Penha; kelly raquel fogo e forma

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL DEPARTAMENTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO CURSO DE ARTES VISUAIS FOGO E FORMA KELLY RAQUEL PENHA CAMPO GRANDE - MS 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL DEPARTAMENTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO

CURSO DE ARTES VISUAIS

FOGO E FORMA

KELLY RAQUEL PENHA

CAMPO GRANDE - MS 2008

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KELLY RAQUEL PENHA

FOGO E FORMA

Relatório apresentado como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Artes Visuais à Banca Examinadora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, sob a orientação da Prof. Dra. Carla de Cápua.

CAMPO GRANDE - MS 2008

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À Maria Izabel, Lindomar e Izabel, que são as pessoas que

mais amo neste mundo; para toda eternidade.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a duas pessoas muito especiais, minha orientadora

Profa. Dra. Carla de Cápua, que durante todo o percurso deste trabalho, juntamente

com a Profa. Msc. Marlei Sigrist me guiaram até o fim e não me deixaram desistir,

inclusive me dando uma nova chance.

Às minhas colaboradoras Vânia e Duda, e Raquel, minha cunhada, que cuidaram

carinhosamente da minha filha Izabel enquanto eu me dedicava a este projeto, pois

sem sua preciosa ajuda e dedicação seria realmente muito mais difícil, ou até

impossível, a realização deste projeto.

A artista plástica e ceramista Alexandra Camillo, pessoa muito querida e que

admiro muito, que pacientemente me orientou, ajudou na hora das dúvidas, que foram

muitas, e que realizou a queima de minhas peças cerâmicas em seu forno mesmo

tendo peças de sua autoria prestes a serem expostas para queimar.

Ao meu marido que me prestou suporte principalmente financeiro e me

presenteou com um forno para vidro e outro para cerâmica o que viabilizou

experiências e pesquisas principalmente sobre o vidro. E que ao longo destes anos

esteve sempre ao meu lado mesmo sem acreditar que este curso tivesse muito futuro

para mim.

A minha amiga Érika S. Silva que foi de primordial importância na fase final deste

projeto, pois disponibilizou seu tempo, inclusive às madrugadas, e suas idéias para me

ajudar a finalizar as peças a tempo.

Por fim, agradeço a minha mãe Maria Izabel, pois sem ela eu certamente não

estaria aqui realizando este sonho. Sempre me incentivando, me ensinado a lutar por

meus sonhos, acreditando em mim e não medindo esforços para me ajudar sempre.

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Mesmo estando distante fisicamente, uns mil km, está sempre muito presente em todos

os momentos importantes da minha vida, me ouvindo e aconselhando com muito amor

e dedicação.

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“Não é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta, dura,

inflexível criada pelo homem.

O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que

encontro nas montanhas do meu país, na mulher preferida,

nas nuvens do céu, e nas ondas do mar.

De curvas é feito todo o universo.

O universo curvo de Einstein.”

Oscar Niemayer

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RESUMO

O presente estudo buscou encontrar alternativas para integrar o vidro e a

cerâmica, duas artes do fogo através da linguagem da escultura. Objetivou também

fazer um estudo acerca da história, dos materiais e das técnicas utilizadas na

construção das peças com a finalidade de facilitar a compreensão dos métodos

produtivos. Realizou-se, paralelamente à pesquisa teórica a produção de cinco

esculturas constituídas de cerâmica e em parte de vidro que se basearam na estética

do Art Nouveau e tiveram seus processos construtivos minuciosamente detalhados a

fim de verificar as dificuldades de integração destes dois materiais tão parecidos e ao

mesmo tempo tão distintos, bem como, avaliar os acertos obtidos. Dentro desta

proposta foi possível verificar a natureza de cada uma destas etapas e avaliar as

dificuldades na realização deste trabalho procurando solucionar eventuais problemas.

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SUMÁRIO

RESUMO.........................................................................................................................06

LISTA DE FIGURAS.......................................................................................................10

INTRODUÇÃO................................................................................................................11

CAPÍTULO I

1. A DESCOBERTA DO FOGO......................................................................................16

1.1 O fogo e a civilização............................................................................................18

CAPÍTULO II

1. A CERÂMICA..............................................................................................................20

1.1 A história da cerâmica ..........................................................................................20

1.2 Natureza e formação das argilas...............................................................................22

1.2.1 Tipos de argilas............................................................................................24

1.2.1.1 Caolin..............................................................................................24

1.2.1.2 Argila de Bola..................................................................................25

1.2.1.3 Argilas para cerâmica compacta (alta temperatura)........................25

1.2.1.4 Argila refratária................................................................................26

1.2.1.5 Porcelana........................................................................................26

1.2.1.6 Argila para cerâmica porosa (baixa temperatura)...........................27

1.2.1.7 Bentonita.........................................................................................27

1.2.2 Formulação de massas de Argila e ou cerâmica.........................................28

1.3 Características comuns às argilas..........................................................................29

1.3.1 Plasticidade..................................................................................................29

1.3.2 Encolhimento................................................................................................30

1.3.3 Porosidade...................................................................................................30

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1.3.4 Inversão de quartzo......................................................................................31

1.4 Modelagem.............................................................................................................31

1.4.1 Modelagem manual......................................................................................31

1.5 O processo de secagem.........................................................................................33

1.6 A queima................................................................................................................34

CAPÍTULO III

1. O VIDRO.....................................................................................................................36

1.1. A história do vidro.................................................................................................36

1.2 A natureza do vidro...............................................................................................39

1.3 A composição dos vidros.......................................................................................40

1.4 Componentes do vidro..........................................................................................40

1.5 Principais tipos de vidro.........................................................................................41

1.5.1 Vidro alcalino................................................................................................41

1.5.2 Vidro Chumbo...............................................................................................42

1.5.3 Vidro boro-silicato.........................................................................................42

CAPÍTULO IV

1. FUSING......................................................................................................................43

CAPÍTULO V

1. ART NOUVEAU..........................................................................................................45

1.1 Caracterísiticas......................................................................................................46

CAPÍTULO VI

1. MESTRES INSPIRADORES.......................................................................................47

1.1 René Lalique (1860-1945)....................................................................................47

1.2 Émile Gallé (1846-1904)………………………………………………………...........49

1.3 Louis Comfort Tiffany (1848-1933).......................................................................51

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CAPÍTULO VII

1. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................53

2. Análise das obras.................................................................................................54

2.1 Raiz.................................................................................................................56

2.2 Ciranda de Libélulas.......................................................................................58

2.3 Cheia de Luz...................................................................................................60

2.4 Dois em um.....................................................................................................62

2.5 Transformação................................................................................................63

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................65

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................67

ANEXO I

1. Métodos Construtivos.................................................................................................70

1.1 Raiz......................................................................................................................70

1.2 Ciranda de Libélulas ............................................................................................73

1.3 Cheia de Luz........................................................................................................76

1.4 Dois em Um..........................................................................................................78

1.5 Transformação.....................................................................................................79

ANEXO II

1. Esboços.......................................................................................................................81

2. Estudos prévios...........................................................................................................86

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Fusing parcial e fusing total……………………………………………..……….44

Figura 2. René Lalique, Mulher Libélula........................................................................48

Figura 3. René Lalique, Broche......................................................................................48

Figura 4. Émile Gallé, Taça Libélula...............................................................................49

Figura 5. Émile Gallé, Jarro Libélula...............................................................................50

Figura 6. Émile Gallé, Mão com algas marinhas e conchas...........................................50

Figura 7. Louis C. Tiffany, Jarro Jack-in-the-Pulpit…………………………………..….…51

Figura 8. Louis C. Tiffany, Favrile………………..…..………………………………..…….52

Figura 9. Louis C. Tiffany, Luminária..............................................................................52

Figura 10. Kelly Penha, Raiz..........................................................................................56

Figura 11. Kelly Penha, Ciranda de Libélulas.................................................................58

Figura 12. Kelly Penha, Cheia de Luz............................................................................60

Figura 13. Kelly Penha, Dois em Um..............................................................................62

Figura 14. Kelly Penha, Transformação.........................................................................63

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INTRODUÇÃO

O seguinte trabalho apresentará a arte cerâmica juntamente com a arte vidreira

enfatizando a técnica fusing (vitrofusão).

É incontestável dizer que a arte de modelar a argila é marcante no curso da

história da humanidade. As identificações do ser humano com a cerâmica são mais

profundas e complexas do que supomos quando tomamos conhecimento, pela primeira

vez, das possibilidades que a argila teve e tem, ainda hoje, de uso e aplicações em

diferentes sociedades. Sendo assim, é interessante conhecer tudo o que for possível

sobre o que os homens fizeram nesse campo. Muitas culturas já extintas só foram

descobertas através de vestígios que resistiram ao tempo. Os objetos feitos de

cerâmica são os mais encontrados em escavações e sítios arqueológicos e é através

da mesma que se pode fazer um estudo avançado sobre a história das civilizações

antigas.

A cerâmica é a arte das argilas e dos esmaltes e tem adquirido uma imensa

popularidade nos tempos atuais, não só como uma atividade artesanal, mas também

como a percepção de uma arte tradicional. Depois de sua queima, a argila torna-se um

dos materiais mais imperecíveis. Suas qualidades unidas aos efeitos dos esmaltes, com

suas cores e texturas fazem da cerâmica uma das expressões artísticas potencialmente

mais ricas.

A argila está entre os materiais mais utilizados pelos artistas plásticos e artesãos.

Também entre os escultores, é bastante usada principalmente por suas qualidades

plásticas e tridimensionais aliados à facilidade de modelagem.

Esta arte é uma das mais técnicas atividades artísticas e para se trabalhar com

menos limitações, o ceramista deve contar com o conhecimento dos materiais e de

todos os processos que envolvem esta arte. As dificuldades do trabalho com argila não

são exclusividade de principiantes. Requer muito cuidado e atenção, desde a escolha

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da argila certa, local e condições climáticas, superfície para o manuseio, ferramentas

para modelagem, processo de secagem e finalmente e mais importante, a queima. Este

último processo deve ser feito em fornos adequados, de acordo com o efeito que se

deseja obter, e em temperaturas reguladas para cada tipo de argila. Os resultados

provenientes da queima podem variar de acordo com o tipo de forno, fonte de calor e

temperatura aplicada na queima. Esta regra também se aplica à queima de esmaltes

cerâmicos. Os fornos mais utilizados são os de calor gerado por energia elétrica, gás e

lenha.

O processo da queima é o que nos trás mais dúvidas, pois o forno é uma caixa

de surpresas. Mesmo que esteja com a temperatura regulada e o tempo controlado, é

invariavelmente difícil saber o resultado final, pois pode haver variação na temperatura

atmosférica, o que afeta o oxigênio que estiver no forno. O processo de secagem

também pode modificar a peça na hora da queima, causando empenamento, grande

retração, rachaduras, principalmente a explosão durante a queima que é causada por

bolhas de ar dentro da massa cerâmica e que não foram eliminadas no processo de

modelagem ou secagem inadequada das peças.

Para a execução de um bom trabalho é preciso obter informações técnicas

também a respeito da transformação da argila, desde seu estado plástico até a peça

totalmente terminada. A grande variedade de cores das massas cerâmicas e as

características que cada uma possui fazem com que torne cada peça única e

inconfundível.

Apesar de serem materiais diferentes, o vidro e a cerâmica têm muito em

comum: são artes da terra e do fogo. Muita cautela e também algumas características

de trabalho empregados na arte da cerâmica podem ser bem aproveitados para o

manuseio do vidro. Os cuidados na queima, o conhecimento dos diferentes tipos de

vidro, esmaltação, ferramentas de trabalho e fornos específicos contribuem para a

execução de bons trabalhos.

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As técnicas de trabalho com vidro vêm sendo bastante difundidas atualmente,

pode-se até dizer que está na moda. Mas é estranho chamar de atual um material que

beira os 5.000 anos de idade e que em todo este tempo não sofreu muitas variações

nem inovações em seu processo de fabricação e modelagem. Primeiro foram os

mesopotâmicos, depois os egípcios, os fenícios, os etruscos e também os gregos, ou

seja, o outro lado do Mediterrâneo tinha o vidro como seu segredo mais precioso, sua

jóia rara. Tão rara, que era muito mais fácil garimpar metais preciosos do que

confeccionar contas de vidros para suas jóias. De jóias passaram a pequenos frascos e

na Síria, só depois do século I AC é que começaram a soprar literalmente o vidro. No

lugar de minúsculas esculturas em pâte de verre ou core formed (derretimento de vidro

em moldes), trabalhosos e requintados, o vidro soprado, simples e produtivo, disparou

nos mercados populares. Foram os romanos que aprimoraram e sofisticaram para a

nobreza a arte do vidro e o mundo moderno agradece até hoje suas sofisticadas

invenções.

