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PEIXES DE LAGOS DO MDIO RIO SOLIMES

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UNIVERSIDADE FEDERAL

DO

AMAZONAS

Hidembergue Ordozgoith da Frota Reitor Gerson Suguiyama Nakagima - Vice ReitorINSTITUTO NACIONALDE

PESQUISAS

DA

AMAZNIA INPA

Adalberto Luis Val DiretorFUNDAO CENTRODE

ANLISE, PESQUISA E INOVAO TECNOLGICA FUCAPI

Isa Assef Diretoria PresidenteCOORDENAODOS

PROGRAMAS

DE

PS-GRADUAO

DE

ENGENHARIA COPPE

Angela Maria Cohen Uller Diretoria Marilita Gnecco de Camargo Braga Vice-DiretoriaCOORDENAO INSTITUCIONAL PETROBRAS SMS CORP GERNCIA SETORIAL DE SEGURANA, MEIO AMBIENTE E SADE

DA

REGIO NORTE

Nelson Cabral de Carvalho GerenteCENTRODE

EXCELNCIA AMBIENTAL

DA

PETROBRAS

NA

AMAZNIA CEAP AMAZNIA

Paulo Gustavo Crisstomo Ferreira Coordenador Executivo InterinoCOORDENAO INSTITUCIONAL PETROBRAS CENPES

Fernando Pellon de Miranda Coordenador TcnicoCOORDENAO GERALDO

PIATAM UFAM

Alexandre Almir Ferreira Rivas Carlos Edwar de Carvalho FreitasCOORDENAO INSTITUCIONAL INPA

Vera Maria Fonseca de Almeida e ValCOORDENAO INSTITUCIONAL FUCAPI

Carlos Renato Santoro FrotaREADE

COMUNICAO, DESIGN E MULTIMDIA

DO

PIATAM UFAM

Jackson Colares da Silva UFAM

Os Coordenadores do Piatam agradecem Universidade Federal do Amazonas UFAM; ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia INPA; Fundao Centro de Anlise, Pesquisa e Inovao Tecnolgica FUCAPI; ao Instituto Alberto Luiz Coimbra de PsGraduao e Pesquisa de Engenharia COPPE; Financiadora de Estudos e Projetos FINEP, Petrleo Brasileiro S.A. Petrobras e universidade norte-americana Washington and Lee, instituies parceiras que consolidam a qualidade cientfica e o carter interdisciplinar do Projeto e cujas contribuies foram essenciais produo desta obra. Por sempre acreditarem no grande valor do Piatam como instrumento de produo do conhecimento e de desenvolvimento de tecnologias para o monitoramento e gesto ambiental, o nosso muito obrigado.

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PEIXES DE LAGOS DO MDIO RIO SOLIMES

Organizadores: M. Gercilia Mota Soares Edimar Lopes da Costa Flvia Kelly Siqueira-Souza Hlio Daniel Beltro dos Anjos Kedma Cristine Yamamoto Carlos Edwar de Carvalho Freitas

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Copyright 2008 Instituto I-Piatam

COORDENAO EDITORIAL

Jackson ColaresCOORDENAO VISUAL

rea de Comunicao, Design e Multimdia do Projeto Piatam Brainstorm DesignFOTOS

Acervo Piatam / PetrobrasPROJETO GRFICO

KintawDesignREVISO

Jos Alonso Torres Freire Cludia Adriane SouzaFICHA CATALOGRFICA

Ycaro Verosa dos Santos CRB-11 287P378 Peixes de lagos do Mdio Rio Solmes. / organizadores, Maria Gerclia Mota Soares ...[et al.]. 2. ed. rev. Manaus: Instituto I-piatam, 2008. 160p. ISBN 8574012643 1. Projeto Piatam 2. Ictiologia Amaznica 3. Mdio Solimes Amazonas (Estado) I. Soares, Maria Gerclia Mota. CDD 363.7098113 22. ed.

INSTITUTO I-Piatam Rua Rio Branco n 24, quadra 37, salas B e C Conjunto Vieiralves Bairro Nossa Senhora das Graas CEP 69053-520

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Esse livro sumariza parte dos resultados elaborados no Projeto Potenciais Impactos Ambientais no Transporte Fluvial de Gs Natural e Petrleo na Amaznia PIATAM desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas UFAM e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia INPA. Desde 2001 os estudos esto concentrados nas coletas de dados nos lagos de vrzea do rio Solimes, entre Manaus e Coari, AM. Tudo isso foi possvel por causa do suporte financeiro da FINEP/CTPetro, Projeto PIATAM, representado pelos coordenadores Alexandre Rivas (UFAM), Fernando Pellon de Miranda (Petrobrs/CENPES), Nelson Cabral de Carvalho e Paulo Gustavo Crisstomo Ferreira (Coordenao Institucional Petrobras SMS Corp / Gerncia Setorial de Segurana, Meio Ambiente e Sade da Regio Norte). Agrademos ao Dr. Jansen Zuanon pela identificao das espcies de peixes e ao grupo da rea de comunicao, design e multimdiaPIATAM, especialmente a colaborao de Lilia Valessa pela coordenao visual do manuscrito. Os autores do livro agradecem aos tcnicos Ivanildo L. A. dos Santos (UFAM), Valter do Santo Dias e Francisco da Fonseca (INPA) pela substancial ajuda nos trabalhos de campo que foram possveis somente por causa das suas inestimveis experincias e dedicaes.

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Sumrio

PREFCIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9 APRESENTAO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 INTRODUO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13 Ordem Osteoglossiformes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21 Famlia Osteoglossidae . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21 Famlia Arapaimatidae . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .25 Ordem Clupeiformes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29 Famlia Pristigasteridae . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29 Ordem Characiformes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33 Famlia Acestrorhynchidae . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33 Famlia Anostomidae . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37 Famlia Characidae . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .46 Famlia Curimatidae . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .67 Famlia Cynodontidae . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .77 Famlia Erythrinidae . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .81 Famlia Hemiodontidae . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .87 Famlia Prochilodontidae . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .93 Ordem Siluriformes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .99 Famlia Auchenipteridae . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .99 Famlia Callichthyidae . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .103 Famlia Doradidae . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .107 Famlia Loricariidae . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .111 Famlia Pimelodidae . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .115 Ordem Perciformes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .129 Famlia Cichlidae . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .129 Famlia Sciaenidae . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .147 GLOSSRIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .153 REFERNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .157 CLASSIFICAO DE PEIXES DOS LAGOS DO MDIO RIO SOLIMES . . . . . . . . . . .169 NDICE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .171

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PrefcioPeixes de Lagos do Mdio Rio Solimes

A extensa rea coberta pela Amaznia inclui uma diversidade de ambientes sem paralelo neste planeta. Somada aos rios de grande porte, h uma infinidade de rios e igaraps de diversos tamanhos com guas de diferentes cores e propriedades qumicas, uma extensa rea sazonalmente alagada, um sem nmero de lagos de todos os tipos e formas, grandes e pequenos, conectados entre si ou no, todos dependentes do regime de guas da regio. Renem volume considervel da gua doce de superfcie do planeta. Esse conjunto de corpos de gua forma um mosaico de veredas, ambientes singulares, que ora resistem mistura, ora se derivam formando novos hbitats, ora so calmos, ora velozes. Variam no tempo e no espao. Interagem fortemente com o ambiente terrestre e do um carter anfbio regio. Parecem ter vida prpria e, como que teimosamente, tornam nossas tentativas de descrev-los sempre imprecisas. Conhecemos muito pouco acerca desses ambientes que escondem uma intrincada rede de relaes biticas e abiticas. Intrincada e delicada. Intrincada, posto que complexa e envolve muitas variveis, parte delas desconhecidas. Delicada, posto que vulnervel a

distrbios de toda sorte desde os distrbios locais at os globais. Conhecendo esta rede, podemos ajudar a minimizar ou mesmo evitar os efeitos ambientais decorrentes de intervenes necessrias para o desenvolvimento e integrao da Amaznia. Ajudar a conhecer essa rede a proposta dos autores nesta bela contribuio. Oito lagos ao longo de plancies do Rio Solimes e suas assemblias de peixes foram estudados; lagos que ocorrem em paralelo ao rio principal no caminho hdrico entre Coari e Manaus; entre o grande lago de Coari e a confluncia dos rios Negro e Solimes, onde ocorre o maior encontro de guas brancas e pretas. Este estudo fez parte do Projeto PIATAM Potenciais Impactos e Riscos Ambientais da Indstria do Petrleo e Gs no Amazonas um projeto multidisciplinar que envolve o estudo dos diversos matizes e potenciais efeitos de uma ao ambiental da envergadura da minerao de petrleo e seu transporte por mais de seiscentos quilmetros no corao da maior floresta tropical mida do planeta. Muitos dos parmetros necessrios para uma modelagem dessa envergadura so conhecidos para diversas regies

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do mundo, mas na Amaznia ocorre exatamente o inverso: a maior parte dos parmetros necessrios para se estimar os potenciais efeitos da ao em tela desconhecida. Aspectos muito simples carecem de efetivo dimensionamento; quantas, quais so e como vivem as espcies de peixes mais freqentes na rea de ao do projeto referido so perguntas que requerem respostas urgentes. Os desafios para obter informaes bsicas, como estas postas acima, so maisculos. A diversidade de peixes se soma diversidade de ambientes, nos quais esses animais se relacionam de formas diversas com implicaes diversas no estabelecimento de suas caractersticas biolgicas fundamentais. Na Amaznia, no sabemos ao certo quantas so as espcies de peixes e as estimativas tm amplitudes inquietantes. Cada vez que novas reas so amostradas, novas espcies de peixes so descobertas para as quais muitas vezes os cientistas no tm designaes especficas ou mesmo o gnero identificado. No presente estudo, os autores proporcionam a descrio das espcies de peixes coletadas por meio de apetrechos padronizados mantidos por um tempo prdeterminado. As espcies de peixes coletadas pertencem a muitos grupos, desde os mais primitivos, como os osteoglossiformes, at os mais especializados, como os perciformes. A descrio dos animais precisa e detalhada, envolvendo alm de caractersticas morfo-

lgicas e mersticas fundamentais, informaes ecolgicas e aspectos relativos importncia econmica das mesmas. O estudo inclui, ainda, uma extensiva lista de referncias bibliogrficas acerca dos diferentes grupos de peixes, o que permite uma rpida viagem histrica pelas principais investigaes j realizadas sobre esse fascinante grupo de vertebrados da Amaznia. As informaes ecolgicas revisadas permitem a modelagem ecolgica, pois permitem antever os efeitos da ao do homem sobre esses ambientes, ao mesmo tempo desconhecidos e dinmicos. Uma anlise qualitativa da atividade pesqueira tambm apresentada. Vale lembrar que o peixe, como fonte de protena, est para a Amaznia como esto todas as outras fontes proticas somadas para outros povos. O desconhecido, no que se refere Amaznia, excede em muito o conhecido. H um enorme hiato que no nos permite aes seguras. Trabalhos como este, por sua qualidade e dimenso, devem se multiplicar para que possamos continuar buscando a conservao do ambiente e um futuro menos incerto.

