Passos em Volta - Edição 9 (Março 2016)
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Passos em Volta | 9ª Edição
Passos em Volta
Alexandre Magalhães Vaz
Rafael Martinez Cláudio
José Candeias
Margarida Bessa Monteiro
Tereza Bínová
Raquel Matos
Diogo Vilaça Santos
Alexandre Magalhães Vaz
José Candeias
Paula Cortes
Rafael Martinez Cláudio
Sara Rathenau
Tiago A. G. Fonseca
Rita Alves
Jornal Académico de Psicologia
Fundado por alunos da faculdade em colaboraçãocom a Associação de Estudantes (AEISPA)
Direcção e Edição
Co-Direcção
Revisão e Edição
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Escritores Residentes
Presidente AEISPA
[email protected] | +351 91 406 53 40
Imagem de capa por Sanghyeok Bang
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C O N T A C T O S
ÍNDICE
TEMA DO MÊS: O SILÊNCIO
Por Alexandre Vaz e Tiago A. G. Fonseca
Por Paula Cortes
Por José Candeias
02
RELAXA QUE ENCAIXA11
03
TEMPO, SILÊNCIO
07 SILÊNCIO AOS ABSOLUTOS
INTEGRAÇÃO E INVESTIGAÇÃO EM PSICOTERAPIA
CONVERSAS DIFÍCEIS
ENTREVISTA ANUNO CONCEIÇÃOO DESENVOLVER E OS DESAFIOS DE UMPSICOTERAPEUTA INTEGRATIVO
04
O SILÊNCIO DOS CULPADOSPor Rafael Martinez Cláudio
Por Leonor Matos
09
SER SILÊNCIOPor Sara Rathenau
10
Por Tiago A. G. Fonseca
EM ANÁLISE:COLÓQUIO INTERNACIONAL DE PSICOTERAPIA
12
O SILÊNCIO
J A NUA R Y 2 0 1 6
T E M A D O M Ê S
"O que se pode dizer pode ser dito claramente;e aquilo de que não se pode falar terá de ficar no silêncio."
- Ludwig Wittgenstein
© robert mapplethorpe| 0 1
Tempo, silêncioT e x t o e f o t o g r a f i a s p o r P a u l a C o r t e s
O silêncio é um ser-com, um acordo tácito
entre nós e o outro,
entre nós e as coisas,
entre nós e a palavra.
O que rege o silêncio?
— o tempo.
O rapaz de rosto é o silêncio,
as mãos que se encontram são o tempo.
Há o silêncio que penetra e o que é
penetrado. O silêncio de quem o diz, o
silêncio de quem o ouve.
Em qualquer caso,
o silêncio faz cinema.
Por cima da nossa cabeça,
por cima de nada.
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CONVERSAS DIFÍCEISP o r L e o n o r M a t o s
M é d i c a n o C e n t r o H o s p i t a l a r L i s b o a O c i d e n t a l
Tendo decidido dedicar-me à medicina, e especializar-me em
Oncologia Médica, quase diariamente lido com a inevitável angústia
que surge a par do diagnóstico oncológico. O cancro veio redefinir a
saúde global do século XXI, parecendo ter emergido para dilacerar
famílias, encurtar vidas promissoras, retirar esperança e deixar
sonhos por concretizar. Para os profissionais de saúde que lidam
com a realidade oncológica o verdadeiro desafio é saber comunicar
com o doente e suas famílias ao longo de um percurso por vezes
prolongado e sofrido, repleto de esperança e dignidade. Neste
contexto, a comunicação surge como um conceito
multidimensional, que envolve o diálogo, a componente afetiva e os
comportamentos não-verbais (1), bem como uma habilidade
cognitiva e emocional por parte do médico. A aquisição e o
domínio destas competências revelam-se essenciais nas diferentes
fases da relação médico-doente e permitem que o doente e a
família entendam a doença e sejam capazes de tomar decisões.
Esta relação pode, contudo, assumir diversas formas, tal como
Ezekiel e Linda Emanuel descrevem num artigo da sua autoria (2),
em que destacam aquela que intitularam de “interpretativa”: "O
que é mais importante para si?" e "Quais são as suas preocupações?"
são as questões centrais nessa relação e será a partir das respostas
dadas às mesmas que o médico apresenta ao doente as opções,
ajudando-o a definir as suas prioridades. É aquilo a que os
especialistas chamam de partilha de decisões e de informações,
que contribuirá para uma sensação de controlo e participação ativa,
redução da ansiedade, maior adesão e criação de expectativas
realistas.
Ao longo desta caminhada, talvez uma das fases mais desafiantes
para a relação médico-doente seja a comunicação de más notícias:
o anunciar do diagnóstico, da falha de um tratamento ou da
progressão da doença, carecem de uma linguagem que deve ter
tanto de clareza e realismo como de orientação e compaixão. Foco-
me nesta última virtude, a de viver o sofrimento do outro, pelo seu
carácter humano, que, como descreve João Lobo Antunes (3),
começa a despontar no dia em que, pela primeira vez, ouvimos o
doente sem impaciência nem preconceito, mas com a infinita
ternura do homem pelo homem e do respeito pela situação do
outro. Será este o caminho para a criação de uma ligação de
confiança e proximidade, necessária perante a realidade de que
sabemos cada vez menos sobre os nossos doentes, e cada vez mais
sobre o nosso ramo da ciência.
