Pedreira Das Almas
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PEDREIRA DAS ALMAS
JORGE ANDRADE
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PERSONAGENSPERSONAGENSDONA URBANA
MARIANA, filha de UrbanaMARTINIANO, filho de Urbana
GABRIEL, noivo de MarianaPADRE GONÇALO, !ro"o de Pedreira da# Al$a#
%AS&ON&ELOS, dele'ado de ol("iaSARGENTO&LARA
GRA&IANAELISAURA
GENO%E%APO%O DE PEDREIRA DAS ALMAS
SOLDADOSES&RA%OS
... ONDE ESTÁS, CAPITÃO, ONDE ESTÁS, JOÃO FRANCISCO, DO ALTO DE TUA SERRA
EU TE SINTO SOZINHO E SEM FILHOS E NETOS INTERROMPES A LINHA QUE VEIO DAR A MIM NESTE CHÃO ESGOTADO.
PRIMEIRO ATOPRIMEIRO ATOPRIMEIRO )UADROPRIMEIRO )UADRO
CENÁRIO: LARGO DA IGREJA DE PEDREIRA DAS ALMAS. A FACHADA DA IGREJA,COM SUAS TORRES, OCUPA QUASE TODO O FUNDO DA CENA. À ESQUERDA E À
DIREITA, PONTAS DE ROCHEDO, VOLTADAS NA DIREÇÃO DA IGREJA E DO CÉU,FORMAM, PRATICAMENTE, UMA MURALHA EM VOLTA DO LARGO. TEM-SE A
IMPRESSÃO DE QUE A IGREJA, O ADRO QUE A CERCA, AS ESCADARIAS, O PARAPEITO DE PEDRAS COM SUAS ESTÁTUAS E ANJOS ESTÃO INCRUSTADOS NA ROCHA. O ADRO, O PATAMAR DA ESCADARIA SÃO CALÇADOS COM LAJESGRANDES, ONDE SE VEM INSCRIÇ!ES DE T"MULOS. COM E#CEÇÃO DAS DUAS
ESTÁTUAS NO PRIMEIRO DEGRAU DA ESCADARIA, AS OUTRAS ESTÃO VOLTADAS PARA O ADRO, COMO SE PERTENCESSEM AOS T"MULOS. À DIREITA, NA ENTRADA DE UMA GRUTA $ ESCONDIDA POR UMA DAS PONTAS DE ROCHEDO -, UMA ÁRVORE RETORCIDA, ENFEZADA, DESCREVE UMA CURVA COMO SE PROCURASSE, INUTILMENTE, A DIREÇÃO DO CÉU: É A "NICA COISA DE COLORIDO VERDE QUE HÁ NO CENÁRIO. TUDO É %RANCO, COR DE OURO E CINZA, PREDOMINANDO O %RANCO. À ESQUERDA, FACHADA DE CASA COLONIAL, JÁ ESCURECIDA E GASTA
PELO TEMPO& MAIS À ESQUERDA, RUA ESTREITA QUE LEVA À CIDADE. À DIREITA, PASSAGEM ENTRE OS ROCHEDOS, POR ONDE SE DESCE PARA O VALE. PRESSUP!E-SE QUE O LARGO, EM TODO O PRIMEIRO PLANO, TERMINE À %ERA DEUM DESPENHADEIRO. A CIDADE DE PEDREIRA DAS ALMAS ESTÁ O CAVALEIRO DOVALE.
ÉPOCA: '()* AÇÃO: QUANDO SE A%RE O PANO, O LARGO ESTÁ DESERTO. OUVEM-SE C+NTICOS RELIGIOSOS NA IGREJA. MARIANA APARECE À PORTA DA IGREJA: ESTÁ VESTIDA DE %RANCO E UM VÉU PRETO CO%RE-LHE A CA%EÇA. VEM ATÉ O TOPO DA ESCADARIA E OLHA A PASSAGEM DIREITA DAS ROCHAS, VOLTA-SE E CAMINHA PENSATIVA ATÉ A E#TREMIDADE DIREITA DO ADRO& VIRA-SE E CAMINHA PARA A
ESQUERDA. SU%ITAMENTE, COMO SE OUVISSE ALGUM %ARULHO, CAMINHA PARA A ESCADARIA E ENCOSTA-SE NO PARAPEITO DE PEDRAS: FICA PARADA, OLHANDOFI#AMENTE PARA FRENTE, E#AMINANDO O VALE. APESAR DE PREOCUPADA,
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MARIANA SORRI, NUMA EVOCAÇÃO QUE LHE É GRATA. O C+NTICO, NA IGREJA,CONTINUA DURANTE A CENA MUDA DE MARIANA.
&*NTI&OSanta Marta quando andava no mundo!Onde ela passava
Os homens diziam:Onde ela passavaOs homens diziam:Deixai as águas mais clarasSenhora tão bela!Deixai as águas mais clarasSenhora tão bela!
QUANDO MARIANA SE ENCOSTA NO PARAPEITO DE PEDRAS, CLARA APARECE À PORTA DA IGREJA&LARA
Mariana!
MARIANA +erdida em seus pensamentos" tem um pequeno susto#&LARA
$ue se passa contigo% &a igre'a" parecias distante de tudo" mal ouvias o que o padre(on)alo pregava#MARIANA
(abriel e Martiniano 'á deviam ter chegado" *lara#&LARA
*om certeza o escravo demorou a encontrálos#MARIANA
Supriano + rápido e ningu+m como ele conhece os atalhos do vale#&LARA
*om esse movimento de tropas" a travessia do vale + perigosa# , necessário cautela#MARIANA
, verdade# Deves ter razão#&LARA
(abriel sabe que estamos - sua espera" que dependemos dele# .le chegará#MARIANA
Sonhamos com essa partida há tanto tempo!&LARA
&o princ/pio +ramos poucos" ho'e somos quase a metade da cidade#MARIANA +Desce a escadaria e olha as rochas
Sentávamos aqui" os tr0s# .u" (abriel e Martiniano# Durante horas ouv/amos (abrieldescrever a beleza das terras#&LARA
.u os inve'ava de longe#MARIANA
Mas 1oi Marta quem nos convenceu### de que não dev/amos continuaraqui# edras" la'es" tmulos### +Olha a igre'a### e s3 uma árvore" nenhuma espiga! Ouro" restou o dasimagens e altares!&LARA +.vocativa
4oi numa das viagens de Marta que meu pai 1icou em edreira#MARIANA
5anto 1alou" que (abriel partiu a procura de novas terras#&LARA ouco - pouco" as vis6es que ele trouxe tamb+m come)aram a povoar meus sonhos#
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MARIANA &omes estranhos que soavam como bens de um para/so distante#
&LARA +8epetem rápidas 9nvernada!
MARIANA *a'uru!
&LARA 9ndaiá!
MARIANA Monte elo!
&LARA ;s descri)6es de (abriel quase se tornaram ora)6es#
MARIANA 8epetidas sempre por um nmero mais de pessoas#
&LARA +8ememora 8eino devoluto em sagradas sesmarias!
MARIANA +.ntra no 'ogo 5erras em cabeceiras repousadas!
&LARA .m eterno e 1ecundante abra)o!
MARIANA ;o 8osário acasaladas!
&LARA *ada vez que a'oelhávamos na igre'a" tantas são as contas dos ter)os" eram as vezes que
pensávamos neste ribeirão do 8osário#
MARIANA Martiniano costumava dizer que as 1igueiras centenares" carregadas de ninhos de guachos
e debru)adas sobre os rios### eram a sua visão predileta# ;s 1igueiras! +ausa . agora###&LARA
$ue 1oi" Mariana%MARIANA
&ão sei" *lara# 5antas coisas podem acontecer#&LARA O que te preocupa%MARIANA
Martiniano#
&LARA .le está seguro com (abriel#MARIANA
Minha mãe não perdoa###Martiniano ter seguido (abriel#&LARA
(abriel não teve culpa#MARIANA
Mas" por causa dele" Martiniano desobedeceua# desde que Martiniano partiu" nem seunome pronunciou mais#&LARA
Depois que Martiniano soube do massacre na 1azenda ela *ruz" (abriel passou a ser
para ele### um exemplo# .ra natural que o seguisse nesta revolu)ão#MARIANA
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.sses argumentos não servem para minha mãe# Martiniano + seu nico 1ilho e não podemorrer por uma causa que não se'a de edreira# Mesmo sabendo que (abriel luta contra osabsolutistas" que usaram escravos para exterminar sua 1am/lia e os liberais### ela acha que arevolu)ão não passa de uma desordem!&LARA +;1lita
or que" sabendo deste 3dio contra ele" o pai 1ez (abriel 'urar que não partiria% ;qui
correria sempre perigo!MARIANA 4oi neste vale que comprou sua primeira 1azenda# Minerava em Morro =elho" sonhando
com isto! .le contava que debaixo de uma árvore que todos temiam" havia um cruzeiro# 4oi ondeguardou o ouro para comparar a ela *ruz# (abriel teve que esperar#&LARA
Mandaste avisálo que o pai agoniza%MARIANA
&ão#&LARA
;quelas terras são generosas" Mariana# Darão vida nova ao povo e 1arão (abriel
esquecer### +ára" quando avista (abriel na estrada das rochas (abriel!###(abriel!CLARA, NO AUGE DA ALEGRIA, CORRE PARA A IGREJA, DESAPARECENDO.GA%RIEL E MARIANA FICAM FRENTE A FRETE, OLHANDO-SE, COMO SE NÃO
PUDESSEM DIZER NADA. GA%RIEL, E#AUSTO, ESTÁ SUJO E COM A ROUPA RASGADA.MARIANA
(abriel!GABRIEL
Mariana!MARIANA
(abriel! +;bra)amse" 1inalmente ensei que não viesses nunca#GABRIEL
Senti muito a tua 1alta#MARIANA
Morria de medo s3 de pensar que###GABRIEL +*arinhoso
&ada aconteceu# .stou aqui#MARIANA 5enho vivido sem not/cias# *ada dia" cada hora que passava### sem saber o que acontecia###!GABRIEL
&ão vamos mais nos separar#
MARIANA or que não vieste logo%GABRIEL
;s estradas 1oram cercadas# &ão podia passar#MARIANA
; cada instante parecia verte subindo pelo caminho da pedreira#GABRIEL
>ma revolu)ão não termina de um dia para outro" Mariana#MARIANA
O sol me encontrou sentada nas rochas# Meus olhos cansaram de vigiar o vale#GABRIEL
.speravasme% ?o'e%MARIANA Desde que amanheceu# &ão encontraste Supriano%
@
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GABRIEL Supriano%
MARIANA 5eu pai pediu que te chamasse# &ão 1oi por isto que vieste% $ue 1oi" (abriel%
GABRIEL ensei que soubesses#
MARIANA Soubesse o que%GABRIEL
4omos derrotados#MARIANA
Derrotados%GABRIEL
aependi caiu!MARIANA
*aiu% .ntão### todo o vale###%GABRIEL
.stá sendo ocupado#MARIANA
. Martiniano%GABRIEL
4oi preso#MARIANA +;pavorada" leva a mão - boca" su1ocando um grito
&ão!### &ão!GABRIEL +;bra)a Mariana Martiniano não corre perigo# &ingu+m o conhece# Aogo será dispersado" 'unto com os outros#MARIANA
Mamãe não nos perdoaria nunca### se Martiniano####!GABRIEL +9mpaciente
&ão vamos pensar em morte" Mariana#MARIANA +;ngustiada
.stamos sempre dependendo dos morto# *ercados de mortos#GABRIEL
Aogo estaremos mais#MARIANA
*omo não pensar se a morte está a/ dominando o pensamento de todos# Se dela sempredependeu###erdoame" (abriel# &ão sei mãos o que digo#GABRIEL
Meu pai está muito mal" não + verdade" Mariana%MARIANA ara ele será um descanso" (abriel# Desde aquela ocasião na ela *ruz" s3 tem so1rido#
GABRIEL Mariana! &ão posso esperar mais# ?á ordem de prisão conta mim# 4oi por isto que não
esperei Martiniano#MARIANA
Ordem de prisão%GABRIEL
=ou ser um dos processados#MARIANA
Mas tomaste parte apenas como soldado# 5odos sabem disto#GABRIEL , 1ácil prever os acontecimentos# ?á vinte anos armaram os escravos### agora###!
B
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MARIANA ;queles tempos passaram" (abriel# O que aconteceu na ela *ruz não pode se repetir#
GABRIEL +8evoltado ois estão 1azendo o mesmo em todo o vale# Destroem e con1iscam 1azendas#
MARIANA +;1lita recisamos partir!
GABRIEL .les não me prenderão Mariana#MARIANA
*asaremos e partiremos o mais depressa poss/vel#GABRIEL
=erás como + belo o lugar que escolhi para n3s#MARIANA +.vocando
erto de uma grande 1igueira" -s margens do 8osário" construiremos a casa#GABRIEL +Saem abra)ados
;s matas" o rio" as terras### ;s terras" Mariana" são o que há de melhor no mundo!ENQUANTO GA%RIEL E MARIANA DESAPARECEM, À ESQUERDA, O POVO SAI DA
IGREJA E ESPALHA-SE PELO LARGO& ALGUMAS PESSOAS FICAM NA ESCADARIA,OUTRAS PERMANECEM NO ADRO. FORMAM GRUPOS E CORREM, MUITO
E#CITADOS, DE UM LADO PARA OUTRO. AS VOZES VÃO AUMENTANDO, POUCO A POUCO, ATÉ ATINGIREM O PONTO MÁ#IMO, QUANDO ENTRAM EM CONFLITOPO%O
(abriel! $uem chegou% (abriel! $uem 1oi que chegou% , (abriel%(abriel voltou#=amos partir# &ão deviam 1alar# recisamos s3 de (abriel#or que terras cansadas%Se não 1orem" n3s iremos#, uma impiedade#Se 1osse Mariana casaria e partiria#.le vai enterrar o pai aqui%?á tempos que as minas esgotaram#S3 se 1or na ltima la'e#.u sabia que (abriel voltaria#
&ão passa de uma aventura#?averá minas de ouro%5erra acabada! O castigo de Deus virá#Mortos! 5erras 1+rteis! 8ecorda)6es!Crvore enormes#
arta" então! &3s temos direito!=amos construir um novo cemit+rio#artiremos todos!
