entende por percepção e o que quer
dizer consciência, pois são fases distintas do processo de
formação do pensamento humano, a percepção sendo condição
principal para a formação da consciência.
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Perceber é adquirir conhecimento de que um fato ocorreu,
por meio do uso dos sentidos e pela indução subjetiva. O fato
pode ser, simplesmente, o deslocamento de um animal pela
planície ou, mais complexo, a devastação que um terremoto
tenha causado numa certa região. Costumamos dizer que
tomamos consciência dessas ocorrências pelos simples fato de
que os lemos no jornal ou vimos suas imagens pela televisão.
Talvez as duas coisas. Na verdade, queremos dizer que tomamos
conhecimento dos fatos, mas não cabe afirmar que temos deles
consciência, pois ainda falta uma etapa importante na sua
aquisição. Não devemos, portanto, confundir conhecimento com
percepção, esta pressupondo aquele, mas ainda dependendo de
outros fenômenos para existir.
Ao percebermos, utilizamos os sensores objetivos (audição,
tato etc.) para fazer os registros físicos relacionados com o
objeto, e os perceptores subjetivos (provenientes do eu interior)
que associam, ao registro inicial, valores agregados, que vão
permitir uma apreciação final mais completa (como a dor dos
habitantes no local da tragédia, ou a preocupação de
autoridades envolvidas). Assim, a percepção – função complexa
da mente objetiva e subjetiva – fornece um conhecimento
bastante completo do fato percebido, fazendo-nos emitir juízo de
valor sobre ele. No entanto, não nos envolvemos
completamente, pois o fato ainda é externo ao ser, ou seja, ele
não nos pertence inteiramente nem nós dele somos parte
integrante.
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Quando um conhecimento anteriormente adquirido
interfere decisivamente na nossa tomada de posição, na
formação de um juízo de valor relacionado com o que faremos a
seguir ou com a atitude que vamos tomar, dizemos que
formamos consciência dele. Dizendo de outro modo, temos
consciência daquilo que, por qualquer meio, nos envolve como
indivíduos e nos inclui como participantes de um evento, ainda
que passivamente. A consciência vem, assim, depois da
percepção, na ordem dos acontecimentos, podendo ser imediata
ou posterior a estes.
Quando temos consciência imediata, participamos de
acontecimentos que evoluem logo após, como, por exemplo, nas
situações de perigo ou de emergência. Percebemos, avaliamos,
agimos e, assim, temos consciência de todo o alcance daquilo
que nos envolveu. A consciência imediata pode ser confundida,
aqui, com a percepção, pois se dá logo depois desta, em termos
temporais.
Viajando, certa vez, com a família, após uma curva da
estrada deparei-me com dois caminhões que desciam em nossa
direção, com velocidade, sendo impossível que pudessem parar
ou desviarem-se de nós. Percebendo a inevitabilidade do choque,
dei uma guinada com o carro, fazendo-o ir, abruptamente, para o
acostamento, freiando-o, a seguir, até que parasse. Os
caminhões, ainda emparelhados, passaram, ruidosamente, ao
meu lado. Percebei, então, que estava tremendo dos pés à
cabeça, pela adrenalina que havia sido injetada em meu sangue.
Só então, dei-me conta do risco por que havia passado e as
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possíveis conseqüências de uma colisão. Depois de passado o
perigo, eu tive a plena consciência dele e de suas possíveis
conseqüências, ainda que a percepção do acontecimento tivesse
ocorrido muito antes, permitindo-me a reação reflexa, quase
instintiva.
Quando ocupamos posição de destaque num organismo
social – como um clube, por exemplo – nossas ações se refletem
sobre todo o organismo, fazendo-o reagir de algum modo.
