Patrícia - Pronto 1
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Estratégias utilizadas por uma empresa do noroeste fluminense na prevenção e detecção do uso de conservantes, neutralizantes e
reconstituintes no leite in natura recebido em sua plataforma
Patrícia Silva TostesElisabete Sales Correa
Pós-Graduação em Vigilância Sanitária e Controle de Qualidade de Alimentos Faculdade Redentor
End: Praça Ary Parreiras nº: 114, Centro, Miracema – RJ, CEP: 28460-000Tel: (22) 3852-1168
Email: [email protected]
RESUMO
A qualidade do leite é algo que depende imensamente das técnicas de higienização desde a pré ordenha, armazenamento, transporte e refrigeração. Contudo, muitas vezes ocorrem contaminação no leite por conservantes, neutralizantes e reconstituintes, o que o briga as empresas a empregarem testes para apurar a qualidade do leite recebido em suas plataformas. O objetivo da pesquisa propõe a análise do histórico da produção e consumo de leite da região, assim como as técnicas de ordenha, higienização, transporte, armazenamento e refrigeração do produto conforme as especificações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) quanto ao controle de qualidade. Portanto foi possível concluir que essa qualidade é determinada por normas do Ministério da Agricultura, assim como as técnicas para a sua inspeção, sendo que uma das mais utilizadas é o teste de estabilidade com alizarol.Palavras – Chave: Leite, higiene, Alizarol, conservantes.
ABSTRACTThe quality of milk is something that depends greatly techniques from pre milking hygiene, storage, transportation and refrigeration. However, often occur in milk contamination by preservatives, neutralizing and restoratives, which fights the companies to employ tests to ascertain the quality of milk received on their platforms. The objective of the research proposes the analysis of historical production and consumption of milk in the region, as well as the techniques of milking, hygiene, transport, storage and refrigeration of the product specified by the Ministry of Agriculture, Livestock and Supply (MAPA) and the quality control. Therefore it was concluded that this quality is determined by standards of the Ministry of Agriculture, as well as techniques for their inspection, and one of the most used is the stability test with alizarol.Keywords - Keywords: Milk, hygiene, Alizarol, preservatives.
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1 INTRODUÇÃO
O leite é um dos alimentos in natura mais completos, devido ao seu teor nutritivo e
biológico, o seu consumo é recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e vem
crescendo no mercado brasileiro.
Apesar de ser um alimento bastante acessível à mesa do consumidor pelo seu baixo
custo, este mercado depara-se com obstáculos, podemos citar as políticas públicas que não
colaboram com este crescimento e consequentemente o setor sofre com lucratividade, nível
tecnológico baixo, alto custo de produção, mão de obra escassa, ações protecionistas,
fiscalização insuficiente e consumidores que almejam preços baixos, não priorizando um
produto final de qualidade.
Esses fatores promovem as fraudes. As mais comuns são a adição de conservantes,
tais como: formol, água oxigenada, cloro, hipocloritos e adição de água ou soro de queijo
com cloreto de sódio, açúcar ou amido que restauram valores de densidade do leite normal.
Dessa forma, esta pesquisa encontra sua pertinência no risco que essas
adulterações no leite que chega à plataforma das empresas, oferecem a saúde do
consumidor e a econômica como um todo. Portanto, buscam-se verificar quais são as
estratégias de prevenção e detecção do uso de conservantes, neutralizantes e
reconstituintes de densidade no leite in natura recebido na plataforma por empresas do
noroeste fluminense.
Com intuito de atingir o objetivo estabelecido a pesquisa analisará o histórico da
produção e consumo de leite da região, assim como as técnicas de ordenha, higienização,
transporte, armazenamento e refrigeração do produto conforme as especificações do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) quanto ao controle de
qualidade.
A metodologia aplicada na compilação de dados para a realização deste estudo
consiste em pesquisa bibliográfica, utilizando-se de livros, artigos científicos, regulamentos,
monografias, teses e dissertações além de material disposto na internet que verse sobre o
assunto.
Também foi realizada pesquisa de cunho qualitativo por meio de entrevista em uma
empresa de laticínios do noroeste fluminense, afim de compreender como e realizado o
controle de qualidade na região.
