PERCEPÇÃO DE RISCO ASSOCIADO A DESLIZAMENTOS … · À todos os meus amigos de curso que tornaram...

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i UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO PERCEPÇÃO DE RISCO ASSOCIADO A DESLIZAMENTOS NAS COMUNIDADES DO MORRO DA CARIOCA, MORRO DO ABEL E MORRO DO SANTO ANTÔNIO, ANGRA DOS REIS, RJ. Fernanda Teles Gullo 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

PERCEPÇÃO DE RISCO ASSOCIADO A

DESLIZAMENTOS NAS COMUNIDADES DO MORRO DA

CARIOCA, MORRO DO ABEL E MORRO DO SANTO

ANTÔNIO, ANGRA DOS REIS, RJ.

Fernanda Teles Gullo

2015

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PERCEPÇÃO DE RISCO ASSOCIADO A

DESLIZAMENTOS NAS COMUNIDADES DO MORRO

DA CARIOCA, MORRO DO ABEL E MORRO DO

SANTO ANTÔNIO, ANGRA DOS REIS, RJ.

Fernanda Teles Gullo

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Marcos Barreto de Mendonça

Rio de Janeiro

Março 2015

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PERCEPÇÃO DE RISCO ASSOCIADO A DESLIZAMENTOS NAS COMUNIDADES DO MORRO DA CARIOCA, MORRO DO ABEL E MORRO DO SANTO ANTÔNIO, ANGRA DOS REIS, RJ.

Fernanda Teles Gullo

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

Examinada por:

____________________________________________

Prof. Marcos Barreto de Mendonça, D.Sc.

_________________________________________ Prof. Ana Luiza Coelho Netto, D.Sc.

_________________________________________ Prof. Maria Cristina Moreira Alves, D.Sc.

_________________________________________ Prof. Leandro Torres Di Gregorio, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL Março de 2015

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Gullo, Fernanda Teles

Percepção de risco associado a deslizamentos nas comunidades do Morro da Carioca, Morro do Abel e Morro do Santo Antônio, Angra dos Reis, RJ./ Fernanda Teles Gullo. – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2015.

X, 196 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Marcos Barreto Mendonça.

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola

Politécnica/ Curso de Engenharia Civil, 2015.

Referencias Bibliográficas: p. 167-172.

1.Desastres 2.Deslizamentos 3. Percepção de Risco 4 Prevenção. 5.Gestão Participativa I. Mendonça, Marcos Barreto de. II. Universidade

Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso

de Engenharia Civil, III. Título.

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Cada um só vê do universo aquilo que a sua sensibilidade ou a sua maneira de ser lhe permite. O universo pode ser muito mais vasto e muito mais diferente do que aquilo que é apenas o nosso mundo.

(Agostinho da Silva)

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À minha torcida mais fiel,

meus pais, Sueli e José Carlos,

e minha irmã, Jordana.

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Agradecimentos

À minha família agradeço por todo amor, presença e incentivo em todos os

momentos – à minha amada mãe coruja Sueli, ao melhor pai que eu poderia ter

José Carlos, à minha amiga irmã Jordana e à avó Pequenina, que ainda deixa

saudades.

À todos os meus amigos de curso que tornaram essa jornada na UFRJ mais

leve e interessante, minha eterna gratidão.

Às minhas amigas Vivian Quito, Priscila Monteiro, Marina Kamino e Janeita

Reid, que eu jurei citar nesses agradecimentos. Sem vocês tudo seria mais

difícil.

Ao meu namorado Félicien, por seu incentivo e palavras de amor.

Aos meus amigos entusiastas Paula, Thiago, Lise, Gautier, Morgane, Laure,

Baby e muitos outros que eu conheci durante esses anos de UFRJ.

Ao professor e orientador Marcos Barreto de Mendonça, obrigada

imensamente pelo apoio na realização deste trabalho e por todo aprendizado

durante o curso. Levarei comigo o seu exemplo de profissional.

À todos que participaram deste trabalho de alguma forma, Priscila Sanchez,

Mariana Pinheiro, Leonardo Barbosa, Nathalia Lacerda. Vocês foram

essenciais.

Aos moradores de Angra dos Reis que gentilmente me concederam entrevista.

À Luzia Faria e ao Michael Corrêa sempre prontos a me ajudar com os

assuntos administrativos em relação ao meu curso.

Aos professores, Ana Luiza, Maria Cristina e Leandro Torres, por aceitarem

participar da banca examinadora deste TCC.

À todos aqueles que me proporcionaram infinitas oportunidades acadêmicas e

profissionais durante o curso.

À Deus e ao universo, por todas as realizações.

Muito obrigada!

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil. PERCEPÇÃO DE RISCO ASSOCIADO A DESLIZAMENTOS NAS COMUNIDADES DO MORRO DA CARIOCA, MORRO DO ABEL E MORRO DO SANTO ANTÔNIO, ANGRA DOS REIS, RJ.

Fernanda Teles Gullo

Março/2015

Orientador: Marcos Barreto de Mendonça Curso: Engenharia Civil

Os desastres associados a deslizamentos crescem em intensidade na falta de uma população resiliente, gerando consequências sociais, econômicas e ambientais. Não é desconhecido que a prevenção é a melhor forma de se antecipar ao problema e evitar novos desastres. Entretanto, sem um diagnóstico prévio sobre os entendimentos e práticas diárias da população moradora de áreas de encostas suscetíveis a deslizamentos, ações de cunho preventivo, por vezes, se tornam ineficientes. Este trabalho defende a importância de se saber previamente como os moradores das comunidades estudadas percebem o risco a que eles estão expostos. Os resultados indicam que a população em estudo não utiliza todos os recursos que dispõe para agir a favor da redução dos desastres, evidenciando principalmente uma desarticulação entre os moradores e os agentes públicos locais.

Palavras-chave: Desastres, Deslizamentos, Prevenção, Percepção de Risco, Gestão Participativa.

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Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Civil Engineer.

RISK PERCEPTION ASSOCIATED WITH LANDSLIDES IN COMMUNITIES AT CARIOCA SHANTY TOWN, ABEL SHANTY TOWN AND SANTO ANTÔNIO SHANTY TOWN, ANGRA DOS REIS, RJ.

Fernanda Teles Gullo

March/2015 Advisor: Marcos Barreto de Mendonça Course: Civil Engineering

Landslide disasters are considerable in the absence of a resilient population which causes various social, economical and environmental consequences. Prevention is widely known as the best approach to foresee the problem and avoid new disasters. However, preventive actions are sometimes inefficient without a preliminary assessment of the understanding and daily practices of the population that live on slopes that are susceptible to landslides. This project highlights the importance of knowing beforehand how the residents of the assessed communities perceive the risk that they are exposed to. The results indicate that the population under study does not use the resources that are available to ensure the reduction of disasters, mainly showing that there is an evident gap between the residents and local public officials.

Keywords: Disasters, Landslides, Prevention, Risk Perception, Participative Management.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 18

1.1. Apresentação do objeto de pesquisa .......................................................................... 18

1.2. Relevância e objetivos do estudo ................................................................................ 20

1.3. Estrutura do trabalho .................................................................................................. 22

2. DESASTRES ASSOCIADOS A DESLIZAMENTOS ..................................................................... 23

2.1. Movimentos de massa em encostas ........................................................................... 23

2.1.1. Quedas ................................................................................................................ 24

2.1.2. Tombamentos ..................................................................................................... 25

2.1.3. Rolamentos ......................................................................................................... 26

2.1.4. Escorregamentos (ou Deslizamentos) ................................................................. 27

2.1.5. Escoamentos (ou Fluxo) ...................................................................................... 30

2.1.6. Complexos ........................................................................................................... 32

2.2. Causas dos movimentos de massa e ações antrópicas associadas ............................. 33

2.3. Desastres associados a deslizamentos ........................................................................ 35

2.3.1. Conceito de desastre ........................................................................................... 35

2.3.2. Dados sobre histórico recente no Brasil e no Rio de Janeiro .............................. 36

3. RISCO ................................................................................................................................... 44

3.1. Conceitos básicos ........................................................................................................ 44

3.1.1. Risco .................................................................................................................... 44

3.1.2. Perigo .................................................................................................................. 49

3.1.3. Suscetibilidade .................................................................................................... 50

3.1.4. Vulnerabilidade ................................................................................................... 51

3.2. Mapeamento de suscetibilidade e de risco de deslizamentos ................................... 56

3.3. Percepção de risco associado a deslizamentos ........................................................... 62

3.3.1. Considerações iniciais ......................................................................................... 62

3.3.2. Experiências em percepção de risco observadas na literatura ........................... 67

4. ÁREA DE ESTUDO DA PESQUISA – BAIRROS MORRO DO ABEL, MORRO DA CARIOCA E

MORRO DO SANTO ANTÔNIO, ANGRA DOS REIS, RJ .................................................................. 80

5. LEVANTAMENTO DA PERCEPÇÃO DE RISCO ....................................................................... 87

5.1. Metodologia do trabalho ............................................................................................ 87

6. RESULTADOS E ANÁLISES .................................................................................................... 97

6.1. Categorização e discussão dos resultados .................................................................. 97

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6.2. Consolidação dos temas mais relevantes associada à compreensão da fala dos

entrevistados ......................................................................................................................... 132

6.3. Propostas de assuntos a serem abordados em campanhas socioeducativas ........... 163

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................... 164

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................. 168

ANEXO I – DADOS POPULACIONAIS E DE SANEAMENTO DOS BAIRROS DO MORRO DO ABEL,

MORRO DA CARIOCA E MORRO DO SANTO ANTÔNIO, ANGRA DOS REIS / RJ ......................... 174

ANEXO II – ROTEIRO DE ENTREVISTAS PARA LEVANTAMENTO DE PERCEPÇÃO DE RISCO. ..... 191

ANEXO III – DADOS DO MAPA DE SUSCETIBILIDADE ACRESCIDO DA LOCALIZAÇÃO DOS PONTOS

REFERENTES AS ENTREVISTAS REALIZADAS DURANTE O LEVANTAMENTO DE PERCEPÇÃO DE

RISCO DOS MORADORES. .......................................................................................................... 195

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Critérios para classificação de movimentos de massa ( Fundação Geo-Rio,

2014 – adaptado de Varnes,1978 & Augusto Filho,1992). ................................................ 23

Figura 2 – Queda de blocos (Rodrigues et al., 2013). ........................................................ 24

Figura 3 – Ilustração da queda de blocos (Turner & Schuster, 1996 apud Aguiar,

2008). ......................................................................................................................................... 24

Figura 4 - Tombamento de blocos (Proin/Capes & Unesp/IGCE, 1999). ........................ 25

Figura 5 – Ilustração de tombamentos (Turner & Schuster, 1996 apud Aguiar, 2008). 25

Figura 6 – Ilustração dos rolamentos (Fundação Geo-Rio, 2014). .................................. 26

Figura 7 - Rolamento de blocos na Estrada do Contorno em Angra dos Reis

(Pinheiros, 2010). ..................................................................................................................... 26

Figura 8 - Escorregamentos rotacionais (foto do arquivo pessoal de Willy Lacerda). . 27

Figura 9 - Ilustração de escorregamentos rotacionais (Turner & Schuster, 1996 apud

Aguiar, 2008). ............................................................................................................................ 27

Figura 10 - Deslizamento planar em Petrópolis, RJ (foto cedida por Marcos

Mendonça). ................................................................................................................................ 28

Figura 11 - Ilustração de escorregamento planar (Pinotti & Carneiro, 2013 - adaptado

de Hoek & Londe, 1974 e Piteau & Martin, 1981). .............................................................. 28

Figura 12 – Deslizamento em cunha (Montgomery, 1992)................................................ 29

Figura 13 - Ilustração dos escorregamentos em cunha (Turner & Schuster, 1996 apud

Aguiar, 2008 - a; Fundação Geo-Rio, 2014 - b). ................................................................. 29

Figura 14 – Cicatrizes em encosta geradas por fluxos detríticos (foto cedida por

Marcos Mendonça). ................................................................................................................. 30

Figura 15 - Ilustração de corridas (Turner & Schuster, 1996 apud Aguiar, 2008). ........ 30

Figura 16 - Ilustração de rastejos ou fluências (Turner & Schuster, 1996 apud Aguiar,

2008). ......................................................................................................................................... 31

Figura 17 – Movimento de rastejo (foto cedida por Marcos Mendonça). ........................ 31

Figura 18 - Escorregamentos complexos na Região Serrana do Rio de Janeiro

(Pessôa, 2011). ......................................................................................................................... 32

Figura 19 – Cenário dos desastres registrados entre os períodos de 1991 e 2012,

(Brasil, 2013). ............................................................................................................................ 36

Figura 20 – Registros de movimentos de massa entre as décadas de 1990 e 2000

(Brasil, 2013). ............................................................................................................................ 37

Figura 21 – Mortos por tipo de desastre, nos períodos entre 1991 e 2012 (Brasil,

2013). ......................................................................................................................................... 37

Figura 22 – Frequência mensal dos movimentos de massa ocorridos no Brasil, nos

períodos entre 1991 e 2012 (Brasil, 2013). .......................................................................... 38

Figura 23 – Porcentagem de ocorrência de movimentos de massa por região do Brasil,

no período entre 1991 e 2012 (Brasil, 2013). ...................................................................... 38

Figura 24 – Danos humanos por movimento de massa na região Sudeste (Brasil,

2013). ......................................................................................................................................... 39

Figura 25 – Danos humanos ocasionados por movimentos de massa no Estado do Rio

de Janeiro, entre os períodos de 1991 e 2012 (Brasil, 2013). .......................................... 40

Figura 26 - Desastre de 2010 em Angra dos Reis (Pinheiros, 2010). ............................. 41

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Figura 27 - Deslizamentos em Angra dos Reis no Morro do Santo Antônio (Defesa Civil

de Angra dos Reis, 2010). ...................................................................................................... 41

Figura 28 - Deslizamentos em Angra dos Reis na praia do Bananal (Defesa Civil de

Angra dos Reis, 2010). ............................................................................................................ 42

Figura 29 - Desastre de 2010 no Morro da Carioca (Uol Notícias apud Becker, 2011).

..................................................................................................................................................... 42

Figura 30 - Desastre de 2010 em Angra dos Reis no Morro do Bulé e no Morro da

Carioca (Defesa Civil de Angra dos Reis, 2010). ................................................................ 43

Figura 31 – Gráfico da frequência anual de movimentos de massas ocorridos no Brasil,

no período entre 1991 e 2012 (Brasil, 2013). ...................................................................... 43

Figura 32 - Mapa de zoneamento de suscetibilidade de Angra dos Reis (Coelho Netto

et al., 2013)................................................................................................................................ 61

Figura 33 – Localização da área de estudo - Bairros Morro do Abel, Morro da Carioca

e Morro do Santo Antônio, Angra dos Reis/ RJ ................................................................... 81

Figura 34 – Visão das comunidades do Morro da Carioca e do Morro do Abel (foto do

autor). ......................................................................................................................................... 82

Figura 35 – Visão da comunidade do Morro do Santo Antônio (foto do autor). ............. 82

Figura 36 – Visão a partir da região mais alta do Morro do Santo Antônio (foto do

autor). ......................................................................................................................................... 82

Figura 37 – Implantação inadequada de moradias em região alta do Morro do Santo

Antônio (foto do autor). ............................................................................................................ 83

Figura 38 – Implantação inadequada de moradias em região alta do Morro do Santo

Antônio (foto do autor). ............................................................................................................ 83

Figura 39 – Estrutura (muro de gabião) para contenção de talude localizada no Morro

da Carioca (foto do autor). ...................................................................................................... 83

Figura 40 – Fotos do levantamento de percepção de risco. Equipe de campo:

Fernanda Teles Gullo, José Carlos Gullo, Marcos Barreto de Mendonça, Mariana

Talita Gomes Pinheiro, Priscila Nunes Sanchez (Fotos do autor). .................................. 95

Figura 41 - Gráfico das respostas da pergunta 1 separados por graus de risco. .......... 98

Figura 41 - Percentuais das respostas da pergunta 2 separados por graus de risco. .. 99

Figura 43 - Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 3 para os bairros Morro

da Carioca, Morro do Abel e Morro do Santo Antônio separados por grau de risco. . 102

Figura 44 - Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 3 para o bairro Morro

da Carioca. .............................................................................................................................. 103

Figura 45 - Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 3 para os bairros

Morro do Abel e Morro do Santo Antônio separados por grau de risco. ....................... 104

Figura 46 - Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 4 para os bairros Morro

da Carioca, Morro do Abel e Morro do Santo Antônio separados por grau de risco. . 106

Figura 47 - Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 5 separados em graus

de risco. .................................................................................................................................... 107

Figura 48 – Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 8 para os bairros

Morro da Carioca, Morro do Abel e Morro do Santo Antônio e separados por graus de

risco. ......................................................................................................................................... 109

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Figura 49 - Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 8 sobre a frequência

em que os moradores pensam em deslizamentos para os bairros Morro da Carioca,

Morro do Abel e Morro do Santo Antônio e separados por graus de risco. .................. 110

Figura 50 – Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 10 separados por

graus de risco. ......................................................................................................................... 112

Figura 51 – Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 11 separados por

graus de risco. ......................................................................................................................... 113

Figura 52 - Percentuais das respostas da pergunta 14 separados por graus de risco.

................................................................................................................................................... 116

Figura 52 – Gráfico com os percentuais das respostas da pergunta 15 separados por

graus de risco. ......................................................................................................................... 117

Figura 54 – Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 16 separados em

ordem de importância. ........................................................................................................... 118

Figura 55 - Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 21 separados por graus

de risco. .................................................................................................................................... 123

Figura 56 - Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 24 separados por graus

de risco. .................................................................................................................................... 126

Figura 57 - Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 27 separados em graus

de risco. .................................................................................................................................... 128

Figura 58 – Gráfico com os percentuais das respostas da pergunta 28 separadas por

graus de risco. ......................................................................................................................... 129

Figura 59 - Gráfico dos percentuais totais das respostas da pergunta 29. ................... 130

Figura 60 - Gráfico das respostas da pergunta 30 separados por graus de risco. ...... 131

Figura 61 - População residente,total, urbana total e urbana na sede municipal, em

números absolutos e relativos, com indicação da área total e densidade demográfica,

segundo o Brasil e os municípios de Angra dos Reis e do Rio de Janeiro (IBGE, Censo

Demográfico, 2010 – relatório Sinopse do Censo Demográfico 2010, 2011). ............. 174

Figura 62 – Domicílios particulares permanentes, moradores em domicílios

particulares permanentes e média de ................................................................................. 175

Figura 63 - Domicílios particulares permanentes, moradores em domicílios particulares

permanentes e média de ....................................................................................................... 175

Figura 64 - Domicílios particulares permanentes, moradores em domicílios particulares

permanentes e média de moradores .................................................................................. 176

Figura 65 – Domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio e

existência de banheiro ou sanitário e número de banheiros de uso exclusivo do

domicílio, segundo o tipo de domicílio, a forma de abastecimento de água, o destino

do lixo e a existência de energia elétrica no bairro Morro da Carioca, Angra dos

Reis/RJ. .................................................................................................................................... 177

Figura 66 – Domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio e

existência de banheiro ou sanitário e número de banheiros de uso exclusivo do

domicílio, segundo o tipo de domicílio, a forma de abastecimento de água, o destino

do lixo e a existência de energia elétrica no bairro Morro do Abel, Angra dos Reis/RJ.

................................................................................................................................................... 179

Figura 67 – Domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio e

existência de banheiro ou sanitário e número de banheiros de uso exclusivo do

domicílio, segundo o tipo de domicílio, a forma de abastecimento de água, o destino

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do lixo e a existência de energia elétrica no bairro Morro do Santo Antônio, Angra dos

Reis/RJ. .................................................................................................................................... 181

Figura 68 – Domicílios particulares permanentes e moradores em domicílios

particulares permanentes, por situação do domicílio, segundo a forma de

abastecimento de água, o destino do lixo e a existência de energia elétrica no bairro

Morro da Carioca, Angra dos Reis/RJ. ............................................................................... 182

Figura 69 – Domicílios particulares permanentes e moradores em domicílios

particulares permanentes, por situação do domicílio, segundo a forma de

abastecimento de água, o destino do lixo e a existência de energia elétrica no bairro

Morro do Abel, Angra dos Reis/RJ. ..................................................................................... 184

Figura 70 – Domicílios particulares permanentes e moradores em domicílios

particulares permanentes, por situação do domicílio, segundo a forma de

abastecimento de água, o destino do lixo e a existência de energia elétrica no bairro

Morro do Santo Antônio, Angra dos Reis/RJ. .................................................................... 185

Figura 71 – Domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio e

existência de banheiro de banheiro ou sanitário e número de banheiros de uso

exclusivo do domicílio, segundo o tipo do domicílio, a condição de ocupação e o tipo

de esgotamento sanitário no bairro Morro da Carioca, Angra dos Reis/RJ. ................. 186

Figura 72 – Domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio e

existência de banheiro ou sanitário e número de banheiros de uso exclusivo do

domicílio, segundo o tipo do domicílio, a condição de ocupação e o tipo de

esgotamento sanitário no bairro Morro do Abel, Angra dos Reis/RJ. ............................ 187

Figura 73 – Domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio e

existência de banheiro de banheiro ou sanitário e número de banheiros de uso

exclusivo do domicílio, segundo o tipo do domicílio, a condição de ocupação e o tipo

de esgotamento sanitário no bairro Morro do Abel, Angra dos Reis/RJ. ...................... 188

Figura 74 – Domicílios particulares permanentes e moradores em domicílios

particulares permanentes, por situação do domicílio, segundo o tipo de domicílio, a

condição de ocupação,a existência de banheiro ou sanitário e esgotamento sanitário e

a existência e número de banheiros de uso exclusivo do domicílio no bairro Morro da

Carioca, Angra dos Reis/RJ. ................................................................................................ 189

Figura 75 – Domicílios particulares permanentes e moradores em domicílios

particulares permanentes, por situação do domicílio, segundo o tipo de domicílio, a

condição de ocupação,a existência de banheiro ou sanitário e esgotamento sanitário e

a existência e número de banheiros de uso exclusivo do domicílio no bairro Morro do

Santo Antônio, Angra dos Reis/RJ. ..................................................................................... 190

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Fatores contribuintes para as causas de acionamento dos movimentos de

massa e ações antrópicas associadas (Mendonça, 2013; Fundação Geo-Rio, 2014). 34

Tabela 2 - Definições de desastres encontrados na literatura. ......................................... 35

Tabela 3 - Definições de risco encontradas na literatura. .................................................. 45

Tabela 4 - Fórmulas relacionadas ao conceito de risco (R) encontradas na literatura. 47

Tabela 5 - Definições de perigo encontradas na literatura. ............................................... 50

Tabela 6 - Definições de suscetibilidade encontradas na literatura ................................. 51

Tabela 7 - Definições de vulnerabilidade encontradas na literatura. ............................... 52

Tabela 8 - Definições de percepção de risco encontradas na literatura. ........................ 62

Tabela 9 - Experiências em levantamentos de percepção de risco. ................................ 68

Tabela 10 - Parte do questionário aplicado para levantamento da percepção de risco

por Mendonça e Pinheiro (2013). .......................................................................................... 73

Tabela 11 - Pontos qualitativos do questionário por Finlay e Fell (1997). ...................... 74

Tabela 12 – Descrição dos grupos questionados por Finlay e Fell (1997). .................... 75

Tabela 13 – Descrição dos métodos utilizados para coleta de dados por Finlay e Fell

(1997). ........................................................................................................................................ 76

Tabela 14 – Parte do questionário aplicado para levantamento da percepção de risco

por Ho et al. (2008). ................................................................................................................. 78

Tabela 15 - Percentagens das características urbanas do entorno dos domicílios

permanentes urbanos do país e dos municípios de Angra dos Reis e do Rio de

Janeiro........................................................................................................................................ 84

Tabela 16 - Dados coletados durante a execução das entrevistas. ................................. 91

Tabela 17 - Percentuais das respostas da pergunta 1 separados por graus de risco. . 98

Tabela 18 - Percentuais das respostas da pergunta 2 separados por graus de risco. 100

Tabela 19 - Percentuais das respostas da pergunta 3 para os bairros Morro da

Carioca, Morro do Abel e Morro do Santo Antônio separados por grau de risco. ....... 102

Tabela 20 - Percentuais das respostas da pergunta 3 para o bairro Morro da Carioca

separados por grau de risco. ................................................................................................ 103

Tabela 21 - Percentuais das respostas da pergunta 3 para os bairros Morro do Abel e

Morro do Santo Antônio separados por grau de risco. ..................................................... 104

Tabela 22 - Percentuais das respostas da pergunta 4 para os bairros Morro da

Carioca, Morro do Abel e Morro do Santo Antônio separados por grau de risco. ....... 106

Tabela 23 - Percentuais das respostas da pergunta 5 separados em graus de risco. 107

Tabela 24 – Percentuais das respostas da pergunta 6. ................................................... 108

Tabela 25 – Percentuais das respostas da pergunta 8 para os bairros Morro da

Carioca, Morro do Abel e Morro do Santo Antônio e separados por grau de risco. .... 110

Tabela 26 - Percentuais das respostas da pergunta 8 para o bairro Morro da Carioca e

separados por graus de risco. .............................................................................................. 110

Tabela 27 - Percentuais das respostas da pergunta 8 para o bairro Morro do Abel e

Morro do Santo Antônio e separados por graus de risco. ............................................... 110

Tabela 28 – Percentuais das respostas da pergunta 8 sobre a frequência em que os

moradores pensam em deslizamentos para os bairros Morro da Carioca, Morro do

Abel e Morro do Santo Antônio e separados por graus de risco. ................................... 111

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xvii

Tabela 29 - Percentuais das respostas da pergunta 9 separados por graus de risco. 111

Tabela 30 - Distribuição das respostas da pergunta 10. .................................................. 111

Tabela 31 - Percentuais das respostas da pergunta 10 separados por graus de risco.

................................................................................................................................................... 112

Tabela 32 - Percentuais das respostas da pergunta 11 separados por graus de risco.

................................................................................................................................................... 113

Tabela 33 - Percentuais das respostas da pergunta 12 separados por graus de risco.

................................................................................................................................................... 114

Tabela 34 – Percentuais das respostas da pergunta 13 separados por graus de risco.

................................................................................................................................................... 115

Tabela 35 - Percentuais das respostas da pergunta 14 separados por graus de risco.

................................................................................................................................................... 116

Tabela 36 – Percentuais das respostas da pergunta 15 separados por graus de risco.

................................................................................................................................................... 117

Tabela 37 – Percentuais das respostas da pergunta 16 separadas por graus de

importância. ............................................................................................................................. 119

Tabela 38 – Percentuais das respostas da pergunta 16 separadas em ordem de

importância para suscetibilidade alta e muito alta. ........................................................... 119

Tabela 39 – Percentuais das respostas da pergunta 16 separadas em ordem de

importância para suscetibilidade média. ............................................................................. 120

Tabela 40 - Percentuais das respostas da pergunta 16 separadas em ordem de

importância para suscetibilidade baixa. .............................................................................. 120

Tabela 41 – Percentuais das respostas da pergunta 17 separados por graus de risco.

................................................................................................................................................... 121

Tabela 42 - Percentuais totais das respostas da pergunta 18. ....................................... 121

Tabela 43 - Percentuais das respostas da pergunta 19. ................................................. 122

Tabela 44 - Percentuais totais das respostas da pergunta 20. ....................................... 122

Tabela 45 - Percentuais das respostas da pergunta 21 separados por graus de risco.

................................................................................................................................................... 122

Tabela 46 - Percentuais das respostas da pergunta 22. ................................................. 123

Tabela 47 - Percentuais das respostas da pergunta 23. ................................................. 124

Tabela 48 - Percentuais das respostas da pergunta 24 separados por graus de risco.

................................................................................................................................................... 125

Tabela 49 - Percentuais das respostas da pergunta 25 separadas por graus de risco.

................................................................................................................................................... 126

Tabela 50 - Percenturais das respostas da pergunta 26. ................................................ 127

Tabela 51 - Percentuais das respostas da pergunta 27 separados por graus de risco.

................................................................................................................................................... 128

Tabela 52 - Percentuais das respostas da pergunta 28 separados por graus de risco.

................................................................................................................................................... 129

Tabela 53 - Percentuais das respostas da pergunta 29 separados por graus de risco.

................................................................................................................................................... 130

Tabela 54 - Percentuais das respostas da pergunta 30 separados em graus de risco.

................................................................................................................................................... 131

Tabela 55 – Roteiro de entrevistas para levantamento de percepção de risco. .......... 191

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18

1. INTRODUÇÃO

1.1. Apresentação do objeto de pesquisa

O processo de transformação do espaço público brasileiro se construiu com bases em

uma política de exclusão social e descompromisso com as áreas urbanas ocupadas

pela população mais pobre. A cidade é tratada como mercadoria e a gestão que segue

os preceitos de rentabilidade econômica expulsa milhares de brasileiros para as

periferias ou áreas sobrantes, comumente chamadas de áreas de risco, em que na

maioria das vezes o direito à moradia digna e às infraestruturas necessárias não é

garantido.

O esgotamento dos centros urbanos e a consequente ocupação desordenada de

áreas altamente suscetíveis a deslizamentos passaram a não ser exclusividade das

grandes metrópoles, tendo como alvo também as cidades de menor porte, como os

municípios da região serrana e do litoral sul do Estado do Rio de Janeiro,

recentemente vitimados por eventos desastrosos.

A população residente nessas áreas de risco sofre com desastres ocasionados pela

confluência de fatores como alta declividade das encostas, elevados índices

pluviométricos, feições geomorfológicas, geológicas e geotécnicas e ações antrópicas

sobre o meio físico.

Convém mencionar nesta introdução que o termo ‘deslizamentos’ é utilizado, de uma

forma geral, ao longo do texto dessa dissertação para designar os movimentos de

massa em encostas. Sabe-se, entretanto, que o deslizamento propriamente dito

consiste em um dos tipos de movimento de massa, conforme será exposto no item

2.1.

O desastre associado a deslizamentos é o segundo maior tipo de desastre

socioambiental em termos de vítimas fatais no Brasil. Segundo Brasil (2013), entre

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19

1991 e 2012 foram feitos 669 registros oficiais de movimentos de massa no país,

constando por volta de cinco milhões e meio de pessoas afetadas, direta ou

indiretamente, entre feridos, enfermos, desabrigados, desalojados, desaparecidos e

outros. Esses números devem estar subestimados, posto que muitas ocorrências

podem não ter sido registradas oficialmente.

O problema dos desastres associados a deslizamentos envolve aspectos técnicos,

sociais e de políticas públicas. Os técnicos estão relacionados aos condicionantes

naturais e antrópicos que determinam a estabilidade das encostas. Os sociais são

relativos ao processo de ocupação do solo pelo homem, ao impacto das

consequências dos desastres na vida das pessoas atingidas, a remoção de moradores

das áreas de risco, ao engajamento da população em atividades preventivas e

emergenciais e a distância social entre os moradores de áreas de risco e os órgãos

responsáveis pelo tratamento do problema. Os de políticas públicas referem-se ao

plano habitacional, a gestão dos desastres e a proteção social (Mendonça, 2013).

No entanto, apesar da interdisciplinaridade do problema, nota-se que, na prática, as

soluções para esse problema comumente não envolvem esses diferentes aspectos,

sendo as ações para redução dos desastres ainda hoje concentradas basicamente na

execução de obras de engenharia. Com efeito, diante da atual situação em que os

desastres associados a deslizamentos vêm aumentando de magnitude, frequência e

área afetada, essas soluções têm apresentado eficiência bastante limitada (Mendonça,

2013).

A inclusão de novas alternativas para a melhor gestão do sistema de controle dos

desastres precisa ser repensada, já que o risco a deslizamentos e suas

consequências não depende somente das feições geomorfológicas, geológicas e

geotécnicas do terreno, mas também da organização social desigual do uso e

ocupação do solo.

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20

Esse problema vem mobilizando diversos especialistas na tentativa de reversão desse

quadro. Ressalta-se a necessidade de integração entre governos municipais,

estaduais e federal, entidades privadas, academia e sociedade civil na elaboração de

uma política pública que, sem se contrapor ao saber perito, se produza a partir do

diagnóstico da percepção de risco por parte dos moradores de áreas suscetíveis a

deslizamentos, ou seja, a forma com que a população se relaciona com o perigo dos

deslizamentos e com os atores envolvidos nessa temática.

O objeto de pesquisa desse trabalho é a percepção de risco associado a

deslizamentos por parte da população moradora de três comunidades no Município de

Angra dos Reis, Rio de Janeiro, RJ. O conhecimento sobre a percepção de risco não

pode ser negligenciado, uma vez que não há significativa redução dos desastres

somente através de ações estruturais (obras de engenharia) e emergenciais (sistemas

de alarme e alerta e retirada de moradores) sem a participação da população. Essa

participação da comunidade nas ações para redução de risco deve ser buscada

através de ações socioeducativas para a troca de conhecimento entre técnicos e

moradores sobre o problema dos desastres, o estreitamento da interação entre a

comunidade e o governo e o empoderamento da população para transformação do

meio em que vivem de forma a melhorar a qualidade de vida. Essas ações, entretanto,

só podem ser planejadas e realizadas após o conhecimento da percepção de risco dos

moradores.

1.2. Relevância e objetivos do estudo

O conceito de percepção de risco desde o fim da década de 60 (Heitz, 2009) vem

ganhando destaque com diversas abordagens que se complementam e constituem

uma literatura multidisciplinar de referência, com as contribuições de economistas,

geógrafos, psicólogos, sociólogos e engenheiros.

