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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS
CURSO DE ADMINISTRAÇÃO
RAFAELA HISLLE MARINHO OLIVEIRA
PARCERIA PÚBLICO-PRIVADA: UM ESTUDO DE CASO EXPERIMENTAL COM A LAMPADINHA LTDA EM
PARNAMIRIM-RN
Natal
2017
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RAFAELA HISLLE MARINHO OLIVEIRA
PARCERIA PÚBLICO-PRIVADA: UM ESTUDO DE CASO EXPERIMENTAL COM A LAMPADINHA LTDA EM
PARNAMIRIM-RN
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à
Coordenação do Curso de Graduação em
Administração da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em Administração.
Orientador: Aline Virginia Medeiros Nelson
Natal
2017
3
Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA
Oliveira, Rafaela Hislle Marinho. Parceria público-privada: um estudo de caso experimental com a
Lampadinha LTDA em Parnamirim - RN/ Rafaela Hislle Marinho Oliveira. - 2017.
67f.: il. Monografia (Graduação em Administração) – Universidade Federal do
Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de Ciências Administrativas, Natal, 2017.
Orientador: Profa. Dra. Aline Virgínia Medeiros Nelson.
1. Gestão pública – Monografia. 2. Serviços públicos – Monografia. 3. Parceria Público-Privada – Monografia. 4. Setor público - Monografia. I. Nelson, Aline Virgínia Medeiros. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/BS/CCSA CDU 351
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RAFAELA HISLLE MARINHO OLIVEIRA
PARCERIA PÚBLICO-PRIVADA: UM ESTUDO DE CASO EXPERIMENTAL COM A LAMPADINHA LTDA EM
PARNAMIRIM-RN
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à
Coordenação do Curso de Graduação em
Administração da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em Administração.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado e aprovado em 11/12/2017 pela
Banca Examinadora composta pelos seguintes membros:
__________________________
Aline Virginia Medeiros Nelson
Orientadora
__________________________
Carolina de Sousa Martins Melo
__________________________
Evangelina de Mello Bastos
Natal
2017
5
Dedico estre trabalho a Deus, o maior e melhor administrador desde o
princípio.
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RESUMO
No contexto brasileiro político, econômico e social em que os
empreendimentos e/ou serviços públicos oferecidos são, em sua maioria,
considerados ineficientes ou insuficientes, apresenta-se a alternativa da Parceria
Público-Privada (PPP) com o intuito de poupar recursos públicos de natureza
financeira ou acudir a carência deles, além de prestar serviços de maior qualidade e
eficiência. O presente trabalho tem como objetivo analisar os impactos da parceria
público-privada experimental nas partes envolvidas a partir do estudo de caso
experimental com a empresa Lampadinha Materiais Elétricos Ltda. em Parnamirim –
Rio Grande do Norte. Para isso, foi adotada uma abordagem de pesquisa qualitativa
com enfoque na exploração da parceria estabelecida entre a organização e o setor
público, e a visão dos usuários do serviço público participantes do curso oferecido
pela parceria. Os resultados concluem que PPP trazem benefícios tanto para o setor
público, quanto para a iniciativa privada e para a sociedade. Por fim, são apontadas
algumas limitações acerca do tema, destacando-se a lacuna de possíveis PPP’s em
menor escala.
Palavras-Chaves: Serviços públicos, Parceria Público-Privada, Estudo de caso,
Setor público.
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LISTA DE QUADROS
Quadro 01 – Principais Justificativas para Adoção das PPP’s
Quadro 02 – Hipóteses que vedam a celebração de contratos de PPP’s
Quadro 03 – Cláusulas obrigatórias nos contratos de PPP’s
Quadro 04 – Espécies de Concessões
Quadro 05 – Lista de Publicações em Periódicos Qualis A2 que abordam PPP’s
Quadro 06 – Classificação de dados
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LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 01 - Nível de satisfação com o curso ofertado pela parceria entre o vereador
de Parnamirim e a Lampadinha
Gráfico 02 - Avaliação da qualidade do curso e material ofertado
Gráfico 03 - Utilização do conhecimento adquirido
Gráfico 04 - Avaliação qualidade dos serviços oferecidos pelo Estado antes de
participar do curso oferecido pela parceria público-privada
Gráfico 05 - Avaliação qualidade dos serviços oferecidos pelo Estado após
participar do curso oferecido pela parceria público-privada
Gráfico 06 - Avaliação da parceria entre o setor público e o setor privado
Gráfico 07 – Influência sobre a potencialidade de tornarem-se clientes da empresa
privada parceira
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SUMÁRIO
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS .............................................................................................. 101.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA ................................................................... 101.2 OBJETIVOS ................................................................................................................ 131.2.1 OBJETIVO GERAL ..................................................................................................... 131.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...................................................................................... 131.3 JUSTIFICATIVA .......................................................................................................... 141.4 ESTRUTURA DO TRABALHO ................................................................................... 142 REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................................................... 152.1 NOVA GESTÃO PÚBLICA ......................................................................................... 152.2 PARCERIA PÚBLICA-PRIVADAS: POTENCIALIDADES, LIMITAÇÕES E CRÍTICAS 183 CARACTERIZAÇÃO DA PARCERIA ........................................................................ 394 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................... 414.1 TIPO DE ESTUDO ..................................................................................................... 414.2 ABRANGÊNCIA DO ESTUDO ................................................................................... 424.3 COLETA DE DADOS .................................................................................................. 434.4 MODELO DE ANÁLISE DOS DADOS ....................................................................... 455 ANÁLISE DE DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................................... 466 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 57REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 61ANEXOS ................................................................................................................................ 65APÊNDICES ........................................................................................................................... 66
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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O objetivo desta seção da tese é contextualizar e problematizar o tema,
apresentar os objetivos gerais e específicos, as proposições adotadas, a motivação
e relevância do tema, além da estrutura do trabalho e definições prévias de alguns
termos que foram utilizados ao longo do texto.
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA
Ao traçar um rápido panorama histórico brasileiro, observa-se que o país não
somente enfrenta uma crise política, mas também econômica, inclusive no que toca
o trato com as contas públicas. Esse fato acarreta reflexos que prejudicam a
prestação de serviços públicos, apesar de competir ao Estado assegurar sua
excelência e abrangência a todos.
O Estado cresceu de forma insustentável e “quando se escolhe ter um Estado
desse tamanho [...] há um impacto no potencial de crescimento econômico”, como
aponta o economista Tony Volpon, indicado para diretoria de Assuntos
Internacionais do Banco Central em 2015. Esse Estado protuberante, antes
defendido, mostra-se cada vez mais incapaz de suprir o indispensável,
necessitando-se buscar outras opções para cumprir o que é descrito como seu
dever.
Apesar de um cenário nacional econômico muito preocupante, como referido em
2016 por Christine Lagarde, diretora do Fundo Monetário Internacional, nota-se o
crescimento da iniciativa privada, continuando a ser produtiva, criativa e geradora de
riqueza, ininterrupta na busca por novas oportunidades de expansão. Nesse
contexto, a atuação junto ao setor público mostra-se como possibilidade de um novo
seguimento de atuação promissor.
Apesar de notar-se alteração no modelo e na concepção do papel a ser
representado pelo Estado brasileiro, procurando diminuir sua atuação no segmento
econômico e na prestação de serviços públicos, passando a utilizar-se de
ferramentas reguladoras e fiscalizadores, a realidade de que, segundo Pestana
(2006), há muito a fazer para que os interesses dos cidadãos possam ser assistidos
de forma satisfatória, assegurando o mínimo de qualidade de vida.
Dessa forma, surge o espaço propício para modelos inovadores de atuação a
serem desenvolvidos. Três partes envolvidas em que um, o Estado, “deseja
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incrementar a prestação de serviços públicos, mas encontra dificuldades para fazê-
lo” (PESTANA, 2006); o outro, as empresas privadas, “possuem a disposição de
ampliar os domínios dos seus empreendimentos” (PESTANA, 2006) e por fim, tão
importante e imprescindível quanto as demais, os destinatários dos serviços
públicos, “insatisfeitos e inquietos, desejando prontamente deles usufruir”
(PESTANA, 2006).
Iniciam-se, então, as discussões acerca da Parceria Público-Privada (PPP),
objeto de estudo dessa pesquisa, e seus reflexos positivos e/ou negativos. Essa
nova modalidade, que tem sido mundialmente difundida, tem como tendência a
conciliação de interesses públicos e privados em projetos de alto impacto. As
chamadas parcerias público-privadas (PPP’s) visam aumentar o alcance e a
magnitude das ações do governo, aproveitando-se das competências de execução
do setor privado. As PPP’s diferem de outras formas de aquisição de serviços
públicos por sua natureza cooperativa e de divisão de riscos. (THAMER, Rogério
and Lazzarini, Sérgio Giovanetti, 2015).
Essa colaboração entre o setor público e setor privado com o objetivo de
resolver problemas referentes aos serviços prestados pelo Estado (seja relacionado
a educação, infraestrutura, saúde ou qualquer outro) em que unidos, convergindo
esforços, respeitando o orçamento e oferecendo serviços com maior qualidade e
eficiência para a sociedade de forma geral, auxilia na definição das Parcerias
Público-Privadas. Silva (2004) enfatiza que para obtermos uma economia flexível e
produtiva, combatendo a pobreza e a exclusão social à medida que abre
oportunidade de auferir renda e de acesso a serviços de qualidade, serviços
públicos eficazes e confiáveis são fundamentais. Mas é necessário se atentar para o
que Bitterncourt Neto (2005) frisa quando afirma que “Quando mal concebido, um
projeto de PPP pode causar graves prejuízos ao Estado e aos usuários do serviço”,
sendo responsabilidade do parceiro público idealizar as políticas de desenvolvimento
à longo prazo alinhadas as necessidades e objetivos do país. Nesse contexto,
indaga-se sobre as potencialidades, limitações e críticas das PPP’s.
Assim, a pesquisa visa estudar o caso da PPP entre o vereador de
Parnamirim e a empresa Lampadinha Materiais Elétricos na cidade de Parnamirim -
Rio Grande do Norte. A parceria foi firmada com o objetivo de promover capacitação
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e profissionalização de cidadãos do bairro de Bela Vista (um dos bairros com
maiores índices de violência da cidade) para gerar oportunidade de renda para os
participantes do curso e suas famílias. A ideia da parceria surgiu no ambiente de um
Brasil em crise política e econômica como uma resposta aos altos níveis de
desemprego da região. O vereador buscou a empresa e foi firmada a parceria para
promover o curso que durou 35 dias e foi realizado no auditório cedido pela Igreja
Batista de Bela Vista. Inicialmente inscreveram-se 30 cidadãos, mas 25 concluíram o
curso.
1.1.2 PRESSUPOSTOS/HIPÓTESES
As parcerias entre o agente público e o agente privado, tem um histórico
relativamente vasto, abrangendo diversas partes do mundo. Entretanto, ao passo
que tudo se modernizou, as PPP’s foram se modificando e ajustando tanto no que
se refere a sua definição quanto sua aplicação e no seu posterior marco regulatório.
