PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO...

38
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO VEZ DO MESTRE PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL Por: Mara Rosana Ramos Lopes Professora Orientadora: Mary Sue C. Pereira Rio de Janeiro 2003

Transcript of PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO...

Page 1: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO VEZ DO MESTRE

PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO

UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL

Por: Mara Rosana Ramos Lopes

Professora Orientadora: Mary Sue C. Pereira

Rio de Janeiro

2003

Page 2: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

2

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO VEZ DO MESTRE

PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO

UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL

Apresentação da Monografia ao Conjunto Universitário

Cândido Mendes, como condição prévia para a conclusão

do curso de Pós-Graduação “Latu Senso “ em

Psicopedagogia por: Mara Rosana Ramos Lopes, tendo

como Professora Orientadora Mary Sue C. Pereira.

Rio de Janeiro

2003

Page 3: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

3

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATU-SENSO”

PROJETO VEZ DO MESTRE

PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO

UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL

OBJETIVOS:

Estimular o idoso a criar novos projetos para sua vida,

resgatando sua auto-estima e melhorando sua

qualidade de vida. Proporcionar, através da educação e

de outras atividades, a convivência entre idosos e com

isso a possibilidade de sua reinserção no contexto

social.

Page 4: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

4

AGRADECIMENTOS

Ao meu marido, aos meus filhos e aos meus pais pelo

apoio e incentivo para que eu pudesse realizar esse

curso de especialização. Aos meus professores e a

minha professora orientadora pelo carinho e dedicação

dispensados ao longo desse trabalho acadêmico.

Page 5: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

5

DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho acadêmico ao meu irmão Max,

que tanto me incentivou para que eu buscasse, ao

longo da minha vida, o meu crescimento e

aperfeiçoamento profissional.

Page 6: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

6

RESUMO Existe um momento na vida de cada pessoa que se toma consciência

de que o tempo passou e que envelhecemos.

Ocorrem, então, diversas mudanças tanto biológicas como psicológicas

e sociais. Muitas vezes essas mudanças podem assustar, trazendo ansiedade

e até mesmo sofrimento. Porém, se não mudarmos, não cresceremos e nem

teremos a oportunidade de vivenciar a diversidade de experiências

pertencentes a cada fase do ciclo da vida, ou seja, não teremos a

oportunidade de ver a vida como uma arte, uma escultura, que é esculpida,

passo a passo, tempo a tempo.

O sentido social do envelhecer é compreendido de forma diferenciada

em diversas épocas e lugares, sendo algumas vezes valorizado e respeitado

e, em outras desprezado.

A passagem da vida adulta para a terceira idade, a idade onde o tempo

sobra ( devido à aposentadoria ), é de perdas ( de ordem física, psicológica e

social ), mas é também, de ganhos ( tempo, liberdade e experiência de vida ).

É a fase de traçar novos projetos de vida, descobrir novas aptidões ( muitas

vezes escondidas dentro de si ).

A educação e a “pedagogia“, voltada para a terceira idade, é a

oportunidade para que o idoso reinvente sua vida, ensinando-o a conviver com

esta nova etapa, proporcionando-lhe uma melhor qualidade de vida,

resgatando, assim, o seu valor como cidadão, como pessoa.

Page 7: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

7

METODOLOGIA Trabalho desenvolvido a partir de pesquisas bibliográficas, através de

uma revisão de literatura dos mais conceituados autores que enfocam a

questão do envelhecimento. Tendo como referência os estudos bibliográficos,

foi possível dar continuidade ao projeto de pesquisa, aperfeiçoando-o, passo a

passo, trilhando em direção a conclusão do trabalho acadêmico.

Page 8: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

8

SUMÁRIO INTRODUCAO ______________________________________9 CAPITULO l _______________________________________11 A ARTE DE ENVELHECER ___________________________11 CAPITULO I I ______________________________________18 RESGATANDO O SENTIDO SOCIAL DO ENVELHECER ___18 CAPITULO I I I _____________________________________25 EDUCAÇÃO NA TERCEIRA IDADE- UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA PARA O IDOSO _______________________25 CONCLUSÃO _____________________________________32 BIBLIOGRAFIA ____________________________________33 ÍNDICE __________________________________________35

Page 9: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

9

INTRODUÇÃO Podemos dizer que a velhice é um produto histórico-cultural, ou seja,

um conceito social, culturalmente estabelecido em nossa sociedade.

Na sociedade capitalista, onde a produtividade é a prioridade, a

questão da velhice está diretamente relacionada às condições de trabalho,

conseqüentemente, o sujeito trabalhador é tido como objeto e a sua condição

de dignidade, de mais-valia está intimamente ligada a sua possibilidade de

produção ao sistema. O idoso, cuja capacidade de produção diminui ao longo

do processo de envelhecimento, é neste contexto social, relegado a um

segundo plano em nossa sociedade.

