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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Modelo do Diamante Nacional de Porter
VANTAGEM COMPETITIVA: PRECEDENTES TEÓRICOS DA ANÁLISE DO DIAMANTE NACIONAL
DE PORTER
PAULO DE SOUZA NUNES FILHO
Dissertação apresentada à Escola de Administração – Núcleo de Pós-graduação NPGA, da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Administração .
Salvador - Brasil
2006
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
ii
VANTAGEM COMPETITIVA: PRECEDENTES TEÓRICOS DA ANÁLISE DO DIAMANTE NACIONAL
DE PORTER
PAULO DE SOUZA NUNES FILHO
Orientador : Prof. Dr. Amílcar Baiardi
Dissertação apresentada à Escola de Administração – Núcleo de Pós-graduação NPGA, da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Administração .
Salvador – Brasil
2006
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
iii
Escola de Administração - UFBA
N972 Nunes Filho, Paulo de Souza.
Vantagem competitiva: precedentes teóricos da análise do diamante nacional de Porter. / Paulo de Souza Nunes Filho. – 2006.
193 f. Orientador: Prof. Dr. Amílcar Baiardi. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da
Bahia. Escola de Administração, 2006. 1.Desenvolvimento econômico. 2. Concorrência. 3.
Política industrial. 4. Porter, Michael. I. Baiardi, Amílcar. II. Universidade Federal da Bahia. Escola de Administração. III. Título.
338.9 CDD 20. ed.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO NPGA – NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO
VANTAGEM COMPETITIVA: PRECEDENTES TEÓRICOS DA ANÁLISE DO DIAMANTE NACIONAL
DE PORTER
PAULO DE SOUZA NUNES FILHO
Banca Examinadora :
__________________________________________________________ Amílcar Baiardi – Orientador Doutor em Ciências Humanas, Universidade de Campinas (UNICAMP) Universidade Federal da Bahia (UFBA)
__________________________________________________________ Fernando Pedrão Doutor em Economia, Universidade Federal da Bahia (UFBA) Universidade Federal da Bahia (UFBA)
__________________________________________________________ Armando Barros de Castro Doutor em Economia, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP) Fundação Getúlio Vargas (FGV)
SALVADOR
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
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2006
Para meus pais, meus irmãos, minha esposa Meire e meu filho Gustavo.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
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AGRADECIMENTOS
”Agradeço a Deus por iluminar meu caminho e fazer-me perseverar nos momentos difíceis ”
”Agradeço ao Prof. Amílcar Baiardi por sua orientação e por acreditar que essa jornada seria possível”
”Agradeço também, a todos os amigos que puderam colaborar nesse processo de construção, em especial aos Profs. Edelvino Góes e Jair Sento-Sé, cuja amizade e
solidariedade são inestimáveis ”
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Modelo do Diamante Nacional de Porter
EPÍGRAFE
”Agradeço a Deus por iluminar meu caminho e fazer-me perseverar nos momentos difíceis ”
”Agradeço também, a todos os amigos que puderam colaborar nesse processo de construção, em especial aos Profs. Edelvino Góes e Jair Sento-Sé, cuja amizade e
solidariedade são inestimáveis ”
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Modelo do Diamante Nacional de Porter
SUMÁRIO
Página
· LISTA DE FIGURAS........................................................................................... 11
· LISTA DE QUADROS ........................................................................................ 12
· LISTA DE TABELAS.......................................................................................... 13
· LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS........................................................... 14
· RESUMO ............................................................................................................. 15
· ABSTRACT......................................................................................................... 16
· APRESENTAÇÃO.............................................................................................. 17
· CAPÍTULO 01 – Referencial Teórico e Metodologia.................................
1.1 Introdução....................................................................................................... 19
1.2 A definição do objeto de estudo................................................................. 21
1.3 As justificativas ............................................................................................. 22
1.4 Os objetivos................................................................................................... 23
1.5 As escolhas teóricas e metodológicas...................................................... 23
· CAPÍTULO 02 – Da Vantagem Comparativa à Competitiva....................
2.1 O Capitalismo como começo...................................................................... 43
2.1.1 O sistema de produção capitalista..................................................... 43
2.1.2 Primeiras idéias sobre o sistema econômico .................................. 48
2.2 Smith e Ricardo – Vantagens Absolutas e Comparativas....................... 55
2.2.1 Adam Smith e as Vantagens Absolutas ............................................ 55
2.2.2 David Ricardo e as Vantagens Comparativas ................................. 56
2.2.3 As Vantagens Comparativas e as Teorias de Comércio
Internacional........................................................................................... 59
2.3 As Vantagens e o seu lócus ........................................................................ 63
2.3.1 Os conceitos de Região / Território ................................................... 63
2.3.2 Os Distritos Marshallianos................................................................... 67
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2.4 Abordagens marxistas sobre a divisão internacional do trabalho
e sobre o intercâmbio desigual.................................................................. 72
2.4.1 A obtenção de vantagens através da inovação tecnológica........... 72
2.4.2 Che Guevara, a valorização do capital e o intercâmbio desigual .. 75
2.5 A Competitividade e suas abordagens...................................................... 78
2.5.1 Conceitos e divergências.................................................................... 78
2.5.2 Competitividade Sistêmica................................................................. 85
· CAPÍTULO 03 – Vantagens e Inovação .......................................................
3.1 O Pensamento de Schumpeter: Inovação, Crédito e Destruição
Criativa .......................................................................................................... 90
3.1.1 A concepção do equilíbrio de Walras como início ........................... 90
3.1.2 Teoria do Desenvolvimento Econômico (TDE): Inovação,
Crédito e Destruição Criativa ......................................................... 94
3.2 A transição de Schumpeter para os Neo-schumpeterianos:
Rosenberg, Vernon, Freeman, Nelson & Winter e Dosi.......................... 99
· CAPÍTULO 04 – Vantagens Competitivas e seus Determinantes.........
4.1 As Vantagens Competitivas e o cenário atual.......................................... 107
4.1.1 Globalização: O discurso e o conceito .............................................. 108
4.1.2 A Crítica de Chesnais sobre a Mundialização do Capital............... 110
4.1.3 A teoria da produção internacional: O esforço nas últimas
décadas ................................................................................................. 118
4.2 O modelo do Diamante Nacional de Porter.............................................. 123
4.2.1 A Vantagem Competitiva do Estado ................................................. 123
4.2.2 Condições de Fatores ......................................................................... 129
4.2.3 Condições de Demanda ..................................................................... 133
4.2.4 Industrias Correlatas e de Apoio ........................................................ 138
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4.2.5 Estratégia, Estrutura e Rivalidade ...................................................... 140
4.2.6 O Papel do Acaso e do Governo........................................................ 146
· CAPÍTULO 05 – Vantagens Competitivas: Criticas ao Modelo de Porter
5.1 Limites explicativos, deficiências e lacunas do modelo.......................... 150
5.2 A contribuição de Narula - Investment Development Path....................... 151
5.3 A crítica de Omar Aktouf.............................................................................. 164
5.4 Analise crítica da obra “Vantagens Competitiva das Nações” e
do modelo do “Diamante Nacional” de Michael Porter ........................... 167
· CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 170
· REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................. 172
· ANEXOS.............................................................................................................. 180
A – Livros publicados por Michael Porter (1976 – 2006) .............................. 180
B – Artigos publicados por Michael Porter (1976 – 2006) ............................ 182
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LISTA DE FIGURAS
Página
· FIGURA 01 : Modelo de Análise.................................................................... 39
· FIGURA 02 : Diamante Nacional – Sistema Completo..................................... 40
· FIGURA 03 : Espiral de crescimento, segundo Adam Smith ............................ 54
· FIGURA 04 : Comparativo Vantagens Absolutas versus Comparativas .............. 58
· FIGURA 05 : Modelos de crescimento baseados no conceito de vantagens....... 62
· FIGURA 06 : Fatores que influenciam a localização de indústrias ..................... 70
· FIGURA 07 : Modelo Estrutura – Conduta – Desempenho ............................... 86
· FIGURA 08 : Classificação das inovações, segundo Schumpeter ..................... 95
· FIGURA 09 : Posição competitiva de um Estado............................................. 124
· FIGURA 10 : Determinantes da vantagem competitiva de um Estado ................. 130
· FIGURA 11 : Diamante Nacional – Sistema completo...................................... 146
· FIGURA 12 : Desenvolvimento da vantagem tecnológica nacional: O papel
Da tecnologia acumulada.......................................................... 154
· FIGURA 13 : Estágio 01: Investment Development Path................................... 156
· FIGURA 14 : Estágio 02: Investment Development Path................................... 157
· FIGURA 15 : Estágio 03: Investment Development Path................................... 159
· FIGURA 16 : Estágio 04: Investment Development Path................................... 160
· FIGURA 17 : Estágio 05: Investment Development Path................................... 161
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LISTA DE QUADROS
Página
· QUADRO 01 : Definições de competitividade – Conceito da firma..................... 80
· QUADRO 02 : Definições de competitividade – Comércio internacional............. 81
· QUADRO 03 : Definições de competitividade – Bem estar econômico.............. 81
· QUADRO 04 : Condicionantes da competitividade internacional ....................... 88
· QUADRO 05 : Classificação de Riqueza Social, segundo Walras .................... 91
· QUADRO 06 : Etapas da teoria do equilíbrio, segundo Walras ......................... 92
· QUADRO 07 : Agentes no sistema econômico, segundo Walras ..................... 92
· QUADRO 08 : Estratégias tecnológicas nas empresas, segundo Freeman ....... 102
· QUADRO 09 : Classificação das condições de fatores .................................... 131
· QUADRO 10 : Características das condições de demanda............................... 134
· QUADRO 11 : Características das indústrias correlatas e de apoio .................. 139
· QUADRO 12 : Fatores que influenciam nas estratégias, na estrutura e na
rivalidade de empresas............................................................ 141
· QUADRO 13 : Estágios sugeridos por Rajneesh Narula .................................. 163
· QUADRO 14 : Publicações de Michael Porter – Livros (1976 – 2006) .............. 167
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LISTA DE TABELAS
Página
· TABELA 01 : Número de horas necessárias para a produção de uma
Unidade de tecido e de vinho na Inglaterra e em Portugal.............. 57
· TABELA 02 : Quantidades de produtos primários necessários para
Adquirir um trator de 30-39 HP ................................................... 77
· TABELA 03 : Fusões e Aquisições “Transfronteiras” Totais no Mundo .............. 115
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LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS
· COMECON : Conselho de Ajuda Mútua Econômica
· C&T : Ciência & Tecnologia
· ECD : Estrutura - Conduta - Desempenho
· IDP : Investment Development Path
· IED : Investimento Externo Direto
· NICS : Newly Industrialized Countries
· OCDE : Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico
· P&D : Pesquisa & Desenvolvimento
· SCP : Structure – Conduct – Performance
· SOBEET : Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização
Econômica
· TDE : Teoria do Desenvolvimento Econômico
· UCLA : University of California, Los Angeles
· UNCTAD : United Nations Conference on Trade and Development
· WIR : World Investment Report
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RESUMO
A vantagem competitiva das nações. Apenas em seu título o tema já sugere diversidade de dimensões e possibilidades de análise dos aspectos que tornam um Estado - Nação ou uma região mais ou menos competitivo dentro de um determinado contexto econômico. Entrementes, da mesma forma que as dimensões de análise são multi-variadas, inúmeros são os questionamentos que acompanham essa temática tão intrigante. Em quais aspectos residiriam essa vantagem, ou quais fatores seriam decisivos na construção dessa vantagem. Certamente, as vantagens competitivas de países são um dos principais elementos em termos de alocação internacional da atividade econômica, atraindo fluxos de capitais. No caso do modelo de Michael Porter, o foco dessa dissertação, a competitividade é analisada em seus principais determinantes e seus inter-relacionamentos. O modelo é apresentado e criticado em suas deficiências e lacunas como um modelo insuficientemente explicativo do desenvolvimento econômico. Palavras-Chave: 1. Vantagem Competitiva 2. Desenvolvimento Econômico 3. Michael Porter
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ABSTRACT The competitive advantage of nations. The theme already suggests diversity of dimensions and many possibilities of analysis of the aspects that became a nation more or less competitive in a certain economical context. Meanwhile, in the same way the analysis dimensions are multi-varied, countless questions accompany such intriguing theme. In which aspects would lie those advantages, or which factors would be decisive in the construction of advantages. Certainly, the competitive advantages of countries are one of the main elements in terms of international allocation of economic activity and capital flows. In Michael Porter’s model, the focus of this work, the competitiveness is analyzed in their main determinants and their inter-relationships. The model is presented and criticized in their deficiencies and gaps not sufficient s an explanatory of an economic development model. Key-words: 1. Competitive Advantage 2. Economic Development 3. Michael Porter
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A P R E S E N T A Ç Ã O
O tema “Vantagem Competitiva” tem sido amplamente explorado nos últimos anos em
diversos trabalhos do meio acadêmico pelos estudiosos da área de economia e
administração. Várias vertentes teóricas e casos empíricos são exaustivamente
pesquisados desde a década de 60 e diversas questões políticas, econômicas e
organizacionais são analisadas. O trabalho de Michael Porter sobre vantagem
competitiva, aplicada a segmentos e setores, cuja abordagem trata do modo como
uma firma coloca em prática suas estratégias genéricas, tem ampla aceitação tanto
dentro quanto fora do meio acadêmico. Entretanto, quando o conceito de construção
de vantagens competitivas é aplicado ao desenvolvimento econômico de uma região
ou mesmo de uma nação, existem várias limitações e deficiências teóricas que o
modelo do “Diamante Nacional” de Porter carrega.
Esta dissertação apresenta-se em cinco capítulos, mais as considerações finais e
referências bibliográficas. O primeiro capítulo estabelece o referencial teórico e a
metodologia utilizada, definindo o objeto de estudo, as justificativas e os objetivos
desse trabalho, bem como as escolhas teóricas e metodológicas.
O segundo capítulo inicia a abordagem evolutiva teórica dos conceitos de vantagens,
analisando o Capitalismo como sistema de produção, passando por Adam Smith e
Ricardo, com seus conceitos de Vantagens Absolutas e Comparativas, e as teorias de
comércio internacional. O capítulo prossegue trabalhando os conceitos de região e
território sob a ótica econômica, enfocando as idéias de Alfred Marshall e seus
distritos industriais. Em seguida, ainda como precedente teórico à análise do modelo
de Porter, são identificadas as idéias sobre inovação tecnológica intercâmbio desigual
e a obtenção de vantagens. O capítulo encerra com a análise sobre competitividade,
seus conceitos e divergências.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
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O terceiro capítulo aprofunda a análise da relação entre a obtenção de vantagens e o
processo de inovação, abordando o pensamento de Joseph Alois Schumpeter e os
neo-schumpterianos Rosenberg, Vernon, Freeman, Dosi e Nelson & Winter.
O quarto capítulo aborda os conceitos envolvidos na discussão sobre a construção da
vantagem Competitiva, trabalhando o conceito globalização sob a ótica de Chesnais e
o esforço teórico das últimas décadas nas teorias de produção internacional. O
capítulo detalha o modelo do Diamante Nacional elaborado por Michael Porter na
década de 90, analisando os determinantes: condições de fatores, condições de
demanda, indústrias correlatas e de apoio e estratégia, estrutura e rivalidade.
O quinto capítulo realiza a crítica ao modelo proposto por Porter à luz dos precedentes
teóricos estabelecidos nos capítulos anteriores. Além das teorias utilizadas, algumas
fragilidades intrínsecas do modelo são identificadas por outros teóricos, em especial
os artigos de John Dunnig e Rajneesh Narula e Omar Aktouf. É apresentado o modelo
IDP (Investment Development Path) construído por Narula a partir dos trabalhos de
Dunning.
Nas considerações finais, além do resgate dos principais pontos desenvolvidos a
cerca da crítica do modelo de Porter, levantam-se ainda algumas questões específicas
que merecem uma maior atenção nas pesquisas acadêmicas.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
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1. REFERENCIAL TEÓRICO E METODOLOGIA 1.1- INTRODUÇÃO
O estudo sobre vantagem competitiva tem se transformado em um dos temas mais
intrigantes nas últimas décadas. Não apenas por nele estarem relacionados vários
conceitos, escolas de pensamento e ou correntes teóricas, mas, sobretudo, por ter
deixado o círculo acadêmico e se enraizado nas mais diversas áreas do conhecimento
humano e até mesmo no cotidiano das pessoas.
As novas dimensões adquiridas pelo tema proporcionaram sua popularização e em
certos aspectos sua vulgarização. Nos sítios de busca o tema é citado
aproximadamente 39 milhões de vezes (Google - 2006); e, conceitos como
competitividade, barreiras à entrada e inovação tecnológica, transbordam para áreas
como engenharia, saúde, ciências sociais, dentre outras. Essa generalidade excessiva
tem causado transtornos e pela falta de clareza gerando distorções dentro e fora das
escolas de pensamento.
Nessa miríade de conceitos, abordagens e visões, o objetivo desse trabalho é a
investigação do tema com um enfoque teórico econômico seletivo: sua origem,
evolução na teoria econômica, as diferentes abordagens das escolas de pensamento
e os conceitos atrelados. Será realizada uma aproximação histórica ao tema, iniciando
com as abordagens de Smith e Ricardo sobre as vantagens absolutas e comparativas
e chegando até as vantagens competitivas de Porter e seu modelo Diamante Nacional.
Nesse recorte, a vantagem competitiva, cujo conceito é uma construção com múltiplas
determinações, terá como ponto de partida os próprios clássicos e a formação dos
primeiros elementos que dariam forma, mais tarde, ao conceito de competição e
competitividade, até o modelo da nova organização industrial “new industrial
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
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organization”, cujos trabalhos de Edward Mason e Joe Bain 1956 sobre a estrutura da
indústria “SCP – Structure – Conduct – Performance” foram os pioneiros.
Os trabalhos de Joseph A. Schumpeter e dos neo-schumpterianos são essenciais para
o entendimento da questão da competitividade e a criação de vantagens. É importante
salientar ainda dentre outros, os trabalhos de teóricos como Vernon (1966) destacando
a relevância dos fatores específicos nacionais (locais) na construção da Vantagem
Competitiva; Hymer (1960) que observou, na década de 50, um crescimento de
empresas americanas fora dos Estados Unidos e Pavitt (1987), Cantwell e Hodson
(1990), que procuraram identificar em suas pesquisas, as ligações existentes entre a
propensão das firmas em produzir fora de suas fronteiras nacionais e as condições
competitivas oferecidas.
Nesse contexto, Michael Porter tem sido um dos autores mais citados nas últimas duas
décadas tanto no meio acadêmico quanto nos círculos de negócio sobre o tema
Vantagem Competitiva, sendo seus estudos e proposições aceitos por determinadas
áreas ou correntes teóricas e renegados por outros autores ou teóricos. Os trabalhos
iniciais de Michael Porter tiveram como base alguns elementos característicos da nova
organização industrial, avançando seus estudos a respeito do tema Vantagem
Competitiva com o modelo de desenvolvimento econômico – Diamante Nacional, foco
de nossa análise.
Apesar de seu modelo de vantagem competitiva ser extremamente citado e utilizado
como instrumento de análise em diversos trabalhos acadêmicos no Brasil. Não se
encontram, em nível nacional, análises e críticas do modelo desenvolvido por Michael
Porter (Diamante Nacional), o que, no nosso entender, justifica a elaboração desse
trabalho.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
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1.2 –A DEFINIÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO
I. O Problema
Na concepção econômica neoclássica, a vantagem competitiva – resultados
consistentemente superiores à média, é um acidente excepcional, uma imperfeição
temporária do funcionamento dos mercados. O poder das forças de concorrência,
dirigido pela mão invisível dos mercados, tende a corroer todo o lucro acima da média
por meio de mecanismos de fluxo livre de capitais à procura da máxima lucratividade
(Vasconcellos, 2000). A partir dos anos 70, diversas correntes do pensamento
econômico abordaram a questão da vantagem competitiva utilizando abordagens
conceituais diferentes.
No final da década de 70 e início dos anos 80 o pensamento porteriano (Aktouf, 2002)
começou a influenciar os escritos, o ensino, as práticas e as consultorias em
administração. Tudo começou com um artigo que imediatamente suscitou diversos
admiradores. A partir de então, as idéias de Porter se tornaram, rapidamente, os
fundamentos obrigatórios de disciplinas nos cursos de graduação e pós-graduação
em Havard. Porter é autor de 17 livros e de mais de 90 artigos publicados pelas mais
prestigiosas revistas acadêmicas.
Segundo Aktouf o “porterismo” tornou-se mais do que uma simples teoria ou um
decálogo de normas para o uso de gerentes que querem crer-se estratégicos. Seu
modelo analítico passou a ser um molde generalizado de concepção e de análise, uma
visão do mundo, uma ideologia plena e inteira.
A problemática, a princípio, consiste em nos interrogarmos acerca dos atributos ou
fatores que fizeram as idéias de Porter adquirirem tanta relevância. Pode o modelo de
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
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Porter de aquisição de vantagens competitivas pelas nações ser universal, válido em
todas as situações? Em que ele avança em relação às teorias anteriores e do que ele
não trata?
II. A pergunta
Quais são as lacunas teóricas que estão presentes no modelo teórico de Michael
Porter (Diamante Nacional) que trabalha com o conceito de Vantagem Competitiva,
tendo como fundamentos as teorias precedentes, em especial, o pensamento Neo-
schumpeteriano?
III. Os pressupostos
Michael Porter oferece a promessa de modelo de desenvolvimento econômico
baseado na construção de vantagens competitivas e uma explicação fundada sobre
uma estrutura teórica consistente e empiricamente verificável; capaz de prever o
comportamento das empresas, com isso conseguindo articular um influente paradigma
no campo da estratégia empresarial; sugerindo ainda que esse conjunto fatores,
adotados sistematicamente, fornecerá vantagem competitiva para regiões ou mesmo
países, sendo, assim, reconhecido como um modelo de desenvolvimento econômico.
Essa promessa apresenta-se convincente e crível pelo fato de Porter ter se utilizado de
conceitos e elaborações de outros teóricos da área que tratam sobre o tema e exposto
isso em uma formatação clara e acessível, tanto dentro como fora do meio acadêmico.
1.3 – AS JUSTIFICATIVAS
A ausência na literatura nacional de trabalhos críticos detalhados com foco (teses e
dissertações) no modelo de Michael Porter (Diamante Nacional – A construção de
Vantagens Competitivas) é a maior justificativa deste trabalho. A pesquisa tem o
propósito de identificar as principais lacunas e fragilidades apresentadas pela
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
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argumentação de Porter na sua proposição de obtenção de Vantagens Competitivas,
através do seu modelo Diamante Nacional, como um paradigma de desenvolvimento
econômico.
Justifica-se também pela investigação dos conceitos de vantagens desde a origem
nos clássicos até as últimas correntes mais recentes (neo-schumpetrianos /
evolucionistas), verificando as fontes do desenvolvimento das idéias de Porter. Onde
buscou inspiração? Quem são os teóricos e as escolas de pensamento que ele
utilizou?
1.4 – OS OBJETIVOS
O propósito deste trabalho de pesquisa será analisar os determinantes que compõem
o modelo do “Diamante Nacional” de Michael Porter, à luz de teorias precedentes
(conceitos e escolas de pensamento) que tratam do tema Vantagens na Competição,
em especial a escola de pensamento neo-schumpteriano. Ao se proceder assim,
estar-se-ia verificando suas deficiências enquanto modelo de análise do
desenvolvimento econômico de nações ou regiões destacando as principais críticas
de acordo com o pensamento neo-schumpetriano, as de John Dunning e Rajneesh
Narula e Omar Aktouf.
1.5 – AS ESCOLHAS TEÓRICAS METODOLÓGICAS
I. O marco teórico
O tema Vantagem Competitiva possui uma ampla abordagem teórica que se origina
nas teorias econômicas e avança pelas teorias organizacionais. Segundo Aktouf
(2000), com seus diferentes enfoques, a teoria da vantagem competitiva trabalhada
por Porter pretende impor-se como articulação entre a política, a economia e a
administração. Entretanto, Aktouf adverte que este gênero de posicionamento em
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
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relação às teorias mais gerais fica no nível dos aspectos secundários que não
acrescentam nada à questão da admissão ou da refutação do argumento central
dessa ou daquela concepção histórica, tornada clássica, e, portanto, inevitável.
Apesar desse aspecto geral identificado por Aktouf, a análise de Porter sobre a
vantagem competitiva utiliza elementos característicos da Nova Organização industrial
e da Teoria da Produção Internacional. Desse modo o escopo do projeto inicia-se com
uma evolução do conceito de vantagens absolutas e relativas de Smith e Ricardo
(Vantagens Comparativas), passando por Schumpeter (A inovação e papel do
empreendedor e a questão do crédito), a abordagem marxista sobre a assimetrias e a
construção de vantagens, Vernon e os Neo-schumpterianos e as mudanças
tecnológicas (Freeman, Nelson, Winter e Dosi). Ressalta-se ainda os trabalhos
recentes de Rosemberg, Perez & Soete sobre inovação e mudança tecnológica
vinculadas ao desenvolvimento econômico.
II. Revisão da Literatura - Breve histórico das Escolas de Pensamento
Econômico
O estudo da teoria da Economia Industrial, ao longo do tempo, não deixa margem à
dúvida quanto ao fato de que ela evoluiu com a época, o desenvolvimento tecnológico
e as ideologias vigentes em cada período, limitada pelas circunstâncias históricas de
cada momento.
Os primeiros pensadores econômicos a formularem uma literatura de maneira
ordenada e lógica sobre o sistema econômico, tentando explicar o funcionamento das
leis econômicas e do cenário institucional no qual deveriam funcionar, foram os
fisiocratas, cujo principal representante era François Quesnay.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
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Apesar dos grandes avanços dos estudos no setor agrícola, suas idéias ainda não
consideravam como relevantes, no contexto econômico, as unidades de produção
industrial que se encontravam na etapa do artesanato ou da manufatura, mas
valorizavam as atividades econômicas defendendo, o laissez faire e o laissez passer
(plena liberdade na produção e na distribuição).
Os fisiocratas abordavam todos os problemas sob o ângulo de seus efeitos na
agricultura. Eles argumentavam ser a terra a única fonte de riqueza, e o trabalho na
terra o único trabalho produtivo. As demais atividades, como a indústria e o comércio,
embora necessárias, não faziam mais que transformar ou transportar os produtos da
terra.
Posteriormente, com a ascensão da produção industrial durante a Revolução Industrial
na Inglaterra, desenvolveu-se uma nova ideologia que trouxe consigo teorias
econômicas baseadas no liberalismo clássico. Formularam-se, assim, uma série de
doutrinas que eram as "Leis Naturais da Economia".
Estas idéias eram baseadas nos fundamentos da doutrina do Laissez-Faire, segundo
o qual caberia aos governos assumirem funções de apoio às atividades lucrativas,
sem qualquer interferência nos demais assuntos econômicos. Seguindo esta linha de
pensamento estão os estudos desenvolvidos por Adam Smith, Ricardo, Malthus, Say.
Desse processo estruturado de análise da atividade econômica aparecem os
conceitos de vantagens.
Suas concepções teóricas estavam baseadas nas profundas transformações
ocorridas no ambiente econômico, caracterizado por uma divisão social entre o campo
e as atividades manufatureiras e terciárias, bem como uma dinamização dos
relacionamentos setoriais. Assim sendo, a economia adquire um caráter científico na
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
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medida em que seus representantes passam a centralizar a abordagem teórica na
questão do valor, cuja fonte original era o trabalho.
Adam Smith desenvolveu suas idéias dentro do marco do liberalismo, analisando a
situação das empresas perante o mercado, procurando explicar a formação de preços
pelas firmas com base em duas formas de organização do mercado: a Concorrência
Perfeita e o Monopólio. No sistema de Concorrência Perfeita, a empresa tem seus
preços determinados pelo mercado, através das relações entre oferta e procura, e este
preço, por sua vez, determina a produção, os custos e o lucro. Já no monopólio, a
empresa tem certo poder de determinação de preços, que se situam acima dos
preços determinados no mercado de livre concorrência.
Para David Ricardo, o livre jogo do mercado, ou seja, a lei da oferta e da procura,
assegurava não só o equilíbrio econômico, mas também o equilíbrio entre as três
classes da sociedade (proprietários fundiários, proprietários de capitais e
trabalhadores), mesmo que seus interesses pareçam contraditórios, levando ao
equilíbrio também entre nações, com o jogo dos custos comparativos e da
especialização garantindo o interesse recíproco de todos (Vantagens Comparativas).
Outro teórico clássico, Jean Baptiste Say, analisando a produção de riquezas,
desenvolve o conceito de indústria, salientando os diferentes tipos de indústria e como
elas concorrem para a produção. "Define três tipos de indústrias: a) indústria agrícola,
quando esta se limita a colher os produtos da natureza; b) indústria manufatureira,
quando ela separa, mistura e modela os produtos da natureza para adaptá-los a
nossas necessidades; c) indústria comercial ou comércio, quando coloca à nossa
disposição os objetos de que necessitamos e que, não fosse ela, estariam fora de
alcance".
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
- 27 -
A partir de 1870, com as contribuições de Stuart Mill, Marshall, Jevons e outros, são
desenvolvidas novas teorias de determinação de preços como tópico básico para a
compreensão da alocação de recursos. Estas idéias, denominadas neoclássicas,
seguem os preceitos clássicos do comportamento das firmas em relação ao mercado,
acrescentando outros elementos quanto ao comportamento da firma em relação às
suas decisões de produção.
O tema central da teoria neoclássica passou a ser a sua maneira de analisar a teoria
dos preços, fundamentada em uma teoria de valor baseada nos conceitos de utilidade,
como elemento essencial na tomada de decisões das firmas. A firma ou empresa,
desta forma, consiste em uma unidade primária, a partir da qual os recursos são
organizados com o fim de produção em busca da maximização dos lucros.
A análise da escola neoclássica caracteriza-se fundamentalmente por ser
microeconômica, baseada no comportamento dos indivíduos e nas condições de um
equilíbrio estático, estudando os grandes agregados econômicos a partir desse ponto
de vista. Tem como postulado a concorrência perfeita e a inexistência de crises
econômicas, admitidas apenas como acidentes ou conseqüências de erros.
A teoria da firma desenvolvida sobre o enfoque neoclássico, descreve o equilíbrio da
firma como função de ajustes em termos de variações em unidades produzidas (Teoria
da Produção) e de custos (Teoria dos Custos). Neste sentido, em concorrência
perfeita, o nível de produção da empresa se situaria no ponto onde os custos
marginais se igualam ao preço, assegurando lucros normais para a firma. E no
Monopólio, no ponto onde os custos marginais se igualam às receitas marginais, com
a conseqüente maximização dos lucros.
Uma outra visão derivada da clássica foi desenvolvida por Marx, e continuada por seus
seguidores denominados "Socialistas Científicos". Estes pensadores voltaram suas
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
- 28 -
observações para a Economia Industrial analisando o processo de acumulação de
capital no sistema capitalista, mostrando haver uma correlação entre a crescente
acumulação e concentração de capital e a pauperização relativa da classe operária, o
que levaria a contradições básicas do sistema.
A partir de meados da década de vinte do século passado, a teoria econômica
tradicional - a neoclássica, preocupada particularmente com a determinação de uma
posição de equilíbrio no âmbito da firma e do sistema econômico e com as premissas
de concorrência perfeita, passou a ser questionada. A suposição de maximização de
lucro como meta única do comportamento empresarial não se mostrava mais suficiente
para explicar o comportamento gerencial voltado para outros objetivos que não o lucro.
Com base nesta lógica, as críticas à análise neoclássica trouxeram uma nova visão
sobre a determinação de preços, ao questionarem as premissas básicas da
concorrência perfeita e a existência de apenas duas formas de organização do
mercado propostas pelos clássicos.
Grande parte das pesquisas foi desenvolvida com a proposta de definir melhor o
mercado, buscando uma renovação das análises sobre o tipo de organização. Alguns
autores como Sraffa criticam a economia neoclássica e os preceitos da concorrência
perfeita, questionando a sua não aplicabilidade a qualquer mercado real e salientando
a força do hábito, o conhecimento pessoal, a quantidade de produto, a proximidade do
vendedor, a existência de necessidades particulares, o prestígio de uma marca e
outros, como fatores que influenciam a decisão do consumidor, levando-o a preferir um
vendedor em detrimento de outro.
Simultaneamente surgem as teorias da concorrência imperfeita e monopolística que
emergem dos trabalhos de Robinson e Chamberlin, criticando também a concorrência
perfeita e salientando estas novas formas de competição, como conseqüência do grau
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
- 29 -
de diferenciação do produto das firmas, e pela ligação destas à grupos de
compradores por algo mais que o preço, assim como: localização do vendedor, marca,
custos de transporte e publicidade.
Neste contexto surge o enfoque de Schumpeter, que procura romper com a principal
coluna de sustentação da teoria neoclássica: a noção de equilíbrio de mercado. De
acordo com a teoria schumpteriana, há um constante desequilíbrio micro e
macroeconômico decorrente dos esforços inovativos dos agentes em concorrência
(Possas, 1996). Esse novo enfoque traz de volta ao debate as vantagens competitivas
e sua relação com o processo de desenvolvimento econômico. Às visões de
Schumpeter somaram-se outras como as de Bain, Labini, etc... que ajudaram a
entender melhor o sistema capitalista contemporâneo.
De fato, a ênfase na interdependência, no conceito de indústria como um número de
concorrentes com produção de mercadorias que são substitutas próximas entre si,
configurando homogeneidade ou diversificação e o questionamento da livre entrada,
associado aos desequilíbrios do mercado, redundaram num processo de centralização
e concentração de capitais que propiciou o crescimento das empresas e a formação
de mercados com pequeno número de rivais entre si - o oligopólio.
A partir de então, os estudos passaram a enfatizar o conceito de firma como uma
organização em crescimento com outros atributos dinâmicos, além dos representados
pelas curvas de custos e rendimentos, ou por um equilíbrio baseado nas decisões
sobre preço e produção.
Os aspectos relacionados à organização interna e à estratégia de comportamento da
empresa assumem relevância. De igual importância, as características da estrutura de
mercado e o seu embasamento, principalmente em pesquisas empíricas e estudos
econométricos, assumem um papel preponderante. Dentre estas, são típicas as
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
- 30 -
seguintes: concentração de mercado, substitutibilidade de produtos, as questões da
dimensão das empresas e aquelas relacionadas à entrada potencial de novos
competidores limitada por barreiras à entrada de novas firmas. Constituindo-se todos
esses elementos como fatores importantes na construção de vantagens no processo
concorrencial.
Adicionalmente, podem-se incluir as estruturas de custo, a integração vertical e o grau
de conglomeração como elementos constitutivos da estrutura de mercado,
caracterizada como o primeiro elo na cadeia de causalidade do modelo de Estrutura-
Conduta-Desempenho, modelo este que passou a ocupar o posto de paradigma
teórico por excelência das teorias microeconômicas auto-rotuladas como
verdadeiramente preocupadas com as questões práticas ligadas às empresas, à
indústria e aos mercados.
Desta forma, a abordagem da Organização Industrial ou Economia Industrial consolida-
se como uma disciplina da Ciência Econômica sob o paradigma Estrutura-Conduta-
Desempenho. A formulação pioneira desta metodologia foi de Joe S. Bain (1959),
tendo como ponto central o relacionamento entre a organização e a indústria, sendo
que a estrutura da indústria determina os retornos das organizações que nela estão
inseridas. Os autores desta abordagem consideram que a conduta da organização e o
seu desempenho resultam diretamente das características da estrutura da indústria.
Finalmente, na década de 70, surgiram novas análises que se adicionaram aos
estudos anteriores sobre a estrutura e o desempenho das indústrias, destacando-se
duas linhas de pensamento que ganharam influência na moderna economia industrial:
as análises de Chicago - UCLA, sustentando a possibilidade de se manter a
estabilidade de uma economia capitalista apenas por meio de medidas monetárias,
baseadas nas forças espontâneas do mercado. Suas teorias baseiam-se na teoria
Quantitativa da Moeda, formulada por meio de uma equação que estabelece uma
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
- 31 -
relação entre preços, o número de transações e o volume de dinheiro e sua velocidade
de circulação na economia, e a teoria da Contestabilidade, desenvolvida pela escola
da Contestabilidade de Baumol-Bailey-Willig.
Simultaneamente à estas vertentes referidas, surge uma nova corrente alternativa de
análise da organização industrial baseada na Teoria dos Jogos, formulada a partir de
um comportamento de equilíbrio da firma onde esta ajusta quantidades, preços e
outras variáveis, de forma cooperativa ou não, basicamente ligada aos primórdios das
teorias do oligopólio, deixando de lado as premissas do modelo Estrutura-Conduta-
Desempenho. Vale registrar ainda o surgimento da escola neo-schumpteriana,
derivada do pensamento de Joseph Alois Schumpeter, cuja atenção principal volta-se
para o processo de inovação tecnológica e sua correlação com o desenvolvimento
econômico. Outras escolas recentes aparecem nas últimas décadas, com destaque
para a corrente regulacionista e os neo-institucionalistas.
III. Nova Organização Industrial / Teoria da produção internacional
Segundo Dunning (1990), a Teoria da Produção Internacional tem chegado a algum
grau de maturidade nos últimos 30 anos, na tentativa de oferecer uma explicação geral
para as atividades que possam agregar valor em empreendimentos externos
efetivados pelas firmas. O autor observa que, de certa forma, já é amplamente aceito,
na teoria econômica, que a maior ou menor propensão para uma firma produzir fora de
suas fronteiras nacionais, está relacionada a três importantes aspectos: primeiro à
capacidade em obter e trabalhar determinados fatores e ativos, tais como tecnologia,
capacidade organizacional, empreendedorismo, acesso a mercados, etc...; segundo à
capacidade própria de agregar valor e lucratividade à esses ativos e fatores; e terceiro
à possibilidade das firmas estarem relacionadas à atividades agregadoras de valor
(cadeia de valor), sejam através de firmas locais ou não.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
- 32 -
O consenso em torno desse entendimento tem sido bastante útil para a compreensão
das atividades das empresas transnacionais, mas não o suficiente para fornecer
subsídios para a análise do IED (Investimento Externo Direto). Para tanto, faz-se
necessário uma nova teoria que possa combinar as vantagens competitivas das
firmas, com as vantagens nacionais oferecidas dentro de um cenário internacional
caracterizado por uma ampla movimentação de capitais.