A opção por parcerias público-privadas surge majoritariamente no contexto
em que há restrições orçamentárias e a impossibilidade de atender as demandas
crescentes que afluíam de forma exponencial nas diversas sociedades.
Encaixando-se na concepção do Estado Liberal ou Regulador, as PPP’s também
são passíveis de serem aplicadas a outras concepções de Estado. Por ser uma
modalidade complexa, envolve três dimensões: dimensão Estado; dimensão
Sociedade e dimensão Setor Privado.
O Governo Federal teve a consolidação da Lei n° 11.079, que regula a nova
modalidade de PPP’s, em dezembro de 2004. Comumente no Brasil, a Legislação
Federal serve de inspiração e de sustentáculo para os demais Estados Membros
que compõem a Federação Brasileira. Entre o ano de 2003 e o ano de 2008,
diversos estados e municípios tiveram suas leis de parceria público-privada
publicadas. Moreira (2005, s.p.) nos evidencia a urgência da equiparação da
Administração Pública à iniciativa privada no que toca a uma maximização na
utilização de verba pública e à diminuição do excesso do que ele chama de
formalidades.
A cidade de Parnamirim, no estado do Rio Grande do Norte, enfrenta
problemas semelhantes em diversas áreas (educação, transporte, infraestrutura,
13
tecnologias, saneamento, etc.) que poderiam ser solucionados através desta nova
modalidade de PPP. Nesse contexto, ocorre a parceria entre o Público,
representado pelo vereador da cidade de Parnamirim, e o Privado, representado
pela empresa Lampadinha Materiais Elétricos Ltda., a Lampadinha, promovendo um
curso de capacitação e profissionalização na área de elétrica residencial,
objetivando trazer respostas tanto para questão dos níveis desemprego da cidade,
bem como o de profissionalização da sociedade em que a empresa está inserida.
Tal parceria é o objeto de estudo desse trabalho, sendo segundo Yin (2005) um
estudo de caso originado a partir de uma necessidade de se compreender
fenômenos sociais complexos.
A presente pesquisa busca verificar a hipótese de que essa parceria trouxe
benefícios para todas as partes envolvidas, evidenciando o possível papel de
empresas privadas como agentes de mudança na situação pública atual, além da
fomentação do desenvolvimento da sociedade.
Diante do explicitado, a presente pesquisa pretende responder a seguinte
questão: De que forma a parcerias público privada impactam as partes envolvidas, a
partir do estudo de caso investigado?
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 OBJETIVO GERAL
Analisar os impactos da parceria público-privada nas partes envolvidas a
partir do estudo de caso na empresa Lampadinha Materiais Elétricos Ltda. em
Parnamirim – Rio Grande do Norte.
1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
a) Levantar as modalidades da parceria público-privada;
b) Identificar as potencialidades, limitações e críticas da parceria público-privada;
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c) Observar a efetividade e o impacto na vida dos usuários do setor público
participantes e nas partes envolvidas da parceria público-privada em estudo.
1.3 JUSTIFICATIVA
O interesse pelo tema de Parcerias Pública-Privadas surgiu primeiramente
mediante a autora da presente pesquisa ter participado ativamente do planejamento
e execução do caso estudado na empresa Lampadinha enquanto discente do curso
de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
O trabalho exposto visa contribuir para as discussões acerca das Parcerias
Pública-Privadas, dando visibilidade ao tema, bem como exemplificando possíveis
alternativas ao setor privado de contribuição ativa no desenvolvimento da sociedade
e melhor desempenho do setor público.
1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO
O presente trabalho tem como finalidade apresentar o instituto das Parcerias
Público-Privadas (PPP), demonstrando suas modalidades (concessão administrativa
e a concessão patrocinada), enaltecendo as distinções, entre as duas modalidades,
em relação as concessões de serviços públicos comuns. Não obstante, apresentará
um estudo de um caso de uma PPP na cidade de Parnamirim – Rio Grande do Norte
e irá expor seus resultados, críticas e/ou reflexos positivos.
Num primeiro momento, o trabalho traçará os aspectos gerais da reforma
gerencial da chamada nova gestão pública, permeando a relação da administração
pública e empresas, ressaltando suas potencialidades, limitações e críticas até
apresentar o tema das Parcerias Publico-Privadas, demonstrando suas
modalidades.
Num momento seguinte, tratará o estudo de caso realizado com usuários do
serviço público que participaram de um curso profissionalizante promovido pela PPP
entre o vereador de Parnamirim e a empresa Lampadinha.
Por fim, essa pesquisa se aplicará em apontar os resultados do estudo de caso a
fim de promover e enriquecer o debate no que toca ao tema das Parcerias Público-
Privadas.
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2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 NOVA GESTÃO PÚBLICA
A primeira grande reforma na área pública, analisada por Weber, foi a chamada
Reforma Burocrática (ou Reforma do Serviço Público) e relacionava-se à formação
de um serviço público profissionalizado. Ela ocorreu em meados do século XIX na
Europa ocidental, no início do século XX nos EUA e na década de 30 no Brasil.
Posteriormente, quando se evidenciou a necessidade de mudança e a as
deficiências na organização e funcionamento do setor público, emendas
constitucionais que objetivassem garantir a reforma do Estado adquiriram o status
de “importância fundamental” na agenda do Brasil. Isso tudo teve como cenário o
início do governo de Fernando Henrique Cardoso, em 1995.
Em sequência a primeira emenda aprovada, que tinha como finalidade dar fim
aos monopólios estatais do setor energético e do setor de comunicações, são
propostas três emendas constitucionais significativas e enviadas ao congresso:
reforma tributária, reforma da previdência social e reforma administrativa. Quatro
anos depois, segundo Bresser-Pereira (1999) apenas a Reforma da Gerencial da
Administração Pública pode ser considerada como um verdadeiro êxito e a segunda
verdadeira reforma do setor público.
A partir desse ponto, apesar de muitas vezes ser confundido com a mesma
definição de administração pública, o termo “gestão pública” trás como significado o
rompimento da administração pública tradicional, que já não servia para cumprir o
seu propósito, e a adoção de ferramentas da gestão do setor privado.
De forma genérica, Drucker (1993), que diagnosticou uma “revolução” da gestão,
considera que gestão não se refere à hierarquia organizativa de uma administração
clássica (o que geralmente ocorria na América Latina na época, com falsas reformas
que apenas acarretavam mudança no organograma da administração quando um
novo governo tomava posse), mas à capacidade de promover a inovação
sistemática do saber e tirar dela o máximo rendimento na sua aplicação à produção.
Pode ser atribuído o significado de assumir a responsabilidade sobre a ação de
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um sistema, o que remete à noção de um espaço onde se articulam relações e
negociações ao termo “gerir, segundo Metcalfe e Richards (1987, apud Brugué e
Subirats, 1996). O enfoque dessa de definição está em características, processos,
que são exclusivos ao setor público e referenciam-se à gestão de um conjunto de
organizações e à necessidade de se ajustar ao sistema completo da governança
pública.
Exatamente sobre isso Bresser-Pereira (1999) aborda quando afirma que a
Reforma Gerencial de 1995 substituiu a administração pública burocrática misturada
a práticas clientelistas ou patrimonialistas por uma administração pública gerencial,
que adota os princípios da "nova gestão pública" (new public management). A
reforma trouxe flexibilidade aos processos e os regulamentos burocráticos,
conferindo um grau mais elevado de autonomia e de accountability às agências
governamentais e aos seus gerentes. Foi considerada um novo fenômeno histórico
que ganha ainda mais força quando fica claro que uma das razões pela crise fiscal
do Estado da época era sua ineficiência estrutural da administração pública
burocrática.
Segundo Matias-Pereira (2009), o principal desafio dos governos e da
administração pública no mundo contemporâneo é promover o desenvolvimento
econômico e social sustentável, num ambiente de mudanças de paradigmas, que
estão impactando de maneira profunda na sociedade, em especial nas áreas
econômicas (MATIAS-PEREIRA, 2009b), sociais, ambientais, culturais e
tecnológicas. Com isso, governos e administrações públicas precisam se preocupar
em utilizar-se de ferramentas inovadores de relacionamento com a sociedade.
Nesse sentido, muito mais do que elevar o nível do desempenho da gestão pública,
há a necessidade latente de enfoque também no que toca a ética, a moral e a
transparência na administração pública (accountability).
Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, em 1995, define-se no
Plano Diretor da Reforma do Aparelho de Estado a Reforma Gerencial, buscando
substituir a então gestão burocrática. A tendência de promover a reforma do Estado
(...) tem como fundamento a preocupação dos governos em empreender esforços
para modernizar e agilizar a administração pública (MATIAS-PEREIRA, 2009). Após
evidenciada a ineficiência do serviço público existente no Brasil, desenhou-se um
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quadro teórico para reforma, tendo como base reformas gerenciais que estavam
sendo implementadas desde a década de 80 em diversos países.
Esse modelo gerencial proposto se diferenciava principalmente por ser
caracterizar pela descentralização, eficiência e busca por resultados. Conforme
escrito por Luiz Bresser Pereira (1999, p. 06), a Reforma Gerencial de 1995
englobada mudança relacionado a diversos pontos: A reforma envolve: a) a descentralização dos serviços sociais para
estados e municípios; b) a delimitação mais precisa da área de atuação
do Estado, estabelecendo-se uma distinção entre as atividades
exclusivas que envolvem o poder do Estado e devem permanecer no seu
âmbito, as atividades sociais e científicas que não lhe pertencem e
devem ser transferidas para o setor público não-estatal, e a produção de
bens e serviços para o mercado; c) a distinção entre as atividades do
núcleo estratégico, que devem ser efetuadas por políticos e altos
funcionários, e as atividades de serviços, que podem ser objeto
de contratações externas; d) a separação entre a formulação de políticas
e sua execução; e) maior autonomia e para as atividades executivas
exclusivas do Estado que adotarão a forma de "agências executivas"; f)
maior autonomia ainda para os serviços sociais e científicos que o Estado
presta, que deverão ser transferidos para (na prática, transformados em)
"organizações sociais", isto é, um tipo particular de organização pública
não-estatal, sem fins lucrativos, contemplada no orçamento do Estado
(como no caso de hospitais, universidades, escolas, centros de pesquisa,
museus, etc.); g) assegurar a responsabilização (accountability) através
da administração por objetivos, da criação de quase-mercados, e de
vários mecanismos de democracia direta ou de controle social,
combinados com o aumento da transparência no serviço público,
reduzindo-se concomitantemente o papel da definição detalhada de
procedimentos e da auditoria ou controle interno – os controles clássicos
da administração pública burocrática – que devem ter um peso menor.
De acordo com Bresser-Pereira (1999) “a aprovação de grandes reformas
depende de quatro fatores: necessidade, concepção e desenho, persuasão
democrática, e alianças”. Sendo a reforma proposta aprovada pelo congresso com
alterações mínimas do original, optou-se pela Gestão pela Qualidade Total como
principal estratégia de gerenciamento a ser adotada pelas organizações do Estado
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Há necessidade quando a reforma responde a uma demanda social real. O
desenho adequado da reforma, isto é, o fato de que o texto ou o conteúdo das novas
instituições propostas respondem efetiva e claramente aos objetivos visados, é
essencial para sua aprovação. Em terceiro lugar, nas democracias as reformas
dependem de um debate nacional através do qual a opinião pública possa ser
persuadida. E em quarto, para conseguir o apoio dos políticos no Congresso, é
necessário, além da aprovação da opinião pública, estabelecer alianças estratégicas
(BRESSER-PEREIRA, 1999).
