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VYGOTSKY E O SOCIOCONSTRUTIVISMO
Pedro Ivan Lemos Rappoport1
Lev Semenovitch Vygotsky nasceu em 1896 em Orsha, Bielo-Rússia, região
dominada pela União Soviética, e se graduou em Direito na Universidade de
Moscou. Após se formar, voltou à Bielo-Rússia, onde apoiou a revolução
bolchevique (1917), e logo fundou um laboratório de psicologia, área em que ganhou
grande destaque.
Assim como Piaget, Vygotsky faz parte das correntes interacionistas, onde o meio
externo e a interação com ele fazem com que o indivíduo se adapte e evolua, e
construtivistas, que diz que o conhecimento não está terminado e se constrói através
das interações do indivíduo. Mas, apesar de admirar seu trabalho, Vygotsky
discordava de Piaget.
Ao contrário de Piaget, que deu ênfase em seus estudos à capacidade de aquisição
de conhecimento pelo indivíduo através de processos internos (do próprio indivíduo),
Vygotsky apresentou a importância das relações sociais no processo de
aprendizado, pensamento que ficou conhecido como socioconstrutivismo ou
sociointeracionismo, onde compreende que o homem como um ser se forma em
contato com o social, com a sociedade. Para Vygotsky, o indivíduo modifica o meio e
o meio modifica o indivíduo, é a experiência pessoalmente significativa que
determina a aquisição de conhecimentos, a partir de relações intra e interpessoais e
da troca com o ambiente.
Através dos outros, nos tornamos nós mesmos. (VYGOTSKY, 1988)
Seu trabalho se tornou o ponto de partida para muitos estudos e teorias sobre o
desenvolvimento cognitivo, principalmente aquela que ficou conhecida como Teoria
do Desenvolvimento Social.
1 UnB – Universidade de Brasília. Pedro Ivan Lemos Rappoport, com matrícula 10/0059538, é aluno de Desenvolvimento
Psicológico e Ensino – DPE, turma de 01/2010. Graduando em História (Licenciatura). E-mail: [email protected]
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Em sua teoria, Vygotsky disserta o papel fundamental da interação social no
desenvolvimento cognitivo, no sentido que ele acreditava fortemente no papel
central que a comunidade tem no processo de “fazer sentido”.
Ao contrário da noção de Piaget de que o desenvolvimento da criança
necessariamente precede o aprendizado, Vygotsky argumentou “aprender é um
aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento cultural organizado,
especificamente das funções psicológicas humanas” (1978, p. 90).
Vygotsky desenvolveu uma abordagem sócio-cultural ao desenvolvimento cognitivo.
Ou seja, nenhum princípio sozinho pode contar como desenvolvedor. O
desenvolvimento individual não pode ser entendido sem referência ao meio social e
cultural em que está contido. Processos mentais mais complexos de um indivíduo
tendem a ter sua origem nos processos sociais, o aprendizado social tende a vir
antes do desenvolvimento.
Na ausência do outro, o homem não se constrói homem. (VYGOTSKY, 1988)
Ferramentas de adaptação intelectual: os efeitos da cultura
Assim como Piaget, Vygotsky diz que as crianças nascem com as habilidades e
materiais básicos para o desenvolvimento intelectual. Enquanto Piaget foca nos
reflexos-motores e nas habilidade sensoriais, Vygotsky cita como Funções Mentais
Elementais:
Atenção;
Sensação;
Percepção;
Memória.
Eventualmente, pela interação com o meio sócio-cultural, essas funções são
desenvolvidas em processos mentais mais sofisticados e efetivos, aos quais ele cita
como Funções Mentais Superiores.
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Vygotsky se refere às ferramentas de adaptação intelectual, que permitem que a
criança utilize suas funções mentais básicas mais eficientemente, e essas
ferramentas são determinadas culturalmente. Ele percebe funções cognitivas, onde
a adaptação intelectual e suas ferramentas variam de cultura para cultura.
O desenvolvimento cognitivo e as influências sociais
De acordo com Vygotsky, muitos dos principais aprendizados de uma criança
ocorrem pela interação social com um tutor (aquele que detem a tutela sobre
alguém; professor; mestre) habilitado. O professor pode modelar as reações e/ou
prover instruções verbais ao aluno. Vygotsky se refere a isso como diálogo
colaborativa, ou co-operatividade. A criança busca entender as ações ou instruções
providas pelo tutor e então internaliza a informação, usando-a como guia ou
regulador de seu próprio desempenho.
Vygotsky apresenta que as conversões das relações sociais em funções
psicológicas se dão através da “mediação, ou atividade mediada indireta, a qual é,
para Vygotsky, típica da cognição humana” (MOREIRA, 1999, p. 108).
Demonstra também que todas as atividades cognitivas primárias do indivíduo
ocorrem de acordo com sua história social, e se constituem no resultado do
desenvolvimento histórico-social de sua comunidade (o meio onde está). Assim, são,
de fato, o resultado das atividades praticadas de acordo com os hábitos sociais da
cultura na qual o indivíduo está se desenvolvendo. A história do meio, da sociedade,
em que a criança está e a própria história pessoal da criança são fatores primordiais
que determinarão sua forma de pensar.
