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Janeiro/Fevereiro/Março 2010 n o 59 • Ano XV AMBIENTE DA INOVAÇÃO BRASILEIRA INVESTIMENTO Como o cooperativismo de crédito pode alavancar MPEs NEGÓCIOS Em expansão, o mercado esportivo demanda Pesquisa e Desenvolvimento PARA TIRAR DO PAPEL Universidades produzem milhares de pesquisas com potencial para se transformar em produtos inovadores. Mas as questões relacionadas à propriedade intelectual ainda travam o caminho entre o laboratório e o mercado

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Janeiro/Fevereiro/Março 2010 no 59 • Ano XVambiente da inovação brasileira

InvestImentoComo o cooperativismo de crédito pode alavancar MPEs

negócIosEm expansão, o mercado esportivo demanda Pesquisa e Desenvolvimento

Para tirar do PaPel Universidades produzem milhares de pesquisas com potencial para se transformar em produtos inovadores. Mas as questões relacionadas à propriedade intelectual ainda travam o caminho entre o laboratório e o mercado

22 c a p a O valor do conhecimentoO desafio de garantir a propriedade intelectual quando o assunto é transferência de tecnologia para o setor produtivo. Entenda como o Brasil lida com esse processo e quais são as defasagens da área.

A revista Locus é uma publicação da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores

conselho editorial Josealdo Tonholo (presidente), Carlos Américo Pacheco, Jorge Audy, Mauricio Guedes e Maurício Mendonça.

coordenação editorialDébora Horn colaboraçãoAdriane Alice Pereira, Bruna de Paula, Bruno Moreschi, Cora Dias, Eduardo Kormives, Fernanda Peres, Francis França e Júlia Phittan. Jornalista responsávelDébora Horn – MTb/SC 02714 JPDireção de arteLuiz Acácio de SouzaEdição de arteJoão Henrique MoçoRevisãoSérgio RibeiroFoto da capaShutterstock

presidenteGuilherme Ary PlonskiDiretoriaFrancilene Procópio Garcia, Gisa Bassalo, Paulo Gonzalez, Renato Aquino Nunes e Tony Chierighini SuperintendênciaSheila Oliveira Pires EndereçoSCN, quadra 1, bloco C, Ed. Brasília Trade Center, salas 209/211Brasília / DF – CEP 70711-902contatos(61) 3202-1555E-mail: [email protected]: www.anprotec.org.branúncios: (61) [email protected]

produção apoio

Janeiro/Fevereiro/Março 2010 • no 59 • Ano XV

ISSN 1980-3842

ambiente da inovação brasileira

Índice

E n t R E v i S t aO economista Rafael Lucchesi, diretor de operações da Confederação Nacional da Indústria (CNI), fala sobre a agenda da inovação no país e ressalta a importância das parcerias público-privadas.

E m m O v i m E n t OChamadas de trabalhos para o Seminário da Anprotec, adesão à Frente em Defesa da Ciência e Tecnologia, mudanças no Finep Inova Brasil e parceria com Inglaterra e Moçambique são algumas das novidades no cenário da inovação no Brasil.

n E g ó c i O SO Brasil corre contra o relógio para se preparar para a Copa de 2014 e para as Olimpíadas de 2016.

E D u c a ç ã OA evasão de cursos superiores pede que um novo modelo de ensino seja pensado. Bacharelados Interdisciplinares têm sido a opção adotada por diversas instituições brasileiras.

O p O R t u n i D a D EIntegrar as classes C e D às novas tecnologias é o objetivo do Plano Nacional de Banda Larga.

i n t E R n a c i O n a lAno Brasil-Alemanha de Ciência, Tecnologia e Inovação mobiliza organizações dos dois países para fomentar processos de inovação.

i n v E S t i m E n t OSaiba por que as cooperativas de crédito cresceram durante a crise e de que forma as MPEs podem se beneficiar com o sistema cooperativista.

S u c E S S OUm dos maiores e mais importantes parques tecnológicos brasileiros completa 10 anos. O Porto Digital, vanguarda no cenário de inovação nacional, comemora o sucesso de olho no futuro.

g E S t ã ORedes sociais podem ser poderosas aliadas na conquista de novos mercados. Pequenas empresas mostram como é possível aproveitar esse filão.

c R i a t i v i D a D EOs segredos do Desafio Sebrae para atrair futuros empreendedores e tornar o jogo virtual cada vez mais instigante.

c u l t u R aA biografia de Steve Jobs, as novidades em DVDs, livros, discos e o melhor e o pior do cinema dos últimos tempos são as dicas desta edição.

O p i n i ã OMauricio Guedes: o espírito empreendedor é tão necessário nas instituições públicas quanto nas empresas privadas.

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E m entrevista publicada nesta edição, o diretor de operações da Confedera-

ção Nacional da Indústria (CNI), Rafael Lucchesi, defende que o processo de ino-vação envolve cooperações que vão além do universo empresarial. “Esse processo também envolve universidades, institutos tecnológicos e laboratórios. As sociedades que produzirem a melhor cultura de cooperação entre esses agentes vão ser se-guramente mais bem-sucedidas no jogo competitivo”, afirma. E no Brasil, como tem se dado essa interação?

Na busca pela resposta, a matéria de ca-pa trata dos mecanismos de transferência de tecnologia e licenciamento de patentes no país. Entre 2005 e 2009, o Brasil am-pliou em 77% o número de registros de patentes internacionais. Apesar da melho-ra do índice nacional, a reportagem mos-tra que há um longo caminho a percorrer: a Toyota, em meio à sua pior crise, regis-trou, sozinha, mil patentes em 2009, mais que o dobro do Brasil, que registrou apenas 480.

As justificativas para o desempenho brasileiro também são abordadas na ma-téria: marcos regulatórios recentes, o de-senvolvimento incipiente dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) nas institui-ções de pesquisa e as dificuldades buro-cráticas que travam a transferência de co-nhecimento. Mesmo assim, encontramos empresas e universidades que consegui-ram superar os entraves e agora colhem

bons resultados de seus projetos inovadores.

Resultado é palavra de ordem para empre-sas que atuam no setor esportivo, tema da se-ção Negócios. Com grandes eventos a rea-lizar, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, o Brasil desponta como o maior mercado do mundo em termos de infraestrutura espor-tiva. Mas, além de pensar em infraestrutu-ra e logística, será necessário, também, muito planejamento e investimento em Ci-ência e Tecnologia. Nesse sentido, alguns passos importantes estão sendo dados, co-mo a criação de laboratórios especializados em ciência dos esportes, que reunirão di-versas instituições de pesquisa do país. A reportagem revela também que grandes oportunidades de negócios devem surgir no desenvolvimento de tecnologias para o esporte, deixando em alerta start ups, in-cubadoras e parques tecnológicos.

Identificar oportunidades faz parte da rotina das empresas que aderiram às redes sociais para divulgar seus negócios. Na se-ção Gestão, Locus explica as diferentes ex-periências oferecidas por essas ferramen-tas, que exigem estudo, análise e preparação das empresas que queiram realmente apro-veitar o que as redes têm a oferecer.

Conselho editorial

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ta Por um objetivo comum

P arceria público-privada e maiores investimentos são

pontos-chave para que o Brasil evolua na agenda da inovação. Essa é a opinião de Rafael Lucchesi, diretor de operações da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para o economista, o atraso do Brasil nessa agenda deve-se ao modelo de desenvolvimento adotado até a década de 1990 e à política de inovação ainda muito recente. Agora o país corre para recuperar o prejuízo. Em agosto de 2009,

durante o 3º Congresso Brasileiro de Inovação na Indústria, a CNI criou a Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), formada por lideranças industriais do país, que assumiu a responsabilidade de investir em estratégias inovadoras. A ideia é sensibilizar empresários e governo sobre a importância da inovação para o desenvolvimento econômico e social do país. Para explicar a proposta e os desafios que a compõem, Lucchesi recebeu Locus na sede da CNI em Brasília.

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Locus: A MEI tem como meta duplicar o número de empresas inovadoras nos próximos quatro anos. Que fatores são essenciais para que isso aconteça? Lucchesi: Partimos da constatação de que a nossa agenda avançou, desde a criação dos fundos setoriais, no final dos anos 90, e mais recentemente a criação da Lei do Bem e da Lei de Inovação. São avanços, mas modestos. Temos uma agenda a melhorar pelo lado da oferta de instrumentos de políticas públicas. Precisamos de mais segurança jurídica e de uma logística mais empresarial. Po-líticas menos burocráticas e uma elegi-bilidade maior para as empresas efetivas. Isso por que muitas das ações (do gover-no) são dirigidas a um conjunto de ativi-dades que não contempla grande parte das empresas existentes. Por outro lado, temos problemas com relação à demanda empresarial. As empresas brasileiras não tiveram uma cultura construída em cima de uma agenda de inovação, de agregação de valor aos seus produtos.

Locus: Nesse contexto, quais os objetivos da MEI? Lucchesi: A MEI vem exatamente no sen-tido de estabelecer um ambiente de co-laboração público e privado, a exemplo das iniciativas nacionais de inovação que ocorreram em outros países. Estamos empenhados em mobilizar o empresaria-do. Realizamos eventos importantes em torno dessa nova agenda, que aponta na direção de ampliar o gasto empresarial em inovação e o investimento público na mesma dimensão. Se um número signi-ficativamente maior de empresas for sen-sibilizado por essa agenda, certamente essas empresas terão, ao final de seus processos, programas e projetos voltados para inovação de produtos.

Locus: O Manifesto lançado pela CNI diz que no Brasil se inova mais que em qualquer outra economia latino-americana, mas que ainda estamos

longe dos índices de inovação e pesquisa de economias desenvolvidas. A que se atribui esse atraso? Lucchesi: A várias razões. Uma delas é o modelo de desenvolvimento, no caso o de substituição de importações, que não colocou como grande desafio a ques-tão da inovação. Depois, o período de hiperinflação administrada, que não criou uma cultura empresarial robusta nessa direção. Os instrumentos de polí-

tica pública para indução da inovação no Brasil foram criados há pouco mais de 10 anos. A combinação entre a cultu-ra empresarial que nem sempre reconhe-ceu a inovação como prioridade e as po-líticas públicas muito recentes coloca essa agenda brasileira de forma relativa-mente atrasada. Ainda assim, pela dimen-são econômica, e por termos construído um sistema nacional de inovação, temos uma universidade com capacidade de contribuir, além de uma rede de institu-tos de pesquisa. Podemos, a partir de um emparelhamento de políticas públicas, avançar nessa direção. Esse é o desafio que se coloca ao Brasil. Somos o país de maior destaque em inovação na América Latina, mas nos encontramos muito atrás dos países de economia industrial avan-çada e daqueles emergentes que têm sido mais bem-sucedidos. Somados, os instru-mentos de políticas públicas brasileiros (de oito a 10 anos atrás) contemplam em torno de 1.500, apenas. No Brasil, 30 mil empresas declaram inovar.

Locus: A MEI convocou empresas a liderarem o processo de inovação. Quais as principais dificuldades

A combinação entre a cultura empresarial que nem sempre reconheceu a inovação como prioridade e

as políticas públicas muito recentes coloca essa agenda brasileira de forma relativamente atrasada.

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enfrentadas pela indústria brasileira atualmente para inovar? Lucchesi: Para pequenas e médias empre-sas, a inovação é algo muito distante, complexo. Muitas já praticam processos ou geram produtos inovadores, mas des-conhecem isso. Assim, não inovam com a melhor técnica, não o fazem de forma sistemática, não têm o melhor modelo de gestão para que esse aprendizado seja mais eficiente e permanente na atuação da empresa. É preciso estruturar isso me-lhor na cultura empresarial: colocar a inovação no centro da estratégia de ne-gócios, porque é isso que acontece com a concorrência em outras partes do mundo, seja nos países de economia industrial avançada, seja nos emergentes.

Locus: Em termos de políticas públicas, em que pontos específicos ainda é preciso avançar? Lucchesi: Entre outros fatores, há neces-sidade de um volume maior de recursos para a subvenção econômica, em uma agenda mais horizontal, com maior ele-gibilidade para o conjunto das empresas brasileiras. Temos que desburocratizar instrumentos e, sobretudo, dotá-los de

uma lógica mais empresarial, eliminan-do inseguranças jurídicas. À medida em que as empresas passam a ter uma agen-da de inovação mais abrangente, o foco de apoio deve ser o plano de negócios e não um projeto específico. A agenda atu-al é muito ligada à academia, projeto a projeto. As empresas precisam ter um planejamento estratégico para inovar. Seria muito mais econômico para o país estabelecer contratos de longo prazo

com esses empreendimentos, do que manter uma relação em que as empresas terão um enorme custo de transação e incertezas de participar de cinco, seis, sete ou oito chamadas pulverizadas pa-ra eleger projetos. Junto à subvenção, precisamos fortalecer a agenda de ser-viços técnicos, com uma articulação só-lida com Senai e Sebrae. Por fim, algo que já é um grande consenso: a neces-sidade de não haver contingenciamento. O dispêndio em C,T&I é um investi-mento que se faz para construir a estra-da do futuro. E esse dispêndio tem que ser plenamente exercido. Os recursos hoje disponíveis são insuficientes e têm elevado retorno para geração de empre-go, renda, competitividade empresarial e, sobretudo, arrecadação pública. Se identificarmos que estamos asseguran-do uma economia com maior capacida-de de resposta ao alocar esses recursos para C,T&I, em hipótese nenhuma eles podem ser contingenciados.

Locus: O processo de inovação pode ser compartilhado/dividido entre MPEs e grandes empresas? Que tipo de parcerias podem ser construídas nesse sentido?Lucchesi: Sim. O esforço tecnológico dentro de cadeias produtivas já acontece há muitos anos. A distribuição do pro-gresso técnico na estrutura automotiva de produção enxuta é um dado da reali-dade. A combinação que existe entre em-presas de biotecnologia com as grandes produtoras de fármacos é outro exemplo disso. A estruturação dessas ações em torno de habitats de inovação, que são os parques tecnológicos, é outro exem-plo de que a combinação de esforços dentro da cadeia, de clusters e de arran-jos produtivos cria redes cooperativas em torno do desenvolvimento técnico não só de empresas. A natureza do pro-cesso de inovação envolve lógicas de co-operação para além do universo empre-sarial, para além da heterogeneidade de

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É preciso colocar a inovação no centro da estratégia de negócios, porque é isso que

acontece com a concorrência em outras partes do mundo, seja nos países de economia industrial avançada, seja nos emergentes.

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portes de empresa, seja grande, média ou pequena. Esse processo também en-volve universidades, institutos tecnoló-gicos e laboratórios. As sociedades que produzirem a melhor cultura de coope-ração entre esses agentes, bem como ins-trumentos de políticas públicas que fa-voreçam mais a cooperação entre eles e também uma maior mobilização da so-ciedade em torno da agenda de inovação, vão ser seguramente mais bem-sucedi-dos no jogo competitivo.

Locus: Como incubadoras de empresas e parques tecnológicos atuam no fomento à inovação no país? Lucchesi: Hoje, no Brasil, há um esforço enorme de uma rede, de um coletivo que se reúne em torno da Anprotec. Os ins-trumentos de política pública para incu-badoras de empresas e parques tecnoló-gicos melhoraram muito, mas ainda são tímidos. Temos enormes deficiências do ponto de vista dos instrumentos de ges-tão das instituições públicas. Temos pro-blemas de cultura e enormes assimetrias entre universidades de estados mais de-senvolvidos e menos desenvolvidos. Existem aqueles que estão capturados por essa agenda e outros que ainda estão muito distantes. É necessário fortalecer a cultura do empreendedorismo nas uni-versidades brasileiras, a cultura da ino-vação e os instrumentos de políticas pú-blicas no âmbito federal, estadual e municipal de apoio ao empreendedoris-mo, dos habitats de inovação e das start ups. Ainda falta uma agenda robusta no Brasil nessa direção. Ela ainda precisa de impulso, seja nos instrumentos colo-cados à disposição, seja nos instrumen-tos de gestão e nos aspectos institucionais que os gestores de incubadoras têm que ter à frente dessas instituições. Prevalece muito no Brasil uma cultura baseada na lei da usura. Temos uma cultura pública antiempresarial. Evidentemente isso cria um enorme custo para toda a sociedade, na medida em que você esteriliza insti-

tuições que poderiam prestar um enorme serviço ao desenvolvimento de toda a so-ciedade, assegurando maior taxa de ge-ração de riqueza, na medida em que essas instituições têm o papel proeminente de fazer isso e já o fazem nas sociedades mais desenvolvidas.

Locus: Como disseminar a cultura da inovação entre as empresas brasileiras? Lucchesi: O que nós estamos fazendo com a MEI é algo semelhante ao que fi-zemos com o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade, também uma parceria muito bem-sucedida en-tre o setor público e o setor privado. Fizemos isso com ações de sensibiliza-ção, modelos de gestão, com documen-tação de cases e com depoimentos de empresários bem-sucedidos nos seus setores de atuação com iniciativas vol-tadas para qualidade e produtividade. Além disso, ações como prêmios, que difundem a excelência e premiam as melhores práticas, criam também todo um aspecto cultural de rápida dissemi-nação. Outra ação é a sistematização de informações, criando uma plataforma de difusão do conhecimento que vai ser incorporado pelos executivos. É claro que o jogo da inovação é mais comple-xo, envolve um volume de recursos maior. O modelo de inovação não é in-terno à empresa e sim externo a ela. Ho-je o modelo é de inovação aberta, que pressupõe estabelecer redes com orga-nizações diferentes, com outra lógica e outra cultura. A inovação tem muito maior risco. Mas, ainda assim, as ferra-mentas que utilizamos na difusão de gestão da qualidade são extremamente úteis para esse novo propósito.

