Passo a Passo 77 - learn.tearfund.org/media/files/tilz/publications/... · em alguns países,...
Transcript of Passo a Passo 77 - learn.tearfund.org/media/files/tilz/publications/... · em alguns países,...
Os quatro pilares da segurança alimentarO conceito de segurança alimentar pode ser
dividido em quatro áreas principais:
■ disponibilidade de alimento
■ acesso ao alimento
■ qualidade e valor nutritivo do alimento
■ estabilidade na provisão de alimento.
Os governos e as organizações de desenvolvi-
mento que desejam melhorar a segurança
alimentar devem considerar a possibilidade de
realizar atividades em todas estas áreas.
DISPONIBILIDADE DE ALIMENTO
É essencial que as pessoas tenham alimento
suficiente disponível para a sua sobrevivência.
Freqüentemente não há terra suficiente
disponível para prover alimento para os
habitantes locais. Isto ocorre, em parte, porque
a terra está sendo usada para beneficiar as
pessoas dos países do hemisfério Norte,
como, por exemplo, para cultivar alimentos,
forragem ou biocombustível. Quando não há
alimento suficiente disponível, este precisa
ser importado. Em algumas situações muito
difíceis, as pessoas dependem de assistência
alimentar.
ACESSO AO ALIMENTO
Às vezes, as pessoas não têm acesso a
alimento mesmo quando este está disponível
no país. Este é um problema específico das
famílias pobres sem acesso a terra. Há dois
aspectos importantes do acesso ao alimento:
■ Acesso econômico As pessoas precisam
ter dinheiro para comprar alimento e
insumos agrícolas. Os preços dos alimentos
também afetam a capacidade das pessoas
de comprá-los. Os preços dos alimentos são
influenciados por fatores locais e globais,
inclusive o impacto das secas nas colheitas,
políticas governamentais e acordos
comerciais.
■ Acesso físico As pessoas podem morar
longe do mercado, ou a falta de segurança
Houve progresso na melhoria da segurança
alimentar em alguns países, em termos
globais. Entretanto, a situação ainda é grave
em alguns países, especialmente na África
Subsaariana e na Ásia Meridional. Embora a
pobreza seja a principal causa da insegurança
alimentar no mundo, existem questões
específicas que tornam as pessoas pobres
ainda mais vulneráveis. Entre elas, estão:
■ a mudança climática
■ HIV
■ conflito
■ má governança política e econômica.
Melhoria da segurança alimentar Dra. Ruvimbo Mabeza-Chimedza
Gy
an
u K
um
ar
Sh
ak
ya
Sh
are
and
Car
e N
epal
O alimento é uma alta prioridade para se ter uma vida totalmente produtiva.
A segurança alimentar existe quando as pessoas têm alimento básico sufi ciente
o tempo todo para lhes prover calorias e nutrientes a fi m de levarem uma vida
totalmente produtiva. Quando se pergunta às pessoas pobres qual é a maior
prioridade para elas e suas famílias, a resposta geralmente é: alimento. O primeiro
Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (ODM) é “erradicar a pobreza extrema e
a fome”. Este objetivo é essencial para alcançar os outros sete ODMs.
Leia nesta edição
3 Editorial
4 Aprendendo com um povoado exemplar
6 Cartas
7 Criação de bancos de cereais
8 Gestão natural de pragas
10 Promovendo mercados efi cientes
12 Agricultura de conservação na Zâmbia
13 Estudo bíblico
14 Melhoria da nutrição na Bolívia
15 Recursos
16 Hortas fl utuantes
Passo a Passo 77Março 2009 http://tilz.tearfund.org/portugues SEGURANÇA ALIMENTAR
2
■ choques internos, como a perda de renda
ou doença.
Principais questões a considerarHá algumas questões importantes que afetam
o desempenho dos quatro pilares.
BOA GOVERNANÇA POLÍTICA
E ECONÔMICA
Muitas organizações agora incluem o direito
individual ao alimento como parte do seu
trabalho de defesa e promoção da boa
governança. Isto pode consistir em:
■ assegurar um bom planejamento e bons
programas para a segurança alimentar
■ ajudar as pessoas mais pobres após
choques, como aumentos nos preços ou
más colheitas
■ assegurar que o alimento não seja usado
como arma de guerra ou opressão
■ combater a corrupção para que os
recursos escassos sejam direcionados
para a produção de produtos alimentícios
essenciais ao invés de artigos de luxo para
os ricos
■ assegurar que as regras e os acordos
comerciais sejam justos, de maneira a
apoiar os pequenos agricultores.
HIV
Existe uma forte relação entre o HIV e a
segurança alimentar. As pessoas que vivem
com HIV devem comer alimentos de alto valor
pode impedi-las de viajar. Elas podem não
ter acesso a transporte ou pode haver
obstáculos físicos, como a má qualidade
das estradas, uma ponte danificada ou
uma estrada que foi levada pelas águas.
QUALIDADE E VALOR
NUTRITIVO DO ALIMENTO
O alimento precisa ser seguro para ser
ingerido e de boa qualidade nutritiva. A boa
nutrição é importante para o cresci mento
e para a saúde. Se a pessoa tiver acesso a
alimento bom e suficiente, água potável,
saneamento e cuidados de saúde, as
necessidades básicas do seu organismo
serão satisfeitas.
A boa nutrição é especialmente importante
para as crianças. Contudo, a fome e a
subnutrição matam milhares delas todos
os anos. Nestas situações, os programas de
alimentação infantil e as distribuições de
alimentos voltadas para as crianças são um
aspecto importante de qualquer resposta.
ESTABILIDADE NA PROVISÃO
DE ALIMENTO
As famílias e os indivíduos devem ter
acesso a alimento o tempo todo, sejam
eles frescos ou armazenados. Entretanto, às
vezes, há situações que podem afetar esta
estabilidade. Estas podem ser:
■ choques externos, como secas,
inundações, conflito ou má governança
política e econômica
1 Qual dos quatro pilares mais afeta a segurança alimentar na sua comunidade ou no seu país?
2 Há assistência alimentar no seu país? Que soluções sustentáveis existem? (Por exemplo, veja o
artigo sobre bancos de cereais na página 7.)
3 É difícil para as famílias pobres terem acesso a alimento mesmo havendo alimento disponível
suficiente? Quais são os motivos disso? O que poderia ser feito para ajudá-las a terem
alimento suficiente para comer?
4 Quanto conhecimento nutricional os habitantes locais possuem? O que poderia ser feito para
aumentar este conhecimento?
5 Faça uma lista dos choques externos que afetam as pessoas local e nacionalmente. De
que maneira seria possível lidar com alguns destes choques? Que sistemas poderiam ser
organizados para evitar que os choques naturais tenham um grande impacto na segurança
alimentar? (Por exemplo, veja o artigo sobre hortas flutuantes na página 16.)
6 Você ou outras pessoas na comunidade são afetados pelo HIV? De que maneira o HIV afeta a
segurança alimentar? O que pode ser feito para reduzir os efeitos?
7 Quais práticas agrícolas locais são prejudiciais para o meio ambiente? Que outras opções há?
(Por exemplo, veja o artigo sobre agricultura de conservação na página 12.)
8 Quais são as questões de gênero relacionadas com a segurança alimentar na sua comunidade
ou no seu país? O que precisa ser feito para empoderar as mulheres? De que maneira os
homens podem apoiar as mulheres para garantir a segurança alimentar familiar?
9 De que maneira as pessoas responsáveis pelas decisões podem ser influenciadas para garantir
que o direito das pessoas a alimento seja respeitado no seu país?
Questões para discussão
A Passo a Passo é uma publicação trimestral que
procura aproximar pessoas em todo o mundo
envol vi das na área de saúde e desenvolvimento. A
Tearfund, responsável pela publicação da Passo a
Passo, espera que esta revista estimule novas idéias
e traga entusiasmo a estas pessoas. A revista é uma
maneira de encorajar os cristãos de todas as nações
em seu trabalho conjunto na busca da integração
das nossas comunidades.
A Passo a Passo é gratuita para aqueles que
promovem saúde e desenvolvimento. É publicada
em inglês, francês, português e espanhol. Donativos
são bem-vindos.
Os leitores são convidados a contribuir com suas
opiniões, artigos, cartas e fotografias.
Editora: Rachel Blackman
Tearfund, 100 Church Road, Teddington,
TW11 8QE, Reino Unido
Tel: +44 20 8977 9144
Fax: +44 20 8943 3594
E-mail: [email protected]
Site: http://tilz.tearfund.org/portugues
Subeditora: Rebecca Dennis
Editora – Línguas estrangeiras: Helen Machin
Administradoras: Judy Mondon, Sarah Carter
Comitê Editorial: Babatope Akinwande,
Ann Ashworth, Steve Collins, Paul Dean, Mark
Greenwood, Martin Jennings, John Wesley Kabango,
Sophie Knapp, Ted Lankester, Huw Morgan,
Mary Morgan, Nigel Poole, Naomi Sosa
Design: Wingfinger Graphics, Leeds
Tradução: L Fernandes, E Frias, A Hopkins,
M Machado, F Mandavela, W de Mattos Jr, S Melot,
N Ngueffo, G van der Stoel, S Tharp, E Trewinnard
Relação de endereços: Escreva, dando uma
breve informação sobre o trabalho que você faz
e informando o idioma preferido para:
Footsteps Mailing List, Tearfund, 100 Church Road,
Teddington, TW11 8QE, Reino Unido.
