Samuel Elias Ferreira Modelagem da Propagação da Trinca de ...
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PARÂMETROS QUE INFLUENCIAM NAS MEDIDAS DE ZONAS PLÁSTICAS USANDO A MECÂNICA DA FRATURA LINEAR ELÁSTICA
Rafael Araujo de Sousa Luiz Fernando Campo Ramos Martha Jaime Tupiassú Pinho de Castro Alexandre Antonio de Oliveira Lopes Antônio Carlos de Oliveira Miranda [email protected]
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil Abstract. A validade da Mecânica da Fratura Linear Elástica (MFLE) é fundamentada no
tamanho da região (zona) plástica em torno da ponta de uma trinca, pois quando se tem um
tamanho de zona plástica pequena em relação às dimensões da peça, o uso da MFLE é
suficiente para prever seu comportamento mecânico. O principal parâmetro da MFLE é o
Fator de Intensidade de Tensão (FIT), que é usado para estimar o tamanho de zonas
plásticas. Irwin obteve de forma analítica o FIT para o caso de uma placa infinita, a partir
da linearização de uma função complexa de tensão, conhecida como função de tensão de
Westergaard, que é dependente das características geométricas da peça e de seu
carregamento. Porém, estimativas de zonas plásticas, usando apenas o FIT, podem ser
extremamente não-conservativas, já que ele é um parâmetro linear que só vale nas
proximidades das pontas das trincas, fazendo com que as condições de contorno não sejam
satisfeitas, o que não acontece quando se usa a função de tensão de Westergaard completa
(sem linearização). Entretanto, a obtenção de funções desse tipo, para o caso geral, é
extremamente complexa, sendo conhecidas apenas para dois casos: placa infinita e placa
finita, ambas para uma trinca interna perpendicular ao carregamento. Esses dois casos serão
usados para mostrar a influência da relação entre a tensão nominal e a tensão de
escoamento, da relação entre o comprimento da trinca e a largura da peça, e do
comportamento do material (encruamento) no tamanho e forma das zonas plásticas em
comparação com zonas plásticas obtidas a partir do FIT.
Keywords: Mecânica da Fratura, Zona plástica, Função de tensão de Westergaard
1 INTRODUÇÃO
A responsabilidade básica de um engenheiro estrutural é dimensionar peças capazes de suportar as cargas solicitantes. A presença de entalhes ou trincas, denominados pólos concentradores de tensões, altera a resistência do elemento estrutural. Entalhes são comuns em alguns tipos de estrutura, como estruturas de madeira e aço. Essas perturbações são quantificadas por um parâmetro denominado Fator de Concentração de Tensão (Kt). Trincas podem ser idealizadas como entalhes elípticos cujo raio de ponta tende a zero ( )0→ρ . Dessa
forma, a trinca apresentaria um Kt infinito ( )∞→tK , o que não faz sentido físico, pois se
isso fosse verdade, qualquer tensão nominal, por menor que fosse, provocaria a ruína da estrutura. É por esse fato que a análise de tensões tradicional não é válida na presença de trincas, resultando na necessidade de uma mecânica específica, denominada Mecânica da Fratura (MF).
Castro e Meggiolaro (2002) citam os objetivos da MF: quantificar a carga crítica de uma peça trincada; quantificar a maior trinca que uma estrutura pode suportar; e quantificar a vida residual de uma estrutura trincada.
A MF pode ser dividida em duas partes: uma denominada Mecânica da Fratura Linear Elástica (MFLE) e outra, Mecânica da Fratura Elastoplástica (MFEP). A diferença entre as duas consiste no fato que a MFLE só é válida quando apenas uma “pequena” quantidade de material à frente da ponta trinca (zona plástica) não possui comportamento elástico (Dowling, 1977). Caso contrário, é necessário adotar a MFEP, que tem como parâmetros representativos a integral J e a abertura de ponta de trinca (CTOD).
O campo de tensões em regiões próximas à ponta da trinca, na MFLE, é caracterizado por um parâmetro conhecido como Fator de Intensidade de Tensão (FIT). Segundo Anderson (1995), esse parâmetro caracteriza a severidade da singularidade do campo de tensão em torno da ponta de uma trinca. Quando o FIT ultrapassa o valor crítico do material de uma peça estrutural (KIC) a trinca irá propagar, o que provocará, conseqüentemente, sua ruptura.
