PAUL KLEE

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INTRODUÇÃO Os textos desenvolvidos pelo pintor Paul Klee no período em que lecionou na Escola Bauhaus permanecem como referências fundamentais para o pensamento sobre a pintura. Suas reflexões, notas e esquemas destinados ao ensino, reunidos no pequeno volume intitulado Theorie de l’art Moderne (Genéve: Gonthier, 1971), nos oferecem uma perspectiva crítica sobre diversos pré-conceitos, distorções e convenções relacionados ao processo de criação que se perpetuaram durante o modernismo e permanecem até os nossos dias mal compreendidos. O capítulo “Filosofia da criação”, em especial, assume uma posição contrária às concepções usuais que compreendem o “fazer” artístico como uma “técnica”. O texto adquire relevo, pois reflete de maneira concisa a posição diferenciada de Klee frente ao processo de criação. Sua perspectiva se choca com a crença na atividade artística como um domínio técnico que “expressa” uma “idéia criativa”. Tal crença, que vigora ainda hoje como um pressuposto, é tida como uma verdade tão corriqueira que qualquer reflexão a seu respeito é considerada desnecessária. A naturalidade com que se pensa a criação como elaboração de uma idéia original formada na mente do pintor, idéia preexistente, pronta e acabada, desvinculada do corpo da linguagem que apenas a expressaria e desvinculada do fazer, relegado a mero “meio de expressão”, oculta, entretanto, uma ideologia estética comprometida com determinados conceitos, posições e pressuposições que o pensamento de Klee nos convida a rever. A metodologia adotada nesta “tradução comentada” foi, a princípio, expor o texto original na íntegra a fim de não interromper a seqüência de idéias do autor. Os comentários que se seguem à tradução tentam esclarecer os pontos mais obscuros do texto e limpar o terreno dos preconceitos e interpretações tradicionais, que abafam a palavra do pintor e a reduzem a uma mera opinião particular. Nos interessa particularmente verificar o sentido amplo das idéias propostas e, sobretudo, sua perspectiva distinta. Portanto, mais do que estabelecer uma interpretação precisa, buscou-se dar vazão ao livre pensamento, sem limitar o que está sendo pensado a uma interpretação literal.

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  • INTRODUO

    Os textos desenvolvidos pelo pintor Paul Klee no perodo em que lecionou na Escola

    Bauhaus permanecem como referncias fundamentais para o pensamento sobre a pintura. Suas reflexes, notas e esquemas destinados ao ensino, reunidos no pequeno volume intitulado Theorie de lart Moderne (Genve: Gonthier, 1971), nos oferecem uma perspectiva crtica sobre diversos pr-conceitos, distores e convenes relacionados ao processo de criao que se perpetuaram durante o modernismo e permanecem at os nossos dias mal compreendidos.

    O captulo Filosofia da criao, em especial, assume uma posio contrria s concepes usuais que compreendem o fazer artstico como uma tcnica. O texto adquire relevo, pois reflete de maneira concisa a posio diferenciada de Klee frente ao processo de criao. Sua perspectiva se choca com a crena na atividade artstica como um domnio tcnico que expressa uma idia criativa. Tal crena, que vigora ainda hoje como um pressuposto, tida como uma verdade to corriqueira que qualquer reflexo a seu respeito considerada desnecessria. A naturalidade com que se pensa a criao como elaborao de uma idia original formada na mente do pintor, idia preexistente, pronta e acabada, desvinculada do corpo da linguagem que apenas a expressaria e desvinculada do fazer, relegado a mero meio de expresso, oculta, entretanto, uma ideologia esttica comprometida com determinados conceitos, posies e pressuposies que o pensamento de Klee nos convida a rever.

    A metodologia adotada nesta traduo comentada foi, a princpio, expor o texto original na ntegra a fim de no interromper a seqncia de idias do autor. Os comentrios que se seguem traduo tentam esclarecer os pontos mais obscuros do texto e limpar o terreno dos preconceitos e interpretaes tradicionais, que abafam a palavra do pintor e a reduzem a uma mera opinio particular. Nos interessa particularmente verificar o sentido amplo das idias propostas e, sobretudo, sua perspectiva distinta. Portanto, mais do que estabelecer uma interpretao precisa, buscou-se dar vazo ao livre pensamento, sem limitar o que est sendo pensado a uma interpretao literal.