E-mail: [email protected]
Mudança de endereço: Ao informar uma mudança
de endereço, favor fornecer o número de referência
mencionado na etiqueta.
Direitos autorais © Tearfund 2008. Todos os direitos
reservados. É permitida a reprodução do texto da
Passo a Passo para fins de treinamento, desde que os
materiais sejam distribuídos gratuitamente e que a
Tearfund Reino Unido seja mencionada como sua
fonte. Para qualquer outra utilização, por favor, entre
em contato com [email protected] para obter
permissão por escrito.
As opiniões e os pontos de vista expressos nas
cartas e artigos não refletem necessariamente o
ponto de vista da Editora ou da Tearfund. As infor-
ma ções técnicas fornecidas na Passo a Passo são
verificadas minuciosamente, mas não podemos
aceitar responsabilidade no caso de ocorrerem
problemas.
A Tearfund é uma agência cristã de desenvolvi-
mento e assistência em situações de desastre, que
está formando uma rede mundial de igrejas locais
para ajudar a erradicar a pobreza.
Tearfund, 100 Church Road, Teddington,
TW11 8QE, Reino Unido.
Tel: +44 20 8977 9144
Publicado pela Tearfund, uma companhia limitada,
registrada na Inglaterra sob o No. 994339
Organização sem fins lucrativos sob o No. 265464.
PASSO A PASSO 77
Passo a Passo ISSN 1353 9868
3
segurança alimentar
nutritivo para se manterem saudáveis. A boa
nutrição também é vital para as pessoas que
tomam medicamentos anti-retrovirais. Mesmo
quando há disponibilidade de alimentos numa
família afetada pelo HIV, também pode haver
subnutrição. Isto ocorre porque as doenças
relacionadas com o HIV podem diminuir
o apetite e a capacidade do organismo de
absorver nutrientes.
Como o HIV tende a afetar os adultos
produtivos, ele causa um impacto enorme na
segurança alimentar. Isto pode ocorrer devido:
■ à debilidade da pessoa para trabalhar ou
cultivar a terra
As pessoas precisam ter um bom acesso a alimentos.
■ à morte de familiares produtivos
juntamente com o seu conhecimento e
suas habilidades agrícolas
■ à diminuição dos recursos que podem ser
usados para comprar alimentos, devido
aos gastos com cuidados com a saúde ou
funerais.
As pessoas que vivem com HIV devem
ser incentivadas a cultivar alimentos que
exijam menos trabalho físico, como árvores
frutíferas, para se prepararem para quando a
sua doença piorar.
CRESCIMENTO LENTO NA AGRICULTURA
Em muitas regiões do mundo, há um cresci-
mento lento ou até retrocessos na agricultura.
Em muitos países, embora a maioria das
pessoas sejam agricultores, elas não são
capazes de produzir alimento suficiente
para alimentar toda a população. Assim,
alguns países têm de importar alimentos ou
depender de assistência alimentar.
Em muitos países, a fome e a subnutrição são
maiores nas regiões rurais do que nas urbanas,
apesar de a maioria das pessoas viverem em
regiões rurais e se sustentarem através da
agricultura. Vários estudos realizados na África
Subsaariana constataram que o crescimento
no setor agrícola tem um impacto muito
maior na redução da pobreza e da fome
do que o crescimento urbano e industrial.
Portanto, o aumento e a diversificação da
produtividade agrícola são muito importantes
para se enfrentar o desafio da insegurança
alimentar. Uma área que precisa ser
melhorada é a irrigação. Quase metade do
alimento mundial é cultivada com o uso de
técnicas de irrigação. Porém, estas técnicas
atualmente são muito ineficientes.
Para melhorar a produtividade agrícola, os
problemas ambientais precisam ser resolvidos.
Embora as pessoas que vivem nas regiões
rurais tenham conservado muito do ambiente
rural por muitos anos, as pressões cada vez
maiores causadas pela fome e pelo aumento
populacional forçaram-nas a realizar algumas
práticas agrícolas que estão prejudicando o
meio ambiente. A mudança climática está
aumentando a probabilidade de perda das
colheitas e de insegurança alimentar.
IGUALDADE DE GENERO E
EMPODERAMENTO DAS MULHERES
Freqüentemente as mulheres são as principais
responsáveis pela segurança alimentar. Em
muitos países, as mulheres contribuem com a
maior parte da mão-de-obra para a produção
de alimentos. As mulheres também são
responsáveis pela maior parte do processa-
mento e da preparação de alimentos. Elas
garantem a alimentação e a nutrição das
crianças e de todos os outros membros da
família.
Contudo, as mulheres raramente recebem
tanto apoio agrícola quanto os homens, como,
por exemplo, empréstimos e serviços de
extensão agrícola. Assim, elas não produzem
tanto alimento quanto poderiam para as suas
famílias.
Os governos e as organizações devem
considerar as questões de gênero relacionadas
com a segurança alimentar para que haja
progresso.
A Dra. Ruvimbo Mabeza-Chimedza trabalha como
consultora independente. Ela é especializada em
segurança alimentar e meios de sustento.
E-mail: [email protected]
EDITORIALNesta edição da Passo a Passo, examinamos tópicos importantes
relacionados com a segurança alimentar e maneiras práticas de
melhorar a situação. Na página 10, consideramos a importante
relação entre os agricultores e os comerciantes. Há também artigos
sobre bancos de cereais (página 7), gestão natural de pragas (página
8), agricultura de conservação (página 12) e hortas fl utuantes
(página 16).
Esperamos que esta edição forneça ferramentas para ajudar nossos
leitores a aumentarem a sua própria segurança alimentar e a das
pessoas a quem servem.
As futuras edições estarão voltadas para a migração e a gestão dos
riscos diários.
O alimento é uma necessidade e um direito
humano básico. Se não tivermos alimentos de boa
qualidade sufi cientes, adoeceremos e acabaremos
morrendo. Contudo, o número de pessoas
sub nutridas pelo mundo continua a crescer.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação, 850 milhões de pessoas em todo o mundo são afetadas
pela insegurança alimentar, das quais 820 milhões vivem em países em
desenvolvimento.
A partir de meados de 2007, o preço dos alimentos e do combustível
subiu consideravelmente. Por todo o mundo, em países como Burquina
Faso, Haiti e Indonésia, houve tumultos e protestos contra os aumentos
nos preços dos alimentos. Os efeitos da mudança climática, tais como
as secas e as inundações, também estão aumentando a insegurança
alimentar, e a situação provavelmente fi cará pior no futuro.
Rebecca Dennis
Subeditora
Mik
e W
eb
b T
earf
un
d
PASSO A PASSO 77
4
desenvolvimento comunitário
O distrito de Mugu fica na região do
Himalaia no Nepal. Somente cinco por cento
das terras do distrito podem ser usados
para a agricultura. Isto se deve aos declives
íngremes, à má qualidade do solo, ao clima
seco e ao desmatamento resultante da
pressão para a utilização das florestas como
combustível, forragem e materiais para fazer
camas para animais. Em média, cada família
só consegue cultivar alimento suficiente para
si própria por um período de quatro a seis
meses por ano. Algumas famílias de casta
baixa cultivam consideravelmente menos do
que isso, especialmente as famílias dalits (os
chamados “intocáveis” no sistema de castas
hindu). As famílias dalits freqüentemente
vivem em isolamento e formam as suas
próprias comunidades. Elas são excluídas
dos rituais sociais e do acesso à floresta
comunitária e às terra comuns. A maioria
dos dalits não possui terras ou possui um
pequeno terreno. Eles geralmente trabalham
nas terras dos outros em trabalho escravo.
Estabelecimento do programa
A United Mission to Nepal (UMN) trabalha
com a comunidade dalit desde 1999. Em
2004, ela estabeleceu uma equipe em
Mugu para procurar resolver as causas
fundamentais da pobreza. A equipe
trabalhou com organizações locais para
realizar uma avaliação da situação social e
econômica em Mugu.
Uma organização local, o National Dalit
Development Forum (NDDF – Fórum
de Desenvolvimento Nacional Dalit), foi
escolhida para a parceria. Seu trabalho
estava voltado para a defesa e a promoção
dos direitos dos dalits. A UMN realizou
uma série de discussões com o NDDF e a
comunidade dalit para decidir o que poderia
ser feito. Eles decidiram implementar um
“povoado exemplar” – um programa que
empoderaria a comunidade dalit para
que alcançasse a segurança alimentar. O
povoado dalit, de Tallighuire, composto
por dezenove famílias, foi escolhido para
Declives íngremes, má qualidade do solo, um clima seco e o desmatamento dificultam o cultivo.
UM
N
Aprendendo com um povoado exemplar Um programa abrangente para lidar com a
insegu rança alimentar num povoado dalit, no Nepal
Luma Nath Adhikari
participar do programa. Os funcionários da
UMN ajudaram o NDDF e os representantes
da comunidade a elaborar e implementar
um plano de ação.
