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13º ENCONTRO NACIONAL DE PRESBÍTEROS 03 a 09 de fevereiro de 2010, Itaici, Indaiatuba - SP ENPs, 25 anos celebrando e fortalecendo a comunhão presbiteral “Eu me consagro por eles” (Jo 17,19a) Prot. 15/2010 13º ENP INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ Tema prioritário da 47 a . Assembléia Geral da CNBB (abril 2009) e da III Semana Brasileira de Catequese (outubro 2010) Pe. Luiz Alves de Lima, sdb. I – INTRODUÇÃO 1. Descristianização e missionariedade O tema da Iniciação à Vida Cristã se coloca dentro da preocupação missionária que perspassa hoje toda a Igreja, preocupada com a descristianização galopante tanto em paises de antiga (Europa) como de nova cristandade (Brasil). Não é um tema novo, mas desdobramento do Diretório Nacional de Catequese (2005), de Aparecida (2007: uma Igreja em estado de missão), da Missão Continental (2008)... e tantos apelos atuais da Igreja. Por Iniciação Cristã se entende o processo pelo qual alguém é incorporado ao mistério de Cristo Jesus; não se reduz à catequese, mas inclui sobretudo a ação celebrativo-litúrgica. A catequese é um elemento, o mais longo e importante, do complexo processo pelo qual alguém é iniciado à fé cristã. Teologicamente falando a verdadeira iniciação se dá na celebração dos sacramentos do Batismo, Eucaristia e Crisma, chamados justamente, a partir do século XIX, de Sacramentos da Iniciação. Trata-se de uma iniciação que poderíamos chamar de sacramental. A estrutura catequética está em função dessa iniciação sacramental e vital. De fato, pela doutrina do “ex opere operato” a Igreja professa que todo batizado é verdadeiramente incorporado em Cristo Jesus e começa a fazer parte de seu Corpo Místico, do Povo de Deus, da Igreja. No entanto, a expressão iniciação cristã passou a significar todo o processo pós-batismal percorrido para se chegar a esta profunda 1

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Apresentao do texto sobre a Iniciao vida Crist

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13 ENCONTRO NACIONAL DE PRESBTEROS

03 a 09 de fevereiro de 2010, Itaici, Indaiatuba - SP

ENPs, 25 anos celebrando e fortalecendo a comunho presbiteral

Eu me consagro por eles (Jo 17,19a)Prot. 15/2010

13 ENP

INICIAO VIDA CRIST

Tema prioritrio da 47a. Assemblia Geral da CNBB (abril 2009)

e da III Semana Brasileira de Catequese (outubro 2010)Pe. Luiz Alves de Lima, sdb.

I INTRODUO

1. Descristianizao e missionariedade

O tema da Iniciao Vida Crist se coloca dentro da preocupao missionria que perspassa hoje toda a Igreja, preocupada com a descristianizao galopante tanto em paises de antiga (Europa) como de nova cristandade (Brasil). No um tema novo, mas desdobramento do Diretrio Nacional de Catequese (2005), de Aparecida (2007: uma Igreja em estado de misso), da Misso Continental (2008)... e tantos apelos atuais da Igreja.

Por Iniciao Crist se entende o processo pelo qual algum incorporado ao mistrio de Cristo Jesus; no se reduz catequese, mas inclui sobretudo a ao celebrativo-litrgica. A catequese um elemento, o mais longo e importante, do complexo processo pelo qual algum iniciado f crist. Teologicamente falando a verdadeira iniciao se d na celebrao dos sacramentos do Batismo, Eucaristia e Crisma, chamados justamente, a partir do sculo XIX, de Sacramentos da Iniciao. Trata-se de uma iniciao que poderamos chamar de sacramental. A estrutura catequtica est em funo dessa iniciao sacramental e vital.

De fato, pela doutrina do ex opere operato a Igreja professa que todo batizado verdadeiramente incorporado em Cristo Jesus e comea a fazer parte de seu Corpo Mstico, do Povo de Deus, da Igreja. No entanto, a expresso iniciao crist passou a significar todo o processo ps-batismal percorrido para se chegar a esta profunda realidade da f do ponto de vista experiencial e existencial. a iniciao que, uma vez realizada sacramentalmente, faz com que a pessoa se conscientize, assuma e viva plenamente essa maravilhosa realidade da vida divina comunicada pelo mergulho (batismo) em Cristo Jesus.2. Retorno inspirao catecumenal

O complexo processo que, desde o sculo II, prevaleceu na Igreja para iniciar os novos membros nos mistrios da f, recebeu o nome de Catecumenato: era um conjunto de pregao (primeiro anncio), prticas litrgico-rituais, ensino, exerccio de vida crist e acompanhamento pessoal que levavam verdadeira converso ao Evangelho e incorporao na Igreja. Com a chegada da Cristandade (sc. V, VI...), desapareceu o complexo processo do catecumenato, ficando de p, at hoje, o momento do ensino-instruo com o nome de catequese, e em geral dirigida crianas. De fato, a comunidade crist e a prpria sociedade (ou civilizao crist) exerciam o papel de catecumenato social. A primeira experincia fundante da f vinha da prpria famlia e at da sociedade crist, de um modo geral. A preocupao ficava reduzida instruo doutrinal: e essa foi a herana que recebemos da cristandade.

Hoje, com raras excees, nosso povo no possui uma experincia de f transmitida pela famlia, na convivncia do dia a dia, e muito menos pela sociedade. No vivemos mais a cristandade. necessrio um trabalho missionrio, de primeiro anncio, de evangelizao no sentido mais estrito da palavra: anunciar Jesus Cristo. A catequese, tal qual a recebemos e conhecemos como atividade de ensino e transmisso da f, por mais que tenha sido renovada, no consegue realizar sozinha a iniciao crist. Os frutos e as estatsticas a esto... e continuamos a batizar, crismar, distribuir a Eucaristia abundantemente...

