Pensar de A a Z, · Web [email protected]. Agradecimentos ... Matheus Silva, Domingos...
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Pensar de A a Z,
Nigel Warburton
Lisboa: Bizâncio, Setembro de 2012, 240 pp. Tradução de Vítor Guerreiro
Revisão científica e introdução de Desidério Murcho
Prefácio à edição portuguesa
Desidério MurchoUniversidade Federal de Ouro Preto
“Pensamento crítico” e “lógica informal” são designações dadas ao
estudo dos vários aspectos que tornam um argumento ou raciocínio
adequado ou não (o que é diferente, como veremos, dos
aspectos psicológicos ou outros que fazem as pessoas aceitar ou não
um argumento ou raciocínio). Por razões que explico no prefácio à
edição portuguesa deUma Pequena História da Filosofia, de
Warburton (Edições 70, 2012), a lógica tem má-fama desde a revolta
dos modernos contra o ensino medieval. A consequência infeliz deste
estado de coisas é o desconhecimento hoje generalizado de aspectos
elementares da lógica, sem o domínio dos quais não é fácil ter uma
vida humana plenamente realizada. Todos raciocinamos e
argumentamos diariamente, mas quase todos desconhecemos os
princípios elementares que nos permitem fazê-lo melhor e distinguir os
raciocínios e argumentos adequados dos inadequados. É um pouco
como se todos tivéssemos de fazer cálculos aritméticos simples
diariamente — como certamente temos de fazer, pelo menos para
conferir o troco quando compramos algo — mas, apesar disso, quase
todos desconhecêssemos os princípios elementares da aritmética.
Este livro pode ajudar a melhorar este estado de coisas.
A importância do raciocínio
Argumentar é raciocinar, e raciocinar é inferir. Contudo, quem tem
apenas uma ideia vaga do que é argumentar, terá provavelmente
também apenas uma ideia vaga do que é raciocinar e inferir.
Uma boa maneira de compreender o que é raciocinar ou inferir —
os dois termos são sinónimos — é perguntarmo-nos como
conhecemos as coisas. Não é preciso reflectir muito para ver que
conhecemos as coisas de duas maneiras diferentes, pelo menos.
Primeiro, sabemos coisas como a cor do céu por meio dos sentidos —
neste caso, a visão. Os sentidos são, assim, uma das maneiras como
conhecemos as coisas.
Todavia, não podemos conhecer tudo o que podemos conhecer
recorrendo apenas aos sentidos. Recorrendo aos sentidos não
podemos saber qual é o resultado de somar quatro com três. Claro
que posso juntar quatro coisas com três e contá-las todas de seguida.
Porém, tudo o que eu poderia saber por esse processo seria que
naquele caso, ao juntá-las, obtive sete coisas; a experiência não pode
dizer-me que se juntar quaisquer quatro coisas com quaisquer três
coisas, em qualquer circunstância, obtenho sempre sete coisas.
Assim, o conhecimento aritmético ilustra bem a segunda maneira
como comummente temos conhecimento das coisas: pelo raciocínio.
Raciocinando, posso saber, sem precisar de as contar, que se juntar
quatro coisas com três, fico com sete. O raciocínio aritmético é tão
central nas ciências e no quotidiano que a sua existência e até
importância não precisa de defesa. Todavia, o raciocínio aritmético é
apenas um tipo muito restrito de raciocínio. O raciocínio não aritmético
é muitíssimo mais importante e está muitíssimo mais presente não só
na nossa vida diária, como também na nossa vida económica,
científica, tecnológica, artística, religiosa, política e pessoal. No
entanto, se exceptuarmos as pessoas que têm uma formação sólida
em filosofia, quase ninguém sabe o que é raciocinar — e ainda menos
como se raciocina bem.
A lógica é importante porque raciocinar é importante. Raciocinar é
importante porque sem raciocinar quase nada poderíamos saber. E
saber é importante porque não apenas a nossa sobrevivência, mas
também o nosso bem-estar e realização pessoal é impossível sem
saber várias coisas. Vejamos o que deixaríamos de saber se, de um
dia para o outro, perdêssemos a nossa capacidade para raciocinar.
Em primeiro lugar, ao sentir sede, eu não saberia o que fazer,
mesmo que me lembrasse que ontem a água me saciou. Sem
raciocinar não tenho como saber que a água provavelmente me
saciará hoje porque me saciou ontem em idênticas circunstâncias; não
tenho como saber o que fazer à minha sede.
Em segundo lugar, não saberia como me decidir com respeito às
muitas opções momentosas da minha vida, cruciais para a minha
realização pessoal. Pois tais decisões não são senão o fruto de
raciocínios que faço, com base na minha experiência do passado e
nas minhas preferências.