Peixes de Lagos do Mdio Rio Solimes

Adalberto Luis Val Diretor do INPA

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ApresentaoPeixes de Lagos do Mdio Rio Solimes

As caractersticas sazonais do ciclo hidrolgico tornam as vrzeas do sistema Solimes-Amazonas um complexo singular de lagos e plancies inundveis. Nas proximidades de Manaus, por exemplo, o nvel da gua flutua anualmente cerca de 10 metros. Nesse contexto, os lagos interiores, cuja rea e volume so reduzidos na seca, recebem na enchente o fluxo dos rios atravs de diferentes canais de conexo. No pico da cheia, grande parte da regio inundada e quase todos os lagos ficam conectados entre si e com o rio. Tal alternncia entre as fases terrestres e aquticas ocasiona modificaes drsticas nas condies ambientais, com impacto profundo na ecologia dos peixes que habitam as reas alagveis. Os lagos das plancies aluviais do sistema SolimesAmazonas abrigam assemblias de peixes com alta riqueza, com espcies de variados tamanhos e formas, cuja estratgia de sobrevivncia governada pela contnua interao da geomorfologia com a hidrologia. Alm disso, em razo de sua elevada produtividade

primria, tais ambientes so propcios ao desenvolvimento de estoques pesqueiros abundantes. A Petrobras tem conscincia que, para conferir sustentabilidade ao ciclo de desenvolvimento regional associado s suas atividades na Amaznia, necessrio um esforo sistemtico de monitoramento dos estoques naturais e da biodiversidade. Assim, o projeto Piatam estuda as assemblias de peixes em oito lagos da plancie aluvial do Solimes, dispostos ao longo de 400 km, no trecho entre Coari e Manaus. As amostragens so efetuadas em cada fase do ciclo hidrolgico, ou seja, seca, enchente, cheia e vazante. A anlise desse material, decorridos mais de quatro anos de coleta de dados, possibilitou efetuar inferncias sobre a composio da ictiofauna, bem como sobre sua distribuio espacial e sazonal. Tais resultados encontram-se documentados no presente livro. Fernando Pellon de Miranda Coordenador Tcnico do Piatam III pela Petrobras

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IntroduoPeixes de Lagos do Mdio Rio Solimes

A bacia do Solimes-Amazonas um tpico sistema de grande rio com amplas plancies adjacentes, submetidas a um ciclo hidrolgico previsvel, com inundaes anuais decorrentes do transbordamento lateral da gua do canal principal do rio em direo plancie. No sistema Solimes-Amazonas, as plancies so localmente denominadas de vrzea, que um sistema complexo de lagos de plancies inundveis, remansos, canais, diques e ilhas (Irion et al., 1997). Podem ser visualizadas como uma enorme rea inundvel, produto da deposio de sedimentos pelos rios de gua-branca (Junk, 1997). Nas vrzeas, a alternncia entre as fases terrestres e aquticas resulta em modificaes drsticas nas condies ambientais, com profundas implicaes no ciclo de vida das plantas e animais (Junk, 1997). Prximo Manaus, a flutuao do nvel da gua varia anualmente em torno de 10m, e, em geral, a enchente no rio Solimes-Amazonas comea em novembro e continua at o final de junho, atingindo sua cota mxima em julho. A vazante comea em agosto prosseguindo at a seca em outubro (nvel de gua mais baixo). O perodo de seca prolonga-se at janeiro, dependendo da conexo do lago com o rio, sendo que em lagos mais distantes a gua comea a entrar no final de janeiro. Na seca, alguns lagos, tornam-se bastante reduzidos em rea e volume, mas nem todos ficam isolados do rio nesse perodo. Na enchente, a gua do

rio entra nos lagos interiores por diferentes canais de conexo. No pico da cheia, grande parte da regio inundada e quase todos os lagos ficam conectados entre si e com o rio. Porm, mais acima, no rio Purus, o perodo de cheia corresponde aos meses de fevereiro, maro e abril (Goulding et al., 2003). Os peixes, em especial, so bastante adaptados ao ecossistema amaznico, com espcies de variados tamanhos, formas e estratgias de vida. Esta elevada diversidade adaptativa o resultado da enorme complexidade ambiental desse universo aqutico, distribuda em uma rea de milhes de quilmetros quadrados. Dentro dos ambientes interconectados do sistema Solimes-Amazonas e suas plancies adjacentes, com importantes reas de transio, a complexidade permanece alta, mudando apenas de escala, pois so as caractersticas dos bancos de macrfitas aquticas, da liteira, das pausadas, da gua aberta nos lagos, do canal do rio, de suas praias ou restingas que iro, ao lado das fortes interaes biticas e da marcante sazonalidade das guas, determinar a dinmica das assemblias de peixes. Estimativas do total de espcies que possam estar presentes na imensa rea de drenagem, no podem ainda ser elucidadas uma vez que os nmeros disponveis no se referem bacia Amaznica. Os primeiros valores, ainda na dcada de 70 (Bhlke et. al., 1978), apontaram cerca de 5000 espcies de peixes para a Amrica do Sul e os autores

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acrescentaram de 500 a 600 espcies para a Amrica Central, concluindo que o situao do conhecimento da ictiofauna da bacia Amaznica era comparvel quela dos EUA e do Canad, aproximadamente 100 anos atrs. Ainda para a regio Neotropical, Reis et al. (2003) relatam a existncia de 4475 espcies descritas e estimaram em 1550 espcies ainda a serem descritas, entre o material disponvel em acervos e espcies ainda no coletadas. Mas, para a bacia Amaznica, as estimativas esto defasadas e variam conforme o autor. Na dcada de 1970, Robert (1972) estimou o nmero de espcies em 1300 e Goulding (1980) sugeriu um nmero variando entre 2500 a 3000 espcies. A estimativa mais realista que na bacia Amaznica ocorrem mais da metade de espcies estimadas por Reis et al. (2003) para a regio Neotropical. E, desse total, grande o nmero de espcies que ocorrem nos grandes rios e suas reas alagveis. Os lagos das plancies aluviais dos rios de guas brancas da Amaznia, em particular o corredor central formado pelo sistema Solimes-Amazonas, que corta a Amaznia no sentido oeste-leste, abrigaram assemblias de peixes com alta riqueza, de 120 a 232 (Bayley, 1983; Junk et al., 1983; Merona & Bittencourt, 1993; SaintPaul et al., 2000; Siqueira-Souza & Freitas, 2004). Alm disso, em face da elevada produtividade primria constituem ambiente propcio ao desenvolvimento de estoques pesqueiros abundantes, que so explotados desde tempos pr-coloniais. Nos ltimos cinco sculos, o fator determinante para as oscilaes na intensidade de pesca na bacia amaznica tem sido a densidade demogrfica. Relatos dos cronistas que acompanhavam os primeiros exploradores informam que as margens dos rios amaznicos eram densamente povoadas, levando a supor que o peixe, assim como hoje, constitua a principal fonte de protena animal. O esvaziamento das vrzeas, em face da elevada mortandade dos indgenas provocada pelas doenas introduzidas e guerras de conquista que ocorreram nos primeiros sculos aps a colonizao portuguesa, resultou em uma diminuio da intensidade de pesca. Apenas no incio do sculo XX, em paralelo com o ciclo de explorao da borracha e o conseqente aumento da densidade demogrfica, a intensidade de pesca volta a aumentar. Entretanto, foi somente aps a formao de metrpoles regionais, a partir da dcada de 1960, e da introduo de tecnologias como o uso de fibras sintticas na fabricao das redes e o uso de poliestireno para o revestimento das caixas de gelar, que os nveis de explorao pesqueira comearam a crescer exponencialmente at atingir a situao atual. O aumento da densidade demogrfica em razo de novos ciclos de desenvolvimentos regionais, ao lado da

implantao de grandes projetos de explorao de recursos naturais, impe a possibilidade de degradao ambiental como uma nova preocupao ao lado do impacto direto da pesca acerca da conservao dos estoques naturais e da biodiversidade. No Projeto Potenciais Impactos Ambientais no Transporte Fluvial de Gs Natural e Petrleo na Amaznia PIATAM, multidisciplinar, desenvolvido por grupos de pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas UFAM, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia INPA, da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ e da Fundao Centro Anlise e Pesquisas Industriais FUCAPI, esto sendo estudadas as assemblias de peixes em oito lagos das plancies adjacentes vrzeas do rio Solimes, dispostos ao longo de mais de 400km, entre a cidade de Coari e a confluncia dos rios Negro e Solimes, nas proximidades de Manaus, Amazonas (Figura 1). No projeto vm sendo realizadas, nos ltimos anos, as amostragens de peixes nos lagos em cada perodo do ciclo hidrolgico: enchente, cheia, vazante e seca. Essas amostragens tm permitido efetuar inferncias sobre a composio e os padres de distribuies temporais e espaciais da ictiofauna. Neste momento, decorridos mais de quatro anos de amostragem, o grupo de pesquisadores responsveis pela rea de Ecologia de Peixe de reas Alagveis apresenta este livro com algumas propostas: Fornecer referncia de fcil acesso e manuseio para todos os pesquisadores que realizam amostragem de peixes em sistemas de grandes rios de guas brancas da Amaznia, com o objetivo de facilitar o trabalho de triagem e identificao das espcies comuns em lagos de vrzea; Disponibilizar informaes ecolgicas bsicas acerca dos peixes da Amaznia, incluindo o maior nmero possvel de citaes, a fim de fornecer ao leitor as referncias disponveis para pesquisa; Fornecer uma idia qualitativa da atividade pesqueira, identificando a intensidade de explotao de cada espcie em razo de sua importncia comercial e de seu consumo pelas populaes ribeirinhas.

Peixes de Lagos do Mdio Rio Solimes

Mais ainda, ao lado de outras publicaes de importantes ictilogos brasileiros, pretendemos contribuir para o conhecimento da maravilhosa diversidade ictiofaunstica desta regio, acreditando que, ao participar do esforo coletivo para ampliao do conhecimento sobre a Amaznia, tambm estamos contribuindo para sua preservao.

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MATERIAL E MTODOS Amostragens Os peixes presentes neste catlogo vm sendo capturados atravs de pescarias experimentais, realizadas trimestralmente, desde 2001. A realizao de pescarias trimestrais tem como objetivo fazer com que cada amostragem corresponda, anualmente, a uma fase do ciclo hidrolgico: enchente, cheia, vazante e seca. Os peixes so coletados com baterias de redes-de-malhar, com dimenses padronizadas em 20 metros de comprimento por 2 metros de altura e tamanho de malha variando de 30 a 90 mm entre ns opostos. O tempo de permanncia das redes na gua de 12 horas por pescaria, sendo mantido constante em todas as amostragens (Figura 2). A biometria (peso e comprimento padro) e a identificao dos peixes foram realizadas, sempre que possvel, ainda no campo. Os exemplares com dvidas quanto identificao foram conservados em formol e transportados at o Laboratrio de Ecologia Pesqueira da Universidade Federal do Amazonas para a identificao com chaves taxonmicas e/ou o auxlio de especialistas. Aps a identificao, alguns exemplares de cada espcie foram depositados na coleo de peixes do projeto.