Iniciar introduzir, mergulhar... Batismo mergulho e participao no mistrio de Cristo morto e ressuscitado! Batizamos sim... com muito esforo de renovao da Pastoral do Batismo e dos outros sacramentos da iniciao: Eucarstica e Crisma!... Mas, podemos perguntar: essa gigantesca ao pastoral-litrgico-catequtica, esses gestos sacramentais piedosamente celebrados e recebidos so realmente a transmisso e celebrao de um mergulho vital no mistrio de Jesus, de um encontro e compromisso pessoal com Ele e sua Igreja..?. Ou continuamos a insistir num mal entendido ex opere operato que permanece gerando uma multido de batizados no evangelizados? Ningum duvida que o batismo, celebrado e recebido com f, uma real iniciao ontolgica e sacramental ao Mistrio de Cristo. Mas, do ponto de vista existencial e experiencial nada acontecer se no houver para esses batizados um autntico processo de Iniciao Vida Crist.

Aparecida, com muita audcia, nos convida a abandonar as ultrapassadas estruturas que j no favoream a transmisso da f e a uma converso pastoral e renovao missionria... (no. 375; cf 172-173; 11, 450...) . Ora, assumir com seriedade, eficincia e eficcia o complexo e difcil processo da Iniciao Vida Crist um esforo para colocar em andamento as arrojadas, corajosas e intrpidas propostas do Diretrio Nacional de Catequese, de Aparecida, da Misso Continental... e tantos outros apelos que nos provm de toda parte. Estamos diante de uma mudana de poca: no se trata s de aperfeioar a catequese de adultos, jovens e crianas... mas de questionar todo o processo de transmisso e educao na f que subsistem na Igreja nestea poca de grandes desafios, e ao mesmo tempo de grandes oportunidades. A oportunidade justamente colocar em prtica o que desde o Conclio, mas sobretudo nos ltimos anos, se vem falando sobre o retorno ao catecumenato e dimenso catecumenal da catequese.

O documento da V Conferncia faz uma clara distino, mas tambm uma profunda relao entre a Iniciao Vida Crist, como primeira catequese bsica na forma de iniciao crist e a conseqente formao permanente. Assim se expressa: Assumir esta iniciao crist exige no s uma renovao de modalidade catequtica da parquia. Propomos que o processo catequtico de formao adotado pela Igreja para a iniciao crist seja assumido em todo o Continente como a maneira ordinria e indispensvel de introduo na vida crist e como a catequese bsica e fundamental. Depois, vir a catequese permanente que continua o processo de amadurecimento da f.... (Ap 294) .

Isso significa que, aquilo que hoje tradicionalmente denominamos catequese, deve ser conduzido conforme o processo de iniciao, que muito mais exigente e comprometedor, e no apenas prepare para os sacramentos, que infelizmente, em nossa realidade, tornam-se freqentemente sacramentos de finalizao ou seja, so os ltimos contatos que muitas vezes, jovens e crianas tm com a Igreja (a crisma muitas vezes se degenera em sacramento do adeus!).

Estamos acostumados a falar de iniciao ou do RICA (livro litrgico que traa o percurso para se chegar ao Batismo) somente tratando-se de adultos no batizados. Hoje j no assim. O exigente e muito eficaz processo inicitico hoje proposto tambm para batizados (ou seja, j iniciados sacramentalmente, mas no experiencialmente), e mesmo para quem j fez a Primeira Comunho Eucarstica e foram Confirmados, mas no foram suficientemente evangelizados e iniciados na f.

3. Sem deixar a dimenso social, aprofundar a dimenso mstica

Podemos tambm refletir que, logo aps o Conclio, a Igreja de um modo geral, e sobretudo no Brasil, foi guiada e impulsionada por todos os documentos conciliares, mas sobretudo pela grande documento Gaudium et Spes: dilogo com o mundo, vivncia do Evangelho a servio da transformao da humanidade, de um modo especial em favor dos pobres, com suas conseqncias scio-polticas... da nasceu a Teologia da Libertao, as prticas de uma pastoral transformadora e voltada diretamente para a situao concreta sofrida e desumana da maioria de nossos fiis, para o engajamento scio-poltico em nome do Evangelho... Nossa Conferncia Episcopal ficou beneficamente marcada por essas grandes intuies do Conclio, sem deixar, naturalmente, tantas outras reformas conciliares!

No contexto do Conclio o documento Ad Gentes, como o prprio nome indica, era pensado para as misses, para povos no cristos que no conheciam a luz do Evangelho... Sem perder essa caracterstica de anncio do Evangelho para povos com nenhuma tradio crist (misso nas fronteiras), a Igreja hoje percebe que precisa anunciar o Evangelho de um modo explcito e renovador, para povos de antiga cristandade... Aqui no Brasil, embora no sejamos de to antiga cristandade, tomamos conscincia tambm de que precisamos nos transformar em terra de misso; precisamos ser Igreja missionria, no sentido mais prprio e exato da palavra. Disso nos fala o projeto da Misso Continental e todo o Documento de Aparecida.. Nesse contexto, sem deixar de lado as conquistas luz da Gaudium et Spes, precisamos retornar ao documento que ficou um pouco esquecido no ps-conclio, o Ad Gentes, pois, pensvamos, eram orientaes mais para pases de misso... Misso aqui nos grandes e pequenos centros urbanos, misso para grande maioria de nossa populao que cada vez mais se afasta do Evangelho, deixando-se influenciar por uma sociedade longe de Deus, consumista, materialista... Ora, dentre os documentos conciliares, Ad Gentes, juntamente com outros, foi o que pediu a restaurao do Catecumenato como metodologia prpria para conduzir, aqueles que optam pelo Evangelho, a uma verdadeira iniciao vida crist. Portanto, misso, primeiro anncio, catecumenato, Iniciao Vida Crist, so conceitos e prticas que comeam a fazer parte de nosso dia a dia...