Se identificarmos que estamos assegurando uma economia com maior capacidade de resposta ao

alocar recursos para C,T&I, em hipótese nenhuma eles podem ser contingenciados.

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A Anprotec aderiu à Frente Plurissetorial em Defesa da Ciência e Tecnologia durante o evento de criação do movimento, dia 24 de março. O grupo é formado por parlamentares, representantes do governo, de empresas e de entidades ligadas ao setor. Representando a Anpro-tec estavam o presidente da associação, Guilherme Ary Plonski; a superintendente, Sheila Oliveira Pires, e o conselheiro e ex-presidente Luís Afonso Bermúdez.

“A intenção é envolver diversos setores da sociedade para facilitar o processo de articulação de ações e am-pliar também a capacidade de inovação no país”, ex-plicou o deputado Júlio Semeghini (PSDB-SP), coor-denador da frente. Para o ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, o movimento é uma importante alavanca para o progresso da nação. “O Brasil acaba de dar um passo importante para que ciência, tecnologia e inovação possam contribuir de forma mais efetiva para o desenvolvimento nacional”.

Apesar do avanço nos marcos regulatórios dos últimos anos, o presidente da Confederação Nacional da In-dústria (CNI), deputado Armando Monteiro Neto (PTB-PE), acredita que ainda há pontos a serem trabalhados, principalmente em relação ao financiamento, pesquisa e incentivos fiscais às empresas. “A frente terá papel fun-damental na sensibilização de setores do governo e da sociedade, na criação de ambiente para a ampliação dos recursos para políticas públicas de inovação e na promoção de ações que visem ao aperfeiçoamento das leis de incentivo”, observou.

anprotec adere à Frente em Defesa da Ciência e Tecnologia

Chamada de Trabalhos

A Anpro-tec abre cha-mada para apresentação

de trabalhos no XX Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas. O evento será realizado em Campo Grande (MS), de 20 a 24 de setembro. Neste ano, o tema do Semi-nário é “Desbravando Campos Inovadores, Desenvolvendo Em-preendimentos Sustentáveis”.

Serão apresentados trabalhos em duas categorias: artigos curtos, apresentados sob forma de pôsteres, e artigos completos. Ao todo, serão selecionados até 60 artigos curtos e 60 completos. O melhor trabalho de cada categoria receberá certificado e prêmio no valor de R$ 1,5 mil e R$ 2 mil, respectivamente. Os trabalhos completos que forem bem avaliados pelo Comitê Científico podem ser reco-mendados para publicação na íntegra na revista Locus Científico. A revista está indexada pela Capes por meio no Sistema Qualis, o que significa que apresenta alto impacto para estudantes e docen-tes de cursos de pós-graduação.

As inscrições dos trabalhos podem ser feitas até 5 de julho. Mais informações no site www.anprotec.org.br.

Florianópolis lança marca “Capital da inovação” 

F l o r i a n ó -pol is (SC) passou a se p o s i c i o n a r oficialmente como “Capital da Inovação”, em iniciativa que envolve diversas entidades empresa-riais, governamentais e instituições de en-sino e pesquisa.

A capital catarinense possui quatro in-cubadoras, dois parques tecnológicos e mais de 500 empresas de base tecnológica, que faturaram em 2009 cerca de R$ 1,2 bi-lhão e empregaram cerca de 5 mil pessoas. Ainda conta com quatro fundos de capital de risco e semente, 10 centros e institutos de pesquisa e desenvolvimento e 15 centros universitários.

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A Eletrobrás e a Universidade Federal do Pará (UFPA) inauguram em abril o Cen-tro de Excelência em Eficiência Energé-tica da Amazônia (Ceamazon), em Be-lém (PA). O projeto demandou investimentos da ordem de R$ 103 mi-lhões. O objetivo é estimular pesquisas na área de eficiência energética e capacitar profissionais na área de conservação de energia. A iniciativa pretende levar desenvol-vimento tecnológico e econômico à região Norte. A inauguração é parte integrante das

Eletrobrás e uFPa abrem centro de pesquisa em eficiência energética

ações do Procel Educação, fomentado pelo Programa Nacional de Conservação de Ener-gia Elétrica (Procel).

O Ceamazon integra o Parque de Ciência e Tecnologia Guamá, da UFPA, também a ser inaugurado em abril. É a segunda vez

que a Eletrobrás/Procel aposta em um centro nacional de pesquisa em eficiência energética. O primeiro foi o Centro de Excelência em Efi-

ciência Energética (Excen), que fica na Univer-sidade Federal de Itajubá (Unifei), em Minas Ge-rais, e foi inaugurado em 2006.

Novidades  no Programa Finep inova Brasil

O Programa Finep Inova Brasil oferecerá este ano fi-nanciamentos reembolsáveis com taxas de juros diferen-ciadas no total de R$ 1,6 bilhão para o desenvolvimento de projetos de inovação. Além do crédito, o Programa também conta com a possibilidade de concessão de re-cursos não reembolsáveis no valor de até 10% das ope-rações aprovadas. O valor seria destinado à contratação de projetos de pesquisa e desenvolvimento coordenados pelas empresas e executados por instituições científicas e tecnológicas (ICTs).

De acordo com o chefe do Departamento de Indústria da Finep, Ricardo Jabace, a novidade faz parte de uma série de mudanças aprovadas pela diretoria da Finep. Além do chamado voucher de P&D, foi criada também a Subvenção-RH, que possibilita a concessão simultânea do benefício de subvenção à contratação de novos mes-tres e doutores pelas empresas. A Finep responderia por até 100% do valor assinado em carteira dos salários dos pesquisadores que executariam as propostas financiadas, até o limite de 10% do valor do crédito.

Além disso, foi aprovada a criação da sexta linha de cré-dito do programa – Inovação em Gestão –, que representa o conjunto de ações de estruturação de ambientes internos de estímulo à inovação, com taxa fixa anual de 6,5%.

Agora o valor concedido para as seis linhas vai variar entre R$ 1 milhão e R$ 80 milhões. Foram desembolsa-dos cerca de R$ 900 milhões em operações de crédito no ano passado. Para 2010, o Programa Finep Inova Brasil deve desembolsar mais de R$ 1 bilhão.

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Bolsas para estudantes de países em desenvolvimento

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT) recebe inscrições até 13 de agosto para bolsas de Dou-torado, Doutorado Sanduíche (parte no Brasil e no exterior) e Pós-Doutorado em instituições brasileiras de ensino e pesquisa, avaliadas com conceito 5, 6 ou 7 pela Coordenação de Aperfei-çoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes/MEC). Estudantes e pesquisadores estrangeiros de países em desenvolvimento são o público-alvo. O CNPq trabalha em cooperação com a Acade-mia de Ciências para o Mundo em Desenvolvi-mento (TWAS). O objetivo da parceria é apoiar o intercâmbio de experiências entre estudantes e pesquisadores de países em desenvolvimento, pa-ra retornarem como multiplicadores do conhe-cimento adquirido.

Mais informações no site endereço http://www.cnpq.br. Para saber mais sobre programas do TWAS direcionados a brasileiros, consulte www.twas.org.

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FiNEP divulga resultado da primeira avaliação da Subvenção Econômica

A Finep divulgou o primeiro relatório do primeiro edital de Subvenção Econômica à Inovação, lançado há quatro anos. Para o estudo, a financiadora convidou oito microempresas, 12 pequenas e quatro de porte médio para receber integralmente os recursos, até setembro de 2009, e desenvolver 27 projetos. Do total, 22 foram contratados no edital de 2006 e cinco no de 2007. De acordo com da-dos levantados junto aos empresários, os empreendimentos registraram um crescimento de 65,94% no faturamento médio.

Dos 27 projetos, 11 são de software, cinco envolvem desenvolvimentos relativos à TV digital, cinco são da área de defesa, dois referem-se a im-plementos agrícolas e quatro tratam de desenvolvimentos nas áreas de nanotecnologia, esportes, construção civil e máquinas e equipamentos industriais. Ha-via 47 produtos, processos ou serviços em desen-volvimento. Quinze destes já estão sendo comer-cializados, 22 aguardam o momento de venda e 10 são protótipos. Vale lembrar que os recursos da subvenção são para desenvolvimento e não para comercialização inicial, gastos com marketing ou itens equivalentes.

Brasil e inglaterra devem ampliar cooperação científica

Brasil e Inglaterra já têm um acordo bá-sico de cooperação científica e tecnológi-ca há mais de uma década. Ainda assim, a Inglaterra está interessada em ampliar e fortalecer ações nessas áreas. Quem mani-festou o interesse foi o embaixador britâ-nico no Brasil, Alan Charlton, em encontro com o ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende.

O conselheiro da embaixada britânica pa-ra assuntos de C&T, Damian Popolo, pre-sente ao encontro, disse que desde 2006, quando a cooperação bilateral em ciência e tecnologia foi fortalecida, o Reino Unido já investiu o equivalente a R$ 1 milhão em es-tudos conjuntos. Popolo também fez refe-rência à parceria na área espacial, destacan-do a instalação de uma câmera de alta resolução no satélite Amazônia 1, com lan-çamento previsto para 2011.

Prêmio Mercosul focará  nanotecnologia 

O Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia tem como ob-jetivo reconhecer e premiar os melhores trabalhos que auxi-liam o desenvolvimento científico e tecnológico dos países que fazem parte do Mercosul. A edição deste ano tem como tema a nanotecnologia.

Interessados podem se inscrever nas categorias Iniciação Cien-tífica, Estudante Universitário, Jovem Cientista e Integração. Os trabalhos devem ser enviados até 23 de agosto. A avaliação le-vará em conta a atualidade do tema, inovação e criatividade, metodologia, pertinência e aplicabilidade dos trabalhos no âm-bito do Mercosul. A entrega do prêmio será em novembro.Mais informações: (61) 3317 7811 [email protected]://eventos.unesco.org.br/premiomercosul

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anprotec na organização da 4ª CNCTi

A Anprotec integra a Comissão Orga-nizadora da 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI), que acontece de 26 a 28 de maio, em Bra-sília. O encontro é resultado das cinco conferências regionais (Centro-Oeste, Norte, Nordeste, Sul e Sudeste) coorde-nadas pelo Ministério da Ciência e Tec-nologia (MCT) e o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) em abril.

Durante a CNCTI serão analisados os resultados do Plano de Ação 2007-2010 e formuladas sugestões para um plano de Po-lítica de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação, com foco na sustentabilidade.

Brasil faz chamada binacional em inovação junto à França

Quatro empre-sas brasileiras e outras quatro francesas vão de-senvolver em con-junto projetos inovadores nas áreas de nanotec-nologia, saúde, aeronáut ica e meio ambiente. Essa é a primeira rodada da chamada bina-cional do Programa OSEO/Finep. As duas instituições cele-braram acordo de cooperação tecnológica em 2009, para fi-nanciar pesquisas a serem desenvolvidas por pequenas e médias empresas dos dois países.

Estão sendo disponibilizados R$ 7 milhões para as pesqui-sas. As regras são as mesmas do Programa Inova Brasil, da Finep, que opera empréstimos com juros subsidiados a partir de R$ 1 milhão.

As empresas apresentaram as propostas às duas agências através de formulário eletrônico. Os projetos que não se en-quadraram às regras do programa de cooperação estão sen-do redirecionados para análise por outras linhas convencio-nais de apoio. Até setembro está prevista uma segunda rodada do programa.

Ciência e tecnologia caminham juntas com a agropecuária, diz diretor da Embrapa

O investimento em pesquisa e desenvolvimento no agro-negócio pode ser um dos caminhos para que o Brasil cres-ça e preserve os recursos naturais. “Nos últimos anos, o agronegócio tem sido o principal alicerce da economia bra-sileira. Discutir o desenvolvimento sustentável é pensar em ciência e tecnologia voltadas para o agronegócio”, declarou o diretor-executivo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), José Geraldo Eugênio de França, durante o seminário preparatório para a 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI).

De acordo com França, em março o país se tornou o tercei-ro maior exportador do mundo de alimentos. Além de impulsionar a economia nacional o agronegócio aquece o mer-cado interno. Dados de institutos de pesquisa e do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) mostram que o consu-mo interno, em especial das classes baixas, foi fundamental para o Brasil superar a crise financeira internacional.

As discussões do seminário preparatório serão levadas para a 4ª CNCTI, que ocorre em maio, em Brasília.

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Brasil e Moçambique iniciam projeto de inovação agropecuária

A Embrapa e a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) assinaram com o vice-ministro de Agricultura de Moçambique, Antônio Limbau, termo para execu-ção de projeto que dará suporte técnico à plataforma de inovação agropecuária do país africano. A ABC in-vestirá pelo menos US$ 4,2 milhões, enquanto a Em-brapa responderá por US$ 7,9 milhões, por um perío-do de quatro anos.

O objetivo do projeto é o fortalecimento do Institu-to de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM). A Embrapa tem a responsabilidade de executar as ativi-dades nas áreas de planejamento estratégico, gestão territorial, sistemas de sementes e comunicação e informação para transferência de tecnologia.

A Agência Americana de Cooperação (USAID) também aplicará US$ 8,4 milhões no financiamento de cinco centros internacionais privados de pesquisa agropecuária que atuam em Moçambique. Os recursos serão utilizados para manter uma unidade de gestão do programa de inovação agropecuária de Moçambi-que, a UGP – formada por representantes do IIAM, da Embrapa e dos organismos internacionais financia-dos pela USAID.

MCT instala campus tecnológico em recife para descentralizar ações

Um campus tecnológico do Ministério da Ciência e Tec-nologia está sendo instala-do em Recife (PE), com in-vestimentos de cerca de R$ 70 milhões. O objetivo é a descentralização das ações do ór-gão. “Isso faz parte de uma política de desenvolver e con-solidar unidades descentralizadas e potencializar as ações do MCT nas regiões”, informou o representante do MCT no Nordeste, Ivon Fittipaldi.

O campus está sendo construído em uma área cedida pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde serão instaladas unidades de pesquisa e desenvolvimento (P&D). O campus tecnológico pretende desenvolver labo-ratórios multiusuários, nos quais é possível ter acesso ao experimento em microscopia eletrônica online. Eles esta-rão disponíveis para a comunidade científica e tecnológi-ca da região Nordeste e de todo o país.

Físicos recomendam fortalecimento da infraestrutura de pesquisa nos próximos cinco anos 

A Sociedade Brasi leira de Física (SBF) di-vulgou docu-mento com as perspectivas da c o m u n i d a d e científica sobre os principais

desafios da ciência brasileira. O documento inclui recomendações dos físicos para o for-talecimento das políticas de C,T&I nos pró-ximos cinco anos.

O fortalecimento da infraestrutura estatal de pesquisa é a principal recomendação da SBF. O documento destaca a necessidade da ampliação do número de instituições com mis-sões científicas e tecnológicas bem definidas, além de quadros de pesquisa compatíveis com as atividades desenvolvidas.

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Sem riscosa Coopnatural, de 

Campina grande (PB), apresenta ao mercado o gasolimp. o equipamento de proteção individual é voltado para frentistas. Produzido a partir de resíduos de fio de algodão agroecológico, o produto inovador evita que os frentistas entrem em contato direto com a gasolina, poupando-os dos malefícios que ela pode provocar. Diferente da flanela, o gasolimp absorve todo o combustível que eventualmente vaza das mangueiras, que pode manchar os veículos e provocar acidentes. além dos resíduos do algodão agroecológico, o produto também é composto por uma espuma biodegradável que absorve a gasolina.

Ecologicamente corretoaquecer água sem produzir fumaça 

e economizar até 90% de energia é a promessa do novo produto da Hidrotécnica, de Londrina (Pr). o aquecedor a biomassa queima sem emitir fumaça graças a uma tecnologia exclusiva em que a própria fumaça também é incinerada na fornalha. o produto pode ser utilizado na área urbana e atinge a temperatura ideal em poucas horas de funcionamento por dia.Saiba mais em http://www.hidrotecnica.com.br

Funcionalidadea Multilaser, fornecedora nacional de suprimentos de informática, 

acaba de lançar um novo modelo de teclado sem fio, que também possui smart pad. o teclado wireless de 2.4 gHz tem alcance de até 10 metros. o smart pad pode funcionar como um touch pad comum, parecido com o de um notebook, como um teclado numérico ou com a função smart, na qual interpreta até 12 movimentos diferentes dos dedos para facilitar a navegação e o uso de imagens.

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ação

anpei promove conferência para discutir inovação e sustentabilidade 

Curitiba (PR) irá sediar a X Conferência Anpei de Inova-ção Tecnológica, de 26 a 28 de abril. O evento da Associação Nacional de Pesquisa e De-senvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei) vai ser re-alizado em parceria com a Fe-deração das Indústrias do Es-tado do Paraná, por meio do centro de inovação, educação, tecnologia e empreendedoris-mo do Paraná – Cietep.

Como tema, a X Confe-rência Anpei refletirá sobre a evolução e a interligação dos conceitos de cooperação, inovação e sustentabilidade. Com o mote “Cooperação para a Inovação Sustentá-vel”, o evento dá continuida-de ao tema da edição do ano passado do evento, cujas dis-cussões abordaram “a inova-ção sustentando sua empresa e seu planeta”.

Realizada anualmente des-de 2001, a Conferência Anpei é um dos principais fóruns te-máticos e de debates sobre inovação tecnológica no Bra-sil. Estarão presentes repre-sentantes de todos os seg-mentos que compõem o sistema nacional de inovação: empresas, instituições de ci-ência e tecnologia, agências de fomento e órgãos públi-cos. A programação contará com palestras, painéis de dis-cussão e apresentação de ca-ses de empresas inovadoras.

