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Para Entender a Ciência da Informação

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  • Para Entendera Cincia daInformao

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

    ReitorNaomar Monteiro de Almeida Filho

    Vice-ReitorFrancisco Mesquita

    EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

    DiretoraFlvia Goullart Mota Garcia Rosa

    Conselho Editorialngelo Szaniecki Perret Serpa

    Caiuby Alves da CostaCharbel Nin El-Hani

    Dante Eustachio Lucchesi RamacciottiJos Teixeira Cavalcante Filho

    Maria do Carmo Soares Freitas

    Conselheiros SuplentesAlberto Brum Novaes

    Antnio Fernando Guerreiro de FreitasArmindo Jorge de Carvalho Bio

    Evelina de Carvalho S HoiselCleise Furtado Mendes

    Maria Vidal de Negreiros Camargo

  • Para Entendera Cincia daInformao

    Ldia Maria Batista Brando Toutain

    Organizadora

    saladeaula 6

    EDUFBASalvador, 2007

  • 2007, by autoresDireitos para esta edio cedidos EDUFBA.

    Feito o depsito Legal.

    Projeto grficoAlana Gonalves de Carvalho

    Editorao eletrnica e arte finalGenilson Lima

    Reviso de Texto

    Os autores

    Biblioteca Central Reitor Macdo Costa UFBA

    EDUFBARua Baro de Geremoabo, s/n

    Campus de Ondina, Salvador-BACEP 40170-290

    Tel/fax: (71) 3283-6164www.edufba.ufba.br

    [email protected]

    P221 Para entender a cincia da informao / Ldia Maria Batista Brando Toutain : organizadora. - Salvador : EDUFBA, 2007. 242 p. : il. - (Saladeaula ; 5)

    ISBN 978-85-232-0477-8

    1. Cincia da informao - Histria. 2. Teoria do conhecimento. 3. Abordagem interdisciplinar do conhecimento. 4. Cincia da informao - Filosofia. 5. Literatura cientfica. I. Toutain, Ldia Maria Batista Brando.

    CDD - 020

  • Sumrio

    Apresentao... 7

    Sobre os autores... 9

    Uma histria da cincia da informao... 13

    Aldo de Albuquerque Barreto

    Filosofia da cincia da informao... 35

    Jaime Robredo

    Abordagem inter e transdisciplinar... 75

    Maria da Paixo Neres de Souza

    Representao da informao visual... 91

    Ldia Brando Toutain

    Organizao do conhecimento... 103

    Rosali Fernandez de Souza

    Literatura cientfica, comunicao cientfica... 125

    Suzana Pinheiro Machado Mueller

    Acesso livre... 145

    Hlio Kuramoto

    La era de la participacin... 163

    Maria ngeles Cabrera Gonzlez

    A bibliometria... 185

    Rubn Urbizagstegui Alvarado

    A matemtica da informao... 219

    Yves-Franois Le Coadic

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    Apresentao

    A escolha desde ttulo Para entender a cincia da informao nasceudas discusses que permearam a definio do mtodo e objeto destedomnio do conhecimento. Fica ento evidente que, para dar conta do

    que se prope esta obra, nela esto reunidos textos, de vrios especia-

    listas e pesquisadores, que interessam, principalmente, a reflexo crticade estudantes de graduao e ps-graduao nesta rea.

    Trata-se de um volume que integra a Coleo Sala de Aula, criada pela

    Edufba com o objetivo de estimular a produo acadmica vinculada

    ao ensino.

    A primeira parte, cujos textos so de Aldo Barreto, Jaime Robredo e

    Maria da Paixo Neres de Souza, focaliza a histria e as teorias dacincia da informao os momentos fundamentais de sua prtica

    discursiva, isto , como se formaram seus enunciados, em que consis-tem sua epistemologizao, cientificidade e formalizao. Logo em

    seguida, Ldia Brando Toutain discute e analisa, luz da ontologia e

    da semitica, a representao da informao visual.

    A segunda parte trata da organizao do conhecimento e sua rela-

    o com a informao. Rosali Fernandes tematiza os processos deproduo, tratamento e disseminao da informao, bem como a

    trajetria da comunicao do conhecimento. Suzana Mueller mostra

    o que se entende por literatura cientfica, seus modos de comunica-o e o papel que tem, nesse mbito, a cincia da informao. Mara

    ngeles Cabrera Gonzles, ao analisar, na sociedade contempor-

    nea, o que comunicativo e informacional, ressalta o poder crescen-te das audincias e do jornalismo participativo.

    Na terceira parte, Rubn Urbizagstegui Alvarado e Yves-Franois Le

    Coadic escrevem sobre a prtica social da cincia da informao, a

    abrangncia e complexidade de tudo que hoje se considera como

  • 8bibliomtrico e infomtrico. Hlio Kuramoto demonstra como e por queno pode haver desenvolvimento nacional sem informao cientfica.

    Em suma, um livro que, longe do academicismo convencional, no

    apenas corresponde, em preciso e clareza, ao ttulo, mas instiga o

    leitor a pensar o que significa, em seus mltiplos aspectos, a cincia

    da informao como um novo, rico e fecundo campo do saber.

    Ldia Maria Batista Brando ToutainOrganizadora

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    Sobre os autores

    Aldo de Albuquerque BarretoPesquisador titular do Ministrio da Cincia e Tecnologia/Ibict.Professor do Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informaono Rio de Janeiro do Convnio do Ibict com a UFF. Bacharel emEconomia pela UFRJ, e possui ps graduao como M.ScM.ScM.ScM.ScM.Sc. e Ph.DPh.DPh.DPh.DPh.D. emCincia da Informao pela The City University em Londres, Inglaterra.Foi o Presidente Nacional da Associao Cientfica da rea de Cinciada Informao, Ancib. Integrou o Grupo de Trabalho que editou oLivro Verde do Programa Sociedade da Informao do Ministrio daCincia e Tecnologia. Implantou o Programa de Ps Graduao emCincia da Informao, do Ibict, no Rio de Janeiro compreendendoum doutorado, um mestrado e curso de especializao. Coordenoueste Programa de Ps-Graduao por dezoito anos em ambas asUniversidades. Foi por mais de dez anos Chefe do Departamento deensino e pesquisa do IBICT. Possui trabalhos publicados em peridicosde circulao nacional, internacional, livros e captulos de livros. Suapgina pessoal na internet

    Helio KuramotoDoutor em Cincia da Informao e da Comunicao pela UniversitLumire (Lyon- Frana). Formado em Engenharia Eltrica pelaUNB.Diplomado em Estdios aprofundados em Cincia da Informaoe da Comunicao pela ENSSIB.Ocupou diversos cargos no InstitutoBrasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia, em Braslia. Atuandoainda no mesmo Instituto como coordenador e responsvel peloPrograma Biblioteca Digital Brasileira. [email protected]

    Jaime RobredoPesquisador Associado Snior e professor titular no Depto. de Cinciada Informao e Documentao Universidade de Braslia (Brasil);Brasil et Rfractaires (Frana); Pesquisador Consejo Superior deInvestigaciones Cientficas (Espanha). Professor adjunto dos cursos

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    tcnicos da Universidad Laboral (Espanha); ii) Professor do Curso deintroduo aos sistemas de informao Fdration Nationale desIndustries du Verre (Frana); iii) Professor de diversos cursos deespecializao nacionais e internacionaisCom Graduao Cincias/Qumica Universidade de Madri (Espanha).Doutorado Cincias/Mat.refratrios Universidade de Madri (Espanha). Ps-Doutorado:i) Cermica, refratrios, vidro Universidade Politcnica (Holanda);ii) Indexao-traduo com auxlio do computador Univ. deSaarbrcken (Alemanha). Sua rea de atuao Pesquisa,desenvolvimento, ensino, consultoria.Parecerista e referee: CNPq, CAPES. Prmio Inst. Hierro y Acero(Espanha); ii) Prmio 20 Anos da Assoc. dos Bibliotecrios do DistritoFederal ABDF (Brasil). [email protected]