Em terceiro lugar, se o leitor está a imaginar que talvez se
pudesse substituir o raciocínio pelo conselho das outras pessoas, é
porque ainda não está a ver a centralidade do raciocínio. Pois imagine
o leitor que tem sede ou precisa de fazer uma opção momentosa e
alguém lhe diz o que é melhor fazer. Sem capacidade para raciocinar,
não poderá concluir que é verdadeiro, ou pelo menos plausível, o que
essa pessoa lhe diz: os chamados “argumentos de autoridade”, em
que aceitamos o que alguém conhecedor afirma, são raciocínios, e se
formos incapazes de raciocinar, seremos incapazes de concluir que a
água mata a sede mesmo que alguém que já o sabe no-lo diga.
Assim, parece razoável concluir que o raciocínio é importante, na
verdade, crucial. Porém, o que é raciocinar, exactamente?
O que é raciocinar?
Raciocinar é concluir ou inferir uma coisa de outra coisa (ou, na
verdade, da mesma, como veremos). As unidades cruciais do
raciocínio aritmético são os números: inferimos o número sete da
soma de quatro com três. Porém, as unidades cruciais do raciocínio
em geral são afirmações ou, sendo mais preciso, proposições.
Raciocinar é concluir uma proposição a partir de outra ou outras (ou
da mesma, como veremos). E isto é o que fazemos continuamente
sem reparar. É um pouco como usar verbos: usamo-los diariamente
sem reparar nisso, mas damos-lhe atenção quando aprendemos a ler
e a escrever. A lógica (informal e formal) é a gramática do raciocínio.
Uma proposição é a ideia, verdadeira ou falsa, expressa por uma
frase. Há frases diferentes, até de línguas diferentes, que exprimem a
mesma proposição. Por exemplo, as frases “Lisboa é uma cidade”, “É
uma cidade, Lisboa” e “Lisbon is a city” exprimem a mesma
proposição: que Lisboa é uma cidade. E, claro, esta proposição é
verdadeira. Muitas proposições são falsas, como a expressa pela
frase “Lisboa é um planeta”. E muitas frases não exprimem
proposições, porque não exprimem qualquer ideia verdadeira ou falsa;
é o caso das perguntas, das ordens ou da expressão de desejos.
Apesar de podermos alargar a lógica para lidar com perguntas e
ordens, tal como podemos alargar a matemática para lidar com figuras
num plano e não apenas com números, é uma boa ideia começar com
aqueles aspectos mais simples da lógica, que envolvem apenas
proposições.
Factos e valores
Ao contrário do que se possa pensar, a lógica simples, que lida
exclusivamente com proposições, tem aplicação directa no raciocínio
estético, ético e político. Infelizmente, muitas pessoas pensam
erradamente que há um abismo hiante entre factos e valores; pensam
que a lógica é muitíssimo redutora e algo irrelevante porque não pode
lidar com os nossos raciocínios estéticos, éticos e políticos, dado que
estes envolvem afirmações valorativas e estas não têm valor de
verdade, isto é, não são verdadeiras nem falsas (são como a mera
expressão de desejos, por exemplo).
O que há de curioso neste ponto de vista é a aceitação impensada
de que as afirmações valorativas não têm valor de verdade. Saber se
o têm ou não está longe de ser óbvio. Na verdade, o argumento mais
promissor a favor da ideia de que não o têm contradiz-se a si próprio:
é o argumento verificacionista.
O argumento verificacionista é que, exceptuando afirmações como
as da matemática, só as descrições de factos podem ser verdadeiras
ou falsas; dado que as afirmações valorativas não descrevem factos
nem são como as afirmações da matemática, não são verdadeiras
nem falsas. Ora, continua o argumento, uma vez que a lógica só se
aplica a proposições, que são ideias verdadeiras ou falsas, segue-se
que não se aplica ao raciocínio que envolve valores. Assim, é uma
boa ideia usar a lógica na ciência, que se ocupa de descrever factos,
mas é uma péssima ideia usá-la para raciocinar sobre questões
estéticas, éticas e políticas.
Basta um momento de reflexão para ver a incoerência do
argumento verificacionista. Este argumento depende de uma
afirmação crucial, que é a formulação do próprio princípio
verificacionista: exceptuando afirmações como as da matemática, só
as descrições de factos são verdadeiras ou falsas. O que há a
perguntar é se esta mesma afirmação é verdadeira ou falsa, uma vez
que é óbvio não se tratar de uma afirmação como as da matemática.
Se for falsa, acabou-se o argumento, pois um argumento baseado
numa falsidade não nos dá boas razões para aceitar a sua conclusão.
Portanto, é crucial que o princípio verificacionista seja verdadeiro. O
problema, porém, é que se for verdadeiro, não é verdadeiro. Pois, se o
for, o que não descreve factos não é verdadeiro nem falso; ora, o
próprio princípio verificacionista não descreve facto algum — é apenas
uma tese ou doutrina filosófica. Logo, a tese verificacionista, pelos
seus próprios critérios, não é verdadeira. Ora, se não é verdadeira,
qualquer argumento que dependa dela é inadequado. Em particular, o
argumento verificacionista a favor do hiato intransponível entre factos
e valores é inadequado.