Culturalmente, existe um ideário que um idoso é um inútil, que só causa

despesas à família e a sociedade, isto está associado a característica de

improdutividade, imposta a ele pelo sistema, que só valoriza aqueles que são

úteis para o acúmulo de capital.

No Brasil, de acordo como o IBGE, as pessoas, com 60 anos ou mais,

representam 8,7% da população do país.

Verifica-se uma aceleração do número de idosos e do envelhecimento

do pais. Este fato está relacionado ao aumento da expectativa de vida, devido

a evolução da medicina, e a diminuição da natalidade, considerados os

principais responsáveis pela modificação da estrutura etária da população.

Estima-se que para o ano de 2.025, essa população de idosos atinja os

32 milhões, que equivalem, hoje, ao contingente de idosos da Europa, de

acordo com Organização Mundial de Saúde.

Tendo em vista o crescimento do número de idosos em nosso país,

torna-se de grande importância, além de medidas de ação individual, uma

Page 10: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

10concentração de esforços, com objetivo de reduzir nessa população, as

desigualdades sociais.

Portanto, torna-se de grande importância, que sejam criadas propostas

e políticas públicas voltadas para esta fase do desenvolvimento humano: a

velhice.

Page 11: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

11

CAPITULO I

A ARTE DE ENVELHECER

“A vida não é algo – é a oportunidade para algo”

( Helbel )

Page 12: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

12

O ENVELHECIMENTO Apesar dos mitos, dos medos que envolvem a fase da vida denominada

como a terceira idade, saber envelhecer é uma arte. Será que todos sabem

cultivar a arte de viver?

Existe um momento na vida de cada pessoa que nos deparamos ao

olharmos no espelho com o fato de que algo mudou: os cabelos

embranquecem e se tornam rarefeitos, a pele se enruga, os dentes caem,

enfim, percebemos que estamos envelhecendo.

1.1 – O Processo de Envelhecimento

A velhice não é um marco isolado no desenvolvimento vital humano,

está ligada à marcha do processo biológico, mas é, também, como diz Simone

de Beauvoir, um fato cultural. ( BEAUVOIR, 1990,P.20 )

1.1.1 – Aspectos biopsicossociais

O envelhecimento biológico é um processo universal e progressivo,

inerente ao ciclo da vida, do mesmo modo que o nascimento, o crescimento, a

reprodução e a morte.

Cada pessoa vive de modo particular e individual o seu processo de

envelhecimento, visto que há indivíduos que, biologicamente aceleram o seu

envelhecer, precisamente porque se sentem velhos.

Segundo o gerontologista americano Howell:

“A senescência não é uma ladeira que todos descem

com a mesma velocidade. É uma sucessão de degraus

Page 13: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

13irregulares onde alguns despencam mais depressa que

outros”.( HOWELL apud BEAUVOIR, 1990, P.40 ).

Em geral, o declínio é acelerado ou retardado por vários fatores: a

saúde, fatores hereditários, o meio social, as emoções, dentre outros.

“Assim, a velhice não se constitui numa etapa

”naturalizada” do curso da vida, mas em vivências

permanentemente construídas de acordo com diferentes

modos de subjetivação”. ( NOVAES, 2000, P. 25 ).

Verifica-se, dentre outras características do envelhecimento biológico;

além das rugas e dos cabelos branco, o engrossamento das pálpebras

superiores, enquanto se formam papos sob os olhos. O lábio superior míngua;

o lóbulo da orelha aumenta, o sono torna-se reduzido e menos profundo. O

esqueleto é acometido de osteoporose. A atrofia muscular e a esclerose das

articulações acarretam problemas de locomoção.

Percebe-se uma alteração no funcionamento do coração, por isso o

idoso deve reduzir suas atividades para poder poupá-lo. O sistema circulatório

é atingido; arteriosclerose é uma das características mais presentes na

velhice. A circulação cerebral torna-se mais lenta. “As veias perdem sua

elasticidade, o débito decresce, a rapidez da circulação diminui, a pressão

sobe ”. ( BEAUVOIR, 1990, P.35 ).

Observa-se, ainda, um acometimento dos órgãos dos sentidos:

diminuição da audição, muitas vezes chegando à surdez; a visão torna-se

“cansada” “; o tato, o paladar e o olfato apresentam menos acuidade que

antes. Com relação à sexualidade, no homem idoso, em geral, as

possibilidades de ereção e de ejaculação diminuem e, por vezes, até

desaparecem. Mas isto não significa o desaparecimento da libido. Na mulher

idosa, a função reprodutora é interrompida, ainda jovem, por volta dos 50

anos, através do ciclo ovariano e da menstruação: a menopausa.

Page 14: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

14

Ao mesmo tempo em que ocorre o envelhecimento biológico, acontece

o envelhecimento psicológico, como a diminuição da memória recente; a

redução da motivação, sendo necessários maiores estímulos para que o idoso

realize determinadas tarefas. Observa-se uma tendência à perda de

perspectivas para o futuro, o que torna o presente pouco estimulante,

favorecendo muitas vezes a supervalorização das vivências passadas,

fazendo com que o idoso reduza o seu momento atual à viver de lembranças.