    Lidia Maria Batista Brando ToutainDoutora em Filosofia pela Universidade de Len/Espanha. Mestre emBiblioteconomia . Atualmente Diretora do Instituto de Cincia daInformao da Universidade Federal da Bahia. Professora de graduaoe Ps-graduao no curso de mestrado do ICI/UFBA e no DoutoradoInterinstitucional em Difuso do Conhecimento. Foi coordenadorado Mestrado do ICI/UFBA, Chefe de Departamento e ainda Diretorado Sistema Estadual de Bibliotecas Pblicas do Estado da Bahia eAssessora na Fundao de Amparo a Pesquisa da Bahia. Em sua atuaona rea da informao coordenou diversos projetos em C&T, naSecretaria de Planejamento, Cincia e Tecnologia do estado da Bahia.Lder do Grupo de Pesquisa Grupo Interinstitucional de ProcessosSemitico e de Design. Representante da UFBA no Convnio entre aUniversidade de Nice Frana e a Universidade Federal da Bahia.Presidente da Associao Brasileira de Ensino em Cincia daInformao (ABECIN). [email protected]

    Maria Angeles CabreraProfessora titular de Periodismo na Universidad de Mlaga e Vice-decana de Investigao e Inovao na Fcaultad de Ciencias de laComunicacin. Diretora do grupo de investigao Labcom(www.umalab.com ) e membro coordenador de um subprojeto do

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    projeto de investigao I+D+I titulado: Convergencia digital de losmedios de Comunicacin en Espaa, del Ministerio de Educacin yCincia. [email protected]

    Maria da Paixo Neres de SouzaDoutora em Cincia da Informao pela Universidade de Braslia, em1999, com a tese intitulada As tecnologias de informao no processode produo, legitimao e difuso do conhecimento dospesquisadores da Embrapa, trabalhou na Embrapa durante 25 anos,onde exerceu a funo de assessoria na implantao do SistemaEmbrapa de Informao Tcnico-cientfica, tambm prestou assessoriaem publicaes tcnico-cientficas e publicou alguns trabalhos na reade Cincia da Informao e participou de diversos cursos decapacitao. [email protected]

    Rosali Fernandez De SouzaPesquisadora Titular do Instituto Brasileiro de Informao em Cinciae Tecnologia (IBICT)Professora do Programa de Ps-graduao emCincia da Informao IBICT-UFF. Graduao em Biblioteconomia eDocumentao (Universidade Santa rsula), Especializao emDocumentao Cientifica (IBICT), Mestrado em Cincia da Informao(IBICT), Doutorado pela Polytechnic of North London/Council forNational Academic Awards (Reino Unido). Atualmente Coordenadorado grupo temtico da ANCIB Organizao e Representao doConhecimento Lder do Grupo de Pesquisa Organizao doConhecimento do IBICT. Representante da rea da Cincia daInformao no Comit Assessor do CNPq. [email protected]

    Rubn Urbizagstegui AlvaradoEstudou Biblioteconomia na Escola Nacional de Bibliotecrios eAntropologia na Universidade Nacional Mayor de San Marcos, ambosna cidade de Lima. Fez o Mestrado em Cincia da Informao noInstituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologa daUniversidade Federal de Rio de Janeiro (IBICT/UFRJ) assim como oMestrado em Biblioteconomia na Universidade de Pittsburgh(Pensilvania, Estados Unidos). Tambm fez estudos de Ps-graduaoem Sociologia e Comunicao Social na Universidade de Braslia (UnB).

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    Atualmente candidato a doutor na Escola de Cincia da Informaoda Universidade Federal de Minas Gerais (Belo Horizonte, Brasil). Tempublicado artigos nas revistas nacionais e internacionais maisprestigiosas do campo da Cincia da Informao e Biblioteconomia.Participa regularmente em congressos e eventos da especialidadeapresentando resultados de pesquisas em bibliometra, informao eideologia, e sociologia da informao.Atualmente trabalha comoBibliotecrio na Universidade de Califrnia, Riverside, nos EstadosUnidos. [email protected]

    Suzana Pinheiro Machado MuellerGraduada em Biblioteconomia e Documentao pela UniversidadeFederal do Paran, Master in Library Science pela George PeabodyCollege For Teachers (Nashville, Tenn. EUA), doutora (PhD) emInformation Studies pela University of Sheffield (GB) e fez estgio deps-doutorado na University of Illinois, EUA. Atualmente ProfessoraTitular da Universidade de Braslia, atuando no Departamento deCincia da Informao e Documentao. Lder do Grupo de PesquisaComunicao Cientfica. Foi Coordenadora do GT7 (Produo eComunicao da Informao Cientfica) da Ancib (2005-2006). Temexperincia de pesquisa e docncia na rea de Cincia da Informao,atuando principalmente nos seguintes temas: ComunicaoCientfica, Peridico Cientfico e Profisses da Informao. Correioeletrnico: [email protected].

    Yves-Franois Le CoadicEngenheiro, doutor em cincias pela Universidade de Paris, Le Coadicfoi pesquisador no (C.E.A.) Commissariat lnergie Atomique emGrenoble; trabalhou posteriormente em polticas de pesquisa e eminformao cientfica e tecnolgica, no s na Frana mas tambmno Canad e nos Estados Unidos. atualmente professor deinformao cientfica e tecnolgica no Conservatoire Nationale desArts et Mteris (CNAM) em Paris. [email protected]

  • Aldo de Albuquerque Barreto 13

    Uma histria da cincia dainformao

    Aldo de Albuquerque Barreto

    Na Idade Mdia, que consideramos aqui como operodo entre o fim do Imprio Romano e o nas-cimento da civilizao da Grcia e Roma, algo en-tre os anos 900 e 1300 a informao era privilegiodos eruditos e estava retida pelos muros dos mos-teiros cuidada e vigiada pelos monges. UmbertoEco11 em seu livro O Nome da Rosa visualiza estapriso no discurso de Jorge, o bibliotecrio chefedos monges copistas da Itlia medieval:

    [...] Mas prprio de nosso trabalho, do traba-lho de nossa ordem e em particular do trabalhodeste mosteiro, alis a sua substncia o estu-do e a custdia do saber, a custdia digo no abusca, porque prprio do saber coisa divina,ser completo e definido desde o inicio, na per-feio do verbo que exprime a si mesmo[...].

    No h progressos, no h revolues deperodos na histria do saber, mas no mxi-mo, continua e sublime recapitulao [...].

  • 14 Uma histria da cincia da informao

    A informao esteve cativa em universos simblicos divinospor longos anos. Entre alforrias e prises chegou at a pocada Internet onde grande parte dos textos liberado completoem sua linguagem natural. Mas muitos insistem em continu-ar operando por uma sublime recapitulao do passado.

    Acredito a rea de cincia da informao se reconstru ao sabordas inovaes na tecnologia e prefiro sempre lidar com a suahistoriografia que com sua epistemologia. Assim, contar a his-tria de como se atuava no passado didtico e fundamentalpara o entendimento da evoluo das prticas da rea e para aformao dos seus profissionais.