De forma geral, a Reforma Gerencial na administração pública auxiliou no
avanço das três dimensões previstas no Plano diretor, sendo elas no âmbito
institucional, cultural e gerencial. A reforma foi um ponto de divisão entre a
burocracia e a “nova visão” da administração pública em que existiam novas práticas
gerenciais surgindo como opções de ferramentas a serem adotadas.
2.2 PARCERIA PÚBLICA-PRIVADAS: POTENCIALIDADES, LIMITAÇÕES E
CRÍTICAS
Pode-se definir parceria, segundo Hiernaux (1997) como relação entre atores
“em torno da utilização de recursos e/ou descoberta de interesses comuns
articuláveis”. A efetivação do desenvolvimento sustentável, que contempla não
apenas o desenvolvimento econômico, mas também o social e ambiental, exige
ações complexas, que não dependem de apenas um único ator, no caso, o poder
público (MATIAS-PEREIRA, 2009). Nesse contexto, a articulação entre
administração pública e empresas se mostra não apenas como algo possível, mas,
possivelmente, em algum grau, necessário.
Ainda que as relações entre Estado, o mercado e a sociedade estejam cada vez
mais estreitas e sensíveis, e fenômenos como a reforma gerencial, conforme
explanado anteriormente, trazerem ao setor público práticas do setor privado, a
administração pública em muito diverge da iniciativa privada. Afinal, ainda se trata de
um empreendimento político, controlado politicamente, onde obter êxito se traduz
em atender o interesse público. Por mais que se implante controle de resultados,
estes são definidos politicamente. Não há clientes, mas usuários e estes revestem-
se de poderes além do direito de um consumidor.
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Essa diferenciação e compreensão que se tratam de coisas distintas, com
definições e aplicabilidades que se divergem, auxiliam na compreensão de que
forma esses dois objetos se relacionam. Como afirma Matias-Pereira (2009), deve-
se ter em conta que respeitadas as diversidades e as diferenças, é factível identificar
interesses comuns.
A articulação do setor público com empresas é uma iniciativa que carrega uma
potencialidade inestimável, já que de forma geral a união das duas poderia promover
muitas melhoras no que abrange empreendimentos/serviços a serem oferecidos.
Não apenas adoção de boas práticas ou ferramentas gerenciais de excelência, mas
auxílio com recursos de natureza financeira inclusive. Essa articulação poderia
trazer oportunidades para solucionar para o problema da sobrecarga do setor
público, mas também oferece fragilidades, como pouca fiscalização.
Desde a incompreensão do todo que significa a administração pública até
interesses corporativos que suplantem qualquer outro fator, a linha que traça o limite
da potencialidade e fracasso é bastante tênue.
Além de limitações legais, existem complicações no que tange junção do setor
público e privado. Exemplos internacionais de insucessos devem-se basicamente as
falhas legais e regulatórias, inadequado processo de seleção das empresas
privadas, má avaliação dos custos e investimentos, falta de adequados agentes
regulatórios ou de descontrole das parcerias e menosprezo de possíveis
desvantagens de riscos (NUNES, 2004). Ainda segundo Nunes, essas articulações
não são o único nem o melhor caminho para alcançar os objetivos do Estado, além
de adotar a lógica do “tudo pelo fiscal”.
As parcerias público-privadas (PPP) situam-se no que toca os limites mínimos e
máximos da participação da iniciativa privada. Enquadram-se, inclusive, no âmbito
político-ideológico da terceira via, já que ao mesmo tempo se distanciam da visão
liberal dos serviços públicos (que objetivam principalmente o Estado mínimo) e da
perspectiva que considera a provisão estatal de serviços públicos uma questão de
princípios (HM TREASURY, 2002).
Considera, talvez, como uma alternativa ao Estado para não ser necessário abrir
mão da prestação de uma obra/serviço (as chamadas privatizações), e sendo
respaldado pelo setor privado sem prejuízos notórios para a parte mais interessada:
a sociedade como um todo.
20
As discussões a cerca das PPP’s propriamente ditas, principalmente a presença
da iniciativa privada de forma participativa em empreendimentos de natureza
pública, não é um acontecimento recente. Com origens em fenômenos ocorridos no
século XIX e nas primeiras décadas do século XX, essa concessão evidencia-se
como presente em diversas partes do mundo. O canal de Suez, cuja concessão foi
adjudicada em 30 de novembro de 1854 à Compagnie Universelle du Canal Maritime
de Suez é um dos mais significativos exemplos (Pina e Torres, 2003).
Com o final da II Guerra Mundial, a tendência de concepção de empresas
estatais monopolistas suplantou essa dinâmica e tal estrutura foi aos poucos
deixada em desuso. Os Estados Unidos da América permaneceram como exceção
em que experiências de “project finance” tornaram-se frequentes em áreas
essenciais como construção de pontes, túneis e estradas, além de energia e
saneamento.
Entretanto, a conjuntura histórica global muda drasticamente com a crise das
finanças públicas e a perda da capacidade de endividamento do setor público. A
partir desse momento, a procura por parcerias que viabilizassem a realização das
obrigações do Estado se tornou pujante. Nesse contexto, a articulação junto ao setor
privado tornou-se não só uma das alternativas, mas como uma solução à
estruturação de pacotes financeiros para projetos de capital intensivo.
Em solo brasileiro, o interesse pelas PPP’s ainda não atingiu o seu máximo
potencial. Tal atrativo também se deu pela carência de recursos públicos para
financiar o que era necessário. Além de ter em mente a potencialidade de
investimentos robustos em determinadores setores onde o Estado tem falhado em
atender como deveria e observar tentativas bem-sucedidas no ambiente
internacional.
Outros motivos igualmente importantes se destacam quando se busca na
literatura existente sobre o tema justificando o uso das PPP’s. Como ressalta HM
TREASURY (2002) e ilustra-se no quadro a seguir.
21
Quadro 01 – Principais Justificativas para Adoção das PPP’s
A expectativa de melhoria dos serviços públicos;
A crença de que as empresas privadas podem ser mais eficientes e melhor geridas do que as
empresas públicas;
A expectativa de melhoria do value for Money (eficiência) no uso dos recursos públicos, em benefício
da sociedade;
A possibilidade de transferência e de compartilhamento de riscos com o setor privado;
A expectativa de capacitar-se e adquirir expertise pelo acesso ao setor privado;
A superação de dilemas fiscais, uma vez que se possibilita o aumento de investimentos públicos por
meio da participação de recursos privados;
O engajamento dos cidadãos e grupos cívicos na governança e no monitoramento de serviços.
Fonte: Quadro feito pela autora com base em HM TREASURY (2002).
Todas as justificativas para uso das PPP’s no financiamento de
obras/serviços públicos citadas, além de possíveis razões como redução do prazo
de implantação e estímulo à introdução de inovações e modernizações trazidos pelo
setor privado são fatores impulsionadores da instituição de parcerias público-
privadas.
Este tema vem ganhando cada vez mais notoriedade nas discussões no que
tange a área de estudo/atuação do setor privado e público. Por isso, diversos
estudos surgem com a intenção de melhor conceituá-lo e identificar suas
potencialidades, limitações e críticas.
O marco legal ocorre no governo Lula, em que se instituiu normas gerais para
a licitação e contratação de parcerias público-privadas, aplica-se aos órgãos da
administração pública direta dos Poderes Executivo e Legislativo, aos fundos
especiais, às autarquias, às fundações públicas, às empresas públicas, às
sociedades de economia mista e às demais entidades controladas direta ou
indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios (Constituição,
22
1988). Esse marco legal deu-se por meio da Lei nº 11.079 de 30 de dezembro de
2004.
Essa lei nasce com o intuito de poupar investimentos públicos ou para acudir
à carência deles. Contudo, a Lei 11.079/04 veda a celebração de contratos de
parceria público-privada nas seguintes hipóteses ilustrados no quadro a seguir,
conforme a Constituição (1988).
Quadro 02 – Hipóteses que vedam a celebração de contratos de PPP’s
Cujo o valor do contrato seja inferior a R$20.000.000,00;
Cujo período de prestação do serviço seja inferior a 5 anos;
Que tenha como objeto único o fornecimento de mão-de-obra, o fornecimento e instalação de
equipamentos ou a execução de obra pública.
Fonte: Quadro feito pela autora com base na Constituição (1988).
Evidencia-se que o legislador reservou a possibilidade de ajuste da parceria
público-privada a empreendimentos de grande expressão, sobretudo a partir da
conjugação dos fatores valor e tempo.
Segundo Pestana (2006), no que toca a restrição atinente ao fornecimento de
mão-de-obra, instalação de equipamentos ou a execução de obra pública, sublinhou
a lei em apreço, notoriamente, que estas concessões então instruídas e introduzidas
na ordem jurídica brasileira diferem das demais formas de contratação já
consagradas, seja por meio de licitação (tomada sob os auspícios da Lei 8.666/93),
seja sob o disciplinamento específico das concessões comuns (conforme regradas,
sobretudo, pela Lei 8.987/95).
Encontra-se na Lei 11.079/04 deixa claro que os contratos de parceria
público-privadas devem prever cláusulas no que tange ao demonstrado no quadro a
seguir.
23
Quadro 03 – Cláusulas obrigatórias nos contratos de PPP’s
O prazo de vigência do contrato, compatível com a amortização dos investimentos realizados, não
inferior a 5 (cinco), nem superior a 35 (trinta e cinco) anos, incluindo eventual prorrogação
As penalidades aplicáveis à Administração Pública e ao parceiro privado em caso de inadimplemento
contratual, fixadas sempre de forma proporcional à gravidade da falta cometida, e às obrigações
assumidas;
A repartição de riscos entre as partes, inclusive os referentes a caso fortuito, força maior, fato do
príncipe e álea econômica extraordinária;
As formas de remuneração e de atualização dos valores contratuais;
Os mecanismos para a preservação da atualidade da prestação dos serviços;
Os fatos que caracterizem a inadimplência pecuniária do parceiro público, os modos e o prazo de
regularização e, quando houver, a forma de acionamento da garantia;
Os critérios objetivos de avaliação do desempenho do parceiro privado;
A prestação, pelo parceiro privado, de garantias de execução suficientes e compatíveis com os ônus
e riscos envolvidos, observados os limites dos §§ 3o e 5o do art. 56 da Lei no 8.666, de 21 de junho de
1993, e, no que se refere às concessões patrocinadas, o disposto no inciso XV do art. 18 da Lei
no 8.987, de 13 de fevereiro de 1995;
O compartilhamento com a Administração Pública de ganhos econômicos efetivos do parceiro privado
decorrentes da redução do risco de crédito dos financiamentos utilizados pelo parceiro privado;
A realização de vistoria dos bens reversíveis, podendo o parceiro público reter os pagamentos ao
parceiro privado, no valor necessário para reparar as irregularidades eventualmente detectadas.