Porém, no decurso do processo de comunicar más notícias, surgem
frequentemente questões que, apesar de certa maneira
antecipadas pelo médico, o fazem sentir desarmado, a descoberto.
"Quanto tempo me resta Doutor?", "quão má é a situação?".
Perguntas que nos colocam à prova e nos obrigam a fornecer um
prognóstico, a prever um desenlace. E a formulação do mesmo (4)
está longe de ser uma ciência exata e é a porção mais afectiva do
ato médico e uma tarefa de uma incomensurável dificuldade, face à
exigência dos doentes e das suas famílias em que seja precoce,
correto, e, ao mesmo tempo, otimista.
Por vezes surge também a necessidade de assumir que, a certa
altura, chega o tempo de parar. O tempo das decisões dilacerantes,
que corroem e corrompem a malha familiar, ponteada por
emoções contraditórias, desejos presumidos, memórias partilhadas
e de onde desabrocha o cerne da nossa dignidade. Os médicos têm
uma enorme dificuldade em lidar com a morte porque, no seu
íntimo, esta é quase tomada como equivalente a derrota. Como nos
relembra Atul Gawande, a morte não é um fracasso (5). A morte é
normal. Pode ser o inimigo, mas é também a ordem natural das
coisas. Apesar de tudo, no meio do caos, cabe ao médico transmitir
uma mensagem de esperança, quase como uma ritualização do
otimismo, que deve sempre ser munida de uma forte ética dos
valores e das crenças, da compaixão e da finitude (4).
Mas talvez a virtude que mais enalteço e cultivo nos meus doentes,
seja a sua coragem. Já Platão se questionava, num dos seus
diálogos (6), sobre o que seria a coragem, tentando defini-la como
força perante o conhecimento do que se deve temer ou esperar.
Gawande considera serem necessários pelo menos dois tipos de
coragem perante a doença: a coragem de enfrentar a realidade da
nossa mortalidade e a coragem de atuar sobre a verdade com que
nos deparamos (7). Pode-nos parecer complexo e difícil, por não
conseguirmos antecipar o que virá a seguir, mas tal como o autor
conclui, nestes momentos devemos decidir o que realmente nos
importa, se os nossos medos, se as nossas esperanças.
(1) www.cancer.gov/about-cancer/coping/adjusting-to-cancer/communication-hp-pdq#section/_39
(2) Ezekiel J.Emanuel & Linda L. Emanuel, “Four Models of the physician-patient relationship” (1992),
JAMA, 267 (16), 2221 – 2226.
(3) João Lobo Antunes, Ouvir com Outros Olhos, 1ª edição, Lisboa, Gradiva, 2015, p. 30.
(4) João Lobo Antunes , “Prefácio” in Atul Gawande, Ser Mortal, Lisboa, Lua de Papel, 2015,
(5) Atul Gawande, Ser Mortal, p. 23
(6) Atul Gawande,Ob. Cit, p. 225 onde o autor refere o diálogo de Platão.
(7) Ibidem , p. 226.
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entrevista NUNO CONCEIÇÃOPSICOTERAPEUTA, PROFESSOR E INVESTIGADOR NA FP-UL
Psicoterapeuta integrativo, divide a sua vida profissional entre a prática clínica e a carreira
académica, leccionando e investigando na Faculdade de Psicologia, UL.
Principais áreas de investigação: Estratégias e princípios gerais de mudança em psicoterapia;
Tomada de decisão clínica integrativa; Perturbações da Personalidade, Trauma Complexo e
Dissociação (Abordagens transdiagnósticas e transteóricas).
Entrevista por Alexandre Vaz
A decisão de te tornares psicoterapeuta foi algo gradual ou vemjá desde cedo?Quando era puto queria ser piloto de aviação comercial. Depoispassou-me, quis ser arquitecto durante os últimos dois anos dosecundário, na Escola Alemã. Ainda tentei fazer as coisas degeometria descritiva, no primeiro ano, e correu muito bem. Depoisapaixonei-me no segundo, faltei às aulas inicias e como aquilo eratudo encavalitado, perdendo as bases, perdi tudo. Já tinha excluídotodas as opções vocacionais que conhecia. Isto na Escola Alemã,em que não tinha psicologia como disciplina, apesar de ter 11disciplinas no 12º ano.E depois ocorreu-me a ideia da psicologia, não me lembro ao certocomo, mas terá resultado de uma qualquer serendipidade e comonão a tinha tido na escola, estudei-a sozinha com a ajuda de umaex-aluna que tinha feito esse trajecto vocacional. Mas não estava air para psicologia para ser clínico. Interessava-me a compreensãodo comportamento humano, da mente humana, mas psicólogoclínico nada. Depois lá tropecei no Professor [Carlos] Brito-Mendes,que dava psicologia cognitiva e neuropsicologia cognitiva e que nospunha a pensar por nós próprios. Portanto, o que eu queria era serneuropsicólogo cognitivo.
