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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA – UEPB CENTRO DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA RENATA LUZIA DA SILVA JOGOS E BRINCADEIRAS: uma experiência de motivação, criatividade e aprendizagem nas salas de Educação Infantil CAMPINA GRANDE 2011

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA – UEPB CENTRO DE EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA

RENATA LUZIA DA SILVA

JOGOS E BRINCADEIRAS: uma experiência de motivação, criatividade e

aprendizagem nas salas de Educação Infantil

CAMPINA GRANDE 2011

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RENATA LUZIA DA SILVA

JOGOS E BRINCADEIRAS: uma experiência de motivação, criatividade e aprendizagem nas salas de Educação Infantil

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao curso de Pedagogia do Centro de Educação da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, em cumprimento às exigências necessárias para obtenção do título de Licenciada em Pedagogia.

Orientadora: Profª. Msc. Maria de Lourdes Cirne Diniz.

Campina Grande 2011

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL – UEPB.

S586j Silva, Renata Luzia da.

Jogos e brincadeiras [manuscrito]: uma experiência de motivação, criatividade e aprendizagem nas salas de Educação Infantil /Renata Luzia da Silva. 2011.

46f..

Digitado. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em

Pedagogia) – Universidade Estadual da Paraíba, Centro de Educação, 2011.

“Orientação: Profa. Dra. Maria de Lourdes Cirne Diniz, Departamento de Pedagogia”.

1. Atividades Recreativas – crianças 2. Lúdico 3. Método de Ensino 4. Aprendizagem I. Título.

21. ed. CDD 790.192 2

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DEDICATÓRIA

Em especial, a Deus, nosso Pai todo poderoso, que me permitiu ter vencido mais

uma etapa de vida.

Aos meus pais e meu irmão que sempre me deram apoio e incentivo para

conquistar meus objetivos.

Ao meu sobrinho que trouxe com seu nascimento muita alegria e esperança para

minha vida.

A todos os meus amigos e companheiros de estudo, e às pessoas que, direta e

indiretamente, colaboraram com a realização do mesmo.

À orientadora, Profª. Maria de Lourdes Cirne Diniz, pela exímia orientação,

apoio, amizade, dedicação e incentivo em todos os momentos da realização desse trabalho.

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AGRADECIMENTOS

A DEUS:

Sou grata ao senhor, pelas lutas enfrentadas, as vitórias consentidas, as dificuldades

vencidas, as habilidades aprimoradas. Obrigada, senhor, por sempre estar iluminando e

guiando os meus passos para o caminho do bem e do amor.

AOS MEUS PAIS:

Pois deles recebi o dom mais precioso do universo: a vida. E que com amor, orações,

renúncia e sacrifício me orientaram pelos caminhos da sabedoria.

AOS MEUS FAMILIARES:

Pelo carinho, amizade, compreensão, apoio e confiança que me deram durante os

momentos tristes e felizes pelos quais já passei.

AOS MEUS AMIGOS:

Pelas palavras de incentivo e pelo auxílio quando mais precisei, sabendo que poderia

contar com o carinho e apoio de cada um.

AOS MESTRES:

Pelas lições de saber, pela orientação constante, pela dedicação, por auxiliar a trilhar

este caminho, minha homenagem e gratidão.

À MINHA ORIENTADORA:

Agradeço pelos incansáveis instantes dedicados a nossa pesquisa, por estar presente

em momentos tão importantes da minha graduação, sendo uma grande amiga, dando-me

palavras de incentivo, apoio e carinho.

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“Quando uma criança brinca, joga e finge estar

criando um outro mundo mais rico e mais belo,

mais cheio de possibilidades e invenções do

que o mundo onde, de fato vive”.

Marilena Chauí

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SILVA, Renata Luzia da. Jogos e Brincadeiras: uma experiência de motivação, criatividade e aprendizagem nas salas de Educação Infantil. 46 fl. 2011. Trabalho de Conclusão de Curso – TCC. UEPB – CEDUC. Campina Grande – PB.

RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo geral analisar os Jogos e as Brincadeiras como espaços de motivação, criatividade e aprendizagem nas salas infantis da Escola Pe. Abdias Leal na Rede Municipal de Alagoa Nova – PB. Os jogos e brincadeiras são recursos e momentos que propiciam às crianças investigação e construção do conhecimento, tanto de si mesmas quanto do ambiente em que estão inseridas. Partindo da importância desses ambientes lúdicos que são as salas infantis, esta pesquisa de abordagem qualitativa buscou identificar o papel do professor como co-ator das brincadeiras junto às crianças no cotidiano da referida escola; interagir com as crianças e propiciar momentos e espaços para que elas utilizem os jogos e brincadeiras como objetivos específicos. O referencial teórico que fundamentou o trabalho, bem como as análises e resultados, foram baseados nos pressupostos teóricos Rousseau (1722-1778), Froebel (1782-1852), Wallon (1879-1962), Piaget (1896-1980), Vygotsky (1896-1934) entre outros, os quais proporcionaram uma visão geral sobre a Educação Infantil e a importância de uma prática lúdica para o desenvolvimento pessoal, social e cultural da criança pequena. Os dados referentes a esta pesquisa de cunho qualitativo e bibliográfico foram através de um questionário às referidas professoras sobre a temática focalizada, cujo resultado refletiu sobre a importância destes se apropriarem do conhecimento e compreensão das modalidades que os Jogos e Brincadeiras têm seus significados e representações no imaginário da criança em seu dia a dia, contribuindo para uma nova visão das práticas relacionadas com a referida temática, constando de vivências livres, prazerosas, expressivas e criativas entre as crianças.

PALAVRAS-CHAVE: Criança. Professor. Prática. Escola.

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LISTA DE TABELAS

Tabela I: Equipe pedagógica ........................................................................................... 32

Tabela II: Funcionários efetivos ...................................................................................... 32

Tabela III: Como você conceitua a Brincadeira nas salas infantis? ................................. 33

Tabela IV: Na hora da brincadeira você acompanha as crianças? .................................... 34

Tabela V: De que forma as crianças utilizam os gestos e a linguagem

nas suas brincadeiras? ...................................................................................... 34

Tabela VI: Quais as condições de espaços e materiais oferecidos às

crianças nas suas brincadeiras?........................................................................ 35

Tabela VII: Quais os temas e enredos que podem ser vivenciados pelas

crianças em suas brincadeiras? ....................................................................... 36

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 09

CAPÍTULO I

1 A EDUCAÇÃO INFANTIL - CONTEXTUALIZANDO SUA HISTÓRIA ............. 11

1.1 O JOGO E A BRINCADEIRA NA VISÃO DOS TEÓRICOS: Froebel,

Rousseau, Wallon, Piaget e Vygotsky ........................................................................... 17

CAPÍTULO II

2 O BRINCAR NA PROPOSTA DO RCNEI ................................................................. 26

2.1 O PAPEL DO PROFESSOR COMO CO-ATOR DAS BRINCADEIRAS ................. 28

CAPÍTULO III

3 METODOLOGIA ........................................................................................................... 31

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO ........................................................ 31

3.2 ANÁLISES E DISCUSSÕES DOS DADOS DA PESQUISA ..................................... 33

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 38

REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 40

APÊNDICE ........................................................................................................................ 42

ANEXO .............................................................................................................................. 45

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INTRODUÇÃO

A escolha do tema, cujo título é: Jogos e Brincadeiras: uma experiência de motivação,

criatividade e aprendizagem nas salas de Educação Infantil surgiu da nossa experiência e

estudos através das aulas de Prática Pedagógica IV, onde foi, a partir do campo de estágio que

objetivamos analisar os jogos e as brincadeiras como espaços de motivação, criatividade e

aprendizagem nas salas infantis, vendo o quanto eles, devido suas multiplicidades de funções,

favorecem para um desempenho saudável das crianças em seus aspectos sociais, cognitivos,

físicos e motores.

Os jogos e brincadeiras são recursos e momentos que propiciam às crianças

investigação e construção de conhecimento tanto de si mesmas, quanto do ambiente em que

estão inseridas. Um desses principais ambientes são as salas infantis, onde há a figura do

professor, e, em nossa pesquisa, buscamos identificar o seu papel como co-ator das

brincadeiras, já que isso acontece a partir do momento em que ele interage com as crianças e

propicia momentos e espaços para que elas utilizem os jogos e brincadeiras, pois, em

situações educacionais, eles facilitam a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e

cultural, bem como auxiliam para uma boa saúde mental e facilitam os processos de

expressão, comunicação e socialização.

Diante de todos esses benefícios, torna-se necessário que as Instituições Creche, como

também as Pré-escolas elaborem suas propostas pedagógicas, tendo os jogos e brincadeiras

como recursos fundamentais para que se aconteça a interação social e uma aprendizagem

prazerosa. Agindo dessa forma, estarão potencializando o desenvolvimento e a aprendizagem

das crianças no seu cotidiano, de acordo com sua cultura e o meio em que vive, carregado de

valores e significados.

