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  • Partio de comprimidos: consideraessobreousoapropriado;

    Evidncia Farmacoteraputica: tartaratodevareniclina; Farmacovigilncia: rimonabanto;veraliprida;Novas publicaes: Promotingsafetyofmedicinesfor

    children.

    Ano XII Nmeros 04 e 05 set-out/2007

    Partio de comprimidos: consideraes sobre o uso apropriado

    Marcela de Andrade Conti, Camila Carvalho Adelino, Lucinda Braz Leite e Sabina Bicalho Vasconcelos

    to, possibilitando que um comprimido de maior dose custe menos do que dois equivalentes mesma dose.7

    Desvantagens

    Dentre as desvantagens, a dificuldade de partio um dos problemas mais freqentemente relatados, principalmente por pessoas idosas e para comprimidos pequenos. 5

    A preocupao mais comumente citada, no entanto, a desigualdade entre as partes quando h diviso do comprimido, inclusive com o uso de partidores especficos. Essa desigualdade pode resultar em variao de dose, tornandoa maior ou menor do que o necessrio. McDevitt et al. (1998) realizaram um estudo com subdiviso de comprimidos, mostrando que 41% das partes apresentaram desvios de mais de 10% do peso esperado, e 12% tiveram desvios maiores que 20%. A diferena no tamanho das partes pode ainda ser interpretada pelo paciente como um desvio de qualidade, interferindo na credibilidade do produto.8

    Outra desvantagem a perda do produto, que se deve fragmentao resultante da partio. Conseqentemente, h perda de frmaco e risco de contaminao de outras pessoas. Alguns estudos mostram que a perda pode ser considervel. Biron et al. (1999) relataram perdas maiores que 14% ao se partirem comprimidos ao meio, e maiores que 27% ao dividilos em quatro partes.9

    Aspectos tcnicos

    Geralmente, a diviso resulta em variao do peso entre as partes do comprimido, podendo alterar o resultado teraputico, dificultando a determinao da resposta ao tratamento.4,10

    Nos Estados Unidos, embora no exista padro estabelecido para partio de comprimidos, a Farmacopia

    Introduo

    As apresentaes de comprimidos disponveis nem sempre esto em doses apropriadas prtica clnica, sendo um estmulo partio dos mesmos. Por exemplo, a hidroclorotiazida disponvel em comprimidos de 25 mg e 50 mg, mesmo que estudos tenham demonstrado que esse frmaco apresenta eficcia e menor risco de reaes adversas na dose de 12,5 mg.1 Por isso, mesmo no havendo disponibilidade no mercado, a apresentao de 12,5 mg foi includa na Relao Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) 2006.2

    Em 1998, as autoridades reguladoras europias iniciaram uma poltica desencorajando a partio de comprimidos. Uma possvel justificativa o grande nmero de relatos de mau funcionamento das fendas nos comprimidos. 3 Partio de comprimidos prtica habitual em instituies de cuidado em sade, por orientao profissional ou por deciso prpria dos usurios.4,5 Apresenta vantagens, como flexibilizao de dose, facilidade de deglutio e reduo de gastos com medicamentos, e desvantagens, como dificuldade de partio, diviso em partes desiguais e perda do produto.5

    Partio x triturao: partio consiste na diviso de um comprimido em duas ou mais partes iguais, enquanto triturao sua reduo a p por atrito contnuo.22

    Vantagens

    Dentre os fatores que estimulam a partio de comprimidos, o mais comum a flexibilizao de dose. Sua utilidade pode ser relevante, principalmente, para tratamento de crianas e idosos, cujas posologias geralmente no esto contempladas pelas apresentaes comerciais disponveis.5 Pode ser interessante, tambm, por permitir incio do tratamento com a mnima dose efetiva, implicando em diminuio da ocorrncia de reaes adversas. 6

    A facilidade de deglutio a segunda vantagem mais importante da partio de comprimidos, principalmente em idosos, crianas ou quando os comprimidos so grandes.5

    Reduzir gastos com medicamentos o terceiro estmulo mais freqente para se partirem comprimidos. Algumas indstrias farmacuticas propem preos semelhantes para diferentes apresentaes de um determinado medicamen