2 HISTÓRICO DO CONSUMO E DA PRODUÇÃO DO LEITE
Sousa (2010) comenta que a região Noroeste do estado do Rio de Janeiro é
composta pelas cidades de: Itaperuna, Bom Jesus do Itabapoana, Santo Antônio de Pádua,
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Itaocara, Cambuci, e suas circunvizinhas e comenta ainda que a produção leiteira nestas
cidades caracteriza-se historicamente pela produção familiar.
A respeito da agricultura familiar Marafon (2006, p. 19) ensina que:
Existe consenso que a produção familiar se caracteriza pelo trabalho familiar na exploração agropecuária e pela propriedade dos meios de produção. Para Wanderley (1999), a agricultura familiar se constitui na atualidade em um conceito genérico, que incorpora uma diversidade de situações específicas e particulares e nas quais o campesinato corresponde a uma dessas formas particulares da agricultura familiar.
Inicialmente a maioria das famílias produzia o leite basicamente para consumo
próprio, no entanto, por vezes ocorriam superproduções que levaram as famílias a
comercializar o produto excedente, fazendo com que estas percebessem que a produção
poderia ser ampliada tornando-se um negócio lucrativo. Com o crescimento da produção a
maioria das cidades criaram as cooperativas agropecuárias, que ficavam responsáveis por
recolher e beneficiar o leite dos micro produtores. Há algumas décadas passadas grandes
indústrias do ramo de laticínios se estabeleceram na região fortalecendo o comércio e
fazendo com que alguns produtores se destacassem deixando de serem classificados como
de agricultura familiar e enfraquecendo em cidades menores as cooperativas, fazendo
inclusive com que algumas fossem fechadas.
3 TECNICAS DE ORDENHA, HIGIENIZAÇÃO, TRANSPORTE, ARMAZENAMENTO E REFRIGERAÇÃO DO LEITE
Mariano, Ramalho e Couto (2009) destacam a importância do leite ao afirmar que
este é naturalmente um alimento líquido, contendo uma alta porcentagem de água, embora
seja um alimento concentrado, destinado a produzir um alto teor nutritivo. Neste aspecto,
contem mais matéria sólida que muitos outros alimentos. Contêm dissolvidos sais minerais,
lactose, ureia, ácido láctico, creatina, aminoácidos e vitaminas hidrossolúveis sendo vários
os componentes do produto. Uma composição média para o leite bovino é de: 87% de água,
3,7% de gordura, 4,9% de lactose, 3,5 % de proteínas e 0,7% de minerais. A quantidade do
leite produzida e sua composição apresentam variações ocasionadas por diversos fatores,
tais como alimentação, doenças, período de lactação, ordenhas, fraudes e adulterações.
Quaisquer substâncias que não faça parte das contidas no rótulo de uma embalagem ou na
composição do leite são classificadas como estranhas e estando presentes, podem causar
danos à saúde humana.
Santos e Santos (2010) abordam a ocorrência de adulteração do leite mediante
fraudes. As mais encontradas são adição de conservantes como formol, água oxigenada,
cloro e hipocloritos e adição de água ou soro de queijo com cloreto de sódio, açúcar ou
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amido que resultam valores de densidade de leite normal. Tais adulterações acarretam
diversos tipos de prejuízos.
Devido à possibilidade do leite in natura ser adulterado, existem normativas
emanadas por órgãos como o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento como o
Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA).
Art. 475 Entende-se por leite, sem outra especificação, o produto oriundo da ordenha completa, ininterrupta, em condições de higiene, de vacas sadias, bem alimentadas e descansadas. O leite de outros animais deve denominar-se segundo a espécie de que proceda (BRASIL, 1952, p. 78).
Portanto, conforme previsto em regulamento, denomina-se leite, sem outra
especificação, o produto normal, fresco, integral, oriundo da ordenha completa e
ininterrupta. A adição de substâncias estranhas ao leite está relacionada a fraudes que
podem ocorrer desde a fonte de produção até a fase de comercialização. Tais substâncias
são classificadas de várias maneiras, de acordo com a finalidade de seu uso. Pode-se tratar
de substâncias conservadoras e/ou inibidoras, de substâncias redutoras da acidez ou ainda
de substâncias reconstituintes da densidade.