    O livre fluxo de informao e sua distribuio eqitativa temsido um sonho de diversos homens em diversas pocas. A redede saber universal foi uma preocupao desde a Academia deLince9, talvez a mais velha sociedade cientfica de 1603. A lutapor uma distribuio adequada do conhecimento produzidopela humanidade vem desde o sculo XVII passando por anti-gas instituies e grupos europeus e americanos do norte, comoa construo da Enciclopdia2 de Diderot e DAlembert. PaulOtlet3 e seu grupo na Blgica, Vannevar Bush e seus pesquisa-dores na segunda Guerra Mundial, a aldeia global de MarshalMcLuhan, as idias de Roland Barthes, Jaques Derrida, osmitemas4 de Claude Lvi-Strauss, a Arqueologia do Saber deMichel Foucoult e o Decuverse5 global de Theodore Nelson.6

    O ideal compartilhado seria o de se construir uma sociedadedo conhecimento no s uma sociedade da informao. umerro confundir a sociedade da informao com a sociedade doconhecimento. A sociedade da informao uma utopia derealizao tecnolgica e a do conhecimento uma esperana derealizao do saber.

  • Aldo de Albuquerque Barreto 15

    A Sociedade do conhecimento contribui para que o indivduose realize na sua realidade vivencial. Compreende configura-es ticas e culturais e dimenses polticas. A sociedade dainformao, por outro lado, est limitada a um avano de no-vas tcnicas devotadas para guardar, recuperar e transferir ainformao.

    Em nenhum momento a sociedade da informao pretendeuser responsvel pelo conhecimento gerado na sociedade. Foisempre uma tecnoutopia e nunca uma utopia para um conhe-cimento social ampliado. A sociedade da informao, tambm,agrega as redes de informao, que so conformaes com vi-gor dinmico para uma ao de gerao de conhecimento.

    A atual rede hipertextual da interface7 web possui umaracionalidade que nasce no sculo dezessete considerando o n-vel e a qualidade da tecnologia vigente em cada poca. A socie-dade em rede permite partilhar o saber para se ter uma sociedadedo conhecimento compartilhada, porque cada indivduo entrano universo tecnolgico das redes interligadas trazendo sua cul-tura, suas memrias cognitivas e sua odissia particular.

    A era do iluminismo modifica a relao do pensamento erudi-to em relao ao acesso da informao. O Iluminismo foi ummovimento intelectual surgido no sculo XVIII, o chamadosculo das luzes. um pensamento que defende a valoriza-o do homem e da razo. O filosofo Immanuel Kant8 o defi-niu assim: O Iluminismo a sada do ser humano do estadode no-emancipao em que ele prprio se colocou. No-emancipao a incapacidade de fazer uso de sua razo semrecorrer a outros.

    Os iluministas pregavam uma sociedade de transio com clas-ses tendo mais oportunidades iguais atravs do conhecimento.

  • 16 Uma histria da cincia da informao

    O Princpio da Publicidade indica que o uso pblico da prpriarazo deve ser sempre livre e s isso pode fazer brilhar asluzes entre os homens.

    As organizaes sociais que primeiro se ocuparam com a in-cluso pelo conhecimento foram as sociedades cientficas edentre estas a primeira foi a Accademia dei Lincei.9 Em 17 deagosto de 1603, Quatro jovens criaram em Roma uma associ-ao de estudos cientficos: Federico Cesi, filho do duquedAcquasparta, Francesco Stelluti, especializado em CinciasNaturais e tradutor da lngua persa, o conde Anastcio De Filse o mdico holands Johann Eck; nenhum dos trs primeirostinha mais de 30 anos.

    A Accademia dei Lincei recebeu esse nome porque Lincei emitaliano significa Lince.Os linces so geis felinos de orelhasempinadas, que habitam vrios pases do hemisfrio norte, hmuitos sculos so considerados animais privilegiados por suaviso de alta acuidade, o que lhes permite enxergar bem a gran-des distncias. Os homens de cincia eram ento tidos comoverdadeiros linces, porque enxergavam mais longe do que osdemais, geralmente se dedicavam a estudar vrios domniosdo conhecimento. Ainda na Itlia temos a Accademia del Ci-mento10, em Florena desde 1651, a qual se destacou por tersemeado os primeiros observatrios meteorolgicos do mun-do por vrios pases da Europa, equipados com os instrumen-tos inventados por Galileu, o cientista dos sculos XVI e XVII.

    A criao das academias de Londres (em 1665), de Paris (em1666) e de Berlim (em 1700) ocorreu quando essas cidadescomearam a destacar-se pela criao de conhecimento cient-fico, substituindo lentamente em relevncia cientfica as italia-nas, que em meados do sculo XIX comeavam a decair.

  • Aldo de Albuquerque Barreto 17

    A meta das primeiras academias era o de possibilitar a qual-quer pessoa do povo saber o que era cincia e como eram fei-tas as descobertas cientficas, j que em suas reunies o que sepraticava geralmente era a realizao de experimentos para queos leigos as vissem.

    As redes de distribuio de saber, comeando com as enciclo-pdias, procuram organizar o conhecimento, mesmo conside-rando, que na enciclopdia a codificao do saber se d emlngua modelo e com contedos em universos particulares delinguagem. De uma representao enciclopdica nunca se ex-trai uma revelao definitiva do conhecimento ou sua exibioglobal. Na introduo da sua enciclopdia DAlembert indicao sistema geral das cincias e das artes uma espcie de labi-rinto de caminho tortuoso que o esprito enfrenta sem bemconhecer a estrada a seguir.

    Contudo na enciclopdia que se configura bem o sentido derede de conhecimento distributivo. Em uma rede cada pontopode ter conexo com qualquer outro ponto. No possvellig-los por um fio seqencial. Uma rede um labirinto seminterior ou exterior. Pode ser finito ou infinito e em ambos oscasos, considerando que cada um dos pontos de sua formaopode ser ligado a qualquer outro, o seu prprio processo deconexo um contnuo processo de correo das conexes. sempre ilimitada, pois a sua estrutura sempre diferente daestrutura que era um momento antes e cada vez se podepercorr-la segundo linhas diferentes.

    A Encyclopdie11, ou Dictionnaire raisonn des sciences, desarts et des mtiers foi uma das primeiras redes do saber acu-mulado, embora, de conexes fixas. Foi publicada em Franano sculo XVIII, mas seu trabalho comeou em 1750 e os vo-

  • 18 Uma histria da cincia da informao

    lumes finais publicados em 1772. A obra, compreendendo 28volumes, 71.818 artigos, e 2.885 ilustraes foi editada por Jeanle Rond dAlembert e Denis Diderot. DAlembert deixou oprojeto antes do seu trmino, sendo os ltimos volumes obrade Diderot. Muitas das mais notveis figuras do Iluminismofrancs contriburam para a obra, incluindo Voltaire, Rousseau,e Montesquieu.

    Os escritores da enciclopdia viram-na como a destruio dassupersties para o acesso ao conhecimento humano. Na Fran-a, na poca, no entanto, causaria uma tempestade de contro-vrsias. Isto foi devido em parte pela sua tolerncia religiosa.A enciclopdia elogiava pensadores protestantes e desafiava osdogmas da Igreja Catlica Romana. Foi tambm um vastocompendium12 das tecnologias do perodo, descrevendo os ins-trumentos manuais tradicionais bem como os novos disposi-tivos da Revoluo Industrial no Reino Unido. A Encyclopdiedesempenhou um papel importante na atividade intelectualanterior Revoluo Francesa.

    O Sistema figurativo do conhecimento humano era a estrutura pelaqual a Encyclopdie estava organizada. Tinha trs grandes ra-mos: memria, razo e imaginao. A Encyclopdie pretendiaser uma classificao do conhecimento humano.