Vários pesquisadores têm buscado formular conceitos teóricos que possam explicar a
origem e o crescimento da produção internacional e as atividades empresariais
internacionais, principalmente no que diz respeito às possíveis explicações ou
justificativas em relação aos investimentos privados externos. Entretanto, as diversas
tentativas, muitas vezes, não conseguem explicar ou identificar os elementos que, em
seu conjunto, podem levar à construção de uma teoria que encorpe os diversos
comportamentos estratégicos das firmas, em um determinado período de tempo e
espaço.
Dunning considera que a diversidade de teorias que surge, com a expectativa de
explicar tais fenômenos, advêm do próprio processo de amadurecimento que a teoria
econômica vêm realizando nessa área nas últimas décadas. O autor aponta que
algumas teorias tiveram um poder explicativo válido por um determinado período de
tempo, mas que as relações empresariais internacionais e os cenários mundiais
transformaram-se tão rapidamente, que colocaram por terra seus pressupostos. Além
disso, é importante observar que as teorias mais recentes abordam esse fenômeno
sob diferentes aspectos, tentando investigar características como causalidade,
processos envolvidos, ou mesmo possíveis externalidades que estejam atreladas ao
objeto de estudo. As escolas e os teóricos buscam contribuir, analisando diferentes
modalidades e dimensões que a produção internacional possa assumir, e isso tem
colaborado no processo de amadurecimento da teoria econômica.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
- 33 -
Os trabalhos acadêmicos dos últimos anos têm procurado explicar o crescimento da
produção internacional, tendo como ponto de partida a firma (uma entidade
organizacional). Dunning ressalta a importância de ser dada maior atenção ao
ambiente econômico internacional, em especial, à dinâmica estabelecida entre as
vantagens competitivas das firmas e as vantagens nacionais oferecidas pelos países.
É importante salientar o esforço teórico efetivado nos últimos trinta anos com o intuito
de sistematizar uma explicação satisfatória a respeito do fenômeno da produção
internacional. Inicialmente, ainda na década de 60, devem ser destacadas as
pesquisas de Stephen Hymer (1960) que observou, na década de 50, um crescimento
nas atividades das firmas americanas fora dos Estados Unidos, em especial no
Canadá e na Europa, e concentrado em setores industriais.
Seus estudos nesta época ainda estavam fundamentados na explicação tradicional da
movimentação internacional de capitais (diferença de taxas entre países), e o autor não
demonstrou preocupação com o financiamento das atividades das firmas. Hymer, em
sua análise, utilizou-se, também, dos estudos de outro teórico importante nessa área,
Joe Bain. As pesquisas sobre barreiras a entrada de Bain (1956), possibilitaram a
identificação de alguns elementos (custos absolutos, economias de escala, fatores de
produção, fatores de mercado, etc...) que facilitariam ou dificultariam as empresas
penetrarem em determinados mercados.
Outra importante contribuição nessa área foi feita por Raymond Vernon (1966). Em seu
trabalho, o autor, destaca a importância dos fatores específicos nacionais (locais) que
influenciam tanto a questão da competitividade das firmas bem como sua capacidade
de agregar valor à suas atividades. Em seu trabalho, Vernon (1979) destaca que, para
uma completa explicação sobre a produção e comercialização internacional, a teoria
deve considerar elementos como as vantagens que autorguem maior capacidade de
competir às firmas e nações.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
- 34 -
Na década seguinte as pesquisas de Hymer e Vernon sobre a produção internacional
tiveram quatro importantes desdobramentos, quase todos baseados na continuidade
de pesquisas de firmas americanas instaladas em outros paises. Autores como Pavitt
(1987), Cantwell e Hodson (1990) procuraram identificar em suas pesquisas, as
ligações existentes entre a propensão das firmas em produzir fora de suas fronteiras
nacionais e as condições competitivas oferecidas por determinados setores de um
país. Vários estudos, principalmente estudos comparativos, são desenvolvidos com o
intuito de analisar as similaridades de comportamentos dos mercados, o
desenvolvimento de padrões em setores e entre firmas, a formação de oligopólios, ou
até mesmo as condições pré-existentes em países desenvolvidos (vantagens) que
seriam atrativas, para as atividades das empresas transnacionais.
Observa-se que, com a evolução dos estudos econômicos sobre a produção
internacional, surge um novo enfoque de análise que passa a identificar a firma não
apenas como um agente de transação no mercado, porém como uma entidade
organizacional estratégica (produtora de valor), assumindo, por vezes, o papel de
agente organizador, tendo, com isso um papel diferenciado na teoria da produção
internacional. A década de 70 é caracterizada, também, por uma forte mudança na
teoria organizacional. O surgimento de novos modelos de gestão e estruturas
organizacionais dá novos contornos e uma maior complexidade de análise à teoria da
administração. Vários teóricos, na área econômica, começam a investigar a questão
do comportamento estratégico das firmas e suas ilações com as atividades
internacionais e o comportamento dos mercados.
È importante salientar, que, ainda na década de 70, o sistema capitalista passa por
mais uma forte crise, caracterizada pelo fim do padrão de desenvolvimento pós-guerra:
o fordismo. A aceleração das taxas de inflação, a estagnação da produtividade, a
redução dos níveis de crescimento, a elevação dos defict públicos e o aumento do
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
- 35 -
desemprego são alguns dos elementos que retratam esse momento de crise nos
países centrais desenvolvidos.
Filgueiras (1997) identifica alguns elementos que exercem importante papel nesse
cenário de alterações das relações econômicas, políticas e sociais mundiais. Dentre
os elementos expostos pelo autor, deve ser destacado o processo de reestruturação
produtiva dos anos 70. A reestruturação aparece como resposta à crise econômica
enfrentada pelos países centrais e propicia mudanças estruturais no âmbito da
produção e do trabalho, em que duas perspectivas centrais podem ser analisadas.
Sob a perspectiva setorial, pode-se identificar uma reorganização e reorientação dos
setores industriais, com a realização de investimentos em setores de ponta
(informática, química fina, biotecnologia e telecomunicações), a modernização de
setores dinâmicos (automobilístico, máquinas e equipamentos e petroquímica) e o
declínio de setores tradicionais (têxtil e siderurgia). Sob a perspectiva de processo de
trabalho, verifica-se a adoção de um novo paradigma tecnológico e organizacional,
com a migração do uso de tecnologias de base eletromecânicas para tecnologias de
base micro-eletrônicas e a utilização de novos esquemas de gestão e organização do
trabalho.
IV. Quadro teórico de referência - Michael Porter na literatura econômica
No final da década de 70 e início da década de 80, a crise apresentada pelo
capitalismo começa a apresentar reverberação no meio acadêmico e começam a
surgir teorias, sobre a produção internacional, mais orientadas por aspectos tais como:
o uso da tecnologia e a dinâmica do processo de inovação.
Os novos estudos apontam para uma preocupação em analisar os aspectos dinâmicos
da atividade empresarial multinacional e suas alterações ao longo do tempo. Os
trabalhos de Michael Porter (1986) e Bruce Kogut (1985) procuram identificar o papel
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
- 36 -
central desempenhado pelas vantagens competitivas oferecidas pelos países
(recursos, mercados, instituições, etc...), em relação à propensão das firmas em
empreender e inovar fora de suas fronteiras. Nesse novo enfoque, as vantagens
competitivas das firmas devem ser algo a ser explicado pela teoria, e não mais visto
como um aspecto a ser tomado.
Porter (1986) tenta distinguir cuidadosamente quais são as variáveis específicas da
firma e dos países que influenciam no processo de globalização. Além disso, Porter,
em seu livro Competition in Global Industries, identifica três grupos de produtores
internacionais: No primeiro grupo estariam as firmas domésticas que possuem
orientação para o mercado externo (exportações). No segundo grupo, Porter classifica
as firmas multinacionais que possuem bases externas (exercem atividades com valor
agregado) em diversos países, porém possuem uma gestão individualizada em cada
país. E no terceiro grupo estão as firmas globais, em que suas posições competitivas
em cada país são afetadas pelo seu posicionamento em outros países, necessitando,
dessa forma, uma coordenação global de suas operações.
Dunning (1990), observa que mesmo as teorias nas quais as vantagens nacionais
assumem um papel relevante como elemento explicativo da produção internacional,
dedicam pouca atenção ao modo como as vantagens competitivas nacionais afetam e
são afetadas pelo comportamento e pelas estratégias adotadas pelas firmas para
produzir e comercializar produtos e serviços fora de suas fronteiras nacionais. Esta
interface dinâmica entre os elementos formadores das vantagens competitivas das
firmas e dos países será, inequivocamente, tema para novas abordagens na teoria da
produção internacional.
V. Porter e a Vantagem Competitiva do Estado
Em sua abordagem de 1986, Porter evidencia que as visões econômicas tradicionais
(Teoria Neoclássica), que definem competitividade como uma questão de preços,
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
- 37 -
custos, taxas de câmbio dentre outros elementos, estão aparentemente superadas.
Essa concepção levou vários países a manipularem tais fatores na expectativa de
conseguirem vantagens no processo de competição global. Entretanto os exemplos do
Japão e da Alemanha corroboram inversamente às expectativas dessa teoria.
Ademais, notadamente a busca de uma significação para competitividade baseada
unicamente através de uma característica isolada, pode levar a uma falsa interpretação
da realidade. O conceito de competitividade e a busca dessa vantagem, seja dentro
da empresa ou por uma atratividade demonstrada por um Estado ou nação, reside,
fundamentalmente, nos ganhos de produtividade e nos valores agregados disponíveis
no processo produtivo e social. Verificar os determinantes dessa produtividade e o seu
real crescimento em um determinado período de tempo, constitui-se uma das mais
importantes tarefas na análise do desenvolvimento econômico.
Nesse momento vale ressaltar, também, as diferenças entre vantagem comparativa e
vantagem competitiva. A Teoria das Vantagens Comparativas de Ricardo (1988),
trabalhada posteriormente por Heckscher e Ohlin (1933), baseia-se na idéia que todas
as nações têm tecnologia equivalente, mas diferem na disponibilidade dos chamados
fatores de produção, como terra, mão-de-obra, recursos naturais e capital. Esses
elementos, indissociáveis do processo produtivo, foram importantes no entendimento
da busca de vantagens tanto entre nações como entre empresas. A otimização dos
fatores de produção visando a redução dos custos e o aumento da produtividade foi
essencial em termos de competitividade empresarial. Entretanto a necessidade de
extrapolar a utilização de mecanismos que busquem um incremento ainda maior na
produtividade das empresas, e que contemplem outros fatores também integrantes da
competição, fizeram com que a Teoria da Vantagem Comparativa não fosse suficiente
para explicar a evolução da competição real. Não incorporar elementos como a
definição de estratégias próprias e individualizadas, a movimentação de capital e
recursos humanos e tecnologia entre localidade e organizações, coloca limitações à
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
- 38 -
teoria das vantagens comparativas com relação a uma explicação lógica dos novos
cenários competitivos e às rápidas modificações tecnológicas e econômicas.
Ademais as vantagens comparativas podem apenas constituir-se em vantagens
passageiras ou vulneráveis. Os custos dos fatores podem ser modificados
rapidamente através da utilização de novas tecnologias. Os subsídios governamentais
podem tornar empreendimentos viáveis ou não por determinado período de tempo. Os
baixos custos de trabalho podem ser modificados de uma região para outra através
dos processos de deslocamentos intensivos. A facilidade de manipulação desses
fatores como diferencial para a competição tem fomentado diversas regiões a
disputarem e atraírem indústrias para implantarem novos empreendimentos locais.
O novo cenário econômico tem diminuído a importância dos custos desses fatores
principalmente em indústrias que utilizam intensivamente tecnologia sofisticada e mão-
de-obra altamente especializada. A utilização de novas tecnologias possibilitou às
empresas ter capacidade de compensar os fatores escassos, por meio de novos
produtos e processos. Entretanto essa análise deve ater-se a determinados
segmentos industriais que podem prescindir desses fatores. Paralelamente a
utilização de tecnologias avançadas diminuindo o papel dos fatores, liberta as
empresas da necessidade de instalação de suas bases em localidades específicas.
Com o fenômeno da globalização da economia e a internacionalização das empresas
seria lógico concluir, então, que, à primeira vista, o Estado perdeu sua importância no
sucesso empresarial das organizações. Entretanto, a realidade tem demonstrado que
essa conclusão pode ser precipitada na medida que tem sido cada vez mais relevante
e estratégica a escolha da localização dos novos empreendimentos empresariais.
Parece lógica a importância de modelos de análise que abordem essas questões e
tentem fornecer um entendimento para as novas perguntas que se apresentem na
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
- 39 -
ordem do dia: Quais são os novos determinantes de competitividade para um Estado?
Quais características verdadeiramente podem responder e explicar a consolidação de
um Estado ou Nação que possui vantagens que sejam fomentadoras de um
desenvolvimento econômico estruturado e sustentável? É certo que além dos fatores
econômicos trabalhados pela Teoria da Vantagem Comparativa, novos elementos tais
como diferentes estruturas econômicas, valores, culturas instituições e histórias
nacionais irão também ser preponderantes no entendimento da construção de
vantagens competitivas nos Estados ou Nações? Michael Porter tenta dar essas
respostas através de seu modelo de análise - Diamante Nacional.
Modelo de análise da Pesquisa VANTAGEM COMPETITIVA: PRECEDENTES TEÓRICOS DA ANÁLISE DO DIAMANTE NACIONAL DE PORTER
Conceito T
erritórios e regiões
Assim
etrias e Intercâmbio D
esigual
Valorização do C
apital
Teorias da produção internacional
Globalização
Mundialização do C
apital
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
- 40 -
PRECEDENTES TEÓRICOS PRECEDENTES TEÓRICOS Figura 01. Modelo de Análise. Fonte: Elaboração própria. O projeto de pesquisa utilizará no seu modelo de análise (figura 01) o conceito central
de Vantagem Competitiva. Alinhado ao conceito central será analisado o modelo
teórico do Diamante Nacional de Michael Porter, que tenta ser um modelo de
desenvolvimento econômico baseado na construção de Vantagens Competitivas para
um Estado ou Nação.
Dentro de seu modelo (figura 02) analisaremos seus determinantes e os conceitos
mais importantes que contribuem para o entendimento do modelo e as críticas das
Vantagem
Competitiva
Diamante Nacional
Vantagens Absolutas – Adam Smith
Vantagens Comparativas – Ricardo
Teorias do Comércio Internacional
Con
cepç
ão d
o E
quilí
brio
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ação
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noló
gica
Com
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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
- 41 -
idéias de Porter em sua explicação da Construção das Vantagens Competitivas, à luz
das teorias precedentes.
Figura 02: Diamante Nacional - Sistema Completo. Fonte: Extraído do livro Vantagem Competitiva das Nações.
VI. Os procedimentos, técnicas e delimitação do universo de pesquisa
Esta pesquisa foi desenvolvida mediante revisão bibliográfica abrangendo
publicações nacionais e internacionais e trabalhos acadêmicos inéditos (Teses e
Dissertações produzidas no país) que versam sobre o tema e adotou os seguintes
procedimentos: 01) Revisão da literatura econômica que tratam sobre o tema
Condições de
fatores
Estratégia, Estrutura e
Rivalidade das empresas
Indústrias Correlatas e
de apoio
Condições de
demanda
Ação do governo
Acaso
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
- 42 -
Vantagens Competitivas, desde a abordagem clássica até a escola de pensamento
neoschumpetriana; 02) Identificação e análise do conceito de competitividade e seus
elementos; 03) Inserção de Porter na literatura econômica com a apresentação do
modelo de análise do Diamante Nacional como modelo de desenvolvimento
econômico através da construção de vantagens competitivas; 04) Identificação dos
seus principais determinantes do modelo à luz literatura revisitada; 05) Verificação da
origem das idéias e conceitos utilizados pelo autor dentro da teoria econômica, e; 06)
Crítica do modelo sob a ótica das escolas de pensamento econômico, em especial a
visão neo-schumpeteriana.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
- 43 -
”Não só o trabalho aplicado diretamente às mercadorias afeta o seu valor, mas também o trabalho gasto em implementos, ferramentas e edifícios que contribuem para
a sua execução ”
David Ricardo, 1823
- 44 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Modelo do Diamante Nacional de Porter
2. DA VANTAGEM COMPARATIVA À COMPETITIVA 2.1 - O Capitalismo como começo
2.1.1 - O sistema de produção capitalista
Quando são tratados os temas Vantagens Absolutas, Vantagens Comparativas ou
Vantagens Competitivas é preciso entender antes um pouco em que contexto histórico
esses temas são propostos e seus conceitos construídos. Para tanto, mister se faz
uma síntese da origem do sistema de produção capitalista, bem como de algumas de
suas características e sua evolução. O Capitalismo como sistema econômico, político
e social dominante surgiu muito lentamente, num período de vários séculos, muito
antes das tentativas de compreensão de Adam Smith. Embora não haja concordância
entre os economistas e historiadores de economia sobre quais as características
essenciais desse sistema, podem-se identificar quatro conjuntos de esquemas
institucionais e comportamentais (Hunt, 1985): produção de mercadorias, orientada
pelo mercado; propriedade privada dos meios de produção; um grande segmento da
população que não pode existir a não ser que venda sua força de trabalho no mercado;
e comportamento individualista, aquisitivo, maximizador, da maioria dos indivíduos
dentro do sistema econômico.
Antes de identificar, de forma sintética, as características do Capitalismo, é importante
observar que um dos elementos centrais desse sistema, embora não exclusivo, foi sua
capacidade de produzir excedentes sociais. Na evolução histórica da economia
capitalista, a maioria das pessoas, em cada sociedade, trabalha para produzir o
necessário para sustentar e perpetuar o modo de produção, bem como o excedente
social, enquanto uma minoria se apropria deste excedente e o controla.
Segundo Hunt, a primeira característica definidora do capitalismo relaciona o valor de
uso e o valor de troca dos bens produzidos. A produção de mercadorias existe,
enquanto sistema, desde que os produtos são fabricados pelos produtores sem
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
45
qualquer interesse pessoal imediato em seu valor de uso (quando uma mercadoria é
avaliada por seu uso na satisfação pessoal das necessidades), mas, sim em seu valor
de troca (os produtos têm valor porque podem ser trocados por moedas). Dessa
forma, a produção de mercadorias não é um meio direto de satisfação de
necessidades, mas sim um meio de adquirir moeda pela troca de produtos por moeda.
A segunda característica é a propriedade privada dos meios de produção. Essa é
expressa pelo direito que a sociedade facultou a determinadas pessoas de determinar
como matérias-primas, ferramentas, maquinaria, etc.., seriam utilizados. Essa
característica permitiu ao sistema capitalista a apropriação do excedente social1. A
propriedade se concentra na mão de um pequeno segmento da sociedade – os
capitalistas, que por sua vez, não precisava desempenhar qualquer papel direto no
processo produtivo, de modo a controlá-lo, pois a propriedade lhe dava esse controle.
A terceira característica, decorrente da propriedade privada dos meios de produção, é
que a maioria dos agentes no processo produtivo, já que não são proprietários dos
meios de produção, devem vender sua força de trabalho para que possam sobreviver
dentro do sistema. Na relação entre proprietários dos meios de produção, capitalistas,
e a classe trabalhadora que oferece sua força de trabalho, é estabelecido um elo de
dominação entre classes. Desse modo, diferente de qualquer outro sistema produção
anterior, o Capitalismo faz da força produtiva humana uma mercadoria em si mesmo –
força de trabalho – e gera um conjunto de condições pelas quais a maioria das
pessoas não pode viver, a não ser que elas sejam capazes de vender a mercadoria de
que são proprietárias – a força de trabalho – a um capitalista, em troca de um salário.
Com este salário, podem comprar dos capitalistas somente uma fração das
mercadorias que eles mesmos produziram. O restante das mercadorias que
produziram constitui o excedente social e é retido e controlado pelos capitalistas. A
1 - É importante lembrar que a transição do sistema feudal para o capitalista tem como mudança essencial à desvinculação de um sistema paternalista, baseado em crenças e tradições medievais para uma situação onde direitos e deveres eram expressos através de contratos.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
46
quarta e última característica é a de que a maioria das pessoas é motivada por um
comportamento individualista, aquisitivo e maximizador.
A saída do sistema medieval para o sistema capitalista é marcada por uma
significativa mudança nas relações de produção. Os costumes e a tradição eram a
chave das relações no feudo, no qual à vontade do senhor feudal prevalecia sobre as
demais (lavradores, servos, comerciantes, etc...), não havendo um poder central que
pudesse impor um sistema de leis. Em troca, o senhor feudal fornecia proteção,
supervisão e administração da justiça; já no sistema capitalista a lógica é baseada no
cumprimento de leis de caráter universal e contratos.
Vários fatores foram responsáveis pelo processo de transição do sistema de produção
medieval para o capitalista, entretanto vale destacar uma alteração que teve forte
impacto e que propiciou uma sucessão de modificações nas atividades produtivas
exercidas pela sociedade medieval2. Segundo Hunt, na Idade Média a hierarquia
social era baseada nos laços do indivíduo com a terra e o sistema social por inteiro
repousava em base agrícola. Era de se supor, então, que qualquer alteração na base
agrícola obtivesse desdobramentos significativos em toda a sociedade da época3.
Dessa forma, o mais importante avanço tecnológico4 da Idade Média, com
significativos impactos econômicos e sociais, foi a substituição do sistema de plantio
de dois campos para o sistema de três campos. Essa mudança no processo de
plantio com a introdução de uma rotação de cultivos e períodos de descansos fizeram
2 - Segundo Hunt, outras forças de mudança também foram instrumentais na transição para o Capitalismo.
Entre estas estava o despertar intelectual do século XVI, o período de grandes descobertas e novas rotas de navegação (Índia, África e Américas), o fluxo de metais preciosos para a Europa, etc...
3 - Para maiores esclarecimentos sobre a passagem da agricultura medieval para a agricultura capitalista ver
BAIARDI, A. . MUDANCAS TECNICAS NA AGRICULTURA MEDIEVAL E O PROCESSO DE TRANSICAO PARA O CAPITALISMO. OPS, v. 2, n. 8, p. 13-19, 1997.
4 - Nesse período não é dado à tecnologia qualquer tratamento teórico especial, ao passo que a acumulação
de capital, o crescimento da população e os recursos naturais é que terão um significado muito mais ativo que a qualquer mudança tecnológica.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
47
com que a agricultura medieval ganhasse maior eficiência e produtividade. Ainda
segundo Hunt, o sistema de três campos proporcionou outras mudanças importantes:
[...]Plantações de aveia e forragem, na primavera, permitiam a criação de mais cavalos, que começaram a substituir o boi como principal fonte de energia, na agricultura. Os cavalos eram muito mais rápidos e, assim, a área cultivável pôde ser estendida. Maiores áreas cultivadas permitiram que o campo alimentasse centros urbanos mais populosos. Com o cavalo, o transporte de homens, mercadorias e equipamentos tornou-se muito mais eficiente. Um arado puxado por bois exigia três homens para controlá-lo e um arado puxado por cavalos poderia ser operado por um só homem. Além disso, no século XIII, o custo do transporte de produtos agrícolas foi substancialmente reduzido, quando a carroça de duas rodas foi substituída pela de quatro rodas, com eixo dianteiro móvel. (HUNT, História do Pensamento econômico: Uma Perspectiva Crítica, 1985. p. 32 - 33).
As alterações propiciadas pelas invenções e a utilização de novas tecnologias
propiciaram o crescimento de cidades e vilas à época, provocando desdobramentos
(externalidades positivas) na produção de bens manufaturados com a ampliação dos
trabalhadores urbanos que não tinham relacionamento com a terra (artesãos, nas
categorias de mestres e aprendizes), descolando dessa forma da lógica da economia
medieval de base essencialmente agrícola.
A melhoria na produtividade e os incrementos na produção agrícola tiveram
desdobramentos também em relação ao comércio, dando origem aos primeiros
capitalistas comerciantes. O excedente agrícola e também de manufaturas tornava-se
disponível tanto para mercados locais (dentro da própria Europa) como internacionais.
O fortalecimento do comércio reforçou o crescimento das cidades industriais e
comerciais, que por sua vez, auxiliou no processo de desintegração do feudalismo
medieval e na transposição do sistema de produção medieval para o sistema
capitalista.
Lá pelo século XV, as feiras já estavam sendo substituídas por cidades comerciais, onde florescia um mercado permanente. O
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
48
comércio, nessas cidades, se tornara incompatível com os restritos costumes e tradições feudais. Geralmente, as cidades conseguiam ganhar independências de seus senhores feudais e da Igreja. Sistemas complexos de câmbio, compensação e facilidades creditícias se desenvolveram nesses centros comerciais, e instrumentos modernos, como cartas de crédito, tornaram-se de uso corrente. Novos sistemas de leis comerciais foram criados. Ao contrário do sistema paternalista de execução de dívidas, baseado nos costumes e na tradição vigentes no feudo, a lei comercial era fixada por um código preciso. Assim, esta lei tornou-se a base das modernas leis capitalistas dos contratos, títulos negociáveis, representação comercial e execuções em hasta pública. (HUNT, História do Pensamento econômico: Uma Perspectiva Crítica, 1985. p. 34 - 35).
O sistema capitalista passou por diversas fases na Europa devido aos diferentes
graus de amadurecimento das regiões. A fase mercantilista que deu origem aos
primeiros capitalistas comerciantes foi o ponto de partida para que à medida que o
comércio prosperava e se expandia para diversas regiões dentro e fora da Europa, a
necessidade de produtos manufaturados induzia a uma maior importância do processo
produtivo. As tradições e costumes perderam espaço para o mercado e suas regras e
quando isso se consolidou surgiu então o Capitalismo.
Um outro aspecto importante a ser analisado diz respeito às novas classes sociais e
econômicas que surgiram desse processo de transposição de um sistema para outro.
O sistema de trabalho da era medieval era baseado em uma classe servil que
trabalhava nas terras do senhor feudal cultivando os campos para a sua própria
subsistência e para alimentar os donos da terra. Com a expansão dos ofícios dos
artesãos e o nascimento das indústrias de manufaturas modificam-se as formas de
produção. No período medieval, o artesão (trabalhador) vendia um produto acabado ao
comerciante feito através de sua habilidade (arte). Com a expansão da necessidade
de crescimento da produção de manufaturas para atender o crescimento populacional
das cidades, o trabalho é segmentado e o trabalhador oferece apenas sua força de
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
49
trabalho e não mais o produto acabado. Ele, trabalhador, não é mais responsável pelo
processo produtivo é apenas parte dele.
Muitos agricultores e artesãos foram compelidos a se tornarem trabalhadores urbanos
que não estavam mais sujeito às tradições e costumes medievais, porém sujeito às
leis e contratos das novas corporações de ofício com seus estatutos criminais e a
repressão do governo. A nova classe capitalista (classe média e burguesia) substituiu,
lenta e inexoravelmente, a nobreza como classe que dominava o sistema econômico e
social.
2.1.2 - Primeiras idéias sobre o sistema econômico
Com a transposição do sistema de produção medieval para o sistema de produção
capitalista surgiram os primeiros pensadores que tentaram compreender esse
fenômeno. A visão dos mesmos sobre o capitalismo tinha como elemento central o
processo de troca de mercadorias e não a produção de manufaturas (pensamento
mercantilista). Essa ênfase no comércio é compreensível pelo fato, na análise desses
teóricos, ser o ato de troca de mercadorias que gerava o lucro e não a sua produção.
A partir de então se tem um processo de reflexão sobre oferta, demanda, preços, valor
e lucro.
Entretanto essa visão dos autores mercantilistas começou a mostrar-se insuficiente à
medida que o capitalismo se foi desenvolvendo. Dois fatos motivaram essa alteração:
o primeiro foi à diminuição das diferenças de preços entre as diversas regiões e
nações que propiciou a redução dos lucros auferidos no processo de troca; apesar da
intervenção dos governos na tentativa de manutenção de estruturas de monopólio que
beneficiavam os capitalistas mercantilistas (companhias de comércio). O segundo
fato, decorrente da redução dos lucros, foi à ampliação das atenções dos capitalistas,
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
50
não apenas para o processo de troca de mercadorias, mas também para o processo
de produção.
Esses dois fatos foram importantes para mudanças econômicas de longo alcance
dando origem, entre os pensadores da época, à filosofia do individualismo5 (o
protestantismo e a ética individualista). Nessa época começa a difundir-se a idéia de
que seria concorrência, e não o monopólio e outras formas de protecionismo, mais
benéfica para a sociedade como um todo, pois daria um equilíbrio ao mercado.
Cresce o pensamento entre os teóricos que a ambição, o egoísmo e o comportamento
aquisitivo tenderiam a contribuir para a industrialização e para a economia
progressista. A ética cristã paternalista fruto das tradições e costumes medievais cede
espaço para a nova ética protestante.
Surge uma das primeiras escolas econômicas: A escola dos fisiocratas. Originada de
um grupo de reformadores sociais franceses cujo principal representante é o intelectual
francês François Quesnay6, os fisiocratas tinham como premissa que as sociedades
deveriam ser governadas pela lei natural e que os problemas, em geral, eram devidos
à incapacidade de seus dirigentes compreenderem esta lei natural e ordenarem a
produção e o comércio de acordo com ela.
Apesar das idéias dos fisiocratas terem uma forte orientação para a reforma política,
elas tiveram um maior impacto intelectual do que político. Dentre suas propostas de
reformulação destaca-se a recomendação de que toda a renda do governo fosse
obtida através de um único imposto, para todo o país, sobre as atividades agrícolas.
Outra grande contribuição dessa época foi o modelo de Quesnay – Tableau
5 - A economia de mercado capitalista precisava de um comportamento baseado na iniciativa individual,
aquisitivo, para funcionar bem. Neste contexto, começaram a aparecer novas teorias sobre o comportamento humano. Autores (Malynes, Petty, North, Law e Child) começaram a afirmar que os motivos pessoais e egoístas eram motivos básicos – quando não os únicos – que levavam o homem a agir.
6 - Quesnay, François (1694-1774). Tableau Êconomique. Londres, H. Higgs, 1894 ; original impresso por
particulares, Versalhes, 1758.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
51
Êconomique – que ilustra a alocação de insumos e produtos dentro de setores de uma
economia e necessidade de circulação contínua de moedas, antecipando discussões
de outros economistas posteriores.
Após os fisiocratas, Adam Smith7 aparece com seus trabalhos sobre filosofia social e
economia e apresenta-se como o primeiro pensador a elaborar um modelo abstrato
completo e estruturado do funcionamento do sistema capitalista. Em 1776, publicou
sua obra mais importante: An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of
Nations (A Riqueza das Nações). A contribuição dos trabalhos de Smith ocorre em
uma época em que o modo de produção capitalista, apesar de ter quebrado as
correntes do feudalismo, ainda não tinha atingido seu apogeu.
O modo de produção capitalista no início do século XVIII ainda apresentava algumas
características do sistema de produção feudal, devido em grande parte à utilização de
ferramentas ainda artesanais e por depender da habilidade dos trabalhadores /
artesãos. A manufatura desse período era produzida em um centro de produção em
que o capitalista possuía o prédio, os equipamentos de produção e as matérias-
primas e contratava os operários assalariados para realizar o trabalho, empregando
antigas técnicas artesanais de produção. A utilização de novas técnicas e ferramentas
de produção fizeram com que as fábricas mecanizassem o trabalho. As indústrias têxtil
e siderúrgicas foram as pioneiras na absorção dessas novas tecnologias e,
conseqüentemente, as primeiras a ampliar seus índices de produtividade e volumes de
produção.
Neste contexto, Smith foi o primeiro economista a fazer uma clara distinção entre os
elementos básicos da economia: lucros (industrial e comercial), salários e alugueis;
atrelando essas três categorias funcionais de renda às três classes sociais mais
7 - Adam Smith (1723 – 1790) nasceu na Escócia, onde viveu quase toda a vida. Cursou as universidades de
Glasglow e Oxford (1737 – 1746) e foi professorem Glasglow, de 1751 a 1764.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
52
importantes de sua época – os capitalistas, os operários e os proprietários de terra.
Smith em suas teorias de história e sociologia acreditava, ainda, que havia quatro
estágios de desenvolvimento econômico e social: a caça, o pastoreio, a agricultura e o
comércio.
Esses estágios se apresentavam como etapas evolutivas da sociedade em bases
econômicas, sendo a caça a etapa menos evoluída vinculada às tribos nativas. Smith
identifica que nesse estágio inexistem instituições que possam legitimar qualquer
forma de poder e privilégios aos seus pares. O estágio de desenvolvimento
subseqüente é o pastoreio, que permitia à sociedade formas de grupamentos sociais
mais complexos que o estágio anterior. A propriedade do gado torna-se a primeira
forma de relação de propriedade e surge, então, a necessidade de uma forma de
institucionalizar8 esse privilégio:
[...] Portanto, a aquisição de propriedades valiosas e extensas requer, necessariamente, o estabelecimento do governo civil. Quando não existe propriedade... o governo civil não é tão necessário. O governo civil pressupunha uma certa subordinação, mas, a medida que a necessidade do governo civil vai gradativamente aumentando com a aquisição de propriedades de valor, também vão gradativamente aumentando as principais causas que criam, naturalmente, a subordinação com o crescimento destas propriedades de valor. (SMITH, In Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations – Nova Iorque, Modern Library, 1937, p. 670)
O terceiro estágio identificado por Smith foi o da agricultura, associado ao feudalismo,
onde a propriedade de terra passa a ser a relação de propriedade mais importante na
estrutura da sociedade e, por conseguinte, na diferenciação de classes e seus
privilégios e nas relações de poder. Na análise de Smith, essa organização econômica
8 - O termo Instituição pode ser compreendido dentro de diferentes contextos, Smith faz uma das primeiras
incursões para analisar o termo que teria uma grande relevância nas escolas de pensamento econômico. Entretanto, desde sua primeira aparição o termo já sucinta uma estreita vinculação às trajetórias de crescimento econômico de determinada região ou nação.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
53
envolvia a manipulação do poder absoluto pela nobreza com muito poucos direitos e
pouca liberdade para a grande maioria do povo. Dessa forma o quarto estágio
identificado por Smith – o comércio, foi considerado um grande avanço, tanto em
termos de desenvolvimento econômico, quanto em termos de liberdade e segurança
para a maior parte da população.
Smith analisa que o aparecimento dos grandes centros comerciais na Europa
possibilitou um maior desenvolvimento na agricultura, juntamente com um
desenvolvimento social e econômico. A partir de então, o desenvolvimento da
agricultura incentivou o crescimento do comércio e da indústria que, num ciclo virtuoso,
incentivou o maior desenvolvimento da agricultura capitalista. Sua análise prossegue
avaliando as características desse estágio de desenvolvimento econômico, onde ele
acreditava que a natureza tinha criado uma ilusão nas pessoas: a de que a felicidade
pessoal estaria atrelada, principalmente à riqueza material; e que os efeitos
econômicos e sociais oriundos dessa ilusão eram socialmente benéficos. Nasce então
o tema que permeia as obras de Adam Smith: a idéia que as pessoas são conduzidas
por uma ´´mão invisível´´, no sentido de promover o bem social, sem que esta
promoção seja parte de seu intento ou motivo.
A despeito da análise de Smith sobre a ´´mão invisível´´, ele observa, ainda, a
importância central do conflito de classes entre capitalistas e trabalhadores, que tinha
como base de diferenciação a propriedade da terra e do capital; onde os capitalistas
exerciam sua supremacia através da sua riqueza, sua capacidade de influenciar a
opinião pública e seu controle do governo.
Entretanto, inegavelmente, a maior contribuição de Adam Smith foi sua obra A
Riqueza das Nações que, em seus cinco volumes, é essencialmente uma teoria do
crescimento econômico: Livro Primeiro – As causas do aprimoramento das forças
produtivas do trabalho e a ordem segundo a qual sua produção é naturalmente
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
54
distribuída entre as diversas categorias do povo. Livro Segundo – A natureza, o
acúmulo e o emprego do capital. Livro Terceiro – A diversidade do progresso da
riqueza nas diferentes nações. Livro Quatro – Sistemas de economia política. Livro
Cinco – A receita do soberano ou do estado.
[...] O crescimento da produtividade do trabalho, que tem origem em mudanças na divisão e especialização do processo de trabalho, ao proporcionar o aumento do excedente sobre os salários permite o crescimento do estoque de capital, variável determinante do volume de emprego produtivo; a pressão da demanda por mão-de-obra sobre o mercado de trabalho, causada pelo processo de acumulação de capital, provoca um crescimento concomitante dos salários e, pela melhora das condições de vida dos trabalhadores, da população; o aumento paralelo do emprego, salários e população amplia o tamanho dos mercados que, para um dado estoque de capital, é o determinante básico da extensão da divisão do trabalho, iniciando-se assim a espiral de crescimento. (SMITH, Série Os Economistas. Ed. Nova Cultural. 1996, p. 65 – 76)
Essa apresentação esquemática e sintética (figura 03) é desenvolvida,
essencialmente, nos dois primeiros volumes da obra que abordam os determinantes
do crescimento da produtividade do trabalho e da distribuição funcional da renda que
regulam o excedente total disponível e, portanto, o potencial de acumulação de capital
(livro primeiro); e, as condicionantes e características da acumulação de capital, que
determina oferta de emprego produtivo e sua distribuição setorial (livro segundo).
