Penfigo foliaceo em cão

9
1 TRATAMENTO HOMEOPÁTICO DE PÊNFIGO FOLIÁCEO EM CÃO DOMÉSTICO HOMEOPATHIC TREATMENT OF PEMPHIGUS FOLIACEUS IN DOMESTIC DOG Maria Leonora Veras de Mello - MV, MSc Ruth Pereira Dias Saraiva - MV Denise de Mello Bobany - MV RESUMO Pênfigo é uma doença dermatológica autoimune rara, crônica e incurável, mas controlável. O objetivo deste trabalho foi relatar o caso de um canino doméstico no qual, através de sintomas e biopsia diagnosticou-se pênfigo foliáceo. O tratamento convencional a base de corticosteróides e antibióticos não resultou em melhora da enfermidade, mas suscitou efeitos colaterais e queda do estado geral, sendo necessária suspensão do mesmo. Foi então introduzido um novo tratamento, através de um complexo homeopático de medicamentos e um nosódio, junto com baixa dosagem de metilprednisolona, tendo então sucesso. O tratamento iniciou-se no ano de dois mil e nove e com ele houve melhora da condição clínica, além de remissão sintomática do pênfigo com persistência desde então do bem estar e qualidade de vida. Palavras-chave: Auto-imunidade. Canis familiaris. Terapia alternativa. ABSTRACT Pemphigus is an autoimmune skin disease rare, chronic and incurable, but manageable. The objective of this study was to report the case of a domestic dog in which, through symptoms and biopsy was diagnosed with pemphigus foliaceus. Conventional treatment

description

Tratamentom de pênfigo foliáceo em cão com Homeopatia como TerapiaComplementar

Transcript of Penfigo foliaceo em cão

Page 1: Penfigo foliaceo em cão

1

TRATAMENTO HOMEOPÁTICO DE PÊNFIGO FOLIÁCEO EM CÃO DOMÉSTICO

HOMEOPATHIC TREATMENT OF PEMPHIGUS FOLIACEUS IN DOMESTIC DOG

Maria Leonora Veras de Mello - MV, MSc

Ruth Pereira Dias Saraiva - MV

Denise de Mello Bobany - MV

RESUMO

Pênfigo é uma doença dermatológica autoimune rara, crônica e incurável, mas

controlável. O objetivo deste trabalho foi relatar o caso de um canino doméstico no qual,

através de sintomas e biopsia diagnosticou-se pênfigo foliáceo. O tratamento

convencional a base de corticosteróides e antibióticos não resultou em melhora da

enfermidade, mas suscitou efeitos colaterais e queda do estado geral, sendo necessária

suspensão do mesmo. Foi então introduzido um novo tratamento, através de um

complexo homeopático de medicamentos e um nosódio, junto com baixa dosagem de

metilprednisolona, tendo então sucesso. O tratamento iniciou-se no ano de dois mil e

nove e com ele houve melhora da condição clínica, além de remissão sintomática do

pênfigo com persistência desde então do bem estar e qualidade de vida.

Palavras-chave: Auto-imunidade. Canis familiaris. Terapia alternativa.

ABSTRACT

Pemphigus is an autoimmune skin disease rare, chronic and incurable, but manageable.

The objective of this study was to report the case of a domestic dog in which, through

symptoms and biopsy was diagnosed with pemphigus foliaceus. Conventional treatment

Page 2: Penfigo foliaceo em cão

2

based antibiotics an corticosteroids did not result in improvement of the disease, but raised

side effects and poor general condition, necessitating discontinuation of the same. It was

then introduced a new treatment, through a homeophatic complex drug and a nosode,

along with low-dose methylprednisolone, and then there was success. Treatment began in

the year two thousand and nine and he was improvement in clinical condition, with

pemphigo’s symptomatic remission and since then persistence the well-being and quality

of life.

Keywords: Autoimmunity. Canis familiaris. Alternative therapy.

INTRODUÇÃO

O pênfigo ou penfigóide, embora seja o tipo mais comum de dermatopatia

autoimune em cães e gatos, faz parte de um grupo raro de doenças, de origem

geralmente idiopática, caracterizada pela produção de auto-anticorpos (Barbosa et al.) (1).

Em estudo feito por Machado et al. (2) no Departamento de Patologia da Clínica-escola

de Botucatú – SP no período de 1977 a 2007, de 1599 diagnósticos histopatológicos de

dermatopatias veterinárias, apenas 1,2% foram confirmadas para pênfigo foliáceo.