Estamos diante de uma verdadeira mudana de poca, diante dos desafios de um novo paradigma; no se trata, como d a entender o recente Diretrio Nacional de Catequese, de fazer algumas alteraes, renovar superficialmente nossas tradicionais prticas catequticas, fazer-lhes uma maquiagem... trata-se de mudanas radicais. Precisamos mexer na prpria estrutura da tradicional preparao para os sacramentos e encarar os desafios de um novo modelo evangelizador-catequtico, enfim, um novo paradigma... sem isso, no haver converso pastoral, nunca haveremos de abandonar as ultrapassadas estruturas que j no favoream a transmisso da f. (DAp 375)

nesse contexto que a Igreja se debrua hoje sobre a Iniciao Vida Crist. No se trata s de iniciao crist, como tradicionalmente se diz, mas sim de iniciao vida crist, expresso que procura traduzir a comunicao de uma f que no se reduz intimidade com Jesus Cristo, mas que tenha reflexos e influncias vitais na prpria existncia, levando participao da comunidade, que no seu conjunto, deve dar Testemunho do Evangelho.

4. O Estudo da CNBB 97: Iniciao Vida Crist

O esquema fundamental do Estudo da CNBB 97, Iniciao Vida Crist, fruto da ltima Assemblia e lanado durante a III SBC, entre tantas possibilidades, tomou como ponto de partida o insistente pedido de Aparecida: Impe-se a tarefa irrenuncivel de oferecer uma modalidade [operativa!] de iniciao crist, que alm de marcar o que, d tambm elementos para o quem, o como e o onde se realiza. Dessa forma, assumiremos o desafio de uma nova evangelizao, qual temos sido reiteradamente convocados (n 287). Acrescentando-se mais um elementos (por qu?), o texto ficou estruturado com esses 5 captulos:

I Iniciao vida crist: por qu? - MotivaesII Iniciao vida crist: o que ? Natureza

III Iniciao vida crist: como? - MetodologiaIV Iniciao vida crist: para quem? Destinatrios - Interlocutores V Iniciao vida crist: com quem? onde? Agentes e Lugares.

Embora sejam categorias marcadamente distintas, entretanto elas se completam e esto intimamente relacionadas. Assim sendo, por vezes, ao tratar de uma delas, j se comea a falar da outra e vice-versa, como fica evidente no I captulo. Pode parecer repetitivo, mas so realidades que no podem ser tratadas sempre independentes entre si.Aps reflexes e decises da comisso encarregada de elabor-lo, o texto foi redigido por cinco pessoas diferentes . A seguir tentou-se unificar a redao num nico estilo e assim, retornou comisso que o reviu, corrigiu, complementou e documentou. Apesar desse esforo, ele ainda apresenta falhas e lacunas, repeties, imperfeies redacionais e conceituais Isso tanto do ponto de vista teolgico, como litrgico, pastoral, catequtico e metodolgico.

Aps essa apresentao geral, vamos analisar o texto na sua estrutura e particularidades.

II O DOCUMENTO E SUAS PARTICULARIDADES1. MOTIVAES E RAZES: POR QU INICIAO?O cap. I se detm sobre a importncia e urgncia do tema, suas motivaes: por qu necessrio hoje o processo inicitico? O texto parte da indagao sobre Deus e sua procura: o ser humano vive procura de respostas sobre a vida e, no fundo, sobre si mesmo. A esse mistrio a f crist d uma resposta cabal; para dela se apossar e viv-la, necessrio um verdadeiro mergulho no mistrio de Deus e nas diversas dimenses da vida crist; no basta uma sntese doutrinal, um cursinho rpido e nem mesmo uma catequese isolada de outros aspectos da vida eclesial. No se trata de aprender coisas, mas de aderir conscientemente a um projeto de vida, de ter um encontro pessoal com Jesus Cristo.

Mais que as crianas, os adultos so os que precisam de um processo bem vivido de iniciao uma necessidade religiosa, mas tambm antropolgica. Entrar num novo projeto de vida, religioso ou no, requer um processo de passos sucessivos de aproximao. No de hoje que as religies assim procedem, num processo que mescla vivncia, conhecimento e celebrao. Assim, a pessoa se deixa envolver pelo clima do mistrio e passa a agir de outro modo no campo pessoal, comunitrio e social, envolvido pelo amor de Deus. Ritos, smbolos e celebraes sempre fizeram parte da histria humana (cf DNC 116). Para sentir-se parte de uma tradio, povo, comunidade religiosa (e at de uma famlia) a pessoa precisa estar imersa no sentido de vida que caracteriza essa pertena. Tambm na tradio crist encontramos essa maneira de sentir e atuar: o prprio Jesus assim procedeu: formou discpulos aos poucos atravs do chamado e convvio; houve etapa na misso, envio, aprofundamento...