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
55
Figura 03: Espiral de crescimento, segundo Adam Smith Fonte: Produzido a partir do livro “A Riqueza das Nações”. Elaboração própria. É preciso entender Smith e sua obra A Riqueza das Nações dentro de uma
perspectiva histórica, em que ele foi influenciado por importantes pensadores. A
formação intelectual de Smith contou com a influência de Hutcheson, herdeiro de uma
linha direta de filósofos protestantes; a troca de idéias com fisiocratas como Quesnay
e Turgot; e, contou ainda com a influência direta de Hume e das obras de Montesquieu,
adotando uma metodologia essencialmente empiricista. A conjugação dessas
influências e outras9 possibilitou um fio condutor diferenciado na obra A Riqueza das
Nações, tanto em termos filosóficos quanto metodológicos.
9 - Smith foi influenciado na sua construção teórica ainda por outros economistas que o precederam como
Cantillon (teoria dos diferenciais de salário), Hume, Harris e Davenant (teoria monetária), Hume e Petty (divisão do trabalho).
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
56
Obviamente Smith, em seu modelo de crescimento econômico não conseguiu dar
conta de toda a compreensão do funcionamento da economia capitalista, tendo suas
teorias dos preços (valor-utilidade, valor-trabalho) apresentado fragilidades. Entretanto,
pelo fato de Smith adotar um método essencialmente empiricista, onde os traços de
seu modelo, que enfatiza o crescimento econômico como um fenômeno a ser
explicado e o crescimento de produtividade e acumulação de capital como suas
causas finais, foi emblemático para sua época e para a história econômica.
2.2 – Smith e Ricardo - Vantagens Absolutas e Comparativas
2.2.1 - Adam Smith e as Vantagens Absolutas
Outra contribuição de Adam Smith em sua obra A Riqueza das Nações foi sua teoria
da vantagem absoluta. É importante lembrar que o período mercantilista foi marcado
por algumas acepções que nortearam a conduta de governos e capitalistas entre os
séculos XV e XVII. Como características econômicas desse período pode-se destacar:
a riqueza de uma nação estava no acúmulo de reservas de metais preciosos que tinha
como conseqüência a limitação das importações e o estímulo / subsídios às
exportações; nessa ótica, as trocas internacionais sempre seriam um jogo de soma
zero, ou seja, se um ganha o outro perde; a classe de mercadores era fundamental
para o sistema funcionar; o trabalho era o único fator produtivo; o Estado adotava
medidas intervencionistas como a exclusividade nos direitos de comércio, os
subsídios à exportação e imposição de quotas à importação, o controle no uso e na
troca de metais preciosos, a regulação econômica dos mercados internos, com o
controle da indústria e do trabalho (subsídios às empresas e política de baixos
salários).
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
57
Smith critica o pensamento mercantilista identificando que o comércio internacional
não é um jogo de soma nula / zero. Se os bens forem produzidos nos países que
utilizam menos quantidade de trabalho é possível aumentar o nível global do produto a
distribuir pelo total dos países, aumentando assim o seu bem estar.
Além disso, a idéia de Smith era a de que a riqueza de uma nação dependia da sua
capacidade produtiva e não na posse de metais preciosos. A divisão e especialização
do trabalho provocada pelo comércio internacional deveriam trazer ganhos de
produtividade a serem repartidos pelos parceiros participantes nas trocas. O interesse
pessoal é o motor do crescimento e a concorrência o mecanismo regulador. Portanto
não havia necessidade do Estado controlar a economia, devendo apenas servir de
garantia ao livre funcionamento do mercado, ou seja, daquela ´mão invisível´ que
garantia o equilíbrio e a maximização do bem-estar individual e social. Smith é, pois, o
defensor de uma política de laissez-faire. Aplicando estas idéias ao comércio
internacional Smith concluiu que os países devem se especializar na exportação dos
bens em cuja produção detivessem uma vantagem absoluta (a quantidade de trabalho
necessário para a produção do bem fosse menor que a do parceiro) e deveriam
importar os bens em que o outro país interveniente nas trocas detivesse uma vantagem
absoluta.
2.2.2 - David Ricardo e as Vantagens Comparativas
David Ricardo foi um dos primeiros economistas a trabalhar, de forma mais coerente,
o livre comércio internacional. Ele propôs, indo além da análise de Smith, que um país
não precisava ter uma vantagem absoluta na produção de uma mercadoria, para que
o comércio internacional entre outro país seja mutuamente benéfico. Segundo Ricardo,
dois países poderiam beneficiar-se com o comércio, se cada um tivesse uma
vantagem relativa na produção. Na sua definição, vantagem relativa significava,
simplesmente, que a razão entre o trabalho incorporado às duas mercadorias diferia
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
58
entre os países (custo de oportunidade), de modo que cada um deles poderia ter, pelo
menos, uma mercadoria na qual a quantidade relativa de trabalho incorporado seria
menor do que a do outro país.
Tabela 01: Número de horas necessárias para a produção de uma unidade de tecido e de vinho na Inglaterra e em Portugal.
País
Tecido
Vinho Razão entre o
preço do vinho e o preço do
tecido
Razão entre o preço do tecido e o preço
do vinho
Inglaterra 100 120 1,20 0,83 Portugal 90 80 0,88 1,12
Fonte: Extraído de “Os Princípios de Economia Política e Tributação”. Série Os Economistas. Ed. Nova Cultural. 1996. p. 138.
[...] Neste quadro (tabela 01), Portugal tem uma vantagem absoluta na produção de vinho e de tecido, quer dizer, são necessários menos horas de trabalho para produzir ambas as mercadorias em Portugal do que o número de horas necessárias para sua produção na Inglaterra. Se supusermos que os preços do vinho e do tecido são proporcionais ao trabalho incorporado a eles, tanto na Inglaterra como em Portugal as razões de ambos os preços, em cada país, serão idênticas à razão de horas de trabalho necessárias para a produção das mercadorias, em cada país. Em Portugal, são necessárias 90 horas para a produção de uma unidade de tecido e 80 horas para a produção de uma unidade de vinho. Isto quer dizer que o vinho precisa apenas de 88% do trabalho exigido pelo tecido e que o preço do vinho equivale a apenas 88% do preço do tecido. Na Inglaterra, o trabalho incorporado ao vinho e seu preço equivalem a 120% do trabalho e do preço do tecido. Então, Portugal usa relativamente menos trabalho na produção de vinho, e o preço é relativamente mais baixo. Por outro lado, Portugal usa 112% do trabalho incorporado à produção de vinho para produzir tecido e, uma vez mais, o preço do tecido equivale a apenas 83% do preço do vinho. Assim, a Inglaterra usa relativamente menos trabalho para produzir tecido, muito embora use mais trabalho, em termos absolutos; portanto, a Inglaterra tem uma vantagem relativa na produção de tecido. (HUNT, História do Pensamento econômico: Uma Perspectiva Crítica, 1985. p. 138 - 139).
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
59
A argumentação de Ricardo leva em consideração alguns postulados importantes para
as suas conclusões: Primeiro, deveria existir uma quantidade fixa de recursos e todas
as unidades são idênticas; segundo, imobilidade dos fatores inter-países; terceiro, o
nível de tecnologia deveria ser fixo para ambos os países; quarto, os custos de
produção seriam constantes; quinto, a existência de pleno emprego; sexto, a
concorrência perfeita entre os países; sétimo custos de transporte nulos; oitavo,
inexistência de obstáculos à atividade econômica imposta pelo governo; nono, todos
os outros inputs do processo deviam ser medidos em termos de trabalho; e, décimo, o
preço dos fatores deveriam ser idênticos.
A teoria das Vantagens Comparativas10 de Ricardo foi à base para a construção de
toda uma vertente de teorias de comércio internacional que dominou por muito tempo o
debate econômico. O seu esquema lógico e aritmético fornecia um sistema de
comércio mundial ancorado no padrão-ouro e no livre-cambismo.
10 - Ricardo, David. On the Principle of Political Economy and Taxation, 1817.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
60
Figura 04: Comparativo Vantagens Absolutas versus Comparativas. Fonte: Produzido a partir de “História do Pensamento econômico: Uma Perspectiva Crítica, 1985. Elaboração própria. A diferença entre as duas teorias está nos custos de produção de bens entre países,
defendido por Adam Smith e pela produtividade do trabalho defendido por David
Ricardo (figura 04). Smith, não conseguiu explicar, o caso de um país que não
produzisse nenhuma mercadoria com custos menores do que os custos dos parceiros
comerciais em potencial, pois, para o ele, somente os excedentes seriam
comercializados no mercado internacional, onde a especialização na produção do
produto A pelo país X, traria vantagens no comércio com o país Y, que não é
especialista na produção do mesmo produto A.
Entretanto, Ricardo em sua formulação teórica, considerou a existência de países
pobres sem tecnologia para a produção de mercadorias com custos reduzidos em
relação aos países ricos, permitindo assim a explicação de comércio entre nações
sem vantagem absoluta na produção de nenhum bem, sugerindo então, uma
cooperação, fortalecendo a eficiência global do comércio exterior, por meio de
vantagem de um país importar certos produtos, muito embora pudessem produzi-los a
custos inferiores, desde que em comparação com outros produtos sua vantagem fosse
maior. Essa formulação teórica, por meio de dados aritméticos, fortaleceu ainda mais
a teoria do comércio internacional, explicando melhor ainda como a relação de troca é
estabelecida.
2.2.3 – As Vantagens Comparativas e as teorias de comércio internacional
As Teorias das Vantagens Absolutas de Smith e Vantagens Comparativas de Ricardo
iniciaram as primeiras explicações sobre crescimento econômico através do comércio
internacional. Entretanto, a relação entre crescimento econômico e comércio
internacional é objeto de divergências entre economistas e as correntes teóricas até os
dias atuais. Embora os efeitos do crescimento econômico de longo prazo possam ser
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
61
capazes de provocar mudanças no padrão de comércio entre as nações é complexa a
correlação dessas variáveis. Dentre os determinantes que se destacam no processo
de crescimento econômico, o estoque de capital e o investimento são os únicos a
obterem consenso entre os teóricos das principais correntes e escolas sobre comércio
internacional.
Alguns modelos teóricos (figura 05) tentam explicar essa relação tendo como base a
teoria das vantagens comparativas de Ricardo. O modelo básico de Heckscher-Ohlin11
(1933) (H-O) coloca como causa para o comércio internacional a diferença nas
dotações de fatores; pois, ampliando o modelo ricardiano que reduz todos os fatores
de produção a um único, qual seja, o trabalho, o modelo H-O explica que cada país
exportará a mercadoria que utiliza mais intensivamente o fator produtivo mais
abundante internamente, ou seja, os padrões dos custos de oportunidade serão
influenciados pelas diferenças nas dotações dos fatores.
Entretanto, da mesma forma que o modelo ricardiano exige alguns pressupostos para
sua concepção, o teorema de Heckscher-Ohlin parte de três hipóteses essenciais para
seu poder explicativo, em termos de vantagens comparativas: A primeira hipótese
supõe que as funções de produção apresentem produtividade dos fatores positiva,
porém decrescentes, e retornos constantes de escala. A segunda hipótese é que a
estrutura de demanda deve ser idêntica nos dois países. E a terceira hipótese
pressupõe a exclusão da possibilidade de reversão na intensidade do uso dos fatores.
Mas este modelo teórico de relação do comércio com crescimento baseado
unicamente no enviesamento da produção devido às dotações dos fatores, também
não descreve a realidade, pois quando existem custos crescentes, as preferências
também são um fator explicativo. O que realmente importa é a comparação entre os
11 OHLIN, B. The Theory of Trade. In: HECKSCHER, E.F. e OHLIN, B. Heckscher-Ohlin trade Theor. Cambridge, MA: The MIT Press, 1991.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
62
preços relativos entre os dois países, os quais são determinados não só pelas
dotações, mas também pelas preferências.
O modelo de Heckscher-Ohlin-Samuelson12 (1948) (H-O-S) também tenta relacionar o
crescimento econômico e o comércio internacional analisando os efeitos desse sobre
o emprego e distribuição de renda. O modelo explica que o comércio internacional leva
a um equilíbrio Pareto-eficiente com maior bem-estar mediante a realocação
intersetorial dos recursos. Movimentos nos preços relativos criam diferenciais
intersetoriais de remuneração de fatores que estimulam o movimento de fatores de
produção até o ponto em que tais diferenciais sejam eliminados.
Outro importante modelo que trata da relação entre comércio e crescimento é o
modelo de Bagwhati13 (1999), no qual o bem-estar de uma nação se reduz como
resultado de um processo de crescimento econômico estimulado pelo progresso
tecnológico. A idéia básica deste modelo está no fato de o bem-estar declinar em
seguida a um processo de incorporação de progresso tecnológico, resultante de uma
deterioração dos termos de troca que, por sua vez, produz um efeito sobre o consumo
capaz de contribuir para uma redução do bem-estar global.
Apesar da maior parte das teorias tradicionais sobre comércio internacional conduzir
para uma situação de maior bem-estar social, comparativamente a uma situação de
economias fechadas, as limitações e hipóteses e pressupostos restritivos da maioria
destes modelos, tem como resultado sua fraca validação empírica. A despeito das
fragilidades apresentadas pelos modelos tradicionais, existe a concordância que a
abertura comercial permite aos países explorar vantagens comparativas e com isso
melhorar a eficiência da alocação de seus recursos domésticos.
12 SAMUELSON, P.A. International trade and the equalization of factor prices, Economic Journal, v. 58: p. 163-184, 1948. 13 Srinivasan, T.N. e Bhagwati, J. 1999. Outward-orientation and development: are revisionists right? Manuscrito não publicado.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
63
As novas teorias de comércio internacional buscam trabalhar a relação de comércio e
crescimento com um caráter dinâmico em que o progresso técnico apresenta-se de
forma endógena. O modelo de Grosman e Helpman14 (1990) expõe que o crescimento
econômico deve levar em consideração a acumulação de conhecimento, enfatizando o
papel das economias de escala e do progresso técnico. Três características desse
modelo definem a relação entre comércio e crescimento. A primeira é que a demanda
relativa mais forte por bens finais do país, com vantagem comparativa em P&D, reduz
a sua participação de longo prazo no número de produtos intermediários e desacelera
o crescimento de longo prazo da economia mundial. A segunda característica do
modelo é que uma tarifa reduzida de importação ou subsídio à exportação incidente
sobre bens finais diminui, em uma situação de crescimento equilibrado, a participação
do país em produtos intermediários e em P&D. E a terceira característica coloca que a
provisão de um subsídio para P&D em um país aumenta o crescimento de longo prazo
se a divisão do gasto entre os dois bens é constante e se a política é implementada
pelo país com vantagem comparativa em P&D.
14 Grosman, G. e Helpman, E. 1990. Comparative advantage and long-run growth. American Economic Review. 80(4): 796-815.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
64
Figura 05: Modelos de crescimento baseados no conceito de Vantagens. Fonte: Produzido a partir da Revista Brasileira de Comércio Exterior n. 69. Comércio Internacional e Crescimento Econômico. Frederico G. Jayme Jr. Elaboração própria.
2.3 – As Vantagens e o seu Locus
2.3.1 - Os conceitos de Região / Território
A questão da competitividade ou dos fatores que possibilitam criar vantagens tem sido
tratados até então sem um nexo básico com o Desenvolvimento Econômico. Trata-se
da relação orgânica da criação de vantagens e o seu locus. Qual o espaço que está
envolvido nessa discussão e como os teóricos que trabalharam sobre o tema
Vantagens abordaram essa questão. Segundo Baiardi15 (1993), “[...] na história do
pensamento econômico são muitos os autores que associam a prosperidade do
território / região à existência de determinadas pré-condições [...]”. Essa associação
mostra que a questão do desenvolvimento ou obtenção de vantagens está
inequivocamente associada a um lócus / espaço.
A questão de investigação de como uma região cresce ou desenvolve-se parece
instigar desde Adam Smith até os teóricos da atualidade, por que algumas regiões
desenvolvem-se mais rapidamente que outras? Ou por que algumas conseguem
desenvolver-se e outras não? Esses questionamentos têm sido alvo de discussões e
análises constantes extrapolando a área econômica e despertando interesse em
outras áreas do conhecimento humano tais como a sociologia, a ciência política e
outras ciências sociais; entretanto é necessária uma discussão sobre o entendimento
do que seja uma região ou território. Qual o significado do termo região ou território:
Região.´Do latim, regione´. S.f. 1. Grande extensão de terreno. 2. Território que se distingue dos demais por possuir
15 - Baiardi, Amílcar. Política Regional de C&T como instrumento de modernização tecnológica da periferia. VIII
seminário de Modernização Tecnológica Periférica. Recife. 1993.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
65
características (clima, produção, etc.) próprias. Território. ´Do latim, territoriu´. S.m. 1. Extensão considerável de terra. 2. A área de um país, ou estado ou província, ou cidade, etc. (Novo Dicionário da Língua Portuguesa, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Nova Fronteira. 2ª edição, 1986)
Apesar dos conceitos comumente aceitos, percebe-se a dificuldade de definir para
efeitos de desenvolvimento econômico o que seria uma região ou território. As
definições geográficas são insuficientes para a análise econômica e os estudos sobre
o desenvolvimento e seus impactos na população. Sob o aspecto institucional tem-se
ainda uma definição que avança um pouco mais sob a ótica do desenvolvimento:
Território. ´Do latim, territoriu´. S.m. jur. A parte juridicamente atribuída a cada Estado, sobre a qual ele exerce soberania, e que abrange o solo, rios, lagos, mares interiores, águas adjacentes, e bem assim o espaço aéreo que corresponde ao território, até a altura determinada pelas necessidades da polícia e segurança do país, devendo-se, ainda, considerar como parte do território os navios de guerra, onde quer que se encontrem, e os navios mercantes em alto-mar ou em águas nacionais. (Novo Dicionário da Língua Portuguesa, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Nova Fronteira. 2ª edição, 1986).
A definição jurídica de território envolve outros conceitos e elementos institucionais que
tornam seu entendimento mais complexo, não sendo ainda suficiente para seu
entendimento em termos de desenvolvimento econômico. Apesar do interesse comum
de vários teóricos em torno do tema ‘Desenvolvimento Regional’, existe divergência
entre os pesquisadores de como uma região ou território deve ser definido, variando
as definições e conceituações desde de uma definição mais simples que tenta definir
região como a coesão em um só elemento econômico e geográfico, até definições
mais complexas que envolvem inclusive a questão da influência espacial.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
66
Christaller16 (1993) e Losch17 (1954) tentam definir uma região como sistemas
hierarquizados de lugares e cidades centralizados. Nessa definição cada região teria
um grande número de grandes cidades e um grande número de pequenas cidades
todas ordenadas. Esse ordenamento seria determinado pela diversidade de bens
oferecidos em cada cidade, de acordo com o tamanho relativo da área de mercado de
diferentes bens. A limitação dessa definição é que ela somente é válida para
determinar a estrutura espacial de uma região que é orientada pelo mercado.
Uma outra definição de região adotada pelos teóricos do desenvolvimento regional é a
que define uma região como uma área de mercado de trabalho espacialmente
interdependente. Nesse conceito trabalhado por Hoover e Giarratani18 (1985) uma
região nodal apresentaria duas características: A primeira característica é que a região
seria funcional e internamente integrada em termos de trabalho, capital e fluxo de bens.
A segunda característica é que as atividades dentro da região são orientadas para um
ponto nodal no qual as demais áreas periféricas gravitam. Richardson19 (1979) amplia
o conceito de ponto nodal para definir regiões policêntricas com vários pontos nodais
e várias áreas periféricas, mas que exibam alto grau de funcionalidade interna
integrada.
Fox e Kumar20 (1994) desenvolveram um conceito de área economicamente funcional
que seria uma variante do conceito de região nodal baseada no mercado de trabalho.
Nessa concepção de região existiria uma dominância de um ponto nodal central sobre
16 - Christaller, Walter. 1933. 1966. Central places in southern Germany. Trans. Charlisle W. Baskin. London:
Prentice Hall. 17 - Losch, August. 1954. The economics of location. New Haven, CT: Yale University Press. 18 - Hoover, Edgar M., and Frank Giarratani. 1985. Introduction to regional economics. 3d ed. New York: Knopf. 19 - Richardson, Harry W. 1978. Regional economics. Urbana: University of Illinois Press. 20 - Fox, Karl., and T. Krishna Kumar. 1994. The functional economic área: Delineation and implications for
economic analysis and policy. In Urban-regional economics, social systems accounts, and eco-behavioral science: Selected writings of Karl A. Fox. James R. Prescott, Paul van Moeskeke, and Jati K. Sengupta, eds. Ames:Iowa State University Press.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
67
uma área periférica atribuída a uma dependência espacial do mercado de trabalho.
Por uma série de questões práticas e teóricas, uma parte dos teóricos considera o
conceito de área economicamente funcional de Karl Fox bastante útil; sendo o principal
motivo a racionalidade econômica em adotar o mercado de trabalho funcionalmente
integrado embutido no conceito de região.
Esse conceito de região ou território possibilita a análise econômica regional dentro
dos elementos tradicionais da economia (firmas, trabalho, capital, etc.). Ademais a
concepção de região baseada no mercado de trabalho funcionalmente integrado
pressupõe, em parte dos casos, um mercado consumidor possivelmente integrado e
funcional para as firmas.
Uma das limitações desse conceito de região como área economicamente funcional
são os avanços tecnológicos em termos de comunicação e transporte que
enfraquecem a força de coesão que esses pontos nodais exerceriam sobre as áreas
periféricas e suas necessidades em termos de mercado de trabalho e mercado
consumidor. Esse enfraquecimento tem implicações diretas na concepção de região,
já que a dependência espacial entre mercado de trabalho e mercado para a troca de
bens seria bem menor.
Concepções alternativas têm sido esboçadas utilizando como parâmetros elementos
como as o grau de homogeneidade interna de algum fator (US. Belts), ou baseada na
especialização setorial do trabalho (regiões industriais, comerciais, serviços, etc.).
Outras definições levam em conta os aspectos de controles políticos e administrativos
em determinadas áreas para caracterizar uma região. Regiões e territórios podem ser
ainda definidos em termos de recursos naturais, ecossistemas, ou outros limites
geográficos. Nesse sentido, alguns autores sugerem como definição de região em
termos de interdependência entre um sistema de recursos naturais e populações
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
68
humanas. Para finalizar, Markusen21 (1987) têm um conceito de região bastante útil
para a análise econômica:
[…] A historically evolved, contiguous territorial society that possesses a physical environment, a socioeconomic, political, and cultural milieu, and a spatial structure distinct from other regions and from the other major territorial units, city and nation […]. (MARKUSEN, Ann. 1985. Profit cycles, Oligopoly, and regional development. Cambridge, MA: MIT Press).
Essa definição reconhece que as regiões são entidades historicamente determinadas
que surgem em função de uma interação entre recursos humanos e naturais locais.
2.3.2 - Os Distritos Marshallianos
Apesar de não ser o propósito deste trabalho analisar as teorias de localização ou as
de desenvolvimento regional, é interessante observar a importância que a questão da
identificação de uma região ou território em seu sentido econômico têm, e vem sendo
uma discussão iniciada ainda pelos economistas do século XIX, dentre os quais deve
ser destacado Alfred Marshall22, e sua análise da concentração de indústrias
especializadas em certas localidades e seu conceito de distrito industrial.
Marshall procurou analisar a questão da organização industrial em termos espaciais
tentando identificar quais fatores levariam ou promoveriam a concentração de
indústrias em certas localidades. O autor começa sua análise indicando que em
estágios primitivos da civilização, as comunidades de determinada região geográfica
tinham que depender de seus próprios recursos e de sua própria produção para viver.
Entretanto, ele prossegue argumentando que com a evolução das necessidades e dos
costumes o comércio possibilitou que as mercadorias produzidas em lugares distantes
21 - Markusen, Ann. 1985. Profit cycles, Oligopoly, and regional development. Cambridge, MA: MIT Press. 22 - Marshall, Alfred. Princípios de economia: Tratado Introdutório / Alfred Marshall; tradução revista de Rômulo
Almeida e Ottolmy Strauch – São Paulo. Abril Cultural, 1982. Os Economistas.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
69
pudessem ser difundidas por toda a Europa através dos comerciantes ou dos próprios
produtores em suas viagens.
Dessa análise histórica, Marshall identifica o aparecimento da chamada “indústria
localizada”. Essa localização ainda elementar da indústria, com desdobramento na
divisão do trabalho e sua especialização, seria o início do processo de concentração
industrial por ele verificado. O autor discute as várias origens / fatores que
condicionaram a localização das indústrias (figura 06), destacando inicialmente as
condições físicas do ambiente:
[...] São muitas as diversas causas que levaram a localização de indústrias, mas as principais foram às condições físicas, tais como a natureza do clima e do solo, a existência de minas e de pedreiras nas proximidades, ou um fácil acesso por terra ou mar. Assim as indústrias metalúrgicas situaram-se geralmente perto de minas ou em lugares em que o combustível era barato. A indústria de ferro da Inglaterra procurou primeiro os distritos de carvão abundante, e depois situou-se na vizinhança das próprias minas. (MARSHALL, A. Princípios de economia: Tratado Introdutório. p. 232; tradução revista de Rômulo Almeida e Ottolmy Strauch – São Paulo. Abril Cultural, 1982. Os Economistas).
Além das condições físicas do ambiente, Marshall discute outros fatores que
condicionaram a localização das indústrias, abordando a questão do financiamento
(patrocínio das cortes) como outro fator relevante:
[...] Outro fator importante foi o patrocínio de uma corte. O rico contingente lá reunido (na localidade) dá lugar a uma procura para as mercadorias de uma qualidade excepcionalmente alta, e isso atrai operários especializados, vindos de longe, ao mesmo tempo que educa os trabalhadores locais. Quando um potentado oriental mudava sua residência, a cidade abandonada costumava desenvolver a indústria especializada que surgira com a presença da corte. Mas muitas vezes os dirigentes convidavam deliberadamente os artesãos que residiam em
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
70
outras localidades, e os instalavam aos grupos. (MARSHALL, A. Princípios de economia: Tratado Introdutório. p. 232; tradução revista de Rômulo Almeida e Ottolmy Strauch – São Paulo. Abril Cultural, 1982. Os Economistas).
De certa forma, Marshall estava tratando da questão do financiamento dos
empreendimentos como fator de concentração quando se refere a esse patrocínio das
cortes, e exemplifica com os casos da indústria manufatureira da Inglaterra e a
influência recebida pelos reis Plantagenetas e Tudors. Apesar de identificar que outros
fatores mais amplos tais como as influências religiosas, culturais, políticas e
econômicas possam agir sobre a questão da localização industrial, Marshall
prossegue sua análise examinando os fatores que estariam mais próximos das
empresas. Nessa linha o autor observa que os grupamentos de trabalhadores
especializados dentro de uma determinada região também servirão como elemento de
influência no processo de localização industrial.
[...] São tais as vantagens que as pessoas que seguem uma mesma profissão especializada obtêm de uma vizinhança próxima, que desde que uma indústria escolha uma localidade para se fixar, aí permanece por longo espaço de tempo. Os segredos da profissão deixam de ser segredos, e, por assim dizer, ficam soltos no ar, de modo que as crianças absorvem inconscientemente grande número deles. Aprecia-se devidamente um trabalho bem feito, discutem-se imediatamente os méritos de inventos e melhorias na maquinaria, nos métodos e na organização geral da empresa. Se combinam com sugestões próprias e, assim, essa idéia se torna uma fonte de outras idéias novas. Acabam por surgir, nas proximidades desse local, atividades subsidiárias que fornecem à indústria principal instrumentos e matérias-primas, organizam seu comércio e, por muitos meios, lhe proporcionam economia de material. (MARSHALL, A. Princípios de economia: Tratado Introdutório. p. 234; tradução revista de Rômulo Almeida e Ottolmy Strauch – São Paulo. Abril Cultural, 1982. Os Economistas).
Marshall, apesar de não mencionar explicitamente a questão da tecnologia como fator
que influenciaria a questão da concentração industrial, percebe-se em sua análise a
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
71
identificação dos elementos que posteriormente seriam trabalhados por Schumpeter
em seu conceito de Inovação. Baiardi23 aponta que, possivelmente, a análise de
Marshall apresenta-se como “[...] a primeira referência sobre a estrita relação entre
tecnologia autonomamente gerada e desenvolvimento do território, desenvolvimento
regional / local [...]”. Marshall observa ainda que a utilização econômica de máquinas
de alto preço pode, muitas vezes, ser realizada numa região em que exista uma
grande produção conjunta da mesma espécie, sendo essa utilização também um fator
de concentração industrial. Outro fator identificado por Marshall é o surgimento de
indústrias subsidiárias à indústria principal, como elemento de influência para a
localização e concentração industrial.
Dentre os fatores identificados até o momento cabe um destaque especial ao
elemento especialização do trabalho. Marshall observa que a oferta de mão-de-obra
especializada é fator de grande influência no processo de seleção do espaço para
instalação das indústrias:
[...] O proprietário de uma fábrica isolada, embora possa conseguir um grande número de operários não especializados, geralmente tem grande dificuldade em obter operários de uma determinada especialização. [...] Essas dificuldades continuam a ser um grande obstáculo ao sucesso de qualquer empresa em que seja necessária uma determinada especialidade, e que não esteja situada nas proximidades de outras empresas similares. (MARSHALL, A. Princípios de economia: Tratado Introdutório. p. 234; tradução revista de Rômulo Almeida e Ottolmy Strauch – São Paulo. Abril Cultural, 1982. Os Economistas).
23 - idem.
Condições Físicas do Ambiente
Patrocínio da Corte
Grupamen-to de
Trabalha-dores
Especializados
Indústrias Subsidiá-
rias
Utilização de
máquinas de Alto preço
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
72
Figura 06: Fatores que influenciam a localização de indústrias (Marshall, 1890) Fonte: Produzido a partir do Livro: Princípios de Economia: Tratado Introdutório / Alfred Marshall. Tradução revista de Rômulo Almeida e Ottolmy Strauch – São Paulo. Marshall, além de identificar os fatores que influenciam a localização de indústrias,
salienta ainda que a concentração de diferentes indústrias na mesma vizinhança
atenua reciprocamente suas depressões. Partindo desses elementos formou-se o
conceito de distrito industrial como uma região econômica, que leva em consideração,
além da questão espacial, todos esse elementos que influenciam a sua atratividade.
Autores recentes definem distritos industriais, baseados ainda na análise de Marshall,
como aglomerados de empresas envolvidas em processos de produção
interdependentes, muitas vezes a atuarem na mesma indústria ou até no mesmo
segmento industrial, que estão inseridas na comunidade local e se delimitam por uma
distância acessível por deslocações diárias.
Marshall observa ainda que, apesar da existência de fatores que podem facilitar o
processo de localização industrial, existem outros elementos que podem alterar a ação
dessas forças de concentração / localização (Comunicação e transporte):
[...] Qualquer barateamento nos meios de comunicação, qualquer facilidade que surja para a troca de idéias entre regiões distantes, altera a ação das forças que tendem a localizar as indústrias. Falando em termos gerais, podemos dizer que uma redução de tarifas alfandegárias ou de fretes do transporte de mercadorias tende a fazer com que a região adquira de lugares distantes maior quantidade daquilo de que precisa, tendendo assim a concentrar determinadas indústrias em determinadas localidades. (MARSHALL, A. Princípios de economia: Tratado Introdutório. p. 236; tradução revista de Rômulo Almeida e Ottolmy Strauch – São Paulo. Abril Cultural, 1982. Os Economistas).
Baiardi24 em sua análise observa que:
24 - ibidem.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
73
[...] Malgrado Marshall trabalhasse com supostos de competição baseada no preço e de existência de livre circulação de informações e de conhecimento tecnológico transmissível, os quais desaparecem no estágio do capitalismo monopolista, não deixa de ser surpreendente a sua visão e a importância que ele dá ao conhecimento autonomamente gerado para a prosperidade de um território, de uma região industrial, nas suas palavras [...]. (BAIARDI, Amílcar. Política Regional de C&T como instrumento de modernização tecnológica da periferia. VIII seminário de Modernização Tecnológica Periférica. Recife. 1993. p. 04 - 05)
2.4 – Abordagens Marxistas sobre a divisão internacional do trabalho e sobre o
intercâmbio desigual
2.4.1 – A obtenção de vantagens através da inovação
Dentro da teoria econômica, os teóricos das novas correntes e escolas sobre
comércio internacional começam a identificar a questão da inovação tecnológica como
um outro importante determinante de correlação entre comércio internacional e
desenvolvimento econômico. Baiairdi25 (1996) aponta que já os economistas clássicos
como Smith, Ricardo e Mill foram os primeiros a reconhecer a importância do
progresso técnico para o crescimento econômico. Embora as conceituações e
definições à época não tratassem do tema da forma e com a importância dada nos
dias atuais é inegável ao analisar os textos originais desses economistas clássicos, a
identificação da influência da questão da tecnologia como elemento participativo do
crescimento econômico de uma determinada região e o estabelecimento de
vantagens.
25 - Baiardi, Amílcar. Revista Baiana de Tecnologia – TECBAHIA. Ciência, Tecnologia e a Rediscussão da
Questão Regional. Camaçari. V. 11, N. 1, Jan/abr 1996.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
74
A despeito da identificação efetivada pelos economistas clássicos, não existiu uma
contribuição em termos do aprofundamento da análise e da sistematização do papel
da tecnologia ou do progresso técnico no processo de obtenção das vantagens sejam
elas absolutas ou comparativas. Essa contribuição também não apareceu na maioria
dos trabalhos dos economistas neoclássicos; vindo surgir apenas com o trabalho de
Schmookler (1966) – Invention and Economic Growth, que abordou o desempenho da
economia norte-americana no pós Segunda Guerra Mundial, introduzindo a questão
tecnológica como elemento impulsionador do crescimento econômico. A partir de
então a mudança tecnológica e / ou processo de inovação constituem-se em uma área
da economia denominada Economia da Tecnologia. Atualmente, em maior ou menor
grau de influência, seja como elemento constitutivo ou explicador, a mudança
tecnológica passou a ser elemento da maioria das escolas do pensamento
econômico.
Entretanto é nessa nova área de conhecimento da ciência econômica que a mudança /
inovação tecnológica e suas relações com o processo de crescimento e
desenvolvimento econômico vão estar presentes de forma mais profunda e
estruturada. Baiardi (1996) chama atenção para alguns temas que têm sido
importantes questões de análise na Economia da Tecnologia, dentre os quais pode-se
destacar: 01 - As políticas públicas de ciência e tecnologia e das instituições
integrantes do sistema nacional / regional de inovações tecnológicas e seus impactos
econômicos. 02 – As decisões empresariais e o processo de inovação tecnológica
(produção e introdução de inovações). 03 – O funcionamento do sistema de geração
de tecnologias e os mecanismos de endogeneização da demanda pela pesquisa e
desenvolvimento – P&D. 04 – Os mecanismos de aumento da competitividade dos
sistemas econômicos nacionais e regionais, através da competitividade
microeconômica ou da competitividade sistêmica.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
75
Percebe-se, então, que a o processo de inovação tecnológica e todas as questões
inerentes ao progresso técnico, irão proporcionar a criação de vantagens decisivas no
processo de crescimento e desenvolvimento econômico, sendo que, não só os
diferentes estados de acumulação de capital, mas, também, os diferentes estados de
acumulação tecnológica serão determinantes na obtenção e manutenção de vantagens
entre países e regiões. Vernon26 (1979) analisa que o processo de inovação e
acumulação tecnológica tem influenciado no ciclo de vida dos produtos (concepção,
desenvolvimento e vida comercial) e com isso, influenciado favoravelmente a obtenção
e manutenção de vantagens no comércio internacional através da manutenção de
lucros extraordinários de monopólios. Dessa forma, quanto maior o espaço de tempo
que uma determinada região ou nação puder sustentar a sua vantagem tecnológica -
gap, maiores os benefícios auferidos no comércio internacional com os países
exportadores de produtos estandartizados que não podem viabilizar lucros
extraordinários de monopólio.
Essa nova visão de obtenção de vantagens através do processo de inovação
tecnológica avança, não somente em relação à teoria clássica de vantagens absolutas
e comparativas, mas também em relação os modelos neoclássicos de análise do
comércio internacional. Para Dosi e Soete27 (1990) as investigações dos modelos
neoclássicos que apontam para as imperfeições de mercado, rendas de oligopólios e
de monopólios e as inequalizações do fator preço, não seriam suficientes ou únicas
para explicar os desempenhos assimétricos entre as regiões e ou nações. Para esses
autores o desenvolvimento de um sistema de inovação tecnológica (capacidade
inovativa), que deve ser entendido pela convergência entre acumulação de capital e
acumulação de tecnologias, configura-se em elemento preponderante na explicação
26 - Vernon, R. La inversion internacional y el comercio internacional em el ciclo de productos. In Rosenberg, N.
Economia Del cambio tecnológico. México: Fondo de Cultura Econômica, 1979.
27 - Dosi, G. Soete, L. Technical change and international trade. In: Dosi, G. et al. Technical change end
economic theory. London: Pinter Publishers, 1990.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
76
das diferenças nas relações de comércio, das alterações na relação peso / valor de
um produto e das dificuldades em alcançar um equilíbrio nas relações de troca,
gerando com isso implicações virtuosas ou perversas nos padrões de alocação de
investimentos (Baiardi, 1996).