Cumpre-nos, pois, antecipar as reações possíveis a cada atitude
que tomamos, a fim de que não sejamos surpreendidos por
efeitos adversos inesperados, cujos resultados podem ser
definitivos e negativos. Essa antecipação depende, em muito, da
percepção que tenhamos do meio que nos cerca (o organismo
social), das condicionantes históricas de sua existência, da nossa
individualidade, das leis e regulamentos que ordenam a
existência legal do organismo e de tudo o mais que possa
influenciar os eventos posteriores a uma tomada de decisão.
Todos os indivíduos, numa sociedade, têm o dever de ter
consciência de cada atitude ou ato que tomar ou praticar, a fim
de não se tornar inadequado para o meio circundante e, em
conseqüência, ser rejeitado ou expelido, como proteção
automática da coletividade. Sopesar cada gesto, palavra ou
ação, antecipando-lhes os resultados e as reações que se
possam produzir pode resultar numa facilidade maior de
adaptação aos ambientes em que cada um deve passar parte de
sua vida, facilitando o desenvolvimento de relacionamentos
muito melhores e embasados em confiança, reciprocidade,
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tolerância e amizade. Não basta perceber o que poderá ocorrer,
em cada caso: é necessário ter consciência do significado de
cada ocorrência para todos os envolvidos.
Na Maçonaria, desfrutamos da fraternidade decorrente de
nossa aceitação de todos os irmãos tal como eles são. Quando
ocorre uma divergência, a melhor saída é a do diálogo franco,
aberto, cordial e sincero, em que as razões possíveis sejam
confrontadas, se necessário com o arbítrio de outros irmãos, até
que um caminho conciliatório apareça, de modo a que o valor
maior - a fraternidade - seja preservado.
Ao ser admitido maçom, o novo membro da irmandade
começa a ter uma percepção cada vez mais percuciente da
Ordem, dos seus usos e costumes, das suas exigências e da sua
maneira de viver. Essa percepção progressivamente mais
completa leva o aprendiz a buscar mais conhecimentos
específicos que com ela interajam, permitindo-lhe, pouco a
pouco, integrar-se na família a que aceitou pertencer e, mais
ainda, a participar, efetiva e decididamente, nas suas atividades
as mais variadas.
Quando um irmão que ocupe um cargo administrativo ou
tenha importância histórica para a loja adota uma postura ou
toma uma iniciativa, tudo o que daí decorrer influenciará todos
os outros obreiros, fazendo-os reagir nas mais inesperadas e
inusitadas direções, com intensidade nem sempre proporcional
ao fato gerador. Isso é humano e como humanos devemos
aceitar. Por esse motivo, antes de adotar a postura ou agir,
particularmente se há notas de discordância na sua intenção, o
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maçom deve empregar toda a sua maestria na formação de uma
consciência precisa e completa das conseqüências da sua
decisão, assegurando-se de que ela é o melhor para a ordem e
para si mesmo.
Só a vivência maçônica através dos graus iniciais,
relevantemente passivos e receptivos, permite que, por meio do
estudo e da sua própria aplicação nos trabalhos que lhe são
solicitados, o Aprendiz, com a sua percepção maçônica desperta
e crescente, passe ao grau seguinte – o de Companheiro – em
que prosseguirá desenvolvendo essa consciência específica de
que a Maçonaria vai necessitar quando, completados os estudos
do grau, for, afinal, exaltado Mestre.
Fica, então, o repto: procuremos, antecipadamente, ter
consciência de tudo o que nos fará decidir, seja lá sobre o que
for, para que as decorrências e conseqüências de nossos atos e
posições não produzam efeitos negativos em nossa irmandade e
em nós mesmos. Aproveitemos cada momento na companhia
dos nossos Irmãos para enriquecermos os nossos
conhecimentos, aprimorarmos o nosso poder de percepção real e
completa dos fenômenos de toda ordem que ocorrem nas nossas
reuniões e eventos, tornando o nosso convívio cada vez mais
harmonioso e fraterno, na busca perene da paz universal.
Reflitamos sobre isso!...