O programa foi elaborado de forma
abrangente, concentrando-se não
somente nas questões alimentares, mas
considerando também os fatores sociais,
econômicos e educacionais que contribuem
significativamente para a pobreza das
famílias dalits. Os principais componentes
do programa foram:
■ promoção das culturas alimentares e de
hortaliças
■ cuidados veterinários e gestão animal
■ criação de um viveiro e plantio de árvores
■ vacinação e serviços de planejamento
familiar
■ melhorias no saneamento
■ poupança e planos de crédito
■ educação comunitária
■ treinamento mais detalhado dos
líderes comunitários sobre alguns dos
componentes do programa, de maneira
que o trabalho pudesse ser sustentável.
A educação não formal era um ponto
de entrada fundamental para se atingir
a comunidade dalit, especialmente as
mulheres, além de ser útil para alcançar
outros componentes do programa. O
componente educativo inicialmente
concentrou-se nas habilidades de ler e
escrever, gradualmente ampliando-se
de forma a incluir a educação prática e o
oferecimento de bolsas de estudo para
crianças dalits. Nas aulas para adultos,
os participantes aprenderam sobre
planejamento familiar, saneamento, saúde
infantil, higiene, vacinação e nutrição,
assim como gestão doméstica e questões
ambientais. As pessoas que participaram das
aulas gradualmente começaram atividades
Todos os resultados do
programa contribuíram para reduzir a pobreza
de maneira integrada
PASSO A PASSO 77
5
desenvolvimento comunitário
em grupo relacionadas com poupança,
saneamento do povoado e campanhas sobre
questões relativas à comunidade Dalit.
O papel da UMN
O NDDF assumiu a responsabilidade
por supervisionar a implementação do
programa, enquanto que a UMN prestava
apoio ao NDDF. Este apoio consistia em
desenvolver a capacidade em atividades
de desenvolvimento técnicas e na gestão
organizacional. Os métodos utilizados foram
a provisão de mentores e treinamento aos
funcionários do NDDF, visitas freqüentes
às comunidades e treinamento sobre
contabilidade, transparência e boa
governança.
A UMN prestou apoio aos funcionários do
NDDF no planejamento e na implementação
do programa de povoado exemplar das
seguintes maneiras:
■ Ajudando-os a realizar avaliações na
comunidade e dentro da organização.
■ Apoiando-os no desenvolvimento do
programa com a comunidade e as
organizações locais.
■ Criando vínculos com doadores em âmbito
local, nacional e internacional.
■ Ajudando-os a revisar o processo e
os resultados para garantir o impacto
sustentável na comunidade e a capacidade
organizacional contínua.
■ Incentivando-os a registrar e compartilhar
o que aprenderam com organizações
de desenvolvimento e agências
governamentais.
Resultados
O programa consistiu numa série de
atividades que direta ou indiretamente
contribuíram para a segurança alimentar no
âmbito familiar.
■ Cada família agora possui uma horta.
■ A multiplicação de sementes das
principais culturas alimentares, especial-
mente de milho e trigo, contribui para a
maior produção de alimentos.
■ A introdução de plantações e práticas de
gestão de terras em declive diminuiu a
erosão do solo.
■ Foi criado um viveiro de árvores, e foram
plantadas árvores frutíferas.
■ São criadas cabras e galinhas, as quais são
usadas como fonte de renda.
■ As melhores práticas de gestão animal
e o serviço veterinário diminuíram a
mortalidade dos animais.
■ Todas as pessoas sabem explicar a
importância básica da nutrição, da saúde
e da higiene.
■ Todas as crianças freqüentam a
escola, e as mulheres que estão sendo
alfabetizadas sabem ler e escrever.
■ As mães estão cientes da vacinação, e há
mais crianças sendo vacinadas.
■ A auto-estima das mulheres e de outros
membros da comunidade dalit aumentou.
Agora, os dalits têm participação igual nos
encontros da comunidade e tomam chá
com pessoas de outras castas em lugares
públicos. Eles são incluídos nos fóruns
políticos e são representantes de comitês
de gestão escolar.
■ Devido ao foco do NDDF na defesa e
na promoção dos direitos dos dalits,
as pessoas da comunidade agora se
sentem capazes de visitar organizações
de desenvolvimento e agências
governamentais para solicitar serviços
variados.
O programa foi extremamente bem-
sucedido em garantir a segurança alimentar.
As famílias agora sentem que têm mais
controle sobre os suprimentos de alimentos
e conseguem gerir melhor a sua segurança
alimentar.
Todos os resultados do programa
contribuíram para reduzir a pobreza
de maneira integrada. Do ponto de
vista do desenvolvimento sustentável,
muitos pequenos esforços contribuíram
para uma grande mudança. O sucesso
e a sustentabilidade do programa têm
mais a ver com o empoderamento das
pessoas do que com as atividades em
si ou os resultados muito imediatos.
Muitas outras comunidades do distrito de
Mugu inspiraram-se e estão planejando
implementar um programa semelhante.
Luma Nath Adhikari é o Consultor-Chefe de Soberania
Alimentar para a United Mission to Nepal.
PO Box 126
Kathmandu
Nepal
E-mail: [email protected]
Site: www.umn.org.np
UM
N
O milho é uma das culturas mais comuns.
1 É importante garantir a participação da
comunidade desde o início do programa.
A liderança da ONG local, o NDDF,
ajudou a criar um senso de apropriação
dentro da comunidade.
2 O “povoado exemplar” foi idealizado
como um programa abrangente, cujo
objetivo era ter resultados imediatos, que
pudessem ser diretamente observados
pelos membros da comunidade. Isto
ajuda a aumentar a auto-estima.
3 Para a sustentabilidade de longo prazo
do programa, foi importante que a
UMN desenvolvesse a capacidade do
NDDF, tanto em questões técnicas de
desenvolvimento quanto em gestão
organizacional. O desenvolvimento
desta capacidade deve ser de longo
prazo (de cinco a sete anos se
necessário). As revisões regulares e
a disposição para fazer mudanças
com base nas lições aprendidas,
garantem que o desenvolvimento da
capacidade seja relevante e eficaz.
Lições aprendidas
PASSO A PASSO 77
6
Extração de óleoEstou escrevendo a respeito da carta de
Abbé Kussa, na Passo a Passo 75. Ensino
tecnologias agrícolas apropriadas no Instituto
de Treinamento Agrícola na Zâmbia. De acordo
com a minha experiência, a melhor forma de
extrair o óleo da Jatropha curcas (também
conhecida como pinhão-manso) é usar uma
prensa de óleo manual. Na Zâmbia, ela se
chama prensa de óleo “yenga” e custa cerca
de US$250. É possível prensar até 50kg de
sementes por dia.
Este é o processo:
1 Aqueça as sementes de Jatropha no sol ou
num forno. Isto facilita a extração do óleo.
2 Coloque as sementes pré-aquecidas na
máquina e extraia o óleo.
3 Para purificar o óleo não refinado, misture-
o com água (uma parte de água para cinco
partes de óleo). Ferva a mistura até que a
água tenha evaporado (quando todas as
bolhas tiverem desaparecido). Deixe a
mistura se sedimentar por várias horas, até
o óleo ficar transparente. Cuidado para não
se queimar.
4 O óleo também pode ser purificado
com um filtro ou deixando-se o óleo não
purificado parado por vários dias.
Lembre-se de que o óleo é venenoso e não
deve ser ingerido, pois pode causar vômito e
diarréia.
Aswelo Tembo
Agricultural Training Institute
PO Box 620272
Kalomo
Zâmbia
NOTA DA EDITORA Os biocombustíveis podem
contribuir para a insegurança alimentar se a terra
for usada para culturas destinadas à produção de
combustível ao invés de culturas alimentares. Uma
solução é ter culturas que produzam alimento e
também resíduos que possam ser usados para a
produção de biocombustível, como o sorgo doce.
Construção da pazGostaria de agradecer-lhes pela Passo a Passo
75. Senti-me realmente desafiado pela edição
inteira, mas principalmente pelo artigo na
primeira página, sobre a construção da paz em
Uganda. “Paz” é uma palavra simples de usar,
mas difícil de pôr em prática, principalmente
na África. No meu próprio país, o Quênia,
dizemos ter promotores da paz, especialmente
após a agitação que ocorreu após a recente
eleição geral. Entretanto, em minha opinião,
embora tenhamos baixado as armas, o conflito
continua no coração das pessoas.
Obrigado por me atualizar sobre o trabalho de
construção da paz que está sendo realizado no
mundo.
Agapetus Mathew Wamalwa
c/o St. Catherine of Siena Parish
PO Box 230
00621 Village Market
Nairobi
Quênia
E-mail: [email protected]
Ouvindo as criançasTornar-se um bom comunicador, especial-
mente com as crianças, é uma experiência
muito rele vante. É importante que os
adultos aprendam a ouvir as crianças,
suas preocupações, suas histórias, seus
medos e seus desejos. Isto é especialmente
importante para as crianças que vivem em
situações difíceis e estressantes, pois lhes
oferece um bom apoio. As crianças sentem-
se confiantes quando podem falar sobre
os seus sentimentos e preocupações com
outra pessoa. Não devemos negligenciar
nossas crianças. Devemos ouvi-las e, assim,
aprenderemos mais.