Como o leitor irá aprender neste livro, mostrar que um dado
argumento a favor de uma ideia é inadequado não é mostrar que a
ideia em causa é falsa ou implausível. Isto porque uma pessoa pode
apresentar uma ideia verdadeira ou plausível, mas com base num
argumento inadequado. Assim, o que vimos até agora é que o
argumento central a favor do hiato entre factos e valores é
inadequado. Porém, não vimos que a ideia de que tal hiato existe é
falsa ou implausível.
Eis uma razão para pensar que essa ideia é falsa ou implausível:
nenhum problema surge quando raciocinamos sobre valores e
aplicamos a lógica elementar para analisar o que fizemos. Por
exemplo, uma pessoa pode raciocinar que devemos evitar provocar
sofrimento nos animais não humanos, porque, sempre que possível,
devemos evitar provocar sofrimento. Este raciocínio poderia ter o
seguinte aspecto, se nos dermos ao trabalho de o explicitar:
Se pudermos evitar provocar sofrimento sem provocar mais sofrimento, devemos fazê-lo. Podemos evitar provocar sofrimento nos animais não humanos sem provocar mais sofrimento. Logo, devemos evitar provocar sofrimento dos animais não humanos.
A lógica elementar permite-nos analisar este raciocínio e ver que é
correcto. Nada nos impede de o fazer. Assim, podemos concluir pelo
menos isto: não é óbvio que, havendo um hiato entre factos e valores,
este nos impeça de usar a lógica para analisar os nossos raciocínios
sobre valores. Assim, o ónus da prova cabe a quem defende que esse
hiato existe e exclui a aplicação da lógica ao nosso raciocínio sobre
valores. Essa pessoa terá de nos apresentar um raciocínio adequado
a favor da sua tese, e não pode ser o raciocínio verificacionista.
Raciocínios e argumentos
Muito bem, aceitemos que a lógica se aplica ao raciocínio sobre
valores. Porém, ainda não sabemos muito bem o que é raciocinar, e
ainda menos como podemos distinguir os raciocínios adequados dos
inadequados. Já sabemos, contudo, que os raciocínios são compostos
por proposições e já sabemos o que são proposições. Ora, raciocinar
é apresentar pelo menos duas proposições, visando concluir
adequadamente uma delas com base na outra. Como é óbvio,
chamamos “conclusão” à proposição que visamos concluir, e
“premissa” à proposição usada para chegar a ela. Um raciocínio pode
ter uma ou mais premissas, mas só pode ter uma conclusão. Ao
raciocinar, encadeamos muitas vezes vários raciocínios.
Quando visamos persuadir alguém com um raciocínio ou
encadeamento de raciocínios, estamos perante um argumento ou
encadeamento de argumentos (a que se chama “argumentação”).
Assim, um argumento é apenas um raciocínio usado para persuadir
alguém. E é aqui que começam os problemas.
Como é evidente, os seres humanos são falíveis. Entre outras
coisas, isto significa que se deixam persuadir por argumentos
inadequados, por pensarem erradamente que são adequados. Do
mesmo modo que há ilusões visuais (parece-nos ver o Carlos ao
longe, mas afinal era o Afonso) e ilusões relacionadas com a memória
(parece mesmo que nos lembramos de ter fechado a porta à chave,
mas afinal deixámo-la no trinco), também há ilusões lógicas: parece-
nos que um dado raciocínio ou argumento é adequado, mas afinal não
é. Algumas destas ilusões lógicas são de tal modo comuns que são
rotineiramente denunciadas em livros como este: são as falácias.
Uma falácia é um raciocínio inadequado que nos parece
adequado. Nem todos os raciocínios inadequados são falaciosos
porque nem todos os raciocínios inadequados parecem adequados.
Os raciocínios são falaciosos precisamente quando são inadequados
mas parecem adequados. É crucial compreender que uma falácia não
é apenas um raciocínio que parece adequado, pois muitos raciocínios
que parecem adequados são realmente adequados, felizmente.
Porque os seres humanos são falíveis, podemos argumentar de
duas maneiras e estudar também a argumentação de duas maneiras.
Por um lado, podemos argumentar visando exclusivamente a
persuasão, sem nos preocuparmos em saber se a pessoa persuadida
se enganou ou não; chama-se a isto “persuasão irracional” ou
“manipulação”. E podemos estudar a argumentação exclusivamente
sob este ponto de vista: trata-se de saber que argumentos são
psicologicamente eficazes, sem nos preocuparmos em saber se quem
foi persuadido se enganou ou não. Chama-se por vezes “retórica” à
manipulação argumentativa e ao estudo complacente dessa
manipulação, e é nesse sentido que o termo é usado neste livro.