Os instrumentos e signos de Vygotsky
“A conversão de relações sociais em funções mentais superiores não é direta, é
mediada. E essa mediação inclui o uso de instrumentos e signos. Um instrumento é
algo que pode ser usado para fazer alguma coisa; um signo é algo que significa
alguma outra coisa. Existem três tipos de signos: 1) indicadores, são aqueles que
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têm uma relação de causa e efeito com aquilo que significam (e.g., fumaça indica
fogo, porque é causada por fogo); 2) icônicos, são imagens ou desenhos daquilo
que significam; 3) simbólicos, são os que têm uma relação abstrata com o que
significam. As palavras, por exemplo são signos linguísticos, os números são signos
matemáticos; a linguagem, falada e escrita, e a matemática são sistemas de signos.”
(MOREIRA, 1999, p. 108-109)
Vygotsky foi muito influenciado por Marx e Engels, os quais tinham como parte de
sua tradição a idéia do uso de instrumentos na mediação homem-ambiente, a qual
diferencia o homem de outros animais, dominando a natureza ao invés de
simplesmente usá-la como os animais fazem. Mas Vygotsky entende que as
sociedades não criam apenas instrumentos, criam também signos. E ambos,
instrumentos e signos, são criados ao longo da história das sociedades,
influenciando e modificando seu desenvolvimento social e cultural. O
desenvolvimento cognitivo se dá com a interiorização de instrumentos e sistemas de
signos, produzidos culturalmente.
Vygotsky e a linguagem
Para Vygotsky, a linguagem, ou fala, representa dois papéis críticos no
desenvolvimento cognitivo:
1. É o principal método pelo qual os adultos transmitem informação às crianças;
2. A linguagem por si só se torna uma ferramenta essencial à adaptação
intelectual.
Ele vê a linguagem como um acelerador do pensar e do entendimento.
Vygotsky acreditava que a fala se desenvolve das interações sociais, como objeto
de comunicação, passando depois a ser uma habilidade de internalizar. O
pensamento, então, é o resultado da linguagem.
“O momento de maior significado no curso do desenvolvimento intelectual, que dá
origem às formas puramente humanas de inteligência prática e abstrata, acontece
quando a fala e a atividade prática, então duas linhas completamente independentes
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de desenvolvimento, convergem. Embora o uso de instrumentos, pela criança
durante o período pré-verbal, seja comparável àquele dos macacos antropoides,
assim que a fala e o uso de signos são incorporados a qualquer ação, esta se
transforma e se organiza ao longo de linhas inteiramente novas. Realiza-se, assim, o
uso de instrumentos especificamente humanos, indo além do uso possível de
instrumentos, mais limitado, pelos animais superiores.” (VYGOTSKY, 1988, p. 27)
Linguagem, pensamento e desenvolvimento intelectual
Um entendimento claro das relações entre linguagem e pensamento é primordial
para o entendimento do processo de desenvolvimento intelectual. Linguagem não é
apenas uma expressão do saber adquirido pelo indivíduo. Existe uma relação
fundamental entre linguagem e pensamento, onde um se alimenta do outro, e
proporciona saltos de nível de conhecimento. Assim, vê-se que a linguagem é
essencial para a formação do pensamento, e do caráter do indivíduo, de seu
desenvolvimento intelectual.
Zona de desenvolvimento proximal
A teoria de Vygotsky carrega um principio básico, um conceito chamado de Zona de
Desenvolvimento Proximal (ZDP). Esta ZDP representa a diferença entre a
capacidade do indivíduo de solucionar problemas por si mesmo e a capacidade de
solucioná-los com o auxílio de alguém, abrangendo todas as funções e atividades
que a criança consegue desempenhar apenas se houver assistência de outra
pessoa. Esta pessoa, intervindo de forma não-intrusiva para auxiliar e orientar o
aluno ou a criança, podendo ser tanto um adulto (pai, mãe, professor, responsável)
quanto um colega que já tenha desenvolvido a habilidade em questão.
Este é um conceito importante, que relata a diferença entre o que uma criança pode
conseguir independentemente e o que a criança pode conseguir com o
acompanhamento e encorajamento de um companheiro mais habilitado.
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Esta idéia de ZDP tem grande relevância em todas as áreas de educação. Uma
implicação importante é a de que o aprendizado humano é de natureza social e é
parte de um processo em que a criança desenvolve seu intelecto dentro da
intelectualidade daqueles que a cercam (Vygotsky, 1978). De acordo com sua teoria,
uma das principais características do processo de aprendizado é que ele desperta
os desenvolvimentos internamente, que apenas funcionam quando o aluno interage
com seu meio de convívio, e que culminam por desenvolver suas funções mentais
avançadas.
Vygotsky também vê a interação com outros como um método eficiente de
desenvolver habilidades, processos e estratégias. Sugere que o tutor use exercícios
de aprendizado em colaboração onde crianças com mais dificuldades de
aprendizado possam aprender de seus colegas, dentro da zona de desenvolvimento
próximo.
Referências Bibliográficas:
MACEDO, L. Ensaios construtivistas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1994.
MOREIRA, A.M. Teorias da aprendizagem. São Paulo: E.P.U., 1999.
PIAGET, J. Psicologia da inteligência. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.
RABELLO, E.T. e PASSOS, J. S. Vygotsky e o desenvolvimento humano. Disponível em <http://www.josesilveira.com> no dia 16 de Setembro de 2010.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
VYGOTSKY, L. S. Interaction between learning and development. In Mind in Society. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1978. p. 79-91.
VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1987.
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