Joël Kiramba
Coordenador da APEDI
E-mail: [email protected]
NOTA DA EDITORA Obrigada por sua carta
e por levantar uma questão importante. Tenha
cuidado para não perder a confiança da criança
se ela contar informações confidenciais, a menos
que haja risco de perigo ou abuso. Pergunte à
criança se ela gostaria que você fizesse algo em
relação ao que ela lhe contou, mas lembre-se de
nunca fazer promessas que não pode cumprir.
Gre
enle
af
Ajudando criançasTrabalho para a Inspiring Future
Foundation, uma organização infantil
local, no leste de Uganda. Ajudamos
crianças órfãs e vulneráveis a terem
uma vida melhor, trabalhando lado
a lado com a comunidade. Em junho
de 2008, fizemos um levantamento
participativo das necessidades de 15
famílias de crianças órfãs e vulneráveis.
O levantamento mostrou-nos a
necessidade de estabelecer um centro
comunitário de bem-estar infantil
para ajudar a mobilizar a comunidade
para responder às necessidades das
crianças. Os funcionários do centro
poderiam ser voluntários da Inspiring
Future Foundation ou membros da
comunidade. O centro também poderia
ser usado como local de encontro para a
comunidade.
Gostaríamos de entrar em contato com
leitores da Passo a Passo que possuam
conhecimento e experiência em
estabelecer e gerir um centro comunitário
de bem-estar infantil.
Patrick Ejiku
Fundador e Administrador-Chefe
de Desenvolvimento de Recursos
Inspiring Future Foundation
PO Box 824
Soroti
Uganda
E-mail: [email protected]
PASSO A PASSO 77
CARTAS Notícias ■ Opiniões ■ Informações
Por favor, escreva para: The Editor, Footsteps, 100 Church Road, Teddington, TW11 8QE, Reino Unido E-mail: [email protected]
Esta é a versão brasileira da Passo a
Passo. Se preferir receber a versão
africana no futuro, por favor, avise-nos
pelo e-mail [email protected]
7
mobilização da igreja
Os membros das igrejas locais perceberam
que a assistência de emergência não era
uma boa solução para os problemas de
segurança alimentar, pois mantém as
comuni dades dependentes de pessoas de
fora. Assim, eles decidiram ajudar suas
comunidades a estabelecerem bancos de
cereais comunitários. Isto foi feito com a
ajuda do departamento de desenvolvimento
e assistência em situações de desastre da
UEEPN (Union des Églises Évangéliques
Protestantes du Niger). Estes bancos
acumulam um estoque de cereais para
atender as necessidades básicas nas entres-
safras, especialmente quando as colheitas
são más ou os preços subiram muito.
Estabelecimento dos bancos de cereais
Para aumentar a apropriação comunitária, a
UEEPN garantiu o seguinte:
■ Que a comunidade pudesse escolher os
bancos de cereais como solução para os
seus problemas.
■ Que a comunidade recebesse treinamento
sobre como manter e gerir o banco de
cereais.
■ Que os membros participassem, como, por
exemplo, ajudando a construir o banco de
cereais.
■ Que as mulheres e as crianças
participassem ativamente do trabalho.
■ Que a igreja local, como motivadora
dentro da comunidade, estivesse
envol vida em todas as etapas do
estabelecimento dos bancos de cereais.
O trabalho envolveu várias partes
interessadas:
■ Membros da comunidade, que eram
responsáveis por estabelecer um comitê
de gestão, protegendo os cereais contra
roubo e pragas, vendendo os cereais a
preços moderados e investindo a renda
numa conta bancária.
■ Representantes das igrejas locais, que
monitoravam a utilização dos bancos de
cereais.
■ Funcionários da UEEPN, que organizavam
uma campanha de informação e conscien-
tização e treinavam os membros do
comitê de gestão.
■ As autoridades locais, que monitoravam
a qualidade das operações dos bancos
de cereais, garantindo que as vendas e os
sistemas de empréstimos funcionassem
de forma eficiente e que os regulamentos
fossem respeitados.
■ Doadores, que financiavam os estoques de
cereais durante o primeiro ano do projeto.
Operação dos bancos de cereais
Uma vez que os bancos de cereais estavam
construídos, eram fornecidos estoques de
cereais para o primeiro ano de operação.
A comunidade escolhia os sistemas que
gostaria de usar para obter os cereais nas
entressafras. Há dois sistemas principais, e
ambos são geridos pelo comitê de gestão.
O sistema de empréstimo Cada família
pega emprestado um saco de cereais, o qual
é devolvido após a colheita juntamente
com juros e uma taxa de administração. As
decisões sobre juros e taxas são tomadas
pela Assembléia Geral do povoado.
O sistema de vendas A Assembléia
Geral fixa o preço dos cereais de acordo
com o preço de mercado, o qual pode ser
determinado a partir do custo da compra
dos estoques iniciais. Cada pessoa pode
comprar uma quantidade específica de
cereais. O comitê de gestão investe a renda
numa caderneta de poupança num banco ou
numa cooperativa.
O objetivo é que, depois de seis anos, cada
banco de cereais dobre o seu estoque, de
maneira que seja possível abrir outro banco
de cereais numa outra comunidade.
Resultados
Alguns dos bancos de cereais não foram
bem-sucedidos. Isto ocorreu principalmente
porque os bancos de cereais não eram uma
prioridade para o povoado ou devido à
má gestão. Em alguns casos, as mulheres
estavam mal representadas nos comitês de
gestão, e os membros do comitê não eram
alfabetizados e, assim, não podiam manter
registros. Portanto, o bom treinamento e o
apoio aos comitês de gestão são essenciais.
Entretanto, em muitas comunidades, os
bancos de cereais conseguiram garantir a
segurança alimentar nas entressafras. Por
terem acesso a alimento, os membros da
comunidade são capazes de trabalhar nos
seus próprios campos ao invés de traba-
lharem noutros lugares para ganhar dinheiro.
O preço dos alimentos é regulamentado, e a
capacidade dos membros da comunidade foi
fortalecida. Como a igreja local foi envolvida
durante todo o processo, as atitudes em
relação à igreja melhoraram.
Abdoul-Azize Sarki trabalha como Coordenador de
Programas para o departamento de desenvolvimento e
assistência em situações de desastre do UEEPN.
BP 2630
Niamey
Níger
E-mail: [email protected]
A economia do Níger depende principalmente da agricultura. Entretanto, nos últimos
30 anos, a seca e os problemas ambientais resultaram em más colheitas. As pessoas
pobres têm pouco para comer na entressafra, o que as tem forçado a deixarem seus
campos para ganhar dinheiro ou abandonarem completamente as áreas rurais.
Jo K
hin
ma
un
g T
earf
un
d
An
dy
Atk
ins
Tear
fun
d
Um banco de cereais familiar na região em que o
UEEPN trabalha.
Pequenos armazéns de cereais no povoado de Tougana,
no Níger.
Criação de bancos de cereais Abdoul-Azize Sarki
PASSO A PASSO 77
8
agricultura
Controle natural de pragas
PREDADORES■ PÁSSAROS Alguns pássaros comem
pragas de insetos. Os pássaros podem
ser atraídos para o local, colocando-se sementes
para passarinhos ou plantando-se plantas que produzam
sementes que eles gostem de comer, mas que não sejam
úteis para o agricultor.
■ ANIMAIS A maioria dos pequenos animais comem insetos
e outras pragas. Por exemplo, os sapos comem milhares de
insetos por mês, inclusive as larvas de mariposas, lesmas,
formigas e lagartas. As aranhas comem muitas pragas
de insetos, e as cobras comem roedores. Estes pequenos
animais podem ser atraídos plantando-se plantas que
eles gostem de comer ou oferecendo abrigo natural para
protegê-los contra outros predadores.
■ INSETOS Alguns insetos são bons predadores porque
comem outros insetos. Um bom exemplo disso é a joaninha.
As joaninhas só comem afídeos, como o pulgão, e não
comem insetos benéficos. Elas podem comer 40–50 afídeos
por dia, e suas larvas podem comer ainda mais. É possível
incentivar os predadores de insetos plantando-se, nas
proximidades, certas plantas ou flores benéficas para eles.
PLANTAS■ O cultivo companheiro é uma maneira
eficaz de controlar as pragas. Ele consiste
em organizar diferentes plantas em fileiras
alternadas. Por exemplo, plantando-se
melões ao lado de rabanetes, os besouros
não passarão pelas fileiras de melões,
porque não gostam do gosto dos
rabanetes.
■ Certas plantas podem ser usadas para
afastar as pragas. Por exemplo,
plantar cebola e alho ao redor
da cultura afasta os insetos,
porque eles não gostam do
cheiro.
“Gestão natural de pragas” é um método
de controle de pragas que não usa produtos
químicos. Ao invés disso, são usados outros
insetos, pássaros, animais, plantas ou técnicas
manuais.
Os pesticidas químicos têm muitas desvantagens.
Embora eliminem a praga, eles também matam muitos
insetos úteis para a cultura e podem poluir o solo e os
suprimentos de água e fazer com que as pessoas adoeçam.
Os benefícios dos pesticidas químicos diminuem com
o tempo, à medida que as pragas se tornam resistentes
a eles. Assim, o pesticida mata as pragas mais fracas,
deixando que as mais fortes procriem e produzam uma
nova geração imune ao pesticida.