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S em a ajuda da tecnologia, dificilmente o lema olímpico Citius, altius, fortius

(mais rápido, mais alto, mais forte, em la-tim) seria tão imperativo nas competições esportivas. Graças à ciência surgiram os equipamentos e métodos de treino que for-jaram os atletas de alto rendimento, para quem a diferença entre a vitória ou a der-rota pode ficar na casa dos centésimos de segundo – os cronômetros com tal preci-são foram introduzidos nos Jogos de Hel-sinque, em 1952.

O Brasil terá nos próximos anos uma oportunidade única de desenvolvimento na área esportiva. A bem-sucedida orga-nização dos Jogos Pan-americanos do Rio, em 2007, e a solidez econômica demons-

Tecnologia que vale ouroO Brasil terá nos próximos anos uma oportunidade única de desenvolvimento na área esportiva. Para aproveitá-la, além de infraestrutura, é preciso investir em P&D

trada durante a crise global foram funda-mentais no credenciamento do país a po-tência mundial. A agenda de eventos inclui Jogos Mundias Militares de 2011, no Rio; Copa das Confederações, em 2013; Copa do Mundo, em 2014, e os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016. Além de pensar em infraestrutura e logística, será neces-sário, também, muito planejamento e in-vestimento em ciência e tecnologia.

Talvez o exemplo mais contundente do impacto desse tipo de investimento venha das piscinas. Em 2000, nas Olimpíadas de Sydney, depois de quatro anos de pesqui-sa, a Speedo lançou o maiô Fast Skin. O desenvolvimento envolveu até biólogos, na tentativa de reproduzir os efeitos hi-

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eduardo Kormives

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drodinâmicos da pele do tubarão, animal que nada a até 65 quilômetros por hora.

A “shark skin”, um tecido de lycra/poli-éster, moldava-se ao corpo como uma se-gunda pele, levando em consideração a forma peculiar de cada grupo muscular e os movimentos exigidos durante o nado. Das 153 medalhas disputadas na natação em Sydney, 126 foram conquistadas por atletas usando Fast Skin. O mesmo vale para 13 dos 15 recordes mundiais quebra-dos durante a competição. Em 2008, a Spe-edo foi ainda mais longe. Lançou um no-vo modelo de maiô, o LZR Racer, criado a partir de tecnologias da era espacial. Foi vestindo um traje desses que o norte-ame-ricano Michael Phelps faturou oito meda-lhas olímpicas em Pequim e outros nada-dores quebraram mais de 100 recordes mundiais apenas em 2009.

investimento de peso

A despeito da polêmica criada em torno dos maiôs e das restrições impostas pela Federação Internacional de Natação (FI-NA) neste ano, a lição que fica dessa his-tória é que o Brasil terá que investir pesa-do não apenas na formação de atletas, mas na tecnologia capaz de lhes garantir um alto rendimento.

Em Pequim, o país acabou no modesto 23o lugar no quadro de medalhas (três de ouro, quatro de prata e oito de bronze), atrás de países como Quênia, Jamaica, Po-lônia e Romênia. “Muitas vezes não che-gamos ao ápice da preparação em função de não ter a ciência”, reconhece Marcus Vinícius Freire, superintendente executi-vo de Esportes do Comitê Olímpico Bra-sileiro (COB). A autocrítica foi feita du-rante o Congresso de Ciência do Desporto, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em dezembro do ano passado.

Se o Brasil vai agarrar a oportunidade ala-vancada pelo esporte ainda é difícil de pre-ver, mas a largada foi promissora. O plane-jamento para os Jogos do Rio começou no

ano passado, o que dá uma margem de sete anos. Até então, explica Freire, ex-jogador da seleção brasileira de vôlei e chefe de mis-sões brasileiras em Pan-americanos e Olim-píadas, esse prazo para preparação nunca havia superado os 12 meses.

O dinheiro, aparentemente, também não será empecilho. Segundo a Secretaria de Alto Rendimento do Ministério do Espor-te, o orçamento cresceu mais de três vezes desde a criação da pasta, em 2003, che-gando a R$ 1,4 bilhão em investimentos nos últimos sete anos. Outra fonte impor-tante de verba foi a Lei Agnelo-Piva, que prevê a destinação de 2% dos prêmios das loterias federais aos esportes olímpico, paraolímpico, escolar e universitário. En-tre os anos de 2003 e 2008, o governo fe-deral repassou ao COB R$ 433 milhões para a preparação de atletas e equipes na-cionais. “Nunca os atletas brasileiros ti-veram tantos recursos e condições para se preparar”, afirma o secretário de Alto Ren-dimento do Ministério do Esporte, Ricar-do Leyser.

O maior déficit em relação às potências esportivas, no momento, é a falta de locais adequados para formar e preparar atletas de alto desempenho: centros de treinamen-to, laboratórios e institutos de pesquisa. O Brasil não conta com um único centro. A Austrália possui nove. A China, 35.

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A novidade é que o COB pretende im-plantar dois projetos de ponta: o Labo-ratório Olímpico e o Centro Olímpico de Desenvolvimentos de Talentos (CODT), no Parque Aquático Maria Lenk, no Rio. “Esse projeto já faz parte do esforço de preparação de atletas brasileiros para os Jogos de Londres, em 2012, e do Rio, em 2016”, observa Leyser. O laboratório, pla-nejado para ser a maior referência em ciências do esporte da América Latina, será criado com R$ 13 milhões financia-dos pela Financiadora de Estudos e Pro-jetos do Ministério da Ciência e Tecno-logia, a Finep.

O projeto é uma parceria com a Rede Cenesp, que reúne centros nacionais de ex-celência esportiva e seis universidades: Uni-camp, USP e Unifesp, de São Paulo; UFMG, de Minas; UFPR, do Paraná, e a UFRJ, do Rio. Uma área já construída de 1.720 m2 abrigará pesquisas nas áreas de bioquími-ca, biomecânica, fisiologia do exercício, fisioterapia esportiva, gestão aplicada ao treinamento, medicina esportiva, nutrição, psicologia esportiva, tecnologia da infor-mação aplicada ao treinamento e treina-mento desportivo.

O CODT custará R$ 11,4 milhões, a serem captados via Lei de Incentivos Fiscais. O ob-jetivo é atender atletas entre 12 e 17 anos, em 11 modalidades. A meta é beneficiar em torno de 1,5 mil jovens até o fim do primei-ro ano de funcionamento. “Pela primeira vez no Brasil teremos a área científica pensando exclusivamente no e para o esporte”, anima-se Marcus Vinícius Freire, do COB.

Bons negócios

Segundo o Ministério do Esporte, a Co-pa de 2014 deve atrair 600 mil turistas es-trangeiros. Para recebê-los, será preciso aplicar US$ 5 bilhões em obras de infraes-trutura. O torneio deverá transformar o país no mercado esportivo mais importan-te do mundo, na opinião do presidente e executivo-chefe do Bonham Group, Dean Bonham, uma das principais consultorias

globais do setor. “O Brasil já apresentava um grande potencial refreado, indepen-dentemente da Copa. Ele já pode ser visto como o maior mercado do planeta, em ter-mos de demanda por estrutura esportiva”, diz Bonham.

Outras grandes oportunidades estão no desenvolvimento de tecnologias para o es-porte, que deve girar R$ 39 bilhões em 2010. “Surgirão enormes oportunidades para start ups. É muito importante que os gestores de parques tecnológicos e incu-badoras as identifiquem e tragam para as empresas”, avalia José Eduardo Fiates, pre-sidente da divisão latino-americana da As-sociação Internacional de Parques Tecno-lógicos (IASP).

Talvez o Brasil não tenha como compe-tir com a impecável organização alemã da Copa de 2006. Nem com o investimento chinês em Pequim-2008 ou a sofisticação prometida pelos ingleses para os Jogos de Londres, em 2012. Mas já existe um time nacional, batizado de Seleção 14-Bis, pen-sando em como “surpreender, encantar e emocionar” o mundo na Copa verde-ama-rela. Estima-se que 3,3 bilhões de pessoas assistirão a pelo menos uma partida do torneio em 2014.

Capitaneado pela Finep e coordenado por Fundação Certi e a PUC/RJ, o projeto terá sede no Centro de Inovação do Sapiens Parque, em Florianópolis. “Queremos mos-trar o que temos de especial, que são as pessoas e a natureza, usando a tecnologia como um instrumento”, afirma José Edu-ardo Fiates, que é também diretor execu-tivo do Sapiens Parque.

A Finep fez um investimento inicial de R$ 3,2 milhões no 14-Bis. Apesar do está-gio embrionário, um pequeno aperitivo do que vem por aí será exibido na África do Sul durante a Copa, em um espaço chama-do Casa Brasil. Entre os projetos que serão levados a Joanesburgo estão games do C.E.S.A.R., de Pernambuco, e simuladores de jogos de botão, da Fundação Certi, que apresentarão de uma maneira divertida o futebol brasileiro.

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em 2002. Dois anos depois nascia o empre-endimento na Incubadora de Empresas de Santos (SP), onde a IT&D se graduou em 2007. Uma grande inovação do sistema é o software que recebe as imagens registradas pela câmera e as transforma em gráficos. Assim, técnicos e biomecânicos podem fa-zer uma análise quantitativa do desempe-nho dos nadadores e corrigir posturas. O Velaqua, que começa a ser vendido neste ano, tem sido testado por jovens apostas da natação brasileira.

Inspirada nos simuladores para pilotos de caça e de forças de defesa produzidos pela matriz francesa, a subsidiária brasi-leira da Thales Information Systems (Tha-les-IS), baseada em São Paulo, decidiu apli-car esta tecnologia num campo ainda inexplorado. Em 2007, ela obteve R$ 2,08 milhões em subvenção da Finep, com con-trapartida de R$ 700 mil, para um projeto de desenvolvimento de um ambiente vir-

Das piscinas às quadrasA natação brasileira foi uma agradável

surpresa nos Jogos de Pequim, em 2008. Conquistou o primeiro ouro olímpico e, de quebra, foi o esporte que mais rendeu medalhas ao país. Para garantir que a evo-lução continue em Londres-2012, técnicos e nadadores poderão contar com a ajuda do Velaqua. Criado pela empresa paulista IT&D, o carro-robô mede a velocidade do atleta em tempo real e filma debaixo d’água. Instalado sobre trilhos na borda da piscina, ele se desloca a até cinco me-tros por segundo. Um sistema de mira mi-litar de tecnologia nacional, o Zaifo Target System, permite ao robô detectar o centro do corpo do atleta para acompanhá-lo e coletar dados.

Inventor do Velaqua e sócio da IT&D, Humberto Ribeiro de Souza conta que a ideia amadureceu a partir de um projeto na faculdade de Ciência da Computação,

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o velaqua vai ajudar nadadores a acompanhar as performances e melhorar o desempenho

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tual para treinamento de tênis. Sem similar no mercado, o produto deve ser lançado este ano.

Segundo o diretor geral da companhia no Brasil, Marcos Sakamoto, algumas situ-ações específicas de uma partida de tênis, como o peso dado na bola ou pequenas va-riações na raquete, que fazem uma enorme diferença para tenistas de alto rendimento, são complicadas de serem reproduzidas no ambiente virtual. Por outro lado, o simu-lador permitirá avaliar as influências que altitude, tipo de quadra, clima e outros fa-tores exercem durante as partidas de tênis. Além disso, é possível fazer a modelagem (transposição da realidade para o mundo virtual) de estilos variados de jogo com um

ótimo grau de realismo. Ou seja, um atleta que queira estudar detalhes do adversário pode tirar vantagem do produto, que deve ser comercializado no Brasil e na Europa.

Sobre duas rodas

O mountain bike faz parte das Olimpía-das desde Atlanta-1996. A ProShock Sys-tem nasceu três anos antes, em São José dos Campos (SP), apostando num mercado ain-da incipiente de suspensões para bicicletas com tecnologia de ponta. Em 2008, a em-presa tornou-se a primeira no Brasil a de-senvolver e lançar no mercado suspensões com sistema dual air.

Antes disso, ciclistas tinham que impor-tar equipamentos similares, fabricados na Itália ou em Taiwan, a um custo muito maior. “Essas suspensões permitem ao atle-ta uma vasta gama de regulagens aliada ao baixíssimo peso. Isso garante sempre um excelente comportamento de amorteci-mento independentemente do terreno, do peso do ciclista ou do estilo de pilotagem”, explica César Salvarani Tonoli, engenhei-ro responsável por novos projetos da ProShock. O modelo inovador é compos-to por uma suspensão hidráulica (ar e óleo) e outra a ar. O ciclista pode deixar a sus-pensão mais macia ou mais dura de acor-do com a sua preferência. O projeto rece-

a ProShock aposta no desenvolvimento de tecnologia para suspensões de bicicletas para o mountain bike

Simulador desenvolvido pela Thales-iS permite avaliar estilos de jogo de tênis com realismo

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beu R$ 1,6 milhão do programa de subvenção econômica da Finep em 2007. A contrapartida da empresa somou outros R$ 820 mil.

No laboratório

“Os atletas trabalham muito do pescoço para baixo, mas é preciso trabalhar do pes-coço para cima também”. A frase de efeito é do psicólogo Emílio Takase, que coorde-nou uma pesquisa do Laboratório de Neu-rociências do Esporte da Universidade Fe-deral de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis. O estudo relacionou treinos cognitivos (mentais) a índices fisiológicos para melhorar os resultados dos corredo-res analisados.

O projeto foi um dos 13 selecionados pe-lo edital lançado pela Finep em 2006. Com os R$ 300 mil recebidos, os pesquisadores acompanharam, entre outubro de 2007 e março de 2009, 34 atletas, com idades en-tre 15 e 27 anos, de 10 cidades catarinen-ses. Divididos entre velocistas e meio-fun-distas, cada grupo foi submetido a quatro dias de testes. Além de indicadores de po-tência muscular, consumo de oxigênio e capacidade de se recuperar da fadiga, o monitoramento incluiu capacidade de aten-ção, memória e reação. “Utilizamos os jo-gos para ensinar (o atleta) a realizar uma leitura dos próprios aspectos cognitivos e emocionais enquanto joga. À medida que vai aprendendo, vamos criando situações mais complexas para o atleta aprender a conseguir um autocontrole emocional e cognitivo”, diz o psicólogo.

O programa de treinamento mental foi individualizado para cada atleta e englo-bou capacidade de concentração, de ante-cipar a tomada de decisões, a velocidade de respostas e a interferência do estresse e do cansaço na atenção.

Um dos resultados da pesquisa é que, no segundo semestre, o laboratório deve fina-lizar um game com biofeedback da variabi-lidade da frequência cardíaca (VFC). A partir dessa variação, é possível inferir se

80 milhões de brasileiros • praticam um ou mais esportes.

Mercado de bolas é de 13 • milhões/ano, sendo 90% de fabricação nacional.

Mercado global de • confecção de roupas para ginástica movimenta uS$ 360 milhões por ano.

13 mil é o número de • confecções de moda esportiva no Brasil.

Esporte é o terceiro • maior mercado de publicidade, atrás da mídia impressa e da Tv.

r$ 4 bilhões é • faturamento anual com artigos esportivos.

Dos r$ 328 milhões em • patrocínios, o futebol fica com 60%. o vôlei tem a segunda maior fatia, com 14%.

1,3% da população • brasileira pratica atividades físicas.

Existem 9 mil academias • de ginástica no Brasil

Elas atendem 1,7% • da população, o 

que representa 2,8 milhões de pessoas.

r$ 1,5 bilhão é a receita • anual com mensalidades e matrículas.

600 mil turistas deverão vir • ao Brasil para a Copa 2014, alta de 12% no fluxo normal de estrangeiros no país.

330 mil empregos • devem ser gerados entre 2009 e 2014.

Fontes: abravest, ibope, iBgE, aCaD, Ministério do Esporte e amcham.

Mercado esportivo doméstico

o atleta começa a reduzir a sua “atenção” ou aumentar a “ansiedade”. O jogo se adap-ta a essas respostas e pode, por exemplo, mover mais rápido as peças.

O professor lamenta que o acompanha-mento dos atletas tenha se encerrado ao fim da pesquisa. “Hoje realizamos avalia-ções psicológicas, mas não há psicólogos nas equipes esportivas. Nesse sentido, es-tamos desenvolvendo avaliações computa-dorizadas e jogos eletrônicos online de tal forma que, se não houver psicólogos nas equipes esportivas, poderemos realizar o trabalho a distância”.

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Locus  •  Janeiro/Fevereiro/Março 2010

A capacidade de uma nação gerar co-nhecimento e de convertê-lo em ri-

queza e desenvolvimento social depende da sinergia em que atuam os componentes da chamada Hélice Tripla: universidades, empresas e governo. Mas, no Brasil, uma das hélices concentra o conhecimento, pois a maior parte das atividades de pes-quisa e desenvolvimento ocorre em am-bientes acadêmicos, onde estão 80% dos pesquisadores. De acordo com dados de IBGE, CNPq e Capes, existem 397.170 pes-quisadores no país, dos quais 307.416 es-tão nas universidades e apenas 79.350 nas empresas. Os demais pesquisadores atuam em órgãos do governo ou em instituições sem fins lucrativos.

Valor agregado ao conhecimentoTransferência de tecnologia para o setor produtivo é imprescindível, mas as instituições de pesquisa precisam garantir a propriedade intelectual

Para equilibrar a Hélice Tripla brasileira, os mecanismos de transferência de tecno-logia e licenciamento de patentes são im-prescindíveis. Foi para aperfeiçoá-los que a Lei de Inovação, de 2004, estimulou as universidades a criarem Núcleos de Inova-ção Tecnológica (NIT). Conforme a legis-lação, os NITs deveriam servir como pon-tes entre a academia e o mercado, fortalecendo o relacionamento de univer-sidades e empresas e cuidando de questões relativas à propriedade intelectual.