(ii)

(iii) Lago Iauara (S 03 36 39,2 e W 61 16 33,0): localizado prximo margem esquerda do rio Solimes, no municpio de Manacapuru. extenso e estreito, recebendo a influncia direta do Solimes durante o perodo de alagao, enchente e cheia (Figs. 1 e 5). (iv) Lago Anan (S 03 53 54,8 e W 61 40 18,4): localizado no municpio de Anori, na margem esquerda do rio Solimes. Tambm recebe influncia direta do Solimes. No perodo de guas altas (cheia) tem grande volume dgua, enquanto no perodo de guas baixas drstica a reduo, permanecendo somente um estreito canal de difcil acesso (Figs. 1 e 6). Lago Campina (S 03 46 15,8 e W 62 20 10,3): localiza-se na margem direita do rio Solimes. O lago mais largo que extenso, com grande quantidade de plantas aquticas nas margens, no perodo de guas altas (cheia) (Figs. 1 e 7). Lago Marac (S 03 50 32,8 e W 62 34 32,4): localiza-se na margem esquerda do rio Solimes, no limite entre o municpio de Coari e o municpio de Codajs. um lago comprido, disposto perpendicularmente em relao ao rio Solimes, e conecta-se ao mesmo durante o perodo de guas baixas, por um canal com pouco mais de um quilmetro. H grandes quantidades de macrfitas aquticas nas margens do lago (Figs. 1 e 8).

(v)

Caractersticas dos lagos Os lagos amostrados pelo Projeto PIATAM so, em sua maioria, tpicos lagos das vrzeas adjacentes ao canal principal do Solimes-Amazonas. A conexo desses lagos com o rio bastante varivel, em forma e em extenso. Alguns lagos permanecem conectados durante o ano inteiro, enquanto outros perdem a conexo na poca de guas baixas. Apenas o Lago Aru apresenta caractersticas morfolgicas e qumicas diferenciadas, sendo um tpico lago de ria, formado pelo represamento do rio Urucu antes de sua entrada no rio Solimes, preservando caractersticas de rio de guas pretas, principalmente durante o perodo de guas baixas. (i) Lago do Baixio Solimes (S 03 17 27,2 e W 60 04 29,6): localizado na margem esquerda do rio, no municpio de Iranduba, muito prximo confluncia dos rios Solimes e Negro. Est em uma regio de vrzea baixa denominada de Baixio, na regio em que o interflvio entre os dois rios mais estreito. mais extenso que largo, sua margem recoberta por plantas aquticas (Figs. 1 e 3).

(vi)

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(vii) Lago Poraqu (S 03 57 46,9 W 63 09 41,2): est situado no municpio de Coari. O canal de conexo deste lago com o rio Solimes longo, fazendo com que permanea vrios meses sem conexo com o rio (Figs. 1 e 9). (viii) Lago Aru (S 04 06 35,7 e W 63 33 06,6): um tpico lago de ria, formado na foz do rio Urucu. Apresenta caractersticas das guas escuras do rio Urucu, no perodo de cheia e seca, e das guas brancas do rio Solimes, no perodo de cheia e seca (Figs. 1 e 10).

Peixes de Lagos do Mdio Rio Solimes

Lago Preto (S 03 21 17,1 e W 60 37 28,6): localizado margem direita do rio Solimes, no municpio de Manacapuru. separado do rio Solimes por uma alta restinga e a conexo com o este rio obtida atravs do sistema de lagos do Manaquiri. mais largo que extenso, a colorao da gua escura, tipo cor de ch (decantada) e sua margem recoberta por vegetao (Figs. 1 e 4).

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FIGURA 1.

LOCALIZAO DOS LAGOS DE VRZEA NO TRECHO ENTRE COARI-MANAUS, RIO SOLIMES-AMAZONAS, AM.

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FIGURA 2.

PESCA EXPERIMENTAL COM REDE - DE - MALHAR.

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FIGURA 3. LAGO DO BAIXIO MARGEADO POR VEGETAO AQUTICA.

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FIGURA 4. LAGO PRETO, MARGEADO POR FLORESTA ALAGADA E VEGETAO AQUTICA.

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FIGURA 5.

LAGO IAUARA NA VAZANTE DE 2005.

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FIGURA 6.

LAGO ANAN, NA POCA DA CHEIA, MARGEADO POR EXTENSOS BANCOS DE CAPINS FLUTUANTES.

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FIGURA 7.

LAGO CAMPINA, COM AS MARGENS RECOBERTAS POR VEGETAO AQUTICA.

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FIGURA 8.

LAGO MARAC MARGEADO POR VEGETAO AQUTICA.

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FIGURA 9.

FOTO DO APETRECHO DE COLETA DISPOSTO NO LAGO.

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FIGURA 10. FOTO DO LAGO ARU PERODO DE GUAS ALTAS.

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ORDEM OSTEOGLOSSIFORMES FAMLIA OSTEOGLOSSIDAE

A

famlia caracterizada pela lngua ssea e spera; escamas grandes, grossas e fortemente imbricadas; apresenta o corpo comprimido lateralmente; regio ventral quilhada, boca oblqua,

com uma fenda profunda. Presena de dois pequenos barbilhes na ponta do maxilar inferior (Ferreira, et al., 1998). Seus representantes atuais apresentam caractersticas bastante primitivas, sendo consideradas espcies relquias, que descendem de antigos grupos de gua doce da diviso primria (Lowe McConnell, 1999). Na Amaznia, so conhecidas duas espcies, o aruan branco, Osteoglossum bicirrhosum, que ocorre nos ambientes de guas brancas e pretas e o aruan preto, O. ferreirai, restrito s guas pretas da bacia do rio Negro (Kanazawa, 1966; Rabello-Neto, 2002).

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NOME CIENTFICO: Osteoglossum bicirrhosum (Vandelli, 1829). NOME COMUM: Aruan, macaco dgua, sulamba.

DESCRIO: aruan tem o corpo comprimido e alongado, coberto por grandes escamas ciclides. A boca ampla, com abertura para cima, contendo uma lngua ssea e spera semelhante ao pirarucu, um par de barbilhes na base do maxilar. A colorao do corpo parda-alaranjada, tornando-se avermelhadas em alguns pontos do corpo na poca da desova. A nadadeira dorsal longa, 42 a 50 raios, ocupando quase a metade do comprimento do corpo. A nadadeira anal longa, 49 a 58 raios, quase unida caudal, que curta e arredondada. Escamas grandes e ciclides, variando de 30 a 37 ao longo da linha lateral. O nmero de vrtebras varia de 84 a 92. Espcie de grande porte, alcana 1m de comprimento total e acima de 450 kg (Kanazawa, 1966; Santos et al., 2004). INFORMAES ECOLGICAS: aruan bentopelgico, habita lagos, igaraps e rios de guas brancas, claras e pretas (Goulding et al., 1988; Ferreira, 1993; Pizango-Paima, 1997; Mrona et al., 2001; Rabello Neto, 2002; Claro-Jr, 2003; Siqueira-Souza & Freitas, 2004; Yamamoto, 2004). No lago, durante o perodo de cheia mais abundante na floresta alagada (Saint-Paul et al., 2000). onvoro, mas tem tendncia carnivoria, apresentando variaes ontognicas na alimentao. Os adultos se alimentam de invertebrados aquticos e terrestres (insetos), decpodas, aranhas, peixes (Claro-Jnior, 2003; Merona & Rankin-de-Mrona, 2004) e os juvenis consomem fitoplncton, zooplncton e sementes (Arago, 1984; Leite, 1987). A preferncia por insetos est associada sua grande habilidade de saltar fora dgua e apanhar as presas que caem da floresta alagada. Por isso comumente denominado de macaco dgua. Espcie de hbitos diurnos, sedentria, desova parcelada, fecundao externa, que no perodo reprodutivo formam casais que constrem ninhos nas pausadas e pedras dos lagos e cuidam da prole. Os machos guardam os ovos e as larvas na boca (Neves, 2000). A reproduo ocorre entre o final da seca (dezembro) e o incio da enchente (janeiro) (Arago, 1981; Ruffino & Isaac, 2000). As fmeas iniciam o processo de maturao sexual aos 55cm de comprimento padro e a sua fecundidade mdia de 156 vulos (Arago, 1989). Sobrevive em ambientes com baixas concentraes de oxignio por meio da respirao na superfcie aqutica, (ASR) (Braum & Bock, 1985). Durante a respirao na superfcie aqutica o aruan projeta as barbelas que auxiliam na aerao das brnquias (Braum & Bock, 1985). IMPORTNCIA ECONMICA: aruan muito apreciado pela populao ribeirinha e comercializado nos mercados e feiras da regio. Em 2003, as duas espcies (O. bicirrhosum e O. ferreirai) participaram com 3,75% do total da produo pesqueira desembarcada nos portos dos principais municpios do Estado do Amazonas (Ruffino et al., 2006).

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FAMLIA ARAPAIMATIDAE

A

famlia caracteriza-se pela existncia da lngua ssea, pouco

mvel, cabea rolia; escamas grandes em forma de mosaico; boca terminal e mandbula moderadamente prognata; maxilas

com numerosos dentes cnicos; nadadeiras anal e dorsal alongadas, contornando grande parte da poro posterior do corpo e quase se unindo caudal. Em Arapaimatidae esto includos 2 gneros e duas espcies, sendo uma da frica, Heterotis niloticus, e outra da Amaznia, Arapaima gigas (Santos et al., 2004).

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NOME CIENTFICO: Arapaima gigas (Cuvier, 1819). NOME COMUM: pirarucu, bodeco.

DESCRIO: pirarucu tem o corpo moderadamente cilndrico, sendo um pouco mais largo aps a cabea e progressivamente mais comprimido a partir da origem da nadadeira dorsal. A cabea pequena. Boca superior grande e oblqua, lngua ssea e dentes cnicos em ambas as maxilas. A colorao do corpo castanho-claro a partir do oitavo ou nono ms de idade. Nos adultos, a regio caudal tem colorao avermelhada mais intensa durante o perodo reprodutivo. Escamas ciclides grandes, espessas, estriadas e granulosas. A nadadeira dorsal est situada na parte posterior do corpo, sendo os ltimos raios mais longos, ultapassando a origem da caudal. Nadadeira anal comprida, iniciando aps a nadadeira dorsal, a ventral curta e est localizada prxima anal, a nadadeira caudal arredondada. Espcie de grande porte, alcana 3m de comprimento e 125kg de peso (Neves, 2000; Santos et al., 2004). INFORMAES ECOLGICAS: pirarucu bentopelgico, habita os lagos de rios de guas pretas, claras e, principalmente, brancas (Goulding et al; 1988; Ferreira, 1993; Siqueira-Souza & Freitas, 2004; Yamamoto, 2004). piscvoro e quando adulto alimenta-se principalmente de pequenos characiformes (Neves, 2000), mas os jovens ingerem detritos orgnicos, insetos, gastrpodes e microcrustceos (Oliveira et al., 2005). Espcie de hbito diurno, sedentria, desova parcelada e fecundao externa, que no perodo reprodutivo forma casal que constri ninho e cuida da prole. A reproduo ocorre entre o final da seca (dezembro) e a enchente (maio) (Flores, 1980; Godinho et al., 2005) em ambientes de guas tranqilas, com pouca ou nenhuma correnteza, especialmente nos lagos, em substratos parcialmente limpos, livres de plantas. As fmeas depositam os vulos, que so fecundados e guardados pelo macho. As fmeas iniciam o processo de maturao sexual entre 145 e 185cm de comprimento total (Flores, 1980; Godinho et al., 2005) e a fecundidade oscila em torno de 11000 ovcitos (Bard & Imbiriba, 1986). Estima-se que a sua reproduo ocorra entre 2 e 5 anos, com indivduos pesando acima de 40kg (Neves, 2000). Os adultos liberam feromnio em suas cabeas que atraem os alevinos. Sobrevive em ambientes com baixas concentraes de oxignio por meio de respirao area, efetuada atravs da bexiga natatria modificada, que funciona como um pulmo. H tambm adaptaes fisiolgicas e bioqumicas que auxiliam a sobrevivncia nessas condies (Stevens & Holeton, 1978; Almeida-Val et al., 1999). IMPORTNCIA ECONMICA: pirarucu bastante consumido pela populao ribeirinha, sendo comercializado fresco e seco nos mercados e feiras da regio. Em 2003, o pirarucu participou com 0,11% do total da produo pesqueira desembarcada nos portos dos principais municpios do Estado do Amazonas (Ruffino et al., 2006). As escamas, a lngua e a pele so produtos que fazem parte do artesanato local (Neves, 2000). Est sendo criado em cativeiro.

