Patrícia Spínola Unid. Curr Enfermagem V- S. Neurológico e S. Gastrointestinal Doc. Gilberta...

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1 Alterações Anatomo-Fisiológicas da Gravidez UNIVERSIDADE DA MADEIRA COLÉGIO POLITÉCNICO DA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO CENTRO DE COMPETÊNCIAS DE TECNOLOGIAS DA SAÚDE LICENCIATURA EM ENFERMAGEM 3º ANO 5º SEMESTRE UNIDADE CURRICULAR: ENFERMAGEM V: ENFERMAGEM DA MULHER Discentes: Alexandre Teixeira; n.º 2004609 João Pedro Gonçalves; n.º 2042709 Maribel Azevedo; n.º 2064804 Patrícia Spínola; n.º 2069009 Vitor Andrade; n.º 2053107 Docente: Gilberta França Funchal, 20 de Dezembro de 2011

Transcript of Patrícia Spínola Unid. Curr Enfermagem V- S. Neurológico e S. Gastrointestinal Doc. Gilberta...

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Alterações Anatomo-Fisiológicas da Gravidez

UNIVERSIDADE DA MADEIRA

COLÉGIO POLITÉCNICO DA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO

CENTRO DE COMPETÊNCIAS DE TECNOLOGIAS DA SAÚDE

LICENCIATURA EM ENFERMAGEM – 3º ANO 5º SEMESTRE

UNIDADE CURRICULAR: ENFERMAGEM V: ENFERMAGEM DA MULHER

Discentes: Alexandre Teixeira; n.º 2004609

João Pedro Gonçalves; n.º 2042709

Maribel Azevedo; n.º 2064804

Patrícia Spínola; n.º 2069009

Vitor Andrade; n.º 2053107

Docente: Gilberta França

Funchal, 20 de Dezembro de 2011

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Alterações Anatomo-Fisiológicas da Gravidez:

Sistema Neurológico e Sistema Gastrointestinal

UNIVERSIDADE DA MADEIRA

COLÉGIO POLITÉCNICO DA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO

CENTRO DE COMPETÊNCIAS DE TECNOLOGIAS DA SAÚDE

LICENCIATURA EM ENFERMAGEM – 3º ANO 5º SEMESTRE

UNIDADE CURRICULAR: ENFERMAGEM V: ENFERMAGEM DA MULHER

Discentes: Alexandre Teixeira; n.º 2004609

João Pedro Gonçalves; n.º 2042709

Maribel Azevedo; n.º 2064804

Patrícia Spínola; n.º 2069009

Vitor Andrade; n.º 2053107

Docente: Gilberta França

Funchal, 20 de Dezembro de 2011

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“Ser mãe, é algo divino sem explicação,

é um sentimento muito lindo que nos invade sem limites,

um sentimento eterno que nos faz virar uma protectora incondicional.”

(Lisboa, 2008)

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SIGLAS

GI - Gastrointestinal

ABREVIATURAS

cm - centímetros

ed. – edição

HCL – ácido clorídrico

Kcal – quilocalorias

l - litros

m – metros

ml - mililitros

p. - página

SNC – Sistema Nervoso Central

SNP – Sistema Nervoso Parassimpático

vol. - volume

5

ÍNDICE

INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 6

1. ADAPTAÇÃO DA MULHER À GRAVIDEZ ......................................................... 8

2. SISTEMA NEUROLÓGICO .................................................................................. 11

2.1. ADAPTAÇÕES E DESCONFORTOS ............................................................... 12

3. SISTEMA GASTROINTESTINAL ........................................................................ 16

3.1. ADAPTAÇÕES E DESCONFORTOS ............................................................... 18

4. PAPEL DO ENFERMEIRO .................................................................................... 22

4.1. PAPEL DO ENFERMEIRO FACE ÀS ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS NA

GRAVIDEZ .................................................................................................................... 22

4.2. PAPEL DO ENFERMEIRO FACE ÀS ALTERAÇÕES

GASTROINTESTINAIS NA GRAVIDEZ .................................................................... 25

CONCLUSÃO ................................................................................................................ 29

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 30

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INTRODUÇÃO

Este trabalho cujo tema é denominado por “Alterações Anatomo-Fisiológicas da

Gravidez: Sistema Neurológico e Sistema Gastrointestinal” surge no âmbito da Unidade

Curricular: Enfermagem V: Enfermagem da Mulher, leccionada no 5º semestre do 3º

ano, da Licenciatura em Enfermagem, do Colégio Politécnico da Universidade da

Madeira, sob orientação da Professora Gilberta França.

Este trabalho tem como objectivos: assimilar conhecimentos sobre as alterações

anatomo-fisiológicas da gravidez, no que concerne ao Sistema Neurológico e

Gastrointestinal e aprofundar conhecimentos sobre os desconfortos e adaptações e

ensinos da gravidez associados a ambos os sistemas referidos, de modo a compreender a

Intervenção de Enfermagem perante esses mesmos desconfortos e adaptações.

Segundo o ICN (2005, p. 71) a Gravidez é um:

“Processo do Sistema Reprodutor: Condição de

desenvolver e alimentar um feto no corpo, e que dura um

período de aproximadamente 266 dias, desde o dia da

fertilização até ao nascimento; a gravidez é normal,

saudável, mas implica alterações rápidas e inevitáveis nas

funções corporais; o início da gravidez é indicado pela

cessação dos períodos menstruais, enjoos matinais,

aumento do volume das mamas e da pigmentação dos

mamilos.”

Nós como futuros enfermeiros devemos estar despertos para as necessidades que

provêm das alterações anatomo-fisiológicas, com o objectivo de responder a essas

situações da melhor forma. É fundamental que nós, percebamos quais as alterações e

quais as melhores intervenções a realizar para diminuir esses mesmos desconfortos para

um maior conforto da grávida durante esse período de nove meses. Assim, a partir do

conhecimento teórico, seremos capazes de cuidar com qualidade e profissionalismo,

aplicando o saber teórico na prática.

O referente trabalho, encontra-se dividido em dois capítulos, na qual em cada um

abordaremos as adaptações anatomo-fisiológicas dos Sistemas Neurológico e

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Gastrointestinal e respectivos desconfortos, assim como as intervenções de enfermagem

que visam atenuar e suavizar as complicações que possam advir das mesmas.

A realização deste trabalho baseia-se essencialmente na pesquisa de informação em

livros e documentos electrónicos, bem como a sua análise e relacionando conceitos.

De modo a podermos alcançar os objectivos descritos anteriormente, para além da

metodologia de pesquisa utilizada, organizamos o nosso trabalho de modo a facilitar a

organização de ideias e apresentar uma sequência lógica.

