pequeníssimo estudo do chão
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pequeníssimo estudo do chão
por Carina Carvalho
microscópio
fosse da estrada ou poeira de sonho
grudava, ela, na pele do braço
nos pelos também eles bronzeados
a fazer a constelação de traçado novo.
de abraço aberto com diminutivo no trato
e o olhar amarelo desse sol
que estoura cabeças desavisadas
um menino aponta o caminho pelo cercado
pelas barraquinhas
o cais, o boteco, a orla
e a pedrinha
(a miudinha).
– você tá falando com sotaque.
marguerita
e se a força do que trago dentro tem a cor vermelha
uma coisa assim viva
daquele tom que não se aplica às paredes em que me
encostam?
se o que ofereço se abre assim, na cor bruta vermelha
à disposição de outras carnes?
*isto foi enquanto jantávamos
talvez te pareça pecado miúdo...
um pecado recheado de manjericão e tomates
é claro que faço questão dos tomates.
um verso que não se queira piegas
vistas de cima
as luzes da cidade parecem uma outra coisa.
em quantos poemas já se falou delas?
ou
quantos deles podem te fazer sentir
um lume pequenino e ininterrupto
existindo no espaço‐tempo das terras desconhecidas,
admirado se visto por certo ângulo?
*aqui se fala da noite. da consistência de nuvens que
resistem à hora e vestem máscaras na lua. ou dos
minutos exatos em que cabe uma música cantada bem
baixinho enquanto o outro dorme.
acontece à tarde,
e como nas tardes é quente sempre
penso que as coisas antes de derretidas
fiquem mais evidentes.
solados duros, fivelas, grossas tiras
os poços profundos de que você me tira
em todas as danças e todos os passos
que causam dores, bolhas, cascos
e o ar um pouco preso perto da barriga.
o caso é que a poeira de encanto acompanha
em todos, todos os cantos por que vou andar
(e eu ando)
até que sob as solas se faça pele dura,
calango.
*
verde mar de cair pra trás
bandeirolas coloridas acima
ar morno de um lado a outro
isto posto,
vejo que esse chão será minha matéria bruta
sinto no tronco uma frase sobre caminhos
e o vento bota meu cabelo na rua.
* fotografia da capa e poemas de Carina Carvalho, por obra do que
uma visita muito breve a Recife pode causar à poesia –
junho/julho de 2014, São Paulo.
* [email protected] – desastresliricos.blogspot.com