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ORDEM CLUPEIFORMES FAMLIA PRISTIGASTERIDAE

Aingerem e apap.

famlia caracteriza-se por ter o corpo alto, comprimido

lateralmente e por apresentar o peito saliente. A cabea alta, estreita, com boca pequena e ligeiramente voltada para

cima, os dentes so caniniformes. A regio ventral quilhada, com uma srie de serras formadas por escamas modificadas. A linha lateral geralmente ausente, a nadadeira plvica, quando presente, est situada em posio abdominal e bem frente do corpo, prxima peitoral. A nadadeira caudal bifurcada, a adiposa ausente e a anal longa, com 30 a 90 raios (Santos, et al., 2004). Os peixes so em geral carnvoros, com tendncia piscivoria, consumindo basicamente peixes, mas tambm camares e invertebrados aquticos. constituda,

principalmente, por espcies marinhas e estuarinas e, na Amaznia, ocorrem 3 gneros e 5 espcies, denominadas popularmente de sardinho

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NOME CIENTFICO: Pellona castelnaeana (Valenciennes, 1847). NOME COMUM: apap-amarelo, sardinho.

DESCRIO: apap-amarelo tem o corpo levemente comprido lateralmente, cabea pequena, boca pequena e ligeiramente voltada para cima, olho coberto por membrana. A colorao do corpo amarelada, com o dorso escuro e uma faixa negra no lbulo caudal inferior. Possui 10 espinhos abdominais na linha mediana do ventre, entre a base das nadadeiras plvicas e o nus, e 12 rastros branquiais na parte inferior do 1. arco branquial. As nadadeiras dorsal e peitoral apresentam 16 raios ramificados. Em geral no apresentam a nadadeira adiposa e a linha lateral. Espcie de grande porte, alcana 60cm de comprimento total (Ferreira et al., 1998; Santos et al., 2004). INFORMAES ECOLGICAS: apap-amarelo pelgico, habita os parans, lagos e rios de guas brancas, claras e pretas (Goulding et al., 1988; Ferreira, 1993; Garcia, 1995; Saint-Paul et al., 2000; Freitas & Garcez, 2004; Siqueira-Souza & Freitas, 2004). Nos lagos, pode ser capturado na floresta alagada e na gua aberta, durante os perodos diurno e noturno (Saint-Paul et al., 2000; Corredor, 2004). piscvoro, alimenta-se principalmente de pequenos characiformes e perciformes, mas os camares e os invertebrados aquticos podem fazer parte da dieta (Leite, 1987; Claro-Jr., 2003; Merona & Rankin-de-Merona, 2004). Espcie migradora (GranaroLorencio et al., 2005), desova total e fecundao externa (Santos et al, 2004). A reproduo ocorre entre a seca (novembro) e a enchente (abril) (Santos et al; 2004). As fmeas iniciam o processo de maturao sexual aos 32cm de comprimento padro (Santos et al., 2004).31

IMPORTNCIA ECONMICA: apap-amarelo bastante apreciado pela populao ribeirinha e comercializado nos mercados e feiras da regio. Em 2003, as duas espcies (P. castelnaeana e P. flavipinnis) participaram com 0,02% do total da produo pesqueira desembarcada nos portos dos principais municpios do Estado do Amazonas (Ruffino et al., 2006).

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NOME CIENTFICO: Pellona flavipinnis (Valenciennes, 1847). NOME COMUM: apap-branco, sardinho.

DESCRIO: apap-branco tem o corpo comprimido e elevado. A mandbula ligeiramente maior que a maxila superior, projetando-se sobre esta e formando a boca voltada para cima, os olhos so totalmente cobertos por membrana. A colorao do corpo amarelo-prateada no dorso e um pouco escuro ao redor da boca, com uma faixa escura na poro mediana das nadadeiras caudal e anal. Possui cerca de 25 rastros branquiais na parte inferior do primeiro arco branquial e 14 espinhos abdominais na linha mediana do ventre, entre a base das nadadeiras plvicas e a anal. A nadadeira peitoral possui 13 e a ventral 6 raios ramificados, sendo esta ltima pequena e distante do nus. A nadadeira anal apresenta 43 raios ramificados. Espcie de grande porte que alcana 65cm de comprimento total (Ferreira et al., 1998; Santos et al., 2004). INFORMAES ECOLGICAS: apap-branco pelgico, habita os parans, lagos e rios de guas brancas, claras e pretas (Ferreira, 1993; Saint-Paul et al., 2000; Freitas & Garcez, 2004; Siqueira-Souza & Freitas, 2004; Soares & Yamamoto, 2005). Nos lagos, pode ser capturado na floresta alagada e na gua aberta, durante os perodos diurno e noturno (Saint-Paul et al., 2000; Corredor, 2004). carnvoro, com tendncia piscvoria. Ingere, alm de peixes, camares, insetos e invertebrados aquticos (Claro-Jr., 2003; Merona & Rankin-de-Mrona, 2004; Moreira, 2004). Espcie migradora (Granaro-Lorencio et al., 2005), desova total e fecundao externa, que migra pequenas distncias acompanhando os cardumes de peixes de pequeno porte para se alimentar (Cox-Fernandes, 1988). A reproduo ocorre entre a seca (novembro) e a enchente (abril) (Moreira, 2004). As fmeas iniciam o processo de maturao sexual aos 11,8cm e todas as fmeas atingem a maturidade sexual com 21cm e a fecundidade mdia varia entre 16093 e 17957 ovcitos (Moreira, 2004; Costa, 2006). IMPORTNCIA ECONMICA: apap-branco bastante apreciado pela populao ribeirinha e comercializado nos mercados e feiras da regio. Em 2003, as duas espcies (P. castelnaeana e P. flavipinnis) participaram com 0,02% do total da produo pesqueira desembarcada nos portos dos principais municpios do Estado do Amazonas (Ruffino et al., 2006).

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ORDEM CHARACIFORMES FAMLIA ACESTRORHYNCHIDAE

O

s peixes desta famlia, anteriormente includos em Characidae,

recentemente passaram a ter a sua prpria famlia. So peixes de corpo muito alongado, coberto por escamas relativamente pequenas.

Todos os dentes so cnicos e apresentam fortes dentes caninos no pr-maxilar. A nadadeira anal falcada e a origem da dorsal mais prxima da base caudal do que do focinho. Os acestrorinchdeos so endmicos da Amrica do Sul e a maioria das espcies ocorre nas bacias Amaznica e Orinoco. A peculiar dentio faz com que esses peixes sejam especializados na predao de outros tipos de peixes (Menezes, 2003).

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NOME CIENTFICO: Acestrorhynchus falcatus (Bloch, 1794). NOME COMUM: peixe-cachorro.

DESCRIO: peixe-cachorro tem corpo alongado prateado, olhos bem desenvolvidos, boca grande com uma ampla abertura, dentes caninos, sendo o primeiro par de dentes bastante desenvolvido, maxila superior maior que a inferior. A colorao do corpo amarelo-prateado, com dorso mais escuro e ventre esbranquiado. As nadadeiras so, em geral, amareloalaranjadas, com exceo da caudal, que avermelhada. Possui uma mancha umeral oval, ocupando cerca de 1/3 da altura do corpo. Adicionalmente, tem uma mancha circular na base da nadadeira caudal cobrindo os raios medianos. As escamas so pequenas e se desprendem facilmente do corpo. Linha lateral tem de 85 a 90 escamas. Espcie de mdio porte, alcana 30cm de comprimento padro (Planquette et al., 1996; Ferreira et al., 1998; Lpez-Fernandez & Winemiller, 2003; Santos et al., 2004). INFORMAES ECOLGICAS: peixe-cachorro pelgico, habita os lagos de rios de guas brancas e claras (Siqueira-Souza & Freitas, 2004; Yamamoto, 2004). um piscvoro voraz que se alimenta quase que exclusivamente de peixes (Claro Jr., 2003). Espcie de hbito diurno, sedentria (Granado-Lorencio et al., 2005) e fecundao externa, que provavelmente, apresenta desova parcelada. As fmeas iniciam o processo de maturao sexual aos 15cm de comprimento padro e a fecundidade total em torno de 16459 ovcitos (Ponton & Mrona, 1998). IMPORTNCIA COMERCIAL: peixe-cachorro no consumido pela populao ribeirinha nem comercializado nos mercados e feiras da regio.35

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NOME CIENTFICO: Acestrorhynchus falcirostris (Cuvier, 1819). NOME COMUM: dentudo, peixe-cachorro.

DESCRIO: dentudo tem o corpo alongado, rolio, olhos bem desenvolvidos, ampla abertura bucal e mandbulas providas de dentes caniniformes. A maxila superior levemente maior que a inferior, sendo o primeiro par de dentes muito pequeno, escondido na base do primeiro par de caninos grandes. Colorao do corpo varia entre o amarelo e o prateado e tem o abdmen esbranquiado. Nadadeira caudal amarelada, furcada com uma mancha preta na sua base. Ocasionalmente possui uma pequena mcula na margem posterior do oprculo. A nadadeira dorsal est localizada na poro posterior do corpo, antes do incio da nadadeira anal. As escamas so pequenas e facilmente se soltam do corpo. A linha lateral possui de 160 a 180 escamas. Espcie de mdio porte, atinge 40cm de comprimento padro (Rubiano, 1999; LpezFernandez & Winemiller, 2003; Santos et al., 2004). INFORMAES ECOLGICAS: dentudo pelgico, habita igaraps e lagos de rios de guas brancas e pretas (Goulding et al., 1988; Siqueira-Souza & Freitas, 2004; Yamamoto, 2004; Layman & Winemiller, 2005; Soares & Yamamoto, 2005). Nos lagos, pode ser capturado na floresta alagada e na gua aberta (Saint-Paul et al., 2000). piscvoro, alimentando-se, quase que exclusivamente de peixes, mas os camares tambm fazem parte da sua dieta (Goulding et al., 1988; Mrona & Rankin-de-Mrona, 2004; Moreira, 2004). Alm de peixes, os indivduos jovens ingerem invertebrados (Moreira, 2004). A forma do corpo e a sua dentio indicam que o dentudo extremamente adaptado piscivoria, sendo um voraz predador que engole as presas inteiras. Espcie de hbito diurno, sedentria, desova parcelada e fecundao externa (Rubiano 1999; Moreira, 2004). A reproduo ocorre com maior intensidade no final da seca (dezembro) e no incio da cheia (maio) (Rubiano, 1999; Moreira, 2004). As fmeas iniciam o processo de maturao sexual aos 14cm de comprimento padro e a fecundidade total varia entre 8770 e 29070 ovcitos (Rubiano, 1999; Moreira, 2004). IMPORTNCIA COMERCIAL: dentudo no consumido pela populao ribeirinha nem comercializado nos mercados e feiras da regio.