Desde que a Lei da Inovação entrou em vigor, o MCT recebe anualmente um questionário respondido pelas Institui-ções Científicas e Tecnológicas (ICTs) do país, a fim de avaliar o desenvolvimento

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Cora dias

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dos NITs. O último relatório, referente ao ano de 2008, revela que das 101 ICTs bra-sileiras analisadas, 75 já possuem NITs implementados.

Patentes

O número de patentes depositadas ainda é o principal indicador dos níveis de ino-vação de um país. Entre 2005 e 2009, o Bra-sil registrou aumento de 77% no registro de patentes internacionais, passando da 27ª para a 24ª posição no ranking da Organi-zação Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI). Mesmo com a melhora do índice nacional, há um longo caminho a percor-rer. Exemplo disso é que somente a mon-tadora Toyota, mesmo passando por sua pior crise, registrou, sozinha, mil patentes em 2009, mais que o dobro do Brasil, que registrou apenas 480.

No relatório do MCT, as 101 instituições que responderam ao questionário fizeram requerimento de 1.133 proteções, das quais apenas 167 foram concedidas – 146 no Bra-sil e 21 no exterior. O próprio documento afirma que isso é reflexo da demora na con-cessão de proteções por parte do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), o órgão responsável pela deposição de pa-tentes no Brasil. Em certos casos, a espera entre a requisição e a concessão de prote-ções pode chegar a oito anos. Estudo rea-lizado pelo Instituto de Pesquisa Econômi-

ca Aplicada (IPEA) em 2009 mostra que o INPI carece de recursos materiais e huma-nos para agilizar a análise dos processos de concessão de novas patentes. Nos Estados Unidos, por exemplo, esse processo leva, em média, dois anos para ser realizado.

Casos como o dos pesquisadores Adria-no Moehlecke e Izete Zanesco, da Pontifí-cia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) demonstram a lentidão do processo. Os pesquisadores desenvol-veram tecnologia para a produção de mó-dulos fotovoltaicos – placas que absorvem radiação solar e a convertem em eletrici-dade –, criando uma planta-piloto do pro-cesso de produção dessas células no Nú-cleo Tecnológico de Energia Solar (NT – Solar) da Universidade. O depósito da patente dessa tecnologia foi feito no INPI em 2003, mas até hoje ainda não foi con-cedida pelo Instituto.

Segundo Moehlecke, por meio da par-ceria entre a Universidade e três empresas do setor de energia, a planta-piloto pro-duziu 12 mil células no ano passado, o que representa uma escala pré-industrial. O próximo passo, de acordo com o pesqui-sador, é constituir uma grande empresa que produzirá em escala industrial para concorrer com fábricas estrangeiras. “Nos-so objetivo é produzir equipamentos com a mesma eficiência dos concorrentes in-ternacionais, porém a custos menores”, ex-plica Moehlecke.

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o órgão brasileiro responsável pelo depósito de patentes é o  instituto Nacional da Propriedade  industrial  (iNPi). Patente é um título de propriedade  temporária  sobre uma  invenção ou modelo de utilidade, outorgado pelo Estado aos inventores, autores, pessoas físicas ou jurídicas detentoras de direitos sobre a criação. Entenda o processo para depósito de uma patente no iNPi: 

1. Consultar a LPI (Lei da Propriedade Industrial) para para verificar se a inovação pode ser patenteável.

Não são consideradas patenteáveis as ma-térias contrárias à moral, bons costumes, segurança, ordem e saúde pública.

2. Determinar se o pedido é patente de invenção (PI) ou

modelo de utilidade (MU) a Pi vigora por 20 anos e se refere a novo  produto ou  processo. o Mu tem vigência de 15 anos e consiste em melhoria incre-

mental de produto ou processo.

3. Realizar uma busca para certificar-se de que sua invenção tem novidadeDeve  se  tratar  de  algo novo  não  somente  no Brasil, mas  também no mundo. Consultar revistas especializadas, publicações técnicas e bases de paten-tes  disponíveis  gratuita-mente na internet, como o próprio site do iNPi, escritório europeu e norte-americano.

4. Escrever o pedido de patenteo pedido de patente é  composto de requerimento,  relatório  descritivo, 

reivindicações, desenhos, resumo e comprovan-te  de  pagamento  da retribuição  relativa  ao 

depósito (r$ 200). 

5. Depositar o pedido de patenteo depósito deve ser feito na sede do iNPi, localizada na Praça Mauá, 7  - rio de  Janeiro  (rJ), CEP 20083-900, ou por envio postal. um exame preliminar é  realizado no momento da entrega.

6. Solicitar o pedido de exameo pedido de patente será mantido em sigilo durante 18 meses contados da data de depósito. Depois disso, ele é publicado, com exceção de quando a patente é de inte-resse da defesa nacional. a publicação do pedido poderá ser antecipada a requerimento do depositante.

7. Acompanhar o andamento processual do pedido e aguardar o exame técnicoo processo pode ser acompanhado pela revista da Pro-priedade  industrial, editada semanalmente, disponível gratuitamente na biblioteca do iNPi.

8. Cumprir as eventuais exigências técnicas feitas pelo examinador No  final do exame, o  responsável elabora um parecer relativo a: patenteabilidade do pedido  (deferimento), adaptação do pedido à natureza reivindicada, reformula-ção do pedido, divisão ou exigências técnicas. Depois da conclusão do exame, é proferida decisão (r$ 100).

9. Solicitar a expedição da carta patentePagamento para expedição da carta-patente  (r$ 200). Todo o processo pode durar, de acordo com o iNPi, até oito anos.

10. Manter o pagamento das anuidades em diaos valores variam de r$ 500 a r$ 660, nos primeiros seis anos e de r$ 1.030 a r$ 3.380,00, nos nove últimos.

Para mais informações, consulte o site do INPI: www.inpi.gov.br.

como depositar patentes no Brasil

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çõES: SHuTT

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Mesmo sem a patente concedida pelo IN-PI, a PUCRS conseguiu celebrar um con-trato com as três empresas para garantir a propriedade intelectual à Universidade. Fi-cou acordado que 52% do que fosse arre-cadado com a produção pré-industrial da planta-piloto ficaria para a Universidade e os 48% restantes seriam rateados entre as empresas participantes do projeto. Confor-me Moehlecke, a produção de células fo-tovoltaicas tem 65% do valor agregado à matéria-prima inicial.

Universidades privadas

O caso da PUCRS mostra, também, a im-portância conquistada por instituições pri-vadas de pesquisa no processo de indepen-dência tecnológica do país. Embora a Lei de Inovação apresente o conceito de ICT (Instituição Científica e Tecnológica) co-mo “órgão ou entidade da administração pública que tenha por missão institucional, dentre outras, executar atividades de pes-quisa básica ou aplicada de caráter cientí-fico ou tecnológico”, as universidades pri-vadas do país buscam, cada vez mais, se adequar à nova legislação para transferir tecnologia para o mercado.

O último relatório divulgado pelo Mi-nistério da Ciência e Tecnologia mostra que 20% das instituições de pesquisa que responderam ao questionário são privadas. Em nota, o documento explica: “As insti-tuições privadas não se configuram como ICT, conforme definido na Lei de Inova-ção, portanto não são obrigadas a preen-cher o formulário, mas 19 instituições pri-vadas enviaram o formulário informando a sua política de propriedade intelectual e transferência de tecnologia”.

Para Marli Elizabeth Ritter dos Santos, coordenadora do Escritório de Transferên-cia de Tecnologia (ETT) da PUCRS e ex-presidente do Fórum Nacional de Gestores de Inovação e Transferência de Tecnologia (Fortec), não há entraves a entidades pri-vadas que sigam a Lei de Inovação para im-plementar os NITs e transferir tecnologia,

garantindo a propriedade inte-lectual da instituição. “A Lei de Inovação tem como prioridade flexibilizar a parceria público-privada entre a universidade pública e o setor produtivo. Pa-ra que as entidades privadas não fiquem fora desse movi-mento, basta que sua política institucional esteja de acordo com a Lei”, afirma.

Ela chama atenção para o fato de que os NITs implantados no país trouxeram resultados posi-tivos em poucos anos. “No ex-terior, a média para que os NITs comecem a trazer resultados é de oito a 10 anos”. Mesmo assim, há dificuldade em convencer as uni-versidades da necessidade de implantá-los. Em algumas universidades, os núcleos são vistos como uma despesa desnecessária.

O Fortec tem uma moção junto ao Minis-tério da Educação e ao Ministério da Ciên-cia e Tecnologia para tentar ampliar o nú-mero de vagas de recursos humanos para os NITs. “Queremos mostrar para as universi-dades, principalmente as privadas, que os Núcleos podem ser fonte de captação de re-cursos para as instituições”, conclui Marli.

A Universidade de Campinas (Unicamp) está em primeiro lugar entre as 20 maiores instituições residentes depositantes no IN-PI, com 537 patentes. Chamado Inova Uni-camp, o NIT foi criado em 2003 e até o fi-nal do ano passado já havia articulado mais de 240 convênios de transferência de tec-nologia e de desenvolvimento colaborativo, que renderam à Universidade R$ 1,08 mi-lhão em royalties.

O diretor executivo da Inova Unicamp, Roberto Lotufo, explica que a grande difi-culdade na interação empresa-universidade está relacionada à diferença de objetivos, culturas e missões dos dois agentes. “A em-presa, focada na competitividade e susten-tação financeira, busca resultados rápidos de seus investimentos. Já a universidade, focada na disseminação e no avanço do co-nhecimento, busca projetos interessantes

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Marli Elizabeth dos Santos, da PuCrS: 

instituições particulares devem observar Lei de 

inovação e implantar NiTs

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para complementar a formação dos alunos”, diz. Para ele, o desafio dos núcleos de ino-vação é fazer a mediação, trazendo para a universidade oportunidades que fortaleçam o ensino e a pesquisa e que também tragam benefícios para as empresas, como acesso à tecnologia de ponta, identificação de talen-tos e redução dos custos de P&D.

Para Lotufo, ainda há uma baixa deman-da por parte do setor empresarial em bus-car essa parceria com a universidade. Na contramão estão empresas como a Click Automotiva, fabricante de peças para au-tomóveis, de Campinas (SP), que tem por tradição enviar um colaborador uma vez por semana para dentro da universidade a fim de encontrar algum conhecimento que possa aplicar no mercado.

José Luiz Giacomassi, gerente executivo da Click, conta que foi em um desses dias que sua equipe descobriu a existência da patente de um sensor de fibra óptica que havia sido desenvolvido sob a coordenação do pesquisador Carlos Kenichi Suzuki. Propuseram, então, que esse sensor fosse utilizado para verificar a alteração de com-bustível. Com a confirmação de que o de-senvolvimento do produto era possível, a empresa do setor automotivo entrou em

contato com a Inova Unicamp para que fos-se formalizado um contrato entre a Click e a universidade. O trabalho de pesquisa passou a ser desenvolvido com a contra-partida de colaboração financeira. A pa-tente foi licenciada em 2008 e a Click tem o direito de uso do sensor óptico.

Como a empresa é a responsável por transformar o conhecimento em riqueza e testá-lo no mercado, foi firmado o com-promisso de comercializar o produto em um prazo de três anos após a assinatura do contrato. Caso isso não ocorra, pode haver uma renegociação ou o contrato pode ser rescindido para que a Unicamp negocie a patente com outra organização. Com a venda do sensor, a Click repassa-rá à Fundação da Unicamp um percen-tual (royalties) de tudo o que for fatura-do com essa comercialização até o vencimento do contrato.

O fato de a empresa ter realizado esse tipo de parceria não substitui a atividade de pesquisa e desenvolvimento interna. Atualmente, a Click possui um departa-mento próprio de P&D e está desenvol-vendo mais dois produtos do setor eletro-eletrônico. “A pesquisa interna tem grande importância para a empresa. A

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Pesquisa coordenada por Suzuki foi aproveitada pelo mercado e patenteada

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única maneira de você sobreviver no setor automotivo é colocando no mercado no-vos produtos, o retorno é muito maior”, justifica Giacomassi.

Quanto vale?

Mensurar o valor do conhecimento de-senvolvido dentro da universidade é uma das tarefas mais difíceis atribuídas às agências de inovação. O sensor óptico de-senvolvido por Carlos Kenichi Suzuki, da Unicamp, por exemplo, foi resultado de 30 anos de pesquisa. Rozângela Curi Pe-drosa, diretora do Departamento de Ino-vação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), explica que a transfe-rência de tecnologia da universidade para a empresa deve ser avaliada com rigor, já que os interesses normalmente são diver-gentes. “A gente têm que negociar, porque é um valor intangível. O interesse maior é proteger o patrimônio intelectual, mas a universidade precisa também transferir a tecnologia, socializar a informação. Bus-camos uma forma para que todas as partes

sejam beneficiadas”. Rozângela explica que é essencial que ha-

ja um assessor contábil quando se fecha es-se tipo de contrato. Além disso, o artigo 13 da Lei de Inovação prevê que é direito do pesquisador, responsável pela pesquisa, uma participação mínima de 5% e máxima de 1/3 nos ganhos econômicos (royalties), auferidos pela instituição científica e tec-nológica (ICT), resultantes de contratos de transferência de tecnologia e de licencia-mento – a lei não especifica casos em que o pesquisador possui dedicação exclusiva.

O Departamento de Inovação da UFSC negociou o primeiro contrato que garantiu a propriedade intelectual à Universidade. Em 2007, o Laboratório de Farmacologia Experimental desenvolveu um creme der-matológico em parceria com uma empresa de cosméticos. Constituído à base de flavo-noides de passiflora alata (espécie de ma-racujá existente no Brasil), o novo produto anti-idade pertence à linha Chronos da Na-tura. A pesquisa, coordenada pelo professor João Calixto, durou quatro anos.

O pesquisador explica que a ideia come-

Em 1948, procurando explicar como o veneno da jararaca mata ou paralisa vítimas da cobra, o pesquisador gastão rosenfeld levou para o laboratório do químico e farmacologista Maurício rocha e Silva, no instituto Biológico, em São Paulo, uma amostra da peçonha da Bothrops jararaca. o objetivo era estudar seus efeitos em cães. após injetarem o veneno em um animal, os pesquisadores observaram que a reação com o plasma sanguíneo liberava uma substância com intensa ação hipotensora, denominada bradicinina. No início da década de 1960, Sérgio Henrique 

Ferreria, orientando de Maurício rocha e Silva na universidade de São Paulo (uSP), constatou que a hipotensão provocada pela liberação da bradicinina no sangue da vítima era potencializada pela ação de toxinas encontradas em grandes quantidades no veneno da jararaca. Essas substâncias, denominadas peptídeos potenciadores da bradicinina (BPPs), foram isoladas por Ferreira e outros pesquisadores. Em 

1965, Ferreira levou o resultado das pesquisas para a inglaterra, onde cursaria pós-doutorado, o que permitiu a um grupo de cientistas liderado pelo inglês John vane (ganhador do Prêmio Nobel de Medicina) chegar a um protótipo molecular dos BPPs. Certos do potencial da pesquisa, Ferreira e vane 

firmaram parceria com o laboratório norte-americano Bristol-Myers Squibb, cedendo a descoberta em troca de financiamento para outros estudos. Foi assim que o laboratório registrou a patente da versão sintética da substância isolada pelos brasileiros e criou, em 1977, o Captopril, medicamento utilizado por milhões de hipertensos. Lançada nos Estados unidos no início da década 

de 80, a droga se tornou referência mundial para o tratamento da hipertensão e sua comercialização gera um faturamento de uS$ 5 bilhões por ano ao laboratório norte-americano. Hoje, uma versão genérica da droga é usada pelo Sistema Único de Saúde (SuS) no Brasil.

Do Brasil para o mundo

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çou a ganhar corpo depois que algumas pesquisas iniciais em outra área deram re-sultado negativo. Em 2003, quando inicia-ram a parceria, a Natura estava focada em uma pesquisa mais voltada à área de far-macologia. A empresa havia comprado a Flora Medicinal, do Rio de Janeiro, e a par-ceria com a UFSC era para inicialmente reestudar um produto daquela empresa, que contava com três plantas na sua com-posição, sendo uma delas a passiflora. A intenção era realizar testes para compro-vação de sua eficácia. Como não obteve sucesso, o produto, cujo nome não foi re-velado, saiu de linha. Calixto, incomodado com os resultados negativos, decidiu deta-lhar cada uma das três plantas isoladamen-te. A passiflora alata chamou a atenção do pesquisador pelo seu componente anti-in-flamatório. Foi nesse momento que ele che-

gou à ideia de usar a passiflora como cos-mecêutico antienvelhecimento.

O núcleo de inovação da UFSC auxiliou na questão contratual, garantido à Uni-versidade participação nos ganhos da ex-ploração do novo produto. Calixto expli-ca que, apesar da parceria ter sido um sucesso, houve entraves na negociação do contrato de propriedade intelectual, pois o Regimento Jurídico Único (que regula-mente as atividades do servidor público federal) não permitia que ele recebesse os royalties pela descoberta, por atuar como professor em regime de dedicação exclu-siva. “Isso exigiu que se buscassem meca-nismos alternativos para que eu recebesse os recursos a que tinha direito”, explica. A Natura está negociando outro tipo de parceria com a UFSC para ser iniciada ainda em 2010.