Fazer investigação?Sim, na prática seria mais isso. Portanto, fiquei com muitas raízesdessa área. Depois quando fui para Erasmus em 1996, em Reading[no Reino Unido], tentei fazer o máximo de cadeiras que pude compessoas muito boas dessa área. E vinha todo preparado! Ainda porcima o Brito-Mendes era um lutador, do contra-poder, e tinha estadotoda a vida a criar estrutura para finalmente os seus descendentesaproveitarem. Portanto, aquilo estava tudo montado, com podergenerativo na mão e o gajo morre-me. E eu volto de Erasmus edeprimo. Não clinicamente, mas fico um bocado… Voltar para casados pais, voltar para um curso em que tinha que levar com cadeirasclínicas, o que não me apetecia…, é por aí que emerge uma lufadade ar fresco, que eu não estava à espera nem sabia que existia,que era o Professor [António] Branco Vasco.
Estarias em que ano da faculdade?Eu acho que terei apanhado o Branco Vasco só no 4º ano. Só há
um elemento para trás, não sei precisar quando, quando vi oGood Will Hunting [O Bom Rebelde], sobre o terapeuta de umadolescente… Lembro-me de olhar para aquilo e pensar “bom,isto até é um estilo de vida interessante”. Aquilo fez alguns clicks,mas depois nunca mais pensei no assunto [risos]. Porque eununca quis ser psicoterapeuta. Mas depois, com as aulas doBranco Vasco…
O que é que ele leccionava, na altura?Acho que já dava o que dá hoje, duas cadeiras sobre integraçãoem psicoterapia. Eu ainda tinha um certo fascínio pela parte decognição social só que, na prática, eu ia para aquelas coisas eeram muito secas ou não capturavam a complexidade da clínica,ainda que houvesse toda uma complicação da clínica (maistradicional) da qual eu fugia. E então tive sempre dúvidas. Emantenho sempre algumas comigo. Cheguei a fazer um mini-processo de orientação de carreira lá na faculdade, com aprofessora Rosário Lima, de três sessões magníficas, acabandopor dar oportunidade à psicologia clínica. Depois acabei, tive logoum emprego “de luxo”, no Centro de AconselhamentoUniversitário da FCT da Universidade Nova. Cheguei, deram-meuma sala maior que esta, com o nome na porta, e um ordenadomensal simpático, coisas que eu nem com quatro anos dedocência tive [risos] nos tempos mais recentes ainda que ostempos e o contexto também fossem outros. Foi um início muitobom, mas depois não correu bem. Eu era muito pespineta, vinhacheio de ideias. E às tantas uma paciente borderline fez aquiloque eu chamaria staff splitting e a minha orientadora, que eramuito rogeriana e psicodinâmica, não conseguiu proteger-me eachou que eu e que teria desafiado a sua autoridade e queandaria a fazer coisas erradas, e não fui recontratado. Saio em2000, e acho que começo a dar sessões em 2001 nas avenidasnovas. Começo com uma tarde a meias, com uma colega, depoisuma sala a três, depois mudámos de sítio para duas salas paratrês, e entao trocamos o terceiro elemento do trio e desse trio vimcom uma colega para um espaço maior constituir novo(s) trio(s).
Entretanto fazes formação em psicoterapia na AssociaçãoPortuguesa de Terapias Comportamental e Cognitiva [APTCC].
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Sim, ou seja, essa colega com quem eu começo é uma colega daAPTCC. Os primeiros casos vêm dessas primeiras alianças entreesses colegas e das páginas amarelas [risos]. Começámos muitoinsipidamente, com um, dois ou três casos. Se há músculo que euconstruí devagarinho é este da prática privada, chamo-lhes osmúsculos privados. E sei ensiná-lo, ou seja, a maior parte dosprofissionais institucionalizados não exercitam estes músculos esentem-se tremendamente vulneráveis se a “proteção” institucionaltermina por esta ou aquela razão. Eu nisso sinto-me livre eprotegido na rua.
Portanto, e voltando atrás, há um interesse inicial porinvestigação até que conheces o professor Branco Vasco emudas para a clínica. Em Portugal, és capaz de fazer parte deuma primeira geração de psicoterapeutas que se identificam,desde o primeiro momento, como integrativos.Absolutamente. Estava numa área cognitiva-comportamental naAPTCC e tenho três casos no estágio: uma perturbação evitante depersonalidade muito grave, pelo que fiz algum trabalho cognitivo-comportamental, mas era preciso muito mais do que isso; umapaciente esquizotípica, que só aguentei 6 sessões, depois elasaiu… E era aluna do ISPA [risos]; e a terceira foi uma pacientesuicida. Mas depois, desde então, nunca mais fiz trabalho CBT emexclusivo. Eu levei muito com pacientes borderline desde cedo, foio que me calhou na rifa. E comecei logo a ler muito DBT[Dialectical Behavior Therapy], coisas do [Jeremy] Safran, do[Leslie] Greenberg, do [Paul] Wachtel, da [Lorna] Benjamin … Sãopoucos os livros que tenho lido de uma ponta à outra: é o doGreenberg, do Safran e a DBT. O Branco Vasco foi muitoimportante porque me colocou em contacto com excelenteliteratura no papel e com esses autores nas conferências a quefomos desde 2001!