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1. ADAPTAÇÃO DA MULHER À GRAVIDEZ

No contexto do ciclo de vida da mulher, a gravidez e a maternidade surgem como

duas realidades distintas, quer na dimensão temporal, quer na dimensão vivencial.

Mendes (2002) aponta que a gravidez, na sua dimensão temporal normal, restringe-se a

um período de aproximadamente duzentos e sessenta e seis dias ou trinta e oito semanas

de gestação, sendo este o tempo entre a fecundação e o parto. Neste intervalo de tempo,

sobressai todo um processo fisiológico e psicológico adaptativo ao desenvolvimento da

nova criança.

Gomes (1985) citado por Mendes (2002, p. 24), sustenta também que a gestação é

um período de “profunda transformação essencial ao crescimento e à integração

maturativa da mulher, evidenciando a importância das variações individuais de acordo

com cada personalidade, com o grau de ajustamento ao início da gravidez e, ainda,

com o enquadramento do seu suporte familiar”.

A gravidez, quer do ponto de vista físico quer do ponto de vista psicossocial,

representa um desafio para a mulher no que toca à adaptação, para assumir novas

responsabilidades e para “transportar” o novo ser dentro do seu útero, exigindo uma

reordenação de papéis e funções por parte da mulher e do seu núcleo familiar. No

espaço intrapessoal, projectam-se as suas ansiedades e as suas expectativas

relativamente a esta experiência. (Mendes, 2002)

Lederman (1996) citado por Mendes (2002, p.24), afirma que a gravidez consiste

“na transição entre dois estilos de vida e dois modos de ser e estar: a mulher-sem-a-

criança e a mulher-e-a-criança”. Durante os nove meses que se segue à concepção, a

mulher ou mesmo o casal, vive um período em que torna-se necessária a adaptação do

seu modo de vida actual com o futuro.

A gestação desencadeia no organismo materno um conjunto de adaptações

fisiológicas e psicológicas que, na sua interdependência, asseguram as condições ideais

para o desenvolvimento da “unidade feto-placentária” e asseguram o bem-estar da

mulher.

Mendes (1991), Ziegel e Cranley (1985) e Pereira Leite (1991), citados por Mendes

(2002), defendem que o ponto central para o sucesso do desenvolvimento do produto da

concepção e da adaptação fisiológica do organismo materno está na acção hormonal

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desencadeada pela “estrutura sinciotrofoblástica” e posteriormente pela unidade feto-

placentária.

Algumas dessas modificações aparecem antes das necessidades fetais o

justificarem e outras vão se estabelecendo à medida que o desenvolvimento fetal o

justifica. (Graça, 2000)

Essas adaptações fisiológicas no organismo materno, face à gravidez, modificam

de um modo mais ou menos evidente o funcionamento dos diversos aparelhos e

sistemas corporais.

Daqui resultarão sinais e sintomas de expressão e intensidade variáveis que, no seu

conjunto, constituem as habituais manifestações da gravidez, tais como: as náuseas,

vómitos e edemas dos membros inferiores. Estas adaptações têm uma distribuição

temporal própria, ou seja, existem quadros de sintomas que surgem em determinados

períodos da gestação. (Mendes, 2002)

Acima de tudo, a gravidez é uma potencial experiência/vivência de mudança,

renovação, enriquecimento e ao mesmo tempo um desafio. Perante tal envolvência,

mediada também por um sentido de profunda atenção, consciência e preocupação, a

grávida irá adquirir novos conhecimentos e competências durante o período gestacional

fundamentais na transição segura para a maternidade, caminhando assim para uma

integração efectiva no seu papel de mãe. (Mendes, 2002)

Conforme Graça (2000), a nível geral, ocorrem alterações a nível do aparelho

genital, a nível do útero, colo uterino, vagina e anexos, os importantes ajustes a nível

hematológico, onde se alteram a massa eritrocitária e a dinâmica de ferro, que

juntamente com as alterações no sistema cardiovascular, irão determinar o adequado

fornecimento de sangue, nutrientes, oxigénio e outras substâncias ao feto.

O sistema respiratório também sofre alterações fisiológicas no decorrer da gravidez

como forma de adequar às exigências do organismo materno e fetal. As alterações no

sistema urinário são comuns a muitas grávidas, assim como no que diz respeito ao

sistema gastrointestinal, cuja complexidade de processos fisiológicos surge como

desconfortos ao longo do tempo de gestação. O sistema endócrino é, sem dúvida, dos

sistemas que mais influência tem durante a gestação, pois este período é marcado pela

enorme influência hormonal sobre o organismo. No que toca ao sistema tegumentar,

músculo-esquelético e neurológico, ocorrem modificações como consequência do

desenvolvimento fetal. (Graça, 2000)

Para além de todas estas adaptações serem de extrema importância, apenas iremos

retratar as modificações a nível neurológico e gastrointestinal.

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O conhecimento pormenorizado dos ajustamentos fisiológicos à gravidez, os quais

podem minimizar sinais e sintomas de algumas doenças, é imprescindível para ser

possível discernir, na clínica, o que é normal do que é patológico. (Graça, 2000)

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2. SISTEMA NEUROLÓGICO

O sistema nervoso é constituído pelo encéfalo, medula espinhal, nervos e

receptores sensoriais, sendo responsável pelas percepções sensoriais, pelas actividades

mentais, pela estimulação dos movimentos musculares e pela estimulação da secreção

glandular.

O sistema nervoso detecta estímulos externos e internos (informação sensorial),

processa e responde à informação sensorial (integração), mantém a homeostase pela

regulação de outros sistemas, é o centro das actividades mentais e controla os

movimentos do corpo através dos músculos esqueléticos. (Seeley, Stephens, & Tate,

2005)

O sistema nervoso tem duas divisões anatómicas: o sistema nervoso central (SNC)

que consiste no encéfalo e medula espinhal, estando envolto por ossos e o sistema

nervoso periférico (SNP) em que este é o tecido nervoso fora do SNC e é constituído

por receptores sensoriais, nervos, gânglios e plexos. O SNP tem duas divisões: a divisão

sensorial irá transmitir os potenciais de acção ao SNC e consiste geralmente em

neurónios simples que têm nos gânglios e os seus corpos celulares; a divisão motora que

irá transportar os potenciais de acção para fora do SNC, pelos nervos cranianos e

raquidianos. Dentro desta existem também duas subdivisões: o sistema nervoso

somático motor que inerva os músculos esqueléticos e depende principalmente do

controlo voluntário. Consiste em neurónios simples, que têm o corpo celular no interior

do SNC. O sistema nervoso autónomo inerva o músculo cardíaco, a musculatura lisa e

as glândulas. Os primeiros têm os corpos celulares do SNC e os segundos têm os corpos

celulares nos gânglios autónomos. (Seeley, Stephens, & Tate, 2005)

O sistema nervoso está envolvido em quase todas as funções corporais. Embora os

seres humanos tenham encéfalos maiores, e mais complexos do que outros animais,

muitas das funções do sistema nervoso humanos são semelhantes às dos animais.