Contudo, classicamente, a retórica não era exactamente isso; era, ao
invés, o estudo, e a aplicação, dos princípios que permitem tornar um
discurso argumentativo esteticamente mais apelativo, mais elegante,
mais bem escrito ou mais bem exposto. O perigo de um discurso
esteticamente apelativo é precisamente o facto de ser apelativo,
podendo o seu apelo ocultar erros de raciocínio.
Em qualquer caso, o fundamental é compreender algo que deveria
ser banal: que, além de nos enganarmos quando raciocinamos porque
somos falíveis, também nos enganamos quando avaliamos os
raciocínios ou argumentos que nos são apresentados. Do ponto de
vista da retórica, tal como é entendida neste livro, não há outro critério
para avaliar a qualidade do raciocínio ou da argumentação que não o
poder psicológico que tem para persuadir ou não alguém. Ora,
acontece que os raciocínios e argumentos falaciosos são
psicologicamente persuasivos, apesar de serem inadequados. Daí que
uma parte importante dos verbetes deste livro seja chamar a atenção
para estratégias retóricas de persuasão que são outras tantas
estratégias que visam enganar-nos.
Validade
Raciocinamos para descobrir verdades desconhecidas com base em
verdades conhecidas. Este é o aspecto ampliativo crucial do
raciocínio. Sem raciocinar, o nosso conhecimento limitar-se-ia ao aqui-
agora. Raciocinando, vamos muito além disso.
Porém, para que possamos descobrir verdades com base no
raciocínio, temos de raciocinar adequadamente. E para o fazer temos
de dominar três conceitos cruciais: validade, solidez e cogência.
Um raciocínio é válido quando é impossível, ou pelo menos
improvável, que as suas premissas sejam verdadeiras e a sua
conclusão falsa. A validade ocorre quando há esta relação curiosa
entre a premissa ou premissas de um raciocínio e a sua conclusão: se
as primeiras forem verdadeiras, a última será também verdadeira. Isto
vê-se bem com um exemplo simples: o raciocínio “A Joana e a Maria
estão na praia; logo, a Joana está na praia” é obviamente válido
porque não é possível que a Joana e a Maria estejam ambas na praia
sem que a Joana esteja na praia. Claro que este raciocínio é banal e
desinteressante, tal como 1 + 1 = 2 também o é, mas daí não se
segue que todos os raciocínios o sejam, tal como nem todos os
raciocínios aritméticos são banais e desinteressantes. Acontece
apenas que se queremos dar um exemplo óbvio de um raciocínio
válido, o melhor é dar um exemplo muito simples. Contudo, eis um
exemplo menos banal:
Se só tivesse direitos quem tem deveres, os bebés e as crianças muito pequenas não teriam direitos; todavia, é óbvio que os bebés e as crianças têm direitos, apesar de não terem deveres; logo, é falso que só tem direitos quem tem deveres.
Este raciocínio é válido porque é impossível que as suas premissas
sejam verdadeiras e a sua conclusão falsa.
A palavra “validade” é infelizmente usada, por pessoas que
ignoram a lógica, como sinónimo de “verdadeiro”, “é interessante” ou
“tem valor”. Na lógica não usamos o termo nesses sentidos, para os
quais temos outras palavras muitíssimo boas. Em lógica usamos o
termo “validade” apenas para falar da relação de sustentação que
ocorre entre as premissas e a conclusão de um argumento. Assim, é
um erro dizer num só passo que o raciocínio de Einstein é válido e que
a sua teoria é também válida, pois o sentido em que um raciocínio é
válido é totalmente diferente do sentido em que uma teoria é válida.
Dizer que uma teoria é válida é apenas dizer que é verdadeira,
plausível ou interessante; dizer que um raciocínio é válido é dizer que
conclui correctamente o que visa concluir.
A validade é muito diferente da verdade, apesar de ambos os
conceitos estarem relacionados. Estão relacionados porque a validade
só emerge quando a verdade das premissas exclui a falsidade da
conclusão. Assim, é incorrecto afirmar que a validade não tem
qualquer relação com a verdade; pelo contrário, se não existir uma
dada relação entre os valores de verdade das premissas e conclusão
de um raciocínio, não existe também validade. Não há validade sem
verdade, tal como não há omeletes sem ovos; mas nem as omeletes
são o mesmo que os ovos nem a validade é o mesmo que a verdade.
Quando um raciocínio é válido, não temos ainda garantia de que a
sua conclusão é verdadeira. Pois tudo o que a validade garante é
que se as premissas forem verdadeiras, a conclusão sê-lo-á também.
Quando as premissas de um raciocínio válido não são verdadeiras, a
conclusão é verdadeira nuns casos e falsa noutros. A vantagem da
validade é só esta: se as premissas forem verdadeiras, não há casos
relevantes em que a conclusão seja falsa.
