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Solar

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IntroduçãoTanto a linguagem escrita como a linguagem oral,representam a arte de narrar algo que faz parte danatureza humana ou, ao contrário, algo que estápresente na imaginação de quem conta a história. Nocaso da escrita, a narrativa literária pode tomar aforma de romance, novela, conto ou crônica, porexemplo. Todas elas contam uma história, têm enredo(conexão entre os fatos), têm personagens para "darvida" à história, têm espaço (lugar onde os fatosocorrem), e têm tempo - passado, presente ou futuro.Normalmente, apenas um deles é escolhido. Algunsautores mesclam essa temporalidade, mostrando aevolução da história e de seus personagens ao longodos anos. Além da escolha do gênero literário tem-se,ainda, a escolha das escolas literárias. O gênero édefinido pela forma básica de apresentação do texto:uma poesia, um poema, uma crônica. As escolasliterárias são, por exemplo, o romantismo, o arcadismo,o barroco, o parnasianismo, o modernismo dentreinúmeras outras. Cada uma representa um períodohistórico e suas respectivas influências sobre o idiomafalado e escrito. Porém, independente do formato e daescola, a linguagem literária é caracterizada por regrasclaras, cujo objetivo é desenvolver, progressivamente,a competência na comunicação escrita de forma maiselaborada, estimulando o conhecimento e aapropriação de novas palavras e expressões. Dicaspara aplicar a linguagem literária: Determinar a

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finalidade do texto (entretenimento, informação,registro jornalístico, registro científico, roteiro paradramatização); Especificar o gênero literário;Especificar a escola literária; Estabelecer o tema;Levantar idéias e dados; Elaborar um rascunho: estaetapa é importante para que você aplique seusconhecimentos gramaticais, isto é, as regras quedeterminam a escrita correta, como concordânciasverbal e nominal, regência, subordinação, pontuação,parágrafo, ortografia e outros elementos igualmenteimportantes; Fazer a revisão do texto (se necessário,com a ajuda do professor); Escrever a versão final, jácom as correções. De forma geral, uma vez que oaprendizado correto da escrita literária se consolida é,automaticamente, repassado para o discurso oral. Estacompetência é fundamental quando precisamostransmitir aos outros nossas idéias, sem que osinteressados tenham lido algo sobre ela. Algunsexemplos são a exposição de trabalhos ou deresultados de pesquisas e participação em entrevistas,debates e mesas-redondas. A produção literáriabrasileira é bastante rica e variada. Grande parte delatem reconhecimento internacional, tendo sidotransformada em peças de teatro, filmes para ocinema, novela ou mini-série para a TV. Algumas obrasestão sendo adaptadas para portadores denecessidades especiais, sendo publicadas em Braille(sistema de escrita com pontos em relevo que os cegospossam ler pelo tato, permitindo-lhes que possam,

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também, escrever) ou gravadas em fitas de áudio. Emmeio a outros igualmente importantes, dois grandesautores que fazem uso da linguagem literária são:Francisco (Chico) Buarque de Holanda, com as obrasFazenda modelo (1974), Estorvo (1991), Benjamim(1995) e Budapeste 2003). Jorge Amado (1912 - 2001),cuja produção literária reúne mais de 30 títulos, dentreeles, O país do carnaval (1931); Jubiabá (1935); MarMorto (1936) e Capitães da Areia (1936). Saber falar esaber escrever seguindo as regras do idioma sãocompetências que valorizam não só o estudante, mas ofuturo profissional.

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Fernando Pessoa

Fernando Pessoa, poeta português, nasceu em Lisboaem 13 de junho de 1888. Órfão aos 2 anos de idade, amãe casou-se novamente com o cônsul português emDurban, África do Sul. Na África do Sul, Fernandofrequentou a high school de Durban e recebeu oprêmio Rainha Vitória de estilo inglês, em 1903, noexame de admissão à Universidade do Cabo da BoaEsperança. Ao regressar à Lisboa, trabalhou comotradutor e correspondente em diversas empresascomerciais; ao mesmo tempo em que se dedicavaintensamente à literatura.Matriculou-se na EscolaSuperior de Letras, mas não concluiu. Participou dapublicação de várias revistas literárias, entre elas,Orpheu.A obra de Fernando Pessoa divide-se emortônima, publicada sob seu próprio nome; eheterônima, publicada sob o nome de diferentes poetasque ele criou.São seus heterônimos: Alberto Caeiro,poeta simples e de pouca escolaridade, inspirado navida do campo e temática bucólica, que acredita no usodas sensações para relacionar-se com a natureza.Outro heterônimo é Ricardo Reis, clássico, apresentapoemas melancólicos e sóbrios, transparecendo seudesencanto com a civilização cristã do século XX. Oterceiro heterônimo é Álvaro Campos, que inicialmenteapresenta obediência aos padrões métricos fixos e suapoesia tem índole decadentista-simbolista.Posteriormente ele conhece Alberto Caeiro e este