É interessante observar que as questões ligadas às assimetrias entre regiões ou
nações dentro do sistema capitalista ou dos intercâmbios desiguais já haviam sido
observadas, segundo Baiardi (2005), também por alguns autores da escola marxista
(Arghiri Emmanuel, Samir Amin e outros). Apesar do enfoque desses autores não se
ater especificamente à questão da inovação tecnológica, a abordagem dessa escola
de pensamento francesa é, de certa forma, pioneira na identificação de assimetrias
entre regiões, baseadas não somente na obtenção de vantagens absolutas ou
comparativas, mas na conquista de vantagens através do intercâmbio de duas
mercadorias que se dão em uma relação diferente daquela que resultaria da lei de
valor (intercâmbio desigual). Os autores analisam os elementos da composição
orgânica do capital entre diversas regiões ou nações e as características de seus
fatores (estrutura, mobilidade, etc.) tais como investimentos e mão-de-obra (trabalho),
taxas de lucro, salários, etc., para explicar as diferenças nas relações de trocas entre
nações ou regiões.
2.4.2 –Che Guevara, a valorização do capital e o intercâmbio desigual.
Na mesma linha de análise das assimetrias e intercâmbio desigual, um pensador,
pouco citado pelas escolas de pensamento econômico, Ernesto Che Guevara, em
seus trabalhos, também abordou o tema. Segundo Baiardi28 (2005), para Che Guevara
o pensamento econômico marxista não oferecia, em sua fundamentação, respostas
28 BAIARDI, A. ; MENDES, J. . A HETERODOXIA NO PENSAMENTO ECONÔMICO DE ERNESTO CHE
GUEVARA. In: 4º Colóquio Marx e Engels, 2005, Campinas. Anais do 4º Colóquio Marx e Engels. Campinas : Centro de Estudos Marxistas, CEMARX, 2005. v. 1. p. 46-68.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
77
satisfatórias para os problemas como o financiamento da produção, o abastecimento,
a remuneração dos fatores e as relações de comércio internacional. Dessa forma,
apesar de seu pensamento orientar-se essencialmente pelas idéias marxistas, ele
buscou inspiração em outras fontes do pensamento econômico para desenvolver suas
proposições.
As divergências das proposições de Che Guevara e o pensamento marxista são
notados em alguns momentos, dentre os quais pode-se destacar seu entendimento
com relação à gestão coletiva e descentralizada da atividade econômica, acreditando
ele, ser possível em uma economia socialista. Ele advoga que a autonomia da gestão
produtiva não deveria ser reduzida à agricultura, mas também poderia ser aplicada à
indústria de bens de consumo de setores não estratégicos, através de uma economia
planificada democraticamente. Essa posição divergia, em certa medida, da
programação centralizada adotada pelos países do Comecon29, que visava o
desenvolvimento harmônico e proporcional da economia, pois, Guevara discordava
que o planejamento fosse uma “camisa de força” que não pudesse ser modificado, ver
Baiardi (2005).
Destaca-se ainda um outro aspecto que diz respeito ao financiamento do investimento
produtivo e o custeio da produção. Para o autor a alocação de recursos para a
ampliação e manutenção da capacidade produtiva na economia, devia fazer parte de
uma concepção geral de desenvolvimento e de construção do socialismo e, para tanto,
o Estado deveria centralizar e controlar o fluxo de financiamentos e as transferências
de recursos da economia evitando desequilíbrios de uma possível acumulação por
parte de empresas e / ou setores mais dinâmicos. O entendimento do autor era que o
Sistema Orçamentário de Financiamento funcionaria como elemento central cuja
operacionalização propiciaria a aplicação, na medida do possível, da lei do valor nas
trocas e que pudessem expressar as condições médias de alocação de capital
29 - Comecon ou Komecon Conselho de Ajuda Mútua Econômica. Bloco econômico dos países socialistas,
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
78
constante e capital variável no conjunto da economia.(Baiardi, 2005). A despeito de
não se apresentar como um formulador e não ser referencial na literatura econômica,
as reflexões de Ernesto Che Guevara contribuíram, com suas críticas, ao modelo de
planificação socialista.
Segundo Baiardi (2005), [...] Guevara identificava uma série de fatores que
influenciariam os preços internacionais e que não atuariam sobre os preços do
segmento socialista da economia cubana. Entre eles estariam o avanço
tecnológico[...]. Nessa ótica, Guevara apresenta um quadro comparativo com as
quantidades de produtos primários necessários para adquirir um produto
manufaturado (trator) (tabela 02), ressaltando, com isso, que firmas ou setores e até
mesmo nações que consigam aumentar sua composição orgânica do capital (C/V)
conseguiram obter vantagens no seu comércio internacional.
Tabela 02. Quantidades de produtos primários necessários para adquirir um trator de
30 -39 HP.
Cantidades de productos primários necesarias para adquiri um tractor de 30-39 HP.
(Fuentes: FAO, Production Yearbook; Financial Statistics)
Productos y porcentaje País Cantidades necesarias Aumento
de sus exportaciones (en Tn. Métricas) (Tn. Métricas) (Porcentaje)
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
79
1955 1962
Cacao 67% Ghana 3.06 7.14 4.08 133%
Aceite de coco 35% Filipinas 11.21 13.63 2.42 21%
Café 46% Brasil 2.38 4.79 2.41 101%
Cobre 58% Rhodesia 4.23 5.45 1.22 28%
Algodón 71% Rep. Árabe U. 2.11 3.41 1.30 61%
Petróleo 92% Venezuela 938* 1.118* 180 19%
Arroz 71% Birmania 26.35 32.57 6.22 23%
Caucho 66% Malásia 3.27 5.55 2.28 70%
Té 60% Ceilán 1.89 2.93 1.04 55%
Tabaco 25 % Turquia 1.77 2.90 1.13 63%
Lana 55% Uruguay 1.94 2.59 0.58 20%
* Barriles
Fonte: Extraído de Teoria económica del período de transición: Consideraciones sobre los
costos de producción. Ediciones Pasado y Presente (Org.). (Ernesto Che Guevara) 1972.
Em sua argumentação, Baiardi (2005) identifica, através da exposição de Guevara,
que a lei do valor transforma-se em lei de valorização do capital, conferindo vantagens
de intercâmbio às nações.
2.5 – Competitividade e suas abordagens
2.5.1 – Conceitos e divergências
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
80
Após a breve incursão na linha do tempo sobre os tipos de vantagens econômicas na
competição e suas abordagens teóricas (desde as absolutas abordadas por Smith ou
comparativas introduzidas por Ricardo até os conceitos de região e território), o tema
vantagem competitiva ou competitividade começa a despertar maior interesse teórico
dos estudiosos a partir da década de 70. Isso ocorre “vis a vis” o esgotamento do
poder explicativo das teorias de comércio internacional baseadas nas vantagens
comparativas de Ricardo (custo de oportunidade) e suas derivações teóricas.
É importante destacar que com relação à questão das vantagens, existe uma alteração
da linha teórica até então analisada. Enquanto as teorias de vantagens absolutas e
vantagens comparativas estão centradas no campo das teorias de comércio
internacional, tendo como pressupostos, dentre outros, a não mobilidade dos fatores, a
concorrência perfeita nos mercados e custos constantes à escala; quando é abordado
o tema das vantagens competitivas ou da competitividade, de uma forma geral, os
conceitos estão mais relacionados ao campo das teorias ligadas ao campo da
economia industrial ou da empresa.
Dessa forma, muito se tem discutido sobre o tema sendo várias definições elaboradas
por diversas correntes teóricas sem que se chegasse a uma definição única e
acabada. Entretanto, o termo extrapola sua ambiência teórica e começa a ser utilizado
de forma generalizada e indiscriminada tanto dentro quanto fora dos meios
acadêmicos. Essa popularização do termo em nada auxiliou a construção de conceitos
e postulados que pudessem compor um corpo teórico. Vale ressaltar também a
complexidade do assunto, em termos teóricos, e uma questão particular que ainda
recai sobre o termo que é a sua utilização pelas teorias econômicas e pelas teorias
organizacionais a partir do final da década de 70 e início da de 80.
Em termos de teoria econômica, a análise dos elementos macroeconômicos e
microeconômicos apresentava-se, até então, insuficiente para explicar a maior parte
dos comportamentos das variáveis ambientais. O foco de análise adotado levava a
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
81
uma compreensão parcial dos fenômenos econômicos a partir da ótica ortodoxa das
escolas clássicas e neoclássicas.
Dessa forma, a teoria econômica buscou encontrar novas concepções / formulações
que auxiliassem o entendimento do comportamento das organizações, indústrias /
segmentos e regiões ou mesmo países, surgindo então, dentre outros conceitos, o de
competitividade ou de vantagens competitivas. Segundo Vasconcelos30 (2000) “a
partir dos anos 70, diversas correntes do pensamento econômico abordaram a
questão da vantagem competitiva utilizando abordagens conceituais diferentes”.
Apesar de inúmeros estudos e tentativas de definições, os economistas não
conseguiram consenso com relação a uma definição única sobre competitividade.
No entanto, dentre as abordagens sobre o tema, cabe destacar o trabalho de
Chudnovsky31 (1990) que tenta sistematizar varias definições de competitividade
(conforme quadro a seguir), propondo a existência de enfoques macroeconômicos e
microeconômicos nos conceitos de competitividade.
Kupfer32 (1992) analisa os enfoques propostos por Chudnovsky ressaltando que no
enfoque microeconômico as definições de competitividade estão centradas na firma
(quadro 01), mesmo que para alguns teóricos, as definições possam ser
generalizadas, por extensão, para regiões ou países. Já no enfoque macroeconômico
as definições de competitividade aparecem invariavelmente como capacidades de
economias nacionais apresentarem resultados econômicos satisfatórios (quadro 02),
30 Vasconcelos, F.C. Vantagem Competitiva: Os modelos teóricos atuais e a convergência entre estratégia e
teoria organizacional. RAE – Revista de Administração de Empresas. Out./dez. 2000. São Paulo, v.40. n. 4. p.20-37.
31 Chudnovsky, D. La Competitividad Intenacional: Principales Cuestiones Conceptuales y Metodológicas.
*Documento revisado del estudio preparado para el Centro de Estudios e Investigación de Postgrado CEIPOS), Universidad de la República, Uruguay en enero de 1990.
32 Kupfer, D. Padrões de Concorrência e Competitividade. Texto para Discussão 265, IEI/UFRJ, publicado nos
Anais do XX Encontro Nacional da ANPEC, Campos do Jordão, SP. 1992
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
82
ou ainda, de forma mais abrangente, apresentar esses resultados econômicos
simultaneamente à melhoria no nível de vida da população (quadro 03).
Chudnovsky identifica que a passagem do nível microeconômico para o macro
sustenta algumas dificuldades. O primeiro ponto salienta a dificuldade de identificação
do sujeito / agente, que em nível micro pode ser identificado facilmente como a firma,
mas que em nível macro suscita dúvidas. O segundo ponto é a definição de critérios
objetivos para medição da competitividade, bem como a identificação das fontes de
competitividade.
Definições centradas o conceito da firma “Competitividade é a aptidão de vender aquilo que é produzido” (Mathis et al, 1988) "Significa a capacidade das empresas de um dado país de conceber / desenhar, desenvolver, produzir e vender seus produtos em concorrência com outras empresas baseadas em outros países" (Alic, 1987, pag. 5) "A competitividade industrial é uma medida da capacidade imediata e futura dos empresários de conceber, produzir e vender produtos cujos atributos em termos de preço e além dos preços configurem um pacote mais atrativo que os produtos similares oferecidos pelos competidores: onde o juiz final será o mercado"(European Management Forum, 1980, citado por Chesnais, 1981, pág.10) "A capacidade de uma indústria (ou empresa) de produzir bens com padrões de qualidade específicos, requeridos por determinados mercados, utilizando recursos em níveis iguais ou inferiores aos utilizados por indústria semelhantes no resto do mundo por um determinado período de tempo" (Haguenauer, 1989, pag. 23) "Uma economia é competitiva na produção de um determinado bem quando pode, pelo menos, igualar os padrões de eficiência vigentes no resto do mundo em termos de utilização de recursos e qualidade do bem" (Tavares de Araujo Jr et al, 1989, pag 1 y 2) "Uma firma (ou uma economia nacional) será competitiva se é vitoriosa (possui uma boa colocação) em sua confrontação com seus competidores no mercado (nacional ou mundial)" (Michalet, 1981, pag.1, subrayado en el original) Quadro 01: Definições de Competitividade – Conceito da firma. Fonte: Elaborado a partir do texto La Competitividad Intenacional: Principales Cuestiones Conceptuales y Metodológicas. CHUDNOVSKY, 1990. Elaboração própria.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
83
Definições centradas na capacidade de uma economia nacional em atuar no comércio internacional
"Se identifica a competitividade com a capacidade de fazer retroceder os limites de restrição externa..." Mathis et al (1988) (pág. 7). "A capacidade de um país (ou grupo de países) de enfrentar a competição a nível mundial. Inclusive tanto a capacidade de um país exportar e vender nos mercados externos como sua capacidade de defender seu próprio mercado doméstico da excessiva penetração das importações" (Chesnais, 1981, pág. 8). “É basicamente a participação das exportações de um país no mercado mundial” (Fouquin, 1986). Quadro 02: Definições de Competitividade – Comércio internacional. Fonte: Elaborado a partir do texto La Competitividad Intenacional: Principales Cuestiones Conceptuales y Metodológicas. CHUDNOVSKY, 1990. Elaboração própria. Definições centradas não apenas em termos de comércio internacional ou da defesa do mercado nacional, mas no bem estar econômico e aumento
do nível de renda "A capacidade de um país em alcançar objetivos fundamentais de política econômica, tais como o crescimento de entradas e empregos, sem incorrer em dificuldades na balança de pagamentos " (Fagerberg, 1988, pag. 355) "É quando uma nação pode, em condições de livre comércio, produzir bens e serviços que satisfaçam as exigências dos mercados internacionais e simultaneamente, manter ou expandir a renda de seus cidadãos" (President's Commission on Industrial Competitiveness, 1985, pag. 6) "A capacidade de produzir, distribuir e prover bens e serviços na economia internacional em concorrência com bens e serviços de outros países, e fazê-lo de forma a aumentar o nível de vida da população" (Scott, 1985, pag.14 y 15) "É quando um país, em um mundo de mercados abertos, produz bens e serviços que satisfaçam as exigências do mercado e simultaneamente expanda seu PIB per capitã, ao menos tão rapidamente quanto seus parceiros comerciais " (Jones y Teece, 1988, pag. 108) "A capacidade de um país para sustentar e expandir sua participação nos mercados internacionais e elevar simultaneamente o nível de vida de sua população. Isto exige o incremento da produtividade e, por último, a incorporação de progresso técnico" (Fajnzylber, 1988, pag. 13) Quadro 03: Definições de Competitividade – Bem estar econômico. Fonte: Elaborado a partir do texto La Competitividad Intenacional: Principales Cuestiones Conceptuales y Metodológicas. CHUDNOVSKY, 1990. Elaboração própria.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
84
Kupfer (1992) não concorda com o posicionamento de Chudnovsky (1990) com
relação ausência de dificuldades na conceituação de competitividade em termos
microeconômico, o qual seria:
[…] A nivel microeconómico el concepto de competitividad no ofrece mayores dificultades. Em primer lugar, el agente económico de que se trata es fácilmente identificable, una empresa productora de bienes o servicios. En segundo lugar, dicha empresa está dirigida por sus dueños o ejecutivos que fijan una estrategia de producción y comercialización y, eventualmente, de desarrollo tecnológico y toman decisiones para poner en práctica dicha estrategia. Finalmente, los resultados obtenidos se van a reflejar en las ventas logradas y, por ende, en la participación en el mercado respectivo. Aún cuando a veces una mayor participación en el mercado se logra a costa de los márgenes de ganancia, es lícito suponer, en el mediano plazo, una correlación positiva entre participación en el mercado y márgenes de ganância. (CHUDNOVSKY, D. La Competitividad Intenacional: Principales Cuestiones Conceptuales y Metodológicas.p.10)
Kupfer (1992) justifica ainda sua discordância postulando que mesmo em nível
microeconômico, estabelecer uma noção precisa e operacionalizável de
competitividade encerra ainda muitas dificuldades:
[...] A seleção de estratégias competitivas e a tomada de decisão empresarial está longe de ser um processo trivial, mormente em ambientes sujeitos a inovação tecnológica, pois as informações que condicionam esse processo não podem ser completamente obtidas dos sinais emitidos a cada instante pelo mercado. A noção de competitividade, portanto, não pode prescindir de fundamentos microeconômicos genéricos, que sejam pertinentes com suas particularidades enquanto objeto analítico. Esses fundamentos, por sua vez, são demarcados pela dinâmica do processo de concorrência, em particular, pela interação entre as condições estruturais que o direcionam e as condutas inovativas das empresas que o transformam.(KUPFER, D. Padrões de Concorrência e Competitividade .p.01. 1992)
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
85
Essa correlação entre os conceitos de competitividade e de concorrência feita por
Kupfer (1992) é importante para a compreensão da complexidade que envolve as
definições de competitividade. No enfoque do autor, depreende-se que sem os
conceitos de concorrência e a as noções de firma, industria e mercado com a
identificação de suas variáveis básicas descritivas, não existe, a princípio,
competitividade.
Haguenauer33 (1989) procurou sistematizar conceitos de competitividade em dois
grandes grupos. Os conceitos de competitividade baseados no desempenho e na
eficiência:
CONCEITO DESEMPENHO
[...] A noção mais simples, implícita em grande parte dos textos, associa competitividade ao desempenho das exportações industriais. Trata-se de um conceito ex-post, que avalia a competitividade através de seus efeitos sobre o comércio externo: são competitivas as indústrias que ampliam sua participação na oferta internacional de determinados produtos. Além de ser quase intuitivo, a vantagem deste conceito está na facilidade de construção de indicadores, argumento utilizado, por exemplo, por Gonçalves (1987) na análise das exportações brasileiras. É ainda o conceito mais amplo de competitividade, abrangendo não só as condições de produção como todos os fatores que inibem ou ampliam as exportações de produtos e / ou países específicos, como as políticas cambial e comercial, a eficiência dos canais de comercialização e dos sistemas de financiamento, acordos internacionais (entre países ou empresas), estratégias de firmas transnacionais, etc.. Mesmo autores que incorporam outros elementos à noção de competitividade enfatizam o papel do desempenho exportador no conceito: “a competitividade consiste na capacidade de um país para manter e expandir sua participação nos mercados internacionais e elevar simultaneamente o nível de vida de sua população. (Fajnzylber, 1988, p.13)”.(HAGUENAUER, L.
33 - Haguenauer, L. Competitividade: Conceitos e Medidas: Uma resenha da Bibliografia recente com ênfase no caso brasileiro. Texto para discussão n. 211. p.02. UFRJ / IEI. 1989.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
86
Competitividade: Conceitos e Medidas: Uma resenha da Bibliografia recente com ênfase no caso brasileiro .p.02. 1989)
CONCEITO EFICIÊNCIA
[...] Outra linha de autores vê a competitividade como uma característica estrutural, conceituando-a como a capacidade de um país de produzir determinados bens igualando ou superando os níveis de eficiência observáveis em outras economias. O crescimento das exportações seria uma provável conseqüência da competitividade, não sua expressão. Em relação à competitividade no desempenho, é um conceito potencial, ex-ante, e geralmente restrito às condições de produção.(HAGUENAUER, L. Competitividade: Conceitos e Medidas: Uma resenha da Bibliografia recente com ênfase no caso brasileiro .p.03. 1989)
Essa sistematização efetivada pela autora leva a uma outra possível caracterização
sobre a abordagem da competitividade que é seu enfoque ex-ante ou ex-post.
Segundo Kupfer, o conceito competitividade desempenho tenderia a um enfoque ex-
post, ou seja, como resultado de um vasto conjunto de fatores utilizados pelo agente. E
o conceito competitividade eficiência estaria atrelado a um enfoque ex-ante, ou seja, o
grau de capacitação detido pela firma de concorrer.
Ambos enfoques auxiliam no entendimento das dimensões dos conceitos de
competitividade, porém, não extinguem as limitações conceituais efetivadas até então,
pois, não conseguem ainda tratar o caráter estático das abordagens. Kupfer analisa
que, em uma abordagem dinâmica, os conceitos e enfoques sobre competitividade
relacionando com desempenho e eficiência são tautológicos, não se podem, em
princípio, estabelecer relações diretas de causalidade.
Fanjzylber34 além de sua conceituação para competitividade acrescenta uma nova
dimensão para o conceito.
34 - Fajnzylber, F. (1988).Competitividad Internacional: Evolucion y Licciones; Revista de La Cepal; n. 36;
Santiago.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
87
[...] A capacidade de um país para sustentar e expandir sua participação nos mercados internacionais e elevar simultaneamente o nível de vida de sua população. Isto exige o incremento da produtividade e, por último, a incorporação de progresso técnico[...] (Fajnzylber, F. (1988).Competitividad Internacional: Evolucion y Licciones; Revista de La Cepal; n. 36; Santiago).
Segundo o autor a competitividade pode ser considerada espúria se consistir em
ganhos de produtividade e de fatias de mercado conquistados através de um
empobrecimento da nação / região (salários baixos e subsídios); e, a competitividade
legítima que consiste em um conceito com forte vinculação à incorporação de
progresso técnico, dinamismo industrial e elevação da produtividade.
Possas e Carvalho35 (1990), ainda sob a ótica da firma, definem competitividade como
sendo “o poder de definir (formular e implementar) estratégias de valorização do
capital, desde que baseado em aspectos econômicos e não institucionais”.
2.5.2 – Competitividade Sistêmica
Teixeira36 (2003) concorda que o conceito de competitividade, embora bastante
utilizado nos meios acadêmicos, revela ainda lacunas teóricas e empíricas associadas
a estudos sobre estruturas e políticas industriais. Segundo o autor, as distintas
acepções do conceito de competitividade estão relacionadas a diferentes linhas
teóricas. Dentro da escola neoclássica, o conceito teria forte vinculação industrial, cujo
foco seria o distanciamento entre o desempenho de um dado setor industrial e aqueles
teoricamente possíveis de serem obtidos através da concorrência perfeita. Essa proxy
conceitual explica-se pela utilização de um modelo de concorrência perfeita
neoclássica com pressupostos que garantam estruturas industriais perfeitamente
35 Possas, M. L. e Carvalho, E.A.; Competitividade Internacional: Um enfoque teórico; mimeo; s.d 36 Teixeira, Francisco; Guerra, Oswaldo. A Competitividade na Cadeia de suprimento da Indústria de Petróleo
no Brasil. R. Econ. Contemporânea. Rio de Janeiro, 7(2): 263-288, jul/dez. 2003.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
88
competitivas com grande número de empresas; homogeneidade dos produtos;
ausência de barreiras à entrada; e plena informação.
Teixeira prossegue ainda relacionando, em paralelo à concepção neoclássica, o
surgimento de uma outra concepção para o termo competitividade. Essa concepção
tem origem na insuficiência que a teoria neoclássica teria para dar respostas
razoáveis aos problemas reais em termos de eficiência econômica. Nessa
abordagem, na qual a firma teria resgatado um papel de maior relevância, a
competitividade estaria associada à indicadores de desempenho resultantes das
condutas empresariais que, estariam inseridas dentro de uma estrutura de indústria,
que forçariam, por sua vez, a uma conduta. Esse resgate da firma como ator principal
no processo econômico fica claro no modelo E-C-D de Mason (1939) Estrutura-
Conduta-Desempenho (figura 07).
Figura 07: Modelo Estrutura –Conduta – Desempenho. Fonte: Adaptado de Scherer e Ross (1990). Elaboração própria.
Nessa abordagem alternativa fica evidente que a eficiência econômica neoclássica
(alocativa / distributiva / produtiva) divide espaço com uma eficiência dinâmica por
considerar as possibilidades de trade-offs e ainda por considerar lucros
extraordinários aceitáveis, dentro de determinados parâmetros, como forma de
Estrutura - Número e tamanho
de empresas. -Barreiras à entrada
e saída. -Diferenciação de
Produto - Integração Vertical
Conduta -Estratégia de preço. - Estratégia de mkt. - Estratégia de P&D. -Estratégia de
Logística.
Desempenho -Eficiência produtiva
e alocativa. - Progresso técnico. - Pleno Emprego. -Equidade Sócio-
econômica.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
89
viabilizar investimentos em P&D. Entretanto essas duas concepções de
competitividade, além de não suprir completamente as lacunas teóricas, trabalham
sob uma perspectiva de análise de performance competitiva de atividades específicas
(setores / segmentos industriais); Teixeira (2003) coaduna com a opinião de Krugman
(1999) que transpor o conceito de competitividade para regiões e países exigiria
adaptações metodológicas que não seriam triviais. Para esses autores é difícil
estabelecer o que é um país competitivo, devido ao forte componente setorial /
microeconômico implícito nessa noção de competitividade.
Entretanto, sob a ótica de Fajnzylber, o conceito de competitividade sistêmica ganha
uma análise teórica, consubstanciada em estudos empíricos nas décadas de 70 e 80,
em países industrializados (Japão, Estados Unidos e Alemanha) e nos chamados NICs
– Newly Industrialized Countries. Apesar de não utilizar o termo competitividade
sistêmica, nesses estudos o autor caracteriza a competitividade em duas dimensões:
autêntica ou espúria, sendo a primeira obtida através do aumento da produtividade e
da incorporação de progresso técnico, e a segunda, conseguida por desvalorizações
cambiais, restrições de demanda, subsídios, mão de obra barata, etc... Em síntese,
para Fajnzylber (1989), competitividade sistêmica é o resultado da confrontação de
sistemas produtivos, esquemas institucionais e organismos sociais.
[…] En el mercado internacional compiten no solo empresas. Se confrontam también sistemas productivos, esquemas institucionales y organismos sociales, em los que la empresa contituye um elemento importante, pero integrado em uma red de vinculaciones com el sistema educativo, la infraestrutura tecnológica, lãs relaciones gerencial-laborales, el aparato institucional público y privado, el sistema financiero, etcétera....”(FAJNZYLBER, F. Competitividad Internacional: evolucion y lecciones .p.XX. 1988)
O autor prossegue ainda sua análise identificando os fatores condicionantes da
competitividade internacional (quadro 04).
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
90
Condicionantes da Competitividade Internacional (Fajnzylber, 1988) 01. Elevados níveis de investimento. 02. Alocação de recursos para investimentos em setores estratégicos. 03. Legislação trabalhista favorável (flexibilidade, seguridade social, educação, qualidade de mão de obra). 04. Relações trabalhistas harmoniosas e cooperação construtiva entre os distintos atores econômicos, sociais e políticos. 05. Inovações organizacionais (relações de cooperação horizontais intra firmas e inter firmas). 06. Sistema educacional adequado para a formação de recursos humanos habilitados para a reestruturação produtiva com a incorporação de progresso técnico. 07. Construção de vantagens comparativas com a absorção de progresso técnico. 08. Uso de instrumentos de política e a dimensão institucional. Quadro 04: Condicionantes da Competitividade Internacional. Fonte: Elaborado a partir do texto “Competitividade Sistêmica: A contribuição de Fernando Fajnzylber” Wilson Suzigan37 e Suzana Cristina Fernandes.UNICAMP. Elaboração própria.
Verifica-se então que, apesar de muitos autores não concordarem com conceito de
competitividade em termos macroeconômicos, ou entenderem que transposição do
conceito da firma para regiões ou mesmo países é uma tarefa de difícil execução,
existe uma corrente de teóricos que advogam que o conceito de competitividade,
quando analisado de forma sistêmica, pode ser utilizado para analisar a
competitividade de regiões e nações.
37 - Suzigan, W; Fernandes, S. C. Competitividade Sistêmica: A Contribuição de Fernando Fajnzylber.
IE/UNICAMP. In mimeo. 2002.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
91
” Pretenderíamos com isso dizer que o desenvolvimento econômico não é um fenômeno a ser explicado economicamente, mas que a economia, em si mesma sem
desenvolvimento, é arrastada pelas mudanças do mundo à sua volta, e que as causas, e portanto a explicação do desenvolvimento, devem ser procuradas fora do grupo de
fatos que são descritos pela teoria econômica”
“O Desenvolvimento, no sentido que tomamos, é um fenômeno distinto, inteiramente estranho ao que pode ser observado no fluxo circular ou na tendência para o equilíbrio.
É uma mudança espontânea e descontínua nos canais do fluxo, perturbação do equilíbrio, que altera e desloca para sempre o estado de equilíbrio previamente
existente”
Joseph Alois Schumpeter, 1934
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
92
3 – Vantagens e Inovação
3.1 – O Pensamento de Schumpeter: Inovação, Crédito e Destruição Criativa
3.1.1 - A concepção de equilíbrio de Walras como início
O Diamante Nacional de Porter trabalha implicitamente com o conceito de tecnologia
com sendo um dos fatores importantes na sua construção como modelo de
desenvolvimento econômico. Nesse aspecto é importante analisar a contribuição de
Joseph Alois Schumpeter e dos neo-schumpeterianos.
Schumpeter e sua Teoria do Desenvolvimento Econômico – TDE contribuíram para a
construção do modelo de Porter em dois aspectos fundamentais: Inovação e Crédito.
Os fundamentos desses dois conceitos abordados por Schumpeter estão alicerçados
no pensamento econômico do início do século XX, que estava bastante envolvido com
as Teorias do equilíbrio econômico geral. Vários economistas38 no final do século XIX
e início do século XX dedicaram seus esforços teóricos para a formulação de teorias
que explicassem o sistema econômico a partir de uma teoria do equilíbrio. Dentre
38 Para Napoleoni a teoria do equilíbrio se formou a partir da obra dos maiores economistas do fim do século
XIX:Menger na Áustria; Jevons, Edgeworth e Marshall na Inglaterra; Walras na França;Pareto e Barone na Itália; Clark e Fischer na América; Wicksell na Suécia.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
93
esses economistas Schumpeter utiliza-se da formulação de Walras da teoria do
equilíbrio para desenvolver seus conceitos e teorias.
Por ser fortemente embasada em equações algébricas, a formulação teórica do
equilíbrio proposta por Walras é uma das mais completas e rigorosas e por isso,
talvez, os elogios de Schumpeter ao economista. Não é propósito desse trabalho
explicitar em detalhes os conceitos desenvolvidos por Walras, entretanto serão
apresentadas as principais idéias que seriam posteriormente trabalhadas por
Schumpeter. Segundo Napoleoni,39 Walras trabalhou o conceito de riqueza social e fez
algumas categorizações interessantes. Para o autor o conceito de riqueza social
diferente do conceito ricardiano, [...] é o conjunto das coisas materiais ou imateriais
que são escassas, isto é, que por um lado nos são úteis e por outro, não são
disponíveis a não ser em quantidades limitadas [...]. Essa conceituação confere três
propriedades à riqueza: ser apropriável, ser objeto de troca e ser objeto da atividade
produtiva. Napoleoni identifica a classificação e as categorias (quadro 05) definidas
por Walras para o conceito de riqueza social:
Classificação de Riqueza Social Categorias
Os
capitais
São os Bens que não se
exaurem ao serem usados
uma única vez, mas que
ainda podem servir
novamente, ou ainda são os
bens duráveis.
01 – As Terras
02 – Os Capitais (máquinas, edifícios,
etc.)
03 – Os Capitais pessoais (capacidade
de trabalho)
Os
Rendimen
-tos
São os Bens que se exaurem
num só uso, que servem
apenas uma vez.
01 – Bens de consumo não duráveis.
02 – Bens intermediários (usados na
produção)
03 – Serviços dos bens de capital.
39 Napoleoni, Cláudio. O Pensamento Econômico do século XX. Círculo do Livro. Editora Paz e Terra. São
Paulo, Brasil.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
94
Quadro 05: Classificação de Riqueza Social, segundo Walras. Fonte: Produzido a partir de “O Pensamento Econômico do século XX”. Napoleoni, Cláudio. Círculo do Livro. Editora Paz e Terra. São Paulo, Brasil. Elaboração própria.
A partir da classificação e da categorização feita do conceito de riqueza social Walras
estrutura sua teoria do equilíbrio em quatro etapas (quadro 06).
Etapa 01 Etapa 02 Etapa 03 Etapa 04
Teoria da Troca:
ocupa-se da
determinação
das quantidades
trocadas e dos
preços dos bens
de consumo
Teoria da
Produção: ocupa-
se das quantidades
trocadas e dos
preços, seja dos
serviços produtivos
de capital, seja dos
bens
intermediários.
Teoria da
Capitalização:
ocupa-se das
quantidades
produzidas dos
capitais
propriamente
ditos e dos seus
preços.
A distribuição no tempo,
seja do aprovisionamento
dos bens intermediários,
seja da venda de
produtos, pode requerer à
necessidade de
antecipações.
(aparecimento do
fenômeno do capital
circulante)
Quadro 06: Etapas da teoria do equilíbrio, segundo Walras. Fonte: Produzido a partir de “O Pensamento Econômico do século XX”. Napoleoni, Cláudio. Círculo do Livro. Editora Paz e Terra. São Paulo, Brasil. Elaboração própria.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
95
Walras imagina ainda três agentes no sistema econômico (quadro 07), ligados ao
conceito de riqueza social e suas categorias e um quarto agente econômico que seria
uma das figuras centrais no trabalho de Schumpeter:
Categorias do Capital Agentes ligados ao Capital Outros
01 – As Terras
02 – Os Capitais (máquinas,
edifícios, etc.)
03 – Os Capitais pessoais
(capacidade de trabalho)
01 – Proprietários rurais
02 – Os Capitalistas no sentido
estrito
03 – Os Trabalhadores
Empresários
Quadro 07: Agentes no sistema econômico, segundo Walras. Fonte: Produzido a partir de “O Pensamento Econômico do século XX”. Napoleoni, Cláudio. Círculo do Livro. Editora Paz e Terra. São Paulo, Brasil. Elaboração própria.
Cada um desses agentes econômicos, enquanto ligados a uma categoria de capital
oferecem serviços produtivos desses mesmos capitais ao mercado. Walras, no
entanto, faz uma distinção, até então não existente, entre os capitalistas no sentido
mais estrito, como sendo aqueles que detêm os meios de produção (máquinas,
edifícios, etc.) e uma nova categoria de agente econômico: os empresários que são os
que adquirem no mercado os fatores de produção e, com base em uma tecnologia
dada, os combinam em processos produtivos dos quais surgem os produtos.
Dessa forma, o sistema econômico analisado por Walras e sua Teoria do equilíbrio,
advêm da interação desses agentes econômicos e seus fatores. Napoleoni expressa
que a configuração de equilíbrio proposta por Walras tenderia a acontecer, em um
ambiente de concorrência perfeita40, pelo fato de cada agente econômico buscar
comportar-se de modo a conseguir uma posição de máxima satisfação ou máxima
utilidade. Desses comportamentos derivarão conjuntos de quantidades ofertadas e de
40 - Cada um dos agentes econômicos seja suficientemente pequeno em relação ao mercado global, de
maneira a não influenciar, nem com sua oferta nem com sua demanda os preços do mercado.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
96
quantidades demandadas que se confrontarão no mercado; e o sistema de preços
dado pelo mercado se modificará a medida que oferta e demanda se confrontem num
processo contínuo até que se dê a igualdade completa entre quantidades ofertadas e
quantidades demandadas. O equilíbrio sistêmico ocorrerá quando duas condições se
justaporem. A condição denominada por Walras de condição subjetiva, que é a busca
por uma posição de máximo de cada agente isoladamente e a condição objetiva que
residiria justamente no equilíbrio entre demanda e oferta em um determinado mercado,
que garanta a condição subjetiva.
Um dos problemas expostos pela Teoria do equilíbrio de Walras diz respeito à
dificuldade do sistema em determinar / convergir uma única taxa de retorno para vários
capitais. Segundo Napoleoni, embora existam mecanismos para determinar o preço
de equilíbrio dos vários produtos através da confrontação entre demanda e oferta, para
as taxas de retornos dos diferentes capitais não existiriam mecanismos suficientes
para uma convergência a uma única taxa no mercado. Os problemas de taxas de
retorno e formação do capital colocaram dificuldades à teoria do equilíbrio geral.
3.1.2 - Teoria do Desenvolvimento Econômico (TDE) – Inovação, Crédito e a
Destruição Criativa
A teoria do equilíbrio econômico geral descrita por Walras é utilizada por Schumpeter
para o desenvolvimento de algumas de suas análises e conceituações no início do
século XX. Uma das questões prementes, que se apresentava aos economistas e
estudiosos dessa época, era como ocorria o processo de desenvolvimento
econômico. Schumpeter ao assumir a teoria do equilíbrio de Walras como ponto de
partida para suas indagações sobre desenvolvimento econômico, aceita os fatores e
agentes identificados por Walras e seu entendimento que o sistema econômico
tenderia ao equilíbrio. Entretanto, Schumpeter questiona que, partindo do pressuposto
da tendência ao equilíbrio, não existiria o desenvolvimento econômico, mas apenas um
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
97
crescimento vegetativo devido ao aumento da população e / ou da oferta de força de
trabalho.
Dessa forma, Schumpeter desenvolve a tese de que para que ocorresse o processo
de desenvolvimento econômico seria necessária uma ruptura nesse estado de
equilíbrio estacionário. O autor analisou que a conjunção das condições subjetivas e
objetivas apontadas no modelo walrasiano tendiam a se repetir continuamente em
busca de uma posição de máximo rendimento. Entretanto, esse processo reduziria o
papel dos agentes econômicos a uma rotina cíclica na qual seriam produzidos e
consumidos os mesmos bens e os fatores seriam sempre combinados da mesma
forma.
Schumpeter analisou que a ruptura desse processo e o conseqüente desenvolvimento
econômico adviriam de eventos que modificariam o sistema produtivo. Essas
modificações foram identificadas por ele com o termo inovações e a elas foram
atribuídas classificações (figura 08).
Inovações
Novos Bens ou características
Introdução de um novo bem ou de uma nova qualidade de um certo bem.
Novos Métodos Introdução de um novo método de produção, não experimentado em determinado ramo produtivo.