GRA&IANA &ão permitirei que ningu+m da minha casa abandone edreira das ;lmas#
ELISAURA =oc0s não t0m amor a sua terra%
GENO%E%A $ueremos viver!
GRA&IANA Deus castiga quem abandona seus mortos!
-OMEM (abriel + um /mpio!-OMEM So1reu mais do que voc0!
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MUL-ER &ão ama nossa cidade!
MUL-ER ;caba de lutar por ela!
&LARA or que havemos de continuar%
GRA&IANA orque + nossa cidade!&LARA
. passaremos o resto da vida guardando cemit+rios%ELISAURA
*emit+rios onde repousam teus antepassados!GENO%E%A
Se 1or necessário" arrancaremos essas la'es e os levaremos!GRA&IANA +;terrorizada
9sso + uma o1ensa a Deus#&LARA
.ntão 1iquem! &3s partimos!ELISAURA
&ão abandonaremos nossa igre'a!GENO%E%A
.rgueremos outra no planalto!GRA&IANA
Desceremos ao vale e traremos terra para o novo cemit+rio!&LARA
&ão queremos 1icar numa cidade onde não há terra nem para os mortos!MUL-ER
Deus ouvirá nossas preces!-OMEM
;qui" tudo agoniza!-OMEM
Sacr/lego!-OMEM
rov/ncia de in'usti)as e massacres!-OMEM
ara liberais e desordeiros como voc0s!MUL-ER +O povo se espalha &ão! &ão 1a)am isso!MUL-ER
Meu Deus! ;cudam!ENQUANTO PADRE GONÇALO APARECE À PORTA DA IGREJA, DOIS HOMENS ENTRAM EM LUTA. GONÇALO DESCE A ESCADARIA E SEPARA OS HOMENS.GONÇALO
.m 1rente da casa de Deus! erderam a razão%MUL-ER +;ngustiada
(abriel voltou" adre (on)alo#GRA&IANA
.le envenenou edreira das ;lmas!&LARA
Deu esperan)a novamente a todos n3s!
MUL-ER +Sai correndo =amos partir!
E
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O POVO SAI EM DIREÇÃO DA CIDADE. UNS CONTINUAM TRISTES, OUTROSCORREM ALEGRES. UR%ANA APARECE À PORTA DA IGREJA, TODA VESTIDA DECINZA-ESCURO. QUASE DA COR DAS ROCHAS.
GONÇALO &ão viram Martiniano%
-OMEM &ão#GONÇALO
(abriel não 1alou nada sobre ele%-OMEM
S3 sabemos que (abriel está na cidade e que vai partir#-OMEM
5odos" adre (on)alo!OS HOMENS SAEM. GONÇALO FICA PARADO, OLHANDO FI#AMENTE PARAFRENTE& SEU ROSTO SE CONTRAI NUMA E#PRESSÃO AMARGAURBANA
$ue há com o povo" padre (on)alo%GONÇALO
(abriel voltou#PAUSA. UR%ANA, IMPASSVEL, DESCE A ESCADARIA, DIRIGINDO-SE PARA A
ENTRADA DA GRUTA.GONÇALO
Martiniano 'á deve estar a caminho de edreira#URBANA &ão perguntei nada" adre (on)alo# O que o senhor queria dizer sobre o 1orro do altarmor%GONÇALO
?á uma goteira# recisa ser reparada antes que venham as chuvas#URBANA
Devemos come)ar a constru)ão do cemit+rio" tamb+m# *om as chuvas a subida damontanha + quase impraticável# Os cargueiros trazem a terra do vale at+ onde puderam subirF depoiscarregamos com balaios# Mandaremos tirar as pedras nas galerias# ;ssim 1ez meu pai#GONÇALO
;cho perigosos" >rbana#URBANA
erigosos por qu0%GONÇALO
;s galerias não o1erecem mais seguran)a# ;lgumas estão amea)adas de desabar#
odemos tirar nas rochas#URBANA =amos tirar nas galerias - gruta# ;/ nasceu o poderio de edreira# .ssas pedras lembram
1eitos de bandeirantes que 1oram exemplos" adre (on)alo#GONÇALO +*aminha" examinando o adro
5udo aqui lembra exemplos que passaram#URBANA +*om pro1undo respeito
4oi nesta gruta que meu pai teve" pela primeira vez" a visão de sua cidade#GONÇALO +Olha a igre'a
4irme e calma como um templo!URBANA
;travessa o s0rro com a comitiva" quando teve que se esconder# Os companheirosespalharamse pelas rochas" enquanto ca/a uma tempestade#GONÇALO +Distante Sossegada e longe do vale com seus so1rimentos!
G
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URBANA Mais perto de Deus" eu diria! $uando passou a tormenta" os companheiros não
conseguiram achálo" tão bom abrigo era a gruta# .ntrara atrás da pedra do nicho# Somente quandochamou" + que conseguiram localizálo#GONÇALO + &um sussurro
Mais perto de Deus!
URBANA .ncontraram sinais estranhos na rocha" e uma imagem de São 5om+ no nicho de pedras#H.ste + o lugar para a cidade# São 5om+ nos protegerá" como nos protegeu da tormenta!IDescobriram ouro na gruta# ;briram galerias que 1oram sair em dez pontos di1erentes do morro"como se 1ossem dez portas de edreira# Mais tarde" partindo daqui" abriram lavras por todo o vale e1undaram novos lugare'os#GONÇALO +erdido em seus pensamentos
. ergueram a igre'a ma'estosa!URBANA
*om sacri1/cios sem conta" adre (on)alo#GONÇALO
$uando cheguei em edreira tinha o 1irme prop3sito de abrir uma capela de l+gua eml+gua e prestar assist0ncia a todos os homens do vale# ; igre'a me pareceu a mais bela da prov/ncia!$uando entrei neste largo" não podia acreditar que havia recebido tamanha gra)a de Deus# Sentimecomo se estivesse perto dele! ?o'e" conhe)o mais as suas pedras do que os homens que se a'oelhamsobre elas! +*ontraise 8aras vezes desci ao vale! Minhas capelas 1oram 1echadas!URBANA
&ossa igre'a bastava para todos#GONÇALO
&ão devia bastar a mim!URBANA
$ue há com o senhor%GONÇALO +*omo se aceitasse a determina)ão de uma 1or)a superior
9gre'a sem homens + igre'a sem Deus!URBANA
*omo" igre'a sem homens" adre (on)alo%GONÇALO
.les vão partir" urbana#URBANA
Meia dzia de /mpios! .u" meus 1ilhos e muitos permanecerão aqui#=ão aqueles que não amam edreira# .sses não importam#GONÇALO
5odos os homens importam a Deus" >rbana!URBANA Mas nem todos importam a edreira#
GONÇALO +Deprimido Depois do primeiros### irão todos### aos poucos# *ontra isso não podemos lutar#
URBANA .nquanto estiver viva será contra isto que lutarei#
GONÇALO ?á muito que sonham como planalto# 5enho ouvido isto durante anos" cada vez por um
nmero maior de pessoas# 8epetem sempre as mesmas 1rases" como se temessem esquecer esseribeirão do 8osário" as matas e a cor daquela terra!
URBANA +9ndignada . o senhor nunca me disse nada!GONÇALO *omo poderia dizer % .ram coisas que diziam " a'oelhados nocon1essionário# Dese'avam tanto que temiam ser pecado!
JK
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URBANA . não + pecado dese'ar o abandono dos mortos" adre (on)alo%
GONÇALO ?ouve pecados maiores" dona >rbana# 4oi por causa deles que os homens come)aram a
perder a 1+#URBANA
$ue pecados%GONÇALO Os responsáveis t0m pensado somente em seu poder" em seu orgulho de dominantes" em
seus templos! .squeceramse de que os homens" sem ouro da terra" não podiam viver# $uantomenos ouro se extra/a" mais tributos eram exigidos!URBANA
; lei tem sido pesada para todos#GONÇALO
;s vozes que se ergueram contra 1oram aba1adas com viol0ncia#URBANA
Se tudo isto aconteceu na prov/ncia" a culpa não 1oi nossa e muito
menos minha#GONÇALO
?á culpas que esquecemos" dona urbana# $ue atitude tomamos quando 1oi assassinada a1am/lia de (abriel%URBANA
; pol/cia tomou as medidas necessárias: os escravos 1oram presos e executados# 5odos!GONÇALO
&ão 1icou provado quem deu as armas aos escravos" e muitos a1irmaram que 1oramagentes do partido absolutista#URBANA
O que não compreendo" adre (on)alo" + o interesse que o (overno teria naquelemassacre!GONÇALO
.ra conhecido de todos o 3dio do pai de (abriel aos absolutistas# ?omem de id+iasavan)adas! ara ele" o trabalho era uma ora)ão! *ostumava dizer: s3 obede)o ao rel3gio" nicacoisa que meu pai me deixou# *ompreendia os escravos### e no entanto! Dona >rbana! O exterm/nioda 1am/lia de (abriel 1oi o come)o# Sinto que grave amea)a paira sobre n3s#URBANA
adre (on)alo! $ue está acontecendo ao senhor%GONÇALO 8evolu)6es em pouco tempo" levantes de escravos" os homens não encontram mais trabalho#
URBANA 5rabalho sempre há para quem quer trabalhar#GONÇALO
*obriram os vales de cascalho### Sonharam apenas com ouro!URBANA
.ra a recompensa da nossa terra#GONÇALO *ontinuaram sonhando com arrancar touceiras de capim e ver cair ouro em p3 de suas ra/zes!URBANA +Orgulhosa
. houve tempo que assim 1oi#GONÇALO +Deprimido
Ouro 1ácil" - 1lor da terra" traz consigo o castigo de Deus# recisamos aceitar a verdade" ea verdade + que temos vivido distantes de tudo#URBANA *ada um vive em seu lugar#
JJ
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GONÇALO $uando os homens se desesperam" s3 as recorda)6es não bastam" dona >rbana#
URBANA &ão vai acontecer nada# ara isto sempre mantive edreira distante dessas desordens#
GONÇALO. que adiantou% .stamos envolvidos na revolu)ão#
URBANA (abriel# &3s" não#GONÇALO
Muito mais do que a senhora pensa#URBANA +8etesada 4oi aquela mulher! *ada vez que visitava o pai de (abriel" alguma coisa acontecia em edreira#GONÇALO
Marta%URBANA
.la mesma# . numa das vezes deixou aqui esse Manoel de ;breu# (entinha!GONÇALO
.ra uma pobre louca de estrada! São id+ias de (abriel# De ningu+m mais#URBANA
Sei o que digo" adre (on)alo# O senhor mesmo acaba de repetir palavras dela!GONÇALO
.u%MARIANA +;parece - esquerda" pára e observa >rbana e (on)aloURBANA
$uem 1alava em len)ol de pedras e vales cobertos de cascalho% $uem maldizia o ouro darov/ncia e nossas con1rarias% $uem 1alava no empobrecimento da terra e dos homens% Deve ter1eito a mesma coisa por onde passou!MARIANA
Mamãe! ; revolu)ão terminou#GONÇALO
Martiniano###%MARIANA
Martiniano está bem# Deve chegar logo a edreira#URBANA
Mandarei tirar as pedras imediatamente# $uanto - goteira###MARIANA
Mamãe! (abriel vai partir#URBANA
&ão me interessa" Mariana" o que (abriel 1a)a#MARIANA e)o permissão para me casar e acompanhar meu marido#
URBANA .sse casamento não + mais de minha vontade# Se não 1osse pelo pai de (abriel" 'á o teria
desmanchado# .m todo caso não impe)o" desde que ele prometa" sob 'uramento" não sair deedreira das ;lmas#MARIANA
(abriel vai ser processado" mamãe#URBANA
&ão me admira# , esse o 1im dos desordeiros#
MARIANA ; senhora sabe que + a persegui)ão -s 1am/lias liberais que continua#URBANA O (overno deve ser respeitado# &ão + com desordens que se corrigem erros#
J2
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MARIANA &em tampouco com indi1eren)a ao so1rimento dos outros#
URBANA O que não me diz respeito" não me diz respeito!
MARIANA 9n'usti)a diz respeito a todos! .stão con1iscando 1azendas e prendendo 1am/lias inteiras#
Dobram" pelo terror" uma gente 'á empobrecida e sem de1esa# ;s 1am/lias de edreira tamb+m podem ser atingidas#URBANA
, conhecido de todos o meu respeito - lei" - ordem#MARIANA
ara opressores esses argumentos de nada valem# Sempre quiseram impor leis a poder deespadas# ; senhora se esquece da ela *ruz%URBANA
Se (abriel gosta de ti" deve se casar e 1icar em edreira#MARIANA
; senhora me ouviu dizer que (abriel vai ser processado! *omo podemos 1icar aqui%
URBANA .ntão" não temos nada a discutir#
MARIANA 5emos" sim senhora#
URBANA *omo ousas elevar a voz%
MARIANA De1endo um direito meu#
URBANA Se + direito" então para que pedes a minha autoriza)ão%
MARIANA ; senhora + minha mãe#
URBANA rocede" então" como 1ilha# . como 1ilha deves entender que sei melhor o que te serve#
MARIANA (osto de (abriel e quero seguilo para onde 1or# rincipalmente na situa)ão em que está#
URBANA O castigo de Deus tarda" mas não 1alta#
GONÇALO *uidado" >rbana# &ão diga isso!
URBANA
8espondo pelos meus atos" adre (on)alo#MARIANA &ão posso acompanhar (abriel sem a ben)ão da senhora# rocure compreender" mamãe#
URBANA ;ben)oar esta partida" será a ltima coisa que 1arei#
GONÇALO Dona >rbana! Deixemos que Deus decida#
URBANA Decido o que me toca decidir# , aqui o nosso lugar#
MARIANA , o que a senhora dese'a" mamãe% $ue (abriel" Martiniano###
URBANA &ão envolvas teu irmão nesta aventura#MARIANA ### que os homens en1im" passem a vida sonhando com minas de ouro inexistentes%
J7
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GONÇALO ensando em cosias que passaram#
MARIANA &ão temos lugar nem para os mortos# Se o pai de (abriel###
URBANA +=iolenta &ingu+m mais 1ale" em minha presen)a" que não há lugar para os mortos em edreira das
;lmas#GONÇALO S3 para os mortos" dona >rbana# &ão há mais para os vivos# São eles que precisam viver#
URBANA oderão viver### mas não - custa da destrui)ão de edreira# +5odo seu rosto se contrai
pelo 3dio $ue a minha maldi)ão caia sobre os impiedosos que o 1izerem#GONÇALO
>rbana! Sua decisão + pecaminosa!URBANA
Se 1or pecado honrar e amar os antepassados" a cidade e os 1eitos de meus pais###não poderei viver a não ser em pecado!