    NESTE NMERO

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    (1996), comparouse a partio de comprimidos realizada por dois grupos de diabticos acima de 70 anos. Um grupo recebeu instrues verbais e escritas sobre a partio e o outro no. A uniformidade das partes para o primeiro grupo foi aproximadamente trs vezes maior do que no segundo, e a facilidade de execuo do procedimento, duas vezes melhor no grupo instrudo.14

    Alguns pacientes, principalmente idosos, apresentam dificuldade em realizar a partio de comprimidos, devendo ser considerada a condio do usurio em relao a esse procedimento ou a necessidade de auxlio.6

    O armazenamento das partes dos comprimidos tambm pode interferir em sua qualidade, uma vez que ficam suscetveis a problemas de estabilidade, como maior friabilidade e fragmentao, adsoro higroscpica e alterao do prazo de validade.5 Dependendo do frmaco, recomendase o descarte da parte no utilizada imediatamente aps a partio.6

    Estudos sobre partio

    Rashed et al. (2003)4 e Nolly et al. (2005)10 avaliaram a partio de trs medicamentos: Paxil (paroxetina 20 mg e 40 mg), Risperdal (risperidona 2 mg e 4 mg) e Zoloft (sertralina 100 mg). O critrio para avaliao foi o mtodo da Farmacopia Americana (USP) para determinao da homogeneidade do contedo. Os comprimidos foram partidos por tcnicos treinados, utilizandose partidores. No estudo de 2003, obtevese homogeneidade apenas para Paxil 20 mg. No outro estudo, todos os medicamentos apresentaram resultados dentro do critrio da USP, permitindo sua partio. Os autores atriburam a melhora do resultado ao modelo do partidor utilizado, com hastes que ajudam no posicionamento do medicamento, e minimizam o movimento durante a diviso.4,10 Apesar desses resultados, em 1997, o fabricante do Zoloft, havia publicado uma carta em que no recomendava a diviso do produto para obteno de doses intermedirias.16

    Avaliao do impacto da partio na absoro de comprimidos de mononitrato de isossorbida de liberao controlada foi realizada por Stockis et al. (2002). Compararamse eficcia e ocorrncia de reao adversa em trs grupos: comprimidos de 20 mg trs vezes ao dia, 60 mg de liberao controlada uma vez ao dia e 60 mg de liberao controlada dividido em trs partes trs vezes ao dia. Os resultados demonstraram no haver diferena no padro de absoro do frmaco entre os grupos com trs administraes dirias, ressaltando a importncia da qualidade dos sulcos para possibilidade de partio. O estudo no deixou claro se os resultados foram influenciados pela tecnologia utilizada para o revestimento. 17

    Parra et al. (2005)18 demonstraram eficcia, segurana e reduo nos gastos com a partio de comprimidos de sinvastatina em metades de vrias doses: 5 mg, 10 mg, 20 mg, ou 40 mg.

    Alguns estudos apresentam dados que representam exceo em relao aos resultados obtidos em outros, talvez por caracterstica ou tecnologia de produo do medicamento em questo. Por exemplo, Cook et al. (2004) estudaram a partio de comprimidos de ciclobenzaprina, dispo

    Americana (United States Pharmacopeia USP) estabelece critrios para comprimidos inteiros, determinando que a variao de peso ou uniformidadea (homogeneidade) de contedo de cada comprimido deve estar entre 85 a 115% do declarado.11 Esses critrios so estendidos para avaliar tais parmetros em partes de comprimidos partidos.5 Contudo, a homogeneidade dos comprimidos durante sua produo resulta em melhor consistncia do comprimido aps a partio.12

    Em maro de 2001, a Farmacopia Europia foi a primeira a incluir o teste de homogeneidade de contedo ou de massa para partes subdivididas de comprimidos sulcados. 5

    Usualmente, a partio realizada com as mos, faca ou partidores de comprimidos. Esses ltimos so teis por facilitarem o procedimento e promoverem maior segurana. 5 Entretanto, apesar de aumentarem a preciso do corte, exigem certo grau de destreza manual para posicionar o comprimido.6 Carr Lopez et al. (1995) estudaram a aceitao dos partidores pelos pacientes. A maioria relatou facilidade de uso, no desperdcio do medicamento e melhora de adeso ao tratamento. No entanto, 6% no aprovaram essa tcnica e sentiramse desmotivados para o tratamento, sendo que a desigualdade entre as partes foi a justificativa mais freqente.13

    Desvios de qualidade importantes so as imperfeies dos sulcos, pois sua forma e profundidade facilitam a diviso manual e reduzem a variao do peso entre as partes.5,15 Normalmente, comprimidos sulcados so considerados, pelos fabricantes, apropriados para partio e essa condio, realmente, aplicase sua maioria. Entretanto, recomendase que alguns tipos de comprimido no sejam partidos, conforme a Tabela 1.6

    Tabela 1: Tipos de comprimidos cuja partio no recomendada.