A MF teve início com Charles Edward Inglis (1913), que analisou entalhes elípticos em placas planas, obtendo Kt infinito quando 0→ρ , mas não conseguiu explicar o motivo dessas peças não romperem. Alan Arnold Griffith (1920) explicou o problema evocando um princípio energético, de tal forma que mesmo que o modelo matemático tenha a presença da singularidade, a propagação da trinca só poderá ocorrer se obedecer à lei da conservação de energia.
Westergaard (1939), analisando problemas de contato, identificou uma função complexa de tensão (Z1) para representar o campo de tensões no caso de uma trinca em placa infinita. Os trabalhos de Carothers (1920) e Nádai (1921), de forma independente, expressaram funções harmônicas complexas em termos de funções analíticas. O trabalho de MacGregor (1935) usou outros tipos de funções analíticas como funções de tensão. A função complexa de tensão tem as seguintes características importantes: obedecer às condições de Cauchy-Riemann e ser analítica e harmônica, isto é, obedecer à equação de Laplace. Rodriguez (2007) definiu essa equação como a solução de Westergaard completa.
Em 1956 e 1957, Irwin, partindo do trabalho de Westergaard, identificou o Fator de Intensidade de Tensão. O FIT foi determinado de forma independente por Williams (1957).
Sih (1966) mostrou que a relação entre o campo de tensões e a função complexa de tensão usada por Irwin não é válida para alguns casos de meio infinito com trincas sob carregamento também aplicado ao longo do comprimento infinito.
Eftis e Liebowitz (1972) mostraram o motivo do erro mencionado por Sih, e também apresentaram a função de tensão que resolve o caso da placa finita com uma trinca centrada
de comprimento “2a” sob carregamento uniaxial uniforme ( )2Z , com algumas restrições geométricas.
Lopes (2002), usando o método híbrido de elementos de contorno, determina o FIT para vários problemas planos. Na formulação desenvolvida nesse trabalho, utilliza-se a solução de Westergaard como solução fundamental.
Rodriguez (2007), estudando apenas o caso da placa infinita, mostra que as zonas plásticas apresentadas na literatura, que dependem unicamente do FIT, estão subavaliadas, pois o campo de tensões obtido apenas com o FIT não satisfaz as condições de contorno. Assim, esse autor avalia a influência da relação entre a tensão nominal e a tensão de escoamento ( )SnSe , usando a solução de Williams, Westergaard e Inglis. Sendo que neste
último caso, Rodriguez relaciona o raio da ponta da trinca ( )ρ com o CTOD. Neste trabalho, partindo do trabalho de Rodriguez, avaliam-se os efeitos da relação SnSe,
da relação entre o tamanho da trinca e do comprimento da placa ( )Wa e do encruamento no tamanho e forma das zonas plásticas.
2 FORMULAÇÕES DE ZONAS PLÁSTICAS NA MFLE
Irwin e Williams, ao determinarem o FIT para o caso da placa infinita com uma trinca de comprimento “2a”, possibilitaram a determinação do campo de tensões, Eq. (1), para o modo I (abertura) em peças com material linear-elástico, isotrópico e homogêneo.
+
−
=
2
3sin
2sin
2
3sin
2sin1
2
3sin
2sin1
2cos
2θθ
θθ
θθ
θ
πσ
σ
σ
r
K I
xy
yy
xx
(1)
Irwin chegou nessas equações partindo das seguintes relações complexas:
( )( ) ( )( )( )( ) ( )( )
( )( )
′−
′+
′−
=
zZy
zZyzZ
zZyzZ
xy
yy
xx
Re
ImRe
ImRe
σ
σ
σ
, (2)
sendo ( )zZ uma função analítica e z um número complexo ( iyxz += ). A Eq. (1) representa apenas o primeiro termo da decomposição em série da Eq. (2), e só é
válida em uma pequena zona à frente da ponta da trinca. Para que a MFLE seja válida é necessário que a zona plástica seja pequena, cuja definição para tamanho característico é subjetiva. Assim, vários ensaios de fraturamento em corpos de prova (CP’s), com diversas geometrias e dimensões, resultaram no desenvolvimento da norma ASTM E399 que trata sobre ensaios de tenacidade.
A propagação de uma trinca pode ser prevista para KI = KIC se a zona plástica for pequena em relação às dimensões da peça. Outro ponto importante é a dependência de KIC com relação à espessura (t) da peça. Para peças delgadas, KIC não poderia ser considerado uma propriedade mecânica, pois passa a depender do valor de t. A tenacidade é chamada de KIC para valores de KC(t) com espessuras t acima da espessura mínima (tmin) prescrita pela ASTM E399). A Fig. 1 mostra o comportamento de KC(t) e KIC para uma liga de titânio (Ti) (Castro e Meggiolaro, 2002). Observa-se que KC(t) tende a crescer à medida que t diminui em relação à tmin.