GONÇALO ; senhora está cega! &ão v0 o que esta dizendo!
URBANA Lá disse que respondo pelos meus atos#
GONÇALO ;ceitemos nossas culpas" para não recebermos um castigo maior#
URBANA &ão há castigo maior do que a morte de minha cidade#
GA%RIEL ENTRA. GONÇALO VAI AO SEU ENCONTRO.GONÇALO
(abriel!GABRIEL
adre (on)alo! Meu pai chama pelo senhor#GONÇALO +;baixa a voz
Mariana! &ão 1ale mais nada# Depois resolvemos#GONÇALO DIRIGE-SE, APRESSADO, PARA A IGREJA E DESAPARECE. PAUSACARREGADA. O ROSTO DE UR%ANA CONTINUA IMPASSVEL.MARIANA
5eu pai###%GABRIEL
Lá não me reconheceu mais#
MARIANA =em! =amos 1icar com ele#URBANA +$uando (abriel e Mariana se voltam
(abriel! =osso pai + uma das pessoas mais admiráveis que conheci#GABRIEL
&ingu+m como ele respeitou tanto o direito dos outros#URBANA Os exemplos" as recorda)6es dos que vieram em edreira nem a todos conseguem causar respeito#MARIANA +reocupada
=em" (abriel!GABRIEL +Soltase de Mariana
4oram mais recorda)6es amargas que o prenderam aqui#URBANA &ão há quem não as tenha#
J<
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GABRIEL , por isto que vamos para uma região onde não há tmulos" adros" la'es de pedra# 5udo
vai partir de n3s#URBANA
&ão se pode cortar o passado# .le nos acompanha para onde vamos# =osso pai não 1icarás3" nem será esquecido" enquanto estivermos em edreira das ;lmas#
GABRIEL =ou levar seu corpo para o vale#URBANA
.sta não + a vontade de vosso pai#GABRIEL
&o adro" s3 resta uma la'e vazia" e 'á tem o seu nome#URBANA
.le tem o mesmo direito que eu# artir + a vossa vontade" não de vosso pai# 8espeitai avontade dos mortos" 'á que não respeitais o lugar onde viveram#GABRIEL
; senhora respeita os mortos" mas não respeita os vivos#
URBANA $uem não ama seu lugar de nascimento" não merece possuir terra### +=ioleta e muito
menos viver!MARIANA
; senhora não tem direito###URBANA +*orta com intenso desprezo
Os homens vazios de recorda)6es" como sois v3s" não t0m lugar em parte alguma#GABRIEL
resencieis a destrui)ão a minha 1am/lia" dona urbana# reso dentro de uma canastraassisti a tudo sem poder 1azer nada# Ouvi seus gritos### =i aqueles escravos embriagados een1urecidos### 5enho poucas recorda)6es### resumemse todas no massacre da minha 1am/lia###MARIANA
asta" (abriel! or 1avor!GABRIEL ### .m mulheres e crian)as torturadas +Mariana abra)ase a (abrielMARIANA
&ão digas mais nada!GABRIEL
*resci com aqueles gritos nos ouvidos###MARIANA
Aá não ouviremos mais" (abriel#
GABRIEL ### vendo a pobreza e a 'usti)a tomarem conta do vale#URBANA
or causa das desordens que os liberais sempre instigaram#GABRIEL
&3s" não! Aeis in'ustas e impostas#URBANA
$ue importam as leis" quando vivemos dentro da ordem# ;ssim temos vivido em edreiradas ;lmas# &unca nos aconteceu nada#GABRIEL
orque a ordem estabelecida aqui" + a ordem da senhora" não a minha# , por isto que
odeio essas pedras# .stão contaminadas pelas leis que a senhora representa# Aeis desses mortos#.les tamb+m pertencem - senhora" não a mim# Sei o que eles signi1icam# actuaram com todas asin'usti)as cometidas neste vale em nome da sua lei e da sua ordem#
J@
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URBANA .les tinham o mesmo sangue que corre em vossas veias#
GABRIEL Sempre esperei que a senhora compreendesse###
URBANA ois não espereis que consinta na partida de minha 1ilha###
MARIANA +;baixa a cabe)a Meu Deus!URBANA ### ara ir viver no mio de ambiciososF onde os representantes de Deus nem puderam chegar#GABRIEL
*hegarão conosco#GONÇALO +;parece - porta da igre'a" paramentado para a extremaun)ão URBANA +.xplode
*arregastes meu nico 1ilho homem para essa desordem" amea)ando sua vida### quereistamb+m levar minha 1ilha para uma região inculta%GONÇALO
Dona >rbana! , preciso que a senhora compreenda#MARIANA
&ão quero partir" mamãe" sem a ben)ão da senhora#URBANA
Se partires" será sem ela### e o (overno saberá onde encontrálo#GONÇALO +.nraivecido >rbana! ; senhora se esquece do mandamento de Deus que nos manda perdoar o pr3ximo%URBANA
. o senhor" como padre" se esquece do que manda honrar pai e mãe% +ausa ;s cidades eas terras não morrem" minha 1ilha" se os homens não as abandonam### em busca de trabalho 1ácil#GABRIEL
$ue podemos 1azer com terra de cemit+rio% 5rabalhar abrindo covas e erguendo cruzes%URBANA
; terra + pouca e podre" eu sei" mas + terra que nos 1oi legada# ; partir de ho'e" podeisconsiderarvos desligado de qualquer compromisso com minha 1ilha#
UR%ANA VOLTA-SE E ACOMPANHA GONÇALOGABRIEL
Mariana! ;gora" a decisão depende apenas de n3s#MARIANA
.u sei#GABRIEL
$ueres me acompanhar assim mesmo% *asaremos na primeira capela do vale#MARIANA &ão te 1aria 1eliz" (abriel#
GABRIEL or que não%
MARIANA Aevaria para as tuas terras" para ti" todo este 3dio#
GABRIEL .ste 3dio não está em tio#
MARIANA Sem o consentimento de minha mãe" estar/amos sempre amea)ados# &ão ouviste sua amea)a%
GABRIEL 5ua mãe + in'usta#MARIANA , in'usta" mas + minha mãe# 5amb+m não partiste por causa de teu pai#
JB
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GABRIEL 5erei que 1icar" Mariana% . esperar novamente%
MARIANA +;1lita &ão! Seria arriscar tua vida#
GABRIEL .ntão" parte comigo#
MARIANA enso em ti" (abrielF não em mim#GABRIEL
&ingu+m irá me procurar# &ão sabem onde 1icam nossas terras#MARIANA +erdida
>m sonho que nos acompanha desde que Marta apareceu#GABRIEL
. que me deu 1or)as para esperar### e esquecer#MARIANA
Se a gente pudesse viver sem causar mágoas#GABRIEL
Mariana!MARIANA +;bra)amse
(abriel! +*ont+m os solu)os (abriel!GABRIEL
*omo poderei viver" lá " sem te ver na varanda" 1iando" tecendo" ouvindo o barulho dotear" ou das chaves penduradas no cinto do teu vestido#MARIANA
=iver a assistir" pouco a pouco" no meio da mata" o aparecimento do c+u!GABRIEL
=endote" de longe" recortada contra o estaleiro branco de polvilho!MARIANA
;s pastagens abrindo clareira nas matas!GABRIEL
O rosto a1ogueado" - beira das tachas!MARIANA
Lá não sei a quem mais amo: a ti" ou - imagem do teu trabalho no planalto distante!GABRIEL
Sem ti" ele não será tão 1+rtil! . sem ele" so1reremos aqui" sonhando a vida toda!MARIANA
Meu primo (abriel!GABRIEL
Minha prima Mariana!GA%RIEL E MARIANA, DOMINADOS POR UM GRANDE AMOR, FICAM A%RAÇADOS,OLHANDO O VALE ENQUANTO CORRE O PANO LENTAMENTE.
SEGUNDO )UADROSEGUNDO )UADRO
CENÁRIO: O MESMO DO PRIMEIRO QUADRO. ÉPOCA: UMA SEMANA DEPOIS AÇÃO: QUANDO SE A%RE O PANO, ALGUNS ESCRAVOS ESTÃO PASSANDO PELO
LARGO, CARREGANDO %ALAIOS CHEIOS DE TERRA. A ÁREA ENTRE O ADRO E A ROCHA, À ESQUERDA, ESTÁ CERCADA POR UM PAREDÃO DE PEDRAS: CONSTROEMO CEMITÉRIO. ESPARRAMADAS PELO LARGO, DIVERSAS MALAS E CANASTRAS. DE
J
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VEZ EM QUANDO PESSOAS APRESSADAS ENTRAM CARREGANDO APETRECHOS DEVIAGEM $ QUE VÃO DEPOSITANDO JUNTO À MALAS E CANASTRAS. GA%RIEL, DE
LUTO, APARECE À ESQUERDA , ACOMPANHADO POR MARIANA.
-OMEM O Supriano ainda está de vigia%
-OMEM .stá# .le 1icou de bater o sino da capela" se acontecesse alguma coisa#&LARA
Desceremos logo" Mariana%MARIANA
;ssim que acabar a missa#&LARA
;cho que não devemos esperar mais#MARIANA
.u sei#O POVO ENTRA NA IGREJA PARA ASSISTIR À MISSA
MARIANA &ão 1iques preocupado" (abriel# .sse delegado de ol/cia não chegará tão cedo a edreira#GABRIEL
5enho compromisso com essa gente# =enderam tudo" acabaram com o pouco que tinham para me seguir#MARIANA
&ão pod/amos ir sem assistir - missa de teu pai#GABRIEL
Se" pelo menos" Martiniano tivesse voltado# &ão compreendo por que demora tanto#MARIANA
recisamos partir ho'e" de qualquer 'eito#GABRIEL +.m sua id+ia 1ixa
&ão devia ter permitido que me acompanhasse#MARIANA
Martiniano teria ido assim mesmo#GABRIEL
;chas 1ácil partir assim" deixando Martiniano preso%MARIANA
&ão t0m nada contra ele# &ão podem acusálo de nada# enso no que pode acontecer a ti"se demorarmos mais ainda#GABRIEL
erdoame" Mariana# &ão compreendo mais o que sinto#MARIANA , o que dese'amos durante toda a vida# 9rei contigo e nada poderá me 1azer arrepender#NESTE INSTANTE OUVE-SE, À ESQUERDA A VOZ DE UMA MULHER
%O. ; senhora sabe que o padre (on)alo vai casálos na primeira capela do vale%
%O. Lá está toda en1eitada#
URBANA +=oz &ão sei" nem quero saber# $ue ningu+m mais### +;parecendo no largo### toque neste
assunto em minha presen)a#
UR%ANA, DE LUTO FECHADO, ACOMPANHADA POR GRACIANA E ALGUMAS MULHERES, ENTRA NO LARGO. GA%RIEL E MARIANA PERMANECEM IM/VEIS,OLHANDO PARA UR%ANA
JE
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URBANA ; missa vai come)ar# =amos!
UR%ANA, SEM PRESTAR ATENÇÃO EM MARIANA, CAMINHA PARA A ESCADARIA, ACOMPANHADA PELAS MULHERES& PROCURAM NÃO OLHAR OS O%JETOS ESPALHADOS PELO LARGOGABRIEL
Mariana!MARIANA +*ontrolandose .stá na hora da missa#
MARIANA SEGURA O %RAÇO DE GA%RIEL. UR%ANA E AS MULHERES PASSAM PELAS PESSOAS QUE ESTÃO NA ESCADARIA, DE CA%EÇA ERGUIDA, FINGINDO NÃOV-LAS. AS MULHERES QUE ESTÃO NO ADRO ENFRENTAM UR%ANA COM ALTIVEZ.QUANDO MARIANA E GA%RIEL CHEGAM AO PÉ DA ESCADARIA, OUVEM-SE
DIVERSOS TIROS E GRITOS, À DIREITA. SUPRIANO ENTRA CORRENDO E DIRIGE-SE A GA%RIEL.SUPRIANO
O homem### o homem### Subiram pelo outro lado! 4u'a!
+AS MUL-ERES E OS ES&RA%OS ENTRAM, &ORRENDO NA IGREJA/ GABRIEL 0A.MENÇ1O DE &ORRER PARA A %ILA2 MARIANA SEGURA3O E APONTA A GRUTAMARIANA
&a gruta das letras! Depressa" (abriel!GABRIEL
reciso descer ao vale" Mariana# ;qui me encontrariam# .spero na capela#MARIANA +;garrase em (abriel" apavorada
&ão! ;trás da pedra de São 5om+" onde está o nicho# &ingu+m te encontrará# noite poderemos descer# Depressa" (abriel" pelo amor de Deus!GA%RIEL ENTRA NA GRUTA. UR%ANA, TENSA, OLHA NA DIREÇÃO DA ENTRADA
DAS ROCHAS& UM PAR DE TRIUNFO PAIRA EM SEU ROSTO.MARIANA
Mamãe!URBANA +=oltase para entrar na igre'a#MARIANA +Segurandoa
O que a senhora está pensando%URBANA +Soltase
&ão me ponhas a mão#MARIANA
; senhora teria coragem%URBANA
*oragem de qu0%MARIANA ; senhor 'á dese'ou a morte de (abriel# Dese'ou" eu sei#
URBANA &em sei mais se este homem existe# ara mim está morto#
MARIANA ; senhora se arrependerá para o resto da vida#
URBANA .stou pensando em Martiniano# .squeceste de que ele ainda não voltou% $ue não
sabemos por onde anda%MARIANA +Muda de tom
Mamãe! &ão diga nada!URBANA O que interessa saber + onde está meu 1ilho#
JG
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MARIANA Martiniano está bem# , (abriel quem corre perigo#
URBANA . o povo de edreira! +Ouvemse os tambores que se aproximam#
MARIANA rometo não partir# 4a)o o que a senhora quiser#
URBANA S. não 1osse (abriel### não estar/amos nesta situa)ão#MARIANA +;garrase a urbana e repete as palavras num desespero crescente
(abriel + tudo na minha vida# ara mim### bastará saber que vive# &ão sairei de edreira#Morrerei aqui# 4icarei" aconte)a o que acontecer# Luro" mamãe!