O presente trabalho está estruturado da seguinte forma: o capítulo I intitulado

Educação infantil – Contextualizando sua história, realizando um breve histórico da educação

infantil na Europa e no Brasil, bem como frisando a importância dos Jogos e Brincadeiras

para alguns teóricos. Já o capítulo II apresenta O Brincar na proposta do RCNEI, vendo o

Brincar e sua importância de acordo com o RCNEI. No capítulo III consta a Metodologia,

numa abordagem de caráter qualitativo, onde faremos a apresentação da Escola, que

contribuiu dando-nos subsídios para o nosso estudo. Por fim, apresentaremos os resultados e

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discussões dos dados coletados, expondo as ideias e concepções baseadas nos autores de

pesquisa científica.

Para tanto, buscamos embasamentos teóricos em autores como: Vygotsky (1989),

Cerizara (1990), Santos (1998), Kishimoto (1999), Oliveira (2002), Kramer (2003), bem

como nas políticas públicas e no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil.

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CAPÍTULO I

1 A EDUCAÇÃO INFANTIL - CONTEXTUALIZANDO SUA HISTÓRIA

No início, por volta dos séculos XIV, XV e XVI, a criança era considerada um adulto

em miniatura. Fazia parte do mundo adulto sem qualquer privilégio. Ademais, eram tratadas

como homens e mulheres em estatura menor, participavam de danças, músicas, festas,

passeios sem nenhuma restrição. Havia brincadeiras e palavras vulgares relacionadas ao sexo

(ato sexual) que eram comuns na época, e, as crianças não eram poupadas disso, pois,

afirmava-se que esses assuntos não afetariam a sua inocência, até porque nem se acreditava

que essa inocência existisse (LOUZADA, 1999).

Segundo Santos (1998, p. 12) “o raciocínio, os sentimentos e as ações infantis eram

investigadas a partir dos mesmos parâmetros comportamentais do adulto”. Nessa perspectiva,

ela não era tratada como um ser autônomo e não era reconhecida como criança que tem suas

particularidades diante das circunstâncias e dos acontecimentos.

A partir do século XVII é que algumas crianças começaram a ser vistas com certa

diferença em relação aos adultos. Crianças com menos de sete anos passaram a receber grande

atenção, mas apenas as que eram meninos e das classes mais favorecidas (burguesia), pois as

que eram meninas e/ou crianças pobres (meninos e meninas) continuavam sendo

desprivilegiadas, e, recebendo os mesmos tratamentos dos adultos.

Naquela época, havia uma minoria de pessoas como moralistas e educadores que

queriam mudar os hábitos e comportamentos da sociedade, vendo a criança com questões

psicológicas e morais.

Porém, os sentimentos de infância, enquanto momento de vida do ser humano com

características diferentes do adulto começaram realmente a se delinear entre os séculos XVIII

e XIX, principalmente por causa da obra de Rousseau (1722-1778, apud LOUZADA, 1999),

mesmo que ele não tenha sido educador, suas ideias em relação à criança foram de grande

relevância, pois defendiam a peculiaridade da criança, mostrando que ela não é um homem

em tamanho pequeno, demonstrando, assim, que a mente da criança e do adulto são

diferentes. Rousseau também destacou a importância da liberdade, da independência e da

espontaneidade no processo educativo.

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Além desse estudioso, um educador e bispo protestante checo que deu sua

contribuição foi Comênio (1592-1670, apud OLIVEIRA, 2002), afirmando que, durante a

infância, assumia um papel de destaque o desenvolvimento físico e dos órgãos sensoriais,

defendendo a ideia de que as crianças deveriam frequentar as escolas maternais com pessoal

especializado, pois, acreditava-se que caberia à escola regenerar a sociedade que estava em

desequilíbrio. Assim, nada melhor do que iniciar o processo de regeneração desde a mais

tenra idade.

Mais adiante, outros estudiosos segundo Oliveira (2002) como: Pestalozzi (1746-

1827), Froebel (1782-1852), Montessori (1870-1952), Piaget (1896-1980), Vygotsky (1896-

1934) também defendiam a ideia de que a mente da criança era diferente do adulto, mudando

assim o conceito de criança consideravelmente.

Para o estudioso Pestalozzi, como método, este defende o natural, ou seja, deve-se

seguir a natureza:

O desenvolvimento é orgânico, sendo que a criança se desenvolve por leis definidas, os poderes infantis brotam de dentro para fora e os poderes inatos uma vez despertados lutam até desenvolver a maturidade, tudo de um processo gradativo, o qual deve ser respeitado (OLIVEIRA, 2002, p. 66).

Dessa maneira, ela acredita que a criança apresenta características próprias, mas que se

não forem bem cuidadas e regadas pelo adulto, podem não desabrochar de uma forma

harmoniosa, comprometendo a sua personalidade.

Já as ideias de Froebel afirmam “que a criança é por si só fonte de todas as virtudes.

Se for bem estimulada a descobrir as suas potencialidades, poderá se constituir num adulto

conhecedor de si mesmo” (LOUZADA, 1999, p. 11).

Para ele, a criança é concebida de sentimentos bons e sua pedagogia está pautada nas

ideias de liberdade, desenvolvendo as atividades motoras e nos sentidos que são essenciais na

vida da criança. Froebel destaca-se ainda, por ter sido o primeiro educador a enfatizar o

brinquedo e a atividade lúdica, mostrando que os jogos seriam uma forma de estimulá-las em

sua aprendizagem e integração com o meio.

Enquanto Montessori preconizou uma educação voltada para o desenvolvimento

integral da criança, ressaltando as forças inatas e anteriores do ser, dando ênfase ao fato de

que a criança “se basta” no processo de desenvolvimento intelectual. Haja vista que a

educadora foi uma mulher à frente do seu tempo, sendo a primeira médica formada na Itália.

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Trabalhando com crianças “normais”, organizando uma sala a qual nomeou de “casa das

crianças” (LOUZADA, 1999).

Nessa esteira de pensamento, a Educação é vida e a criança deveria ser entendida

como um ser em desenvolvimento, dando-se grande importância à sua liberdade,

autoatividade e individualidade. Também dava ênfase à aprendizagem através do contato com

o concreto e, portanto, a educação sensorial permitiria o desenvolvimento da independência,

iniciativa, ordem, criatividade, autodisciplina e coordenação psicomotora.

Freinet “foi um dos grandes educadores a renovar as práticas pedagógicas de seu

tempo. Acreditando que a escola deveria ir além do espaço de sala de aula, extrapolando seus

limites” (ELIAS, 1997, p. 13). Para ele, a aprendizagem do meio escolar e da realidade não

devem ser separados, e, ainda, sua Pedagogia Experimental objetiva entender o pensamento

infantil, incentivando as crianças a se desenvolverem e se educarem intelectualmente.

Destaca ainda Freinet o propósito da educação que deve ser para o indivíduo um

crescimento pessoal e social, ou seja, preparar a criança para não apenas introduzi-la na

sociedade atual, mas também, para viver em uma sociedade melhor e em processo de

constante desenvolvimento.

Ele não trabalhou diretamente com crianças pequenas, mas suas experiências foram de

grande importância para mostrar a relação entre Criança e Educação, onde as mesmas foram

marcantes em creches e pré-escolas de vários países.

Para Piaget,

a criança constrói o Conhecimento, interagindo com o meio físico e social. Ela é um ser ativo que vivencia diferentes fases. Devem-se respeitar essas fases, propiciando à criança situações de aprendizagem que lhes possibilitem atuar sobre o objeto de conhecimento (LOUZADA, 1999, p. 12).

Suas teorias foram construídas por pesquisas que duraram mais de 50 anos. Tendo

como objetivo descobrir como se estruturava o Conhecimento. Ele também destacou a

importância da atividade lúdica, sendo de grande valia para as atividades intelectuais da

criança e indispensáveis à prática educativa.

Vygotsky, estudioso da área de História, Literatura, Filosofia e Psicologia, teve uma

intensa produção teórica. Para ele, “o funcionamento psicológico estrutura-se a partir das

relações sociais estabelecidas entre indivíduos e o mundo exterior” (DIAS, 1996, p. 22).

Acredita que a criança não é um adulto em miniatura e não é um ser que se basta no

seu processo de desenvolvimento. Ela usa a linguagem como expressão fundamental para se

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relacionar com o meio onde está inserida, com a sua família, a sua comunidade, a professora,

os colegas entre outros.

A partir do conhecimento dos pensamentos desses estudiosos, tornou-se cada vez mais

claro que a criança tem suas particularidades em relação ao adulto; e a construção de suas

ações e interações com o meio está articulada à sua afetividade, movimento, inteligência e

construção do eu. Ela é um ser ativo, que desde cedo busca o conhecimento e a interação,

além de ter uma grande capacidade cognitiva. As propostas dos estudiosos vieram contribuir

para que esses aspectos fossem reconhecidos e determinantes no processo de Educação

Infantil.

Até meados do século XVII, as crianças, com menos de sete anos, eram educadas por

suas mães ou amas. Somente mais tarde, com a expansão da sociedade europeia que

começaram a surgir novas visões a respeito da criança e como ela deveria ser educada.