Carvalho (2010) menciona um passo relevante na modernização da gestão da
cadeia produtiva a partir do início do pagamento pela qualidade do leite. Esta media de
valorização, no entanto, ainda precisa ser mais bem implementada, pois muitas empresas
de laticínios ainda não adotam esta política, pagando principalmente pelo volume, ficando a
valorização dos atributos como um valor marginal ou secundário. Adicionalmente a isso, a
valorização pela qualidade permanece refém dos movimentos conjunturais de oferta e
demanda de leite, ou seja, em períodos de abundância de leite a qualidade torna-se mais
importante do que em momentos de escassez.
3.1 Técnicas de Ordenha e Higienização
A qualidade final do leite depende de inúmeros cuidados que se iniciam antes
mesmo do processo de ordenha e vão até o seu processamento e embalagem quando este
se encontra apto para consumo.
Esses cuidados dizem respeito a higiene do profissional que fará a ordenha, do local
onde esta será realizada, do equipamento utilizado e do período pré e pós ordenha.
A qualidade higiênica é influenciada pelo estado sanitário do rebanho, manejo dos animais e dos equipamentos de ordenha e as presenças de microrganismos além de resíduos de drogas e odores estranhos. Do ponto de vista higiênico o leite deve ser: agradável, limpo, fresco e seguro. Atendendo a legislação vigente quanto aos contaminantes orgânicos,
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inorgânicos e aos resíduos biológicos (OLIVEIRA; BRANDESPIM, 2009, p.01).
O procedimento da ordenha pode ser realizado de forma manual ou mecanizada. A
Contudo, independentemente de qual seja o método utilizado para a ordenha das vacas
estes requerem cuidados específicos de higiene, com intuito de garantir a boa qualidade do
produto final. Sobre os cuidados durante o procedimento da ordenha Rosa et al (2009, p.
30) explica que:
É recomendado utilizar um banco para realizar a ordenha manual, com isto o ordenhador ficará numa postura mais confortável. Após se posicionar, inicie a ordenha. Não utilize a espuma formada no balde para untar os tetos das vacas, isso prejudica a qualidade do leite devido ao maior risco de contaminação. Para a fixação das teteiras, segure o conjunto com uma das mãos de forma que as mesmas fiquem penduradas e em posição que facilite serem acopladas aos tetos. Pressione o botão do vácuo apenas quando o conjunto estiver bem posicionado, embaixo do úbere. Fixe cada uma das teteiras, iniciando pelos tetos mais distantes. Verifique sempre o correto posicionamento do conjunto de teteiras para evitar entrada de ar e riscos de contaminação do leite ou dos tetos. Quando estiver trabalhando com ordenha mecanizada sem extrator de teteiras, retire-as assim que parar a descida de leite. Evite retirá-las antes de esvaziar o úbere e, também, não deixe o conjunto fixado ao úbere após o término da descida do leite.
Zafalon et al (2008) ainda comenta que a ordenha deve ocorrer em um local coberto,
arejado, pavimentado, com iluminação adequada e possuir pontos com água corrente de
boa qualidade.
Quanto a higienização do local de ordenha Rosa et al (2009, p. 36) explica que:
Nunca utilize a mangueira de água para empurrar as fezes e nem use a água enquanto as vacas estiverem na sala de ordenha, pois isto aumenta o risco de contaminação.Imediatamente após a ordenha, deve-se realizar a limpeza das instalações e dos equipamentos.Para a lavagem e desinfecção de equipamentos de ordenha mecanizada, siga as instruções do fabricante.Na ordenha manual, os baldes e os utensílios deverão ser lavados com água corrente e detergente. Depois de lavados, coloque-os virados para baixo em local limpo, para secarem naturalmente.Após cada ordenha deixe as instalações e todos os equipamentos, materiais e utensílios preparados para o início da próxima.
Além desses cuidados o ordenhador ainda precisa ter cuidado com sua saúde e
higiene pessoal, principalmente quanto à infecção por brucelose ou tuberculose, alguns
cuidados básicos devem sempre ser observadas como: lavar as mãos antes e durante as
ordenhas; lavar as mãos após ir ao banheiro, manter cabelo preso e unhas cortadas e usar
roupas, aventais e botas limpas.
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Existem diversas situações em que se é necessário realizar a limpeza dos tetos das
vacas que pode ser feito com um jato de água direcionado para o teto, tendo-se o cuidado
de não molhar o úbere para não correr o risco de que a água suja escorra para a teteira e
contamine o leite.