CRESCE O %ARULHO DOS TAM%ORESURBANA
Se nos encontram aqui será pior#MARIANA
Aembrese do que 1izeram - 1am/lia dele# 4ariam o mesmo" agora#URBANA
&ão direi nada#MARIANA
Lure" mamãe#URBANA
Minha palavra basta# =em!QUANDO UR%ANA E MARIANA DESAPARECEM NA IGREJA, O LARGO É
SU%ITAMENTE INVADIDO, AO MESMO TEMPO QUE AS PLATAFORMAS DOS ROCHEDOS SÃO OCUPADAS POR SOLDADOS COM ARMAS NAS MÃOS. O LARGO DAS MECS FICA CERCADO. ALGUNS SOLDADOS ENTRAM NA IGREJA E FAZEM O POVO SAIR. AO MESMO TEMPO, HOMENS E MULHERES ENTRAM CORRENDO, VINDA DACIDADE, SEGUIDOS POR SOLDADOS. DEPOIS QUE UR%ANA, PADRE GONÇALO,
MARIANA E O POVO SAEM DA IGREJA. VASCONCELOS ENTRA NO LARGO, ACOMPANHADO POR OUTROS SOLDADOS. UR%ANA E VASCONCELOS FICAMFRENTE A FRENTE. VASCONCELOS, COM AS ROUPAS EM DESALINHO, DENOTANDO
A LONGA CAMINHADA, O%SERVA O POVO. DEPOIS DE UMA PAUSA, ADIANTA-SE, A%RE UM PAPEL, E L.%AS&ON&ELOS
Sua Ma'estade" o 9mperador" atendendo ao estado de rebelião em que" in1elizmente" seacham alguns munic/pios desta rov/ncia" 1az saber - cidade de edreira das ;lmas" e -s outras
povoa)6es da mesma rov/ncia" que resolveu declarar suspensas as garantias por espa)o de tr0smeses# Ordena ao senhor Delegado de ol/cia que reuna prontamente todos os moradores e 1a)a
saber: JN oderá mandar prender" sem culpa 1ormada" e conservar em prisão" sem su'eitar a processodurante a suspensão das garantias" os indiciados nos crimes de resist0ncia" conspira)ão" sedi)ão"rebelião" insurrei)ão e homic/dio# 2N oderá 1azer sair para 1ora da rov/ncia" e mesmo assinalarlugar certo para resid0ncia" -queles indiciados que a seguran)a pblica exi'a que se não conservemna rov/ncia# 7N oderá mandar dar buscas" de dia e de noite" em qualquer casa# Sua Ma'estadeordena###URBANA + &ão se contendo mais
edreira das ;lmas não tomou parte na revolu)ão#%AS&ON&ELOS
Dona >rbana%URBANA
Sim" senhor# edreira não pode ser tratada como cidade sediciosa#%AS&ON&ELOS Se não 1osse não estar/amos aqui#
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URBANA ois não +# 5oda a rov/ncia conhece meu respeito - ordem#
%AS&ON&ELOS ; senhora a1irma isto em sã consci0ncia%
URBANA ;1irmo#
%AS&ON&ELOS 5ragam o preso!SAI UM SOLDADO E VOLTA COM MARTINIANO MANIETADO E EMPURRA-O PARAFRENTE DE VASCONCELOS. MARTINIANO MAL SE MANTÉM DE PÉ& CAM%ALEIACOMO SE FOSSE CAIR. UR%ANA OLHA INDIGNADA PARA MARIANA.MARIANA
Martiniano!GONÇALO +Desce a escadaria
Meu 1ilho!%AS&ON&ELOS +;utoritário
4ique onde o senhor está#
GONÇALO PÁRA. UR%ANA VACILA& SEU ROSTO CONGESTIONA-SE PELA IRA. MARTINIANO VIRA O ROSTO PROCURANDO NÃO OLHAR UR%ANA.URBANA
Desde quando###% Mariana! Sabias que Martiniano estava preso% 8esponde!MARIANA
Sabia#URBANA
. não me disseste nada% *om certeza" mais uma das###MARIANA +*orta
Mamãe! &ão quis que a senhora 1icasse preocupada#URBANA
;lgum dia deixei de estar% Desde que meu 1ilho 1oi levado daqui%MARIANA
Aevado%!%AS&ON&ELOS
&ão + a quantidade de homens" minha senhora" que torna uma cidade sediciosa# astaum# . daqui partiram dois" sendo um deles um dos cabe)as da revolu)ão#MARIANA
(abriel não 1oi%AS&ON&ELOS
&ão citei nomes#
MARIANA Autou apenas como soldado#URBANA +Desce a escadaria
Meu 1ilho!%AS&ON&ELOS +Os soldados 1azem Martiniano recuar or enquanto" meu prisioneiro# ; senhora ainda 1irma que edreira das ;lmas não + sediciosa%URBANA
;1irmo# Meu 1ilho não + responsável pelo seu gesto#MARTINIANO AGITA-SE, OLHANDO PARA UR%ANA
%AS&ON&ELOS &ão% .ntão" quem +% .stamos aqui para prender unicamente os responsáveis#
MARIANA +;dvertindo Mamãe!%AS&ON&ELOS $ue 1ale primeiro dona >rbana#
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URBANA &ingu+m partiu daqui## que perten)a a edreira das ;lmas# +rocurando uma
'usti1icativa &enhum daqueles que amam nossa cidade entrou nessa aventura# +;lgumas pessoas noadro se agitam Meu 1ilho + menor e não sabe o que 1az#%AS&ON&ELOS
.ntão%
URBANA +ausa Sou eu# Sou a nica responsável#%AS&ON&ELOS
.ssa atitude não adianta" minha senhora#URBANA
&ão podem tratálo como criminoso!%AS&ON&ELOS
&ão será tratado" se o verdadeiro culpado 1or entregue# Mandarei soltálo imediatamente#URBANA
Lá disse quem +#%AS&ON&ELOS
Sabemos que ele se chama (abriel# .sconder um rebelde + apoiar sua atitude" + participarde suas opini6es# Seu 1ilho será libertado" mas para isto + necessário que (abriel se apresente# Ondeestá% +Sil0ncio Sei que ele se encontra nesta cidade" que está de partida para a prov/ncia de Sãoaulo# +Olha a sua volta pelo que ve'o não estou enganado# Senhor pároco%GONÇALO
Se está escondido aqui" em verdade não sei o lugar#%AS&ON&ELOS
O senhor + um representante de Deus!GONÇALO
. como representante de Deus" posso a1irmar que não sei onde se encontra#%AS&ON&ELOS
Martiniano revelou que###MARTINIANO
Mentira" Mariana! +;1lito .u não disse### não disse" Mariana# alavra###OS SOLDADOS FAZEM MARTINIANO CALAR. UR%ANA CONTÉM-SE A CUSTO%AS&ON&ELOS
Se (abriel não 1or entregue" todos incorrerão no mesmo crime contra a ordem pblica"não importa se a senhora o considera de edreira das ;lmas ou não#URBANA
Sempre respeitamos a lei# O 1eito de um não pode ocasionar a in1elicidade de todos#%AS&ON&ELOS
enso como a senhora e nem dese'o que isso aconte)a#URBANA ;gindo assim" o senhor cometerá uma grande in'usti)a#
MARIANA PERCE%E O PERIGO E TENTA DESVIAR O DIÁLOGO ENTRE VASCONCELOS EUR%ANA
MARIANA ; cidade está em seu poder# Será 1ácil dar busca em todas as casas### e onde achar melhor#
; obriga)ão + do senhor# &ingu+m tem o direito de nos exigir uma dela)ão" mesmo em nome daordem pblica#%AS&ON&ELOS
5enho" não s3 o direito" mas o dever de empregar os m+todos necessários para prender os
sediciosos# . eles serão todos empregados#MARIANA .mpregue os que quiser# O que não pode + nos impor uma ato indigno#
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%AS&ON&ELOS &ão estou aqui para dar explica)6es# Sou representante da lei e da 'usti)a e vim
restabelec0las#URBANA
$uais as garantias que teremos se###GONÇALO
Dona >rbana!MARTINIANO &ão creia neles" mamãe!
MARTINIANO É SU%JUGADO PELOS SOLDADOS DE MODO %RUTALURBANA
Senhor! , apenas uma crian)a!%AS&ON&ELOS
*rian)a" mas pegou em armas contra o governo de Sal Ma'estade# ; senhora ia dizer%URBANA
$uais as garantias que teremos### se (abriel se apresentar%%AS&ON&ELOS
.ntão" ele está aqui%URBANA
O senhor não respondeu - minha pergunta#%AS&ON&ELOS
Sairemos de edreira das ;lmas e levaremos apenas (abriel# +Martiniano se agita"apavorado Se esse rebelde não 1or entregue" Martiniano e todos os homens válidos da cidade serãoenviados para 1ora da rov/ncia#
+SIL4N&IO/ MARIANA ANSIOSA, OL-A PARA URBANA/%AS&ON&ELOS +;o povo
$uem sabe onde está (abriel%URBANA
Somente eu sei" senhor# 4ui eu quem o escondeu#MARTINIANO
Mamãe! &ão 1ale!URBANA +Lá meio desorientada
8eceio por ti" meu 1ilho#MARTINIANO
; senhora não deve 1alar" não teria descanso na minha vida#%AS&ON&ELOS
.scolha" minha senhora" seu 1ilho + meu prisioneiro#MARTINIANO or mim" não# or mim" não" mamãe! Aembrese do que ele passou# .u### +Debatese### não quero!MARIANA
. + o senhor quem se diz representante da lei e da 'usti)a! $ue vem aqui impor a escolhade uma vida!%AS&ON&ELOS
&ão amea)o a vida de ningu+m# .stou esperando" dona >rbana# ; paci0ncia tem limites#&LARA
>rbana! &ão podemos viver aqui#MUL-ER
&ão destrua nossa nica esperan)a#MARTINIANO +Suplicante
Mame! or tudo quanto + sagrado###GRA&IANA 4ale" >rbana! , a vida de seu 1ilho#
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MUL-ER . dos homens que serão processados#
GRA&IANA =alem mais do que aquelas terras#
&LARA >rbana! Aembrese da ela *ruz!
%AS&ON&ELOS .sta resist0ncia pode custar caro a seu 1ilho#URBANA +;1lita
$uero saber o que será 1eito a (abriel#%AS&ON&ELOS
Será processado e terá que cumprir a pena que###MARTINIANO
Mentira" mamãe! $uerem matálo! +Seguram Martiniano que se debate &ão acredite###%AS&ON&ELOS
4a)amno calar!MARTINIANO
São assassinos### +rocuram dominar MartinianoURBANA + &o auge da angstia
Meu 1ilho!MARTINIANO
###deixariam (abriel### 1ugir### para matálo# +Dominam Martiniano &ão quero### nãoquero" mamãe### viver assim###%AS&ON&ELOS
&ão terei mais contempla)ão# Aevem###URBANA
(abriel está###MARIANA +*orta
&ão! ; senhora não tem direito!URBANA
&ão estas vendo o que vai acontecer%MARIANA
Será uma escolha que não dependerá de n3s" mamãe#URBANA
Se 1icar em sil0ncio não estarei escolhendo% Onde está o amor por teu irmão% or tua1am/lia% S3 pensas neste homem%
MARTINIANO ESCAPA E CORRE, GRITANDO COM TODA FORÇAMARTINIANO
(abriel! 4u'a!URBANA +Desesperada Martiniano! &ão" meu 1ilho!
OUVE-SE UM TIRO: MARTINIANO TOM%A. MARIANA E GONÇALO CORREM EM DIREÇÃO DE MARTINIANO. O POVO ESPALHA-SE NO LARGO ATERRORIZADO.%AS&ON&ELOS +4urioso
$uem 1oi% $uem atirou sem minha ordem% +; um sinal de um dos soldados .stpido#MARTINIANO
Mamãe! +ausa# .leva a voz Mamãe!GONÇALO
Dona >rbana!
UR%ANA COM GRANDE ESFORÇO, CAMINHA ATÉ MARTINIANOMARTINIANO Mamãe!
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URBANA 4ica quieto" meu 1ilho# +;'oelhase" meio desorientada 9sso passa### isso passa###
MARTINIANO rometame###que não dirá# &ão diga nada#
URBANA O es1or)o te 1az mal" meu 1ilho#
MARTINIANO Somente (abriel### sabe### onde 1icam as terras### as terras!GONÇALO
&ingu+m vai denunciar" meu 1ilho#MARTINIANO +erdendo as 1or)as
(abriel### 1ala de um mundo### belo! Lusto### uma região onde tudo### come)a a viver!URBANA
Meu 1ilho! Meu 1ilho!MARTINIANO
, preciso aben)oar### aben)oar" mamãe### +;garrase a urbana ;s árvores! ;s árvores!###cheias de###de###;s 1igueiras### as 1iguei### +Martiniano tomba
URBANA +Desesperada" abra)ase a Martiniano Meu Deus! &ão esta dor!### não esta!