(Seeley, Stephens, & Tate, 2005)

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2.1. ADAPTAÇÕES E DESCONFORTOS

Segundo Lowdermilk, Perry, & Bobak (2002), na altura de gestação, pouco se

conhece sobre as alterações específicas que ocorrem no sistema neurológico, para além

das alterações neuro-hormonais hipotalâmicas-hipofisiárias.

A grávida nesta fase, vai ter de desenvolver e integrar diversas adaptações

psicológicas, a par com o desenrolar normal das adaptações fisiológicas que

acompanham, numa sequência cronológica, o crescimento/ desenvolvimento do novo

ser humano. (Mendes, 2002)

Certas alterações fisiológicas específicas podem originar os seguintes sintomas

neurológicos:

- a compressão ou estase dos nervos pélvicos ou estase vascular, causada pelo

aumento do útero, pode levar à alteração da sensibilidade das pernas;

- a lordose dorsolombar pode causar dor devido à tracção sobre os nervos, ou

compressão sobre as raízes nervosas;

- o edema envolvendo os nervos periféricos pode resultar em síndrome do túnel

cárpico durante o último trimestre, comprimindo o nervo mediano abaixo do ligamento

cárpico do pulso. Este síndrome caracteriza-se pela parestesia e dor na mão, irradiando-

se para o cotovelo, sendo que a mão direita é a mais afectada, embora 80% das mulheres

tenham sintomas nas duas, levando a que o tratamento cirúrgico possa ser equacionado;

- a acroestesia causada pelo posicionamento encolhido dos ombros, associados à

tracção sobre segmentos do plexo braquial;

- a cefaleia tensional, que é muito comum quando a ansiedade ou a incerteza

complicam a gestação, e também provável responsável pela visão, sinusite ou

enxaqueca;

- a instabilidade vasomotora, a hipotensão postural ou a hipoglicémia podem ser

responsáveis por originar durante o início da gestação tonturas, desmaios ou até

síncope;

- a hipocalcémia pode causar problemas musculares como cãibras musculares ou

tetania (cãibras são o resultado do estiramento da musculatura e da fáscia (músculos

abdominais) ou devido ao prejuízo circulatório nos músculos por causa da pressão do

útero sobre os vasos pélvicos).

Segundo Mendes (2002), as adaptações psicológicas e respectivas tarefas dentro

de um contexto de normalidade da vivência da gravidez podem ser descritas num plano

cronológico que corresponde aos três trimestres da gravidez. Relativamente ao primeiro

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trimestre, também denominado de fase de integração (Colman e Colman, 1994), de

aceitação (Brazelton e Cramer, 1993), ou de confirmação da gravidez (Burroughs,

1995). De acordo com os mesmos autores, é neste trimestre, a partir da vivência

consciente ou inconsciente da gravidez, que se inicia a ligação ao filho que está a gerar.

Nesta altura é compreensível que comportamentos de ambivalência afectiva, definida

por muitos autores, como a atitude perante dois sentimentos opostos (a aceitação/

rejeição da gravidez), surjam em relação à aceitação do feto, à maternidade e às

mudanças que o novo estado implica.

Independentemente do facto da gravidez ter sido desejada ou planeada, o

reconhecimento de que a concepção ocorreu de facto, faz com que a mulher se sinta

ambivalente entre o desejo e o receio da gravidez, podendo levar ao surgir de emoções

contraditórias de alegria, apreensão, ansiedade e outros sintomas somáticos,

nomeadamente, hipersónia, náuseas, vómitos e fadiga.

As insónias são comuns nas gestantes ansiosas ou neuróticas, no entanto, pode

existir nas emocionalmente estáveis. Durante a gravidez a sonolência diminui, existindo

uma irregularidade do ritmo do sono. As causas mais comuns são: o tamanho do

abdómen e das mamas, com as alterações do corpo torna-se difícil encontrar uma

posição confortável para dormir; as lombalgias; os movimentos vigorosos do feto;

stress/excitação devido à eminência do parto e das expectativas; a polaquiúria e pirose.

As gestantes devem ter períodos de descanso frequentes de dez a quinze minutos e

dormir cerca de oito horas. No início da gestação deve dormir em decúbito dorsal e

quando o volume abdominal aumentar deve deitar-se em decúbito lateral esquerdo.

(Dutra, 2005)

Durante a gravidez a fadiga acaba por se instalar, mesmo após demonstrarem

provas de grande energia e vitalidade, surgindo o cansaço extremo e contínuo. Está

associada às náuseas, vómitos e azia, outras causas podem ser: aumento de peso da

gestante; aceleração do ritmo cardíaco e da respiração profunda. Apresenta como

sintomas: lassidão; exaustão e diminuição da consciência. Podem provocar lombalgias

constantes e intensas, anemia, depressão ou insónia. (Dutra, 2005)

Brazelton e Cramer (1993), Colman e Colman (1994), Burroughs (1995), referem

ainda, que esta fase pode ser igualmente caracterizada pela centração ou introversão da

grávida. A grávida no início da gestação denota preocupação com as transformações

que ocorrem na sua aparência física e suas capacidades fisiológicas, quer para suportar a

gravidez, quer para voltar ao estado anterior, sendo também necessário distinguir a

influência dos factores culturais dos factores psicológicos na aceitação das mudanças

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transitórias que vão ocorrer no corpo. No entanto, a adaptação à imagem corporal vai-se

modificando ao longo da gravidez, evoluindo paralelamente à identificação do feto em

crescimento e desenvolvimento como parte individualizada e integrante de si própria.

Esta ambivalência que a grávida experimenta vai ser ultrapassada em grande

medida pelo apoio e aceitação da gravidez por parte do ambiente familiar próximo,

assim como pela confirmação definitiva do estado da gravidez. Estes dois aspectos são

determinantes para que a mulher, nesta fase, aceite e integre a gravidez em si. Este

processo de aceitação da gravidez, embora predomine no primeiro trimestre, estende-se

frequentemente para além desse tempo, podendo ser um processo contínuo.