Estudar a percepção de risco tem sua importância para a construção de uma cultura

de prevenção, em que prevalece o diálogo com a população, elucidando a

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participação social, a construção coletiva, o cooperativismo e a proximidade entre

técnicos, gerenciador público e comunidade, para a redução de desastres e o aumento

da qualidade de vida em áreas de risco (Lucena, 2006).

O estudo de percepção de risco associado a deslizamentos se dá através do

levantamento de como os indivíduos e a comunidade em geral se relacionam com os

desastres, o que sabem sobre os mesmos, como se comportam diante do perigo e

como interagem com os órgãos governamentais envolvidos na gestão de desastres. O

objetivo geral deste trabalho é compreender a percepção de risco da população

moradora de três comunidades do Município de Angra dos Reis (Morro do Abel, Morro

da Carioca e Morro Santo Antônio) que se formaram desordenadamente em áreas de

encostas sujeitas a deslizamentos. Isso é feito isso por meio de entrevistas com os

moradores para o conhecimento das visões (comportamento e ideologia) e das

atitudes dos mesmos, mais especificamente, das noções que eles têm sobre os

problemas dos deslizamentos e as influências das ações antrópicas, a relativização

desse tipo de risco frente a outras ameaças a que estão expostos, a relação com os

elegidos responsáveis pelo problema e a legitimidade das políticas públicas e

instituições gestoras para o enfrentamento e a redução dos desastres (Mendonça &

Pinheiro, 2013; Mendonça, 2013).

A presente pesquisa é, portanto, ferramental para avaliar vulnerabilidades, orientar

atividades socioeducativas e aproximar sócio e politicamente a população afetada das

instituições governamentais que atuam em ações para redução dos desastres,

principalmente Defesa Civil, promovendo uma gestão participativa com a construção

conjunta de uma comunidade empoderada e resiliente.

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1.3. Estrutura do trabalho

A estrutura deste trabalho está dividida em 7 capítulos. O capítulo introdutório

apresenta a problemática que embasa o objeto de estudo, evidenciando a relevância e

os objetivos para o levantamento da percepção de risco de comunidades expostas a

deslizamentos. Os capítulos 2 e 3 compõem a revisão bibliográfica. O segundo

capítulo apresenta o tema dos desastres associados a deslizamentos abordando os

tipos de movimentos de massa em encostas e o impacto das ações antrópicas

instabilizadoras, o conceito de desastre e os dados sobre histórico recente dos

desastres associados a deslizamentos no Brasil e no Rio de Janeiro. O terceiro

capítulo apresenta, segundo a visão de diferentes autores, conceitos e considerações

sobre risco, perigo, suscetibilidade, vulnerabilidade e percepção de risco e aborda

alguns aspectos para elaboração do mapa de zoneamento de susceptibilidade, risco e

perigo. O quarto capítulo descreve a área de estudo e o quinto trata da metodologia

empregada para o levantamento da percepção de risco na mesma. Em seguida, o

capítulo 6 refere-se aos resultados do levantamento e às análises quantitativas e

qualitativas dos mesmos e propõe alguns assuntos a serem trabalhados em futuras

campanhas educativas para enfrentamento dos desastres na região. Por fim, o último

capítulo faz as considerações finais sobre o trabalho.

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2. DESASTRES ASSOCIADOS A DESLIZAMENTOS

2.1. Movimentos de massa em encostas

Os movimentos de massa são deslocamentos de solo e/ou rocha que podem ser

deflagrados por mecanismos tanto internos, que interferem na resistência do material,

como externos, que induzem o aumento das tensões de cisalhamento ao longo da

superfície de ruptura até o rompimento. Tais mecanismos são fortemente influenciados

não somente por processos de origem natural, mas também agravados por ações

antrópicas instabilizadoras das encostas. Esses movimentos gravitacionais podem ser

classificados e distinguidos segundo critérios específicos, conforme apresentado na

Figura 1 (Fundação Geo-Rio, 2014), que por sua vez, é uma adaptação de Varnes

(1978) e Augusto Filho (1992).

Figura 1 – Critérios para classificação de movimentos de massa ( Fundação Geo-Rio,

2014 – adaptado de Varnes,1978 & Augusto Filho,1992).

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Dos tipos mais comuns de movimentos em solo encontrados no Rio de Janeiro,

destacam-se:

2.1.1. Quedas

Esse tipo de movimento de massa está associado à queda livre de rochas fraturadas

em forma de lascas e/ou blocos ou de solos em margens de corpos d’água, sendo

comuns em encostas íngremes representadas em sua geometria por planos

inclinados, conforme figuras 2 e 3 (Fundação Geo-Rio, 2014).

Figura 2 – Queda de blocos (Rodrigues et al., 2013).

Figura 3 – Ilustração da queda de blocos (Turner & Schuster, 1996 apud Aguiar,

2008).

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25

2.1.2. Tombamentos

Os tombamentos são rotações ocasionadas pelo basculamento e posterior queda de

lascas de rochas, provenientes da deposição de material sobre o talude, de

fraturamento e da presença de fluxo d’água e/ou da erosão da base dos corpos

rochosos, conforme figuras 4 e 5 (Fundação Geo-Rio, 2014; Turner & Schuster, 1996

apud Aguiar, 2008).

Figura 4 - Tombamento de blocos (Proin/Capes & Unesp/IGCE, 1999).

Figura 5 – Ilustração de tombamentos (Turner & Schuster, 1996 apud Aguiar, 2008).

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2.1.3. Rolamentos

Rolamentos são movimentos de matacões e/ou blocos de rocha ao longo das

encostas (figuras 6 e 7).

Figura 6 – Ilustração dos rolamentos (Fundação Geo-Rio, 2014).

Figura 7 - Rolamento de blocos na Estrada do Contorno em Angra dos Reis (Pinheiros, 2010).

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27

2.1.4. Escorregamentos (ou Deslizamentos)

Os escorregamentos são movimentos de massa com superfície de ruptura previsível,

podendo ser rotacionais, planares ou em cunha.

2.1.4.1. Escorregamentos rotacionais

Movimentos geralmente rápidos (km/h) com superfície de ruptura de seção transversal

aproximadamente circular (figuras 8 e 9). Ocorrem em taludes espessos com solos

residuais, coluvionares ou lateríticos, sem anisotropia ou planos de fraqueza

relevantes, em taludes de corte sedimentares, em aterros sobre solos sedimentares ou

ainda compostos em grande parte por resíduos sólidos urbanos (Becker, 2011;

Fundação Geo-Rio, 2014).

Figura 8 - Escorregamentos rotacionais (foto do arquivo pessoal de Willy Lacerda).

Figura 9 - Ilustração de escorregamentos rotacionais (Turner & Schuster, 1996 apud Aguiar, 2008).

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28

2.1.4.2. Escorregamentos translacionais ou planares

Movimentos rápidos (km/h) ao longo de superfícies planas, geralmente no contato

entre materiais de resistências diferentes ou sobre planos de fraqueza (figuras 10 e

11), como exemplo: solos residuais rasos sobre rochas, solos coluvionares pouco

espessos sobre solos residuais, solos rasos menos resistentes, resíduos sólidos sobre

material mais resistente, ou ainda, taludes de solos residuais com planos de fraqueza

reliquiares de altitude desfavorável (Becker, 2011).

Figura 10 - Deslizamento planar em Petrópolis, RJ (foto cedida por Marcos Mendonça).

Figura 11 - Ilustração de escorregamento planar (Pinotti & Carneiro, 2013 - adaptado de Hoek & Londe, 1974 e Piteau & Martin, 1981).

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29

2.1.4.3. Escorregamentos em cunha

Movimentos de blocos de rocha com superfície de ruptura em forma de cunha,

interligados por uma linha entre dois planos de descontinuidades, orientada na direção

do movimento, conforme apresentado nas figuras 12 e 13 (Fundação Geo - Rio, 2014).

Figura 12 – Deslizamento em cunha (Montgomery, 1992).

Figura 13 - Ilustração dos escorregamentos em cunha (Turner & Schuster, 1996 apud Aguiar, 2008 - a; Fundação Geo-Rio, 2014 - b).

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30

2.1.5. Escoamentos (ou Fluxo)

2.1.5.1. Corridas

Movimentos de solos em alta velocidade (km/h) que se comportam como fluido,

podendo alcançar longas distâncias e gerar cicatrizes pelo caminho (figuras 14 e 15).

Ocorrem em encostas de solo residual argiloso, onde lama ou detritos (mistura de

blocos de rochas, vegetação, solos, etc.) são carreados ao longo de talvegues durante

o período de chuvas muito intensas ou prolongadas (Becker, 2011; Fundação Geo-

Rio, 2014).

Figura 14 – Cicatrizes em encosta geradas por fluxos detríticos (foto cedida por Marcos Mendonça).

Figura 15 - Ilustração de corridas (Turner & Schuster, 1996 apud Aguiar, 2008).

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31

2.1.5.2. Rastejos ou Fluências (creeps)

Movimentos muito lentos (mm/ano a cm/ano) que ocorrem geralmente próximos ao pé

de encostas em colúvios com nível elevado do lençol freático. Assim como os

inclinômetros podem acusar deslocamentos horizontais, a presença de trincas no solo,

árvores retorcidas, estradas tortas, postes desaprumados, canaletas desalinhadas

também podem ser indícios da ocorrência de rastejos, conforme apresentado nas

figuras 16 e 17 (Becker, 2011).

Figura 16 - Ilustração de rastejos ou fluências (Turner & Schuster, 1996 apud Aguiar, 2008).

Figura 17 – Movimento de rastejo (foto cedida por Marcos Mendonça).

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32

2.1.6. Complexos

Representados pela combinação de dois ou mais tipo de movimentos, são compostos

por materiais diversos e apresentam superfície de ruptura complexa, com seção

transversal geralmente representada por poligonais (Figura 18). Os movimentos de

massa complexos ocorrem geralmente em locais com topografia acidentada e/ou em

camadas de solos com resistências diferentes (Fundação Geo-Rio, 2014; Becker,

2011).

Figura 18 - Escorregamentos complexos na Região Serrana do Rio de Janeiro (Pessôa, 2011).

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2.2. Causas dos movimentos de massa e ações

antrópicas associadas

Os processos instabilizadores das encostas podem ser agrupados naqueles que

fazem diminuir a resistência ao cisalhamento da massa de solo ou rocha e/ou

naqueles que fazem elevar a magnitude das solicitações cisalhantes, alterando as

condições de segurança quanto à estabilidade das encostas.

Alguns fatores contribuintes para as causas de acionamento dos movimentos de

massa estão apresentados na Tabela 1, em especial, aqueles relacionados às ações

antrópicas.

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Tabela 1 - Fatores contribuintes para as causas de acionamento dos movimentos de massa e ações antrópicas associadas (Mendonça, 2013; Fundação Geo-Rio, 2014).

Causas de acionamento dos movimentos de massa

Ações antrópicas associadas Processos instabilizadores das encostas

Aumento da quantidade de água que infiltra no solo, elevação do nível d’água em trincas ou juntas e aumento do grau de saturação do solo.

Execução de drenagem deficiente, rompimento de tubulações e despejo de águas servidas ou esgoto no subsolo, obstrução do curso d’água natural, seja através da implantação inadequada de moradia ou despejo de detritos.

Elevação do peso da massa de solo, aumento da solicitação e da poropressão e redução da resistência do solo;

Mudanças na geometria das encostas Execução de cortes e aterros para implantação de moradias ou acessos; abertura aleatória de via de acesso.

Descalçamento de corpos rochosos; exposição das camadas subjacentes do solo e atuação de processos erosivos, aumento da declividade do talude e das solicitações cisalhantes;

Aplicação de sobrecargas Construção de moradias; lançamento de detritos (lixo, entulho e aterro) sobre a superfície da encosta.

Sobrecarregamento do terreno natural, aumentando as solicitações; formação de uma camada de material bastante fofo, macroporoso, altamente permeável, de péssimas propriedades geomecânicas e que rompem sob a forma de fluxo.

Remoção ou degradação de vegetação florestal

Desmatamentos

Redução da contribuição das raízes da vegetação na resistência do solo; eliminação do efeito dos muros de impacto promovido pelo tramos de árvores e/ou arbustos; aumento de erosão superficial.

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35

2.3. Desastres associados a deslizamentos

2.3.1. Conceito de desastre

Na Tabela 2 são apresentadas as definições do termo ‘desastre’ segundo UNISDR

(2009) e Castro (2012).

Tabela 2 - Definições de desastres encontrados na literatura.

Referências Definições

United

Nations

International

Strategy for

Disaster

Reduction -

UNISDR

(2009)

O desastre é uma séria interrupção do funcionamento

de uma comunidade ou sociedade envolvendo perdas

e impactos, humanos, materiais, econômicos ou

ambientais generalizados, os quais excedem a

capacidade da comunidade afetada ou sociedade

para lidar com a situação, utilizando os seus próprios

recursos.

Castro (2012);

- Glossário de

Defesa Civil -

Estudos de

Riscos e

Medicina de

Desastres.

Resultado de eventos adversos, naturais ou

provocados pelo homem, sobre um ecossistema

(vulnerável), causando danos humanos, materiais

e/ou ambientais e consequentes prejuízos

econômicos e sociais. Os desastres são

quantificados, em função dos danos e prejuízos, em

termos de intensidade, enquanto que os eventos

adversos são quantificados em termos de magnitude.

A intensidade de um desastre depende da interação

entre a magnitude do evento adverso e o grau de

vulnerabilidade do sistema receptor afetado.

Normalmente o fator preponderante para a

intensificação de um desastre é o grau de

vulnerabilidade do sistema receptor.

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36

2.3.2. Dados sobre histórico recente no Brasil e no Rio de

Janeiro

Os apontamentos sobre os desastres contemplados neste item fundamentam-se no

volume Brasil e no volume Rio de Janeiro do Atlas Brasileiro de Desastres Naturais,

estudo feito para os períodos entre 1991 e 2012.

Os desastres que acometem o Brasil são, pelo menos, de dez tipos, quais sejam:

estiagem e seca, enxurrada, inundação, vendaval, granizo, erosão, incêndio florestal,

tornado, alagamento e movimentos de massa. O aumento dos registros ou a maior

fidelidade dos números ilustram o crescimento desses desastres no país a partir do

ano 2000 e principalmente nos últimos anos, tendo 23% dos registros ocorrido em

2010, 2011 e 2012 (Figura 19), representando um percentual maior que o total de

registros da década de 1990 (21%) (Brasil, 2013).

Figura 19 – Cenário dos desastres registrados entre os períodos de 1991 e 2012, (Brasil, 2013). Dos diferentes tipos de desastres registrados no país, verifica-se que os referentes a

deslizamentos tiveram o aumento percentual mais significativo (92%), apresentando

4% dos registros no período de 1991 a 1999 e 96% de 2000 a 2012, conforme Figura

20 (Brasil, 2013).

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Figura 20 – Registros de movimentos de massa entre as décadas de 1990 e 2000 (Brasil, 2013). Os desastres associados a deslizamentos no Brasil apresentam o estigma de grandes

causadores de vítimas fatais. Dentro do cenário de desastres apresentado (Figura 21),

os deslizamentos ocupam a segunda posição, com 15,6% das mortes, após as

enxurradas, que estão em primeiro lugar, com 58,15% (Brasil, 2013).

Figura 21 – Mortos por tipo de desastre, nos períodos entre 1991 e 2012 (Brasil, 2013).

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38

A deflagração de movimentos de massa está associada a períodos com chuvas

intensas e duradouras, que acontecem nas estações da primavera e do verão, com

destaque para os meses de janeiro e fevereiro (Figura 22).

Figura 22 – Frequência mensal dos movimentos de massa ocorridos no Brasil, nos períodos entre 1991 e 2012 (Brasil, 2013).

Oficialmente, são 699 registros de deslizamentos no país durante esses 22 anos, com

maiores concentrações nas regiões Sudeste e Sul, onde se localizam a Serra do Mar,

conhecida por sua ‘suscetibilidade natural’ a deslizamentos (Figura 23) (Brasil, 2013).

Figura 23 – Porcentagem de ocorrência de movimentos de massa por região do Brasil, no período entre 1991 e 2012 (Brasil, 2013). Na região Sudeste, Minas Gerais apresenta o maior número de registros (208) de

deslizamentos, logo após São Paulo e Rio de Janeiro, com 165 e 153 registros,

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respectivamente. Os danos humanos associados a essa região são os maiores

quando comparados a outras regiões do Brasil (Figura 24) (Brasil, 2013).

Figura 24 – Danos humanos por movimento de massa na região Sudeste (Brasil, 2013).

Nota-se, a partir da Figura 24, que os dados referentes aos deslizamentos ocorridos

na Região Serrana no Rio de Janeiro em janeiro de 2011 não estão incluídos na seção

sobre movimentos de massa do levantamento do Atlas Brasileiro de Desastres

Naturais (Rio de Janeiro, 2013), pois foram descritos como desastres secundários

dentro do formulário referente a desastres associados a enxurradas. Apenas nos

desastres da Região Serrana, 905 pessoas perderam suas vidas segundo o Banco

Mundial (2012), apesar dessa quantidade de mortos ter sido subestimada, porque

provavelmente os mais de 1500 desaparecidos estão mortos. Vale ressaltar, ainda,

alguns desastres não são computados pelo referido Atlas pelo terem sido descritos

nos formulários AVADAN (atual FIDES).

Baseando-se no Atlas (Brasil, 2013), a quase totalidade dos registros (93,5%) dos

movimentos de massa em encostas no Estado do Rio de Janeiro está associada a

deslizamentos de solos ou rochas. No Rio de Janeiro, os meses de dezembro e

janeiro são os períodos mais chuvosos e mais propícios a desastres. Os danos

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humanos relacionados aos 153 desastres do Estado estão apresentados na Figura 25

(Rio de Janeiro, 2013), novamente não incluindo os dados referentes ao desastre da

região serrana em primeiro de 2011.

Figura 25 – Danos humanos ocasionados por movimentos de massa no Estado do Rio de Janeiro, entre os períodos de 1991 e 2012 (Brasil, 2013).

Existe uma grande concentração de mortes (66%) em apenas três municípios do

Estado, quais sejam: Rio de Janeiro, Niterói e Angra dos Reis.

O Rio de Janeiro foi afetado principalmente na região do Jardim Botânico, já no

município de Niterói destaca-se o desastre do morro do Bumba, um antigo lixão

desativado.

Por fim, nesse período, a cidade de Angra dos Reis sofreu com dois grandes eventos

desastrosos, nos anos de 2002 e 2010. O último registro aconteceu entre os dias 30

de dezembro e 1º de janeiro de 2010, por causa de chuvas duradouras e intensas, que

geraram um total de 400 mm de chuva em apenas três dias, sendo esse o dobro da

média mundial do mês de dezembro (Rio de Janeiro, 2013 – Figuras 26 e 27 ). Os

danos humanos foram graves e 53 pessoas morreram. A praia do Bananal (Figura 28)

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teve o maior número de mortes (32) registrado e o morro da Carioca (figuras 29 e 30),

o segundo maior (21), segundo a Defesa Civil de Angra dos Reis.

Figura 26 - Desastre de 2010 em Angra dos Reis (Pinheiros, 2010).

Figura 27 - Deslizamentos em Angra dos Reis no Morro do Santo Antônio (Defesa Civil de Angra dos Reis, 2010).

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Figura 28 - Deslizamentos em Angra dos Reis na praia do Bananal (Defesa Civil de Angra dos Reis, 2010).

Figura 29 - Desastre de 2010 no Morro da Carioca (Uol Notícias apud Becker, 2011).

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Figura 30 - Desastre de 2010 em Angra dos Reis no Morro do Bulé e no Morro da Carioca (Defesa Civil de Angra dos Reis, 2010). De uma forma geral, essa síntese esclarece alguns aspectos do cenário dos desastres

associados a deslizamentos no Brasil, na região Sudeste e no Estado do Rio de

Janeiro, entre os períodos de 1991 e 2012. Ressalta-se que, em conformidade com

esse período, os números indicam uma tendência de crescimento dos registros de

movimentos de massa ao longo dos anos. Nota-se a relevância da frequência de

deslizamentos nos anos de 2010 e 2011 apresentados na Figura 31.

Figura 31 – Gráfico da frequência anual de movimentos de massas ocorridos no Brasil, no período entre 1991 e 2012 (Brasil, 2013).

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3. RISCO

3.1. Conceitos básicos

O conceito de risco, sua previsibilidade, probabilidade e nível de aceitabilidade é

assunto discutido pela comunidade técnica de engenheiros principalmente para obras

de barragens, usinas nucleares, em menor número para torres de transmissão elétrica

e taludes de estradas (Montoya, 2013) e ainda, de forma multidisciplinar, em sistemas

de saúde, em sistemas de transportes, em processos financeiros, em segurança do

meio ambiente e na cadeia de fornecimento de infraestrutura e energia. Tantos

segmentos envolvidos com a gestão do risco gerou a Norma ISO 31000:2009.

Diante da interdisciplinaridade do tema, julgou-se conveniente apresentar

principalmente os conceitos e considerações sobre risco, perigo, suscetibilidade e

vulnerabilidade associados ao problema dos deslizamentos.

3.1.1. Risco

Apresenta-se na Tabela 3 o conceito de risco aplicável para o tema em estudo

segundo diferentes autores e na Tabela 4 sob a forma de fórmula.

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Tabela 3 - Definições de risco encontradas na literatura.

Referência Definição

Slovic (1992) apud Campbell (2006)

Risco é inerentemente subjetivo, não existindo sem um contexto e independente de nossas mentes e culturas, e por isso, não é possível calculá-lo.

Diretiva Seveso 2 (1996) apud Heitz (2009)

O risco é definido como a probabilidade de um efeito específico negativo se produzir em um dado período ou dentro de circunstâncias determinadas.

Finlay e Fell (1997)

Os pesquisadores definem o risco como a probabilidade de determinado deslizamento ocorrer durante certo período versus o grau de perda de pessoas ou estruturas que integram uma área afetada pelo deslizamento.

Alheiros (1998) apud Lucena (2006)

O risco refere-se à probabilidade de ocorrência de um desastre.

Cunha (2005) apud Vieira (2004) apud Lucena (2006)

O risco refere-se a danos possíveis, sendo que se tem consciência do dano.

Lucena (2006)

Risco é a probabilidade de acontecer um acidente, um desastre ou uma ação que deu errado. É a relação entre a probabilidade de que uma ameaça de evento adverso ou acidente se concretize, com o grau de vulnerabilidade do sistema receptor a seus efeitos. O grau de risco dimensiona a probabilidade de ocorrência de acidentes, segundo uma escala de intensidade.

Vargas (2006) O risco é o produto de diferentes percepções que integram visões de mundo, culturas e estruturas de sociabilidade específicas a determinados grupos sociais.

Ministério das Cidades e Cities Alliance (2006)

O termo risco indica a probabilidade de ocorrência de algum dano a uma população (pessoas ou bens materiais). É uma condição potencial de ocorrência de um acidente.

Ministério das Cidades e IPT (2007)

Risco é a relação entre a possibilidade de ocorrência de um dado processo ou fenômeno, e a magnitude de danos ou consequências sociais e/ou econômicas sobre um dado elemento, grupo ou comunidade.

Fell et al. (2008) apud Bressani et al. (2013)

O risco é uma medida da probabilidade e severidade de um efeito adverso à saúde, propriedade ou meio ambiente. O risco é frequentemente estimado pelo produto da probabilidade de um fenômeno de uma dada magnitude multiplicada por suas consequências.

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Referência Definição

Yang et al. (2008)

Os pesquisadores apresentam três definições encontradas na literatura, a saber: 1 - Risco é o produto entre exposição, perigo e vulnerabilidade, encontrado em relatório técnico do governo Australiano. 2 - Em revisão da literatura feita por 'England’s Tyndall Centre for Climate Change Research' entre 1966 e 2003, definiu-se: a) Risco como o produto entre probabilidade e consequência e b) Risco como produto entre perigo e vulnerabilidade social, sendo essas duas definições compatíveis e complementares.

Heitz (2009)

O risco se define como uma combinação entre a suscetibilidade e a vulnerabilidade. Está fortemente ligado a uma probabilidade de ocorrência de um dano e deve levar em conta não só aspectos físicos, mas também sociais, culturais, históricos etc.

UNISDR (2009) O risco é a combinação entre a probabilidade de um evento ocorrer e suas consequências negativas.

Castro (2012)

O risco é definido como: 1 - a medida de dano potencial ou prejuízo econômico expressa em termos de probabilidade estatística de ocorrência e de intensidade ou grandeza das consequências previsíveis. 2 - Probabilidade de ocorrência de um acidente ou evento adverso, relacionado com a intensidade dos danos ou perdas, resultantes dos mesmos.

UNISDR (2012)

O risco é uma função da ameaça (um ciclone, um terremoto, a cheia de um rio, ou o fogo, por exemplo), da exposição de pessoas e bens a essa ameaça, e das condições de vulnerabilidade das populações e bens expostos. Esses fatores não são estáticos e podem ser aperfeiçoados, a depender das capacidades institucional e individual em enfrentar e/ou agir para redução do risco. Os padrões do desenvolvimento social e ambiental podem ampliar a exposição e vulnerabilidade e então ampliar o risco.

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Tabela 4 - Fórmulas relacionadas ao conceito de risco (R) encontradas na literatura.

Fórmulas Referências Descrição dos símbolos

Thouret e D’Ércole (1996)

S: suscetibilidade ou características da origem do risco; V: vulnerabilidade ou lista de impactos do sistema social como um todo; t: tempo; s: espaço;

Finlay e Fell (1997)

P: probabilidade de determinado deslizamento ocorrer sob determinado cenário do evento deflagrador. V: vulnerabilidade ou grau de perda de pessoas ou estruturas que integram uma área afetada pelo deslizamento;

Ministério das Cidades e Cities Alliance (2006)

Um determinado nível de risco R representa a probabilidade P de ocorrer um fenômeno físico (ou perigo) A, em local e intervalo de tempo específicos e com características determinadas (localização, dimensões, processos e materiais envolvidos, velocidade e trajetória); causando consequências C (às pessoas, bens e/ou ao ambiente), em função da vulnerabilidade V dos elementos expostos; podendo ser modificado pelo grau de gerenciamento g.

Fell et al. (2008) apud Bressani et al. (2013)

P: probabilidade de ocorrer um acidente associado a um determinado perigo ou ameaça; C: consequências danosas potenciais do acidente.

Yang et al. (2008)

P: probabilidade de ocorrer um acidente associado a um determinado perigo ou ameaça; Vsocial: Vulnerabilidade social;

Yang et al. (2008)

E: exposição das populações e bens; A: ameaça ou perigo, V: vulnerabilidade de pessoas e bens a essa ameaça;

Heitz (2009) S: suscetibilidade; V: vulnerabilidade ou lista de impactos do sistema social;

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Fórmulas Referências Descrição dos símbolos

UNISDR (2012)

A: ameaça ou perigo V: vulnerabilidade de pessoas e bens a essa ameaça; E: exposição das populações e bens; Re: resiliência ou CE: capacidade de enfrentamento para redução do risco;

Após a análise das tabelas 3 e 4 verifica-se que a discussão acerca do conceito de

risco é ampla e divide opiniões, pois enquanto certos pesquisadores interpretam o

risco sob uma perspectiva objetiva, alguns o definem como sendo algo subjetivo e

outros o enxergam como uma combinação entre objetividade e subjetividade.

Em suas primeiras definições, o risco era conceituado como a probabilidade de

ocorrência de um evento associado a um perigo. Com a evolução desse conceito

convencionou - se, pelo meio técnico, que o risco seria o produto entre a probabilidade

de ocorrência de um evento danoso e possíveis consequências desfavoráveis, o que

representa uma perspectiva objetivista radical (Lieber & Lieber, 2002 apud Mendonça

& Pinheiro, 2013).

No entanto, não são todos os especialistas que seguem essa orientação (Tabela 3).

Os defensores da subjetividade do risco o vêem como não mensurável e dependente

de um contexto histórico e cultural (Slovic, 1992 apud Campbell, 2006). Segundo

Vargas (2006) o risco não pode ser tratado de forma objetiva e absoluta, porque ele é

objeto de uma construção social por grupos diferenciados baseada em crenças e

visões, que sustentam as relações sociais. Para Campbell (2006) o risco é subjetivo

no sentido em que ele depende das experiências de vida, mentais e culturais, porque

esses fatores influenciam nas preferências do indivíduo ou grupo social. Critica-se a

objetividade no trato com a questão do risco, pois normalmente essa visão se

confunde com a noção de “obviedade”, a qual a população é banalizada e sua

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capacidade de enfrentamento para redução dos desastres é negligenciada num

ambiente de conflito de relações de poder, no qual a população exposta ao risco de

desastre não é ouvida, mas inferiorizada por suas escolhas. (Vargas, 2006; Mendonça

& Pinheiro, 2013; Mendonça, 2013).

Finalmente, no ano de 1969, o risco começa a ser visto pela comunidade científica de

forma tanto objetiva quanto subjetiva, devido ao questionamento de Starr: “How safe is

safe enough?”, que faz refletir sobre os fatores, objetivos e subjetivos, que compõem o

grau de aceitação do risco (Heitz, 2009). Esse questionamento foi importante para

evolução das reflexões sobre como o risco deveria ser tratado, sendo cada vez mais

atual o pensamento de que o risco depende dos valores culturais de uma população

exposta. Esses valores são inerentemente subjetivos, porém considerar o contexto

cultural predominante é extremamente importante para compreender como essa

população percebe o risco. Não são menos importantes os estudos quantitativos ou

semi-quantitativos, que representem em números as consequências do desastre, dado

que trabalha-se também com perdas e danos de pessoas, bens e do meio ambiente,

diante de um evento físico previsível.

3.1.2. Perigo

O conceito de risco, em linguagem popular, costuma ser apontado como perigo,

ocasionando certa ambiguidade entre os termos. Em linguagem técnica esses

conceitos se relacionam, porém são diferentes. Segundo Fell et al. (2008) apud

Bressani et al. (2013), o perigo de deslizamentos deve considerar o local, o volume (ou

área), o tipo, a velocidade e a probabilidade de ocorrência dos deslizamentos.

Diferente do risco, que expressa as consequências, em termos de danos, perdas de

vidas, propriedades e serviços, caso o desastre venha a acontecer (Alheiros, 1998

apud Lucena, 2006). Fell et al. (2008) apud Bressani et al. (2013) relaciona risco e

perigo, definindo risco como a probabilidade de ocorrer um acidente associado a um

determinado perigo vezes as consequências danosas potenciais do acidente

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(Tabela 4). A Tabela 5 apresenta os conceitos de perigo encontrados na literatura de

referência.

Tabela 5 - Definições de perigo encontradas na literatura.

Referência Definição

Diretiva Seveso 2 (1996) apud Heitz (2009)

O perigo é definido como uma propriedade intrínseca de uma substância ou de uma situação física que provoca danos para saúde humana e/ou para ao meio ambiente.

Finlay e Fell (1997)

Perigo é uma descrição do volume ou área (magnitude) e da probabilidade de ocorrência de um ou mais deslizamentos.

Alheiros (1998) apud Lucena (2006)

O perigo refere-se à probabilidade de ocorrência de um desastre.

Lucena (2006) Perigo é a situação de ameaça potencial a pessoas, bens ou ao ambiente.

Ministério das cidades e IPT (2007)

Perigo é uma condição ou fenômeno com potencial para causar uma consequência desagradável.

Fell et al. (2008) apud Bressani et al. (2013)

Perigo é uma condição com o potencial de causar uma consequência indesejável dentro de um certo período de tempo.

Heitz (2009) O perigo é toda fonte potencial de dano, de prejuízo ou de efeito nocivo com respeito a um objeto ou uma pessoa.

UNISDR (2009)

Perigo é um fenômeno perigoso, substância, atividade humana ou condição que possa causar perdas de vidas, ferimentos ou outros impactos a saúde, danos materiais, perdas de meios de subsistência e serviços, ruptura social e econômica ou danos ambientais.

Castro (2012) Qualquer condição potencial ou real que pode vir a causar morte, ferimento ou dano à propriedade. A tendência moderna é substituir o termo por ameaça.

3.1.3. Suscetibilidade

No início do século XIX, os desastres não eram mais vistos como punição divina e o

entendimento do termo ‘suscetibilidade’ passou a ser primordial no desenvolvimento

de processos de gestão de risco para redução dos desastres, graças ao maior

conhecimento técnico e científico sobre os elementos da natureza (Veyret e

Reghezza, 2006).

A Tabela 6 apresenta um quadro com as definições de suscetibilidade encontradas na

literatura.

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Tabela 6 - Definições de suscetibilidade encontradas na literatura

Referência Definição

Lucena (2006)

Suscetibilidade é a característica inerente ao meio, que

expressa a probabilidade de ocorrência de eventos ou

acidentes, sob determinadas condições.

Alain Marre em

Dewolf e Bourrié

(2008) apud Heitz

(2009)

Estudioso em Ciências da Terra o autor define a suscetibilidade

como um processo natural que faz parte da evolução normal da

superfície da Terra.

Heitz (2009)

A suscetibilidade ao deslizamento está associada a um

fenômeno que se caracteriza também por sua imprevisibilidade,

a qual é função do espaço, intensidade, ocorrência e duração

do fenômeno.

Dauphiné (2009)

apud Heitz (2009)

A suscetibilidade se traduz, sobretudo, por uma probabilidade

de ocorrência e intensidade de um fenômeno.