Necessariamente
Uma maneira comum, mas infeliz, de falar da validade de um
raciocínio é dizer que se as premissas de um raciocínio válido forem
verdadeiras, então a conclusão é necessariamente verdadeira. Isto é
infeliz porque afirma literalmente uma falsidade: que as conclusões
dos raciocínios válidos são verdades necessárias. Se isto fosse
literalmente verdadeiro, não haveria raciocínios válidos com premissas
verdadeiras e conclusão contingentemente verdadeira, ao invés de
necessariamente verdadeira. Mas há: “Todas as pessoas que
nasceram na Póvoa de Varzim, nasceram em Portugal; Eça de
Queirós nasceu na Póvoa de Varzim; logo, nasceu em Portugal”. Este
raciocínio é válido porque é impossível que as premissas sejam
verdadeiras e a conclusão falsa; e as premissas são verdadeiras;
contudo, a conclusão não é necessariamente verdadeira, é apenas
contingentemente verdadeira, pois Eça poderia ter nascido na Rússia.
À confusão aqui presente chama-se “deslize da modalidade”. A
modalidade que desliza é, neste caso, a necessidade. O deslize torna-
se mais fácil de ver se considerarmos estes dois casos:
Necessariamente, se Eça de Queirós nasceu na Póvoa do Varzim, nasceu na Póvoa do Varzim.
Se Eça de Queirós nasceu na Póvoa do Varzim, nasceu necessariamente na Póvoa do Varzim.
Não é difícil ver que a única diferença entre ambas as proposições é o
lugar onde está o termo “necessariamente”, a que em lógica
chamamos “operador modal de necessidade”. No primeiro caso, o
operador afecta toda a proposição; no segundo, afecta apenas a sua
parte final. Ora, a primeira proposição é verdadeira — banal,
certamente, mas não menos verdadeira por isso. É verdadeiro que,
necessariamente, se ele nasceu na Póvoa do Varzim, nasceu nessa
mesma cidade. Todavia, a segunda é falsa: apesar de ser verdadeiro
que ele nasceu efectivamente naquela cidade, não é necessário que
tenha nascido naquela cidade.
É esta diferença que está em causa. Quando não a conhecemos,
cometemos a falácia do deslize da modalidade. O que é correcto
afirmar, com respeito à dedução válida, é isto: necessariamente, se as
premissas forem verdadeiras, a conclusão também o será. Todavia,
quando não sabemos lógica, confundimo-nos e afirmamos isto: se as
premissas forem verdadeiras, a conclusão
será necessariamente verdadeira.
Esta confusão é uma pequena subtileza, sem dúvida. Porém, é
importante porque há quem pense que a lógica é irrelevante por tratar
apenas de raciocínios com conclusões necessárias; dado que grande
parte do nosso raciocínio (nomeadamente estético, ético e político) diz
respeito a conclusões contingentes, a lógica seria irrelevante. Toda
esta conversa baseia-se na ideia falsa de que as conclusões dos
raciocínios válidos com premissas verdadeiras são necessariamente
verdadeiras, ideia que por sua vez resulta da falácia do deslize da
modalidade.
Indução e dedução
Nem toda a validade é dedutiva; há também a validade não dedutiva,
que inclui a indutiva. Foi por isso que definimos a validade dizendo
que é o que acontece num raciocínio quando é impossível, ou improvável, que tenha premissas verdadeiras e conclusão falsa.
Quando um raciocínio é dedutivamente válido, temos a
impossibilidade; quando é indutiva ou não dedutivamente válido,
temos apenas a improbabilidade, mas não a impossibilidade. O que
quer isto dizer?
Considere-se um exemplo simples e desinteressante de raciocínio
dedutivo válido, como “A Joana e a Maria estão na praia; logo, a
Joana está na praia”. Este raciocínio é válido porque é impossível que
a premissa seja verdadeira e a conclusão falsa. Além disso,
precisamente por ser impossível que isso aconteça, é dedutivamente
válido. No caso de um raciocínio em que seja apenas improvável que
tenha premissas verdadeiras e conclusão falsa, trata-se de validade
indutiva. É o que acontece neste caso: “Todos os corvos observados
até hoje são pretos; logo, todos os corvos são pretos”. Neste caso,
não é impossível que a premissa seja verdadeira e a conclusão falsa;
é apenas improvável. Quem sabe se amanhã alguém descobre um
corvo de outra cor?
A validade indutiva é, pois, muitíssimo diferente da dedutiva. Tão
diferente que alguns autores reservam o termo “validade” apenas para
o caso dedutivo, falando então de “força” ou “correcção” no caso dos
indutivos.
Validade formal e falácias
Outra diferença crucial entre a validade dedutiva e a indutiva é que
algumas validades dedutivas podem ser captadas recorrendo apenas
à estrutura do raciocínio, o que não acontece no caso das indutivas.