As lesões primárias são pústulas superficiais frágeis que se rompem facilmente em

erosões superficiais, com crostas, escamas, colaretes epidérmicos e alopecia. São

localizadas mais comumente na cabeça, no plano nasal, pavilhão auricular e coxim

plantar se iniciando, frequentemente, com despigmentação na ponte nasal, ao redor dos

olhos e no pavilhão auricular com prurido variável (Mendleau; Hnilica) (3).

De acordo com Mendleau e Hnilica (3) e Rhodes (4), o tratamento do pênfigo

canino pode ser difícil, necessitando de grandes doses de corticosteróides sistêmicos,

como prednisona, metilprednisolona, triancinolona ou dexametasona, podendo ser

acrescentados medicamentos imunossupressivos não-esteroides no tratamento do

Pênfigo foliáceo canino quando os corticosteróides não apresentam a resposta

terapêutica esperada. Ainda segundo os autores, podem ser administrados juntos, para

Page 3: Penfigo foliaceo em cão

3

evitar os efeitos colaterais dos primeiros quando em altas dosagens, embora eles próprios

também acarretem efeitos deletérios, além de aumentar bastante o custo do tratamento.

A homeopatia não inviabiliza a alopatia, pelo contrário, as duas terapias andam

juntas e em harmonia (Signore) (5).

O objetivo deste artigo é evidenciar as potenciais vantagens de incorporar a

medicação homeopática no tratamento dermatológico convencional, por ter custo menor,

ser de fácil administração, não apresentar efeitos colaterais quando há correta prescrição

e, sobretudo por possibilitar a redução dos esteróides e das drogas imunosupressoras.

RELATO DE CASO E DISCUSSÃO

Em março de 2009 foi atendido na Clínica Escola de Medicina Veterinária do

UNIFESO, situada Teresópolis, Estado do Rio de Janeiro, um canino da raça Dachshund

de nome Lion com 5 anos, macho, castrado, pesando 6,500 kg . De acordo com as

informações do proprietário, o animal era vacinado, vermifugado, vivia solto em quintal

com jardim e era alimentado com ração comercial. O motivo da consulta foi o fato de o

animal vir apresentando há poucos dias, lesões descamativas no focinho (fig. 1)

semelhantes a queimadura de sol. Nessa ocasião foi indicado o uso do protetor solar.

Figura 1 - Março/2009. Primeiras lesões

descamativas na região do focinho.

Page 4: Penfigo foliaceo em cão

4

Passados três meses, em julho do mesmo ano, as lesões alastraram-se para as

pálpebras, acompanhadas de muita coceira que levava ao sangramento. O animal foi

levado para uma numa nova consulta na Clinica Escola no dia 28 de julho, ocasião em

que se levantou a suspeita de alergia alimentar. Receitou-se hydroxizine 12,5 mg de

8h/8h por 12 dias e ração hipoalergênica e tratamento com corticosteróides tópicos. No

entanto, segundo seu proprietário, o animal só dormia e não melhorava, passando a

apresentar alopecia corporal.

No dia 01/08/09 o animal apresentou febre persistente e foi, novamente, conduzido

a uma consulta na Clinica Escola quando, além da febre de 41ºC, exibia feridas nas

orelhas e otite bilateral, pústulas pelo corpo todo, emagrecimento e o prurido e a

descamação aumentaram. Foi, então, receitada metilprednisolona 5mg ao dia.

Uma semana depois, o quadro se agravou e durante a consulta foi verificado que o

animal passou a apresentar hiperceratose nos coxins, as lesões no nariz e ao redor dos

olhos aumentaram em número e tamanho, associado ao aumento da alopecia (fig. 2) e

surgiram pústulas pelo corpo. Por estar prostrado e desidratado foi submetido a

soroterapia endovenosa com Ringer lactato e, para casa, foram receitados cefalexina

75mg duas vezes ao dia, metilprednisolona oral 5mg duas vezes ao dia e banhos com

cetoconazol tópico. O veterinário, nesse momento, suspeitava de Lúpus ou hipotiroidismo.

Figura 2 – Agosto/2009. Corpo do animal exibindo agravamento dos

sintomas evidenciando áreas de alopecia e presença de crostas.

Page 5: Penfigo foliaceo em cão

5

No dia 18/08/09 o animal apresentou melhora, as lesões secaram e ele não

apresentava mais a febre. Os banhos com o cetoconazol foram mantidos e o veterinário

descontinuou o corticóide, mantendo a cefalexina.