O segundo trimestre é denominado de fase de diferenciação (Colman e Colman,

1994), individualização (Brazelton e Cramer, 1993), ou de incorporação/ diferenciação

fetal (Burroughs, 1995). Após ser ultrapassada a ambivalência, os mesmos autores

afirmam que, em condições favoráveis, nas primeiras dezasseis semanas de gestação, a

grávida entra numa etapa adaptativa marcada pela crescente percepção objectiva das

modificações do esquema corporal relacionada com o desenrolar da gravidez. Esta

consciencialização, denota uma mudança de atitude sobre a “autonomia fetal” marca

uma viragem importante no processo psicopatológico da gravidez, pois constitui o

ponto de partida para a diferenciação psicológica mãe-feto, que se traduz na aceitação

pela grávida do feto como entidade separada, distinto de si próprio.

Segundo os mesmos autores, este período é considerado o mais estável do ponto de

vista emocional, sendo que, também a partir deste momento a grávida começa a

conversar com o feto, a cantar para ele e a acariciar o ventre. Estes indicadores

identificam o estabelecimento da comunicação verbal e táctil entre a criança e a mãe,

demonstrando que o processo de familiarização entre estes encontra-se a decorrer. É

também nesta fase que a idealização das grávidas sobre as competências para cuidar do

filho surge e têm como exemplo, a relação na sua infância com o próprio cuidador. A

grávida começa a antecipar o trabalho de parto, passando não só por uma

consciencialização dos sentimentos de perda em relação a alguns privilégios adquiridos

ao longo da gravidez, como também pela iniciação ao estabelecimento da ligação mãe –

filho. Nesta fase, aumenta a ansiedade à medida que se aproxima da data prevista para o

parto e com a perspectiva de mudança de estilo de vida pela chegada do recém-nascido.

É também marcada por alguns sentimentos ambivalentes, tais como, a vontade de ter o

filho e terminar a gravidez e o desejo de a prolongar para adiar a necessidade de novas

adaptações exigidas pelo recém-nascido.

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Por fim, temos o terceiro trimestre que é denominado de fase de separação

(Colman e Colman, 1994), de preparação para o nascimento (Brazelton e Cramer,

1993), de transição de papel (Burroughs, 1995). Nesta fase o processo de separação e

consequente individualização, começa no momento em que a grávida crê que o feto

consegue sobreviver fora do seu espaço intra-uterino, embora a grávida tenha de

conviver com esta realidade e com a necessidade de preservar o feto até o momento de

parto, que poderá levar a um estado de incerteza em relação a não só querer que a

gravidez termine, mas também, acerca da viabilidade do feto, constituindo uma situação

emocional de grande vulnerabilidade para a grávida. É nesta fase que podem surgir

paralelamente sonhos e fantasias conscientes sobre o nascimento do filho.

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3. SISTEMA GASTROINTESTINAL

O sistema gastrointestinal (GI), também designado por sistema digestivo e canal

alimentar, consiste no tracto GI e os seus órgãos acessórios. A sua principal função é a

de converter os alimentos e líquidos ingeridos, numa forma que possa ser utilizada pelas

células do organismo. Este objectivo é realizado através de uma série de processos de

ingestão, digestão e absorção. A segunda principal função do sistema GI é o

armazenamento e a excreção final dos resíduos sólidos da digestão. Para a manutenção

de uma nutrição e saúde adequadas, é essencial o bom funcionamento do sistema GI.

(Phipps, Sands, & Marek, 2003)

A parte superior do sistema GI é constituída pelas estruturas que ajudam a ingestão

e a digestão de alimentos. Estas incluem a boca, o esófago, o estômago e o duodeno,

mais órgãos relacionados com o sistema biliar e o pâncreas exócrino. O tracto GI

inferior é constituído pelo intestino delgado, intestino grosso, recto e ânus. O sistema GI

é essencialmente constituído por um canal muscular oco, aproximadamente com 9m de

comprimento e que se estende desde a boca ao ânus. Embora este canal esteja localizado

dentro do corpo, ele é realmente uma extensão do meio externo. As paredes do tracto GI

evitam, de forma eficaz, a entrada no organismo de agentes prejudiciais. As paredes

também evitam a saída dos líquidos e materiais essenciais ao organismo. A composição

das paredes é predominantemente de músculo liso, contudo, a boca e o esófago superior,

juntamente com uma parte do recto e ânus, consistem em músculo estriado. (Phipps,

Sands, & Marek, 2003)

A boca é constituída pelos lábios, bochechas, língua, palatos mole e duro, dentes e

glândulas salivares. Estas estruturas começam o processo digestivo através da trituração

mecânica e da lubrificação dos alimentos. Dado que as enzimas digestivas, só podem

funcionar sobre superfícies expostas das partículas alimentares, os dentes começam a

triturar os alimentos. Nenhuma outra parte do sistema GI pode realizar, na sua ausência,

a função dos dentes. A lubrificação dos alimentos é realizada, pela acção das secreções

aquosas e mucosas das glândulas salivares, parótidas e submaxilares. A saliva também

contém ptialina (amilase), que hidrolisa o amido em maltose. Pequenas quantidades de

saliva, que contêm anticorpos IgA contra muitos microrganismos ambientais normais,

são produzidas continuamente para manter a mucosa da boca húmida e limpa. Após a

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mastigação e a humidificação estarem completas, a língua empurra o bolo alimentar

para trás, para a faringe iniciar o acto de engolir (deglutição). (Phipps, Sands, & Marek,

2003)

O esófago começa na extremidade inferior da faringe. É um tubo muscular, oco,

com 25cm, que se situa atrás da traqueia, que atravessa o tórax e liga a boca ao

estômago. O terço superior é constituído por músculo estriado e os dois terços inferiores

por músculo liso. Ambas as extremidades do esófago são protegidas por esfíncteres que

ajudam a evitar o refluxo do conteúdo gástrico. Os esfíncteres estão normalmente

fechados, excepto na deglutição. A principal função do esófago é movimentar o bolo

alimentar, através dos movimentos peristálticos, da faringe para o estômago. No

esófago não são segregadas nenhumas enzimas e apenas tem lugar a digestão mecânica.