    Tipos de comprimidos Exemplos

    Comprimidosnosulcados tramadol(Tramadon)Comprimidosespessosoudeformatoestranho

    alendronatosdico(FosamaxD)

    Comprimidosrevestidos nifedipina(Adalat)Comprimidosdeliberaoentrica pantoprazol(Pantozol)Comprimidosdeliberaocontroladaouprolongada cefaclorAF(CeclorAF

    )

    Comprimidosdeestabilidadeincertaapsapartiob acarbose(Glucobay

    )

    Fonte: Adaptado de Marriot JL, Nation RL. Splitting Tablets. Australian Prescriber. 2002;25 (6):1335.

    Outro problema, identificado por Rodenhuis et al. (2004), a prescrio de partes de comprimidos sem fenda, indicando uma lacuna no conhecimento dos prescritores sobre a ausncia de sulcos ou dificuldade de diviso dos comprimidos. Partio por iniciativa do paciente ocorre em 30% dos casos: 13% para facilitar a deglutio e 17% para diminuir a dose.3

    A orientao aos pacientes essencial para o sucesso do tratamento. Em um estudo, realizado por Wilson et al.

    2

    a Uniformidade:caractersticadosmedicamentosemquesuaconsistncia,cor,forma,tamanho,massa,contedodefrmacoeoutraspropriedadesnovariamdeumadoseparaoutra.Emcertasfarmacopias,essacaractersticadenomina-sehomogeneidade.21

    b Notadaautora:tilparaajustededose,masnoparaeconomia,poisametadenoutilizadadeveserimediatamentedescartada.

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    Coordenador: Radif Domingos

    Farmacuticos: Carlos Cezar Flores Vidotti

    (Gerente Tcnico)Emlia Vitria da Silva

    Rogrio Hoefler

    Secretria:Valnides Ribeiro de Oliveira Vianna

    Elaborao:Emlia Vitria da Silva

    RevisoCarlos Cezar Flores Vidotti

    Rogrio Hoefler

    FARMACOTERAPUTICAInformativo do Centro Brasileiro de

    Informao sobre Medicamentos CebrimSBS Qd. 01 Bl. K Ed. Seguradoras 8 andar

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    CFF Conselho Federal de Farmcia Cebrim Centro Brasileiro de

    Informao sobre Medicamentos

    nvel em apresentaes de 5 mg e 10 mg do medicamento de referncia, e comprimidos genricos nosulcados de 10 mg. Os resultados sugeriram melhor resposta teraputica de comprimidos inteiros de 5 mg, mas o estudo no considerou a recomendao geral de no se partirem comprimidos que no sejam sulcados. Esse estudo apresenta conflito de interesse por ter sido financiado pelo fabricante do medicamento de referncia. 19

    Outro estudo20 comparou a partio de comprimidos de sertralina com um partidor e com as mos, concluindo que a perda do frmaco menor quando se utilizam as mos: 49,3 mg versus 39,3 mg, respectivamente. Esses dados no representam os resultados comumente obtidos.

    Outros estudos so necessrios para avaliar a partio de medicamentos que tambm possuam relao doseresposta favorvel e janela teraputica adequada, devendose avaliar a aceitao do paciente partio de comprimidos.

    Recomendaes

    Dentre os vrios fatores que interferem no sucesso do tratamento que inclui a partio de comprimidos, destacamse os mtodos utilizados e a orientao aos pacientes, observandose a dificuldade de execuo e a uniformidade das partes obtidas. 5

    Para partio, recomendvel que o comprimido seja sulcado, apresente baixa toxicidade, janela teraputica larga, meiavida relativamente longa, seja custoefetivo para partio e no tenha revestimento de liberao entrica ou formulao de liberao prolongada. 10,19 Sendo necessria a partio, recomendase que seja apenas pela metade, considerandose que h perda de frmaco proporcionalmente ao nmero de vezes em que o comprimido partido.5