O cronograma e os marcos para o repasse ao parceiro privado das parcelas do aporte de recursos,
na fase de investimentos do projeto e/ou após a disponibilização dos serviços, sempre que verificada
a hipótese do § 2o do art. 6o desta Lei.
Fonte: Quadro feito pela autora com base na Constituição (1988).
Dessa forma, há um direcionamento no que se relaciona ao que se deve ser
levado em consideração em contrato firmados entre o setor público e privado nas
chamadas parcerias públicas-privadas.
Imprescindível também ressaltar que a lei ainda evidencia as diretrizes a
serem observadas na contratação de parceria público-privada sendo estas a
eficiência no cumprimento das missões de Estado e no emprego dos recursos da
sociedade; o respeito aos interesses e direitos dos destinatários dos serviços e dos
entes privados incumbidos da sua execução; a indelegabilidade das funções de
regulação, jurisdicional, do exercício do poder de polícia e de outras atividades
24
exclusivas do Estado; a responsabilidade fiscal na celebração e execução das
parcerias; a transparência dos procedimentos e das decisões; a repartição objetiva
de riscos entre as partes; e a sustentabilidade financeira e vantagens
socioeconômicas dos projetos de parceria (CONSTITUIÇÃO, 1988).
A eficiência no cumprimento das missões de Estado e no emprego dos
recursos da sociedade é um dever imposto a todos que se atentam para a realidade
brasileira. O respeito aos interesses e direitos dos destinatários dos serviços e dos
entes privados incumbidos da sua execução evidencia as duas faces das PPP’s: a
importância dada aos usuários e destinatários dos serviços públicos ao passo que
demonstra o Estado em uma relação íntima e respeitosa com a iniciativa privada
(não mais uma autoridade intocável e inatingível), compartilhando possíveis riscos
de insucessos bem como os potenciais benefícios do sucesso.
Relacionado a indelegabilidade das funções de regulação, jurisdicional, do
exercício do poder de polícia e de outras atividades exclusivas do Estado evidencia
a necessidade, segundo Pestana (2006), das restrições serem expressas, e,
mesmo, retoricamente veementes, de maneira a que não se pretenda contornar
pilares juridicamente erguidos (...) para ganhar concretude e operatividade através
de manejo dos atos administrativos.
Já no que toca a responsabilidade fiscal na celebração e execução das
parcerias; a transparência dos procedimentos e das decisões refere-se tanto ao
setor público no cuidado no momento de arrecadação quanto de manuseio dos
recursos fiscais quanto ao setor privado estar atento a suas obrigações tributárias,
por exemplo. A transparência dos procedimentos e das decisões reforça o repúdio
aos interesses subalternos e a repartição objetiva de riscos entre as partes refere-se
a divisão dos riscos, além de que todos esses riscos sejam tratados de forma clara.
Por fim, a sustentabilidade financeira e vantagens socioeconômicas dos projetos de
parceria refere-se ao zelo dos recursos financeiros, bem como a preocupação com a
esfera socioeconômica.
As PPP’s possibilitam uma relação única entre administração pública e
iniciativa privada em que se evidencia por sua flexibilização, retratando o que
Pestana (2006) considera como movimentação brasileira de dar novos rumos a
25
forma dessas duas “esferas” se relacionarem. A lei, conforme explanado
anteriormente, contorna os pontos críticos das divergências desses dois fatores,
buscando oferecer um ambiente em que que a lucratividade esteja equiparada e
“convivendo em harmonia” com o interesse público.
Segundo Pestana (2006)
Parece-nos que se estabelecem, no Brasil, novos tempos, em que, mediante
a publicização, ainda que relativa, do que é particular, assim como da
particularização, não obstante relativa, do que é público, concessões e
alargamento de princípios até então fundamentais de uns e outros, forja-se
um novo tipo de relação jurídica, que poderá trazer benefícios a toda
coletividade, não só por aprimorar a prestação de serviços públicos, como,
sobretudo, por antecipá-la, pois, sabemos, as dificuldades crônicas
financeiras do estado brasileiro habitualmente postergam, quando não
verdadeiramente suprimem os investimentos que possam beneficiar a
coletividade.
Buscando integrar os setores público e privado, conforme um objetivo em
comum e sob um contrato celebrado conforme fixado por lei, apesar de admitir
certas flexibilizações pelas partes envolvidas, apresenta-se sob a forma jurídica de
contrato de concessão, do qual divide-se em duas espécies, conforme explanado
pelo quadro a seguir.
Quadro 04 – Espécies de Concessões
Tipo de Concessão Descrição Exemplo
CONCESSÃO
PATROCINADA
A concessão patrocinada é a modalidade de
contratação da prestação de serviços públicos ou
de obras públicas, a eu se refere a Lei 8.987/95,
que envolve adicionalmente à tarifa cobrada dos
usuários, uma contraprestação pecuniária do
parceiro público ao parceiro privado.
Nesta espécie de concessão, portanto, o parceiro
privado, além de remunerar-se através da
cobrança de tarifa dos usuários, conta com o
aporte de recursos por parte do parceiro público, a
Exemplo no Brasil na
construção de
rodovias, em que o
particular, além de
contar com a
possibilidade de obter
recursos através da
cobrança de tarifas
(pedágio), obtém,
ainda, remuneração
adicional proveniente
26
ser integralmente destinado ao serviço que os une
na parceria.
Não havendo tal contraprestação pecuniária, por
parte do público ao privado, a concessão será
considerada como concessão comum (submetida,
fundamentalmente, ao regime estabelecido pela
Lei 8.987/95), não se sujeitando, portanto, ao
disciplinamento específico introduzido pela Lei
11.079/04.
As concessões patrocinadas são regradas pela
Lei 11.079/04, aplicando-se-lhes,
subsidiariamente, a Lei 8.987/95 e os demais
normativos correlatos.
da Administração
Pública
CONCESSÃO
ADMINISTRATIVA
A concessão administrativa é a modalidade da
contratação da prestação de serviços, da qual a
Administração Pública seja a usuária direta ou
indireta, ainda que envolva execução de obra ou
fornecimento e instalação de bens.
Nesta espécie, o traço que distingue da
concessão patrocinada é o de que a própria
Administração Pública seja a usuária direta ou
indireta do serviço prestado, a par, portanto, de
integrar, como parceira pública, a própria relação
jurídica com o parceiro privado.
A concessão administrativa é disciplinada pela Lei
11.079/04, aplicando-se-lhe, adicionalmente, o
disposto nos arts. 21, 23, 25 e 27 a 39 da Lei
8.987/95, e no art.31 da Lei 9.074/95, assim como,
subsidiariamente, os demais dispositivos
constantes da Lei 8.987/95, e legislação correlata,
naquilo em que não colidir com o disposta na Lei
11.079/04.
O exemplo, sempre
lembrado, nesta
espécie de concessão,
é o dos presídios. A
parceria pode
encarregar-se de
realizar o projeto,
implementar a
realização e, ao final,
ter a Administração
Pública como usuária,
abrigando-se aos
presos e satisfazendo,
assim, toda a
coletividade.
Fonte: Quadro feito pela autora com base em Pestana (2006).
A Lei 11.079/04 define a Parceria Público-Privada como contrato de
concessão na modalidade patrocinada ou administrativa. A concessão patrocinada é
27
a concessão de serviços públicos ou de obras públicas de que trata a Lei no 8.987,
de 13 de fevereiro de 1995, quando envolver, adicionalmente à tarifa cobrada dos
usuários contraprestação pecuniária do parceiro público ao parceiro privado. Define
também a concessão administrativa, sendo considerado o contrato de prestação de
serviços de que a Administração Pública seja a usuária direta ou indireta, ainda que
envolva execução de obra ou fornecimento e instalação de bens. E ainda ressalva
que a concessão comum, assim entendida a concessão de serviços públicos ou de
obras públicas de que trata a Lei no 8.987, de 13 de fevereiro de 1995 não constitui
parceria público-privada, quando não envolver contraprestação pecuniária do
parceiro público ao parceiro privado.
Municípios e estados também podem elaborar suas próprias leis a fim de que
complementem a legislação federal. Já existiam legislações gerais sobre as
modalidades de contratação pública e licitações, além de casos pelo Brasil
apontados como PPP’s, a exemplo no estado de Minas Gerais e São Paulo.
O caso do Hospital do Subúrbio (HS) em Salvador, em funcionamento, é
registrado como primeira parceria público-privada (PPP) do Brasil no setor de saúde,
foi construído pelo governo baiano e é administrado, operado e equipado pela
iniciativa privada desde sua inauguração, em setembro de 2010. Segundo FUCS
(2014), o HS alia o melhor de dois mundos: é um hospital público, com atendimento
gratuito, com a qualidade de um bom hospital particular. Segundo a Secretaria de
Saúde da Bahia, cerca de 10% mais inferior ao de hospitais similares geridos
diretamente pelo governo do Estado. “Administrar um hospital – pessoal, insumos,
equipamentos – é algo complexo, que exige uma agilidade que o Estado não tem”,
diz Jorge Oliveira, presidente da Prodal Saúde, empresa que ganhou a concessão
do Hospital do Subúrbio por dez anos, num leilão realizado na BM&F Bovespa em
março de 2010.
Além de diversos prêmios ganhos pelo hospital pelos seus serviços, FUCS
(2014) ainda aponta que a operação do hospital tem custos 10% inferiores ao dos
hospitais administrados diretamente pelo Estado, tendo sido R$ 50 milhões
investidos pelo estado e R$ 30 milhões investidos pela iniciativa privada até aquele
momento.
28
A eficiência com que as empresas executam não só seus investimentos, mas
também processos, por exemplo, é uma ferramenta passível de contribuir de forma
notável para o desempenho e funcionamento do setor público. Definido por Drucker
(1962), eficiência consiste em fazer certo as coisas: geralmente está ligada ao
nível operacional, como realizar as operações com menos recursos – menos tempo,
menor orçamento, menos pessoas, menos matéria-prima, entre outros.
Apesar de serem, em sua origem, serviços/empreendimentos públicos, ao
compartilhar junta a iniciativa privada é natural que procedimentos práticos e
burocráticos para seu desenvolvimento sejam conduzidos sob o viés de uma
empresa privada. Além disso, também pode-se citar os desenvolvimentos
tecnológicos que as empresas possuem que poderiam estar a serviço da sociedade
como um todo por meio das PPP’s, sendo possível a sociedade usufruir de
empreendimentos/ serviços modernos e eficientes.
Com base tudo o que já foi exposto até esse ponto, muito pode deduzir sobre
as PPP’s, incluindo que o objetivo principal da ideia por trás das parcerias público-
privadas é a concretização de empreendimentos sociais ou estrategicamente
prioritários em um contexto de restrição à oferta de verba pública, promovendo,
ainda, crescimento sustentável da economia brasileira, além de preservação
recursos financeiros públicos e empreendimentos/serviços oferecidos com maior
eficiência.
De forma geral, a intenção e objetivos das parcerias público-privadas tem sido
avaliadas como positivas, nos meios políticos e científicos, conforme aborda Stiglitz
(2003) que afirma que ao aquilatarem o papel apropriado do governo, procuram
incorporar o entendimento das limitações tanto do governo como dos mercados. (...)