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torna-se seu mestre, inflenciando sua produçãopoética. Álvaro passa a usar os versos livres e seuspoemas traaduzem uma inadaptação social e umprofundo sentimento de inapetência e impotênciadiante da vida. No Brasil a obra de Fernando Pessoa éencontrada em Obra Poética e contém entre outros:Mensagem; Cancioneiro; Poemas completos de AlbertoCaeiro, Odes de Ricardo Reis; Poesias de ÁlvaroCampos; Poemas dramáticos, Poemas ingleses;Inéditas; Novas Inéditas... A obra em prosa apresentamuitos textos, além do Livro do Desassossego - porBernardo Soares.Fernando Pessoa morreu em Lisboaem 30 de novembro de 1935, até hoje sua obra não foipublicada em sua totalidade, pois ele deixou cerca de27 mil papéis em um baú.Ele é considerado um dosmaiores e melhores poetas de todos os tempos.

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Poema de Fernando Pessoa

Não Sei Quantas Almas Tenho (Fernando Pessoa)

Não sei quantas almas tenho.Cada momento mudei.Continuamente me estranho.Nunca me vi nem acabei.De tanto ser, só tenho alma.Quem tem alma não atem calma.Quem vê é só o que vê, Quem sente não é quem é,Atento ao que sou e vejo, Torno-me eles e não eu.Cada meu sonho ou desejoÉ do que nasce e não meu.Sou minha própria paisagem;Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só, Não seisentir-me onde estou.Por isso, alheio, vou lendo Como páginas, meu ser. Oque sogue não prevendo, O que passou a esquecer.Noto à margem do que li O que julguei que senti.Releio e digo: “Fui eu?” Deus sabe, porque o escreveu.

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Poemas da amiga (Mário de Andrade)A tarde se deitava nos meus olhosE a fuga da hora me entregava abril,Um sabor familiar de até-logo criavaUm ar, e, não sei porque, te percebi.Voltei-me em flor.Mas era apenas tua lembrança.Estavas longe doce amiga e só vi no perfil da cidade Oarcanjo forte do arranha-céu cor de rosa,Mexendo asas azuis dentro da tarde.Quando eu morrer quero ficar,Não contem aos meus amigos,Sepultado em minha cidade, Saudade.Meus pés enterrem na rua Aurora, No Paissandudeixem meu sexo,Na Lopes Chaves a cabeça Esqueçam.No Pátio do Colégio afundemO meu coração paulistano: Um coração vivo e umdefunto Bem juntos.Escondam no Correio o ouvido Direito, o esquerdo nosTelégrafos, Quero saber da vida alheia Sereia.O nariz guardem nos rosais, A língua no alto doIpiranga Para cantar a liberdade. Saudade... Os olhos láno Jaraguá Assistirão ao que há de vir, O joelho naUniversidade, Saudade... As mãos atirem por aí, Quedesvivam como viveram, As tripas atirem pro Diabo,Que o espírito será de Deus. Adeus.

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Manuel Bandeira

Filho do engenheiro Manuel Carneiro de SousaBandeira e de sua esposa Francelina Ribeiro, era netopaterno de Antônio Herculano de Sousa Bandeira,advogado, professor da Faculdade de Direito do Recifee deputado geral na 12ª legislatura. Tendo dois tiosreconhecidamente importantes, sendo um, JoãoCarneiro de Sousa Bandeira, que foi advogado,professor de Direito e membro da Academia Brasileirade Letras e o outro, Antônio Herculano de SousaBandeira Filho, que era o irmão mais velho doengenheiro Sousa Bandeira e foi advogado, procuradorda coroa, autor de expressiva obra jurídica e foitambém Presidente das Províncias da Paraíba e deMato Grosso. Seu avô materno era Antônio José daCosta Ribeiro, advogado e político, deputado geral na17ª legislatura. Costa Ribeiro era o avô citadoemEvocação do Recife. Sua casa na rua da União éreferida no poema como "a casa de meu avô". No Riode Janeiro, para onde viajou com a família, em funçãoda profissão do pai, engenheiro civil do Ministério daViação, estudou no Colégio Pedro II (Ginásio Nacional,como o chamaram os primeiros republicanos) foi alunode Silva Ramos, de José Veríssimo e de João Ribeiro, eteve como condiscípulos Álvaro Ferdinando Sousa daSilveira, Antenor Nascentes, Castro Menezes, Lopes daCosta, Artur Moses. Em 1904 terminou o curso deHumanidades e foi para São Paulo, onde iniciou o curso