Autores como Erasmo (1465-1530) e Montaigne (1483-1553) começaram a defender

que a educação deveria considerar a natureza da criança através de atividades que

relacionassem o jogo à aprendizagem. A partir de alguns acontecimentos, a escola passou a

adquirir um caráter pedagógico. Isso se deve há vários fatores importantes da época como: a

descoberta de novas terras europeias, o surgimento de novos mercados, o desenvolvimento

científico e a invenção da imprensa.

Por causa dessas mudanças ocorridas na sociedade e na escola moderna é que houve o

surgimento das instituições de Educação Infantil. Segundo Craidy (1996, p. 14):

Entende-se que esses fatores foram determinantes para que surgisse a Educação Infantil, onde a família não era mais patriarcal e a figura materna não se restringia apenas ao lar, mas sim, inseria-se no mundo do trabalho e o cuidado com a criança passava a ser dividido com outros adultos. Mesmo que essa Educação Infantil fosse para as crianças menos e mais favorecidas, a sua ação pedagógica dependia da classe social que seria atendida. Para as crianças de classe média alta é oferecido um ensino voltado para o seu desenvolvimento cognitivo e emocional; já para as crianças da classe baixa, é proposta uma educação de cunho assistencialista.

No Brasil, a Educação Infantil teve seu início “com a chegada dos jesuítas”, conforme

assinala Louzada (1999, p. 15).

De acordo com a influência europeia, buscava-se chamar atenção para as qualidades

individuais da criança, vendo-a como santa, evidenciando a religiosidade e exaltação da fé. Os

jesuítas faziam de tudo, a fim de atrair as crianças para que seguissem suas doutrinas. Nesse

propósito, formavam exércitos com os pequenos índios e com crianças órfãs trazidas de

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Portugal, onde cada uma seria um pequeno Jesus, andando por matas e sertões a pregar,

sacrificando-se para ter sua salvação, além de trabalhar a parte espiritual.

O lazer dessas crianças eram atividades ligadas à cultura europeia ou indígena como:

banhos de rio, cantos, brincadeiras, jogos, danças e etc. Por volta do século XVIII, vê-se na

sociedade uma grande quantidade de crianças expostas.

Segundo Louzada (1999, p. 16):

Buscando reverter este quadro de tantas crianças expostas, as Câmaras Municipais e as Santas Casas de Misericórdia passam a cuidar dessas crianças enjeitadas. Ainda, para resolver tal situação foi fundada no Rio de Janeiro, em 1738 a Roda e Casa dos Expostos, para criar essas crianças abandonadas.

A partir dos sete anos de idade, elas eram entregues a famílias adotivas. As que não

eram adotadas, no caso dos meninos, eram enviados ao arsenal da marinha, e as meninas ao

recolhimento das órfãs. Deveriam trabalhar até catorze anos para receber abrigo e comida,

depois desse período podiam trabalhar em troca de salários.

Podemos observar que até o início da República, pouco se fazia no Brasil em prol das

crianças de 0 a 6 anos. Não havia legislação de proteção a elas. Essa situação vai se modificar

um pouco a partir da segunda metade do século XIX, período da abolição da escravatura no

país, quando se aumenta a migração para a zona urbana das grandes cidades e surgem

condições para um desenvolvimento cultural e tecnológico, e, como forma de governo. À

medida que essas mudanças sociais e políticas foram ocorrendo, o setor público foi

pressionado pela sociedade, principalmente a classe popular, passando a reconhecer a

importância do atendimento à criança pequena.

Segundo Louzada (1999, p. 17): “No período antecedente aos anos 30, as instituições

eram voltadas para a proteção da criança com certa preocupação com a ordem e o progresso

do país. Preparando-a para no futuro ser um adulto comprometido com a nação”.

Em 1940, foi criado o Departamento Nacional da criança (DNC), parte do ministério

da Educação e da Saúde (atual Divisão Nacional de Proteção Materno - Infantil), passando a

integrar o ministério da saúde e destinado a coordenar as atividades nacionais relativas à

proteção da infância e da adolescência.

Em 1941, foi fundado o Serviço de Atendimento a Menores (SAM), vinculado ao

Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Em 1946, foi criado o Fundo das Nações Unidade

para a Infância (UNICEF), vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU), e, em 1953,

foi fundado o Comitê Brasil da Organização Mundial Para Educação Pré-escolar (OMEP).

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Com a chegada da década de 50, as poucas creches que existiam tinha o objetivo de

cuidar de entidades filantrópicas laicas e principalmente religiosas. O trabalho com crianças

nas creches tinha um caráter assistencial de proteção, porque se preocupava com a

alimentação, cuidado da higiene e da segurança física, sendo pouco valorizado o trabalho

orientado, a educação e o desenvolvimento intelectual e afetivo das crianças.

Destarte, as creches pré - primária serem instituídas junto a grupos escolares em várias

cidades brasileiras, de forma desintegrada. O atendimento a crianças ocorria em creches,

parques infantis, escolas maternais, jardins de infância e classes pré - escolares. A primeira

creche popular no Brasil foi fundada em 1908, atendendo a criança na faixa etária de dois

anos, filhas de operários.

Refletindo, a escola, por sua vez, deve considerar o universo da criança como ser que

pensa, elabora e cria situações de aprendizagem. Portanto, daí a necessidade da instituição

propiciar oportunidades às crianças com espaços de descobertas, estimulando-as de forma

significativa sua expressão, socialização e comunicação.

No decorrer das décadas de 60 e 70, segundo Kramer (2003), a Educação Infantil

assume uma função de suprir as necessidades da criança nos aspectos intelectuais, sociais e

afetivos. Em virtude de seu nível socioeconômico baixo, tornando-se um atendimento nas

instituições de cunho compensatório, ou seja, assistencialista.

Durante as décadas de 80 e 90, houve uma mudança nessa fase de atendimento através

das políticas públicas. Tendo como foco de discussão um processo que garantisse a criança

uma Educação de qualidade. Devido à pressão da sociedade, o Estado passou a evidenciar em

seu discurso, garantias de igualdades de condições e cumprimento do que a Constituição

determinava como necessidades fundamentais para as crianças.

Com a elaboração da Constituição de 1988, a discussão acerca do atendimento da

criança de 0 a 6 anos resultou em um maior número de creches e pré - escolas, que eram

insuficientes para atender a demanda de crianças, pressionando o poder público, gerando,

assim, outras iniciativas para o atendimento das mesmas.

No Brasil, as leis que atualmente norteiam o atendimento às crianças, segundo Brasil

(1998) são: Constituição Brasileira de 1988; Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA

(8.069/90); Lei sobre o Sistema Único de Saúde - SUS (98.080/90); Lei Orgânica da

Assistência Social - LOAS (8.742/93) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional -

LDB (9.394/96).

Dentre essas leis, a LDB, no seu artigo 29 e 30 determina a Educação Infantil como

etapa inicial da educação básica a crianças de o a 6 anos. Aumentando as responsabilidades

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das unidades escolares e estabelecendo ao sistema de ensino a garantia de autonomia

pedagógica, administrativa e gestão financeira às suas unidades escolares.

Urge enfatizarmos que hoje, a Educação Infantil com a reformulação da legislação,

tem seu atendimento às crianças de 0 a 3 anos nas creches, e, de 4 a 5 anos nas pré-escolas. Já

as crianças com 6 anos têm seu atendimento no ensino fundamental, que passou a ser de nove

anos, conforme a lei 11.274 de 6 de fevereiro de 2006.

O grande desafio da educação pública brasileira nos dias atuais é o de oferecer uma

boa qualidade de ensino, com base para o desenvolvimento sustentável do país. Porém, vê - se

que na maioria das instituições escolares, ainda há uma prática desarticulada entre o cuidar e o

educar funções específicas no cotidiano da educação infantil. Vários motivos dentre eles as

dificuldades como: falta de recursos financeiros, pedagógicos e humanos, tornando-se grandes

desafios e limites.

1.1 O JOGO E A BRINCADEIRA NA VISÃO DOS TEÓRICOS: Froebel, Rousseau,

Wallon, Piaget e Vygotsky

Tecendo um pouco do perfil dos estudiosos, temos Frederico Augusto Guilherme

Froebel, que nasceu na Alemanha no ano de 1782. Seu pai era pastor evangélico e sua mãe

morreu, quando ele tinha apenas um ano de idade; foi criado pelos irmãos, empregados e

madrasta. Quando ficou adulto, a botânica e a matemática eram suas paixões; já professor

estagiou no Instituto de Yverdon de Pestalozzi, assimilando ideias acerca da importância da

instituição. Em sua principal obra filosófica “A Educação do homem”, ele mostra a conexão

entre Deus e as coisas da natureza, que todas elas provêm somente de um Deus.

Por este viés, Froebel entende que ela deve levar o homem a ver e conhecer o

espiritual e, em seu início, deve ser somente protetora, guardadora e não prescritiva nem

interferidora. O destino da Criança é ser deixada livre para que use todo seu poder e viva de

acordo com a natureza.

Segundo esse estudioso:

A criança precisa aprender desde cedo como encontrar por si mesmo o centro de todos os seus poderes e membros para agarrar e pegar com suas próprias mãos, andar com seus próprios pés, encontrar e observar com seus próprios olhos (KISHIMOTO, 1998, p. 59).