Figura 1 – Variação de KC com a espessura t (Castro e Meggiolaro, 2002). A norma ASTM E399 prescreve para espessura mínima tmin = 2,5(KIC/SE)2. Assim, pode-
se avaliar o que seria uma zona plástica pequena (crítica), ( )czp , que validaria a MFLE.
6
tzpc ≈ (3)
As considerações anteriores mostram a importância da medição correta do tamanho e forma das zonas plásticas para a utilização da MFLE.
2.1 Estimativas clássicas do tamanho e forma das zonas plásticas
Expressando o campo de tensões em coordenadas polares, o tamanho da zona plástica pode ser avaliado, como primeira aproximação, pelo valor do raio (r) para θ = 0 onde a componente de tensão normal na direção vertical ( )
yyσ se iguala à tensão de escoamento do
material (SE). Dessa forma, tem-se:
( )2
2
200,
E
IEyy
S
KZpSzpr
πθσ =⇒=== (4)
Assim, em uma primeira aproximação (Zp0), pode-se associar uma forma circular à zona plástica, conforme mostra a Fig. 2.
Figura 2 - Zonas plásticas circulares de “grandes” e “pequenas” tamanhos que validam ou não a MFLE (Castro e Meggiolaro, 2002).
A Eq. (4) mostra a relação entre a zona plástica e o FIT, que para o caso da placa infinita
tracionada é ( )aK I πσ= . Usando um critério de escoamento, por exemplo, Mises ou Tresca, pode-se obter zonas
plásticas em função do raio ( )rzp , fixando o valor de θ, ou seja, será obtido um valor de r para cada valor de θ.
Em seguida são apresentados todos os cálculos necessários para avaliar a fronteira elastoplástica variando o ângulo θ. Para facilitar o entendimento, o sistema polar de coordenadas é utilizado.
A função complexa de tensão varia com o ângulo θ, o raio r , e a tensão nominal nσ .
Dessa forma, é possível escrever, através do critério de escoamento, as tensões de Mises correspondentes aos estados planos de deformação e de tensão.
Quando a tensão de Mises for igual à tensão de escoamento, fica evidente a presença da relação entre tensão nominal e a tensão de escoamento.
( )θσσ
,1 rS
Mises
E
n= (5)
Da Eq. (5) tem-se:
( ) 1, −= θσσ
rS
Zp Mises
E
nWest (6)
As raízes dessa equação, para cada valor de θ, representam as zonas plásticas em coordenadas polares.
2.2 Correção da zona plástica para garantir equilíbrio
A determinação de zonas plásticas usando o processo descrito anteriormente, não trata adequadamente a singularidade intrínseca do modelo matemático, já que as tensões em
regiões próximas às pontas da trinca tendem para valores infinitos, não considerando que os materiais dúcteis escoam e os frágeis rompem. Como neste trabalho só são analisadas zonas plásticas para materiais dúcteis, as tensões que excedem o limite de escoamento do material devem ser redistribuídas. O problema que surge é como realizar essa redistribuição.
Irwin tratou esse problema apenas para materiais lineares perfeitamente plásticos (sem encruamento) com o valor do ângulo fixo em ( )0=θ , considerando uma equivalência de forças resultantes para a distribuição de tensões antes e depois da redistribuição. A Fig. 3 e a Eq. (7) mostram a idéia de Irwin.
Figura 3 - Redistribuição das tensões elásticas de acordo com a proposta por Irwin, que assume um deslocamento x1 na distribuição de tensões ( )x,0σ y (Castro e Meggiolaro,
2002).
De acordo com a proposta de Irwin, as tensões lineares elásticas ao longo do eixo x em
tensão plana, são σy(x) = σx(x) = KI/√(2πx) e σz = 0.
2
20
000 2
d
2
dd
2
d
0 E
IIrwIrwE
Zp
I
zp
I
zp
EI
S
KzpzpS
x
xK
x
xKxS
x
xK Irw
ππππ=∴=∴+= ∫∫∫∫
∞∞
(7)
Deslocando o campo de tensões de 1x Irwin previu uma zona plástica que é o dobro da
zona plástica original ( )0Zp .