Uma semana após esse episódio de melhora o cão piorou drasticamente,

apresentando febre acima de 41,5ºC, crostas abundantes na pele, prurido severo levando

ao sangramento por automutilação, pus e odor fétido nasal, além de piodermite

generalizada. Diante desse quadro, mudou-se o antibiótico de cefalexina para doxiciclina

e foi reentroduzida a metilprednisolona contínuamente.

No dia 04 de setembro foram colhidos pequenos fragmentos de duas lesões

intactas, uma na cabeça e outra no dorso do animal, conforme recomendado por Scott,

Miller et al. (6) e enviados para exame histopatológico.

No dia 30 desse mesmo mês obteve-se o laudo de dermatite caraterizada por

pustulose folicular intensa com acantose focal compatível com pênfigo foliáceo folicular

(fig. 3 A e B).

Figura 3 – (A) Microfotografia da pele mostrando a acantólise. (B) Microfotografia da pele mostrando células

acantolíticas.

Page 6: Penfigo foliaceo em cão

6

* Farmacopeia Homeopática Brasileira. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/hotsite/farmacopeiabrasileira/conteudo/3a_edicao.pdf

Diante desse resultado, foi estipulado o tratamento com crescentes doses de

metilprednisolona até 40 mg ao dia, como preconizado por Medleau e Hnilica (3); Rhodes

(4); Stone (7), porém com resultados insatisfatórios após um mês e meio de tratamento

traduzidos, no decorrer do tratamento sempre acompanhado de perto pelo médico

veterinário, por aumento do apetite e aumento de peso (10,950 kg) , acúmulo de líquido

corporal e hepatomegalia, embora Barbosa et al. (1) considerem que, quando

diagnosticado precocemente e com a instituição de tratamento adequado seja possível

obter o controle desejado.

Foi realizada a tentativa de redução do corticóide lentamente após um mês e meio

de tratamento, porém sem sucesso, pois as lesões reapareciam de forma rápida e

agressiva.

Optou-se nesta ocasião, pelo tratamento homeopático, segundo informações de

Signore (5) e Ribas (8), concomitante à redução da corticoterapia, sendo utilizado,

primeiramente, um composto associado com Hura brasiliensis 6CH, Kali sulphuricum

6CH, Mezereum 6CH, Mulungu 12DH, Oleander 5CH, Rhus tox 3 CH, Ranunculus

Sceleratus 3CH - em tabletes de lactose, manipulados segundo a Farmacopéia

Homeopática Brasileira*, administrados na dose de 2 tabletes três vezes ao dia.

Para complementar o tratamento foi prescrito Bacillinum 30CH, um nosódio de

secreções com o bacilo tuberculoso, em quantidades infinitesimais, acima do número de

avogrado, para uma ação imunomoduladora, na forma de doses únicas em embalagens

separadas do produto com conteúdo em pó. Administrou-se o conteúdo de um papel por

semana durante oito semanas.

Após um mês de uso da homeopatia, iniciou-se a redução gradual e lenta do

corticóide, dessa vez, com sucesso (fig. 4). A partir da introdução da homeopatia se

observou uma tendência à homeostasia, melhorando os sintomas e incrementando a

ação do corticóide, mas permitindo a diminuição de sua dose e de seus efeitos colaterais,

conforme Darden (9).

Page 7: Penfigo foliaceo em cão

7

É importante que se compreenda que a troca ou introdução concomitantemente de

um tratamento homeopático na terapia alopática não é apenas uma opção terapêutica,

mas uma mudança de paradigmas fundamentais. Aqui não se está discutindo qual terapia

é melhor já que toda e qualquer iniciativa para conduzir o paciente à saúde, e a uma

existência livre de dores, onde o animal possa viver de acordo com sua natureza e com

bem estar, é a busca que um médico veterinário sempre está a almejar. Filosoficamente a

alopatia trata a doença, e a homeopatia, o doente. A homeopatia desperta os

mecanismos de defesa do paciente, funcionando como um imunomodulador,

reconduzindo-o a homeostasia de acordo com Egito (10) e Mello (11).

Em dezembro de 2011 o animal apresentava-se clinicamente saudável. Hoje,

janeiro de 2014, o animal continua em uso continuo da homeopatia, com apenas uma

administração diária de dois tabletes do mesmo composto original, e pulsoterapia com

metilprednisolona 7,5 mg 3 vezes por semana, junto com a recomendação de não ficar

exposto ao sol, mantendo bom estado geral, e sem a sintomatologia da enfermidade nem

efeitos colaterais dos corticosteroides (fig.5).