Dentre todas as outras técnicas o fusing vem obtendo destaque por sua

facilidade de aplicação e possibilidade de trabalhos feitos com restos de vidro. Mesmo

sendo uma técnica comprovadamente já utilizada na antiguidade, o fusing ou vitrofusão

passou por um longo período de esquecimento. Resgatada e difundida por artistas

americanos demorou a florescer como tipo de arte. A técnica hoje é uma das mais

utilizadas nas criações com o vidro, em concepções cada vez menos convencionais.

Pouquíssimo utilizado principalmente no Brasil, atualmente vem se popularizando entre

as artes e a cada dia que passa assume posição de destaque.

Utilizada pelos egípcios e mais tarde pelos romanos, a técnica fusing, que

consiste basicamente em dar forma a pedaços de vidro já conformados e normalmente

planos (lâminas) através de sua fundição, pode ser apreciada em objetos espalhados

por museus em todo o mundo. Não há referência certa de sua origem, porém há relatos

de tigelas trabalhadas, jóias e azulejos de parede decorativos feitos usando vidro

fundido, por volta de 1500 a.C.

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Para o presente trabalho têm-se como objetivos estudar as técnicas e materiais

utilizados na arte da cerâmica e do vidro, suas características e importância na história

da humanidade. Para melhor compreensão destas artes será realizada uma análise

passo a passo de todo o processo que envolve sua produção, desde os materiais

necessários até a peça pronta.

Verificar a possibilidade de integração entre esses dois materiais e tentar

solucionar eventuais problemas causados pelas diferenças em sua composição.

Apresentar peças compostas por cerâmica e vidro fundido (fusing) através de

esculturas, em uma linguagem contemporânea, entretanto, seguindo a estética do estilo

Art Nouveau com suas linhas sinuosas e femininas juntamente com elementos da

natureza.

Levantar os materiais mais utilizados para cada tipo de trabalho e fornecer

explicações sobre eles e seus principais componentes, mostrando suas características,

suas propriedades e os métodos mais usados para elaboração das peças.

A escolha desta linguagem para a expressão do trabalho de conclusão de curso

foi um tanto quanto emocional. O prazer que a manipulação da argila proporciona foi

um dos fatores preponderantes nesta escolha. Remete-me à infância onde desde cedo

demonstrei tendência para o trabalho com a argila, pois minha brincadeira preferida era

fazer bolinhos e outras formas feitas de barro. Nada me deixava mais contente do que

sentir o barro molhado e vê-lo tomar forma através de minhas mãos. Existe também o

fascínio que esta arte exerce sobre mim. As surpresas agradáveis e até mesmo

desagradáveis que a queima proporciona me incentivam a pesquisar cada vez mais.

Com o vidro não poderia ser diferente, objetos confeccionados em vidro sempre

me atraíram e desde criança coleciono frasquinhos. Entretanto, somente há pouco

tempo descobri uma verdadeira fascinação por ele. Após minha introdução na arte da

cerâmica, tive noções de esmaltes (vidrados) o que aguçou a minha curiosidade por

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este material. Comecei a pesquisar e a cada descoberta fiquei cada vez mais envolvida.

Foi então que tomei conhecimento da técnica fusing, e em seguida de várias outras

técnicas para se trabalhar o vidro tais como lampwork, casting, pâte de verre e

lapidação. O que me fez ver que é com o que desejo trabalhar em minha vida: vidro e

cerâmica.

Portanto, resolvi iniciar esta jornada de descobertas através desta pesquisa.

Tenciono conhecer o máximo possível sobre as características destes dois materiais a

fim de poder manejá-los com destreza e produzir peças de qualidade. Pretendo

também promover a integração entre eles respeitando suas diferenças.

A integração entre estes dois materiais não diz respeito somente ao vidrado que

é aplicado sobre a cerâmica biscoitada, mas sim através da técnica fusing que parte da

fusão de peças de vidro já conformadas e da aplicação de tintas para vidro sobre ele.

Tendo como objetivo principal solucionar a dificuldade de integração destes dois

materiais, pois apresentam em sua formulação características que dificultam esta

tarefa, tentarei fazer com que se unam de forma natural e que pareçam ser um,

continuidade do outro. Pretendo também explorar a transparência e as cores que

podem ser aplicadas ao vidro aproveitando os efeitos luminosos que este material

proporciona.

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CAPÍTULO I

1. A DESCOBERTA DO FOGO

Acredito ser de suma importância iniciar esta jornada falando sobre a descoberta

que provocou não só uma revolução, mas representa principalmente a evolução da

humanidade. E sem sua existência, talvez hoje, não fosse possível a realização deste

trabalho: O fogo, fonte de luz e calor e ato pioneiro de descoberta científica. Fazer fogo

e utilizá-lo de maneira produtiva foi fundamental para o homem iniciar seu caminho

rumo à civilização.

As descobertas chamadas empíricas ocorrem, geralmente, segundo uma

seqüência que envolve, a grosso modo, observação, experimentação e aplicação. A

descoberta do fogo não fugiu a essa regra. Os hominídeos perceberam pela primeira

vez o fogo há muitos milênios, em uma época que não podemos precisar, mas há

provas substanciais de que era já usado na Europa e na Ásia na Era do Paleolítico

Posterior e na do Neolítico. Assim, cerca de 500.000 a.C., já o chamado Homem de

Pequim (Pithecantropus pekinensis) utilizava o fogo, havendo disto evidências

encontradas em cavernas.

Quimicamente, fogo corresponde à combustão, que envolve a combinação do

oxigênio da atmosfera com o carbono contido em materiais orgânicos, folhas, grama,

madeira etc. É uma reação que pode ser espontânea ou iniciada por um agente

energético natural ou intencional. A reação espontânea pode ocorrer em ambientes

orgânicos muito secos, como conseqüência de elevação de temperatura e ao ser

atingido o ponto de ignição. Outra forma da ocorrência do fogo é por meio da ação de

relâmpagos sobre madeira. Em ambas as situações, nos primórdios da humanidade,

uma vez formadas as fagulhas e o fogo iniciado, a ação do vento pôde fazer com que

ele se espalhasse através de florestas e campos num processo contínuo, como o que

ainda hoje ocorre em incêndios que podem se estender por milhares de quilômetros.

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O homem primitivo inicialmente observou esse fogo surgido espontaneamente e

começou a utilizá-lo de maneira esporádica e desorganizada, como fonte de iluminação

e aquecimento. Para isto foi necessário, num primeiro momento, descobrir como mantê-

lo vivo, o que resultou provavelmente da observação de que brasas resultantes da

queima natural de madeira podiam ser reativadas pela ação do vento, ou pelo sopro,

fazendo a chama reaparecer.

A etapa seguinte consistiria em produzir voluntariamente o fogo; talvez a

observação de que ele se propagava pelo aquecimento de galhos ou folhas secas

indicou que a chama poderia ser iniciada com temperaturas elevadas. Desta forma, a

descoberta de que o atrito entre dois pedaços de madeira seca elevava a temperatura

até produzir uma chama, que podia ser ativada pelo sopro, deu inicio à jornada

tecnológica do homem, no seu controle da natureza. Ainda atualmente, o método do

atrito na produção do fogo é encontrado entre povos ditos primitivos, como os nossos

índios.

Na seqüência, outro método foi desenvolvido, consistindo na percussão de duas

pedras para a produção de faíscas. A observação de que fagulhas têm o poder de

começar uma chama e que o choque de algumas rochas produz faíscas conduziu a

mais uma forma de iniciar uma combustão. Existem observações de achados

originários da Era Paleolítica que indicam esse processo sendo usado pelo emprego de

pirita (sulfeto de ferro) sob a forma de pequenos grãos, ou ainda de sílex (variedade de

rocha formada principalmente por dióxido de silício), material extremamente duro.

Muito tempo depois foi descoberto que as fagulhas formadas eram mais fortes e

persistentes, quando se batia sílex com ferro ou aço. Esse processo persistiu até o

século XIX. Na Europa e no Brasil ainda era encontrado no começo do século XX. O

avanço seguinte, e bem mais recente, de um processo simples de produção de fogo,

surgiria com a invenção, na Inglaterra em 1827, do palito de fósforo. O elemento fósforo

combina-se com o oxigênio tão facilmente que se acende apenas exposto ao ar. Os

primeiros fósforos fabricados acendiam por atrito e exalavam um cheiro muito

desagradável. Mais adiante, em 1845, começaram a ser fabricados os chamados

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fósforos de segurança, cuja cabeça combustível contém outros componentes não-

inflamáveis, garantindo a sua utilização de forma segura.

1.1 O fogo e a civilização

A espécie humana não foi dotada dos atributos físicos comuns aos predadores:

não possui garras, nem presas afiadas, nem faro aguçado. Também não possui a

agilidade física necessária para escapar desses predadores, como correr em grande

velocidade, saltar muito alto ou subir em árvores com rapidez.

Isso provavelmente teria levado nossos ancestrais primitivos à extinção, não

fosse por um detalhe, a inteligência, a capacidade de observar o que está acontecendo,

raciocinar, experimentar, aprender e finalmente atuar, transformando e adaptando o

meio ambiente conforme as próprias necessidades. Foi assim que a espécie humana

dominou as outras espécies. Quem detém o conhecimento das transformações detém o

poder.

O domínio do fogo, que ocorreu há 500 000 anos a.C., foi, provavelmente, a

primeira transformação química que a espécie humana aprendeu a utilizar para facilitar

seu dia-a-dia, por exemplo, para se aquecer, manter os predadores afastados, cozinhar

e defumar os alimentos (o cozimento facilita a mastigação e a digestão, e a defumação

aumenta a conservação das carnes).

Assim como o controle inicial do fogo foi essencial para o desenvolvimento dos

seres humanos na Idade da Pedra, para os primeiros agricultores do período Neolítico

foi um fator preponderante para o desenvolvimento de toda civilização humana até

nossos dias. No decorrer da historia, o homem encontrou formas diferentes de utilizar o

fogo: luz e calor resultantes da rápida combinação de oxigênio, ou em alguns casos de

cloro gasoso, com outros materiais. Também foi utilizado para cozinhar, para clarear a

terra onde o homem iria, plantar para aplicação em recipientes de barro a fim de se

fazer cerâmica e também a aplicação em pedaços de minério para se obter cobre e

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estanho, combinando-os em seguida para fazer o bronze (c. 3000 AC), e mais tarde

obter o ferro (c. 1000 AC).

Foi justamente por volta de 7 000 a.C. que o ser humano começou a fabricar

utensílios de cerâmica (para armazenar água e alimentos) e tijolos cozidos para

construção de fornos que, além de permitirem a produção segura de fogo,

possibilitaram o desenvolvimento da técnica da metalurgia.

Posteriormente, as invenções das técnicas metalúrgicas propiciaram ao homem

novos horizontes para seu desenvolvimento científico utilizando a química sem mesmo

saber seus princípios. Houve de certa forma uma revolução nos aspectos da vivência

humana. O ferreiro, na Antigüidade realizava técnicas químicas que na época eram

relacionadas a divindades religiosas, segundo estudos antropológicos da Antigüidade.

Civilizações antigas como os egípcios, gregos, chineses entre outros, já

desenvolviam há milênios técnicas envolvendo a metalurgia (ouro, prata, chumbo,

cobre etc), vidros, perfumes, bebidas alcoólicas (como o vinho e a cerveja), sabões e

duas ligas metálicas: o bronze (cobre misturado com estanho) e o aço (ferro misturado

com carbono).

Pode-se dizer que a evolução da tecnologia moderna é caracterizada por um

aumento e um controle cada vez maior sobre a energia. O fogo foi a primeira fonte de

energia descoberta conscientemente controlada e utilizada pelo homem.

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CAPÍTULO II

1. A CERÂMICA

Segundo definição encontrada no livro: A Técnica da Cerâmica ao Alcance de

Todos de Filippo Massara (1980:247).