%AS&ON&ELOS (uardem todas as sa/das# 4ica proibido a qualquer pessoa sair da cidade" enquanto não
1or entregue esse criminoso# .xaminem todas as casas" d0em batida no morro" olhem pedra por pedra# &ingu+m poderá descer ou subir#
MARIANA, COMPLETAMENTE RETESADA, LEVANTA-SE E FICA COM OS OLHOS FI#OS NOVALE
GONÇALO .stamos construindo o cemit+rio e trazemos terra do vale#
%AS&ON&ELOS
9sso não me diz respeito#GONÇALO
e)o que compreenda# ; cidade não pode 1icar sem cemit+rio#%AS&ON&ELOS
O que importa + a prisão desse rebelde#SU%ITAMENTE, UR%ANA COMEÇA A SOLUÇAR& SEUS SOLUÇOS PARECEM MAISGEMIDOS. UR%ANAS, SENTADA NO CHÃO, É QUASE INDEFESA. MARIANA, COMO O
ROSTO CONTRADO, OLHA UM INSTANTE PARA VASCONCELOS E VAI FICAR, DE PÉ, JUNTO DE UR%ANA, COMO SE QUISESSE PROTEG-LA.MARIANA
.ste tem sido o so1rimento de (abriel### de todo o vale!URBANA
Meu 1ilho# Meu nico 1ilho homem!GONÇALO
*ompreende agora" senhor% &ão temos onde enterrálo!%AS&ON&ELOS +; contragosto
.nterrem como puderem#GONÇALO
5emos que acabar o cemit+rio ou descer ao vale para dar descanso a esta alma#%AS&ON&ELOS
&ão permitirei nem uma coisa nem outra# &ão posso 1acilitar meios para a 1uga de um
homem" que + um dos responsáveis pela desordem que lavra na rov/ncia#GONÇALO , um ato de caridade cristã que vossa merc0 não pode negar#
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%AS&ON&ELOS 5anto posso que impedirei#
GONÇALO Senhor! , uma impiedade deixar um corpo sem sepultura# , uma o1ensa aos mortos!
%AS&ON&ELOS
.le não 1icará sem sepultura# Depende apenas dos senhores#MARIANA +=iolenta ois que 1ique exposto!
GONÇALO Mariana! &ão podemos###
MARIANA +5rans1igurada onham o corpo na igre'a! O so1rimento + nosso e ningu+m precisa presenciálo!
HÁ UM SILNCIO RELIGIOSO. OS HOMENS CARREGAM O CORPO DE MARTINIANO. MARIANA E GONÇALO LEVANTAM UR%ANA E AMPARAM-NA& DIRIGEM-SE PARA A ESCADARIA. UR%ANA, COMPLETAMENTE RGIDA, PARECE TER ULTRAPASSADO O LIMITE DA DOR HUMANA
%AS&ON&ELOS +=endo o povo se dirigir - igre'a" sem se incomodar com a sua advert0ncia &ingu+m poderá sair da cidade" sem minha autoriza)ão# Será dada ordem de 1ogo contra
quem desobedecer# $uero que isto 1ique bem claro# 50m tr0s horas de prazo para entregar (abriel#*aso contrário" serão todos presos#
GONÇALO Senhor! 5ema o castigo de Deus#
%AS&ON&ELOS Sargento! onha dois soldados - entrada da rocha e mande examinar quais os caminhos
que descem para o vale# $ue ningu+m des)a sua vida responderá por isto#MARIANA, CLARA , ELISAURA E GENOVEVA FICAM, HIRTAS, OLHANDO PARAVASCONCELOS.%AS&ON&ELOS
Dona urbana! +>rbana e (on)alo param no adro O destino da cidade está em suas mãos#;cima de tudo" deve considerar o bemestar do seu povo# ?á medidas necessárias que ultrapassamnossa vontade" e atos### dos quais não somos culpados# &ão posso nem devo tomar outra atitudecom uma cidade que acolhe e esconde um 1oragido da 'usti)a# ; senhora está disposta a revelar o
paradeiro de (abriel% +ausa" completamente distante" olha para o vale%AS&ON&ELOS
;gindo assim" a senhora condena o povo de edreiraF as penas serão as mesmas alei +clara e será respeitada e cumprida#
GONÇALO AMPARA UR%ANA E ENTRA NA IGREJA. MARIANA ENCARAVASCONCELOS. O POVO COMEÇA A CANTAR DENTRO DA IGREJA&ANTO DO PO%O
Dirigeme palavra de gozo e de alegriaexultam os ossos que esmagastes!Dos meus pecados deixais a =ossa 1ace. apagai todas as minhas culpas#*riai em mim" 3 Deus" com cora)ão imaculado#8enovai no meu /ntimo o esp/rito de 1irmeza!
MARIANA Aeis! Aeis! &ão aceito" nem o povo de edreira das ;lmas aceitará suas leis#
%AS&ON&ELOS +Cspero 4alo com dona >rbana#MARIANA
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8epondo por ela e por edreira# 5odas as leis que o senhor representa" não nos poderãoarrancar nenhuma palavra" nem um gesto de acatamento -s suas ordens# ;bra as portas das pris6es"traga os instrumentos de tortura" revolva e destrua a cidade" derrube as torres de nossa igre'a###! Masde nossas bocas 'amais sairá uma nica palavra de dela)ão! Os mortos sairão das la'es e osimpiedosos serão destru/dos! +Os soldados entreolhamse" admirados $ue um anátema caia sobresuas cabe)as! $ue o corpo de meu irmão 1ique exposto### será uma lembran)a viva do seu pecado"
da sua indignidade!
%AS&ON&ELOS =eremos mais tarde" minha senhora" se não 1alam#
MARIANA O senhor tem espadas### n3s " aquilo que assassinos de sua esp+cie desconhecem: respeito
- liberdade# , o que (abriel representa para n3s# agaremos" por ele" qualquer pre)o!MARIANA, ACOMPANHADA PELAS MULHERES, VOLTA-SE E DESAPARECE DENTRO
DA IGREJA%AS&ON&ELOS
Sargento! renda o homem que atirou#
SOLDADO =osmec0 deu ordem para atirar#
%AS&ON&ELOS +=iolento $uando eu mandasse# Aeveo para a prisão#
VASCONCELOS E#AMINA O LARGO E DIRIGE-SE PARA A IGREJA, COMO QUE ATRADO PELO CANTO DO POVO, QUE SE ELEVA NUMA S"PLICA, CHEIA DE DESAFIO.
PO%O +*antando*riai em mim" 3 Deus" com cora)ão imaculado#8enovai no meu /ntimo o esp/rito de 1irmeza!
ENQUANTO SE OUVE A "LTIMA FRASE DO CANTO, VASCONCELOS PÁRA DIANTE DA IGREJA.
SEGUNDO ATOSEGUNDO ATOPRIMEIRO )UADROPRIMEIRO )UADRO
CENÁRIO: O MESMO DO PRIMEIRO ATO. ÉPOCA: TRS DIAS DEPOIS. AÇÃO: QUANDO SE A%RE O PANO É NOITE. ALGUNS SOLDADOS EM GRUPO NA ESCADARIA, OLHAM NA DIREÇÃO DA IGREJA.
56 SOLDADO Sai da/! .sta pisando em cima da la'e!76 SOLDADO
*redo! &ão se tem nem onde 1icar!86 SOLDADO +*ontinuando a conversa interrompida
### e se 1oram bons" depois de mortos as almas vão morara nas montanhas azuis#96 SOLDADO +Olha - sua volta
Pndio + um bicho esquisito#76 SOLDADO
Deve ser alguma serra igual a esta#86 SOLDADO
;qui não + lugar de /ndio# S3 pode ser no sertão#76 SOLDADO =ista de longe" tamb+m + azul# &ão se lembra quando a gente vinha para cá%
2
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56 SOLDADO $ue importQncia tem esse (abriel% Sozinho" o que pode 1azer%
86 SOLDADO =asconcelos devia empregar o a)oite#
96 SOLDADO Lá não basta o que 1izemos%!
56 SOLDADO elo menos a gente ia embora### sa/a deste lugar#76 SOLDADO
So1rem por causa de um cemit+rio! Se a gente contar" ningu+m acredita!56 SOLDADO
*om tanta terra que há por esse mundo a1ora#86 SOLDADO
&a minha HterraI " s3 não tem terra quem não quer#76 SOLDADO
&em me lembro" se na minha tem cemit+rio#SILNCIO CARREGADO. DURANTE UM MOMENTO SÃO DOMINADOS POR SEUS
PENSAMENTOS.76 SOLDADO
?o'e + sábado%56 SOLDADO +(esto a1irmativo
. 'á estamos na quaresma#56 SOLDADO
$uaresma! 5empo das almas!76 SOLDADO
, na quaresma que os encomendadores das almas saem pelas estradas" cantando erezando#56 SOLDADO
. HelasI acompanham#96 SOLDADO +Olha a igre'a
$ue será### anátema%O SARGENTO, ENCOLHENDO-SE DE FRIO, SAI DA CASA, À ESQUERDA, DIRIGINDO-
SE À ESCADARIA. QUANDO ATRAVESSA O LARGO, OLHA À SUA VOLTA.SARGENTO +9rritado
*omo venta nesta cidade! &ão estão com 1rio%56 SOLDADO
&ão!SARGENTO +Depois de pensar um instante
Devo estar doente#76 SOLDADO >rbana ainda está lá% &a mesma posi)ão%
SARGENTO .stá# 5r0s dias nesse sil0ncio" como se 1osse uma estátua!
96 SOLDADO Sem abrir a boca para nada# &unca vi mulher assim!
86 SOLDADO . agora% $ue + que =asconcelos pretende 1azer%
SARGENTO &ão sei onde tudo isto vai parar#
86 SOLDADO +=eemente >rbana não pode deixar os homens da cidade na prisão#SARGENTO
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&ão pode" por qu0% Muito pior + o 1ilho" sem tmulo### espalhando este cheiro pelo morrotodo#96 SOLDADO
, o que digo#SARGENTO
&ão compreendo### o que Mariana queria dizer com aquilo#
56 SOLDADO Se ao menos =asconcelos 1izesse Mariana 1alar#96 SOLDADO
&ingu+m consegue tirálas de dentro da igre'a!86 SOLDADO
&ão podemos continuar desse 'eito#SARGENTO
Sabem o que + anátema% +.xpress6es de que ningu+m sabe H$ue um anátema caia sobresuas cabe)as!I +Malestar geral Será maldi)ão%!96 SOLDADO
Deve ser isso mesmo#
SARGENTO +Olha a igre'a O so1rimento está matando essa mulher aos poucos#
96 SOLDADO +8ememora H$ue os mortos saiam das la'esI### ela disse!
86 SOLDADO Depois### 'á pensaram%
76 SOLDADO $ue 1oi%
86 SOLDADO .la ### ela tamb+m está aqui!
76 SOLDADO $uem%
86 SOLDADO ; alma dele!
SARGENTO &ão se deve acreditar nessas coisas#
86 SOLDADO , verdade!
96 SOLDADO &ão sobe enquanto o corpo não 1or enterrado# São Miguel não recebe a alma#
56 SOLDADO
=asconcelos devia largar mão dessa gente#76 SOLDADO De1unto merece mais respeito#
86 SOLDADO Se aquele idiota não tivesse atirado#
VASCONCELOS SAI DA CASA, À ESQUERDA, PÁRA E O%SERVA OS SOLDADOS, PERCE%ENDO A SITUAÇÃO96 SOLDADO
, preciso enterrar este corpo!SARGENTO
.la não agRenta mais!
86 SOLDADO Dona >rbana precisa 1alar!%AS&ON&ELOS
2G
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Sargento!OS SOLDADOS VOLTAM ÀS SUAS POSIÇ!ES. VASCONCELOS CONTROLA-SE ECAMINHA, RESOLUTO, PARA A ESCADARIA.%AS&ON&ELOS
O cabo Martins não apareceu%SARGENTO
&ão" senhor# rocuramos por toda parte#96 SOLDADO Desapareceu assim### +4az o gesto de uma hora para outra!
%AS&ON&ELOS +9gnorando o aparte &ão 1oi visto em aependi% Deve estar lá#
56 SOLDADO &ingu+m deu not/cia dele#
96 SOLDADO &em poderá ser visto#
%AS&ON&ELOS , desertor" nada mais# 5odos serão presos: os Martins e os outros# De ho'e em diante" 1ica
expressamente proibida a sa/da dos soldados al+m das rochas#76 SOLDADO
; gente tamb+m precisa respirar um ar que preste#%AS&ON&ELOS
8espiramos todos o mesmo ar# +;o sargento ;viseme se algu+m desobedecer -s ordens#86 SOLDADO
$uando vamos sair daqui%%AS&ON&ELOS
$uando cumprirmos nossa obriga)ão# ; anarquia está reprimida" mas não su1ocada#.stamos aqui para isto" e não sairemos enquanto não alcan)armos nosso 1im#DURANTE ESTA FALA DE VASCONCELOS, CLARA E DUAS MULHERES, TODAS DE
LUTO, SURGEM DE DENTRO DA GRUTA, PARAM E FICAM RGIDAS COMO ESTÁTUAS. NO PRIMEIRO MOMENTO, DEVIDO À PENUM%RA, OS SOLDADOS NÃO NOTAM SUA PRESENÇA. CLARA CARREGA UMA PEQUENA CESTA.76 SOLDADO
Olha!%AS&ON&ELOS
$uem está ai%&LARA
*lara" senhor!%AS&ON&ELOS +.xamina as mulheres" que continuam impass/veis
ara que esta cesta%&LARA 4omos pr 1lores no nicho de São 5om+#
%AS&ON&ELOS ; esta hora%
&LARA .stamos proibidas de sair durante o dia# Devemos abandonar" sem 1lores e ora)6es" as
imagens sagradas%+%AS&ON&ELOS E:AMINA A &ESTA
96 SOLDADO Senhor! &ão sa/mos do largo# .las não passaram por aqui#
&LARA =iemos pelas galerias# .las cruzam por baixo deste largo#%AS&ON&ELOS +;o <N soldado
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=eri1ique se as 1lores estão lá! +O soldado vacila =amos!+O SOLDADO A&ENDE UM LAMPI1O E ENTRA NA GRUTA/
%AS&ON&ELOS Os soldados estão de guarda nas sa/das das galerias%
SARGENTO .stão# &as dez#
%AS&ON&ELOS &ão 1oram proibidas de virem a este largo% =oltem pelas galerias# +*lara não se mexe$ue querem%&LARA
$ueremos um tmulo#%AS&ON&ELOS
9sto não depende de mim#&LARA
>ma alma so1re" vagando sem destino#%AS&ON&ELOS
Mariana está resolvida a 1alar%
&LARA 4alar o qu0%
%AS&ON&ELOS Onde está (abriel%
&LARA S3 >rbana sabe#
%AS&ON&ELOS 5odos se escondem no so1rimento dessa mulher" mas não 1azem nada por ela#
&LARA &ão temos terra" nem podemos descer ao vale# São determina)6es suas!