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Para ele, a criança é imagem de Deus que criou todas as coisas, e, sendo filha e

imagem do criador tem que, desde cedo ter a sua autonomia e explorar o espaço ao seu redor

com autodeterminação, produtividade e criatividade. A relação entre criança e natureza é bem

expressada em suas obras: Mutterundkose-Lieder e Mutter Spielundkose Lieder, pois nelas ele

revela seu amor pela natureza, afirmando que ela é um instrumento para educar as crianças.

Froebel é o fundador do Kindergarten (Jardim de Crianças). Acredita-se que essa

fundação é reforçada pela experiência na infância da ausência de sua mãe, da madrasta que

não lhe oferecia amor, de um pai que não tinha tempo para ele fazendo com que fosse

obrigado a recolher-se junto à natureza e tê-la como companheira.

O Projeto do Kindergarten é:

[...] como o trabalho da Educação destinado a preparar a criança para o desenvolvimento nos níveis subsequentes. Sustenta que a repressão e a ausência de liberdade à criança impedem a ação estimuladora da atividade espontânea, considerada elemento essencial no desenvolvimento físico, intelectual e moral (KISHIMOTO,1998, p. 60).

Acreditava Froebel na necessidade de educar a criança desde o nascimento para

garantir o pleno desenvolvimento do ser humano. Não podendo ser tirada sua liberdade nem a

reprimindo para que não fosse prejudicada em sua infância, juventude e fase adulta. No

Kindergarten, as crianças eram como plantinhas de um lindo jardim, e os professores, os seus

jardineiros.

No jardim de infância, ele foi o primeiro a utilizar os jogos e os brinquedos como parte

essencial do trabalho pedagógico. Baseando-se no Renascimento, no Romantismo, nos

filósofos e educadores, os quais consideravam o jogo como conduta espontânea, livre e

instrumento de educação da primeira infância.

A partir de sua filosofia educacional em relação aos benefícios do jogo, Froebel

delineia a sua metodologia sobre os dons e ocupações dos brinquedos e jogos, onde propõe

que os “dons” seriam materiais como bola, cubo, vareta e etc., permitindo as atividades de

ocupação sob a orientação da jardineira. Os brinquedos e jogos seriam atividades livres,

acompanhados de músicas e movimentos corporais para que a criança estabeleça relação com

objetos e situações do seu dia a dia.

Outra percepção de Brincadeira, segundo Froebel:

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[...] é a atividade espiritual mais pura do homem neste estágio, e ao mesmo tempo, típica da vida humana enquanto um todo da vida natural interna do homem e de todas as coisas. Ela dá alegria, liberdade, contentamento, descanso externo e interno, paz com o mundo (KISHIMOTO, 1998, p. 68).

Refletindo, a brincadeira é de fundamental importância nas fases da vida do ser

humano, principalmente na infância, pois, a criança que brinca sempre, pode tornar-se

determinada e perseverante, sendo assim também na fase adulta, buscando promover o seu

bem e o dos outros. Isso faz com que a brincadeira seja algo não só trivial em qualquer etapa,

mas que represente algo sério e de grande significado. De acordo com ele, a brincadeira é uma

ação livre, onde a criança é espontânea, podendo realizar atividades como: prazer,

autodeterminação e expressar suas necessidades. Ela é importante para a criança,

principalmente nos primeiros anos, onde, por meio dela vai aprendendo a usar seu corpo, seus

sentidos, seus membros, fazendo com que essa ação motora leve-a ao seu desenvolvimento.

Ainda, nas suas concepções, Froebel faz relação entre brincar e falar, como por

exemplo, quando as mães brincam com os filhos, mostrando suas partes do corpo, ao mesmo

tempo em que brincam, fazem com que eles desenvolvam a linguagem, ao repetir com a mãe

o nome dessas partes. Froebel foi considerado psicólogo da infância, pois,

[...] aspira desenvolver todo o ser da criança mediante processos escolares e o auxílio da família. Não menospreza o trabalho da educação formal nem o adestramento físico ou outro aspecto da cultura, mas insiste na aplicação do princípio da espontaneidade na educação física, mental e moral (KISHIMOTO, 1998, p. 70).

De acordo com ele, a Educação se dá mediante o apoio da escola e da família, e faz

ainda relação entre o espiritual, o físico e o intelectual, mostrando que eles formam uma

unidade, onde cada um desses elementos afeta e é afetado pelos demais. Devendo sempre

estar em harmonia para que ocorra um verdadeiro desenvolvimento e aprendizado para a

criança.

Para esta compreensão, Jean Jacques Rousseau nasceu na Suíça em 1712. Sua mãe

morreu no parto. Viveu primeiro com seu pai, depois com parentes da mãe e aos 16 anos

partiu para uma vida de aventureiro. No ano de 1745 conheceu a lavadeira Thérese Levasseur

com quem teria cinco filhos, todos entregues à adoção; o remorso por seu ato de abandonar os

filhos foi algo marcante em suas obras, onde as mais célebres foram (Do Contrato social,

Emílio e o romance, A nova Heloísa) que despertaram grande ira de monarquistas e religiosos

da época.

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Rousseau teve, como princípio fundamental, a ideia de que o homem seria bom por

natureza, mas estava à mercê da influência negativa da sociedade que o corrompia. Sendo

uma dessas influências negativas a desigualdade que podia ser de dois tipos: a que era causada

por características individuais e a que era causada por circunstâncias sociais. Para ele, o ser

humano na fase da infância não seria um adulto em miniatura como se pensava na época, mas

sim, teria necessidades, características e condições de desenvolvimento próprio. Sendo assim,

as fases de desenvolvimento - infância, adolescência, vida adulta e velhice tinham

características que deveriam ser respeitadas.

Em seu livro, “Emílio”, Rousseau dividiu o desenvolvimento humano em cinco fases

importantes: a primeira fase (até os dois anos) - chamada de fase animal, onde ocorrem os

primeiros sentimentos de si mesmo; a segunda fase (de 2 a 12 anos) ocorre o período racional,

onde ela toma consciência de si mesma, mas ainda não faz relação com a vida moral; a

terceira fase (de 12 a 15 anos) é a puberdade, ou seja, o desenvolvimento do corpo; a quarta

fase (de 15 a 20 anos), onde é destacado o sexo como fator mais importante nesse período; é

também quando se inicia a vida social do indivíduo. Por último, a fase adulta/velhice (de 20 a

25 anos), é o período onde a vida moral evolui naturalmente.

Ainda, com relação à Educação, Rousseau afirmava que:

A Educação formadora do homem é produto da natureza, dos homens e das coisas. O desenvolvimento interno de nossos órgãos advém da Educação da Natureza; o uso que nos ensinam a fazer desse desenvolvimento é o resultado da educação dos homens; e o que adquirimos de nossa própria experiência sobre os objetos que nos afetam decorre da educação das coisas (CERIZARA, 1990, p. 39).

Segundo ele, a educação tem três modalidades: Educação da natureza, dos homens e

das coisas. E a única educação que o homem tem algum controle é a Educação dos homens.

Essa educação deve formar um homem cidadão que não seja para viver pelos bosques, mas

sim, para viver na sociedade a desempenhar o seu papel de cidadão comprometido com o

meio social em que está inserido.

Sobre a Educação na infância, Rousseau condena a que submete à criança a trabalhos

forçados, castigos, ameaças e escravidão. Em relação a essas questões ele exorta que:

Homens, sejam humanos, este é seu primeiro dever, ajam assim em todas as circunstâncias, com todas as idades, com tudo aquilo que não seja estranho ao homem. Que sabedoria existe para vocês fora da humanidade? Amem a infância; incentivem seus jogos, seus prazeres, seus instintos de bondade (CERIZARA, 1990, p. 81).

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Para ele, a Educação está relacionada à própria vida da criança e deve lhe

proporcionar, em cada fase, as condições para vivê-la intensamente. É necessário que a

sociedade trate-a com respeito e liberdade, incentivando o que ela faz e fala, valorizando o seu

desenvolvimento. Também, preparando-as para que sejam crianças e futuramente adultos

pensantes com autonomia.

Rousseau critica nas escolas o uso excessivo da memória, ou seja, naquela época, a

escola tinha essa prática de exercitar a memória da criança para não se tornar ociosa, gravar

nela os nomes de datas, reis ... e todas as palavras sem nenhum significado para a faixa etária

da criança. Ele enfatizava que era necessário favorecer situações e vivências para que a

criança fosse elaborando suas ideias, registrando de forma construtiva sua capacidade

cognitiva e seus comportamentos, e valoriza o brinquedo e os esportes como sendo essenciais

para a aprendizagem infantil. Cita como exemplo: a Agricultura, onde o uso da pá e de outros

instrumentos ajudariam nas atividades de mediação, contagem e comparação. Com esses

mesmos recursos poderiam também ser desenvolvidos a aritmética, a geometria, o conto e a

linguagem.

No que se refere às Brincadeiras, Rousseau afirmava que “o lúdico é imprescindível ao

desenvolvimento afetivo, físico, cognitivo e social da criança” (CERIZARA, 1999, p. 39).