Ia perguntar isso: há algum livro ou autor que tenha tido umimpacto especialmente decisivo nessa fase inicial?A Marsha Linehan da DBT teve um impacto importante. Mas entreesses cinco, não sei. Quiçá o meu big five. Mas lia muita coisa. Eapreciava a estrutura e sistematização dos autores CBT. Tinhasempre a ideia de que não lia assim tanto, mas quando ia a ver ascoisas estavam sublinhadas... Crescer devagarinho na práticaprivada deu-me muito tempo para ler. E a internet e a minharelação com ela abriram-me muito acesso ao mundo do que havialá fora.
Isso é interessante, porque a DBT tem uma componente forteligada ao mindfulness, e nas tuas aulas na Faculdade dePsicologia não é incomum propores exercícios experienciaisaos teus alunos, inclusive exercícios mindfulness. O teuinteresse por estas práticas começou antes ou durante a tuaformação em psicologia?O interesse surgiu inicialmente pela DBT. Eu ainda apanhei aqueleperíodo em que era difícil ter acesso às coisas, portanto ter osficheiros de áudio de mindfulness da Marsha Linehan era difícil,mas lá tropecei em 7 ou 8 ficheiros de áudio mais experienciais, eisso foi o só ínicio.
E como alguns desses autores estrangeiros, tiveste o teumestre zen?De certa forma, sim, só que ele ainda não sabe. Às tantas tropeceinum recurso online, que é gratuito apesar de aceitardonativos, que são as palestras do Gil Fronsdal. É um professor
que dá palestras semanais algures na Califórnia, e que depois asdisponibiliza. E o que eu uso nas aulas é tudo dele. Para mim,neste momento, é como se ele fosse meu professor. Nunca fiznenhum retiro, não faço questão de fazer. Nunca fiz muito aquelesexercícios experiencias, mas ouvi, ui!, uns 10 anos de palestras,mais de mil e uma horas certamente. E essas palestras foram umaforma de ir entrando devagarinho, que é aquilo que eu acredito quefaz sentido para dar aos alunos. Para ficar com um cheirinho, parafazer uns clicks mentais.
No nosso sistema pedagógico e de formação depsicoterapeutas, sentes que existe uma lacuna na formaçãomais experiencial?Sim, acho que se pensarmos no caminho do ponto de vistaacadémico e profissional, na APTCC, esse treino está a crescer. OBranco Vasco por exemplo tem tentado introduzir isso um pouco,ao introduzir pequeninas coisas, mas eu não apanhei nada disso.Fiz muita terapia pessoal desde 2001, na minha geração já houveuns quantos a não terem dúvidas que era importante fazer terapiapessoal. Diria que uma das coisas que mais que estruturou, até emprática privada, foi fazer terapia pessoal desde muito cedo. Abriconsultório, e abri também terapia pessoal. Já fiz três processos:um super longo, de 7 ou 8 anos, depois um de 3 anos, e agora umque está com meio ano. E tenho mais de mil horas de supervisãoem cima. Paralelamente também sempre consultei um osteopataintegrativo mensalmente. E mais recentemente Pilates, Yoga ebicicleta. Corpo e Mente precisam de afinação regular nestetrabalho...Às tantas no meu percurso, fiz um projecto de investigação comterapeutas de um dos modelos em que tropecei, AEDP[Accelerated Experiential Dynamic Psychotherapy], que conhecinuma daquelas pesquisas na internet antes dele surgir, mas só nosúltimos anos me aproximei mais dele. Eu já tinha aprendido muitacoisa, mas sentia uma certa lacuna em mim, enquanto terapeuta,que era: eu às vezes sou bom a tolerar terrenos pouco férteis.Precisava de saber humedecer isto, sentia que não tinhaferramentas para trabalhar defesas agilmente. Eu segurava osmeus pacientes quase todos com perturbação de personalidade,mas daí a fazer certo trabalho experiencial, não conseguia. Edepois, com a ajuda da AEDP, comecei a ver alguns desses aderreter defesas, e faço um projecto de investigação a entrevistarterapeutas sobre o que é que os motivou para irem aprender aAEDP, como é que aprenderem, como é trabalhar dentro domodelo e como é que isso os transforma. Ora, estou eu atranscrever e cotar entrevistas, e é unanime que todos dizemcoisas do tipo “trabalhar assim cansa muito menos, dá-me muitomais energia”.