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de arquitetura na Escola Politécnica de São Paulo, queinterrompeu por causa da tuberculose. Para se tratarbuscou repouso em Campos do Jordão, Campanha eoutras localidades de clima mais ameno. Com a ajudado pai que reuniu todas as economias da família foipara a Suíça, onde esteve no Sanatório de Clavadel.Manuel Bandeira faleceu no dia 13 de outubro de 1968,com hemorragia gástrica, aos 82 anos de idade, no Riode Janeiro, e foi sepultado no mausoléu da AcademiaBrasileira de Letras, no Cemitério São João Batista, noRio de Janeiro.

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ANEL DE VIDRO

Aquele pequenino anel que tu me deste, – Ai de mim –era vidro e logo se quebrou… Assim também o eternoamor que prometeste, - Eterno! era bem pouco e cedose acabou.

Frágil penhor que foi do amor que me tiveste, Símboloda afeição que o tempo aniquilou, – Aquele pequeninoanel que tu me deste, – Ai de mim – era vidro e logo sequebrou…

Não me turbou, porém, o despeito que investeGritando maldições contra aquilo que amou. De ticonservo no peito a saudade celeste… Como tambémguardei o pó que me ficou Daquele pequenino anel quetu me deste

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A Estrela (Manuel Bandeira)

Vi uma estrela tão alta,Vi uma estrela tão fria!Vi uma estrela luzindoNa minha vida vazia.Era uma estrela tão alta!Era uma estrela tão fria!Era uma estrela sozinhaLuzindo no fim do dia.Por que da sua distânciaPara a minha companhiaNão baixava aquela estrela?Por que tão alta luzia?E ouvi-a na sombra fundaResponder que assim fazia Para dar uma esperançaMais triste ao fim do meu dia.

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Carlos Drummond de AndradeNasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 deoutubro de 1902. De uma família de fazendeiros emdecadência, estudou na cidade de Belo Horizonte ecom os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova FriburgoRJ, de onde foi expulso por "insubordinação mental".De novo em Belo Horizonte, começou a carreira deescritor como colaborador do Diário de Minas, queaglutinava os adeptos locais do incipiente movimentomodernista mineiro. Ante a insistência familiar paraque obtivesse um diploma, formou-se em farmácia nacidade de Ouro Preto em 1925. Fundou com outrosescritores A Revista, que, apesar da vida breve, foiimportante veículo de afirmação do modernismo emMinas. Ingressou no serviço público e, em 1934,transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe degabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação,até 1945. Passou depois a trabalhar no Serviço doPatrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentouem 1962. Desde 1954 colaborou como cronista noCorreio da Manhã e, a partir do início de 1969, no Jornaldo Brasil. O modernismo não chega a ser dominantenem mesmo nos primeiros livros de Drummond,Alguma poesia (1930) e Brejo das almas (1934), emque o poema-piada e a descontração sintáticapareceriam revelar o contrário. A dominante é aindividualidade do autor, poeta da ordem e daconsolidação, ainda que sempre, e fecundamente,contraditórias. Torturado pelo passado, assombrado