A visão predominante procura encontrar caminhos para governo e mercados
trabalharem juntos, cada um fortalecendo o outro.
Existem diversos estudos de que o Brasil demanda investimentos
consideráveis e o Estado não possui condições viáveis de realiza-los, dando às
PPP’s uma aparência demasiado atrativa e solução viável. Ao pesquisar mais
profundamente sobre as PPP’s, destacaram-se periódicos de Qualis A2 que
abordavam o tema. Dessa forma, ficou claro a importância e riqueza do objeto
apreciado, conforme demonstrado no Quadro 01 a seguir.
29
Quadro 05 – Lista de Publicações em Periódicos Qualis A2 que abordam PPP’s
Periódicos Publicações
(Autor, título e data) Link
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Entretanto, diversos pontos ainda geram dúvida e os acontecimentos
internacionais não devem ser usados como referência para assegurar eficiência já
que divergem em diversos pontos, como regulamentos e estruturação como essas
parcerias são estabelecidas.
A justificativa, apesar de aparentemente nobre, de que um contrato de PPP
seja firmado no Brasil por uma demanda de serviço/empreendimento que para o
Estado é inviável concretizar, independente se ser por falta de recursos ou
incapacidade gerencial, acarreta dúvidas que fazem jus serem levantadas.
Existem pontos na lei que institui as PPP’s pouco desenvolvidos, como o que
consta no inciso III do art. 2o em que afirma: “regular, legislar e policiar são os únicos
37
domínios de responsabilidade governamental aos quais ficam interditadas as
parcerias público-privadas”. Isto é, há margem para que a atuação do parceiro
privado dependa dos termos de cada contrato especificamente o que, segundo
Nunes, 2004 permite delegar todas as funções, à exceção das funções de
regulação, jurisdicional e do exercício de poder de polícia.
Além disso, há a questão de que diversos artigos asseguram a iniciativa
privada (arts 5o ao 9 o, por exemplo) enquanto no caso de concessões e permissões
de serviços públicos, o governo poderá arcar, total ou parcialmente, com os custos
do investimento e com a remuneração esperada pelos investidores. Apesar disso,
não há garantias expressas que assegurem que os interesses públicos prevaleçam
diante ao da iniciativa privada.
Inalba Fontenelle, presidente do sindicato dos trabalhadores em saúde da
Bahia, afirma, na época de discussões do caso do HS citado anteriormente, que a
PPP é “uma enganação”.
Já, segundo Abramo (2004), entre as diversas inadequações do projeto de lei
que institui as PPP’s, uma das mais alarmantes é a permissão de que projetos de
parcerias público-privadas ocorram sem obediência à Lei de Licitações e Contratos,
empregando-se critérios de decisão subjetivas e vulneráveis à corrupção. Isso tudo
levaria ao fracasso, e até poderia acarretar o comprometimento de bilhões de reais
por períodos que são permitidos chegar até 35 anos, da ideia por trás das PPP’s,
insucesso do que parece, ou parecia, ser uma importante solução para infraestrutura
brasileira.
Uma das críticas recorrentes sobre as PPP’s e a lei que as regulam é, além
da falta de controle, se estabelece um ambiente totalmente “liberado”, sendo
propício para o desenvolvimento de diversos problemas, inclusive o de
superfaturamento ou desvio de verbas de ambas as partes, o que segundo Nunes
(2004) é “um cheque em branco desnecessário”.
Não se pode permitir que as PPP’s sejam oportunidades de gestores,
independente se do setor público ou da iniciativa privada, com intenções duvidosas
graças o “dinamismo, ou flexibilidade, exacerbada”. Evidencia-se como
imprescindível criar mais ferramentas de controle para esses contratos das PPP’s e
ser dada maior atenção por parte de órgãos reguladores.
38
Por fim, vale ressaltar que o caso em estudo na presente pesquisa é
identificado como uma Parceria Público-Privada “informal”, visto que não atende aos
requisitos básicos (como contratos com o objeto da prestação de serviços públicos
nos quais o valor mínimo para a sua estabulação de vinte milhões de Reais, além do
combinado com a condição de ser cumprido no mínimo em 5 anos e no máximo 35
anos). Esta parceria se estabelece pela relação de boa fé entre o setor público,
representado pelo vereador de Parnamirim, e o setor privado, representado pela
Lampadinha. A parceria foi firmada para promover um curso de capacitação e
profissionalização na área de elétrica residencial, contando com o espaço cedido,
sendo cadastro de alunos e professor oferecido pelo setor público e todo o material
e ferramentas utilizado no curso e dado aos alunos pelo setor privado.
39
3 CARACTERIZAÇÃO DA PARCERIA
O caso em estudo na presente pesquisa é identificado como uma Parceria
Público-Privada “informal”, visto que não atende aos requisitos básicos, como
contratos com o objeto da prestação de serviços públicos nos quais o valor mínimo
para a sua estabulação de vinte milhões de Reais, além do combinado com a
condição de ser cumprido no mínimo em 5 anos e no máximo 35 anos e até mesmo
a ausência de contrato formal. Esta parceria se estabelece pela relação de boa fé
entre o setor público, representado pelo vereador de Parnamirim, e o setor privado,
representado pela Lampadinha. A parceria foi firmada para promover um curso de
capacitação e profissionalização na área de elétrica residencial, contando com o
espaço cedido, sendo cadastro de alunos e professor oferecido pelo setor público e
todo o material e ferramentas utilizado no curso e dado aos alunos pela organização
envolvida na parceria.
A Lampadinha, representante da iniciativa privada na parceria, é uma
empresa norte-rio-grandense do ramo de materiais de construção. Fundada há mais
de 32 anos, tem sua origem a partir de uma oportunidade de negócio identificada
pelos dois sócios fundadores visando preencher o déficit no mercado natalense no
que diz respeito a comercialização de materiais elétricos com foco em construção
civil. A empresa se expandiu, aumentou seu mix de produtos, englobando hoje mais
de 35 mil itens, e conta atualmente com seis unidades distribuídas pelo RN e PB,
sendo referência nacional no ramo de materiais elétricos.
Desde de sua fundação, a Lampadinha tem como público alvo os
profissionais, diferenciando-se da maioria de seus concorrentes diretos, que buscam
alcançar sobretudo as chamadas donas de casa e pais de família com o conceito de
“home center”. A organização identifica o profissional prestador de serviços um de
seus principais clientes e tem tradição de investir em profissionalização de pessoas.
Ao início de 2017, surgiu o interesse da diretoria da Lampadinha de dar um
passo além no sentido de contribuir de modo mais efetivo e profundo com a
capacitação de pessoas para o mercado de trabalho. Visto que para os anos de
2017 e 2018 foram confirmados altos investimentos pela empresa para a construção
de uma nova unidade no município de Parnamirim/RN, procurou-se na cidade
40
alguma oportunidade de parceria que somasse esforços para a capacitação e
profissionalização de cidadãos parnamirinenses.
Nesse período, identificou-se que um então vereador de Parnamirim, o
representante do setor público na parceria, atuava na cidade na área de
profissionalização em bairros com altos índices de desemprego, sendo a ideia
principal promover mudança e desenvolvimento econômico-social oferecendo cursos
para formação de eletricistas prediais e residenciais, bombeiros hidráulicos e
pintores. A contratação do professor era de responsabilidade do vereador, enquanto
sua equipe de assistentes sociais apontava o bairro que se encaixava no perfil do
princípio do projeto. A comunidade era alcançada e formava-se turmas de 30 a 40
pessoas que buscavam, principalmente, se capacitar para buscar espaço no
mercado de trabalho. A prefeitura de Parnamirim cedia o espaço a ser utilizado, mas
para que o projeto prosseguisse era necessário apoio com material necessário para
as aulas: ferramentas, fios, disjuntores, entre outros materiais elétricos e de
construção – tudo que fazia parte do mix comercializado pela organização além do
foco no que a empresa era referência.
Nesse ambiente promissor, a parceria foi firmada entre a Lampadinha e o
vereador. A proposição era que a estrutura permanecesse como havia sido
idealizada, o setor público responsável forneceria o professor e o apoio social, a
prefeitura de Parnamirim entraria com a estrutura física e a Lampadinha forneceria
todo o material elétrico para as aulas práticas.
Com o desenvolvimento do curso e engajamento dos alunos, a parceria se
estendeu e ao final formaram-se 25 profissionais. Além de todo material utilizado no
curso, os concluintes foram presenteados com todas as ferramentas necessárias
para se inserirem no mercado de trabalho de imediato - uma caixa de ferramentas
completa foi entregue a cada aluno, além uma bata para trabalho.
41
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
No presente capítulo serão abordados os procedimentos metodológicos
adotados para realizar a presente pesquisa no processo da coleta dos dados
primários, pesquisados com o objetivo de atender às necessidades específicas da
pesquisa em andamento e secundários aqueles que já foram coletados, tabulados,
ordenados e, às vezes, até analisados, com outros propósitos de atender às
necessidades da pesquisa em andamento (MATTAR, 2005, pág. 152-158).
4.1 TIPO DE ESTUDO
O tema desse trabalho indica a pesquisa referente a análise da Parceria Público-
Privada através do estudo de caso da parceria realizada entre a empresa
Lampadinha Materiais Elétricos Ltda. e o vereador de Parnamirim em Parnamirim -
Rio Grande do Norte. Santos (2013, p.201) “a pesquisa é a forma que a ciência
possui para conhecer a realidade empírica”.
Para atender aos objetivos específicos da pesquisa, onde o foco de observação
partirá bilateralmente, foi adotada uma abordagem de pesquisa qualitativa para
enfoque na exploração da parceria estabelecida entre a organização e o vereador; e
para visão dos usuários do serviço público oferecido pela parceria.
Para Diehl e Tatim (2004, p.52), os estudos qualitativos:
Podem descrever a complexidade de determinado problema e a interação de certas variáveis,
compreender e classificar os processos dinâmicos vividos por grupos sociais, contribuir no
processo de mudança de dado grupo e possibilitar, em maior nível de profundidade, o
entendimento das particularidades do comportamento do indivíduo.
O modelo de pesquisa qualitativa tratou da opinião da organização e do
vereador que construíram a parceria. O levantamento foi realizado através de um
questionário aplicado com as partes, além de análise de conteúdo com gráficos para
facilitar a compreensão, mas sem fins estatísticos.
Quanto aos objetivos do problema, a pesquisa caracterizou-se como
exploratória e descritiva, devido à escassez de trabalhos científicos sobre o tema em
42
Parnamirim/RN e trata-se de modelos para entender como a Parceria Público
Privada impacta os usuários dos serviços públicos.
Para fundamentar a escolha do método, Mattar (1997, p.94) afirma que “a
pesquisa exploratória é utilizada para elevar o conhecimento do pesquisador sobre
um tema que lhe ainda é totalmente desconhecido” pois “se caracteriza pela
existência de poucos dados disponíveis” (SANTOS, 2013. p.197). Duarte (2015)
corrobora afirmando que:
Caso o problema proposto não apresente aspectos que permitam a visualização dos
procedimentos a serem adotados, será necessário que o pesquisador inicie um processo de
sondagem, com vistas a aprimorar ideias, descobrir intuições e, posteriormente, construir
hipóteses.