    Em seguida com a iniciativa de dois documentalistas e aps-tolos da paz que se comea a configurar uma problemticamoderna das relaes culturais entre a informao e o conhe-cimento. Paul Otlet8 e Henri La Fontaine so dois advogadosbelgas que decidem organizar o I Congresso Mundial de As-sociaes Internacionais de Documentao em Bruxelas, em1910. Sinal da maturidade de um movimento alm-fronteirasque conta com cerca de 400 entidades. Os dois criam uma Unioque tem sua prpria revista: La Vie internationale. Ela prepara ao

  • Aldo de Albuquerque Barreto 19

    conceito de mundialismo e interdependncia do universosolidrio das clulas do saber. Um mesmo desejo de acabarcom o caos das primeiras redes de intercmbio cultural. PaulOtlet sonha em facilitar o acesso do maior nmero de pessoas informao graas a um complexo conjunto de bibliotecasconectadas por canais telegrficos e telefnicos.

    O Paul Otlet13 (1868-1944) junto com o prmio Nobel da Pazde 1913, Henry la Fontaine deu ao mundo, no perodo antesda primeira guerra, diversas organizaes para disseminaodo conhecimento: o Instituto Internacional de Bibliografia(1895), uma biblioteca internacional e sociedades e associaespara montar um rede de conhecimento mundial.

    Os determinantes colocados anteriormente permitem refletircom mais liberdade a questo da cincia da informao em umdesenrolar histrico descritivo, que tem somente a validadeno contexto do desenvolvimento histrico da informao econhecimento. Permitem ainda verificar que o ideal do acessoao conhecimento livre e para todos no surgiu com a Internet.

    O historiador Eric Hobsbawm14 analisando o sculo XX dizque, nos ltimos cinqenta nos a humanidade viu inserir noseu convvio mais inovaes do que em todo o resto da suahistoria. No limiar do perodo de que nos fala o historiador,fatos muito importantes aconteceram. Entre 1945 e 1948, umabolha tecnolgica produziu: a fisso nuclear que fez lanar aprimeira bomba atmica, o Eniac e depois o Univac-1, osprimeiroa computadores de aplicaes gerais; AlexanderFleming descobriu, com outros cientistas, a Penicilina em umsegundo andar do Hospital St. Mary s em Londres; um aviovoou mais rpido do que o som; foi inventado o transistor efoi fundada a Unesco. Ainda nesse tempo, Norbert Wainerpublicou Cybernetics, sobre a teoria matemtica da informao

  • 20 Uma histria da cincia da informao

    e Vannevar Bush15 publicou As we may think (Como ns pensa-mos), apontando os problemas decorrentes do volume e dovalor e da informao liberada aps a segunda guerra mundial.

    Acabava a guerra e a informao mantida secreta naquele per-odo seria colocada a disposio do mundo. Designado pelopresidente Roosevelt o Doutor Vannevar Bush15, foi de 1938 a1942 o responsvel pelo Comit Nacional de Pesquisa depoisOffice for Scientific Reserach and Development; a misso de. Bushfoi congregar cerca de 6.000 cientistas americanos e europeuspara direcion-los ao esforo de guerra. Em 1945, Bush escre-veu As we may think16 (Como nos pensamos), sobre o proble-ma da informao em cincia e tecnologia e os possveisobstculos que, poderiam ser encontrados na sua organizaoe repasse a sociedade. Os entraves seriam localizados nos pon-tos; a) formao dos recursos humanos adequados para lidarcom o volume de informao, b) instrumental de arma-zenamento e recuperao da informao existentes, c) aoarcabouo terico existente que no explicava ou solucionavaas praticas de informao da poca.

    O artigo de Bush apareceu primeiro em 1939, em uma carta aoeditor da Revista Fortune, teve sua histrica verso no peri-dico Atlantic Monthly11 e posteriormente a Revista Life fez vri-as observaes e chamadas sobre o problema e o trabalho. Issoera o mximo de exposio, que uma questo poderia ter namdia da poca. Vannevar Bush pode ser considerado o pionei-ro da cincia da informao e 1945 sua data fundadora pela pu-blicao do seu artigo; ele indicou uma mudana de paradigmapara a rea de informao em cincia e tecnologia, que envol-via: seus profissionais, seus apetrechos de trabalho e falta decondies tericas para embasar a representao da informa-o para processamento e armazenagem e recuperao.

  • Aldo de Albuquerque Barreto 21

    Bush introduziu a noo de associao de conceitos ou pala-vras para organizao da informao, pois este seria o padroque o crebro humano utiliza para transformar informao emconhecimento. Indicou que os sistemas de classificao eindexao existentes poca, eram limitativos e no intuitivos.Os processos para armazenar e recuperar informao deveri-am ser operacionalizados por associao de conceitos comons pensamos.

    A formao do profissional de informao foi dita conservado-ra para a poca; props a construo de uma mquina o Memex17

    como um utenslio tecnolgico para armazenar e recuperar do-cumentos atravs de associao de palavras; advertiu, em seusescritos, que a base terica da construo dos sistemas de clas-sificao da informao alm de ultrapassada estava errada.

    As idias de Bush provocaram tamanho frisson na poca, queforam parar em Londres. Em 1946, um ano aps o termino dasegunda guerra foi realizada em Londres a Royal EmpireSociety Scientific Conference, onde se discutiu a importnciada informao, mas que levou realizao em 1948 da RoyalSociety Scientific Information Conference. Cerca de 340 cientistas edocumentaristas de todo o mundo compareceram a esta Con-ferncia, que durou dez dias teis. Os seus Anais tm 723 p-ginas, dividido em dois volumes e quatro sees. A publicaodos Anais levou dez anos para sair e foi editada nos EstadosUnidos. Os cientistas de quase todas as reas do conhecimen-to tinham propostas para resolver os problemas da organiza-o e acesso a da informao, muitos vieram para trabalharcom o assunto e para no de perder o seu status acadmico, anova rea foi criada com o nome de: cincia da informao. Osresultados da Conferncia de 1948, apesar das 723 pginas, fi-caram muito perto das indicaes de Vannevar Bush.

  • 22 Uma histria da cincia da informao

    Na Inglaterra, e no resto do mundo, estes acontecimentos,desde a publicao do As we may think at a Conferncia de1948 da Royal Society, provocaram uma ciso com aBiblioteconomia que durou perto de 40 anos. Um ano aps aConferncia da Royal Society de Londres, Jason Farradane, J.Bernal e outros criaram o Institute for Information Scientists , paraacolher as novas idias e os novos pesquisadores surgidos nes-ta nova rea.

    Nesta mesma poca, em 1952, foi criada pelo grupo dos cien-tistas da informao o Classification Research Group, para propornovas teorias para armazenar e recuperar a informao; o pro-blema da poca era o grande volume de informao e sua ges-to. Os profissionais que fundaram o Institute for informationScientists criaram sob o comando de Farradane18 o primeirocurso ps-graduao em de cincia da informao na The CityUniversity , anteriormente o Northampton College of HighTechnology, localizado na City de Londres, Inglaterra. Mensa-geira do futuro os estudos desta rea foram criados em umaFaculdade de alta tecnologia e vinculada, inicialmente, ao Cen-tro de Administrao e Negcios da Universidade. (BusinessAdministration Centre).19

    Alguns artigos indicam o comeo da cincia da informao re-lacionando-o a uma pequena reunio realizada em 1961 e denovo em 1962 no Georgia Institute of Technology no Estadoda Georgia, nos EUA. A Conferncia chamou-se Conferences ontraining science information specialists. Considerada uma pequenareunio porque agregou um total de cerca de 60 pessoas, so-mando os dois anos de sua realizao. A maioria dos partici-pantes foram docentes e bibliotecrios da prpria universidadeamericana, sede do evento. Esta reunio tratou, exclusivamen-te, do treinamento de especialistas da informao e unicamen-

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    te no contexto dos EUA e no chegou a um resultado concreto o que revela as parcas 100 laudas de seus Anais20. Muita con-fuso se faz com esta Reunio e o incio de qualquer coisa, emtermos globais para a rea de cincia da informao.