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com o futuro, ele se detém num presente dilaceradopor este e por aquele, testemunha lúcida de si mesmoe do transcurso dos homens, de um ponto de vistamelancólico e cético. Mas, enquanto ironiza oscostumes e a sociedade, asperamente satírico em seuamargor e desencanto, entrega-se com empenho erequinte construtivo à comunicação estética dessemodo de ser e estar. Vem daí o rigor, que beira aobsessão. O poeta trabalha sobretudo com o tempo,em sua cintilação cotidiana e subjetiva, no que destilado corrosivo. Em Sentimento do mundo (1940), em José(1942) e sobretudo em A rosa do povo (1945),Drummond lançou-se ao encontro da históriacontemporânea e da experiência coletiva, participando,solidarizando-se social e politicamente, descobrindo naluta a explicitação de sua mais íntima apreensão paracom a vida como um todo. A surpreendente sucessãode obras-primas, nesses livros, indica a plenamaturidade do poeta, mantida sempre. Várias obras dopoeta foram traduzidas para o espanhol, inglês,francês, italiano, alemão, sueco, tcheco e outraslínguas. Drummond foi seguramente, por muitasdécadas, o poeta mais influente da literatura brasileiraem seu tempo, tendo também publicado diversos livrosem prosa. Em mão contrária traduziu os seguintesautores estrangeiros: Balzac (Les Paysans, 1845; Oscamponeses), Choderlos de Laclos (Les Liaisonsdangereuses, 1782; As relações perigosas), MarcelProust (La Fugitive, 1925; A fugitiva), García Lorca

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(Doña Rosita, la soltera o el lenguaje de las flores,1935; Dona Rosita, a solteira), François Mauriac(Thérèse Desqueyroux, 1927; Uma gota de veneno) eMolière (Les Fourberies de Scapin, 1677; Artimanhas deScapino). Alvo de admiração irrestrita, tanto pela obraquanto pelo seu comportamento como escritor, CarlosDrummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro RJ, nodia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte desua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond deAndrade.

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Um pouco sobre Cecília Meireles:

Filha de Carlos Alberto de Carvalho Meireles,funcionário do Banco do Brasil, e de D. MatildeBenevides Meireles, professora municipal, CecíliaBenevides de Carvalho Meireles foi a únicasobrevivente dos quatros filhos do casal. O pai faleceutrês meses antes do seu nascimento e sua mãe quandoainda não tinha três anos. Desse modo, foi criada porsua avó, Jacinta Garcia Benevides. Concluiu o cursoprimário em 1910, na Escola Estácio de Sá, ocasião emque recebeu de Olavo Bilac, Inspetor Escolar do Rio deJaneiro, medalha de ouro por ter feito todo o curso com"distinção e louvor". Diplomou-se no Curso Normal, em1917, passou a exercer o magistério primário emescolas oficiais do antigo Distrito Federal. Dois anosdepois, em 1919, publicou seu primeiro livro depoesias, "Espectros". Seguiram-se "Nunca mais... ePoema dos Poemas", em 1923, e "Baladas para El-Rei,em 1925. Nesse meio tempo, casou-se, em 1922, como pintor português Fernando Correia Dias, com quemtem três filhas: Maria Elvira, Maria Mathilde e MariaFernanda, que se tornou uma atriz teatral consagrada.De 1930 a 1931, manteve no "Diário de Notícias" umapágina diária sobre problemas de educação. Em 1934,organizou a primeira biblioteca infantil do Rio deJaneiro, ao dirigir o Centro Infantil, que funcionoudurante quatro anos no antigo Pavilhão Mourisco, nobairro de Botafogo. Seu primeiro marido suicidou-se em

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1935. Neste mesmo ano e até 1938, passou a lecionarliteratura luso-brasileira e técnica e crítica literária, naUniversidade do Distrito Federal (hoje UFRJ). Colaborou,ainda, ativamente, de 1936 a 1938, no jornal "AManhã" e na revista "Observador Econômico". Em1940, casou-se com o professor e engenheiroagrônomo Heitor Vinícius da Silveira Grilo. O Prêmio dePoesia Olavo Bilac, que recebeu da Academia Brasileirade Letras, pelo seu livro "Viagem", em 1939, foi oprimeiro reconhecimento da alta qualidade de sua obrapoética. De fato, Cecília Meirelles ocupa lugar dedestaque entre a chamada Segunda geração domodernismo brasileiro. Aposentou-se em 1951 comodiretora de escola, porém continuou a trabalhar, comoprodutora e redatora de programas culturais, na RádioMinistério da Educação, no Rio de Janeiro (RJ). Damesma forma, manteve-se ativa e viajou por diversospaíses do mundo, ministrando conferências sobrepoesia e literatura brasileira. Recebeu diversashonrarias, como a Ordem de Mérito do Chile, e o títulode Doutora Honoris Causa da Universidade de NovaDelhi, na Índia. Recebeu o Prêmio de Tradução/Teatro,concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte,em 1962 e, no ano seguinte, ganhou o Prêmio Jabuti deTradução de Obra Literária, pelo livro "Poemas deIsrael", concedido pela Câmara Brasileira do Livro. Noano de sua morte, recebeu ainda o Jabuti de poesiapelo livro "Solombra", e, postumamente, em 1965, oPrêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de

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Letras, pelo conjunto de sua obra.