    Decidir pela partio de comprimidos exige cautela, devendose avaliar os vrios aspectos que envolvem o sucesso desse procedimento, devendose observar as seguintes orientaes: 6

    Verifiqueasinformaesdoprodutoantesderecomendar a partio de comprimidos;

    Emgeral,apenascomprimidossulcadospodemserpartidos;

    Avalieahabilidadedousurioparaentendereaderiraos esquemas teraputicos envolvendo comprimidos partidos;

    Partidoresdecomprimidospodemserusadosparamelhorar a preciso do corte, mas os pacientes devem receber instrues para seu uso correto;

    Pacientesdevemserorientadossobreoarmazenamento apropriado de comprimidos partidos.

    Referncias1. HISPROD Medicamentosonline Histrico de Registros de Produ

    tos e Medicamentos. So Paulo: Optionline; 2007.2. Brasil. Ministrio da Sade. Relao Nacional de Medicamentos Es

    senciais RENAME. 3 ed. Braslia: Ministrio da Sade, 2006.3. Rodenhuis N, Smet PAGMD, Barends DM. The rationale of scored

    tablets as dosage form. European Journal of Pharmaceutical Sciences. 2004;21:3058.

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    10. Nolly RJ, Rodrigues P, Thoma L. Weight variability of scored and unscored psychotropic drug tablets split by a uniquely designed tablet splitting device. Hospital Pharmacy. 2005;40(4):3215.

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    13. Carrlopez SM, Mallett MS, Morse T. The tablet splitter: barrier to compliance or costsaving instrument? Am. J. Healthsyst. Pharm. 1995; 52:27072708.

    14. Wilson MM, Kaiser FE, Morley JE. Tablet breaking ability of older diabetic persons. J. Am. Geriatr. Soc. 1996; 44:106.

    15. Rodenhuis N, Smet PAGMd, Barends DM. Patient experiences with the perfomance of tablet score lines needed for dosing. Pharm World Sci. 2003;25(4):1736.

    16. Lawrie MM. Letter to the editor: Splitting tablets. Australian Prescriber. 1998;21:7.

    17. Stockis A, Bruyn SD, Deroubaix X, Jeanbaptiste B, Jr EL, Nollevaux F, et al. Pharmacokinetic profile of a new controlledrelease isossorbide5mononitrate 60 mg scored tablet (Monoket Multitab). European Journal of Pharmaceutics and Biopharmaceutics. 2002;53:4956.

    18. Parra D, Beckey NP, Raval HS, Schnancky KR, Calabrese V, Coakley RW, et al. Effect of splitting simvastatin tablets for control of lowdensity lipoprotein cholesterol. The American Journal of Cardiology. 2005;95:14813.

    19. Cook TJ, Edwards S, Gyemah C, Shah M, Shah I, Fox T. Variability in tablet fragment weights when splitting unscored cyclobenzaprine 10 mg tablets. Journal of the American Pharmacists Association. 2004;44(5):5836.

    20. Matuschka PR, Graves JB. Letter to the editor: Mean dose after splitting sertraline tablets. Journal Clinical Psychiatry. 2001;62(10):826.

    21. Arias TD. Glosario de medicamentos: Desarrollo, evaluacin y uso. Organizacin Panamericana de la Salud. Washington, D.C.: OPS. 1999; 223.

    22. Anderson DM. Dicionrio mdico ilustrado Dorland. 28 ed. So Paulo: Ed. Manole; 1999.

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  • BOLETIMFARMACOTERAPUTICAAnoXIINmeros04e05set-out/20074

    Tartarato de vareniclina como auxiliar na cessao do tabagismoChampix (Laboratrios Pfizer Ltda); embalagens contendo comprimidos revestidos com 1,0 mg ou 0,5 mg e 1,0 mg.1

    Utilidade Eventual: frmaco oferece modesta vantagem em relao aos existentes. Pode ser til em alguma situao clnica eventual. e

    A exposio ativa ou passiva fumaa, produzida pela combusto do tabaco, resulta em grandes danos sade humana e ao meio ambiente.2 Diversos e amplos estudos demonstraram a relao entre tabagismo e mortalidade por diversas neoplasias, doenas respiratrias, cardiovasculares, acidente vascular enceflico, entre outras.2