Fell et al. (2008)

apud Bressani et

al.(2013)

Uma análise quantitativa ou qualitativa da classificação, volume

(ou área) e distribuição espacial de escorregamentos que

existem ou podem ocorrer em uma área. A suscetibilidade

também pode incluir uma descrição da velocidade e

intensidade do escorregamento existente ou em potencial. A

suscetibilidade de escorregamento inclui escorregamentos cuja

origem é em sua própria área ou fora de sua área, mas pode se

mover para ou regressar à área de origem.

A empregabilidade do termo suscetibilidade será discutida com detalhes no item 3.2

Mapeamento de suscetibilidade e de risco de deslizamentos.

3.1.4. Vulnerabilidade

Existem diferentes visões quanto a vulnerabilidade a se considerar na análise do risco

e abordagens mais convenientes a serem empregadas - qualitativa, semi-quantitativa

e/ou quantitativa. A Tabela 7 apresenta as diferentes definições empregadas na

literatura.

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Tabela 7 - Definições de vulnerabilidade encontradas na literatura.

Referência Definição

Blakie et al. (1994)

apud Yang et al.

(2008)

O autor define vulnerabilidade como as características de um

indivíduo ou grupo, que os permitem participar, lidar, resistir e se

recuperar quando expostos a impactos provocados por desastres.

A desigualdade social manifesta a capacidade do indivíduo de

resistir e se recuperar de desastres.

Thouret e D’Ércole

(1996)

A vulnerabilidade é quando se está sensível a lesões e ataques,

sendo incapaz de enfrentar as dificuldades para recuperação da

saúde em risco.

Finlay e Fell

(1997)

Vulnerabilidade é o grau de perda de pessoas ou estruturas que

integram uma área afetada pelo deslizamento.

CEPAL (2002)

apud Vargas

(2006)

A condição de "vulnerável" está associada à produção de um

dano, físico ou moral, a partir de evento potencialmente adverso,

associado a uma incapacidade de resposta, devido à ausência de

aptidão ou à carência de fontes de apoio externas – e a uma

inabilidade para se adaptar ao novo cenário gerado pela

materialização do risco.

Lucena (2006)

Vulnerabilidade é a condição específica de um cenário que

determina a intensidade dos danos prováveis se houver a

concretização de uma determinada ameaça.

Vargas (2006)

A vulnerabilidade está associada a danos produzidos, pode ser

gerada pela pobreza, porém a mesma não é seu maior estímulo,

porque existem distinções internas básicas que estão vinculadas

a capacidade de resposta e a habilidade de adaptação dos

afetados, mesmo que os mecanismos adaptativos se mostrem

perversos (como a informalidade, as ocupações espontâneas de

terras, entre outros). Não só a pobreza, mais a mobilidade

socioeconômica descendente são riscos consequentes de

distintos sinais de vulnerabilidade como falta de ativos, sua

desvalorização ou a inabilidade para manejá-los. Essa condição

vulnerável pode ser gerada pela erosão dos laços comunitários e

pela perda de transferências do Estado.

Berry et al. (2006) A vulnerabilidade determina a exposição, a sensibilidade ou a

adaptação da sociedade frente à suscetibilidade de deslizamento.

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Referência Definição

Yang et al. (2008)

A vulnerabilidade é um termo que não envolve somente discussões do meio ambiente físico (magnitude, intensidade e frequência), mas também circunstâncias sociais, econômicas e políticas; também chamada de vulnerabilidade social.

Fell et al. (2008) apud Bressani et al. (2013)

O grau de perda para um dado elemento ou grupo de elementos dentro da área afetada pelo escorregamento. É expressa numa escala de zero (sem perda) até um (perda total). Para propriedades, a perda será o valor do dano relativo ao valor da propriedade; para pessoas, será a probabilidade de uma vida em particular (elemento em risco) ser perdida, dado que a pessoa seja afetada pelo escorregamento.

UNISDR (2009) Vulnerabilidade: características e circunstâncias de uma comunidade, sistema ou ativos que se tornam suscetíveis aos efeitos nocivos do perigo.

Castro (2012)

Vulnerabilidade: 1. Condição intrínseca ao corpo ou sistema receptor que, em interação com a magnitude do evento ou acidente, caracteriza os efeitos adversos, medidos em termos de intensidade dos danos prováveis. 2. Relação existente entre a magnitude da ameaça, caso ela se concretize, e a intensidade do dano consequente. 3. Probabilidade de uma determinada comunidade ou área geográfica ser afetada por uma ameaça ou risco potencial de desastre, estabelecida a partir de estudos técnicos. 4. Corresponde ao nível de insegurança intrínseca de um cenário de desastre a um evento adverso determinado. Vulnerabilidade é o inverso da segurança.

Da análise da Tabela 7 percebe-se que alguns autores apresentam uma definição

muito limitada da vulnerabilidade, como Fell et al. (2008) apud Bressani et al. (2013),

enquanto outros evidenciam que a mesma é considerada por aspectos sociais,

econômicos e políticos.

Os primeiros estudiosos dos sistemas de vulnerabilidade acreditavam que ela

dependia unicamente das características físicas dos elementos suscetíveis a danos,

não considerando em sua definição condições sobre o comportamento humano e a

dimensão temporal do desastre (Steinführer et al., 2007 apud Yang et al., 2010).

Porém, com a inclusão das perspectivas sociais e geográficas e consequente

interação entre sistemas sociais, políticos e econômicos, o conhecimento ficou mais

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completo. Reconhecer porque determinados elementos podem estar suscetíveis a

maiores riscos que outros requer conhecimentos sobre vulnerabilidade social, uma vez

que as circunstâncias ou características das vítimas dos desastres e os fatores

afetados pela estrutura social são compreendidos, levando a possíveis ações para

redução dessa vulnerabilidade e ao aumento da capacidade de resposta da sociedade

exposta ao perigo.

A inclusão da vulnerabilidade social em análises de risco é recente. A abordagem

anteriormente era mais centrada no estudo da suscetibilidade, sendo a gestão do risco

uma resposta à intensidade e a frequência dos fenômenos naturais, em que a

sociedade era vista como vítima passiva, cabendo somente gerir os impactos

decorrentes do processo físico (Veyret e Reghezza, 2006). A função do engenheiro

passava pela elaboração de soluções técnicas obedecendo a uma racionalidade

econômica condicionada a decisões políticas para sua efetiva aplicação. Hoje existe

maior consciência de que soluções com foco exclusivo no processo físico, excluindo

os grupos sociais, podem ser deficientes (Yang et al., 2010).

Segundo Heitz (2009) as abordagens para análise da vulnerabilidade são três:

a) Abordagem qualitativa: em que a vulnerabilidade é identificada e sofre o

efeito de fatores ligados ao crescimento demográfico, ao modo de

ocupação e uso do solo e a fatores socioeconômicos, socioculturais,

históricos, culturais, psicológicos, técnicos, funcionais e político-

administrativos.

b) Abordagem semi-quantitativa: que tem como fim a cartografia das

zonas mais vulneráveis, caracterizando a propensão a danos

categorizados socialmente e espacialmente em relação aos elementos

expostos.

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c) Abordagem quantitativa: baseada em elementos de vulnerabilidade

passíveis de serem medidos pela determinação de porcentagens de

perda e de suas repercussões econômicas, pelas análises de custo-

benefício das ações de prevenção e informação etc.

Compreendido o conceito, o grau de vulnerabilidade de cada pessoa e da comunidade

é significativamente influenciado por sua percepção de risco, posto que esta exprimi a

relação da mesma com o risco e, em segundo plano, a capacidade de preparação e

resistência aos desastres.

Thouret e D’Ércole (1996) discorrem sobre a análise dos fatores socioculturais que

variam a vulnerabilidade de grupos e indivíduos frente ao alerta de desastre. Na

análise desses fatores, a percepção de risco dos indivíduos e grupos é um

componente que pode ser avaliado por meio de entrevistas, o que permite reconhecer

as ameaças e as possíveis consequências danosas, a qualidade ambiental do local,

etc.

Através dessas entrevistas a percepção do risco procura conhecer os comportamentos

de populações expostas, suas reações individuais e coletivas à ações preventivas e

emergenciais, e suas ideologias, sendo possível selecionar entre quatro modos de

resposta (ou prováveis reações) ao desastre, aquele mais apropriado a determinada

população (Mileti, 1993; Drabek, 1986 apud Thouret & D’Ércole,1996).

a) Primeiro modo: absorção passiva do dano repetido; existe ausência de

consciência do indivíduo a cerca do risco e/ ou ausência de preparação da

comunidade frente ao desastre, gerando vulnerabilidades e reações de pânico

e fuga. Os danos são enormes e os custos pós-desastre são exorbitantes.

b) Segundo modo: aceitação do dano; existe uma forma de partilha dos danos,

perdas e custos, ocasionados pelo desastre, que reflete a aceitação do risco

previsível. Durante a organização de resgates e medidas de proteção pós-

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desastre são vistos exemplos de solidariedade e interação entre comunidades

afetadas.

c) Terceiro modo: sugere atitudes para atenuação individual ou coletiva do dano,

antes, durante e pós-desastre, por exemplo, a elaboração de planos de

proteção de evacuação antes do desastre.

d) Quarto modo: se baseia na modificação radical do comportamento social em

caso de crise, mudar o modo de ocupação do solo, deslocando a população

ameaçada e as realojar em terrenos próprios para construção e julgados sem

perigo, por exemplo.

A análise das vulnerabilidades de uma população é importante, porém complexa, uma

vez que deve ser conduzida em sociedades diferentes, com diversos níveis de

percepção.

3.2. Mapeamento de suscetibilidade e de risco de

deslizamentos

As melhorias metodológicas e as recentes técnicas para reconhecimento do terreno,

captação e análise de dados (sistemas de informação geográfica e sensoriamento

remoto) vem contribuindo para o aumento da confiabilidade na elaboração de mapas

de zoneamento de suscetibilidade e de risco, que são importantes ferramentas para o

planejamento do uso do solo nas cidades. A busca por aperfeiçoamento técnico e

terminologia unificada na elaboração desses mapas reuniu especialistas de diversos

países que, juntamente com o Comitê Técnico de Escorregamentos e Taludes

Construídos das associações ISSMGE, IAEG e ISRM (1-Joint Technical Committee on

Landslides and Engineered Slopes – JTC-1), lançaram diretrizes para o zoneamento

da suscetibilidade, perigo e risco de deslizamentos (Fell et al. , 2008 apud Bressani et

al. , 2013).

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O mapa de zoneamento de suscetibilidade de deslizamentos deve abranger o

tipo/classificação, a magnitude (grau de suscetibilidade baixo, médio, alto e muito alto)

e a distribuição espacial de deslizamentos existentes ou potenciais. Sua formação leva

em consideração os seguintes itens:

I. A probabilidade de ocorrerem deslizamentos no futuro em áreas com

topografia, geologia ou geomorfologia similares às áreas que já aconteceram

deslizamentos ou mesmo a probabilidade de repetição do evento em áreas

afetadas no passado.

II. O Inventário de deslizamentos – descrição dos movimentos de massa

pretéritos, considerando: local, tipo de movimento, volume, distância de

deslocamento, estado de atividade e data de ocorrência do deslizamento.

III. A origem dos deslizamentos - dentro da própria área de estudo ou fora da área

de estudo, mas com o caminho de ruptura afetando a área de estudo.

IV. A estimativa de áreas potenciais a deslizamentos futuros.

V. A distância de deslocamento, o volume e a velocidade, que podem variar com

a distância da fonte do deslizamento, e a intensidade do deslizamento

potencial ou existente (intensidade medida em termos da velocidade do

deslizamento, do volume deslocado, da energia cinética do deslizamento etc.).

VI. Mapas com topografia e unidades topográficas (encostas, bacias

hidrográficas), geologia (unidades litológicas), formações superficiais (colúvio,

aluvião, solo residual etc.), vegetação e uso do solo etc., na mesma escala do

mapa de suscetibilidade.

VII. O mapa de suscetibilidade não fornece informações sobre o período de tempo

(frequência) dos deslizamentos, (por exemplo, a probabilidade anual dos

deslizamentos potenciais).

O mapa de suscetibilidade é uma ferramenta que auxilia o levantamento de percepção

de risco associado a deslizamentos e permite identificar as áreas onde são

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necessárias intervenções (obras de engenharia ou remoções de moradia) e onde são

possíveis expansões urbanas (Coelho Netto et al., 2013). O mapa de zoneamento de

perigo de deslizamentos envolve os resultados obtidos do zoneamento de

suscetibilidade e se diferencia dele por fornecer a frequência (p.ex.: probabilidade

anual), expressa de acordo com o tipo e o volume de deslizamentos em potencial –

por exemplo: para o tipo ‘queda de blocos’, o perigo poderia ser expresso em

m3/ano/km, ou seja, a frequência consiste no número de quedas de um volume de

blocos (m3) por ano que poderão alcançar a área sendo mapeada por km ao longo da

escarpa (Fell et al., 2008 apud Bressani et al. , 2013).

O mapeamento de risco de deslizamentos envolve os resultados do zoneamento de

perigo e os relaciona aos elementos em risco, tais como: população, construções e

obras de engenharia, atividades econômicas, utilidades de serviços públicos,

infraestrutura e meio ambiente da área potencialmente afetada pelo perigo a

deslizamento (acima ou abaixo do talude), impactos indiretos (redução das atividades

econômicas) e impactos ambientais. Essa relação se constitui por meio da avaliação

da probabilidade e vulnerabilidade espaço-temporal dos elementos em risco,

analisando o potencial de danos às pessoas (probabilidade anual de perdas de vida),

às propriedades (valor anual de perda estimada de propriedades, sendo o valor do

dano relativo ao valor da propriedade) e ao meio ambiente (valor anual de perda) (Fell

et al., 2008 apud Bressani et al., 2013). Ainda existem limitações relacionadas às

análises de vulnerabilidades, de forma que essa avaliação não considera: os danos às

pessoas feridas, enfermas, desalojadas e desabrigadas; e a influência dos aspectos

socioeconômicos da população afetada sobre suas consequências.

O zoneamento de risco é apropriado para determinar a ordem de prioridade das

intervenções estruturais e não estruturais envolvidas na redução de riscos de

desastres na região abrangida pelo mapeamento.

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O mapa de zoneamento de suscetibilidade de deslizamentos da cidade de Angra dos

Reis seguiu essas diretrizes, tendo sido elaborado por pesquisadores do Instituto

Nacional de Ciência e Tecnologia de Reabilitação de Encostas e Planícies / INCT-

Reageo (Coelho Netto et al., 2014).

A metodologia para o zoneamento proposta pelo Laboratório de Geo-Hidroecologia

(GEOHECO-IGEO/UFRJ) incluiu os seguintes passos.

I. Aquisição de imagens de satélite tridimensionais.

a) Obtenção de modelos digitais de elevação.

Construção de base topográfica.

Mapeamento da rede de canais (criação de linhas de

drenagem).

Obtenção das declividades das encostas em graus.

Classificação da posição das encostas em relação aos graus

de suscetibilidade e aos mecanismos de movimentação de

massa (Índice de posicionamento Topográfico).

II. Localização de ‘pontos’ representativos de escorregamentos pretéritos.

III. Elaboração de Inventário de deslizamentos.

IV. Levantamento de campo.

a) Que conferem estabilidade local e reduzem o nível de

suscetibilidade: obras de engenharia para contenção das encostas.

b) Que provocam o aumento de injeção local de água no solo,

favorecendo sua instabilidade e, portanto, aumentando o nível de

suscetibilidade: pontos de infiltração natural de água, escadas de

acesso para habitações nas encostas, canaletas e bueiros de drenagem

artificial em mau estado de conservação, cicatrizes de deslizamentos,

sulcos e ravinas, afloramentos de rochas e blocos de rochas.

V. Geração de cartas temáticas em escala 1:5000.

VI. Cartas geológico-geotécnica, hidro - geomorfológica, carta de cobertura vegetal

e uso/ocupação do solo (verifica-se a presença de drenos, casas com

vazamentos, casas com saída de efluentes nas encostas).

VII. Carta de suscetibilidade a deslizamento.

Associação entre quatro classes de suscetibilidade (baixa, média, alta e

muito alta) com cinco mecanismos de deslizamentos (translacional,

rotacional, rastejo, fluxo detrítico e queda de blocos).

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VIII. Elementos em risco.

(elementos extraídos do Censo 2010 do IBGE)

a) Número de domicílios.

b) Número de habitantes expostos nas áreas sob diferentes níveis de

suscetibilidade.

IX. Carta de risco a deslizamentos.

a) Associação da carta de suscetibilidade com os elementos de risco.

b) Cruzamento das três classes de densidade populacional: baixa (<100

pessoas/ha), média (100 – 200 pessoas/ha) e alta (>200 pessoas/ha)

com quatro classes de suscetibilidade (baixa, média, alta e muito alta),

gerando 12 classes de risco.

O mapa de suscetibilidade permite a identificação de potenciais áreas de risco

associadas a diferentes tipos de deslizamentos existentes na área de estudo (Figura

32). Conforme Coelho Netto et al. (2014), os resultados do mapa de zoneamento de

suscetibilidade são válidos e permitem as seguintes conclusões.

Os tipos de deslizamentos com maior probabilidade de ocorrência são: translacional

(raso) em encostas, e fluxo detrítico nos fundos de vales drenados por canais naturais;

O maior número de construções formais e informais está em áreas de suscetibilidade

média, sendo, no entanto, rodeadas por encostas sob alta e muito alta suscetibilidade;

Os pontos de recarga adicional de água no solo (representados por drenagem pluvial

deficiente e/ou despejo de águas servidas ou esgoto no terreno) aumentam a

suscetibilidade pontual a deslizamentos.

A validação do zoneamento de suscetibilidade foi realizada após comparação entre as

porcentagens de ocorrência de deslizamentos em diferentes graus de suscetibilidade,

calculadas a partir do mapa produzido e do inventário de deslizamentos (Coelho Netto

et al., 2013).

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Figura 32 - Mapa de zoneamento de suscetibilidade de Angra dos Reis (Coelho Netto et al., 2013).

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3.3. Percepção de risco associado a deslizamentos

3.3.1. Considerações iniciais

Diferentes definições de percepção de risco são apresentadas na Tabela 8 baseando-

se nos trabalhos de Finlay e Fell (1997), Lucena (2006), Vargas (2006), Ho et al.

(2008), Heitz (2009), Mendonça e Pinheiro (2013) e Mendonça (2013). A maioria dos

conceitos é feita de forma geral, sendo alguns deles voltados para o caso de risco

associado a deslizamentos.

Tabela 8 - Definições de percepção de risco encontradas na literatura.

Referência Definição

O'Riordan (1986)

apud Heitz (2009)

A percepção de um risco é um processo que associa os juízos

individuais sobre o grau de risco ao qual se está exposto com

o evento em potencial.

Cutter (1993) apud

Heitz (2009)

A percepção de risco é, em primeiro lugar, a maneira em que

os indivíduos pensam sobre os riscos e os perigos.

Finlay e Fell (1997)

A percepção de risco associada a deslizamentos é o resultado

da consulta ao público que revela as visões, os sentimentos e

as preferências das pessoas, sendo esses elementos cruciais

na avaliação do risco a deslizamentos e, portanto, deveriam

fazer parte de qualquer sistema de gestão de risco. A

percepção de risco depende de julgamentos individuais e

envolve considerável subjetividade, governada por fatores

psicológicos.

Weinstein (citado em

Sjoberg et al.,2004)

apud Heitz (2009)

A percepção de risco é uma noção que extrapola o indivíduo,

trata-se de uma construção social e cultural que integra

valores, símbolos, história e ideologia.

Sjoberg et al. (2004)

apud Heitz (2009)

A percepção do risco é uma noção que coloca o indivíduo no

centro, estando associada ao nível de interesse dos indivíduos

acerca do respectivo risco.

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Referência Definição

Vargas (2006)

A percepção do risco está sujeita aos aspectos culturais e

pessoais, o que revela, dentro de uma mesma situação e

contexto, visões diferenciadas e conflituosas acerca da

experiência do risco, cabendo à psicologia social estabelecer

forma e parâmetros para que o entendimento se complete.

Ho et al. (2008) A percepção de risco é um conjunto de julgamentos intuitivos

sobre o risco das pessoas sujeitas a determinado perigo.

Heitz (2009)

A percepção de risco pode ser definida como uma

consequência da transformação da probabilidade de um

desastre. Os indivíduos transformam essa probabilidade em

função de suas próprias percepções, a um valor quantificável e

previsível fortemente influenciado por estímulos sociais e

experiências dos grupos/indivíduos sujeitos ao risco.

Castro (2012)

Percepção de risco é a impressão ou juízo intuitivo sobre a

natureza e a magnitude de um determinado risco e/ou é a

percepção sobre a importância ou gravidade de um

determinado risco, com base no repertório de conhecimento

que o indivíduo acumulou, durante o seu desenvolvimento

cultural, e sobre o juízo político e moral de sua significação.

Mendonça e Pinheiro

(2013); Mendonça

(2013).

A percepção de risco associado a deslizamentos é o grau de

risco percebido pelos moradores em relação à ameaça que os

deslizamentos representam para os mesmos de acordo com

os aspectos da cultura e experiências ou vivências do

passado.

Com fins de situar o estudo da percepção de risco no tempo e no espaço, discorre-se

sobre sua origem e evolução, tendo como referência a contribuição da geógrafa

Carine Heitz (2009).

Apesar do discurso dos especialistas enfatizar a segurança em atividades nucleares,

no final dos anos 60 manifestações contrárias à prática ocorreram nos Estados

Unidos, sendo esse um indício da diferença de percepção de risco entre especialistas

e população (Slovic et al.,1979, Slovic, 1992, 2000 apud Heitz, 2009). Essa diferença

entre ‘cientistas’ e ‘leigos’ foi o foco dos primeiros estudos em percepção de risco.

Enquanto aqueles abordavam o risco através de consequências eventuais e

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probabilidades de ocorrência, com uma visão quantitativa e objetiva, esses a definiam

qualitativamente, dentro de uma visão subjetiva, a qual leva em conta suas crenças,

hábitos e valores (Marris et al., 1998, Rowe & Wright, 2001 apud Heitz, 2009). Nesse

contexto, as pesquisas sobre percepção de risco evoluíram com a contribuição de

diversos autores, abrangendo discussões em certos aspectos consensuais e em

outros divergentes. Entretanto, a pesquisa sobre o tema ainda é incipiente, talvez

pelos incentivos mais voltados às ações estruturais (obras de engenharia) em

detrimento de ações de âmbito social.

Ainda não há no Brasil uma cultura de risco que privilegie a prevenção e valorize o

engajamento dos indivíduos e grupos sociais expostos a situações de risco. O estudo

psicológico da percepção de risco associado a deslizamentos é uma forma de dar voz

aos moradores para que, a partir do que eles entendem sobre risco, exista uma melhor

identificação com o processo de comunicação presente nas atividades de prevenção.

Espera-se que a maior compreensão do morador sobre como se prevenir do impacto

de um desastre diminua a sua vulnerabilidade e aumente a sua resiliência.

O levantamento da percepção dos moradores em relação ao risco associado a

deslizamentos deve preceder o planejamento e a execução de ações para redução

dos desastres, como por exemplo, obras, realocação de moradores, sistemas de

alarme, evacuação emergencial, atividades educativas, redução das ações antrópicas

nocivas à estabilidade, entre outras. O interesse e a participação da população nessas

ações vão depender do grau de suscetibilidade percebido pelos moradores em relação

à ameaça dos deslizamentos (Mendonça & Pinheiro, 2013; Mendonça, 2013). O

resultado desse levantamento permite identificar os comportamentos e as ideologias

dos indivíduos expostos a uma situação de risco de deslizamento; comparar o grau de

risco ao deslizamento sentido pelo morador com o grau de suscetibilidade presente no

mapa de zoneamento de suscetibilidade a deslizamentos da região de moradia;

selecionar mensagens adequadas para prevenção dos desastres e descartar as

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inapropriadas; aumentar a confiabilidade da população nos processos de gestão de

risco de deslizamentos; e questionar a legitimidade das instâncias responsáveis pela

transmissão de mensagens de alerta e prevenção de desastres.

Os estudos de percepção de risco aparecem como uma nova área de investigação

dentro do campo de análise de riscos, se contrapondo a um contexto que subestima

ou ignora a dimensão social do risco, porque este não considera que as atitudes e a

capacidade de resposta dos grupos sociais ou indivíduos, frente ao perigo em que

estão expostos, façam parte do processo de construção do risco (PERES, 2002 apud

Vargas, 2006).

O estudo feito por pesquisadores de Taiwan (Ho et al., 2008; Lin et al., 2007) vem

reforçar que os métodos para melhor investigação sobre os fatores que influenciam a

percepção de risco estão sendo estudados no mundo todo. Estes pesquisadores citam

resultados interessantes de diferentes pesquisas sobre o assunto, como por exemplo:

que o comportamento dos indivíduos expostos ao perigo de deslizamentos ou

inundações está relacionado às percepções desse perigo e às influências sociais e

características demográficas dos mesmos (Lindell, 2000 apud Ho et al., 2008); que a

adoção de precauções pessoais evitam danos causados por inundações; que existe

uma menor disposição das vítimas de desastres de inundações e deslizamentos,

comparadas ao público em geral, de adotar medidas de redução do risco, mesmo que

elas percebam grandes impactos, sejam mais preocupadas com os desastres e

prestem mais atenção nas informações sobre os perigos. Ressalta-se que esses

autores verificaram que esse último comportamento se deve à sensação de

impotência diante dos desastres, o que pode ser mitigado com ações que provem que

de fato a população pode fazer algo para reduzir o risco. O estudo de Ho et al. (2008)

fundamenta-se na pesquisa ‘National Risk Perception Survey (NRPS)’, impulsionada

após o desastre ocorrido em Taiwan em 2004, quando várias cidades foram

seriamente afetadas por deslizamentos e inundações, resultando em muitas perdas

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econômicas e mortes. Taiwan sofre anualmente severos eventos de inundações e

deslizamentos de terra, investindo bastante em obras de engenharia para redução dos

desastres, as quais se mostram insuficientes diante da permanência dos problemas.

Nesse contexto, Ho et al. (2008) destacaram a importância do estudo sobre a

percepção de risco das vítimas e verificaram que esse vem sendo negligenciado na

gestão dos desastres.

Os pesquisadores Finlay e Fell (1997) reforçam ainda que, em um sistema de gestão

de risco, se não há investigação sobre os sentimentos e juízos das pessoas

envolvidas, as decisões propostas para minimizar o problema do risco serão baseadas

em suspeitas em nome de um público que não foi consultado.

Para Lucena (2006), riscos podem ser potencializados ou reduzidos de acordo com os

valores culturais do indivíduo ou grupo social. Hábitos, valores e costumes geram

ações, de caráter danoso ou não, ao meio ambiente, podendo alterar condicionantes

naturais, que no caso de encostas podem contribuir para a ocorrência de

deslizamentos.

Segundo Heitz (2009), as populações não pensam que elas podem realizar ações

benéficas frente a um risco, todavia, simples modificações dos seus comportamentos

e de suas percepções de risco podem ser positivas para redução dos danos.

Portanto, os elementos utilizados para o estudo da percepção de risco englobam: a

cultura individual e de grupo, que condiciona o comportamento e gera atitudes

modificadoras do meio; o entendimento sobre o grau de responsabilidade que cada

indivíduo atribui a si mesmo como agente social e transformador do meio; os

instrumentos utilizados pela comunidade na reversão dos danos causados pelas

ações antrópicas.

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3.3.2. Experiências em levantamento de percepção de risco

observadas na literatura

As metodologias e experiências variadas sobre o levantamento da percepção de risco

utilizadas como referência para a elaboração do presente estudo serão destacadas na

Tabela 9.

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Tabela 9 - Experiências em levantamentos de percepção de risco.

Autores Título do trabalho Formação dos

autores citada no trabalho

Tipo de evento ao

qual o risco está

associado

Levantamento da percepção de risco

Local Ano Tipo de público

Finlay, 1 Fell,2 (1997). Deslizamentos de terra: percepção de risco e aceitação.

1 Pesquisador 2 Engenheiro Civil

Deslizamentos de terra.

Austrália e Hong Kong

_ Tabela 12 – Descrição dos grupos questionados por Finlay e Fell (1997).

Lucena (2006).

Percepção das ações antrópícas na comunidade do Alto Vento, Bairro de Sucupira - Jaboatão dos Guararapes - PE.

Assistente Social e Mestre em Gestão de Políticas Públicas,

Deslizamentos de terra.

Bairro de Sucupira - Jaboatão dos Guararapes – PE, Brasil.

_

Moradores com disponibilidade para responder as perguntas e com maior tempo de convivência no local.

Vargas (2006).

Construção social da Moradia de risco: Trajetórias de Despossessão e Resistência - A experiência de Juiz de Fora/MG.

Assistente Social e Mestre em Planejamento Urbano e Regional

Deslizamentos de terra.

Juiz de Fora/MG, Brasil.

_

Moradores com históricos de remoções e vivências em áreas de risco, os quais solicitaram atendimento da Defesa Civil de Juiz de Fora.

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Autores Título do trabalho Formação dos

autores citada no trabalho

Tipo de evento ao qual

o risco está associado

Levantamento da percepção de risco

Local Ano Tipo de público

Ho et al. (2008) - Ming-Chou Ho; Daigee Shaw; Shuyeu Lin e Yao-Chu Chiu.

Como as características de um desastre influenciam a percepção de risco?

Psicólogos e Economistas

Deslizamentos de terra e Inundações.

Taiwan, República da China.

2004

Grupo com experiências de desastre em inundações.Grupo afetado diretamente por deslizamentos de terra.Grupo afetado indiretamente por deslizamentos de terra.

Mendonça e Pinheiro (2013); Mendonça (2013). Mendonça,1 e Pinheiro,2.

Percepção de risco associado a deslizamentos de terra por parte da população moradora da comunidade do Maceió, Niterói, RJ.

1 Doutor em Engenharia Civil. 2 Engenheira Civil.

Deslizamentos de terra.

Bairro do Maceió, Niterói, RJ, Brasil.

2011 e 2012

Moradores do bairro do Maceió.

Heitz (2009).

A percepção do risco de corridas de lama: análise sociogeográfica e contribuições a economia comportamental.

Engenheira de Pesquisas e Doutora em Geografia

Corridas de lama.

Região da Alsace, França.

_

Pessoas mais envolvidas com os desastres foram entrevistadas, como por exemplo, os governantes locais, os moradores, os agricultores da região e estudantes com conhecimentos sobre deslizamentos de terra.

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A metodologia utilizada por Heitz (2009) em seu trabalho sobre percepção de risco

associado a deslizamentos além de considerar as especificidades da região de estudo,

(físicas, espaciais e demográficas), divide-se em quatro fases principais: a escolha das

comunidades, dos entrevistados, da técnica empregada nas entrevistas e do método

de amostragem. Para a escolha da comunidade, fatores como a frequência de

ocorrência dos desastres, o número de danos e as medidas de prevenção e mitigação

dos eventos foram considerados. Procurou-se comparar diferentes percepções em

função dos conhecimentos sobre o fenômeno, dos níveis de informação e de

experiências vividas do público considerado em seu trabalho.

Foi preciso realizar uma etapa preliminar de entrevistas pessoais semi-estruturadas

com três indivíduos representativos de cada tipo de público entrevistado. As

entrevistas semi-estruturadas são compostas por perguntas principais sobre o tema

proposto, previamente formuladas e completadas com questões feitas livremente,

conforme a entrevista se desenvolve (Manzini, 1991). Os objetivos eram de formar as

temáticas e as problemáticas que seriam abordadas durante as entrevistas.

Na segunda etapa, as entrevistas foram feitas por meio de questionário auto-

administrado, que permite a adequação da linguagem a ser utilizada, a fim de se evitar

dúvidas dos entrevistados a cerca das perguntas, já que não há a presença do

entrevistador para auxiliá-los com eventuais incompreensões. Esse tipo de

questionário demanda um tempo considerável de preparação, mas fornece dados de

qualidade. Em seguida, foram realizadas as alterações necessárias, a validação e

distribuição do mesmo questionário a todo tipo de público selecionado, segundo um

plano espacial determinado.

Os dados coletados a partir da criação do questionário utilizados para a análise da

percepção do risco são relativos às seguintes categorias: definição do risco,

prevenção e informação, legitimidade dos órgãos que governam os planos de gestão

do risco, ações de proteção implementadas, memória do risco, quantificação de

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elementos ligados ao agravamento do risco, representação das zonas de risco por

meio de uma cartografia.

Finalmente, na última etapa foram escolhidas 11 comunidades com condições físicas

e urbanas similares e as entrevistas foram distribuídas espacialmente de acordo com

as diferentes zonas suscetíveis ao deslizamento, com exceção das entrevistas

realizadas com estudantes, que aconteceram em uma sala de aula.

A pesquisadora Lucena (2006) forneceu outra contribuição sobre metodologias para o

levantamento de percepções de risco. A pesquisadora fundamentou-se no

mapeamento de risco do Plano Municipal de Redução de Risco (PMRR), onde foram

identificados quatro graus de risco, de baixo ou inexistente a muito alto, e suas

respectivas avaliações qualitativas de suscetibilidade. Nessas áreas foram feitas

visitas domiciliares, entre abril e maio, início do período chuvoso na região de estudo e

aplicadas entrevistas semi-estruturadas. O questionário elaborado para essas

entrevistas continham 21 perguntas. Trinta pessoas participaram das entrevistas, entre

homens e mulheres, sendo escolhidos moradores com disponibilidade para responder

as perguntas e com maior tempo de convivência no local. Antes da aplicação dos 30

questionários, realizou-se um pré-teste para análise da consistência das questões.