Novos Mercados
Abertura de um novo mercado para uma determinada indústria.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
98
Figura 08: Classificação das inovações, segundo Schumpeter. Fonte: Produzido a partir de Teoria do Desenvolvimento Econômico – TDE, J.A. Schumpeter. 1934. Elaboração própria.
Entretanto, faz-se necessário destacar uma substancial diferença no entendimento do
agente econômico empresário, que já aparece na configuração do sistema econômico
trabalhado por Walras e o entendimento proposto por Schumpeter. Para Walras o
agente econômico empresário era o elemento que, dada uma determinada tecnologia,
tinha a função de adquirir e combinar os fatores em processos produtivos para a
criação de bens (duráveis, de consumo, intermediários, etc.). Para Schumpeter, a
figura do empresário e da firma como unidades transformadoras têm uma conotação
diferente e muito mais relevante dentro do sistema econômico e no processo de
desenvolvimento. A função precípua do empresário para Schumpeter é trazer a
inovação para dentro do sistema econômico, tal ação é denominada por ele de ato
empresarial; dessa forma, para o autor, empresário é o agente que introduz a
inovação dentro do sistema econômico produzindo uma ruptura e promovendo o
desenvolvimento e sendo a firma o lócus dessa transformação.
Os resultados desses atos empresariais, em princípio, impediriam que a teoria do
equilíbrio geral se confirmasse, pois o aparecimento de lucros diferenciados41
romperia o estado estacionário descrito por Walras. Schumpeter aprofunda sua
41 - Schumpeter também observa que o aparecimento do lucro diferenciado, não quer dizer que ele seja
apropriado pelo agente empresário. Esse lucro, fruto do processo de inovação introduzido no sistema, proporcionará um aumento da riqueza social, que poderá estar retido por um dos agentes do sistema,
Novas Fontes de Insumos
O uso de uma nova fonte de oferta de matéria-prima ou de produtos semi-acabados.
Nova Organização
Estabelecimento de uma nova organização de uma indústria, como a criação ou ruptura de uma posição de monopólio.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
99
análise, vislumbrando que os atos empresariais que introduzissem inovações42 no
sistema econômico tenderiam, num processo de concorrência perfeita, a serem
repetidos pelas demais firmas, provocando com isso o desaparecimento dos lucros
diferenciados, voltando, a princípio, ao estado estacionário. Entretanto Schumpeter
observa que o processo de inovação é intrinsecamente radical e contínuo, ou seja, ele
estaria sempre acontecendo em alguma parte do sistema, proporcionando sempre o
aparecimento de lucros diferenciados em algum tipo de indústria e dando continuidade
ao processo de desenvolvimento econômico.
[...] Entenderemos por ‘Desenvolvimento’, portanto, apenas as mudanças da vida econômica que não lhes forem impostas de fora, mas que surjam de dentro, por própria iniciativa. Se se concluir que não há tais mudanças emergindo na própria esfera econômica, e que o que chamamos de desenvolvimento econômico é na prática baseado no fato de que os dados mudam e que a economia se adapta continuamente a eles, então diríamos que não há nenhum desenvolvimento econômico. Pretenderíamos com isso dizer que o desenvolvimento econômico não é um fenômeno a ser explicado economicamente, mas que a economia, em si mesma sem desenvolvimento, é arrastada pelas mudanças do mundo à sua volta, e que as causas, e portanto a explicação do desenvolvimento, devem ser procuradas fora do grupo de fatos que são descritos pela teoria econômica. Nem será designado aqui como um processo de desenvolvimento o mero crescimento da economia, demonstrado pelo crescimento da população e da riqueza. Por isso não suscita nenhum fenômeno qualitativamente novo, mas apenas processos de adaptação da mesma espécie que as mudanças nos dados naturais. Como desejamos dirigir nossa atenção para outros fenômenos, que consideraremos tais incrementos como mudanças dos dados.(SCHUMPETER, J.A. Teoria do Desenvolvimento Econômico – TDE, Cap. II p. 74. 1934).
42 - A despeito da classificação efetivada para o conceito de inovação, Schumpeter dá maior destaque às
inovações que proporcionam transformações radicais no sistema, pois estas, segundo o autor, caracterizam, de fato, o processo de desenvolvimento.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
100
Sua análise prossegue indicando que as inovações radicais possuem o poder
transformador e que tenderiam a gerar desenvolvimento econômico. Schumpeter
coloca:
[...] O Desenvolvimento, no sentido que tomamos, é um fenômeno distinto, inteiramente estranho ao que pode ser observado no fluxo circular ou na tendência para o equilíbrio. É uma mudança espontânea e descontínua nos canais do fluxo, perturbação do equilíbrio, que altera e desloca para sempre o estado de equilíbrio previamente existente [...]. (SCHUMPETER, J.A. Teoria do Desenvolvimento Econômico – TDE, Cap. II p. 78. 1934).
Na categoria de inovações radicais, o autor identifica que, em geral, elas comportam a
construção de novas instalações ou pelo menos a transformação radical das
instalações velhas e / ou obsoletas; e, para que isso realmente possa ser introduzido
no sistema econômico é necessário financiamento desses atos empresariais (crédito).
Schumpeter verifica que no sistema econômico estacionário ou em equilíbrio, as
atividades das firmas são auto-financiadas num processo cíclico por seus próprios
resultados, sendo a necessidade de financiamento mínima. Em um processo de
ruptura que ocasione o desenvolvimento seria necessário um financiamento ao
empresário, até então inexistente, pelo qual ele possa adquirir fatores produtivos para
que sejam orientados para um novo processo produtivo / inovativo.
Schumpeter especula sobre a utilização da poupança como forma de financiamento do
processo inovativo, porém ele argumenta que, ao utilizar um elemento proveniente de
um processo de desenvolvimento precedente, estaríamos incluindo dados da
explicação naquilo que deveria ser explicado. Em outras palavras, Schumpeter tenta,
em sua teoria sobre desenvolvimento, explicá-lo a partir de uma situação sem
desenvolvimento. É importante ressaltar ainda dois aspectos importantes: Primeiro
que, partindo do fluxo circular do equilíbrio walrasiano, não haveria estoques ociosos
de recursos para atender as necessidades dos empresários, não sendo possível o
processo de transformação (inovação) econômica gerando desenvolvimento. Segundo
que o elemento crédito ao qual Schumpeter se refere não deve ser confundido com o
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
101
crédito corrente presente e necessário ao fluxo circular na situação de equilíbrio.
Dessa forma, Schumpeter esclarece que o empresário é necessariamente um
devedor, pois, em princípio e diferente dos demais agentes econômicos, recebe bens
da corrente social antes de ter contribuído para esta de alguma forma43.
[...] O crédito é essencialmente a criação de poder de compra com o propósito de transferi-lo ao empresário, mas não simplesmente a transferência do poder de compra existente. A criação de poder de compra caracteriza, em princípio, o método pelo qual o desenvolvimento é levado a cabo num sistema de propriedade privada e divisão de trabalho. Através do crédito, os empresários obtêm acesso à corrente social dos bens antes que tenham adquirido o direito normal a ela. (SCHUMPETER, J.A. Teoria do Desenvolvimento Econômico – TDE, Cap. III p. 111. 1934).
Outro aspecto importante observado por Schumpeter e que ganharia notoriedade pela
aparente dicotomia do termo é o processo de Destruição Criativa. Schumpeter ao
elaborar sua crítica ao sistema walrasiano de concorrência faz uma distinção entre
“Capitalismo Concorrencial” e “Capitalismo Trustificado”. Para Schumpeter a
verdadeira concorrência não é a que se exerce entre pequenas firmas que produzem a
mesma mercadoria e que não teriam poder de influência junto ao mercado
(Concorrência Perfeita). A concorrência se daria entre as firmas inovadoras que, ao
produzirem produtos novos (novos processos), estariam destruindo os velhos ou
antigos (produtos ou processos). A esse processo concorrencial Schumpeter deu o
nome de “Destruição Criativa”. Esse conceito de concorrência, como observado por
Napoleoni, traz intrinsecamente o conceito de monopólio, pois a firma inovadora obterá
certo grau de domínio antes de ocorrer o processo de difusão, e, por conseguinte, um
lucro extraordinário. Em sua análise haverá a passagem de um capitalismo
concorrencial para um capitalismo trustificado, sendo que este processo não diminuiria
43 - Schumpeter esclarece que o fenômeno do crédito ao consumo, a despeito de toda a sua importância
prática no processo econômico, ele é excluído de sua análise.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
102
a intensidade do desenvolvimento econômico, como, em princípio, poderia se supor.
Schumpeter advoga justamente o oposto, que o processo desenvolvimento econômico
possa ser acentuado.
3.2 – A transição de Schumpeter para os Neo-schumpterianos: Rosenberg,
Vernon, Freeman, Nelson & Winter e Dosi.
Schumpeter, em seus trabalhos, ressaltou a importância de alguns elementos e
conceitos para o entendimento da dinâmica do desenvolvimento econômico,
destacando-se o papel das inovações, do juro, do capital, do lucro, do crédito e dos
ciclos econômicos. Sua colaboração foi de fundamental importância para a construção
de um novo paradigma de desenvolvimento econômico, descolado da noção de
equilíbrio da teoria neo-clássica, questionando os métodos estáticos de raciocínio e
de análise em economia.
A partir de Schumpeter, uma nova corrente teórica é estabelecida tendo diversos
teóricos aprofundado seus conceitos e análises. Surge dessa forma a abordagem neo-
schumpteriana. Segundo Kupfer44 (1996), “[...] esses autores têm como preocupação
central a lógica do processo de inovação e seus impactos na atividade econômica,
enfatizando o papel da mudança tecnológica na conformação das estruturas de
mercado e no processo de mudança estrutural[...]”. Convém apontar que, para
Schumpeter as inovações podem ser classificadas em 5 modos distintos e que, de
modo geral, para os neo-schumpterianos, os estudos e análises focam prioritariamente
o processo de inovação e o progresso técnico que abarcam apenas 3 das 5
dimensões identificadas por Schumpeter45.
44 - Kupfer, D. Uma Abordagem Neo-schumpteriana da Competitividade Industrial. Publicado em Ensaios FEE,
Ano 17. n.o. 1, pp.355-72, 1996. 45 - Em geral, as dimensões / classificações estabelecidas por Schumpeter como novos mercados e nova
organização não são abordados / destacados nos estudos dos autores neo-schumpetrianos.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
103
Dentre os teóricos da linha neo-schumpteriana destacam-se os trabalhos de Nathan
Rosenberg, Christopher Freeman, Richard R. Nelson & Sidney Winter, Giovanni Dosi e
Raymond Vernon. Em linhas gerais, esses autores deram suas contribuições
relacionando a atividade inovativa ao desenvolvimento econômico. Segundo Shikida e
Bacha46 (1998), Rosenberg constatou que a atividade inovativa comporta-se como um
procedimento de busca atrelado ao processo de aprendizagem. Freeman focou o
papel das empresas e suas estratégias tecnológicas. Nelson & Winter enfatizaram a
analogia com as ciências biológicas e as idéias de evolução a partir do
estabelecimento de rotina, busca e seleção. Dosi procurou contribuir com o
desenvolvimento dos conceitos de paradigma tecnológico e trajetórias tecnológicas. E
Vernon, por sua vez, contribuiu com a teoria do ciclo de vida do produto.
Rosenberg47 (1969), citado em Shakida e Bacha (1998), realça importantes pontos
sobre o processo de mudança tecnológica e assinala a influência que o nível de
aprendizado exerce sobre o rumo da mudança tecnológica. O autor observa a
existência de gargalos no processo de desenvolvimento como elemento impulsionador
e sugere uma teoria de mudança técnica induzida baseada na necessidade de superar
restrições sobre o crescimento. O foco de sua análise são as indústrias e empresas e
o processo produtivo. Rosenberg ressalta ainda a questão da aprendizagem
tecnológica como sendo a forma de conduzir o processo de mudança e
desenvolvimento econômico, podendo ser analisada sob dois conceitos fundamentais:
o learning-by-using (o resultado derivado do aprendizado via uso) e o learning-by-
doing (o resultado é derivado do aprendizado via processo produtivo).
46 - Shikida, P.F.A. e Bacha, C.J.C. Notas sobre o modelo Schumpteriano e suas principais correntes de
pensamento. Teor. Evid. Econ. Passo Fundo. V.5. n. 10 pp. 107 -126, maio 1998. 47 - Rosenberg, N. The direction of technological change. Inducement mechanisms and focusing devices.
Economic Development and Cultural Change, v.18, n.1, p. 1-24, october 1969.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
104
Esses dois conceitos colocam a questão do aprendizado como elemento central ao
processo de mudança tecnológica, pois, para Rosenberg, a atividade inovativa deve
ser analisada como um procedimento de busca, cujos resultados não são conhecidos
ex-ante. O autor salienta que as decisões de inovação, bem como as de investimento,
carregarão determinado grau de incerteza. E como forma de diluir ou mesmo balizar o
processo de escolha por parte das empresas ou das indústrias aparece como
elemento central o nível de aprendizagem tecnológica.
Dessa forma, Rosenberg contribui para a discussão sobre desenvolvimento, sob a
ótica evolucionista neo-schumpteriana, contrapondo determinados postulados
neoclássicos, em especial a noção de equilíbrio e da racionalidade maximizadora,
estabelecendo a relação entre desenvolvimento econômico e o processo inovativo,
tendo as condições de incerteza como elemento importante de sua análise; e ainda,
identificando a importância do nível de aprendizado tecnológico e sua influência no
rumo da mudança tecnológica.
Freeman48 (1974), por sua vez, e, ainda em um enfoque microeconômico, concentrou
suas análise no uso da tecnologia e de seu importante papel para as empresas
(quadro 08). Em seus estudos, o autor conseguiu classificar as estratégias
tecnológicas nas empresas em 6 categorias (Shakida e Bacha , 1998):
Estratégia
Tecnológica
Caracterização
Ofensiva Estratégia intensiva em P&D e com elevando nível de pesquisa aplicada. Tem como objetivo a liderança técnica e de mercado.
Defensiva Estratégia intensiva em P&D, mas com o propósito de evitar o distanciamento tecnológico. Tem como foco a diluição do risco.
48 - Freeman, C. Innovation and the strategy of the firms. In: FREEMAN, C. The economics of industrial
innovation. Harmondsworth: Penguin Books, 1974. p. 225 – 282.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
105
Especial atenção nas áreas de vendas, publicidade, treinamento e patentes.
Imitativa Estratégia copiativa com o foco na redução de custos. Sem investimentos em P&D.
Dependente Estratégia focada para a associação institucional ou econômica com outras empresas. Sem investimentos em P&D.
Oportunista Estratégia focada me nichos de mercado. Sem investimentos em P&D.
Tradicional Estratégia focada para atuação em mercados próximos à conocrrência perfeita (atomizados) ou a mercados oligopolizados. Sem investimentos em P&D.
Quadro 08: Estratégias tecnológicas nas empresas, segundo Freeman. Fonte: Elaborado a partir do texto “Notas sobre o modelo Schumpteriano e suas principais correntes de pensamento”. Shikida e Bacha. 1989. Elaboração própria.
Os autores Nelson & Winter49 (1982) analisam que, para um ambiente concorrencial
entre as firmas, existe a tendência de um comportamento, por parte da firma, que pode
ser explicado pelos conceitos de rotina, busca e seleção. Segundo Nelson & Winter,
citados em Shikida e Bacha, 1989:
“[...] as firmas apresentam determinados padrões de crescimento que são assimiláveis à rotina, sendo o análogo biológico de rotina a carga genética; para o processo de busca (mudanças de rotina), tem-se a mutação e, para o mecanismo de seleção, o meio ambiente[...]”.(Shikida e Bacha, Notas sobre o modelo Schumpteriano e suas principais correntes de pensamento, 1989)
Segundo os autores:
[...] a rotina é o conjunto de técnicas e processos organizacionais que caracterizam o modo através do qual as mercadorias e serviços são produzidos [...]; O processo de busca compreende as atividades organizacionais que estão associadas com a avaliação de rotinas correntes, que podem levar à alteração destas[...]; e a seleção tem a ver com a estrutura institucional”. (Shikida e Bacha, Notas sobre o modelo Schumpteriano e suas principais correntes de pensamento, 1989)
49 - Nelson, R. R.; Winter, S.G. In search of a useful theory of economic change. Cambridge: Harvard University
Press, 1982. 437 p.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
106
Dosi50 (1984) procura dar sua contribuição com o desenvolvimento dos conceitos de
paradigma tecnológico e trajetórias tecnológicas.
[…] A ‘technological paradigm’ defines contextually the needs that are meant to be fulfilled, the scientific principles utilised for the task, the material technology to be used. In other words, a technological paradigm can be defined as a ‘pattern’ for solution of selected techno-economic problems based on highly selected principles derived from natural sciences.(DOSI, G. Technical change and Economic Theory. p. 224, 1988)
Um paradigma tecnológico é um pacote de procedimentos que orientam a
investigação sobre um problema tecnológico, definindo o contexto, os objetivos a
serem alcançados, os recursos a serem utilizados, enfim um padrão de solução de
problemas técnico-econômicos selecionados (Kupfer, 1996). Já as trajetórias
tecnológicas podem ser definidas como desdobramentos próprios no interior de um
paradigma tecnológico, correspondendo, em geral, às respostas aos diversos trade-
offs estabelecidos entre as variáveis tecnológicas (Dosi, 1984).
Vernon51 (1979), com sua teoria do ciclo de vida do produto, estabelece uma nova
contribuição para a analise das atividades inovativas, as teorias de comércio
internacional e o processo de desenvolvimento econômico.
[…] es un error suponer que el acceso igual a los princípios científicos en todos los países avanzados significa igual probabilidad de aplicación de estos princípios en la generación de productos nuevos. Hay de ordinário una gran brecha entre el conocimiento de un principio cientifico y la incorporación del princípio en un producto vendible em el mercado. (Vernon, R. La inversión internacional y el comercio internacional en el ciclo de productos p. 409. In ROSENBERG, N. Economia Del cambio tecnológico, México: Fondo de Cultura Econômica, 1979.)
50 Dosi, G. Technical change and industrial transformation. New York: St. Martins Press, 1984. 338p.
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
107
Através desse corolário Vernon identifica que cada produto percorre um ciclo, dividido
em três fases: produto novo, produto em fase de maturidade, produto standartizado. O
autor teve como suporte empírico à observação do padrão do comércio dos Estados
Unidos, mercado onde, na época, se desenvolvia a maioria dos novos produtos. A
primeira fase caracteriza-se por ser uma fase de desenvolvimento ou inovação, na qual
existe uma forte atividade inovativa e, em geral, não se registram trocas internacionais.
A segunda fase do ciclo caracteriza-se por ser uma fase de crescimento e ou
maturidade, na qual algumas características dos produtos tornam-se standartizadas,
emergindo as economias de escala e com uma forte atividade no comércio
internacional. A terceira fase caracteriza-se pela intensificação do processo de
standartização onde produtos e processos produtivos são conhecidos
internacionalmente. Nessa fase, em geral, existe o processo de deslocamento da
produção para países em desenvolvimento, quando a produção exige uma forte
componente de mão-de-obra.
Segundo Baiardi52 (2003):
[...] Vernon pensou no seu trabalho que este ciclo seria comum a todas as grandes empresas que entrassem em mercados competitivos. Para que se cumprisse com sucesso estas três fases, seria necessário que o território, a zona, fosse dotado de uma aglomeração industrial, de infra-estrutura em P&D e que lá estivessem as sedes sociais ou as “home base” das indústrias. (BAIARDI, A. Política Regional de C & T como Instrumento de Modernização Tecnológica da Periferia. p. 07. VIII Seminário de Modernização Tecnológica Periférica.2003. p. 07-08)
A inovação ou a atividade inovativa apresenta-se nesses autores como elemento
microeconômico de caráter, em geral, endógeno e que como característica em comum
possibilita a criação de um diferencial de comportamento entre empresas e indústrias.
51 - Vernon, R. La inversión internacional y el comercio internacional en el ciclo de productos. In ROSENBERG,
N. Economia Del cambio tecnológico, México: Fondo de Cultura Econômica, 1979. 52 - Baiardi, A. Política Regional de C & T como Instrumento de Modernização Tecnológica da Periferia. VIII
Seminário de Modernização Tecnológica Periférica.1993
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
108
De forma semelhante da inicialmente proposta por Schumpeter, a atenção é dada ao
papel da inovação (no caso desses autores, sinônimo de mudança tecnológica) e sua
relação intrínseca com o desenvolvimento econômico. A criação de um diferencial de
comportamento e conseqüentemente a obtenção de resultados assimétricos
determinam a obtenção de vantagens entre os diversos participantes do processo
concorrencial (vantagens competitivas).
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
109
”A mundialização deve ser pensada como uma fase específica do processo de internacionalização do capital e de sua valorização, à escala do conjunto das regiões
do mundo onde há recursos ou mercados, e só a elas”
François Chesnais, 1996
- 110 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Modelo do Diamante Nacional de Porter
4. VANTAGENS COMPETITIVAS E SEUS DETERMINANTES 4.1 – As Vantagens Competitivas e o cenário atual
A Analise do Diamante Nacional de Porter como um modelo de desenvolvimento
econômico exige uma breve introdução à principal característica do processo de
desenvolvimento mundial nas últimas duas décadas: o processo de globalização.
Apesar de constituir-se em um processo multifacetado com implicações nas mais
diversas áreas (culturais, econômicas, sociais, religiosas, etc...), o foco abordado
neste trabalho, é o de conhecer como esse processo tem afetado as economias
mundiais nesse período, em termos de desenvolvimento, e como o seu comportamento
econômico pode estar relacionado ao padrão ideológico utilizado pelas nações
capitalistas desenvolvidas. A análise do processo de globalização auxiliará o
entendimento de como o modelo do diamante nacional de Porter, apesar das
deficiências apresentadas, teve uma forte aderência por parte das nações
desenvolvidas sendo suscitado até como um modelo de desenvolvimento econômico a
ser seguido.
O termo “global” segundo François Chesnais53 surgiu nas grandes escolas americanas
de negócios no início dos anos 80 e a partir de então começou a popularizar-se nas
obras e artigos da escola americana de administração. O termo rapidamente passou a
fazer parte das estratégias das grandes multinacionais e em menos de uma década
transformou-se, de uma ferramenta corporativa para um processo que extrapolaria
qualquer magnitude de planejamento ou estratégia empresarial invadindo os mercados
nacionais e a sociedade como um todo. O sistema capitalista havia criado sua nova
quimera: O processo de globalização.
- 111 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
4.1.1 Globalização: O discurso e o conceito
O final da década de 80 e o início da década de 90 coincidem com um período de
intensas modificações sociais e econômicas em diversos países, e, em especial, os
do leste europeu. O fim do socialismo real ou da economia de comando54 na extinta
União Soviética modificou o cenário mundial, possibilitando à economia de mercado
hegemonizar seu discurso ideológico: um mundo global sem fronteiras e com
oportunidades iguais para todos.
Observa-se então, que o processo de trabalho das grandes multinacionais capitalistas,
que têm como objetivo precípuo o lucro e para obtê-lo necessita de uma estratégia que
maximize suas ações em qualquer lugar em que esteja atuando, também passa a
compor o sistema econômico em que elas atuam. O processo de globalização passa a
ser algo inexorável para todas as sociedades e Estados, e não deveria ser avaliado
como um processo do capitalismo, porém como um processo inerente ao
desenvolvimento da humanidade.
Dessa forma, o conceito de globalização invade os discursos políticos e econômicos e
tenta adquirir uma conotação neutra sendo usado, em muitos casos, como forma de
manipular o imaginário social. Chesnais (1996) ressalta que a falta de nitidez do
conceito de globalização é, por muitas vezes, conveniente a ideologia capitalista, pois
reflete uma falsa naturalidade. Verifica-se que o termo globalização transcorre do
discurso político, econômico e ideológico até o uso popular ou corriqueiro garantindo
assim uma questionável legitimidade ao processo.
53 CHESNAIS, François, A mundialização do capital; tradução Silvana Finzi Foá. – São Paulo: Xamã, 1996. 54 Economia de comando ou socialismo real são termos utilizados pela escola de Frankfurt.
- 112 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
Chesnais observa ainda que o termo de origem francesa “mundialização”55
(mondialisation) ganha diferente entendimento do termo “global”, pois passa a refletir
uma vinculação do sistema capitalista e o padrão de desenvolvimento econômico
estabelecido pelos países ricos. Nesse enfoque, o conceito de mundialização refere-
se ao processo de liberalização das forças econômicas e financeiras e as suas
implicações, obedecendo a uma ideologia capitalista de geração de riquezas e lucros
para aqueles que conseguem ser competitivos em uma economia de mercado.
Entretanto a nova quimera capitalista consegue fazer que a idéia de um mundo sem
fronteiras e com igualdade de oportunidades para todos os indivíduos, substitua, de
certa forma, o sonho do extinto estado de bem estar social. As promessas foram
muitas: da igualdade de oportunidades para todos os países, sociedades e indivíduos,
à possibilidade de acesso aos avanços tecnológicos (produtos, serviços e
investimentos em P&D) que a pesquisa pudesse oferecer. Chesnais em seu livro A
mundialização do Capital de 1994, já efetua severas críticas a essa falsa imagem que
é vinculada ao processo de globalização, pontuando inclusive que os próprios textos e
estudos da OCDE56 tentam traduzir o aspecto natural que seria inerente ao processo
de globalização, ”A globalização é a expressão das forças de mercado, por fim
liberadas,..., dos entraves nefastos erguidos durante meio século”. E como pretenso
processo natural, seria necessário que a sociedade se adaptasse a ele; extrapolando
sua influencia restrita à ação empresarial para outras dimensões da sociedade
(culturais, sociais, etc...) Para a OCDE “É essencial a adaptação aos modos de
produção e intercâmbio que estão surgindo”57. Verifica-se, então, a existência de uma
clara tentativa de organismos internacionais em analisar o processo de globalização
como algo natural, benéfico, para as nações que estejam dispostas a participar do
jogo, e, também, como um processo irreversível. Diante disso, o procedimento lógico é
55 - O termo mundialização surgiu na escola francesa e tenta contrapor-se ao termo globalização aplicado pela
escola americana. 56 OCDE – Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico 57 OCDE, 1994 (Relatório do Secretário-geral)
- 113 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
o inexorável processo de adaptação que as nações e a sociedade como um todo
deveria sofrer para usufruírem amplamente dos benefícios da liberalização e
desregulamentação dos mercados mundiais. Nesse contexto entra o receituário
neoliberal com medidas como: a desregulamentação do mercado, o abandono de
medidas de proteção ao trabalhador, as privatizações, a repressão ao movimento
operário, o aumento da precarização das relações capital e trabalho, com a
multiplicação dos terceirizados, sub-contratados e desempregados, dentre outras.
Entretanto, contrariando uma máxima do próprio sistema capitalista, “Não existe
almoço gratuito” e não seria diferente no processo de globalização; sendo assim, o
custo de todo esse processo deveria ser pago por alguém. Passada a década de 90,
verifica-se que poucas nações conseguiram entrar neste seleto grupo para o qual o
processo de globalização foi amplamente benéfico, caindo por terra a ilusão de que o
processo beneficiaria todas as nações que estivessem dispostas a abrir suas
fronteiras e participar, de forma competitiva, de um desenvolvimento econômico
equilibrado.
Das promessas frustradas de desenvolvimento para todos, restaram as seqüelas
comuns a qualquer processo traumático: o acirramento das desigualdades sociais,
uma maior concentração de riqueza, o aumento da pobreza no mundo, o crescimento
do desemprego, os rápidos, perigosos e não controlados fluxos de capital financeiro, o
protecionismo das nações desenvolvidas contra os produtos das nações periféricas,
os desequilíbrios do comércio mundial, dentre outras.
4.1.2 A crítica de Chesnais sobre a Mundialização do Capital
Chesnais e outros autores acreditam que o processo de mundialização está
diretamente vinculado às novas formas de centralização do capital-dinheiro (fundos
mútuos de investimento e os fundos de pensão), fomentados pelas instituições
financeiras e pelos estados mais poderosos.
- 114 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
Esse processo de mundialização do capital reflete uma nova relação de forças
políticas e econômicas entre o capital e o trabalho, bem como o capital e o Estado.
Após a crise de 30 e a segunda guerra mundial, as classes abastadas são obrigadas
a aceitar a ampla intervenção do Estado, concedendo novos direitos aos assalariados.
Entretanto após a segunda metade do século XX, a disseminação do uso de novas
tecnologias pelas firmas começa a possibilitar extraordinários ganhos de
produtividade e modificações nas relações com os assalariados e as organizações
sindicais.
O capital financeiro ganha força com as políticas de liberalização, desregulamentação
e privatização adotas pelos estados. (Reagan / Thatcher), e o capital volta a ter a
liberdade para se desenvolver e movimentar de um país ou continente para outro. Os
países hegemônicos (desenvolvidos) passam a impor essas novas regras, fazendo
com que o processo de globalização seja inevitável, infringindo para as demais
economias o novo jogo livre das leis de mercado.
A sociedade mundial contemporânea (seus diversos segmentos) não teria outra opção
a não ser adaptar-se, pois segundo a interpretação dominante, a desregulamentação
dos mercados constitui-se fator de modernidade no processo de desenvolvimento
econômico das nações. A justificativa para o processo residiria, também, no benefício
do consumidor (sob a ótica do mercado), que estaria livre para adquirir os produtos e
serviços com preços baixos graças à abertura das fronteiras, ao desmantelamento das
regulações públicas e a atuação de empresas em uma concorrência total.
Entretanto, a análise de Chesnais, possibilita identificar que o verdadeiro conteúdo do
processo de globalização não se dá através da mundialização das trocas e sim do
capital (industrial e financeiro). O autor sustenta sua análise observando que 2/3 do
volume de transações no intercâmbio internacional de bens e serviços ocorre entre
- 115 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
empresas multinacionais (matrizes, filiais ou sub-contratadas) e que aproximadamente
40% do comércio mundial pertencem à categoria intragrupo.
O autor considera em sua argumentação que a questão da internacionalização das
relações econômicas diz respeito a um conjunto de processos que promovem a
interdependência entre as economias. Dentre eles, destacam-se as importações e
exportações de bens e serviços, as entradas e saídas de investimentos diretos e de
capital financeiro, as entradas e saídas de tecnologias (sejam através de
equipamentos ou know-how), os movimentos internacionais de mão-de-obra
qualificada e os fluxos inter-fronteiras de informações.
Neste conjunto é possível identificar indicadores estatísticos que possam avaliar a
importância relativa desses processos nos últimos anos. Esses indicadores têm
possibilitado a verificação de alguns fatos relevantes. 1) O investimento internacional
(movimentação do capital – industrial / financeiro) tem dominado o processo de
internacionalização, sobrepujando os processos de troca (bens e serviços). 2) Os
fluxos de trocas intrafirmas vêm adquirindo um peso cada vez maior. 3) O investimento
internacional é fortalecido pela globalização das instituições bancárias e financeiras. 4)
O surgimento de novas modalidades de transferência de tecnologias (acordos
interempresas) além das já existentes. 5) O aparecimento de novas empresas
multinacionais com diferentes formas de organização (tipo rede).
Esse novo cenário das relações internacionais tem como vetor principal
indubitavelmente a questão da mobilidade do capital. Chesnais, em seu livro, identifica
que o termo, mundialização do capital, tem origem nos estudos franceses dos anos 70,
de inspiração marxiana, sobre a internacionalização do capital. Os estudos franceses,
com a contribuição anglo-saxã, abordam temas como: A produção internacional; a
internacionalização dos custos de transação; a economia das mudanças técnicas e a
teoria das formas de mercado (oligopólio internacional).
- 116 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
Nos anos recentes acrescentam-se uma atualização na abordagem com a introdução
de novos ingredientes: A prioridade metodológica que reflete a anterioridade e
predominância do investimento e da produção em relação à troca; o processo de
centralização financeira e de concentração industrial do capital, nos planos nacional e
internacional. Isto sendo refletido pela movimentação dos bancos e grupos
internacionais de fundos mútuos e de pensão e a maior interpenetração entre os
capitais de vários países (criação do investimento internacional cruzado), com o
surgimento de estruturas oligopolísticas transnacionais.
A justificativa da utilização do termo mundialização do capital está atrelada ao fato de
que parte do mercado financeiro internacional está mundializado com modalidades e
instrumentos de ação e controle variados.
Ademais, o campo de desenvolvimento do capital industrial concentrado (âmbito em
que as empresas transnacionais desenvolveram suas estratégias globais) é o mesmo
das relações constitutivas dos oligopólios mundiais.
Nos seus trabalhos o autor esclarece que, para o entendimento da mundialização do
capital, é importante analisá-lo como uma unidade diferenciada e hierarquizada.
Chesnais aponta para os estudos de Michalet58, que analisam as dimensões do
capital, de acordo com os ciclos de movimentação definidos por Marx. Esses ciclos
devem ser entendidos como elementos de uma totalidade, diferenciações dentro de
uma unidade: O capital que produz valor e mais valia (capital industrial), o capital
mercadoria ou capital comercial (concentrado) e o capital dinheiro (empréstimos e
aplicações).
Diferentemente de Michalet, que em 1985 analisa que, das três formas estruturadas de
capital, existia a centralidade do capital industrial sob as demais, Chesnais avalia, em
58 - Michalet, C. A. Lê Capitalisme mondial. 2nd. Ed. Paris: Presses Universitaires de France, 1985. (Collection
Economie em Liberte).
- 117 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
1995, que existiria a tendência da diminuição da dominação do capital industrial, com
o aumento da importância do capital comercial (que passa a rivalizar-se com o capital
industrial, usurpando-lhe algumas operações que tradicionalmente seriam suas) e
principalmente do capital financeiro, que começa e imprimir sua marca no conjunto das
operações do capitalismo contemporâneo. A principal marca desta forma de capital é
o acirramento de um regime de acumulação rentista.
A análise do capital, em suas três dimensões, possibilita identificar fatos relevantes no
transcorrer do desenvolvimento econômico mundial, no que diz respeito à evolução do
capital industrial. Dentre esses, é importante destacar que foi através da acumulação
ocorrida pelo regime produtivo fordista, que o capital industrial pôde gerar excedentes
que viabilizassem o surgimento do capital dinheiro. Além disso, a acumulação do
capital industrial, também proporcionou a saturação dos mercados, gerando um
estado endêmico de sobreprodução; fazendo com que os grupos industriais
buscassem mecanismos que possibilitassem sua expansão (queda das restrições ao
capital): crescimento externo via aquisições e fusões (fatias de mercado), ruptura das
relações fordistas com os assalariados e internacionalização crescente.
O processo de internacionalização foi, então, fortemente alavancado pelo uso de novas
tecnologias da informação. A aplicação no setor produtivo de novos fatores
tecnológicos combinados com os modelos de gestão organizacional resultou, entre
outros desdobramentos, em uma maior rentabilidade do capital industrial.
Concomitante a aplicação dessas novas tecnologias e ao uso de modelos gerenciais
mais eficazes, existiu uma motivação ideológica baseada na desregulamentação e na
flexibilização (fragilização) das relações entre o capital e o trabalho. Essa motivação
tinha como objetivo a destruição dos ganhos obtidos na primeira metade do século nas
relações contratuais construídas entre patrões e trabalhadores. Os novos modelos e
sistemas produtivos tais como o just in time, lean production, toyotismo, entre outros,
auxiliaram a expansão dos grandes grupos corporativos, proporcionando ganhos de
- 118 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
produtividade cada vez maiores e possibilitando que o processo de
internacionalização ocorresse de modo a favorecer muito mais o capital que o
trabalho.
A precariedade das relações entre capital e trabalho começa a expandir no sentido
centro periferia e constitui-se em um dos principais elementos do processo de
globalização. A tríade (EUA, Europa e Japão), através de um discurso ideológico
neoliberal que tem como mote o crescimento econômico através da expansão dos
investimentos estrangeiros, começa a expandir sua área de influência identificando
regiões desprovidas de qualquer proteção social, nas quais as grandes corporações
possam instalar suas bases produtivas e impingir baixos salários e condições
desfavoráveis ao trabalhador, acirrando sobremaneira o processo de mais valia.
O Capital dinheiro começa seu processo de hegemonia através de um movimento de
centralização e concentração do capital industrial. Verifica-se que, já na década de 80,
aproximadamente 80 % dos investimentos diretos estrangeiros ocorrem apenas no
eixo dos países capitalistas avançados e basicamente em processos de aquisições e
fusões entre grandes corporações, não havendo com isso criação de novos meios de
produção59. Esse processo acirra-se durante toda a década de 90 (tabela 01),
alcançando um patamar de 90 % do volume de transações ocorridas no ano de 2000.
Tabela 03: Fusões e Aquisições “Transfronteiras” totais no mundo.
59 - O modelo de Porter reflete bem esse processo, pois procura identificar os fatores, que articulados de
forma estratégica, possibilitam a criação de vantagens competitivas frente a esse novo cenário. Sua análise inicial tenta explicar como os fatores trabalhados corretamente pelas firmas e ou segmentos / setores. Posteriormente tenta explicar como os fatores podem trazer também posições competitivas diferenciadas para as nações.
- 119 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
A teoria econômica já tinha analisado processos de centralização e concentração de
capital antes (indústria petrolífera ou extrativa), porém em toda a década de 80 e início
da década de 90 verifica-se o acirramento desse processo de centralização e
concentração de investimentos, facilitado pelo desenvolvimento de novas tecnologias e
aplicação de novos modelos de gerenciamento e gestão (ganhos de produtividade),
não apenas no setor indústria como também no setor de serviços.
Nota-se, então, que o processo de centralização e concentração do capital industrial
provoca um impacto significativo na forma que as indústrias e os segmentos passam a
se organizar. Dunning analisa esse processo e verifica que as empresas
multinacionais clássicas pesquisadas por Chandler nos anos 60 e 70 diferem das
organizações multinacionais dos anos 80. Para Dunning (1991), as organizações
mundiais da década de 80 procuram uma estratégia concorrencial global que
possibilite um posicionamento e a manutenção de participações de mercado estáveis.