Segundo Diehl e Tatim (2004), Duarte (2015) e Mattar (1997) a pesquisa
descritiva tem como principal objetivo fazer uma descrição das características de
uma população, de um fenômeno ou de uma experiência. Esse tipo de pesquisa
estabelece relação entre as variáveis no objeto de estudo analisado. Variáveis
relacionadas à classificação, medida e/ou quantidade que podem se alterar
mediante o processo realizado (DUARTE, 2015). Esse processo pode ser realizado
através de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como questionários e
observações sistemáticas (DIEHL; TATIM, 2004).
4.2 ABRANGÊNCIA DO ESTUDO
Segundo Diehl e Tatim (2004, p. 64) a população de uma pesquisa refere - se a
“um conjunto de elementos passíveis de serem mensurados com respeito às
variáveis que se pretende levantar”.
No presente trabalho, a população compreendeu aos usuários do setor público
que participaram do curso profissionalizante na área de elétrica residencial
promovido pela parceria público-privada realizada entre o vereador de Parnamirim
de Parnamirim e a empresa Lampadinha.
43
4.3 COLETA DE DADOS
Segundo Simioni (2010), a atividade de coleta de dados corresponde ao ato de
pesquisa, buscar e procurar informações sobre um determinado tema ou um
conjunto de temas e agrupá-los como base para análise dos resultados. Mattar
(1997) afirma que os dados podem ser classificados em dois grandes grupos:
Quadro 06 – Classificação de dados
Dados primários
São aqueles que não foram antes coletados,
estando ainda em posso dos pesquisados, e que
são coletados com o propósito de atender às
necessidades específicas da pesquisa em
andamento;
Dados secundários
São aqueles que já foram coletados, tabulados,
ordenados e, às vezes, até analisados, com
propósitos outros ao de atender às necessidades
de pesquisa em andamento, e que estão
catalogados à disposição dos interessados.
Fonte: Quadro feito pela autora com base em Simioni (2010)
Para a presente pesquisa, foram utilizadas três modelos de fontes primárias de
pesquisa: questionário, observação e entrevista. Segundo Diehl e Tatim (2004, p.68)
“o questionário é um instrumento de coleta de dados construído por uma série
ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença
do entrevistador”.
O questionário foi elaborado em papel e respondido no dia 21 de outubro de
2017, direcionado ao público específico da pesquisa, para um grupo de pessoas do
espaço amostral de 25 pessoas, todos os participantes do curso de eletricista
residencial. Ao término do período de 30 minutos disponibilizado para responder a
pesquisa, foi contabilizado 25 questionários respondidos.
O questionário de pesquisa foi composto de 7 questões fechadas e de múltipla
escolha, através de três tipos de perguntas: alternativas ramificadas, alternativas
44
que medem a intensidade/importância/avaliação da opinião e alternativas de
respostas múltiplas (SANTOS, 2013, p. 258). O questionário foi construído em três
partes com objetivo escalar de observar: (1) Satisfação dos participantes com curso
oferecido pela parceria público-privado; (2) A visão dos participantes do Estado e os
serviços oferecidos; (3) A visão dos participantes da empresa e da parceria
estabelecida. Todos os respondentes tiveram sua identidade mantida em sigilo,
sendo preservado o anonimato dos respondentes. O roteiro de entrevista encontra-
se no apêndice do presente trabalho.
O segundo método de coleta de dados foi a observação. Diehl e Tatim (2004,
p.71) apontam que “a observação é uma técnica de coleta de dados para conseguir
informações que utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da
realidade”. Para pesquisa, foi utilizado o tipo de observação não participante, onde o
observador toma contato com a comunidade e presencia o fato, mas sem interagir
com ela, permanecendo oculto e como espectador (MICHEL, 2009). A observação
foi feita no ambiente do auditório da Igreja Batista de Bela Vista, espaço cedido para
a realização do curso de elétrica residencial, do dia 22 de maio de 2017 a 26 de
junho de 2017, no período da noite, durante o ciclo de aulas somando 80hrs. O
roteiro de entrevista encontra-se no apêndice do presente trabalho.
Por fim, a coleta de dados por meio de entrevistas com o vereador de Parnamirim
da cidade de Parnamirim e com um representante da empresa Lampadinha.
Segundo Chizzotti (1998, p. 57) “ a entrevista dirigida em pesquisa é um tipo de
comunicação entre um pesquisador que presente colher informações sobre
fenômenos e indivíduos que detenham essas informações e possam emiti-las”. O
roteiro de entrevista encontra-se no apêndice do presente trabalho.
A entrevista foi elaborada de forma estruturada, onde “as perguntas são as
mesmas para todos os entrevistados (SANTOS, 2013, p.261)” e “o entrevistador
segue um roteiro previamente estabelecido (DIEHL; TATIM, 2004, P.66)”. Para fins
de preservação do anonimato, foi ocultado o nome do representante da empresa,
denominado durante a análise de Representante da Lampadinha.
O roteiro de entrevista foi composto por 4 perguntas em uma estrutura de
perguntas diretas e abertas. As entrevistas foram realizadas no dia 21 de outubro de
2017. As perguntas foram elaboradas para compreender a visão das duas partes
45
acerca da parceria estabelecida e seus benefícios e/ou críticas, estando o roteiro de
entrevista localizado no apêndice do presente trabalho.
Os dados secundários, por sua vez, foram reunidos a partir de publicações gerais
e institucionais, pesquisas na Internet em geral, livros e artigos de abordagem do
tema, jornais e periódicos nacionais e locais sobre gestão pública e parcerias
público-privadas.
4.4 MODELO DE ANÁLISE DOS DADOS
Os resultados foram analisados através da sua aplicabilidade: dados
quantitativos e análise de conteúdo. Os dados obtidos através do questionário foram
armazenados na ferramenta do Microsoft Office Excel, para tabulação, onde foi
permitido gerar gráficos da pesquisa. As informações adquiridas foram analisadas a
partir da transcrição das mesmas.
Para análise do conteúdo, foram utilizados conhecimento adquiridos em
decorrência da experiência da consecução do trabalho sobre o tema, informações
consultadas em referências bibliográficas e pesquisas na Internet para interpretação
das observações e da entrevista, buscando identificar e interpretar as informações
dentro do tema proposto.
46
5 ANÁLISE DE DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Após abordagem teórica sobre o tema e designação metodológica da pesquisa,
serão discutidos nessa seção os resultados obtidos da pesquisa.
5.1. ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA COM PARTICIPANTES DO CURSO
A pesquisa com os participantes do curso enfocou na satisfação em relação ao
curso ofertado pela parceria público-privada, a satisfação em referente ao Estado e
seus serviços, a sua visão sobre o que se refere a Lampadinha e sobre parcerias
como esta.
De acordo com a pesquisa, 76% das pessoas pesquisadas consideram o seu
nível de satisfação com o curso ofertado pela parceria entre o vereador de
Parnamirim e a Lampadinha, além de 20% considerar o nível alto. Apenas 4%
considerou seu nível de satisfação sendo médio.
Dessa forma, pode ser interpretado o curso como uma ação como benefício visto
que cerca de 96% avaliou sua satisfação entre alta e muito alta. O Gráfico 01,
ilustrado a seguir, demonstra os resultados com relação a avaliação do nível de
satisfação com o curso ofertado pela parceria entre o vereador de Parnamirim e a
Lampadinha.
Gráfico 01 - Nível de satisfação com o curso ofertado pela parceria entre o
vereador de Parnamirim e a Lampadinha
Fonte: Pesquisa de campo, out. 2017.
47
No que se relaciona a qualidade do curso e material oferecido, os índices de
avaliação como muito bom foram de 68%, 28% consideraram como bom e apenas
4% considerou a qualidade do curso de o material como regular.
Segundo Paladine (2009) qualidade é um conceito de “adequação de uso”.
Dessa forma, não determina nem identifica quais elementos estabelecem como
“qualidade total”. A qualidade passa a ser característica de quando se é atendido
“totalmente” ao consumidor. Conclui-se, então, que foi ofertado um curso de
qualidade.
O curso ministrado ofereceu 80hrs de conhecimento teórico e prático, além de
todo material utilizado para práticas no curso, kits completos com ferramentas
profissionais e batas para cada participante. Também foram entregues certificados
do curso que realizaram, justificando uma avalição de 96% de avaliação entre bom e
muito bom. Os dados estão ilustrados no gráfico a seguir.
Gráfico 02 - Avaliação da qualidade do curso e material ofertado
Fonte: Pesquisa de campo, out. 2017.
Os participantes da presente pesquisa foram questionados em relação a
utilização dos conhecimentos adquiridos no curso e entre os pesquisados 64%
informou que iria utilizar o conhecimento na esfera pessoal, 20% afirmaram que não
iriam utilizar o conhecimento e 16% que iriam utilizar na esfera profissional.
Apesar da proposta da parceria firmada ter como objetivo capacitar e
profissionalizar os participantes do curso de elétrica residencial para gerar
oportunidade de renda a cidadãos do bairro de Bela Vista, apenas 16% pretende
utilizar os conhecimentos para fins profissionais. Apesar da maioria afirmar que irá
utilizar o que aprendeu ao menos para fins pessoais, podendo garantir instalações
48
mais seguras na região, por exemplo, evidencia-se que o objetivo principal inicial
não foi atingido, conforme pode ser observado no gráfico 03:
Gráfico 03 - Utilização do conhecimento adquirido
Fonte: Pesquisa de campo, out. 2017.
Os participantes da pesquisa também foram questionados sobre sua avaliação
quanto a qualidade dos serviços oferecidos pelo Estado antes participar do curso
oferecido pela parceria público-privada. 48% consideraram como ruim, 32% como
muito ruim e 20% como regular.
Segundo Meirelles (2003) o princípio da eficiência exige que a atividade
administrativa seja exercida com presteza, perfeição e rendimento funcional. É o
mais moderno princípio da função administrativa, que já não se contenta em ser
desempenhada apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço
público e satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e seus
membros. Apesar disso, 80% avaliaram como ruim ou muito ruim conforme ilustrado
no Gráfico 04 a seguir.
49
Gráfico 04 - Avaliação qualidade dos serviços oferecidos pelo Estado antes de
participar do curso oferecido pela parceria público-privada
Fonte: Pesquisa de campo, out. 2017.
Anteriormente, os pesquisados responderam como avaliavam qualidade dos
serviços oferecidos pelo Estado antes do curso. Em razão disso, a pesquisa, então,
buscou de que forma essas opiniões se modificaram após o curso promovido, onde
52% avaliou como regular, 28% avaliou como bom e 20% avaliou como ruim.
Os dados desse indicador apontam que os cidadãos têm uma percepção melhor
do serviço oferecido pelo Estado após participar do curso promovido pela PPP. Os
resultados corroboram sobre o explicitado anteriormente, onde a percepção dos
entrevistados melhorou consideravelmente. Evidencia-se, com isso, benefícios da
Parceria Público-Privada. Essa visão é representada no Gráfico 05 a seguir.