No incio da Igreja, pessoas aderiam f atravs de processos de iniciao to bem feitos que sustentaram mrtires e possibilitou a expanso do Evangelho por quase todo o mundo conhecido na poca. Mesmo sendo uma minoria (talvez 10% do Imprio de Constantino Magno), os cristos eram firmes o bastante para que o Estado, que a princpio os perseguia, os aceitasse com liberdade de culto, e mais tarde at os tornasse representantes da religio oficial. No se consegue isso com cristos s de nome. Foi preciso uma slida iniciao, para vencer tempos difceis.Esse processo de iniciao ficou evidente, a partir do sculo II, com a estruturao do catecumenato: o objetivo era o aprofundamento da f, como adeso pessoal a Jesus Cristo e comunidade dos discpulos. Era o caminho ordinrio para conduzir os adultos (e no crianas) aos mistrios divinos, profisso de f e participao na comunidade. Seu perodo ureo foi entre os sculos III a V. Com o advento da cristandade, o catecumenato foi reduzido Quaresma at desaparecer e ser substitudo pelo Batismo de massa. Ser cristo comea a ser situao comum e abre-se a possibilidade do batismo ministrado s crianas. No sculo VI desaparece o catecumenato propriamente dito; catequese e liturgia se distanciam. A catequese, mantendo em geral sua caracterstica doutrinal, vai se restringindo s crianas. Era natural tambm que, numa sociedade nominalmente crist, a iniciao fosse feita por imerso no prprio ambiente cultural. Comeava ento o longo perodo do catecumenato social no contexto da cristandade que domina todo perodo medieval, e em muitos lugares chega at nosso tempo. Afinal, todo mundo era cristo, a transmisso da f se dava no seio da famlia crist e na prpria sociedade. Nesse clima, o processo de iniciao explcita foi desaparecendo, relegado aos assim chamados paises de misso.O cristianismo, culturalmente disseminado, foi campo frtil para devocionismos variados, sem tanta nitidez de proposta evanglica. Especificamente na colonizao de nosso pas, apesar do esforo de adaptao e do grande zelo dos missionrios, houve mais sacramentalizao do que iniciao. As pessoas eram batizadas, faziam primeira comunho, casavam na Igreja... mas nem sempre se comprometiam com a f e com a comunidade eclesial. Junto a isso houve o processo histrico que favoreceu a descrena, com a influncia do iluminismo agnstico e ateu, com conflitos mal resolvidos entre cincia e f, principalmente entre intelectuais e classes dirigentes. A sociedade foi se tornando independente da influncia da Igreja e a religio passou a ser vista como assunto privado, pessoal.Hoje as estatsticas mostram um declnio numrico de fiis. Os que perseveram na f, muitas vezes gravitam na periferia da f, sem ateno e vivncia do seu ncleo central: a pessoa de Jesus e seu Evangelho. Aparecida, citando o cardeal Ratzinger, diz: Nossa maior ameaa o medocre pragmatismo da vida cotidiana da Igreja, no qual, aparentemente, tudo procede com normalidade, mas na verdade a f vai se desgastando e degenerando em mesquinhez (DAp 12) e constata: Isto constitui um grande desafio que questiona a fundo a maneira como estamos educando na f e como estamos alimentando a experincia crist; um desafio que devemos encarar com deciso, com coragem e criatividade, visto que em muitas partes a iniciao crist tem sido pobre e fragmentada (DAp 287).Por outro lado, vemos tais desafios como oportunidade para promover mais qualidade e entusiasmo na misso . Nesse contexto, um processo consistente de iniciao crist indispensvel ao tipo de misso que os sinais dos tempos esto pedindo Igreja.s vezes constatamos que algum passa anos na Igreja, e de repente, a partir em geral da participao em algum movimento (e at mudando de Igreja) diz: Encontrei Jesus!. Como? Jesus no estava aqui o tempo todo, na Palavra, na Eucaristia, na Misso? Fica evidente que, mesmo que no tenha faltado a presena de Jesus, algo importante faltou: se a pessoa no encontrou Jesus, de fato no foi iniciada na f, apesar de ter estado conosco por anos.

A IVC supe uma comunidade que possa dizer, como Jesus: Vinde e vede. Iniciao insero na totalidade da experincia de f dentro de uma comunidade em que se identifica a presena ativa do fermento do Evangelho e a fora transformadora do amor de Jesus. O processo inicitico d grande nfase aos aspectos litrgico-rituais; mas ser cristo exige o compromisso com a misso, com a transformao da sociedade e demais dimenses do Evangelho.

Hoje a opo religiosa uma escolha e no simplesmente tradio e imerso cultural; da a exigncia de formar cristos firmes e conscientes de sua f. Ao assumir seriamente a iniciao crist estaremos entre os primeiros beneficiados: far crescer tanto evangelizados como evangelizadores e toda comunidade.

De fato, Aparecida constata: Uma comunidade que assume a iniciao crist renova sua vida comunitria e desperta seu carter missionrio. Isso requer novas atitudes pastorais por parte dos bispos, presbteros, pessoas consagradas e agentes de pastoral (DAp 291). Ora, os processos de uma verdadeira IVC (e no maquiagens catequtico-pastorais superficiais) so uma maneira concreta de abandonar ultrapassadas estruturas que no favorecem a transmisso da f (DAp 365). Com isso no estamos absolutamente desprezando a ingente renovao da catequese nesses ltimos cinqenta anos... Buscamos, sim, formas mais eficazes! Mas, o que de fato a iniciao crist? o tema do cap. II.

2. O QUE MESMO INICIAO?

Aqui se pretende mostrar que o processo de iniciao, mesmo no nvel humano, se faz sempre com relao ao mistrio. Iniciao sempre iniciao ao mistrio, mergulho pessoal no mistrio; ele est presente tambm no centro da f.Jesus fala do Reino usando a categoria de mistrio: A vs confiado o mistrio do Reino de Deus (Mc 4,11; cf. Mt 13,11; cf. Lc 8,10). O conceito de mistrio aparece pouco no Antigo Testamento, mas muito usado por Paulo, tornando-se uma categoria fundamental para a f. Foi usado para manifestar o desgnio divino de salvao, que para Paulo se concentra na pessoa de Jesus, sua vida, morte e ressurreio. Paulo contrape a sabedoria humana sabedoria misteriosa de Deus (1Cor 2,7) e diz que sua misso fazer conhecer a gloriosa riqueza deste mistrio em meio aos gentios.

A mensagem crist apresentada como mistrio leva naturalmente realidade da iniciao. No nosso imaginrio o mistrio carrega em si algo de fascinante, sublime, surpreendente. O mistrio um segredo que se manifesta somente aos iniciados. Diferentemente de outros conhecimentos ou prticas, no se tem acesso ao mistrio atravs de um ensino terico, ou com a aquisio de certas habilidades. Para ter acesso aos divinos mistrios a pessoa precisa, de uma maneira ou de outra, ser iniciada a essas realidades maravilhosas atravs de experincias que a marcam profundamente. So os ritos iniciticos to desenvolvidos na antiguidade e em sociedades modernas secretas ou esotricas, em geral ministrados a um crculo restrito e fechado de pessoas.