    No Brasil, estimase que cerca de 200.000 mortes/ano so decorrentes do tabagismo.3 Dados epidemiolgicos estimam que um adulto jovem que fume por cerca de 10 anos diminui em 5 anos, em mdia, a sua expectativa de vida, sendo mais de 8 anos de vida perdidos quando o tempo de exposio superior a 20 anos.2

    Durante a combusto do cigarro, mais de 4.000 substncias so liberadas, entre elas a nicotina, principal componente responsvel pelo vcio.2

    No mundo, o cncer de pulmo o que acomete o maior nmero de pessoas,4 e cerca de 80% a 90% dos casos esto associados ao tabagismo.5

    O hbito de fumar aumenta o risco de cncer pulmonar em 20 a 30 vezes em tabagistas de longa data; em fumantes passivos, o risco aumentado em 30% a 50%.4

    No existe quantidade de cigarro considerada segura para o consumo. A taxa de incidncia do cncer de pulmo est associada ao consumo de cigarros em um determinado pas.4

    O tabagismo tambm um fator de risco para neoplasias de laringe, boca, esfago, bexiga, pncreas, rim, crvice uterina, mortalidade neonatal, nascimento prematuro, diminuio de peso do concepto, doena periodontal, alterao da cor dos dentes, perda de tato e olfato.2

    Inmeras substncias liberadas pelo cigarro proporcionam potenciais interaes farmacolgicas. Os hidrocarbonetos policclicos presentes no alcatro, em especial o benzopireno, induzem biotransformao heptica com conseqente diminuio da ao teraputica de teofilina, propranolol, antidepressivos tricclicos e heparina. Quando associado a anticoncepcionais orais, o cigarro aumenta

    consideravelmente o risco de doenas aterotrombticas, especialmente em mulheres com mais de 35 anos de idade.2

    A suspenso do fumo, em usurios de grandes quantidades, pode induzir sndrome de abstinncia, caracterizada por irritabilidade, ansiedade, insnia, inquietude, dificuldade de concentrao, cefalia, aumento do apetite, queixas gastrintestinais e grande desejo de fumar.2

    H diversas intervenes nofarmacolgicas e farmacolgicas disponveis para promover o abandono do tabagismo. Entre as medidas nofarmacolgicas, incluemse aconselhamento por profissionais de sade e medidas de restrio social ao consumo de cigarros.2 Entre as medidas farmacolgicas, esto: nicotina, bupropiona, nortriptilina2 e clonidina.6

    Nicotina, disponvel sob vrias formulaes, considerada o frmaco com melhor relao riscobenefcio7 e promove reduo dos sintomas fisiolgicos e psicomotores da sndrome de abstinncia.8 Contudo, h pouca evidncia sobre o seu papel em indivduos que fumam menos de 10 a 15 cigarros por dia.8

    Todas as formas comerciais de nicotina so efetivas como suporte na promoo ao abandono do tabagismo.2,8 Entretanto, somente cerca de 16% dos pacientes tratados com nicotina permanecem abstinentes aps um ano, comparado com cerca de 10% daqueles tratados com placebo.7

    Muitos fatores limitam o uso da goma de mascar de nicotina em alguns fumantes, incluindo efeitos adversos gstricos e orais, comprometimento da absoro quando associada a caf ou bebidas cidas, utilizao inadequada, alm do risco de transferncia da dependncia do cigarro para a goma de mascar.8 O objetivo primrio do tratamento com nicotina o abandono definitivo do tabagismo e no o uso crnico do medicamento.7

    Os antidepressivos bupropiona e nortriptilina apresentam benefcio no abandono do tabagismo, com eficcia superior a placebo.2,9 Embora a clonidina tambm apresente algum benefcio, seus efeitos adversos limitam o uso.6

    Para promover abandono do tabagismo, o uso de um agonista parcial do receptor de acetilcolina lgico se o mesmo apresentar benefcio similar a um agonista total (nicotina), mas com menos efeitos adversos. Vareniclina o primeiro agonista parcial do receptor de acetilcolina com esta indicao.7