É energizante.É. E eu, neste momento, se estou aborrecido tomo isso como ummarcador para fazer tracking de um conjunto de coisas a que tenhode dar atenção. Enquanto que antes era capaz de estar uma horaum tanto esvaziado. E aguentava e tolerava, mas isso cansava-me.Eu hoje consigo fazer 5 boas sessões e estar fresco que nem umaalface. Nem sempre consigo, mas já consigo! Às vezes não me épossível. Mas eu já sabia que uma boa sessão não pode cansar.Eu sabia isto, e vivia isto. A questão é que havia muitas sessõesque deixavam pegada emocional e até corporal, também porquetinha de cuidar de imensas perturbações de personalidade.Portanto, por um lado, implica treino de acuidade perceptiva. Aindaontem reservei avião para ir a Estocolmo fazer mais treino nesta
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área. Neste momento também estou a fazer terapia por facetime
neste modelo AEDP, e ao fim de tanta terapia é bom ter algumasexperiências que nunca antes tive como paciente, mesmo comuma terapeuta da minha idade. E sim imagino que seja valiosoreforçar a formação, para que as coisas também estejam maisancoradas na experiência emergente, que ainda não se conhece,na descoberta do momento para além daquilo em que já se sabeou que se acha que se sabe ou que já se reflectiu ou está areflectir. E isto, numa psicologia a duas pessoas, quer face aopróprio quer face ao outro.
Voltando às questões de integração em psicoterapia, muitaspessoas começam num qualquer modelo e avançam, depois,para a integração. Acreditas ser possível, eventualmente,criar uma formação de base integrativa, desde o primeiromomento?Não tenho duvida alguma. Sou um produto dessa possibilidade.
Como é que achas que seria o programa de uma (aindainexistente) Sociedade de Terapia Integrativa?Não poderia ser Sociedade de Terapia Integrativa mas deIntegração em Psicoterapia. Não existe uma terapia integrativa.Integração será sempre um processo mesmo que queiramosdeixar sair produtos relacionados com esse processo para omercado. Acho que existem, antes de mais, algumascompetências ou faculdades centrais, algumas estratégiasinterventivas que são transversais. Por exemplo, meta-comunicação e meta-processamento, que todos podem aprender.Dessensibilização sistemática, todos podem aprender. Validaçãoe desafio, todos podem aprender. Flexibilização cognitiva ouexposição todos podem aprender. São só exemplos. Tem muito aver com a forma como aprendi a cozinhar, com o livro de receitasbásicas da Vaqueiro [risos]. A sério, eu acho que a formação emintegração deve ser feita dessa maneira. Eles ensinavam umareceita básica, por exemplo “arroz cozido”. E depois a “variante1” e “variante 2” – arroz com ervilhas…
Criando um mapa conceptual.Abrias para dois lados, e eventualmente para o infinito. Agoraimagina isto para tudo. “Meta-comunicação”, receita básica. Eassim sucessivamente. Depois, os trabalhos do [Marvin]Goldfried em “estratégias gerais”. E uma linguagem clara. Não énada fácil limpar jargão, mas é possível. Depois ouvir muito ospacientes, que também limpam muito a linguagem.
O treino empático…Sim, essa é também uma das “receitas básicas”.
Os processos diagnósticos, ainda te fazem sentido?Ainda bem que perguntas isso. Não sei. Uso cada vez menos enoto cada vez menos a sua influência no processo integrativo detomada de decisão clínica. O diagnóstico de processo, o micro-tracking e macro-tracking, em contrapartida, fazem-me cada vezmais sentido. Mas eu aqui tenho dúvidas, do ponto de vista daformação, porque eu aprendi muito por perturbações específicas.Mas aproveitando a boleia da palavra diagnóstico, diria que umdos possíveis contributos para tal formação da tal sociedade deraiz pode ser o das abordagens transdiagnósticas, do ponto devista dos mecanismos que as próprias perturbações partilham,
para além das abordagens ou processos de intervençãotransteóricos que o movimento integrativo foi explicitanto ao longodos últimos 30 anos. Processos transdiagnósticos do génerovulnerabilidades ao nível da regulação emocional, intolerância àincerteza, ao mal estar, processos de atenção, memória,evitamento experiencial, etc. Seria muito importante nessaformação dotar os formandos de uma diferenciação esclarecidasobre o que são marcadores de processo ou de processamento nopaciente sobre os quais podemos escolher intervir desta oudaquela maneira, desde que diferenciada e esclarecida também.
Os “factores comuns” entre perturbações.É, é. O termo factores comuns costuma ser usado noutrocontexto, do lado transteórico, mas porque não. Estão nestemomento criadas as condições para diálogos entre o que écomum e o que é especifico quer entre perturbações quer entreformas de intervir nelas, com contributos valiosos em cadaquadrante.
Para terminar, para alguém interessado pela integração empsicoterapia, queres-nos deixar com uma referência básicaque sirva de porta de entrada para esse mundo?Talvez o mais simples seja começar pela dupla constituída porHandbook of Psychotherapy Integration e respectivo Casebook ofPsychotherapy Integration [editado por John Norcross e MarvinGoldfried], para ter logo um banho de imersão na diversidade. Deresto, só me ocorre agora sobre pressão a expressão budista “Idon’t know”, e com dúvidas me despeço.
Obrigado, Nuno.