2.3 Estimativas melhoradas das zonas plásticas
Rodriguez (2007), estudando uma placa infinita tracionada e considerando a função de Westergaard completa, sem considerar o FIT para determinar o campo de tensões, conseguiu avaliar a influência da relação entre a tensão nominal e a tensão de escoamento na forma das zonas plásticas sob tensão e deformação plana.
Rodriguez também considerou a redistribuição das tensões dentro da zona plástica, para tanto, ele usou a solução de Westergaard completa e limitou a tensão de Mises à tensão de escoamento do material na ponta da trinca, ou seja, ( ) EWestMises SEZpr =<< θσ ,0 (vide Fig.
4). De acordo com Rodriguez, como o carregamento é uniaxial ele considerou apenas equilíbrio das forças geradas pela tensão yyσ .
Pela segunda Eq. (2), tem-se ( ) ( )[ ] ( ) ( )[ ]θσθθσθσσ ,,Im,,,Re,, WestnWestnWestnyy ZpZryZpZZp ′+= (8)
onde ( ) ( )θθ sin, rry = . Usando o argumento de Irwin para evitar singularidade e fixando o valor de θ, tem-se
( ) ( ) rrEZpZpWestZp
nyyWestWestnyy d,,,,0∫= θσσθσσ (9)
Através da Eq. (9) pode-se determinar o valor da zona plástica considerando a relação entre a tensão nominal e a tensão de escoamento e também o equilíbrio de forças geradas pelas tensões singulares.
( )( ) rr
ZpEZp
WestZp
nyy
Westnyy
West d,,,,
10∫= θσσ
θσσ (10)
Figura 4 - Limitação da tensão dentro da zona plástica (Rodriguez, 2007).
2.4 Efeito do encruamento na estimativa das zonas plásticas
Para considerar a influência do encruamento no tamanho e forma das zonas plásticas, usou-se o modelo de Ramberg-Osgood para simular o comportamento mecânico do material. Dodds et al (1991) estudaram a influência do encruamento usando o modelo de Ramberg-Osgood, porém ele obtinha o campo de tensões em função do FIT. O modelo de Ramberg-Osgood que ele usou era adimensionalizado, conforme a Eq. (11).
n
+=
000 σ
σα
σ
σ
ε
ε (11)
onde 0ε , 0σ , α e n são constantes do material.
Outra forma para a equação de Ramberg-Osgood, cujos parâmetros possuem significado físico, é:
h
plasticolineartotalHE
1
+=+=
σσεεε (12)
onde E é o módulo de elasticidade, H é o coeficiente de encruamento e h é o expoente de encruamento.
A Fig. 6 mostra as três possibilidades de comportamento do material: solução singular, material perfeitamente plástico e com o material encruando.
Figura 6 - Tamanhos das zonas plásticas para os três casos de material. Na Fig. 6, as áreas em azul (círculos), vermelho (listras inclinadas) e em verde (listras
horizontais) correspondem ao comportamento plástico do material, onde WestZp corresponde a
zona plástica com a presença da singularidade, *EZpWest corresponde a zona plástica
considerando encruamento e EZpWest é a zona plástica considerando um material
perfeitamente plástico. A figura mostra a idéia de que a zona plástica considerando o encruamento deve estar
variando dentro de um intervalo fechado, como EZpEZpZp WestWestWest ≤≤ * . A explicação
para esse intervalo consiste no fato de que ao se considerar o encruamento (ganho de resistência por deformação plástica) usando um modelo do tipo Ramberg-Osgood, a fronteira elastoplástica *
EZpWest deve ser menor que EZpWest , pois o material dentro da zona plástica
consegue suportar maiores tensões. Essa é tendência, mas em materiais onde a fase plástica é muito maior que fase elástica, pode acontecer que WestWest ZpEZp <* .
A Eq. (12) do modelo de Ramberg-Osgood escreve a deformação em função da tensão, não sendo possível escrever tensões em função das deformações. A equação de Ramber-Osgood é resolvida numericamente para valores específicos de deformação.
Dessa forma para se determinar a área listrada em vermelho na Fig. 6 é necessário compor áreas.
Para esclarecer o que se quer dizer, se mostrará primeiramente gráfico que descreve a Eq. (12), Fig. 7.a, com os seguintes valores simbólicos adotados. H = 4GPa e E = 10GPa
para vários valores do expoente de encruamento. A Fig. 7.b mostra a área que deve ser equilibrada com as tensões singulares. A parte listrada em verde, corresponde a força que se teria caso todo o material dentro da zona plástica suportasse tensões constantes maiores que a tensão de escoamento. A região pontilhada em azul é a força descrita pela Eq. (12). Portanto a força que se quer equilibrar com a força gerada pelas tensões singulares é a diferença entre as duas áreas. Nessa figura foi usado um expoente de encruamento h = 0,4.