Gestão natural de pragas Artigo compilado por Rebecca Dennis
O que é uma praga?Uma praga é um inseto ou animal que causa danos a uma planta ou
cultura. É possível que um inseto ou animal seja uma praga numa
situação e benéfico noutra. Há pragas de todos os tamanhos e feitios.
Aqui estão algumas pragas comuns e os problemas que elas causam:
■ Brocas, que enfraquecem a planta, tais como o cupim e a broca de
haste no milho
■ Afídeos, que perfuram a folha ou a haste e sugam a seiva,
enfraquecendo a planta e propagando a doença
■ Besouros, gorgulhos e lagartas, que comem folhas. (No entanto, é
importante lembrar que as borboletas são úteis para a polinização.)
■ Gafanhotos, que mordem a parte superior das mudas
■ Pragas constituídas por animais maiores, como macacos, ratos e
pássaros (por exemplo, pombas e gralhas), que comem sementes e
plantas.
PASSO A PASSO 77
9
agricultura
PESTICIDAS NATURAISÉ possível criar pesticidas com ingredientes naturais. Por
exemplo, as lagartas e os afídeos podem ser controlados
com um borrifo de folhas de mamão. Para fazer o borrifo:
■ Pique 1kg de folhas frescas e deixe de molho em dez
litros de água, adicionando duas colheres de sopa de
querosene e um pouco de sabão.
■ Deixe por pelo menos duas horas (ou de um dia para
o outro).
■ Retire as folhas e use o borrifo imediatamente.
Mais idéias de pesticidas naturais
podem ser encontradas na
Passo a Passo 54.
CONTROLES MECÂNICOSOs controles de pragas mecânicos são muito simples de
colocar na prática. Eles podem consistir em:
■ Pegar com a própria mão os insetos grandes das
plantas. Este método é eficaz para pequenos terrenos,
antes que a praga procrie, mas não é uma solução
prática para campos grandes.
■ Levantar barreiras para proteger as plantas, como, por
exemplo, colocar redes para evitar que os pássaros
as biquem e cobrir as frutas para protegê-las
contra as moscas-das-frutas.
■ Usar armadilhas como ratoeiras, armadi lhas
pegajosas para insetos ou armadilhas
para caracóis e lesmas
(feitas com uma
mistura de água
e levedura).
Aprendendo sobre pragas
Antes de decidir que método de controle de pragas usar, é
importante aprender sobre a praga. Seria um erro desperdiçar
tempo e dinheiro controlando um inseto ou um animal quando
ele nem está incomodando a planta.
Identifi que a praga Por exemplo, se houver buracos
nas folhas, examine a planta em diferentes horas do dia
para ver se consegue encontrar a praga em ação. Pode
ser útil conversar com vizinhos e agricultores locais para
descobrir que pragas são comuns no local.
1
Aprenda sobre a praga Aprenda sobre o seu ciclo
de vida, alimentação e inimigos naturais. Muitas vezes,
há um estágio no seu ciclo de vida em que é mais fácil
controlar a praga, como, por exemplo, eliminando os
ovos antes que os insetos saiam deles. Uma praga pode
ser controlada retirando-se a sua fonte de alimento ou
introduzindo-se inimigos naturais (predadores). Para
obter estas informações, converse com os agricultores
locais e agentes de extensão ou veja se há livros numa
biblioteca local.
2
Monitore o comportamento da pragaA praga aparece numa certa estação? Ela se encontra
em toda a planta ou toda a cultura ou em apenas alguns
lugares? A praga está aumentando ou diminuindo em
número?
3
Decida quando agir Lembre-se de que todos os
insetos fazem parte do ambiente natural e de que não
devemos tentar perturbar o equilíbrio natural, a menos que
seja necessário. Só vale a pena investir dinheiro no controle
de pragas, se o custo dos danos causados pela praga for
maior do que o custo para controlá-la.
4
Avalie o efeito Depois de usar um método de
controle natural de pragas, avalie os seus efeitos. Você
usará o método novamente para esta praga ou deve usar
outro? O método afetou outros insetos? Isso foi bom ou
ruim?
5
PASSO A PASSO 77
10
marketing
As organizações agora estão voltando a
se interessar pelo desenvolvimento e pela
economia rural. Estes esforços foram estimu-
la dos pela preocupação com o aumento
dramático nos preços dos alimentos, os quais
causaram tumultos em muitos países em
2008, e pela ameaça da mudança climática
para a segurança alimentar.
O marketing agrícola é uma questão
fundamental, que precisa de atenção para que
as economias rurais sejam restabelecidas.
Mudando as atitudes para com os comerciantes
Quando os problemas de suprimentos de
alimentos surgem, as pessoas geralmente
reclamam dos intermediários, acusando-os de
ganhar dinheiro à custa das pessoas famintas.
Embora haja exploração e trapaça, nem todos
os comerciantes são desonestos. Ao fazerem
um julgamento apressado, as pessoas,
muitas vezes, não entendem a situação dos
comerciantes:
■ Muitos comerciantes de pequena escala
também são pobres.
■ Os comerciantes são responsáveis por
transportar os alimentos para o mercado,
o que pode ser arriscado. Os preços podem
cair depois que o comerciante comprou os
produtos do agricultor, e as estradas de má
qualidade podem danificar os alimentos
durante o transporte. É necessário tempo
e esforço para transportar produtos, e
as mulheres comerciantes enfrentam o
problema adicional do assédio.
■ Deve-se admitir, porém, que, às vezes, os
agricultores também trapaceiam!
Os comerciantes são vitais para a cadeia
que liga os agricultores aos consumidores,
e sua importância precisa ser mais
bem compreendida pelos agricultores,
consumidores e formuladores de políticas.
Por exemplo, eles podem fornecer
informações, crédito, e contribuições em
lugares não alcançados pelos agentes de
extensão governamentais. Além disso, sem
os comerciantes, os mercados funcionam
com menos eficácia, e todos sofrem: os
agricultores obtêm preços mais baixos, os
consumidores pagam preços mais altos, há
menos alimento disponível, e a qualidade do
alimento pode ser má. A falta de confiança
entre os compradores e os vendedores pode
ameaçar a segurança alimentar.
Desenvolvendo a cooperação entre os agricultores e os comerciantes
Quando as políticas de desenvolvimento
governamentais não conseguem alcançar
as regiões rurais, os comerciantes têm o
potencial para ajudar o desenvolvimento
local usando o sistema mercantil. A
expansão dos mercados agrícolas pode
ajudar a oferecer financiamento local,
processamento de alimentos e empregos.
À medida que os mercados agrícolas se
expandem, as associações comerciais que
começaram a se desenvolver podem assumir
a responsabilidade pela regulamentação
A agricultura tem sido negligenciada por muitos governos e organizações nas
últimas duas décadas. A maioria das políticas de desenvolvimento promoveu o
amplo crescimento econômico na esperança de que isso trouxesse benefícios gerais.
Entretanto, de acordo com o Relatório de Desenvolvimento Mundial de 2008,
esta abordagem fracassou em muitos países – as desigualdades aumentaram, e
muitas das pessoas mais pobres, que, na maioria, moram nas regiões rurais, não se
encontram numa situação melhor do que há 20 anos.
Promovendo os mercados efi cientes Nigel Poole
Há muitos anos, os comerciantes ganenses compravam tomates de Burquina Faso e entregavam-nos
na capital, Accra. Ao contrário dos agricultores ganenses, os agricultores de Burquina Faso permitiam
que os comerciantes classificassem e selecionassem os tomates que queriam comprar. Isto permitia
que os comerciantes escolhessem os tomates que conseguiriam sobreviver à viagem para a capital.
Tinha sido prometido aos agricultores ganenses que uma fábrica de processamento local com praria
os seus tomates. Infelizmente, a fábrica de processamento ainda não estava funcio n ando. Como os
comerciantes preferiam comprar seus tomates de Burquina Faso, os agricul tores não conseguiram
vender seus tomates e eles começaram a apodrecer nos campos. Os agricultores começaram a
protestar violentamente contra os comerciantes.
Para resolver a disputa, o Conselho de Segurança local, a Associação Nacional de Comerciantes de
Tomates de Gana e o vencedor do prêmio de Melhor Agricultor Nacional de 2006 organizaram um
encontro entre os comerciantes e agricultores. Os agricultores desculparam-se pelo seu comporta-
mento, e foi feito um acordo entre os dois lados. Os comerciantes concordaram em comprar
uma grande quantidade de tomates do norte de Gana se os agricultores permitissem que eles os
classificassem e comprassem apenas os tomates de melhor qualidade. Foi formado um comitê de
comerciantes e agricultores para negociar os preços a cada semana. Foi formado também outro
comitê para resolver quaisquer discórdias que houvesse entre os agricultores e os comerciantes.
Desde o encontro, as atividades do comércio de tomates estão mais bem organizadas, os
comerciantes não têm de viajar longas distâncias, e as relações entre os agricultores e comerciantes
melhoraram.
Estudo de caso de Gana
A expansão dos mercados
agrícolas pode ajudar a
oferecer financiamento
local, processamento de
alimentos e empregos
Vendedora de cebolas em Burquina Faso.
Lay
ton
Th
om
pso
n T
earf
un
d
PASSO A PASSO 77
11
marketing
dos mercados e pelo controle das práticas
exploratórias.