%AS&ON&ELOS &ão permito porque de1endo a lei# ;s senhoras impedem porque de1endem um
criminoso# Se quem + a culpa%&LARA
4a)a Martiniano viver" senhor" e >rbana 1alará!%AS&ON&ELOS
=iver%!&LARA
?á tr0s dias que >rbana agoniza dentro da igre'a" levando consigo o esconderi'o de(abriel# ;bra)ada -quele corpo" 1az dos bra)os tmulo para o 1ilho# *omo cabelos embranquecidosnuma noite" nem lágrimas pode verter! .las brotarão em seus olhos" senhor" se este corpo continuar
insepulto! $ue impiedade maior existirá" do que condenar uma mãe a ver seu 1ilho" minuto aminuto" perder as 1ei)6es### que sonhou em seu pr3prio sangue" que a'udou a crescer com seusseios% $ue voz poderá sair dessa boca " senhor%96 SOLDADO
Sargento! Olha!NO FUNDO, À DIREITA, TRS MULHERES DE LUTO ESTÃO PARADAS COMO
ESTÁTUAS. RGIDAS, OLHAM FI#AMENTE PARA A FRENTE.%AS&ON&ELOS
$uem são% $uem + a senhora%ELISAURA
.lisaura#
%AS&ON&ELOS &ão estão proibidas de sa/rem de suas casas%ELISAURA
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.stamos#%AS&ON&ELOS
=oltem" então" para elas! +ausa &ão ouviram%ELISAURA
rocuro meu 1ilho# Onde está%%AS&ON&ELOS
reso como todos os homens válidos da cidade#ELISAURA Meu 1ilho tem apenas JB anos" senhor!
%AS&ON&ELOS . preso continuará" enquanto Mariana não revelar o paradeiro de (abriel#
ELISAURA Mariana não sabe#
%AS&ON&ELOS 5enho a certeza de que sabe#
ELISAURA (abriel está escondido no sil0ncio de >rbana#
%AS&ON&ELOS +9rritado .ntão que 1ale >rbana!
ELISAURA 4a)a primeiro Martiniano viver#
%AS&ON&ELOS .stão 1icando todas loucas%
ELISAURA +Suplicante 4a)a cair sobre o nosso corpo" senhor" as penas de suas leis! Mas não condene aqueles
ainda não tocados pelo 3dio! .sse castigo" mãe nenhuma merece! Distante de todas as maldades dovale" meu 1ilho era um menino que vivia livre nos rochedos" cercado de c+u" companheiro dos diasclaros! or que" então" está 'ogado naquela prisão escura" senhor%SU%ITAMENTE, COMO SE %ROTASSE DA TERRA, APARECEM, À ESQUERDA ALTA,TRS MULHERES DE LUTO. FICAM PARADAS, OLHANDO FI#AMENTEVASCONCELOS.%AS&ON&ELOS
. lá morrerá se urbana### +ára" ao ver as mulheres Sargento! &ão proibi a presen)a dessagente no Aargo das Merc0s%SARGENTO
, di1/cil impedir# ;s galeria t0m sa/das em diversos pontos da cidade" at+ mesmo dentrodas casas# &ão temos soldados su1icientes#%AS&ON&ELOS
*omo não são su1icientes%SARGENTO Depois que os homens da cidade 1oram presos" o senhor mandou muitos para aependi# .
outros### o senhor sabe###!96 SOLDADO
$ue 1oi%!SARGENTO
.le### não voltou! &ão voltou da gruta!OS SOLDADOS OLHAM PARA A GRUTA. AS MULHERES CONTINUAM RGIDAS%AS&ON&ELOS +; um dos soldados
=e'a### +Mudando =oc0s dois# =e'am o que esse idiota está 1azendo! +;o Sargento e)a
mais soldados em aependi!+OS DOIS SOLDADOS &OM &ERTA RELUT*N&IA, DESAPARE&EM NA GRUTA/IMEDIATAMENTE, GENO%E%A ADIANTA3SE
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GENO%E%A Meu nome + (enoveva#
%AS&ON&ELOS =oltem! &ão podem ver >rbana" nem Mariana#
GENO%E%A $uero ver meu marido#
%AS&ON&ELOS Saiam daqui! 5odas!MUL-ER
Meu pai onde está%MUL-ER
. meu noivo%%AS&ON&ELOS
.stou cansado de repetir que estão presos# $ue somente serão libertados quando >rbana1alar#GENO%E%A + &o mesmo tom das outras
4a)a Martiniano viver!
%AS&ON&ELOS +;tnito *omo%!
GENO%E%A *om maridos" noivos" 1ilhos e pais acorrentados nas senzalas" tememos a sorte de
>rbana# 5odas as mulheres de edreira choram por >rbana" silenciada para sempre! *horamos"senhor! orque chorar se tornou nossa condi)ão desde que sua vontade governa edreira das;lmas! orque somos n3s que so1remos a revolu)ão" suas leis" a pobreza desta terra! São essasmaldi)6es que desesperaram os homens do vale" e os homens saem de nosso ventre" senhor!GRACIANA, ACOMPANHADA POR DUAS MULHERES, SURGE À ESQUERDA, NA
SADA QUE LEVA À CIDADE. ESTACAM, COMO AS OUTRAS, FICAM RGIDAS.VASCONCELOS E OS SOLDADOS PARECEM CERCADOS.%AS&ON&ELOS
*ulpem os liberais" culpem (abriel e >rbana! &ão culpem as leis! .las não amea)am osque respeitam a ordem# &ão 1arei nada a seus maridos e 1ilhos" mas para isto + necessário que>rbana 1ale# .la precisa 1alar!GRA&IANA +num lamento agressivo
4a)a primeiro Martiniano viver#%AS&ON&ELOS +=oltase" rápido
$uem###%GRA&IANA
(raciana#
%AS&ON&ELOS (uardas!GRA&IANA
O senhor tem mãe%%AS&ON&ELOS
5irem essas mulheres daqui! 1or)a" se 1or necessário#GRA&IANA +;diantase" rápida
O senhor tem mulher e 1ilhos&LARA +;o soldado mais pr3ximo
O senhor tem noiva ou mulher%ELISAURA
O senhor tem 1ilhos%GENO%E%A . o senhor% 5em mãe" irmãs e 1ilhas%
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GRA&IANA +5enta segurar =asconcelos Sua mãe tem cabelos brancos como os meus%
ELISAURA +; =asconcelos" cercandoo Seus 1ilhos são 1orte e belos como os meus%
%AS&ON&ELOS +.scapa ao cerco
5enho mulher e 1ilhos" mas respeitam as leis# Sei o que as senhoras pretendem# .stãoenganadas# &ão tenho" nem posso ter piedade com sediciosos#GRA&IANA
$ueremos apenas um tmulo" senhor! >m pouco de terra! &ão pro1ane nossa igre'a"supliciando >rbana dentro dela! &ão condene os vivos - maldi)ão dos mortos! $uando eles t0monde repousar" os vivos podem viver em paz!VASCONCELOS, DE CERTA MANEIRA TOCADO PELAS MULHERES, GRITA PARA A
IGREJA%AS&ON&ELOS
Mariana! Mariana!96 SOLDADO
.las não saem!SARGENTO
arece que morreram com Martiniano!%AS&ON&ELOS +9rritado com o sargento
.las vão sair# . 1alarão tamb+m#OS DOIS SOLDADOS SAEM DA GRUTA.
SARGENTO .ntão%
76 SOLDADO ;s 1lores estão lá!
%AS&ON&ELOS . o soldado%
86 SOLDADO &ão encontramos# rocuramos por toda a galeria!
96 SOLDADO 4oi assim que aconteceu com o cabo Martins!
%AS&ON&ELOS =oltem a seus postos! Mais um desertor" apenas# +Olha as mulheres" não podendo
acreditar naquilo de que come)a descon1iarF que elas armam uma a)ão contra ele# ; porta da igre'acome)a a se abrir ?o'e 1icaremos sabendo onde está esse rebelde# ;s senhoras terão o tmulo#Dependerá somente de Mariana#
96 SOLDADO .stá### está abrindo!LENTAMENTE, A PORTA FICA ESCANCARADA. OS SOLDADOS NÃO CONSEGUEM
MAIS DISFARÇAR SEU TEMOR. NEM VASCONCELOS SUA ADMIRAÇÃO. MARIANA,CO%ERTA DE LUTO E CO UM VÉU PRETO NA CA%EÇA, SURGE NO P/RTICO DA
IGREJA. RGIDA, OLHA FI#AMENTE PARA FRENTE, PARECENDO NÃO PERCE%ER A PRESENÇA DE NINGUÉM. AO RESPIRAR O AR DA NOITE, MARIANA VACILA E RECUA& DEPOIS ADIANTA-SE NOVAMENTE. MARIANA ENVELHECEU E SUA SEMELHANÇA COM UR%ANA AUMENTOU: O PORTE E O ANDAR SÃO QUASE IDNTICOS. ELA TRAZ, NO ROSTO, TODO O HORROR A QUE ASSISTE DENTRO DA IGREJA. AS MULHERES OLHAM PARA MARIANA SEM FAZEREM QUALQUER
MOVIMENTO.%AS&ON&ELOS
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Mariana! 5entei 1azer 'usti)a" prendendo apenas um dos responsáveis pela desordem# &ão1oi poss/vel# ois bem: a cidade responderá por isto# 5odos os habitantes" sem distin)ão de sexo e deidade" serão expulsos da região### se não revelar" ho'e" o paradeiro de (abriel#
MARIANA, RGIDA, ADIANTA-SE ERETA E DESCE A ESCADARIA%AS&ON&ELOS
, a senhora quem comete a impiedade de deixar o corpo de seu irmão sem sepultura" com
esta resist0ncia intil" essa tola revolta que não traz bene1/cios nenhum#MARIANA CONTINUA ANDANDO%AS&ON&ELOS
&ão compreendo" nem ningu+m compreenderá" porque de1endem um homem que s3trouxe so1rimento a edreira das ;lmas#&LARA
?omens como o senhor s3 podem compreender e respeitar as leis#GRA&IANA
; verdade está sob seus olhos" e não sabe dizer nem sentir aquilo que o povo de edreiratem como nica verdade#%AS&ON&ELOS
.stou aqui para processar um rebelde" não para compreender verdades que não me dizemrespeito +; Mariana O destino da cidade depende de sua escolha: destrui)ão ou liberta)ão#MARIANA + &ão 1az o menos movimento%AS&ON&ELOS
O governo não pretende perseguir" mas punir os eu provocam a desordem# ;queles quedesrespeitam a lei" subvertem a ordem pblica" contaminam a sociedade e lan)am o desassossegonos esp/ritos#MARIANA, OLHANDO SEMPRE PARA FRENTE, VACILA LIGEIRAMENTE%AS&ON&ELOS
(uarda! rendam Mariana!OS SOLDADOS SEGURAM MARIANA, QUE NÃO FAZ O MENOR GESTO DE
RESISTNCIA.%AS&ON&ELOS
;marrem suas mãos!GRA&IANA
Será apenas mais um corpo" entre o senhor e (abriel!%AS&ON&ELOS
?averá quantos 1orem necessário para que este criminoso apare)a# &ão quero sair deedreira levando a senhora# &ão me obrigue a isto# Onde está (abriel% +Sil0ncio 8esponda!+=asconcelos vai se descontrolando &ão dei ordem para se atirar em ningu+m# ; morte deMartiniano 1oi um acidente# O culpado 'á 1oi punido# ;1irmo - senhora que" custe o que custar" não
sairei de edreira das ;lmas antes de prender (abriel# Se para isto 1or necessário destruir estacidade" eu a destruirei# &ão deixarei# &ão deixarei pedra sobre pedra! + &ão se contendo mais $uem+ esse (abriel%! $ue 1oi que ele 1ez para que as senhoras cheguem a essa obstina)ão insensata%Martiniano morreu" os homens estão presos% +Sil0ncio &ão v0 que seu sil0ncio não tem sentido%$ue (abriel irá procurála e será preso% +Sil0ncio Aevem Mariana! =amos partir de edreira#QUANDO OS SOLDADOS SE MOVIMENTAM, CLARA CORRE PARA A SADA DAS
ROCHAS E PÁRA, SU%ITAMENTE, HIRTA. LEVA AS MÃOS PARA A FRENTE, VIRANDOO ROSTO COMO SE ESTIVESSE APAVORADA. A ESTE SINAL, GRACIANA, ELISAURA EGENOVEVA CORREM TAM%ÉM, FAZENDO IDNTICO MOVIMENTO DE %RAÇOS E DECA%EÇA&LARA
Martiniano!OS SOLDADOS LARGAM MARIANA E RECUAM%AS&ON&ELOS
7@
7/27/2019 Pedreira Das Almas
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Saiam! =amos partir de edreira!&LARA +;1astase" olhando 1ixamente a sa/da das rochas
;lma de Martiniano desterrada!%AS&ON&ELOS
.stpidos supersticiosos!
GRA&IANA + &a sa/da da cidade ;lma de Martiniano degredada!ELISAURA +Direita alta
;lma de Martiniano pro1anada!GENO%E%A +.squerda alta
;lma de Martiniano aviltada!AS MULHERES ESPALHAM-SE PARA TODOS OS CANTOS DO LARGO. ALGUMAS
RODEIAM MARIANA, TAM%ÉM PROCURANDO ESCONDER OS ROSTOS. MARIANA, IM/VEL, FICA CERCADA PELAS MULHERES.&LARA +Olhando para todos os lados
&3s te queremos da parte de Deus e da =irgem!
ELISAURA, GRACIANA E GENOVEVA CAEM AJOELHADAS NO ADRO, DIANTE DA PORTA DA IGREJA. LEVAM AS MÃOS PARA A FRENTE E SUPLICAM JUNTAS.ELISAURA +Luntas
Dizei o que queres" Martiniano!A ESTE SINAL, AS MULHERES CORREM PELO LARGO E, ALUCINADAS,
RESPONDEM, OLHANDO E APONTANDO PARA TODOS OS LADOS. POUCO A POUCO,OS SOLDADOS FORMAM UM GRUPO, NO ADRO, COMO SE PROCURASSEM
DEFENDER-SE. VASCONCELOS NÃO CONSEGUE CHEGAR À ESCADARIA. AS FALAS DAS MULHERES DEVEM SER REPETIDAS QUANTAS VEZES O DIRETOR JULGAR NECESSÁRIO.MUL-ER +Direita alta
ecadores empedernidos! Deixem as almas em paz#MUL-ER +.squerda alta
Dos 1i+is as almas" Divino Senhor" *onvosco descansem em paz e amor!MUL-ER
Descanse em paz!%AS&ON&ELOS
Sargento! .ntregueme sua arma!96 SOLDADO
Sem tmulo as almas não sobem!MUL-ER
Orem pelos mortos!%AS&ON&ELOS Obede)amme! Saiam da/!