A secreção de muco ajuda a movimentar o bolo alimentar e a proteger as paredes do

esófago do atrito dos alimentos parcialmente digeridos. A deglutição é um mecanismo

fisiológico complexo que deve ser completado sem comprometer a respiração. Este

processo consiste em três fases: a fase voluntária, em que a língua faz entrar o bolo

alimentar na faringe; a fase faríngea involuntária, em que os alimentos movimentam-se

para o esófago superior; e a fase esofágica, na qual os alimentos movem-se da faringe

para o estômago. Os músculos esofágicos são estimulados pelos nervos do

glossofaríngeo e vago, que provocam ondas peristálticas rítmicas, propulsionando os

alimentos para o estômago. Os alimentos são impedidos de passar para a traqueia,

devido ao encerramento da epiglote e abertura do esófago. (Phipps, Sands, & Marek,

2003)

O estômago tem grosseiramente a forma de um “J” e está situado no abdómen

superior à esquerda da linha média. Está colocado à esquerda do fígado, à direita do

baço e atrás de ambos os órgãos. É uma bolsa muscular cuja forma altera-se com o seu

conteúdo. As três principais regiões são: o fundo, o corpo e o antro. O cardia é o

esfíncter que protege a abertura do esófago e o esfíncter pilórico protege a saída para o

duodeno. As pregas rugosas ou longitudinais do estômago permitem quadriplicar a sua

área e aumentar de um volume em repouso de 50ml para uma capacidade de

aproximadamente 1,5l para a digestão de alimentos, sem alterações importantes na

pressão. O estômago tem uma membrana serosa externa e três camadas de músculo liso.

A camada muscular mais externa é longitudinal, a camada média é circular e a mais

interna é oblíqua. As pregas encontram-se na camada mucosa interna. O estômago serve

principalmente de reservatório, no entanto também tem funções digestivas e secretoras.

Os alimentos são armazenados no estômago até que sejam parcialmente digeridos. O

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fundo contém células principais, que segregam enzimas digestivas, e células parietais,

que segregam água, ácido clorídrico (HCL) e o factor intrínseco que é fundamental para

a absorção de vitamina B12. O HCL é responsável pelo meio acidificado do estômago

(pH de 0.9 a 1.5), que é necessário para activar as enzimas que iniciam a digestão

proteica. Este pH altamente acidificado serve de barreira protectora, destruindo a maior

parte dos microrganismos ingeridos. A secreção gástrica está sob o controlo da

estimulação parassimpática através do nervo vago, com secreção de gastrina e

histamina. Diariamente são produzidos cerca de 2 a 2,5l de secreção gástrica. (Phipps,

Sands, & Marek, 2003)

O esvaziamento gástrico é controlado tanto pela actividade hormonal como pela

actividade do Sistema Nervoso Autónomo. A estimulação parassimpática pelo nervo

vago aumenta a peristalse, bem como a secreção e a estimulação simpática inibe as

duas. (Phipps, Sands, & Marek, 2003)

O intestino delgado tem cerca de 2,5cm de largura e 6m de comprimento e

preenche a maior parte do abdómen. É constituído por três partes: o duodeno que se liga

ao estômago, o jejuno ou parte média e o íleon que se liga ao intestino grosso. O

intestino grosso tem cerca de 6cm de largura e cerca de 1,5m de comprimento. Este

também é constituído por três partes: o cego que se liga ao intestino delgado, o cólon e

o recto. A abertura do ânus é controlada pelo esfíncter interno de músculo liso e pelo

esfíncter externo de músculo estirado. (Phipps, Sands, & Marek, 2003)

As principais funções do intestino delgado são a digestão dos alimentos e a

absorção dos nutrientes. Estes processos ocorrem principalmente no jejuno e íleon. No

intestino grosso tem lugar uma digestão química mínima e as suas funções principais

são a absorção de água e de electrólitos a partir do quimo (conteúdo do intestino

delgado) e o depósito de resíduos alimentares (fezes) até a defecação. (Phipps, Sands, &

Marek, 2003)

3.1. ADAPTAÇÕES E DESCONFORTOS

As modificações no tracto digestivo durante a gravidez, geralmente são: as náuseas,

os vómitos no início da gestação, a pirose, a eructação, flatulência e obstipação, que

pode ser problemática no final da gravidez. Podem ocorrer alterações a nível do apetite

durante as primeiras semanas, nomeadamente, o desejo ou a aversão por determinados

alimentos sem razão aparente, ou um desejo intenso por substâncias que não são

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consideradas alimentos, tais como goma de roupa, giz ou barro (pica). As náuseas e os

vómitos são distúrbios muito comuns no início da gravidez, ocorrendo em algum grau

em cerca de 50% das futuras mães. Os sintomas podem variar da discreta sensação de

náusea quando a mulher eleva a cabeça ao acordar, a vómitos frequentes e persistentes,

que então assumem uma condição grave. Náuseas e/ou vómitos podem aparecer em

qualquer parte do dia, mas são mais comuns pela manhã ao levantar, geralmente

desaparecem ao fim do primeiro trimestre. (Ziegel, Crenley, & Mecca, 1985)

A causa destes desconfortos é desconhecida, mas tem sido sugerido que a

gonadotrofina coriónica possa estar implicada, já que a intensidade destes sintomas

tende a seguir o perfil plasmático desta hormona.

Embora encontradas com frequência na gestação, as cáries dentárias e as

periodontites não surgem nem pioram no decorrer da gravidez. (Vasconcellos & Franco,

2004)

As gengivas tornam-se edemaciadas e hiperémicas durante a gravidez, sangrando

com facilidade, devido à produção de estrogénio e progesterona. A epulis da gravidez é

um crescimento localizado da vascularização gengival, frequentemente pediculada, cuja

única complicação é a possibilidade de ocorrer hemorragia.

O ptialismo (produção acentuada de saliva) poderá observar-se no período inicial

da gestação e ocorre devido à hipertonia vagal, factores psíquicos e estímulos do

segundo e terceiro ramo do nervo do trigémeo. (Vasconcellos & Franco, 2004)

Por acção da progesterona, a motilidade gastro-esofágica, intestinal e da vesícula

biliar, bem como a tonicidade dos esfíncteres, estão diminuídas durante a gravidez. Por

esses motivos são comuns as queixas de enfartamento, pirose e obstipação. O volume

residual vesicular está aumentado para o dobro na segunda metade da gravidez. (Graça,

2000)

A pirose é uma sensação de queimadura retroesternal, frequentemente descrita

como uma sensação de ardor que sobe do estômago para a garganta. Este desconforto é

causado por regurgitações frequentes de ácido gástrico para o esófago, este fluxo de

secreções pode ser o resultado de uma mudança de posição e de um relaxamento geral

do estômago durante a gravidez, e juntamente com isso, um relaxamento do cárdia,

especialmente quando a pressão intra-abdominal é elevada. (Ziegel, Crenley, & Mecca,

1985)

Devido à pressão intra-abdominal poderá ocorrer também o aparecimento de

hérnias no hiato em cerca de 20% das mulheres grávidas, regredindo no pós-parto.