Os cristos lanaram mo dessa realidade to humana e arraigada nas culturas, de tal modo que o cristianismo foi at confundido com uma das tantas religies iniciticas que pululavam o Oriente Mdio. Entretanto, era algo muito mais profundo: para participar do mistrio de Cristo Jesus era preciso passar por uma experincia impactante de transformao pessoal e deixar-se envolver pela ao do Esprito. O processo de transmisso da f tornou-se, sim, inicitico em sua metodologia. Descobrir o mistrio da pessoa de Jesus e os mistrios do Reino, assumir os compromissos de seu caminho, viver a ascese requerida pela moral crist... so realidades muito exigentes; sem um verdadeiro processo de iniciao no se alcana seu verdadeiro sentido.

O catecumenato foi um caminho antigo e eficiente, desenvolvido pelas comunidades crists, aprofundado pelos Santos Padres, acolhido e institucionalizado pela autoridade eclesistica, ncleo do prprio desenvolvimento do ano litrgico, gerado nesse processo. O valor do mistrio de Cristo e da Igreja era experimentado e depois explicado numa vivncia marcada pelo rito atravs de uma catequese chamada mistaggica (que inicia ao mistrio). O rito, ao envolver a pessoa por inteiro, marca-a mais profundamente do que a simples instruo e interioriza o que foi aprendido e proclamado, realando a dimenso de compromisso.

Iniciao no inveno crist; est na raiz de muitas religies na antiguidade e, mais ainda, na raiz de quase todas as culturas: antes de ser uma realidade religiosa, uma realidade antropolgica, que as sociedades modernas quase que perderam por completo. A, talvez, esteja a nossa grande dificuldade de trabalhar com a iniciao ao mistrio: no uma experincia do nosso dia-a-dia; falta-nos substrato antropolgico!

O texto apresenta a descrio e alguns de elementos da iniciao do ponto de vista antropolgico e o valor dos ritos. Os processos iniciticos, profundamente vividos, possuem a capacidade de fazer assimilar vitalmente as grandes experincias crists. Mostra tambm a necessidade de revalorizar hoje esse itinerrio inicitico-catecumenal. De fato: numa cultura moderna e quase que ps-crist (cf CT 57; DGC 110d) a Igreja se v diante da necessidade de uma real iniciao, para formar cristos que assumam de fato o projeto do Reino. O Estudo da CNBB Com Adultos Catequese Adulta (2001) afirma: Aquilo que os ritos de iniciao representam para a vida sociocultural de um grupo, a catequese deveria representar para a vida crist : um processo profundo que integra a pessoa num estilo evanglico de vida.

Da a necessidade de formas de catequese que estejam verdadeiramente a servio da iniciao crist, na complexidade de suas exigncias, como bem afirmam o DGC (nos 63-68) e o DNC (no 35 e todo o subttulo 4.1). Mas a iniciao no misso s da catequese (aqui est, s vezes, nosso engano!): trabalho de toda a comunidade, principalmente da dimenso litrgica e dos ministros ordenados! Sente-se hoje uma necessidade urgente de reviso profunda da nossa prtica eclesial, para restabelecer, na sua funo primordial, a iniciao crist.

O Documento de Aparecida enftico ao falar da necessidade urgente de assumir o processo inicitico na evangelizao: Ou educamos na f, colocando as pessoas realmente em contato com Jesus Cristo e convidando-as para seu seguimento, ou no cumpriremos nossa misso evangelizadora (n 287; cf. 286-294).

A restaurao do catecumenato, solicitada pela Igreja (cf. CD 14, SC 64-68 e AG 14), com a devida inculturao, quer retomar a dimenso mstica, celebrativa, da catequese, considerando que um dos aspectos essenciais da educao da f levar as pessoas a uma autntica experincia crist, na integridade de suas vrias dimenses.

Teologicamente falando a Iniciao Crist possui quatro caractersticas que definem sua natureza: 1): ela obra do amor de Deus. A iniciao crist graa benevolente e transformadora, que nos precede e nos cumula com os dons divinos em Cristo. 2) Esta obra divina se realiza na Igreja e pela mediao da Igreja. Como corpo de Cristo, coloca os fundamentos da vida crist e principalmente incorpora a Cristo os que esto sendo iniciados pelos sacramentos da iniciao. No iniciao a um movimento ou escola de espiritualidade, embora possam ajudar muito. 3) Este dom de Deus realizado na e pela Igreja tem um terceiro elemento: requer a deciso livre da pessoa. No processo ou itinerrio de iniciao a pessoa envolvida inteiramente em todas as esferas e dimenses do ser. O fracasso ou falta de perseverana no caminho da f se deve, muitas vezes, falta deste envolvimento total dos iniciandos. 4) Por fim, a iniciao crist a participao humana no dilogo da salvao. na iniciao crist que a pessoa comea a fazer parte da Histria da Salvao.

3. INICIAO VIDA CRIST... COMO?

O terceiro captulo trata dos processos, descrevendo a dinmica catecumenal. Palavra e celebrao foram importantes para que os primeiros discpulos reconhecessem Jesus como centro de sua vida. So fundamentais para os cristos de hoje tambm. O itinerrio da iniciao crist inclui sempre o anncio da Palavra, o acolhimento do Evangelho, que implica a converso, a profisso de f, o Batismo, a efuso do Esprito Santo, o acesso comunho eucarstica. (Catecismo 1229). Temos a conscincia de que muitos dos itinerrios catequticos oferecidos aos no batizados e aos batizados de vrias idades so fragmentados; mesmo entre os que participam na comunidade e nos movimentos, h carncia de itinerrios que lhes permitam mergulhar sempre mais no mistrio de Cristo e sua Igreja.