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FAMLIA ANOSTOMIDAE

A

famlia caracteriza-se pelo corpo alongado e fusiforme, boca pequena

no-protrtil, maxilas geralmente curtas, dentes faringeanos relativamente bem desenvolvidos e com duas ou mais cspides,

dentes incisivos, implantados numa s fileira, em forma de escada e em nmero mximo de 3 a 4 em cada lado de cada maxila. As narinas anteriores apresentam uma expanso carnosa em forma de tubo e a membrana branquial unida ao istmo. A nadadeira anal curta, normalmente com nove a onze raios, e muitas espcies se posicionam com a cabea voltada para baixo. Estes peixes so herbvoros e onvoros, consumindo basicamente frutos, sementes, razes, esponjas, insetos e outros invertebrados aquticos. Muitas espcies dessa famlia formam cardumes, deslocando-se para fins trficos e reprodutivos. Anostomidae constituda por 12 gneros e 140 espcies e seus representantes so popularmente conhecidos como aracus e piaus (Santos et. al. 2004).

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NOME CIENTFICO: Leporinus fasciatus (Bloch 1794). NOME COMUM: aracu-amarelo, aracu-flamengo.

DESCRIO: aracu-amarelo tem o corpo alongado e fusiforme. A boca terminal subinferior, contendo dentes incisiviformes, em forma de escada. O corpo possui barras transversais escuras sobre um fundo amarelo-ouro, sendo de 8 a 9 no tronco e 3 na cabea. A parte inferior da cabea e a regio opercular so alaranjadas, enquanto as nadadeiras ventral e dorsal so mais claras. Rastros branquiais em torno de 21 a 26 e linha lateral com 42 a 45 escamas. Espcie de mdio porte, que alcana 30cm de comprimento (Santos & Jegu, 1996; Ferreira et al., 1998). INFORMAES ECOLGICAS: aracu-amarelo bentopelgico, habita parans, lagos e margens de rios de guas brancas, claras e pretas, sendo mais abundante em ambientes de guas pretas (Goulding et al., 1988; Ferreira, 1993; Garcia, 1995; Saint-Paul et al., 2000; Arajo, 2004; Freitas & Garcez, 2004). Nos lagos, os adultos so frequentemente capturados nas florestas alagadas e na gua aberta (Saint-Paul et al., 2000). herbvoro ou onvoro, conforme a poca do ciclo hidrolgico e o habitat, consumindo insetos aquticos, frutos, vegetais, sementes e invertebrados (Goulding, 1980; Santos, 1982; Claro-Jr., 2003; Santos et al., 2006). Espcie de hbito diurno, migradora (Granado-Lorencio et al., 2005), desova total e fecundao externa. A reproduo ocorre na enchente (janeiro a abril) (Santos, 1982; Santos et al., 2006). As fmeas iniciam o processo de maturao sexual aos 14cm de comprimento padro (Santos, 1982; Ponton & Mrona, 1998; Snchez-Botero & Arajo-Lima, 2001) e a fecundidade total de 78557 ovcitos (Ponton & Mrona, 1998). As fmeas so proporcionalmente maiores em comprimento que o macho. IMPORTNCIA ECONMICA: aracu-amarelo muito apreciado pela populao ribeirinha e comercializado nos mercados e feiras da regio. Em 2003, as seis principais espcies (Leporinus fasciatus, L. friderici, L. trifasciatus, Rhythiodus microlepis, Schizodon fasciatum e S. vittatum) participaram com 2,44% do total da produo pesqueira desembarcada nos portos dos principais municpios do Estado do Amazonas (Ruffino et al., 2006).

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Peixes de Lagos do Mdio Rio Solimes

NOME CIENTFICO: Leporinus friderici (Bloch, 1794). NOME COMUM: aracu-cabea-gorda, aracu-comum.

DESCRIO: aracu-cabea-gorda tem o corpo alongado e fusiforme. A boca terminal subinferior, com dentes incisivos em forma de escada. A colorao do corpo cinzaamarronzada, possuindo trs manchas arredondadas ou ovais sobre a linha lateral. A primeira, na altura da nadadeira dorsal, a segunda, entre a dorsal e a adiposa, e a terceira, na base da nadadeira caudal. Os indivduos com at 10cm de comprimento padro apresentam de 13 a 16 barras transversais escuras acima da linha lateral, que desaparecem na medida em que o indivduo vai crescendo. Rastros branquiais em torno de 21 a 29, linha lateral com 37 a 39 escamas, sendo 5 fileiras acima e 5 abaixo dela. Espcie de mdio porte, alcana de 30 a 40cm de comprimento total e 1,5kg de peso (Santos, 1982; Santos et al., 1984; Santos & Jegu, 1996; Santos et al., 2004). INFORMAES ECOLGICAS: aracu-cabea-gorda bentopelgico, habita os lagos e as margens de rios de guas brancas, claras e pretas (Goulding et al., 1988; Saint-Paul et al., 2000; Mrona et al., 2001; Freitas & Garcez, 2004; Siqueira-Souza & Freitas, 2004; Yamamoto, 2004). Nos lagos, pode ser capturado na floresta alagada e na gua aberta, tanto durante o dia quanto noite (Saint-Paul et al., 2000). herbvoro ou onvoro conforme a poca do ciclo hidrolgico e do hbitat, consumindo frutos, sementes, insetos, peixe e camaro (Goulding, 1980; Santos, 1982; Mrona et al., 2000; Claro-Jr., 2003; Mrona & Rankin-de-Merona, 2004). Espcie de hbito diurno, sedentria (Rizzo et al., 2002; Granado-Lorencio, 2005), desova total, e fecundao externa, que desova na boca dos lagos ou na rea sob a influncia direta do rio Solimes (Goulding, 1980; Santos, 1982; Lopes et al., 2000). A reproduo ocorre entre a vazante (outubro) e a enchente (abril) (Santos, 1982). As fmeas iniciam o processo de maturao sexual aos 14cm de comprimento padro (Santos, 1982; Torrente-Villara, 2003) e a fecundidade total varia entre 159627 e 188204 ovcitos (Ponton & Mrona, 1998). Sobrevive em ambientes com baixas concentraes de oxignio por meio da respirao na superfcie aqutica (ASR) (Soares et al., 2006). IMPORTNCIA ECONMICA: aracu-cabea-gorda muito apreciado pela populao ribeirinha e comercializado nos mercados e feiras da regio. Em 2003, as seis espcies (L. fasciatus, L. friderici, L. trifasciatus, R. microlepis, S. fasciatum e S. vittatum) participaram com 2,44% do total da produo pesqueira desembarcada nos portos dos principais municpios do Estado do Amazonas (Ruffino et al., 2006).

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NOME CIENTFICO: Leporinus trifasciatus (Steindachener, 1876). NOME COMUM: aracu-cabea-gorda.

DESCRIO: aracu-cabea-gorda tem o corpo alto e robusto. A colorao do corpo cinza, com duas a trs barras transversais escuras e uma mancha arredondada, tambm escura, na base da caudal. A boca terminal subinferior. Os indivduos jovens apresentam barras transversais estreitas e numerosas que desaparecem conforme o crescimento. A regio ventral da cabea normalmente avermelhada e o dorso mais escuro que o ventre. Seus rastros branquiais so curtos, carnosos e dispostos em duas fileiras, com uma variao de 22 a 30. A linha lateral possui cerca de 43 escamas, sendo 6 fileiras acima e 5 abaixo. Uma caracterstica que distingue a espcie a presena de 6 dentes em cada maxila. Espcie de mdio porte, alcana 35cm de comprimento total e 600 gramas de peso (Santos, 1982; Santos et al, 1984; Ferreira et al., 1998). INFORMAES ECOLGICAS: aracu-cabea-gorda bentopelgico, habita parans, lagos e margens de rios de guas claras e brancas (Mrona et al., 2001; Freitas & Garcez, 2004; Siqueira-Souza & Freitas, 2004; Granado-Lorencio et al., 2005). Nos lagos de guas brancas, os indivduos so capturados nas florestas alagadas e na gua aberta (Saint-Paul et al., 2000; Corredor, 2004; Correa, 2005). onvoro com tendncia a frugivoria, alimenta-se de insetos, moluscos, pedaos de folhas, razes, sementes, frutos que so totalmente quebrados pelos fortes dentes (Santos & Jegu, 1989; Mrona et al., 2001; Claro-Jr., 2003; Merona & Rankin-de-Mrona, 2004). Espcie de hbito diurno, migradora, desova total e fecundao externa. Na vazante forma pequenos cardumes que se deslocam em direo s margens dos rios ou cabeceiras dos lagos (Santos, 1982; Granado-Lorencio et al., 2005). A reproduo ocorre no incio da enchente (janeiro a abril) (Santos, 1982). As fmeas iniciam o processo de maturao sexual aos 19cm e so proporcionalmente maiores que os machos (Santos, 1982). IMPORTNCIA ECONMICA: aracu-cabea-gorda muito apreciado pela populao ribeirinha e comercializado nos mercados e feiras da regio. Em 2003, as seis principais espcies (L. fasciatus, L. friderici, L. trifasciatus, R. microlepis, S. fasciatum e S. vittatum) participaram com 2,44% do total da produo pesqueira desembarcada nos portos dos principais municpios do Estado do Amazonas (Ruffino et al., 2006).

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NOME CIENTFICO: Rhythiodus microlepis (Kner, 1859). NOME COMUM: aracu-pau-de-vaqueiro.

DESCRIO: aracu-pau-de-vaqueiro tem o corpo alongado e cilndrico. A boca pequena, terminal, dentes incisivos, delgados e frgeis, sendo 8 no premaxilar e 8 na mandbula. A colorao marrom-escuro no dorso e claro no ventre. Rastros branquiais moles, variando de 29 a 34 na face interna e de 30 a 36 na face externa. Linha lateral entre 84 e 90 escamas. Espcie de mdio porte, alcana 35cm de comprimento total (Santos, 1980; Ferreira et al., 1998). INFORMAES ECOLGICAS: aracu-pau-de-vaqueiro bentopelgico, habita lagos e parans de rios de guas brancas (Saint-Paul et al., 2000; Freitas & Garcez, 2004; Siqueira-Souza & Freitas, 2004; Yamamoto, 2004). Nos lagos de gua branca, os adultos so freqentemente capturados nas florestas alagadas e na gua aberta (Saint-Paul et al., 2000; Corredor, 2004), ao passo que os jovens, na vegetao aqutica (Sanchez-Botero & Arajo-Lima, 2001; Corredor, 2004; Prado, 2005). herbvoro, alimentando-se de macrfitas aquticas, algas filamentosas e perifton (Santos, 1981; Magalhes & Soares, 2002; Claro-Jr., 2003; Merona & Rankin-de-Merona, 2004; Santos et al., 2006). Espcie de hbito diurno, migradora, desova total e fecundao externa, na vazante forma cardumes que se deslocam em direo ao encontro dos rios de gua branca e preta para desovar (Saint-Paul et al., 2000; Lima & ArajoLima, 2004; Granado-Lorencio et al., 2005). A reproduo ocorre no incio da enchente (janeiro a abril) (Santos, 1980). As fmeas iniciam o processo de maturao sexual aos 19,2cm de comprimento padro (Santos, 1980; Snchez-Botero & Arajo-Lima, 2001). Sobrevive em ambientes com baixas concentraes de oxignio por meio da respirao na superfcie aqutica (ASR) (Soares et al., 2006). IMPORTNCIA ECONMICA: aracu-pau-de-vaqueiro muito apreciado pela populao ribeirinha e comercializado nos mercados e feiras da regio. Em 2003, as seis prinipais espcies (L. fasciatus, L. friderici, L. trifasciatus, R. microlepis, S. fasciatum e S. vittatum) participaram com 2,44% do total da produo pesqueira desembarcada nos portos dos principais municpios do Estado do Amazonas (Ruffino et al., 2006).