Por outro lado, muitas vezes, por ter abandonado seus sonhos de

juventude e por não ter realizado e aproveitado as diversas oportunidades que

a vida lhe ofereceu, e ainda, por não ter se preparado para esta fase do ciclo

de vida, alguns entregam-se à depressão, o que pode acelerar o processo de

envelhecer, e muitas vezes chegar mais cedo à morte.

Simone de Beauvoir, em sua obra ontológica, A Velhice, cita o caso de

uma senhora:

“Citaram-me o caso de uma mulher de 63 anos, muito

bem conservada, que suportava, corajosamente, o

tratamento das dores violentas que sofria. Tendo-lhe um

interno comunicado, irrefletidamente, que não se curaria

nunca, envelheceu 20 anos de repente, suas dores

aumentaram “. ( BEAUVOIR, 1990, P. 41 )

O idoso, em geral, se confronta com vários medos: de ficar só ( solidão

); de ser colocado de lado, por não ter mais a capacidade produtiva de outrora

e, com isso, ser esquecido como um objeto que perdeu sua utilidade; de

perder o afeto dos familiares e, com isso, ser mandado para uma instituição

asilar; de adoecer, e finalmente, da morte

Também ocorre o envelhecimento social. As perdas sociais

significativas representam, ainda, uma variável de grande influência no

Page 15: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

15comportamento do individuo nesta fase da vida, levando-o, por vezes, ao

isolamento, abdicando dos seus direitos.

Na medida em que esse isolamento social acontece, o universo das

relações do idoso torna-se cada vez mais reduzido. Este fato é agravado com

o falecimento de muitos dos amigos de outrora, ou mesmo, pelas

enfermidades que acometem os indivíduos nesta fase. Com isso, o idoso

tende a se sentir cada vez mais solitário.

Percebe-se ainda, que no contexto social, o valor da pessoa encontra-

se atrelada à sua capacidade de produção. Com a aposentadoria, pode –se

iniciar a ruptura deste “valor produtivo“. Parar de trabalhar pode estar

relacionado à perda do papel profissional e, conseqüentemente, ao papel

social junto à família e a sociedade.

Na nossa sociedade percebe-se que o fato de se aposentar pode

tornar-se um fator de exclusão social, uma vez que pode levar o homem a

isolar-se do contexto de vivências da sociedade.

Com a aposentadoria a pessoa é desvalorizada socialmente; não

produz mais, logo, não vale mais nada. Ë marginalizada econômica, social e

culturalmente, fato este que se inicia, muitas vezes, dentro do próprio lar. O

idoso aposentado vai deixando de ser ouvido e consultado; acaba por perder

seu poder de decisão, o que implica na perda de sua autonomia.

Com isso, pode-se observar o quanto essas mudanças podem

assustar, trazendo ansiedade e até mesmo sofrimento.

1.2 – A Aposentadoria e suas conseqüências psicossociais

“Na sociedade moderna, consumista e imediatista, os

idosos são vistos como peso social, sempre recebendo

benefícios e não dando nada em troca. Os valores da

Page 16: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

16juventude predominam como os de beleza, de energia e

de ativismo”. ( NOVAES, 2000, P. 31 )

Com a aposentadoria, esta repentina transição da vida ativa para

“inativa” traz, para o individuo, a vivência de um período doloroso e difícil

porque se, socialmente, ele deixa de cumprir suas tarefas laborais de um dia

para o outro, psicologicamente, esse desengajamento não acontece nesse

mesmo ritmo.

Apesar de ser compreendida como uma norma social, a aposentadoria

é sempre vivida como uma ruptura imposta do meio externo e que trará outras

conseqüências: perda do “status“ profissional, de poder; alterações nas

relações interpessoais, com a “perda “dos colegas de trabalho, e a

permanência, em tempo integral, no seio familiar; alterações econômicas, já

que a pensão é, em geral, inferior ao salário que recebia. E, ainda, a

organização do tempo que já não é mais ritmada pela rotina diária de

obrigações e restrições impostas pelo trabalho.

Todas essas modificações e rupturas podem levar a um profundo

sentimento de insegurança e angústia. No ambiente familiar, a pessoa idosa

se depara com algumas modificações: a perda da autoridade como pai de

filhos menores; a independência econômica dos filhos; a saída dos mesmos

de casa; a chegada dos netos e com eles, muitas vezes, o tão conhecido

“conflitos de gerações”. Com isso, o aposentado vai sendo deixado de lado e

perdendo o seu poder de decisão, podendo buscar o seu isolamento.