Além das precauções em relação a higiene Neto, Brito e Figueiró (2006, p. 01)
atentam para os seguintes cuidados:
Para se obter uma boa ordenha um conjunto de procedimentos deve ser realizado rotineiramente, tanto na ordenha manual como na ordenha mecânica, procurando-se sempre dar ao animal as melhores condições deixá-lo sem estresse, para permitir a extração de um leite de qualidade.
Por fim, pode ainda ser aplicado o procedimento pré-dipping que consiste na
desinfecção dos tetos em uma solução de iodo (0,25%), solução de clorexidine (de 0,25 a
0,5%) ou ainda de cloro (0,2%). Esse procedimento é comumente utilizado para prevenir a
mastite ambiental. Esse procedimento também pode ser realizado no processo pós ordenha
para reduzir os riscos de infecção por patógenos contagiosos como o Staphylococcus
aureus e Streptococcus agalactiae.
3.2 Técnicas de Transporte, Armazenamento e Refrigeração
Após a ordenha o leite precisa ser coado em recipiente apropriado que deve ser de
aço inoxidável, náilon, alumínio ou plástico atóxico. No caso da ordenha mecanizada as
ordenhadeiras possuem um filtro que deve ser trocado periodicamente.
Depois de realizada a filtragem a IN 51 do Ministério da Agricultura determina que o
leite seja resfriado, pois do ponto de vista sanitário esse procedimento influencia
diretamente na qualidade do produto favorecendo o controle de micro organismos mesófilos,
cuja temperatura ideal para a sua proliferação é de 25º C a 40ºC (BRASIL, 2011).
Segundo Vialta, Moreno e Valle (2003 apud AGAPITO; PRUDÊNCIO, 2008, p. 03):
A estocagem também compreende a manutenção de produtos e ingredientes em um ambiente que proteja sua integridade e qualidade, mantendo o alimento livre de contaminação por pragas, contaminantes químicos, físicos, microbiológicos e/ou outras substâncias inaceitáveis, reduzindo danos e perdas durante o armazenamento, ou seja, a estocagem.
O regulamento ainda determina que a coleta e transporte deve ser feito em
caminhões com tanques isotérmicos, com revestimento interno em aço inoxidável e
equipados com mangueiras flexíveis e bomba sanitária. Antes do transporte o leite pode ser
armazenado em tanques de refrigeração por expansão direta.
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É extremamente importante a manutenção do leite em temperatura baixa após a ordenha e também em toda a sequência da cadeia produtiva, ainda mais porque o Brasil é um país de clima quente. O ideal é que o leite atinja a temperatura de 4ºC no tempo máximo de três horas após o término da ordenha (ZAFALON et al, 2008, p. 42).
Embora a refrigeração do leite seja o procedimento comum, esta não o livra
totalmente dos riscos de contaminação, pois ainda existe a possibilidade de
desenvolvimento de micro organismos psicrotróficos, aqueles com a capacidade de
desenvolvimento entre 0ºC e 7ºC. Esses micro organismos podem ser encontrados na
superfície dos tetos e das mãos, na água e nos equipamentos e podem ser responsáveis
por alterações lácteas, devido a enzimas por eles produzidas, que não são inativadas pelo
processo de pasteurização, daí nota-se mais uma vez a importância da higienização antes,
durante e depois do processo de ordenha.
4 TECNICAS DE PREVENÇÃO E DETECÇÃO DO USO DE CONSERVANTES, NEUTRALIZANTES E RECONSTITUINTES DE DENSIDADE NO LEITE IN NATURA RECEBIDO NA PLATAFORMA DAS EMPRESAS
A qualidade do leite que chega para o beneficiamento industrial é determinada
principalmente pela qualidade com que este é obtido na unidade produtora, pois não existe
muito mais que possa ser feito pela indústria no sentido de melhorar a qualidade da matéria
prima. Nesse sentido Oliveira (2004, p. 19) explica que:
Como os processos industriais não conseguem melhorar a qualidade do leite, a única maneira de garantir um produto com qualidade é por meio do controle da produção, conservação e transporte. O fornecimento de leite de alta qualidade é um compromisso de toda a cadeia produtiva com o consumidor final. O leite e seus derivados têm a qualidade regulamentada pelos órgãos oficiais responsáveis para garantir segurança alimentar da população.