    Duas revises sistemticas10,11 com metaanlise avaliaram a eficcia de diferentes terapias farmacolgicas para cessao do tabagismo, incluindo a vareniclina. Em ambas

    c ASeoEvidnciaFarmacoteraputicaresultadodoProjetoAvaliaodeMedicamentosNovosnoBrasil,doCentroBrasileirodeInformaosobreMedicamentos(Cebrim).Coordenao:Dr.RogrioHoefler.Consultores:Dra.AlessandraCarvalhoGoulart,Dr.AroldoLealdaFonseca,Dr.CarlosCezarFloresVidotti,Dra.EmliaVitriadaSilva,Dra.IsabelaJudithMartinsBenseor,Dra.LianaHolandaLeite,Dr.MarcusTolentinoSilva,Dr.PauloSrgioDouradoArrais,Dr.TarcsioJosPalhano.

    d Metodologiaelimitaes:Paraaelaboraodestetextosoconsultadosartigoscientficosedocumentostcnicosquerepresentamamelhorevidnciadisponvel,naocasio,emfontescomo:The Cochrane Library, Bandolier, Therapeutics Initiative, Ficha de Novedad Teraputica (Cadime),Prescrire International, Australian Prescriber, Rational Assessment of Drugs and Research, Medline, IDIS, Lilacs, Scielo,Drugdex, Anvisa,rgosregulatriosinternacionais.AqualidadedosensaiosclnicosavaliadapelomtodopropostoporJadad(Jadad AR, et al.Controlled Clin Trials 1996;17:1-12), sendoconsideradosapenasosensaiosclnicosrandomizados,escritosemingls,espanholouportugus,quealcanampelomenostrspontosnoalgoritmopropostoporJadad.

    e Classificao do medicamentoNovidade Teraputica Especial:frmacoeficazparaumasituaoclnicaquenopossuatratamentomedicamentosoadequado. Melhora Teraputica de Interesse:frmacoapresentamelhoreficciae(ou)seguranaemrelaoaosexistentes. Utilidade Eventual:frmacooferecemodestavantagememrelaoaosexistentes.Podesertilemalgumasituaoclnicaeventual. No Apresenta Novidade:frmaconooferecevantagememrelaoaosexistentes. Experincia Clnica Insuficiente:osensaiosclnicosealiteraturadisponvelsobreofrmacosoinsuficientesenopermitemestabelecerconclusessignificativas.f RR=RiscoRelativo.g NNT=Nmerodepacientesnecessriotratarparaseobterumdesfechoclnico(nestecaso,abstinnciaaocigarroumanoapstratamento).

    Evidncia Farmacoteraputica c d

  • BOLETIMFARMACOTERAPUTICAAnoXIINmeros04e05set-out/2007

    FarmacovigilnciaRimonabanto(Acomplia SanofiAventis Farmacutica Ltda.)Contraindicado em pacientes com depresso maior

    Europa. A The European Medicines Agency (EMEA) anunciou que o rimonabanto (Acomplia) contraindicado em pacientes com depresso maior ou que so tratados com antidepressivos, devido ao risco de efeitos adversos psiquitricos. O rimonabanto um antagonista dos receptores canabinides aprovado em alguns pases como adjuvante a dieta e exerccio fsico no tratamento de adultos obesos ou com sobrepeso. A EMEA comunicou, previamente, aos mdicos na Unio Europia sobre o risco de efeitos adversos psiquitricos com rimonabanto. O Committee for Medicinal Products for Human Use (CHMP), da EMEA, revisou toda a

    informao disponvel recebida da SanofiAventis (fabricante do Acomplia) sobre efeitos adversos psiquitricos com o medicamento e concluiu que:

    Os benefcios do uso de rimonabanto superam os riscos, exceto em pacientes com depresso maior ou que esto tomando antidepressivos. O CHMP recomenda a adio de um aviso, bula do medicamento, sobre a interrupo do uso do medicamento em caso de desenvolvimento de depresso;

    O risco de depresso aproximadamente duplicado em pacientes, obesos ou com sobrepeso, recebendo rimonabanto em comparao aos que no recebem o frmaco, o que pode levar a pensamentos suicidas ou at mesmo a tentativas de suicdio, na minoria dos casos.