Este foi o aspecto descoberto, tanto quanto sabemos, por Aristóteles.
Este importante filósofo da antiguidade grega viu que, em muitos
casos, a validade dedutiva pode ser determinada explicitando apenas
a sua estrutura; se essa estrutura tiver certas características, qualquer
outro raciocínio com a mesma estrutura será igualmente válido, se
pelo menos um o for. Este aspecto vê-se claramente com dois
exemplos:
A Maria e a Joana estão na praia; logo, a Maria está na praia.Terra e Marte são planetas; logo, a Terra é um planeta.
Não é muito difícil ver que há uma mesma estrutura nos dois casos
(não era esta, note-se, a estrutura descoberta e estudada por
Aristóteles; esta estrutura foi estudada mais tarde pelos estóicos,
filósofos do período helenístico da Grécia da antiguidade). Na
verdade, qualquer raciocínio com esta estrutura é igualmente válido:
uma coisa e outra coisa; logo, a primeira coisa. A palavra fundamental
aqui é “e”; se a mudarmos para “ou”, por exemplo, já obtemos uma
estrutura inválida — o que significa que nem todos os raciocínios com
essa estrutura serão válidos.
A descoberta de estruturas válidas é de suma importância, mas
por vezes provoca algumas confusões. Eis duas das mais comuns.
Primeiro, pensa-se erradamente que a validade é em si um
aspecto meramente formal dos raciocínios, dizendo respeito não aos
raciocínios particulares, mas apenas à sua estrutura. Isto é falso. A
validade ocorre apenas quando é impossível ou improvável que a
premissa ou premissas de um argumento sejam verdadeiras e a sua
conclusão falsa. Ora, só os raciocínios em si têm proposições
verdadeiras ou falsas; as estruturas dos raciocínios não têm tal coisa,
precisamente porque são meras estruturas. O que acontece é que
podemos analisar a validade de vários raciocínios olhando apenas
para a sua estrutura; mas daqui não se conclui correctamente que é
essa estrutura a responsável pela validade. Do mesmo modo que
podemos descobrir algumas características das amebas olhando por
um microscópio, mas essas são características das primeiras e não do
último, também podemos descobrir algumas validades olhando
apenas para a estrutura dos raciocínios, mas as validades são, a rigor,
características dos raciocínios e não das estruturas.
A segunda confusão está intimamente relacionada com a primeira.
Quando analiso a estrutura de um raciocínio e vejo que é válida, sei
que o raciocínio em si é válido. Pois dizer que uma estrutura é válida é
apenas uma maneira abreviada de dizer que todos os inúmeros
raciocínios com essa estrutura são válidos. Porém, quando analiso a
estrutura de um raciocínio e esta não é válida, isso não significa que
todos os raciocínios com essa estrutura são inválidos; significa apenas
que não tenho como descobrir a validade dos raciocínios com essa
estrutura analisando apenas as suas estruturas. Ter uma estrutura
inválida significa apenas que nem todos os raciocínios com essa
estrutura são válidos; não significa que todos os raciocínios com essa
estrutura são inválidos. Isto vê-se melhor com dois exemplos
contrastantes:
Se o Eça está em Paris, não está em Portugal. Ora, ele não está em Portugal. Logo, está em Paris.
Se o Eça é um homem, não é uma mulher. Ora, ele não é uma mulher. Logo, é um homem.
Ambos os raciocínios têm a mesma estrutura. O primeiro é inválido,
pois é perfeitamente possível que as premissas sejam verdadeiras e a
conclusão falsa. Contudo, o segundo é válido: não é possível que as
premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa. A estrutura dos
raciocínios é inválida, mas isso significa apenas que alguns raciocínios
com essa estrutura são inválidos. Isto contrasta com uma estrutura
válida, que garante que todos os raciocínios com essa estrutura são
válidos.
À estrutura em causa em toda esta conversa chamamos “forma
lógica”. Isto significa que já podemos compreender o que significa falar
de lógica formal, e o que a distingue da informal. A lógica formal é o
estudo daqueles aspectos da validade e invalidade do raciocínio que
podem ser exaustivamente estabelecidos recorrendo exclusivamente
à forma lógica; a informal aborda os aspectos que ultrapassam a
forma lógica. Assim, o raciocínio anterior sobre o sexo de Eça é uma
validade dedutiva informal, ao passo que os exemplos anteriores da
Maria e da Joana, assim como da Terra e de Marte, são validades
dedutivas formais.