Como podemos observar naquela época, ele não considerava que passar os primeiros anos de

vida da criança, fazendo com que ela brincasse e fosse feliz fosse um desperdício. Citava

como exemplo Platão, que educava crianças com jogos, festas, passatempos e canções. Fazia

relação com sua teoria, mostrando a importância do brincar para o bom desenvolvimento do

ser humano, principalmente na infância.

Quanto a Henri Wallon, nascido em Paris, França, em 1879, graduou-se em Medicina

e Psicologia. Em 1925 criou um laboratório de Psicologia da criança. Dedicou sua vida a

conhecer a infância e os caminhos da inteligência nas crianças; uma de suas obras célebres foi

a Revista Enfance, que serviria como espécie de bíblia para pesquisadores e professores, pois

apresentava grandes ideias para a Educação. Foi o primeiro a levar para a sala de aula não só

o corpo da criança, mas também suas emoções. Acreditava que a raiva, a alegria, o medo, a

tristeza e outros sentimentos ganhavam grande relevância na relação com o outro, e a escola

seria um lugar de grande importância para expressar e desenvolver tais sentimentos.

Por sua vez, Wallon realizou um estudo centralizado na criança, onde destacou as

seguintes etapas do desenvolvimento:

1- Impulsivo - emocional: ocorre no primeiro ano de vida. A afetividade que rodeia o

bebê orienta-o em suas primeiras reações com as pessoas e relações com o mundo físico. 2-

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Sensório - motor e projetivo: vai até os três anos. A aquisição da marcha e da preensão dá à

criança maior autonomia na manipulação de objetos e na exploração de espaços. O ato mental

se desenvolve a partir do ato motor. 3- Personalismo: dos três aos seis anos. Desenvolve-se a

construção da consciência de si mediante as interações sociais. 4- Categorial: O

desenvolvimento intelectual conduz à criança ao interesse pelo conhecimento, e, à conquista

do mundo exterior. 5- Predominância funcional: Ocorrem mudanças na personalidade devido

às modificações corporais, resultantes da ação hormonal. As questões pessoais, morais e

existenciais também se destacam nessa fase. Essas fases do desenvolvimento têm um ritmo

descontínuo, marcado por retrocessos e reviravoltas, provocando, em cada etapa profundas

mudanças nas anteriores.

Nesse ponto de Motricidade, segundo Wallon:

[...] as emoções dependem fundamentalmente da organização dos espaços para se manifestarem. A motricidade, portanto, tem caráter pedagógico, tanto pela qualidade do gesto e do movimento quanto por sua representação. Por que, então, a disposição do espaço não pode ser diferente? Não é o caso de quebrar a rigidez e a imobilidade, adaptando a sala de aula para que as crianças possam se movimentar? (FERRARI, 2008, p. 75).

Para ele, a motricidade era de suma importância para o desenvolvimento da criança,

porém, a escola insiste em imobilizá-la em uma carteira limitando a fluidez de seus

pensamentos e emoções tão necessários ao desenvolvimento humano.

Portanto, é possível através de uma ação educativa de movimentos espontâneos e

atitudes corporais, o favorecimento à criança de uma melhor imagem do seu corpo, ajudando-

a a conhecer-se melhor fisicamente e mentalmente. No movimento, o ato de brincar

desenvolve habilidades de uma forma natural e agradável, traz novos conhecimentos,

desenvolvendo a parte motora, social, emocional e cognitiva.

Na concepção de Wallon: “Infantil é sinônimo de lúdico. Toda atividade da criança é

lúdica, no sentido que se exerce por si mesma antes de poder interagir-se em um projeto de

ação mais extensivo que a subordine e transforme o meio” (OLIVEIRA, 2002, p. 130).

Segundo a autora, Wallon define ainda que toda atividade da criança é lúdica, desde

que seja uma atividade voluntária da mesma. Se for imposta, deixa de ser jogo e passa a ser

trabalho ou ensino.

Em se tratando de jogos, ele os classificou da seguinte maneira: Jogos funcionais - A

criança sente prazer e põe em ação as novas funções que adquiriu como: os sons, quando ela

grita, a exploração dos objetos e o movimento do seu corpo. Ela percebe os efeitos agradáveis

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obtidos na realização desses gestos e procura repeti-los. Jogos de aquisição - Começa desde

quando o bebê passa a utilizar seus sentidos para compreender, conhecer, imitar canções,

gestos, imagens e histórias. Jogos de ficção- Quando começa a fase do faz de conta, na

presença de uma situação imaginária como, por exemplo, quando brinca de imitar adultos,

casinha, escolinha e etc.

Quanto a Jean Piaget, nascido na Suíça no ano de 1886, interessou-se desde criança

em observar o comportamento dos seres vivos. Seus trabalhos deram contribuição a diversas

áreas do conhecimento como: Filosofia, História, Matemática, Psicologia entre outras. O

principal objeto de estudo era como se dava o processo de aquisição do Conhecimento pelo

ser humano, particularmente, à criança. Afirmava que a inteligência humana se construía e se

desenvolvia em função de interações sociais do ser humano e de sua ação sobre o meio em

que vive.

No que se refere à Educação, suas teorias trouxeram algumas implicações para a

mesma. Mudando a postura do professor para que valorizasse o que a criança já trazia consigo

ao chegar à escola, e compreendesse o seu modo de pensar, propondo situações de

aprendizagem através de jogos e materiais existentes no meio. Via a Educação como algo que

deve estimular a procura do conhecimento, onde o professor não deveria pensar apenas no que

a criança é, mas também no que ela poderia se tornar.

Quanto aos jogos, Piaget “[...] afirma ser o mesmo essencial na vida da criança, que

vive mergulhada em um mundo próprio, caracterizado pela abstração das coisas e pelo sonho”

(OLIVEIRA, 2002, p. 29).

Conforme a autora, ele acredita que no jogo se tem o exercício de uma atividade

lúdica, em que a criança repete uma determinada situação por puro prazer, por ter apreciado

seus defeitos. Ao se falar do brincar infantil, Piaget identifica três grandes tipos de estruturas

mentais que surgem sucessivamente de acordo com sua evolução: o exercício, o símbolo e a

regra.

a) Jogos de exercícios - Representa a forma inicial do jogo na criança e caracteriza o

período sensório-motor. A característica principal é a repetição de movimentos que exercitam

as funções, tais como: andar, correr, saltar entre outras pelo simples prazer funcional. b) O

jogo simbólico - Entra na etapa pré-operatória do desenvolvimento cognitivo. Um dos marcos

da função simbólica é a habilidade de estabelecer a diferença entre alguma coisa usada como

símbolo e o que ela representa, seu significado. c) O jogo de regras - Manifesta-se por volta

dos quatro anos, acontece um declínio nos jogos simbólicos e a criança começa a se interessar

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pelas regras. Desenvolvem-se por volta dos 7/11 anos, caracterizando o estágio operatório

concreto.

Ao observar estas estruturas mentais, entende-se que o Jogo não se constitui apenas

como uma valiosa expressão de aprendizagem, mas, também, como uma relevante condição

para o desenvolvimento infantil, já que as crianças, quando jogam, assimilam, e dessa forma,

através do lúdico podem transformar a realidade.

Nesta direção, Lev Semenovich Vygotsky, nascido em Orsha, na Rússia, morreu

jovem aos 37 anos, mas, mesmo tendo pouco tempo de vida, foi um dos teóricos mais

estudados e divulgados no mundo inteiro, sendo notado principalmente no ocidente. Ele e

seus colaboradores buscavam trabalhar a Psicologia não só como ciência mental ou

experimental, mas sim, criar um elo entre as duas, vendo o homem como um ser que tem

corpo e mente; que é biológico e social.

Ademais, valorizava muito o pensamento de que o homem como ser biológico passava

a ser um ser social e histórico, utilizando-se de instrumentos simbólicos como: a fala, o

desenho, o gesto e a memória associativa para compreender e se relacionar com o mundo.

No que se refere à aprendizagem e desenvolvimento humano Vygotsky afirma que:

O desenvolvimento se dá de fora para dentro, portanto, a aprendizagem aparece como uma coisa extremamente importante para ele na definição dos rumos do desenvolvimento. A aprendizagem é que promove o desenvolvimento (OLIVEIRA, [s.d.], p. 34).

Sobre esses dois aspectos, ele enfatiza a importância de se haver aprendizagem para

consequentemente haver desenvolvimento. É como se a aprendizagem puxasse o

desenvolvimento do sujeito, e isto também se relaciona a ideia de que o caminho do

desenvolvimento está em aberto. O fato de aprender é que vai definir por quais caminhos o

desenvolvimento vai se dar. Algo que, de acordo com ele, pode-se destacar no

desenvolvimento é o brinquedo e a brincadeira.

Assim, nesse processo, em se tratando do brinquedo, ele afirma que:

É enorme a influência do brinquedo no desenvolvimento de uma criança. É no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva, ao invés de uma esfera visual externa, dependendo das motivações e tendências internas, e não por incentivos fornecidos por objetos externos (VYGOTSKY, 1989, p. 109).