(a) (b)
Figura 7 - (a) Curvas, segundo o modelo de Ramberg-Osgood para vários valores de h e (b) área em verde com listras verticais que representam a tensão σσσσ em função da
deformação ε.
Algebricamente, tem-se
( ) ( ) σεσεσσ
dd0
*00 ∫∫ −=
EWest S
West
Zp
y EZp (13)
onde 0σ é a tensão gerada quando o material atinge sua deformação máxima, sendo obtido
pela solução numérica da Eq. (13), e *EZpWest é a zona plástica equilibrada usando o modelo
de Ramberg-Osgood para descrever o comportamento plástico do material (encruamento).
3 EXEMPLOS
Serão estudados dois exemplos: o da placa infinita e o da placa finita. Para o caso da placa infinita, será mostrado também a insensibilidade das zonas plásticas ao se mexer na relação entre a tensão nominal e tensão de escoamente, quando se obtém o campo de tensões diretamente do FIT. Como todos os exemplos analisados estão sob tração, a correção que evita a singularidade será a mesma feita por Rodriguez.
3.1 Placa Infinita
A Eq. (14) mostra a função de tensão para o caso da placa infinita.
221az
zZ n
−=
σ (14)
A Fig. 8.a mostra a insensibilidade das zonas plásticas à relação entre a tensão nominal e a tensão de escoamento para o estado plano de tensão e a Fig. 8.b para o estado plano de deformação.
(a) (b)
Figura 8 - (a) Zonas plásticas insensíveis a relação SnSe em tensão plana e (b) Zonas plásticas insensíveis a relação SnSe em deformação plana.
A Fig. 9 mostra a influência de SnSe no tamanho e forma das zonas plásticas, quando se
usa a função completa de Westergaard. Ela reproduz as resultados obtidos por Rodriguez tanto para o estado plano de tensão quanto para o de deformação.
(a) (b)
Figura 9 – Zonas plásticas obtidas por Rodriguez que mostram a influência de SnSe para (a) estado plano de tensão e para (b) estado plano de deformação.
3.2 Placa Finita
Este exemplo fornece informações adicionais ao caso da placa infinita, pois com dimensões finitas, a influência da geometria no tamanho e forma das zonas plásticas poderá ser estimada. A Eq. (15) mostra a função de tensão para o caso da placa finita.
5,0
22
5,0
2
sinsin
cscsin
−
=
W
a
W
z
W
a
W
a
W
z
Z
n
ππ
πππσ
(15)
Uma análise adicional deve ser feita devido as dimensões serem finitas, que é a competição entre a fratura e o colapso plástico. O colapso plástico ocorrerá quando a tensão atuante dentro do ligamento residual for igual à tensão de escoamento, conforme mostra a equação a seguir.
−=
W
a
SE
1σ
(16)
Para se avaliar o problema do ponto de vista analítico, usou-se a Eq. (2), apresentada por Eftis e Liebowitz, atentando para o limite de validade da equação ( )3,0>>Waπ recomendada pelos autores.
Também se fará neste problema, a estimativa da zona plástica considerando o efeito do encruamento para o caso da placa finita que reproduzir os resultados da placa infinita. Para tanto, se usou informações de dois tipos de aço carbono, um com grande encruamento e outro com pouco encruamento.
Serão avaliados 3 valores de ( )Wa , os quais são: 0,01; 0,04 e 0,09 com todos eles obedecendo o limite de aplicabilidade recomendado pelos autores. • Para Wa = 0,01 → SnSe CP = 0,99;
• Para Wa = 0,06 → SnSe CP = 0,94;
• Para Wa = 0,09 → SnSe CP = 0,91.
A Fig. 10 mostra que as zonas plásticas geradas para as placas finitas reproduzem, como
caso limite ( )01,0=Wa , as zonas plásticas geradas para as placas infinitas.
(a) (b)
Figura 10 – Zonas plásticas para a placa finita reproduzem o caso da placa infinita quando ( )0,01Wa = e mostram a influência de SnSe para (a) estado plano de tensão e
para (b) estado plano de deformação.