MUL-ER Orem pelos pecadores!
86 SOLDADO 4icam vagando!
MUL-ER Orem pelos in'usti)ados da montanha!
76 SOLDADO .la### ; alma dele está aqui!
SARGENTO , pecado grav/ssimo!96 SOLDADO
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Se não enterrar Deus castiga!&LARA +*orre e grita " alucinada
Onde estás Martiniano!
MUL-ER &as minas!
MUL-ER Orem pelo exposto na la'e 1ria!MUL-ER
&as galerias!MUL-ER
Orem pelo preso nas rochas!GRA&IANA +*orrendo tamb+m
Onde estás" Martiniano!MUL-ER
&as la'es!MUL-ER
Orem pelos perdidos na mata!MUL-ER
&o adro!
MUL-ER Olhem pelos desesperan)ados da montanha!
ELISAURA +*orrendo Onde estás" Martiniano!
MUL-ER &as velas acesas!
MUL-ER Orem pelos condenados!
MUL-ER &a igre'a!
MUL-ER Orem pelos a1ogados!
GENO%E%A +*orrendo Onde estás" Martiniano!
MUL-ER &o cemit+rio inacabado!
MUL-ER Orem pela alma sem tmulos!MUL-ER
&o ar que respiramos!MUL-ER
&o largo das M.*.S!&ORO
&as grutas e nos nichos sagrados de edreira das ;lmas!SU%ITAMENTE, AS MULHERES ESTACAM, HIRTAS, COMO ESTÁTUAS. POR UM
MOMENTO HÁ UM SILNCIO PROFUNDO. OS SOLDADOS, ACUADOS, OLHAM PARATODOS SOLDADOS. VASCONCELOS O%SERVA OS SOLDADOS, DEPOIS NO MEIO DO
LARGO E CERCADA PELAS MULHERES.%AS&ON&ELOS +*om certa admira)ão
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7/27/2019 Pedreira Das Almas
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Mariana! .stá 1ora do meu poder## Mas" prometo" dou minha palavra que (abriel não serámorto# Se a condi)ão + enterrar Martiniano### deixarei o povo descer ao vale e trazer terra para ocemit+rio# ode 1alar! *umprirei minha promessa#PELA PRIMEIRA VEZ, MARIANA PARECE TOMAR CONHECIMENTO DO QUE A
RODEIRA. OLHA, LIGEIRAMENTE, À SUA VOLTA, E#AMINANDO OS ROSTOS ANSIOSOS DAS MULHERES
&LARA + &um sussurro angustiado Mariana! ;'udanos!ELISAURA
5u não podes sair presa# (abriel seria condenado!GRA&IANA
=olta do meio dos mortos" minha 1ilha# , preciso lutar!!GENO%E%A
recisamos de ti!&LARA
Sem (abriel" 1icaremos presos para sempre nesta terra pedrada!MARIANA VACILA. POUCO A POUCO, PARECE REVIVER. OLHA AS ROCHAS E
ENCARA VASCONCELOS. SU%ITAMENTE, O *0 SOLDADO CORRE DO ADRO EM DIREÇÃO DA ESCADARIA.86 SOLDADO
4ala alguma coisa! ;bre essa boca!SARGENTO +*ercao na escadaria
&ão toque nessa mulher!O SARGENTO E O *0 SOLDADO DESCEM A ESCADARIA, LUTANDO. OS SOLDADOSCORREM PARA O PARAPEITO.%AS&ON&ELOS
Sargento!76 SOLDADO
&ão temos culpa#%AS&ON&ELOS
.m seus postos!96 SOLDADO
=osmec0 + o culpado#%AS&ON&ELOS
Saiam da/!86 SOLDADO +Separandose do sargento
$ueremos sair desta cidade#
%AS&ON&ELOS *ovardes! 50m medo destas mulheres!SARGENTO
, preciso enterrar esse corpo!%AS&ON&ELOS
Será enterrado quando (abriel aparecer#86 SOLDADO
Seremos todos castigados!SARGENTO
Aevaremos para as nossas casas### essa maldi)ão!%AS&ON&ELOS
*om maldi)ão ou sem maldi)ão" s3 sairemos de edreira depois que esse rebelde seapresentar# ; senhora sacri1ica o povo de pedreira por um homem%!MARIANA +*om grande es1or)o
7E
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ara o povo de edreira### viver sem (abriel### não será viver#%AS&ON&ELOS
ois o povo s3 terá liberdade se entregar (abriel# &ão tenho medo de almas" minhasenhora" porque vivo no mundo do homens# .las não me impedirão de cumprir o dever# 5amb+mtenho mortos" e sei que" expostos ou não" não passam de mortos# .stou aqui para de1ender a lei dosvivos" não a dos mortos! 9sto" não me compete# (abriel ou a senhora partirá comigo#
MARIANA (abriel está na igre'a#%AS&ON&ELOS
&a igre'a%!MARIANA
ode ir buscálo#%AS&ON&ELOS
.xaminamos a igre'a palmo a palmo# *omo pode estar lá%!MARIANA
.stava escondido na galeria que liga o altar - gruta# .ntrego (abriel para dar descanso aMartiniano### e - minha me# ode ir buscálo!
GRA&IANA >rbana###%!
ELISAURA Desde quando%
MARIANA ?o'e!
GENO%E%A Aouve ao Senhor tudo o que respira!
MUL-ER Ouvi uma voz do c+u que me dizia:
MUL-ERES 4elizes os mortos que morrem no Senhor!
%AS&ON&ELOS 4iquem em seus postos# artiremos imediatamente# ; senhora pode estar certa de que
cumprirei minha palavra# +;o Sargento ;companheme!VASCONCELOS E O SARGENTO CORREM PARA A IGREJA. SU%ITAMENTE, MARIANAVOLTA-SE. AS MULHERES SE AFASTAM. QUANDO VASCONCELOS E O SARGENTO
ENTRAM NA PORTA DA IGREJA. ESTACAM HIRTOS. O SARGENTO SOLTA UM GRITO DE PAVOR, LEVA AS MÃOS À GARGANTA E SAI CORRENDO.MARIANA +Muda completamente
.ntre na igre'a" senhor!
VASCONCELOS AVANÇA ALGUNS PASSOS, MAS PÁRA, NÃO CONSEGUINDO DOMINAR-SEMARIANA +*orre para o adro
(abriel está lá# Se entrar um pouco mais" poderá v0lo#+%AS&ON&ELOS RE&UA MAIS
MARIANA .ntra na igre'a" diante de seus soldados" e prove que suas leis não são /mpias# Onde está
sua 'usti)a para a'událo a transpor esta porta% Onde o poder que o levará at+ aqueles corpos% &ão passam de mortos" disse o senhor! .ntão" deve ter coragem para insultálos com sua presen)a#%AS&ON&ELOS
rocurem (abriel!
MARIANA +*erca a porta &ão! .les não! .les apenas cumpriram suas ordens# , o senhor quem se diz representanteda lei e da 'usti)a# Somente o senhor entrará na igre'a#
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%AS&ON&ELOS Soldados!
MARIANA Se o senhor não suporta" por que suportarão eles% O senhor nos prometeu um tmulo" se
revelássemos onde está (abriel# (abriel está lá" como minha mãe" ca/do sobre Martiniano# O
senhor nos imps" como condi)ão da sua opressão" o corpo exposto de Martiniano# &3s s3 lheimpomos" para a nossa dela)ão" a sua entrada na igre'a# .ntre 7e ve'a o que suas leis 1izeram doshomens" depois de terem 1eito - prov/ncia" empobrecendo a terra com seus tributos e toda sorte deimpiedades!%AS&ON&ELOS
Minha senhora! .u cumpro as leis#MARIANA
Aeis de um governo que nunca aceitamos# O que + 'usti)a para ele" + in'usti)a paraedreira#%AS&ON&ELOS
; senhora" como (abriel" de1ende a desordem!
MARIANA De1endemos o direito de saber o que + melhor para n3s#
%AS&ON&ELOS O (overno + quem sabe o" que + melhor para cada um#
MARIANA &ão esse (overno que governa com massacres# Os senhores come)aram com a ela
*ruz! ois 1oi de lá que saiu (abriel para libertar edreira# &ão precisamos mais de1endelo# Sua pr3pria impiedade o de1enderá# .ntre o senhor e (abriel estão Martiniano minha mãe# 4a)aosviver primeiro" e (abriel aparecerá# 4a)a desaparecer todas as in'usti)as cometidas ao vale" e osenhor terá coragem de entrar na igre'a!%AS&ON&ELOS
.le vai aparecer +(rita (abriel! Mariana terminará seus dias numa prisão" se voc0mesmo não 1or buscála na capital da prov/ncia# +sil0ncio (abriel! $ue esp+cie de homem + voc0que se esconde covardemente% Saia dessa igre'a! +Sil0ncio &ão poso acreditar que um homemabandone sua gente num momento como este!MARIANA
.le não abandonou#%AS&ON&ELOS
Onde está que não ouve os lamentos de edreira%MARIANA
Dentro da igre'a!%AS&ON&ELOS ; senhora está mentindo# &ão + lá que está (abriel!
MARIANA O senhor não teve coragem de entrar# .ntre e ve'a!
%AS&ON&ELOS .u sei que não está# ; senhora tem consci0ncia do que isto signi1ica%
MARIANA 8epondo pelos meus atos#
%AS&ON&ELOS Será processada e responderá pelo crime de (abriel#
MARIANA Lá estou com as mãos amarradas# 4a)a cumprir suas leis! Martiniano tamb+m estava"como está o povo da rov/ncia desde os dias da ela *ruz# Desde que nossa montanha passou de
<K
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sesmaria de ouro a pedra para os mortos# Onde está (abriel% Onde os mortos estão expostos" e osvivos" presos nas rochas" sonham com uma terra mais 'usta# (abriel + a nica sa/da deste tmuloimenso que seu (overno 1ez de edreira das ;lmas# 4a)a cumprir suas leis" 'á que não pode 1azeros mortos reviverem# .ste + o nosso pre)o" senhor# O meu e o seu# O senhor não terá nunca (abriel"
por que matou Martiniano### e eu### por que deixei Martiniano e minha mãe morrerem! *hame seussoldados e entre na igre'a! rove a eles que não teme os mortos# $ue pode encarar seus crimes#
+sil0ncio# =asconcelos continua im3vel (overnos como o seu" senhor" s3 executam leis /mpias"mas com bra)os subordinados ou mãos escravas# &ão presenciam nunca a verdadeira imagem desuas v/timas# Se o senhor entrar### +=acila" 1azendo um grande es1or)o### naquele rostodes1igurado### que era a pr3pria imagem do nosso sonho### verá a que 1icou reduzida a rov/ncia sobsua 'usti)a! S3 a/ poderá saber o que (abriel representa para n3s# .ntre!### e (abriel será seu! .utamb+m prometo!AS MULHERES E OS SOLDADOS FICAM OLHANDO PARA VASCONCELOS, NUMA
ESPERA ANSIOSA. SU%ITAMENTE, VASCONCELOS CAMINHA PARA O ADRO.QUANDO ENTRA NO P/RTICO DA IGREJA, VACILA, ENCOSTA-SE NA PORTA, FIRMA-
SE NOVAMENTE, DÁ MAIS ALGUNS PASSOS E PÁRA. OS SOLDADOS CORREM PARA A ESCADARIA. SU%ITAMENTE, VASCONCELOS CURVA O CORPO E RECUA. OS
SOLDADOS, AGRUPADOS, RECUAM TAM%ÉM. QUANDO CHEGA NO TOPO DA ESCADARIA, VASCONCELOS VOLTA-SE E UMA E#PRESSÃO DE HORROR DOMINA O SEU ROSTO.86 SOLDADO +(rita
;ssassino!96 SOLDADO
Sacr/lego!76 SOLDADO
.ntre na igre'a!
SARGENTO Autamos e matamos por suas leis!
86 SOLDADO De1endendo um (overno criminoso!
SU%ITAMENTE, OS SOLDADOS VOLTAM-SE E CORREM PARA A SADA DAS ROCHAS, DESAPARECENDO. VASCONCELOS DESCE A ESCADARIA, ENQUANTO CLARA DESAMARRA AS MÃOS DE MARIANA. VASCONCELOS PÁRA NO MEIO DO LARGO, DECOSTAS PARA AS MULHERES.%AS&ON&ELOS
Direi na capital da rov/ncia### que (abriel morreu!MARIANA OLHA FI#AMENTE O VALE, ENQUANTO O PRANTO CORRE PELO SEU
ROSTOMARIANA Diga que ele está vivo### mas guardado no sil0ncio dos mortos!
VASCONCELOS HESITA, LIGEIRAMENTE, DEPOIS CAMINHA, DESAPARECENDO ENTRE AS ROCHAS. AS MULHERES CORREM, ALEGRES, PARA MARIANA&LARA
Mariana!ELISAURA
edreira está livre!GRA&IANA
Aogo" desceremos ao vale e partiremos para o 8osário#
GENO%E%A =em! =amos libertar (abriel!