    Quanto ao computador, a cincia da informao e a informaoem cincia e tecnologia s tiveram acesso a mquina, cerca detrinta e cinco anos depois, quando o custo da memria digitalbaixou, a partir de 1980, e permitiu o processamento de textosem linguagem natural.

    O Fenmeno que transforma a informao emconhecimento

    A informao sintoniza o mundo, pois referncia o homem aoseu passado histrico, s suas cognies prvias e ao seu espa-o de convivncia, colocando-o em um ponto do presente, comuma memria do passado e uma perspectiva de futuro; o indi-vduo do conhecimento se localiza no presente continuo que o espao de apropriao da informao.

    Assim, qualquer reflexo sobre as condies polticas, econ-micas ou sociais de um produto ou servio de informao estcondicionada a existncia de uma premissa bsica, que a suarelao com uma gerao do conhecimento.

    Os fluxos de informao se movem em dois nveis: em umprimeiro nvel os fluxos internos de informao se movimen-tam entre os elementos de um sistema de armazenamento erecuperao da informao, e se orientam para sua organizaoe controle. Estes fluxos internos tem uma premissa de razoprodutiva sendo um conjunto de aes pautadas por um agirbaseado em princpios prticos.

  • 24 Uma histria da cincia da informao

    Em outro nvel existem fluxos extremos. No fluxo extremo aesquerda, a informao gerada pelo autor entra no sistema paraser tratada e assimilada como conhecimento pelo receptor. Noextremo direito, no incio, do fluxo se realiza um fenmeno detransferncia do pensamento do autor para um inscrio de infor-mao cuja essncia est na passagem do que est em uma lingua-gem de pensamento do gerador para um texto de informao.

    No fluxo direita temos um processo de cognio que trans-forma a informao em conhecimento. Uma interiorizao dainformao a para um subjetivismo privado. Um desfalecer dainformao para renascer como conhecimento. No fluxo a es-querda acontece uma desapropriao cognitiva, quando o pen-samento, do gerador, se arranja em informao, em umalinguagem com inscries prprias. Aqui a passagem ocorredesde os labirintos do pensar privado do autor para um espaode vivncia pblica do leitor.

    O lugar em que a informao se faz conhecimento na consci-ncia do receptor que precisa ter condies para aceitar a in-formao e a interiorizar. Pois seno, de que adianta esta luzSenhor, se ela no brilha em mim21

    CRIAO DA INFORMAO

    fatos idias e imagens se trnasmutam da mente do autor para uma inscrio de informao

    REALIDADE

    assimilao, apropriao da informao pelo indivduo

    I K

    SISTEMA DE ARMAZENAMENTO, RECUPERAO DA INFORMAO

    SELEO, ENTRADA, CLASSIFICAO, ARMAZENAMENTO, RECUPERAO, USO

  • Aldo de Albuquerque Barreto 25

    A cincia da informao possui trs tempos distintos se qui-sermos analisar o seu desenvolvimento:

    Tempo gerncia da informao de 1945 1980

    Tempo relao informao e conhecimento de 1980 1995

    Tempo do conhecimento interativo de 1995

    Indicar trs tempos para a cincia da informao no colocaruma separao de prticas e idias em tempos fechados. A in-teno assinalar o foco para um determinado ponto, de acordocom o pensar da poca. As questes, de gerncia de informao,por exemplo, tem uma constncia que se abrigam at os diasatuais. Mas durante os anos prximos ao ps-guerra, este era oprincipal problema a ser resolvido. Ordenar, organizar e con-trolar uma exploso de informao, para o qual o instrumental ea as teorias da poca no tinham uma soluo preparada. Valelembrar que o computador, praticamente ainda no existia e oinstrumental teria que ser produzido pela rea.

    Assim, no tempo da gesto, no havendo como ter no curtoprazo os aparelhos necessrios para resolver o problema, foinecessrio estabelecer uma metodologia de reformatao dainformao baseada na substituio do contedo dos documen-tos por indicadores desta narrativa. Um documento de tre-zentas pginas poderia ser substitudo por suas informaesbibliogrficas de localizao e um determinado nmero de pa-lavras chaves. Estas palavras pretendiam representar o conte-do inteiro do documento.

    A era da gesto trouxe o esplendor das classificaes, indexaes,tesauros, medidas de eficincia na recuperao do documentodeterminadas por uma linguagem de armazenamento espec-fica: a recuperao e preciso nas buscas por informao.

  • 26 Uma histria da cincia da informao

    Os eventos desta premissa tcnica foram to fortes que,estona rea h 50 anos. Formam uma ideologia interna dos siste-mas de armazenamento e recuperao da informao. Mas esteera o problema de uma poca e tinha de ser resolvido. Com abaixa do custo de armazenagem, o computador foi sendo libe-rado, para os problemas de informao, foi possvel, ento,lidar com a questo do volume e do controle da informao.Este problema deixou de ser o prioritrio, embora as ques-tes de gesto de estoques de informao estejam mais atuaisque nunca. A seguir viria o cognitivismo.

    Existem controvrsias quanto s razes do cognitivismo22 comoum pensamento predominante de um perodo. Parece haveralguma concordncia que tudo comeou em um Simpsio so-bre Teoria da Informao, realizado no Massachutts Institute ofTechnology em setembro de 1956, onde figuras importantes nodesenvolvimento do novo pensar apresentaram artigos indi-tos: Herbert Simon, Noan Chomsky e Claude Shanhon.

    O certo que nos anos 60 se encontram os principais autorese atores do cognitivismo ou da Cincia da Cognio, estudan-do o comportamento assimilado por conhecimento em sereshumanos, mquinas e na interao dos dois. Na dcada de 1960,as caractersticas do refletir cognitivista estavam em todos oscampos da cincia.

    Na cincia da informao o cognitivismo, baseado na relao dainformao gerando conhecimento, chegou na dcada de seten-ta introduzido por: Belkin, Wersig e por Nevelling23 24; por pro-jetos como o Project in Scientific Information Exchange inPsycology da American Psychological Association; o trabalho do Centerfor Reseach in Scientific Communication da John Hopkin University e oINFROSS Project na Universidade de Bath, Inglaterra que estu-dou o desenho de sistemas de informao para cincias sociais.

  • Aldo de Albuquerque Barreto 27

    A caracterstica da informao passou a ser sua in-tenso paragerar o conhecimento no indivduo e conseqentemente emsua realidade. nesse sentido que a cincia da informaomostra a sua interdisciplinaridade, pois ao se relacionar com oconhecimento a informao necessita, para sua explicao, umareflexo junto com a filosofia, a lingstica, a cincia cognitiva,a cincia da computao, a sociologia, entre outras tantas.

    O conhecimento, destino da informao, organizado emestruturas mentais por meio das quais um sujeito assimila acoisa informao. Conhecer um ato de interpretao indi-vidual, uma apropriao do objeto informao pelas estruturasmentais de cada sujeito. Estruturas mentais no so pr-formatadas, no sentido de serem programadas nos genes. Asestruturas mentais so construdas pelo sujeito sensvel, quepercebe o meio. A gerao de conhecimento uma reconstru-o das estruturas mentais do indivduo realizado atravs desua competncia cognitiva, ou seja, uma modificao em seuestoque mental de saber acumulado, resultante de umainterao com uma forma de informao. Esta reconstruopode alterar o estado de conhecimento do indivduo, ou por-que aumenta seu estoque de saber acumulado, ou porquesedimenta saber j estocado, ou porque reformula saber ante-riormente estocado.

    Com o foco na relao da informao e do conhecimento,modificou-se a importncia relativa da gesto dos estoquesde informao passando-se a apreciar a ao de informao nacoletividade. Se antes havia uma razo pratica e uma premissatcnica e produtivista para a administrao e o controle dosestoques, agora a reflexo, o ensino e a pesquisa passaram aconsiderar as condies da melhor forma de passagem da in-formao para os receptores e a sua realidade; a promessa do

  • 28 Uma histria da cincia da informao

    conhecimento teria que considerar o indivduo, seu bem es-tar e suas competncias para interiorizar a informao.