(Vasconcellos & Franco, 2004)

20

A vesícula biliar mostra esvaziamento lento devido à hipotonia muscular,

consequência da acção da progesterona sobre a musculatura lisa, o que origina a estase

biliar e proporcionar o aparecimento de cálculos de colesterol e a diminuição da síntese

de ácidos biliares. A multiparidade e factores genéticos também contribuem para o

aparecimento destes. (Vasconcellos & Franco, 2004)

O pâncreas da gestante saudável sofre hiperplasia das células beta da ilhotas de

Langerhans, em resposta ao bloqueio periférico da insulina pelas hormonas gestacionais

em especial os estrogénios. Devido a isto, ocorre o aumento da insulina plasmática livre

e facilita as maiores necessidades fetais de carbohidratos. (Vasconcellos & Franco,

2004)

No início da gravidez, temos que a parede uterina também torna-se mais espessa,

só se adelgaçando e diminuindo de consistência nas semanas finais da gestação. A

forma do útero também se altera, tornando-se esferóide no início do segundo trimestre,

para posteriormente adoptar uma forma ovóide no decurso do terceiro trimestre. Sendo

o crescimento do útero acompanhado pelo incremento da sua vascularização, o fluxo

sanguíneo aumenta exponencialmente à medida que a gravidez progride. O colo do

útero sofre um amolecimento progressivo ao longo da gravidez devido ao efeito

conjunto do aumento da vascularização, diminuição da agregação das fibras de

colagénio, imbebição hídrica e a proliferação intensa das glândulas do endocolo. Este

último está relacionado na base do aparecimento da característica ectópica fisiológica da

gravidez, ou seja, as glândulas endocervicais produzem um muco espesso que oclui o

canal cervical até o final da gravidez, denominado de rolhão mucoso, impedindo assim

infecções ascendentes. A vagina irá adquirir uma coloração azulada devido ao aumento

das vascularização, sendo este processo denominado de sinal de Chadwick. Na gravidez

também é possível verificar o aumento da secreção vaginal, rica em glicogénio, e de

descamação das células superficiais do epitélio da vagina associado à maior produção

de muco cervical, resultando assim na presença de um fluxo branco e ácido. (Graça,

2000)

Todas estas modificações supracitadas irão afectar o sistema gastrointestinal da

grávida, pois as mesmas irão alterar o posicionamento do estômago, do intestino

delgado e grosso, na cavidade abdominal, dificultando assim a digestão dos alimentos e

a sua eventual evacuação, dentro dos padrões normais da mulher podendo também por

vezes originar flatulência e obstipação. (Graça, 2000)

A flatulência é uma expulsão de gases pelo ânus, bastante comum e muito

desconfortável. Consiste numa acumulação de gases no estômago ou intestinos, devido

21

à redução da motilidade do tracto gastrointestinal e da diminuição da acidez do suco

gástrico para baixo do normal. Ocorre no primeiro, segundo e terceiro trimestre e pode

estar associada à aerofagia, à pirose e à obstipação (bebidas gaseificadas e desequilíbrio

entre a ingestão hídrica e alimentos ricos em fibras). Pode ainda causar dores

abdominais, provocando uma importante distensão no abdómen que já tem um volume

significativo. A excreção intestinal diária é importante de modo a prevenir ou aliviar a

flatulência. (Dutra, 2005)

A Obstipação são evacuações pouco frequentes de fezes duras, difíceis de expelir,

originando uma sensação de enfartamento e sendo vulgar a necessidade de um grande

esforço que poderá levar ao sangramento rectal. É uma consequência da diminuição do

peristaltismo, hipotonia intestinal, alterações dietéticas, diminuição da ingestão de

líquidos, distensão abdominal provocada pelo útero gravídico e deslocamento dos

intestinos sujeitos a compressão, assim como a ingestão oral de suplementos de ferro.

É muito frequente na gravidez e torna-se grave em mulheres com tendência a

prisão de ventre. (Dutra, 2005)

Temos também que a excessiva força durante a evacuação e o difícil retorno

venoso na área do recto causará o surgimento de hemorróidas. (Graça, 2000)

As hemorróidas são comuns durante a gravidez, aparecendo como resultado da

obstipação, da vasodilatação periférica e do aumento da pressão nas veias rectais por

compressão da circulação venosa de retorno. (Vasconcellos & Franco, 2004)

Irão ocorrer também outros problemas tais como as insónias, pois como o sistema

digestivo é afectado pelas alterações do sistema reprodutor, irá causar a má digestão dos

alimentos originando por vezes a pirose impedido assim o padrão normal de sono

causando fadiga e sonolência no período diurno, preconizando-se assim as sestas para

que o equilíbrio do sono seja reposto. (Graça, 2000)

22

4. PAPEL DO ENFERMEIRO

A confidencialidade, os direitos humanos e a promoção da autonomia dos

indivíduos são elementos importantes do cuidar que devem ser considerados pelos

enfermeiros. Deste modo, cada pessoa deve ser considerada enquanto ser autónomo e

independente, devendo o profissional de saúde dar ênfase à qualidade, independência e

relacionamento com o ambiente do doente, isto é, à família, amigos, entre outros.

(Filgueiras, 1998)

A sabedoria da enfermagem deve comprometer a estrutura de onde resultam

todas as intervenções dos enfermeiros, as quais devem ser desenvolvidas a três níveis:

primário, secundário e terciário.

É ainda do dever do enfermeiro ser promotor de saúde, permitindo ao utente a

decisão acerca do comportamento a adoptar, após orientação concedida (Filgueiras,

1998)

Um dos objectivos é capacitar o indivíduo para a tomada de decisões, sobre a

sua saúde, facultando as informações suficientes, tendo em atenção os seus valores e o

seu conceito de saúde. (Filgueiras, 1998)

4.1. PAPEL DO ENFERMEIRO FACE ÀS ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS

NA GRAVIDEZ

Insónias - durante a gravidez a sonolência diminui, existindo uma irregularidade

do ritmo do sono.

Segundo Dutra (2005), o enfermeiro pode:

- Aconselhar a não ingestão de bebidas excitantes (chá, café);

- Aconselhar a ingerir leite morno antes de deitar;

- Aconselhar o uso de roupa leve na cama;

- Incentivar a tomar banho com água tépida antes de se deitar;

- Instruir sobre massagem na região dorsal com loções suaves, aliviando as

lombalgias e os músculos cansados, promovendo o relaxamento;

23

- Educar sobre posicionamentos e utilização de recursos (almofadas, toalhas que

suportem o peso do abdómen), que permitam à grávida uma situação de conforto

desejada;

- Ensinar sobre técnicas de relaxamento (de forma a que a grávida possa

concentrar-se e ter cada parte do corpo relaxada fazendo um esforço consciente para que

cada inspiração e expiração durem o mesmo tempo e tenham a mesma profundidade);

- Aconselhar a grávida a promover períodos de sono e repouso durante o dia

durante as últimas semanas de gestação de forma a compensar a perda de sono nocturna;

- Aconselhar a leitura de algum material leve na cama, evitando emoções fortes.