<J
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MARIANA, COMO SE NÃO ESCUTASSE AS MULHERES, ANDA PARA A ESCADARIA, SU%INDO-A&LARA +*orre para o adro
Mariana!MARIANA PÁRA DE COSTAS, FAZENDO GESTO COM AS MÃOS, IMPEDINDO AS
MULHERES DE ENTRAREM NA IGREJA
MARIANA &ão! &ão entrem! Somente eu# &em tirem (abriel da gruta### antes que eu tenhaenterrado os corpos# &ão quero que (abriel ve'a# &em permitam que ele saiba um dia### que viMartiniano com essa imagem# 4a)am o povo 'urar#MARIANA DESAPARECE DENTRO DA IGREJA. AS MULHERES ENTREOLHAM-SE ECOMEÇAM A SE AJOELHAR NO ADRO
SEGUNDO )UADROSEGUNDO )UADROCENÁRIO: O MESMO DOS QUADROS ANTERIORES
ÉPOCA: TRS DIAS DEPOIS. AÇÃO: QUANDO SE A%RE O PANO, A ÁREA ENTRE O ADRO E O ROCHEDO, À
ESQUERDA, ESTÁ INTEIRAMENTE CERCADA PELO PAREDÃO DE PEDRAS. PORCIMA DO PAREDAO, VEMOS UMA CRUZ DE MADEIRA, COM UMA VELA ACESA EMCADA %RAÇO E NO TOPO. A CASA COLONIAL, À ESQUERDA, ESTÁ SEM PORTAS E
JANELAS. ESPARRAMADOS PELO LARGO, PEDAÇOS DE TÁ%UAS, FOLHAS DE PAPEL, TELHAS QUE%RADA, INDICAM QUE A CIDADE JÁ FOI A%ANDONADA. MARIANA, PARADA JUNTO À ROCHA, OLHA FI#AMENTE PARA FRENTE. GONÇALO, PERTO DA ESCADARIA, O%SERVA MARIANA. APESAR DE MAIS ENVELHECIDO, PARECE TER-SE LI%ERTADO DE UM PESO, DEMONSTRANDO PAZ INTERIOR. A %ATINA MOSTRA, POR %AI#O, UM PAR DE %OTAS DE VIAGEM. NO ADRO,GRACIANA, GENOVEVA E ELISAURA ESPERAM UM PRONUNCIAMENTO DE
MARIANA.
GONÇALO +*ansado Mariana! Sem a companheira que escolheu" o homem não tem incentivo" vive s3#
MARIANA +4echa os olhos" procurando controlarseGONÇALO
Lá disse e repito" minha 1ilha: pode partir! Desliguei voc0 de todas as promessas# ;ssim"voc0 tira a alegria deles# 4az (abriel so1rer# =enha conosco! Deus sabe o que determina#MARIANA +ausa# Olha as rochas novamenteGONÇALO
$uando tomei a resolu)ão que estava atendendo - vontade de Deus# *omuniquei -
Diocese que não podia deixar o povo de edreira partir para um lugar sem igre'a e" qualquer que1osse a resposta teria ido assim mesmo" porque aquela que senti dentro de mim era mais 1orte#+Observa a igre'a .ssa aus0ncia de so1rimento ao abandonar minha igre'a" + a maior gra)a que
poderia receber de Deus# &as matas distantes" minhas capelas serão ainda mais sagradas" porqueestarão perto dos homens# Minha 1ilha! ; gente deve viver + para os outros# , essa a nicacondi)ão#MARIANA +ausa# Mariana contraise" revelando grande amarguraGONÇALO +Olha para as mulheres e 1az gesto de desanimoGENO%E%A
Lá 1izemos tudo#ELISAURA
&ão sabemos mais o que dizer#GRA&IANA .stá na hora" adre (on)alo
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GENO%E%A .stão nos esperando na capela#
ELISAURA &ão podemos 1icar mais#
GONÇALO *omo pode viver aqui" assim% Sem nada### apensa com algumas pessoas e escravos%!
MARIANA +Dá um passo - 1rente" evitando a proximidade de (on)aloGONÇALO &ão queria partir sem dizer### que está desobrigada diante de Deus# .spero que encontre paz#MARIANA +;baixa a cabe)aGONÇALO
;deus!GA%RIEL APARECE À PORTA DA IGREJA. GONÇALO OLHA PARA ELE E FAZ GESTO
DE QUE TUDO FOI IN"TIL.GONÇALO
&ão demore# (abriel! O povo 'á desceu e espera a1lito#GABRIEL
Descerei logo#GRA&IANA
;deus" Mariana!GENO%E%A
$ue Deus ilumine voc0#ELISAURA
=oc0 vai so1rer" minha 1ilha#MARIANA +;baixa a cabe)aGONÇALO
=amos!ELISAURA
Onde está *lara% .stava conosco na igre'a!GRA&IANA
Lá deve ter descidoGONÇALO E AS MULHERES O%SERVAM A IGREJA, O LARGO, AS ROCHAS E A CASA.GRACIANA E ELISAURA VAI ATÉ A ENTRADA DA GRUTA E TIRAM UMA PEDRA DAS
ROCHAS. DEPOIS SAEM EM DIREÇÃO DO VALE, NUMA DESPEDIDA MUDA. GA%RIEL DESCE A ESCADARIA E APRO#IMA-SE DE MARIANA. MARIANA FICA NUMA E#PECTATIVA DOLOROSA, ENQUANTO GA%RIEL PARADO NO MEIO DO LARGO,OLHA PARA ELA ANGUSTIADO.GABRIEL
recisamos 1alar" Mariana#MARIANA 4alamos tanto" (abriel!
GABRIEL Devo partir# rometi uma vida melhor para eles#
MARIANA .u compreendo#
GABRIEL . tudo era para ti#
MARIANA or 1avor" (abriel#
GABRIEL Mariana!MARIANA
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arte" (abriel! Deixeme! ;gora" tens compromisso + com o povo#GABRIEL
5inhas tamb+m comigo#MARIANA
5udo mudou#GABRIEL
&ão para mim#MARIANA (abriel! $uer/amos partir livres# ?o'e não somos mais# &ão poder abandonar o povo"
nem eu edreira#GABRIEL
5amb+m não posso te abandonar#MARIANA
Se perdesses tua determina)ão### não poderia mais amálo# ;meite pelo que eras" pelomundo que sonhaste conquistar#GABRIEL
; verdade + que vamos viver sempre s3s#
MARIANA 5erás tuas terras e tudo que elas representam#
GABRIEL Sempre" Mariana! 5u " aqui" onde s3 há mortos# .u lá" onde há vivos que 'á não
representam a mesma cosia#MARIANA
4oram eles que lutaram por ti#GABRIEL
. assim tua mãe conseguiu destruir nosso sonho#MARIANA
Minha mãe s3 tinha amor#GABRIEL
$ue amor + esse" Mariana" que nos 1az so1rer%MARIANA
Mesmo que quisesses" não poderias 1icar# 5amb+m eu" se dese'asse" não conseguiria partir# ;ceito tudo sem so1rimento" porque deve ser assim# não pedi" nem admitiria que 1icasses# orque devo partir sentindo tanta necessidade de 1icar%GABRIEL
Mariana! &ingu+m realiza tal aspira)ão sem so1rimento#MARIANA
&ão + so1rimento que me prende a edreira das ;lmas#
GABRIEL Morte + so1rimento" Mariana#MARIANA
; vida tamb+m pode ser#GABRIEL
.ntão" não tinhas amor por mim#MARIANA
Mais 1orte do que as promessas + a morte que nos liga - terra# Sinto tudo dentro do meucorpo" como se 1izesse parte do meu sangue# ;s rochas### a igre'a### o adro!GABRIEL
Mariana! &ão podemos passar a vida venerando mortos# 4oi para escapar a isso que
sonhamos partir # + preciso saber escolher" Mariana#MARIANA 9sto não depende de escolha# ?á coisas que não podemos evitar#
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GABRIEL Mudaste muito# Mal te reconhe)o!
MARIANA (abriel! Duas pessoas perderam a vida# &ão compreendes% Duas pessoas que eram a
minha 1am/lia# *omo queres que se'a a mesma%GABRIEL
5amb+m perdi a minha#MARIANA ?á muito tempo# =iveste sem ela#
GABRIEL rometeste uma para mim# &ão te lembras%
MARIANA &ão a este pre)o#
GABRIEL Mas que pre)o% 4oi o pr3prio mundo de edreira que matou Martiniano" como matou
minha 1am/lia#MARIANA
&ossos morto não podem ser abandonados#GABRIEL
&ão sabes mais pensar a não ser em mortos%!MARIANA
=ivo con1orme meu princ/pios#GABRIEL
&ão eram princ/pios teus" há poucos dias atrás#MARIANA
São agora# $uando menos esperamos" 1icamos presos a compromissos superiores aosnossos sentimentos#GABRIEL
$ue compromissos%MARIANA
5u" com o povo que agora tem o direito de partir# .u### com os mortosde edreira# .les precisam de mim! Sei que edreira não morrerá enquanto eu estiver aqui#GABRIEL
&ão viverá # nunca mais!MARIANA
ertencemos a mundos di1erentes!GABRIEL
&ão! , 3dio que vem daquele adro#
MARIANA &ão havia 3dio! Minha mãe não 1alou# Morreu pouco a pouco# ;tendeu ao pedido deMartiniano# Autou tamb+m com seu sil0ncio#GABRIEL
Mas com seu 3dio destruiu minha vida# .la prometeu!MARIANA
&ão era 3dio! .ra amor" 'á disse# edreira não está em teu sangue" não podescompreender#GABRIEL
*ompreendo" sim# +=ai ao adro O 3dio pertence a ti " >rbana#Desprezo tua cidade# 9gnoro teus mortos# Odeiote" agora mais do que me odiavas#
MARIANA &ão insultes minha mãe!GABRIEL
<@
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*om aquele 3dio" s3 poderias destruir os que queriam viver#MARIANA
&ão destruiu# 8evelou o sentido de tudo!GABRIEL
, a vida que tem sentido# S3 a vida tem sentido!MARIANA
5em tanto### que se não 1ossem os mortos não estarias aqui#GABRIEL +Desorientado Sa/ daquela canastra na ela *ruz para crescer entre mortos" esperando a morte de meu
pai para viver# &ão lhes tenho amor porque não me deixaram viver em paz### e agora destroem aminha esperan)a#MARIANA +5orturada
Sai deste adro!GABRIEL +*ompletamente desorientado
ois" 1ica com eles!MARIANA + &uma splica dolorosa
arte de edreira das ;lmas! ;ceita teu compromisso como aceito o meu! &ão v0s que
esse compromissos são mais 1ortes do que n3s%GABRIEL
Mariana! or que me deixaste preso na rocha" como se estivesse naquela canastra% orque não me denunciaste% or que nos prendeste para sempre a esses mortos%MARIANA
orque da agonia de Martiniano brotou a imagem da terra distante### e todo o povo lutou eso1reu# ara o povo" a vida não era mais poss/vel sem ti# &osso sonho 'á não nos pertencia#GABRIEL
Sem ti e Martiniano### não será partir" Mariana#MARIANA
.le morreu para que partisses### e vai partir" (abriel# Aevarás a nica" a verdadeiraimagem de Martiniano# ; outra pertence a edreira" + minha! Somente eu vi! Depois disto### a vidanão + mais livre#GABRIEL +ausa
$uando não + mais poss/vel conquistar o sonho como ele era### + pre1er/vel morrer!MARIANA
;quelas terras são generosas os mortos tamb+m# =iveremos em paz#GABRIEL
Mariana!MARIANA
(abriel! +;bra)amse
GABRIEL $ue 1oi que 1izemos" Mariana%MARIANA +*om grande es1or)o
&ada" (abriel! ;penas" tu nunca pertenceste a edreira# &em eu e Martiniano### pertencemos ao planalto#POR UM MOMENTO, FICAM A%RAÇADOS, DOMINADOS POR UMA GRANDE DOR.
DISTANTE, O POVO COMEÇA A CANTAR&ANTO DO PO%O
O regato de Deus encheuse de águas4izestelhe crescer os cereais#Destilam 1artura as pastagens!
Os outeiros se cingem de 'bilo!Os campos se revestem de rebanhos!Os vales se cobrem de cereais!
<B
7/27/2019 Pedreira Das Almas
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*antam e exultam - por1ia!MARIANA SEPARA-SE DE GA%RIEL, FICANDO DE COSTAS PARA ELEMARIANA
arte" (abriel! O povo te espera!GABRIEL +*aminha at+ a rocha
4oi sentado nestas rochas### onde sonhamos tanto### que Martiniano resolveu me
acompanhar! &enhum argumento meu conseguiu demovelo! .le dizia: HDes)o para o vale paralutar pelas minhas 1igueiras!IENQUANTO MARIANA FALA, GA%RIEL VAI SE AFASTANDO EM DIREÇÃO DA
SADAS DAS ROCHASMARIANA
;s 1igueiras! .las viverão tamb+m nestas rochas!GABRIEL +;1astandose
4oi nestas rochas### ouvindo Marta ### que tudo come)ou a viver!MARIANA +erdida
. come)amos a sonhar com uma terra onde o trabalho seria a lei" o amor" a 'usti)a### e ohorizonte uma porta sempre aberta#
GABRIEL edreira! ### vista de longe" perdida entre as nuvens" parece uma estrela branca de
mármore! +*onsigo mesmo O passado + um monstro### que nos acompanha para onde vamos!MARIANA + &uma evoca)ão dolorosa
Onde 1igueiras enormes" sobre águas mansas e barrentas### +(abriel voltase e desaparecedebru)am galhos### cheios de ninhos de guachos###!MARIANA PÁRA, PERCE%ENDO QUE GA%RIEL SAIU, O CANTO DO POVO SE ELEVA.
MARIANA FICA PARADA SEM FAZER QUALQUER MOVIMENTO. CLARA SURGE NA SADA QUE LEVA À CIDADE, ACOMPANHADA POR UM ESCRAVO QUE CARREGA UM REL/GIO GRANDE DE PAREDE.&LARA
Des)a e leve o rel3gio# 5ome cuidado#O ESCRAVO SAI E CLARA PÁRA NO MEIO DO LARGO, MARIANA CONTINUA
DISTANTE DE TUDO. CLARA FAZ UM GESTO COMO SE FOSSE FALAR, MAS DESISTE. SU%ITAMENTE, DIRIGE-SE PARA A SADA DAS ROCHAS E DESAPARECE. DEPOISQUE CLARA SAI, MARIANA SO%E A ESCADARIA. PASSAM, LEVADAS PELO VENTO,
ALGUMAS FOLHAS DE PAPEL. O VENTO %ATE EM MARIANA, AGITANDO SUAS ROUPAS. QUANDO CHEGA NO TOPO DA ESCADARIA, MARIANA VOLTA-SE E OLHA OVALE, ESCUTANDO O POVO QUE CANTA. O CORO, SUMINDO, CONTINUA
REPETINDO A FRASE...PO%O
Os campos revestem de rebanhos!Os vales se cobrem de cereais!*antam e exulta - por1ia!
MARIANA ENTRA NA IGREJA