A pessoa, ao envelhecer e ao se aposentar, recebe como “prêmio“ uma

maior disponibilidade de tempo. Mas como administrar esse tão sonhado

tempo, que era quase que totalmente destinado as obrigações laborais? Como

administrar, pessoalmente, esse tempo que até então, era feito por outras

pessoas, a própria sociedade, com suas normas sociais?

Page 17: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

17 De um momento para o outro, o aposentado recebe em suas mãos uma

“overdose “de tempo , sem saber o que fazer com ele, pois sempre o teve

repleto de atividades profissionais, familiares e sociais. O que fazer então?

Surge, daí, a questão do projeto e da qualidade de vida.

Page 18: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

18

CAPITULO I l

RESGATANDO O SENTIDO SOCIAL DO ENVELHECER

“ Não existem soluções prontas. Existem forças

em marcha. Monitorando essas forças, as

soluções acontecem .”

( Henry Ford )

Page 19: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

19

RETORNAR À VIDA Quando falamos em “resgate do sentido social do envelhecer”,

estamos nos referindo a recuperar a razão de viver.

Muitas pessoas, ao envelhecerem, “perdem”, pelo caminho, os

objetivos, os planos, deixam de sonhar e de elaborar novas formas de viver.

Prendem-se ao passado e não se deixam “abrir “para novas possibilidades e

conquistas.

Entretanto, observamos que muitos idosos se reencontraram na

velhice, retornaram seus interesses antigos, abriram espaço para a

aprendizagem, para a conquista de novos amigos, criaram projetos de vida;

enfim, recuperaram a possibilidade de sonhar. Assim, preencheram com

novos relacionamentos e projetos, o espaço que a idade lhes tenha tirado.

Percebem que é possível ver na velhice um lado positivo, com a certeza

de que, ao mesmo tempo em que ocorrem perdas, também acumulam-se

ganhos ( experiência, por exemplo ).

2.1 – Valor social da velhice

Para se compreender o significado social da velhice, é preciso que seja

feito um retrospecto histórico da posição destinada aos velhos em diferentes

épocas e lugares.

Simone de Beauvoir, em sua obra “A Velhice “ , diz :

“Estudar a condição dos velhos através das diversas

épocas, não é uma empresa fácil . Os documentos de

que dispomos só raramente fazem alusão a esse

assunto: os idosos são incorporados ao conjunto dos

Page 20: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

20adultos. Das mitologias, da literatura e da iconografia

destaca-se uma certa imagem da velhice, variável de

acordo com os tempos e os lugares. Mas que relação

essa imagem sustenta com a realidade ? É difícil

determinar. A imagem da velhice é incerta ,confusa ,

contraditória .Importa observar que, através dos

diversos testemunhos, a palavra “ velhice “ tem dois

sentidos diferentes. É uma certa categoria social, mais

ou menos valorizada segundo as circunstâncias. É, para

cada individuo, um destino singular - o seu próprio . O

primeiro ponto de vista é o dos legisladores, dos

moralistas; o segundo, o dos poetas; quase sempre,

eles se opõem radicalmente um ao outro. Moralistas e

poetas pertencem sempre às classes privilegiadas e

esta é uma das razões que tira de suas palavras uma

grande parte de seu valor : eles dizem sempre apenas

uma verdade incompleta. “ ( BEAUVOIR, 1990, P.109 )

É difícil definir, em que época da humanidade atribuiu-se à velhice um

sentido social. A velhice individual sempre existiu na humanidade.

Para muitos povos primitivos, a velhice era valorizada, respeitada e os

velhos ocupavam a mais alta posição na hierarquia social. Entretanto, outras

culturas sacrificavam aqueles que, por envelhecerem, não produziam mais e

não conseguiam mais manter o seu sustento.

No início da história da humanidade, como se sabe, os povos eram

nômades, andavam de um lado para outro em busca de alimentos (caça,

pesca e coleta de frutos ) . Os mais idosos, por já não possuírem mais a

agilidade na locomoção e por causa das doenças, não conseguiam mais

acompanhar o grupo, ficavam, então, pelo caminho e morriam.

Page 21: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

21 Quando os povos se fixaram à terra, tornando-se sedentários, surgiu a

organização familiar, uma família patriarcal. O patriarca era o chefe da família,

respeitado e valorizado por todos. Quando já não mais conseguia

desempenhar suas funções, o filho mais velho assumia a chefia da família.

Ao longo dos anos, os grupos foram se organizando numa sociedade

mais estruturada com normas e valores. Houve a influência da religião e ,

assim, o idoso passou a ter um papel de destaque : era conhecedor das

tradições sagradas e dos costumes, por isso era o detentor do poder e da

autoridade no grupo. Ele instruía os mais jovens, mas guardava para si alguns

“segredos”. Todos lhe deviam obediência, inclusive a esposa . O idoso era

considerado, nesta forma de organização familiar, o juiz do destino da família,

detinha o poder econômico e social.