O prottipo do processo, da metodologia que conduz vida crist o catecumenato batismal. Nas ltimas dcadas, a situao pastoral tem feito a Igreja perceber que h tambm uma necessidade de catecumenato ps-batismal (Catecismo 1231), de grande valor para a iniciao integral de jovens e adultos batizados, mas no suficientemente envolvidos no compromisso cristo.

Aparecida assim descreve o catecumenato: A iniciao crist, que inclui o querigma, a maneira prtica de colocar algum em contato com Jesus Cristo e inici-lo no discipulado. D-nos, tambm, a oportunidade de fortalecer a unidade dos trs sacramentos... Propriamente falando, refere-se primeira iniciao nos mistrios da f, seja na forma do catecumenato batismal para os no batizados, seja na forma do catecumenato ps-batismal para os batizados no suficientemente catequizados. Est intimamente unido aos sacramentos da iniciao: batismo, confirmao e eucaristia... Teramos que distingui-la, portanto, de outros processos catequticos e de formao que podem ter a iniciao crist como base (DAp 288) um paradigma inspirador que deve ser conhecido e valorizado. O modelo de catecumenato apresentado pelo RICA possibilita a elaborao de itinerrios diversos, de acordo com as necessidades de cada realidade, conservando o que essencial e especfico. Uma primeira caracterstica essencial o seu carter cristocntrico e gradual. Est a servio de quem decidiu seguir Jesus Cristo e busca a converso (cf DGC 89). O catecumenato uma funo vital da Igreja. Sua responsabilidade de toda a comunidade crist. Todo o processo impregnado do mistrio da Pascal. lugar privilegiado de inculturao, onde so acolhidas na Igreja as sementes da Palavra presentes nas pessoas e nas culturas. Garante uma formao intensa e integral, est vinculado a ritos, smbolos e sinais, e est em funo da comunidade crist.

O processo catecumenal, de acordo com o RICA, organizado em quatro tempos (perodos ou fases) e em trs grandes celebraes ou etapas, das quais participam membros da comunidade, parentes e amigos.. A palavra etapa aqui significa chegada e concluso de um perodo (tempo) e passagem para o seguinte: so momentos fortes marcados por uma celebrao especfica lanando o catecmeno para o tempo seguinte. Como se v no quadro abaixo, por exemplo, embora a celebrao dos sacramentos seja um sinal forte na caminhada, esta etapa no o fim do processo (como comumente fazemos na atual catequese), mas a porta que se abre para a catequese mistaggica, que vai aprofundar a educao para a vivncia do mistrio:

O texto descreve com detalhes, cada um dos quatro tempos com suas etapas, fazendo sempre a distino entre catecmenos (no batizados) e catequizandos (j batizados) e entre esses, os que se encaminham para a primeira comunho eucarstica e confirmao, ou apenas para a confirmao. So eles:

ESQUEMATICAMENTE:O pr-catecumenato (1 tempo)Rito de admisso ao catecumenato (1 etapa)O catecumenato (2. Tempo)Celebrao da eleio ou inscrio do nome (2etapa)Purificao e iluminao (3. Tempo)Celebrao dos sacramentos da iniciao (3 etapa)Mistagogia (4Tempo).

1 TEMPO

Pr-Catecumenato ou Primeiro Anncio

(querigma)1a. ETAPA - Rito de Admisso dos

Candidatos ao Catecumenato (entrada)2 TEMPO

Catecumenato(tempo mais longo de todos) 2a. ETAPA - Preparao para os

Sacramentos (eleio)3 TEMPO

Purificao e Iluminao(quaresma) 3a. ETAPA - Celebrao dos sacramentos

de Iniciao : Viglia Pascal 4 TEMPO

Mistagogia

(tempo pascal)

Tempo do acolhimento na comunidade crist- Primeira evangelizao

-Inscrio e colquio com o catequista.

- Ritos

Tempo suficientemente longa para:-CATEQUESE REFLEXO -APROFUNDAMENTO.

- Vivncia crist, converso,

- entrosamento com a Igreja.

- Ritos

Preparao prxima para Sacramentos. Escrutnios. Entregas do Smbolo e da Orao do SenhorCATEQUESE

- Prticas quaresmais (CF, etc.)

- Ritos

Aprofundamento e maior mergulho no mistrio cristo, no mistrio pascal. Vivncia na comunidade crist.Fim do perodo

Catecumenal.

O cristo continua a formao permanente na comunidade, ao longo de toda vida

Nas etapas (celebraes de passagem de um tempo para o outro) so feitas as entregas que representam os compromissos que vo sendo assumidos, como acontece na entrega da Palavra de Deus, do smbolo da f (o Credo) e da orao do Senhor (o Pai Nosso). Elas representam tambm a herana da f que passada aos novos cristos. Outros rituais vo acompanhando o processo: a uno, os exorcismos e os escrutnios.Apresentam-se tambm caractersticas complementares do catecumenato, como a ateno formao integral e vivencial, a dimenso orante, a prtica da caridade e a renncia de si mesmos. Para isso a catequese deve ir alm do conhecimento de verdades e preceitos atravs da dimenso bblica, orante, celebrativa, e relacionar-se profundamente com o ano litrgico. H tambm o acompanhamento dos introdutores, a contribuio dos padrinhos e membros da comunidade, a participao gradativa nas celebraes da comunidade e estmulo ao testemunho de vida. Entre catequese e liturgia deve haver ntima cooperao: elas se reforam mutuamente no processo catecumenal. um modelo inspirador, aberto a adaptaes. Em muitos lugares j h experincias que esto pondo em prtica o esprito catecumenal da iniciao crist, com criatividade e adaptao. um modelo deve ser estudado e aplicado na medida do possvel, na ao normal da Igreja: no restrito a alguns grupos, movimentos, e nem s para situaes especiais ou excepcionais... Ressalta-se que esse processo, seriamente assumido, traz grande renovao e qualidade para a vida paroquial.