    5

    revises foram includos trs ensaios clnicos comparando vareniclina a bupropiona e a placebo.1214 Para o desfecho primrio avaliado, taxa de abstinncia um ano aps tratamento, a vareniclina apresentouse marginalmente superior bupropiona [RR f = 0,92 (IC 95%: 0,880,96); NNT g = 14 (IC 95%: 928)]. Os efeitos adversos mais freqentes para o tratamento com vareniclina foram nusea, flatulncia e constipao.10,11 Tambm so relatados insnia, distrbios do sono e cefalia.11

    importante salientar que os ensaios clnicos disponveis comparam vareniclina a placebo e a bupropiona. A bupropiona apresenta relao riscobenefcio desfavorvel na cessao do tabagismo, por isso, o controle mais adequado seria a nicotina, considerada primeira escolha para este fim.7

    Nos estudos analisados, observouse diminuio de eficcia da vareniclina em relao bupropiona nas ltimas semanas de acompanhamento, o que poderia ser melhor analisado em novos estudos.

    A retirada abrupta de vareniclina aumenta a irritabilidade e distrbios do sono, sugerindo que o novo frmaco possa produzir dependncia fsica em alguns pacientes.7 O uso simultneo de vareniclina e nicotina agrava os efeitos adversos da nicotina.7 A segurana da vareniclina a longo prazo desconhecida.15

    O custo estimado de tratamento dirio com a vareniclina cerca de duas vezes maior que com a nicotina na forma de adesivo transdrmico, mas custa cerca de 30% menos que o tratamento dirio com nicotina em goma de mascar.16

    ltima reviso: 30.10.2007

    Referncias Bibliogrficas

    1. HISPROD Medicamentos Online Histrico de Registro de Produtos de Medicamentos. So Paulo: Optionline; 2007. Disponvel em http://www1.ihelps.com/iHelps.aspx Acesso mediante assinatura. Acessado em: 29.03.2007.

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    6. Gourlay SG, Stead LF, Benowitz NL. Clonidine for smoking cessation (Cochrane Review). In: The Cochrane Library, Issue 1, 2006. Oxford: Update Software. Disponvel em: http://cochrane.bvsalud.org/portal/php/index.php. Acessado em: 29.03.2007.

    7. Anonimous. Varenicline: Smoking cessation: no better than nicotine. Prescrire International December 2006; 15(86): 2102.

    8. Silagy C, Lancaster T, Stead L, Mant D, Fowler G. Nicotine replacement therapy for smoking cessation (Cochrane Review). In: The Cochrane Library, Issue 1, 2006. Oxford: Update Software. Disponvel em: http://cochrane.bvsalud.org/portal/php/index.php. Acessado em: 29.03.2007.

    9. Hughes JR, Stead LF, Lancaster T. Antidepressants for smoking cessation (Cochrane Review). In: The Cochrane Library, Issue 1, 2006. Oxford: Update Software. Disponvel em: http://cochrane.bvsalud.org/portal/php/index.php. Acessado em: 29.03.2007.

    10. Ping Wu, Kumanan Wilson, Popey Dimoulas e Edward J. Mills. Effectiveness of smoking cessation therapies: a systematic review and metaanalysis. BMC Public Health December 2006; 6:300.

    11. Cahill K, Stead LF, Lancaster T. Nicotine receptor partial agonists for smoking cessation (Cochrane Review). The Cochrane Library November (Issue 2) 2007. Oxford: Update Software.

    12. Gonzles D, Rennard SI, Nides M, Oncken C, Azoulay S, Billing CB et al. Varenicline, an 42 Nicotinic Acetylcholine Receptor Partial Agonist, vs Sustainedrelease Bupropion and Placebo for Smoking Cessation: A Randomized Controlled Trial. JAMA July 2006; 296(1): 4755.

    13. Jorenby DE, Hays JT, Rigotti NA, Azoulay S, Watsky EJ, Williams KE et al. Efficacy of Varenicline, an 42 Nicotinic Acetylcholine Receptor Partial Agonist, vs Placebo or Sustainedrelease Bupropion for Smoking Cessation: A Randomized Controlled Trial. JAMA July 2006; 296(1): 5663.

    14. Nides M, Oncken C, Gonzles D, Rennard S, Watsky EJ, Anziano R et al. Smoking Cessation with Varenicline, a Seletive 4 Nicotinic Receptor Partial Agonist. Arch Intern Med. 2006; 166: 15618.