    A partir de 1990 a informao assumiu um novo status aps ainternet e principalmente com a sua interface grfica25 worldwide web. Embora, os primeiros esforos de uma rede mundi-al de computadores apaream em 1972, com uma mostra p-blica da Arpanet26, ligando 40 computadores. Mas, foi s em1989 que, Tim Berners-Lee,27 cidado ingls, tecnologista dainformao, trabalhando no European Organization for NuclearResearch, Center (Cern), programou os primeiros softwares quepermitiram a atual configurao grfica da web, (o que voc v, o que voc consegue ter) e a partir da o desenvolvimentopopular da Internet.

    So as novas tecnologias de informao e sua disseminao,que modificaram aspectos fundamentais, tanto da condio dainformao quanto, da condio da sua distribuio. Estastecnologias intensas modificaram radicalmente a qualificaode tempo e espao entre as relaes do emissor, com os esto-ques e os receptores da informao.

    Quando falamos em novas tecnologias de informao pensa-mos de imediato no computador, na telecomunicao e na con-vergncia da base tecnolgica28, que permitiu que, todos osinsumos de informao fossem convertidos para uma base digi-tal, possibilitando, assim seguir o mesmo canal de transferncia.

    Contudo estas so conquistas baseadas em apetrechos ilusriose efmeros. Conjuntos fantasmagricos de fios, fibras, circuitose tubos de raio catodo. As reais modificaes que as tecnologiasintensas de informao trouxeram ao ambiente foi uma nova for-ma de lidar com a relao informao e conhecimento e as modi-ficaes relacionadas ao tempo e ao espao de sua transferncia.

  • Aldo de Albuquerque Barreto 29

    O tempo de interao do receptor com a informao, quandoconectado on-line, em tempo real, com uma velocidade quereduz o tempo de acesso ao entorno de zero. Esta velocidadede acesso e possibilidade de uso o coloca em nova dimensopara o julgamento de valor da informao; o receptor passa aser o julgador de sua relevncia em tempo real, no momentode sua interao e no mais em uma condio de retro alimen-tao, ao final do processo.

    A estrutura do documento pode estar em diversas linguagens,combinando texto, imagem e som. O documento no est maispreso a uma estrutura linear da informao. Cada receptorinterage com o texto com a intencionalidade de uma percep-o orientada por sua deciso individual.

    A facilidade de ir e vir, a dimenso do seu espao de comunica-o ampliada por uma conexo na rede Internet; o receptorpasseia por diferentes memrias de informao no momentode sua vontade.

    O instrumental tecnolgico que possibilita esta novidade nainterao restritivo em termos econmicos e de aprendiza-do tcnico; , ainda, socialmente pouco difundido, mas istono pode anular as condies tcnicas que colocam a distribui-o eletrnica como uma nova e eficiente maneira de plublicitarenunciados para as diversas comunidades de informao, coma inteno de criar conhecimento.

    Sempre me preocupou, contudo, refletir sobre qual o limiteda tecnologia, ou a partir de que ponto este conjunto de co-nhecimentos e princpios cientficos, que se aplicam a um de-terminado uso deixa de ter interesse social.

    Um processo de inovao se inicia com uma nova tecnologia; atecnologia, como uma sucesso de eventos sistemticos de tc-

  • 30 Uma histria da cincia da informao

    nicas, processos, mtodos, meios e instrumentos de uma aode transformao de idias e de aes. A inovao a aceitaodos eventos da tecnologia pela pluralidade dos elementos deum determinado espao social, que acredita, isso trar um bemcomum, uma situao melhor do que a que existia antes. Ainovao modifica a realidade e os seus habitantes.

    O limite da tecnologia quando a inovao criada por ela deixade trabalhar em benefcio do indivduo e se volta contra elepara lhe causar problemas. As novas tecnologias de informa-o de to intensas em inovao produzem medo ao aumentarconsideravelmente os poderes do homem; algumas vezes trans-formando-o em objeto destes poderes. O mundo digital criafacilidades para as atividades cotidianas, atividades de pesquisae de ensino, mas cria, tambm, monstros que assombram anossa segurana e privacidade.

    Tem sido muito pensado neste novo tempo ciberntico a ques-to do valor da tecnologia da informao quando ponderadocom a possibilidade de uma existncia mais simples e com maisfelicidade. Qual o papel da informao eletrnica no grandedilema do ser humano atual. Quanto da informao se orientapara formar uma inteligncia coletiva e quanto para uma inte-ligncia de competio individual e de mercado. Estas trans-formaes se associam a felicidade do ser humano nasimplicidade dos seus espaos de convivncia? Espaos do sim-ples e doce sentimento da existncia.

    O iluminismo, pensamento que defende a valorizao do ho-mem e da razo, modificou o status do acesso da informao. Oseu corolrio, o princpio da publicidade da informao pro-moveu o uso pblico dos discursos como um bem semprelivre que faria brilhar as luzes entre os homens.

  • Aldo de Albuquerque Barreto 31

    Contudo, as utopias coletivas da felicidade pela informaoforam trocadas por quimeras individuais que, conduzem a umanova configurao do seu valor para a sociedade. A convivnciaatual acontece virtualmente em uma realidade paralela de salasde discusso e mensagens eletrnicas; os jovens preferem acomunicao instantnea de torpedos ou os mensageirosinterativos para ali viver e relatar a sua vida aos companheiros.

    Cada vez mais a opo de uma vivncia escondida se mostraem uma nova tecnologia da informao como a dos Chats, oFacebook, o MySpace, os Podcasts, RSS e os Vodcasts. Parece queuma Second Life possvel. O doce sentimento da existncia vivido por nosso outro, um avatar do que sonhamos ser e emuma vivncia sem presena.

    Esse o fatalismo da vivncia eletrnica sem compromissocom o real, onde o centro de avaliao exclui do mundo autn-tico a esperana de estar no contato pessoal, a felicidade doconviver. Na realidade virtual o valor advm do xito de exibi-o e do sucesso dos mil contatos nos sites de convivncia. Afelicidade da visibilidade tem que ser assegurada mesmo queem um mundo paralelo.

    H que se lidar com os limites da tecnologia da informao..

    Notas

    1 Eco, U. O Nome da Rosa, 13. ed., Nova Fronteira: Rio de Janeiro, 1983.2 Disponvel em http://pt.wikipedia.org/wiki/Encyclop%C3%A9die. Acesso em:

    6 jun. 2007.3 Buckland M. - Paul Otlet, Pioneer of Information Management. School of

    Information Management & Systems, Disponvel em . Acesso em: 6 jun. 2007.

  • 32 Uma histria da cincia da informao

    4 Disponvel em http://www.geocities.com/RainForest/Jungle/6885/mitos/m01intro.htm#mitema. Acesso em: 6 jun. 2007.

    5 Decuverse: O termo Docuverse foi criado por Ted Nelson para descrever umabiblioteca eletrnica global de documentos interconectados, i.e., ummetadocumento global. O paradigma do Docuverse manifesta-se na RedeInternet, visto esta se espalhar por todo o globo, interligando milhes de docu-mentos.

    6 Para todo este pargrafo ver : Barreto. A.de A., DataGramaZero - Revista deCincia da Informao - v.4, n.6 dez/03

    7 Ver significado em http://pt.wiktionary.org/wiki/Interface. Acesso em: 9 jun.2007.

    8 Disponvel em http://pt.wikipedia.org/wiki/Immanuel_Kant . Acesso em: 10jun. 2007.

    9 Disponvel em http://www.lincei.it/. Acesso em: 8 jun. 200710 Disponvel Accademia del Cimento < http://en.wikipedia.org/wiki/

    Accademia_del_Cimento. Acesso em: 8 jun. 200711 Encyclopdie Disponvel em http://pt.wikipedia.org/wiki/Encyclop%C3%A9die.