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Nessa esteira, ele destacava que o brinquedo é uma importante fonte de promoção do

desenvolvimento. Com ele, a criança aprende a agir, usando a parte cognitiva que depende das

motivações vindas de dentro delas, ou seja, internas. Nessa fase de pré-escola, ela faz uma

diferenciação entre os campos de significado e de visão. Ao participar de uma situação de faz

de conta, ela encena situações extraídas de sua realidade, utilizando as regras de

comportamento que lhes são transmitidas pela sociedade, mas também se envolve em um

mundo ilusório e imaginário, onde os desejos não realizáveis podem ser realizados.

Sobre a brincadeira, Vygotsky aborda que:

[...] a brincadeira cria para as crianças uma zona de desenvolvimento proximal que não é outra coisa senão a distância entre o nível atual de desenvolvimento determinado pela capacidade de resolver um problema, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da resolução de um problema, sob a orientação de um adulto, ou de um companheiro mais capaz (WAJSKOP, 1995, p. 35).

De acordo com ele, a brincadeira favorece a autoestima das crianças, auxiliando-as a

assumir vários papéis enquanto brincam, e, contribuindo na superação de seus conflitos,

buscando ajudá-las a enfrentar novos desafios. É por meio da brincadeira que a criança se

projeta no mundo dos adultos, ensaiando comportamentos e hábitos nos quais elas ainda não

estão preparadas para tal, mas, que, graças ao brincar, são criados processos de

desenvolvimento onde o real é internalizado, promovendo o desenvolvimento cognitivo.

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CAPÍTULO II

2 O BRINCAR NA PROPOSTA DO RCNEI

Enfocando a importância e função do Referencial Curricular Nacional para a

Educação Infantil (RCNEI), onde este se apresenta como um documento que tem:

[...] um conjunto de referências e orientações pedagógicas que visam a contribuir com a implantação ou implementação de práticas educativas de qualidade que possam promover e ampliar as condições necessárias para o exercício da cidadania das crianças brasileiras (BRASIL, 1998, p. 13, v.1).

Ele é um documento proposto pelo Ministério da Educação e do Desporto,

estabelecido com a colaboração dos Estados, Distrito Federal e Municípios a fim de nortear os

currículos e seus conteúdos, buscando uma formação básica comum e de qualidade.

Considera as áreas afetivas, emocionais, sociais e cognitivas das crianças de 0 a 5 anos (de

acordo com a nova lei), para que a qualidade das experiências oferecidas auxiliem as mesmas

no exercício de sua cidadania.

Sabendo que a sociedade brasileira apresenta uma grande diversidade e pluralidade, o

RCNEI enfoca que:

[...] é uma proposta aberta, flexível e não obrigatória, que poderá subsidiar os sistemas educacionais, que assim o desejarem, na elaboração ou implementação de programas e currículos condizentes com suas realidades e singularidades (BRASIL, 1998, p. 14, v.1).

O referido documento busca dar subsídios para os sujeitos envolvidos no processo de

educação da criança que são os pais, professores técnicos e funcionários, orientando-os na

elaboração de programas e currículos que serão propostos às crianças brasileiras de acordo

com suas realidades e necessidades. Valendo salientar que esse referencial não tem o poder de

resolver problemas mais amplos que podem não garantir uma educação de qualidade como,

por exemplo: a falta de políticas públicas para e Educação, as decisões de ordem

orçamentária, espaços físicos inadequados, materiais de qualidade e quantidade insuficientes e

etc.

Sobre o ato de Brincar, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil

(RCNEI) dá grande ênfase à sua importância para o desenvolvimento das crianças em fase

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pré-escolar. Nas brincadeiras, as crianças podem desenvolver certas capacidades importantes

como: a atenção, a memória, a imitação e a imaginação. Além de adquirir algumas

capacidades de socialização através da interação e a utilização de regras e papéis sociais,

como por exemplo, quando elas brincam de ser a mãe, o pai, o filho, os heróis e vilões das

histórias ou desenhos e etc. Ao representar tais papéis estão utilizando sua fantasia e

imaginação, isso faz com que elas entendam mais sobre o eu e os outros, além de ter uma

melhor relação com as pessoas.

A brincadeira favorece a autoestima das crianças, auxiliando-as a superar possíveis

conflitos com pessoas que as rodeiam. RCNEI afirma que: “[...] pelas oportunidades de

vivenciar brincadeiras imaginativas e criadas por elas mesmas, as crianças podem acionar

seus pensamentos para a resolução de problemas que lhe são importantes e significativos”

(BRASIL, 1998, p. 28, v. 1).

Quando a brincadeira é propiciada à criança, ela cria um espaço onde as mesmas

podem ter uma experiência de mundo e internalizá-la, buscando assim uma melhor

compreensão das pessoas, dos sentimentos e de outros conhecimentos. O ambiente físico onde

a brincadeira é realizada também contribui nesse processo; nele deve haver uma certa

quantidade e qualidade de objetos, brinquedos e móveis que favoreçam a ludicidade e a

aprendizagem.

É necessário pois, que o professor organize situações onde as brincadeiras sejam

realizadas de modo que as crianças utilizem espaços e materiais para que engatinhem, rolem,

corram, sentem-se, subam obstáculos, pulem, empurrem, agarrem objetos de diferentes

formas e espessuras, vivenciando assim desafios corporais. Além desses, os pequeninos

devem ter contato através das brincadeiras com elementos da natureza como a água, areia,

terra, pedras, argila, plantas, folhas, sementes e etc.

Nas brincadeiras de faz de conta, é interessante que haja no ambiente escolar objeto

como: panos coloridos, cordas, caixas de papelão, espelho, roupas velhas, fantasias,

acessórios para casinha como uma pequena cama, fogão, sofá, mesa entre outros. Esse espaço

de ludicidade e aprendizagem da criança deve ser usado, arrumado e montado, de forma

correta, por parte delas e dos professores. Devem brincar com liberdade, espalhando-os pela

sala, mas depois, junto com o adulto rearrumar o material, fazendo assim com que mais

adiante possam organizar, de maneira mais independente, o seu espaço de brincar.

Ainda, no que se refere ao faz de conta, segundo o RCNEI (BRASIL, 1998, p. 50, v.

2): “[...] o professor poderá organizar situações nas quais as crianças conversem sobre suas

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brincadeiras, lembrem-se dos papéis assumidos por si e pelos colegas, dos materiais e

brinquedos usados, assim como do enredo e da sequência de ações”.

Nessas situações em que as crianças lembram sobre o que, com quem e como

brincaram, elas passam a organizar de uma melhor forma os seus pensamentos e emoções,

relatando o que foi bom e o que se pode melhorar, buscando, assim, o enriquecimento da

brincadeira. É necessário que o educador tenha consciência de que na brincadeira a criança

deve ter sua espontaneidade e imaginação valorizada. Não sendo interessante nesses

momentos do brincar serem atribuídas determinadas aprendizagens relativas a conceitos,

procedimentos e conteúdos. Pois, se utilizada dessa forma, a brincadeira pode tornar-se algo

onde as mesmas não estarão brincando livremente e com prazer. Para as atividades didáticas

podem ser utilizados os jogos, especialmente aqueles que possuem regras porque, esses

auxiliam professores e crianças a atingir os objetivos didáticos em questão.

2.1 O PAPEL DO PROFESSOR COMO CO-ATOR DAS BRINCADEIRAS

A forma primordial de construção do conhecimento pela criança é através do jogo. É

pelo que chamamos de brincadeira que ela aprende a conhecer a si própria, as pessoas que as

cercam, a relação que as pessoas têm e os papéis que elas assumem. Os jogos se configuram,

também, nas várias brincadeiras infantis que fazem parte da infância, nas diferentes culturas.

Segundo Kishimoto (1998, p. 23):

O jogo não é qualquer tipo de interação, mas sim, uma atividade que tem como traço fundamental os papéis sociais, e as ações destes derivados, em estreita ligação funcional com as motivações e o aspecto propriamente técnico-operativo da atividade.

Através do jogo, a criança estabelece relações sociais que favorecem o seu

conhecimento e sua aprendizagem. Desenvolve a memória, linguagem, atenção e percepção.

É ainda por meio dele que ela, além de vivenciar uma situação imaginária, também adquire a

capacidade de se submeter às regras impostas pelo jogo, e é dentro deste processo que flui na

criança a ludicidade.

Os jogos e brincadeiras devem ter um lugar de destaque entre as atividades

desenvolvidas em instituições voltadas para a educação infantil, e o educador é um elemento

importante nesse sentido, pois é ele quem cria os espaços, disponibiliza materiais, participa

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das brincadeiras, ou seja, faz, juntamente com os seus educandos, a mediação da construção

do conhecimento.

Cabe ao educador valorizar a brincadeira, e perceber que ela é uma das maneiras de

transmitir divertimento, quando inserida no cotidiano das atividades escolares, facilitando a

mediação dos conteúdos principalmente na educação infantil, pois, as crianças já trazem

consigo uma diversidade de experiências lúdicas, antes utilizadas apenas fora da instituição

escolar. Ela exerce um papel muito importante na vida dos educandos, porque proporciona a

realização de atividades que motivam a aprendizagem, uma vez que, através dela, pode-se

atribuir significados com dinamismo e espontaneidade aos conteúdos trabalhados na escola.