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Lua adversa (Cecília Meireles)

Tenho fases, como a lua Fases de andar escondida,fases de vir para a rua... Perdição da minha vida!Perdição da vida minha! Tenho fases de ser tua, tenhooutras de ser sozinha.

Fases que vão e vêm, no secreto calendário que umastrólogo arbitrário inventou para meu uso.

E roda a melancolia seu interminável fuso! Não meencontro com ninguém (tenho fases como a lua...) Nodia de alguém ser meu não é dia de eu ser sua... E,quando chega esse dia, o outro desapareceu...

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Retrato (Cecília Meireles) Eu não tinha este rosto de hoje, Assim calmo, assim

triste, assim magro, Nem estes olhos tão vazios, Nem olábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força, Tão paradas efrias e mortas; Eu não tinha este coração Que nem se

mostra.

Eu não dei por esta mudança, Tão simples, tão certa,tão fácil: - Em que espelho ficou perdida a minha face?

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Um pouco sobre Ronald de Carvalho:

Nascido no Rio de Janeiro, em 1893, cidade onderealizou os seus estudos, inclusive os de direito, aítambém faleceu em 1935, vítima de um desastre deautomóvel, ocupando na ocasião o cargo de Secretárioda Presidência da República. Estudou também naEuropa e, seguindo a carreira diplomática, esteve nosmais altos postos possibilitados pelo Itamarati. ComLuís de Montalvor, fundou a revista "Orfeu", queadotava como nomes tutelares Camilo Pessanha,Verlaine e Malharmé, de um lado, e de outro, WaltWhitman, Marinetti e Picasso. Participou da Semana deArte Moderna, tendo declamado no palco do TeatroMunicipal, além dos seus versos de Manuel Bandeira ede Ribeiro Couto. O poeta dedicou-se ao ensaísmo, àcrítica, aos estudos de história da literatura e dosproblemas brasileiros, estéticos e políticos.

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MEIO –DIA (Ronald de Carvalho)

Choque de claridades Palmas paradas Brilhos saltandonas pedras enxutas. Batendo de chofre na luz asandorinhas levam o sol na ponta das asas!

Inscrição para o corpo de uma mulher virgem teucorpo foi como a noite no alto da montanha, a noitecheia de papoulas, a noite cheia de mato fresco evozes silvestres.

Teu corpo foi úmido como as plantas que nascem pelochão, como as avencas alongadas sobre os rios, comoo ar arrepiado e subtil antes da chuva.

Teu corpo foi misterioso como um Valle, como umValle cheio de silencio. Teu corpo foi inútil como umlongo dia de tédio...

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Épura (Ronald de Carvalho)

Geometrias, imaginações destes caminhos da minhaterra! Curvas de trilhas, triângulos de asas, bolas decor...

Círculos de sombras agachadas entre as árvores,cilindros de troncos embebidos na luz.

Geometrias, imaginações destes caminhos da minhaterra!

Melancolicamente, nesta alegria geométrica, pingandobilhas polidas, o leque das bananeiras abana o ar damanhã .

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Carlos Drummond de Andrade

Nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 deoutubro de 1902. De uma família de fazendeiros emdecadência, estudou na cidade de Belo Horizonte ecom os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova FriburgoRJ, de onde foi expulso por "insubordinação mental".De novo em Belo Horizonte, começou a carreira deescritor como colaborador do Diário de Minas, queaglutinava os adeptos locais do incipiente movimentomodernista mineiro. Ante a insistência familiar paraque obtivesse um diploma, formou-se em farmácia nacidade de Ouro Preto em 1925. Fundou com outrosescritores A Revista, que, apesar da vida breve, foiimportante veículo de afirmação do modernismo emMinas. Ingressou no serviço público e, em 1934,transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe degabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação,até 1945. Passou depois a trabalhar no Serviço doPatrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentouem 1962. Desde 1954 colaborou como cronista noCorreio da Manhã e, a partir do início de 1969, no Jornaldo Brasil. O modernismo não chega a ser dominantenem mesmo nos primeiros livros de Drummond,Alguma poesia (1930) e Brejo das almas (1934), emque o poema-piada e a descontração sintáticapareceriam revelar o contrário. A dominante é aindividualidade do autor, poeta da ordem e daconsolidação, ainda que sempre, e fecundamente,