“Costuma-se definir com esta palavra todo o conjunto da produção de

argila modelada, cozida, esmaltada, decorada << a fogo lento >> ou << a

pleno fogo >>. Compreende tanto a Terracota como os vários tipos de

louça, maiólica, grès e porcelana. "

1.1 História da cerâmica

A palavra “cerâmica” provém do vocábulo grego keras (que significa,

aproximadamente, chifre) ou de Céramus, filho de Baco e de Ariadne, de cujo nome foi

retirado a designação do bairro ateniense onde trabalhavam os oleiros e do qual,

segundo algumas interpretações, derivou a denominação genérica de todas as

manifestações artísticas relacionadas com a terra.

Os primeiros objetos de argila queimada de que temos conhecimento remontam

a 100.000 anos na última glaciação, mas passou-se bastante tempo antes que a

cerâmica pudesse se consagrar como um ofício e uma arte. A liberdade de movimentos

era mais importante para o caçador nômade do que uma série de vasilhas frágeis de

uso doméstico. Mas no período neolítico, quando surgiram modos de sobrevivência

mais sedentários como resultado do desenvolvimento dos métodos agrícolas e da

criação de gado, as circunstâncias favoreceram o desenvolvimento da cerâmica como

ofício doméstico.

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21

Por serem extremamente duradouros, existem muitos objetos cerâmicos que nos

proporcionam uma prova evidente da ampla gama de fabricação há milhares de anos.

O que de modo algum fica claro são os processos e procedimentos que foram

empregados em sua fabricação. Somente podemos supor quais foram os primeiros

métodos de queima. Acredita-se que as tigelas de palha recobertas de argila e

endurecidas no fogo que foram descobertas eram utilizadas para cozinhar e aquecer a

comida e por isso supõe-se que este foi o primeiro método de queima. Porém, para eles

este processo não era considerado como uma forma de queimar a argila ou como um

tipo de forno primitivo, ou bem para estas funções, servia apenas para finalidades

domésticas. Parte da informação mais autêntica é proporcionada pelos restos de

cerâmica que refletem os materiais que foram utilizados e os processos que foram

empregados para modelá-los.

Entre os primeiros exemplos de cerâmica pré-histórica, há alguns objetos toscos

e desiguais cuja rudeza surpreende ao serem comparados com outros exemplos

artesanais. Assim, alguns objetos de uso estão maravilhosamente talhados e muito

bem decorados. Mas uma inspeção minuciosa das vasilhas demonstra que inclusive a

argila utilizada é muito grosseira e que está cheia de grandes pedaços de matéria que

deveriam dificultar muito a sua modelagem.

Às vezes os pedaços de matéria dura, incrustados nas argilas parecem

pequenas pedras e outras vezes parecem pedaços de conchas. Esses pedaços de

“matéria dura” que se denominam desengordurantes, foram mesclados

intencionalmente com a argila para “desengordurá-la”. O homem pré-histórico descobriu

que a argila desengordurada não se deforma, nem retrai tanto como a que não possuía

esses pedaços de matéria. As grossas partículas abrem os poros da argila, deixando

escapar fácil e rapidamente a umidade contida tanto durante a secagem como durante

a queima. Como as vasilhas eram cozidas com grande rapidez, isto era de grande

importância, pois a umidade tinha que sair rapidamente, caso contrário trincaria a

vasilha.

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22

Infelizmente, tanto o tipo de material como a quantidade adicionada influencia na

plasticidade da argila. Mas nos tempos pré-históricos não se necessita de uma grande

plasticidade, pois provavelmente as vasilhas se fabricavam à base de emplastar e

moldar a argila de forma a dar-lhe o formato desejado.

Há outro detalhe de interesse na cerâmica pré-histórica, quase todas as formas

eram basicamente redondas. Levamos em consideração que essas vasilhas não eram

feitas em tornos, e pode parecer estranho, pois naqueles tempos o homem ainda não

conhecia a roda em nenhuma de suas aplicações. Elas eram feitas à mão e seria

igualmente fácil fazê-las quadradas ou retangulares. Provavelmente perceberam que as

formas redondas eram mais sólidas e duravam mais (quando é dado um golpe em uma

vasilha redonda, a força se transmite ao redor sem interrupção alguma, ao passo que,

em uma forma quadrangular a tensão se concentra nas quinas e é mais fácil ocorrerem

trincas).

As manchas negras, pardas, amarelas e cinzas das vasilhas pré-históricas nos

fornecem informações sobre a o tipo de queima utilizada. Provavelmente a queima das

mesmas era feita em grandes fogueiras abertas, o que fazia necessário evitar

aquecimento e resfriamento repentinos com a utilização de combustíveis lentos e

provavelmente muito úmidos, o que causava as manchas de cor mais escuras.

1.2 Natureza e formação da argilas

Um dos minerais mais abundantes encontrados na natureza, a argila formou-se

da desintegração do granito e outras rochas feldspáticas ou pegmatita, que ao se

decomporem, depositam partículas de alumina e sílica. Estes dois últimos minerais

combinados com água formam a argila pura, cuja composição se expressa

quimicamente como Al2O3 – 2 SiO2 – 2 H2O. Isto significa que a argila é um alumino

silicato hidratado, que contém alumina e sílica assim como água combinada

Page 24: Penha; kelly raquel   fogo e forma

23

quimicamente. As argilas possuem várias características devido às variações químicas

das rochas das quais se originaram.

A rocha feldspática descomposta que permanece onde se formou é uma argila

muito pura, entretanto, possui partículas grandes e é conhecida como argila residual (tal

como o caulim, mais utilizado no oriente, e que se torna branco após ser queimado).

Durante largos períodos de tempo, as argilas têm sido afetadas pelo vento, pela chuva,

pelas geadas e pelo sol, transportadas de lagos a rios, estuários e mares. Estas ações

implicaram em um processo de classificação. As partículas maiores e mais pesadas da

argila foram depositadas nos leitos dos rios e somente as partículas menores foram

transportadas aos lagos e mares, onde a influência da correnteza é menor e estas

finalmente, depositaram-se em leitos de finas argilas sedimentares. Este tipo de argila

perdeu grande parte de seus ingredientes solúveis na água que a transportou e

previsivelmente, recebeu todo tipo de impurezas durante sua jornada. O ferro é uma

impureza muito normal e pode ser identificado pelos tons amarelados, alaranjados e

avermelhados que dá à terra. Esta coloração pode ser ocultada por plantas podres ou

outra matéria orgânica existente na argila, que às vezes faz com que tenha tons

acinzentados, azuis e negros. Como a face da terra havia sido remodelada com certa

freqüência, é bem possível que as argilas que atualmente estão nas colinas surgiram

do fundo de lagos existentes há milhões de anos. De igual modo, as primeiras

escavações que existiram, as geleiras, fizeram um importante trabalho de movimento

de terras durante as épocas de degelo.

Portanto, mesmo que todas as argilas tenham uma origem de certa forma

comum, são consideravelmente distintas. Existem diferenças de cor que podem ser

observadas a partir da presença de diferentes metais e diferenças de texturas que

podem ser sentidas ao apalpar, mas há sensíveis diferenças que resultam da queima

que são devidas a perda de elementos solúveis durante o desgaste das intempéries e

das impurezas depositadas nas argilas sedimentares, fatores que afetam a fusão da

argila na hora da queima. Se for aquecida a temperaturas adequadas, todos os tipos de

argilas se fundem, sendo que alguns tipos alcançam um estado vítreo; seu

Page 25: Penha; kelly raquel   fogo e forma

24

endurecimento e vitrificação são os primeiros sinais de que a argila se funde e, até

certo ponto, essenciais para a resistência da mesma.

Segundo Glenn C. Nelson (1982:154), a fórmula da argila ideal seria a citada

anteriormente, “pois quase todas as argilas possuem alguma impureza, e são estas as

variações na fórmula que explicam as diferentes características dos numerosos tipos de

argilas”.

1.2.1 Tipos de argilas

Resumidamente, a argila pode ser definida como rocha sedimentar composta de

caolin em mistura com detritos de outros minerais, inclusive metálicos. Podem ser

classificadas como residuais e sedimentares, sendo que as argilas residuais

permanecem aproximadamente no mesmo sítio de formação rochosa original. São

menos plásticas do que as sedimentares por possuírem partículas maiores o que acaba

dificultando o manuseio em peças mais detalhadas. Já as argilas sedimentares são as

que, pela ação do vento ou das águas, foram transportadas para longe do local de sua

rocha de origem. Esta ação da natureza só afetou as partículas de argila de menor

tamanho e, em conseqüência disso, as argilas sedimentares são as mais plásticas de

todas.

1.2.1.1 Caolin

O caolin é uma forma pura de argila conforme fórmula citada anteriormente, este

seria o ideal para uma argila. Entretanto, ele não é usado puro, mas sim como padrão

de comparação para as outras argilas. Tem coloração predominantemente branca,

porém pode ser encontrado também na cor amarelada. Corresponde ao hidro-silicato

de alumínio em estado puro ou quase puro. Apresenta-se em massas compactas ou

bastante terrosas e é o elemento básico de composição da porcelana que qualquer tipo.

Seu nome deriva da localidade chinesa de Kaoling, famosa por sua porcelana.

Page 26: Penha; kelly raquel   fogo e forma

25

Pode ser queimado em temperaturas extremamente altas e constitui uma fonte

de alumina e sílica para os esmaltes cerâmicos. A grande variedade existente de tipos

de caulim dificulta a classificação das argilas.

1.2.1.2 Argila de bola

A argila de bola é quimicamente similar ao caulim depois de queimado. Sua cor,

antes da queima, é cinza escuro devido a presença de materiais orgânicos. Ela provém

da desintegração de uma rocha granítica, muito similar a formação do caulim, porém, as

partículas da argila de bola se depositaram em áreas pantanosas, onde os ácidos

orgânicos e os compostos gasosos que se desprendem da decomposição da vegetação

serviram para desintegrar as partículas desta argila em tamanhos bem menores do que

os do caulim sedimentar. Justamente por esta característica, ela proporciona maior

plasticidade na modelagem e resistência a peça seca quando é usada na composição

de uma massa cerâmica.

1.2.1.3 Argilas para cerâmica compacta (alta temperatura)

Este tipo de argila constitui um interesse especial para o ceramista, pois são

plásticas e podem ser queimadas em alta temperatura. Dependendo das condições

atmosféricas da queima, sua cor pode variar desde o creme até o cinza. As argilas

diferem em sua composição, em comparação com o caulim, podem apresentar

impurezas tais como cálcio, feldspato e ferro, o que fazem com que diminua a

temperatura de queima e dão cor à argila.

Atualmente é mais difícil que se use somente uma argila para conformação de

um corpo cerâmico. A argila principal pode ser de cerâmica compacta ou refratária, usa-

se adicionar porções de argila de bola, feldspato e inclusive argila para cerâmica porosa

para que se possa obter as características desejadas de plasticidade, temperatura de

queima, cor e textura. Um exemplo de massa cerâmica compacta é o Grès, que

consiste em uma pasta cerâmica composta de argila plástica, areia de quartzo,

Page 27: Penha; kelly raquel   fogo e forma

26

cimentada com sílica e certos óxidos. Submete-se a queima em forno a

aproximadamente 1300° C, produzindo assim uma cerâmica dura, compacta e

semivitrificada. Após a queima, apresenta-se geralmente cinzenta ou parda escura e,

mais raramente, esbranquiçada. A vitrificação é tipo salina ou alcalino-terrosa nos casos

em que se destina à produção de utensílios de cozinha. Por suas qualidades, o grès

pode ser classificado num lugar intermediário, entre a louça dura e a porcelana.

1.2.1.4 Argila refratária

A argila refratária é uma argila de alta temperatura que se usa para fabricar

ladrilhos refratários e placas refratárias para suporte de peças cerâmicas dentro do

forno na execução da queima de peças. Resiste a temperaturas constantes muito

elevadas. Suas características físicas variam, algumas têm qualidades plásticas, ao

passo que outras são grossas e granuladas, portanto, inadequadas para tornear.

Geralmente, as argilas refratárias contêm um pouco de ferro como impureza, mas

raramente contêm cálcio e feldspato. As variedades mais plásticas, como muitas das

argilas para cerâmica compacta, se encontram algumas vezes junto a veios de carvão.

Podem conter altos níveis de pederneira ou alumina e por conseqüência têm usos

industriais especiais.