Figura 4 - aparência do animal Lion, um mês após

iniciado o tratamento homeopático.

Page 8: Penfigo foliaceo em cão

8

Clinicamente o paciente vem levando uma vida normal e saudável, a partir da

utilização dos medicamentos homeopáticos dentro de escolhas que se coadunam com o

pensamento do Dr. Hahnemann, isto é ainda é portador de uma doença crônica, mas

alcançou a homeostasia suficiente para uma vida normal (Hahnemann) (12).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tratamento tradicional utilizado no presente caso, mantido dentro dos protocolos

apresentou uma resposta terapêutica insuficiente, seguida de muitos e deletérios efeitos

colaterais. A introdução da terapêutica homeopática melhorou o estado geral do animal e

permitiu a diminuição das doses de glicocorticóides, minimizando seus efeitos colaterais e

acrescentando qualidade de vida ao paciente.

Embora ainda cause impacto um médico veterinário utilizar terapias vitalistas em

sua vida profissional, percebe-se que os animais são os melhores álibis para a ciência e

arte da Homeopatia, pois eles se curam sem qualquer possibilidade de indução

psicológica ou fingimento. Embora ainda sem comprovação definitiva de terapêutica

homeopática eficaz para o pênfigo foliáceo, o efeito benéfico, no caso relatado foi real,

perceptivo nos exames laboratoriais e de imagem e, sobretudo, na sensação de bem

estar geral manifestado pelo animal.

Devido a escassez de literatura nacional e internacional sobre o assunto e a

importância da doença no dia a dia da clínica veterinária, sugere-se que mais estudos

científicos devam ser propostos.

Figura 5 - Lion completamente recuperado em dezembro de 2011.

Page 9: Penfigo foliaceo em cão

9

Esse trabalho foi protocolado pela Comissão de Ética do UNIFESO-RJ sob o

número 284/2010 em 05/03/2010.

REFERÊNCIAS

1 BARBOSA MVF, FUKAHORI FLP, DIAS MBMC, LIMA ER. Patofisiologia do Pênfigo Foliáceo em cães: revisão de literatura.

Medicina Veterinária 2012; 6(3):26-31.

2 MACHADO LHA, FABRIS VE, TORRES NETO R, RODRIGUES JC, OLIVEIRA FC. Histopathology in veterinary dermatology:

Historical records of thirty years of diagnosis at the Department of Pathology of Botucatu Medical School, UNESP (1977-2007). Vet. e

Zootec. 2012;19(2):222-235.

3 MENDLEAU L, HNILICA KA. Dermatologia de pequenos animais: atlas colorido e guia terapêutico. 2ª ed. São Paulo – SP: Editora

Roca; 2009.

4 RHODES KH. Doenças Imunomediadas Sistêmicas. In: BICHARD SJ, SHERDING RG. Manual Saunders: Clínica de Pequenos

Animais. 3ª ed. São Paulo – SP: Roca; 2008. p. 501- 82.

5 SIGNORE RJ. Classical Homeopathy Medicine and the treatment of eczema. Cosmetic Dermatology. 2004; 24:420-425.

6 SCOOT DW, MILLER WH, GRIFFIN CE. Dermatologia de Pequenos Animais. Rio de Janeiro – RJ: Interlivros; 1996.

7 STONE M. Dermatoses Imunomediadas. In: BICHARD SJ, SHERDING RG. Manual Saunders: Clínica de Pequenos Animais. 3ª ed.

São Paulo – SP: Roca; 2008. p. 270 – 71.

8 RIBAS RP. Prodígios da Homeopatia. 3ª ed. Niterói, RJ: SEPE; 2001.

9 DARDEN H. Remédios homeopáticos para Pênfigo. Disponível em: http://w w w .ehow .com/w ay_5541273_homeopathic-remedies-

pemphigus.html [2012 fev. 6].

10 EGITO JL. Homeopatia - Introdução ao Estudo da Teoria Miasmática. 3ª ed. São Paulo: Editora Robe;1999.

11 MELLO MLV. Homeopatia Veterinária: Homeopatia através do tempo. In: ALDO FD. Fundamentos da Homeopatia: Princípios da

Prática Homeopática. Rio de Janeiro: Editora Cultura Médica; 2001.p.103-07.

12 HAHNEMANN S. Organon de la Medicina. Buenos Aires: Editorial Albatroz; 1981.