    Acesso em: 8 jun. 200712 Ver em http://pt.wikipedia.org/wiki/Comp%C3%AAndio. Acesso em: 10 jun.

    200713 Paul Otlet, disponvel em http://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_Otlet. Acesso em:

    9 jun. 200714 Eric Hobsbawm Disponvel em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Eric_Hobsbawm.

    Acesso em: 9 jun. 200715 Disponvel em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Vannevar_Bush. Acesso em: 9 jun.

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    jun. 200717 Memex Disponvel em http://pt.wikipedia.org/wiki/Memex. Acesso em: 10

    jun. 200718 Disponvel em http://www.aslib.co.uk/notes/1999/jun/articles/01.html. Acesso

    em: 9 jun. 2007.19 Aslib Online Notes, , British it personalities: part 2. post-1948, Aslib Online Vol

    12, No 6, July/August 1999 disponvel em http://www.aslib.co.uk/notes/1999/jul-aug/articles/01.html. Acesso em: 17 jun. 2007

    20 Proceedings of the conferences on training science information specialists,October 12-13, 1961 [and] April 12-13, 1962, Georgia Institute of Technology,Atlanta, Georgia., National Science Foundation (U.S.); Georgia Institute ofTechnology, 1962

  • Aldo de Albuquerque Barreto 33

    21 Agostinho, Santo , As Confisses, Coleo Universidade de Bolso, Ediouro,Rio de Janeiro, 1980

    22 Cognitivismo, disponvel em http://jcienciascognitivas.home.sapo.pt/06-01_alveseartur.html. Acesso em: 10 jun. 2007

    23 Disponvel em http://en.wikipedia.org/wiki/Information_science. Acesso em:9 jun. 2007

    24 Disponvel em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ci%C3%AAncia_da_informa%C3%A7%C3%A3o. Acesso em: 9 jun. 2007

    25 Disponvel em http://pt.wikipedia.org/wiki/Www visitado em 9/6/200726 Arpanet. Disponvel em http://pt.wikipedia.org/wiki/ARPANET. Acesso em:

    10 jun. 200727 Disponvel em http://pt.wikipedia.org/wiki/Internet. Acesso em: 9 jun. 200728 Ter texto,som e imagem na mesma estrutura de uma informao.

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  • 34 Uma histria da cincia da informao

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    Wersig,G, Nevelling U, The Phenomena of Interest to Information Science,Journal of the Institute of Information Scientist, v, 9, n. 4, 1975

  • Jaime Robredo 35

    Filosofia da cincia da in-formao ou Cincia da in-

    formao e filosofia?1

    Jaime Robredo

    1. Introduo

    O objeto do presente captulo passar em revistaas profundas mudanas experimentadas pelo pen-samento filosfico nos sculos XIX e XX, e analisarem que direo parece se orientar a cincia da in-formao nos prximos anos. Para tanto, convmlembrar a herana do pensamento construdo, asvezes com dor e sangue, desde o fim da Idade Mdia,passando pelo Renascimento e o Iluminismo, paravisualizar as linhas de pensamento dominantes, napassagem do sculo XVIII aos primrdios do scu-lo XIX, mostrando como o pensamento filosficocontemporneo pode contribuir para um melhorentendimento dos importantes desdobramentos eaplicaes da cincia da informao, nos prximos

  • 36 Filosofia da cincia da informao ou cincia da informao e filosofia?

    anos, num ambiente cada dia mais globalizado, no qual os cons-tantes avanos das tecnologias da informao e da comunica-o abrem o caminho para novos desenvolvimentos e novosdesafios.

    Nas Sees 2 e 3 so apresentadas as correntes e as figurasmais marcantes do pensamento filosfico dos sculos XIX eXX, com seus respectivos legados para a contemporaneidade.Na Seo 4, so estudadas as relaes entre Filosofia e Cinciada Informao, destacando, mediante exemplos ilustrativos,alguns conceitos e tendncias que podem contribuir para omelhor entendimento dos processos de aquisio, gerao eorganizao do conhecimento, assim como para sua difuso ecompartilhamento. Na Seo 5, apresentam-se algumas re-flexes conclusivas sobre a convenincia de introduzir nos cur-rculos acadmicos dos futuros profissionais das vriasvertentes da cincia da informao seguindo a trilha j abertapor algumas universidades de pases de economias mais avan-adas determinados contedos programticos suscetveisde ajudar a desenvolver um pensar filosfico e cientfico, nabusca de uma sociedade mais informada, mais consciente, maisculta e mais justa.

    2. O pensamento filosfico no sculo XIX

    Na transio do sculo XVIII para o XIX, os referenciais dopensamento filosfico, em sentido amplo2, da Idade Mdiatardia at a Modernidade, passando pelo Renascimento, o Bar-roco e o Iluminismo, podem-se apresentar da seguinte forma:

    Crescente importncia da razo frente f;

  • Jaime Robredo 37

    Viso heliocentrista de nosso universo e possibilidadeda existncia de outros mundos, tirando a idia dacentralidade da Terra;

    O homem como centro da natureza;

    Viso ampliada do mundo e de sua diversidade, resul-tante do descobrimento de novos continentes;

    Consolidao do conceito de nao;

    Novos conceitos de organizao social;

    Separao da(s) Igreja(s) e do Estado;

    Desenvolvimento da cincia e da tecnologia;

    Novos rumos das artes e das letras.

    2.1 Correntes e figuras marcantes do pensamento filo-sfico do sculo XIX

    Idealismo Alemo. - Johan Gottlib Fichte; Friedrich WilhelmSchelling (Tudo o que , uno; a unidade depende do eu);Wilhelm Friedrich Hegel (A verdade o tudo, mas o tudo no seno o ser; filosofia e cincia se confundem na negaodialtica at atingir os estados superiores da unidade).

    Jovens Hegelianos e Hegelianismo de Esquerda.- Ludwig Feuerbach (S o particular pode pretender ser o serreal; religio no seno a conscincia da infinitude da consci-ncia); Friedrich Engels (Influncia de Hegel e influncia sobreMarx); Karl Marx (Provavelmente, o pensador mais influen-te na poltica e na sociedade, em todo o mundo, at nossosdias).

    Pessimismo, Existencialismo I, Fenomenologia I. -Arthur Schopenhauer (O mundo como vontade e representao);

  • 38 Filosofia da cincia da informao ou cincia da informao e filosofia?

    Sren Kierkegaard (Fundador do existencialismo; angstia edesespero ante um Deus que no responde); Edmund Husserl(Considerado fundador de fenomenologia, cuja pretensa fi-nalidade seria refundar a filosofia como cincia exata daconscincia pura que tenta demonstrar a intencionalidadeda conscincia. Escritos sobre filosofia da lgica e matemtica;Sobre o conceito de nmero; Investigaes lgicas); Max Scheler(Socilogo de orientao fenomenolgica; fundador da filo-sofia antropolgica. Situa o homem no cosmos entre o es-prito e a vida. A situao do homem no mundo).

    Filosofia da Vida. - Wilhelm Dilthey (Cincias da vida; cin-cia humana da compreenso; cincia humana diferente dascincias naturais. A edificao do mundo histrico na cincia damente; Introduo s cincias do esprito 3); Henri Bergson (Con-trape razo cientfica o fluxo orgnico do tempo e o elvital. A evoluo criadora; A energia espiritual).

    Positivismo. - Auguste Comte (Introduz o termo sociolo-gia, no sentido de uma fsica social que rene todas a cin-cias, exceto humanidades e metafsica).