A importncia que se d dimenso orante-ritual-celebrativa no pode deixar esquecidos outros aspectos da pastoral. No se pode implantar um processo com esse nvel de exigncia sem a correspondente preparao e contnua reflexo e reviso de vida dos agentes, de todos os nveis, e sem uma grande ateno qualidade do testemunho da comunidade inteira. Um catequista que no passou pelo processo catecumenal dificilmente ir desenvolv-lo eficazmente.

O processo catecumenal pode ser aplicado aos diversos trabalhos de formao continuada que j existem nas comunidades, aprofundando a misso evangelizadora (encontros de preparao para o matrimnio e batismo...).

4. DESTINATRIOS COMO INTERLOCUTORES INICIAO... PARA QUEM?

No quarto captulo os destinatrios da iniciao crist so considerados como interlocutores, assim como Jesus tratou a samaritana e tantos outros, iniciando-os em seu divino mistrio. Como a samaritana, deparamo-nos com um povo sedento, que procura a fonte, que quer uma gua que sacie sua sede de um modo diferente... uma multido, com rostos variados que precisam ser reconhecidos, identificados, personalizados. Destes, muitos procuraro na igreja uma resposta para suas buscas; outros convivem com sua sede sozinhos, ou vo procura de outras guas ou nem se do conta de sua sede. Ns mesmos os buscaremos no trabalho missionrio. E cada um tem que ser considerado na sua realidade humana.

Diversas so tambm as motivaes dos que procuram a Igreja. Nem sempre esto buscando (ou at nem imaginem que exista) um processo mais completo de iniciao. Boa parte dos adultos catlicos foi evangelizada e catequizada insuficientemente. Alguns, depois, se aprofundaram e tiveram outras experincias evangelizadoras; outros guardam s uma vaga lembrana do que aprenderam na infncia, outros se decepcionaram pelo caminho, muitos se perderam no meio dos apelos da cultura ps-moderna.

necessrio conhecer bem a situao de cada candidato iniciao, porque a proposta a ser apresentada deve ser resposta sede que cada um experimenta com mais intensidade. Da a necessidade de uma iniciao diversificada, com itinerrios especiais. Citando o cap. VI do DNC so elencadas as seguintes situaes, com um comentrio sobre cada uma:

a) Adultos e jovens no batizados;

b) Adultos e jovens batizados que desejam completar a iniciao crist;

c) Adultos e jovens com prtica religiosa, mas insuficientemente evangelizados;

d) Pessoas de vrias idades marcadas por um contexto desumano ou problemtico;

e) Grupos especficos, em situaes variadas;

f) Adolescentes e jovens;

g) Crianas no batizadas e inscritas na catequese;

h) Crianas e adolescentes batizados que seguem o processo tradicional de iniciao crist; Se no se consegue ainda uma renovao total do modelo de iniciao crist tradicional, sempre ser possvel ir aos poucos dando um carter cada vez mais catecumenal catequese, com o objetivo de formar discpulos e missionrios.

5. INICIAO VIDA CRIST... COM QUEM CONTAMOS? ONDE?O ltimo captulo considera os sujeitos e lugares da Iniciao Crist. Os agentes devem ser pessoas capazes de considerar os destinatrios da IVC de inspirao catecumenal como interlocutores; cuidado especial deve-se ter em sua preparao e acompanhamento, tambm no estilo catecumenal. A misso dos responsveis diretos pela IVC engloba todas as foras da Igreja. a comunidade eclesial que evangeliza.

Precisamos em primeiro lugar ajudar o iniciando a dar o seu sim pessoal: sua participao existencial requerida como contrapartida gratuidade da graa. A preocupao primordial de nossa ao pastoral muitas vezes tem sido sacramentalizar antes mesmo de percorrer um itinerrio adequado para garantir a vivncia da f crist, e no se faz um processo de Iniciao sem priorizar a pessoa do iniciando. Cabe, pois, aos agentes da iniciao cuidar da qualidade da ateno s pessoas e das relaes humanas, traduzidos em gestos fortes e convincentes de acolhida, fraternidade, solidariedade, criao de um ambiente de afeto e carinho. O mesmo se diga com relao comunidade: seu modo de viver e de se relacionar, deve ter um jeito de casa acolhedora, de famlia de irmos que se amam e se ajudam mutuamente, tornando-se cativante e atraente.

No processo da iniciao interferem pessoas e circunstncias. complexo o trabalho dos agentes da iniciao: lidam com a histria de vida dos iniciandos, com as Escrituras Sagradas, com a liturgia, a vida da comunidade e o confronto com as necessidades e desafios da realidade que nos cerca. Precisam contar com o testemunho de discpulos missionrios, o acompanhamento prximo dos introdutores, amigos e companheiros de caminhada, com os catequistas, os ministros ordenados, a fraternidade vivida na comunidade e a postura da Igreja em geral diante da sociedade.

Seguindo bem de perto as propostas do RICA (41-48) o texto descreve os ministrios e as funes de todos aqueles que esto implicados no processo iniciatrio, o que precisa ser conhecido e adaptado a cada situao. Nessa relao incluem-se, alm dos vrios agentes, tambm os sujeitos da iniciao e suas famlias.

a) Introdutores/as: possuem tarefa especfica e indispensvel no incio do processo inicitico: acompanhar os candidatos iniciao, durante o Pr-catecumenato, preparando-os para acolher o dom da f, o anncio da Boa Nova e para assumir o encontro pessoal com o Senhor; prepara para o longo tempo do Catecumenato. Leva ao encontro com Jesus Cristo mais pelo testemunho de vida e vibrao de sua f do que pela palavra. Precisa ter percorrido o caminho da Iniciao Crist (Batismo, Confirmao e Eucaristia).

b) Padrinhos e madrinhas: em sua escolha necessrio superar critrios de amizade e compadrio, sem condies para o exerccio dessa importante misso junto aos afilhados. Escolhidos antes da primeira etapa devem ser pessoas que conheam o candidato e que testemunhem a sinceridade de quem se apresenta Iniciao.