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NOME CIENTFICO: Schizodon fasciatum (Agassiz, 1829). NOME COMUM: aracu-comum.

DESCRIO: aracu-comum tem o corpo alongado e fusiforme. A boca pequena e terminal, provida de dentes multicuspidados, bem desenvolvidos e robustos, sendo 8 dentes no premaxilar e 8 na mandbula. A colorao do corpo prateado-acizentado, um pouco mais escuro na parte superior, com barras transversais negras. Tem uma mancha negra arredondada na base da nadadeira caudal, presente tambm nos indivduos mais jovens. Rastros branquiais moles e pequenos, variando de 19 a 23 na face interna e de 21 a 26 na face externa. Espcie de mdio porte, alcana 30cm de comprimento total (Santos, 1980; Ferreira et al., 1998). INFORMAES ECOLGICAS: aracu-comum bentopelgico, habita parans e lagos de rios de guas brancas, claras e pretas (Goulding et al., 1988; Ferreira, 1993; Freitas & Garcez, 2004; Siqueira-Souza & Freitas, 2004; Soares & Yamamoto, 2005). Nos lagos de gua branca, os jovens podem ser capturados na vegetao aqutica (Snchez-Botero & Arajo-Lima, 2001; Petry et al., 2003; Prado, 2005). herbvoro, alimentando-se basicamente de macrfitas aquticas, algas filamentosas e perifton, mas tambm pode ingerir frutos e insetos terrestres e aquticos (Santos, 1981; Claro-Jr., 2003; Mrona & Rankin-de-Merona, 2004; Silva, 2006). Espcie de hbito diurno, migradora, desova total e fecundao externa, que na vazante forma cardumes que se deslocam em direo ao encontro dos rios de guas brancas e pretas para desovar (Cox-Fernandes & Mrona, 1988; Saint-Paul et al., 2000; Lima & Arajo-Lima, 2004; Granado-Lorencio et al., 2005). A reproduo ocorre na seca (novembro) e na enchente (janeiro a abril) (Santos, 1980; Fabr & Saint-Paul, 1998). As fmeas iniciam o processo de maturao sexual aos 19cm e todos os indivduos alcanam a maturidade com 24cm de comprimento padro (Santos, 1980; Issac et al., 2000; Torrente-Villara, 2003), e a fecundidade total de 103495 ovcitos (Costa, 2006). Sobrevive em ambientes com baixas concentraes de oxignio por meio da respirao na superfcie aqutica (ASR) e o uso do oxignio existente entre as razes das plantas aquticas (Saint-Paul & Soares, 1987; Soares et al., 2006). IMPORTNCIA ECONMICA: aracu-comum muito apreciado pela populao ribeirinha e comercializado nos mercados e feiras da regio. Em 2003, os aracus (L. fasciatus, L. friderici, L. trifasciatus, R. microlepis, S. fasciatum e S. vittatum) participaram com 2,44% do total da produo pesqueira desembarcada nos portos dos principais municpios do Estado do Amazonas (Ruffino et al., 2006).

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NOME CIENTFICO: Schizodon vittatum (Valenciennes, 1849). NOME COMUM: aracu, aracu-comum, aracu-pororoca.

DESCRIO: aracu-comum tem o corpo levemente alongado e fusiforme. A boca terminal, com 8 dentes fortes e multicuspidados em cada maxilar. A colorao do corpo cinza-escuro no dorso e clara no ventre e na parte inferior da cabea. Apresenta de 3 a 4 barras transversais escuras no tronco e uma longitudinal escura sobre o pednculo caudal, algumas vezes se estendendo sobre o corpo. A linha lateral possui de 43 a 45 escamas, sendo 4 fileiras acima e 5 abaixo. Ao redor do pednculo caudal ocorrem 16 sries de escamas. Espcie de mdio porte que alcana 40cm de comprimento total (Ferreira et al, 1998; Santos et al., 2004). INFORMAES ECOLGICAS: aracu-comum bentopelgico, habita os lagos de rios de guas brancas, claras e pretas (Santos et al., 2004; Siqueira-Souza & Freitas, 2004; Soares & Yamamoto, 2006). herbvoro, alimentando-se de algas, razes, folhas, frutos e sementes (Braga, 1990; Merona et al., 2001; Santos et al., 2004). Espcie de hbitos diurnos, migradora, desova total e fecundao externa (Santos et al., 2006). A reproduo ocorre na enchente e cheia, e as fmeas iniciam o processo de maturao sexual aos 20cm de comprimento (Santos et al., 2006). IMPORTNCIA ECONMICA: aracu-comum muito apreciado pela populao ribeirinha e comercializado nos mercados e feiras da regio. Em 2003, os aracus (L. fasciatus, L. friderici, L. trifasciatus, R. microlepis, S. fasciatum e S. vittatum) participaram com 2,44% do total da produo pesqueira desembarcada nos portos dos principais municpios do Estado do Amazonas (Ruffino et al., 2006).

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FAMLIA CHARACIDAE

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famlia abrange 963 espcies descritas, das quais 620 esto includas

na subfamlia denominada Insertae sedis (Reis et al., 2003). A maioria dessas espcies de pequeno porte, bastante abundante em

pequenos tributrios e outros habitats aquticos da Amaznia. Outras 343 espcies esto distribudas em 12 subfamlias (entre elas Bryconinae, Characinae, Serrasalminae, Tetragonopterinae). Em geral, a famlia Characidae inclui peixes de diferentes modos de reproduo e hbitos alimentares. A disposio dos dentes muito varivel, caracterizando sua capacidade de explorar uma grande variedade de hbitats. Por causa da grande variedade de formas difcil caracterizar morfologicamente o grupo como um todo. Grande parte das espcies possui nadadeira anal longa (com algumas excees em tetragonopterdeos), maxilar superior fixa, com dentes firmemente implantados e nadadeira dorsal com cerca de 10-13 raios. A maioria das espcies capturadas nos lagos estudados pelo Projeto PIATAM, podem ser consideradas de interesse comercial e consumida pelas populaes ribeirinhas da Amaznia.

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SUBFAMLIA INSERTAE SEDIS NOME CIENTFICO: Triportheus albus (Cope, 1872). NOME COMUM: sardinha-comum.

DESCRIO: sardinha-comum tem o corpo alongado e comprimido lateralmente. Os olhos so grandes e a boca pequena, dorsalmente orientada, com dentes cuspidados e ventre quilhado. Colorao prateada uniforme, com nadadeira caudal amarelada, furcada e com extremidade escura. Possui uma fileira de escamas largas entre a base da nadadeira peitoral e a quilha ventral (semelhante a T. elongatus). A linha lateral possui de 32-35 escamas. Espcie de pequeno porte, alcana 20cm de comprimento padro (Almeida, 1984; Malabarba, 2004; Ferreira et al., 1998). INFORMAES ECOLGICAS: sardinha-comum pelgica, abundante nos lagos e rios de guas brancas, claras e pretas (Goulding et al., 1988; Mrona et al., 2001; Corredor, 2004; Yamamoto, 2004). Nos lagos de gua branca, os adultos so capturados na gua aberta e na floresta alagada (Corredor, 2004) e os jovens na vegetao aqutica (Snchez-Botero & Arajo-Lima, 2001; Petry et al., 2003). onvora, adaptada a se alimentar de invertebrados aquticos, terrestres, alm de material vegetal superior (Almeida, 1984; Santos et al., 1984; Poully et al., 2004). Espcie de hbito diurno, migradora, desova total e fecundao externa, na vazante forma cardumes que se deslocam em direo s guas turvas dos rios de gua branca para desovar (Lima & Araujo-Lima, 2004; Granado-Lorencio et al., 2005). Depois da desova retornam s vrzeas para se alimentar. A reproduo ocorre entre a seca (outubro) e o incio da enchente (fevereiro). As fmeas iniciam o processo de maturao sexual aos 11cm de comprimento padro e a fecundidade total varia entre 11350 e 22950 ovcitos (Rubiano, 1999; Costa, 2006). Sobrevive em ambientes com baixas concentraes de oxignio por meio da respirao na superfcie aqutica (ASR) (Saint-Paul & Soares, 1987; Winemiller, 1989; Soares et al., 2006). IMPORTNCIA COMERCIAL: sardinha-comum um peixe apreciado pela populao ribeirinha e muito comercializado nos mercados e feiras da regio. Em 2003, as trs espcies (T. angulatus, T. elongatus e T. albus) participaram com 9,17% do total da produo pesqueira desembarcada nos portos dos principais municpios do Estado do Amazonas (Ruffino et al., 2006).

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NOME CIENTFICO: Triportheus angulatus (Spix & Agassiz, 1829). NOME COMUM: sardinha-papuda.

DESCRIO: sardinha-papuda tem o corpo curto e alto, com acentuada expanso na regio peitoral em forma de papo. Os olhos so grandes e a boca pequena, levemente superior, com dentes tricuspidados. A colorao do corpo varia de cinza a prateada, com presena de faixas escuras longitudinais na superfcie lateral do corpo. Nadadeira caudal com raios medianos alongados, em forma de filamento de colorao escura. A linha lateral possui de 34 a 37 escamas, sendo 2 fileiras de escamas longitudinais entre a base da nadadeira peitoral e a quilha ventral e 6 fileiras de escamas entre a linha lateral e a origem da dorsal. Espcie de mdio porte, atinge 25cm de comprimento total (Almeida, 1984; Malabarba, 2004; Santos et al., 2004). INFORMAES ECOLGICAS: sardinha-papuda pelgica, abundante nos lagos e rios de guas brancas, claras e pretas (Goulding et al., 1988; Mrona et al., 2001; Siqueira-Souza & Freitas, 2004; Yamamoto, 2004). Nos lagos de gua branca, os adultos so capturados na gua aberta e na floresta alagada (Saint-Paul et al., 2000; Corredor, 2004), ao passo que os jovens, na vegetao aqutica (Snchez-Botero & Arajo-Lima, 2000; Petry et al., 2003). onvora, adaptada a se alimentar de frutos/sementes e invertebrados da floresta alagada que caem na superfcie da gua (Mrona & Rankin-de-Mrona, 2004; Pouilly et al., 2004; Yamamoto et al., 2004). Espcie de hbitos diurnos, migradora, desova total e fecundao externa, na vazante forma cardumes que se deslocam em direo s guas turvas dos rios de guas brancas para desovar (Lima & Araujo-Lima, 2004; Granado-Lorencio et al., 2005). Depois da desova retornam s reas alagadas para se alimentar. A reproduo ocorre entre o final da seca (dezembro) e o incio da enchente (fevereiro), coincidindo com o perodo de chuvas (Rubiano, 1999). As fmeas iniciam o processo de maturao sexual aos 13cm de comprimento padro e a fecundidade total varia entre 17450 e 32030 ovcitos (Rubiano, 1999; Costa, 2006). Sobrevive em ambientes com baixas concentraes de oxignio por meio da respirao na superfcie aqutica (ASR) e aps longo tempo ocorre a expanso do lbio da mandbula inferior denominada localmente de uaiu (Baum & Junk, 1982; Saint-Paul & Soares, 1987; Winemiller, 1989; Soares et al., 2006). IMPORTNCIA ECONMICA: sardinha-papuda muito apreciada pela populao ribeirinha e comercializada nos mercados e feiras da regio. Em 2003, as trs espcies (T. angulatus, T. elongatus e T. albus) participaram com 9,17% do total da produo pesqueira desembarcada nos portos dos principais municpios do Estado do Amazonas (Ruffino et al., 2006).