A Lipotímia é uma sensação de tontura ou desmaio que pode ser causada por

mudanças no volume sanguíneo nas extremidades inferiores.

Segundo Dutra (2005), o enfermeiro pode:

- Educar para a posição de sentado ou decúbito lateral esquerdo, quando

necessário (quando sentir tonturas);

- Informar sobre a hipotensão ortostática, evitando mudar bruscamente de posição

(antes de levantar-se, sentar-se dois a três minutos, para se habituar à nova posição;

- Aconselhar a não permanência em lugares com muita gente;

- Incentivar o uso de meias elásticas;

- Incentivar o exercício físico moderado;

- Incentivar respirações profundas;

- Incentivar mobilização articular dos membros inferiores;

- Educar sobre hipoglicémia, fazendo cinco a seis refeições por dia, de forma

polifraccionada;

- Instruir sobre técnicas de relaxamento, a fim de evitar o stress e o cansaço;

- Aconselhar a permanência em locais frescos e arejados.

Fadiga - cansaço extremo e contínuo.

Segundo Dutra (2005), o enfermeiro pode:

- Consciencializar a gestante a adequar o trabalho ao período de gestação;

- Aconselhar a gestante a fazer longos períodos de repouso e relaxamento (dormir

pelo menos oito horas diárias);

- Aconselhar a gestante a manter um adequado aporte nutricional.

24

Edema – acumulação de líquidos nos tecidos.

Segundo Dutra (2005), o enfermeiro pode:

- Referir que o edema é muito comum na gravidez e pode ser considerado normal;

- Orientar sobre elevação dos membros inferiores sobre a almofada, durante dez a

quinze minutos várias vezes ao dia, massajando os mesmos;

- Incentivar mobilidade intermitente;

- Ensinar sobre posicionamento em decúbito lateral esquerdo (é a posição mais

favorável para o retorno venoso das extremidades inferiores reduzindo assim a retenção

líquida;

- Incentivar o uso de vestuário apropriado e contenção elástica;

- Incentivar a prática de exercício moderado;

- Incentivar a monitorização da tensão arterial.

Cãibras – dor intensa na barriga da perna ou na região posterior da coxa.

Segundo Dutra (2005), o enfermeiro pode:

- Incentivar o posicionamento ortostático (alivia a dor);

- Incentivar o movimento articular activo (extensão da perna, flexão do tornozelo);

- Orientar para aplicação de calor (alivia o desconforto e promove o relaxamento

muscular);

- Incentivar a gestante a programar períodos de repouso frequentes, com os

membros inferiores elevados;

- Incentivar o uso de vestuário quente e confortável e de meias elásticas (alivia e

evita as cãibras);

- Aconselhar a não permanência durante longos períodos na mesma posição;

- Aconselhar a massajar a zona dorida.

Formigueiros ou parestesias das mãos – sensação de queimadura ou de alfinetes

a picar as mãos.

Segundo Dutra (2005), o enfermeiro pode:

- Incentivar o repouso das mãos durante o dia;

- Aconselhar a evitar movimentos repetidos do punho;

- Orientar a gestante a colocar a articulação numa posição neutra ou flectida

ligeiramente para baixo;

25

- Orientar a gestante que durante a noite a mão afectada deve ser elevada,

- Informar que a imobilização com ligadura promove o alívio dos sintomas.

4.2. PAPEL DO ENFERMEIRO FACE ÀS ALTERAÇÕES

GASTROINTESTINAIS NA GRAVIDEZ

O Ptialismo ou Sialorreia é uma secreção salivar excessiva que está associada às

náuseas e vómitos e devido aos enjoos, há uma maior dificuldade para engolir a saliva.

A saliva muitas vezes é rejeitada pela gestante provocando por vezes desidratação.

Segundo Dutra (2005), o enfermeiro pode:

- Orientar/ incentivar a gestante para consulta dentária (deve visitar o dentista pelo

menos uma vez, lavar os dentes pelo menos duas vezes por dia, escovando com cerdas

macias para evitar hemorragias; reduzir a ingestão de açúcar);

- Orientar para lavagem da boca com soluções adstringentes, no sentido de

prevenir as cáries dentárias e gengivites;

- Aconselhar a ingestão abundante de líquidos para prevenir a desidratação;

- Incentivar o uso de cremes hidratantes nos lábios, prevenindo as ragádias

(maceração dos cantos dos lábios);

- Sensibilizar a grávida e todos que a rodeiam sobre as repercussões deste

desconforto. A depressão psíquica provocada por este, é um problema delicado que

dificulta ou impede a vida social, daí a importância de encaminhar para estruturas de

suporte social e dar apoio.

Perturbação do apetite – existe uma diminuição ou aumento do apetite e

relacionam-se com a qualidade e quantidade dos alimentos.

Pica - vontade de ingerir substâncias não nutritivas.

Segundo Dutra (2005), o enfermeiro pode:

- Aconselhar a satisfazer os desejos alimentares, desde que estes não interfiram

com o equilíbrio da sua dieta;

- Orientar a grávida para referir desejos fora do comum ao médico/ enfermeiro;

- Planear uma dieta polifraccionada, equilibrada e bem apresentada, de acordo

com seus os alimentos preferidos e habituais (o enfermeiro deverá ter conhecimento da

26

cultura ou grupo étnico em que a grávida está inserida para posterior aconselhamento de

um regime alimentar correcto);

- Orientar a grávida para a não ingestão de alimentos que não sejam do agrado,

alimentos ricos em gordura e/ou condimentados;

- Aconselhar a ingestão de frutas e legumes (segundo a roda dos alimentos,

aumentando o seu aporte calórico em cerca de 300 a 500kcal por feto);

- Aconselhar a grávida a evitar a inalação de odores desagradáveis.

Vómitos - são de predomínio matinal, de características biliares e mucosas.

Existem ainda os vómitos perniciosos, que consistem em vómitos persistentes que

assumem proporções graves.

Náuseas - podem ter duas etiologias: Psicológicas: quando há rejeição da gravidez,

medos, conflitos, insegurança e Somáticos: alterações do metabolismo dos

carbohidratos, produção exagerada de corpos cetónicos e hiperglicémia para acção da

progestrona.