O questionário foi composto por perguntas que possibilitaram extrair informações dos

perfis dos entrevistados sobre: o tempo de residência no local e o nível de relação com

o lugar; a escolaridade e ocupação do local; o histórico de ocupação do lugar; a

percepção da comunidade sobre as próprias ações para enfrentamento do risco; a

progressão do risco; a orientação do poder público e da defesa civil; a mobilização e

sensibilização para o trabalho coletivo para redução do risco; os principais problemas

relacionados à moradia; a percepção da ocorrência do deslizamento; a situação de

risco da própria casa e de que tipo de risco ela está sujeita; as plantações nas

encostas e retirada da vegetação; o significado de qualidade de vida; os problemas de

infraestrutura, como presença de fossa séptica perto das encostas; as entidades que

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ajudam com os problemas da comunidade; a organização social, participação

comunitária e conflitos com vizinhos diante dos riscos de deslizamentos; os hábitos

comportamentais dos moradores de diferentes áreas de risco e como eles se

influenciam, potencializando ou reduzindo os riscos.

A terceira contribuição nesse estudo trata-se do trabalho de Mendonça e Pinheiro

(2013) e Mendonça (2013). O levantamento da percepção de risco feita pelos

pesquisadores se baseou em entrevistas com o método semi-estruturado, em que o

roteiro de entrevistas aplicado apresentou perguntas fechadas e abertas e o

entrevistado é livre para discorrer sobre o tema (Minayo et al., 2012). A comunidade

residente em determinada área de estudo foi entrevistada e os resultados foram

analisados qualitativamente por meio das frequências das respostas. As perguntas

visaram levantar crenças, opiniões e condutas da população sobre deslizamentos de

terra, suas causas, a influência das ações antrópicas e a hierarquização desse tipo de

ameaça frente a outras às quais a população está submetida.

O método aplicado também questionou as instituições envolvidas com a comunidade

em situação de emergência e os responsáveis pelos problemas dos desastres de

acordo com os moradores. O questionário foi aplicado a 50 moradores da comunidade

e os objetivos específicos da entrevista foram omitidos aos moradores para que se

evitasse possível indução das respostas.

A seguir, apresenta-se parte do questionário aplicado para o levantamento da

percepção de risco, segundo esse método.

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73

Tabela 10 - Parte do questionário aplicado para levantamento da percepção de risco por Mendonça e Pinheiro (2013).

Itens Questões

Qual é o principal problema que afeta sua vida

e de sua família? 1

O que você mais gosta e o que te incomoda no

seu bairro? 2

Quando começa a chover forte, qual a sua

principal preocupação? 3

Você já foi afetado ou conhece alguém próximo

que foi afetado por algum desastre provocado

por deslizamento?

4

Quem deveria ser o responsável pelos prejuízos

provocados por deslizamentos de terra? 5

O que você acha que o homem faz que possa

causar o deslizamento de terra? Coloque em

ordem de importância: jogar lixo e entulho na

encosta; fazer cortes muito inclinados para

construção de casas; água e esgoto lançados

no terreno; retirada de árvores.

6

Quem ajuda mais a comunidade em um momento da necessidade dos moradores?

7

A quarta pesquisa refere-se ao trabalho de Finlay e Fell (1997), feito pela Escola de

Engenharia Civil da University of de New South Wales, Austrália, sobre percepção de

risco associado a deslizamentos por parte de moradores.

Conforme dito anteriormente, para o levantamento da percepção de risco Finlay e Fell

(1997) se valeram da análise de pontos qualitativos observados na Tabela 11.

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74

Tabela 11 - Pontos qualitativos do questionário por Finlay e Fell (1997).

Questionário Pontos qualitativos

1. Visões gerais sobre deslizamentos.

2. Fatores cognitivos associados ao perigo de

acidente de trânsito ao dirigir um carro.

3. Fatores cognitivos associados ao perigo de

deslizamento de terra.

4. Fatores cognitivos associados ao perigo de

acidentes em complexos petroquímicos.

5. Visões sobre quais os limites para o

desenvolvimento das áreas afetadas pelo

deslizamento de terra.

6. Responsáveis pelo pagamento da estabilização das

encostas sujeitas a deslizamentos, pelos

novos regulamentos e pelos custos com obras

de reparação.

7. Classificação relativa de importância dada ao perigo

de deslizamento frente a outros perigos.

8. Classificação relativa entre diferentes situações de

deslizamento considerando a expectativa de

vida.

O objetivo dos pontos qualitativos apresentados na Tabela 11 consistiu: em 1,

pesquisar o quão frequentemente as pessoas pensam que um deslizamento de terra

pode afetar suas vidas, o quanto elas se preocupam e buscam informações sobre

isso; em 2, 3 e 4, entender como os grupos questionados caracterizam o risco dado os

fatores cognitivos associados a três perigos diferentes selecionados; em 5 e 6,

questionar o que pode ser feito para melhora da região afetada por deslizamentos e

quem são os responsáveis por mudanças; em 7, saber o grau de importância dado ao

desastre associado a encostas frente a outros perigos presentes no cotidiano, por

exemplo: fumar, perder o emprego, se acidentar no trânsito ou em desastres em

indústrias; em 8, classificar a percepção dos entrevistados quanto as situações de

perigo de deslizamento que podem afetá-los mais significativamente, por exemplo:

situações em que a habitação está em beira de penhasco, em que há deslizamento

com consequente destruição do muro de contenção que protegia a casa, em que há

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ocorrência de corrida de detritos e de deslizamentos de pequenas e grandes

magnitudes, podendo afetar casas localizadas no pé e na crista do talude.

Foram calculadas as respostas quanto aos danos materiais e o número de mortes em

diferentes situações hipotéticas de deslizamentos que afetem qualquer pessoa da

comunidade e, mediu-se também a probabilidade máxima aceitável dos deslizamentos

considerando que as consequências, danos materiais e mortes, afetariam ao próprio

entrevistado. Utilizaram-se métodos estatísticos para a análise dos dados, como por

exemplo, cálculos de médias e análises de frequências.

O questionário foi desenvolvido juntamente com especialistas de diversas áreas de

domínio, dado o caráter multidisciplinar da pesquisa.

Foram questionados dez grupos distintos, conforme descrito na Tabela 12.

Tabela 12 – Descrição dos grupos questionados por Finlay e Fell (1997).

Descrição dos grupos Grupos

Pessoal do Departamento de Engenharia Civil de Hong Kong:

engenheiros, geotécnicos, geólogos, universitários. 1

Pessoal do Departamento de Engenharia Civil de Hong Kong: técnicos. 2

Pessoal do Departamento de Engenharia Civil de Hong Kong: que não

compõem as categorias dos grupos 1 e 2. 3

Grupo morador de área urbana, montanhosa, propensa a formação de

colúvios, sujeita a infrequentes, mas potenciais processos devastadores

relacionados a corridas de detritos. No local foram feitas campanhas de

conscientização sobre os possíveis deslizamentos, a população

moradora sabe sobre os riscos. O grupo é composto por famílias e

aposentados de classe alta e média e a maioria deles vive na região por

considerável período de tempo.

4

Grupo morador de área semi-rural ao lado de montanhas e vulcões, com

pessoas idosas e de meia idade, principalmente de classe média com

algumas famílias de maior poder aquisitivo. Grande parte da área foi

zoneada como alta área de risco, tendo histórico de deslizamentos com

movimentos lentos ocasionados pelo tipo de solo vulcânico.

5

Grupo morador de área rural, com terreno basáltico, levemente

ondulado próximo a montanhas. Essa área também experimentou

movimentos de terra lentos. Formado por uma população de classe

média baixa, com famílias bem estabilizadas moradoras da região por

muito tempo.

6

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76

Grupo morador de área urbana, todos moram em apartamentos, sendo

em sua maioria famílias de classe média que não possuem nenhum

histórico ou experiência de desastres ocasionados por deslizamentos.

7

Grupo muito bem informado por ter participado de campanhas de

conscientização sobre deslizamentos de terra e no zoneamento das

áreas sujeitas a corridas de detritos. Seu local de moradia é a cidade de

Lillydale Shire of Melbourne, na Austrália, a mesma dos grupos 4-7.

8

Grupo de pessoas que vivem em Sydney, na Austrália, em área com

apartamentos sem histórico de deslizamentos. 9

Grupo de especialistas australianos em deslizamentos de terra

escolhidos durante um workshop sobre avaliação do risco de desastres

ocasionados por deslizamentos.

10

Para a aplicação dos questionários são descritos na Tabela 13 os três métodos

utilizados.

Tabela 13 – Descrição dos métodos utilizados para coleta de dados por Finlay e Fell (1997).

Descrição do método Observações Grupos

Visita pessoal às

residências dos

moradores da área

analisada.

O entrevistador faz uma visita pessoal, obtém o

aceite do morador para completar o questionário e

confirma a data e hora para coleta do questionário.

Consome muito tempo, mas o retorno das respostas

é alto.

4

O questionário é

enviado pelo correio.

Se após 2 semanas não houver retorno do

questionário, o entrevistado é relembrado por

telefone ou carta. O tempo consumido é menor que

no método 1, mas o retorno das respostas é mais

baixo.

9 e 10

O questionário é

enviado e recebido

por email.

Aplicado em áreas populosas. 1,2,3 e

5-8

Os pesquisadores Ho et al. (2008) utilizaram a metodologia de acordo com a descrição

seguinte.

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Os entrevistados foram divididos em três grupos com vivência em desastres:

a) Grupo 1, com experiências de desastre em inundações - 250 famílias;

b) Grupo 2, afetado diretamente por deslizamentos de terra (por exemplo,

tiveram suas casas danificadas) - 150 famílias;

c) Grupo 3, afetado indiretamente por deslizamentos de terra (por exemplo: o

filho não pode ir a escola porque a mesma foi danificada durante o

desastre) - 160 famílias.

d) Grupo 4, pessoas que não foram afetadas pelo desastre de 2004 em

Taiwan.

O contato com os grupos foi feito por pessoas treinadas para fazer entrevistas

telefônicas assistidas por computador (CATI - Computer Assisted Telephone

Interviewing), em que através de algum conhecimento prévio sobre o entrevistado e de

acordo com as respostas a perguntas anteriores é possível configurar a ordem e o tipo

das perguntas seguintes no momento da entrevista.

Foram utilizados 2 questionários, cuja diferença estava somente no nome do desastre:

‘inundação’ e ‘deslizamento de terra’. As perguntas são relacionadas ao grau de risco

de diversos perigos presentes em Taiwan, sendo que, em uma escala de 4 níveis, o

nível 1 indicava “quase nenhum risco” e o nível 4 “risco muito alto”. Elaboraram-se

questões específicas referentes a desastres associados a deslizamentos e a

inundações. Também respondidas numa escala de 4 níveis, os itens continham dados

sobre gênero, renda familiar mensal , anos de estudos e frequência das experiências

com desastres. Além disso, todos os quatro grupos foram questionados sobre a ordem

de importância que eles atribuem aos desastres presentes em Taiwan, como a

poluição ambiental, as doenças contagiosas, os incêndios, os terremotos, os

deslizamentos e as inundações.

A Tabela 14 apresenta algumas perguntas do questionário utilizado por Ho et al.

(2008).

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Tabela 14 – Parte do questionário aplicado para levantamento da percepção de risco por Ho et al. (2008).

Questionário sobre percepção de risco

Qual é a probabilidade de ocorrência de inundações/deslizamentos em sua

comunidade?

Você conhece bem as ações de mitigação dos desastres que podem ser adotadas por

você?

Você se considera capaz de controlar uma inundação/deslizamento e evitar perdas?

Até que ponto uma inundação/deslizamento pode afetar sua vida?

Até que ponto uma inundação/deslizamento pode afetar sua qualidade de vida?

Até que ponto uma inundação/deslizamento pode trazer prejuízos financeiros?

Em geral, o quanto você tem medo de uma inundação/deslizamento?

Por fim, a metodologia adotada por Vargas (2006) para o estudo da percepção de

risco denomina-se ‘história oral’, composta por entrevistas abertas e procurando

registrar as trajetórias de 8 moradores com históricos de remoções e vivências em

áreas de risco, os quais solicitaram atendimento da Defesa Civil de Juiz de Fora, onde

a autora atua como assistente social. Divididos em dois grupos iguais, um dos grupos

conhecia esse vínculo com a Defesa Civil o outro não, o que possibilitou analisar a

influência desse fator nas narrativas. Foi feita pesquisa documental dos seguintes

documentos: boletins de ocorrência, relatórios técnicos do setor de engenharia,

relatórios sociais e indicadores levantados pelo setor social, mapas, registros

fotográficos e pareceres.

Os 8 entrevistados foram avaliados tecnicamente pela Defesa Civil e suas escolhas

pela pesquisadora fundamentaram-se em situações de vulnerabilização e diagnóstico

de risco, sendo o histórico de 7 remoções definitivas e 1 temporária, tendo suas casas

demolidas e incluídas em programas públicos de auxílio-social. Por certas limitações,

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as entrevistas foram centradas em um representante de cada família, com presença

marcante das mulheres. Os entrevistados foram de 8 bairros diferentes dentro de 5

setores urbanos da cidade de Juiz de Fora, em áreas de grande pobreza e

construções irregulares. Fez-se, então, uma breve apresentação dos perfis dos

entrevistados, descrição dos locais de moradia, dos riscos e remoções realizadas e

posterior análise dos depoimentos e visões dos entrevistados. Com esse método, a

autora pretende uma análise para “reinterpretação e reelaboração do risco por parte

da população”, desconsiderando a visão técnica do risco. Sua pesquisa objetiva

revelar a associação entre risco e desigualdades sociais e ambientais, em que, na

análise de risco, as percepções de risco da população exposta ao perigo não podem

ser banalizadas. Nas entrevistas a pesquisadora buscou identificar os mecanismos de

construção social do risco e as estratégias para o enfrentamento desse risco, através

das trajetórias e experiências vividas que perpassam a infância, a família, os locais e

formas de viver, o trabalho, as estruturas de sociabilidade, os ativos sociais e a

religiosidade.

Diante do exposto, o item em questão cobre seu objetivo inicial de apresentar as

vertentes, os conceitos e as metodologias utilizadas no estudo da percepção de risco.

Assim, apropria-se das ferramentas necessárias para embasamento da metodologia

proposta nesse trabalho.

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4. ÁREA DE ESTUDO DA PESQUISA – BAIRROS

MORRO DO ABEL, MORRO DA CARIOCA E MORRO

DO SANTO ANTÔNIO, ANGRA DOS REIS, RJ

Expostas as metodologias de pesquisa da literatura de referência, objetiva-se neste

item delimitar a área de estudo do presente estudo dentro do município de Angra dos

Reis.

O município está localizado no extremo sul do Estado do Rio de Janeiro e divide-se

em seis distritos administrativos (Angra dos Reis, Abraão, Cunhambebe, Jacuecanga,

Mambucaba e Praia de Araçatiba). Ele interliga as metrópoles do Rio de Janeiro e São

Paulo, no trecho Rio-Santos da rodovia federal BR-101 e está circundado pela Serra

do Mar, escarpa montanhosa que envolve parte do litoral brasileiro desde os limites do

estado do Espírito Santo, Rio de Janeiro até Santa Catarina (Santos, 2012).

Os moradores de Angra dos Reis, pela reconhecida exuberância natural da região,

lidam diariamente não apenas com atividades turísticas, comerciais e pesqueiras, mas

também industriais. O município, ao longo de sua história, foi alvo de altos

investimentos nesse ramo, tais como a instalação de estaleiros, a reconstrução de

portos, oleodutos, gasodutos e usinas nucleares (Coelho Netto et al., 2013). Esses

empreendimentos levaram a um aumento populacional expressivo no município,

gerando um processo de uso e ocupação desordenada do solo, que aliado às

características locais como as altas pluviosidades, as acentuadas declividades das

encostas, o grande desnível topográfico e a sua suscetibilidade natural a

deslizamentos (Santos, 2012), resultou em eventos desastrosos na região.

O município de Angra dos Reis apresenta uma população estimada de 184.940 mil

pessoas para o ano de 2014 e uma extensão territorial de 825,088 km2, conforme o

último censo demográfico realizado. No ano de 2010, a população recenseada era de

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169.511 mil habitantes, sendo que 96,3% da população vivia em situação domiciliar

urbana e 53.452 mil (31,5%) morava em domicílios particulares permanentes (IBGE,

Censo Demográfico - Relatório Sinopse do Censo Demográfico 2010).

A área de estudo comporta as comunidades do Morro do Abel, do Morro da Carioca e

do Morro do Santo Antônio (Figura 33), bairros centrais da cidade de Angra dos Reis.

As figuras 34, 35, 36,37, 38 e 39 ilustram a área de estudo deste trabalho.

Figura 33 – Localização da área de estudo - Bairros Morro do Abel, Morro da Carioca

e Morro do Santo Antônio, Angra dos Reis/ RJ

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Figura 36 – Visão a partir da região mais alta do Morro do Santo Antônio (foto do autor).

Figura 35 – Visão da comunidade do Morro do Santo Antônio (foto do autor).

Figura 34 – Visão das comunidades do Morro da Carioca e do Morro do Abel (foto do autor).

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Figura 37 – Implantação inadequada de moradias em região alta do Morro do Santo Antônio (foto do autor).

Figura 38 – Implantação inadequada de moradias em região alta do Morro do Santo Antônio (foto do autor).

Figura 39 – Estrutura (muro de gabião) para contenção de talude localizada no Morro da Carioca (foto do autor).

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Dados populacionais e características do espaço urbano do município de Angra dos

Reis são apresentados neste capítulo para descrever essa área de estudo.

As características urbanas do entorno dos domicílios levantadas pelo Censo

Demográfico de 2010 referem-se aos logradouros com face de quadra identificada,

tendo sido o levantamento feito no entorno de 96,9% dos domicílios particulares

permanentes urbanos do país. A Tabela 15 apresenta os percentuais relacionados às

características urbanas do entorno dos domicílios particulares permanentes do Brasil e

dos municípios de Angra dos Reis e do Rio de Janeiro. Esses percentuais referem-se

à proporção de domicílios com características urbanísticas como a presença desejável

de arborização, pavimentação, calçada, meio-fio, iluminação pública, identificação do

logradouro, rampa para cadeirante, bueiro e a presença indesejável de esgoto a céu

aberto e lixo acumulado.

Tabela 15 - Percentagens das características urbanas do entorno dos domicílios permanentes urbanos do país e dos municípios de Angra dos Reis e do Rio de Janeiro.

Características urbanas do entorno dos domicílios

Angra dos Reis Rio de Janeiro Brasil

Bueiro / boca de lobo (%) 57,5 84,6 41,5

Arborização (%) 26,9 72,2 68,0

Esgoto a céu aberto (%) 5,7 5,1 11,0

Lixo Acumulado (%) 3,4 4,5 5,0

Pavimentação (%) 88,5 93,8 81,7

Calçada (%) 41,6 88,0 69,0

Meio-fio / guia (%) 67,3 89,9 77,0

Iluminação pública 96,0 96,0 96,3

Identificação do logradouro (%)

61,8 84,1 60,5

Rampa para cadeirante (%) 0,5 8,9 4,7 * O aumento do percentual de lixo acumulado e esgoto a céu aberto são características urbanas indesejáveis.

Ressalta-se que, quanto maior a quantidade de bueiros (fundamentais para drenagem

urbana) e de arborização do entorno, maior é a estrutura urbana oferecida. Por outro

lado, quanto maior a existência de esgotos a céu aberto e de lixo acumulado nos

logradouros, piores são as condições de vida dos moradores

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O Censo Demográfico de 2010 – Relatório Características Urbanísticas do Entorno

dos Domicílios do IBGE - classifica as moradias em adequadas, semiadequadas e

inadequadas. As moradias adequadas são aquelas servidas por rede geral de

abastecimento de água, rede geral de esgoto ou fossa séptica e coleta de lixo (direta

ou indireta). As moradias semiadequadas são as que apresentavam de uma a duas

dessas características de adequação e as moradias inadequadas são aqueles onde

não existe nenhuma das condições de adequação.

Segundo os critérios de adequação de moradia do IBGE o município de Angra dos

Reis não se caracteriza por ser um ambiente precário inadequado, pois é servido por

rede geral de esgoto e de abastecimento de água. No entanto, a presença de bueiros

não é expressiva, apresentando um percentual muito abaixo do município do Rio de

Janeiro, o qual registra a melhor proporção de bueiros do país (84,6%), e mais

próximo da precária condição brasileira, com apenas 41,5% de bueiros. A arborização

do entorno dos domicílios também apresenta um nível muito abaixo (26,9%)

comparado ao país (68,0%) e ao município do Rio de Janeiro (72,2%). A região que

engloba a área de estudo é uma área urbana, rodeada primordialmente por floresta

degradada e, segundo a carta de vegetação e uso-ocupação da cidade de Angra dos

Reis, existem 4 categorias que elevam a suscetibilidade a deslizamentos na região

(floresta degradada, vegetação arbustiva e rasteira, solo exposto, área urbana) e duas

categorias (floresta conservada e afloramento rochoso) que não alteram a

suscetibilidade (Coelho Netto et al., 2013).

O Anexo I exibe, de forma separada por bairro, dados estatísticos apresentados pelo

Censo Demográfico de 2010. Os principais dados relacionam a quantidade de

domicílios particulares permanentes e de moradores residentes nesses domicílios com

as formas de abastecimento de água, existência de banheiro e/ou sanitário, o tipo de

esgotamento sanitário, o destino do lixo, o tipo de domicílio, a condição de ocupação e

a existência de energia elétrica. Em síntese, a maioria dos moradores, dos três

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bairros, utiliza rede geral de abastecimento de água, possui banheiro ou sanitário de

uso exclusivo do domicílio e rede geral de esgoto ou pluvial, tem o lixo coletado, vive

em casas próprias e tem acesso a energia elétrica.

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5. LEVANTAMENTO DA PERCEPÇÃO DE RISCO

5.1. Metodologia do trabalho

A metodologia empregada neste trabalho utilizou a entrevista a fim de interagir com a

população moradora e compreender melhor seus valores, crenças e opiniões, assim

como seus conflitos, atitudes e condutas. O levantamento da percepção de risco na

área estudada prevê a obtenção de dados objetivos e subjetivos que representem a

dimensão coletiva da comunidade a partir da visão individual de cada morador (Minayo

et al., 2012).

O trabalho foi dividido em seis fases, baseando-se no método para pesquisa social de

Minayo et al. (2012).

I. Fase exploratória da pesquisa

Essa é a fase inicial para construção do projeto de pesquisa. Nessa primeira fase,

pretende-se definir o objeto de estudo, em seguida delimitá-lo e construir o marco

teórico conceitual a ser empregado, a fim de prover uma articulação criativa na

aplicação dos conceitos. Para isso, uma ampla pesquisa bibliográfica sobre o tema foi

realizada, destacando-se algumas experiências em levantamento de percepção de

risco. Em seguida foram escolhidos os colaboradores da pesquisa, assim como o

espaço físico a ser investigado. Pensou-se ainda em quem seriam os indivíduos

sociais com vinculação mais significativa com o problema a ser investigado; quais

seriam os instrumentos para coleta de dados (p.ex.: roteiro de entrevistas); e quais

seriam as estratégias para entrada em campo (p.ex.: anotações, gravações).

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II. Fase de elaboração do roteiro de entrevistas para percepção de risco

Foi elaborado um roteiro de entrevistas com questões abertas, quando o informante

pode responder as perguntas sem se limitar às alternativas de respostas, ou seja, com

suas próprias palavras.

A abordagem técnica se deu por meio de entrevistas semi-estruturadas. As entrevistas

semi-estruturadas articulam duas modalidades de entrevista: a estruturada, em que

perguntas são previamente formuladas e a não-estruturada, em que o entrevistador

aborda livremente o tema proposto. Desse modo, foram feitas perguntas

fundamentais, auxiliadas por esse roteiro, e completadas com questões feitas

livremente conforme a entrevista se desenvolvia (Manzini, 1991; Minayo et al., 2012).

Pretendeu-se ainda que a forma de condução da entrevista provocasse um olhar

cuidadoso dos moradores entrevistados sobre suas vivências em relação ao problema

dos desastres provocados por deslizamentos (Minayo et al., 2012).

A construção do roteiro de entrevistas se baseou, inicialmente, na experiência anterior

do projeto realizado na comunidade do Maceió, citado no item 3.3.2. Após discussão

sobre os tipos de perguntas aplicáveis à população moradora da área de estudo em

Angra dos Reis, o roteiro de entrevistas para levantamento da percepção de risco das

comunidades envolvidas foi elaborado.

O primeiro dia de entrevistas nas comunidades em estudo teve caráter experimental e

permitiu a adequação do roteiro, estando a versão final apresentada no ANEXO II. As

perguntas visaram cumprir o objetivo principal e os específicos apresentados no item

1.2. Os propósitos, especificidades e análises de cada pergunta estão contemplados

no capítulo 6. Ressalta-se ainda, que a forma do roteiro não faz uma alusão incial ao

entrevistado sobre a temática dos deslizamentos, tendo por finalidade notar se o

morador fala espontaneamente sobre a mesma, procurando se observar a importância

dada pelo morador aos deslizamentos frente à presença de outros problemas. Assim,

as cinco perguntas iniciais tratam dos problemas gerais do bairro e da vida do

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morador. A partir da sexta pergunta a entrevista se restringe a assuntos relacionados

com os deslizamentos de terra.

III. Fase exploratória para trabalho de campo

Essa é a fase de planejamento e preparação para o trabalho de campo, fazendo parte

dessa fase as seguintes etapas:

a. Conhecer a área de estudo.

O objetivo dessa etapa é conhecer o espaço de pesquisa a ser investigado,

conforme apresentado no capítulo 4.

b. Escolher os colaboradores para execução das entrevistas.

As entrevistas foram realizadas com o apoio de cinco pessoas: Fernanda

Gullo, autora deste trabalho, José Carlos Gullo, morador da região, Marcos

Mendonça, Priscila Sanchez e Mariana Pinheiro, membros do projeto de

percepção de risco do bairro do Maceió (item 3.3.2).

c. Estabelecer os critérios de amostragem e a construção de estratégias para

entrada em campo.

As entrevistas foram realizadas nas moradias de três comunidades

localizadas em áreas com baixa, média, alta e muito alta suscetibilidade a

deslizamentos. Para tal, foi utilizado o mapa de suscetibilidade elaborado

através do Projeto Fundação COPPETEC - 030/2010 - “Mapeamento de

áreas de riscos, frente aos deslizamentos de encostas no município de

Angra dos Reis, RJ” (Anexo III). Posto que a maioria dos moradores

residentes na área de estudo está em suscetibilidade média de acordo

com o zoneamento de suscetibilidade, o número de entrevistados com

suscetibilidade média a deslizamentos foi, portanto, maior. Como

instrumento de investigação no delineamento de estratégias para entrada

em campo foram feitos registros das falas dos moradores por meio de

gravações e fotografias no momento das entrevistas.

IV. Fase de execução das entrevistas e coleta de dados

Essa fase contempla o trabalho de campo propriamente dito. As entrevistas foram

realizadas nos meses de abril e maio de 2014, sendo 34 moradores entrevistados,

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com 7 em áreas de baixa suscetibilidade, 21 em média e 6 em áreas de suscetibilidade

alta e muito alta. Além disso, a duração de cada entrevista teve em média 1 hora, com

23 mulheres e 11 homens entrevistados. A Tabela 16 apresenta informações sobre a

execução das entrevistas.

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91

Tabela 16 - Dados coletados durante a execução das entrevistas.

Mapa de suscetibilidade

Data Período da

entrevista

Número da

entrevista Entrevistados Comunidades

Coordenadas

UTM 23K

Dados do mapa de suscetibilidade (COPPETEC, 2011)

Movimento de massa a qual o local é suscetível

Suscetibilidade

26/04/2014 Manhã

1 Maria Ângela

Morro do Santo Antônio

0569517 Fluxo Detrítico Média

7455640

2 Catarina 0569455

Deslizamento Translacional Média 7455683

3 Pedro 0569429

Deslizamento Translacional Muito Alta 7455740

4 Sérgio Mirael 0569462

Deslizamento Translacional Média 7455744

5 Patrícia 0569537

Fluxo Detrítico Média 7455734

02/05/2014 Manhã

6 Anita

Morro da Carioca

0569349 Deslizamento Rotacional Muito Alta

7455345

7 Juliano 0569377

Fluxo Detrítico Alta 7455323

8 Katiana 0569338

- Baixa 7455285

9 Sônia 0569289

Deslizamento Translacional Média 7455275

10 Ruth 0569325

- Baixa 7455274

11 Caio Otávio 0569285

Rastejo Alta 7455189

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Mapa de suscetibilidade

Data Período da entrevista

Número da entrevista

Entrevistados Comunidades Coordenadas

UTM 23K

Dados do mapa de suscetibilidade (COPPETEC, 2011)

Movimento de massa a qual o local é suscetível

Suscetibilidade

2/5/2014 Tarde

12 Marilda Feijão

Morro do Abel

569197 - Baixa

7455092

13 Carla 569181

Deslizamento Translacional Média 7455102

14 Arlinda

Morro da Carioca

569310 - Baixa

7455239

15 Marta Corinda 569335

- Baixa 7455270

16 Francisco 569457

Rastejo Alta 7455376

3/5/2014

Manhã

17 Samuel Morro do Abel 569168

Deslizamento Translacional Média 7455099

18 Paula

Morro da Carioca

569404 Deslizamento Translacional Média

7455273

19 Laura 569506

Fluxo Detrítico Média 7455341

Tarde

20 Manuel Carlos 569429

Deslizamento Translacional Média 7455276

21 Vitória Maria 569420

Deslizamento Translacional Média 7455243

22 Larissa 569426

Deslizamento Translacional Média 7455257

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93

Mapa de suscetibilidade

Data Período da entrevista

Número da

entrevista Entrevistados Comunidades

Coordenadas UTM 23K

Dados do mapa de suscetibilidade (COPPETEC, 2011)

Movimento de massa a qual o local é suscetível

Suscetibilidade

10/5/2014 Manhã

23 Maristela

Morro da Carioca

569451 Deslizamento Translacional Média

7455439

24 Rosângela 569479

Deslizamento Translacional Média 7455466

25 Matilde

Morro do Santo Antônio

569495 Deslizamento Translacional Média

7455566

26 Juca Bentão 569607

- Baixa 7455538

27 Mário 569560

Deslizamento Translacional Média 7455530

10/5/2014 Tarde

28 Marcos Vilage

Morro do Abel

569270 Deslizamento Translacional Média

7454988

29 Carolina 569270

- Baixa 7454904

30 Ana 569224

Deslizamento Translacional Média 7454959

31 Viviane 569204

Deslizamento Translacional Média 7455036

11/5/2014 Manhã

32 Tatiana

Morro do Santo Antônio

569620 Deslizamento Rotacional Alta

7455504

33 Angelica 569559

Fluxo Detrítico Média 7455632

34 Rogério Morro da Carioca 569414

Deslizamento Translacional Média 7455391

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94

V. Fase de organização e análise de dados

Esta fase pretende categorizar e discutir as respostas dos moradores, buscar

responder a perguntas gerais formuladas com intuito de investigar percepções,

atitudes e comportamentos, consolidar os temas mais relevantes para compreensão

das falas dos moradores, confirmar ou não os pressupostos da pesquisa e ampliar o

conhecimento sobre percepção de risco associado a deslizamentos dentro do contexto

vivido pela comunidade em estudo. Visou-se obter uma análise qualitativa, sendo

necessário para tal desvendar o conteúdo subjacente a análise quantitativa. Sem

excluir as informações estatísticas analisa-se também as ideologias, tendências e

outras características acerca do tema em análise.

A partir das respostas dadas no momento das entrevistas, foram estabelecidas

categorias de respostas. Após a categorização, as frequências das respostas foram

definidas e os resultados calculados de forma totalizada e por grau de suscetibilidade

do local de moradia. Os entrevistados que citaram mais de uma categoria de resposta

tiveram todas as suas respostas consideradas no cálculo da frequência, uma vez que

o morador considerou cabível mais de um tipo de resposta para pergunta formulada.

Em uma segunda etapa da análise, os temas mais relevantes foram consolidados

através da compreensão da fala dos entrevistados.

VI. Fase de conclusão

A última fase é composta pela construção do trabalho escrito.

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95

A Figura apresenta fotos retiradas durante o levantamento de percepção do risco.

Figura 40 – Fotos do levantamento de percepção de risco. Equipe de campo: Fernanda Teles Gullo, José Carlos Gullo, Marcos Barreto de Mendonça, Mariana Talita Gomes Pinheiro, Priscila Nunes Sanchez (Fotos do autor).

Catarina – Morro do Santo Antônio Sérgio Mirael – Morro do Santo Antônio

Pedro – Morro do Santo Antônio Maristela – Morro da Carioca

Mário – Morro do Santo Antônio Rogério – Morro da Carioca

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Figura 40 (continuação) - Fotos do levantamento de percepção de risco. Equipe de campo: Fernanda Teles Gullo, José Carlos Gullo, Marcos Barreto de Mendonça, Mariana Talita Gomes Pinheiro, Priscila Nunes Sanchez. (Fotos do autor)

Angelica – Morro do Santo Antônio Carolina – Morro do Abel

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97

6. RESULTADOS E ANÁLISES

6.1. Categorização e discussão dos resultados

As respostas dos entrevistados foram categorizadas para melhor análise dos

resultados.