A qualidade do leite depende de vários critérios que relacionam fatores físico-
químicos e higiênico-sanitários que determinam a sua capacidade nutricional, industrial e de
segurança alimentar.
O RIISPOA determina em seu artigo 476 que o leite precisa apresentar
características normais que incluem:
Teor de gordura no mínimo de 3%; acidez em graus Dornic entre 15 e 20° D; densidade a 15°C entre 1,028 e 1,033; lactose mínimo de 4,3%; extrato seco total (EST) min. 11,5%; extrato seco desengordurado (ESD) min.8,5%; índice crioscópico entre -0,530 a -0,545 (BRASIL, 1952, p. 78).
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Ao ser recebido na plataforma é coletada uma amostra do leite entorno de 300ml
para análises físico-químicas. Essa amostra precisa ser homogênea, pois o leite em repouso
apresenta diferença em sua composição (gordura menos densa, fica mais concentrada na
superfície). Depois de realizada a coleta da amostra esta precisa ser levada imediatamente
para a análise, período este que não deve ultrapassar uma hora, caso esse período seja
ultrapassado será necessária a refrigeração e dependendo da extensão do lapso temporal
entre a coleta e a análise, pode ser necessária a adição de técnicas de conservação.
Os testes realizados no leite para a verificação de sua qualidade são: contagem de
células somáticas do leite; contagem de micro organismos do leite; índice crioscópico;
acidez titulável e ph; densidade e estabilidade ao alizarol.
Devido à especificidade do tema proposto apenas o teste de estabilidade ao alizarol
será estudado pormenorizadamente, pois este é o teste conhecido como teste de
plataforma.
4.1 Teste de estabilidade ao alizarol
Antes de compreender como o alizarol é utilizado para a detecção do nível de acidez
do leite, é importante compreender suas especificações químicas. O alizarol é obtido através
da mistura do reagente alizarina com álcool etílico. Carneiro (2010, p. 05) explica que
“alizarina é um corante vermelho derivado da raiz da Rubia tinctorum é também o nome
genérico de uma variedade de corantes, tais como o Verde Alizarina Cianina G e o Azul
Brilhante Alizarina R”. A fórmula química da alizarina é C14H8O4.
O teste com alizarol é conhecido como teste de plataforma por permitir a verificação
da acidez e estabilidade térmica de forma rápida e a um baixo custo.
A estabilidade frente ao álcool é a prova mais simples na recepção do leite em uma plataforma de laticínio. O teste é realizado com a mistura em partes iguais de leite e de álcool 68-75%. Caso ocorra coagulação, a amostra é rejeitada por não ser apta ao tratamento térmico e o leite é considerado como sem estabilidade térmica.De acordo com o a metodologia recomendada pelo Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária (MAPA), a prova do álcool pode ser usada como método rápido para estimar a estabilidade das proteínas do leite durante o processamento térmico, uma vez que um leite produzido com baixa qualidade higiênica pode apresentar redução do pH pela fermentação da lactose em ácido lático, resultando, em uma maior instabilidade da proteína. Nesta prova, o álcool atua como um desidratante e simula as condições de aquecimento. Os resultados podem ser alterados pela interferência de substâncias presentes no leite que alteram o equilíbrio cálcio-magnésio e citrato-fosfóro do leite (OLIVEIRA, 2004, p. 24).
De acordo com a norma 51 o leite em teste deve apresentar estabilidade na
concentração mínima de 72% volume/volume, contudo, é sabido que por diversas vezes
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cooperativas e laticínios recebem leite reprovados no teste de estabilidade ao alizarol o que
demonstra a necessidade da realização de testes mais específicos, citados anteriormente e
tornando evidente a falibilidade do teste ora analisado. No entanto, especialistas como
Santos e Fonseca (2000) defendem que o teste com alizarol é fundamental para a tomadas
de decisão durante o recebimento do leite na plataforma da indústria, principalmente quando
esta produz alguns tipos de derivados lácteos como o leite UAT (BRASIL, 1952).