Segundo Dutra (2005), o enfermeiro pode:

- Incentivar o repousar e relaxar;

- Aconselhar/ orientar a gestante para a ingestão de seis refeições diárias;

- Aconselhar a grávida a evitar a inalação de odores desagradáveis e a ingestão de

excesso de alimentos açucarados;

- Orientar a gestante para a adopção de uma alimentação polifraccionada e

equilibrada, rica em saladas, frutas, legumes, peixe magro, e outros alimentos à base de

cozidos e grelhados;

- Aconselhar a ingestão de chá, sumo de frutas ou água em vez de bebidas

excitantes, como por exemplo o café;

- Informar a grávida que as náuseas matutinas podem ser reduzidas, pela ingestão

de três bolachas, sem ingestão de qualquer líquido, imediatamente ao acordar;

- Aconselhar a ingestão de alimentos ricos em hidratos de carbono e alimentos

secos como o pão;

- Incentivar o repousar aproximadamente vinte a trinta minutos após as refeições;

- Aconselhar a ingestão de alimentos mornos;

- Informar acerca de terapêutica anti-histamínica, tranquilizante ou anti-emética,

referindo que devem ser utilizadas com cautela.

27

Pirose - é um refluxo do conteúdo gástrico no esófago.

Segundo Dutra (2005), o enfermeiro pode:

- Aconselhar a evitar ou diminuir a ingestão de alimentos tais como: alimentos ricos

em gordura, chocolates, frutos cítricos e cafeína;

- Informar a gestante que deve permanecer sentada cerca de trinta minutos depois

de cada refeição, evitando o refluxo do conteúdo gástrico;

- Orientar para uma ingestão de refeições mais frequentes e menores (seis ou mais

refeições) e esperar pelo menos duas horas após a refeição antes de ir deitar;

- Aconselhar a ingestão de alimentos pouco temperados, assim como preparações

antiácidas;

- Aconselhar a não ingestão de bebidas gaseificadas e açucaradas;

- Instruir sobre posições adequadas para se sentar e dormir, de modo a

desfavorecer a compressão do estômago pelo útero.

Flatulência - é uma expulsão de gases pelo ânus, bastante comum e muito

desconfortável.

Segundo Dutra (2005), o enfermeiro pode:

- Aconselhar sobre a não ingestão de bebidas gaseificadas ou alimentos ricos em

fibras, como: vagens, couve, milho, massas e sobremesas muito doces, entre outros;

- Educar para uma mastigação lenta e completa dos alimentos;

- Incentivar para exercício físico;

- Aconselhar para dieta rica em fibra vegetal;

- Incentivar a criar/ manter padrão de eliminação intestinal regular.

Obstipação - são evacuações pouco frequentes de fezes duras, difíceis de expelir.

Segundo Dutra (2005), o enfermeiro pode:

- Orientar para ingestão de líquidos de pelo menos 2l por dia e de alimentos ricos

em fibras com moderado efeito laxante;

- Aconselhar para a não ingestão de queijos, cereais refinados, pão branco, arroz,

cenoura, banana, maçã e sobremesas;

- Incentivar a prática regular de exercício físico;

- Incentivar a estabelecer um padrão de eliminação intestinal regular;

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- Informar sobre terapêutica que promovem o aumento do volume fecal

(prescritos pelo médico).

Hemorróidas - são varicosidades que se projectam do recto.

Segundo Dutra (2005), o enfermeiro pode:

- Aconselhar para regime alimentar adequado, óleos minerais, supositórios de

vaselina, de modo a evitar a hipotonia intestinal;

- Educar sobre hemorróidas;

- Instruir para a redução das hemorróidas de grau III (a mulher pode, em geral,

fazê-lo a si própria de forma bastante satisfatória, após lubrificar seus dedos com

vaselina ou creme frio);

- Orientar para posição dorsal com os quadris elevados e aplicar um penso com

gelo ou compressas frias sobre as hemorróidas;

- Aconselhar o uso de sabonete neutro e água tépida após cada eliminação

intestinal;

- Aconselhar a não permanecer muito tempo sentada, principalmente se a

superfície for dura;

- Instruir sobre exercícios de Kegel (contracção dos músculos pélvicos,

particularmente daqueles que rodeiam o recto, fortalecendo esta zona e evita a

estagnação do sangue);

- Orientar para o uso de papel higiénico maleável e não irritante, se houver

necessidade usar toalhetes de bebé;

- Aconselhar a evitar dormir de barriga para cima, pois a pressão do útero sobre as

veias rectais, dificulta o retorno do sangue e agrava o ingurgitamento venoso;

- Orientar para a ingestão de líquidos;

- Informar para evitar o esforço durante a defecação e não permanecer muito

tempo de pé;

- Aconselhar para a aplicação de substâncias gordas (vaselina);

- Informar que a cirurgia está raramente indicada, existindo normalmente uma

melhora no pós-parto.

29

CONCLUSÃO

Com este trabalho assimilamos que a mulher, ao longo da gestação, sofre

alterações anatomo-fisiológicas nos mais diversos sistemas corporais para poder dar

resposta às exigências do desenvolvimento do novo ser, revertendo ao estado anterior à

gravidez após o parto. Essas alterações são acompanhadas por alguns desconfortos que

marcarão o seu dia-a-dia.

Felizmente existem muitas maneiras de evitar e aliviar tais efeitos provenientes

desta nova fase. Com isto, a grávida deverá manter-se serena e tranquila e encarar com

disposição esta nova etapa tão importante na sua vida.

Para diminuir os desconfortos derivados da gestação, a grávida pode assumir

alguns comportamentos simples.

O enfermeiro tem o papel de orientar a mulher grávida ao longo desta etapa da sua

vida uma vez que tem uma posição privilegiada tanto dentro da equipa de saúde como

na comunidade. Dada a capacidade científica, técnica e, sobretudo humana, o

enfermeiro está habilitado para promover a saúde e o bem-estar da grávida, a nível

psicológico, social, biológico e espiritual.

Relativamente ao Sistema Neurológico da mulher gestante, verifica-se que as

principais alterações são: as insónias, a lipotímia, a fadiga, o edema, as cãibras e os

formigueiros ou parestesias das mãos.

No que concerne ao Sistema Gastrointestinal, verifica-se que as alterações

predominantes são: o ptialismo ou Sialorreia, a perturbação do apetite, a pica, os

vómitos, as náuseas, a pirose, a flatulência, a obstipação e as hemorróidas.

Desta forma, este trabalho permitiu-nos, como futuros enfermeiros, aprofundar o

conhecimento no que se refere ao tema abordado, sendo uma mais-valia nesta nossa

futura profissão.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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