1.2.1.5 Porcelana

Este é o produto cerâmico mais apreciado e, em certa medida, de grande

nobreza. É formulada a base de caulim, feldspato e quartzo que, depois do

cozimento/queima, torna-se branco, sonoro e vitrificado. Tem estrutura compacta,

perfeitamente vitrificada. A queima da porcelana é feita a 1500°C. Quimicamente, existe

pouca diferença entre um corpo de cerâmica compacta e um de porcelana, exceto pela

presença de pequenas quantidades de ferro e outras impurezas que alteram a

coloração da cerâmica compacta e das argilas refratárias. A porcelana de ossos é

similar a porcelana comum, com exceção de que são adicionadas cinzas de ossos que

atuarão como fundente o que aumentará a translucidez e reduzirá a temperatura de

Page 28: Penha; kelly raquel   fogo e forma

27

queima para aproximadamente 1250°C. Os principais defeitos da porcelana de ossos

são a tendência a deformação durante a queima e a falta de plasticidade que dificulta a

modelagem.

1.2.1.6 Argila para cerâmica porosa (baixa temperatura)

Constituem um grupo de argila para cerâmica de baixa temperatura. Contém

uma porcentagem relativamente alta de óxido de ferro que atua como fundente

(substancia que diminui a temperatura de queima da argila) o que em contra partida, faz

com que as peças sejam bem frágeis ao choque e porosas mesmo após a queima.

Diferentemente das peças de cerâmica compacta, que são quase vítreas, as peças de

cerâmica porosa, usualmente têm uma absorção de 5 a 15%.

Devido aos seus diversos fundentes, a cerâmica porosa não pode vitrificar-se,

pois se deforma e produz bolhas ou até mesmo derrete-se a temperaturas superiores a

1150°C. Um exemplo de massa cerâmica de argila porosa é a Terracota que é

composta de argilas plásticas, que contêm maior ou menor quantidade de cal ou ferro.

Após a queima, apresentam uma coloração avermelhada e, se a quantidade de

carbonato de cálcio for expressiva, pode resultar em um tom amarelado. Pode-se

acrescentar à sua massa areia ou argila cozida e moída para dar mais resistência. Esta

massa cerâmica é muito utilizada na produção de utensílios de cozinha que vão direto

ao fogo – terracota propriamente dita – argila pouco solúvel e muito resistente às

mudanças de temperatura. Utiliza-se também na fabricação de vasos para flores e

lajotas de todos os tipos e tijolos.

1.2.1.7 Bentonita

É uma argila pouco usual que se emprega em pequenas quantidades como

plastificante (mais eficiente do que a argila de bola). Possui as partículas mais finas de

todas as argilas. Formou-se em eras pré-históricas a partir do pó das erupções

vulcânicas suspensas no ar é constituída em sua maior parte por sílica.

Page 29: Penha; kelly raquel   fogo e forma

28

1.2.2 Formulação de massas de argila ou cerâmicas

Não existe na natureza uma massa de cerâmica porosa, compacta ou porcelana

que seja completamente satisfatória em todas suas características, por isso, quase

sempre é necessário mesclar algumas argilas para obter uma massa cerâmica

adequada ao trabalho que se pretende desenvolver.

A formulação de uma massa é uma ciência que demanda um conhecimento

completo dos materiais disponíveis e suas características, além de uma análise

cuidadosa de suas próprias necessidades. As massas de argila atualmente

comercializadas são formuladas por engenheiros, ceramistas e geólogos, não sendo

necessariamente, resultado de uma experiência prática.

É essencial a combinação do conhecimento técnico de um engenheiro e ou

geólogo e a prática de um ceramista. Qualquer formula de massa de argila deve ser

testada completamente antes de uma mescla em grande quantidade. As provas devem

incluir um ensaio de contração, absorção e coloração obtida. A fórmula de uma pasta é

uma coisa muito pessoal e às vezes o que é perfeito para um ceramista pode não servir

para outro.

Os produtores de argila para cerâmica selecionam e mesclam suas argilas ou

massas cerâmicas para obter as características desejadas. O ceramista irá escolher

uma argila que melhor se ajuste à suas necessidades e é difícil escolher uma argila que

se ajuste a todas as exigências. Por isso mesmo é que na maioria das vezes é

preferível uma massa, com uma mescla de diferentes tipos de argila e outros minerais

adequados a sua necessidade, porém, respeitando sempre o ponto de maciez, cor,

textura, contração e plasticidade.

Alguns exemplos de mesclas que podem ser feitas para conseguir as

características desejadas para a execução de um trabalho são o acréscimo de argila de

bola ou bentonita para conseguir melhor plasticidade, entretanto deve-se ter ciência que

Page 30: Penha; kelly raquel   fogo e forma

29

uma argila com partículas muito finas pode causar trincas ao secar; para corrigir este

problema pode ser adicionada uma argila menos plástica, uma areia de sílica ou

chamote fino (argila queimada e triturada) que servirá para abrir o corpo da argila

deixando-o mais poroso o que fará com que seque de maneira mais uniforme; Há casos

em que é necessário adicionar fundentes a argila para que ela alcance a temperatura

de trabalho desejada pelo ceramista, tais como feldspato, talco, dolomita, sianita, cinza

de ossos, nefelina, etc., mas é necessário observar que a adição de fundentes reduz a

plasticidade da argila. Uma alternativa para este problema é adicionar uma pequena

quantidade de argila que diminua a temperatura de queima. Por outro lado, se a argila

tiver uma proporção excessiva de fundentes, ela se deformará em temperaturas

relativamente baixas, então é necessário mesclar novamente com outra argila ou

agregar outras que tenham mais alumina ou sílica e alumina. Justamente por todos

estes aspectos é necessário o conhecimento dos componentes das argilas, suas

características e aplicações, pois não é tão simples quanto parece formular uma massa

cerâmica que atenda as expectativas de quem a utilizará.

1.3 Características comuns às argilas

Existem vários tipos de argilas e todas compartilham quatro características únicas,

mesmo que em diferentes graus. Estas características são de extrema importância, pois

quase todas as regras que regem o manuseio das argilas dependem delas:

plasticidade, encolhimento, porosidade e inversão de quartzo.

1.3.1 Plasticidade

A plasticidade é essencial para uma boa modelagem e a argila é plástica quando

está suficientemente úmida. Desta forma, ela poderá ser amassada e esticada sem

perder sua coesão, como ocorre com a areia úmida. Isto se deve ao fato das partículas

que formam a argila possuírem forma plana, o que faz com que elas se agarrem umas

às outras, e também deslizam umas sobre as outras como se fossem lâminas de vidro

Page 31: Penha; kelly raquel   fogo e forma

30

que tivessem água entre elas. O grau de plasticidade é determinado pelo tamanho das

partículas. Quanto menores forem as partículas, maior será a plasticidade da argila.

1.3.2 Encolhimento

A argila se contrai a medida que se evapora a água da plasticidade e suas

partículas se aproximam mais. Isto significa que a redução, assim como a plasticidade,

depende do tamanho das partículas e da quantidade de água presente. Portanto, as

argilas mais plásticas são as que sofrem uma redução maior em seu volume. A argila

irá encolher novamente durante a queima para biscoitar a peça (exceto em caso de

mono-queima), e finalmente quando ocorre a vitrificação através de uma nova queima,

já que alguns de seus componentes se fundem fechando, ou seja, vitrificando a

estrutura.

1.3.3 Porosidade

A porosidade de uma argila queimada está diretamente relacionada com a

dureza e a vitrificação da argila em questão. A argila endurece a medida que seca. A

argila plástica está totalmente desprovida de resistência estrutural e as formas feitas

com argila plástica são extremamente suscetíveis a deformações e devem ser

manejadas com muito cuidado. Conforme vai secando, torna-se mais dura e resistente

e quando está em ponto de couro suporta muito bem seu próprio peso, não se deforma

e quando está seca em ponto de osso é quase tão dura como a madeira.

Como regra geral, os corpos de argila queimados têm os seguintes intervalos de

porosidade:

- Cerâmica porosa, 4 a 10%;

- Cerâmica compacta, 1 a 6%;

- Porcelana, 0 a 3%.

Uma queima em temperatura mais alta reduz a porosidade, mas geralmente, a

temperatura específica da queima é selecionada antes. Os ajustes na proporção de

Page 32: Penha; kelly raquel   fogo e forma

31

fundente afetam a temperatura da queima, portanto, a porosidade relativa do corpo

cerâmico.

1.3.4 Inversão de quartzo

Um dos principais problemas para formular um copo cerâmico de boa qualidade

é a inversão de quartzo. Durante a queima, a sílica (quartzo) muda sua estrutura

cristalina várias vezes, e estas mudanças são acompanhadas de expansões

repentinas. Este fato ocorre especialmente no caso da sílica livre, ou seja, ela não está

quimicamente combinada com os outros elementos da forma. A mudança mais

expressiva se apresenta quando a temperatura chega a 575ºC. Neste ponto, os cristais

de quartzo passam da forma alfa para a forma beta com uma rápida expansão. A

aproximadamente 1010°C começam a se formar cristais entrelaçados de mulita,

constituídos por sílica e alumina, e esta combinação química produz a resistência do

corpo cerâmico. Após a queima, durante o resfriamento das peças, a situação se

inverte. Quando a temperatura do forno chega a 1063°F, a sílica livre do corpo se

contrai. A inversão de quartzo é uma das razões pelas quais é essencial proporcionar

um ciclo lento de queima e resfriamento. Se uma peça cerâmica se esquenta e se

resfria com muita rapidez, é muito provável que se formem trincas.

1.4 Técnicas de modelagem

Existem três técnicas básicas para a execução de peças cerâmicas: a modelagem

manual, o torno e o molde.

1.4.1 Modelagem manual

A prática de modelar argila com as mãos está entre os processos mais antigos já

utilizados pelo homem. Apesar de ser relativamente fácil exige bastante treino até obter

um bom domínio da argila.

Abrangendo a técnica de modelagem manual, são quatro as técnicas

básicas para transformar o barro em peças utilitárias ou artísticas: cobrinhas ou

Page 33: Penha; kelly raquel   fogo e forma

32

serpentinas, beliscões, esvaziamento (ocar o bloco) e placas. Em todas elas é

extremamente necessário prestar atenção nas formas e na espessura das paredes de

cada peça, assim como se está bem moldada e compacta , para que não haja bolhas

de ar dentro da argila, o que poderá causar trincas ou a explosão da peça durante a

queima.

Um dos métodos mais antigos utilizado para a construção de formas ocas são as

cobrinhas. Esta técnica consiste em fazer rolinhos de argila e sobrepor um ao outro até

obter a forma desejada. É muito importante que a junção das cobrinhas seja muito bem

feita e para isso é necessário ranhurá-las e molhá-lhas para que haja uma completa

adesão. A superfície externa da peça será alisada com o auxílio de uma esteca,

madeirinha ou qualquer objeto que se preste a esta finalidade com o intuito de eliminar

o aspecto das cobrinhas e proporcionar o efeito ou acabamento desejado.

A técnica dos beliscões é o mais simples, entretanto, tem limitações para a

construção de peças mais elaboradas. Separa-se a quantidade adequada de argila e

em seguida ela é amassada com as mãos formando uma bola ou o formato desejado.

Em seguida, com as pontas dos dedos, beliscar a argila até obter a forma almejada.

O trabalho com placas baseia-se em amassar a argila e formar um bloco a fim de

cortá-lo em partes para facilitar a abertura das placas. Para que elas tenham espessura

homogênea será necessário utilizar um rolo de abrir massas e guias de madeira. Em

seguida unem-se as placas ou parte delas para formar a peça.

No método de esvaziamento do bloco, como o próprio nome diz, a peça é

trabalhada partindo de um bloco maciço de argila que será ocado posteriormente com a

finalidade de deixar suas paredes com espessuras idênticas. Em todos os métodos

citados a argila deve ser bem amassada e batida a fim de evitar o aparecimento de

bolhas e futuros problemas na hora da queima.