A frequência de uma resposta foi calculada em relação à quantidade de entrevistas.

Esse cálculo de frequência foi feito, inicialmente, em relação à população total de

entrevistados, e, depois, separado por grau de suscetibilidade da região onde o

morador se situa. O total de entrevistados foi de 34, sendo 7 em áreas de baixa

suscetibilidade, 21 em média e 6 para os entrevistados em áreas de suscetibilidade

alta e muito alta.

Quando o entrevistado fornece somente uma opção de resposta, ou seja, só uma

categoria, a soma das frequências de cada categoria de resposta é de 100%.

Observou-se, entretanto, que, para certas perguntas, os entrevistados forneceram

mais de uma categoria de resposta. Nestes casos, a soma das frequências é maior

que 100%.

Para a elaboração do texto neste item, de forma a evitar confusões de terminologias e

por ser mais adequado durante as entrevistas o emprego da palavra ‘risco’ ao invés de

‘suscetibilidade’, considerou-se que o grau de risco da área do morador entrevistado é

igual ao grau de suscetibilidade.

A categorização dos dados coletados, seus resultados e discussão estão

apresentados a seguir, seguindo a ordem das perguntas presentes no roteiro de

entrevistas (Anexo II).

Pergunta 1: Porque você resolveu morar aqui no bairro? (Figura 41 e Tabela 17)

A primeira pergunta tem como objetivo compreender porque os moradores resolveram

se estabelecer no bairro. A grande maioria dos relatos dos entrevistados indica que

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98

nascer ou ter vínculos familiares na região foi importante para criação de laços com o

local.

Espera-se que 91,2% do total dos entrevistados possua laços significativos com o

bairro e com bairros vizinhos. O percentual desses moradores são de 85,7%, 90,4% e

83,3% em áreas de risco baixo, médio, alto e muito alto, respectivamente.

Figura 41 - Gráfico das respostas da pergunta 1 separados por graus de risco.

Tabela 17 - Percentuais das respostas da pergunta 1 separados por graus de risco.

Resposta Total Risco

baixo

Risco

médio

Risco alto e muito

alto

Vim de outro bairro do município 50,0% 71,4% 57,1% 0,0%

Moro desde que nasci 41,2% 14,3% 33,3% 83,3%

Vim de outro município 8,8% 14,3% 9,5% 16,7%

Pergunta 2 : O que você mais gosta daqui do bairro? (Figura 42 e Tabela 18)

A segunda pergunta busca responder o principal motivo pelo qual o bairro pode ser

atrativo para se estabelecer. Os entrevistados que citaram mais de um motivo pelo

qual gostam do bairro tiveram todas as suas respostas consideradas no cálculo da

frequência.

A maioria dos moradores gosta da região pela boa vizinhança e tranquilidade do local.

Segundo 61,8% dos entrevistados, seus vizinhos são conhecidos, parentes ou amigos

antigos e o sossego, o silêncio e a segurança do bairro o fazem tranquilo. Porém, já

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99

nessa questão algumas ressalvas foram feitas em relação à segurança do local, já que

os moradores percebem o aparecimento de pessoas desconhecidas e o aumento

recente da violência na região. O segundo motivo citado refere-se à facilidade de

morar perto do centro da cidade (23,5%), o que significa maior aproximação com

alguns serviços públicos básicos como transporte, hospital, colégio e comércio. Os

resultados revelam também que um percentual pequeno de 17,6% não gosta do bairro.

Quando as porcentagens são avaliadas por grau de risco, percebe-se que a categoria

‘boa vizinhança, tranquilidade’ aumenta de importância, com um percentual de 66,7%,

nas áreas de risco médio, alto e muito alto, enquanto a categoria de ‘perto do centro da

cidade’ diminui, respectivamente, para 19% e 0%.

Assim sendo, o laço forte dos moradores com os próprios moradores da comunidade,

a tranquilidade do bairro, apesar do aumento da incidência de violência na região, e o

baixo percentual dos que não gostam do bairro reforçam a ligação afetiva e social

entre os moradores e indicam porque eles se estabeleceram na região.

Figura 42 - Percentuais das respostas da pergunta 2 separados por graus de risco.

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100

Tabela 18 - Percentuais das respostas da pergunta 2 separados por graus de risco.

Resposta Total Risco

baixo

Risco

médio

Risco alto e muito

alto

Boa vizinhança, tranquilidade 61,8% 42,9% 66,7% 66,7%

Perto do centro da cidade 23,5% 57,1% 19,0% 0,0%

Não gosta 17,6% 14,3% 19,0% 16,7%

Gosta, mas não especificou o

motivo 5,9% 0,0% 4,8% 16,7%

Pergunta 3 : O que mais te incomoda aqui no bairro?

A terceira pergunta pretende identificar o que mais preocupa o morador quando ele

pensa sobre os problemas do bairro e em que posição estão o problema dos

deslizamentos. Os entrevistados que citaram mais de um motivo pelo qual se sentem

incomodados tiveram todas as suas respostas consideradas no cálculo da frequência.

Dentre os diversos incômodos mencionados pelos moradores, o aumento da violência

e das drogas é o mais citado, com uma frequência de 26,5%, enquanto o deslizamento

obteve 23,5%, evidenciando uma importância relativa ainda elevada. Ressalta-se

também, não apenas a elevada frequência de respostas em que os moradores

informaram que não existem incômodos (17,6%) e dos que citaram problemas nas vias

internas do bairro, como escadas altas, ruas sem asfalto, falta de calçadas, falta de

quebra-molas etc, 14,7% (Tabela 19 e Figura 43).

Os incômodos citados nas regiões de baixo risco são bem divididos em termos

percentuais (14,3%), destacando-se , entretanto, a categoria referente a ausência de

problemas no bairro, com 28,6% (Tabela 19), com frequência bem maior que as dos

outros. Já na região de risco médio a violência (33,3%) e os deslizamentos (23,8%) se

mantêm como as maiores preocupações dos moradores, sendo que o problema

referente a vias internas do bairro também é significativo, aparecendo em terceiro lugar

com 19,0%. Nas regiões de suscetibilidade alta e muito alta, os resultados indicam o

aumento da importância dada aos deslizamentos (33,0%), sendo, entretanto, igual a

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101

dada às respostas de ‘construção do muro de contenção’ e ‘nada' (relacionada a

ausência de incômodos).

Analisando somente os percentuais dos moradores do bairro Morro da Carioca (Figura

44 e Tabela 20 ), a ‘violência’ e a ‘ausência de incômodos’ são as respostas mais

frequentes, empatadas com 23,5%. Em seguida, os ‘deslizamentos’, as ‘vias internas’

e a ‘construção do muro' apresentam o mesmo percentual de 17,6%. Dividindo por

grau de risco, a frequência da resposta ‘deslizamentos’ diminui com o aumento do grau

de risco. Para as área de risco alto e muito alto a ‘ausência de incômodos’ chega a

atingir o percentual de 50% das respostas, em segundo lugar ‘violência’ (25%) e a

‘construção do muro de contenção’ (25%), não tendo sido citado os ‘deslizamentos’.

Ressalta-se, aqui, que a categoria ‘muro de contenção’ refere-se a um problema

isolado devido a construção de uma estrututura para a estabilização de um talude no

Morro da Carioca considerada controversa pelos moradores. A diminuição do

incômodo dos moradores com o deslizamento em áreas de risco alto e muito alto

indica, portanto, que o trabalho socioeducativo nessas áreas deve ser intensificado

para melhor compreensão desses moradores sobre a suscetibilidade a deslizamentos

que o local oferece.

Analisando somente os percentuais dos moradores nos bairros Morro do Abel e Morro

do Santo Antônio (Figura 45 e Tabela 21), a violência e os deslizamentos estão em

primeiro lugar empatados com 29,4% como maiores incômodos, percebendo um

acréscimo acentuado do incômodo com os deslizamentos em áreas de risco alto e

muito alto (100%).

Assim, o resultado geral a partir da análise conjunta de todos os bairros sugere a

relativização do incômodo, ou seja, percebe-se uma divisão de importância dada aos

mesmos de acordo com as demandas específicas de cada indivíduo, o que é variável

com a comunidade.

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102

Tabela 19 - Percentuais das respostas da pergunta 3 para os bairros Morro da Carioca, Morro do Abel e Morro do Santo Antônio separados por grau de risco.

Resposta Total Risco baixo Risco médio

Risco

alto e

muito

alto

Violência; drogas 26,5% 14,3% 33,3% 16,7%

Deslizamentos 23,5% 14,3% 23,8% 33,3%

Nada 17,6% 28,6% 9,5% 33,3%

Vias internas 14,7% 14,3% 19,0% 0,0%

Construção do muro de contenção 8,8% 14,3% 0,0% 33,3%

Limpeza do bairro 8,8% 0,0% 14,3% 0,0%

Falta d’água 5,9% 14,3% 4,8% 0,0%

Dificuldade de acesso a serviços de saúde 5,9% 0,0% 9,5% 0,0%

Falta de correio 2,9% 14,3% 0,0% 0,0%

Figura 43 - Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 3 para os bairros Morro

da Carioca, Morro do Abel e Morro do Santo Antônio separados por grau de risco.

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Tabela 20 - Percentuais das respostas da pergunta 3 para o bairro Morro da Carioca separados por grau de risco.

Resposta Total Risco

baixo

Risco

médio

Risco alto e

muito alto

Violência; drogas 23,5% 0,0% 33,3% 25,0%

Nada 23,5% 25,0% 11,1% 50,0%

Deslizamentos 17,6% 25,0% 22,2% 0,0%

Vias internas 17,6% 0,0% 33,3% 0,0%

Construção do muro de contenção 17,6% 50,0% 0,0% 25,0%

Limpeza do bairro 11,8% 0,0% 22,2% 0,0%

Falta d’água 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

Falta de correio 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

Dificuldade de acesso a serviços de

saúde 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

Figura 44 - Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 3 para o bairro Morro

da Carioca.

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104

Tabela 21 - Percentuais das respostas da pergunta 3 para os bairros Morro do Abel e Morro do Santo Antônio separados por grau de risco.

Resposta Total Risco

baixo

Risco

médio

Risco alto e

muito alto

Violência; drogas 29,4% 33,3% 33,3% 0,0%

Deslizamentos 29,4% 0,0% 25,0% 100,0%

Dificuldade de acesso a serviços de

saúde 11,8% 0,0% 16,7% 0,0%

Vias internas 11,8% 33,3% 8,3% 0,0%

Falta d’água 11,8% 33,3% 8,3% 0,0%

Nada 11,8% 33,3% 8,3% 0,0%

Limpeza do bairro 5,9% 0,0% 8,3% 0,0%

Falta de correio 5,9% 33,3% 0,0% 0,0%

Construção do muro de contenção 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

Figura 45 - Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 3 para os bairros

Morro do Abel e Morro do Santo Antônio separados por grau de risco.

Pergunta 4: Qual é o principal problema (ou perigo) que afeta sua vida e de sua

família? Ou qual é o problema (ou o perigo) que mais preocupa você na sua

vida? (Figura 46 e Tabela 22)

Essa pergunta visa identificar o problema que representa a maior preocupação do

morador quando ele pensa em sua vida e em sua família. Os entrevistados que

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105

citaram mais de um problema tiveram todas as suas respostas consideradas no

cálculo da frequência.

Dentre os diversos problemas mencionados pelos moradores, o aumento da violência

e das drogas é o mais citado, com frequência de 35,3%, enquanto o deslizamento

apesar de ter uma importância relativa destacada em segundo lugar, com 17,6%,

representa a metade do primeiro. Destacam-se ainda, as dificuldades relacionadas à

saúde e às vias internas do bairro, com 14,7% e 11,8% respectivamente.

Analisando a variação dos percentuais com o grau de risco, os resultados indicam um

aumento não tão acentuado da importância dada aos deslizamentos em áreas de risco

médio (19%), porém não houve alterações significativas dessas observações nas

áreas de risco alto e muito alto (16,5%). Por outro lado, nas áreas com risco médio, a

‘violência’ continua sendo o motivo de maior preocupação com 47,6% e as

‘dificuldades de acesso aos serviços de saúde’ é o segundo problema mais relevante

com 23,8%. Além disso, nas áreas de maiores riscos, a frequência de 16,7% também

corresponde a outras categorais como ‘violência, drogas’, ‘vias internas’ e ‘nenhum

problema’, sendo que o percentual mais relevante (33,3%) refere-se à categoria outros

problemas (financeiros, a ausência do correio, a educação precária e a falta de

universidades na região). Apesar desse resultado não ser o esperado, pela maior

proximidade da população moradora em alto risco com as mazelas provocadas pelos

desastres, esse resultado pode ter sido verificado por essas áreas serem mais

desprovidas de serviços básicos, fazendo ressaltar a importância de outros problemas.

Diante do exposto, recomenda-se para regiões de risco alto e muito alto que o trabalho

socioeducativo sobre o tema deslizamentos seja intensificado. Não obstante, se a

população sofre com outros problemas diversos, o investimento em campanhas

voltadas exclusivamente para redução dos riscos a deslizamentos é prejudicado.

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106

Tabela 22 - Percentuais das respostas da pergunta 4 para os bairros Morro da Carioca, Morro do Abel e Morro do Santo Antônio separados por grau de risco.

Resposta Total Risco

baixo

Risco

médio

Risco alto e

muito alto

Violência; drogas 35,3% 14,3% 47,6% 16,7%

Deslizamentos 17,6% 14,3% 19,0% 16,7%

Dificuldade de acesso a serviços de

saúde 14,7% 0,0% 23,8% 0,0%

Vias internas 11,8% 14,3% 9,5% 16,7%

Nenhum problema 11,8% 28,6% 4,8% 16,7%

Construção do muro de contenção 8,8% 14,3% 9,5% 0,0%

Outros 8,8% 14,3% 0,0% 33,3%

Figura 46 - Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 4 para os bairros Morro

da Carioca, Morro do Abel e Morro do Santo Antônio separados por grau de risco.

Pergunta 5: Você gosta da chuva? Quando começa a chover você pensa em

que? (Figura 47 e Tabela 23)

Essa pergunta foi feita aos moradores antes que fosse citado o tema do deslizamento

pelo entrevistador, para que não houvesse influência nas respostas.

As respostas indicam que 82,4% dos entrevistados, principalmente os que vivem em

áreas de médio (90,5%), alto e muito alto risco (83,3%), associam chuvas fortes a

deslizamentos de terra.

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107

Apesar dos moradores terem citado nas questões anteriores os deslizamentos como

um incômodo no bairro ou um problema que afeta as suas vidas, foi a partir da

pergunta 5 que a grande maioria dos moradores introduziu o tema sobre os

deslizamentos em seus discursos.

Observou-se que o problema dos deslizamentos é relevante para os moradores da

região e que eles conseguem relacioná-lo as chuvas fortes.

Tabela 23 - Percentuais das respostas da pergunta 5 separados em graus de risco.

Resposta Total Risco baixo Risco médio Risco alto e muito alto

Deslizamento 82,4% 57,1% 90,5% 83,3%

Em nada 17,6% 42,9% 9,5% 16,7%

Figura 47 - Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 5 separados em graus de risco.

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108

Pergunta 6 : Você sabe o que é um deslizamento de terra? (Tabela 24)

Essa pergunta buscou a definição de deslizamento de terra dos moradores. A quase

totalidade dos entrevistados soube responder a pergunta, sugerindo que não existe

falta de conhecimento sobre o assunto.

Tabela 24 – Percentuais das respostas da pergunta 6.

Resposta Total

Sabe 97,1%

Não sabe 2,9 %

Pergunta 7: O que você acha do problema do deslizamento de terra?

Essa pergunta não teve como objetivo obter respostas que pudessem ser

categorizadas, mas sim, permitir que os entrevistados discorressem sobre o tema de

forma ampla e livre e, assim, fosse possível extrair trechos significativos sobre pontos

de vista não previstos que pudessem ser considerados na presente pesquisa.

Não foi percebido nenhum ponto de vista novo, porém as falas contribuíram para as

análises aqui apresentadas.

Pergunta 8: O quanto o deslizamento de terra ameaça a sua vida / qualidade de

vida ou bem estar? Com que frequência você pensa nisso ao longo do ano?

De acordo com os resultados gerais (Figura 48 e Tabela 25), a quantidade de

moradores que se sentem muito afetados é igual a dos que não se sentem afetados

pelos deslizamentos (38,2%), porém 61,8% dos moradores se sentem afetados de

alguma maneira. Esse percentual dos que se sentem afetados por deslizamentos é

menor nas áreas de risco alto e muito alto (50%).

Analisando somente os percentuais do bairro da Carioca (Tabela 26), o percentual dos

moradores que se sentem muito afetados pelos deslizamentos diminui com o aumento

do grau de risco, sendo 75% para risco baixo, 44,4% para risco médio e 25% para

risco alto e muito alto. Esse resultado é coerente com a tendência das respostas

anteriores a pergunta 3, em que a totalidade dos moradores do bairro Morro da

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109

Carioca em muito alto e alto risco não cita os deslizamentos como um incômodo pra o

bairro (Tabela 20).

Analisando somente os percentuais dos bairros do Abel e Santo Antônio (Tabela 27), a

totalidade dos moradores em risco alto e muito alto (100%) declara que os

deslizamentos ameaçam as suas vidas e, dos que estão em risco médio, 66,6%

também alegam ser afetados de alguma maneira.

Com relação à frequência com que os moradores pensam no problema (Figura 49 e

Tabela 28), 41,2% deles o fazem quando chove, 35,3% nunca pensam e 23,5%

pensam todos os dias. Sendo que, em períodos chuvosos esses pensamentos

crescem com o grau de risco.

Figura 48 – Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 8 para os bairros

Morro da Carioca, Morro do Abel e Morro do Santo Antônio e separados por graus de

risco.

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Tabela 25 – Percentuais das respostas da pergunta 8 para os bairros Morro da

Carioca, Morro do Abel e Morro do Santo Antônio e separados por grau de risco.

Resposta Total Risco

baixo

Risco

médio

Risco alto

e muito

alto

Não afeta 38,2% 42,9% 33,3% 50,0%

Afeta muito 38,2% 42,9% 38,1% 33,3%

Afeta medianamente 23,5% 14,3% 28,6% 16,7%

Tabela 26 - Percentuais das respostas da pergunta 8 para o bairro Morro da Carioca e separados por graus de risco.

Resposta Total Risco

baixo

Risco

médio

Risco alto

e muito

alto

Não afeta 41,2% 25,0% 33,3% 75,0%

Afeta muito 47,1% 75,0% 44,4% 25,0%

Afeta medianamente 11,8% 0,0% 22,2% 0,0%

Tabela 27 - Percentuais das respostas da pergunta 8 para o bairro Morro do Abel e

Morro do Santo Antônio e separados por graus de risco.

Resposta Total Risco

baixo

Risco

médio

Risco alto

e muito

alto

Não afeta 35,3% 66,7% 33,3% 0,0%

Afeta medianamente 35,3% 33,3% 33,3% 50,0%

Afeta muito 29,4% 0,0% 33,3% 50,0%

Figura 49 - Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 8 sobre a frequência

em que os moradores pensam em deslizamentos para os bairros Morro da Carioca,

Morro do Abel e Morro do Santo Antônio e separados por graus de risco.

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Tabela 28 – Percentuais das respostas da pergunta 8 sobre a frequência em que os moradores pensam em deslizamentos para os bairros Morro da Carioca, Morro do Abel e Morro do Santo Antônio e separados por graus de risco.

Resposta Total Risco

baixo

Risco

médio

Risco alto e muito

alto

Só quando chove 41,2% 28,6% 38,1% 66,7%

Nunca 35,3% 42,9% 38,1% 16,7%

Toda dia 23,5% 28,6% 23,8% 16,7%

Pergunta 9: Você já foi afetado ou conhece alguém próximo que foi afetado por

algum desastre provocado por deslizamento? (Tabela 29)

Quase a totalidade dos moradores já foi afetada ou conhece alguém que foi afetado

por algum desastre, sendo que, esse resultado cresce com o aumento do grau de

risco.

Tabela 29 - Percentuais das respostas da pergunta 9 separados por graus de risco.

Resposta Total Risco baixo Risco médio Risco alto

e muito alto

Sim 91,2% 85,7% 90,5% 100,0%

Não 8,8% 14,3% 9,5% 0,0%

Pergunta 10: Você já ouviu falar em “área de risco”? Sabe o que é?

As respostas indicam que 97,1% dos moradores já ouviram falar em área de risco. Isso

representa a proximidade dos moradores com o assunto dos deslizamentos (Tabela

30).

Tabela 30 - Distribuição das respostas da pergunta 10.

Resposta Total Risco baixo Risco médio Risco alto e muito alto

Sim 97,1% 100,0% 95,2% 100,0%

Não 2,9% 0,0% 4,8% 0,0%

Para a pergunta sobre o conhecimento do morador acerca do que é uma área de risco

(Figura 50 e Tabela 31), entre as respostas ‘não sabe’ e ‘não foi possível identificar’,

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algumas falas chamaram a atenção, porque mencionavam que o termo ‘área de risco’

referia-se somente aos locais onde o desastre já ocorreu.

Entretanto, a maioria dos moradores sabe o que é área de risco e o conhecimento

sobre essa definição cresce com o grau de risco.

Figura 50 – Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 10 separados por

graus de risco.

Tabela 31 - Percentuais das respostas da pergunta 10 separados por graus de risco.

Resposta Total Risco baixo Risco médio Risco alto e

muito alto

Sabe 76,5% 28,6% 85,7% 100,0%

Não sabe 11,8% 28,6% 9,5% 0,0%

Não foi possível identificar se

sabe ou não sabe 11,8% 42,9% 4,8% 0,0%

Pergunta 11: Você acha que sua casa está em área de risco, ou seja, ela pode

ser atingida por deslizamento? Qual o grau de risco? Por quê? (Figura 51 e

Tabela 32).

O zoneamento da suscetibilidade permitiu a comparação entre as percepções dos

moradores sobre o grau de risco, percebido por eles, da área em que vivem e o grau

de risco ao deslizamento definido segundo critérios técnicos.

De acordo com o grau de risco percebido pelos entrevistados, 67,6% se considera em

risco baixo, 26,5% em risco médio e 5,9% em risco alto e muito alto.

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Tabela 32 - Percentuais das respostas da pergunta 11 separados por graus de risco.

Os resultados da Tabela 32 indicam que os moradores cujas percepções do grau de

risco mais se aproxima das percepções dos técnicos são os da área de baixo risco

(42,9%), depois de médio risco (19,0%) e, por fim, a de risco alto e muito alto (16,7%).

Evidencia-se que essa distância entre as percepções aumenta com o grau de risco.

Merece destaque também a observação de que 50,0% dos moradores de risco alto e

muito alto e 81% dos de risco médio consideram que estão em área de risco baixo.

É importante ressaltar que se os moradores se percebem em risco, por hipótese, estão

mais sujeitos a tomar medidas preventivas.

Figura 51 – Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 11 separados por

graus de risco.

Grau de risco percebido pelos moradores

Total Moradores do

baixo risco Moradores do médio risco

Moradores do alto e muito alto

risco

Risco baixo 67,6% 42,9% 81,0% 50,0%

Risco médio 26,5% 42,9% 19,0% 33,3%

Risco alto e muito alto 5,9% 14,3% 0,0% 16,7%

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Pergunta 12: E na comunidade? Você sabe se na comunidade há risco de

deslizamentos?

Tabela 33 - Percentuais das respostas da pergunta 12 separados por graus de risco.

Resposta Total Risco baixo Risco médio Risco alto e muito alto

Sim 79,4% 71,4% 81,0% 83,3%

Não 20,6% 28,6% 19,0% 16,7%

De uma forma geral, a maioria admite existir risco de deslizamento na comunidade

(79,4%). Quando os resultados são divididos em grau de riscos e comparados com a

Tabela 32 da pergunta 11, nota-se que os habitantes de áreas de grau de risco médio

(81,0%) acham que existem riscos de deslizamentos na comunidade (Tabela 33) e o

mesmo percentual (81%) se considera em risco baixo (Tabela 32). Já os que moram

em áreas de risco alto e muito alto, 83,3% acham que há risco de deslizamento na

comunidade, porém 50,0% não admitem estar em áreas de risco alto e muito alto

(Tabela 32).

Pergunta 13: Que medidas você acha que poderiam ser tomadas para evitar os

deslizamentos?

Diversas medidas foram citadas pelos moradores, conforme Tabela 34. A maioria dos

moradores (67,6%) se restringe a citar a execução de obras pelo governo como

medida para evitar os deslizamentos. Em segundo lugar, em meio ao conjunto de

ações antrópicas nocivas à estabilidade da encosta, um baixo percentual de 11,8%

citou pelo menos uma das ações a serem evitadas: jogar lixo na encosta, lançar

esgoto na encosta e cortar árvores. Separando por grau de risco, a opção de execução

de obras pelo governo continua sendo destaque e revela carência de mais

conhecimentos sobre outras ações importantes para redução dos riscos.

Portanto, a falta de conhecimento por parte da população sobre ações para redução

dos desastres pode ser um indício de vulnerabilização, em que a impotência e a

desesperança diante dos eventos adversos são fatores psicológicos que podem gerar

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um sentimento de incapacidade e prejudicar o engajamento da mesma em atividades

de prevenção (Lin et al., 2007).

Tabela 34 – Percentuais das respostas da pergunta 13 separados por graus de risco.

Resposta Total Risco

baixo

Risco

médio

Risco alto e

muito alto

Obras pelo governo 67,6% 71,4% 66,7% 66,7%

Evitar ações antrópicas nocivas à

estabilidade 11,8% 0,0% 14,3% 16,7%

Retirar as pessoas 8,8% 0,0% 14,3% 0,0%

Não ocupar áreas impróprias 5,9% 0,0% 9,5% 0,0%

Não sabe 5,9% 14,3% 4,8% 0,0%

É impossível evitar deslizamentos 5,9% 14,3% 0,0% 16,7%

Saber construir corretamente 5,9% 0,0% 9,5% 0,0%

Pergunta 14: Você se sente capaz ou você acha que você pode fazer algo para

evitar ser atingido por um deslizamento?

De uma forma geral, a maioria acha que não é capaz de fazer algo para evitar os

deslizamentos, sendo que o percentual desses vai aumentando com o grau de risco

(Tabela 35 e Figura 52).

O que se observou nessas comunidades foi que muitos moradores citavam não ter

dinheiro para fazer obras, se diziam desassistidos pelo governo e sem poder fazer algo

que gere mudança. Em outras palavras, não há reação aos problemas do bairro sem

que se atribua aos governantes total poder sobre a comunidade. Esse comentário está

de acordo com os indícios de vulnerabilização ditos ao fim da pergunta 13. Em suma,

os moradores não se dizem capazes de mudar uma situação que afeta suas vidas.

Portanto, como análise, sugere-se a falta de empoderamento dos moradores dessa

região. O empoderamento depende, dentre outros fatores, da percepção que os

indivíduos e os grupos tenham de si mesmos e de sua situação. O desempoderamento

é o reflexo da falta de consciência sobre suas habilidades e competências para

assumir o controle e participar de forma combativa das decisões para o

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desenvolvimento local, se posicionando e melhorando suas condições nas relações de

poder (Romano et al.,2002).

Tabela 35 - Percentuais das respostas da pergunta 14 separados por graus de risco.

Resposta Total Risco baixo Risco médio Risco alto e muito alto

Não 76,5% 71,4% 76,2% 83,3%

Sim 23,5% 28,6% 23,8% 16,7%

Figura 52 - Percentuais das respostas da pergunta 14 separados por graus de risco.

Pergunta 15: O que você acha que o homem faz que possa causar o

deslizamento de terra? (Figura 53 e Tabela 36)

De uma forma geral, a maioria não sabe dizer o que pode causar os deslizamentos

(52,9%). Mais da metade da população não sabia começar espontaneamente a

responder essa pergunta, 32,4% citaram com dificuldade pelo menos um dos fatores

contribuintes aos deslizamentos e apenas 14,7% possui uma boa noção da resposta,

demonstrando uma boa consciência ambiental e apresentando espontaneamente

exemplos dos fatores contribuintes.

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Figura 53 – Gráfico com os percentuais das respostas da pergunta 15 separados por

graus de risco.

Tabela 36 – Percentuais das respostas da pergunta 15 separados por graus de risco.

Resposta Total Risco

Baixo

Risco

médio

Risco alto e muito

alto

Não sabe ou não disse

espontaneamente 52,9% 71,4% 47,6% 50,0%

Possui alguma noção 32,4% 14,3% 33,3% 50,0%

Possui boa noção 14,7% 14,3% 19,0% 0,0%

Pergunta 16: Coloque em ordem de importância, entre os itens ao lado, o que

você acha que o homem faz que possa causar o deslizamento de terra. (Figura

54 e tabelas 37, 38, 39, 40)

Depois de perguntar, com o cuidado para não influenciá-los, o que os moradores

pensam sobre algumas ações antrópicas que podem levar aos deslizamentos, eles

definiram uma ordem de importância para as mesmas.

É importante ressaltar que o objetivo dessa pergunta não é julgar a ordem de

importância dessas ações na comunidade, mas, sim, identificar o aspecto que deve

ser mais trabalhado na comunidade em uma atividade socioeducativa em função da

importância dada pelos moradores. Por exemplo, se a maioria coloca como menos

importante o corte de árvores é preciso uma atividade que aumente a importância

dessa ação como danosa ao meio ambiente. Essa importância foi inferida pela ordem

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citada pelo morador, sendo as ações de maior importância as que ocuparam o

primeiro e o segundo lugar e as de menor importância o terceiro e o quarto lugar.

Nesta questão, a frequência é a razão entre a quantidade de vezes que uma resposta

teve uma determinada classificação de importância e o total de possíveis respostas,

ou seja, 34 com relação a todos os entrevistados, 7 para os entrevistados em áreas de

baixo risco, 21 para os entrevistados em médio risco e 6 para os entrevistados em alto

e muito alto risco.

De uma forma geral, os resultados mostram que os moradores dão mais importância

ao lançamento de água e esgoto no terreno (soma da frequência das respostas do

primeiro e do segundo lugares igual a 58,9%) e a execução de cortes inclinados nas

encostas (soma da frequência das respostas do primeiro e do segundo lugares igual a

58,8%) como ação antrópica que contribui para o deslizamento de terra. Receberam

menor importância o lançamento de lixo e entulho na encosta (soma da frequência das

respostas do terceiro e quarto lugares igual 61, 8%) e o corte de árvores (soma da

frequência das respostas do terceiro e quarto lugares igual 58, 9 %) (Tabela 37 e

Figura 54).

Figura 54 – Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 16 separados em

ordem de importância.

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Tabela 37 – Percentuais das respostas da pergunta 16 separadas por graus de importância.

Resposta 1º

lugar 2º

lugar 3º

lugar 4º

lugar

Jogar lixo e entulho na encosta 20,6% 14,7% 20,6% 41,2%

Efetuar cortes muito inclinados para construção das casas

17,6% 41,2% 23,5% 17,6%

Dispor água e esgoto sem qualquer cuidado no terreno

32,4% 26,5% 29,4% 14,7%

Cortar árvores 29,4% 11,8% 11,8% 47,1%

Para as áreas com suscetibilidade alta e muito alta, os moradores continuam a dar

maior importância ao lançamento de água e esgoto no terreno (soma da frequência

das respostas do primeiro e segundo lugares igual 66,6 %) e a execução de cortes

inclinados nas encostas (soma da frequência das respostas do primeiro e segundo

lugares igual 66,7 %). Recebeu menor importância o lançamento de lixo e entulho na

encosta (soma da frequência das respostas do terceiro e quarto lugares igual 83,4 %)

(Tabela 38).

Tabela 38 – Percentuais das respostas da pergunta 16 separadas em ordem de importância para suscetibilidade alta e muito alta.

Resposta 1º

lugar 2º

lugar 3º

lugar 4º

lugar

Jogar lixo e entulho na encosta 0,0% 16,7% 16,7% 66,7%

Efetuar cortes muito inclinados para construção das casas

16,7% 50,0% 33,3% 0,0%

Dispor água e esgoto sem qualquer cuidado no terreno

33,3% 33,3% 33,3% 0,0%

Cortar árvores 50,0% 0,0% 0,0% 50,0%

Para as áreas com suscetibilidade média, os moradores dão maior importância a

execução de cortes inclinados (soma da frequência das respostas do primeiro e

segundo lugares igual 66,7 %). Receberam menor importância o lançamento de água

e esgoto (soma da frequência das respostas do terceiro e quarto lugares igual 57,1 %)

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e de lixo e entulho (soma da frequência das respostas do terceiro e quarto lugares

igual 57,1 %) nas encostas (Tabela 39).

Tabela 39 – Percentuais das respostas da pergunta 16 separadas em ordem de importância para suscetibilidade média.

Resposta 1º

lugar 2º

lugar 3º

lugar 4º

lugar

Jogar lixo e entulho na encosta 28,6% 14,3% 19,0% 38,1%

Efetuar cortes muito inclinados para construção das casas

23,8% 42,9% 19,0% 9,5%

Dispor água e esgoto sem qualquer cuidado no terreno

19,0% 23,8% 33,3% 23,8%

Cortar árvores 28,6% 14,3% 14,3% 38,1%

Para as áreas com suscetibilidade baixa, os moradores dão maior importância ao

lançamento de água e esgoto nas encostas (soma da frequência das respostas do

primeiro e segundo lugares igual 100,0 %). Receberam menor importância a execução

de cortes inclinados para construção das casas, o lançamento de lixo e entulho nas

encostas e o desmatamento (soma das frequências das respostas do terceiro e quarto

lugares igual a aproximadamente 71,5% ) (Tabela 40).