Segundo Sessa (2008) a prova realizada com alizarol serve principalmente para
determinar o índice de acidez do leite através de colorimetria o procedimento deve ser
realizado com a adição de partes iguais de leite em tubos de ensaio com soluções alcóolicas
de alizarina a 2% e interpretar a cor resultante. A interpretação deve ser feita da seguinte
forma:
Interpretação dos resultados
Cor Interpretação
Vermelho – lilás (tijolo) Sem coagulação – Leite normal – acidez de
16 a 18ºD
Vermelho castanho Coagulação fina – Leite com acidez de 19 a
21ºD
Vermelho coagulado Coagulação mais espessa – Leite com
acidez superior a 21ºD
Violeta sem coagulação Leite Fraudado ou alcalino – leite com
acidez abaixo de 16ºD
Fonte: Sessa (2008, p. 80).
Quanto ao preparo das amostras de acidez Santos e Cunha (2009, p. 04) entendem
que: “o leite de cada compartimento do caminhão é agitado e coletado no tubo de ensaio.
Em seguida é adicionada a mesma quantidade de alizarol e homogeneizado a mistura,
podendo assim observar os resultados”.
5 ENTREVISTA COM UMA EMPRESA DE LATICÍNIOS DO NOROESTE FLUMINENSE SOBRE AS TECNICAS DE PREVENÇÃO E DETECÇÃO DO USO DE CONSERVANTES, NEUTRALIZANTES E RECONSTITUINTES DE DENSIDADE NO LEITE IN NATURA RECEBIDO NA PLATAFORMA
1) Quando o leite in natura chega a plataforma e passa pelas análises de rotina, é
possível detectar conservantes e reconstituintes?
R: Sim, contudo, quando detectado a presença de algum tipo de substância
adulterante, há necessidade de realização de testes mais específicos. E cabe
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mencionar que um trabalho de conscientização no campo tende a levar os
produtores a abandonarem tais práticas.
2) Partindo deste princípio, com relação a pergunta anterior, quais são os tipos de
conservantes e reconstituintes mais acessíveis aos produtores rurais?
R: Cloreto de sódio, antibiótico, água e bicabornato de sódio.
3) Quais as analises que a indústria faz diariamente quando recebe o leite?
R: IN 68, todas as análises.
4) A empresa utiliza-se de qual tipo de orientação a campo aos produtores?
R: Equipes de técnicos agrícolas que visitam e coordenam este trabalho.
5) Uma vez constatada a presença de conservantes e reconstituintes, qual é o
procedimento utilizado pela indústria?
R: É feita uma diluição no produto, e consequentemente é enviado para a empresa
de tratamento de esgoto.
6) Todos os testes de analise deste produto são feitos na empresa, ou envia-se
amostras a algum laboratório? Qual?
R: Enviamos amostras para análise uma vez por mês de todos os produtores para
EMBRAPA.
7) Vocês comercializam o leite UHT ou seus subprodutos? Quais?
R: Os subprodutos tais como: Queijos, manteiga, requeijão, ricota e demais
derivados.
Diante dos conceitos analisados pelo presente estudo até o presente momento
revela-se evidente que a empresa entrevistada, assim como a maioria das empresas que
realizam o beneficiamento de leite no noroeste fluminense seguem as diretrizes do
Ministério da Agricultura garantindo que o produto final seja de qualidade e apto para o
consumo.
6 CONCLUSÃO
O presente estudo observou primeiramente que o início da pecuária leiteira no
noroeste do Estado do Rio de Janeiro se deu através da agricultura familiar que foi se
expandindo até ganhar projeções industriais.
Sobre a qualidade da produção de leite a pesquisa observou que existem diversos
cuidados que devem ser observados principalmente durante a produção de leite, pois a
indústria beneficiadora pode fazer pouca coisa em relação à qualidade do leite. Foi possível
notar que os cuidados se iniciam no processo pré ordenha e vai desde o armazenamento,
transporte até a entrega na indústria para ser beneficiado e a chegada ao consumidor como
produto final.
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Quando o leite é entregue na fábrica e recebe uma série de testes que asseguram a
sua qualidade para o consumo e o mais comum destes é o teste de estabilidade Alizarol que
é realizado ainda na plataforma e verifica a acidez e estabilidade térmica do produto de
forma rápida e a um baixo custo.
Finalmente a pesquisa observou que a norma 51 do Ministério da Agricultura traz a
maioria das orientações a respeito da produção, armazenamento, transporte, verificação e
beneficiamento do leite, e que as empresas do noroeste fluminense seguem essas
orientações para prevenir e detectar o uso de conservantes, neutralizantes e reconstituintes
no leite in natura quando entregue na plataforma das empresas.
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