Ou seja, além de procurar aumentar sua eficiência e organizar sua produção interna e
as transações comerciais, as firmas passam a ser entendidas pela forma de
relacionamento estabelecido com as demais organizações mundiais.
- 120 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
A evolução da análise de Chandler, onde o cenário mundial da década de 60 e 70
ainda é bastante regulamentado e as novas tecnologias não estão amadurecidas, para
a análise de Dunning, é fundamental para o entendimento do modelo de Porter60. O
modelo de desenvolvimento econômico está baseado, não apenas no conceito de
firmas ou empresas stricto sensu, mas nos grandes grupos financeiros com
dominância industrial. As estruturas das relações oligopolizadas e o processo de
desregulamentação, cernes do modelo de Porter, favorecem o crescimento dos
mercados financeiros mundiais. O crescimento da vertente em que as organizações
passam a se estruturar através de holdings facilita o acesso aos mercados financeiros
internacionais sem a necessidade de intermediações. Isto, apesar de constituir um
grande avanço em termos de redução de uma série de custos, representa, por outro
lado, uma forte inclinação da aplicação menor de capital na atividade produtiva e maior
na atividade rentista (fortalecimento do capital rentista).
Essa nova dimensão de estruturas oligopolizadas possibilita ao sistema capitalista um
acirramento de seu processo de apropriação. A estrutura dos mercados, onde as
empresas estão organizadas em cadeias de valor, operando, muitas vezes, em
sistema de rede, favorece a apropriação, por parte das grandes organizações com
maior poder de mercado, dos excedentes criados na atividade produtiva. A lógica do
processo de globalização e sua concorrência global passa da criação de riquezas
para a apropriação de riquezas, caracterizado, principalmente, pelo avanço do volume
de transações intrafirmas que dão novos contornos ao capital comercial. As novas
formas de organização em especial o toyotismo e os keiretsu possibilitam que os
grandes grupos passem por uma integração vertical e ao mesmo tempo possuam
flexibilidade em uma estrutura frouxa descentralizada. O processo de liberalização do
comércio beneficiou sobremaneira os grupos transnacionais que puderam organizar
os mercados e através de fusões, aquisições e sub-contratações estabelecendo os
padrões das relações comerciais até mesmo para firmas independentes.
60 - Porter (1986), em seus estudos, consegue identificar três grupos de empresas que tem algum tipo de
orientação/ atividade fora do seu país sede.
- 121 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
Para um perfeito entendimento dessa lógica excludente do processo de mundialização
do capital e seus efeitos, é importante conhecer como a teoria econômica tem
abordado o processo de globalização dentro do enfoque da produção internacional.
4.1.3 A Teoria da Produção Internacional: O esforço nas últimas décadas
Segundo Dunning61, a Teoria da Produção Internacional tem chegado a algum grau de
maturidade nos últimos 30 anos, na tentativa de oferecer uma explicação geral para as
atividades que possam agregar valor em empreendimentos externos efetivados pelas
firmas. O autor observa que, de certa forma, já é amplamente aceito, na teoria
econômica, que a maior ou menor propensão para uma firma produzir fora de suas
fronteiras nacionais, está relacionada a três importantes aspectos: primeiro à
capacidade em obter e trabalhar determinados fatores e ativos, tais como tecnologia,
capacidade organizacional, empreendedorismo, acesso a mercados, etc...; segundo à
capacidade própria de agregar valor e lucratividade à esses ativos e fatores; e terceiro
61 - Globalization of Firms and the Competitiveness of nations – McGill University Libraries – Intitute of
economic Research; Lund University. 1990.
- 122 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
à possibilidade das firmas estarem relacionadas à atividades agregadoras de valor
(cadeia de valor), sejam através de firmas locais ou não.
O consenso em torno desse entendimento tem sido bastante útil para a compreensão
das atividades das empresas transnacionais, mas não o suficiente para fornecer
subsídios para a análise do IED (Investimento Externo Direto). Para tanto, faz-se
necessário uma nova teoria que possa combinar as vantagens competitivas das
firmas, com as vantagens nacionais oferecidas dentro de um cenário internacional
caracterizado por uma ampla movimentação de capitais.
Vários pesquisadores têm buscado formular conceitos teóricos que possam explicar a
origem e o crescimento da produção internacional e as atividades empresariais
internacionais, principalmente no que diz respeito às possíveis explicações ou
justificativas em relação aos investimentos privados externos. Entretanto, as diversas
tentativas, muitas vezes, não conseguem explicar ou identificar os elementos que, em
seu conjunto, podem levar à construção de uma teoria que encorpe os diversos
comportamentos estratégicos das firmas, em um determinado período de tempo e
espaço.
Dunning considera que a diversidade de teorias que surge, com a expectativa de
explicar tais fenômenos, advêm do próprio processo de amadurecimento que a teoria
econômica vêm realizando nessa área nas últimas décadas. O autor aponta que
algumas teorias tiveram um poder explicativo válido por um determinado período de
tempo, mas que as relações empresariais internacionais e os cenários mundiais
transformaram-se tão rapidamente, que colocaram por terra seus pressupostos. Além
disso, é importante observar que as teorias mais recentes abordam esse fenômeno
sob diferentes aspectos, tentando investigar características como causalidade,
processos envolvidos, ou mesmo possíveis externalidades que estejam atreladas ao
objeto de estudo. As escolas e os teóricos buscam contribuir, analisando diferentes
- 123 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
modalidades e dimensões que a produção internacional possa assumir, e isso tem
colaborado no processo de amadurecimento da teoria econômica.
Os trabalhos acadêmicos dos últimos anos têm procurado explicar o crescimento da
produção internacional, tendo como ponto de partida a firma (uma entidade
organizacional). Dunning ressalta a importância de ser dada maior atenção ao
ambiente econômico internacional, em especial, à dinâmica estabelecida entre as
vantagens competitivas das firmas e as vantagens nacionais oferecidas pelos países.
É importante salientar o esforço teórico efetivado nos últimos trinta anos com o intuito
de sistematizar uma explicação satisfatória a respeito do fenômeno da produção
internacional. Inicialmente, ainda na década de 60, devem ser destacadas as
pesquisas de Stephen Hymer62 (1960) que observou, na década de 50, um
crescimento nas atividades das firmas americanas fora dos Estados Unidos, em
especial no Canadá e na Europa, e concentrado em setores industriais.
Seus estudos (1960) ainda estavam fundamentados na explicação tradicional da
movimentação internacional de capitais (diferença de taxas entre países), e o autor não
demonstrou preocupação com o financiamento das atividades das firmas. Hymer, em
sua análise, utilizou-se, também, dos estudos de outro teórico importante nessa área,
Joe Bain. As pesquisas sobre barreiras a entrada de Bain (1956), possibilitaram a
identificação de alguns elementos (custos absolutos, economias de escala, fatores de
produção, fatores de mercado, etc...) que facilitariam ou dificultariam as empresas
penetrarem em determinados mercados.
Outra importante contribuição nessa área foi feita por Raymond Vernon (1966)63. Em
seu trabalho, o autor, destaca a importância dos fatores específicos nacionais (locais)
62 -Ver Dunning (1990)
63 - Idem
- 124 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
que influenciam tanto a questão da competitividade das firmas bem como sua
capacidade de agregar valor à suas atividades. Em seu trabalho, Vernon (1979)
destaca que, para uma completa explicação sobre a produção internacional, a teoria
deve considerar elementos como as vantagens competitivas das firmas e nações.
Na década seguinte as pesquisas de Hymer e Vernon sobre a produção internacional
tiveram quatro importantes desdobramentos, quase todos baseados na continuidade
de pesquisas de firmas americanas instaladas em outros paises. Autores como Pavitt
(1987), Cantwell e Hodson (1990) procuraram identificar em suas pesquisas, as
ligações existentes entre a propensão das firmas em produzir fora de suas fronteiras
nacionais e as condições competitivas oferecidas por determinados setores de um
país. Vários estudos, principalmente estudos comparativos, são desenvolvidos com o
intuito de analisar as similaridades de comportamentos dos mercados, o
desenvolvimento de padrões em setores e entre firmas, a formação de oligopólios, ou
até mesmo as condições pré-existentes em países desenvolvidos (vantagens) que
seriam atrativas, para as atividades das empresas transnacionais.
Observa-se que, com a evolução dos estudos econômicos sobre a produção
internacional, surge um novo enfoque de análise que passa a identificar a firma não
apenas como um agente de transação no mercado, porém como uma entidade
organizacional estratégica (produtora de valor), assumindo, por vezes, o papel de
agente organizador, tendo com isso um papel diferenciado na teoria da produção
internacional. A década de 70 é caracterizada, também, por uma forte mudança na
teoria organizacional. O surgimento de novos modelos de gestão e estruturas
organizacionais dá novos contornos e uma maior complexidade de análise à teoria da
administração. Vários teóricos, na área econômica, começam a investigar a questão
do comportamento estratégico das firmas e suas ilações com as atividades
internacionais e o comportamento dos mercados.
- 125 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
È importante salientar, que, ainda na década de 70, o sistema capitalista passa por
mais uma forte crise, caracterizada pelo fim do padrão de desenvolvimento pós-guerra:
o fordismo. A aceleração das taxas de inflação, a estagnação da produtividade, a
redução dos níveis de crescimento, a elevação dos defict públicos e o aumento do
desemprego são alguns dos elementos que retratam esse momento de crise nos
países centrais desenvolvidos.
Filgueiras64 identifica alguns elementos que exercem importante papel nesse cenário
de alterações das relações econômicas, políticas e sociais mundiais. Dentre os
elementos expostos pelo autor, deve ser destacado o processo de reestruturação
produtiva dos anos 70. A reestruturação aparece como resposta à crise econômica
enfrentada pelos países centrais e propicia mudanças estruturais no âmbito da
produção e do trabalho, em que duas perspectivas centrais podem ser analisadas.
Sob a perspectiva setorial, pode-se identificar uma reorganização e reorientação dos
setores industriais, com a realização de investimentos em setores de ponta
(informática, química fina, biotecnologia e telecomunicações), a modernização de
setores dinâmicos (automobilístico, máquinas e equipamentos e petroquímica) e o
declínio de setores tradicionais (têxtil e siderurgia). Sob a perspectiva de processo de
trabalho, verifica-se a adoção de um novo paradigma tecnológico e organizacional,
com a migração do uso de tecnologias de base eletromecânicas para tecnologias de
base micro-eletrônicas e a utilização de novos esquemas de gestão e organização do
trabalho.
No final da década de 70 e início da década de 80, a crise apresentada pelo
capitalismo começa a apresentar reverberação no meio acadêmico e começam a
surgir teorias, sobre a produção internacional, mais orientadas por aspectos tais como:
o uso da tecnologia e a dinâmica do processo de inovação.
64 - Filgueiras, L.A. M. “ A Desestruturação do Mundo do Trabalho e o ‘Mal-Estar’ desse fim de Século”.
Cadernos do Ceas. Salvador, n. 171, set/out. 1997.
- 126 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
Os novos estudos apontam para uma preocupação em analisar os aspectos dinâmicos
da atividade empresarial multinacional e suas alterações ao longo do tempo. Os
trabalhos de Michael Porter (1986) e Bruce Kogut (1985) procuram identificar o papel
central desempenhado pelas vantagens competitivas oferecidas pelos países
(recursos, mercados, instituições, etc...), em relação à propensão das firmas em
empreender e inovar fora de suas fronteiras. Nesse novo enfoque, as vantagens
competitivas das firmas devem ser algo a ser explicado pela teoria, e não mais visto
como um aspecto a ser tomado.
Porter (1986) tenta distinguir cuidadosamente quais são as variáveis específicas da
firma e dos países que influenciam no processo de globalização. Além disso, Porter,
em seu livro Competition in Global Industries, identifica três grupos de produtores
internacionais: No primeiro grupo estariam as firmas domésticas que possuem
orientação para o mercado externo (exportações). No segundo grupo, Porter classifica
as firmas multinacionais que possuem bases externas (exercem atividades com valor
agregado) em diversos países, porém possuem uma gestão individualizada em cada
país. E no terceiro grupo estão as firmas globais, em que suas posições competitivas
em cada país são afetadas pelo seu posicionamento em outros países, necessitando,
dessa forma, uma coordenação global de suas operações.
Dunning (1990), observa que mesmo as teorias em que as vantagens nacionais
assumem um papel relevante como elemento explicativo da produção internacional,
elas dedicam pouca atenção ao modo como as vantagens competitivas nacionais
afetam e são afetadas pelo comportamento e pelas estratégias adotadas pelas firmas
para produzir e comercializar produtos e serviços fora de suas fronteiras nacionais.
Esta interface dinâmica entre os elementos formadores das vantagens competitivas
das firmas e dos países será, inequivocamente, tema para novas abordagens na teoria
da produção internacional.
4.2 O modelo do Diamante Nacional de Porter
- 127 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
4.2.1 A Vantagem Competitiva do Estado
Analisar as correlações existentes entre as vantagens competitivas das firmas e dos
países é uma tarefa que envolve vários elementos complexos tais como fatores de
produção, demanda dos mercados, estrutura da indústria, desenvolvimento tecnológico
dentre outros. O trabalho de Michael Porter,65 descrito em seu livro “A Vantagem
Competitiva das Nações”, tenta avançar nos estudos sobre a produção internacional e
relacionar a competitividade das empresas com a competitividade do Estado-nação
ou economia politicamente delimitada. Para tanto são analisados o que Porter
categoriza como os determinantes da competitividade nacional; ou seja, o que
caracteriza uma nação competitiva é o modo como esses determinantes são
trabalhados. Antes, porém, da análise dos determinantes e da estrutura do “Diamante
Nacional”, Porter explicita seis características que, à princípio, poderiam levar um
Estado a uma posição competitiva (figura 09). Entretanto isoladamente essas
características não garantem que essa posição competitiva seja alcançada ou mesmo
que o Estado - Nação consiga tornar-se atrativo para novos investimentos externos e
empreendimentos privados.
65 - PORTER, Michael E.,A Vantagem Competitiva das Nações. Tradução por Waltensir Dutra. - Rio de Janeiro:
Campus 1989. Tradução de : The Competitive advantage of Nations.
INDÚSTRIAS COMPETITIVAS
PREÇOS COMPETITIVOS
SUPERÁVIT COMERCIAL
EXPORTAÇÕES NACIONAIS
GERAÇÃO DE EMPREGOS
CUSTOS UNITÁRIOS BAIXOS
ESTADO COMPETITIVO
- 128 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
Figura 09 – Posição Competitiva de um Estado. Fonte: Elaborado a partir do Livro “Vantagem Competitiva das Nações”. Elaboração própria.
A primeira característica discorrida por Porter supõe que um Estado no qual todas as
empresas ou indústrias fossem competitivas, também teria elementos competitivos.
Entretanto essa situação configura-se como ideal, pois nenhum Estado ou mesmo
nação possui todos os segmentos de sua indústria desenvolvidos.
A segunda característica estabelece que um Estado, cuja taxa de câmbio torne
competitivos os preços de seus produtos nos mercados externos, também conquistará
uma vantagem competitiva. Historicamente, nações passaram por períodos de moeda
forte e pressão ascendente de preços e, no entanto, conseguiram consolidar uma
posição de liderança econômica.
A terceira característica atribui uma posição competitiva a um Estado com uma grande
e positiva balança comercial. Novamente, verifica-se que uma balança comercial
positiva não pode ser utilizada como indicador único de uma economia potencialmente
estruturada e competitiva.
A quarta característica também atribui uma posição competitiva a um Estado com uma
parcela crescente das exportações nacionais. Estados e Nações têm apresentado
participações estáveis em suas exportações sem usufruir de economias vigorosas.
A quinta característica fundamenta a vantagem competitiva em um Estado que pode
criar empregos. Nesse item será relevante não apenas criar empregos (quantitativo)
como gerar empregos com qualificações adequadas aos novos padrões tecnológicos
da nova economia.
A sexta característica exposta por Porter estabelece que um Estado cujos custos
unitários do trabalho são baixos poderá alcançar uma posição de vantagem em
- 129 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
relação a outros Estados. Custos unitários baixos que evidenciem uma
sustentabilidade devem ser obtidos através de ganhos de performance e não de
baixos salários.
Em sua abordagem, Porter evidencia que as visões econômicas tradicionais, que
definem competitividade como uma questão de preços, custos, taxas de câmbio
dentre outros elementos, estão aparentemente superadas. Essa concepção levou
vários países a manipularem tais fatores na expectativa de conseguirem vantagens no
processo de competição global, entretanto os exemplos do Japão e da Alemanha
corroboram inversamente às expectativas dessa teoria.
Ademais, notadamente a busca de uma significação para competitividade baseada
unicamente através de uma característica isolada, pode levar a uma falsa interpretação
da realidade. O conceito de competitividade e a busca dessa vantagem, seja dentro
da empresa ou por uma atratividade demonstrada por um Estado ou nação, reside
fundamentalmente nos ganhos de produtividade e nos valores agregados disponíveis
no processo produtivo e social. Verificar os determinantes dessa produtividade e o seu
real crescimento em um determinado período de tempo constitui-se uma das mais
importantes tarefas na análise do desenvolvimento econômico.
Ë importante a definição de competitividade para identificar seus fatores
preponderantes. A Competitividade pode ser vista como a produtividade das
empresas ligada à capacidade dos governos, ao comportamento da sociedade e aos
recursos naturais e construídos, e aferida por indicadores nacionais e internacionais,
permitindo conquistar e assegurar fatias de mercados. A Comissão da presidência
dos EUA sobre competitividade industrial propôs em 1985 uma definição abrangente
para competitividade de uma nação66:
66 -Estudo de Competitividade da Indústria Brasileira – Coordenação Geral : Luciano G. Coutinho, João Carlos
Ferraz – 3a edição – Campinas, São Paulo: Papirus; Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1995.
- 130 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
[...] A Competitividade de uma nação é o grau pelo qual ela pode, sob condições livres e justas de mercado, produzir bens e serviços que se submetam satisfatoriamente aos teste dos mercados internacionais enquanto, simultaneamente, mantenha e expanda a renda real dos seus cidadãos. Competitividade é a base para o nível de vida de uma nação. É também fundamental à expansão das oportunidades de emprego e para a capacidade de uma nação cumprir suas obrigações internacionais. (ESTUDO DE COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA (1995) – Coordenação Geral : Luciano G. Coutinho, João Carlos Ferraz – 3a edição – Campinas, São Paulo: Papirus; Editora da Universidade Estadual de Campinas. p.)
Essa definição reconhece que a competitividade internacional de economias nacionais
é construída a partir da competitividade das empresa que operam dentro do Estado e
que conseguem exportar seus produtos e serviços. Vale salientar que esse conceito é
sistêmico e com retroalimentação, pois a nação que consegue saldos positivos em
suas relações internacionais e que consegue agregar valor a sua renda per-capita,
notadamente irá influenciar nas estratégias empresarias adotadas nos vários
segmentos de sua economia.
Nesse momento vale ressaltar, também, as diferenças entre vantagem comparativa e
vantagem competitiva. A teoria das vantagens comparativas de Ricardo67, trabalhada
posteriormente por Heckscher e Ohlin68, baseia-se na idéia que todas as nações têm
tecnologia equivalente, mas diferem na disponibilidade dos chamados fatores de
produção, como terra, mão-de-obra, recursos naturais e capital. Esses elementos,
indissociáveis do processo produtivo, foram importantes no entendimento da busca de
vantagens tanto entre nações como entre empresas. A otimização dos fatores de
produção visando a redução dos custos e o aumento da produtividade foi essencial em
termos de competitividade empresarial. Entretanto, a necessidade de extrapolar a
utilização de mecanismos que busquem um incremento ainda maior na produtividade
67 - RICARDO, David . On the Principles of Political economy and Taxation The works and Correspondence of
David Ricardo (vol. I). Cambrigde, Cambrigde University Press (1988).
- 131 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
das empresas, e que contemplem outros fatores também integrantes da competição,
fizeram com que a teoria da vantagem comparativa não fosse suficiente para explicar a
evolução da competição real. Não incorporar elementos como a definição de
estratégias próprias e individualizadas, a movimentação de capital e recursos
humanos e tecnologia entre localidade e organizações, coloca limitações à Teoria com
relação a uma explicação lógica dos novos cenários competitivos e às rápidas
modificações tecnológicas e econômicas.
Ademais as vantagens comparativas podem apenas constituir-se em vantagens
passageiras ou vulneráveis. Os custos dos fatores podem ser modificados
rapidamente através da utilização de novas tecnologias. Os subsídios governamentais
podem tornar empreendimentos viáveis ou não por determinado período de tempo. Os
baixos custos de trabalho podem ser modificados de uma região para outra através
dos processos de deslocamentos intensivos. A facilidade de manipulação desses
fatores como diferencial para a competição tem fomentado diversas regiões a
disputarem e atraírem indústrias para implantarem novos empreendimentos locais.
O novo cenário econômico tem diminuído a importância dos custos desses fatores
principalmente em indústrias que utilizam intensivamente tecnologia sofisticada e mão-
de-obra altamente especializada. A utilização de novas tecnologias possibilitou às
empresas ter capacidade de compensar os fatores escassos, por meio de novos
produtos e processos. Entretanto essa análise deve ater-se a determinados
segmentos industriais que podem prescindir desses fatores. Paralelamente à
utilização de tecnologias avançadas diminuindo o papel dos fatores, esse novo cenário
liberta as empresas da necessidade de instalação de suas bases em localidades
específicas.
Com o fenômeno da globalização da economia e a internacionalização das empresas
seria lógico concluir, então, que, à primeira vista, o Estado perdeu sua importância no
68 - OHLIN, Bertil. Interregional and International Trade. Cambrigde, Mass.: Havard University Press, 1933.
- 132 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
sucesso empresarial das organizações. Entretanto, a realidade tem demonstrado que
essa conclusão pode ser precipitada na medida que tem sido cada vez mais relevante
e estratégica a escolha da localização dos novos empreendimentos empresariais.
Parece lógico, então, que novas perguntas apresentem-se na ordem do dia : Quais
são os novos determinantes de competitividade para um Estado? Quais
características verdadeiramente podem responder e explicar a consolidação de um
Estado ou Nação que possui vantagens que sejam fomentadoras de um
desenvolvimento econômico estruturado e sustentável? É certo que além dos fatores
econômicos trabalhados pela teoria da vantagem comparativa, novos elementos tais
como diferentes estruturas econômicas, valores, culturas, instituições e histórias
nacionais irão também ser preponderantes no entendimento da construção de
vantagens competitivas nas economias nacionais. Obviamente uma única explicação
não será suficientemente abrangente para colocar um ponto definitivo no problema,
entretanto algumas configurações apresentam-se como indicadores dessa explicação.
A primeira configuração está baseada na utilização por parte das empresa de
economias de escala. Esta possibilita a redução de custos e o conseqüente
descolamento da necessidade de instalação das unidades produtivas próximas das
fontes de recursos. Associadas às economias de escala estão mais duas
configurações: o processo de pesquisa e desenvolvimento (P&D) utilizado cada vez
com maior intensidade pelas indústrias e a curva de aprendizado que diminui os
custos com o volume cumulativo e favorece o processo inovativo.
Pode-se estabelecer então uma conexão entre essas aparentemente diferentes
configurações, desde que o eixo comum resida no conceito amplo de tecnologia. A
nova teoria deve fazer da melhoria e inovação em métodos e tecnologia de produtos e
processos um elemento central dessa análise. O Estado que possa criar e manter
essas condições de melhoria e inovação tecnológica conseguirá atrair
empreendimentos sustentáveis. O Estado que ofereça tais condições conseguirá atrair
- 133 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
competidores bem sucedidos em indústrias sofisticadas que passarão a centralizar o
controle efetivo, estratégico, criativo e técnico na localidade onde estará sediada.
Porter, em seu estudo realizado no final da década de 80, focaliza oito países (Coréia,
Itália, Suécia, Japão, Suíça, Alemanha, Grã Bretanha e Estados Unidos) com o
propósito de analisar a competição internacional. O seu modelo do “Diamante
Nacional” tenta categorizar o Estado Competitivo através da análise das diversas
condições / determinantes (Condições de Fatores, Condições de Demanda, Indústrias
Correlatas e de Apoio e Estratégia, Estrutura e Rivalidade das empresas), que
trabalhados, poderiam levar um Estado à uma posição de excelência no cenário da
competitividade econômica internacional.
4.2.2 – Condições de Fatores
Segundo Porter (op. Cit.), as Nações conseguem consolidar indústrias competitivas
oferecendo um ambiente dinâmico e desafiador que possibilitem e estimulem as
empresas a atuarem de forma inovadora. Na configuração desse ambiente, Porter, em
seu modelo, estabelece 4 determinantes essenciais à construção de vantagens
competitivas nas indústrias (figura 10). O Estado ou Nação que possuir esses
determinantes desenvolvidos ou em desenvolvimento em boa parte de suas indústrias,
certamente obterá vantagem com relação às demais Nações ou Estados.
Condições de fatores
Estratégia, Estrutura e
Rivalidade das empresas
Condições de
demanda
- 134 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
Figura 10 – Determinantes da Vantagem Competitiva de um Estado. Fonte: Extraído do Livro “Vantagem Competitiva das Nações”.
O primeiro determinante “Condições de Fatores” configura-se de forma semelhante ao
que a Teoria Clássica estabeleceu como fatores de produção. Porter classifica esses
fatores em 5 categorias69: recursos humanos, recursos físicos, recursos de
conhecimentos, recursos de capital e infra-estrutura (quadro 09). Entretanto, dois
aspectos importantes devem ser salientados na utilização dessas categorias de
fatores como sendo um determinante na construção da vantagem competitiva de um
Estado. O primeiro reside na mobilidade dos fatores. Desde a época da revolução
industrial no século XIX, alguns fatores de produção já possuíam mobilidade entre as
nações. Engenheiros ingleses (recursos humanos) se dirigiam a diversos países da
América e da África para construírem fábricas e usinas. Hoje, mais de duzentos anos
após a revolução industrial, a mobilidade dos fatores de produção é ainda maior e com
custos decrescentes.
CONDIÇÕES DE FATORES
69 - Porter recorre aos fatores de produção da Teoria Clássica (Capital, Terra e Trabalho), tentando configurar
uma nova roupagem. As 5 categorias estabelecidas englobam : Recursos Humanos (quantidade capacidade e custo de pessoal), Recursos Físicos (abundância, qualidade, acessibilidade e custos dos recursos), Recursos de Conhecimentos (conhecimentos científicos, técnicos e de mercado relativos a bens e serviços) Recursos de capital (o total e o custo do capital disponível para o financiamento da indústria) e Infra-estrutura (o tipo, qualidade e valor de uso da infra-estrutura disponível).
Indústrias Correlatas e
de apoio
- 135 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
Categorias Hierarquia Especificidade Origem
I. Recursos
Humanos
II. Recursos
Físicos
III. Recursos de
Conhecimento
IV. Recursos de
Capital
V. Infra-estrutura
I. Básicos
II. Adiantados
I.Generalizados
II.Especializados
I. Herdados
II. Criados
Quadro 09: Classificação das Condições de fatores. Fonte: Produzido a partir do Livro “Vantagem Competitiva das Nações”. Elaboração própria.
O segundo aspecto analisado por Porter advêm de uma conclusão que a própria
mobilidade dos fatores revelou. A vantagem competitiva de uma indústria não será
construída apenas pela disponibilidade dos fatores, porém pela eficiência e
efetividade com que serão utilizados. Uma Nação ou Estado não construirá vantagem
competitiva em suas indústrias pela simples disponibilidade de recursos. Será
necessário ter a capacidade de explora-los de forma adequada, sabendo oferta-los de
forma balanceada para cada tipo de indústria e, principalmente, o Estado deverá
saber manter suas condições de fatores, evitando sua evasão para outros Estados ou
Nações.
Ainda em sua análise das Condições dos Fatores, Porter (op. Cit.) estabelece uma
outra separação entre os fatores classificando-os entre básicos e adiantados (quadro
09). Os fatores básicos constituirão aqueles de menor influência no processo de
construção da vantagem competitiva de uma indústria, como por exemplo mão-de-obra
não especializada ou recursos de baixa exigência tecnológica. Porter (op. Cit.)
argumenta que esse tipo de condição de fator poderá proporcionar alguma vantagem
- 136 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
competitiva70, porém dificilmente será sustentável por um longo período de tempo. De
forma inversa, a utilização de fatores adiantados poderá proporcionar a construção de
uma vantagem competitiva duradoura. É importante salientar que a estruturação de
fatores adiantados, em geral, utiliza como base os próprios fatores básicos e seu
desenvolvimento exige grandes investimentos em capital humano e físico. Como
exemplo de fatores adiantados Porter (op. Cit.) cita a moderna infra-estrutura de
comunicação de dados digital, pessoal altamente educado e institutos universitários de
pesquisa em disciplinas sofisticadas.
Porter (op. Cit.) prossegue sua análise fazendo uma outra distinção entre os fatores:
Fatores generalizados e especializados (quadro 09). Essa nova classificação sugere a
existência de fatores que são generalizados quanto a sua utilização, pois podem ser
aproveitados por diversos tipos de indústrias (sistemas de rodovias, ferrovias,
telecomunicações, oferta de capital, educação superior, etc.) e fatores especializados
cuja destinação atende apenas indústrias altamente especializadas e complexas
(portos especializados, programadores de computadores altamente habilitados,
software específicos, projetistas especializados, etc.). É mister salientar que, da
mesma forma que os fatores adiantados, a criação e utilização de fatores
especializados demandam investimentos permanentes tanto por parte do setor público
quanto privado.
A quarta classificação do determinante “Condições de Fatores” estabelece uma
diferenciação quanto a sua origem, podendo ser classificado como fatores herdados
ou criados (quadro 09). Os fatores herdados quase sempre são os recursos naturais
ou mesmo a localização ou qualquer outra forma que tenham sido obtidos com baixos
investimentos. De forma inversa, os fatores criados pressupõem, em geral, a
existência de mecanismos de criação tais como: instituições educacionais públicas ou
70 - As Indústrias Extrativas ou de base agrícola que não se utilizam de processos tecnológicos complexos,
em geral, conseguem um diferencial importante na utilização desses fatores básicos.
- 137 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
privadas, órgãos que proporcionem infra-estrutura, centros tecnológicos, investimentos,
etc..
Porter (op. Cit.) conclui que as Nações ou Estados que possuam os fatores adiantados
e especializados e/ou que possuam mecanismos institucionais de qualidade para a
criação desses fatores, conseguirão construir vantagens competitivas duradouras
para suas indústrias. Adicionalmente, a maior ou menor relevância de cada fator para
a construção da vantagem competitiva dependerá do tipo de indústria e o ambiente
concorrencial no qual está inserida.
4.2.3 – Condições de Demanda
O segundo determinante da vantagem competitiva de um Estado são suas condições
de demanda (quadro 10). Porter (op. Cit.) desenvolve sua análise referindo-se apenas
a demanda interna de uma Nação ou Estado. Segundo o autor, a demanda interna
pode determinar o rumo e o caráter da melhoria e inovação que serão adotados por
empresas locais. A demanda interna, sob essa ótica, funciona como elemento de
pressão para que as empresas possam inovar mais depressa e obtenham vantagens
competitivas em suas indústrias. Porter (op. Cit.) enumera ainda três características ou
atributos que juntos seriam elementos fundamentais para a dinâmica da demanda
interna. Os atributos seriam a sua composição, o seu tamanho e padrão de
crescimento e os seus mecanismos de transmissão da preferência interna.
CONDIÇÕES DE DEMANDA
Composição da
Demanda Interna
Tamanho e Padrão de
Crescimento
Mecanismos de
Transmissão
- 138 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
I. Estrutura da
Demanda do
Segmento
II. Compradores
Sofisticados e
Exigentes
III. Necessidades
Precursoras do
Comprador
I. Número de
Compradores
Independentes
II. Taxa de crescimento
da demanda interna
III. Demanda interna
inicial
IV. Saturação precoce
I. Compradores
locais ou
multinacionais
II. Influências sobre
as necessidades
estrangeiras
Quadro 10: Características das Condições de demanda. Fonte: Elaborado a partir do Livro “Vantagem Competitiva das Nações”.
O autor define a composição da demanda interna como sendo a maneira como as
empresas percebem, interpretam e reagem às necessidades do comprador. Dessa
forma as empresas conseguiriam obter vantagem competitiva quando conseguissem
antecipar esse quadro de necessidades dos compradores. Porter (op. Cit.) sugere que
as empresas locais tendem a levar vantagem em relação às empresas estrangeiras
por seu melhor conhecimento das características da demanda local. As empresas
estrangeiras teriam dificuldade de compreender as circunstâncias locais e manter
eficientes canais de comunicação, fato esse não comprovado empiricamente nos
estudos de Porter.
À composição da demanda interna são atribuídas ainda três características
importantes para a obtenção da vantagem competitiva : A estrutura da demanda do
segmento, os compradores sofisticados e exigentes e as necessidades precursoras
do comprador. A primeira característica define como está estruturada a demanda
interna dentro de um determinado segmento. Como a demanda em cada indústria
trabalha de forma segmentada, é importante compreender como cada segmento está
estruturado, seu tamanho e suas características. Essa estrutura do segmento
desempenhará papel fundamental na competitividade de um Estado, pois as políticas
governamentais de cunho vertical incidirão diretamente nos segmentos que
- 139 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
demonstrarem maior potencialidade e atratividade econômica. Esses segmentos
também serão os mais visados para a atração de investimentos privados.
A segunda característica da composição da demanda interna são seus compradores
sofisticados e exigentes que refletem a qualidade da demanda. O grau de exigência e
de pressão que os compradores internos estabelecem impacta na construção da
vantagem competitiva das empresas, pois quanto mais exigentes e sofisticados forem
esse compradores (grau de Qualidade da Demanda Interna) maior será a pressão sob
as empresas por melhoria contínua de produtos e processos. Essa característica é
essencial no processo da construção da competitividade nacional pois incentivará o
esforço para a inovação, resultando em produtos e serviços mais competitivos nos
mercados interno e externo. Outro aspecto que deve ser observado é a relação entre a
exigência sofisticada da demanda interna com as condições de fatores. As vantagens
ou desvantagens nas condições de fatores sejam eles criados ou herdados, básicos
ou avançados influenciará o grau de exigência da demanda interna de uma Nação.
Fatores como recursos naturais, localização geográfica, mão de obra especializada,
etc., junto às características da demanda interna podem direcionar tanto as políticas
governamentais como investimentos privados em segmentos industriais.
A terceira característica da composição da demanda interna são as necessidades
precursoras do comprador. Nessa característica, Porter relaciona a demanda interna
com a demanda externa. Segundo a visão do autor, as empresas obterão vantagem
competitiva quando as necessidades dos compradores internos (demanda interna)
prenunciarem também uma demanda externa para os seus produtos ou serviços. Essa
característica relaciona-se com a anterior pois o grau de exigência dos compradores
internos possibilitaram uma sofisticação dos produtos e processos das empresas que
ganharão competitividade também em mercados externos.
A segunda característica atribuída ao determinante condições de demanda é o
tamanho e os padrões de crescimento. Segundo o autor, além da sua estrutura ou
- 140 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
composição é necessário analisar a tamanho da demanda interna e seu padrão de
crescimento. Porter prossegue afirmando que o tamanho do mercado interno pode
assumir um papel preponderante na vantagem nacional, desde que a composição
dessa demanda interna seja sofisticada e possa prenunciar necessidades externas.
Nesse enfoque são destacados quatro elementos de análise dessa segunda
característica: O número de compradores independentes, a taxa de crescimento da
demanda interna, a demanda interna inicial e a saturação precoce da demanda
interna. É importante identificar que o ponto de partida da análise do autor para
estabelecer uma posição de vantagem competitiva, reside na relação entre o tamanho
dos mercados internos e sua capacidade de estimular investimentos ou uma dinâmica
econômica interna.
O primeiro elemento de análise do tamanho e da taxa de crescimento da demanda é o
numero de compradores independentes. Uma expressiva quantidade de compradores
independentes estimularia a competição entre as empresas e criaria um dinamismo no
mercado, favorecendo aspectos de preço, inovação tecnológica e investimentos. O
segundo elemento é taxa de crescimento apresentada pela demanda interna do
Estado ou Nação. Esse elemento poderá determinar também a taxa de crescimento
da própria indústria que será estimulada a acelerar seus investimentos em novas
tecnologias pois terá um mercado possivelmente demandante no médio e longo
prazos71. O terceiro elemento de análise refere-se a demanda interna inicial. Porter
atribui a demanda interna inicial um papel importante no processo de aprendizado das
empresas, principalmente as primeiras que entrassem no mercado, pois essas
ganhariam escala e acumulariam experiência através dessa demanda interna inicial.
Ele ressalta, porém que essa curva de aprendizado somente contribuirá para a
construção de vantagem competitiva caso a demanda interna prenuncie as
necessidades externas de outros mercados.
71 Porter, no entanto, não estabelece uma relação de causalidade entre essas dimensões de crescimento da
demanda e crescimento do segmento de indústria.
- 141 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
O quarto e último elemento reside na saturação precoce da demanda interna. O autor
coloca que o processo de saturação precoce pode criar pressões intensas na
competição estimulando com isso uma redução de preços, um desenvolvimento
tecnológico / inovação, ou até mesmo a busca de novos mercados estrangeiros. A
saturação do mercado interno constitui, em geral, um elemento preponderante na
busca de novos mercados por parte das firmas.