Em novembro de 2009, o Brasil foi autorizado pela organização Mundial do Comércio (oMC) – entidade responsável pelas negociações multilaterais de comércio entre países membros – a adotar contramedidas no setor de bens, serviços e de propriedade intelectual dos Estados unidos em um valor total de uS$ 829 milhões.o processo contra os subsídios do governo norte-

americano à produção e exportação de algodão no país teve início ainda em 2005, quando a oMC exigiu que os Estados unidos retirassem tais subsídios em um prazo de seis meses. Como a medida não foi adotada, a oMC viabilizou que o Brasil fizesse uma retaliação cruzada, ou seja, mesmo que o setor de bens seja o atingido com os subsídios ao algodão, o país pode tomar medidas, também, nos setores de serviços e de propriedade intelectual.Em seguimento à autorização da oMC, em março 

de 2010 a Câmara de Comércio Exterior (Camex) do Brasil publicou uma lista de produtos que terão suas alíquotas de imposto de importação aumentadas para os Estados unidos. o valor total de retaliação atingido com a lista de bens é de uS$ 591 milhões. o restante do valor de compensação a que tem direito o Brasil – uS$ 238 milhões – será aplicado nos outros setores.Devido à retaliação, o consumidor brasileiro 

poderá pagar menos ou até não precisará pagar 

nada para comprar ou utilizar,  por exemplo, algum medicamento patenteado pelos Estados unidos. o objetivo dessa contramedida é que as empresas dos setores de serviços e propriedade intelectual pressionem o governo norte-americano a negociar com o Brasil, já que a exigência da oMC não bastou para que os Estados unidos parassem de subsidiar a produção e a exportação de algodão.o governo brasileiro colocou, também em 

março deste ano, 21 itens para consulta pública  em propriedade intelectual que podem ser  usados para retaliar os Estados unidos. Entre os itens está a quebra de patentes de produtos ou processos relativos a medicamentos, inclusive  os veterinários e químicos agrícolas. Há também quebra de direitos autorais, como para execução pública de músicas, filmes e a possibilidade de licenciamento de patentes de medicamentos sem autorização do titular.a lista foi publicada no Diário oficial da união. após 

o final da consulta pública, o governo editará a lista final de retaliação. a abertura da consulta pública em propriedade intelectual é a última cartada do governo brasileiro para tentar eliminar os subsídios e evitar a retaliação. a indústria farmacêutica dos Estados unidos já iniciou um lobby intenso para forçar o governo local a negociar com o Brasil.

Retaliação cruzada

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e d u c a ç ã o

Um novo modelo de graduaçãoBacharelados interdisciplinares oferecem estrutura curricular inovadora e podem ajudar a reduzir a evasão em cursos de Engenharia no Brasil

Fernanda Peres M anter a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) nos patamares de 6% ao

ano no próximo quinquênio exigirá que o Brasil forme, pelo menos, 350 mil novos engenheiros. Atualmente entram no mer-cado 35 mil profissionais por ano, metade do que o país precisa para seguir no mes-mo ritmo de crescimento. O dado faz parte do projeto Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento, lançado em 2006 pela Fe-deração Nacional dos Engenheiros (FNE) e atualizado em 2009. A pesquisa mostra ainda que uma das principais causas da in-suficiente formação de novos profissionais está na evasão dos graduandos em Enge-nharia. Para corrigir problemas como esse, a popularização dos bacharelados interdis-

ciplinares (BIs) na área de Ciência e Tec-nologia pode ser uma solução. Com currí-culo flexível e formação humanística e generalista, a modalidade de ensino já é praticada em oito instituições federais de ensino no Brasil e a cada ano desperta a atenção de mais estudantes.

Atualmente, dos cerca de 139 mil alunos que entram nas faculdades de Engenharia do Brasil todos os anos, pouco mais de 35 mil chegam a concluir o curso. Dados da Capes apontam 60% de evasão nos cursos desta área nas IES públicas e 75% nas par-ticulares. “A falta de profissionais poderá ser um gargalo a impedir o desenvolvimen-to nacional”, alerta o presidente da FNE, Murilo Celso de Campos Pinheiro.

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ração, em média, de três anos (2.400 ho-ras), o aluno recebe o diploma de graduação e pode seguir estudando para obter também, em aproximadamente dois anos de estudo, a formação mais específi-ca, em cursos como os tradicionais. O MEC considera o modelo de ensino inovador e espera uma modernização do sistema cur-ricular das instituições.

Destaque no eNeM

Uma das formas de ingresso nos BIs é via Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), mas cada universidade tem liberdade para es-colher como será feita a seleção dos alunos. Na edição de 2010 do exame, o curso mais procurado pelos estudantes foi o de Bachare-lado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia (BC&T) da Universidade Federal do ABC (UFABC), do interior de São Paulo, que regis-trou 16.253 candidatos inscritos. “O nosso di-ferencial é o projeto pedagógico, que permite ao aluno uma maior flexibilidade de currícu-lo, um entendimento dos diferentes assuntos do seu interesse. O curso é abrangente, estru-turado em eixos que compõem uma formação extremamente geral, mas com fundamentação teórica e prática”, avalia o pró-reitor de gra-duação da UFABC, Derval Rosa.

A UFABC conta com 2.557 alunos matri-culados atualmente no BI de Ciência e Tec-nologia. Em maio, 1.700 novos estudantes devem ingressar na instituição: 1.500 no BC&T e 200 no recém-criado Bacharelado em Ciências e Humanidade.

Na universidade, 30% das disciplinas são livres, ou seja, o graduando pode cursá-las na UFABC ou em outras instituições. Essa flexibilidade, explica Rosa, dá maior autono-mia e, logo, mais responsabilidade ao aluno, pois é ele quem escolhe o caminho que vai percorrer dentro da universidade desde o começo. “Em longo prazo estamos formando um profissional autodidata”, afirma.

Essa liberdade de escolha foi o que atraiu o estudante Juliano Marques Nunes, 20 anos, em 2009. Na época, ele já havia começado um curso de tecnologia em outra faculdade

escolha madura

Um dos maiores dilemas de todo adoles-cente que sonha em seguir os estudos em uma universidade é qual profissão esco-lher. Aos 17, 18 anos não é nada fácil ter certeza sobre o que se quer fazer para o resto da vida. A pressão dos pais, da socie-dade e a visão pouco clara do currículo e do dia a dia da vida profissional podem le-var o jovem a optar por um curso que, mais tarde, acaba revelando-se bem diferente daquilo que ele imaginava quando fez a inscrição para o vestibular.

Os bacharelados interdisciplinares foram criados a partir da ideia de que, em dois ou três anos, após uma formação mais geral, o aluno tem condições de fazer uma escolha mais madura sobre sua carreira. De acordo com o Ministério da Educação (MEC), cur-sos nesses moldes já são realidade em oito universidades federais brasileiras: Univer-sidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Uni-versidade Federal de Alfenas (Unifal), Uni-versidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Universi-dade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade Federal Rural do Se-mi-Árido (Ufersa), Universidade Federal do ABC (UFABC) e Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Os BIs são cursos superiores de gradua-ção (assim como os bacharelados, licencia-turas e cursos superiores de tecnologia)

divididos em quatro gran-des áreas do conhecimen-to: humanidades, artes, saúde e ciência e tecnolo-gia. Ao decidir-se pela instituição de ensino que oferece esse tipo de for-mação, o aluno matricula-se em uma das áreas e não em um curso profissiona-lizante como nos moldes tradicionais.

Após o período de for-mação básica, que tem du-

Murilo Celso Pinheiro, presidente da FNE: falta de engenheiros terá consequências para economia do país

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universidade Federal do aBC foi a preferida 

por quem optou pelo Bacharelado 

interdisciplinar via ENEM

e não teve dúvidas de que queria ingressar no BI de Ciência e Tecnologia da UFABC. Dois aspectos pesaram na escolha de Juliano: a interdisciplinaridade do curso e o projeto pedagógico da Universidade, cujo texto diz que, “afastados do sistema educacional uni-versitário tradicional, os alunos são encora-jados a se tornarem responsáveis por suas próprias vidas em vez de apenas escutarem o que devem fazer.”

A dúvida é: toda essa liberdade e genera-lização formam bons profissionais? Ainda não é possível ter uma resposta definitiva, já que a UFABC não tem turmas formadas nos BIs. Para o pró-reitor Derval Rosa, o merca-do quer um profissional engajado, empreen-dedor, que tenha iniciativa na resolução e trânsito sobre os diferentes conhecimentos, uma vez que o acesso ao conhecimento é muito fácil hoje em dia.

Se é assim, pelo menos para o estudante Ju-liano, o modelo parece estar funcionando co-mo o previsto. O jovem diz que se sente pre-parado e acredita que o curso o está ajudando a ter maior capacidade de se adaptar aos de-safios que serão impostos pelo mercado de trabalho. “O curso faz com que tenhamos uma mentalidade diferente do aluno que cursa uma Engenharia tradicional, que fecha a sua visão para determinada área. No BC&T o estudan-te começa com uma visão ampla sobre tudo, que são as disciplinas obrigatórias. Depois faz as disciplinas mais específicas, pelas quais sente interesse e que o conduzirão para um curso de formação, como as Engenharias, ba-charelados e licenciaturas”, explica.

Berço ideológico

O início das discussões acerca da implan-tação dos bacharelados interdisciplinares nas universidades brasileiras remonta ao ano de 2006, quando, por iniciativa do reitor da UF-BA, Naomar Monteiro de Almeida Filho, rei-tores de várias universidades federais do Bra-sil se reuniram com o MEC no 1º Seminário Nacional da Universidade Nova.

O movimento produziu o Manifesto da Universidade Nova, que tinha como intenção

debater os rumos do ensino superior público brasileiro no ano seguinte. Uma das vedetes do Universidade Nova é justamente a intro-dução do bacharelado inter-disciplinar nas instituições de ensino superior. De acor-do com o projeto, os BIs se-riam responsáveis por uma mudança na forma de in-gresso – abandona-se o ves-tibular tradicional e adota-se o ENEM – e ainda pela ampliação do número de vagas nas universidades.

Atualmente, a UFBA ofe-rece quatro bacharelados interdisciplinares somente no campus de Salvador nas áreas de Ciência e Tecnologia, Artes, Humanidades e Saúde. No primeiro ano, em 2009, foram oferecidas 900 vagas nesses cursos, número ampliado para 1.300 em 2010.

Mas engana-se quem pensa que os BIs são exclusividade dos jovens que querem mais tempo para se decidir por uma carreira. En-tre os estudantes, há pessoas de idades, for-mações e aspirações muito variadas. “A maio-ria tem a idade própria dos calouros. Desses, alguns buscaram os BIs como opção de in-gresso para os cursos profissionais que já es-colheram, enquanto outros ainda não têm essa definição. Há também estudantes bem mais velhos, diplomados ou não, os quais buscam o conhecimento que os bacharelados podem proporcionar”, explica o pró-reitor de ensino de graduação da UFBA, Maerbal Bit-tencourt Marinho.

O pró-reitor aposta em uma proposta pe-dagógica abrangente como forma de reduzir a evasão dos bancos universitários. “Eles (os alunos) têm oportunidade de experimentar, o que pode reduzir a evasão. Principalmente nos cursos seguintes, se decidirem fazê-los, porque terão decidido com mais conhecimen-to”, conclui. Sentir o gostinho de cada profis-são pode ser a chave para evitar a desistência da carreira antes mesmo de iniciá-la.

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o p o r t u N i d a d e

Júlia Phittan

A internet mais abrangentePlano Nacional de Banda Larga promete estender acesso às classes C e D, gerando negócios para provedores, empresas de softwares ou mesmo fabricantes de computadores e laptops

É por uma rede de 30.803 quilômetros de fibra ótica que o governo brasileiro

espera triplicar o número de domicílios com acesso à internet nos próximos quatro anos. O Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), como foi batizado, pretende am-pliar o acesso à rede de atuais 12 milhões de casas para 40 milhões até 2014, em 25 capitais brasileiras.

No plano anunciado pelo governo, são previstos R$ 785 milhões em desonerações (abatimento de impostos e facilidades). A estatal Telebrás, que recebeu R$ 3,22 bi-lhões em capitalização do governo, será a gestora do programa. Com o PNBL, o go-

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verno espera deixar o serviço mais próxi-mo das classes C e D.

Esse universo representa uma popula-ção de mais de 120 milhões – ou 84% do total dos brasileiros que gastam com rou-pas, alimentação e com despesas da casa (luz, aluguel, água e condomínio). Um imenso universo de clientes que hoje con-centra uma grande oportunidade de negó-cios para provedores, empresas de softwares ou mesmo fabricantes de computadores e laptops.

A gerente da incubadora Raiar, da Pon-tifícia Universidade Católica do Rio Gran-de do Sul (PUCRS), Moema Nunes, com-partilha dessa percepção. “O PNBL, ao focar no acesso à internet para as classes C e D, abrirá oportunidades para que novos negócios sejam desenvolvidos voltando-se a essa parcela da população”, declarou. De acordo com ela, esse novo mercado é uma oportunidade a ser explorada pelos empre-endedores da área de tecnologia para o de-senvolvimento de soluções inovadoras.

Desafio aos softwares

“A expansão da internet banda larga vai favorecer muito os negócios para as em-presas que trabalham com softwares”, ava-lia Tiago Totti, da DevelopIT. A empresa surgiu em janeiro deste ano na Incubadora Raiar, focada no desenvolvimento de softwa-res sob encomenda e treinamento em tec-nologias Microsoft.

Para Totti, a implementação do PNBL abrirá um leque maior de oportunidades para quem trabalha no segmento de mí-dia digital. “Com acesso maior à banda larga, serviços de downloads de arquivos

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como imagens e filmes tendem a se am-pliar”, afirma.

Essa ampliação de oferta de banda larga deve chegar a 100 municípios ainda em 2010. Segundo o PNBL anunciado pelo go-verno, a ideia é completar a implantação de backbones no Distrito Federal e em 15 capitais até o final do ano, formando um anel que abrangerá 11.357 quilômetros de redes nas regiões Nordeste e Sudeste. O serviço disponível terá uma velocidade igual ou superior a 512 quilobits pos se-gundo (kbps).

Segundo Totti, o fato de o usuário estar sempre conectado – e do acesso estar mais disseminado – muda a forma de pensar o software. “A criação do software, a arqui-tetura de software, permite mais serviços. Há uma base instalada no local ou mesmo na nuvem e serviços que permanecem on-line”, explica.

grandes e pequenas

Para o presidente da Associação Brasi-leira dos Provedores de Acesso, Serviços e Informações da Rede Internet (Abranet), Eduardo Fumes Parajo, o anúncio do go-verno ainda deixa muitas lacunas sobre o que o PNBL vai representar de avanço pa-ra o serviço de provedores no país. “Ainda dependemos da infraestrutura que é ofe-recida pelas empresas de telecomunicação. Se tivermos outro competidor que entre no mercado para oferecer os serviços a um custo mais acessível, será ótimo”, opina.

Pelo modelo anunciado, a Telebrás será a gestora ou “espinha dorsal” do plano, mas o governo quer que empresas privadas atuem de forma complementar, levando o serviço ao usuário final. Como gestora, a Telebrás será encarregada de implementar a rede de comunicação da administração pública federal e prestar suporte a políticas de conexão à internet em banda larga para universidades, centros de pesquisa, escolas, hospitais e outros locais de interesse pú-blico. A estatal só levará o serviço para os usuários finais se não houver oferta de par-

ticipação de empresas privadas.Segundo Parajo, os pequenos provedores

demandam um investimento alto em equi-pamentos e também na contratação das re-des que hoje estão nas mãos das empresas de telecomunicação. Para o presidente da Abranet, o governo deveria pensar em li-nhas de financiamento que atendessem com especificidade o setor e em redução de tributos relacionados aos serviços.

O modelo executado até agora no Brasil, de acordo com Parajo, estimulou uma grande competição no mercado de prove-dores, mas não no serviço. De acordo com ele, o país tem hoje cerca de 1,7 mil prove-dores de internet. O resultado dessa com-petição é a queda vertiginosa do custo dos serviços de provedores – que hoje chegam a ser oferecidos a menos de R$ 10 –, en-quanto o serviço de internet mantém-se na faixa entre R$ 60 e R$ 70.

Segundo o plano anunciado pelo gover-no, o custo da tarifa deve ser de R$ 15 para o plano com incentivos, com veloci-dade de até 512 kbps (quilobits por se-gundo) e com limitação de downloads, e de R$ 35 para o plano comum, com velo-cidade entre 512 e 784 kbps. Nos casos em que os incentivos não sejam adotados, a expectativa do governo é de que o pre-ço fique entre R$ 29 e R$ 35, valor que varia em função da cobrança ou não de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

Tiago Totti e seu sócio na DevelopiT, Felipe Dorneles: PNBL deve 

aquecer mercado de softwares

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A Alemanha sempre esteve presente em momentos importantes do de-

senvolvimento econômico brasileiro. Pri-meiro, com as imigrações do final do sé-culo XIX, ao enviar mão de obra para movimentar a economia do Brasil agrário depois do fim tardio da escravatura. De-pois, na chamada segunda revolução in-dustrial, a partir dos anos 60, quando os alemães participaram do processo de im-plantação da indústria pesada no Brasil, com suas montadoras de automóveis e fá-bricas de maquinário. Agora, momento em que o Brasil orienta suas políticas de desenvolvimento para a economia do co-

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nhecimento, a Alemanha abre as portas para a cooperação tecnológica e fomento à inovação.