“Na Idade Média e no Renascimento, o velho era

também valorizado. Nas antigas civilizações européias,

tivemos os filósofos gregos (respeitados não só pela

sabedoria, mas também pela idade), os doges de

Veneza, os senadores romanos, todos avançados em

anos. “ ( PALMA e SCHONS, 2000,P.52 )

No estudo da cultura indígena, verifica-se que os idosos tem um grande

valor. Constituem o “Conselho dos Anciãos”. Diz Edílson Martins no artigo”Os

velhos na comunidade indígena “:

“As qualidades de liderança, de mediador nas disputas,

de palavra final ouvida nas grandes decisões e , mais do

que isso , de transmissor de uma cultura que

desconhece a palavra escrita, fazem do velho , um

mentor do seu povo. “( MARTINS apud SCHONS e

PALMA , 2000, P.52 ).

Page 22: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

22 Percebe-se que quanto mais simples e primitiva a sociedade, mais ela

dependia do idoso, já que a cultura de um povo só assegura a continuidade,

se o saber no campo religioso, político, econômico e social ( que os idosos

detinham ) fosse transmitido aos descendentes.

Com a chamada Revolução Industrial, a invenção da máquina e ,

conseqüentemente, o advento do capitalismo, as sociedades sofreram

transformações, especialmente no Ocidente , entre elas, mudanças na

organização familiar, nos valores econômicos , morais, etc..

A capacidade de produzir, de adquirir bens materiais passou a ter maior

valor que as pessoas . Com isso, o idoso tornou-se, neste modelo de

sociedade, o improdutivo , decadente, aquele que não servia mais para nada.

Não havia mais espaço social para ele. Criou-se, então, a imagem negativa da

velhice.

Mas por volta dos anos 70, começou-se a organizar o movimento em

defesa dos idosos, devido ao aumento da população idosa em todos os paises

, em função da elevação da expectativa de vida ( longevidade ) e da redução

da taxa de natalidade. Considerando este aumento no número de idosos, os

defensores dos direitos humanos não poderiam deixar de dar atenção a essa

faixa etária.

Além disso, os próprios idosos estão lutando contra esse estigma de

improdutivos, decadentes, etc., através do resgate da saúde e do bem estar .

Estão se inserindo em associações de idosos, grupos de convivência, clubes

de terceira idade e outras atividades, voltam a ocupar um lugar na sociedade,

resgatando a imagem social de pessoas sadias, dotadas de sabedoria e

experiência, capazes de contribuírem, ainda, para cultura e evolução da

sociedade.

Page 23: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

23

2.2 - Tempo livre, novos projetos e melhor qualidade de vida

Durante toda a vida, o homem traça os seus projetos sociais em torno

da família e do trabalho, Com a aposentadoria, ele recebe como presente um

grande número de horas livres para gastar como quiser.

A ruptura com a vida profissional oportuniza à pessoa, a necessidade

de reorganizar a sua vida . O importante é criar novos projetos, novas

atividades para esta nova etapa, sejam elas de ordem física, cultural, social,

educacional, recreativa ou mesmo profissional.

Podemos envelhecer de diversas formas. O nível de qualidade de vida

está diretamente relacionado à saúde física, mental e social do individuo.

O modo como cada idoso vai viver sua aposentadoria é influenciado por

sua história de vida, sua forma de enfrentar as perdas e sua capacidade de

adaptar-se às novas situações .

Sabe-se que durante muito tempo aposentar-se, na nossa sociedade,

significava uma “morte social “, ou seja, as pessoas deixavam suas formas de

convívio social e recolhiam-se em casa. Aos poucos, os idosos foram

dedicando o seu tempo livre ao lazer : atividades festivas, passeios, excursões

, atividades físicas e recreativas. Porém, na década de 70., surgem as

Universidades da Terceira Idade .

Embora, ainda hoje, perdure a “aposentadoria–lazer “, muitos

aposentados desejam realizar atividades voltadas para uma finalidade social,

ou seja, uma “aposentadoria ativa “.A velhice e a aposentadoria tornaram-se

além de lazer, uma busca pela garantia dos direitos e da realização pessoas

do idoso.

Page 24: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

24 O tempo que a pessoa idosa recebeu ao aposentar-se deve ser

ocupado por atividades prazerosas e gratificantes, através de boas escolhas ,

para se alcançar o equilíbrio da vida.

“O importante é o saber envelhecer; é se preparar para

velhice , considerando as suas limitações e os seus

ganhos, porque é impossível anular as mudanças físicas

fundamentais da velhice, mas muita coisa pode ser feita

para preparar as condições de vida das pessoas idosas,

de modo que possam usar com plena vantagem os

poderes que lhe restam. “( PALMA e SCHONS, 2000, P.

114-115 )

Page 25: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

25

CAPITULO I l I

EDUCAÇÃO NA TERCEIRA IDADE

UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA PARA O IDOSO

“O homem, por ser inacabado, tende a perfeição.

A educação é, portanto, um processo contínuo,

que só acaba com a morte .”