A terceira característica do determinante condições de demanda são seus
mecanismos de transmissão. Dois elementos são destacados: Os compradores locais
ou multinacionais e as influências sobre as necessidades estrangeiras. O primeiro
elemento pode agir como mecanismo de transmissão caso compradores locais
tenham presença no exterior. Nesse caso, existiria a tendência desse comprador local
ser abastecido, no estrangeiro, também por seus fornecedores do país sede. Isto serve
de estímulo aos fornecedores a expandirem suas operações no estrangeiro. Porter
aponta uma série de vantagens nesse comportamento das firmas, entre elas podem
ser destacadas a facilidade de comunicação, a diminuição de riscos e a vantagem,
em algumas indústrias, da padronização de insumos ou processos.
O segundo elemento de transmissão são as influências sobre as necessidades
estrangeiras. Essa influência ocorreria quando as necessidades ou os desejos
eminentemente da demanda interna poderem ser inseridos no padrão dos
compradores estrangeiros, influenciando assim a demanda externa. Essa situação de
influência torna-se possível apenas quando as condições de demanda interna (padrões
de demanda) passam a ser um referencial no padrão de consumo das outras Nações.
É oportuno esclarecer que esses elementos de transmissão apenas conseguem uma
efetiva ação, quando a composição de demanda interna é sofisticada e exigente o
suficiente para influenciar outras condições de demanda.
4.2.4 – Industrias Correlatas e de Apoio
- 142 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
O terceiro determinante no processo de construção da vantagem competitiva do
Estado é a presença de indústrias correlatas e de apoio, internacionalmente
competitivas. O autor ressalta a importância do papel das indústrias que possuem
estreita relação com outros segmentos, seja fornecendo insumos e equipamentos ou
mesmo produzindo produtos correlatos ou integrantes da mesma cadeia de valor.
A idéia central deste determinante reside na possibilidade de indústrias, que sejam
competitivas internacionalmente, poderem auxiliar na construção de vantagens
também em outros segmentos de indústria. Esse auxílio pode ocorrer sob dois
aspectos básicos: O primeiro seria a construção da vantagem competitiva com o
apoio das indústrias abastecedoras, e o segundo seria a construção baseada na
dinâmica das indústrias correlatas existentes (quadro 11). De fato, esses dois
aspectos trabalham com abordagens vertical e horizontal, respectivamente, da
dinâmica dos segmentos da indústria.
As indústrias abastecedoras ou fornecedoras podem potencializar a criação de
vantagens competitivas em outras firmas dentro do seu segmento de várias formas. A
primeira seria através do acesso eficiente e rápido à maioria dos insumos72. Apesar
desse acesso ser fundamental para ganhos de produtividade para as firmas, não
poderia ser considerado isoladamente um fator essencial na construção da vantagem
competitiva de um setor. A segunda seria a capacidade de coordenação e integração
constantes que os fornecedores locais poderiam proporcionar às industrias
pertencentes a mesma cadeia de valor. E a terceira forma de potencializar a criação
de vantagens competitivas seria através do processo de inovação e aperfeiçoamento.
Porter argumenta, ainda, que a pesquisa e desenvolvimento e a solução conjunta dos
72 - Não obstante, Porter ter elencado o acesso rápido e eficiente aos insumos como elemento importante no
processo de construção da vantagem competitiva, o próprio autor nas suas argumentações a respeito das condições de fatores estabelece que o importante não é o insumo ou recurso estar disponível para a indústria, mas ser utilizado de forma eficiente e eficaz.
- 143 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
problemas podem gerar resultados mais rápidos e eficientes para o segmento
industrial, acelerando o ritmo de inovação dentro de toda a indústria nacional.
CARACTERÍSTICAS DAS INDÚSTRIAS CORRELATAS E DE APOIO
Indústrias Abastecedoras Indústrias Correlatas
I. Acesso eficiente e rápido aos
insumos
II. Capacidade de coordenação
e integração constantes
III. Processo de inovação e
aperfeiçoamento
I. Oportunidade de informação
e intercâmbio técnico
II. Fomentar o desenvolvimento
de indústrias de fornecimento
Quadro 11: Características das indústrias correlatas e de apoio. Fonte: Elaborado a partir do Livro “Vantagem Competitiva das Nações”. Elaboração própria.
Essa relação entre as firmas, na procura de vantagens recíprocas, dentro da
abordagem vertical da dinâmica de segmentos de industriais, pode ser estimulada
através dos investimentos governamentais que possam gerar externalidades para todo
o segmento da indústria. Porter, em sua análise, ressalta, ainda, que essa relação
com fornecedores na busca da construção de vantagens terá melhores resultados,
caso eles sejam competidores globais73. Os fornecedores locais somente contribuirão
nesse processo de obtenção de vantagem competitiva caso possuam um padrão tão
forte quanto os padrões internacionais. É importante lembrar que um Estado ou Nação
não necessita que todas as indústrias fornecedoras tenham vantagem competitiva para
que os demais segmentos também obtenham essa vantagem. Os outros
determinantes da vantagem competitiva devem também estimular esse processo.
73 - Porter entretanto, generaliza essa contribuição dos fornecedores na construção da vantagem competitiva.
É importante verificar que tipo de indústria está sendo analisada e o grau de importância que o fornecimento de insumos e/ou equipamentos terá nessa cadeia de valor.
- 144 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
As indústrias correlatas ou de apoio também podem potencializar a criação de
vantagens competitivas. Esse raciocínio encontra sua lógica quando trabalhado sob a
ótica da cooperação em diversas atividades, tais como desenvolvimento de
tecnologia, distribuição, comercialização e assistência técnica, etc. Porter, entretanto,
em seu texto, não consegue demonstrar a causalidade dessa relação74. A existência
de indústrias correlatas competitivas em diversos países é colocada como exemplo de
que pode haver sinergia sob vários aspectos. Dentre esses aspectos dois podem ser
considerados mais relevantes: O primeiro estabelece que nas indústrias correlatas
existe a oportunidade de troca de informação e intercâmbio técnico. As indústrias, por
trabalharem em segmentos semelhantes, poderiam firmar convênios de cooperação
técnica para fortalecer seus desempenhos. O segundo aspecto aborda novamente o
fato da presença de indústrias correlatas incentivarem o desenvolvimento de indústrias
fornecedoras que possam atender ambos os segmentos.
4.2.5 – Estratégia, Estrutura e Rivalidade
O quarto determinante amplo no processo de construção da vantagem competitiva do
Estado reside na estratégia, estrutura e rivalidade das empresas. Porter (op. Cit.), em
seus textos, salienta as observações efetivadas nos vários países pesquisados e
procura estabelecer comparações com relação ao comportamento das firmas no
ambiente competitivo. Algumas das argumentações levantadas, no entanto, não
possuem uma fundamentação teórica suficiente para que possam ser consideradas
importantes no processo de construção da vantagem competitiva. O autor não
consegue estabelecer relações de causalidade, tampouco, quantificar os impactos que
determinadas características apresentadas possam ter no processo de competição.
74 - Porter não consegue demonstrar a existência dessa relação de causa e efeito na relação entre indústrias
correlatas que desenvolvem atividades conjuntas. O autor novamente generaliza sua observação colocando que o sucesso nacional de uma indústria é particularmente provável se o país tem vantagem competitiva em várias indústrias correlatas.
- 145 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
Entre as várias características levantadas pelo autor que influenciam a competição,
podem ser destacadas : as estratégias, as metas, os modos de organização e o
padrão de rivalidade interna. De uma forma geral, o autor não consegue categorizar
esses elementos que influenciam no processo; ele apenas procura estabelecer
correlações entre a estrutura da indústria e as condutas adotadas pelas firmas. Para
efeito de organização, o quadro a seguir (quadro 12) tenta agrupar os diversos
elementos sugeridos por Porter.
ESTRATÉGIA, ESTRUTURA E RIVALIDADE DE EMPRESAS
Estratégias Metas Rivalidade Interna
I. Disposição e
capacidade das
empresas em
competir
globalmente
II. Atitudes para com
viagens
III. Conhecimento de
línguas e iniciativa
de aprender outros
idiomas
IV. Política
governamental
I. Metas da empresa
II. Metas dos indivíduos
III. A influência da
prioridade/prestígio
nacionais sobre as
metas
IV. A importância da
dedicação constante
I. Empresas locais
fortes ficam
equipadas para
ter êxito no
exterior
II. Desenvolvimento
de barreiras de
entrada
III. Concentração
geográfica
Quadro 12: Fatores que influenciam nas Estratégias, na Estrutura e na Rivalidade de empresas. Fonte: Elaborado a partir do Livro “Vantagem Competitiva das Nações”. Elaboração própria.
Porter enfatiza as diferenças nos estilos e práticas administrativas adotadas em várias
Nações. Como exemplo, são apontadas as seguintes áreas : treinamento, formação e
orientação de lideres, estilo de grupo em contraposição a estilo hierárquico, influência
- 146 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
da iniciativa individual, instrumentos para a tomada de decisões, natureza das relações
com os clientes, capacidade de coordenar funções, atitude com as atividades
internacionais e relação entre o trabalho e a administração. No entanto, essas áreas
são apenas pontuadas, não existindo um trabalho de análise comparativa nos diversos
países, estabelecendo semelhanças e diferenças em cada estilo ou prática
administrativa. Não existe divergência na literatura sobre a peculiaridade das
características administrativas adotadas em cada país ou mesmo em cada segmento.
Porter, no entanto, não avança na análise dessas características, sua contribuição
restringe-se a verificar que cada segmento de indústria analisado nos diversos países
possui características próprias. Essas características são influenciadas pela estrutura
institucional e pelos demais determinantes.
Porter (op. Cit.) indica, ainda, alguns aspectos institucionais do país que interferem
nas práticas administrativas das firmas. Aspectos como as atitudes para com
autoridades, as normas de interação interpessoal, atitudes dos trabalhadores para
com a administração e vice-versa, normas sociais de comportamento individualista ou
de grupo e padrões profissionais são mencionados, porém, não avaliados.
As metas das firmas também podem sofrer influencias das estruturas e padrões
nacionais vigentes. O autor coloca que, na construção da vantagem nacional, os países
terão êxito quando suas metas estiverem alinhadas com as fontes de vantagem
competitiva. As empresas determinarão suas metas com base nos padrões e
expectativas impostos pelos segmentos industriais de cada país e a estrutura de
mercado e o padrão de funcionamento das instituições nacionais farão com que as
expectativas de resultados sejam diferentes em cada nação, influenciando dessa
maneira as metas empresariais. Porter tenta exemplificar essas influências, citando
que países como Alemanha, Estados Unidos, Coréia, Suíça e outros, possuem
- 147 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
estruturas institucionais e padrões nacionais próprios75 que determinam as práticas
administrativas e o estabelecimento de metas de curto e longo prazos.
Porter ressalta ainda alguns aspectos que influenciam o estabelecimento e o
cumprimento das metas. Entretanto, aspectos como a influência da prioridade/prestígio
nacionais sobre as metas ou a importância da dedicação constante, não são avaliados
de forma objetiva, recaindo em uma subjetividade que apesar da contribuição na
obtenção da vantagem competitiva nacional, não possuem parâmetros quantitativos
que expliquem suas contribuições no processo. A subjetividade dessa análise não
ajuda na construção de um referencial teórico coerente e que possa ser multiplicado.
A rivalidade interna de empresas também é posta como um elemento que estimula a
criação e a sustentação da vantagem competitiva. Porter, nesse aspecto, advoga que
a rivalidade entre firmas de um país dentro de um determinado segmento pode atuar
como elemento de pressão mútua no processo de melhoria contínua e de inovação76.
E essa melhoria e inovação advindas dessa pressão ajudariam na construção de
vantagens dinâmicas que firmas estrangeiras não conseguiriam. O autor explicita que
as vantagens obtidas não necessitam estar apenas vinculadas a preços competitivos,
porém, estarem atreladas à reduções de custos, à melhoria da qualidade e serviços, à
criação de novos produtos e processos e à implementação de novas tecnologias.
Porter atribui à rivalidade interna vários aspectos benéficos e, algumas vezes,
contraditórios. A rivalidade interna, segundo o autor, pode gerar empresas locais mais
75 - Porter sugere que o estabelecimento de uma estrutura institucional (sistema de governo, regras
institucionais, independência de poderes, etc.) clara e estável terá uma influência determinante nas práticas de gestão adotadas pelo setor produtivo.
76 - Existe uma divergência essencial entre a pesquisa de Porter, que aponta para o processo inovativo como
sendo também fruto da rivalidade interna das firmas e os textos de Schumpeter. A visão schumpteriana atribui o processo de inovação à figura central do empreendedor, que dentro da empresa procura incessantemente a inovação de produtos e processos. Schumpeter não estabelece correlações entre o processo inovativo e o padrão de concorrência ou rivalidade entre empresas. Para uma melhor análise ver Schumpeter, Joseph. The Theory of economic development, 1911.
- 148 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
fortes para a competição global, porém pode gerar autofagia em ambientes de
competição acirrada. Uma outra característica da rivalidade seria os desdobramentos
positivos para toda a indústria nacional, criando uma vantagem competitiva para os
segmentos e não apenas para uma firma. Esse fortalecimento dos segmentos
levantaria defesas contra possíveis rivais estrangeiros77. A concentração geográfica
apresenta-se como uma outra característica que pode refletir ou ampliar as vantagens
competitivas. Nesse ponto, aparece novamente a contradição do autor em estabelecer
à característica um reflexo da vantagem construída ou um elemento que auxiliará na
construção da vantagem. A relação causa e efeito não é analisada de forma
apropriada, deixando com isso vários questionamentos a respeito da construção de
vantagens competitivas nacionais. Porter prossegue sua investigação analisando o
fato da presença de rivais locais ajudarem no processo de condução de um apoio
governamental efetivo. Esse apoio ocorreria pelo fato das próprias estratégias dos
competidores criarem um ambiente propício para que as ações do governo ajudem na
construção de uma dinâmica setorial78.
Em sua análise de diversos segmentos de indústria nos dez países escolhidos, Porter
não verifica as possíveis etapas em que se encontra a rivalidade interna em cada
segmento. Tampouco analisa as diferentes estruturas de mercado (mercados
fechados, estruturas monopolistas, acesso a livre movimentação de capitais, etc..) que
retro-alimentam essas rivalidades internas. Parece óbvio inferir que cada componente
da estrutura fará com que as firmas adotem estratégias diferenciadas para atuar frente
a rivalidade interna, e isso ocorrerá dentro de uma linha de tempo na qual a própria
relação dos competidores será modificada. Isto determinará que a rivalidade interna
entre firmas locais passará por diversas etapas.
77 - Para uma melhor abordagem sobre tema “Barreiras a entrada de novos competidores” ver : J. Bain.
Barries to New Competition – Havard, 1956. 78 - Essa argumentação carrega uma nova inconsistência na análise de Porter, pois não será apenas a
ausência ou a presença de rivalidade entre os competidores internos que determinará o tipo e a qualidade da intervenção da ação governamental. Os aspectos institucionais e de mercado (estrutura) terão também influência preponderante no processo de ação governamental.
- 149 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
Ademais, além de ter um caráter temporal acentuado, a rivalidade interna possuirá
diferentes graus de intensidade. Cada segmento, através de suas características
estruturantes, determinará uma rivalidade mais ou menos acentuada entre as firmas.
Esse aspecto, pouco abordado pelo autor, interferirá no processo de definição de
metas e estratégias das firmas competidoras e determinará, ainda, qual será o perfil
de firma mais apropriado para o segmento79.
Mais uma vez, Porter expõe uma argumentação inconsistente, ao colocar a
cooperação direta entre competidores como sendo elemento de possível
enfraquecimento da vantagem competitiva80. Segundo sua análise, exceto quando
ocorre de forma limitada ou específica, a cooperação direta pode eliminar a
diversidade, minar os incentivos e, até mesmo, tornar mais lento o ritmo de melhoria da
indústria. Não obstante esse posicionamento determinístico do autor, a cooperação
entre firmas locais pode assumir um caráter bastante positivo em relação a rivalidade
externa. A associação de pequenas empresas com o intuito de adquirir ganhos de
escala, ou mesmo para uma cooperação tecnológica, é bastante freqüente em
determinados segmentos da indústria.
79 - Os aspectos de possíveis etapas e graus de rivalidade interna levantados acima, não são encontrados e
analisados no texto do autor. Acreditamos serem fundamentais na dimensão da rivalidade entre firmas. 80 - Porter, de forma contraditória, já havia colocado a cooperação entre firmas e fornecedores ou entre
empresas correlatas como sendo um elemento positivo na obtenção de vantagem competitiva nacional. Entretanto na sua análise da rivalidade interna, o elemento de cooperação não aparece mais como elemento positivo.
- 150 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
4.2.6 - O papel do acaso e do governo
Além dos quatro determinantes da vantagem nacional, Porter adiciona, ainda, dois
elementos importantes na construção do seu modelo do diamante nacional: o papel do
acaso e o do governo (figura 11).
Figura 11 – Diamante Nacional – Sistema Completo Fonte: Extraído do Livro “Vantagem Competitiva das Nações”.
Condições de
fatores
Estratégia, Estrutura e
Rivalidade das empresas
Indústrias Correlatas e
de apoio
Condições de
demanda
Ação do governo
Acaso
- 151 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
Porter (op. Cit.) define o acaso como ocorrências fortuitas que pouco têm a ver com as
circunstâncias de um país e estão fora do alcance das firmas. Segundo o autor, essas
ocorrências somente influenciariam o diamante nacional, caso os fatos gerados
permitam modificações nas posições competitivas nos segmentos de indústria. Porter
cita como exemplos do acaso, os atos de pura invenção, as importantes
descontinuidades tecnológicas, as descontinuidades nos custos dos insumos, as
modificações significativas nos mercados financeiros mundiais ou nas taxas de
câmbio, os surtos de demanda mundial ou regional, as decisões políticas de governos
estrangeiros e as guerras.
Esses exemplos teriam condições de neutralizar vantagens competitivas já
estabelecidas, criando condições para que novos competidores consigam se
posicionar no novo ambiente de competição. Porter ressalta, ainda, que os impactos
dos acontecimentos fortuitos, em geral, são assimétricos, pois favorecem
determinadas firmas ou segmentos e desfavorecem outros. Esses impactos podem
influenciar as bases do diamante nacional como um todo ou apenas alguns dos seus
determinantes. É importante observar que não serão todos os acontecimentos fortuitos
que poderão criar essas condições de mudanças, pois os determinantes atuam,
também, como um poderoso sistema de manutenção das bases do diamante nacional.
Em sua análise, o autor atribui ao governo papel relevante na construção de vantagens
competitivas dentro de um país. A influência governamental pode ocorrer isoladamente
em um dos quatro determinantes ou pode influenciar o diamante como um todo. Essa
interferência, em geral, ocorre por meio de incentivos governamentais, do
estabelecimento de padrões ou regulamentos locais, da criação circunstâncias
favoráveis à dinâmica empresarial, ou, até mesmo, de subsídios . Entrementes a essa
grande influência que o governo pode exercer, sua interferência pode assumir um
aspecto positivo ou negativo no processo de criação e manutenção das vantagens
competitivas. Modificações nas estruturas institucionais ou de mercados, alterações
- 152 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
nas políticas fiscal e de crédito e financiamentos podem levar a um empobrecimento
do diamante nacional e conseqüentemente uma perda de competitividade dos
segmentos produtivos.
Porter advoga um papel de relevância parcial para o governo na construção da
vantagem competitiva do estado. O autor sugere que a ação governamental falhará
caso queira assumir o papel principal na vantagem competitiva nacional. O papel do
governo será o de reforçar a dinâmica dos quatro determinantes do diamante nacional.
Apesar da análise dos determinantes e das variáveis exógenas do “Diamante
Nacional”, o modelo de Porter apresenta uma série de limitações e lacunas que
impossibilitam o seu uso geral para explicar o desenvolvimento econômico de uma
nação ou mesmo região.
- 153 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
”Tendo em vista o grande número de trabalhos em diferentes disciplinas que incidem de alguma maneira sobre o meu assunto, simplesmente não foi possível oferecer
referências completas. Nem posso tentar aqui uma história intelectual completa do meu tema. Procurei, porém, registrar alguns dos antecedentes mais importantes à minha abordagem, nos vários campos, bem como alguns dos trabalhos individuais que me
pareceram mais interessantes ”
Michael Porter em Vantagens Competitivas das Nações, 1990
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
5. VANTAGENS COMPETITIVAS: CRÍTICAS AO MODELO DE PORTER
5.1 Limites explicativos, lacunas e deficiências do Modelo
Apesar de sua inequívoca contribuição à teoria da produção internacional, através de
seus estudos e pesquisas, principalmente suas pesquisas setoriais realizadas em
diversos segmentos e países, o modelo do “Diamante Nacional” apresenta alguns
limites explicativos como modelo econômico. Sua análise apresenta diversas lacunas
que prejudicam a sua aplicação direta para explicar o desenvolvimento econômico de
nações ou mesmo regiões. Essas limitações fomentam críticas que, em geral, fazem
referência à característica estática do modelo de desenvolvimento competitivo
preconizado por Porter. As críticas advertem, ainda, que suas análises são
freqüentemente subjetivas e baseadas em alguns poucos países industrializados, não
podendo ser estendidas para uma explicação da evolução das economias de países
em desenvolvimento81.
Uma outra limitação do modelo foi evidenciada por Narula (1993)82, que, em sua
análise do modelo, evidenciou a ausência da abordagem da atividade empresarial
internacional e suas implicações, tanto na caracterização dos estágios propostos por
Porter quanto na influência nos determinantes. Essa lacuna foi, também, abordada por
Dunning83, que observou a dinâmica da atividade empresarial internacional e suas
relações com o desenvolvimento de vantagens competitivas nas nações e as possíveis
ilações com a elaboração de políticas governamentais84. Dunning adapta o Diamante
81 - Essa limitação, no entanto, não é apenas do modelo de Porter, porém de boa parte da literatura sobre
produção internacional. Os teóricos, em geral, efetivam suas análises em países centrais desenvolvidos, deixando uma lacuna nos estudos com relação aos países periféricos.
82 - Narula, Rajneesh. Management International Review. Special Issue vol. 33. 1993/2. 83 - Dunning, J.H. The Competitive Advantages of Countries and the Activities of Transnational Corporation,
Transnational Corporations Vol. 1, No 1, February. 84 - Dunning, J.H. Governments and Multinational Enterprises: From Confrontation to Co-operation ? Millenium,
Journal of International Studies, 20
- 155 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
de Porter com a inclusão da análise da atividade das multinacionais como a terceira
variável exógena85.
Além dessas limitações, Narula ressalta ainda que Porter não enfatizou a importância
da tecnologia como um processo dinâmico e incremental no desenvolvimento das
economias nacionais. Também não é dado muita atenção ao papel do IED
(Investimento Externo Direto) e a falta de ação ou a má ação do Estado com relação
ao estímulo das vantagens competitivas. O papel da incerteza (diferente do acaso) não
é considerado como uma variável importante em seu modelo. As ausências desses
elementos, bem como, a generalização de suas pesquisas e estudos, constituem as
principais limitações do modelo desenvolvido por Porter.
5.2 A Contribuição de Rajheness Narula – Investment Development Path
Segundo Narula (op. Cit.), pode-se identificar, ainda, quatro deficiências do modelo de
Porter como modelo explicativo de desenvolvimento econômico. A primeira encontra-
se no fato de Porter analisar o desenvolvimento de algumas nações industrializadas e
tentar estender essa análise a países de diferentes estruturas econômicas. A segunda
deficiência refere-se ao fato da maioria dos países em desenvolvimento estar
fortemente atrelada aos seus fatores de produção por causa da dependência dos seus
recursos naturais. Terceira, Porter advoga uma limitada intervenção estatal, sem, no
entanto, considerar as possibilidades de acordos internacionais entre países que
visem a consolidação ou mesmo a complementação de suas vantagens competitivas.
A quarta deficiência, e talvez a mais importante de todas, em termos de inviabilizar a
utilização do modelo de Porter como um modelo de análise de desenvolvimento
econômico, reside na ausência de exame dos fatores causais que determinam às
mudanças de estágios de desenvolvimento econômico (dinâmica do processo), e na
85 - Porter em seu modelo analisa o papel do acaso e da ação governamental como variáveis exógenas ao
Diamante Nacional, Dunning acrescenta o papel da atividade empresarial internacional também como uma importante variável influenciando os determinantes.
- 156 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
falta de análise dos motivos que explicariam porque alguns países são capazes de
fazer essa transição de um estágio para outro, mais cedo que outros países, e, como
esse processo poderia ser reproduzido.
Para Narula (op. Cit.), o modelo de desenvolvimento econômico de Porter não
consegue identificar quais são as bases de diferenciação (potenciais ou reais)
existentes entre os países que fornecem uma explicação satisfatória do porque o
crescimento econômico acontece em alguns países ou regiões e em outros não.
Narula (op. Cit.) segue sua análise considerando a abordagem de Porter sobre
tecnologia. Apesar de Porter considerar a tecnologia como uma variável endógena em
seu modelo, ela aparece em dois níveis distintos de análise, de modo a não ter
influência decisiva na dinâmica do processo de desenvolvimento. O primeiro nível
aborda a tecnologia como uma variável específica da firma, podendo estar presente de
forma codificada ou não, mas que contribui no processo de organização e/ou de
desempenho eficiente das firmas (Condições de fatores avançados). O segundo nível
coloca a tecnologia como o conhecimento inerente à indústria ou à estrutura de
mercado de um país ou região, influenciando a organização eficiente das transações
inter-firmas e intra-firmas (Estrutura de Mercado).
Para Narula é necessário uma elucidação das diferenças entre as dimensões da
estrutura da firma e da indústria ou mercado. A estrutura da firma é resultado do
conhecimento acumulado experimentado no processo de busca de resultados/lucros. E
a estrutura de mercado constitui-se na arena onde as transações ocorrem,
desempenhando um importante papel, pois o grau de competição entre firmas irá
afetar a taxa de inovação86. Para o autor, a tecnologia, nessas duas dimensões,
assume um papel relevante no processo de desenvolvimento econômico pois a
86 Narula define inovação como o conhecimento e a capacidade de produzir bens e serviços com uma alta
qualidade por preço unitário, enquanto a tecnologia é definida como o acúmulo dessas inovações. A tecnologia, por sua vez, contribuirá para a construção de vantagens competitivas enquanto explorada comercialmente pelas firmas.
- 157 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
construção de vantagens competitivas ocorre primeiramente no nível das firmas e
indústrias, que, por sua vez, estão ligadas ao desenvolvimento econômico nacional. A
produção e a difusão comercial do conhecimento interferem no processo de
desenvolvimento econômico. O acúmulo progressivo de conhecimento e inovações é
estabelecido como um fenômeno da firma que, através de um efeito multiplicador,
extrapola a estrutura da indústria impactando na prosperidade econômica nacional.
Verifica-se, então, que a tecnologia interfere diretamente tanto como uma variável
endógena quanto exógena no processo de construção de vantagens competitivas. Sua
interferência, entretanto, ocorre de modo mais explícito e direto nos determinantes
“Estrutura da Indústria” e “Condições de Fatores”, e indiretamente nas “Condições de
Demanda” (Estrutura de Mercado) e nas “Indústrias Correlatas”. A figura 12 demonstra
o caráter interativo e dinâmico proporcionado pela inclusão da tecnologia como uma
variável do sistema que, ao mesmo tempo que influencia os determinantes, é
influenciada por eles.
Narula (op. cit.) acrescenta em sua análise a importância dos investimentos internos e
externos na dinâmica do desenvolvimento econômico87. A posição de investimentos
diretos, sejam eles internos ou externos, bem como, a posição da tecnologia
acumulada podem retratar melhor a dinâmica do processo de desenvolvimento
econômico de um país.
87 - Dunning, em seu trabalho, discute a influência que os investimentos terão sobre os quatro determinantes
e indiretamente sobre o processo de acumulação tecnológica.
- 158 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
Figura 12 – Desenvolvimento da Vantagem Tecnológica Nacional : O Papel da Tecnologia Acumulada. Fonte: Extraído do Texto “Technology, International Business and Porter’s “Diamond”: Synthesizing a Dynamic Competitive Development Model”. NARULA, Rajneesh (1993).
Conclui-se que a obtenção de vantagens tecnológicas por parte de uma nação ou
região está baseada no processo de acumulação tecnológica iniciado no nível das
firmas, e que, ao longo do tempo, tende a extrapolar a própria indústria e consolidar-se
como um dos elementos centrais da dinâmica do desenvolvimento econômico.
I. Investment Development Path
Partindo das considerações e críticas do modelo de Porter, Narula (Op. Cit.) propõe-se
a elaborar um modelo sintético (Dynamic Economic Development Model) que possa
preencher as lacunas e incorreções do modelo de Porter. Para a construção desse
- 159 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
modelo, Narula parte das contribuições do trabalho de Dunning, que criara um modelo
para analisar os aspectos de desenvolvimento envolvidos na produção internacional e
também nas possíveis interações de elementos como condições de demanda,
sistemas políticos e falhas de mercado. Esse modelo (Investment Development Path
– IDP), apesar do seu foco essencialmente macroeconômico, que não aborda a
questão do processo de acumulação tecnológica, serviu de base para uma explicação
completa do processo de desenvolvimento econômico e sua dinâmica.
Um outro ponto importante para o desenvolvimento de um modelo que contemplasse
uma explicação do processo de desenvolvimento econômico, foi, também tendo como
ponto de partida as contribuições do trabalho de Dunning, correlacionar ao
desenvolvimento econômico com o fluxo de investimentos diretos. O modelo de Porter
associa o desenvolvimento econômico ao crescimento da economia através da
evolução dos setores industriais88, relacionando o modelo à idéia de competitividade
setorial e tentando analisar o seu rebatimento na economia como um todo. Em seu
modelo, Porter (op. Cit.) estabelece como um dos indicadores desse desenvolvimento
competitivo a renda per-capita.
No entanto, utilizar a renda per-capita isoladamente para analisar o estágio de
desenvolvimento de setores produtivos mostrou-se inapropriada. Narula sugere então,
o uso dos fluxos de investimentos diretos como um indicador do nível de
competitividade de um país. Apesar da utilização desses fluxos como forte indicativo
de competividade de uma região, eles não são suficientes como justificativa do
processo de acumulação tecnológica. Narula sugere, então, cinco estágios básicos
progressivos de desenvolvimento :
88 -Esse é, possivelmente, o maior equívoco da análise de Porter. Seu modelo é, certamente, um poderoso
instrumento de análise empresarial e setorial, porém, bastante limitado como modelo de análise de desenvolvimento de nações ou regiões.
- 160 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
Os países que encontram-se no primeiro estágio (figura 13), em geral, possuem
economias baseadas nas condições de fatores básicas89. Possuem baixos
investimentos internos e os externos são praticamente nulos. Existe a presença
marcante do governo que controla a estrutura da indústria e o nível de rivalidade. O
Processo de inovação tecnológica é marcado pela baixa taxa de acumulação, que
ocorre, em geral, através do licenciamento de tecnologia e de “joint ventures”. As
Condições de Demanda apresentam como característica principal, um demanda fraca
e desqualificada.
Figura 13 – Estágio 01 : Investment Development Path Fonte: Extraído do Texto “Technology, International Business and Porter’s “Diamond”: Synthesizing a Dynamic Competitive Development Model”. NARULA, Rajneesh (1993).
89 - A economia dos países nesse estágio, em geral, está baseada em recursos básicos e em setores como
- 161 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
No segundo estágio de desenvolvimento (figura 15) persiste a forte dependência da
ação do governo para estimular os fatores. A estrutura da indústria tende para a
formação de oligopólios e inicia-se o fortalecimento das indústria de suporte e apoio
(formação de clusters). O governo começa a investir em condições de fatores
avançados. Em geral, nota-se uma estratégia orientada para a exportação de produtos
e/ou uma política de substituição das importações. O processo de acumulação
tecnológica começa a modificar suas características, pois, além do processo de
licenças e “joint ventures”, iniciam-se as inovações nos processos de aprimoramento
e desenvolvimento dos produtos e processos produtivos. Pode-se detectar um
aumento na demanda e nos investimentos internos e externos. Esses aspectos
conjugados possibilitam o acirramento da competição.
Figura 14 – Estágio 02 : Investment Development Path
a agricultura, petróleo e indústria extrativa.
- 162 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
Fonte: Extraído do Texto “Technology, International Business and Porter’s “Diamond”: Synthesizing a Dynamic Competitive Development Model”. NARULA, Rajneesh (1993).
O terceiro estágio de desenvolvimento (figura 15) caracteriza-se pela acumulação de
tecnologia baseada em conhecimento tecnológico, gerencial e de mercado. O
desenvolvimento passa a ser direcionado por condições de fatores avançados. Existe
um aumento na demanda qualificada e os investimentos internos e externos continuam
a evoluir a taxas crescentes. O papel do governo modifica-se passando de executor à
moderador, desenvolvendo políticas gerais como forma de atração de investimentos e
atuando como limitador da rivalidade entre as empresas. O crescimento tecnológico
está baseado também na qualidade da demanda e na competição das indústrias
correlatas. Essas indústrias estimuladas pelo aumento da competição e das condições
de demanda passam a ter padrão mundial.
- 163 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
Figura 15 – Estágio 03 : Investment Development Path Fonte: Extraído do Texto “Technology, International Business and Porter’s “Diamond”: Synthesizing a Dynamic Competitive Development Model”. NARULA, Rajneesh (1993).
No quarto estágio de desenvolvimento (figura 16), a pesquisa básica e aplicada é feita
localmente – atividades de P & D. Os investimentos externos crescem a medida que a
capacidade tecnológica das empresas avançam e os fatores avançados passam a ter
maior relevância que os fatores básicos como fonte de vantagem competitiva. O
governo promove políticas localizadas para reestruturar os setores declinantes e
estimular setores nascentes, assumindo o papel regulador da rivalidade com atuação
através das agências, influindo no grau de rivalidade e competição.
- 164 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
Figura 16 – Estágio 04 : Investment Development Path
Fonte: Extraído do Texto “Technology, International Business and Porter’s “Diamond”:
Synthesizing a Dynamic Competitive Development Model”. NARULA, Rajneesh (1993).
- 165 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
Figura 17 – Estágio 05 : Investment Development Path Fonte: Extraído do Texto “Technology, International Business and Porter’s “Diamond”: Synthesizing a Dynamic Competitive Development Model”. NARULA, Rajneesh (1993).
No quinto estágio (figura 17) encontram-se as nações industrializadas que além das
características do quarto estágio revelam dois aspectos a serem observados: O
primeiro está na sua taxa de crescimento econômico que não cresce tanto quanto nos
estágios 3 e 4, já que seu nível de produtividade tende a estabilizar-se. O segundo
aspecto está na propensão do incremento das transações entre países que
apresentem similaridades de mercados e diferentes condições de fatores. Isso cria
- 166 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
uma dependência econômica internacional, favorecendo o surgimento dos blocos
econômicos.
Observa-se que o modelo sugerido por Porter (op. Cit.), ganha nova abordagem
através dos estágios (Quadro 13) sugeridos por Narula (op. Cit.), que introduz a
tecnologia e seu processo de acumulação como aspectos fundamentais da dinâmica
do desenvolvimento de vantagens competitivas e de crescimento econômico. Essa
análise possibilita o exame da interação dos complexos elementos da economia
nacional e de seus mecanismos de crescimento, com o intuito de formação de políticas
setoriais e globais.
A interferência do Estado é marcante nos estágios de desenvolvimento sugeridos por
Narula. A formação de políticas públicas intervencionistas ou reguladoras mostra a
importância decisiva do papel do governo no estímulo ao desenvolvimento de
vantagens competitivas nacionais.
- 167 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
ESTÁGIOS SUGERIDOS POR NARULA
I II III IV V
Condições de
fatores básicas
Estratégia voltada
para exportações
Condições de
fatores
avançadas
Maior importância
fatores avançados
Idem anterior
Baixo nível de
investimentos
internos e
externos
Aumento dos
Investimentos
externos e
internos
Taxa de
crescimento dos
investimentos
Investimento
externo forte
Idem anterior
Governo controla
a estrutura e a
rivalidade
Governo estímulo
aos fatores
avançados
Governo
moderador e
limitador
Governo políticas
localizadas
Idem anterior
Demanda fraca e
desqualificada
Aumento da
demanda
Taxa de
crescimento da
demanda
qualificada
Idem anterior Idem anterior
Baixa taxa de
acumulação
tecnológica
Acumulação
tecnológica –joint
ventures
Acumulação
tecnológica –
conhecimento
tecnológico,
gerencial e de
mercado
Pesquisa básica
e aplicada local
Menor incremento
das taxas de
produtividade
Acirramento da
competição
Indústria com
padrão
competição
mundial
Idem anterior Incremento das
transações
países :
mercados
similares X
condições de
fatores diferentes
Formação
oligopólios
Fortalecimento
indústria suporte/
apoio
Quadro 13 – Estágios sugeridos por Rajneesh Narula.
- 168 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
Fonte: Extraído do Texto “Technology, International Business and Porter’s “Diamond”: Synthesizing a Dynamic Competitive Development Model”. Elaboração própria.
5.3. – A crítica de Omar Aktouf.
Omar Aktouf, em seu texto “Governança e Pensamento Estratégico: Uma Crítica a
Michael Porter”, de 2002, faz uma severa crítica ao pensamento de Porter com relação
à sua teoria geral da vantagem competitiva. Aktouf começa sua analise identificando a
mítica que se desenvolveu em torno do pensamento de Michael Porter, o que ele
chamou de porterismo. Para o autor, as últimas décadas têm sido marcadas por uma
crença de que tudo relacionado ao mundo dos negócios ou da economia passou a ser
estratégico e competitivo; e que o modelo analítico de Porter é um molde generalizado
de uma concepção e de uma análise, uma visão de mundo, uma ideologia plena e
inteira com o propósito de explicar o comportamento das firmas, mercados, nações e
as sociedades de uma forma geral.