Page 34: Penha; kelly raquel   fogo e forma

33

1.5 O processo de secagem

Dentre as etapas do processo de execução de uma peça a secagem tem grande

importância, pois se não for realizado de forma adequada o trabalho poderá danificar-se

de forma irreversível. Logo após a conformação da peça cerâmica a água está

distribuída quase que homogeneamente, entre as partículas de argila e os outros

componentes da massa cerâmica. Portanto, ela precisa ser retirada também de forma

homogênea, pois a saída de água faz com que as partículas se aproximem,

promovendo uma diminuição progressiva tanto em comprimento quanto em volume

diminuindo o tamanho da peça. É nesta fase que pode ocorrer empenamentos, trincas

e até mesmo a quebra da peça

As massas usadas para conformação de peças, tanto por modelagem, torno e

fundição (no caso de utilização de moldes), possuem aproximadamente 25% de água.

A secagem da argila depende da umidade atmosférica do ambiente. Quando a umidade

é inferior a cem por cento, a água começa a evaporar. À medida que a superfície vai

secando, significa que mais água sai do interior da massa por um processo de atração

capilar. Se a massa não for muito espessa, a secagem ocorre sem problemas. Para

evitar que os objetos feitos com argila plástica rachem ou empenem durante a

secagem, o processo deve ser lento e uniforme. É aconselhável proteger com um

plástico as partes menores, pois estas secam mais rápido e podem provocar trincas.

Durante o processo de secagem da argila alguns termos são utilizados para

determinar a fase de secagem: ponto de biscoito, ponto de couro, ponto de osso, entre

outros, referem-se à argila com quantidades distintas de água em cada fase da

secagem. Ponto de couro refere-se a um estado em que a argila está começando a

secar na parte externa, mas ainda continua úmida, pode ser moldada e levemente

dobrada. No ponto de osso é quando já está pronta a peça, não irá acontecer nenhuma

alteração na sua forma e já pode secar completamente, é muito raro trabalhar a peça

quando está nesse ponto.

Page 35: Penha; kelly raquel   fogo e forma

34

1.6 A queima

Uma vez que a peça de cerâmica está completamente seca pode-se iniciar o

processo de queima. Quando expostas ao calor todas as argilas mudam radicalmente,

tanto em forma física como em composição química. Como o capítulo um deste

trabalho refere-se ao fogo, é pertinente citar a afirmação feita por Massara (1980:185),

“O fogo é o grande mestre ou, se preferirmos, o amo e senhor quase absoluto da arte

cerâmica. As peças que preparamos só serão verdadeiramente <<cerâmica>> quando

o fogo tiver atuado sobre elas.”

Inicialmente as peças de argila passam por um processo de secagem que retira

boa parte a água contida na massa para que esteja pronta para ir ao forno onde será

eliminado o restante dela. Para finalizar os trabalhos feitos em argila será necessário

queimá-las e para tal são utilizados fornos que podem ser de vários tipos. Em se

tratando de forno, Penido, Costa (1999:45) os definem desta maneira “... embora tenha

diferenças em relação aos seus antecessores, um forno (kiln) continua sendo

basicamente uma caixa, um tubo ou um buraco de dimensões variadas onde o calor se

concentra e onde são colocadas as peças a serem queimadas.” Atualmente há uma

enorme variedade de fornos disponíveis no mercado: elétricos, a gás, refratários, com

controlador e programador de temperatura e vários outros. O estudo sobre fornos foge

ao objetivo deste trabalho e não será aprofundado.

Durante o processo de queima entre 500ºC e 600ºC a argila sofre

transformações que a transformam em cerâmica. É chamada de biscoito a peça que foi

queimada acima destas temperaturas e ainda não foi esmaltada. Para que seja

aplicado o esmalte é aconselhável que a peça seja queimada em uma temperatura

inferior a temperatura final de queima da massa, pois desta maneira ela fica mais

porosa e absorve melhor o esmalte que será aplicado. Uma queima cuidadosa de

biscoito poderá ser realizada em oito horas. No caso de peças que não serão

esmaltadas pode-se optar pela mono-queima, onde a peça pode ser submetida a

temperatura apropriada para a massa utilizada.

Page 36: Penha; kelly raquel   fogo e forma

35

O processo de queima dever ser tão ou mais cuidadoso que o processo de

secagem, pois, passa através de distintas etapas, a mais importante de todas é a

expulsão da umidade atmosférica a 100ºC e a expulsão da água de combinação

química a 315ºC. A expulsão da água de combinação química é a primeira troca

importante e é irreversível. A transformação do quartzo, a troca dos cristais de silício, e

a transformação de todos os componentes da argila em forma de óxido se produz,

fazendo a peça alcançar a etapa de vitrificação que é o passo final da queima.

A vitrificação significa que certos componentes da argila se fundem e formam

uma estrutura cristalina na argila, isto produz a dureza e durabilidade da argila

queimada. Se for levada até o final do processo de vitrificação pode-se dizer que houve

a fusão completa na peça.

Algumas observações importantes sobre as etapas de queima merecem

atenção. A umidade atmosférica e a água de combinação se desprendem em forma de

vapor. Devido à força do vapor dentre outros fatores, há o perigo de explosão, por isso

deve-se proceder lentamente com a queima neste ponto. A peça deve ser queimada

de três a cinco horas para alcançar 535ºC (esse tempo real pode variar dependendo do

forno). As peças com estruturas muito grossas devem secar mais lentamente no seu

estado inicial, para que não rachem. No momento da oxidação de todos os

componentes a 870ºC, é essencial que haja suficiente oxigênio no forno. Também se

deve permitir que a vitrificação se produza lenta e uniformemente através de todo o

forno, e é nesta etapa que ocorre a retração da argila.

De acordo com o tipo de argila e o tipo de obra, a temperatura que se segue e o

tempo de duração podem ser de 6 a 24 horas. Depois de alcançada a temperatura

desejada fecha-se todas as aberturas do forno para retardar o resfriamento. O período

de resfriamento deve ser no mínimo tão longo quanto o período de queima. As peças

não devem ser retiradas do forno quando ainda estiverem quentes e sim após estarem

totalmente frias.

Page 37: Penha; kelly raquel   fogo e forma

36

CAPÍTULO III

1. O VIDRO

O vidro é um material duro, mas ao mesmo tempo frágil e apesar de comportar-

se como sólido, é um líquido super resfriado e amorfo, pois não possui estruturas

cristalinas.

Em sua forma pura, vidro é um material transparente, relativamente forte e

resistente, essencialmente inerte e biologicamente inativo. Tais propriedades conferem

um vasto número de utilidades ao vidro. Estas propriedades podem ser modificadas,

ou mesmo ser mudadas inteiramente, com a adição de outros compostos ou tratamento

de calor.

O vidro comum se obtém por fusão em torno de 1.250ºC de dióxido de silício, (Si

O2), carbonato de sódio (Na2 CO3) e carbonato de cálcio (CaCO3). Sua modificação só

é possível enquanto fundido, quando está quente e maleável.

1.1 A história do vidro

O vidro certamente está entre as descobertas mais excitantes e impressionantes

do homem. Sua origem, entretanto, está envolta em mistério, e os especialistas ainda

não têm um conhecimento pleno de como ele foi produzido pela primeira vez. Também

não se sabe com precisão onde ou quando ele foi descoberto. Todavia, o vidro já era

utilizado pelos nossos ancestrais na Idade da Pedra sob sua forma natural, que é uma

rocha vulcânica, conhecida pelo nome de “Obsidiana”.

A obsidiana é uma rocha de origem vulcânica; é um vidro natural. Foi utilizada

para fabricação de pontas de lanças, de flechas e facas. Essas peças feitas com

obsidiana têm sido encontradas nas mais diferentes partes do mundo, como Patagônia,

México, Estados Unidos, Europa e Ásia. A fabricação do vidro iniciou-se depois que o

Page 38: Penha; kelly raquel   fogo e forma

37

homem descobriu o emprego do fogo nas artes, e deve ser posterior à metalurgia e à

cerâmica.

A respeito da descoberta do processo de fabricação do vidro não se sabe nada

com certeza, a única referência escrita é uma lenda encontrada na História Natural de

Plínio. Segundo essa lenda, comerciantes fenícios navegavam pelo Rio Belo, na Síria,

e resolveram acampar nas suas margens arenosas. Para fazerem suas refeições

retiravam da carga que transportavam blocos de soda, segundo uns, e de salitre,

segundo outros, os quais colocaram sobre as margens arenosas do rio para servirem

de suporte aos seus caldeirões. Passado algum tempo, notaram que, do meio do fogo,

corria um filete líquido e brilhante que solidificava imediatamente. Essa lenda só tem

valor histórico, é de se duvidar que tenha sido essa a verdadeira origem do vidro, pois é

pouco provável que com o calor de uma simples fogueira tenha se provocado a sua

formação.

Segundo a maioria dos pesquisadores, as peças de vidro mais antigas são

originárias do Egito e devem ter sido feitas em data anterior a 5000 a.C sob forma de

contas coloridas. Essas contas eram feitas com fragmentos de quartzo, revestidos de

pasta de vidro. Por volta de 5000 a.C os egípcios já fabricavam contas inteiramente de

vidro; essas contas eram coloridas e opacas, e foram encontradas em túmulos de

faraós intercaladas com placas de ouro, constituindo colares.

Cerca de 1500 a.C, os egípcios descobriram que podiam fabricar além das

contas, peças de vidro ocas, como vasos e copos. Essas peças ocas não eram

sopradas como atualmente, pois ainda não havia sido descoberto o processo de soprar

o vidro, coisa que só foi descoberta alguns séculos mais tarde. As peças eram

formadas sobre uma matriz. Inicialmente, pensou-se que eram formadas pelo difícil

processo de enrolar bastões de vidro aquecidos até o amolecimento sobre a matriz, a

qual depois de inteiramente revestida pela espessura adequada de vidro era

desmanchada, deixando a peça oca. Porém, pelo exame das bolhas existentes nessas

peças, verificou-se que eram de forma arredondada e não alongada, chegando-se a

Page 39: Penha; kelly raquel   fogo e forma

38

conclusão, por esse detalhe, que o processo de fabricação não tinha sido o do

estiramento do vidro sobre a matriz, e sim que o vidro devia ter sido colhido de um pote

em que ele estivesse fundido. Provavelmente, a matriz era feita de areia e um

aglutinante qualquer, como barro, era presa a uma haste e mergulhada no vidro fundido

várias vezes, até se obter a espessura desejada, depois então, era aplicada a asa ao

vaso e a boca era formada com o auxílio de pinças. Quando a peça estava fria, o seu

interior era cavado para destruir a matriz e deixar a peça oca. Dessa época conhecem-

se também figuras moldadas de vidro, como cabeça, anéis, escaravelhos e outras

figuras.

Nesse período, a indústria de vidro já estava estabelecida em vários lugares,

como Síria e Fenícia. O vidro fabricado nessa época era opaco e colorido, pois já

haviam obtido o conhecido método de colorir o vidro pela introdução de óxidos

metálicos na pasta vítrea. Compostos de cobre já eram utilizados para dar cor azul ao

vidro e era conhecido também o modo de fazer vidro branco usando óxido de estanho.

A decoração era feita pela colocação de faixas e ondulações de vidros coloridos,

contrastando com a cor da peça decorada.

O primeiro grande desenvolvimento da indústria do vidro deu-se por volta de 250

a.C. com a descoberta, provavelmente na Síria, do modo de soprar o vidro. Esse foi o

passo gigante da indústria do vidro na antiguidade, não só no que concerne à nova

técnica de fabricação de peças de vidro, como também deu uma função social e

econômica ao vidro, que deixou de ser um artigo caro e de luxo, para ser transformar

em um material de utilidade doméstica, pois até então, só eram produzidas peças de

vidro que eram tratadas como artigos de luxo devido ao seu alto preço.

Após esta descoberta, a indústria de vidro teve enorme desenvolvimento e se

espalhou por todo mundo, conhecido devido à facilidade de aquisição de utensílios de

vidro a preços populares. No Império Romano, principalmente, a indústria do vidro

soprado tomou um grande impulso, tornando-se o maior centro da indústria vidreira, no

início da Era Cristã.

Page 40: Penha; kelly raquel   fogo e forma

39

1.2 A natureza do vidro

Apesar de sua aparência sólida, a qual se atribui outras propriedades únicas

como a transparência, o brilho e a translucidez, o vidro é em termos químicos, um

líquido pela sua estrutura amorfa, ou seja, não cristalina. Para melhor compreensão

deste fenômeno pode-se comparar o vidro e o gelo. Desta forma, no processo de

congelamento da água a um ritmo lento, verifica-se a formação de cristais que

transformam o líquido num sólido opaco, através do qual é impossível ver. Em

contrapartida, se acelerarmos o processo de congelamento, como acontece com os

pequenos cubos de gelo, a água gelada apresenta um aspecto vítreo, transparente na

medida em que não ocorreu a formação de cristais para tornar a matéria opaca.