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NOME CIENTFICO: Triportheus elongatus (Gunther, 1864). NOME COMUM: sardinha-comprida, sardinha-faco.

DESCRIO: sardinha-comprida tem o corpo alongado, comprimido lateralmente, boca pequena, levemente orientada para a superfcie da gua, dentes cuspidados e olhos grandes. Colorao cinza-prateada, mais escura no dorso que no ventre. A nadadeira caudal amarelada, com a extremidade escura. A linha lateral possui de 40 a 46 escamas e apresenta uma fileira longitudinal de escamas entre a base da nadadeira peitoral e a quilha ventral. Espcie de mdio porte, alcana 30cm de comprimento total (Malabarba, 2004; Santos et al., 2004). INFORMAES ECOLGICAS: sardinha-comprida pelgica, abundante nos lagos e rios de guas brancas, claras e pretas (Garcia, 1995; Mrona et al., 2001; Yamamoto, 2004). Nos lagos de gua branca, os adultos so capturados na gua aberta e na floresta alagada (Corredor, 2004). onvora, ingerindo alimentos similares aos da sardinha-papuda (T. angulatus), frutos/sementes e invertebrados da floresta alagada (Goulding, 1980; Claro-Jr., 2003; Mrona & Rankin-de-Mrona, 2004). Espcie de hbito diurno, migradora, desova total e fecundao externa, na vazante forma cardumes que se deslocam em direo s guas turvas dos rios de guas brancas para desovar (Lima & Arajo-Lima, 2004; Granado-Lorencio et al., 2005). Aps a desova retornam s vrzeas para se alimentar. A reproduo ocorre entre a seca (outubro) e o incio da enchente (fevereiro) e as fmeas iniciam o processo de maturao sexual aos 17cm de comprimento padro (Rubiano, 1999). IMPORTNCIA COMERCIAL: sardinha-comprida muito apreciada pela populao ribeirinha e comercializada nos mercados e feiras da regio. Em 2003, as trs espcies (T. angulatus, T. elongatus e T. albus) participaram com 9,17% do total da produo pesqueira desembarcada nos portos dos principais municpios do Estado do Amazonas (Ruffino et al., 2006).49

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SUBFAMLIA BRYCONINAE NOME CIENTFICO: Brycon amazonicus (Spix & Agassiz, 1829). NOME COMUM: matrinx. DESCRIO: matrinx tem o corpo alongado, pouco alto e levemente comprimido, com regio ventral arredondada. Os dentes so multicuspidados, dispostos em vrias fileiras na maxila superior. A colorao do corpo prateada, com as nadadeiras alaranjadas, sendo a nadadeira caudal mais escura. Apresenta uma mancha arredondada escura na regio umeral. Espcie de mdio porte, alcana 40cm de comprimento total e 500 gramas de peso (Zaniboni, 1985; Ferreira et al., 1998). INFORMAES ECOLGICAS: matrinx bentopelgica, habita lagos e rios de guas brancas, claras e pretas (Goulding et al., 1988; Ferreira, 1993; Saint-Paul et al., 2000; Do Vale, 2003; Siqueira-Souza & Freitas, 2004; Yamamoto, 2004). Nos lagos de gua branca, os jovens so capturados na vegetao aqutica (Snchez-Botero & Arajo-Lima, 2001; Petry et al., 2003). onvoro, ingerindo frutos, sementes, flores, restos de vegetais, plantas herbceas, insetos e restos de peixes (Izel et al., 2004). Espcie de hbito diurno, migradora, desova total e fecundao externa, na vazante forma cardumes que se deslocam em direo ao encontro dos rios de guas brancas e pretas para desovar (Lima & Arajo-Lima, 2004; Granado-Lorencio et al., 2005). Depois da desova retornam s reas alagadas para se alimentar. A reproduo ocorre entre o final da seca (dezembro) e o incio da enchente (janeiro) (Zaniboni, 1985). As fmeas iniciam o processo de maturao sexual aos 16,5cm de comprimento padro (SnchezBotero & Arajo-Lima, 2001) e a fecundidade varia entre 36706 e 309287 ovcitos (Zaniboni, 1985). IMPORTNCIA ECONMICA: matrinx bastante apreciada pela populao ribeirinha. Apresenta grande importncia comercial, sendo uma das principais espcies comercializadas nos mercados e feiras da regio. Em 2003, participou com 1,9% do total da produo pesqueira desembarcada nos portos dos principais municpios do Estado do Amazonas (Ruffino et al., 2006). Est sendo criado em cativeiro.

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SUBFAMLIA CHARACINAE NOME CIENTFICO: Roeboides myersii (Gill, 1870). NOME COMUM: z-do-. DESCRIO: z-do- tem o corpo alto e comprimido lateralmente, com uma gibosidade no dorso. O maxilar longo e a boca terminal, com 6 a 19 dentes arredondados fora e ao redor da boca, todos robustos e sem cspides. A colorao do corpo prateada a amarelada com uma pequena mancha escura na regio umeral. Nadadeira adiposa presente; nadadeira dorsal com 2 espinhos e 9 raios; nadadeira peitoral com um espinho e 12-16 raios; nadadeira ventral com um espinho e 7 raios; nadadeira anal bastante longa, quatro a cinco espinhos e 42-55 raios, com uma bainha formada por 7 a 10 fileiras de escamas percorrendo toda sua base. A nadadeira caudal possui 17 raios principais, com extremidade em forma de meia-lua. Espcie de pequeno porte, que alcana 12cm de comprimento total (Ferreira et al., 1998; Lucena & Menezes, 2003). INFORMAES ECOLGICAS: z-do- bentopelgico, habita lagos e rios de guas claras e brancas (Freitas & Garcez, 2004; Siqueira-Souza & Freitas, 2004; Yamamoto, 2004). Nos lagos de gua branca, os jovens podem ser capturados na vegetao aqutica (Snchez-Botero & Arajo-Lima, 2001; Petry et al., 2003; Prado, 2005). insetvoro e/ou lepidfago conforme a classe de tamanho, consumindo escamas de peixes e invertebrados (Magalhes & Soares, 2002; Lucena & Menezes, 2003; Pouilly et al., 2003). As espcies de Roeboides so conhecidas pelo seu hbito de ingerir escamas de peixes, lepidfago, e para isso tm dentes externos, na maxila superior, que so utilizados para remover as escamas (Sazima, 1983; Novakowski et al., 2004). Espcie de hbitos diurnos, na vazante se desloca em direo aos rios e parans para desovar (Cox-Fernandes, 1988; Granado-Lorencio et al., 2005). As fmeas iniciam o processo de maturao sexual aos 8,2cm (Snchez-Botero & Arajo-Lima, 2001) e a fecundidade total de 19288 ovcitos (Costa, 2006). IMPORTNCIA ECONMICA: z-do- pouco consumido e comercializado pelas populaes ribeirinhas nos mercados e feiras da regio.

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SUBFAMLIA SERRASALMINAE NOME CIENTFICO: Catoprion mento (Cuvier, 1819). NOME COMUM: piranha-pacu, piranha. DESCRIO: piranha-pacu tem corpo alto, levemente comprimido lateralmente. A colorao cinza-prateada no dorso e amarelo-alaranjada no ventre. A regio opercular e as nadadeiras peitoral, plvica e anal so avermelhadas. Possui mandbula protuberante, boca voltada para cima, com dentes tuberculados. Na regio umeral, ocorre uma mancha pouco ntida. As nadadeiras dorsal e anal tm o primeiro raio em forma de filamento e a nadadeira caudal com uma faixa em forma de meia lua, com vrtice voltado para o pednculo caudal. Possui de 14 a 16 raios dorsais, 37 a 39 raios anais, 32 a 34 serras abdominais e 89 a 94 escamas na linha lateral. Espcie de pequeno porte, alcana 20cm de comprimento total (Gry, 1977; Taphorn, 1992; Ferreira et al., 1998). INFORMAES ECOLGICAS: piranha-pacu bentopelgica, habita os lagos, igaraps de rios de guas claras e pretas (Nico & Taphorn, 1988). pouco comum nos lagos de vrzea (SiqueiraSouza & Freitas, 2004). carnvora, especializada em lepidofagia (Vieira & Gery, 1979; Janovetz, 2005; Silva, 2006). Para os adultos, as escamas constituem quase que o nico alimento, mas os jovens podem ingerir insetos aquticos (Vieira & Gery, 1979). Para se alimentar, a piranha-pacu colide com a presa em alta velocidade, o que fora a liberao das escamas do corpo, facilitando a remoo de fileiras de escamas de baixo para cima (Vieira & Gery, 1979; Janovetz, 2005). Espcie de hbito diurno, sedentria, desova total e fecundao externa. A reproduo ocorre, provavelmente, entre o final da seca (dezembro) e a enchente (maio) e apresenta dimorfismo sexual, o macho tem a nadadeira anal convexa (Taphorn, 1992; Santo et al., 1998).52

IMPORTNCIA ECONMICA: piranha-pacu no consumida pela populao ribeirinha, mas comercializada como peixe ornamental no Brasil e na Venezuela (Taphorn, 1992).

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NOME CIENTFICO: Colossoma macropomum (Cuvier, 1818). NOME COMUM: tambaqui, ruelo, boc. DESCRIO: tambaqui caracteriza-se por ter o corpo alto e levemente comprimido lateralmente. A colorao escura, sendo amarela no dorso, com o abdmen esbranquiado. Os rastros branquiais so longos e numerosos. Possui dentes robustos, implantados fortemente na mandbula. Apresenta de 13 a 14 raios peitorais, 30 a 31 raios caudais, nadadeira adiposa raiada e 67 a 76 escamas na linha lateral. Espcie de grande porte, alcana 90cm de comprimento total e 30 kg de peso (ArajoLima & Goulding, 1998; Ferreira et al., 1998; Isaac & Ruffino, 2000). INFORMAES ECOLGICAS: tambaqui pelgico, abundante nos lagos de rios de guas brancas, claras e pretas (Ferreira, 1993; Arajo-Lima & Goulding, 1998; Saint-Paul et al., 2000; Claro-Jr., 2003; Yamamoto, 2004). Nos lagos, os adultos e jovens so capturados na gua aberta e na floresta alagada (Arajo-Lima & Goulding, 1998; Corredor, 2004) e os alevinos, na vegetao aqutica (Arajo-Lima & Goulding, 1998). onvoro, mas h variaes ontognicas na alimentao. Os adultos consomem principalmente frutos, sementes e zooplncton (Goulding, 1980; Roubach, 1991; Silva, 1997; Arajo-Lima & Goulding, 1998; Merona & Rankin-de-Merona, 2004), enquanto os juvenis ingerem principalmente algas filamentosas, arroz silvestre, insetos, cladceras, copepodas e larvas de quironomdeos (Goulding & Carvalho, 1982; Arajo-Lima & Goulding, 1998). Os rastros branquiais longos e numerosos permitem a filtragem do zooplncton. Espcie de hbito diurno, migradora, desova total e fecundao externa, na vazante (setembro), forma cardumes para desovar em reas de pausadas ou vegetao marginal nos rios de guas brancas (Arajo-Lima & Goulding, 1998; Villacorta-Correa & Saint-Paul, 1999). A reproduo ocorre na enchente (fevereiro). As fmeas iniciam o processo de maturao sexual entre 55 e 61cm, com idade mdia entre 3,5 e 5 anos (Goulding & Carvalho, 1982; Arajo-Lima & Goulding, 1998; Villacorta-Correa & Saint-Paul, 1999; Isaac & Ruffino, 2000) e a fecundidade varia de 1 007 000 a 1 200 000 ovcitos (Arajo-Lima & Goulding, 1998; Vieira et al., 1999). Sobrevive em ambientes com baixas concentraes de oxignio por meio da respirao na superfcie aqutica (ASR) e aps longo tempo de exposio ocorre a expanso do lbio da mandbula inferior denominada localmente de uaiu (Braum & Junk, 1982). Tambm apresenta adaptaes fisiolgicas (Saint-Paul, 1984; Val & Almeida-Val, 1995). IMPORTNCIA ECONMICA: tambaqui muito apreciado pela populao ribeirinha e amplamente comercializado nos mercados e feiras da regio. Do total de pescado desembarcado em Manaus, o tambaqui j participou com 41,12%, entre 1970 e 1978 (Petrere, 1983; Soares & Junk, 2000), decrescendo para 20,39%, entre 1979 e 1987 (Merona & Bittencourt, 1988), e mais ainda para 9%, entre 1994 e 1998 (Ribeiro et al., 1999; Batista, 1998). Nos principais portos do Estado do Amazonas, em 2003, o total de tambaqui capturado atingiu somente 1,96% da produo pesqueira total (Ruffino et al., 2006). Esses valores indicam sinais de declnio na captura, ou seja, os estoques esto sentindo os efeitos de sobrepesca (Rufffino & Issac, 2000). Est sendo criado em cativeiro.