O Royal Tropical Institute e o International
Institute of Rural Reconstruction recente-
mente publicaram um livro intitulado
Trading Up, que conta a história de agricul-
tores africanos e como a cooperação
ajudou a beneficiar a todos. Ele mostra
como criar uma compreensão mútua entre
os agricultores e os comerciantes através
da busca de soluções conjuntas para os
problemas comerciais de ambos os grupos.
Princípios fundamentais
Alguns princípios emergiram dos estudos de
caso do livro:
■ ORGANIZAÇÃO Os agricultores e
comerciantes precisam se organizar para
melhorar seus negócios. As decisões da
maioria dos agricultores e comerciantes
individuais são muito pequenas para
fazer diferença. Porém, juntando-se a
amigos e vizinhos, eles poderão se apoiar
mutuamente para fortalecer habilidades,
compartilhar tecnologias, combinar
produtos e serviços, aprender sobre as
demandas do mercado, obter acesso a
financiamento e negociar com os clientes.
■ COMPREENSÃO Os mercados só
funcionam bem se todas as pessoas
envolvidas na cadeia respeitarem os
papéis e as necessidades dos outros. Os
agricultores devem compreender que
os comerciantes são vitais para que os
produtos cheguem até os consumidores
e para fornecer insumos como sementes,
fertilizantes e medicamentos veterinários.
Os comerciantes devem compreender
que os agricultores precisam de boas
condições mercantis para fornecer
os alimentos necessários e que a eles
também devem ser pagos preços justos.
■ ESPECIALIZAÇÃO Os agricultores
nem sempre são bons comerciantes;
os comerciantes geralmente não são
agricultores bem-sucedidos. Uma vez
que os comerciantes e agricultores
reconhecerem a importância dos papéis
uns dos outros, eles poderão economizar
tempo concentrando-se no que realmente
fazem bem e melhorando a qualidade dos
seus produtos e serviços.
■ COORDENAÇÃO À medida que
os agricultores e comerciantes se
especializam, suas atividades precisam
estar ligadas. As informações são
importantes para que os agricultores
produzam o que os consumidores
querem e os comerciantes forneçam os
insumos e o crédito de que os agricultores
precisam. É muito importante que estas
atividades ocorram no momento certo.
Por exemplo, se o fertilizante chegar tarde
demais, isso afetará a colheita. Para ligar
estas atividades, é essencial que haja
comunicação e boas relações de trabalho.
■ PARCERIA A etapa final do trabalho em
conjunto é criar uma visão compartilhada
e um plano de ação conjunto para
identificar novas oportunidades de
mercado e superar os problemas juntos.
Os agricultores e comerciantes poderiam
fazer lobby junto ao governo local para
obter estradas melhores e bancas de
mercado e para o fornecimento de
eletricidade para desenvolver empresas
de processamento. Pode ser possível
introduzir ou mudar as leis locais sobre
como os mercados devem operar e
como os contratos são feitos entre os
compradores e os vendedores.
O Dr. Nigel Poole é o Diretor de Programas Acadêmi-
cos de Agronegócio para o Desenvolvimento em:
SOAS Centre for Development, Environment and
Policy and London International Development Centre,
University of London
High Street, Wye
Ashford, Kent
TN25 5AH, Reino Unido
E-mail: [email protected]
Este artigo está baseado no livro Trading Up: Building
cooperation between farmers and traders in
Africa, publicado pelo Royal Tropical Institute (KIT),
Amsterdã, e pelo International Institute of Rural
Reconstruction (IIRR), Nairóbi. Veja os Recursos, na
página 15, para obter mais informações.
As bancas permanentes no mercado ajudam a melhorar as oportunidades econômicas para os comerciantes
e agricultores.
Ric
ha
rd H
an
son
Tea
rfu
nd
Os mercados só funcionam bem se todas as pessoas
envolvidas na cadeia respeitarem os papéis
e as necessidades dos outros
O papel da igreja local
A igreja local pode trazer uma contribuição
enorme para a superação da pobreza. Um
dos seus pontos fortes é o compromisso
com a melhoria dos relacionamentos. Pense
sobre o que a igreja local pode fazer na sua
comunidade:
■ reunir agricultores e comerciantes para
conversarem e discutirem sobre como
podem cooperar melhor
■ trabalhar com agricultores e comerci-
antes fazendo lobby junto às autoridades
locais para apoiar os mercados locais
■ compartilhar o que aprenderam com
outras comunidades usando suas redes
de trabalho.
PASSO A PASSO 77
12
agricultura
secas. Isso se devia ao seu conhecimento
e à prática de métodos de agricultura de
conservação por um longo período de
tempo. Estes métodos agrícolas têm por
objetivo conservar o solo e a água e, ao
mesmo tempo, oferecer um meio de vida
sustentável para o agricultor.
Após o levantamento das necessidades, a
EFZ trabalhou lado a lado com os comitês
dos povoados para elaborar um programa
Desenvolvimento do programa de segurança alimentar
Primeiramente, a EFZ realizou um levanta-
mento das necessidades num dos distritos.
Os resultados mostraram que a falta de
alimento na área era causada principalmente
pelas práticas agrícolas utilizadas. O
levantamento das necessidades também
mostrou que alguns agricultores da área
haviam tido uma boa colheita apesar das
de segurança alimentar. Este programa tinha
como alvo mais de 2.000 famílias. Uma das
principais partes do programa era a promoção
da agricultura de conservação no lugar dos
métodos agrícolas tradicionais amplamente
usados na região. Algumas das diferenças
entre os métodos agrícolas convencionais e
os de conservação são explicadas no quadro
abaixo.
Devido aos benefícios comprovados da
agricultura de conservação, o Governo
da Zâmbia já a estava promovendo pelo
país. A EFZ decidiu trabalhar juntamente
com o Ministério da Agricultura e a
Conservation Farming Unit (CFU) para
distribuir informações sobre a agricultura
de conservação entre as famílias-alvo do
Em muitos países do sul da África, a insegurança alimentar está aumentando. A
seca é um fator fundamental. Porém, as práticas agrícolas também são uma das
principais causas. A segurança alimentar é uma questão particular das áreas rurais,
onde a agricultura é a principal atividade econômica. Em 2002, a Evangelical
Fellowship of Zambia (EFZ) identifi cou três distritos que precisavam de ajuda para
aumentar a segurança alimentar.
■ Lavragem mínima com enxada Isso é quando
se usa uma enxada durante as primeiras chuvas
boas para fazer buracos para o plantio ou para
abrir linhas de plantio. Isso é mais fácil do que
arar e exige menos mão-de-obra. Entretanto,
como o solo entre os buracos ou as linhas de
plantio permanece duro, a chuva escorre por
ele, levando os fertilizantes consigo.
Agricultura de conservação
Esta é uma combinação de métodos, cujo
objetivo é conservar a água, a qualidade do solo, a
umidade, a fertilidade e a produção de sementes,
assim como a energia, o tempo e o dinheiro
do agricultor. Alguns dos aspectos e benefícios
principais são:
■ Plantio em bacias Os agricultores cavam
bacias no solo e plantam sementes nelas.
Quando as chuvas vêm, a água fica presa nas
bacias, permitindo que as raízes cresçam e
evitando que a camada superficial do solo e o
fertilizante sejam levados pela água.
■ Deixar os resíduos da colheita para a próxima
cultura Recomenda-se que os agricultores
deixem os resíduos ao invés de queimá-los. Isto
reduz a perda de solo e água, melhorando a
infiltração, diminui a temperatura da superfície
e, com o tempo, aumenta a fertilidade do solo.
Como as sementes são plantadas na mesma
bacia todos os anos, o fertilizante que ficou da
colheita anterior pode ser absorvido pela
nova cultura.
■ Rotação de culturas que fixam o nitrogênio
Recomenda-se que os agricultores plantem
legumes e outras culturas que fixam o
nitrogênio em rotação para aumentar os
nutrientes naturais do solo. Isso diminui
a necessidade de fertilizante artificial e
permite que eles diversifiquem, passando
do milho para culturas menos robustas.
■ Plantio no início das primeiras chuvas
Isso significa que os agricultores precisam
preparar a terra assim que tiverem feito
a colheita anterior. Plantar durante as
primeiras chuvas permite que as sementes
se beneficiem com o nitrogênio que as
chuvas fazem passar pelo solo.
Agricultura convencional
Alguns aspectos da agricultura convencional
afetam a produção das colheitas de forma
negativa:
■ A queima de resíduos (dejetos da colheita)
antes de arar a terra Os resíduos são úteis
para:
• proteger o solo para que este não seja
levado pela água, melhorando a infiltração
de água e reduzindo a temperatura do solo
• manter a estrutura do solo e a fertilidade
quando os cupins e as minhocas os
incorporam no solo.
■ Arar a terra com bois Arar o campo inteiro
desperdiça energia, diminui a produção e
destrói o solo:
• Os agricultores geralmente aram a terra
após as chuvas. Assim, há um atraso na
preparação da terra. Para cada dia de atraso
após as primeiras chuvas de plantio, parte
do potencial da produção é perdido.
• O solo arado fica exposto ao vento e à
chuva, perdendo a camada superficial do
solo.