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P O R J O S É C A N D E I A S
S I L Ê N C I O A O SA B S O L U T O S
Aconteceu mais um atentado em solo europeu,desta feita, Bruxelas. Já quase tudo foi dito sobreo assunto e eu vou escusar-me de repetir ospensamentos preconcebidos que são debitadossempre pelas mesmas pessoas após tragédiascomo esta. Quero apenas contribuir com umpensamento simples, desconcertante e bemhumorado de um dos meus filósofos preferidos,Robert Anton Wilson. Para o RAW qualquerquestão de extremismo ideológico é também umaquestão de semântica. Ele afirmava ter a curapara o extremismo, apesar de não saberexactamente como a aplicar. A cura é o simplesaumento na frequência de utilização de umapalavra em qualquer discurso extremista.
A palavra em questão é “talvez”. Passo aexplicar: Alguém que no seu discurso internodiga e acredite que: “Allah é o único Deus, a suapalavra é verdadeira e a única forma de eu entrarno céu é derramar sangue em seu nome!” énitidamente alguém pronto a matar. Masimaginemos que o discurso passar a ser: “TalvezAllah seja o único Deus, a sua palavra talvez sejaverdadeira e o único caminho para entrar no céutalvez envolva derramar sangue em seunome!”. Neste caso torna-se claro que locutordeste discurso não sentirá tanta vontade depegar num explosivo e coloca-lo num metro emnome do Deus que talvez seja verdadeiro. Aincerteza é um processo autodestrutivo para acegueira ideológica. E num Universo incerto detantas maneiras diferentes, uma boa dose deconstante incerteza é essencial para manter asanidade.
Encontramos no paradigma de Albert Ellisintersecções interessantes para esteraciocínio. Albert Ellis foi um dos pioneiros dapsicologia cognitiva e o paradigmaque desenvolveu para psicoterapia possui
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enquanto um dos pilares a destruição de absolutoscognitivos que prejudiquem a vida do paciente.Para exemplificar este paradigma em acçãoimaginemos um artista chamado PintassilgoPereira. O Pintassilgo quer muito desenhar umquadro de um pato a jogar basketball (não julguem oquadro sem o ver). O Pintassilgo conseguevisualizar o quadro na sua cabeça e tem muitavontade de o pintar. Mas ele tem um problemarecorrente em todas as suas jornadas artísticas:Perfeccionismo exuberado. O Pintassilgo não querapenas que o seu quadro seja perfeito. O quadrotem que ser perfeito; e caso o quadro não saiaperfeito aos seus olhos isso servirá como mais umaprova que ele é um artista de merda que não servepara nada e que não tem jeito para pintar. E o medointenso de confrontar o cenário em que o quadronão sai perfeito, cenário que confirmaria as suassuspeições que é um artista fraco, faz com que oPintassilgo acabe por não o pintar. E com o passardo tempo qualquer pintor que nunca pinte sejaporque motivo for acaba por não treinar os seusskills e piorar.
Ora, para Albert Ellis o problema aqui surgeexactamente nos absolutos: “O quadro tem que serperfeito; e se não for, eu sou uma merda”. Isto é umacrença que pode ser demonstrada enquantoirracional de diversas formas (o que é a perfeição,oh Pintassilgo? porque é que um quadro imperfeitote faz um mau pintor?). No entanto éimportante distinguir o seguinte: O problema paraEllis não se encontra em Pintassilgo querer o
quadro perfeito. É perfeitamente saudável que opintor queira que o seu quadro saia o melhorpossível. O problema surge quando o desejo setorna num absoluto: O quadro ter que ser perfeito!Deste absoluto surge a ansiedade que acaba porbloquear a própria acção de pintar. Uma parteconsiderável do paradigma do Ellis passa entãopor atacar estas crenças absolutas e desconexascom a realidade que todos nós transportamos nasnossas perturbadas mentes.(Penso não ser necessário explicar airracionalidade nas crenças associadas aoextremismo islâmico. Toda a gente consegue verque estão erradas! As crenças metafísicas do meucaro leitor, essas sim, são verdadeiras eindubitáveis.)
O paralelismo entre o RAW e o Ellis não écoincidência. Ambos foram beber ao grandemestre Alfred Korzybski e a sua obra-primaScience and Sanity. “O mapa não é o território” éuma das frases mais citadas deste académico; eum mantra que visa nos recordar que numterritório em constante mudança qualquer mapaque não seja constantemente revisto eactualizado para acompanhar as transformaçõesserá um mapa cada vez com menos contacto com arealidade. Por falar nisso, o Pintassilgo no outrodia relatou-me de um estranho sonho que teve.Nesse sonho, relatou-me ele, sentiu-se como setalvez quisesse aniquilar o seu pai e talvezsentisse desejo de copular com a sua figuramaternal. O que poderá isto significar?…
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PSICOCRIMINOLOGIA
O Silêncio dos Culpados
Repetem-se os gritos abafados
pela mão férrea de um governo
que esmaga os governados.