( Pierre Furter )

Page 26: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

26

A EDUCAÇÃO NA TERCEIRA IDADE Em qualquer sistema educacional, efetua-se uma passagem de

informação, conhecimentos de uma geração para outra. Com isso se perpetua

a história de um povo, de uma época.

Até meados deste século, só se enfocava a educação referente a

criança e jovens. Entretanto, com o aumento da expectativa de vida e da

esperança de se prolongar a condição de bem-estar por mais tempo, percebe-

se o quanto revelam-se insuficientes os conhecimentos adquiridos na

mocidade, dando lugar a necessidade de renovar os conhecimentos e de se

reciclar. Surgiram, então, a “educação continuada“ que é um processo

desenvolvido em instituições de ensino formais, como escolas, ou informais,

como centro de convivências e clubes, por exemplo.

Ao longo da segunda metade do século XX, a aquisição de novos

conhecimentos, até então pouco importantes, vão se tornando uma

necessidade. A evolução da humanidade, traz em si uma renovação de

conhecimentos, técnicas, e valores e , assim, as pessoas, mesmo

aposentadas, percebem a necessidade de adquirir novos conhecimentos, não

apenas por razões econômicas, mas para buscar algo para ocupar seu tempo

livre, e além de tudo para resgatar o seu papel de cidadão, sua dignidade.

3.1 – Educação Permanente

A primeira definição foi proposta num seminário de Educação

Permanente, realizado em 1970, em Buenos Aires, define que :

“ Educação Permanente é o aperfeiçoamento integral e

sem solução de continuidade, da pessoa, desde o

nascimento até a morte “. ( PALMA e SCHONS,2000,P.

161 )

Page 27: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

27

Segundo Pierre Furter,

“Educação Permanente é uma dialética da educação

como um duplo processo de aprofundamento tanto da

experiência pessoal quanto da vida social global, que se

traduz pela vida ativa, efetiva e responsável de cada

sujeito envolvido, qualquer que seja a etapa da

existência “. ( FURTER apud PALMA e SCHONS, 2000,

P. 161 )

Percebe-se que nas duas definições, pode-se destacar dois pontos

fundamentais:

• a educação permanente é uma tarefa individual.

• é algo que acontece ao longo de todo processo vital.

Como é uma tarefa individual, cabe ao individuo ir em busca do que se

quer aprender, procurando aproveitar do seu meio ambiente ( família, meios

de comunicação de massa, as lojas , etc. ) tudo o que pode favorecer o seu

crescimento e desenvolvimento biopsicossocial, visto que a educação

permanente engloba todas as atividades da vida social que proporcionam

oportunidades educativas.

A Educação Permanente não é educação de adulto, não é educação

profissionalizante, não é educação extra-escolar, não é reciclagem, não é

ensino supletivo, não é busca de diploma, não é educação popular, embora

tudo isso possa fazer parte desta forma de educação.

A questão da diferença entre educação permanente e educação

continuada pode ser definida da seguinte forma:

“Educação permanente é um processo individual: eu

vou a procura de..., a educação continuada é o que as

instituições de ensino formais, como as escolas, ou

Page 28: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

28informais, como um centro de convivência, por exemplo,

organizam nos seus currículos, ou nos seus programas

de atividades e colocam a disposição das pessoas,

sejam programas a curto, médio ou longo prazo,

dependendo dos seus objetivos e, conseqüentemente,

de seus conteúdos para atingir os objetivos propostos”. (

PALMA e SCHONS, 200º, P. 146 )

Tendo em vista, que na sociedade moderna, tecnológica, se valoriza

muito mais a inovação e a capacidade de dinamismo do que a experiência, a

pessoa idosa necessita se atualizar permanentemente, para que não seja

marginalizada.

A aquisição de novos aprendizados e informações possibilitam ao idoso

ampliar seus conhecimentos; pensar em si e aceitar-se; pensar nas

habilidades que tem e nas que quer desenvolver; propiciar o conhecimento de

suas potencialidades; reogarnizar seu tempo; enfim despojar-se dos

estereótipos negativo que envolvem a questão do envelhecer numa sociedade

industrial e, assim, criar um projeto de vida, consciente da sua fase da vida,

realidade e existência.

Quando mantemos o idoso próximo de todas as transformações que a

sociedade vem sofrendo ao longo dos anos, damos a ele a oportunidade e o

estimulo para buscar novas conquistas, novos objetivos para a sua vida.

Segundo Maria Helena Novaes.