■ Abrir sulcos com uma enxada Isso é quando
são abertos sulcos no solo para formar fendas
que servirão de dreno. O problema com isto
é que a água da chuva começa a desgastar os
sulcos, formando valas em seguida.
Alguns exemplos das diferenças entre a agricultura convencional e a agricultura de conservação
O feijão caupi é usado na agricultura de conservação
por fixar o nitrogênio.
Jon
Sta
nh
op
e
Foram realizados encontros
de treinamento sobre a
agricultura de conservação
para treinar pessoas como
treinadores comunitários
Agricultura de conservação na Zâmbia Joan Mute
PASSO A PASSO 77
13
agricultura
programa. Cada agricultor também recebeu
sementes e fertilizantes.
Foram realizados encontros da comunidade,
em que o programa foi explicado para as
famílias-alvo. Mais tarde, foram realizados
encontros de treinamento sobre a agricultura
de conservação para treinar pessoas como
treinadores comunitários. Estes treinadores
deviam treinar famílias de agricultores indivi-
duais através de encontros de treinamento
nos povoados. Foram abertas cooperativas
de agricultores para permitir que o programa
chegasse até os agricultores. Os agricultores
pobres foram incentivados a entrarem para
uma cooperativa de agricultores.
Resultados
Após a colheita, as famílias perceberam que os
campos em que os métodos de conservação
haviam sido empregados tinham produzido
mais do que os campos em que haviam sido
empregados métodos convencionais. Outras
pesquisas confirmaram que a agricultura
de conservação produzia uma média de 1,5
toneladas mais de milho por hectare do que
a agricultura convencional. Além disso, as
técnicas usadas na agricultura de conservação
exigiam menos fertilizantes.
A agricultura de conservação aumentou a
segurança alimentar para os agricultores
porque minimizou a perda da colheita durante
a seca.
Pontos aprendidos
O conhecimento e a experiência na área de
agricultura de conservação estão aumen-
tando na Zâmbia, e gradualmente mais e
mais famílias estão adotando as técnicas. A
revisão da EFZ mostrou os seguintes pontos
aprendidos:
■ Mesmo a prática de apenas uma ou
duas técnicas agrícolas de conservação
é benéfica. Os agricultores têm a chance
de testar os benefícios e criar confiança
antes de usar outros métodos agrícolas de
conservação.
■ Alguns agricultores decidiram introduzir
os métodos agrícolas de conservação em
apenas um dos seus campos. Assim,
eles puderam comparar os resultados
com os resultados das técnicas agrícolas
convencionais. Eles geralmente percebiam
que as técnicas agrícolas de conservação
resultavam numa produção maior.
■ O sucesso da agricultura de conservação
varia entre as regiões, culturas e com o
tempo. Isso se deve principalmente às
mudanças nos padrões climáticos.
■ Muitos dos benefícios da agricultura de
conservação ocorrem gradualmente.
Vale a pena investir em métodos de
conservação, mas as probabilidades são
de que os benefícios completos demorem
para serem vistos.
Joan Mute é gerente de programas do Departamento
de Ética, Sociedade e Desenvolvimento da Evangelical
Fellowship of Zambia.
Plot 8665, Kamloops Avenue
Lusaka 10101
Zâmbia
E-mail: [email protected]
Um agricultor zambiano cavando uma bacia, dentro da
qual ele plantará suas sementes.
Jon
Sta
nh
op
e
Jon
Sta
nh
op
e
A agricultura de conservação produz mais milho do que a agricultura convencional.
O livro de Rute passa-se numa época de
fome, numa região ao redor de Belém (Rute
1:1). Elimeleque e sua família deixam Belém
em busca de alimento e vão para Moabe,
onde vivem por pelo menos 10 anos (Rute
1:4-5). Após a morte do marido e dos filhos,
Noemi volta para casa com a nora Rute
(Rute 1:22).
Leia Rute 1:16-2:9
■ Por que Rute assume a responsabilidade
de prover a subsistência da sogra?
■ Como uma jovem viúva estrangeira, Rute
estaria muito vulnerável. Por que você
acha que Rute permanece nos campos
de Boaz?
■ O que Boaz fica sabendo sobre Rute?
■ Como ele a trata?
Boaz era um homem de Deus e seguia a lei
de Moisés na maneira de gerir seus campos.
Leia Levítico 19:9-10 e Deuteronômio
24:19-20.
■ Quais são as leis?
■ Por que estas leis eram úteis para uma
pessoa como Rute?
■ O que estas leis nos dizem sobre o desejo
de Deus de que os pobres tenham um
suprimento seguro de alimento?
■ Há alguma prática semelhante na nossa
comunidade ou no nosso país hoje? Como
estas práticas poderiam ser incentivadas?
Leia Rute 2:10-23
■ Por que Boaz age desta maneira?
■ De que maneira Boaz mostra sua
preocupação por Rute e Noemi?
■ A quem Noemi agradece pelo alimento e
pela bondade?
Leia 1 João 3:16-20
■ De que maneira Jesus mostra seu amor
por nós?
■ De que maneira devemos amar?
■ Faça uma lista de maneiras práticas
através das quais podemos, assim como
Jesus, mostrar amor às pessoas à nossa
volta.
ESTUDO BÍBLICOA provisão de Deus em
épocas de difi culdade
PASSO A PASSO 77
14
agricultura
SAÚDE Isso poderia consistir em: treinar
promotores comunitários em cuidados
básicos de saúde comunitária, gestão de
medicamentos, nutrição e subnutrição,
vacinação, primeiros socorros e prevenção
do HIV; construir banheiros; melhorar o
suprimento de água; oferecer cursos em
planejamento familiar e saúde sexual.
EMPODERAMENTO DA MULHER Isso poderia
consistir em: treinar as pessoas em cuidados
básicos de saúde, saúde sexual e reprodutiva,
nutrição, produção de materiais têxteis
para serem usados ou vendidos e direitos
e responsabilidades das mulheres; oferecer
cursos de alfabetização.
CRESCIMENTO ESPIRITUAL Isso poderia
consistir em: organizar encontros de louvor,
estudo bíblico e oração, com encontros
especiais para crianças; treinar líderes
comunitários sobre o crescimento e a
sustentabilidade da igreja.
Através dessas atividades, a saúde e a
nutrição das pessoas mais pobres em
A subnutrição é um problema sério na
Bolívia, especialmente para as crianças e
pessoas idosas. Isso se deve à dieta básica
de batatas e trigo e à pobreza, que limita a
capacidade das pessoas de comprar outros
tipos de alimentos. A doença freqüente
também contribui para a subnutrição. Cerca
de 27 por cento das crianças bolivianas com
menos de cinco anos de idade sofrem de
subnutrição crônica.
O Yanapanakuna trabalha por três anos em
cada comunidade. Depois desse tempo,
espera-se que a comunidade continue o
trabalho sem a ajuda do SETESUR. O trabalho
exato varia de comunidade para comunidade,
porém, em todas elas, o trabalho se
concentra em:
AGRICULTURA Isso poderia consistir
em: treinar promotores comunitários na
agricultura orgânica e intensiva, saúde animal
e conservação do meio ambiente; construir
estufas para plantar frutas e legumes;
consertar e construir sistemas de irrigação.
Chuquisaca estão melhorando. Elas já não
comem principalmente trigo e batatas, mas
têm uma dieta mais variada, que inclui frutas
e legumes. Seu sistema imunológico está
começando a se fortalecer, sua capacidade
de concentração melhorou, e as doenças são
menos comuns.
Através do trabalho espiritual do projeto
Yanapanakuna, as pessoas estão aprendendo
sobre as relações entre Deus, homens,
mulheres e a Terra. O alcoolismo e o abuso
doméstico estão começando a se tornar
menos freqüentes, pois há mais dignidade e
respeito dentro das comunidades.
Em 2009, o Yanapanakuna começará
um novo ciclo de três anos. As novas
comunidades serão beneficiadas com as
lições aprendidas nos ciclos anteriores, e,
durante o planejamento, também serão
consideradas questões emergentes como a
mudança climática.
O Pastor Eduardo Barja é o Diretor do SETESUR
Calle Sargento Tejerina No 101
Esq. Pando
Casilla 201
Sucre
Bolívia
E-mail: [email protected]
Na área montanhosa de Chuquisaca, na região central da Bolívia, as comunidades
estão descobrindo os benefícios nutricionais dos legumes. O prato tradicional
do povo indígena quéchua era um caldo quente feito de trigo e batatas até que o
SETESUR (Seminario Teológico del Sur) iniciou o projeto Yanapanakuna em seis
comunidades isoladas. A palavra yanapanakuna signifi ca “vamos nos ajudar” no
idioma quéchua.
Gabriela Garcia, especialista em economia doméstica, com o projeto Yanapanakuna, ensinando mulheres a cozinhar
com legumes.
Ric
ha
rd H
an
son
Tea
rfu
nd
Meu nome é Paulina
Vedia. Sou casada com
Máximo, e temos cinco
filhos. Antigamente,
eu cuidava dos meus
filhos e dos animais.
Alguns dias eram
muito difíceis, pois
não tínhamos comida suficiente. Depois
da escola, meus filhos tinham que sair para
trabalhar e ganhar dinheiro para a família.