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NOME CIENTFICO: Metynnis argenteus (Ahl, 1923) NOME COMUM: pacu-marreca, pacu

DESCRIO: pacu-marreca caracteriza-se por ter o corpo comprimido em formato de disco, com abdmen quilhado. A colorao do corpo cinza-prateada com nadadeira anal de cor avermelhada. Tem entre 17 e 23 rastros branquiais no ramo inferior do primeiro arco branquial e processo supra-occipital relativamente curto. A nadadeira adiposa longa e comprimida, sendo a distncia do final da nadadeira dorsal at o incio da adiposa de 1,5 vezes o comprimento da base da nadadeira adiposa. Possui 16-18 raios dorsais, 34 raios anais e 34 serras abdominais. Espcie de pequeno porte, alcana 20 cm de comprimento total (Taphorn, 1992; Ferreira et al., 1998). INFORMAES ECOLGICAS: pacu-marreca pelgico, habita principalmente os lagos de guas brancas, sendo capturado na floresta alagada (Claro-Jr., 2003; Yamamoto, 2004). herbvoro, alimenta-se de sementes, flores, frutos e plantas aquticas (Taphorn, 1992; Ferreira et al,.1998). Espcie de hbitos diurnos, sedentria, desova total e fecundao externa. A reproduo ocorre entre os perodos de enchente e cheia (Taphorn, 1992), provavelmente ocorre na vegetao aqutica, onde os ovos so dispersos. um peixe pouco abundante nos lagos, especialmente quando comparado com o pacu-comum (Mylossoma duriventre). IMPORTNCIA ECONMICA: pacu-marreca consumido pela populao ribeirinha. Os jovens so comercializados como peixes ornamentais na Colmbia e na Venezuela (Tanphorn, 1992; Ramirez Gil et al., 2001).

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NOME CIENTFICO: Metynnis hypsauchen (Muller & Troschel, 1844). NOME COMUM: pacu-marreca, pacu.

DESCRIO: pacu-marreca tem o corpo comprimido, em formato de disco e com abdmen quilhado. A colorao do corpo cinza-prateada uniforme. Possui 35 rastros no ramo inferior do primeiro arco branquial, processo supra-occipital relativamente longo. Na nadadeira caudal tem uma banda terminal escura e na base da nadadeira dorsal, um espinho sseo. A nadadeira anal longa, com a poro anterior avermelhada e base da nadadeira adiposa quase do mesmo tamanho que a base da nadadeira dorsal. Possui de 18 a 19 dorsais, 41 a 43 raios anais e 27 a 30 serras abdominais. Espcie de pequeno porte, alcana 20cm de comprimento total e 300g de peso (Santos et al., 1984; Taphorn, 1992; Ferreira et al., 1998; Ramirez Gil et al., 2001; Santos et al., 2004). INFORMAES ECOLGICAS: pacu-marreca pelgico, habita os lagos e rios de guas brancas, claras e pretas (Ferreira, 1993; Saint-Paul et al., 2000; Claro-Jr., 2003; Do Vale, 2003; Silva, 2006), mas tem sido pouco freqente nos lagos do sistema Solimes-Amazonas. Nos lagos, so capturados principalmente na floresta alagada, em ambos os perodos, diurno e noturno (Saint-Paul et al., 2000). onvoro, alimentando-se de larvas de insetos, sementes, flores, frutos, plantas aquticas, algas, crustceos e restos de peixes (Taphorn, 1992; Ferreira et al., 1998; Ramirez Gil et al., 2001). Espcie sedentria, desova total e fecundao externa (Taphorn, 1992; Santos et al., 2004). A reproduo ocorre entre a enchente e a cheia, em sincronia com o perodo chuvoso (Ramirez Gil et al., 2001). Nessa poca, os indivduos ficam com uma tonalidade alaranjada com dois pontos umerais, o superior, vermelho, e o inferior, negro (Ramirez Gil et al., 2001). As fmeas iniciam o processo de maturao sexual aos 10cm de comprimento total e a fecundidade mdia de 5273 ovcitos (Gil & Martinez, 2001). IMPORTNCIA ECONMICA: pacu-mareca consumido pela populao ribeirinha e pouco comercializado nos mercados e feiras da regio. comercializado como peixe ornamental na Colmbia e na Venezuela (Taphorn, 1992; Ramirez Gil et al., 2001).

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NOME CIENTFICO: Mylossoma aureum (Spix, 1829). NOME COMUM: pacu-manteiga, pacu-comum.

DESCRIO: pacu-manteiga caracteriza-se pelo corpo fortemente comprimido, discide, com abdmen quilhado, no possui espinho na base da nadadeira dorsal. A colorao do corpo cinza-prateado, com nadadeiras hialinas, nadadeira anal e regio opercular geralmente alaranjadas. Possui de 13 a 15 raios dorsais, 28 a 34 raios anais e 10 a 15 serras atrs da nadadeira ventral (caractersticas que o diferenciam de M. duriventre). Espcie de pequeno porte, alcana 20cm de comprimento total (Santos et al., 1984; Taphorn, 1992; Ferreira et al., 1998; Coy & Crdoba, 2000). INFORMAES ECOLGICAS: pacu-manteiga bentopelgico, habita os lagos de rios de guas brancas, claras e pretas (Taphorn, 1992; Ferreira, 1993; Siqueira-Souza & Freitas, 2004; Yamamoto, 2004). herbvoro, alimenta-se de material vegetal (folhas, razes, frutos) e invertebrados aquticos (Goulding, 1980; Ferreira et al., 1998; Merona & Rankin-de-Merona, 2004). Espcie de hbito diurno, migradora, desova total e fecundao externa, na vazante, forma cardume junto com Mylossoma duriventre e migra rio acima para desovar nas confluncias de rios de guas pretas com rios de guas brancas (Lima & Arajo-Lima, 2004; Granado-Lorencio et al., 2005). Sobrevive em ambientes com baixas concentraes de oxignio por meio da respirao na superfcie aqutica (ASR) (Soares et al., 2006). IMPORTNCIA ECONMICA: pacu-manteiga bastante apreciado pela populao ribeirinha. Apresenta grande importncia comercial, sendo uma das principais espcies comercializadas nos mercados e feiras da regio. Em 2003, as duas espcies (M. aureum e M. duriventre) participaram com 15% da produo pesqueira (Ruffino et al., 2006). Na Colmbia, M. aureum comercializado como peixe ornamental (Coy & Crdoba, 2000).

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NOME CIENTFICO: Mylossoma duriventre (Cuvier, 1817). NOME COMUM: pacu-comum, pacu-manteiga.

DESCRIO: pacu-comum caracteriza-se pelo corpo fortemente comprimido, discide, com abdmen quilhado. Ocasionalmente, visivel uma mancha escura sobre o oprculo e ausncia de espinho pr-dorsal. A colorao do corpo cinza-prateado com nadadeiras hialinas, exceto a anal, que possui tonalidade alaranjada e densamente escamada. Possui de 17 a 19 raios dorsais, 34 a 37 raios anais e 18 a 22 serras atrs da nadadeira ventral (caractersticas que o diferenciam de Mylossoma aureum). Espcie de mdio porte, alcana 25cm de comprimento total e 500g de peso (Gery, 1977; Santos et al., 1984; Taphorn, 1992; Ferreira et al., 1998). INFORMAES ECOLGICAS: pacu-comum pelgico, habita os lagos de rios de guas brancas, claras e pretas (Saint-Paul et al., 2000; Mrona et al. 2001; Claro-Jr., 2003; Do Vale, 2003; SiqueiraSouza & Freitas, 2004). Nos lagos, os adultos so capturados na gua aberta e na floresta alagada (Saint-Paul et al., 2000; Corredor, 2004), ao passo que os jovens, na vegetao aqutica (Sanchez-Botero & Arajo-Lima, 2001; Petry et al., 2003; Prado, 2005). onvoro, mas h variaes ontognicas na alimentao. Os adultos alimentam-se principalmente de frutos e sementes das florestas de vrzea alagadas (Goulding, 1980; Claro-Jr. et al., 2004), folhas (Melo et al., 2005) e invertebrados terrestres e aquticos (Pouilly et al., 2003; Merona & Rankin-deMerona, 2004). Os juvenis tm preferncia por capins, gramneas e moluscos (Paixo, 1980). Espcie de hbito diurno, migradora, desova total e fecundao externa, na vazante forma cardume junto com Mylossoma aureum e migra rio acima para desovar nas confluncias de rios de guas pretas com rios de guas brancas (Lima & Arajo-Lima, 2004; Granado-Lorencio et al., 2005). O perodo de reproduo longo, abrange a seca (novembro) e a cheia (maio), sendo a desova mais intensa entre dezembro e fevereiro (Paixo, 1980). As fmeas iniciam o processo de maturao sexual aos 15,5cm e os machos aos 14,8cm de comprimento total. A fecundidade varia de 25.000 a 100.000 ovcitos (Paixo, 1980). Sobrevive em ambientes com baixas concentraes de oxignio por meio da respirao na superfcie aqutica (ASR) e aps longo tempo de exposio ocorre a expanso do lbio da mandbula inferior denominada localmente de uaiu (Saint-Paul & Soares, 1987, 1988; Soares et al., 2006). IMPORTNCIA ECONMICA: pacu-comum bastante apreciado pela populao ribeirinha. Apresenta grande importncia comercial, sendo uma das principais espcies comercializadas nos mercados e feiras da regio. Em 2003, as duas espcies (M. aureum e M. duriventre) participaram com 15% da produo pesqueira (Ruffino et al., 2006).

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