Para oficializar a parceria teuto-brasi-leira, será lançado em abril o Ano Brasil-Alemanha da Ciência, Tecnologia e Ino-vação, que vai até abril de 2011 com o tema “Sustentável: Inovador” e pretende mobilizar empresas e instituições de pes-quisa e desenvolvimento em ambos os pa-íses para fomentar processos de inovação. O primeiro acordo de cooperação cientí-fica e tecnológica entre Brasil e Alemanha foi assinado em 1969, mas a colaboração ganhou mais força nos últimos três anos,

Parceria teuto-brasileiraAno Brasil-Alemanha da Ciência, Tecnologia e Inovação estimula a transferência de conhecimento entre os dois países

FranCis Franç a

investimentos: Brasil x Alemanha

País Ano

Dispêndios em P&D

(US$ milhões correntes de PPC (1))

Dispêndios em P&D em relação ao Produto

Interno Bruto (PIB) em percentual

Dispêndios em P&D per capita

(US$ correntes de PPC por habitante)

Dispêndios em P&D por pesquisador (em equivalência de

tempo integral) (US$ correntes de PPC por

pesquisador)

Alemanha 2007 71.789,0 2,53 872,7 246.822,35Brasil 2008 23.019,3 1,09 121,4 172.732,25

(1)Dispêndios nacionais em pesquisa e desenvolvimento – P&D, em relação ao produto interno bruto – PiB, países selecionados, em anos mais recentes disponíveis Fonte: MCT

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com o esforço de ambos os países em in-ternacionalizar o ensino e a pesquisa.

O Ano da Ciência Brasil-Alemanha, como também é chamado, pretende ir além do incentivo à pesquisa e ao desen-volvimento acadêmico e mobilizar políti-cas bilaterais de inovação. “Queremos uma cooperação mais estreita com o Bra-sil para que possamos responder em con-junto a questões globais como as altera-ções climáticas e o reforço da inovação e do crescimento”, disse a ministra para Educação e Pesquisa da Alemanha, An-nette Schavan, em São Paulo.

Via de mão dupla

Diferentemente do que aconteceu com as imigrações do século XIX e a indústria pesada do século XX, desta vez o Brasil não espera pela ajuda unilateral dos ale-mães. No século XXI, a conversa é de igual para igual. A Alemanha é reconhe-cida como um dos países mais inovado-res do mundo, não apenas em produtos e processos, mas também nos instrumen-tos que utiliza para replicar seus progra-mas de C,T&I.

O Brasil, por sua vez, oferece um mer-cado consumidor em desenvolvimento, além da capacidade de absorver tecno-logia. “Certamente a Alemanha é muito grata ao Brasil por toda a estabilidade e pelas condições de mercado e de inves-timentos que nós geramos ao longo dos últimos anos. Isso teve um impacto muito importante para o desenvolvi-mento e estabilidade da economia ale-mã”, reconhece o chefe da Divisão de Ciência e Tecnologia do Ministério das Relações Exteriores, Ademar Seabra da Cruz Junior. E a contrapartida não é só econômica. Embora em menor grau, o Brasil também pode contribuir em seto-res nos quais domina processos tecnoló-gicos, como energias renováveis, vaci-nas, imunobiológicos e biomedicina em geral, áreas em que o país desenvolve pesquisa de ponta.

Programas específicos

Para o Ano da Ciência Brasil-Alema-nha, cerca de 40 programas foram conce-bidos, dos quais 15 já estão prontos para execução. Um dos exemplos é a constru-ção de uma plataforma tecnológica entre alemães e brasileiros na área de biotec-nologia. Segundo Cruz Junior, o projeto já tem recursos previstos para implanta-ção. A plataforma digital vai apontar prioridades na elaboração de programas conjuntos para o aprimoramento da in-dústria de biotecnologia no Brasil. “A

além de fomentar políticas de inovação junto a instituições de pesquisa e desenvolvimento e ao setor produtivo, o ano da Ciência também propiciará a realização de programas para despertar vocações científicas em crianças e adolescentes em idade escolar. Dois projetos desenvolvidos pelo instituto Max Planck, uma organização de pesquisa científica alemã, já estão prontos para serem trazidos para o Brasil. o “Túnel da Ciência” será sobre a história das descobertas científicas na sociedade e o “um olhar do céu” sobre astronomia e astrofísica. ambas as exposições são interativas e devem percorrer várias cidades ao longo do ano com o objetivo de despertar o interesse pela ciência em dezenas de milhares de estudantes brasileiros.

ciência ao alcance de todos

o Túnel da Ciência desperta a atenção de estudantes para as descobertas científicas

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i N t e r N a c i o N a l

Alemanha tem uma associação que reú-ne em torno de 500 grandes empresas do setor de biotecnologia. A ideia é que essa associação investigue programas ou in-vestimentos a serem realizados no Brasil em parceria com empresas brasileiras. Investimentos esses que pressupõem transferência de conhecimento, forma-ção de incubadoras, joint-ventures e o fortalecimento de outros setores da ca-deia em empresas já instaladas”, explica Cruz Junior.

Também está prevista a publicação de um livro que vai reunir experiências de intercâmbio de conhecimentos em ino-vação entre Brasil e Alemanha em um esforço conjunto de especialistas dos dois países. Na área espacial, o Ano da Ciência deve fomentar o intercâmbio en-tre a Agência Espacial Brasileira (AEB) e a alemã (DLR) para eliminar gargalos de gestão, investimento ou de tecnologia que possam ser supridos através de par-cerias. No segmento de nanotecnologia, o comitê organizador do Ano da Ciência pretende fazer um levantamento sobre as atuais necessidades do setor e aproveitar a experiência alemã para aumentar a competitividade.

O Brasil também deve aproveitar ini-ciativas bem-sucedidas de políticas de inovação alemãs. Um dos focos é a parce-ria com a Sociedade Fraunhofer. “Eles têm 49 grandes laboratórios na Alema-nha, com índice de patentes forte. A Fraunhofer é uma instituição pública, mas recebe também recursos privados para atender a necessidades específicas no desenvolvimento de setores. Onde tem um problema tecnológico, a Fraunhofer tem uma solução”, enfatiza Cruz Junior. A ideia é que, durante o ano, os laborató-rios da Sociedade Fraunhofer também apoiem soluções tecnológicas em proje-tos-piloto no Brasil, que entraria com os mecanismos de financiamento.

esforço conjunto

Para reforçar o espírito de cooperação no Ano da Ciência será realizado no final de maio, em Munique, o primeiro encon-tro conjunto entre a Comissão Mista Eco-nômica Brasil-Alemanha e a Comissão Mista de Ciência, Tecnologia e Inovação dos dois países, com a participação de re-presentantes do empresariado. As comis-sões devem prospectar, juntas, empresas alemãs intensivas em produção tecnológi-ca interessadas em se associarem a empre-sas no Brasil em troca de acesso a modelos de investimentos e ao mercado brasileiro.

O empresariado alemão já se sente de fato bastante confortável no Brasil. “Exis-tem mais empresas alemãs instaladas em São Paulo do que em qualquer cidade da Alemanha”, diz Gerhard Ett, vice-presi-dente da Associação dos Engenheiros Ale-mães no Brasil e presidente da Electrocell,

Para Ett, o Brasil confia nos produtos alemães, além de oferecer mão de obra qualificada

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que desenvolve células a combustível no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec). Na opinião de Ett, o mercado brasileiro é a principal moeda de troca com os alemães. “O Brasil é um grande mercado em expansão e o público consumidor conhece e confia nos produ-tos alemães. O Brasil também oferece mão de obra qualificada em empresas de base tecnológica, que conseguem acompanhar e desenvolver em conjunto tecnologias es-pecíficas que podem ser aplicadas tanto no Brasil como na Alemanha”, diz.

A Electrocell mantém parceria com di-versos fornecedores de tecnologia ale-mães. A Alemanha é fabricante de boa parte das peças utilizadas no gerador que converte energia química em energia elé-trica e libera apenas água como resíduo. Segundo Ett, a cooperação entre empre-sas brasileiras e alemãs aumentou tanto em relação à transferência de tecnologia quanto ao número de empresas brasilei-ras que possuem representação de com-panhias alemãs no Brasil, bem como na quantidade de projetos desenvolvidos em conjunto por meio de parcerias teu-to-brasileiras.

Resultado perene

O Ano Brasil-Alemanha da Ciência, Tecnologia e Inovação não tem a preten-são de transformar setores da economia, mas também não deve se limitar a benefi-ciar nichos. “Não pretendemos ter um im-pacto macro nem micro, propomos uma ação em setores intermediários da escala produtiva e também do processo do co-nhecimento”, observa Cruz Junior.

Os resultados devem ser mensurados por meio de indicadores qualitativos e quantitativos que serão elaborados até abril de 2011. Segundo Cruz Junior, a ideia é que os resultados se consolidem nos próximos meses, através de uma me-todologia permanente para o trabalho bi-lateral na área de ciência e tecnologia que vá além do Ano da Ciência.

Workshop Pro Mata31 de março a 2 de abril | Porto alegre

Lançamento do Ano Brasil-Alemanha da Ciência, Tecnologia e Inovação em São Paulo12 de abril | São Paulo

Viagem latino-americana no âmbito do projeto-piloto BayLAT – germanismo na América Latina5 a 18 de abril | São Paulo, Blumenau, Belo Horizonte e Porto alegre

Delegação de especialistas latino-americanos na Feira de Hannover 201019 a 23 de abril | Hannover

Encontro binacional de Biologia de Sistemas 201025 a 29 de abril | Heidelberg

Energias renováveis na transferência de conhecimento e tecnologia teuto-brasileira30 de abril | Hamburgo

Workshop do Projeto de Coordenação Conjunta União Europeia-Brasil em Sistemas Nano5 e 6 de maio | Manaus

Seminário sobre Tecnologia de Armazenamento de Frutas2 e 3 de julho | ravensburg

Parceria de cooperação teuto-brasileira na pesquisa sobre abelhas – resultados e perspectivas28 a 31 de julho | São Paulo

O que mantém a sociedade unida? Comparação entre Constituições e Tribunais Constitucionais: Alemanha e Brasil18 a 20 de novembro | Dresden

Workshop de Física de Partículas Elementares1º de outubro a 30 de novembro | São Carlos

Workshop teuto-brasileiro “Hidrato de Gás”1º de outubro a 31 de dezembro | Porto alegre 

Mais informações: www.ano-brasil-alemanha.org

Programação

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A apreensão invadiu os bancos brasilei-ros no segundo semestre de 2008. O

motivo: a crise mundial que escancarou as fragilidades do sistema financeiro dos Es-tados Unidos e da Europa. Mesmo sofren-do muito menos do que a média mundial, o Brasil também foi prejudicado. Do final de 2008 até o primeiro trimestre de 2009, os bancos privados brasileiros, muitos por estarem ligados a suas matrizes no exterior,

A união dos pequenosNem mesmo a crise mundial interrompeu o crescimento das cooperativas de crédito no Brasil. Uma ótima notícia para as MPEs inovadoras que buscam alternativas de financiamento

diminuíram em cerca de 25% o crédito às pequenas empresas. Entretanto, algo curio-so aconteceu. Enquanto os grandes tre-miam, as cooperativas de crédito expandi-ram seus negócios.

Dados da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) mostram que a oferta de crédito das suas 7.261 cooperativas asso-ciadas cresceu durante todo o ano de 2008. A tendência positiva continua até hoje. Em janeiro do ano passado, as operações de crédito do setor somavam R$ 16,4 bilhões. Em agosto, atingiram R$ 19,4 bilhões. Por fim, nos três últimos meses de 2009, o montante chegou a R$ 21 bilhões.

Mesmo com a retomada do crédito en-tre os bancos tradicionais, o setor conti-nua crescendo. Em dezembro do ano pas-sado, ultrapassou a marca de R$ 25 bilhões. Uma breve análise dos ativos to-tais dos associados da OCB mostra como a crise financeira não foi um grande pro-blema. Durante 2009, o setor cresceu em ativos R$ 8,3 bilhões – somando um total de R$ 52,8 bilhões.

O cooperativismo de crédito existe no Brasil desde 1930, mas foi somente a partir da segunda metade da década de 1980 que ganhou maior impulso, migrando da zona rural, onde nasceu, para as cidades. A de-finição de cooperativa de crédito é clara: um grupo de pessoas que se reúnem em busca da melhor administração de seus re-cursos financeiros. O cooperativismo de crédito é representado no Brasil por siste-mas como Sicredi, Cecred, Sicoob, Uni-cred, Ancosol e também por cooperativas independentes, que não são ligadas a ne-nhum deles.

O objetivo desse tipo de cooperativa é

Bruno moresChi

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prestar assistência aos associados e ofere-cer serviços financeiros com condições mais atrativas que as oferecidas no Siste-ma Financeiro Nacional. Por isso, de for-ma indireta, elas também pressionam os bancos tradicionais a diminuírem suas ta-xas. De acordo com a lei nº 4.595, de 1964, seu funcionamento precisa ser autorizado e regulado pelo Banco Central. Mas há al-go que as difere dos bancos comuns. A cooperativa não almeja o lucro e o exce-dente de suas atividades é dividido entre os associados.

Aqui e lá fora

Ciente de que o cooperativismo de crédi-to é essencial para o crescimento de peque-nas e médias empresas, o Sebrae criou um grupo de estudos sobre o assunto, que ini-ciou suas pesquisas no final do ano passado. O objetivo é conhecer até agosto oito expe-riências distintas pelo Brasil. Com isso, téc-nicos do Sebrae querem promover um maior intercâmbio entre essas cooperativas.

O gerente da unidade de acesso a servi-ços financeiros do Sebrae Nacional, Ale-xandre Guerra, não esconde o entusiasmo quando comenta as peculiaridades das co-operativas de crédito. “Nelas há um senti-mento de integração que não vemos nos bancos tradicionais. Os associados pos-suem características em comum e, por isso, participam mais do funcionamento da co-operativa. Num banco podemos até ser acionistas, mas não ajudamos a tomar as decisões. Em um grupo de cooperados é comum ver todos participando das reuni-ões, votando e discutindo as mais variadas questões ligadas ao funcionamento da co-operativa”, comenta Guerra.

Essa proximidade com seus integrantes faz com que as cooperativas de crédito pen-sem em serviços específicos. “Pode ser um cartão de crédito diferenciado aos empre-sários, uma linha de crédito aos médicos que precisam ampliar seus consultórios. Tudo varia de acordo com a região em que ela se encontra e o ramo de atividade de

seus cooperados.”Mesmo com essas benéficas caracterís-

ticas e crescendo bastante, o cooperativis-mo de crédito ainda é pequeno no Brasil, além de estar bastante concentrado no Sul e no Sudeste. “Podemos crescer muito. O Sebrae espera que nos próximos 10 anos sua participação de 2% no sistema finan-ceiro aumente para 10%”, afirma Guerra.

O crescimento é de fato necessário. Quan-do comparado com outros países no mundo, o Brasil ainda é iniciante no setor. Nos pa-íses do G7, composto pelas sete nações mais industrializadas e desenvolvidas economi-

Não é difícil participar de uma cooperativa no Brasil. Basta pesquisar entre as confederações se há alguma ligada às características de seu ramo de atividade. o atendimento costuma ser mais prestativo e rápido do que nos bancos tradicionais.Todavia, criar uma nova cooperativa exige disposição e 

cautela. o Sebrae orienta o grupo interessado a analisar se seus integrantes possuem interesses comuns, espírito de cooperacão e uma quantia razoável de dinheiro em poupança. outra questão importante é a existência de um líder entre os interessados. o número inicial aconselhável para começar uma cooperativa varia de 20 a 30 pessoas.Buscar orientações de especialistas também é essencial. Em 

geral, as cooperativas singulares (formadas por pessoas de mesmo interesse) estão ligadas a uma cooperativa central. as centrais vinculam-se às confederações. “Por isso, é importante que o grupo entre em contato com uma dessas duas entidades maiores. Elas possuem departamentos para sanar dúvidas, contadores treinados para um público inexperiente e várias atividades para ensinar os primeiros passos”, explica Sílvio giusti, gerente de relacionamento e Desenvolvimento do Cooperativismo de Crédito da organização das Cooperativas Brasileiras (oCB).a abertura de uma cooperativa pode se mostrar um processo 

burocrático e uma dose extra de paciência é fundamental. uma cooperativa de crédito é uma instituição financeira e, por isso, sua formação precisa ser atentamente analisada pelo Banco Central. “o BC tem por obrigação analisar os grupos interessados em participar do sistema financeiro para garantir um ambiente econômico estável e livrar o Brasil de ações meramente especulativas. a aprovação ou não depende do grau de clareza de quem está criando a cooperativa. Se o BC perceber que de fato há necessidade do agrupamento e objetivos claros, certamente irá dar todo o apoio necessário”, diz giusti.

cooperar para crescer

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camente, as cooperativas de crédito parti-cipam com 16,85% do mercado financeiro. Na Alemanha, a participação é de 20%, o que equivale a US$ 1,38 trilhão em ativos. Grande parte desse montante está concen-trada no Deutsche Zentral Bank, coopera-tiva que reúne 16 milhões de associados.

Mas exemplo mesmo é a França, o país com maior participação do cooperativismo de crédito. Cerca de 60% dos recursos fi-nanceiros (US$ 3,47 trilhões) estão em quatro cooperativas. Entre elas, o Credit Agricole, o maior banco cooperativo do mundo e quinto na lista dos 50 maiores bancos em volume de ativos.