“O importante é considerar a educação das e pelas

pessoas da terceira idade sempre baseada no desejo da

auto-atualização, nas relações sociais, na melhoria da

qualidade de vida, no desenvolvimento de

potencialidades, numa aprendizagem continuada e na

motivação pelo conhecimento”. ( NOVAES, 2000,P. 140

)

Page 29: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

29

3.2 – “Pedagogia” para idosos

“No Brasil, ainda não há pedagogia para idosos ,

uma pedagogia norteadora de um trabalho

educacional com idosos; o que há são técnicas de

trabalho, teórico e prático, num processo de

aprendizagem com pessoa idosas, desenvolvidas

por instituições públicas ou entidades privadas, ou

grupos organizados, mas não há uma ciência “com

um conjunto de doutrinas, princípios e métodos de

educação e instrução”, que tendam a um objetivo

prático, como diz o Aurélio”.

( PALMA e SCHONS, 2000, P. 123 )

Em alguns paises da Europa como na Alemanha e na Franca, como

nos Estados Unidos e no Canadá a pedagogia para idosos ainda não chega a

ter trinta anos. Verifica-se que existem muitos estudos a cerca da pedagogia

para adultos, mas muito pouco sobre uma pedagogia própria para idosos.

A gerontopsicologia nos tem mostrado que quanto mais ativa e

exercitadas se mostrarem as aptidões e as capacidades da pessoa na terceira

idade, maiores são as possibilidades de se ter uma melhor capacidade

intelectual nesta fase da vida. Segundo o pedagogo alemão Johannes Doll,

“... aprender, estudar, ficar aberto e interessado para

o mundo é a melhor possibilidade para não perder a

capacidade intelectual”. ( PALMA e SCHONS, 2000,

P.124)

O importante é ajudar a pessoa idosa a enfrentar, positivamente, sua

terceira idade, exercitando sua capacidade de decisão e controle mental, que

a torna menos deprimida, mais independente e segura.

Page 30: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

30 Na velhice, ocorrem perdas significativas (por exemplo: morte de

parentes próximos, aposentadoria, perda de status, poder, identidade social e

até perdas econômicas ). Com isso a pessoa se sente desvalorizada, com

baixa auto-estima, se sente inútil, o que leva a marginalização social.

A pedagogia traz uma nova proposta para a terceira idade, através de

cursos, seminários, encontros, reuniões, promovendo a interação entre as

pessoas, idosas ou não, numa troca recíproca de sentimentos e emoções,

num diálogo intergeracional, procurando um meio da pessoa idosa se adaptar

a nova condição de vida.

A pedagogia pode mostrar aos idosos a melhor forma de reorganizar

suas vidas, ensinando-lhes a conviver com este mundo repleto de descobertas

cientificas e tecnológicas.

O objetivo da pedagogia para idosos é trabalhar as capacidades

adormecidas, ou não, resgatando o sentido da velhice, o seu valor como

pessoa e cidadão de direito.

Com relação aos conteúdos, estes tem que ser, motivadores

interessantes, de acordo com as condições sócio-econômicas, culturais e as

experiências já vivenciadas pela pessoa idosa, para que, com isso, ela possa

aproveitar a experiência dessa nova fase da sua vida.

“O importante é considerar a educação das e pelas

pessoas da terceira idade sempre baseada no

desejo de auto-atualização, nas relações sociais, na

melhoria da qualidade de vida, no desenvolvimento

das potencialidades, numa aprendizagem continuada

e na motivação pelo conhecimento”. ( NOVAES,

2000, P. 140 )

Page 31: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

31 É fundamental ensinar as pessoas enfrentarem positivamente sua

terceira idade, mantendo estado de atenção constante e a capacidade de

tomar decisões, tornando-se mais seguros e independentes.

Os programas educativos para idosos, necessitam obedecer a um certo

“enquadramento” à instituição educativa, através de cursos programados, com

suas respectivas atividades e propósitos, além de conteúdos e metodologias

especificas, tendo como referência o desejo das pessoas da terceira idade de

liberdade de expressão.

Percebe-se que o idoso está muito mais preocupado com o seu

desenvolvimento pessoal do que, propriamente, atender somente essa ou

aquela disciplina. Porém, é importante que fique claro que tais programas não

devem ser confundidos com clubes sociais que buscam somente o lazer.

Pode-se definir os motivos que levam as pessoas de terceira idade a

buscarem programas educativos, da seguinte forma:

• Adquirir novos conhecimentos da atualidade

• Criar novos laços sociais, para por fim a solidão vivenciada.

• Prevenir o envelhecimento, através do exercício das habilidades

mentais.

• Ocupar o tempo ocioso de forma útil e produtiva.

• Enriquecer suas experiências.

• Resgatar o respeito de seus familiares, mostrando-se, ainda,

ativo e produtivo.

3.3 – Onde será desenvolvida essa pedagogia para idosos?

Em grupos de convivência, centros de convivência, escolas abertas à

terceira idade e universidades da terceira idade.

Na década de 60, as primeiras universidades abertas da terceira idade

eram voltadas apenas para o lazer cultural; na década de 70, foi incentivada a

participação mais ativa dos idosos e o desenvolvimento de capacidades

Page 32: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

32visando uma melhor integração à sociedade; nos anos 80, os programas se

tornaram mais especializados, absorvendo pessoas que estavam em fase de

aposentadoria e desejavam fazer cursos em outras áreas.