Tabela 40 - Percentuais das respostas da pergunta 16 separadas em ordem de importância para suscetibilidade baixa.

Resposta 1º

lugar 2º

lugar 3º

lugar 4º

lugar

Jogar lixo e entulho na encosta 14,3% 14,3% 42,9% 28,6%

Efetuar cortes muito inclinados para construção das casas

0,0% 28,6% 28,6% 42,9%

Dispor água e esgoto sem qualquer cuidado no terreno

71,4% 28,6% 0,0% 0,0%

Cortar árvores 14,3% 14,3% 14,3% 57,1%

Pergunta 17: Você sabe para onde vai o esgoto e a água do banho e da pia de

sua casa?

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Os 66,7% entrevistados responderam que sabem (Tabela 41), mas pelas respostas

vagas e incompletas, os entrevistadores perceberam que os moradores desconhecem

o verdadeiro caminho que faz o esgoto e a água de sua casa.

Tabela 41 – Percentuais das respostas da pergunta 17 separados por graus de risco.

Resposta Total Risco

baixo

Risco

médio

Risco alto e

muito alto

Não sabe 32,4% 71,4% 23,8% 16,7%

Sabe pra onde vai imediatamente depois

da casa 55,9% 28,6% 61,9% 66,7%

Sabe só o destino final (rio que passa na

comunidade/ mar) 11,8% 0,0% 14,3% 16,7%

Pergunta 18: Onde você joga o lixo e entulho da sua casa? (Tabela 42)

Os bairros possuem um sistema de coleta porta-a-porta, em que um caminhão recolhe

os sacos de lixo depositados pelos moradores em frente as suas casas ou em local

onde as pessoas depositam o lixo. Apenas no bairro da Carioca o lixo é disposto em

caçambas. Contudo, alguns moradores relataram a demora no serviço de coleta e o

incômodo no surgimento de pragas. Durante as entrevistas, exclusivamente na casa

de um morador foi possível visualizar lixos jogados no terreno do quintal.

No caso dos entulhos, em geral os moradores não informaram qual seria o destino,

porém, muitos comentaram que ainda existem entulhos nas encostas, provenientes

das casas demolidas após o desastre na região.

O que foi observado pelos entrevistadores é que, em geral, o lixo é disposto nas três

comunidades de forma inadequada, mas que não causa danos as encostas.

Tabela 42 - Percentuais totais das respostas da pergunta 18.

Resposta Total

Disponho em local onde é coletado por empresa de coleta de lixo

97,1%

Jogo no quintal ou no terreno ao lado 2,9%

Pergunta 19: Você acha que você precisa de alguma orientação da Defesa Civil

ou de outros técnicos para saber melhor sobre deslizamentos? (Tabela 43)

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A maioria (85,3%) indicou que precisam de mais conhecimentos sobre

deslizamentos.

Tabela 43 - Percentuais das respostas da pergunta 19.

Pergunta 20: Quem deve definir se uma área é realmente uma área de risco?

(Tabela 44)

Os moradores concordam que são os órgãos governamentais, representados pela

Defesa Civil, que devem definir o que é uma área de risco (70,6%).

Tabela 44 - Percentuais totais das respostas da pergunta 20.

Resposta Total

Defesa Civl 70,6%

Prefeitura 8,8%

Engenheiro/Geólogo 17,6%

Próprio morador 0,0%

Orgãos ambientais 2,9%

Não sei 8,8%

Pergunta 21: Se a Defesa Civil informar que sua casa está em área de risco, que

atitude você tomaria? Por que? (Figura 55 e Tabela 45)

Observando os grupos de entrevistados das áreas de maior interesse (risco médio,

alto e muito alto), o percentual dos mesmos que não sairiam é pequeno (11,8%),

comparado ao dos moradores dispostos a sair de suas casas (88,3%). No entanto, a

maior parte dos moradores (47,1%) somente sairiam de suas casas se respeitadas

determinas condições.

Tabela 45 - Percentuais das respostas da pergunta 21 separados por graus de risco.

Resposta Total Risco baixo Risco médio Risco alto e muito alto

Resposta Total

Sim 85,3%

Não 14,7%

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Sairia, independentemente

da condição 41,2% 42,9% 42,9% 33,3%

Sairia, se tivesse outro local

para morar sem pagar

aluguel, sem ser abrigo

35,3% 28,6% 38,1% 33,3%

Sairia, se fosse indenizado 11,8% 14,3% 4,8% 33,3%

Não sairia 11,8% 14,3% 14,3% 0,0%

Figura 55 - Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 21 separados por graus de risco.

Pergunta 22: Você acha que a Defesa Civil ou os técnicos da prefeitura

entendem sobre o risco de deslizamentos que você está passando? (Tabela 46)

Dos entrevistados, 52,9% afirmam acreditar que a Defesa Civil ou os técnicos

entendem sobre o risco de deslizamentos. 38,2% justificam que a Defesa Civil entende

do assunto porque é a sua atribuição, 14,7% não especificaram o motivo e uma

parcela relativamente elevada (47,0%) não soube responder a pergunta ou não

concorda que a Defesa Civil entende de deslizamentos.

Tabela 46 - Percentuais das respostas da pergunta 22.

Resposta Total

Sim, porque é atribuição da Defesa Civil 38,2%

Não 29,4%

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124

.

Pergunta 23: Você confia na Defesa Civil ou nos técnicos da prefeitura? Por

que? (Tabela 47)

A maioria do moradores (55,9%) não confia na Defesa Civil, uma vez que existe um

distanciamento entre a comunidade e a Defesa Civil, pela falta de esclarecimentos

sobre suas ações a população. Dada à falta de explicações, os moradores

normalmente questionam se existem outros interesses para remoção das casas;

porque algumas casas são interditadas e outras casas vizinhas não são; porque a

Defesa Civil não faz o diagnóstico de risco com o acompanhamento do morador;

porque os agentes da Defesa Civil aparecem muito raramente ou apenas quando o

desastre acontece.

Tabela 47 - Percentuais das respostas da pergunta 23.

Resposta Total

Não 55,9 %

Sim 44,1 %

Pergunta 24: Está chovendo forte, sua casa está em área de risco, o que você

faz? Por que? (Figura 56 e Tabela 48)

Essa pergunta procura compreender se os moradores, vivendo por hipótese em uma

área de risco, sairiam de suas casas num momento de chuva forte. Três opções de

resposta foram ditas pelos moradores: sair, independentemente de qualquer condição;

sair, com condições (pressão das autoridades, explicação dos órgãos governamentais

sobre a necessidade de sair de casa, obtenção de um lugar pra morar após a saída,

Não sei 17,6%

Sim, não especificou o motivo 14,7%

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possibilidade de volta para casa após a chuva, somente se os vizinhos também

saíssem de suas casas no momento); não sair.

O resultado mostra que, de forma geral, 61,8% da população moradora estaria

propensa a ‘sair de casa independentemente da condição’, o que sugere que a maioria

das pessoas dessas comunidades tomam decisões rápidas em situações de

emergência, com o intuito de garantir maior segurança frente à ameaça de

deslizamentos. 20,6% dos moradores afirmam que poderiam sair de casa,

principalmente, se um trabalho preventivo anterior à situação de emergência os

orientassem melhor sobre o que fazer durante as chuvas fortes e a ameaça de

deslizamentos e se existisse garantia de onde morar após saída.

Essas observações reforçam a necessidade de um trabalho de esclarecimento junto à

população das áreas em médio, alto e muito alto risco para tornar uma ação de saída

emergencial mais eficiente.

Tabela 48 - Percentuais das respostas da pergunta 24 separados por graus de risco.

Resposta Total Risco baixo Risco médio Risco alto e muito

alto e muito alto

Sairia, independentemente

da condição 61,8% 71,4% 57,1% 66,7%

Sairia, com condições 20,6% 0,0% 28,6% 16,7%

Não sairia 17,6% 28,6% 14,3% 16,7%

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Figura 56 - Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 24 separados por graus de risco.

Pergunta 25: Quem deveria ser o responsável pelos prejuízos provocados por

deslizamentos de terra? (Tabela 49)

82,4% dos entrevistados conferiram aos órgãos governamentais a responsabilidade

pelos prejuízos causados pelos deslizamentos de terra, sendo que o percentual

desses aumenta com o grau de risco.

Tabela 49 - Percentuais das respostas da pergunta 25 separadas por graus de risco.

Resposta Total Risco baixo Risco

médio

Risco alto

e muito

alto

Governo (Municipal, Estadual ou

Federal.) 82,4% 71,4% 81,0% 100,0%

Próprio morador 11,8% 14,3% 14,3% 0,0%

A natureza 5,9% 14,3% 4,8% 0,0%

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127

Pergunta 26: Você sabe o que é um sistema de alarme (ou alerta) para

deslizamento? Existe aqui na comunidade? (Tabela 50)

A grande maioria tem noção do que é um sistema de alarme e alerta, apesar de não

confiarem na Defesa Civil.

Os bairros possuem sistema de alarme, as sirenes estão sendo testadas recentemente

e a rota de segurança que indica o caminho a ser percorrido pelos moradores está em

fase final de elaboração (Defesa Civil de Angra dos Reis, 2014).

Durante as entrevistas foi possível notar que os moradores não sabiam informar se o

sistema existia, alguns diziam que já foram feitos testes com as sirenes, outros diziam

que a instalação das sirenes foi feita na escola do Morro do Abel. A maioria dos

moradores disse que o alerta enviado pela Defesa Civil por meio de mensagens SMS

via celular funciona bem.

Os moradores fizeram outros questionamentos que diziam respeito a capacidade da

escola em receber a comunidade como ponto de apoio e local de abrigo e a falta de

outras possibilidades de pontos de apoio em situação de emergência e ao alcance do

som propagado pelo alarme.

Portanto, não basta ter noção do que é um sistema de alarme e alerta, a comunidade

exige maiores esclarecimentos.

Tabela 50 - Percenturais das respostas da pergunta 26.

Resposta Total

Tem noção 82,4%

Não tem noção 17,6%

Pergunta 27: Você sairia de sua casa se tocasse um alarme da Defesa Civil para

saírem rapidamente de suas casas na hora da chuva forte? Por quê? (Tabela 51

e Figura 57)

Muitas pessoas sairiam independentemente das condições, outras sairiam somente

em determinadas condições, o que significa não sair imediatamente, telefonar e

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procurar esclarecimentos no momento em que o alarme está tocando e sair somente

“se estiver chovendo forte”. Comparando com a porcentagem de pessoas que sairiam

independentemente das condições durante uma chuva forte (pergunta 24), a diferença

indica que a população está mais propensa a sair na hora da chuva forte (61,8%) do

que na hora do alarme (52,9%). Além disso, 26,5% de moradores não sairiam de suas

casas durante o alarme e uma parcela de 20,6% está em dúvida sobre a melhor

escolha.

De acordo com as respostas da pergunta 26, essas comunidades não possuem

experiência concreta em relação ao funcionamento de um sistema de alarme.

Portanto, é importante esclarecer melhor os moradores sobre tal sistema, convencê-

los de que o alarme será acionado necessariamente antes de uma chuva forte e de

que é mais seguro sair de suas casas na hora que o alarme está tocando.

Tabela 51 - Percentuais das respostas da pergunta 27 separados por graus de risco.

Resposta Total Risco

baixo

Risco

médio

Risco alto e

muito alto

Sim, independentemente da condição 52,9% 42,9% 52,4% 66,7%

Não 26,5% 42,9% 23,8% 16,7%

Sim, com condições 20,6% 14,3% 23,8% 16,7%

Figura 57 - Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 27 separados em graus de risco.

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Pergunta 28: Você tem pretensão de se mudar? Por quê?

(Tabela 52 e Figura 58)

Os moradores que não pretendem se mudar possuem laços fortes com a região onde

moram ou não possuem outras opções de moradia e, por isso, as pessoas que vivem

em condições de maior risco aceitam viver em médio ou mesmo alto e muito alto risco.

55,9% dos moradores não têm pretensão de se mudar e o percentual para essa

resposta não varia significativamente com o grau de risco. Além disso, o percentual

pequeno de pessoas que pretendem se mudar por causa dos deslizamentos (8,8%)

pode significar que o deslizamento não é um incômodo que gere mudanças.

Tabela 52 - Percentuais das respostas da pergunta 28 separados por graus de risco.

Resposta Total Risco

baixo

Risco

médio

Risco alto e

muito alto

Não 55,9% 57,1% 57,1% 50,0%

Sim, mas não por causa dos

deslizamentos. 35,3% 42,9% 38,1% 16,7%

Sim, por causa dos deslizamentos. 8,8% 0,0% 4,8% 33,3%

Figura 58 – Gráfico com os percentuais das respostas da pergunta 28 separadas por graus de risco.

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Pergunta 29: Que tipo de risco você diria que é o maior de sua vida?

(Tabela 53 e Figura 59)

Essa pergunta tem como objetivo analisar ao fim da entrevista a conclusão do morador

sobre o maior risco que afeta a sua vida, apesar de já ter sido questionado sobre os

principais problemas em sua vida (pergunta 4).

Os ‘deslizamentos’ passam a ter maior importância (38,2%), uma vez que o morador

se envolveu com o tema durante a entrevista. Em seguida, os riscos de ‘violência,

drogas’ (26,5%) e ‘outros problemas’ (20,6%) aparecem também com percentuais

importantes.

Os ‘outros problemas’ fazem referência a outros riscos citados pelos moradores, como:

ventania, pragas vindas do lixo, problemas financeiros, acidente na usina, educação

sem qualidade, ausência de universidades na região.

Tabela 53 - Percentuais das respostas da pergunta 29 separados por graus de risco.

Resposta Total Risco

baixo

Risco

médio

Risco alto e muito

alto

Deslizamentos 38,2% 42,9% 33,3% 50,0%

Violência; drogas 26,5% 28,6% 28,6% 16,7%

Outros 20,6% 0,0% 23,8% 33,3%

Dificuldade de serviços de

saúde 14,7% 0,0% 23,8% 0,0%

Não sei responder 8,8% 14,3% 9,5% 0,0%

Vias internas 5,9% 20,0% 0,0% 6,3%

Figura 59 - Gráfico dos percentuais totais das respostas da pergunta 29.

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Pergunta 30: Você acha que o governo deveria cuidar de outras coisas antes de

cuidar do problema de deslizamentos? Quais? (Tabela 54 e Figura 60)

A resposta ‘deslizamentos’ (35,3%) pode ter sido influenciada pelo tema da entrevista,

no entanto sua importância foi dividida com a ‘serviços de saúde’ (32,4%) e, num nível

um pouco abaixo (23,5%), com a ‘educação’ e a ‘violência’.

Não adianta, portanto, pensar em aumentar a importância do problema dos

deslizamentos de forma que os moradores se engajem nas ações para a redução de

risco, se existem vários outros problemas associados à falta de serviços públicos de

qualidade satisfatória.

Tabela 54 - Percentuais das respostas da pergunta 30 separados em graus de risco.

Resposta Total Risco

baixo Risco médio

Risco alto e

muito alto

Serviços de saúde 35,3% 28,6% 42,9% 16,7%

Deslizamentos 32,4% 42,9% 28,6% 33,3%

Educação 23,5% 0,0% 23,8% 33,3%

Violência; drogas 17,6% 28,6% 9,5% 33,3%

Falta de dinheiro da população 5,9% 14,3% 0,0% 33,3%

Outros 5,9% 0,0% 4,8% 0,0%

Vias internas 2,9% 14,3% 4,8% 0,0%

Figura 60 - Gráfico das respostas da pergunta 30 separados por graus de risco.

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6.2. Consolidação dos temas mais relevantes associada

à compreensão da fala dos entrevistados

A interpretação e discussão dos resultados da percepção de risco nos bairros de

Angra dos Reis, quando confrontadas com outros trabalhos (Tabela 9) indicam que a

percepção do risco pode variar em função da população considerada, das

experiências com os desastres e do envolvimento da mesma com a gestão do risco.

Assim sendo, a experiência de levantamento da percepção de risco nas comunidades

do Morro do Abel, do Morro da Carioca e do Morro do Santo Antônio proporcionou

conhecer tendências de ideologias e comportamentos característicos que geram

atitudes e modos de viver dessa população, a saber:

a) Ligação afetiva e social entre os moradores e o seu local de moradia.

b) Aversão a morar em abrigos ou em apartamentos e depender do aluguel social.

c) Hierarquização das ameaças ou incômodos do local onde vive e relativização

dos riscos.

d) Falta de comunicação entre a população moradora e o poder público e

deficiência de atendimento e de orientação por parte do governo - Defesa

Civil.

e) O desempoderamento da população.

f) Priorização das ações estruturais e visão restrita do problema.

g) Pouca compreensão e confiabilidade do sistema de alarme.

h) Influência do período de chuva na percepção.

i) Medo e trauma da chuva.

j) Noção superficial e limitada das ações antrópicas que levam ao deslizamento

de terra.

k) Desconsideração da suscetibilidade do entorno da área de moradia.

l) O desconhecimento sobre as incertezas na suscetibilidade a deslizamentos.

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Essas particularidades são discutidas neste item e são importantes para trabalhos

futuros que visem à comparação desta pesquisa com levantamentos em outras

localidades. Tais comparações podem indicar comportamentos típicos dos moradores,

que pode, por sua vez, orientar as ações para a redução de desastres, que envolvam

diretamente a participação da população.

Nesse sentido, pretende-se consolidar a análise dos resultados através da articulação

de forma contextualizada entre as diferentes interpretações das respostas

apresentadas no item anterior. A partir dessa atividade foram extraídos os temas mais

relevantes, sendo feitas as respectivas discussões e associações com as falas dos

moradores. Para cada fala é apresentado o nome fictício do autor da mesma, a sua

região de localização, o grau de suscetibilidade e o tipo de evento ao qual o risco está

associado.

a) Ligação afetiva e social entre os moradores e o seu local de moradia

Em geral, a maioria dos moradores das áreas em estudo mora desde que nasceu ou

há mais de 20 anos na região e possui casa própria, com qualidade relativamente

satisfatória e, em alguns casos, com quintal. Observou-se que os moradores têm uma

relação de amizade ou parental com os vizinhos.

As perguntas 1 e 2 (item 6.1) revelam claramente relatos a respeito dos laços fortes

entre os moradores e seus bairros, que podem ser ilustrados pelas seguintes falas:

Moro aqui desde quando nasci, desde pequenininha. Meus pais

vieram pra cá, eles moravam em Paraty. Meu pai veio pra cá a

trabalho e minha mãe veio morar com ele aqui. O que eu mais gosto

é dos meus amigos, a gente desde pequenininho brincando, eu gosto

muito daqui (Catarina, Morro do Santo Antônio, suscetibilidade média

a deslizamento translacional).

Eu gosto daqui porque as pessoas são mais calorosas, mais família.

Aqui, eu conheço todo mundo. Não sei se é esse tempo todo que eu

vendi pão, que eu fiz essa amizade toda, eu não me vejo mais em

outro lugar que não seja Angra (Pedro, Morro do Santo Antônio,

suscetibilidade muito alta a deslizamento translacional).

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Porque eu me casei com meu esposo, que já morava aqui embaixo.

Aqui é a casa da avó dele e nós moramos aqui em cima. Os parentes

já moravam aqui. Eu gosto da proximidade, porque é perto de quase

tudo do centro... Perto da padaria, hospital, o acesso é fácil (Ruth,

Morro da Carioca, suscetibilidade baixa).

Porque onde eu morava era muita dificuldade das coisas. No Abrãao,

né... Na Ilha Grande. Minha mãe resolveu vir pra cá, aqui é mais fácil

das coisas, né: médico, serviço,... Nós viemos a família toda (Marilda

Feijão, Morro do Abel, suscetibilidade baixa).

Moro aqui pelas pessoas, meus irmãos moram todos aqui. Gosto

pelas pessoas mesmo... Tem pessoas antigas que a gente conhece

mais o modo de viver. E, escola, posto de saúde, é tudo perto

(Arlinda, Morro da Carioca, suscetibilidade baixa).

Eu morava no Morro do Santo Antônio. Lá não tinha como entrar

carro, aí apareceu esse lote aqui e eu vim pra cá. Eu gosto, aqui é um

lugar bom, os vizinhos são bons. Porque a gente quando é bom, só

encontra gente boa, porque a gente que faz os vizinhos. Eu me dou

com todo mundo, não sou de ir pra casa de ninguém, mas se precisar

eu estou pronta pra servir. Eu gosto de tudo (Marta Corinda, Morro da

Carioca, suscetibilidade baixa).

Aqui já é de família, são 14 casas de família. Meu pai era de Minas,

ele veio trabalhar em Paraty com montagem da parte elétrica, mas

mais em departamento de pessoal. Ele veio aqui pra Angra e as

primeiras pedreiras eram dele. O que mais gosto é a tranquilidade e

vizinhança. Se precisar os vizinhos sempre ajudam (Manuel Carlos,

Morro da Carioca, suscetibilidade média a deslizamento

Translacional).

Eu sou nascido e criado aqui. Aqui é tranquilo, não tem bagunça, é

uma parte do morro que a gente pode ficar a vontade que não tem

problema nenhum (Mário, Morro do Santo Antônio, suscetibilidade

média a deslizamento translacional).

Moro aqui porque é mais perto da minha família, nós morávamos no

Belém e nos mudamos pra cá pra perto da família da minha mãe,

agora todo mundo mora perto. O que eu mais gosto é da vista e da

vizinhança boa (Angelica, Morro do Santo Antônio, suscetibilidade

média a fluxo detrítico).

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Os laços fortes entre os moradores e os seus bairros poderiam gerar consequências,

como a organização dos moradores para melhoria do bairro e a resistência a

mudanças. Entretanto, não existem relatos que exemplifiquem a organização dos

moradores em atividades para o desenvolvimento local. Por outro lado, percebem-se

aspectos que ocasionam a resistência a mudanças como a identidade com o local de

moradia, a construção de vidas e de famílias, a tranquilidade de viver em casa própria,

o impacto emocional com a troca de residência, a perda da liberdade ao viver em

abrigos ou apartamentos e as dificuldades financeiras para viver de aluguel social,

particularidades também citadas por Lucena (2006), Vargas (2006), Mendonça &

Pinheiro (2013) e Mendonça (2013).

b) Aversão a morar em abrigos ou em apartamentos e depender do aluguel

social

Apesar desse tema estar estreitamente associado ao tema anterior, julgou-se mais

apropriado destacá-lo de forma separada.

Os moradores ressaltam o problema da perda da liberdade ao viver em abrigos ou

apartamentos ou da perda de tranquilidade, para alguém acostumado a viver em casa

própria, ao depender de aluguel social, mesmo sabendo, que nessas condições,

estariam num local seguro quanto aos deslizamentos. Nas falas seguintes fica claro

também a identidade do morador com o local e o impacto emocional com a troca de

residência.

[...] Aí querem te tirar de dentro da sua casa. Igual Minha Casa Minha

Vida... É legal? É, mas você tá acostumado a morar na sua casa. Eu

tenho minha casa, meu quintal, meus cachorros... Aí te tiram da sua

casa, do seu ambiente, do seu habitat e te jogam num apartamento.

O corpo humano se habitua a tudo, mas não é a mesma coisa. Eu

tenho relatos de pessoas que moraram aqui em cima no morro do

Bulé, que não trocavam as suas casas hoje, que voltariam lá pra

cima. Por mais desumano que tem de você morar lá, de você tá

comprando um gás e demorar 1h-1h30 pra vim lá de cima e voltar,

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subir com o gás nas costas, subir de novo e comprar. Mas eles não

trocavam lá em cima por uma apartamento desse ainda... Por que?

Liberdade! Liberdade de andar, de criar uma galinha, um pato... A

maioria dessas pessoas antigas que foram morar nesses

apartamentos aí, já tem umas 5 a 6 pessoas que vieram a falecer

com essa troca de residência. Seu China mesmo, que tinha um sítio

pra cima do Bulé. Plantava galinha, banana, aipim, batata... Aí você

tira uma pessoa dessa e coloca num apartamento? Muda

completamente (Pedro, Morro do Santo Antônio, suscetibilidade muito

alta a deslizamento Translacional).

[...] Os coroas morreram de desgosto quando perderam suas casas...

Eu não me adaptaria em outro lugar... Eles mataram mais que a

natureza! [...] Aaaaah, o maior risco da minha vida é eles virem

quebrar a minha casa. Igual ao coroa que falaram pra ele que ele

tinha que sair por bem ou por mal. Eu acho isso aí uma covardia,

ridículo! Porque um senhor já de idade, a casa era dele, ele que

construiu... Aí, vieram com aquelas máquinas, ele ficou com medo e

saiu (Maristela, Morro da Carioca, suscetibilidade média a

deslizamento translacional).

Meu pai tem 78 anos, no primeiro dia a gente ficou em casa. Aí, no

segundo dia eles ainda estavam procurando os corpos. Aí, parece

que caiu o telhado de uma casa, mas fez assim... Um barulho

imeeenso! E todas as pessoas desceram gritando que o morro tava

caindo e todos desceram vendo o morro cair! E nesse dia, nós

dormimos na casa de uma prima e pro meu pai foi muito difícil. Um

caiçara que levou a vida inteira pra construir aqui, que construiu a

vida toda aqui, tem a questão das raízes, se meu pai tivesse que sair

também de casa dele, seria muito difícil (Larissa, Morro da Carioca,

suscetibilidade média a deslizamento translacional).

Só sairia se eles me dessem outra casa pra morar, porque essa casa

é própria, e eu não poderia comprar uma casa no momento, alugar eu

também não podia... Aí, se eles davam uma casa eu não ia rejeitar

né? O prefeito tinha que arranjar casa pra morar... Nós aqui é difícil

ter casa alugada, é tudo casa própria. Nunca teve nada, então é difícil

sair assim, só porque eles mandaram sair (Marta Corinda, Morro da

Carioca, suscetibilidade baixa).

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A minha casa está em área de risco, a Defesa Civil inclusive mandou

a gente sair, só que eu não saio... Pra sair pra ir pra onde? Morar

onde? De aluguel? Não tenho dinheiro, não trabalho... Ainda tenho

essa casa aqui que foi meu pai que me deu. Já vieram na minha

casa, eu assinei um termo de responsabilidade. Eles falaram que o

que vier a acontecer não é responsabilidade da prefeitura. Eu não

vou sair, porque largo minha casa e eu vou pra onde? Vou pagar um

aluguel de 800 onde eu não trabalho, só meu filho que trabalha. E

viver de que? Aqui só pago a luz, nem água pago que já vem no IPTU

descontado (Vitória Maria, Morro da Carioca, suscetibilidade média a

deslizamento translacional).

Ah, aí eu não saberia nem te dizer, porque eu não ia sair daqui pra

pagar aluguel. Eu ia ter que esperar o governo, né? Vê o que eles

iam fazer (Samuel, Morro do Abel, suscetibilidade média a

deslizamento translacional).

Me colocando numa casa decente, no padrão que eu moro, cabendo

três pessoas, sem problema nenhum, eu sairia. Mas seria uma briga

gigantesca, porque esse apartamento que eles dão não cabe nem

uma geladeira. É desumano, é enfiar todo mundo num cubículo. Eu

não sairia, pra sair do meu padrão, pra viver no padrão deles. Eu

sairia sim, porque não arriscaria a minha vida, mas depois,né...

Depende das condições (Ana, Morro do Abel, suscetibilidade média a

deslizamento translacional).

c) Hierarquização das ameaças ou incômodos do local onde vive e

relativização dos riscos

A hierarquização das ameaças é um aspecto do comportamento do indivíduo, em que,

naturalmente, o mesmo elenca as ameaças do local onde vive e, logo após

hierarquiza, de acordo com sua percepção a partir de suas crenças, experiências e

cultura, posicionando, prioritariamente, os perigos que são mais danosos a sua vida e

razoáveis de convivência.

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Acredito que na área de saúde, né... Na época de chuva a gente se

preocupa com o deslizamento, mas fora da época de chuva acho que

o que a gente mais necessita mesmo é a área de saúde, aqui o

postinho pra marcar só em 1 mês (Angelica, Morro do Santo Antônio,

suscetibilidade média a fluxo detrítico).

A relativização dos riscos é um termo mais abrangente que complementa o sentido de

hierarquização das ameaças. O morador faz a relativização do risco considerando não

só as ameaças do local onde vive, mas também as oportunidades (Vargas, 2006 e

Mendonça & Pinheiro, 2013).

A oportunidade se constitui por um conjunto de aspectos positivos do bairro, que

comparados às ameaças do local, são mais relevantes para o morador, ou ainda,

pelas vantagens de residir no seu bairro em relação à experiência de moradia em

outra localidade.

Assim, os moradores das comunidades estudadas não negam o risco aos

deslizamentos por mencionarem o perigo dos deslizamentos no local onde moram,

mas escolhem viver em local de suscetibilidade significativa a deslizamentos a partir

da relativização dos riscos associados a diferentes ameaças, conforme as falas a

seguir

Aaaah... Tem tanto risco, né? Tirando essas questões de

deslizamento, estruturais... Eu falei das nossas ruas, que não tem

calçadas, por causa do crescimento desordenado. O risco de ser

atropelado, até a própria questão da rachadura, que a gente não

lembra, mas se toca no assunto a gente lembra... Tem também a

violência, das drogas, porque a gente tem criança. Eu não sei te dizer

o maior. Eu diria vários! O que mais me preocupa é o acesso, a falta

de calçadas, porque eu tenho crianças... O ir e vir da nossa

comunidade (Larissa, Morro da Carioca, suscetibilidade média a

deslizamento translacional).

O deslizamento ameaça, porque o único lugar que eu tenho pra

morar é aqui. Porque eu sei que se eu sair daqui pra morar lá em

Minas, eu sei que eu vou passar necessidade. Porque quando eu saí

lá de Minas, eu ganhava 150 reais por mês, aqui eu ganho 800 reais.

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Só quando vem chuva mesmo, que aí eu tenho que descer e dormir

na casa da minha sogra (Patrícia, Morro do Abel, suscetibilidade

média a deslizamento translacional).

Muita gente aqui sabe que o risco ao deslizamento existe, mas não

podemos abandonar, porque o pouco patrimônio que tem vai embora.

(Manuel Carlos, Morro da Carioca, suscetibilidade média a

deslizamento translacional).

Outros autores também consideram a relativização do risco em suas análises. Finlay e

Fell (1997) questionam o grau de importância dado ao desastre associado a

deslizamentos frente a outros perigos presentes no cotidiano. Vargas (2006), por

exemplo, fala sobre a capacidade dos grupos sociais e dos indivíduos,

separadamente, construírem concepções diferentes sobre o risco. Segundo a autora,

as camadas populares sujeitas ao risco elencam os riscos sociais como prioritários

quando relacionados aos riscos ambientais, dado seu histórico de vida de

subsistências frente às inúmeras dificuldades. Esses grupos sociais criam laços

‘identitários’ com o lugar de moradia e contrariam o discurso técnico e a determinação

para saída da área de risco, dada à experiência de falta de alternativas, processo o

qual o faz pensar que continuar em sua casa, mesmo sujeito ao risco, pode ser uma

oportunidade por outras vantagens que o local oferece. Mendonça e Pinheiro (2013) e

Mendonça (2013) reforçam que o estudo da percepção de risco deve atentar para a

relativização, feita pelos indivíduos, da importância de um determinado risco (ex:

deslizamento) frente aos demais. Estes autores concluíram a partir do levantamento

da percepção de risco do bairro do Maceió (Niterói) que, apesar dos moradores

mencionarem o risco a deslizamentos (70% citaram esse perigo em época de chuva),

somente 10% consideram esse perigo importante para eles de uma forma geral.

d) Falta de comunicação entre a população moradora e o poder público e

deficiência no atendimento e na orientação por parte do governo - Defesa

Civil.

Um dos aspectos mais importantes mencionados pelos moradores é a deficiência na

comunicação.

No processo de comunicação, não raro a população é excluída do debate e por

consequência, suas demandas não são atendidas.

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Naturalmente, como a comunidade vive os impactos dos eventos no seu bairro e se

depara com a desconsideração constante do saber popular, ela se sente, além de

desassistida pelas autoridades, distante de órgãos públicos que a representem. As

seguintes falas contribuem para essa constatação.

Era bom se a gente tivesse orientação. Eles vieram aqui, mas não

informaram nada direito. Ficaram só cavando aqui pra ver se achava

água. A gente pedia informação, mas eles não davam direito, só pra

essas pessoas que perderam as casas aí, Iá na casa de cada um,

mandava dizer que tinha reunião ali embaixo e falava (Catarina,

Morro do Santo Antônio, suscetibilidade média a deslizamento

translacional).

Certeza, a gente não tem. A gente não sabe nada, a gente só julga.

Eles deveriam vir aqui conversar com o povo, eles não vem. Mas

quando querem votos aqui enche (Maria Angela, Morro do Santo

Antônio, suscetibilidade média a fluxo detrítico).