O exemplo

Dificilmente o Brasil vai conseguir cres-cer distribuindo renda se o cooperativismo não continuar ampliando seus negócios. De acordo com o Banco Central, 850 cida-des no Brasil ainda não possuem nenhuma agência bancária. Em 40% delas há pelo menos uma cooperativa atuando como o único instrumento capaz de oferecer cré-dito, poupança e outros serviços financei-ros. “Além disso, é preciso ter uma visão nacionalista sobre essa questão. Parte do dinheiro aplicado nos bancos privados vai para suas matrizes no exterior. No caso das cooperativas, o dinheiro fica e é reaplicado no Brasil”, completa Sílvio Giusti, gerente de Relacionamento e Desenvolvimento do Cooperativismo de Crédito da Organiza-ção das Cooperativas Brasileiras (OCB).

A história da Cooperativa de Crédito de São Roque de Minas (Saromcredi) é um exemplo de como o setor está intimamente ligado à melhoria na vida das pessoas. Quem acessa hoje o site da cooperativa tende a achar que tudo ali foi sempre uma maravi-lha. Dentre as notícias destacadas está um recente incentivo adicional de R$ 50 mil pa-ra os que comercializaram café com o gru-po. A cooperativa destaca também que ofe-rece até mesmo proteção financeira para os produtores que aplicaram na Bovespa. Mas nem sempre a região teve boas notícias.

Até hoje a cidade de São Roque de Mi-nas não possui um único banco. Quando procuradas por prefeitos e lideranças das cidades, as instituições financeiras afir-mavam que ali não era um local suficien-temente atrativo para instalar uma agên-cia bancária. Aos moradores restava enfrentar uma estrada de terra até uma cidade maior.

Até que em 1991, João Carlos Leite, com apenas 25 anos, decidiu liderar um grupo de 22 produtores rurais. A ideia nem era tão pretensiosa: ele apenas queria facilitar a compensação de cheques e pagar os be-nefícios a aposentados e pensionistas do INSS. O sucesso foi tanto que em menos de um ano de funcionamento o grupo pas-sou a realizar ações de curto prazo, como empréstimos pessoais.

Hoje a cooperativa conta com cerca de 8,5 mil associados em diversos segmentos eco-nômicos. Detalhe: São Roque possui 6 mil habitantes. Atuando também em outras qua-tro cidades vizinhas, as operações de crédi-to da Saromcredi somam quase R$ 32 mi-lhões. Não por acaso o apelido de João Carlos Leite é Joãozinho Messias. “Na época ninguém acreditava que iria dar certo. Con-fesso que até mesmo eu”, afirma rindo. “Ho-je as pessoas se orgulham de viver em São Roque. Temos empresários respeitados e uma vida digna. Lembro-me que no passado o desejo dos mais jovens era ir embora da-qui. Agora aparecem de outros lugares”.

Ainda há muitas regiões do Brasil que precisam de cooperativas de crédito como a Saromcredi. Os especialistas são unâni-mes em afirmar que para isso acontecer é preciso vencer dois desafios. Primeiro é preciso aumentar o número de cooperati-vas de crédito em regiões como Norte e Nordeste. Ao mesmo tempo, a união das cooperativas precisa ser suficientemente grande para que se crie um único sistema de software capaz de interligar os serviços dos vários grupos existentes no Brasil. Só dessa maneira o país verá o surgimento de um gigante financeiro feito por persona-gens até então considerados pequenos.

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O Bairro do Recife, na Capital de Per-nambuco, reúne, em uma ilha de 100

hectares, muitos séculos da história de for-mação de uma cidade e de um estado. Foi o local de nascimento de Recife, em 1537, e onde a atividade portuária lançou a cida-de como dos principais centros comerciais do mundo e uma das mais modernas e im-portantes capitais brasileiras. Na história recente, o bairro está conquistando igual notoriedade. Há 10 anos, sedia o Porto Di-gital, considerado um dos maiores e mais importantes parques tecnológicos brasilei-ros e escolhido pela revista americana Bu-sinessWeek um dos 10 lugares do planeta onde se pensa o futuro do mundo.

Os extremos dessa história têm mais em comum do que se imagina. No século XVII, Recife recebeu com a invasão holandesa arquitetos, astrônomos, engenheiros, mé-dicos e artistas, desenvolvendo assim um ambiente favorável ao desenvolvimento cultural e tecnológico. Também foi na ci-

adriane aliCe Pereira

Tecnologia para o desenvolvimentoPorto Digital completa 10 anos e se consolida como promotor da transformação inovadora de Pernambuco

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dade que se instalou o primeiro observa-tório astronômico das Américas. Hoje a cidade é berço de um dos ambientes mais inovadores do país e ganha projeção inter-nacional com as ações de referência para desenvolvimento de capital humano, em-preendedorismo e inovação.

A história desse novo polo nasceu com a excelência da formação do capital humano local. Do Centro de Informática (CIn) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) começaram a sair, na década de 80, profissionais e pesquisadores com avançada qualificação para a área tecnológica. Na épo-ca, essa mão de obra era facilmente absor-vida pelas grandes empresas locais, públicas e privadas, que possuíam estruturas próprias de desenvolvimento de soluções em tecno-logia da informação e comunicação.

Nos anos seguintes, a excelência do capi-tal humano ganhou força com a concentra-ção de mestres e doutores e a formação de uma massa crítica na área. No entanto, com a abertura econômica do final dos anos 90, essa estrutura foi abalada. As grandes em-presas instaladas na região se transferiram, fecharam ou foram privatizadas, reduzindo a demanda por mão de obra na área tecno-lógica. A partir daí, Pernambuco passou a ser um grande exportador de profissionais qualificados, que, sem oportunidades locais, foram atraídos para outros mercados, espe-cialmente na região Sudeste.

Foi então que teve início a articulação para criar um ambiente local que pudesse aproveitar esse capital humano especiali-zado. Com a articulação de instituições, empresas, universidades e governos foi fo-mentada uma nova indústria para Pernam-buco: a indústria do conhecimento. Em 2000, essa indústria tomou forma com a

o Porto Digital aproveita o capital humano especializado na área de tecnologia

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FoTo

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ação

criação do Porto Digital, que nasceu com quatro empresas e 50 funcionários.

Cinco anos depois,, em 2005, foi apon-tado pela AT Kearney como o maior parque tecnológico do País em número de empre-sas e faturamento. Em 2007, o Porto Digital foi eleito o Melhor Parque Tecnológico/ Ha-bitat de Inovação do Brasil pela Anprotec, conquistando o Prêmio Nacional de Empre-endedorismo Inovador. Hoje são 135 em-presas, que geram quatro mil empregos e faturam R$ 500 milhões por ano. O salário médio pago no Porto Digital é de R$ 2,8 mil, três vezes a média da região. Além disso, 46% dos funcionários das empresas insta-ladas no parque têm até 25 anos.

É da ilha de 100 hectares onde está o Por-to Digital que sai 3,5% do PIB pernambu-cano. “Alguns fatores foram fundamentais para essa história de sucesso do Porto Di-gital. Além de ser fruto de uma articulação entre academia, empresas e governos, o Porto Digital tem um modelo de governan-ça inovador que trabalha para transformar o parque em um ambiente cada vez mais atrativo para as empresas. Além disso, es-

timula a cooperação e a si-nergia, reforçadas pela lo-calização física de um parque tecnológico urbano e aberto. Por fim, contamos com uma política de incen-tivo fiscal que reduz de 5% para 2% o ISS das empresas instaladas no Porto e ofere-ce isenção de IPTU por 10 anos para os imóveis histó-

Francisco Saboya, diretor-presidente do Porto Digital: sucesso se deve a um conjunto de fatores

virgínia adélia Sgotti, da in Forma Software: conquistas alcançadas devido às facilidades propiciadas pelo Porto

ricos”, elenca Francisco Saboya, diretor-presidente do Porto Digital.

Outro diferencial do Porto Digital é a identificação com a história da cidade. Ins-talado no Bairro do Recife, o parque tec-nológico foi o catalisador da transformação da região, que, após um ápice de desenvol-vimento, passou por um período de declí-nio. Com as empresas de tecnologia, o bair-ro recebeu mais de R$ 50 milhões de investimentos para renovação urbana ao longo da última década. Hoje o bairro pos-sui infraestrutura de serviços e de teleco-municações adequada para a instalação de empresas de TIC. Em 100 hectares, são oi-to quilômetros de fibra ótica instalados e 26 quilômetros de dutos, tornando a região uma das mais modernas do país.

embarcar para crescer

Principais beneficiadas pelo ambiente de inovação e relacionamento do Porto Digital, as empresas incubadas (no Porto chamadas de “embarcadas”) crescem com o apoio da estrutura e dos serviços oferecidos no par-que tecnológico. “O Porto Digital nos trou-xe oportunidades únicas tanto de negócios, através da promoção de parcerias entre em-presas e trazendo potenciais clientes até nós, por meio de visitas ou rodadas de negócio, quanto de capacitação, por programas re-sultantes de convênios com governos esta-dual e municipal, além de outras institui-ções, como o SoftexRecife. Alguns exemplos de programas desse tipo são o Fundo de Ca-pacitação Humana, que nos permitiu inves-tir em cursos e treinamentos para a capaci-tação da equipe; o programa para certificação no MPS-Br, que nos permitiu obter a avaliação nível “F” deste modelo, e palestras diversas com convidados de reno-me internacional, dentre outros”, afirma Virgínia Adélia Cordeiro Sgotti, diretora da In Forma Software, primeira empresa que se instalou no Porto Digital, em 2001.

Para a Manage4Systems, embarcada no Porto Digital em fevereiro deste ano, a ins-talação no parque tecnológico irá impul-

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sionar o crescimento da empresa. “As maio-res empresas de tecnologia do estado estão aqui e nós também, pois um dia seremos muito grandes. Além disso, todo o apoio mercadológico e estratégico do Porto é fundamental. Outros pontos positivos são a redução do ISS e a marca do Porto no nosso portfólio de parceiros”, diz Rodrigo Lapenda, diretor da Manage4Systems. O empresário também destaca a interação en-tre as empresas instaladas no parque. “Tu-do de TI em Pernambuco acontece aqui. Você está sempre recebendo informações da administração do Porto e das empresas que aqui estão”, completa Lapenda.

Próximos dez anos

Para manter a trajetória de sucesso nos próximos anos, o Porto Digital está, nova-mente, inovando em gestão. No mês de abril, lançará a incubadora C.A.I.S do Porto e o Centro Vocacional Tecnológico do Pilar. A incubadora tem como proposta apoiar pro-jetos voltados para desenvolver soluções fo-cadas nos diversos arranjos produtivos de Pernambuco. “Vamos selecionar estudantes, pesquisadores, empresas ou projetos que proponham soluções aos problemas do setor produtivo do estado. Para ser incubado será necessário mostrar profundo conhecimento da realidade pernambucana. O diferencial é que essa incubadora não será uma fábrica de CNPJs, mas de empreendedores e de pro-dutos qualificados para resolver problemas reais”, explica Francisco Saboya, diretor-pre-sidente do Porto Digital. Já o Centro Voca-cional Tecnológico (CVT) do Pilar é um pro-jeto de capacitação da comunidade. São salas completas com computadores, proje-tores e quadro de giz digital. A primeira tur-ma, de 84 alunos, se forma em maio deste ano, depois de ter acesso a 360 horas de ca-pacitação na área de cultura e turismo.

O planejamento para a próxima década reforça o Porto Digital como estrutura de vanguarda no cenário de inovação nacio-nal. Consolidar o esforço para estimular a vocação de TI do parque e promover ins-

titucionalmente a sua marca como padrão de referência à inovação são alguns dos pi-lares dessa nova fase de crescimento. Outro ponto de sustentação do planejamento pa-ra os próximos anos é ampliar a integração entre a indústria de tecnologia da informa-ção e os demais setores produtivos. “De-senvolvemos o projeto Porto Desembarca, que promove reuniões em diferentes regi-ões produtivas do estado, onde falamos so-bre a importância da inovação e sobre as soluções desenvolvidas no Porto Digital. Dessa forma, mostramos que a tecnologia contribui para o fortalecimento e para a competitividade das empresas dos setores tradicionais, estimulando assim que elas invistam mais em TIC”, observa Saboya.

O Porto Digital também se prepara para integrar a tecnologia da informação e co-municação a outras atividades baseadas no conhecimento e na criatividade, tornando-se assim um grande centro brasileiro da chamada economia criativa. Moda, entre-tenimento, comunicação, cinema, música, games, design e publicidade são alguns dos exemplos de setores ligados a essa nova economia. “São atividades que dependem muito de TIC, que nascem, se desenvolvem e são consumidas por suportes digitais”, acrescenta Saboya.

Núcleo de gestão do Porto Digital: aposta 

em arranjos produtivos de Pernambuco

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P lanejamento. Essa é a palavra de ordem para as empresas que querem explorar

o potencial das redes sociais para alavan-car negócios e consolidar parcerias. Dian-te das diferentes oportunidades oferecidas por essas ferramentas, é fundamental es-tudar, analisar e se preparar para entrar nesse universo e aproveitar da melhor for-ma o que ele tem a oferecer.

Twitter, Orkut e Facebook são as redes sociais mais conhecidas, de uma lista que não para de crescer. Na Wikipedia pode-se encontrar uma relação com quase 180 delas. No Brasil, as redes sociais perdem em nú-

Relacionamento digitalPequenas empresas também podem utilizar as redes sociais para marcar presença onde o seu púbico está

mero de acessos apenas para os mecanismos de busca, segundo pesquisa da Serasa Ex-perian Hitwise. Entre abril de 2009 e março de 2010, 15,14% das visitas dos internautas brasileiros foram a redes sociais.

Apesar do protagonismo do Orkut, que recebeu 62,14% dos acessos, outras ferra-mentas do gênero estão ganhando cada vez mais adeptos no Brasil, de acordo com a mesma pesquisa. Desde abril do ano passa-do, os acessos ao Facebook cresceram 804%. Já o Twitter ampliou em 768% os acessos. As redes sociais lideram o ranking de tem-po de visitação. São em média quase 22 mi-nutos gastos por acesso pelos internautas brasileiros nesses ambientes virtuais.

As redes sociais também registram nú-meros significativos de usuários cadastra-dos. No Brasil, o Orkut reúne quase 27 mi-lhões de pessoas, pouco mais de 50% de todos os usuários da ferramenta no mun-do. Já o Twitter concentra 9 milhões de usuários brasileiros e o Facebook, 3,6 mi-lhões. São milhares de pessoas trocando informações, opiniões e experiências.

As redes sociais como ferramenta para os negócios

Atentas ao potencial dessas comunidades e à importância de acompanharem esse pú-blico, as empresas estão ampliando sua atu-ação na área. Além de uma oportunidade, estar nas redes sociais é uma necessidade. Mas participar desse ambiente exige co-nhecimento e preparação. Para as micro e pequenas empresas o desafio é não ficar fora desse movimento, mesmo com recur-sos e estrutura reduzidos.

Apesar das dificuldades, muitas pequenas

SHuTT

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adriane aliCe Pereira

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Para Fábio Seixas, do Camiseteria, as redes 

sociais são plataformas de conversação, mais do que de divulgação

Um dos desafios dessa nova vitrine é sa-ber reagir à opinião pública negativa. “As pessoas falam o que quiserem. Saber lidar com isso, também publicamente, é o gran-de desafio das empresas. Não é fácil criar a política e moldar a cultura necessária pa-ra lidar com essas situações da maneira mais eficiente”, aponta Seixas.

A dica do empresário é conhecer e se ha-bituar com as redes sociais, entendendo o perfil de cada uma e, dessa forma, explorar todo seu potencial. “Experimente antes, entre devagar, use-as como plataforma de conversação e não somente como platafor-ma de divulgação, seja pessoal”, ressalta Seixas. Essa é também a orientação do pro-fessor do curso de Comunicação e Marke-ting da Fundação Armando Alvares Pen-teado (FAAP/SP), Eric Eroi Messa. “O erro mais comum é considerar as redes sociais como uma mídia tradicional de massa, po-rém de baixo custo. Assim, as empresas criam campanhas de comunicação de mas-sa para publicar nas redes sociais. Porém, quem quer ver um anúncio publicitário? É preciso criar estratégias diferentes da pu-blicidade tradicional”, explica Messa.

conhecer onde pisa

De acordo com Messa, as empresas pre-cisam entender que estar presente institu-cionalmente nas redes sociais significa abrir um novo ca-nal de comunica-ção. “E vale lem-brar que se trata de um canal bidirecio-nal e público, ou seja, uma espécie de conversa por te-lefone em que to-dos podem ouvir o diálogo entre a em-presa e seu cliente. A partir dessa con-sideração, é neces-sário tomar todas as medidas adequa-

empresas têm se saído bem. O Camiseteria.com, uma loja virtual que vende camisetas, é um exemplo. O grande diferencial do ne-gócio é a forma como os produtos são lan-çados: os próprios clientes criam as estam-pas das camisetas e publicam para votação. As melhores viram opções no catálogo da loja. Ou seja, a empresa aproveita o ambien-te colaborativo que a internet promove pa-ra fomentar o negócio.

Além de utilizar-se de sua própria rede social, a empresa usa e abusa de outras fer-ramentas virtuais para divulgar sua marca e suas camisetas. Tem um dos twitters cor-porativos mais seguidos no Brasil. Possui site, blog, Twitter, Facebook e Orkut, e ain-da está no Sonico, Flickr, Vimeo, YouTube, Meme, Drimio e Foursquare, entre outras. O sócio-fundador da empresa, Fábio Sei-xas, explica que o Camiseteria sempre bus-ca entender o perfil de cada rede para po-tencializar seu uso. “No Twitter postamos novidades e links que consideramos inte-ressantes para nosso público. No Facebook apostamos nas enquetes e novidades. No Flickr divulgamos as fotos dos ensaios do Camiseteria. Em todos eles, incluindo o Orkut, fazemos atendimento ao cliente”, explica Seixas.