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contraditórias. Torturado pelo passado, assombradocom o futuro, ele se detém num presente dilaceradopor este e por aquele, testemunha lúcida de si mesmoe do transcurso dos homens, de um ponto de vistamelancólico e cético. Mas, enquanto ironiza oscostumes e a sociedade, asperamente satírico em seuamargor e desencanto, entrega-se com empenho erequinte construtivo à comunicação estética dessemodo de ser e estar. Vem daí o rigor, que beira aobsessão. O poeta trabalha sobretudo com o tempo,em sua cintilação cotidiana e subjetiva, no que destilado corrosivo. Em Sentimento do mundo (1940), em José(1942) e sobretudo em A rosa do povo (1945),Drummond lançou-se ao encontro da históriacontemporânea e da experiência coletiva, participando,solidarizando-se social e politicamente, descobrindo naluta a explicitação de sua mais íntima apreensão paracom a vida como um todo. A surpreendente sucessãode obras-primas, nesses livros, indica a plenamaturidade do poeta, mantida sempre. Várias obras dopoeta foram traduzidas para o espanhol, inglês,francês, italiano, alemão, sueco, tcheco e outraslínguas. Drummond foi seguramente, por muitasdécadas, o poeta mais influente da literatura brasileiraem seu tempo, tendo também publicado diversos livrosem prosa. Em mão contrária traduziu os seguintesautores estrangeiros: Balzac (Les Paysans, 1845; Oscamponeses), Choderlos de Laclos (Les Liaisonsdangereuses, 1782; As relações perigosas), Marcel

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Proust (La Fugitive, 1925; A fugitiva), García Lorca(Doña Rosita, la soltera o el lenguaje de las flores,1935; Dona Rosita, a solteira), François Mauriac(Thérèse Desqueyroux, 1927; Uma gota de veneno) eMolière (Les Fourberies de Scapin, 1677; Artimanhas deScapino). Alvo de admiração irrestrita, tanto pela obraquanto pelo seu comportamento como escritor, CarlosDrummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro RJ, nodia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte desua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond deAndrade. [20:34:14] Rodrigo Freitas: Carlos Drummondde Andrade

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Resíduo (Carlos Drummond de Andrade)

(...) Pois de tudo fica um pouco. Fica um pouco de teuqueixo no queixo de tua filha. De teu áspero silêncioum pouco ficou, um pouco nos muros zangados, nasfolhas, mudas, que sobem.

Ficou um pouco de tudo no pires de porcelana, dragãopartido, flor branca, ficou um pouco de ruga na vossatesta, retrato. (...)

E de tudo fica um pouco. Oh abre os vidros de loção eabafa o insuportável mau cheiro da memória.

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Não deixe o amor passar (Carlos Drummond de Andrade) Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seucoração parar de funcionar por alguns segundos, presteatenção: pode ser a pessoa mais importante da suavida. Se os olhares se cruzarem e, neste momento,houver omesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode sera pessoa que você está esperando desde o dia em quenasceu. Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo forapaixonante, e os olhos se encherem d’água nestemomento, perceba: existe algo mágico entre vocês. Seo primeiro e o último pensamento do seu dia for essapessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar ocoração, agradeça: Deus te mandou um presente: OAmor. Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que asloucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhorcoisa da vida: O AMOR.

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Conclusao

Concluímos que o Modernismo no Brasil deu inicioentre 1910 e durou, aproximadamente até os anos 50.Três de seus principais precursores foram AnitaMalfatti, Lazar Segall e Victor Brecheret, advindos deuma formação artística européia por meio da releituradaqual, puderam propor novos padrões estéticos paraa arte brasileira, até então, desprovida de um caráterpropriamente nacional, causando profundoestranhamento no meio artístico habituado aosacademicismos copiados de fora.No meio do Modernismo tivemos a Primeira GuerraMundial, que terminou por surtir no mundo e claro noBrasil principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro,umsurto de industrialização que obrigava a umatransformação do pensamento social.O Modernismo brasileiro, características essas que dãoa tônica de qual o enfoque esses artistas buscavam,grosso modo, para seus trabalhos, num anseio derevelar a verdadeira face da nação.