Por meio das atividades lúdicas, as crianças descobrem o mundo que as rodeiam e aprendem

brincando.

Brincar com as crianças é uma postura fundamental em espaços educacionais, e o

educador tem a tarefa de decidir sobre a atitude adequada a cada situação, pois:

[...] ele pode desempenhar um importante papel no transcorrer das brincadeiras se consegue discernir os momentos em que deve só observar, em que deve intervir na coordenação da brincadeira, ou em que deve integrar-se como participante das mesmas (KISHIMOTO, 1998, p. 134).

Por meio das brincadeiras, o educador pode dividir os momentos com os educandos,

onde, em certas situações, ele pode deixar as crianças livres, brincando entre si com maior

autonomia, não dependendo especificamente tanto da presença do adulto. Já em outras

situações, ele pode participar dos momentos lúdicos tendo maior possibilidade de interagir

diretamente com seus discentes, não ficando apenas na postura de coordenador da brincadeira,

mas envolvendo-se nela.

Os profissionais da Educação Infantil podem compartilhar da brincadeira das crianças,

fornecendo-lhes espaço, tempo e material na medida em que são solicitados. Segundo o

RCNEI:

[...] o educador deve estar atento para que não imponha seus desejos e vontades. Sua participação direta pode ser a de cumprir um papel definido pelas crianças, como por exemplo, ser o doente em uma brincadeira de médico; quando sua participação não é direta, pode fazer algumas perguntas, sempre dirigidas a uma ou duas crianças, colocando-lhes novos problemas e hipóteses a ser solucionados (BRASIL, 1998, p. 51).

O professor deve observar os temas, as imagens, brinquedos e materiais que deve

propor de acordo com a escuta dos interesses da criança, para que assim, ela possa vivenciar

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diferentes papéis nas tramas e enredos criados pelas mesmas, como também na apresentação

de um novo jogo de regra ou de uma brincadeira tradicional.

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CAPÍTULO III

3 METODOLOGIA

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO

Relatando nossa experiência de campo, vimos a importância hoje da creche/escola

estar voltada para as ações do brincar, tendo como ponto de partida o processo de construção

de conhecimento da criança.

A nossa experiência foi realizada na Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino

Fundamental Pe. Abdias Leal, localizada na Av. São Sebastião s/n no município de Alagoa

Nova – PB. Está situada numa localidade desfavorecida, periférica, mas atualmente suas

condições físicas favorecem para que haja um bom funcionamento, pois, no início de 2010 a

mesma passou por uma reforma, ampliando algumas salas de aula, melhorando os banheiros e

a parte elétrica, além da construção de rampas para os alunos com necessidades especiais.

A mesma recebeu do Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE), uma determinada

quantia que serviu para comprar equipamentos como: televisão, rádio, aparelho de DVD,

geladeira, fogão, câmera digital, entre outros. Em relação aos materiais didáticos que eram

pouquíssimos, agora há uma maior quantidade de livros, folhas e lápis, mas ainda há a

necessidade de materiais específicos para a Educação infantil como jogos e brinquedos.

Em seu cotidiano, a instituição funciona nos dois turnos, sendo pela manhã do pré -

escolar ao 2º ano, e à tarde do 3º ano ao 5º ano. Possui 4 salas de aula, 1 cantina, 2 banheiros e

uma secretaria. Futuramente há um projeto para a construção de uma sala de informática,

onde serão entregues pelo governo computadores para que as crianças tenham aula gratuita de

informática.

A escola possui uma equipe pedagógica, onde algumas têm nível superior, já outras

nível médio normal, conforme a tabela I abaixo:

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Tabela I: Equipe pedagógica

Equipe pedagógica Quantidade Formação

Professoras 6 Superior

Professoras 3 Médio normal

Psicóloga 1 Superior

Supervisora 1 Superior

Orientadora 1 Superior

Diretora 1 Cursando Pedagogia

Secretária 1 Superior

Fonte: Secretaria da Escola

Vale salientar que exceto as Professoras, a gestora e a Secretária, os demais só

comparecem uma vez por mês na escola.

A instituição também é composta por funcionários que comparecem todos os dias e

que atuam no apoio, como se verifica na tabela II:

Tabela II: Funcionários efetivos

Equipe Quantidade Observação

Vigilante 1 Vigia noturno

Ajudantes de Serviços Gerais 2 Também auxiliam na cozinha

Cozinheira (o) 2 Cozinham em turnos diferentes

Fonte: Secretaria da Escola

A pesquisa foi realizada em duas turmas de pré-II nos turnos manhã, constando de 22

crianças, à tarde funcionando com 20 crianças e dois professores das respectivas turmas.

Sendo aplicada uma entrevista com estes professores, objetivando colher informações e

concepções sobre Jogos e Brincadeiras nas suas práticas cotidianas.

De acordo com os procedimentos de coleta, optamos desenvolver uma pesquisa de

caráter qualitativo e bibliográfico, com o objetivo de compreender e interpretar os dados com

relação à importância dos jogos e brincadeiras nas salas de educação infantil.

Foram analisados os dados qualitativamente nos quais resgatamos as “falas” dos

sujeitos envolvidos (educadores) com relação ao tema que foi abordado durante a nossa

pesquisa de campo.

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3.2 ANÁLISES E DISCUSSÕES DOS DADOS DA PESQUISA

Apresentamos a seguir as análises dos questionários aplicados com duas professoras

(A e B), as quais utilizaram essa nomenclatura referente à pesquisa de campo que direcionou

o nosso Trabalho de Conclusão de Curso – TCC.

Tabela III: Como você conceitua a Brincadeira nas salas infantis?

Professora Resposta

AÉ um momento importante onde as crianças

expressam suas emoções.

BÉ um momento de descontração para as

crianças.

Ao analisarmos as primeiras respostas das professoras A e B, percebemos que ambas

veem a brincadeira como um papel importante na Educação Infantil, mas em seus diálogos

focaram só pelo aspecto da diversão, ou seja, não souberam expressar sobre o valor que a

brincadeira tem de um modo geral para o desenvolvimento integral das crianças, pois segundo

(SANTOS, 1998, p. 12):

A brincadeira é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento.

A brincadeira não é apenas um momento de descontração onde a criança expressa suas

emoções, ela vai muito além disso, pois, desenvolve o seu aspecto cognitivo, social, cultural e

psicomotor. Deve ser vivenciada principalmente pelos professores das salas infantis, cabendo

a eles propiciarem condições favoráveis para que esta aconteça em vários momentos da aula,

ajudando as crianças em seu desenvolvimento e aprendizagem. Por outro lado, contribuindo

também para que o próprio professor enriqueça suas experiências com relação ao brincar e

aprender, vendo como elas são inerentes para uma boa prática educativa, construtiva, lúdica e

criativa.

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Tabela IV: Na hora da brincadeira você acompanha as crianças?

Professora Resposta

ASempre que posso, mas, às vezes não dá,

pois tenho que dar assistência a todos.

BÀs vezes, pois tem horas que não dá para

acompanhar.

Quando interrogadas sobre o acompanhamento nas brincadeiras, as professoras

afirmaram que nem sempre têm disponibilidade em seu cotidiano de observar este momento.

Haja vista, que é nessas vivências que o professor tem a oportunidade de observar os papéis

que as crianças assumem e suas linguagens lúdicas.

Ainda refletindo, é por meio das brincadeiras que os professores podem observar as

capacidades da criança utilizar uma linguagem criativa e simbólica, de se relacionar com seus

pares e de utilizar regras, como também observar os aspectos emocionais e afetivos que, por

muitas vezes, passam desapercebidos pelos docentes.

De acordo com o RCNEI, aponta que:

É por meio das brincadeiras que os professores podem observar e constituir uma visão dos processos de desenvolvimento das crianças em conjunto e de cada uma em particular, registrando suas capacidades de uso das linguagens, assim como, de suas capacidades sociais e dos recursos afetivos e emocionais que dispõem (BRASIL, 1998, p. 28, v. 1).�

Dessa forma refletimos o RCNEI em que surge a necessidade de uma maior atenção e

participação nas brincadeiras infantis, ou seja, o professor torna-se co-ator das brincadeiras,

quando interage e participa com as crianças.

Tabela V: De que forma as crianças utilizam os gestos e a linguagem nas suas

brincadeiras?

Professora Resposta

AConversando umas com as outras, criando

personagens, imitando pessoas e animais.

BElas utilizam muito a linguagem verbal, pois

falam muito nas brincadeiras.

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Nessa questão, a professora A expressou-se citando alguns exemplos de como as

crianças utilizam a linguagem e os gestos nas brincadeiras. Os quais foram: conversar umas

com as outras, criar personagens, imitar animais e pessoas. Já a segunda entrevistada, a

professora B, direcionou-se apenas à linguagem verbal que as crianças expressam na

brincadeira, sem exemplificá-la.

No que se refere à linguagem e os gestos nas brincadeiras, podemos enfocar que:

O faz de conta permite não só a entrada no imaginário, mas a expressão de regras implícitas que se materializam nos temas das brincadeiras. É importante registrar que o conteúdo do imaginário provém de experiências anteriores adquiridas pelas crianças, em diferentes contextos (KISHIMOTO, 1998, p. 39).