Por ser um negócio na internet, o Cami-seteria precisa estar sempre de olho nas no-vidades, avaliando seu potencial de divul-gação. O perfil dos sócios contribuiu para a introdução das redes sociais na empresa. Para ficar sempre por dentro das últimas tendências, a MPE se estruturou. Atual-mente, três pessoas trabalham na manuten-ção da Camiseteria nas redes sociais.

Além de pesquisar novas ferramentas, a Camiseteria também monitora os resulta-dos da sua presença nas redes sociais várias vezes ao dia, através de mecanismos que buscam conteúdo sobre o Camiseteria.com. São utilizadas diversas ferramentas de me-dição e identificação de tráfego para men-surar as vendas geradas em cada rede so-cial. Hoje, o Twitter é responsável por 10% a 12% das vendas da empresa, enquanto o Facebook responde por 3% a 4%.

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das para lidar com esse am-biente”, alerta.

Dessa forma, as redes so-ciais devem ser trabalhadas a favor da empresa. “Muitas empresas brasileiras acredi-tam que é necessário estar presente nos ambientes de re-lacionamento digital e se es-quecem que mais importante do que a presença é o relacio-namento que se estabelece nesse espaço”, lembra Messa. Segundo o professor, outro

erro é esperar uma audiência equivalente aos veículos de massa. “É preciso lembrar que a mídia social é uma mídia de atuação segmentada. Ou seja, o foco não é a quan-tidade, mas a qualidade. A ideia central é impactar apenas o seu consumidor poten-cial”, destaca o professor da FAAP/SP.

Tudo começa com a escolha das redes sociais: a mais indicada para uma empresa é aquela que o seu consumidor utiliza com mais frequência. Isso significa que não se deve escolher a rede por sua popularidade mundial. O Facebook é hoje a rede social mais frequentada em todo o mundo, porém no Brasil ainda não atraiu a atenção das classes populares. “Se o seu produto é fo-cado para os consumidores das classes D

Messa, professor da FaaP/SP: redes sociais atingem diretamente público segmentado

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ou E, não há razão para investir em ações de comunicação nessa rede de relaciona-mento”, exemplifica Messa.

Após definir onde irá atuar no ambiente virtual, é importante criar na empresa uma estrutura adequada para trabalhar a nova fer-ramenta em benefício do negócio. “Sem dú-vida é essencial um profissional que seja fa-miliarizado com as redes sociais e que tenha know-how suficiente para saber identificar em que redes e comunidades irá encontrar o consumidor da empresa. Além disso, ele de-verá ter capacidade para assumir o papel de porta-voz do perfil digital da empresa”, indi-ca o professor da FAAP/SP.

Tomando esses cuidados, as pequenas empresas têm muito a ganhar nas redes so-ciais. Por meio delas é possível iniciar um relacionamento direto com o seu potencial consumidor e, a partir desse relacionamen-to, estimular a divulgação do produto pelos próprios usuários da rede. “Por se tratarem de espaços livres e segmentados, as redes de relacionamento aparecem como um óti-mo espaço para comunicação de baixo in-vestimento. Estabelecendo um relaciona-mento próximo e fiel com seu público dentro das redes sociais, os valores que se-rão agregados à imagem da marca superam as expectativas”, explica Messa.

Negócios fora da rede

Apesar do crescente potencial das redes sociais para o mundo corporativo, as MPEs brasileiras ainda não mergulharam de ca-beça nesse universo. De acordo com um levantamento da empresa de pesquisas GfK Brasil e da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), divulgado em março deste ano, apenas 17% das micro e pequenas em-presas paulistas possuem cadastro em redes virtuais de relacionamento.

A mesma pesquisa também mostrou que 49% das empresas não monitoram o que os internautas escrevem em suas comunida-des. A pesquisa foi realizada com 500 em-presas da capital paulista de todos os seto-res. A maior parte dos empreendimentos

1) Monitore as redes e identifique onde estão e o que fazem os potenciais consumidores do seu produto/serviço.

2) Fique atento a quem são os potenciais influenciadores das comunidades em que sua empresa pretende atuar.

3) Defina as diretrizes de uso das redes sociais que devem ser seguidas por todos da empresa.

4) Elabore uma estratégia de comunicação adequada para as redes sociais.

5) implante uma estrutura adequada para manter um relacionamento constante, responder de modo rápido e eficaz e estar pronta para lidar com situações de crise de imagem.

Fonte: professor Eric Eroi Messa

como começar

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que usam as redes de relacionamento (26%) é da área financeira, seguida pela de servi-ços (21%), comércio atacadista (17%), in-dústria (15%) e comércio varejista (12%).

Para a Kombo, incubada do MIDI Tecno-lógico, de Florianópolis (SC), estar nas redes sociais era uma necessidade diante do perfil do negócio. “Por oferecermos nosso serviço pela internet, sabíamos que precisávamos es-tar onde nossos clientes estavam. A Kombo teve o início de suas atividades com o boom das redes sociais, então não foi uma decisão tomada num determinado momento, mas sim uma questão de seguir a tendência. Pre-cisávamos apenas estruturar a melhor forma de fazer essa inserção. Quando chegou o mo-mento propício, após o desenvolvimento de nosso produto, começamos o estudo das re-des sociais”, afirma a diretora de produto da Kombo, Paula Galvão de Barba.

A empresa oferece um software para o gerenciamento de pessoas nas organiza-ções, que pode ser acessado pela internet, e mantém um portal gratuito para captação de currículos. Eles ainda utilizam o Orkut e o Via6 para divulgação de vagas, relacio-namento com os usuários do site Currícu-lo e divulgação de material de Recursos Humanos. Apostam no Twitter para divul-gação de vagas e de posts dos blogs Kombo e o Yahoo! Respostas para relacionamento direcionado com possíveis usuários do Currículo. Ainda existem os blogs (Candi-dato e Empresa), em que são divulgados artigos sobre empregabilidade, mercado de trabalho e motivação profissional.

Com presença nas redes sociais há cerca de um ano, a empresa já contabiliza os re-sultados. “Nosso site teve um incremento no tráfego de mais de 80% neste último ano. No geral, percebemos o aumento no número de cadastros, autorrecrutamento em vagas e fidelidade ao uso do site Cur-rículo, em maior parte graças às ações no Twitter e no Orkut”, comemora Paula. O resultado se traduz em lucro para a empre-sa. Indiretamente, as vendas dos produtos aumentaram, devido ao fortalecimento e à presença da marca na internet.

Oportunidades

Além de estarem nas redes sociais, mui-tas empresas estão visualizando nesse mo-delo de relacionamento uma oportunidade para a criação de novos negócios. A Quí-mea, graduada da Incubadora Tecnológica da Universidade Federal de Santa Maria (RS), criou o Voccie, uma rede social gra-tuita para a divulgação e troca de informa-ções sobre sustentabilidade e inovação.

Em funcionamento desde outubro de 2009, o Voccie possui atualmente quase três mil perfis. “A ideia surgiu da neces-sidade encontrada pela Químea em inte-ragir com parceiros, fornecedores, clien-tes e profissionais interessados pelo tema em todo o Brasil”, conta Marçal Paim da Rocha, diretor da empresa. “Já temos no-tícia de vários casos de parcerias entre os usuários surgidas por meio do Voccie. Inclusive a própria Químea, como usuá-ria, está desenvolvendo parcerias”, conta o empresário.

Podem participar do Voccie profissio-nais, empresas, estudantes, entidades e de-mais interessados por sustentabilidade e inovação. Também podem ser criados per-fis de usuários que desenvolvam ações re-lacionadas aos temas. “Uma empresa que realiza coleta seletiva pode criar um perfil no Voccie para divulgar essa ação, inde-pendentemente do setor em que atua”, exemplifica Rocha.

rocha, da químea, comemora os 

resultados da rede social criada pela 

empresa

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c r i a t i V i d a d e

Os bastidores do jogoDesafio Sebrae completa 10 anos e bate novo recorde de inscrições. Por trás do sucesso, uma numerosa equipe trabalha para conquistar futuros empreendedores

D urante os próximos meses, cerca de 160 mil universitários brasileiros in-

cluirão entre suas tarefas rotineiras a ges-tão de uma fábrica de instrumentos musi-cais. A nova atividade tem como pano de fundo um jogo virtual que conquistou, nos últimos nove anos, quase 600 mil estudan-tes: o Desafio Sebrae. Focados na compe-tição, aqueles que participam do jogo tal-vez nem imaginem o trabalho – braçal e intelectual – envolvido na sua criação. Mas esse trabalho existe. E é enorme.

O principal QG do Desafio Sebrae está ancorado na Incubadora da Coppe/UFRJ, no Rio de Janeiro (RJ), onde cerca de 20 pessoas se dedicam ao desenvolvimento do jogo. Além dessa equipe, cada unidade es-tadual do Sebrae destaca dois profissionais para trabalhar no Desafio. A incubadora é parceira do Sebrae desde a edição-piloto, em 2000. Naquele ano, apenas 800 univer-sitários participaram do jogo, que tinha como tema a administração de uma em-presa de objetos de mármore. O sucesso foi tanto que no ano seguinte o número de ins-critos saltou para 15,3 mil. Após uma dé-cada de crescimento constante, mais um

recorde foi cravado: 158.484 inscritos em 2010. “Não há iniciativa semelhante no mundo, que reúna um numero tão expres-sivo de participantes em 10 anos. Parte des-se sucesso se deve ao fato de o Desafio Se-brae capturar a paixão pela competição e uni-la a outros interesses do público jovem”, afirma o diretor da Incubadora de Empre-sas da Coppe/UFRJ, Mauricio Guedes.

Além da criatividade, o segredo do Desafio Sebrae parece estar no planejamento. Ao final de cada edição o jogo é avaliado e novas me-tas são traçadas, dando início a um processo de identificação de tecnologias e ferramentas inovadoras que possam ser incorporadas no ano seguinte. “Buscamos ferramentas que es-timulem o espírito empreendedor de forma lúdica, tornando a participação no jogo uma experiência importante na aquisição de co-nhecimento”, explica Marcelo Cunha, asses-sor de marketing da Incubadora de Empresas da Coppe/UFRJ.

Entre os aspectos inovadores, destaque para a verossimilhança alcançada pelo jo-go. Enquanto um software instala na má-quina dos competidores ambientes propí-cios à aquisição de informações e tomadas de decisão, outro processa informações e interpreta as consequências que o conjun-to de decisões trouxe para o mercado. “Apesar de o jogo ser virtual, a sensação que temos é de estar administrando uma empresa de verdade. O mais importante é saber que o resultado depende do seu es-forço, ou seja, do quanto você corre atrás de conhecimento para tomar essas decisões com mais segurança”, explica Bernardo Margotto Gonçalves, estudante de Enge-nharia Elétrica da Universidade Federal do Espírito Santo e membro equipe que ven-ceu a última edição do Desafio.

Participantes do Desafio Sebrae internacional 2009, realizado no rio de Janeiro

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c u l t u r a

B r u n o m o r e s C h i

O Fascinante Império de Steve Jobs, de

Michael Moritz

Editora Campus,

320 páginas

um mesmo homem teve papéis decisivos em três grandes revoluções recentes no mundo dos negócios ligados ao entretenimento: a dos computadores, a do cinema de animação e a da música digital. Seu nome é Steve Jobs, o gerente executivo da apple. a história desse empreendedor criativo e audacioso é o tema do livro O Fascinante Império de Steve Jobs. Para escrever a obra, o autor Michael Moritz teve acesso irrestrito aos bastidores da apple Computer. Jobs sempre fez questão de incentivar seus funcionários a pensarem da forma mais criativa possível. Com tantos sucessos no currículo, já estava na hora de lançarem uma biografia bem escrita sobre esse empreendedor nato.

Pelé – Minha vida em imagens

Cosac Naify, 100 páginas, 109

ilustrações

Pelé – Minha vida em imagens é uma merecida homenagem ao jogador brasileiro até hoje lembrado pela sua atuação nos campos e na vida pública. originalmente lançada na inglaterra, a obra na versão brasileira é um álbum com muitas fotografias e mais de 10 itens de colecionador. Entre as raridades, o ingresso do jogo de despedida de Pelé. Preste atenção nas fotografias famosas de Pelé, como a clicada pelo artista norte-americano andy Warhol e a que mostra o craque e o boxeador Muhammad ali se abraçando.

Coleções Biografias - Os Inovadores

3 DVDs, Log On/

Culturamarcas

acaba de ser lançada uma caixa de DvDs com a história profissional de três nomes importantes do empreendedorismo e da criatividade: Henry Ford, fundador da Ford Motor e criador de um conceito de produção em massa que hoje conhecemos como Fordismo; isaac Newton, cientista que formulou as leis da gravidade, e Bill gates, criador da Microsoft que transformou o computador em instrumento pessoal.     Uma atitude bem pensada foi colocar Newton ao lado de Ford e gates. a persistência do cientista e seu empenho  em provar suas teorias mostram que ele possuía de fato uma personalidade empreendedora.

Ouça as canções do CD Sambolero, o novo álbum do pianista João Donato. Entre os vários gêneros que o artista 

domina no piano há samba, bolero e jazz.

Veja o filme Guerra ao Terror, que conta a história de soldados norte-americanos na guerra do iraque. Nem todo ano o oscar deixa um blockbuster como Avatar de lado e premia filmes inteligentes como esse. Fuja do filme Lula – O Filho do Brasil.  o roteiro não precisava ser tão novelesco. a história do presidente do Brasil sem o excesso de melodrama já é suficientemente emocionante.

l e i t u r a

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V Í d e o

i M p e r at i V o

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via comprar um par de tênis”. E diante da surpresa, a explicação: “Durante as férias vo-cê pode vir trabalhar de tênis”. A presença do Coimbra hoje na Coppe, rara e silenciosa, nos faz pensar nos desafios por ele enfrenta-dos e revigora os princípios que são a alma da instituição.

Vaz e Coimbra são dois expoentes de um universo de empreendedores públicos bra-sileiros. Suas ações empreendedoras se re-fletiram em organizações mais eficientes, modernas e inovadoras. Nesse time de campeões estão, entre outros, Osvaldo Cruz, Vital Brazil, Carlos Chagas, José Pe-lúcio Ferreira e, para não ficar somente nos que já se foram, eu escalaria, além do Coimbra, Lynaldo Cavalcanti, Carlos Al-berto Schneider e Silvio Meira. Todos eles construíram instituições públicas que fize-ram e fazem a diferença, deixando nelas a marca do empreendedorismo.

O Brasil precisa de mais gestores e insti-tuições públicas que adotem essa postura em-preendedora. Precisamos de organizações dispostas a superar obstáculos, correr riscos, inovar e, assim, contribuir de fato para o de-senvolvimento sustentável do país.

Nos dias de hoje, em que às vezes fica pa-recendo que tem gente que acha que a única solução para a preservação da moralidade no setor público é a paralisia das organizações, não seria uma má ideia criar mais um tribu-nal. Um tribunal para controlar a eficiência e a eficácia das instituições públicas.

Ah, e a mulher de Cesar? Pouco se sabe sobre ela (acabei de descobrir na internet que se chamava Pompeia Sula), mas parece que era honesta. É um bom começo, um pré-re-quisito, mas não é mais do que isso. Não sa-bemos se seria uma boa gestora pública.

o p i N i ã o

Empreendedorismo, gestores públicos e a mulher de Cesar

Mauricio Guedes*

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lgaç

ão L iderança, inconformismo, persistência e capacidade de planejar e assumir ris-

cos são algumas das características atribu-ídas aos empreendedores. Erradamente é cultivada a ideia de que o empreendedo-rismo está associado exclusivamente ao se-tor privado, vinculando essas característi-cas à figura dos empresários. Mas o espírito empreendedor é tão necessário nas instituições públicas quanto nas empresas privadas. Talvez mais. No caso das empre-sas, o prejuízo causado por uma má gestão é pago pelos sócios; no setor público é pa-go por todos nós.

Na área de Ciência e Tecnologia, o Brasil tem grandes exemplos de gestores públicos que fizeram do empreendedorismo sua mar-ca. Zeferino Vaz, criador da Universidade de Campinas (Unicamp), costumava dizer: “O pior inimigo da boa universidade é a transi-gência com a mediocridade”. Baseado nessa premissa, Vaz lançou as bases daquela que se tornaria uma das maiores instituições de en-sino e pesquisa da América Latina.

No Rio de Janeiro, outro empreendedor foi responsável, ainda na década de 1960, pela criação dos programas de pós-graduação em Engenharia no Brasil: Alberto Luiz Coimbra. Determinado a romper paradigmas da uni-versidade naquela época, ele foi aos Estados Unidos analisar os cursos oferecidos pelas principais instituições americanas. Em 1963, fundou a Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia da Universi-dade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), modelo que foi replicado com suces-so em diversas universidades do país. Um professor me contou que ao ser contratado pelo Coimbra, nos primórdios da Coppe, ou-viu o seguinte conselho: “Acho que você de-

*Mauricio guedes édiretor da incubadorade Empresas daCoppe/uFrJ e doParque Tecnológico dauFrJ e vice-presidenteda internationalassociation of ScienceParks (iaSP).

Janeiro/Fevereiro/Março 2010 no 59 • Ano XVambiente da inovação brasileira

InvestImentoComo o cooperativismo de crédito pode alavancar MPEs

negócIosEm expansão, o mercado esportivo demanda Pesquisa e Desenvolvimento

Para tirar do PaPel Universidades produzem milhares de pesquisas com potencial para se transformar em produtos inovadores. Mas as questões relacionadas à propriedade intelectual ainda travam o caminho entre o laboratório e o mercado