Também podemos compreender agora que uma falácia é formal
quando o erro que ocorre diz respeito à forma lógica: trata-se de
formas inválidas de raciocínio que parecem válidas. Quando uma
falácia é informal é porque há algo de inadequado no raciocínio, mas
não na sua forma lógica. Algumas falácias informais são raciocínios
dedutivamente válidos, com uma forma lógica correcta; é o caso da
falácia do falso dilema, cuja estrutura é dedutivamente válida (por
exemplo: ou me amas ou me odeias; mas dado que não me amas,
concluo que me odeias).
Coerência
Muitas pessoas pensam que tudo o que conta num raciocínio é a sua
coerência — ou, pelo menos, que a coerência é uma característica
importante do raciocínio. A ideia é que a coerência de um raciocínio
seria, digamos, um ponto crucial a favor da sua correcção. Todavia,
isto é falso: não só há raciocínios coerentes que, apesar disso, são
inválidos, como há raciocínios perfeitamente válidos que são
incoerentes. Logo, a coerência não tem qualquer interesse na
avaliação da correcção do raciocínio. Vejamos o seguinte exemplo:
Todos os seres humanos são mortais.Logo, todos os mortais são seres humanos.
É óbvio que este raciocínio é inválido, pois a premissa é verdadeira e
a conclusão falsa. Contudo, o raciocínio é perfeitamente coerente. A
coerência não é, pois, um indicador de validade. Nem a incoerência é
um indicador de invalidade, pois o seguinte raciocínio é perfeitamente
válido, ainda que estranho, apesar de ser incoerente:
Sócrates era grego e não era grego.Logo, Deus existe.
Este raciocínio é incoerente porque a premissa é uma contradição.
Contudo, precisamente porque a premissa é uma contradição, não há
qualquer possibilidade de ser verdadeira. Ora, se a premissa não pode
ser verdadeira, então o raciocínio no seu todo não pode ter aquela
condição que o tornaria inválido: não pode ter premissa verdadeira e
conclusão falsa.
Claro que quem não sabe lógica pouco mais pode fazer, perante
um raciocínio, do que ver aproximadamente se é coerente. Do mesmo
modo, quem não sabe física, pouco mais pode fazer ao ouvir um físico
do que ver aproximadamente se o seu discurso é coerente. Contudo,
tal como um discurso coerente de um físico pode estar pejado de
teorias falsas — afinal, defender que a Terra está imóvel e que o Sol
orbita a Terra é perfeitamente coerente — também um raciocínio
perfeitamente coerente pode ser inválido. Tomar a nossa ignorância
da lógica como critério para a avaliação de raciocínios não é uma ideia
mais promissora do que fazer o equivalente relativamente à física. O
que queremos avaliar num raciocínio não é a sua coerência, mas
antes a sua validade, tal como o que queremos avaliar numa teoria da
física não é a sua coerência, mas a sua verdade ou plausibilidade.
Solidez
A validade diz respeito exclusivamente à relação entre premissas e
conclusão dos raciocínios. A validade não garante, nem mesmo no
caso dos raciocínios dedutivos, que a conclusão é verdadeira, ou
sequer provavelmente verdadeira. A validade é uma componente
importante dos raciocínios, mas não é a única. Há duas outras
propriedades cruciais dos raciocínios: a solidez e a cogência.
Um raciocínio é sólido quando, além de válido, tem premissas
verdadeiras. Isto significa que, quando um raciocínio é sólido, a
conclusão é verdadeira. A importância da solidez é óbvia. A validade
só garante que se usarmos premissas verdadeiras, teremos uma
conclusão verdadeira. Se usarmos premissas falsas, mesmo que o
raciocínio seja válido, não sabemos ainda se a conclusão é verdadeira
ou falsa.
Isto significa, entre outras coisas, que a seguinte afirmação está
errada: “Numa dedução válida, temos a garantia de que a sua
conclusão é verdadeira, o que não ocorre na indução”. Isto está errado
porque uma dedução válida não garante a verdade da conclusão; só
uma dedução válida com premissas verdadeiras o faz.
Cogência
Contudo, a solidez não basta, pois é óbvio que muitos raciocínios
sólidos são perfeitamente tolos: “Deus existe; logo, Deus existe”. Este
raciocínio é válido, pois é impossível ter premissa verdadeira e
conclusão falsa. E, caso Deus exista, é até sólido: a premissa será
verdadeira, nesse caso. Todavia, é obviamente irrelevante para nos
ajudar a descobrir a conclusão.
Este é o caso mais exagerado de um raciocínio válido em que é
irrelevante que a premissa seja verdadeira. Dificilmente alguém irá
raciocinar deste modo, pensando ter encontrado um raciocínio
definitivo a favor da existência de Deus. Porém, noutros casos, o erro
que está aqui presente não é igualmente óbvio, e é por isso que
cometemos muitos erros ao raciocinar, sobretudo ao argumentar
(visando persuadir alguém). Considere-se o seguinte argumento: “O
aborto não é permissível porque a vida humana é sagrada”. Tal como
está, não é sequer válido: é um entimema, um argumento em que não
explicitámos todas as premissas. Porém, mesmo sem explicitar as
premissas já é visível que algo de fundamentalmente errado ocorre
neste argumento.