c) As famlias no processo da IVC: so, pela fora do sacramento do Matrimnio, os primeiros e principais educadores na f de seus filhos. No s participam das reunies, mas passam a integrar o processo de catequese com adultos, que existe em funo dos filhos e como complementao da prpria Iniciao. O texto se estende em analisar as diversas situaes por que passam as famlias hoje, com relao vida de f e insiste na colaborao da Pastoral Familiar no processo inicitico.

d) Os catequistas: a ao mais forte e comprometedora dos catequistas se d no segundo tempo, Catecumenato propriamente dito. Na celebrao da primeira etapa (passagem do pre-catecumenato para o catecumenato) sejam apresentados os catequistas comunidade. O texto repete algumas orientaes e critrios j estabelecidas no DNC. Insiste numa nova formao dos catequistas, tambm ela no estilo catecumenal: no se trata de formar o pedagogo apenas, mas sobretudo o mistagogo.

e) A Equipe de Coordenao da IVC: deve-se organizar uma Comisso da Iniciao Vida Crist, formada pelos encarregados da tradicional preparao ao Batismo, Confirmao e Eucaristia, a ser substituda pelo processo da Iniciao Crist. Essa equipe fundamental para o bom desenvolvimento de todo o processo da Iniciao vai ser vivido.

f) A comunidade e seu estilo de vida: insiste-se na importncia do testemunho comunitrio. Diante do frgil compromisso de grande parte dos catlicos com o testemunho e a misso, urge, ento, um processo inicitico de converso que dinamize catequizandos e catecmenos na vivncia da f. Nesse sentido, o processo de iniciao benfico e educativo para a comunidade inteira, no apenas para os iniciantes.

g) Os Ministros ordenados: aqui so abordadas as competncias da Conferncia Episcopal, particularmente a respeito da inculturao. O Bispo como primeiro responsvel pela Igreja particular, o catequista por excelncia e deve ter a catequese como a prioridade das prioridades (so citados: Catechesi Tradendae 63; Cdigo e Diretrio dos Bispos) Cabe-lhe um zelo especial para com o processo da IVC e todas as iniciativas de formao continuada em sua diocese. Releva a importncia do Bispo no catecumenato primitivo, principalmente por ocasio da mistagogia. Presbteros e Diconos: deles depende muito o xito do processo catecumenal; devem se preparar constantemente para poderem orientar, acompanhar e animar o processo inicitico (cf. RICA 45-47), zelar pela adequada formao dos responsveis pelos quatro tempos da Iniciao e garantir a celebrao e ritos das trs etapas de modo vivencial e envolvente.

h) Lugares da IVC: a Igreja particular o espao eclesial de testemunho e evangelizao por excelncia; no se reduz a um espao geogrfico ou estrutura pastoral. A Igreja, por natureza missionria, deve estar presente e atuante nas diversas situaes, lugares e ambientes, como por exemplo, em reas de necessidade social, famlias, hospitais, meios de comunicao e outros ambientes. Movimentos de nvel regional, nacional ou internacional estejam em sintonia com as orientaes locais e com a Pastoral Orgnica da Diocese. A unidade da Igreja mais importante do que a afinidade com qualquer grupo ou movimento, embora se possa e deva contar com sua colaborao.

A Concluso uma palavra final de alegria, otimismo e ao de graas: A alegria do discpulo antdoto frente a um mundo atemorizado pelo futuro e oprimido pela violncia e pelo dio. [...] Conhecer a Jesus o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; t-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e faz-lo conhecido com nossa palavra e obras nossa alegria (DAp 29).

Pe. Luiz Alves de Lima, salesiano, doutor em Teologia Pastoral Catequtica, assessor de catequese na CNBB e CELAM, membro fundador da SCALA, conferencista, professor e membro da diretoria no Campus Pio XI do Centro Universitrio Salesiano de So Paulo, professor em vrios cursos de Ps-graduao em catequese, e no Instituto Teolgico Latino-Americano (ITEPAL) de Bogot; editor e redator da Revista de Catequese.Itaici (SP), Encontro Nacional de Presbteros, 08 de Fevereiro de 2010

Pe. Luiz Alves de Lima, sdb expositor.

interessante notar que em todo o texto de Aparecida aparecem 46 vezes as palavras estrutura ou afins, mas a maioria absoluta se refere s estruturas sociais... injustas... de pecado.... Apenas umas poucas vezes o termo se refere s mudanas de estruturas dentro da Igreja (e esse n. 375 uma delas...). mais fcil falar para os outros!

O texto original (4a. Redao, posteriormente modificado) era mais contundente: Assumir essa iniciao crist exige no somente uma renovao da catequese, mas tambm uma reestruturao de toda a vida pastoral da parquia. A frase, como est na verso oficial enfraqueceu a fora do pensamento original, alm de conter uma impreciso gramatical, pois falta a segunda parte da frase: ...no s... mas tambm...

Para a primeira redao, o I captulo foi redigido pela prof Therezinha Lima Cruz; o II pelo Pe. Luiz Alves de Lima, sdb; o III pelo Pe. Domingos Ormonde, com acrscimos substanciais de Dom Manuel Joo Francisco e Maria ngela Zoldn Guenka; o IV por Ir. Marlene Santos, cf; e o V pelo Ir. Israel Jos Nery.

Nosso projeto Brasil na Misso Continental fala em aproveitar intensamente esta hora de graa. V as dificuldades como provocaes a um santo e criativo crescimento. Cf Cnbb. Projeto Nacional de evangelizao: o Brasil na Misso Continental. So Paulo: Paulinas 2008, n.88.

Cnbb- Grecat, Com adultos, catequese adulta: texto base elaborado por ocasio da 2 Semana Brasileira de catequese- Estudos da CNBB 80. So Paulo: Paulus 2001, nos 102-103.

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