Gráfico 05 - Avaliação qualidade dos serviços oferecidos pelo Estado após
participar do curso oferecido pela parceria público-privada
Fonte: Pesquisa de campo, out. 2017.
50
Em razão das críticas em relação as parcerias entre o setor público e privado,
conforme exposto no referencial teórico, a pesquisa questionou aos respondentes
sobre a avaliação da parceria público-privada, onde 72% considerou bom, 24%
avaliou como muito bom e 4% avaliou como regular.
Os resultados apontam uma boa avaliação dos respondentes sobre a ação
conjunta do setor público e privado. Esses resultados corroboram com o explicitado
anteriormente no Gráfico 02 em que 96% considerou bom ou muito bom o nível de
qualidade do curso e do material ofertado. Isso evidencia a possibilidade de ações
que ofereçam benefícios aos cidadãos e usuários do setor público quando em
parceria ao setor privado. Esse fato corrobora para a hipótese base do presente
trabalho, conforme apresentam os dados a seguir.
Gráfico 06 - Avaliação da parceria entre o setor público e o setor privado
Fonte: Pesquisa de campo, out. 2017.
Por fim, em se tratando a influência da parceria sobre a potencialidade dos
participantes do curso se tornarem clientes da Lampadinha, empresa parceira
patrocinadora, 72% afirmaram pretender se tornarem clientes, 16% já eram clientes
e 12% afirmaram não pretender se tornarem clientes.
Essa parte da pesquisa buscava mensurar, mesmo que de forma geral, o retorno
para a empresa privada no que se refere diretamente a resultados de vendas devido
ao investimento realizado na parceria público-privada. De forma geral, 72% de
respondentes afirmarem pretender tornarem-se clientes é um resultado considerado
positivo que pode ser apresentado como estímulo a outras empresas privadas a
51
participarem de parcerias como essa que visem o desenvolvimento da sociedade.
Os dados são ilustrados conforme o Gráfico 07 a seguir.
Gráfico 07 – Influência sobre a potencialidade de tornarem-se clientes da
empresa privada parceira
Fonte: Pesquisa de campo, out. 2017
As informações apresentadas explicitam o que foi trazido para debate
anteriormente sobre os potenciais benefícios trazidos pelas PPP’s tanto para o setor
público e a sociedade, quanto para a iniciativa privada. Por meio dos dados
analisados, é possível mensurar esse impacto de forma mais concreta e dar suporte
a toda discussão em âmbito teórico levantada.
5.2. ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA COM VEREADOR DE PARNAMIRIM-
RN
Nessa seção será posto o posicionamento do vereador de Parnamirim da
cidade de Parnamirim/RN sobre a Parceria Público-Privada firmada.
Para recolhimento das informações, foi elaborado um roteiro de entrevista
conforme descrito na seção 3. O vereador nesse estudo é interpretado como
representante do setor público na PPP analisada.
Com relação a sua visão sobre a parceria estabelecida, o vereador avalia como
positiva:
Esse tipo de ação é muito boa e (...) quando o foco das duas partes é
promover um serviço bom para o cidadão a gente consegue oferecer
52
algo ainda melhor. Sempre tenho buscado parceiros para fazer mais
por Parnamirim. Geralmente o usuário enxerga o nosso trabalho
(setor público) como ruim, ineficiente, e ações como essa mudam não
só uma opinião, mas também a vida do cidadão.
Segundo o Ipsos, empresa mundial de pesquisa, 70% dos brasileiros se
declaram insatisfeitos com serviços públicos. A PPP estabelecida surge como
alternativa justamente a isso.
Com relação a sua visão sobre os benefícios ou críticas, o vereador afirma:
Benefícios são vários, indireta ou diretamente. A gente pensou
justamente em dar oportunidade, ferramentas, para eles (os cidadãos
participantes do curso) enfrentarem a crise e se capacitarem. A gente
já vê que alguns já estão fazendo serviços em casa e para família do
jeito correto, outros tão fazendo serviços informais e tendo uma renda
extra. Isso é bom, mesmo que em pequena escala. Aqui na cidade
tem um nível alto de desemprego e o serviço público oferecido tem
muito o que melhorar em diversos setores. Mas a gente faz a nossa
parte.
Como crítica o vereador ressalta a não conclusão de todos os participantes, a
dificuldade de até encontrar uma empresa privada que firmasse a parceria para
promover o curso e a não utilização dos que concluíram o curso para fins
profissionais.
Claro que todo conhecimento é importante e que só por estarem
fazendo instalações em casa de forma segura já conta como
benefício, mas a expectativa era (...) trazer mais profissionais para o
mercado e promover o desenvolvimento da economia.
Quando questionado sobre a importância das Parcerias Público-Privadas, o
vereador apontou como essenciais.
Sem essas parcerias a gente (vereadores) só consegue fazer ações
mais “burocráticas”, como indicações de necessidades do povo na
câmara, porque a gente não tem muita verba para alocar para isso.
53
Mas acredito que mesmo como vereador posso buscar meios de
trazer mudança para minha cidade e realizar um curso tão bacana
quanto esse. A gente tem que mudar a realidade do setor público,
mas aí temos dois problemas. Primeiro, políticos que tem verba e
possibilidade de fazer mais, mas não querem ou pior, desviam essa
verba. E segundo, às vezes é complicado mesmo conseguir
empresas que pensem igual e queiram mesmo promover mudança
sem retorno, pelo menos imediato ou obrigatório.
Por fim, quando questionado sobre a possibilidade de realizar outra parceria
entre setor público e setor privado, o vereador afirmou que está sempre buscando
novas oportunidades e parceiros.
Tenho buscado fazer ações em diversas áreas como a saúde. É difícil
achar parceiros, mas temos conseguido. No caso do curso de
elétrica, estamos buscando outro bairro e moradores para organizar
mais um curso de um mês. Com certeza vamos tentar fechar uma
parceria como essa novamente.
A visão esclarecida por meio das entrevistas trás ao debate de forma mais
realística o que foi explicitado anteriormente em caráter teórico. Tais informações
enriquecem o debate acerca das PPP’s, evidenciando de forma mais clara, num
contexto verídico, a situação do setor público e a dinâmica da parceria.
5.3. ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA COM REPRESENTANTE DA
LAMPADINHA
Nessa seção será posto o posicionamento do Representante da Lampadinha
sobre a Parceria Público-Privada firmada na cidade de Parnamirim/RN.
Para recolhimento das informações, foi elaborado um roteiro de entrevista
conforme descrito na seção 3. O Representante da Lampadinha nesse estudo é
interpretado como representante do setor privado na PPP analisada.
Com relação a sua visão sobre a parceria estabelecida, o Representante da
Lampadinha avalia como interessante e necessária.
54
A Lampadinha acredita no investimento em pessoas. (...) Então,
promover eventos, cursos, workshops... para profissionalizar ou
capacitar é algo que faz parte de quem somos e das nossas ações
anuais. Quando surgiu a oportunidade de uma parceria junto ao
vereador em Parnamirim (a empresa possui unidades em 4 cidades
distintas) vimos não só como uma ação estratégica de divulgar nossa
marca, mas principalmente como uma forma interessante de
promover um desenvolvimento social no ambiente em que estamos
inseridos. Na verdade, mais empresas deviam buscar fazer isso.
Com relação a sua visão sobre os benefícios ou críticas, o Representante da
Lampadinha declara:
Diretamente, acredito que os benefícios aos participantes é a própria
capacitação. É o conhecimento, é a possibilidade de se
profissionalizar. A gente espera sim encontrar com eles como clientes
nas nossas unidades, claro, mas principalmente que eles possam
seguir a profissão e mudar a situação financeira e de vida deles.
Como crítica o representante argumenta que numa próxima ação ser
selecionado os participantes que realmente precisam e planejam usar o
conhecimento no âmbito profissional.
Na verdade, não só o conhecimento, mas até as ferramentas dadas
foram visando profissionais que iriam atuar na área. Não temos como
mensurar o real retorno que essa ação nos gera, mas no último
evento dos eletricistas em que todos foram convidados, apenas um
dos que se formaram conosco compareceu e estava atuando ainda
apenas no âmbito pessoal, não como eletricista. Essas parcerias são
investimento neles e isso por si só já vale a pena, mas talvez o
método de seleção não tenha sido o mais acertado. Acredito que seja
importante para que os esforços corretos sejam despendidos no
público alvo correto. E claro que podemos pensar em parcerias
adaptadas para o consumidor comum.
Quando questionado sobre a importância das Parcerias Público-Privadas, o
representante apontou como tendência e possível mercado a ser alcançado.
55
O tempo vai passando, as coisas se modificando e novas
oportunidades aparecendo (...), temos que estar atentos a elas.
Parcerias como essa são recentes aqui, mas ajudam a desafogar um
pouco a área pública que há algum tempo já está “estrangulada”.
Além disso, conseguimos atingir um público que talvez nunca ouvisse
nosso nome ou conhecesse nossa marca. A gente se aproxima do
nosso público e conhece eles de perto, suas necessidades. E ao
mesmo tempo faz um pouco da nossa parte para a sociedade.
Por fim, quando questionado sobre a possibilidade de realizar outra parceria
entre setor público e setor privado, o representante afirmou que a empresa está
sempre aberta para propostas interessantes.
Estamos de portas abertas para propostas interessantes como essas.
É do nosso interesse investir em projetos em que acreditamos. Se
não da mesma forma, mas na área em que a gente entende (material
elétrico, hidráulico, de construção, entre outros), com certeza
estamos dispostos a firmar parcerias duradouras.
As entrevistas foram muito enriquecedoras no que toca ao tema das parcerias
público-privadas, pois afastas a presente pesquisa de ser absolutamente teórica e
evidencia, apesar de tratar-se de uma pequena amostra, dados que auxiliam na
compreensão da dinâmica entre o setor público e o setor privado nessas parcerias,
além de evidenciar benefícios e dificuldades relacionados as PPP’s.
5.4. ANÁLISE OBSERVACIONAL DA PARCERIA PÚBLICO-PRIVADA ESTUDADA
NA LAMPADINHA EM PARNAMIRIM/RN
Essa seção trata da análise observacional do curso promovido pela parceria
público-privada em estudo. A análise foi feita para observar a parceria como um
todo, levando em consideração as três partes envolvidas: cidadãos, setor público e
empresa privada.
De forma geral, a aceitação e participação dos cidadãos no curso foi muito
positiva. Dos 30 ingressantes, 25 chegaram a receber o certificado e o kit de
ferramentas profissionais. Infelizmente, nenhum deles até o presente momento
56
trabalha profissionalmente na área de elétrica residencial, mas boa parte já utiliza os
conhecimentos adquiridos na esfera pessoal.
O curso teve duração de um mês de aula todas as noites, sendo a frequência
dos participantes quase completa. O interesse e a satisfação com o curso eram
notórios. Vários comentários positivos inclusive sobre o bom serviço público
prestado.