Qualquer matéria pode ser classificada em três estados possíveis: sólido, líquido

e gasoso. Entretanto, especificamente no caso do vidro, verifica-se a criação de outro

estado, ao qual podemos denominar “estado vítreo”. Essa situação deve-se ao fato de,

não obstante a sua aparência sólida, o vidro não poder ser designado como tal devido

sua estrutura amorfa, não cristalina.

A estrutura cristalina da matéria caracteriza-se microscopicamente pelo

agrupamento de íons, átomos ou moléculas, consoante um modelo de repetição

periódica. A desordem estrutural da matéria vítrea faz com que ela se assemelhe mais

aos líquidos, embora também não possa ser considerado estritamente um líquido.

Desta maneira, poderíamos definir o vidro como produto inorgânico fundido, que

arrefeceu até ter atingido um estado rígido, mas sem submeter-se a cristalização, ou

ainda, utilizar a definição feita por Maia (2003:17)

“Produto inorgânico resultante de uma fusão que resfriou até um estado rígido sem haver cristalização. Os vidros também podem ser obtidos por deposição de vapores, desde que estes sejam bruscamente resfriados em contato com o substrato onde irão se depositar”.

Page 41: Penha; kelly raquel   fogo e forma

40

1.3 Composição dos vidros

O vidro é uma substância inorgânica, homogênea e amorfa, obtida através do

resfriamento de uma massa líquida a base de sílica. Sua composição pode ser

evidenciada pela análise química. Quando se analisa um vidro, seus elementos

constituintes são representados pelos seus óxidos respectivos, a soma do peso desses

óxidos é igual ao peso da amostra analisada dentro dos limites dos erros experimentais,

esta é a melhor evidência de que vidros são compostos de óxidos, existindo algumas

exceções: o vidro alabastro e o vidro opalino, por exemplo, que contêm fluoreto.

Também pequenas quantidades de cloretos podem estar presentes em alguns vidros.

Entretanto, com exceção dessas pequenas variações, podemos dizer que o vidro como

os produtos cerâmicos, são compostos de óxidos.

Os óxidos componentes do vidro se combinam entre si formando silicatos

simples e complexos. A sílica existente em excesso na mistura se dissolve nos silicatos

fundidos, dando origem ao vidro.

O vidro é criado em um reator de fusão (forno), mediante o aquecimento de uma

mistura que, de um modo geral, consiste em areia de sílica com óxidos metálicos secos

e pulverizados ou granulados. No processo de fusão, que é a passagem do estado

sólido para o estado líquido, forma-se um elemento viscoso, tornando-se a massa

transparente e homogênea a temperaturas superiores a 1000° C. Quando retirado do

forno, o vidro adquire uma rigidez que permite o seu manuseio e, desse modo, o

trabalho visando à obtenção de diversas formas.

1.4 Componentes do vidro

O vidro é composto por vitrificantes, fundentes e estabilizantes. Os vitrificantes

dão característica à massa vítrea. Os fundentes possuem a finalidade de facilitar a

Page 42: Penha; kelly raquel   fogo e forma

41

fusão da massa silícea, e os estabilizantes têm a função de impedir que o vidro

composto de silício e álcalis seja solúvel

Entre as várias matérias-primas utilizadas mna composição do vidro, as

principais são: areia, quartzito, quartzo, borax, pirobor, ácido bórico, carbonato de

sódio, carbonato de potássio, nitrato de sódio, sulfato de sódio, calcário, magnesita,

feldspato, carbonato de bário, alumina hidratada, dolomita, litargírio, zarcão,

monossilicato de chumbo, óxido de zinco, arsênico, óxido de antimônio, fluoreto de

cálcio, óxido de cobalto, óxido de cobre, selênio, bióxido de manganês, óxido de cromo,

etc. Dependendo do tipo de vidro que se deseja obter sua composição pode variar

utilizando as matérias-primas acima citadas.

1.5 Principais tipos de vidro

Existem três tipos principais de vidro que têm seu uso muito difundido: vidro

alcalino, vidro chumbo e vidro boro-silicato. Além destes, ainda existem a fibra de vidro,

o vidro opalino, vidros especiais para termômetro, Vycor, vidro sílica e vidro oftálmico,

entretanto, fogem a nossa área de interesse e por isso não estão aqui descritos.

1.5.1 Vidro Alcalino

Este tipo de vidro também é chamado de vidro cal e é o vidro mais usado. Em

sua composição predomina a substância alcalina a Barrilha, mas também pode conter

sódio ou potássio. Com ele são fabricadas garrafas, frascaria em geral, vidro plano para

construção civil (janela) e da indústria automobilística e uma vasta gama de outros

produtos. Mais de 95% de todo o vidro fabricado no mundo é alcalino. Também é o tipo

de vidro utilizado para a técnica fusing.

Page 43: Penha; kelly raquel   fogo e forma

42

1.5.2 Vidro Chumbo

É também chamado de cristal. Caracteriza-se por ter na sua composição altos

teores de óxido de chumbo que variam geralmente de a 29% da matéria-prima utilizada

em sua composição. Devido à presença de chumbo, esses vidros têm um índice de

refração mais elevado e mais brilho que os vidros comuns, por isso são mais usados na

fabricação de peças artísticas.

1.5.3 Vidro Boro-Silicato

Contém boro-silicato ao invés de sílica pura, o que atenua a assimetria

molecular, propagando o calor de maneira um pouco mais rápida e homogênea do que

o vidro alcalino, o que faz com que suporte melhor os choques térmicos. Caracteriza-se

principalmente pela grande resistência ao choque térmico e ao ataque dos agentes

químicos. É largamente utilizado na fabricação de ampolas injetáveis, frascos de

remédios e frascos de vacinas, aparelhagem de laboratório e utensílios domésticos

como travessas e tigelas (Pirex).

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43

CAPÍTULO IV

1. FUSING

Técnica de trabalhar o vidro a quente que vem sendo bastante difundida no

Brasil. Através dela podem-se obter vários tipos de peças desde utilitários para o lar

como peças para jardim, construção civil e artísticas como esculturas . Com um bom

conhecimento das características e comportamento do vidro é possível executar

trabalhos meticulosos e de alta qualidade. Vale o que a criatividade propor e o que o

vidro aceitar.

O próprio nome, fusing, (que em inglês significa fusão) já diz qual o fundamento

desta arte. Consiste em sobrepor chapas ou pedaços de vidro com várias cores e

espessuras que, após serem fundidas entre si num forno a altas temperaturas, dão

origem a uma só peça. Entretanto, tendo como conceito básico a fusão do vidro, ou

seja, a vitrofusão, sendo ele inteiro ou em pedaços, merece uma definição a altura

como fazem Beveridge, Doménech e Pascual (2004:80):

“Por vitrofusão – fusing – entende-se o processo de unir dois ou mais

vidros com o objetivo de elaborar uma peça. Trata-se de um termo genérico que

engloba várias técnicas cuja característica comum consiste na criação de objetos

planos executados a partir da sobreposição de camadas de vidro. As técnicas da

vitrofusão são a vitrofusão parcial – tack fusing -, a vitrofusão total – full fusing -, e

as inclusões. A principal diferença entre a vitrofusão parcial e a vitrofusão total

radica na temperatura de trabalho atingida, parâmetro que determina o resultado

e o aspecto formal da peça. A técnica das inclusões baseia-se na colocação de

uma peça de determinado material entre dois vidros, de maneira a ficar laminada

entre eles.”

Para que esta definição se complete é necessário fazer alusão a fusão do vidro

plano a altas temperaturas sobre moldes o que permite obter diversas formas. Para que

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44

se tenha uma melhor compreensão da diferença entre as formas de fusing citadas

acima observar a figura 1 abaixo.

Figura 1

Fusing Total e Fusing Parcial

Fonte: Livro O Vidro – Técnicas de Trabalho de Forno - Pág. 81

A letra A na imagem acima representa o processo de fusing parcial onde é

empreendida uma temperatura mais baixa, onde as camadas de vidro se unem e suas

bordas se arredondam perdendo o corte, já a letra B mostra a vitrofusão total onde a

temperatura é mais elevada o que promove a completa fusão do vidro. As camadas de

vidro tornam-se quase imperceptíveis e suas bordas e arestas ficam bem

arredondadas.

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45

CAPÍTULO V

1. ART NOUVEAU

O termo Art Nouveau pode ser aplicado a um estilo da arquitetura e das artes

figurativas e aplicadas que floresceu na última década do século XIX e nos primórdios

do século XX. Era relacionado com o movimento Arts & Crafts e que teve grande

destaque durante a Bélle Époque, nas últimas décadas do século XIX e primeiras

décadas do século XX. Relaciona-se especialmente com a segunda Revolução

Industrial em curso na Europa com a exploração de novos materiais (como o ferro e o

vidro, principais elementos dos edifícios que passaram a ser construídos segundo a

nova estética) e os avanços tecnológicos na área gráfica, como a técnica da litografia

colorida que teve grande influência nos cartazes. Devido à forte presença do estilo

naquele período, este também recebeu o apelido de Modern Style (do inglês, estilo

moderno).

Ao contrário da maioria das correntes associadas ao movimento modernista, o

Art Nouveau não foi dominado pela pintura. Mesmo os pintores mais estreitamente

relacionados com o estilo, Toulouse-Lautrec, Pierre Bonnard, Gustav Klimt, criaram

cartazes e objetos de decoração memoráveis. Juntamente com o Arts & Crafts, o Art

Nouveau foi um dos estilos estéticos que prepararam o caminho do design moderno.

O Art Nouveau modernizou o design editorial, a tipografia e o design de marcas

comerciais, além de se destacar pelo desenvolvimento dos cartazes modernos.

Também revolucionou o design de moda, o uso dos tecidos e o mobiliário, assim como

o design de vasos e lamparinas Tiffany, artigos de vidro Lalique e estampas Liberty.

O termo tem origem na galeria parisiense L'Art Nouveau, aberta em 1895 pelo

comerciante de arte e colecionador Siegfried Bing. O projeto de redecoração da casa

de Bing por arquitetos e designers modernos é apresentado na Exposição Universal de

Paris de 1900, Art Nouveau Bing, conferindo visibilidade e reconhecimento internacional

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46

ao movimento. A designação Modern Style, amplamente utilizada na França, reflete as

raízes inglesas do novo estilo ornamental. O movimento social e estético inglês Arts and

Crafts liderado por William Morris (1834 - 1896), está nas origens do art nouveau ao

atenuar as fronteiras entre belas-artes e artesanato pela valorização dos ofícios e

trabalhos manuais, e pela recuperação do ideal de produção coletiva, segundo o

modelo das guildas medievais. O Art Nouveau dialoga mais decididamente com a

produção industrial em série. Os novos materiais do mundo moderno são amplamente

utilizados (o ferro, o vidro e o cimento), assim como são valorizadas a lógica e a

racionalidade das ciências e da engenharia. Nesse sentido, o estilo acompanha de

perto os rastros da industrialização e o fortalecimento da burguesia.

1.1 Características

A fonte de inspiração dos artistas é a natureza, as linhas sinuosas e assimétricas

das flores e animais. O movimento da linha assume o primeiro plano dos trabalhos,

ditando os contornos das formas e o sentido da construção. Os arabescos e as curvas,

complementados pelos tons frios, invadem as ilustrações, o mundo da moda, as

fachadas e os interiores.

Conceito visual: Uso de flores e plantas para dar a idéia de movimento na

natureza, em algumas ocasiões se utilizam insetos como mariposas, libélulas e aranhas

para dar mais dinâmica às formas.

Uso da forma: Estilizadas e ondulantes, jamais linhas retas. Mulheres esguias,

com os cabelos em movimento, "como simulando a ação do vento".

A magia da cor: usam-se de preferência o contraste entre o preto e os tons

pastéis. Utiliza-se o amarelo e o azul para acentuar as formas. Começa-se a introduzir a

cor com força na arquitetura.

Beleza funcional: a influência da revolução industrial estimulou as pessoas a ter

este tipo de arte em sua casa, daí se derivando sua função decorativa.