Desde o projeto Yanapanakuna, minha vida
mudou. Meu marido e meu filho mais velho
estão fazendo cursos de treinamento. Agora
eles me ajudam, porque a atitude deles em
relação à família mudou. Eles construíram
uma cozinha para mim, e ficou mais fácil
cozinhar. Eles estão ajudando os vizinhos a
fazer o mesmo.
Agora podemos comer os legumes que o
meu filho planta. Nós gostamos principal-
mente de alface com um pouquinho de sal e
azeite, mas o meu favorito é a acelga.
Edu
ard
o B
arja
Melhoria da nutrição na Bolívia Pastor Eduardo Barja
ESTUDO DE CASO
PASSO A PASSO 77
15
Trading up: Building cooperation
between farmers and traders in
Africa
Este livro examina o
papel dos comerciantes
na cadeia alimentar.
Examinando questões
que afetam tanto os
comerciantes quanto
os agricultores, o livro
reforça a mensagem
de que os diferentes
grupos devem trabalhar
em conjunto ao invés de discordarem. O livro
mostra como os comerciantes podem gerar
demanda pelos produtos agrícolas e ajudar
a melhorar a renda e o meio de sustento dos
habitantes rurais. Há 15 estudos de casos, que
examinam como as relações foram fortalecidas
entre agricultores, comerciantes, atacadistas,
processadores e varejistas.
África: €12 (Kshs 1200); Ásia: €17; Europa: €25;
Estados Unidos: US$40.
Chain Empowerment: Supporting
African farmers to develop marketsRoyal Tropical Institute, Amsterdã; Faida Market
Link, Arusha and International Institute of Rural
Reconstruction, Nairóbi.
Este livro mostra como
pequenos donos de
terras africanos podem
ganhar muito mais
com o seu cultivo
e a sua criação de
animais assumindo o
controle das cadeias
de valor de que fazem
parte – cadeias que
os ligam aos consumidores nas cidades assim
como em outros países. Há 19 estudos de
casos mostrando como grupos de agricultores
melhoraram sua renda e como as organizações
de desenvolvimento os ajudaram.
O livro custa US$20.
Ambos os livros podem ser baixados gratuita-
mente no site www.kit.nl/publications. É
possível comprar exemplares impressos
enviando um e-mail para [email protected]
Para encomendar exemplares impressos, se você
vive na África ou na Ásia, envie um e-mail para
[email protected] ou encomende no site www.
iirr.org/bookstore. Ou escreva para: (para a Ásia)
IIRR Regional Centre, YC James Yen Center,
Silang, Cavite 4118, Filipinas; (para a África)
IIRR Regional Centre, PO Box 66873,
Westlands, Nairobi, Quênia.
Melhoria da segurança alimentar
Este Guia PILARES traz
informações práticas
sobre o controle de
pragas, bancos de
cereais e novas técnicas
para a conservação
e o armazenamento
de alimentos. Ele
conscientiza as pessoas
sobre os benefícios de
manter a variabilidade genética e as variedades
tradicionais das culturas.
Este Guia PILARES pode ser baixado
gratuitamente no site: www.tearfund.org/tilz
em inglês, francês e português.
Exemplares impressos gratuitos podem ser
obtidos através de: Tearfund Resources
Development, 100 Church Road, Teddington,
TW11 8QE, Reino Unido
E-mail: [email protected]
A ECHO fornece informações para pessoas que trabalham no desenvolvimento agrícola:
■ www.echotech.org Este site (em inglês) contém uma grande quantidade de informações
sobre a agricultura tropical de pequenas propriedades agrícolas, com algumas informações
disponíveis em francês e espanhol.
■ Você pode encomendar amostras grátis de sementes da ECHO, para avaliar estas plantas
nas comunidades em que trabalha. Para obter mais informações, escreva para ECHO, 17391
Durrance Road, North Ft Myers, FL 33917, EUA. E-mail: [email protected]
■ Se tiver alguma dúvida técnica específica, envie um e-mail para [email protected], e um
funcionário tentará encontrar uma resposta para você. Seja o mais específico possível e
explique o contexto para o qual precisa da informação.
A Farm Radio International tem por objetivo combater a insegurança alimentar através do
apoio a emissoras africanas para satisfazer as necessidades de agricultores de pequena escala
locais e suas famílias em comunidades rurais. Eles enviam scripts de rádio para mais de 300
organizações radiofônicas na África Subsaariana. Cada pacote de scripts trimestral concentra-
se num tema diferente, como, por exemplo, nutrição, conhecimento nativo, mulheres na
agricultura ou criação de animais. O pacote também inclui dicas para as emissoras sobre como
apresentar as informações e adaptá-las para os seus próprios ouvintes. Os scripts podem ser
encontrados em http://farmradio.org/english/radio-scripts
A Farm Radio International também compartilha informações através da Farm Radio Weekly
(FRW), o seu boletim de notícias on-line para emissoras. Para se registrar na FRW visite:
http://farmradio.org/english/partners/fr_weekly_subscribe.asp
Para obter mais informações sobre os scripts ou os boletins de notícias, entre em contato com
Farm Radio International, 1404 Scott Street, Ottawa, ON, Canadá, K1Y 4M8
E-mail: [email protected] www.farmradio.org
Organizações
www.fews.net
A Famine Early Warning System Network
oferece informações sobre alerta precoce e
vulnerabilidade em questões emergentes e
crescentes de segurança alimentar por todo
o mundo.
www.fivims.org
A Iniciativa FIVIMS (Food Insecurity and
Vulnerability Mapping System) promove
a análise intersetorial das causas funda-
mentais da insegurança alimentar, da fome e
da subnutrição para a melhor formulação de
políticas, elaboração de programas e ação.
www.leisa.info
O Centre for Information on Low External
Input and Sustainable Agriculture oferece
informações sobre êxitos na agricultura
familiar sustentável.
www.conservationagriculture.net
O site da Conservation Farming Unit oferece
informações sobre técnicas agrícolas de
conservação utilizadas na Zâmbia.
Sites úteis
PASSO A PASSO 77
RECURSOS Livros ■ Boletins ■ Materiais de treinamento
Website tilz http://tilz.tearfund.org/portugues As publicações internacionais da Tearfund
podem ser baixadas gratuitamente no nosso site. Pesquise qualquer tópico para ajudá-lo no seu trabalho.
redução do risco de desastres
19019 – (0309)
Muitas pessoas ao redor do mundo sofrem inundações. Quando as inunda-
ções são freqüentes, a estação do cultivo é afetada, e as culturas danifi cam-se
ou são levadas pelas águas. Outro problema enfrentado pelas comunidades
pobres é que há pouca terra disponível para o cultivo de alimentos.
Uma solução, usada em Bangladesh, é a horta flutuante. Esta consiste numa base de algas
aquáticas sobre as quais os legumes podem ser cultivados. As hortas flutuam em terras
inundadas ou em pequenos lagos. Elas podem ser usadas por todo o ano, para culturas de
verão e de inverno, e podem prover as famílias com legumes suficientes para seu consumo e
para a venda.
Hortas fl utuantes
Adaptado a partir do Documento Técnico da Practical
Action, Floating gardens in Bangladesh.
Para obter mais informações:
Practical Action, The Schumacher Centre for Technology
and Development, Bourton on Dunsmore, Rugby,
Warwickshire, CV23 9QZ, Reino Unido
Junte aguapés maduros,
que cubram uma área
de 8m por 2m. Se não houver aguapés,
podem-se usar palha de arroz, palha
de coco ou bambu. Coloque varas de
bambu em cima dos aguapés para
fazer uma balsa, e coloque-a perto da
margem.
PASSO 1
Plante as mudas na
balsa. As culturas
como hortaliças de folhas, abóboras,
berinjelas e cebolas crescem particular-
mente bem. Mude a balsa para locais
mais ensolarados ou com mais sombra
conforme necessário.
PASSO 4
Depois de sete a dez
dias, acrescente mais
uma camada de aguapés à balsa.
Depois, coloque uma camada de
cobertura orgânica, seguida de terra,
composto e estrume de vaca até uma
altura de 25cm.
PASSO 3
Depois da colheita, a
balsa pode ser usada
novamente. No final, ela apodrecerá e
poderá ser transformada em composto.
PASSO 6
Junte mais aguapés e
coloque-os em cima das
varas de bambu. Entrelace os aguapés.
A estrutura básica deve ter de 0,6m a
1m de profundidade. Depois de montá-
la, retire as varas de bambu. Amarre a
balsa a âncoras para que ela não saia
flutuando.
NÃO use a horta flutuante em locais de
água afetada por marés ou correntes,
pois a balsa pode se danificar.
NÃO use a horta flutuante em água
salgada, pois as plantas não crescerão.Tel: +44 (0)1926 634400
Fax: +44 (0)1926 634401
E-mail: [email protected]
Site: www.practicalaction.org
Tod
as a
s fo
tos:
Pra
ctic
al A
ctio
n B
an
gla
de
sh
PASSO 2
Proteja as mudas contra
os patos, ratos e outros
animais com redes de pesca rasgadas
ou galhos como barreira ao redor da
borda da balsa.
PASSO 5
Publicado pela: Tearfund
100 Church Road, Teddington, TW11 8QE, Reino Unido
Organização sem fins lucrativos no. 265464
Editora: Rachel Blackman
E-mail: [email protected]
http://tilz.tearfund.org/portugues