Por fim, a dinâmica de funcionamento de uma parceria público-privada
quando observada de perto por meio um caso real, mesmo que experimental, revela
a potencialidade desse modelo. Possivelmente, inclusive, para ser aplicado em
diversos casos no Brasil. Não apenas objetivando oferecer
empreendimentos/serviços de qualidade, mas também auxiliar na reorganização do
Estado em relação a diversos pontos, como por exemplo as contas públicas e
administração de seus recursos financeiros.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nessa seção, são apresentadas as conclusões gerais acerca dos resultados
obtidos da pesquisa. Serão apontadas as limitações da pesquisa e levantados
alguns pontos acerca das Parcerias Público-Privadas.
6.1. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de um cenário econômico, social e político de crise no Brasil hoje, as
parcerias público-privadas são atrativas na tentativa de auxiliar, ou ainda,
teoricamente, solucionar, os serviços e empreendimentos públicos que, em sua
grande maioria, são considerados ineficientes ou até inexistentes.
No tocante ao tema exposto no presente trabalho, foi possível observar um
rápido panorama histórico que assessora na compreensão da origem da ideia das
PPP’s. Identificou-se que a PPP se apresenta sob a forma jurídica de contrato de
concessão e que existem duas modalidades possíveis, a concessão patrocinada e a
administrativa. Há também um extenso marco legal que busca, mesmo que
superficialmente, regular no que tange a PPP, impondo, por exemplo, hipóteses que
vedam a celebração de contratos e cláusulas obrigatórias nos contratos de PPP’s.
Ainda se levantou as potencialidades, limitações e críticas nas articulações do setor
público e a iniciativa privada. Dessa forma, conclui-se que os objetivos específicos
de levantar as modalidades da parceria público-privada e de identificar
potencialidades, limitações e críticas da parceria público-privada foram alcançados.
Se tratando de um estudo de caso sobre uma parceria público-privada que
ocorreu em Parnamirim/RN, o presente estudo usou como objeto de pesquisa a
parceria entre o Público, representado pelo vereador da cidade de Parnamirim de
Parnamirim, e o Privado, representado pela empresa Lampadinha Materiais Elétricos
Ltda., a Lampadinha, que promoveu um curso de profissionalização e capacitação
de elétrica residencial, objetivando trazer respostas tanto para questão dos níveis
desemprego da cidade, bem como o de profissionalização da sociedade em que a
empresa está inserida. Vale ressaltar que a PPP estudada pode ser considerada
como “informal” por não se encaixar completamente no que redige a Lei 11.079/04,
que regula as parcerias público-privadas.
58
Conclui-se que a satisfação com a ação promovida através da parceria foi em
sua maioria positiva, bem como os índices de avaliação da qualidade do curso e do
material ofertado. Isso comprova que uma PPP pode gerar
serviços/empreendimentos satisfatórios e de qualidade mesmo quando há um ente
público e a iniciativa privada envolvidos. Os possíveis conceitos pré-concebidos de
que serviços/empreendimentos públicos são ineficientes ou deficientes e de que
serviços/empreendimentos privados visam unicamente lucro e benefício próprio, são
contra argumentados com fatos que rejeitam fortemente essas ideias.
Além disso, nota-se uma interessante mudança de opinião acerca da
qualidade dos serviços públicos quando considerados antes do curso promovido
pela PPP em estudo e após o curso. Registrou-se uma mudança positiva em que
antes cerca de 80% consideravam como ruim ou muito ruim e após participar do
curso, e ser apresentada a correlação de que aquele serviço/empreendimento
também possuía parte de atuação do setor público, apenas 20% avaliou como ruim
e 52% como regular, conforme dados apresentados na presente pesquisa. Essa
amostra de informação trás à tona a questão da classificação massiva da população
sobre serviços/empreendimentos públicos como deficitários, enquanto essa
percepção muda quando se é chamada atenção para o que foi ofertado através da
PPP.
Também foram positivas as avalições da visão dos cidadãos em relação a
parcerias entre o setor público e a iniciativa privada, apesar de que a maioria não
pretender utilizar-se dos conhecimentos adquiridos no curso para fins profissionais,
mesmo o objetivo base da parceria ser promover capacitação para impactar a
economia positivamente no que diz respeito a quantidade de desempregados no
estado. Apesar disso, nota-se um possível impacto positivo no âmbito social já que a
grande maioria ainda utilizará o conhecimento, ainda que pessoalmente.
No que toca ao interesse da iniciativa privada, também se notam um
panorama positivo já que, conforme informações apresentadas na presente
pesquisa, 72% dos participantes pretende se tornarem clientes da empresa parceira
da ação.
Dessa forma, a presente pesquisa atinge seu objetivo de analisar os impactos
da parceria público-privada nas partes envolvidas a partir do estudo de caso na
empresa Lampadinha Materiais Elétricos Ltda. em Parnamirim – Rio Grande do
59
Norte e confirma a hipótese de que essa parceria trouxe benefícios para todas as
partes envolvidas (como a percepção positiva acerca dos serviços oferecidos pelo
Estado, a potencialidade de tornarem-se clientes da empresa parceira e a
capacitação dos cidadãos que impacta a sociedade de Parnamirim), evidenciando o
possível papel de empresas privadas como agentes de mudança na situação pública
atual, além da fomentação do desenvolvimento da sociedade. Evidencia-se ainda o
cumprimento do objetivo específico de observar a efetividade e o impacto na vida
dos usuários do setor público participantes e nas partes envolvidas da parceria
público-privada em estudo.
Ao concluir a presente pesquisa, nota-se que ainda há muito o que ser
debatido, aprofundado e aprimorado no que tange o assunto das Parcerias Público-
Privadas. Não só no âmbito de discussões acadêmicas, mas também na realidade
em que essas parcerias se inserem. Isto é, a própria lei reguladora das PPP’s ainda
é relativamente superficial e deixa muitos questionamentos, como alguns expostos
na presente pesquisa. Além de abrir margem para PPP’s que não alcancem com
excelência seus objetivos, ainda se abrem portas para ações ilícitas e que mais
prejudiquem a sociedade do que traga benefícios.
A necessidade de uma regulamentação mais adequada e uma fiscalização
mais abrangente é latente para que os conceitos de parcerias público-privadas
atinjam os objetivos idealizados desde sua concepção. Também se julga importante
promover mais debates acerca do tema, considerando se as condições permitidas
para que ocorram as PPP’s são as mais adequadas ou não, até considerando
benefícios exacerbados às empresas participantes de uma parceria público-privada.
Por fim, conclui-se que uma PPP deve apenas ser considerada uma boa
alternativa quando assegurar o cumprimento das políticas públicas traçadas e fazer
isso em condições financeiras vantajosas também para o Estado. Espera-se que
esse estudo contribua para promover, de alguma forma, o aprimoramento do estudo
da parceria público-privada brasileira, ou seja, tal como estabelecida pelo conjunto
de regras jurídicas disciplinadoras no que toca esse tema, além de aprofundar um
pouco o estudo através de um estudo de caso real verídico.
O presente trabalho ainda trás ao debate o questionamento a cerca da forma
pela qual as PPP’s são iniciadas, desenvolvidas, reguladas e estruturadas. O estudo
de caso experimental aqui apresentado evidencia uma vertente não englobada no
60
que se entende atualmente como Parceria Público-Privada, as parcerias de menor
escala. Quando se observa o PIB brasileiro, identifica-se que cerca de 50% é gerado
por pequenas e médias empresas, estas que a própria legislação exclui de qualquer
tipo de PPP. Uma reforma que oficialize essas “parcerias menores”, que na prática
estão à margem da lei, precisa ser, ao mens, debatida e, possivelmente,
implementada. A potencialidade destas, no momento negligenciada, é exemplificada
através da presente pesquisa.
Ainda em tempo, sugere-se novas pesquisas sobre o tema parcerias público-
privadas de maneira aprofundar esse tema no meio brasileiro. Tais estudos carecem
de aprofundamento em âmbito nacional do real impacto dessas parcerias para que
se analise corretamente sua validade ou não, considerando fatores como
superfaturamento de obras, desvio de recursos de natureza financeira,
desenvolvimento das cidades/estados, qualidade de serviços/empreendimentos
oferecidos aos usuários do serviço público e até mesmo as já mencionadas PPP’s
em “menor escala”.
61
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YIN, Robert. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3.ed. Porto Alegre:
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ANEXOS ANEXO 01 – Foto dos participantes do curso promovido pela parceria público-
privada.
Fonte: Imagem obtida na página do facebook da Lampadinha (facebook.com/curtalampadinha)
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APÊNDICES APÊNDICE A – MODELO DO INSTRUMENTO DE PESQUISA APLICADO COM OS PARTICIPANTES DO CURSO DE ELÉTRICA RESIDENCIAL - QUESTIONÁRIO A presente pesquisa tem como objetivo estudas parcerias público-privadas
analisando o estudo de caso na empresa Lampadinha Materiais Elétricos Ltda na
cidade de Parnamirim/RN, para fim de conclusão de curso da aluna Rafaela Hislle
Marinho Oliveira, graduando bacharel em Administração pela Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, no semestre 2017.2.
1. Qual o nível de satisfação com o curso ofertado pela parceria entre o
vereador de Parnamirim e a Lampadinha?
( ) Muito Baixa
( ) Baixa
( ) Média
( ) Alta
( ) Muito Alta
2. Como você avalia a qualidade do curso e material ofertado?
( ) Muito Ruim
( ) Ruim
( ) Regular
( ) Bom
( ) Muito Bom
3. Você irá utilizar os conhecimentos adquiridos na sua vida pessoal ou
profissional?
( ) Pessoal
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( ) Profissional
( ) Não irei utilizar o conhecimento adquirido
4. Como você avaliava a qualidade dos serviços oferecidos pelo Estado antes
participar do curso oferecido pela parceria público-privada?
( ) Muito Ruim
( ) Ruim
( ) Regular
( ) Bom
( ) Muito Bom
5. Como você avalia a qualidade dos serviços oferecidos pelo Estado após
participar do curso oferecido pela parceria público-privada?
( ) Muito Ruim
( ) Ruim
( ) Regular
( ) Bom
( ) Muito Bom
6. Como você avalia a parceria entre o setor público e o setor privado?
( ) Muito Ruim
( ) Ruim
( ) Regular
( ) Bom
( ) Muito Bom
7. Você pretende se tornar um cliente da Lampadinha após participar do curso
oferecido pela parceria público-privada?
( ) Já sou cliente
68
( ) Pretendo me tornar um cliente
( ) Não pretendo me tornar um cliente
APÊNDICE B – MODELO DO INSTRUMENTO DE PESQUISA APLICADO COM O VEREADOR DE PARNAMIRIM E O REPRESENTANTE DA LAMPADINHA -ENTREVISTA A entrevista faz parte de uma pesquisa acadêmica sobre parcerias público-privadas
analisando o estudo de caso na empresa Lampadinha Materiais Elétricos Ltda na
cidade de Parnamirim/RN, para fim de conclusão de curso da aluna Rafaela Hislle
Marinho Oliveira, graduando bacharel em Administração pela Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, no semestre 2017.2.
A entrevista será realizada pela pesquisadora e sob identificação do respondente
1. Qual a sua visão sobre a parceria estabelecida?
2. Quais os benefícios e críticas você identifica?
3. Parcerias como essas são consideradas importantes?
4. Como é avaliada a possibilidade de realizar outra parceria público-privada?