Aktouf descreve o fenômeno porterismo como uma resposta simples para um
problema complexo que permeia a economia, a administração e a política, envolvendo
os Estados e as sociedades humanas, de forma apenas aproximativa e minimalista.
Prossegue identificando que o pensamento de Porter atingiu o estado de influência
através de três movimentos. O primeiro passo foi dado com a publicação de
Competitive Strategy, em 1980, com seu modelo das forças competitivas, fortemente
inspiradas na economia industrial. O segundo passo ocorreu com a publicação de
Competitive Advantage, em 1985, que trabalha a noção de cadeia de valores
integrados. E por último, o terceiro movimento ocorrido com o lançamento de
Competitive Advantage of Nations, em 1990, em que Porter expande suas idéias para
aplicação em nações e / ou regiões.
- 169 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
A crítica de Aktouf não se ateve a identificar a origem das idéias e do pensamento de
Porter, elaborando apenas uma desconstrução do conteúdo das publicações de Porter
com suas principais fragilidades em termos epistemológicos, metodológicos e
ideológicos.
O autor prossegue indicando as limitações históricas e teóricas das idéias de Porter,
relatando abordagens equivocadas de teóricos como Adam Smith, David Ricardo,
Eckscher-Ohlin, Vernon, Bain e de suas reais contribuições à teoria econômica, em
especial às teorias de comércio internacional. Deixando ainda, segundo Aktouf, de
tratar, com a merecida profundidade, importantes aspectos ligados à economia como
“economia de escala”, “diferenças de tecnologia e de produtos entre países”,
“circulação de mão-de-obra qualificada e dos capitais”, “deseconomias de escala”,
“barreiras de toda a espécie” e “transferências internacionais entre filiais de firmas
multinacionais”. Aktouf prossegue sua crítica a Porter:
[...] Como é freqüente com as teorias que pretendem impor-se como articulação entre a política, a economia e a administração, este gênero de posicionamento em relação às teorias mais gerais fica no nível dos aspectos secundários que não acrescentam nada à questão da admissão ou da refutação do argumento central dessa ou daquela concepção histórica, tornada clássica, e, portanto inevitável. Este nos parece ser indubtavelmente o presente caso, com o sintético, breve e distanciado posicionamento que Porter toma diante de complexas teorias [...]. (AKTOUF, O. Governança e Pensamento Estratégico: Uma crítica a Michael Porter. RAE. V.42. nº3. jul / set. 2002. p. 45)
Outro ponto importante que Aktouf chama a atenção é sobre a definição de
competitividade. Sobre o conceito, Porter, além de afirmar que não existe consenso,
coloca que não há nenhuma teoria amplamente aceita para explicá-la, desprezando
com isso todo esforço teórico feito nas últimas décadas nas teorias de produção
industrial e comércio internacional.
- 170 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
Na argumentação de Aktouf, Porter ignora as posições de economistas importantes
como Karl Marx, Samir Amin, Stuart Mill, Veblen, Rosa Luxemburgo, dentre outros, e
com um viés fortemente ideológico, postula que “a acumulação e a produção de
riquezas podem ser infinitas, e que a organização da sociedade que a acompanha [...]
é um constante progresso que cabe ser generalizado a todos, para a felicidade de
todos”.
Outra crítica ao trabalho de Porter refere-se ao tratamento superficial que é atribuído ao
conceito de mercado e de concorrência, ignorando teóricos importantes como Marx,
Walras90, Arrow91 e Debreu92, Lypsey e Lancaster que tratam de questões de preço,
capital, valor, equilíbrio, concorrência perfeita e imperfeita, etc.
Aktouf questiona ainda a validade metodológica das idéias de Porter quando este
edifica todo um arcabouço teórico para a construção do “Diamante Nacional” tendo
como referenciais estudos de caso de setores industriais, de firmas e de grupos de
firmas. Nesse sentido, Aktouf coloca em questão todo o trabalho de Porter,
Competitive Advantage of Nations em dúvida. Seria valida essa generalização sob a
ótica de um método científico? A resposta de Aktouf é não. A conclusão do autor é que
a obra porteriana contém falhas científicas e epistemológicas inadmissíveis.
90 - WALRAS, L. Élements d´économie politique purê: theorie de la richesse social.Paris: librairie génerale de
droit et de jurisprudence, 1952. 91 ARROW, K.J. General Equilibrium. Cambridge: Belknap Press, 1983. 92 - DEBREU, G. General equilibrium theory. Cheltenham:E. Elgar, 1966.
- 171 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
5.4 – Análise crítica da obra “Vantagem Competitiva das Nações” e do modelo
do “Diamante Nacional” de Michael Porter.
Michael Porter escreveu nos últimos trinta anos (1976 – 2006) 17 livros (quadro 14) e
93 artigos em vários idiomas e algumas obras passando por mais de 50 edições.
Apesar do quantitativo de livros e artigos, destacam-se alguns trabalhos seminais da
obra de Porter, a começar por seu artigo de 1979 na Harvard Business Review: “How
competitive forces shape strategy”.
Livros Ano
01 - Interbrand Choice, Strategy and Bilateral Market Power 02 - Studies in Canadian Industrial Organization 03 - Competition in the Open Economy 04 - Competitive Strategy: Techniques for Analyzing Industries and Competitors 05 - Cases in Competitive Strategy 06 - Competitive Advantage: Creating and Sustaining Superior Performance 07 - Business Policy: Text and Cases 08 - Competition in Global Industries 09 - The Competitive Advantage of Nations 10 - Upgrading New Zealand’s Competitive Advantage 11- International Competitive Advantage: A New Strategic Concept for Switzerland 12 - Advantage Sweden 13 - Strategy: Seeking and Securing Competitive Advantage 14 - Canada at the Crossroads: The Reality of a New Competitive Environment 15 - On Competition 16 - Can Japan Compete? 17 - Redefining Health Care: Creating Value-based Competition on Results
1976 1977 1980
1980 1982
1985 1986 1986 1990 1991
1991 1991 1991
1992 1998 2000
- 172 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
2006
Quadro 14: Publicações de Michael Porter – Livros (1976 – 2006). Fonte: Produzido a partir do site: http://www.isc.hbs.edu/, em abril / 2006.Elaboração própria.
A partir desse trabalho Porter estruturou seus principais estudos e publicações,
desenvolvendo as noções de análise do setor concorrente, barreiras de entrada,
estratégias genéricas, produtos substitutos, cadeia de valor, até chegar a noção de
vantagem competitiva das nações.
Além das críticas feitas aos determinantes do Diamante Nacional (capítulo 4) e por
outros autores (capítulo 5), coloca-se ainda como uma das principais críticas ao
trabalho de Michael Porter em seu livro “A Vantagem Competitiva das Nações” a não
referência à diversos conceitos por ele utilizados, não sendo mencionados os teóricos
que o precederam em análise sobre a questão das vantagens. Porter dá a entender
que as idéias contidas em seu livro são originais e concepções exclusivamente suas.
Percebe-se, entretanto, que vários conceitos e abordagens não são originais
remontando à época de Adam Smith e aos economistas clássicos.
A estrutura do livro “A Vantagem Competitiva das Nações” sinaliza que o esforço
teórico de Porter poderia ter sido maior. Em suas 878 páginas, Porter divide seu
trabalho em quatro partes e treze capítulos, dos quais dedica apenas as trinta
primeiras páginas ao resgate teórico das teorias de comércio internacional e teorias
da produção industrial que precedem suas observações e deveriam embasar suas
argumentações. Reserva cento e vinte páginas à apresentação de seu modelo com a
explicação dos determinantes da vantagem competitiva nacional, e, mais de
quatrocentas páginas para a apresentação dos estudos de casos de indústrias e
segmentos em diversos países (cap. 05 – 10).
Apesar de vários teóricos e seus trabalhos mais expressivos aparecerem em suas 18
páginas de referências bibliográficas, os devidos créditos não são efetivados
- 173 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
conquanto são apresentados os conceitos ao longo do livro. Como exemplo dessas
omissões ou ausências de créditos, podem ser citados alguns estudos e trabalhos
seminais de Dosi – Technical change and economic theory (1988), Dunning –
International production and the multinational entreprise (1981), Freeman – The
economics of industrial innovation (1974), Lundvall – Product innovation and user-
producer interaction (1985), Marshall – Principles of economics (1890), Nelson &
Winter – An evolutionary theory of economic change (1982), Ohlin – Interregional and
International trade (1933), Rosemberg - The direction of technological change.
Inducement mechanisms and focusing devices. Economic Development and Cultural
Change (1969), Scherer – Industrial market Structure and economic performance
(1980), Schmookler – Invention and economic growth (1966), Schumpeter – The
theory of economic development (1934), Smith – An inquiry into nature and causes of
the wealth of nations (1776), Vernon – International Investments and international
trade in the product cycle (1966).
Além desses teóricos e suas abordagens, outros autores, citados no presente trabalho,
não são analisados ou citados por Porter em seu livro. Destacam-se David Ricardo -
On the principle of political economy and taxation (1817), Leon Walras – Compêndio
dos elementos de economia política pura (1983) Emmanuel Arghiri - A troca desigual
[1973], John Bain – Barries to new competition (1956), Fernando Fajnzylber -
Competitividad Internacional: Evolucion y Licciones (1988), dentre outros.
Outra crítica é a passagem do conceito competitividade da noção microeconômica
para a macroeconômica, transbordando as vantagens competitivas das firmas ou
indústrias para os países e nações. Como salientado por Krugman (1999) e Aktouf
(2002), a transposição do conceito não é tarefa simples e requer um esforço teórico,
uma profunda análise das variáveis e elementos institucionais envolvidos.
- 174 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
Além disso, Porter utilizando como objeto de análise empírica o estudo de setores de
oito países (Coréia, Itália, Suécia, Japão, Suíça, Alemanha, Grã-Bretanha e Estados
unidos) com perfis diferenciados e não representativos, generaliza suas conclusões
como regra geral para as demais nações.
Outra crítica pertinente ao trabalho de Porter é a falta de sinergia entre os
determinantes do seu modelo de competitividade. O autor não estabelece uma
correlação entre os determinantes (condições de fatores; condições de demanda;
indústrias correlatas e de apoio; estratégia, estrutura e rivalidade das empresas; o
papel do acaso e o papel do governo).
Outra crítica ao trabalho do autor refere-se ao tratamento que é atribuído à questão
tecnológica, em geral, sendo tratada como um elemento endógeno ao processo de
desenvolvimento econômico.
- 175 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O grau de desenvolvimento de um Estado-nação competitivo, certamente não pode ser
traduzido apenas na leitura de índices ou indicadores setoriais. A própria definição de
competitividade também envolve aspectos relacionados com o nível de vida de uma
nação. O Estudo de Porter não permite identificar e explicar a dinâmica que leva a
construção do desenvolvimento competitivo, tampouco consegue relacionar níveis de
qualidade de vida de uma nação ou região ao comportamento dos determinantes por
ele analisados.
Observam-se várias deficiências teóricas no modelo do “Diamante Nacional” de
Porter, desde a omissão de pensadores econômicos importantes (clássicos e não
clássicos), até a utilização de teorias de comércio internacional e produção
internacional sem a sua devida menção e / ou fundamentação (vantagens absolutas,
comparativas, comparativas reveladas, competitividade sistêmica, etc.). As correntes /
escolas de pensamento apresentadas nesse trabalho demonstram vários dos
conceitos implícitos no desenvolvimento das idéias de Porter em seu modelo
(mercado, valor, concorrência, barreiras à entrada, ciclo do produto, etc.).
- 176 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
As lacunas e deficiências apontadas por Dunning e Narula (op. Cit) revelam a
fragilidade do modelo proposto carregado de aspectos subjetivos ou inconsistentes.
Entretanto o IDP (Investment Development Path), formulado por Narula, que introduz o
processo de acumulação tecnológica e dos investimentos externos diretos (IED)
como alguns dos aspectos que explicariam o desenvolvimento de vantagens
competitivas, carece de uma abordagem histórica e de fundamentação empírica que,
além de explicar a relação de causalidade, possa ser adotado, de forma geral, como
um modelo de desenvolvimento econômico.
O posicionamento da escola evolucionista e dos neo-schumpeterianos com a
preocupação central no processo de inovação e seus impactos na atividade
econômica também fornece subsídios para a análise do modelo de Porter, que aborda
a questão de forma frágil e pouco consistente. As críticas de Aktouf revelam problemas
metodológicos, epistemológicos e ideológicos no trabalho de Porter sem entrar no
mérito da origem de suas idéias.
Quais são os novos determinantes de competitividade para um Estado-nação e como
estes estariam influenciando e sendo influenciados pelas vantagens competitivas das
firmas? A resposta para essa pergunta parece indicar para uma conjugação de
diversos fatores, alguns aqui abordados e outros não, que trabalhados de forma
apropriada, através de políticas governamentais, sejam elas de cunho vertical ou
horizontal, ou reformistas, neo-liberais ou neo-desenvolvimentista, possam consolidar
um desenvolvimento econômico estruturado e sustentável que coadune com um
crescimento no nível de qualidade de vida da população. A evolução histórica e teórica
apontou várias características que ajudaram a explicar a consolidação de um Estado-
nação competitivo (teorias do comércio internacional e teorias da produção
internacional), mas também demonstrou que construir vantagens que sejam
fomentadoras de um desenvolvimento econômico estruturado e sustentável de forma
perene, ainda não foi factível.
- 177 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
É importante lembrar que o modelo de Porter está ideologicamente baseado na lógica
do processo de mundialização do capital em que os mercados transformaram-se em
grande espaço de rivalidade com relações mútuas de dependência, colaboração e
competição entre grandes grupos em vários segmentos produtivos. O modelo reflete
como esta estrutura oligopolizada manipula os fatores produtivos, cria barreiras à
entrada e estabelece padrões e normas de conduta favorecendo cada vez mais a
centralização e a concentração de riquezas.
O modelo reflete uma forte hierarquização e definição de papéis ao nível das relações
entre as economias nacionais, no qual as nações dominantes ditam o padrão de
funcionamento da economia capitalista como um todo e as economias nacionais
dominadas adaptam-se ao modelo e sofrem as conseqüências da dominação política
e econômica.
As teorias econômicas sobre o comércio internacional, a produção internacional e a
evolucionista (neo-schumpterianos) devem ir além dos aspectos por elas investigados
(sejam eles micro ou macro econômicos) dando maior atenção a questão da cultura
organizacional (teorias organizacionais) como importante elemento que afeta o
processo da construção de vantagens competitivas das firmas, e por conseguinte,
influenciando as vantagens nacionais. As teorias organizacionais vêm buscando
avançar em suas análises com relação à identificação de elementos culturais
nacionais e internacionais que influenciam no padrão comportamental das
organizações. É de suma importância que as teorias sobre comércio e produção
internacional e sobre as organizações incorporem elementos, mutuamente, para o
desenvolvimento de respostas factíveis aos questionamentos, cada vez mais
freqüentes e complexos, que são apresentados por um cenário mundial, ao mesmo
tempo muito dinâmico e instável.
- 178 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
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ANEXO A – LIVROS PUBLICADOS POR MICHAEL PORTER (1976 – 2006)
1. ——— and Elizabeth Olmsted Teisberg. Redefining Health Care: Creating Positive-Sum Competition to Deliver Value. Boston: Harvard Business School Press, forthcoming.
2. ———, H. Takeuchi, and M. Sakakibara. Can Japan Compete? (in Japanese), Tokyo: Diamond, 2000. In English: Basingstoke, England: Macmillan, 2000; and New York: Basic Books and Perseus Publishing, 2000.
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- 188 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
13. Cases in Competitive Strategy, New York: The Free Press, 1982.
14. Competitive Strategy: Techniques for Analyzing Industries and Competitors, New York: The Free Press, 1980. Republished with a new introduction, 1998. Chapter 1 reprinted in Competition, J. High (ed.) as part of Critical Ideas in Economics M. Blaug and K.D. Hoover (eds.), Fairfax, Virginia: Institute of Public Policy, George Mason University (forthcoming).
15. ———, R.E. Caves, and A.M. Spence. Competition in the Open Economy. Cambridge, Massachusetts: Harvard Economic Studies, Harvard University Press, 1980.
16. ———, A.M. Spence, J.T. Scott, and R.E. Caves. Studies in Canadian Industrial Organization. Canadian Royal Commission on Corporate Concentration, January 1977.
17. Interbrand Choice, Strategy and Bilateral Market Power. Cambridge, Massachusetts: Harvard Economic Studies, Harvard University Press, 1976.
- 189 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
ANEXO B – ARTIGOS PUBLICADOS POR
MICHAEL PORTER (1976 – 2006)
1. ——— and Daniel C. Esty. “National Environmental Performance: An Empirical
Analysis of Policy Results and Determinants, Environment and Development Economics, forthcoming.
2. ———, Jay W. Lorsch and Nitin Nohria. “Seven Surprises for New CEOs,” Harvard Business Review, October 2004.
3. ——— and Elizabeth O. Teisberg, “Redefining Competition in Health Care,” Harvard Business Review, June 2004.
4. ——— and Mark Kramer. “Evolution or Revolution: Challenging Assumptions,” in a special report by European Business Forum on Corporate Social Responsibility, Summer 2004.
5. ——— and Mariko Sakakibara, “Competition in Japan,” Journal of Economic Perspectives 18, no. 1 (Winter 2004): 27-50.
6. “Building the Microeconomic Foundations of Prosperity: Findings from the Business Competitiveness Index,” The Global Competitiveness Report 2003-2004, X Sala-i-Martin (ed.), New York: Oxford University Press (2004).
7. ——— and Scott Stern, “Ranking National Innovative Capacity: Findings from the National Innovative Capacity Index,” The Global Competitiveness Report 2003-2004, X Sala-i-Martin (ed.), New York: Oxford University Press (2004).
8. “The Economic Performance of Regions,” Regional Studies 37, nos. 6 & 7 (August/October 2003): 549-578.
9. “Building the Microeconomic Foundations of Prosperity: Findings from the Microeconomic Competitiveness Index,” The Global Competitiveness Report 2002-2003, P. Cornelius (ed.), New York: Oxford University Press (2003).
10. ——— and Scott Stern, “The Impact of Location on Global Innovation: Findings from the National Innovative Capacity Index,” The Global Competitiveness Report 2002-2003, P. Cornelius (ed.), New York: Oxford University Press (2003).
11. ——— and Anita M. McGahan, “The Emergence and Sustainability of Abnormal Profits,” Strategic Organization 1, no. 1, (2003): 79-108.
12. ——— and Mark R. Kramer, “The Competitive Advantage of Corporate
- 190 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
Philanthropy,” Harvard Business Review, December 2002. Also reprinted in Annual Editions: Management (F. Maidment, ed.), New York: McGraw Hill (2003). Also reprinted in Harvard Business Review on Corporate Responsibility, Boston: Harvard Business School Publishing (2003).
13. ——— and Anita M. McGahan, “What Do We Know About Variance in Accounting Profitability?,” Management Science 48, no. 7 (July 2002): 834-851.
14. ——— and Daniel C. Esty, “National Environmental Performance Measurement and Determinants,” Environmental Performance Measurement: The Global Report 2001-2002, D. Esty and P. Cornelius (eds.), New York: Oxford University Press (2002).
15. ——— and Scott Stern. “Innovation: Location Matters,” MIT Sloan Management Review, Summer 2001.
16. ——— and Mariko Sakakibara, “Competing at Home to Win Abroad: Evidence from Japanese Industry,” Review of Economics and Statistics, May 2001.
17. “Strategy and the Internet,” Harvard Business Review, March 2001.
18. ———, Jeffrey L. Furman, and Scott Stern. “Los Factores Impulsores de la Capacidad Innovadora Nacional: Implicaciones para Espana y Latinoamerica,” in Claves de la Economma Global, Madrid: Spanish Institute of International Trade/Ministry of Economy, forthcoming. (Translation of “The Drivers of National Innovative Capacity: Implications for Spain and Latin America,” Harvard Business School Working Paper 01-005, May 2000.)
19. “Regions and the New Economics of Competition,” in Global City-Regions (A.J. Scott, ed.), Oxford: Oxford University Press (2001).
20. “Locations, Clusters, and Company Strategy,” in Oxford Handbook of Economic Geography, (G. Clark, M. Gertler, and M. Feldman, eds.), Oxford: Oxford University Press (2000). Also reprinted in The Globalization of the World Economy: SMEs in the Age of Globalization, D.B. Audretsch, , Cheltenham: Edward Elgar Publishing (2003).
21. “Attitudes, Values, Beliefs, and the Microeconomics of Prosperity,” in Culture Matters: How Values Shape Human Progress, (L.E. Harrison, S.P. Huntington, eds.), New York: Basic Books (2000).
22. “Clusters and Government Policy,” Wirtschafts politische Blätter 47 (2000): 144-154.
23. “Location, Competition and Economic Development: Local Clusters in a Global
- 191 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
Economy,” Economic Development Quarterly 14, no. 1 (February 2000): 15-34. Also reprinted in Globalization and the Location of Firms (J. Cantwell, ed.), Cheltenham: Edward Elgar Publishing (2004).
24. ——— and Mark R. Kramer. “Philanthropy's New Agenda: Creating Value,” Harvard Business Review, November-December, 1999.
25. “Microeconomic Competitiveness: Findings from the 1999 Executive Survey,” and (with Gregory C. Bond) “Innovative Capacity and Prosperity: The Next Competitiveness Challenge,” in The Global Competitiveness Report 1999, Geneva, Switzerland: World Economic Forum, 1999.
26. “The Microeconomic Foundations of Economic Development and Competitiveness,” Wirtschafts politische Blätter 46 (1999).
27. ——— and Hirotaka Takeuchi. “Fixing What Really Ails Japan,” Foreign Affairs 78, no. 3 (May-June 1999).
28. “Clusters and the New Economics of Competition,” Harvard Business Review, November-December 1998. Also reprinted in World View: Global Strategies for the New Economy, Jeffrey E. Garten (ed.), Boston: Harvard Business School Press (1999); Managing in the New Economy, Joan Magretta (ed.), Boston: Harvard Business School Press (1999); Systems of Innovation: Growth, Competitiveness and Employment, Charles Edquist and Maureen McKelvey (eds.), Cheltenham: Edward Elgar Publishing Limited, forthcoming.
29. ——— and Anita M. McGahan. “The Persistence of Shocks to Profitability,” Review of Economics and Statistics 81, no. 1 (February 1999): 143-153.
30. “The Microeconomic Foundations of Economic Development,” and “Measuring The Microeconomic Foundations of Economic Development,” in The Global Competitiveness Report 1998, Geneva, Switzerland: World Economic Forum, 1998.
31. ——— and Nicolaj Siggelkow. “Competition and Strategy: The Creation of a Group and a Field,” in The Intellectual Venture Capitalist: John H. McArthur and the Work of the Harvard Business School, 1980-1995 (eds. Thomas K. McCraw and Jeffrey L. Cruikshank), Boston: Harvard Business School Press, 1999.
32. ——— and Örjan Sölvell. “The Role of Geography in the Process of Innovation and Sustainable Competitive Advantage of Firms,” in The Dynamic Firm (eds. Alfred D. Chandler, Jr., Peter Hagström, and Örjan Sölvell), Oxford, England: Oxford University Press, 1998.
- 192 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
33. —— with Daniel C. Esty. “Industrial Ecology and Competitiveness,” Journal of Industrial Ecology 2, no. 1 (1998).
34. ——— and Anita McGahan. “How Much Does Industry Matter, Really?”, Strategic Management Journal 18 (July 1997): 15-30.
35. “Building Competitive Advantage: Lessons from Other Countries,” Voices from Marrakech: Selections from the Mediterranean Development Forum, Washington, DC: Economic Development Institute, World Bank, 1997.
36. “New Strategies for Inner-City Economic Development,” Economic Development Quarterly 11, no. 1 (February 1997), Thousand Oaks, California: Sage Periodicals Press.
37. “What is Strategy,” Harvard Business Review, November-December 1996. Excerpted in Spotlight on Performance 12, no. 1, Northfield, MN: Fine Lines Creative Communications. Also reprinted in Delivering Results: A New Mandate for Human Resource Professionals, D. Ulrich, ed., Boston: Harvard Business School Press, 1998. Also reprinted in The International Library of Critical Writings in Business and Management Strategic Management, J. Birkinshaw, Cheltenham: Edward Elgar Publishing (2004). Also reprinted in Annual Editions: Management (F. Maidment, ed.), New York: McGraw Hill (2003). Also reprinted in Strategic Management (Volume 1), J. Birkinshaw (ed.), Cheltenham, England: Edward Elgar (2004).
38. “Competitive Advantage, Agglomeration Economies, and Regional Policy,” International Regional Science Review 19, nos. 1 & 2 (1996), Regional Research Institute, West Virginia University.
39. “Competitiveness in Central America,” in Competitiveness in Central America: Preparing Companies for Globalization, a publication of the Latin American Center for Competitiveness and Sustainable Development, INCAE, Costa Rica, July 1996.
40. “Capital Choices: National Systems of Investment,” in As If the Future Mattered, Neva R. Goodwin (editor), Ann Arbor: The University of Michigan Press, 1996.
41. “Comment on ‘Interaction Between Regional and Industrial Policies: Evidence From Four Countries,’ by Markusen”, in Proceedings of The World Bank Annual Conference on Development Economics 1994, Supplement to The World Bank Economic Review and The World Bank Research Observer, Michael Bruno and Boris Pleskovic (editors), Washington, DC, 1995, The International Bank for Reconstruction and Development/THE WORLD BANK.
- 193 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
42. ——— and Claas van der Linde. “Toward a New Conception of the Environment-Competitiveness Relationship,” The Journal of Economic Perspectives 9, no. 4 (Fall 1995). Reprinted in A Reader on Environmental Law, edited by Bridget Hutter, Oxford Readings in Socio-Legal Studies, Oxford: Oxford University Press. Excerpted as “Toward a New Paradigm,” in Perc Reports 15 (October 1997), Bozeman, MT. Summarized in Sustainable Human and Economic Development (6th volume of series Frontier Issues in Economic Thought), Washington, DC: Island Press (2000). Also reprinted in Corporate Strategies for Managing Environmental Risk, (T. Tietenberg and K. Segerson, eds.), Hampshire: Ashgate Publishing Group (2004).
43. ——— and Claas van der Linde. “Green and Competitive: Ending the Stalemate,” Harvard Business Review, September-October 1995. Also published in The Earthscan Reader in Business and the Environment, edited by Richard Welford and Richard Starkey, Earthscan Publications Ltd, London, 1996.
44. ——— and Rebecca E. Wayland. “Global Competition and the Localization of Competitive Advantage,” Proceedings of the Integral Strategy Collegium, Graduate School of Business, Indiana University, JAI Press, Greenwich, Connecticut, 1995.
45. “The Competitive Advantage of the Inner City,” Harvard Business Review, May-June 1995. Also excerpted in The City Reader, second edition, Richard T. LeGates (ed.), New York: Routledge (1999).
46. “Competitive Strategy Revisited: A View from the 1990s,” in The Relevance of a Decade, Boston: Harvard Business School Press, 1994.
47. “Global Strategy: Winning in the World-Wide Marketplace,” in The Portable MBA in Strategy. Liam Fahey and Robert M. Randall (eds.), New York: John Wiley & Sons, Inc., 1994.
48. ——— with Elizabeth O. Teisberg and Gregory B. Brown. “Making Competition in Health Care Work,” Harvard Business Review, July-August 1994.
49. “The Role of Location in Competition,” Journal of the Economics of Business 1, no. 1 (1994).
50. “Applying the Competitive Advantage of Nations Paradigm to Norway,” Praktisk økonomi & Ledelse: et Konsurransedyktig Norge 1 (February 1993), Oslo, Norway: Bedrifsøkonomens Forlag A/S.
51. “Capital Disadvantage: America’s Failing Capital Investment System,” Harvard
- 194 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
Business Review, September-October 1992. Also reprinted in The Quest for Loyalty: Creating Value through Partnership, edited with an introduction by Frederick F. Reichheld, Harvard Business School Press, 1996.
52. “Capital Choices: Changing the Way America Invests in Industry,” Journal of Applied Corporate Finance, September 1992. Also in Studies in International Corporate Finance and Governance Systems: A Comparison of the U.S., Japan, and Europe, Donald H. Chew (ed.), New York: Oxford University Press, 1997.
53. “Korea in the Middle,” in Korean Competitiveness: A Shortcut to an Advanced Nation, Dong-Sung Cho, Seoul, Korea, 1992.
54. “Towards a Dynamic Theory of Strategy,” Strategic Management Journal, special winter edition, John Wiley & Sons, Ltd., Chichester, England, 1991. Also reprinted in Fundamental Issues in Strategy: A Research Agenda, edited by Richard P. Rumelt, Dan E. Schendel, and David J. Teece, Harvard Business School Press, Boston, MA, July 1994.
55. “America’s Green Strategy,” Scientific American 264, no. 4 (April 1991): 168. Also reprinted in The Company Leader, a publication of the St. Paul Fire and Marine Insurance Company, August 1994. Also published in The Earthscan Reader in Business and the Environment, edited by Richard Welford and Richard Starkey, Earthscan Publications Ltd, London, 1996.
56. “The Competitive Advantage of Nations,” Harvard Business Review, March-April, 1990. Also reprinted in From Adam Smith to Michael Porter: Evolution of Competitiveness Theory, Dong-Sung Cho & Hwy-Chang Moon, World Scientific Publishing Company: forthcoming August 2000. Also reprinted in Organizational Capability and Competitive Advantage, edited by William Lazonick and William Mass in The International Library of Critical Writings in Business History, Series Editor Geoffrey Jones, Edward Elgar Publishing Ltd, Cheltenham, England, 1995, and in Engineering Management Review, Volume 18, Number 4, December 1990.
57. “Can Japanese Companies Survive in Global Competition,” in Twenty-first Century: What Will Happen to Japanese Companies? NHK Publications, Tokyo, Japan, September 1989 (in Japanese).
58. “Competition in Global Industries: A Conceptual Framework,” Hitotsubashi Business Review 35, no. 4 (March 1988). Reprinted from Competition in Global Industries, Boston: Harvard Business School Press, 1986.
59. “From Competitive Advantage to Corporate Strategy,” Harvard Business Review, May-June 1987. Also reprinted in Manufacturing Technology International: Europe 1988, The International Review of Advanced Manufacturing
- 195 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
Technology and Management, The Sterling Publishing Group PLC, pages 25-35, 1988. Also reprinted in The McKinsey Quarterly, New York, Spring 1988. Also reprinted in International Review of Strategic Management, edited by D.E. Hussey, Volume 1 1990, John Wiley & Sons Ltd, Chichester, England, 1990. Also published as part of Managerial Excellence: McKinsey Award Winners from the Harvard Business Review, 1980-1994, foreword by Rajat Gupta, Boston: Harvard Business School Press, 1996.
60. “The New Japanese Challenge to the U.S. Auto Industry,” in The Japanese Competition: Phase 2. Peter J. Arnesen, editor, Ann Arbor, Michigan: the University of Michigan Center for Japanese Studies, Michigan Papers in Japanese Studies, no. 15, 1987.
61. “UK Conglomerates: A View of Hanson Trust,” The World in 1987, London: The Economist Group, November, 1986.
62. “The Strategic Role of International Marketing,” in ‘World Marketing: Going Global or Acting Local?,’ F. Simon-Miller, editor, Journal of Consumer Marketing 3, no. 2: (Spring 1986).
63. “Changing Patterns of International Competition,” California Management Review, January 1986. Also reprinted in The Globalization of the World Economy, in Transforming International Organizations, William G. Egelhoff (ed.), Edward Elgar Publishing, Cheltenham, England. Also reprinted in Strategic Management (Volume 1), J. Birkinshaw (ed.), Cheltenham, England: Edward Elgar (2004).
64. “Defensive Strategy,” Strategy 7, no. 1 (1985): Technomic Consultants.
65. ——— and Victor A. Millar. “How Information Gives You Competitive Advantage” Harvard Business Review, July-August 1985.
66. “Technology and Competitive Advantage,” The Journal of Business Strategy 5, no. 3 (Winter 1985).
67. ——— and Kathryn Rudie Harrigan. “End Game Strategies for Declining Industries,” Harvard Business Review, July/August 1983. Also reprinted in Sunrise...sunset: Challenging the Myth of Industrial Obsolescence, John Wiley & Sons, Inc. and Harvard Business Review, Spring, 1985.
68. “The Strategic Role of Global Marketing: Managing the Nature and Extent of Worldwide Coordination,” in Business Review 31, no. 1 (August 1983), Institute of Business Research, Hitotsubashi University, Japan.
69. “The Technological Dimension of Competitive Strategy,” in R. Rosenbloom,
- 196 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
Research on Technological Innovation, Management and Policy, J.A.I. Press, Volume 1, 1983.
70. “Analyzing Competitors: Predicting Competitor Behavior and Formulating Offensive and Defensive Strategy,” in Policy, Strategy, and Implementation, edited by Milton Leontiades, Random House, 1983.
71. ——— with T.M. Hout and E. Rudden. “How Global Companies Win Out” Harvard Business Review, September/October 1982. Also reprinted in Global Strategies: Insights from the World’s Leading Thinkers (preface by Percy Barnevik), Boston, Massachusetts: Harvard Business School Press, 1994.
72. “Industrial Organization and the Evolution of Concepts for Strategic Planning: The New Learning,” in T.H. Naylor, Corporate Strategy: The Integration of Corporation Planning Models and Economics, North-Holland Publishing, Amsterdam, 1982.
73. ——— with A. Michael Spence. “The Capacity Expansion Process in a Growing Oligopoly: The Case of Corn Wet Milling” in J.J. McCall, The Economics of Information and Uncertainty, National Bureau of Economic Research, University of Chicago Press, 1982.
74. “The Contributions of Industrial Organization to Strategic Management: A Promise Beginning to be Realized,” Academy of Management Review, 1981. Also reprinted in The Internatioanl Library of Critical Writings in Business and Management: Strategic Management, J. Birkinshaw, Cheltenham, England: Edward Elgar Publishing (2004). Also reprinted in Strategic Management (Volume 1), J. Birkinshaw (ed.), Cheltenham, England: Edward Elgar (2004).
75. “Strategic Interaction: Some Lessons from Industry Histories for Theory and Antitrust Policy,” in S. Salop, editor, Strategy, Predation and Antitrust Analysis, Federal Trade Commission, 1981. Also reprinted in Antitrust Law and Economics Review, Volume 13, Number 3, 1981, p. 13 and in Robert Lamb, editor, Competitive Strategic Management, Prentice-Hall, 1984.
76. ——— with Kathryn Rudie Harrigan. “A Framework for Looking at Endgame Strategies,” in B. Glueck, editor, Strategic Management and Business Policy, McGraw-Hill, 1981.
77. “The Experience Curve and Antitrust,” in Forum on Antitrust, Economics of Scale and Experience Curve Strategies, The Conference Board, New York, June 1980.
78. “Capacity Expansion: Should You Play the Preemption Game?,” Journal of Business Strategy, Winter 1981.
- 197 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
79. ——— with R.E. Caves. “The Dynamics of Changing Seller Concentration” Journal of Industrial Economics, September 1980.
80. “Industry Structure and Competitive Strategy: Keys to Profitability,” Financial Analysts Journal, July-August 1980.
81. “The Structure Within Industries and Companies’ Performance,” Review of Economics and Statistics (May 1979): 214-227.
82. “How Competitive Forces Shape Strategy,” Harvard Business Review, (March/April 1979): 137-145. Also reprinted in The International Library of Critical Writings in Business and Management Strategic Management, J. Birkinshaw, Cheltenham: Edward Elgar Publishing (2004). Also reprinted in Strategic Management (Volume 1), J. Birkinshaw (ed.), Cheltenham, England: Edward Elgar (2004).
83. “Market Structure, Strategy Formulation and Firm Profitability: The Theory of Strategic Groups and Mobility Barriers,” in John Cady, editor, Marketing and the Public Interest, Marketing Science Institute, July 1978, 101-126.
84. ——— with R.E. Caves. “Market Structure, Oligopoly and the Stability of Market Shares,” Journal of Industrial Economics (June 1978): 289-313.
85. “Optimal Advertising: An Intra-Industry Approach,” in D. Tuerck, editor, Issues in Advertising: The Economics of Persuasion, American Enterprise Institute for Public Policy Research, 1978, 91-114.
86. ——— with R.E. Caves and B.T. Gale. “Interfirm Profitability Differences: Comment,” Quarterly Journal of Economics (November 1977): 667-675.
87. ——— with R.E. Caves. “From Entry Barriers to Mobility Barriers: Conjectural Decisions and Contrived Deterrence to New Competition,” Quarterly Journal of Economics (May 1977): 241-262. Also reprinted in Strategic Management (Volume 1), J. Birkinshaw (ed.), Cheltenham, England: Edward Elgar Publishing, 2004.
88. “Please Note Location of Nearest Exit: Exit Barriers and Planning,” California Management Review XIX (Winter 1976): 21-33.
89. ——— with R.E. Caves. “Barriers to Exit,” in Masson and Qualls, eds., Essays in Industrial Organization in Honor of Joe S. Bain. Cambridge, Massachusetts: Ballinger Press (1976), 39-69.
- 198 - Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter
90. “Interbrand Choice, Media Mix and Market Performance,” American Economic Review 66 (May 1976): 398-406.
91. ——— with J.F. Sagansky. “Information, Politics and Economic Analysis: The Regulatory Decision Process in the Air Freight Cases,” Public Policy 24, no. 2 (Spring 1976): 263-307.
92. ——— with R.E. Caves and J. Khalilzadeh-Shirazi. “Scale Economies in Statistical Analyses of Market Power,” Review of Economics and Statistics (May 1975): 133-40.
93. “Consumer Behavior, Retailer Power and Performance in Consumer Goods Industries,” Review of Economics and Statistics (November 1974): 419-436.