3.2.1 Efeito da geometria no tamanho e forma das zonas plásticas
Para se verificar apenas a influência da geometria, as medidas foram feitas para apenas um nível de tensão, que foi 6,0=SnSe e com largura constante (W = )3142mm com os
seguintes valores do tamanho da trinca ( )a2 : 10, 60 e 90 mm, conforme os valores de Wa indicados acima. A figura 11 mostra as zonas plásticas correspondentes.
(a) (b)
Figura 11 – (a) mostra a influência do tamanho da trinca para o estado plano de tensão e (b) o caso do estado plano de deformação.
Pela análise da Fig. 11, constata-se que quando se usa a função completa de Westergaard,
Eq. (15) dentro do seu limite de aplicabilidade, para avaliar a influência do comprimento da trinca ( )a e consequentemente da relação Wa no tamanho e forma das zonas plásticas não há diferença entre elas e as zonas plásticas obtidas pela Eq. (4), 0Zp .
3.2.2 Efeito do encruamento no tamanho e forma das zonas plásticas
Foram usados, como exemplos, resultados experimentais (tensão x deformação) obtidos em laboratório de um aço de baixo carbono. A partir dos valores nodais e dos gráfico do comportamento mecânico desses materiais, achou-se por tentativa, os valores do expoente h e de coeficiente H de encruamento do modelo de Ramberg-Osgood.
A Fig. 12 mostra os gráficos de tensão x deformação para um aço com pouco e outro com bastante encruamento, juntamente com as suas propriedades mecânicas e com os valores do modelo de Ramber-Osgood que foram ajustados para cada caso. Em azul, estão os dados experimentais e em vermelho a curva do modelo de Ramberg-Osgood.
(a)
12,318=ES MPa, 1,653=E GPa,
83,0max =imaε , 840=H MPa e 25.0=h
(b)
60,262=ES MPa, 524=E GPa,
343,0max =imaε , 340=H MPa e 0605.0=h
Figura 12 – (a) aço com bastante encruamento e (b) aço com pouco encruamento. As zonas plásticas em estado plano de tensão e de deformação para os dois aços, são
mostradas nas figuras abaixo. A Fig. 13 mostra as zonas plásticas para o caso do aço da Fig. 12.a e a Fig. 14 mostra as zonas plásticas para o caso do aço da Fig. 12.b. Em ambas as figuras 13 e 14 o nível de tensão é 6,0=SnSe , as linhas azuis são as zonas plásticas WestZp ,
as linhas em vermelho são as zonas plásticas EZpWest e as linhas em marrom são as zonas
plásticas *EZpWest .
(a) (b)
Figura 13 – (a) zonas plásticas para um aço com bastante encruamento sob o estado plano de tensão e (b) zonas plásticas para um aço com bastante encruamento sob o
estado plano de deformação.
(a) (b)
Figura 14 – (a) zonas plásticas para um aço com pouco encruamento sob o estado plano de tensão e (b) zonas plásticas para um aço com pouco encruamento sob o estado
plano de deformação.
4 CONCLUSÃO
A singularidade intrínseca da trinca, afirma que quando o raio de ponta tende a zero, as tensões tendem ao infinito, impossibilitando a análise de tensões tradicional, fazendo-se necessário o uso da Mecânica da Fratura Linear Elástica (MFLE), que tem como seu principal parâmtero o Fator de Intensidade de Tensões (FIT). A MFLE só é válida se a “maior parte” do material da peça estiver no regime linear, evidenciando a necessidade de se estimar mais precisamente as suas regiões plastificadas.
Usando um critério de escoamento, Mises por exemplo, mostrou-se a diferença no tamanho e forma das zonas plásticas quando se usa uma função complexa de tensão ou quando se usa o FIT para descrever o campo de tensões em volta da ponta da trinca. Utilizando o mesmo argumento usado por Irwin, Rodriguez (2007) conseguiu estimar o efeito de SnSe no tamanho e forma das zonas plásticas, através da função completa de Westerggard (1939) para o caso de uma placa infinita.
Este trabalho mostrou a influência do encruamento e da geometria na estimativa das zonas plásticas. Esta última influência foi verificada através do uso de uma função complexa apresentada por Eftis e Liebowitz (1972) para o caso da placa finita com uma trinca central de comprimento 2a.
Conforme visto, constata-se que a utilização única e excluiva do FIT, não é suficiente para estimar as zonas plásticas que validam o uso da MFLE, pois parâmetros como a geometria e o encruamento alteram de forma significativa o tamanho e forma das zonas plásticas a frente de pontas de trincas.
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