É importante que as Universidades da Terceira Idade tenham uma

filosofia de ação bem definida, com propostas educativas explícitas, não

sendo apenas lugares de lazer e de divertimento, ou apenas recursos para

passar mais depressa o tempo ocioso.

No Brasil, hoje, as universidades começam a se interessar por esse tipo

de pedagogia, como a PUC Camp, Florianópolis, Juiz de Fora, Fortaleza e

outras. A proposta é oferecer novas possibilidades, através de informações

para que as pessoas planejem suas vidas, após a aposentadoria, para uma

vida de qualidade nos próximos dez, vinte ou trinta anos, que ainda virão.

Page 33: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

33

CONCLUSÃO O importante ao envelhecer é manter o coração jovem para que se

consiga ser feliz.

Esta etapa da vida, seja ela denominada terceira idade, melhor idade,

nova idade, velhice, e outras, deve ser entendida por todos, para ser aceita e

respeitada nas suas características, particularidades, motivações,

potencialidades, expectativas e sonhos.

A velhice útil e feliz não pode ser apenas um mito. Cada um, idoso ou

idosa, tem o dever de lutar por sua dignidade, cobrando da sociedade a

responsabilidade de dar ao idoso um lugar de direito, de cidadão, redefinindo

cultural e socialmente o significado do envelhecer.

Se a sociedade inventou a velhice, devem os idosos, reinventar a

sociedade.

O poeta Carlos Drummond de Andrade retratou nos seus versos, que a

vida não termina ao envelhecer e sim, se constrói a cada dia:

“Vamos não chores

A infância está perdida

A mocidade está perdida

Mas a vida não se perdeu.”

( DRUMMOND apud NOVAES, 2000, P. 148 )

Page 34: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

34

BIBLIOGRAFIA

ABNT - Apresentação de citações em documentos . Rio de Janeiro, 2001. BEAUVOIR, Simone de. A Velhice . Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990 DEECKEN, Alfons. Saber Envelhecer. 3ª edição . Petrópolis: Editora Vozes, 1997 FURTER, Pierre. Educação Permanente e Desenvolvimento Cultural.

Petrópolis: Vozes, 1974.

______________ Educação e Reflexão . Petrópolis: Vozes, 1974.

GRINBERG, Abrahão e GRINBERG, Bertha. A Arte de Envelhecer com

Sabedoria. São Paulo: Nobel, 1999.

LAROSA, Marco Antônio. Como produzir uma Monografia passo a passo...

Siga o mapa da mina. Rio de Janeiro, WAK, 2002.

NOVAES. Maria Helena. Psicologia da Terceira Idade: conquistas possíveis e

rupturas necessárias, 2ª edição aumentada. Rio de Janeiro: NAU, 2000.

PAES, Serafim Fortes et all. Envelhecer com cidanania: quem sabe um dia?

Rio de Janeiro: CBCISS, ANG/Seção Rio de Janeiro, 2000

PALMA, L.T.S. e SCHONS, C.R. ( Orgs.) . Conversando com Nara Costa

sobre gerontologia social. Passo Fundo: UPF Editora, 2000

Page 35: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

35SALGADO, Marcelo Antonio. Velhice, uma nova questão social. São Paulo:

Sesc , 1980.

Page 36: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

36

ÍNDICE

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I

A ARTE DE ENVELHECER

O ENVELHECIMENTO

1.1 – O Processo de Envelhecimento

1.1.1 – Aspectos Biopsicossociais

1.2 – A aposentadoria e suas conseqüências psicossociais

CAPÍTULO II

RESGATANDO O SENTIDO SOCIAL DO ENVELHECER

RETORNAR À VIDA

2.1 – Valor social da velhice

2.2 – Tempo livre, novos projetos e melhor qualidade de vida

CAPÍTULO III

EDUCAÇÃO NA TERCEIRA IDADE – UMA PROPOSTA

PEDAGÓGICA PARA O IDOSO

A EDUCAÇÃO NA TERCEIRA IDADE

3.1 – Educação Permanente

3.2 – “Pedagogia” para idosos

3.3 – Onde será desenvolvida essa pedagogia para idosos ?

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA

ÍNDICE

9

11

11

12

12

12

15

18

18

19

19

23

25

25

26

26

29

31

33

34

36

Page 37: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

37

FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PROJETO VEZ DO MESTRE

Pós-Graduação “Lato Senso”

Título : Pedagogia do Envelhecimento – Uma Perspectiva de Reinserção

Social

Data da Entrega : ________________

Avaliado por : Mary Sue C.Pereira Data: _____________

Grau: ___________

Rio de Janeiro, ____ de _____________ de 2003

Page 38: PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE … ROSANA RAMOS LOPES.pdf · PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: ... No Brasil, de acordo

38

ATIVIDADES CULTURAIS