    15. Anonimous. Varenicline (Chantix) for Tobacco Dependence. The Medical Letter August 2006; 48 (12411242): 668.

    16. Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria, Secretaria Executiva CMED, Lista de preos de fbrica e mximos ao consumidor. Data de Atualizao: 10/09/2007. http://www.anvisa.gov.br/monitora/cmed/legis/comunicados/06_04_anexo1.pdf. Acessado em 01.10.2007

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  • BOLETIMFARMACOTERAPUTICAAnoXIINmeros04e05set-out/20076

    World Health Organization. Promoting safety of medicines for children. Geneva: World Health Organization. 2007.

    O monitoramento da segurana do uso de medicamentos em crianas de extrema importncia visto que, durante o desenvolvimento clnico de frmacos, as informaes obtidas sobre este tema so limitadas. O uso de medicamentos fora das especificaes descritas na licena (em termos de formulao, indicaes, contraindicaes ou idade) constitui o uso offlabel ou offlicense e essas so reas que geram grande preocupao.

    Essa publicao apresenta as diretrizes com o objetivo de alertar todos aqueles que tm interesse na segurana de medicamentos em crianas e populaes peditricas. O documento ser de interesse de todos os profissionais de sade, agncias reguladoras de medicamentos, centros de farmacovigilncia, acadmicos, indstria farmacutica e legisladores.

    A publicao tem acesso gratuito para download no endereo:

    http://www.who.int/medicines/publications/essential medicines/promotion_safe_med_childrens.pdf

    Novas Publicaes

    MICROMEDEX/DRUGDEXA melhor base de dados norte-americana em medicamentos.

    dot.lib(34) 3236-1096 ( mg); (11) 3253-7553 (SP);

    (21) 3431-3430 (RJ).Emails: [email protected] ( mg)

    [email protected] (SP)[email protected] (RJ)

    O CHMP recomenda nfase, das informaes sobre os efeitos psiquitricos, na bula do produto e a adio de um alerta sobre a interrupo do frmaco em pacientes que desenvolverem depresso.

    Referncia:Press Release. EMEA, 18 July 20071016(www.emea.europa.eu).

    Nota:O rimonabanto (Acomplia) registrado, no Brasil, pela SanofiAventis e consta na lista C1, da Portaria n 344/1998 (Outras substncias sujeitas a controle especial Uso sob prescrio com reteno de receita receita de controle especial).

    No foi encontrado nenhum documento ou comunicado da Agncia Nacional de Vigilncia de Medicamentos (Anvisa) referente restries de uso do rimonabanto1.

    Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria. Disponvel em: http://www.anvisa.gov.br. Acessado em: 25.10.2007.

    Veraliprida(Agreal Sanofi Synthelabo Farmacutica)Mais riscos que benefcios: retirada do mercado de

    todas as apresentaes.

    Fonte: WHO. Alerta nmero 116: Veralipride. Word Health Organization. Jul2007.

    A The European Medicines Agency (EMEA) publicou uma nota recomendando a retirada da autorizao para

    comercializao de todos os produtos farmacuticos contendo veraliprida. A Agncia fez essa recomendao sob orientao do Committee for Medicinal Products for Human Use (CHMP) de que os riscos do tratamento de fogachos associados menopausa, com veraliprida, so maiores que seus benefcios.

    O CHMP avaliou todas as informaes sobre segurana e eficcia da veraliprida e concluiu que, alm de mostrar eficcia limitada, a veraliprida est associada a efeitos adversos, incluindo depresso, ansiedade e discinesia tardia (comprometimento do movimento voluntrio que pode ter longa durao ou ser irreversvel) durante e depois do tratamento. O Comit realizou essa anlise depois do pedido da European Commission em setembro de 2006, quando a veraliprida foi retirada do mercado espanhol devido a relatos de srios distrbios sobre o sistema nervoso.

    A EMEA comunica que pacientes que esto tomando veraliprida como terapia de fogachos devem consultar seus mdicos para discutir outras opes de tratamento, se necessrio; o tratamento com veraliprida no deve ser interrompido abruptamente, as doses devem ser diminudas gradualmente.

    Este Alerta da Organizao Mundial de Sade (OMS) foi liberado para comunicao da deciso do EMEA de retirar a veraliprida do mercado e para dar suporte a qualquer deciso apropriada dos pases fora da Europa.

    Referncia:Press Release, European Medicines Agency Press Office, 19 July 2007 (www.emea.europa.eu/whatsnew)

    Os dois textos da seo Farmacovigilncia foram traduzidos do ingls por Juliana Penso da Silveira, estagiria do Cebrim/CFF.

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