Perante eles urgem as palavras
que não chegam, os rostos que
não se mostram, os olhares que
se escondem. Cada dia que um
homem passa na cadeia pelo
único crime de pensar, é um
dia em que também nós, cada um
de nós, sucumbe a uma pena
violenta. As correntes que
agrilhoam os activistas de Angola
repetem-se nos nossos pulsos e
quando as olhamos com mais
atenção entendemos que nelas se
confunde a dor do prisioneiro e a
agrura do carrasco.
Por Rafael Martinez Cláudio
Sentimos no corpo o toque
gelado do ferro que nos
encarcera no nosso próprio
silêncio. O silêncio dos que se
conformam perante um poder
maior escrito em riscos
monetários. Em cada palavra
que deixamos por dizer somos
cúmplices de todos os crimes
que cabem no nosso silêncio.
Em cada silêncio que
permitimos, o nosso crime
eterniza-se e cada dia tem o
peso de uma porta que se fecha
em estrondo para todos os que
têm a ousadia de não se calar.
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S E R S I L Ê N C I O
Ela participou em retiros de silêncio integradosnuma formação de natureza budista. Descreveu oseu primeiro momento em silêncio de três dias, coma existência de interacção não verbal. Afirmou que aprimeira fase de um encontro deste cariz éentendida "como uma espécie de ressaca" onde oritmo de falar e interagir com o outro desaparece.Com o passar do tempo, a linguagem não verbaltorna-se cada vez mais subtil, deixando de sernecessária. Um dia de retiro é passadomaioritariamente sentado em silêncio a observar econtemplar o redor, ainda que existam momentosem que a observação é feita em movimento. Elasentiu que em silêncio, os processos internos (comovozes críticas e insights) tornaram-se mais claros.Considera que a experiência de não verbalizar éfeita de forma individual. Existem indivíduos quetendem a deprimir, outros que enfatizam o exterior,outros que salientam os processos internos e aindaexistem alguns casos relatados de surtos psicóticos.Ela frisou a necessidade de uma avaliação eacompanhamento inicial, pois o suporte da fala criauma estrutura de interacção com o mundo que ao serretirada pode levar o sistema defensivo a colapsar.Esclareceu que o objectivo por trás do silêncio éhabituar a mente a observar sem filtros.
"And the vision that was planted in my brainstill remains within the sound of silence."
Paul Simon
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P O R S A R A R A T H E N A U
Conversa com Ela -Alguém que experienciou
Pensar é estar em suspensão.O silêncio é a suspensão da palavra que outrorafora pensamento.
Ela relatou uma dificuldade inicial no regresso aoquotidiano, como se tratasse de um"bombardeamento" de informação, onde aspessoas se comportam e comunicam num ritmofrenético.Após a sua primeira experiência, Ela percebeu quea ausência de palavras não impede a existência decomunicação com o mundo. O silêncio passou a serum recurso de auto-regulação.
Conversa com Joaquim Caeiro -Alguém que organiza
Joaquim organiza retiros de silêncio desde Marçode 2012 e segundo a sua óptica, este tipo deencontros surge com o intuito de aceder ao “eumais intimo”, “à real lembrança do que somos”.Disse que, à medida que organiza mais momentosdesta natureza, percebe que a única forma de levaras pessoas ao centro de si mesmas é o silêncio.Num retiro de silêncio, a alimentação évegetariana e chega a ter, consoante o grupo,momentos de jejum. Existem vários exercíciosespecíficos associados às condições emocionais eevolutivas do grupo, incluindo caminhadasdiurnas e noturnas. Considera que num retiroexistem alguns momentos chave: o primeiro équando se interrompe a comunicação verbal, osegundo passa pela necessidade de comunicar deforma não verbal e só ao fim de algum tempo é quese corta com qualquer tipo de comunicação.Joaquim citou: “O silêncio é a expressão mais livrede todo o meu ser”.
RELAXA QUEENCAIXAI n tegração e I nves t igação em Ps ico te rap ia
R U B R I C A
Hayes, S. C. (2004). Acceptance and commitment therapy, relational frame theory, and the third wave of behavioraland cognitive therapies. Behavior therapy, 35(4), 639-665.
Hill, C. E., Thompson, B. J., & Ladany, N. (2003). Therapist use of silence in therapy: A survey. Journal of clinicalpsychology, 59(4), 513-524.
Winnicott, D. W. (1989). Holding and interpretation: Fragment of an analysis. Grove Press.
Quando foi a última vez que estiveram emsilêncio com alguém?Lembrem-se de ocasiões em que o silênciofoi tenso, desconfortável.E, agora, de um momento em que o silênciona presença de um outro - mesmo que difícil-, se tenha traduzido num lugar seguro,acolhedor, íntimo.
O silêncio em psicoterapia pode ser tudoisso. Ora, escrevemos hoje sobre o que nosparece ser um "factor comum" inegável: osilêncio em psicoterapia.
Chamamos de "factores comuns" aosingredientes em psicoterapia que,independentemente do modelo utilizado(psicanalítico, cognitivo...), são transversaisna sua importância - por exemplo, aempatia, congruência e aceitaçãoincondicional por parte do terapeuta. Osfactores comuns são o sine qua non dequalquer terapia. E o silêncio é um sine quanon da nossa profissão.