É importante começar por ver que quando argumentamos visamos
persuadir alguém. Quem? Certamente que não visamos persuadir
quem já concorda com a nossa conclusão. Pelo contrário: ainda que
possa haver excepções, argumentamos tipicamente para persuadir
quem não concorda com a nossa conclusão, e o objectivo é que essa
pessoa passe a concordar com ela. Na verdade, isto ocorre mesmo
quando raciocinamos, ainda que também aqui haja excepções:
tipicamente, raciocinamos para descobrir o que ainda não sabemos,
com base no que sabemos, ou com base no que nos parece plausível.
Tendo isto em mente, perguntemo-nos se quem discorda da ideia
de que o aborto não é permissível, concorda obviamente que a vida
humana é sagrada. Claro que há aqui muita vagueza com o termo
“sagrado”, e há certamente algum exagero (se a vida humana fosse
sagrada no sentido de ser totalmente não permissível matar seres
humanos, então matar um terrorista para salvar milhares de inocentes
não seria permissível), mas o crucial é que a premissa usada
dificilmente será acolhida de braços abertos como uma verdade óbvia
por quem discorda da nossa conclusão. O que isto significa é que a
premissa não é mais plausível do que a conclusão. E deveria sê-lo. De
que outra maneira poderíamos persuadir quem discorda da
conclusão? Temos de usar premissas que essa pessoa considere pelo
menos mais plausíveis do que a conclusão.
Quando um raciocínio ou argumento tem premissas mais
plausíveis do que a conclusão e além disso é também sólido, é
cogente. Argumentos e raciocínios cogentes é o objectivo do pensador
cuidadoso.
Na posse dos conceitos de validade, solidez e cogência, podemos
compreender melhor as diferentes armadilhas que nos surgem ao
raciocinar. Um raciocínio é falacioso quando é inadequado apesar de
parecer adequado. Ora, um raciocínio pode ser inadequado por ser
inválido, ou por não ter premissas verdadeiras ou por não ter
premissas mais plausíveis do que a conclusão. Assim, há três tipos
centrais de falácias.
Primeiro, temos as falácias que dizem respeito à validade: trata-se
de argumentos inválidos que parecem válidos. A classe mais óbvia
destas falácias são as formais: argumentos que parecem válidos
porque parecem ter uma estrutura válida, mas que na realidade são
inválidos e têm uma estrutura inválida. É o caso da falácia da
afirmação da consequente, ou da negação da antecedente. Mas
também as falácias indutivas dizem respeito à validade, como é o
caso da generalização apressada: parece que estamos perante uma
generalização válida, mas é inválida.
Segundo, temos as falácias que resultam da ilusão de verdade
das suas premissas. O caso mais óbvio é o falso dilema: trata-se de
um argumento dedutivamente válido, mas que é falacioso porque a
premissa crucial que devia esgotar todas as possibilidades não as
esgota, apesar de parecer fazê-lo.
Terceiro, temos as falácias que resultam da ilusão de terem
premissas mais plausíveis do que a conclusão, mas não as têm. O
caso mais óbvio é a petição de princípio. Todas as petições de
princípio são argumentos válidos e muitas são argumentos sólidos.
Mas são falaciosos porque não têm premissas mais plausíveis do que
a conclusão, apesar de parecer que as têm.
Conclusão
Muitas são as armadilhas no caminho do raciocínio. Porém, se há uma
regra geral que nos oriente, é esta: é crucial imaginar alternativas. De
facto, várias falácias resultam de não termos em consideração as
alternativas relevantes: por exemplo, no caso dos argumentos
inválidos que parecem válidos, há alternativas que tornam as
premissas verdadeiras e a conclusão falsa, mas por falta de
imaginação não as vemos; o mesmo acontece no caso dos
argumentos com premissas falsas que parecem verdadeiras: há
alternativas que tornam uma ou mais premissas falsas, mas por falta
de imaginação não as vemos. E mesmo no caso em que
apresentamos um argumento não persuasivo porque não tem
premissas mais plausíveis do que a conclusão para o nosso
interlocutor é porque fomos incapazes de ver as coisas do seu ponto
de vista — um exercício de imaginação crucial na argumentação.
Esta conclusão é irónica porque muitas pessoas identificam a
lógica com uma prática escolástica falha de imaginação e irrelevante
para a vida. Esta é a tragédia do desconhecimento: faz-nos acreditar
não apenas em falsidades, mas em falsidades monstruosas.*
Desidério [email protected]
Agradecimentos* Agradeço as leituras atentas, correcções e sugestões de Rolando Almeida, Matheus Silva, Domingos Faria e Daniela Moura Soares, que muito me ajudaram a melhorar esta breve introdução.