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47

CAPÍTULO VI

1. MESTRES INSPIRADORES

A linguagem escolhida para este trabalho foi a escultura e apesar de ter sido a

arte de menor expressão durante o período Art Nouveau, ainda sim o vi como fonte

inspiradora. Justamente por não ter tido escultores de significativa expressão, acabei

me inspirando nas obras de Emille Gallé, Louis C.Tiffany e René Lalique que não foram

considerados escultores neste período, mas produziram grandes obras em vidro e

joalheria

1.1 René Lalique (1860-1945)

Foi um grande mestre vidreiro e joalheiro francês. Obteve enorme

reconhecimento por suas originais criações de jóias, frascos de perfume, copos, taças,

candelabros, relógios, etc.

René Lalique não se contentava apenas em desenhar seus modelos, e construiu

também uma fábrica em Wingen-sur-Moder para produzir em grandes quantidades,

patenteando diversos processos novos de fabrico de vidro e vários efeitos técnicos,

como o satinado Lalique ou o vidro opalescente.

A excelência de suas criações e o requinte que aplicava às suas obras valeram-

lhe ser encarregado da decoração interior de numerosos navios, trens (comboios) como

o Expresso do Oriente, igrejas como a se São Nicásio de Reims e numerosas

construções religiosas e civis. Também foi o primeiro a esculpir o vidro para grandes

obras monumentais, como as portas do Hotel Alberto I de Paris ou as fontes dos

Campos Elíseos.

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48

Figura 2

Rene Lalique – Mulher Libélula - Pingente

Fonte: http://elissandre.centerblog.net/2407656-Lalique--Pendentif--Femme-libellule

Figura 3 Rene Lalique – Broche

Fonte: http://servat.rene.free.fr/lalique.htm

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49

1.2 Emile Gallé (1846-1904)

Artista francês, foi Ceramista, Artista Vidreiro e Decorador. A principal temática

de seus artefatos são flores e folhagens, realizadas em camadas sobrepostas ao vidro,

técnica por este desenvolvida, cujo nome em francês é "patê de verre", trabalhando

com maestria a opacidade e translucidez do material.

Basicamente a técnica que Gallé desenvolveu era a sobreposição. Fabricava um

vidro com várias camadas de cores, e depois trabalhava a peça com ácido em altos e

baixos relevos. Esse ácido corroia toda a superfície que não estava protegida formando

assim, relevos. Ao desgastar uma camada de vidro, surgia uma segunda cor. Entre a

primeira e a segunda camada, havia uma cor intermediária e assim sucessivamente.

Com esta técnica foi capaz de produzir obras maravilhosas que nos chegam até

hoje. Essas obras eram consideradas jóias, sendo muitas delas vendidas em joalherias.

Em 1880, com o advento da eletricidade, muitos artistas vidreiros perceberam os

benefícios que viriam com a luz em suas obras, e Gallé produziu plafonieres de teto e

abajures com formato de cogumelos de rara beleza. Muitas dessas obras traziam

paisagens, flores ou animais, libélulas e elefantes faziam parte da grande criatividade

do artista.

Figura 4

Emile Gallé – Taça Libélula

Fonte: http://www.multiarte.50megs.com/photo2.html

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Figura 5

Émile Gallé - Jarro Libélula, de Vidro Camafeu., Nancy (França) Datado de cerca de 1900. Museu de Arte da Filadélfia, Filadelfia (EUA)

Fonte: Livro O Vidro – Técnicas de Trabalho de Forno - Pág. 19

Figura 6

Emile Gallé - Mão com Algas Marinhas e Conchas, - Vidro - 1904

Fonte: http://www.musee-orsay.fr/en/events/exhibitions/archives/archives/browse/7/article/span-classitaliquenoirla-

main-aux-algues-et-aux-coquillagesspan-le-testament-artistique- de.html?tx_ttnews%5BbackPid%5D=252&cHash=448a32bbb2

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51

1.3 Louis Comfort Tiffany (1848-1933)

Norte-Americano, o artista Louis Comfort Tiffany desempenhou importante papel

na lista de artistas vidreiros, pois elaborou matérias iridescentes em suas obras e em

seqüência desenvolveu a imitação da pátina criada sobre os vidros antigos descobertos

em escavações. Também desenvolveu uma técnica de vitral que permitiu elaborar

luminárias de vários formatos. Ao invés de utilizar calhas de chumbo, o que dá um

aspecto muito pesado às obras, os pedaços de vidro são envolvidos em fita de cobre e

posteriormente soldados. Uma de suas obras utilizando esta técnica pode ser

observada na figura 9.

Figura 7

Louis Comfort Tiffany, Jarro Jack-in-the-Pulpit, de vidro Iridescente, Datado de cerca de 1912. Corning Museum of Glass, Corning (EUA)

Fonte: Livro O Vidro – Técnicas de Trabalho de Forno - Pág. 19

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Figura 8

Louis C. Tiffany, Favrile - Vidro

Fonte: https://antiquehelper.com/search.php?searchstr=glass&page=108

Figura 9

Louis C. Tiffany - Luminária

Fonte: http://www.multiarte.50megs.com/photo4.html

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53

CAPÍTULO VII

1. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para o início da execução deste projeto foi feito um levantamento histórico sobre

o tema através de pesquisas em livros, documentários, internet, revistas e todos os

meios passíveis de pesquisa que pudessem complementar a fundamentação da

linguagem adotada. Para melhor compreensão destas artes foi realizada uma análise

passo a passo de todo o processo que envolve sua produção, desde os materiais

necessários até a peça pronta.

Por serem elaboradas em argila e vidro, foi necessário execução de croquis,

para que se tenha melhor entendimento da idéia a se seguir, e conseqüentemente

maior precisão no trabalho que será realizado.

Os materiais utilizados neste projeto foram o vidro e a cerâmica. Foram usados

vários tipos de argila, com a finalidade de testar diversas texturas e massas cerâmicas.

Trabalharei com o vidro usando a técnica fusing através de chapas de vidro laminado

(vidro de janela).

O acabamento de cada peça também serviu de laboratório para as análises

posteriores às peças já prontas, onde foram analisados e discutidos os aspectos

formais da composição e o sucesso ou não na integração dos materiais. Foi utilizado

como conceito para análise das mesmas o grau de dificuldade na execução das

técnicas, a compatibilidade entre o tema e a linguagem escolhida e os processos de

queima e acabamento.

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54

2. Análise da Obras

As formas das cinco esculturas aqui apresentadas baseiam-se no período Art

Nouveau que tem como característica estética mais marcante a utilização de elementos

femininos, curvilíneos e com uma sinuosidade atraente seguindo sempre elementos da

natureza como, por exemplo, a fauna e a flora. A utilização de novos materiais incluindo

o vidro também é uma característica importante deste movimento.

Intencionalmente busquei a simplicidade da forma, porém sem abrir mão das

curvas e elementos naturais que podem ser observados nas peças. Elas seguem uma

linha vertical que lhes confere elegância e altivez e os braços e outros membros são

apenas insinuados. Todas têm relação com a natureza, a começar pela peça Raiz que

tem como ponto marcante a base em cerâmica que vem da terra. A raiz representa a

força, o alicerce que segura a estrutura e a mantém em pé. É o ponto inicial, vem da

semente que se ramifica e torna-se forte a ponto de poder criar e sustentar toda

estrutura da vida.

A peça Ciranda de Libélulas tem um caráter um pouco mais figurativo, possuindo

braços e até mesmo cabelos, mas mesmo assim não foge a simplicidade da forma.

Diferente da peça Raiz, ela representa o inverso, os sonhos, que são livres e não se

prendem a nada. São sustentados apenas por imaginação, desejos e sentimentos. As

libélulas têm um significado de liberdade e tentam arrancá-la da realidade e de suas

raízes para conduzi-la ao mundo dos sonhos.

Cheia de Luz é a representação do berço da vida. É o terreno fértil onde a

semente pode germinar e constituir suas raízes. Através de formas circulares

representadas pelos cabelos pode-se fazer uma analogia com o ciclo da vida. Sua

barriga bem pronunciada é em parte feita de vidro que confere o caráter iluminado de

gerar vidas e a cor azul remete à água que segundo alguns historiadores é o berço da

vida, o ponto inicial do desenvolvimento das espécies do planeta Terra. Suas costas

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55

foram vazadas não somente como elemento estético, mas para conferir mais

luminosidade ao vidro proporcionando lhe um caráter mais dramático

A escultura Dois em Um foi especialmente inspirada em uma obra de joalheria do

mestre René Lalique. É um broche que pode ser analisado na figura 3. É a imagem de

um homem e uma mulher entrelaçados de tal forma que fica difícil saber onde um

começa e o outro termina, sé é que isso é possível. Tentei recriar esta situação onde

represento os dois lados, o masculino e o feminino, que todos nós possuímos. A argila

foi cuidadosamente escolhida, pois possui pontos pretos misturados a massa que mais

uma vez reforça a idéia de que somos uma mistura. Uma mistura de matéria e “alma”,

de forte e fraco, de raiz e de sonho.

E finalmente a peça Transformação, que faz alusão às metamorfoses que

sofremos durante a vida. Da mesma forma que a semente se transforma em árvore,

que a lagarta se transforma em borboleta, esta peça passou do isopor à madeira, da

madeira ao vidro. Utilizando a técnica fusing e molde consegui capturar as formas e

fazer com que elas fossem parcialmente transferidas para o vidro. Da mesma maneira

que a peça Raiz possui sua base em cerâmica, a peça Transformação finaliza o ciclo,

pois consegue mesclar a essência de possuir raízes e ao mesmo tempo ser livre para

sonhar e realizar seus sonhos.

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56

2.1 RAIZ

Figura 10 Kelly Penha, Raiz

Para a execução desta peça foram utilizados um bloco de Isopor de 100x60x70

cm, máquina para fatiar isopor, 4 m² de vidro alcalino laminado incolor 6 mm, 2

bisnagas de 50g de silicone incolor para reparos (cura neutra), tintas para vidro nas

cores verde jacaré e abóbora, cortador de vidros, alicate/torquês de roldanas de vídia,

alicate destacador para vidros, forno elétrico para vidro, aproximadamente três quilos e

meio de argila com chamote na cor Tabaco, estecas e forno elétrico para cerâmica.

Inicialmente o bloco de isopor foi esculpido até a obtenção da forma desejada e

posteriormente fatiada em lâminas de 6 mm de espessura em uma máquina própria

para esta finalidade. As fatias da escultura foram transferidas para o vidro que foi

cortado com o auxílio de cortadores de vidro e torquês de roldanas de vídia. Algumas

lâminas foram repetidas várias vezes com o intuito de deixá-la um pouco maior. Esta

diferença pode ser observada no anexo I, 1.1, imagens F, G, H e I. Após a lavagem do

vidro ele foi esmaltado, numerado e colocado no forno para ser queimado a 780ºC. Ver

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57

Anexo I, 1.1, figura J que mostra o vidro dentro do forno antes da queima e Anexo I,

1.1, figura L que mostra o resultado da queima. Após, seguindo a numeração, as

placas já fundidas foram coladas com cola de silicone até a reconstrução da escultura

conforme Anexo I, 1.1 figuras R e S.

Em virtude da dificuldade de cortar o vidro com estas curvas sem o auxílio

de uma serra própria para esta finalidade, pois o mesmo acaba quebrando em vários

pontos, optei por fazer a base em cerâmica. Para tanto, foi utilizada a própria peça

fatiada e reconstituída como gabarito conforme mostra o Anexo I, 1.1 figura N, para que

elas ficassem com dimensões aproximadas. Utilizei o método de cobrinhas para

conformar esta peça, pois desta forma poderia ficar oca e ao mesmo tempo resistente

para suportar o peso do vidro. Entretanto, foram feitas um pouco mais grossas para

reforçar as paredes da estrutura da base da escultura. O local onde o vidro foi colado

com cola de silicone e Araldite 24 hs foi feito um pouco maior para que o vidro ficasse

dentro da peça a fim de dar mais estabilidade e segurança.

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58

2.2 CIRANDA DE LIBÉLULAS

Figura 11

Kelly Penha, Ciranda de Libélulas

A execução desta escultura foi um pouco mais trabalhosa do que as outras feitas

em argila, pois como ela possui os braços levantados foi necessário um suporte para

que eles não se deformassem e caíssem. Através de pesquisas encontrei um método

onde a estrutura da peça é feita com arame, ver Anexo I, 1.2, figura A e logo após

empapelada para evitar que trinque com o encolhimento da argila tanto na secagem

quanto na queima. Ver figuras B e C do Anexo I, 1.2.