A relação entre psicoterapeutas e silênciosem terapia é longa e, como não será deadmirar, começa com insights vindos dapsicanálise. Escreve Winnicott (1989): "nãofalar é um processo activo". Entre outrascoisas, a nossa incapacidade de atribuirpalavras à experiência é, por si, umaexperiência válida e relevante para oprocesso psicoterapêutico.
Poder-se-ia achar que as terapias maisexploratórias e orientadas para o insightseriam as únicas interessadas no usoterapêutico do silêncio. Esta ideia,infelizmente, tem um raiz histórica válida,
Por Alexandre Vaz e T iago A . G. Fonseca
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já que o modelo cognitivo clássico, porexemplo, via o silêncio como uminterregno entre trabalho terapêutico útil.Felizmente, modelos cognitivos maisrecentes entendem não só ainevitabilidade como a necessidade dosilêncio, como processador emocionalpoderoso (Hayes, 2004).
Por vezes, a nossa fobia ao silêncio, talcomo a fobia mais geral de experienciar omomento presente, acaba por "falar maisalto". Por outro lado, terapeutas maisexperientes sabem que o silêncio poderáser um dos melhores modos de transmitirempatia, incentivar a exploraçãoemocional e a tomada de responsabilidadedo cliente (Hill et al., 2003).
E por isso, acima de tudo, o combate àfobia do silêncio. A nossa cultura encaramuitas vezes o silêncio como algorelacionalmente pejurativo: um sinal defalta de tema, de abandono, desconfortoou indiferença. Não é de admirar que, comesta indotrinação sociocultural, jovensterapeutas sintam que mais vale uma frasemal formulada que um silêncio"constrangedor". Mas o silêncio é, acimade tudo, um processo inevitável dacomunicação. A sua riqueza não-verbal éaquilo que, por vezes, esteve sempre emfalta na vida da pessoa à nossa frente.
Vale a pena perguntarmo-nos: que medosinto ao permanecer em silêncio?E será possível que, em certas ocasiões, osilêncio pode ser o melhor modo detransmitir empatia e aceitação pelo outro?
EM ANÁLISE:
O colóquio que decorreu no passado mês noISPA-IU teve uma importância imensa noparadigma da psicologia clínica e dapsicoterapia em Portugal. Foram muitos ospainéis existentes e a discussão mostrouque o paradigma estava a ser posto emcausa. Não o vejo como algo negativo, poissó entendo a psicologia como elemento dediscussão e que apenas evolui dessa forma.E, neste sentido, o colóquio mostrou-secomo muito proveitoso. Quando me refiroao paradigma, refiro-me à forma de criareventos estruturados, de determinadaorientação e para determinado público,ao invés desta aposta, num evento de váriasabordagens de base, todas com focointegrativo, para todos os públicos. Épreciso não ter medo de pôr em causa, dediscutir a eficácia e eficiência, e isso foi feito.
Como em tudo, existiram painéis onde pudeconcordar mais do que em outros oumesmo, em formas de integrar diferentes deoutras ou, ainda, em conclusões retiradasque não o pareciam, de todo, concluídas. Dequalquer forma, este é o caminho para sepensar a psicoterapia integrativa, como algoque se vai criando em si mesmo e seactualizando, não fosse a utilização do que énecessário para cada pessoa o foco daintegração em psicoterapia.
É preciso perceber-se que o psicólogo queintegra, tanto ou mais o pode fazer quantofor o seu conhecimento da arte. Não se podeencaixar o que não se conhece e se seapenas conhecer algo reduzido, a minhaintegração não será muito ampla e aspossibilidades não serão, então, muitas. Ocolóquio possibilitou abrir o espectro dasabordagens e das aplicações, percebendo o
Por T iago A . G. Fonseca
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que pode ser integrado em cada situaçãodescrita, com novas abordagens e formasde integrar diferentes.
Ser integrativo passa por isto: actualizaros conhecimentos de forma a poderpensar sobre eles, discutir o que funcionaou não, porque funciona ou não, o quedeve ser alvo ou não, qual o impacto ounão - tudo em torno da psicoterapiadirigida a uma pessoa. É por isso que estesencontros se mostram tão importantes,pois de entre vários psicólogos epsicoterapeutas, nacionais einternacionais, de diversas orientaçõesteóricas de partida para a psicoterapia, dediversas opiniões e aplicações daintegração, o resultado foi um aprofundardo pensamento integrativo.
O conhecimento que cada um leva para asua integração em contextopsicoterapêutico marca, de formaprofunda, o que é a sua forma de estar emterapia. Dos percursos que ouvi, dasopiniões e aplicações, dos estudos einvestigações, houve pontos que retireipara mim como mais afirmativos para omeu percurso integrativo e outros que mepareceram fugir à essência da integração.Mas não é isto que é integrar? Perceber,compreender, pensar e interpretar, o maispossível de uma vasta gamapsicoterapêutica para que, no momentoem que for preciso, para a pessoa que oprecisar, eu possa ser melhor psicólogo,melhor pessoa, para esta pessoa.
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Passos em Volta
Jornal de Psicologia