Ao brincar, as crianças usam suas linguagens e gestos para se expressar. Elas viajam

no mundo do faz de conta e amadurecem capacidades tais como: memória, imaginação e

imitação. Praticam ações que são realizadas pelos adultos (ser pai, mãe) ou personagens

fictícios. Essa brincadeira é um recurso fundamental no processo de construção do sujeito,

aumentando sua comunicação e acrescentando suas experiências com a das outras crianças.

Cabe ao professor estar atento às brincadeiras para que observe melhor as formas de

linguagens e gestos que as crianças exprimem a fim de que em sua prática possa compreendê-

las e auxiliar no aprendizado e desenvolvimento das mesmas.

Tabela VI: Quais as condições de espaços e materiais oferecidos às crianças nas suas

brincadeiras?

Professora Resposta

AO espaço é pequeno e são poucos os

materiais que podemos oferecer.

BA escola oferece poucos materiais e

brinquedos, além do pequeno espaço.

Referindo-se a essa questão, as professoras são unânimes em dizer que os espaços,

materiais e brinquedos não são suficientes para as crianças.

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Sabemos que a instituição escolar tem grande responsabilidade no oferecimento de

espaços e materiais para as crianças, mas o professor também deve ter sua parcela de

contribuição nesse assunto, pois, como afirma o RCNEI (BRASIL, 1998, p. 28, v. 1):

É o adulto, na figura do professor, portanto, que, na instituição infantil, ajuda a estruturar o campo das brincadeiras na vida das crianças. Consequentemente é ele quem organiza sua base estrutural, por meio da oferta de determinados objetos, fantasias, brinquedos ou jogos, da delimitação e arranjo dos espaços e do tempo para brincar.

Com base na afirmação acima, podemos observar que o professor, usando sua

criatividade pode criar um ambiente, onde a criança possa fazer suas escolhas, levantar

hipóteses, testar e errar, utilizar movimentos corporais e expressões gestuais, além de explorar

maior quantidade possível de materiais e brinquedos.

Para tanto, ele deve potencializar esse espaço a fim de que a criança tenha frequentes

oportunidades de brincar. Assim, ao organizar sua rotina de trabalho, o professor deve

assegurar, em suas práticas, atividades voltadas para a brincadeira, tornando para as crianças

espaços cheios de culturas, representando assim o imaginário, a poesia, a arte e a

expressividade de movimentos. (Anexo)

Tabela VII: Quais os temas e enredos que podem ser vivenciados pelas crianças em

suas brincadeiras?

Professora Resposta

AElas brincam de casinha, escolinha, faz de

conta, cantigas de roda, entre outros.

BElas brincam de cantor, modelo, casinha,

escolinha e brincadeiras de roda.

Nessa questão, registra-se que as professoras analisam os tipos de brincadeiras e os

papéis assumidos pelas crianças. Observa-se a importância dessas vivências, pois as crianças

estarão desenvolvendo sua oralidade, socialização e criatividade.

Nesse contexto Vygotsky enfatiza que:

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A ação da criança no contexto imaginário, a criação das intenções voluntárias e a representação da vida real aparecem no brinquedo, constituindo-se no mais alto nível de desenvolvimento, ou seja, a criança desenvolve-se essencialmente, por meio da atividade proporcionada pelo brinquedo (LOUZADA, 1999, p. 55).

Refletindo, as linguagens lúdicas da criança quando brinca, ela constrói um mundo

imaginário, lúdico, ou seja, quando brinca não está preocupada com a aquisição de

conhecimento ou desenvolvimento de qualquer habilidade mental ou física, brinca com prazer

e criatividade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final deste trabalho, tivemos a oportunidade, durante nosso campo de estágio:

Docência da Prática IV, na referida Escola Municipal, de analisar e identificar através do

questionário aplicado, que a utilização de Jogos e brincadeiras nas salas infantis vem

apresentando certas lacunas nas suas vivências lúdicas, não sendo dada a devida importância

no que diz respeito aos seus benefícios para o desenvolvimento físico, psicomotor, afetivo e

intelectual das crianças.

Os dados analisados indicam que os professores, consideram os jogos e brincadeiras

como uma atividade livre que proporciona prazer à criança. E, nesse sentido, fazem uma

distinção entre o brincar (atividade espontânea) e o aprender (atividade orientada), ao mesmo

tempo em que, apesar de ressaltarem a importância da participação do educador nas

brincadeiras infantis, isso ainda não se tornou realidade no cotidiano das salas infantis.

Refletindo, a participação dos professores como co-atores das brincadeiras, faz-se

necessário que eles deem oportunidades a si mesmos e às crianças com as quais convivem,

oportunidades estas de viver, jogar, brincar e aprender de forma criativa, prazerosa e

participativa. Que as crianças através do jogar e do brincar ampliem suas linguagens

expressivas, compreendendo cada vez melhor a si, aos outros e ao mundo que as cerca.

É importante esclarecer que não é papel apenas dos professores propiciarem essas

vivências, mas também das Instituições infantis como um todo. Creches e Pré-escolas devem

ter propostas pedagógicas, objetivando uma Educação infantil de qualidade, e que realmente

atenda as necessidades da criança pequena. Os Jogos e Brincadeiras precisam ser

considerados, no contexto educacional, como atividades sérias, contemplados no currículo

infantil, a partir do momento em que facilitam no processo de ensino e aprendizagem da

criança.

A oportunidade de rever as concepções de alguns teóricos, enfocando o papel dos

Jogos e Brincadeiras nos espaços infantis, apontando sua dimensão pedagógica e lúdica, foi

também objeto deste estudo, o que fez perceber hoje a necessidade dos professores romperem

as práticas fragmentadas da ludicidade no seu cotidiano escolar. Bem como, refletirem a

importância destes se apropriarem do conhecimento e compreensão das modalidades que os

Jogos e Brincadeiras têm seus significados e representações no imaginário da criança em seu

dia a dia.

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Conclui-se que este estudo venha contribuir para uma nova visão das práticas lúdicas

junto às professoras desta área de Educação Infantil, bem como, a superação de práticas

fragmentadas sobre o brincar na escola.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil - RCNEI. Brasília/DF: MEC/SEF, 1998.

_______. Ministério da Educação. Ação compartilhada das políticas de atenção integral à criança de zero a seis anos. Brasília/DF: MEC/SEF, 1999.

CERIZARA, Ana Beatriz. Rosseau: A Educação na Infância. São Paulo: Scipione, 1990.

CRAIDY, Carmem Maria. Educação infantil e as novas definições da legislação. São Paulo: Saraiva, 1996.

DIAS, Ana M. Iório. Conversando sobre ... as influências teóricas na educação Infantil.UNICEF. 1996.

ELIAS, Marisa Del Cioppo. Célestin Freinet: uma de atividade e cooperação. Petrópolis/RJ: Vozes, 1997.

FERRARI, Marcio. Henri Wallon: o educador integral. 2008. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/educador-integral-423298.shtml? page=2. Acesso em: 30 ago. 2011.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida (Org.). O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira, 1998.

KRAMER, Sônia. A política do pré-escolar no Brasil: a arte do disfarce. 7.ed. São Paulo: Cortez, 2003.

LOUZADA, Ana Maria. Educação Infantil: teoria e prática. Vitória: CAEPE, 1999.

MACHADO, Rose Elaine. Método dinâmico de ensino: educação infantil. São Paulo: RIDEEL, 2000.

OLIVEIRA, Marta Kohl de. Levy Vygotsky. Belo Horizonte: Cedic. [s.d.]. Coleção Grandes Pensadores.

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OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de. Educação infantil: fundamentos e métodos. 4.ed. São Paulo: Cortez, 2002.

SANTOS, Santa Marly Pires dos, et. al. O lúdico na formação do educador. 2.ed. Petrópolis/RJ: Vozes, 1998.

VYGOTSKY, Lev. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes. 1989.

WAJSKOP, Gisela. O brincar na educação infantil. Caderno de pesquisa. São Paulo: n. 92, fev. 1995.

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APÊNDICE

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA – UEPB CENTRO DE EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA

Prezada colega, peço a sua colaboração respondendo a este questionário. As suas

respostas serão usadas como subsídios para a análise do Trabalho de Conclusão de Curso –

TCC, que tem como Título: Jogos e brincadeiras: uma experiência de motivação, criatividade

e aprendizagem nas salas de educação infantil.

Agradeço desde já a sua participação

Renata Luzia da Silva.

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QUESTIONÁRIO

1) Como você conceitua a brincadeira nas salas infantis?

2 )Na hora da brincadeira você acompanha as crianças?

3) De que forma as crianças utilizam os gestos e a linguagem nas suas brincadeiras?

4) Quais as condições de espaços e materiais oferecidos as crianças nas suas

brincadeiras?

5) Quais os temas e enredos que podem ser vivenciados pelas crianças em suas

brincadeiras?

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ANEXO

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REGISTRO FOTOGRÁFICO

Brincadeira de roda

Brincadeira de faz de conta