Mas eles vem dar orientação, mas não resolve nada! A orientação

que eles dão pra gente é assim ó: se chover muito e vocês ficarem

preocupados, vocês vão dormir lá na escola do Abel. Eles vêm dizer

que a gente tem que correr! Como é que a gente vai correr? Se cai a

chuva, mas é de noite. Como é que a gente vai correr? Eu já falei,

que quando esses homens viessem aí, eu ia pedir pra tirar essa terra

de trás desse muro, que eu queria que esvaziasse esse muro. Eles

não têm orientação pra dá... Só isso, vem aí, dá uma olhada... E vem

de noite, pra ver. Vir de noite pra ver o que? Vai resolver o que de

noite? Não adianta! (Anita, Morro da Carioca, suscetibilidade muito

alta a deslizamento rotacional,).

Tem risco na comunidade. Começaram a falar... Aí, os caras saíram

de casa. Aí eles pararam de falar, os caras voltaram todos! (Juliano,

Morro da Carioca, suscetibilidade alta a fluxo detrítico).

Confiar na Defesa Civil e nos técnicos da prefeitura? Muito muito

não... Ah, porque cada vez que eles vem aqui, um fala uma coisa,

outra fala outra, outro já fala outra... (Katiana, Morro da Carioca,

suscetibilidade baixa).

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Às vezes, não confio. É tudo dito pela metade. Porque existe uma rua

imaginária que corta o morro do Abel, Carioca e Santo Antônio e a

prefeitura sempre quis que esse povo saísse daqui pra fazer a tal da

rua. Não dá pra confiar, acho que eles vêm aqui, diz que é área de

risco, mas é outro interesse (Sônia, Morro da Carioca, suscetibilidade

média a deslizamento translacional).

Depois do desastre, aqui ficou um ambiente feio pra se morar, as

pessoas também esquecem, por um tempo isso aqui ficou esquecido.

O correio, essas coisas, eles acham que daqui pra cima não mora

mais ninguém, ficou esquecido. Aí, igual da vez em que vieram

asfaltar a rua, asfaltaram só esse pedaço aqui, esqueceram dessa

subida, nós tivemos que reclamar. Porque eles acham que aqui ficou

abandonado. Mas não, aqui ainda mora gente! Agora quase nunca a

gente pensa em deslizamento, a gente esqueceu até,né... A gente viu

que não vai ter mais jeito... A gente viu que estamos esquecidos aqui

(Ruth, suscetibilidade baixa, Morro da Carioca).

Pois é, quando chove a gente pensa nessas barreiras descer aí ó...

Agora eles estão fazendo esses muros e pararam a construção deles

e tal, demoliram várias casas aí por cima. Aqui onde tá aquele mato

ali, desceram todas, sobraram algumas casas que demoliram... Aí a

Defesa Civil alerta todo mundo, dizem: ‘choveu sai de casa. ’ E vai

pra onde? Então, quer dizer, tem que esperar acontecer praticamente

(Francisco, Morro da Carioca, suscetibilidade alta a rastejo).

Não tem como confiar não na Defesa Civil, porque eles não dão uma

segurança para o próprio morador. Eu acho que eles devem chegar e

dizer: ‘Vamos avaliar, vamos!’ Então, vamos acompanhar essa

avaliação. Não chegar aqui e dizer: ‘Aaahh a sua casa vai cair’ e

depois virar as costas. Porque eles vêm aí e avalia, e o que o

morador tem que fazer? O morador geralmente não tem aquela grana

pra estar construindo pra sua própria segurança, quer dizer... Aí já

vem pro outro lado de prefeituras que tem que dar essa força

construtiva aí pra assegurar o morador (Francisco, Morro da Carioca,

suscetibilidade alta a rastejo).

[...] A gente vê, em muitos lugares, as casas sendo construídas. Aí,

ninguém fala nada, depois que tá pronta que quer tirar... Então cadê

os fiscais, que não fiscalizam? Aquele murão ali eu tinha medo,

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porque é cada pedrão ali...Antigamente, ele era mais fundo,né? E

você acha que aquele muro (de gabião), um montão de pedra uma

em cima da outra, aquela grade ali... Uma hora vai se quebrar! E pra

onde vai vir aquelas pedras? Porque aquele muro ali não tem base,

não tem nada, uma hora aquela grade vai quebrar, porque o tempo

estraga.. Aquilo vai descer vai vir pra onde? Eu acho que os

governantes pensam muito pouco nos menos favorecidos, hein...

Estão nos seus prédios no baixo,né. Eu penso assim, o que mais no

momento que me atinge é saúde e esse problema aí (Paula, Morro da

Carioca, suscetibilidade média a deslizamento translacional).

Olha, eu não sei se orientação da Defesa Civil faria tanta diferença.

Eu acho que tem que ser um trabalho dentro das salas de aula,

desde pequenininhos, um trabalho mesmo, porque isso aqui já é uma

realidade já posta... E aí, o que a Defesa Civil vem fazer, vem dizer:

‘olha, se houver chuva pode acontecer assim, pode acontecer

assado’. Eu acho que seria bom fazer um trabalho nas escolas com

as crianças. A professora fala, nesse ano que aconteceu, nós fizemos

um projeto sobre essa situação, nós fizemos esse trabalho nesse

sentido, mas passou 4 anos acabou. Então você trabalha

superficialmente sobre o meio ambiente e é uma coisa muito séria,

porque é uma realidade da cidade de Angra. Essa é a tendência, todo

ano você vê deslizamento, enchente. Quando você investe em

educação, pode ser um processo mais demorado, mas vai surtir

efeito... Educação eu acho que é uma coisa que tem que ser pra

tudo, mas se a comunidade tá caindo tem que ter verba pros dois

(Larissa, Morro da Carioca, suscetibilidade média a deslizamento

translacional).

Como eu falei pra vocês, quando caiu aqui nós estávamos nos

preparando pra sair, nós chegamos a sair daqui, mas a vizinha disse

que se a gente saísse de casa a prefeitura não ia arrumar nada aqui.

Eu acho que minha vizinha tá certa, orientou a gente, então nós

voltamos. Tem que ver primeiro um lugar pra ficar (Laura, Morro da

Carioca, suscetibilidade média a fluxo detrítico).

Além disso, os relatos indicam também que a Defesa Civil é um agente externo

distante dos moradores. De uma forma geral, suas falas sugerem a falta da presença

desse órgão junto a comunidade, a insuficiência de orientações técnicas e de ações

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preventivas, o desconhecimento dos moradores sobre as intervenções realizadas no

bairro, a remoção de moradias sem um plano de realocação eficiente e a ausência de

moradia adequada para quem é vítima de desastres.

Em síntese, tudo isso gera desconfiança e perda de credibilidade da Defesa Civil e

dos técnicos da prefeitura, conforme as seguintes falas:

Com certeza, se o homem fizer casa em lugar perigoso, uma em cima

da outra, vai acontecer deslizamento. Porque a prefeitura, a defesa

civil não vem ver aonde tá construindo, aí a pessoa não para de

construir. Porque os maiores tem que vir ver e dizer: ‘Não! Aí não

pode fazer casa! Mas eles não dizem nada! Tem casa em cima da

outra que dá até medo, diz que o morro está todo em perigo (Maria

Angela, Morro do Santo Antônio, suscetibilidade média a fluxo

detrítico).

Às vezes sim, eu confio, às vezes eu não confio na Defesa Civil... Às

vezes eles falam uma coisa... Igual aqui, aqui em cima da minha

casa, não tem tanto risco, mas eles tiraram as pessoas daqui, com

criança. Se aquela casa tá em risco, pode bater na minha também! E

porque a minha não tá em risco? Algumas coisas que eles falam não

tem necessidade. (Catarina, Morro do Santo Antônio, suscetibilidade

média a deslizamento translaciona).

É uma coisa que às vezes tem como evitar e às vezes não tem como

evitar... Eu vou levar primeiro de novo ao poder público, porque essas

construções feitas desordenadamente, a gente não vai culpar o

governo atual, isso vem lá de trás... Se os governos bem antes de

começar a comunidade tivesse a fiscalização, todas as construções

aqui são irregulares, mas se tivesse uma fiscalização mais rígida e

um poder público atuante evitaria muito desses deslizamentos, por

exemplo, lá na Carioca tinha uma comunidade lá em cima, o Bulé.

Não tinha esgoto, não tinha nada. O esgoto ia pra onde? Tudo pra

encosta! Esgoto e lixo, esgoto e lixo, sem fiscalização do poder

público, sem nada... Canaleta, fizeram uma canaleta lá por cima

cortando o morro, o que aconteceu? Caiu o barro, obstruiu a

canaleta, aí você imagina, há anos e anos jogando o esgoto, fora a

água que já tem... Então, a maior parte da culpa é do poder público,

não tem jeito. Se eles sobem, eles estão vendo que a situação está

precária... É drenagem, a gente tá cansado de falar isso pra eles.

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Quem conhece melhor a comunidade que os moradores? São os

moradores, porque a gente entra dentro desses matos todos aí,

sabemos onde tem olho d’água, onde não tem... Então, a gente tá

cansado de passar isso pra eles e eles não tão nem aí... Eles só se

preocupam em fazer depois que as coisas acontecem e depois que

as coisas acontecem, já era... (Pedro, Morro do Santo Antônio,

suscetibilidade muito alta a deslizamento translacional).

Nunca tiveram aqui. Eu acharia importante a Defesa Civil vir dar

orientação, mas não adianta... Não vem. Defesa Civil, que deveria

fazer esse trabalho. Mas não faz, nunca vieram aqui, não faz esse

trabalho (Sérgio Mirael, Morro do Santo Antônio, suscetibilidade

média a deslizamento translacional).

A Defesa Civil disse quando tiver chuva forte, vocês saem e vão lá

pra escola. A gente vai ficar fazendo isso? Então, não tem segurança!

Se eles falaram isso, não tem segurança. Eles acham que entendem

o que fala, mas eu não sei não... A gente que mora aqui que sabe,

porque eles não entendem nada. Igual esse muro aí, não me

conformo não. Eles entendem, mas não liga. (...) Se ligasse tava aí

ajudando a gente (Anita, Morro da Carioca, suscetibilidade muito alta

a deslizamento rotacional).

Vamos ver, porque a gente teria que correr na prefeitura pra ver, pra

ganhar uma casa. Igual o meu compadre: um diz que tá na área de

risco , outro diz que não tá... Derrubaram a casa dele, 4 casas... Só

se eles me arrumassem uma casa, eu não teria condições de arrumar

uma casa. Um fala uma coisa, outro fala outra... na época aqui os

engenheiros vieram aqui e disseram que não tava em risco, depois

veio outro cara aqui e disse que tava em risco. E derrubaram casas

que não eram pra derrubar. Teve área lá que não tinha risco nenhum

e eles derrubaram as casas, o negócio foi aqui e eles derrubaram

casas lá do outro lado. Eu acho que eles não entendem tanto como

falam não, mas eles estudaram pra isso, a gente não pode também

falar muito deles (Juliano, Morro da Carioca, suscetibilidade alta a

fluxo detrítico).

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Igual o rapaz da Defesa Civil falou, que aqui não é área de risco, mas

quando chover tem que ficar atento. Ah então, eu acho que é uma

área de risco, né? Porque é bem embaixo do muro. Porque eu não

acredito que esse muro vai segurar esse barranco se descer aí...

(Katiana, Morro da Carioca, suscetibilidade baixa).

Mas eu acredito que eles têm uma orientação de outra pessoa que já

entende, por exemplo, um engenheiro. Às vezes a gente fica em

dúvida se eles entendem, porque eles interditaram aquela casa ali e

não interditaram as outras, por quê? Se derrubar aquela casa ali,

você não acha que vai afetar a estrutura dessa e dessa? (Sônia,

Morro da Carioca, suscetibilidade média a deslizamento

translacional).

Não confio no governo não, porque a gente não sabe. Porque na

época eles vieram aqui e tudo, mas depois nunca mais vi. Depois do

que houve eles não aparecem aqui não (Arlinda, Morro da Carioca,

suscetibilidade baixa).

Não, pra falar a verdade o que a gente reclama é essas coisas aí, por

exemplo, quando chove a gente fica com medo, porque quando já

botou aquele medo, quer dizer... Muita gente morreu, a Defesa Civil

parar o carro na sua porta e dizer: sai, sai, que o morro tá descendo?

(...) Essa minha rua aqui é toda interditada, só que eu não saí, porque

até chegar na rua de vocês lá é muita coisa, só se houver uma

catástrofe, você não concorda comigo? Esse pessoal aqui, tudo é

interditado, eu só não saí, porque se eu tivesse vendo um penhasco

assim na minha frente, o perigo assim bem na minha frente, aí eu não

ficava. A Defesa Civil teve aqui, o Rio Sul e tudo, disseram que isso

aqui tá interditado. Mas eu não vou sair daqui pra eles me darem 510

reais, eu tenho minha casa confortável pra morar. Depois eles fazem

aquele predinho. Uns que moram lá falam que é barulho, tem gente

que não respeita o direito do outro, aí... Eu continuei aqui... Aí é a

esperança que a prefeita ganhasse, porque prometeu, mas até hoje

não tá feito nada... Aí você morar num lugar inseguro te atinge,né

(Paula, Morro da Carioca, suscetibilidade média a deslizamento

translacional).

Não saio se chove forte, porque eles só vêm aqui no dia que tá

chovendo, colocar medo, colocar pânico nos outros. Porque isso aí

não é só eles não, os governantes vai lá pra tirar o deles da reta: ‘se

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cair lá e não sair, problema é deles, nós avisamos’. Eu mesmo não

saio não! Eles quase matam uma pessoa do coração... Vieram ali

com o mega fone: ‘Sai! Sai! Sai! Que o morro tá muito encharcado!’

Eu me peguei em Deus e fiquei em minha casa. Eles mandam ir pra

escola do Abel e ali não tem perigo? Não é no morro? (Paula, Morro

da Carioca, suscetibilidade média a deslizamento translacional).

O que cabe a população já foi feito, como cobrança a prefeitura do

que pode ser feito... Cobrança a Defesa Civil, mas providência

nenhuma foi tomada... Há reunião e conversa, mas de reunião e

conversa não segura barranco, né? (Manuel Carlos, Morro da

Carioca, suscetibilidade média a deslizamento translacional).

A comunidade vive em reunião com a Defesa Civil por causa disso aí

mesmo, mas a gente vai lá, eles falam,falam, falam... Dizem que vem,

mas não resolvem nada, isso é só promessa, então a gente não sabe

nem o que vai falar (...). Todo mês a gente devia ter reunião... Duas

vezes que teve reunião com dois anos de governo (Vitória Maria,

Morro da Carioca, suscetibilidade média a deslizamento

translacional).

Eles são capacitados, mas existe um mau trabalho. Porque eles vêm,

fazem tudo e a gente não vê nada. Eles têm que ter mais atenção,

porque não tem. Eles são capacitados, eles estudam pra isso, eles

fazem curso pra isso, mas eu não vejo, os vejo atuando pouco (Juca

Bentão, Morro do Santo Antônio, suscetibilidade baixa).

Sim, mas eles só vêm aqui em dia de chuva forte. Teve um caso aqui

que eles chamaram, o pessoal foi todo pra escola ali, mas não tinha

nenhum suporte, o pessoal todo desorientado, mas seria interessante

a orientação sim (Ana, Morro do Abel, suscetibilidade médio a

deslizamento translacional).

Não confio na Defesa Civil, porque eles não dão informação e

chegam de uma hora pra outra e dizem: ‘Aaah, vocês vão ter que sair

daqui! ’ Por que nunca vieram falar, só esperam acontecer. Porque a

gente vai acreditar? Muito difícil pensar se eu sairia de casa durante

uma chuva forte. Porque você não tem pra onde ir, você vai sair e

ficar no meio da rua, na chuva? AÍ, teria que ter um planejamento da

prefeitura. Complicado ir para um abrigo... Eu não sei, eu acho que

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eu sairia, mas eu teria que voltar depois (Tatiana, Morro do Santo

Antônio, suscetibilidade alta a deslizamento rotacional).

Não, porque tem muitas vezes que tem gente que fala, não dizendo

que foi o que aconteceu, mas tiraram tanta casa ali que talvez não

tenha tido tanta necessidade de tirar. Muita gente foi morar de

aluguel, a casa era enorme e muita gente foi morar numa mini casa

sem necessidade, porque eles tiveram que demolir e falaram que iam

construir de novo e hoje em dia não tem nada. Errados não, não sei

se eles estavam errados... Eu por mim, na situação que foi, eu ficaria

pensando, se o meu vizinho está condenado e a minha casa não foi,

eu ficaria pensando: ‘será que a minha casa também não tá

condenada?’ Teve gente que foi morar na casa de parente, porque

não encontrou casa pra alugar na hora ali e teria que sair as

pressas... Errados, errados não... Mas parece que eles só mandam

as pessoas saírem e se vira (Angelica, Morro do Santo Antônio,

suscetibilidade média a fluxo detrítico).

e) O desempoderamento da população

Os moradores focam o problema dos deslizamentos e ações para redução dos riscos

nos governantes. Essa atitude pode ser proveniente da forma como se dão as

relações de poder, de tal sorte que o poder é delegado aos representantes do governo

e tirado dos moradores, ou seja, os gestores públicos exercem seu poder de controle

sobre as ações ou possibilidades das comunidades. Esse poder sobre as pessoas

pode gerar o ‘desempoderamento’ dos moradores, comentado na análise das

respostas a pergunta 14, no item 6.1. A falta de conhecimento das medidas que o

próprio morador pode realizar para redução do risco contribui para essa forma de

pensar. A seguir estão falas que permitem constatações.

Nós em si... É muito difícil. Só o governo. A gente não tem condições

de nada aqui, mas o governo ele tem. Se eles quiserem, eles fazem.

Porque eles têm o poder, eles têm o dinheiro, eles têm tudo (Juliano,

Morro da Carioca, suscetibilidade alta a fluxo detrítico).

Que coisa que vai ter pra evitar mais? Só Deus! Não tem mais nada

pra fazer que possa evitar deslizamentos. Nãoo... Não tem como nós

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fazer. Não, não me sinto capaz... Só Deus (Anita, Morro da Carioca,

suscetibilidade muito alta a deslizamento rotacional).

Porque aqui antigamente era um ambiente bom, agora com esse

quebra quebra aí, tá meio razoável,né. Por exemplo, aqui tá pra

quebrar a casa, mas tá naquele negócio né.. Governo, a gente não

sabe como vai ficar....Quebrar por causa do muro,né... Que diz que

vai passar... Um diz que é muro, outro diz que é estrada.. Daí a gente

fica naquele baque...Fica lá parado, aí a obra aqui em casa é

interditada, não pode fazer nada, enquanto eles não resolvem... Eles

dizem que é ordem da prefeitura, que ninguém pode pintar, ninguém

pode terminar de fazer obra... Faz muito tempo, que eles dizem que

vai quebrar, vai quebrar... (Maristela, Morro da Carioca,

suscetibilidade média a deslizamento translacional).

Acho que não, fazer o que para evitar ser atingido por um

deslizamento? Isso já tá fora da nossa alçada, vai fazer o que? Vai

pra onde? É o governo, município que tem que solucionar isso,

governo do Estado e Federal (Tatiana, Morro do Santo Antônio,

suscetibilidade alta a deslizamento rotacional).

A medida é deles mesmos, o próprio governo estadual, ou mesmo o

federal tomar providência. Foi muito dinheiro, mas muito dinheiro

gasto nesse muro aí... Aquela parte ali resolveu, ali realmente é muito

constante mesmo, eles cavaram embaixo pra poder levantar, aquilo

ali é só rocha de pedra... Embaixo fizeram a fundação e foram

levantando com esses blocos. Essa parte onde foi feito esse muro

agora tá segura, mas porque não fizeram isso antes? Outras medidas

eles tem, várias medidas eles tem, né... Já não dependeria dos

moradores, depende deles mesmos, só depende deles mesmo. A

associação de moradores não resolve nada. A pergunta que a

senhora me fez, eu não sei nem te responder, só eles mesmo.

(Rogério, suscetibilidade média – deslizamento translacional, Morro

da Carioca).

Discutir as relações de poder é um ponto essencial para que pessoas e grupos se

sintam empoderados. Segundo Foucault, o poder não poderia ser reservado a grupos

ou pessoas, deveria ser formado pelas relações sociais. Diante disso, não existiria

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concentração de poder e consequente redução do poder dos outros grupos. Em suma,

nesse modo de tratar o poder, o mesmo é relacional (Lorio, 2002 apud Romano,

2002).

Segundo Lorio (2002) apud Romano (2002), a visão foucaultiana considera quatro

tipos de poder, a saber, que geram mudanças nas relações.

a) Poder sobre: o poder que exerce o controle dos recursos e ideias.

b) Poder para: o poder da ação, o poder para fazer algo.

c) Poder com: o poder do grupo, do enfrentamento do problema de forma

conjunta.

d) Poder de dentro: o poder da força interior e espiritual, que gera confiança e

respeito em si e nos outros.

Empoderar-se é importante e necessário. A comunidade precisa saber do seu poder

para aumentar a resiliência. Um indivíduo não é resiliente se aponta o governo como

único responsável aos problemas que acometem as pessoas e o bairro. Em

contrapartida, o governo deveria incentivar mais a continuidade de projetos ligados à

prevenção com participação popular e ser transparente em relação a intervenções,

de qualquer natureza, na comunidade. O governo deveria, então, dar condições para o

aumento da capacidade de enfrentamento de populações em áreas de risco.

A resiliência social (ou capacidade de enfrentamento), como ferramenta para a gestão

de riscos, pode ser medida a partir do tempo necessário de retorno a um equilíbrio,

dado o impacto do desastre. Um sistema mais resiliente é menos vulnerável, uma vez

que com o aumento da resiliência é possível reduzir os danos de um desastre

(Dauphiné & Provitolo, 2007).

De acordo com Dauphiné e Provitolo (2007), alguns fatores podem aumentar a

resiliência, entre eles: a diversidade (entre as pessoas), a auto-organização e a

aprendizagem ou a capacidade de adaptação. Pelo contrário, alguns podem reduzir a

resiliência, como: a oposição a qualquer forma de inovação; o poder de punição

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excessivo; a falta de liberdade para decisões individuais; e a centralização das

decisões. Podemos observar nas falas a falta e a presença de alguns desses fatores

que caracterizam a baixa resiliência da comunidade.

A análise das respostas a pergunta 13, (item 6.1) permite identificar fatores

psicológicos, observados por Lin et al. (2007), como impotência e desesperança, que

reduzem o engajamento das pessoas em atividades de prevenção e redução dos

riscos. Pode-se dizer que esses fatores estão estreitamente ligados a causa da falta

de empoderamento.

Diante dessa discussão, Lin et al. (2007) também fazem os seguintes

questionamentos: “O que impede as pessoas de se engajarem em atividades de

redução dos riscos?” e “Como diminuir os fatores que reduzem o engajamento das

pessoas?” A seguir estão algumas falas que contribuem para essas questões.

Todos eles eu tenho certeza que acha que são capazes de fazer algo

pra evitar ser atingidos por deslizamentos, porque todos eles cobra

obra... Todos eles cobra o que tem que ser feito. Se nós achássemos

que não tem jeito, nós tínhamos saído daqui. Não, mas nós não! Nós

não podemos fazer nada, nós estamos de mãos atadas, porque você

pode gritar aí, ir no rádio falar... A gente não tem condições de fazer

nada, quem tem condição são os governantes que a maioria colocou

lá pra isso,né... É, eu acho que o morador não tem capacidade de

fazer nada (Paula, Morro da Carioca, suscetibilidade média a

deslizamento translacional).

Órgão público executivo, a prefeitura. Porque já teve um estudo da

Defesa Civil que aqui é um lugar iminente de risco. Então, eu acho

que deveria ser feito por eles. Aí diz, aah... mas o próprio morador

tem que. Não! Nós pagamos impostos pra isso, nós pagamos muitos

impostos (Manuel Carlos, Morro da Carioca, suscetibilidade média a

deslizamento translacional).

Aaaah, não sei te dizer não... Nosso governo aí não faz nada. O

nosso governo acho que pode fazer, né... Eles tem dinheiro, o que eu

posso fazer, eu não sei, eles que tem que ver a área que tá mais

perigosa. O que o governo pode fazer é interditar as casas. Os muros

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de contenção ajuda bastante, outra coisa não sei te responder (Mário,

Morro do Santo Antônio, suscetibilidade média a deslizamento

translacional).

O governo, prefeitura, que tem que arcar com os prejuízos dos

deslizamentos, porque a gente paga o imposto, o IPTU, eles que tem

que dar o jeito deles. A gente trabalha, ganha pouco e tem que se

virar depois? Não! (Tatiana, Morro do Santo Antônio, suscetibilidade

alta a deslizamento rotacional).

Eu não me sinto capaz de fazer algo pra evitar ser atingido por

deslizamentos. Aqui não. Até mesmo se eu for fazer um muro de

contenção aqui, eu vou gastar muito dinheiro, porque o terreno é

muuuitoo grande, nem meu o terreno é... Então, é uma coisa assim,

minha parte é tudo murado, mas o do vizinho... (Ana, Morro do Abel,

suscetibilidade média a deslizamento translacional).

Vontade de fazer algo pra evitar ser atingida pelos deslizamentos até

teria, só não tenho a disponibilidade de alguma coisa pra isso... Sei

lá, juntar um mutirão e cobrar a prefeitura. Eu só acho mesmo que é

cobrar a prefeitura, porque eles já têm os meios deles, pessoas que

sabem, pra fazer o muro de contenção, pra ajudar lá (Angelica, Morro

do Santo Antônio, suscetibilidade média a fluxo detrítico).

Eles se sentem capazes, porque a gente procura a associação, a

associação joga pra câmara, aí a câmara passa pro senado, aí o

senado, até aprovar aquilo ali... Entra ano, sai ano e não se resolve

nada! (Rogério, Morro da Carioca, suscetibilidade média a

deslizamento translacional).

f) Priorização das ações estruturais e visão restrita do problema

Os moradores, em geral, priorizam ações estruturais e apresentam deficiências no

conhecimento sobre as diferentes possibilidades de obras para estabilização das

encostas, de modo similar a população estudada por Mendonça e Pinheiro (2013).

Como para a maioria dos moradores a única solução pensada para se evitar o

deslizamento é a realização de obras, em geral, os moradores não se sentem capazes

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de contribuir para redução dos riscos a deslizamentos, já que normalmente, para eles,

essas obras são onerosas. Essa visão restrita contribui para o desempoderamento

abordado na letra b deste item.

Quando não são fornecidos esclarecimentos sobre as intervenções feitas no bairro,

bem como sobre ações não estruturais, podem existir problemas na comunidade como

instabilidade emocional, vandalismo e desconfiança quanto a eficiência da

intervenção.

Fazer obras, eu acho que o que dá o livramento é fazer obra, fazer

contenção, pelo menos amenizar... (Paula, Morro da Carioca,

suscetibilidade média a deslizamento translacional).

Se eu tivesse condições e a prefeitura ajudasse um pouquinho, a

prefeitura entraria com o material e a própria comunidade faria o muro

de contenção, porque aqui tem pedreiros, têm serventes, tem até

engenheiros que moram aqui perto (Sérgio Mirael, Morro do Santo

Antônio, suscetibilidade média a deslizamento translacional).

Na maior parte hoje em dia, são os muros de contenção pra evitar os

deslizamentos. Eles deveriam estar providenciando isso pras casas,

tem muita casa pendurada por aí... Se você olhar aqui em baixo,

desse muro pra baixo, essas casas estão todas penduradas. Então,

quer dizer, eles esperam acontecer primeiro, pra depois querer

enganar uma providência... Digo mesmo, enganar. Eles não tomam

uma providência. Espera cair e acabou... ‘Aaahh, sai de casa, sai de

casa!’, E vai pra onde? (Francisco, Morro da Carioca, suscetibilidade

alta a rastejo).

Medidas para evitar ser atingido por deslizamentos? Fazendo um

bom muro de contenção, eu acho que aquele muro lá que fizeram

não tem nada a ver... O certo seria um muro de contenção, igual tem

aí... Todo mundo fala mal desse muro aí, muito inseguro (Rosângela,

Morro da Carioca, suscetibilidade média a deslizamento

translacional).

Aaaah, espontaneidade do serviço público, né... Questão de obras,

serviço de obras... É fazer né... É construir pra melhorar. Obras de

contenção, obras de contenção é uma maravilha. Prometido,

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prometido e até agora nada... Só essa parte de contenção, quando

começaram a fazer a sondagem eu fiquei todo feliz que vai sair, vai

sair.. e não saiu. Quando dá aquela chuva forte aqui eu fico com

medo! Eu não, eu não tenho condições, não tenho condições de

conseguir lá através do poder lá.. pra construir a obra, da primeira vez

eu consegui. Os moradores não se unem, não há união, eu acho que

a única coisa é fazer obras. Reduzir o lixo não adianta, eles jogam...

Só obras (Juca Bentão, Morro do Santo Antônio, suscetibilidade

baixa).

Um muro bem feito, uma obra bem feita, porque eles aqui começam a

fazer e depois largam tudo pra trás e aí vai indo... Um muro bem feito,

essas obras que tem por aí... Ali na Carioca, eu não sei se aquela

obra ali tá boa. Aqui em baixo na Costerinha também. Será que a

chuva não vem e não pode descer? Que eles colocam aquela tela...

Será que quando chover o barro não vai descer? Só obra mesmo pra

evitar ser atingido por deslizamentos (Carolina, Morro do Abel,

suscetibilidade baixa).

Eu falo muito pro pessoal se organizar pra ir a prefeitura pra pedir pra

fazer um muro. O que eu pediria aqui pra minha casa era um muro de

contenção. Olha, proibir a construção de casa não adianta que o

pessoal faz, o pessoal fica cavucando, cavucando, cavucando o

terreno, né... E não adianta proibir que o pessoal tá fazendo e

enfraquece o solo.. Só obra mesmo (Ana, Morro do Abel,

suscetibilidade média a deslizamento translacional).

Medidas para evitar ser atingida pelos deslizamentos? Aaaah obra,

com certeza. E tirar essas pessoas e colocar num solo estável e fazer

aqueles muros de contenção. Mas isso já é prefeitura, governo. Outra

coisa, não sei, não faço ideia (Tatiana, Morro do Santo Antônio,

suscetibilidade alta a deslizamento rotacional).

g) Pouca compreensão e confiabilidade do sistema de alarme

A credibilidade da Defesa Civil também está ligada a um sistema de alarme eficiente.

A Defesa Civil envia alertas aos moradores por meio de mensagens SMS quando

existe a possibilidade de chuvas moderadas e fortes. Se existe a previsão do aumento

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da intensidade das chuvas e da ocorrência de alagamentos e deslizamentos

generalizados, um sistema de alarme sonoro é acionado para que os moradores

saiam de suas casas, imediatamente, em direção a pontos de apoio.

Para que as pessoas saiam durante a sirene têm que haver um trabalho prévio de

esclarecimentos que dará crédito ao sistema. O conhecimento sobre o funcionamento,

aplicação e localização do sistema, as vias adequadas para evacuação e a

distribuição dos pontos de apoio são as informações mínimas necessárias que devem

ser de ciência da população.

As falas seguintes mostram as opiniões dos moradores sobre o sistema de alarme.

Eles sempre falaram nos papéis... Não sei. Eu não vi essa tal de

sirene, mas eu nunca vi. As pessoas ficam alerta, às vezes chovendo

muito a Defesa Civil vem vigiar... Mas o que adianta? Vai livrar

alguém? (Anita, Morro da Carioca, suscetibilidade muito alta a

deslizamento rotacional).

Se tocasse o alarme, não sairia da minha casa. Por que eu não tô na

área de risco, mas se eu tivesse, como muita gente ali, eu sairia. Se a

Defesa Civil dissesse que minha casa está numa área de risco, eu

sinceramente, não acreditaria neles não (Juliano, Morro da Carioca,

suscetibilidade alta a fluxo detrítico).

No caso da gente aqui, a Defesa Civil levou o telefone de cada um e

vai nos orientando por mensagem... Agora sirene aqui não tem não.

Vamos supor que um celular esteja fora de área? Como que ele vai

avisar pra você? Não vai dar pra avisar todo mundo! Se tocasse o

alarme, o povo entraria em pânico sem orientação... Eu sairia de

casa. (Sônia, Morro da Carioca, suscetibilidade média a deslizamento

translacional).

Aaah... Esse dia tocou, mas nós não saímos não, que eu achei que

não tinha perigo... Uma chuvinha fraaacaaa, uma chuvinha

fraquiiinha, aí eu achei que não tem perigo não (Marilda Feijão, Morro

do Abel, suscetibilidade baixa).

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Sirene que toca pras pessoas sair... Eu não sei, no fim é tudo bla bla

bla, é tudo reunião que não dá em nada (Paula, Morro da Carioca,

suscetibilidade média a deslizamento translacional).

Na verdade, eu sei o da usina, esse pra deslizamento eu não ouvi...

Eu sei que, um tempo depois, a Defesa Civil aqui gritando pra sair

das casas, foi uma coisa muito grotesca! Eu não saí, nós ligamos pra

lá e aí eles falaram que não, que tava até tendo deslizamento no

Morro do Abel, mas tinha um carro da Defesa Civil. Mas nunca vi

funcionando na comunidade (Larissa, Morro da Carioca,

suscetibilidade média a deslizamento translacional).

A gente pensaria bastante antes de sair... Eu pensaria porque só de

pensar em deixar nossas coisas que nós construímos pra chuva levar

tudo... Igual a gente vê gente perdendo tudo e é muito sofrimento

(Matilde, Morro do Santo Antônio, suscetibilidade média a

deslizamento translacional).