Para esta peça utilizei arame galvanizado 2,10mm para a estrutura e 1,4 mm

para as amarras. A estrutura foi montada com o auxílio de alicate meia cana, 2 rolos de

papel higiênico, aproximadamente 5 kg de argila paper Clay na cor Creme, torno

manual e estecas e a queima foi realizada em forno a gás a 1.200 ºC. Chapas de vidro

plano 3 mm, milefiori e vidro dicróico foram utilizados para fazer as libélulas que foram

queimadas a 780 ºC em forno para vidro.

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59

A peça foi conformada através da técnica de cobrinhas. A escolha da argila foi

em virtude de suas qualidades, pois o paperclay é uma massa cerâmica formulada com

celulose o que concede maior segurança contra empenamentos e trincas. Após a

estrutura ser empapelada foi revestida com argila, observar Anexo I, 1.2, figura D.

Durante a secagem a peça sofreu uma enorme trinca ao redor da cintura Anexo I, 1.2,

figuras E e F que foi consertada com o enxerto de mais argila para cobrí-la. Acredito

que isto ocorreu por falta de papel para auxiliar no encolhimento da secagem e também

ocorreram após a queima, algumas trincas no ombro, ver Anexo I, 1.2 figura O, em um

dos braços ver Anexo I, 1.2, figura L, no peito e na cintura ver Anexo I, 1.2, figuras L e

N, o mesmo local onde já havia trincado antes da queima, porém, as trincas maiores

concentraram-se na base ver Anexo I, 1.2, figura M. Acredito que foi por causa do

arame que ficou muito próximo da argila e mais uma vez a falta de papel suficiente

ocasionou danos a peça.

Para minha experiência foi um excelente trabalho, pois tive a oportunidade de

testar uma nova técnica e efetuar a queima desta peça que foi feita em um forno a gás

que adquiri ver Anexo I, 1.2 figura H. A queima a gás é uma queima assistida, pois é

preciso ficar ao lado do forno para controlar os maçaricos e conseqüentemente a

temperatura que deve subir lentamente para evitar que a peça trinque e se parta. Todo

o processo de queima dura aproximadamente 9 horas, mas por não saber controlar

bem os registros dos maçaricos acabei levando 10 horas e meia. Apesar da trincas o

resultado foi satisfatório, pois, consegui fazer a queima toda sem quebrar a escultura.

Acredito que se não fosse o erro no cálculo do papel ela não teria trincado.

As libélulas foram cortadas em vidro, esmaltadas com diversas cores de tinta

para vidro e levadas ao forno para fundirem suas asas ao seu corpo. No Anexo I, 1.2

podem ser observadas as figuras P e Q onde é possível ver os resultados antes e pós

queima. Em seguida, foram coladas com cola Araldite e fixadas às mãos da escultura.

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60

2.3 CHEIA DE LUZ

Figura 12 Kelly Penha, Cheia de Luz

Foi muito prazeroso executar esta peça, pois pude testar a habilidade em

modelar com as cobrinhas e serviu como base para a confecção da escultura seguinte.

Como material foram utilizados 6 kg de argila com chamote na cor Tabaco, estecas,

manta de fibra cerâmica, tinta para vidro na cor Azul Bolha e vidro plano 3 mm para a

confecção de parte da barriga que foi queimada a 780ºC em forno elétrico para vidro e

a peça cerâmica foi queimada a 1.200ºC em forno elétrico próprio para esta finalidade.

A técnica de conformação utilizada foi a de cobrinhas e fusing para a parte da

barriga que é feita de vidro. Após estar pronta e um pouco mais seca, a parte da barriga

que seria substituída por vidro foi removida e posta para secar, ver Anexo I, 1.3, figuras

G e H. Após a secagem desta parte foi feito o molde com manta de fibra cerâmica. As

partes foram unidas com cola Araldite 24hs.

No que se refere ao resultado final da confecção do fusing, a manta não

reproduziu fielmente o formato desejado e após três tentativas finalmente consegui uma

peça que se encaixasse melhor sem muito defeito. Apesar de ter ficado um pouco

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menor em algumas partes, a cola resolveu bem o problema, pois tem um aspecto vítreo

o que escondeu satisfatoriamente o defeito e o deixou quase imperceptível.

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62

2.4 DOIS EM UM

Figura 13 Kelly Penha, Dois em Um

Para a confecção desta peça foram utilizados praticamente os mesmos materiais

e técnicas da escultura Cheia de Luz. Difere apenas na argila utilizada que é importada

Grês com Pintas Pretas e na técnica fusing que não utiliza a manta e somente vidro

laminado 6mm e tinta para vidro na cor Âmbar Topázio.

A experiência de usar uma argila importada, que é bem mais cara que a

nacional, praticamente o dobro do preço, foi muito gratificante. A diferença de preço

realmente pode ser compensada com o resultado final do trabalho e principalmente na

hora de execução do mesmo. É sem dúvida muito melhor para manusear e tem

consistência quase de massinha de modelar e não gruda tanto nas mãos. Outra

vantagem sobre as nacionais é que ela parece ser mais resistente para trabalhos onde

é necessário apoio. As peças, Cheia de Luz e Ciranda de Libélulas precisaram de

apoio em alguns pontos para que não quebrassem enquanto a argila ainda estava

molhada o suficiente para modelagem, já esta peça, apesar de ter um ponto de tensão,

que é onde se divide, não precisou de apoio e nem mesmo rachou.

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63

2.5 TRANSFORMAÇÃO

Figura 14 Kelly Penha, Transformação

Igualmente a peça Raiz, esta é inteiramente em vidro e possui somente a base

em cerâmica. Como materiais foram utilizados lâminas de vidro 4 mm tintas para vidro

nas cores Verde Turquesa, Azul Bolha, Verde Jade Claro, Verde Metalizado, Zarcon e

Âmbar Claro Transparente, manta de fibra cerâmica e silicato de sódio para enrijecer a

manta. A argila utilizada foi a importada Grês com Pintas Pretas, forno elétrico para

cerâmica, forno elétrico para vidro e cola de silicone e araldite 24 hs.

Como base para o molde foi utilizado uma escultura feita com a técnica de fatiar

o isopor e remontá-la sobre outro material. Neste caso foi a madeira. Esta peça faz

parte dos primeiros estudos para este trabalho. Ela iria ser recriada em argila e

receberia algum detalhe em vidro com a técnica fusing, mas no decorrer do

desenvolvimento deste projeto resolvi testar o uso da manta com uma peça maior e

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64

mais detalhada do que eu já havia feito antes. Fiquei feliz com o resultado. Tanto no

corte do vidro quanto na queima correu tudo conforme o planejado.

A manta de fibra cerâmica foi molhada com silicato de sódio para que ficasse

maleável e também enrijecesse capturando a forma desejada. Ela foi sobreposta sobre

a escultura conforme figura A do anexo I, 1.5. Após secar, o que demora

aproximadamente 24 horas, ela foi retirada, ver Anexo I, 1.5, figura B. O vidro foi

cortado para evitar que houvessem deformações indesejadas, ver Anexo I, 1.5 figura D

e em seguida esmaltada como mostra figura E no Anexo I, 1.5, e levada ao forno para

queimar sobre a manta previamente protegida por caulim que funciona como

desmoldante, o que pode ser observado nas figuras G e H do Anexo I, 1.5, que

mostram respectivamente os resultados antes e depois da queima. Os mesmos

processos foram repetidos para a confecção da outra parte desta escultura.

As duas partes foram fixadas à base com cola de silicone e Araldite 24 hs e uma

a outra para oferecer maior estabilidade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através deste relatório foi possível um aprofundamento nos aspectos

históricos e o conhecimento dos aspectos físico químico dos materiais utilizados.

Constatou-se a importância do fogo na consolidação das formas em alguns

ramos das artes e principalmente em nossas vidas.

Propiciou a vivência da produção artística do começo ao fim e reflexões

sobre a arte, sendo ela, não apenas um material para contemplação, mas

também uma semente para a reflexão, o que originou cinco esculturas

denominadas: Raiz, Ciranda de Libélulas, Cheia de Luz, Dois em Um e

Transformação.

Constataram-se as dificuldades da produção artística quando se busca

inovações e integrações de materiais com certa incompatibilidade em sua

composição. E também foi possível perceber a dificuldade de encontrar

materiais para referência bibliográfica traduzidos para o português quando se

busca algo relativamente recente e inovador.

Apesar do objetivo central da proposta ter sido alcançado, promover a

integração do vidro com a cerâmica e vice-versa, acredita-se que ainda serão

necessários mais estudos e novas análises e experiências para que o resultado

final seja aprimorado e o objetivo seja atingido de forma plena.

Este resultado já era esperado, pois é necessário levar em consideração a

falta de experiência e maturidade em relação ao vidro e a cerâmica que são

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materiais que parecem ter vida própria. Por mais que se aprenda sempre haverá

algo a desvendar.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARDI, P.M. Arte da Cerâmica no Brasil. São Paulo: Banco Sudameris Brasil S.A. Impresso no Brasil, 1980.

BEVERIDGE, Philippa. O Vidro. Barcelona: Espanha. Editorial Estampa, 2004

GIARDULLO, Caio; GIARDULLO, Paschoal; SANTOS, Urames Pires . O Nosso Livro de Cerâmica. São Paulo, 1ª edição, 2005.

HARRY, David. Cerâmica Creativa. Barcelona: Espanha. Ed. Ceac, 1978.

LUNDSTROM, Boyce. Kiln Firing Glass. Camp Colton: Vitreous Publications, 1983 – Book One

MAIA, Samuel Berg. O Vidro e Sua Fabricação. Rio de Janeiro: Interciência, 2003.

MARIACHER, Giovane. O Vidro. Trad. Jamir Martins. São Paulo: Martins Fontes, 1992 (Os estilos na Arte).

MASSARA, Filippo. Técnica da Cerâmica ao alcance de todos. Barcelona: Espanha Ed. D-Vecche, S.A., 1980.

NELSON, Glenn C. Cerâmica Manual para el alfarero. México: Ed. Cia. Ed. Continental, 2ª edição, março de 1982.

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68

PENIDO, Eliana; COSTA, Silvia de Souza Oficinas: Cerâmica. Rio de Janeiro: Ed. Senac Nacional, 1999

SCHMID, Edward T. Advanced Glassworking Tecniques. Bellingham, WA: Glass Moutain Press, 1997.

WALKER, Brad. Contemporary Warm Glass. Clemons / NC: Four Corners International, Inc., 3ª edição, 2004

WOODY, Elsbeth S. Cerâmica a Mano. Barcelona: Espanha. Ediciones Ceac, 1981.

Wikipédia, a enciclopédia livre. Texto disponível em Rede

< http://pt.wikipedia.org/wiki/Vidro > acessado em novembro de 2008.

Wikipédia, a enciclopédia livre. Texto disponível em Rede

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Fogo> acessado em agosto 2005. Disponível em Rede < http://elissandre.centerblog.net/2407656-Lalique--Pendentif--Femme-libellule> acessado em novembro de 2008. Disponível em Rede < http://servat.rene.free.fr/lalique.htm> acessado em novembro de 2008.

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ANEXOS

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ANEXO I

1. MÉTODOS CONSTRUTIVOS 1.1 RAÍZ

Figura A Figura B Figura C Figura D Figura E

Figura F Figura G Figura H Figura I

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Figura J Figura K Figura L

Figura M Figura N

Figura O Figura P

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Figura Q

Figura R Figura S Figura T

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1.2 CIRANDA DE LIBÉLULAS

Figura A Figura B Figura C Figura D

Figura E Figura F Figura G

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Figura H Figura I Figura J

Figura K Figura L Figura M

Figura N Figura O

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Figura P Figura Q

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1.3 CHEIA DE LUZ

Figura A Figura B Figura C Figura D

Figura E Figura F Figura G Figura H

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Figura I Figura J Figura K

Figura L Figura M

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1.4 DOIS EM UM

Figura A Figura B

Figura C Figura D Figura E

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1.5 TRANSFORMAÇÃO

Figura A Figura B

Figura C

Figura D Figura E

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Figura F

Figura G Figura H

Figura I Figura J Figura L Figura M

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ANEXO II

1. ESBOÇOS

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2. ESTUDOS PRÉVIOS

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