Vieram informar que a sirene tocaria. Já ouvi umas 4 vezes, é uma

coisa bem fraca, se tiver muito barulho não tem como ouvir, eu acho

um pouco fraco (Ana, Morro do Abel, suscetibilidade média a

deslizamento translacional).

h) Influência do período de chuva na percepção

Os deslizamentos são esquecidos durante os períodos não chuvosos. Esse caráter

eventual no qual ele acontece diminui a percepção dos riscos e aumenta o

desinteresse pelas atividades de redução dos riscos. Logo, é importante que

atividades socioeducativas sejam intensificadas nesse período. Os relatos que se

seguem tratam bem essa questão.

Não, eu penso só quando dá uma chuvarada. Quando o tempo tá

bom, tranquilo. Quando chove também tá tranquilo (Maristela, Morro

da Carioca, suscetibilidade média a deslizamento translacional).

São tantas coisas pra cuidar... Deslizamentos eles só cuidam quando

acontece. Têm outras coisas, deslizamentos não acontecem sempre.

O que todo mundo reclama hoje em dia é a violência e a saúde

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(Patrícia, Morro do Santo Antônio, suscetibilidade média a fluxo

detrítico).

Eu penso nisso só quando chove, o restante normal (Ana, Morro do

Abel, suscetibilidade média a deslizamento translacional).

Vou falar a verdade pra você, quando chove muito, a gente fica meio

traumatizado, não sai da nossa cabeça o que aconteceu, porque você

perde vida, você perde amigos (Marcos Vilage, Morro do Abel,

suscetibilidade média a deslizamento translacional).

Agora deslizamento não afeta, mas na época deixou a gente muito

assustado, isso aqui ficou cheio de barro... Agora não, porque a gente

vai se acostumando, e disseram que vão fazer obra aqui em cima, aí

a gente fica mais tranquilo, é uma coisa muita chata. Mas agora a

gente não pensa mais muito (Tatiana, Morro do Santo Antônio,

suscetibilidade alta a deslizamento rotacional).

Não, nem penso em deslizamentos. Ou não é sempre na chuva, mas

muita chuva a gente ainda fica pensando que pode acontecer algo

(Angelica, Morro da Carioca, suscetibilidade média a fluxo detrítico).

Aaah, quando chove, quando chove muito forte aqui e a gente vê o

tanto de água que desce aqui, você não passa aqui no caminho... É

muita água que vem, porque aqui pra cima tem uma cachoeira. Então

é muita água, mas mais no meu tio ali, no lado de lá... (Catarina,

Morro do Santo Antônio, suscetibilidade média a deslizamento

translacional).

Afeta na medida em que a gente está vivendo. Como a gente está

sem chuva, a gente acaba meio que esquecendo... igual essa chuva

que a gente teve, rachou ali a casa do Capitão, quer dizer, aí a gente

lembrou que a gente tem um problema que tem que ser resolvido. É,

a gente pensa mais quando chove (Larissa, Morro da Carioca,

suscetibilidade média a deslizamento translacional).

Não...Agora parou, porque arrumaram (fizeram obras), agora não cai

mais... Já fizeram um levantamento... Ah sim, eu penso em chuva, eu

penso... Me preocupo quando chove muito, porque o nível da água é

muito grande, mas não cai mais nada aqui! [...] Depois que

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arrumaram nunca mais aconteceu deslizamento de terra e também

aqui não está tendo aquela chuva forte (Juca Bentão, Morro do Santo

Antônio, suscetibilidade baixa).

i) Medo e trauma da chuva

Agora é o muro, é o deslizamento... Com isso, eu fiquei com

problema de doença. Poooxaaa... Meu Deus do céu! Quando chove

aí é uma lamaiada que desce... Só aqui ó, fica de barro vermelho!

Não sei por quê! Porque, antigamente, não era assim! Não sei o que

fizeram lá em cima que a água vem... E essa é a dificuldade, mete

medo na gente... Quando chove, não era assim... Quando chove é

que eu fico com mais medo desse muro! E todo mundo aqui... O

medo aqui... A minha neta... Depois desse muro aí, ela ficou com

trauma! É só chover... ‘’Avó! Não quero ficar!’’ Tem 18 anos. Aí, eu

tenho um filho ali na rua de baixo, que diz: mãe vem pra cá, dormir

aqui. Aí, eu digo: eu consigo dormir, mas ela não consegue. Ficou

com trauma até hoje, mais de 2 anos e tá assim... Esses dias ela foi

ao médico, não dormiu de noite, saiu da cama dela e veio dormir

comigo, de medo (Anita, Morro da Carioca, suscetibilidade muito alta

a deslizamento rotacional).

Afetou muito, porque igual quando chove, aí ninguém dorme, aí eu

tenho que cuidar dela... Caso continuar chovendo e acontecer alguma

coisa eu tenho que sair de casa correndo com criança. É igual

quando chove e a gente liga pra Defesa Civil... Eles dizem: ‘Ah, fica

acordada’, mas eu tenho uma filha pequena, no outro dia eu vou ficar

acordada com ela? Cansa bastante (Katiana, Morro da Carioca,

suscetibilidade baixa a deslizamento translacional).

No começo foi difícil. Essa minha filha aí, que tem 20 anos, ela ficou 3

meses sem dormir. Ela passava noites em claro. Ela arrumava

mochila e ficava pronta pra sair... Ela que ficou a mais apavorada,

apesar que nós nem estávamos aqui no dia, mas ela ficou apavorada

(Sônia, Morro da Carioca, suscetibilidade média a deslizamento

translacional).

Não só pra mim, mas pra todo mundo... Essa moça, por exemplo, que

morava aqui, foi até embora com medo, não quer voltar pra cá de

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jeito nenhum! Ela e as filhas estão traumatizadas, eu penso! (Arlinda,

Morro da Carioca, suscetibilidade baixa).

Essas falas representam o medo e o trauma da chuva de algumas pessoas que

tiveram contato mais forte com o desastre, consequências psicológicas também

identificadas por Mendonça e Pinheiro (2013).

j) Noção superficial e limitada das ações antrópicas que levam ao

deslizamento de terra

Os moradores, em geral, possuem uma noção superficial e bastante limitada sobre a

gravidade das ações antrópicas prejudiciais às encostas. Falar com espontaneidade e

sem mais perguntas do entrevistador sobre isso lhes pareceu algo difícil e, quando

citadas, na maioria dos casos, as consequências dessas ações foram marcadas por

muita incerteza. Os trechos a seguir procuram evidenciar diferentes entendimentos

acerca das ações antrópicas.

Destruição de matas... Aaaah não sei... Não tenho palavras não...

Esgoto a terra fica encharcada, né... Não sei, não sei (Viviane, Morro

de Abel, suscetibilidade média a deslizamento translacional).

Plantar árvores, as árvores seguram. Precisa de muro de contenção,

pode ver na Carioca começaram a fazer o muro lá e parece que tá

parado. E o povo ajudar,né.. Não jogar os entulhos nas encostas e

ajudar,né... Sempre passar aqui o caminhão do lixo... O esgoto ao ar

livre, vai infiltrando na terra e a terra fica fofa e vai embora (Marcos

Vilage, Morro do Abel, suscetibilidade média a deslizamento

translacional).

Fazia moradia em locais impróprios, porque daí arranca a árvore de

locais que ela já tá enraizada, quando arranca cai tudo... Acredito que

só isso mesmo. O lixo, dependendo de onde ele é jogado, até

entulhos mesmo se não tiver local, eles jogam na encosta e com o

peso... Acredito assim. A água e o esgoto nas encostas, acredito que

sim.. A terra vai drenando a água, como se fosse a chuva, e com um

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tempo vai desbarrancando. (Angelica, Morro do Santo Antônio,

suscetibilidade média a fluxo detrítico).

As pessoas tinham que manter limpo, valão principalmente, a gente

vê que as pessoas jogam saco de lixo. Cada um deveria fazer sua

parte, cuidar da nossa comunidade, mas ninguém se preocupa. Se

um fala... Construíram uma casa ali, deixaram até entulho de pedra,

deixaram até caixa d’água no caminho, na subidinha ali, se a gente

for falar a gente é ruim... É difícil, é complicado. (Catarina, Morro do

Santo Antônio, suscetibilidade média a deslizamento translacional).

Nós somos os fatores principais também do deslizamento, porque

desmatamos, fazemos cavidade pra poder construir. Devido a falta de

você ter condições melhores pra comprar em outro lugar, às vezes

você quer um lugar mais próximo da cidade pra poder trabalhar...

Igual aqui, você desceu, você está na cidade, a facilidade leva a isso

também e a culpa do homem é essa... Se o poder público for mais

atuante. (Pedro, Morro do Santo Antônio, suscetibilidade muito alta a

deslizamento translacional).

O homem não respeita a natureza, não adianta, que não respeita...

Você acha que pra ele fazer aquela casa lá, ele teve que tirar quantas

árvores? Quantas árvores não segura aquele pedaço lá, por isso que

a casa dele tá interditada, porque conforme ele tirou as árvores, não

tem mais raiz pra sustentar, porque a gente sabe que a raiz vai

enraizando e sustentando. Escavação logicamente que pode causar,

o lixo, porque quem jogou o lixo é o homem. Olha, esses dias, eu

tava com uma amiga quase irmã e nós estamos chupando um picolé,

o meu picolé terminou e eu continuei segurando o papelzinho porque

eu fui educada dessa maneira e assim eu passo pros meus filhos..

Ela terminou de chupar, com a lixeira do lado, o que ela fez? Pá...

Jogou no chão! Eu disse, Luzia... Não faz isso, porque esse palito aí

pode causar o deslizamento de terra, enchente, matar uma pessoa.

Ela disse, agora você vai querer dizer que o meu palito destruiu o

mundo? Por causa de gente que pensa como você, pode! Porque

vem outro e joga...Outro e joga... 3 palitos na boca de um bueiro,

encheu.. abala a estrutura de tudo... de tudo... Água e esgoto

também, se não tiver um saneamento básico pode prejudicar (Sônia,

Morro da Carioca, suscetibilidade média a deslizamento

translacional).

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O problema do deslizamento de terra vem afetar todo o meio

ambiente, né? Esses cortes de árvores excessivos, construção em

locais de risco... Qualquer local que o pessoal constrói que é proibida

a construção, e o pessoal vai, devido a necessidade, vai construindo

um pertinho do outro e cai tudo direto de uma vez...então, quer

dizer... É um risco (Francisco, Morro da Carioca, suscetibilidade alta a

rastejo).

k) Desconsideração da suscetibilidade do entorno da área de moradia.

Observou-se, em algumas falas, que o morador, ao abordar a suscetibilidade a

deslizamentos da área onde mora, se limita às condições de seu terreno, minimizando

a importância da região no entorno, a montante e a jusante. Quando isso acontece, o

morador tem a ilusão de que está protegido. Portanto, é necessário explicar e divulgar

o mapa de suscetibilidade a deslizamentos para os moradores.

As seguintes falas contribuem para esta constatação:

Afeta em nada não... Preocupa em termos, aqui minha área aqui é

bem firme, eu construí bem construído, uma boa fundação. Não sei

ali em cima, se cai uma barreira lá de cima pode me pegar... mas

nunca fui afetado (Sérgio Mirael, Morro do Santo Antônio,

suscetibilidade média a deslizamento translacional).

Nós aqui, nós não temos mais problema com esse negócio, porque o

muro parou ali. A casa do meu cunhado é segura e essa aqui

também é segura. [...] Essa casa aqui sustenta a lá de cima, é um

muro de pedra que nós temos aqui de fora a fora. Então, como vai

mexer com uma coisa que não tem problema? (Rogério, Morro da

Carioca, suscetibilidade média a deslizamento translacional).

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l) O desconhecimento sobre as incertezas na suscetibilidade a

deslizamentos

Alguns moradores têm a ideia de que se a casa foi interditada e se a casa não

desabou, ela não deveria ter sido interditada, conforme as falas a seguir. Sendo assim,

é preciso orientá-los que existem incertezas, que vão depender do tipo de chuva.

Então, não está nos afetando em nada. Eles falaram deslizamento,

mas o que tinha de descer já desceu. Tiraram muita gente daqui de

cima, essas casas aí em cima estão todas desocupadas e sem haver

necessidade, o que formou pra gente aqui foi um ponto de drogas,

porque a pessoa sobe aqui e ocupa essas casas vazias. Eu acho

errado ter desocupado essas casas aqui, não tinha necessidade, se o

muro parou ali e eu tenho impressão que ele não vai voltar pra cá,

então pra que tirar as pessoas? Às vezes eu acordo de manhã cedo

aqui, o que ocorre aqui é ponto de droga. Eles condenaram tudo.

Igual a casa do seu Manel ali, não havia necessidade. Eles queriam

mexer comigo aqui e com meu cunhado aqui. Tenho quase

absolutamente certeza que eles estão errados (Rogério, Morro da

Carioca, suscetibilidade média a deslizamento translacional).

Olha, eu acho que não entendem não, porque eles já interditaram um

monte de casa ali e o pessoal das casas já voltou. Porque eles

falaram que estavam em risco, se tivesse em risco ia cair né? Não

caiu e as pessoas já voltaram, não caiu. Não confio na Defesa Civil.

Por que eu não acredito no que eles falam, porque derrubaram um

monte de casas que não precisava derrubar (Caio Otávio, Morro da

Carioca, suscetibilidade alta a rastejo).

Tem muito lugar que foi construído inapropriadamente, só que esse

deslizamento já foi e não tem mais gente morando, foram derrubadas

as casas e inclusive tem casa que não desmontou, não caiu nada

mesmo depois de muita chuva (Manuel Carlos, Morro da Carioca,

suscetibilidade média a deslizamento translacional).

Conheci, quebraram as casas, tá cheio de mato e eles até choram.

Eu acho que eles se afobaram muito de ter assinado, tudo casa boa,

tá aí ó... Não aconteceu nada! A Defesa Civil entende né. Tem

estudo, já estudaram pra isso. O pessoal aí saiu de medo, porque

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eles ficaram falando isso e aquilo. AÍ, depois que o rapaz assinou, ele

sempre vem aqui em casa, aí ele fala: ‘Aaah me arrependi muito,

depois que eu assinei, porque tá aí ó, não aconteceu nada.’ Eu acho

que erraram e ele também. Eles estão morando lá na Glória, num

cubículo lá (Maristela, Morro da Carioca, suscetibilidade média a

deslizamento translacional).

Esse item é carregado de subjetividade por lidar com a análise de ideologias e

comportamentos, porém ele é essencial e complementar ao item 6.1, porque ele

aprofunda a análise ao trazer à tona, dentro do contexto das comunidades estudadas,

a reflexão sobre os anseios expostos pelos moradores durante a atividade de

levantamento da percepção de risco.

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6.3. Propostas de assuntos a serem abordados em

campanhas socioeducativas

O estudo da percepção de risco de uma comunidade pode ser o norteador para a

melhoria de campanhas socioeducativas. É interessante que, após esse trabalho de

percepção de risco, um trabalho educativo seja elaborado junto às comunidades.

Esse item menciona algumas propostas que poderiam compor atividades

educacionais:

a) Usar casos que aconteceram com os moradores da própria comunidade para

reforçar quais são os fatores contribuintes para o deslizamento de terra.

b) Explicar e exemplificar o termo risco.

c) Orientar sobre a suscetibilidade do entorno e não só da área onde sua casa foi

construída.

d) Orientar sobre as ações necessárias para a redução dos riscos. Ampliar a

noção sobre as obras de estabilização e as ações antrópicas.

e) Explicar que uma boa fundação não garante que o deslizamento não vai afetar

a casa do morador.

f) Explicar que se o alarme tocar e não houver desastres, não quer dizer que o

sistema é falho.

g) Orientar sobre as incertezas na hora da interdição das casas, deve-se

comunicar que se trabalha com incertezas.

h) Comunicar e explicar sobre as intervenções feitas na comunidade.

i) Enviar, via celular, vídeos educativos curtos sobre como se prevenir do perigo

dos deslizamentos.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar dos recursos disponíveis para prevenção de desastres e do conhecimento

técnico sobre suscetibilidade e ações estruturais mitigadoras do risco associado a

deslizamentos, na prática a organização entre os moradores e instituições a fim de

reduzir os problemas tem se mostrado, até o momento, insuficiente. Observa-se o

descaso frente a esse problema, dada a luta constante pelo acesso ao direito à

moradia e a quantidade exorbitante de pessoas morando em áreas impróprias à

ocupação em todo Brasil.

Nesse contexto, as pesquisas, atividades de extensão e discussões sobre redução de

risco de desastres, passíveis de interpretações diversas entre as diferentes vertentes,

devem se tornar mais expressivas dentro das universidades em diversas áreas do

conhecimento, posto que o tema é interdisciplinar. Falta diálogo entre as pessoas

dessas áreas, entre esses e os órgãos públicos gerenciadores de desastres e,

principalmente, com a comunidade.

Ações bem planejadas para redução do risco associado a deslizamentos envolvendo

intervenções estruturais e não estruturais devem contar com o prévio conhecimento

dos moradores sobre a percepção de risco, que foi o objetivo deste trabalho, focando

em três comunidades de Angra dos Reis.

A seguir são apresentadas as principais conclusões desse levantamento de percepção

de risco que podem contribuir para tornar mais eficientes as ações para a redução dos

riscos nas referidas comunidades.

Observa-se que os moradores fazem uma hierarquização e relativização dos

incômodos e seus respectivos riscos. A importância dada aos deslizamentos divide-se

com a dada à outros incômodos presentes na localidade. 26,5% dos moradores

consideram a violência e as drogas como o problema mais importante do bairro, mas

os deslizamentos também possuem uma importância relativa significativa de 23,5%.

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Em relação aos problemas pessoais da vida do morador e de sua família, a

relativização do problema acontece, principalmente, em áreas de alto e muito alto

risco.

As percepções de risco dos moradores se distanciam das percepções de risco dos

técnicos, sendo essa distância tão maior quanto maior for o grau de risco em que se

encontra o morador. Os moradores apresentam familiaridade com o tema dos

deslizamentos, segundo as seguintes constatações: 97,1% dos moradores dizem que

sabem o que é uma área de risco; 91, 2% dos moradores já foram afetados ou

conhecem alguém que foi afetado por algum desastre, sendo que esse percentual

cresce com o aumento do grau de risco; 79,4% dos moradores admitem existir risco

de deslizamentos na comunidade, no entanto, de uma forma geral, eles não

consideram que moram em área de risco; 61,8% dos moradores dizem que o

deslizamento de terra ameaça a sua vida ou qualidade de vida de alguma maneira,

sendo esse percentual menor nas áreas de risco alto e muito alto (50%), percentual

não esperado, mas justificado pela influência do comportamento dos moradores do

Morro da Carioca em áreas de risco alto e muito alto. 75,0% dos moradores dessas

áreas dizem que os deslizamentos não ameaçam o seu bem estar e 100% não

consideram os deslizamentos como um incômodo no bairro.

De uma forma geral, os moradores declaram que os deslizamentos podem causar

problemas sérios, trazendo risco a vida, tanto pela morte de pessoas como pela

degradação da qualidade de vida de quem consegue sobreviver ao desastre. A

comunidade está propensa a discutir o problema, mostrando com suas falas que não

negligenciam a suscetibilidade a deslizamentos da área em que vivem. Mesmo com

essa consciência e a vontade de que os problemas ocasionados pelos desastres se

resolvam, os moradores tentam esquecer que estão sujeitos ao problema ou atribuem

o problema não a eles próprios, mas ao vizinho ou ao governo, uma vez que eles não

se sentem capazes de resolvê-lo. Alegam que enfrentariam inúmeras dificuldades para

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garantir uma vida digna se saíssem de suas moradias, já que o governo não fornece

assistência compatível com as perdas ocasionadas após o desastre.

A impotência sentida pelos moradores, ao se verem diante da ausência de alternativas

para se proteger, impede o engajamento em atividades de redução dos riscos. 76,5%

dos moradores não se acham capazes de fazer algo que contribua para evitar os

deslizamentos, sendo que o percentual desses aumenta com o grau de risco do local

onde moram.

A desarticulação entre os moradores e os agentes públicos locais favorece essa

impotência. Os órgãos públicos ainda possuem muitas dificuldades para organizar

atividades de prevenção que envolvam a comunidade, por isso os moradores não têm

noções suficientes sobre a gravidade das ações antrópicas instabilizadoras das

encostas (52% dos moradores tem dificuldades em identificar essas ações), não

sabem como contribuir na sua vida diária para reduzir a susceptibilidade aos

deslizamentos, fazendo com que, quando o perigo dos deslizamentos existe, não

estejam preparados para enfrentá-lo. É importante instruí-los sobre a adoção de ações

simples para a redução do risco, como saber fazer um sistema de drenagem local,

garantir a limpeza dos canais de drenagem, não retirar coberturas vegetais do solo e

realizar o reflorestamento em encostas etc.

Outro fator que contribui para os moradores não se sentirem capazes de transformar

positivamente o meio em que vivem é que a maioria dos moradores (67,6%) considera

que somente as obras de engenharia resolveriam o problema dos desastres, também

em função de não possuírem conhecimento adequado sobre ações para a redução

desse problema.

Os moradores atribuem ao governo toda responsabilidade sobre as consequências

dos desastres porque se sentem abandonados pelos governos, afastados da Defesa

Civil e, principalmente, porque para eles as ações para a redução de risco se limitam a

obras de engenharia cuja execução só seria viável com o financiamento do governo.

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Quanto ao sistema de alarme, quase a totalidade dos moradores (82,4%) não confiam

e têm pouca compreensão sobre o funcionamento do mesmo e uma grande parcela

diz que não sairiam de suas casas se o sistema fosse acionado (26,5%) ou não sabe

se sairiam (20,6%).

Além da dificuldade de comunicação com a Defesa Civil, a ligação afetiva e social

entre os moradores e o seu local de moradia e as oportunidades oferecidas pelo

mesmo, principalmente para os moradores das áreas de risco médio, alto e muito alto,

podem contribuir para esta postura quanto ao sistema de alerta.

Evidencia-se que um trabalho educacional que mostre aos moradores como eles

podem contribuir significativamente para a redução dos riscos, minimizando e/ou

revertendo as ações antrópicas nocivas a estabilidade das encostas e participando

efetivamente na gestão dos riscos, incentivaria o seu engajamento em atividades de

prevenção. Para tal, as ações educativas devem, portanto, ter como foco a promoção

do empoderamento da população, a formação de um canal de comunicação entre os

órgãos governamentais e a população e a integração desta nas suas ações de

redução dos desastres.

Adverte- se que essa análise deve ser encarada de forma provisória e aproximativa,

uma vez que em pesquisa científica as afirmações podem superar conclusões prévias

a elas e podem ser superadas por outras afirmações futuras (Minayo, 1992 apud

Minayo et al., 2012).

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Banco Mundial, 2012 “Avaliação de perdas e danos – Inundações e deslizamentos na

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Brasil, 2013 Atlas Brasileiro de Desastres Naturais 1991 a 2012. Volume Brasil, 2

edição revisada e ampliada, Florianópolis CEPED UFSC.~

Becker, L. de B., 2011 Notas de Aula da Disciplina de Estabilidade de Taludes e

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Berry, P.M.; Rounsevell, M.D.A.; Harrison, P.A. & Audsley, E., 2006 “Assessing the

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ANEXO I – DADOS POPULACIONAIS E DE SANEAMENTO DOS BAIRROS DO MORRO DO

ABEL, MORRO DA CARIOCA E MORRO DO SANTO ANTÔNIO, ANGRA DOS REIS / RJ

Figura 61 - População residente,total, urbana total e urbana na sede municipal, em números absolutos e relativos, com indicação da área total e densidade demográfica, segundo o Brasil e os municípios de Angra dos Reis e do Rio de Janeiro (IBGE, Censo Demográfico, 2010 – relatório Sinopse do Censo Demográfico 2010, 2011).

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Figura 62 – Domicílios particulares permanentes, moradores em domicílios particulares permanentes e média de moradores em domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio, segundo o bairro Morro da Carioca, Angra dos Reis/RJ.

Figura 63 - Domicílios particulares permanentes, moradores em domicílios particulares permanentes e média de moradores em domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio, segundo o bairro Morro do Abel, Angra dos Reis/RJ.

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Figura 64 - Domicílios particulares permanentes, moradores em domicílios particulares permanentes e média de moradores em domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio, segundo o bairro Morro do Santo Antônio, Angra dos Reis/RJ.

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Figura 65 – Domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio e existência de banheiro ou sanitário e número de banheiros de uso exclusivo do domicílio, segundo o tipo de domicílio, a forma de abastecimento de água, o destino do lixo e a existência de energia elétrica no bairro Morro da Carioca, Angra dos Reis/RJ.

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Figura 66 – Domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio e existência de banheiro ou sanitário e número de banheiros de uso exclusivo do domicílio, segundo o tipo de domicílio, a forma de abastecimento de água, o destino do lixo e a existência de energia elétrica no bairro Morro do Abel, Angra dos Reis/RJ.

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Figura 67 – Domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio e existência de banheiro ou sanitário e número de banheiros de uso exclusivo do domicílio, segundo o tipo de domicílio, a forma de abastecimento de água, o destino do lixo e a existência de energia elétrica no bairro Morro do Santo Antônio, Angra dos Reis/RJ.

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Figura 68 – Domicílios particulares permanentes e moradores em domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio, segundo a forma de abastecimento de água, o destino do lixo e a existência de energia elétrica no bairro Morro da Carioca, Angra dos Reis/RJ.

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Figura 69 – Domicílios particulares permanentes e moradores em domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio, segundo a forma de abastecimento de água, o destino do lixo e a existência de energia elétrica no bairro Morro do Abel, Angra dos Reis/RJ.

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Figura 70 – Domicílios particulares permanentes e moradores em domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio, segundo a forma de abastecimento de água, o destino do lixo e a existência de energia elétrica no bairro Morro do Santo Antônio, Angra dos Reis/RJ.

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Figura 71 – Domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio e existência de banheiro de banheiro ou sanitário e número de banheiros de uso exclusivo do domicílio, segundo o tipo do domicílio, a condição de ocupação e o tipo de esgotamento sanitário no bairro Morro da Carioca, Angra dos Reis/RJ.

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Figura 72 – Domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio e existência de banheiro ou sanitário e número de banheiros de uso exclusivo do domicílio, segundo o tipo do domicílio, a condição de ocupação e o tipo de esgotamento sanitário no bairro Morro do Abel, Angra dos Reis/RJ.

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Figura 73 – Domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio e existência de banheiro de banheiro ou sanitário e número de

banheiros de uso exclusivo do domicílio, segundo o tipo do domicílio, a condição de ocupação e o tipo de esgotamento sanitário no bairro

Morro do Abel, Angra dos Reis/RJ.

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Figura 74 – Domicílios particulares permanentes e moradores em domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio, segundo o tipo de domicílio, a condição de ocupação,a existência de banheiro ou sanitário e esgotamento sanitário e a existência e número de banheiros de uso exclusivo do domicílio no bairro Morro da Carioca, Angra dos Reis/RJ.

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Figura 75 – Domicílios particulares permanentes e moradores em domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio, segundo o tipo de domicílio, a condição de ocupação,a existência de banheiro ou sanitário e esgotamento sanitário e a existência e número de banheiros de uso exclusivo do domicílio no bairro Morro do Santo Antônio, Angra dos Reis/RJ.

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ANEXO II – ROTEIRO DE ENTREVISTAS PARA

LEVANTAMENTO DE PERCEPÇÃO DE RISCO.

Tabela 55 – Roteiro de entrevistas para levantamento de percepção de risco.

Roteiro de entrevistas para percepção de risco

N0 do questionário: Data entrevista: ____/____/____ Entrevistador:

Nome do entrevistado: Endereço:

Tempo em que mora no local:

Grau de suscetibilidade e tipo de movimento de massa associado (vide mapa):

Idade: Sexo: Ocupação:

Quantas pessoas moram na casa: Escolaridade: *Renda familiar: (até 500, 1000, 3000, 5000 etc)

Q.1 Porque você resolveu morar

aqui?

Q.2

O que você mais gosta daqui?

Escreva todas as coisas q a pessoa falar.

Q.3 O que mais te incomoda aqui?

Q.4

Qual é o principal

problema (ou perigo) que afeta sua vida e de

sua família? (sentido geral) OU Qual é o problema (ou o

perigo?) que mais preocupa você na sua vida? (sentido

geral)

Q.5

Você gosta da chuva? Quando começa a chover você pensa em quê?

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192

Q.6

Você sabe o que é um deslizamento de

terra?

Descrição:

Se ela não souber, fale muito SUPERFICIALMENTE E RAPIDAMENTE o que é e continue o questionário.

Q.7

O que você acha do problema de deslizamento de terra?

Q.8

O quanto o deslizamento de terra ameaça a sua vida / qualidade de vida ou bem estar? Com que freqüência você

pensa nisso ao longo do ano?

Q.9

Você já foi afetado ou conhece alguém

próximo que foi afetado por algum desastre provocado por deslizamento?

Q.10

Você já ouviu falar em “área de risco”? Sabe o

que é?

Se ela não souber, fale muito SUPERFICIALMENTE E RAPIDAMENTE o que é e continue o questionário. Aqui área de risco é área de elevada suscetibilidade a deslizamentos.

Q.11

Você acha que sua casa está em área de risco, ou seja,

ela pode ser atingida por deslizamento? Qual o grau de risco? Por que?

(Anote o nível de risco que você percebeu que foi dito) [ ] baixo (se a resposta for não) [ ] médio [

] alto [ ] muito alto

Q.12

E na comunidade?

Você sabe se na comunidade há

risco de deslizamentos?

Q.13

Que medidas você

acha que poderiam ser tomadas para evitar os deslizamentos?

Q.14 Você se sente

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capaz ou você acha que você pode fazer algo para evitar ser

atingido por um deslizamento?

Q.15

O que você acha que o homem faz que possa causar o deslizamento de terra? (deixe a

pessoa falar livremente).

Coloque em ordem de prioridade.

Q.16

Coloque em ordem de importância,

entre os itens ao lado, o que você acha que o homem faz que possa causar o deslizamento de terra.

[ ] lixo e entulho jogado na encosta

[ ] cortes muito inclinados para construção da casas

[ ] água e esgoto jogados sem qualquer cuidado no terreno

[ ] derrubada de árvores

( o 1 é o de maior prioridade)

Q.17

Você sabe para onde vai o esgoto e a água do banho e da pia de sua casa?

Q.18

Onde você joga o lixo e entulho da sua casa?

(Se a pessoa disser que joga no terreno, informar porque.)

Q.19

Você acha que você

precisa de alguma orientação da Defesa Civil ou de outros técnicos

para saber melhor sobre deslizamentos?

Q.20

Quem deve definir

se uma área é realmente uma área de risco?

Q.21

Se a Defesa Civil informar que sua casa está em área de risco, que atitude você tomaria? Por quê?

Q.22

Você acha que a Defesa Civil ou os técnicos da

prefeitura entendem sobre o risco de deslizamentos que

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194

você está passando?

Q.23

Você confia na

Defesa Civil ou nos técnicos da prefeitura? Por que?

Q.24

Está chovendo forte, sua casa está em área de risco, o que você faz? Por que?

Q.25 Quem deveria ser o responsável pelos prejuízos

provocados por deslizamentos de terra?

Q.26

Você sabe o que é um sistema de alarme (ou alerta)

para deslizamento? Existe aqui na comunidade?

Se não souber você explica rapidamente.

Q.27

Você sairia de sua casa se tocasse um alarme da Defesa Civil para saírem

rapidamente de suas casas na hora da chuva forte? Por que?

Q.28

Você tem pretensão de se mudar? Por que?

Q.29

Que tipo de risco

você diria que é o maior de sua vida?

Q.30

Você acha que o governo deveria cuidar de outras coisas antes de

cuidar do problema de deslizamentos? Quais? (livremente) (Se ela

não falar nada, diga: Ou esse é o primeiro problema

que ele deve cuidar?)

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ANEXO III – DADOS DO MAPA DE SUSCETIBILIDADE

ACRESCIDO DA LOCALIZAÇÃO DOS PONTOS

REFERENTES AS ENTREVISTAS REALIZADAS

DURANTE O LEVANTAMENTO DE PERCEPÇÃO DE

RISCO DOS MORADORES.

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9 8

76

543

2

1

34

33

32

31

30

29

28

27 26

25

2423

2221

20

19

18

17

16

1514

12

11

10

568800,000000

568800,000000

569000,000000

569000,000000

569200,000000

569200,000000

569400,000000

569400,000000

569600,000000

569600,000000

569800,000000

569800,000000

570000,000000

570000,000000

7454800,

0000

00

7454800,

0000

00

7455000,

0000

00

7455000,

0000

00

7455200,

0000

00

7455200,

0000

00

7455400,

0000

00

7455400,

0000

00

7455600,

0000

00

7455600,

0000

00

LegendaDrenagemViasBairrosEntrevistas

SuscetibilidadeClasses:

Queda de Blocos - Muito AltaQueda de Blocos - AltaQueda de Blocos - MédiaDeslizamento Translacional - Muito AltaDeslizamento Translacional - AltaDeslizamento Translacional - MédiaDeslizamento Rotacional - Muito AltaDeslizamento Rotacional - AltaFluxo Detrítico - Muito AltaFluxo Detrítico - AltaFluxo Detrítico - MédiaRastejo - Muito AltaRastejo - MédiaRastejo - AltaBaixa

Morro da Carioca

Morro do Abel

Morro do Santo Antônio

±0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,50,05

KmProjeção: UTM - Fuso 23 SulDatum Horizontal: WGS 84