    Utilitarismo/Pragmatismo. - John Stuart Mill (Filsofo eeconomista; trata de fazer das cincias sociais uma cincia exa-ta. O utilitarismo); Charles Sanders Peirce (Fsico, qumico,matemtico, filsofo e lingista; teoria da verdade consensual;lgica formal; no se pode atribuir um significado aos signosda linguagem seno no contexto de sua ao; semitica; lgi-ca da informao. Pragmatismo como princpio e mtodo de racio-cnio certo, Como tornar nossas idias claras, Sobre a lgebra dalgica: Uma contribuio filosofia da notao); John Dewey (Psi-clogo, filsofo e reformador da educao; sublinha a impor-tncia da interveno ativa na realidade, no processo deacumulao de conhecimentos. Democracia e educao).

  • Jaime Robredo 39

    Estruturalismo lingstico. - Ferdinand de Saussure (Fun-dador do estruturalismo lingstico; conceito de linguagem;lngua como sistema; significado e significante; signo; unida-des lingsticas; sintagma; lingstica e semitica. Ensaios delingstica geral).

    Crtica do Iluminismo. - Friedrich Nietzsche (Crtico dasverdades do Iluminismo cujas razes epistemolgicas e suatica nasceram do ressentimento e da falta de coragem paraaceitar os desafios de uma existncia livre.Assim falouZaratustra; Genealogia da moral; Alm do bem e do mal; EcceHomo).

    Lgica Formal. - Gottlob Frege (Matemtico que se tornoulgico e filsofo. Contribuiu fundao da lgica matemti-ca e a filosofia analtica; tambm filsofo da linguagem. Osfundamentais da aritmtica; Funo e conceito; Sentido e refern-cia; Conceito e objeto.

    Por enquanto, vamos destacar alguns conceitos-chave:

    Verdade; Ser; Mente; Fluxo do tempo; Energia da mente;Evoluo criadora; Significado; Signos da linguagem; Con-texto; Semitica; Lgica da informao; Pragmatismo;Raciocnio certo; Idias claras; lgebra da lgica; Filo-sofia da notao; Sentido; Referncia.

    2.2 O legado do sculo XIX

    Pode-se destacar:

    A consolidao, na Europa, do Estado-Nao;

    A influncia do idealismo alemo na emergncia da conscin-cia histrica, como principal corrente filosfica;

  • 40 Filosofia da cincia da informao ou cincia da informao e filosofia?

    O surgimento do materialismo histrico de Karl Marx, comoresposta ao idealismo e como crtica ao sistema econmicocapitalista;

    Os avanos na biologia e na qumica que mudam a visosobre a matria viva e sobre a matria inanimada, e a teoriada evoluo que revoluciona os conceitos sobre a origem e aevoluo das espcies;

    O brilhante desenvolvimento da pintura, da msica, da lite-ratura, e das cincias exatas, e a associao da matemtica lgica e a lingstica;

    So estabelecidos os fundamentos para uma clara distinoentre as cincias naturais e as cincias humanas;

    Nietzsche surge como o maior filsofo, na transio do scu-lo XIX para o sculo XX, se insurgindo veementemente tantocontra o iluminismo, como contra a filosofia tradicional, emarcando presena, com sua filosofia difcil de enquadrar emqualquer corrente, durante grande parte do sculo XX.

    3. O pensamento filosfico no sculo XX

    A ltima dcada do sculo XIX e os primeiros anos do sculoXX formam um continuum na filosofia, na cincia e na cultura,que ignora qualquer calendrio.

    A primeira Grande Guerra (1914-1918) rompe essa inrcia,destruindo grande parte da Europa e mudando sua geografia.Entre o fim desse conflito e o incio da segunda Guerra Mun-dial (1939), podem-se distinguir duas tendncias, nas quais osfatos se intercalam. 1) Revoluo (primeira experincia mar-xista na Rssia), enquanto o resto da Europa se re-erguia de

  • Jaime Robredo 41

    suas runas; crise (depresso econmica que abalou o mundo);e nova guerra (guerra civil espanhola), onde foram testadaspelas grandes potncias as novas e mortferas armas que arra-sariam o mundo inteiro. 2) A Belle poque, quando quase todosos pases europeus, reconstrudos e enriquecidos, e os Esta-dos-Unidos, viviam, despreocupados, um desenvolvimentoindustrial acelerado.

    A Segunda Grande Guerra (1939-45) envolveu todos os conti-nentes com sua coorte de atrocidades (campos de concentra-o, holocausto, bombardeios macios de cidades indefesas,bombas nucleares...) e seus 57 milhes de mortos.

    Num mundo dividido em grandes blocos, sob ameaa de umaguerra nuclear, e numa tremenda crise de valores, explodem:tecnologia, informtica, Internet, comunicao, globalizao, esuas desigualdades... Isso, ns j conhecemos

    3.1 Correnter e figuras marcantes do pensamento filo-sfico no sculo XX

    Filosofia Analtica, Filosofia da Linguagem. Alfred NorthWhitehead (Matemtico e filsofo. Matemtica e lgica; filoso-fia da cincia. Principia mathematica co-autoria com Russell);Bertrand Russell (Matemtico e filsofo. Anlise lgica da lin-guagem natural; teoria da descrio. Escritos de lgica filosfica;Introduo filosofia matemtica); Ludwig Wittgenstein (Filoso-fia da linguagem; linguagem natural. Tractatus logico-philosophicus;Observaes sobre o pensamento matemtico; Investigaes filosficas);Willard Van Orman Quine (Filosofia analtica da linguagem; sig-nificado lingstico e do saber emprico, no contexto. O pro-blema e a coisa); Donald Davidson (Filsofo e lingista.Semntica e verdade. Verdade e significado; Semntica e lingua-

  • 42 Filosofia da cincia da informao ou cincia da informao e filosofia?

    gem natural; Verdade e interpretao; Subjetivo, intersubjetivo, ob-jetivo); Noam Chomski (Pensador e terico da linguagem. Lin-guagem na psicologia. Estrutura lgica da teoria lingstica; Estruturassintticas; Linguagem e mente; Regras e representaes; Conheci-mento e linguagem; Arquitetura da linguagem).

    Teoria Crtica (Escola de Frankfurt). Max Horkheimer(Filsofo e socilogo. Razo objetiva e subjetiva. Teoria tra-dicional e crtica); Walter Benjamin (Filsofo e crtico literrio.A obra de arte na era da reproduo mecnica); Herbert Marcuse(Filsofo e socilogo. Filosofia poltica. O homemunidimesional; Tolerncia repressiva); Jrgen Habermas (Fil-sofo, cientista poltico e socilogo. Sobre a lgica das cinciassociais; Comunicao e evoluo da sociedade).

    Fenomenologia II, Existencialismo II, Hermenutica.- Martin Heidegger (Um dos maiores filsofos do sculo XX.Seguidor de Husserl em sua primeira fase, separa-se dele ado-tando uma linha existencialista (ser (Sein) e existncia (Dasein)).Noo de finitude e comportamento humano. Culpa aracionalidade ocidental pelo esquecimento do ser. Ser e tem-po; O princpio da razo; Identidade e diferena; No caminhoda linguagem); Hans Georg Gadamer (Filsofo, fundador daontologia hermenutica. Compreenso da verdade, em rela-o experincia concreta em arte, histria e lingstica, Ver-dade e mtodo); Jean Paul Sartre (Filsofo e escritor.Existencialismo francs. Existncia humana e liberdade. O sere o nada; O imaginrio; Os caminhos da liberdade); MauriceMerleau-Ponty (Filsofo fenomenologista husserliano. Con-ceito de corpo-sujeito; parcialidade existencial de nossa vi-so das coisas. Fenomenologia da percepo; A primazia da percepoe outros ensaios sobre fenomenologia, psicologia, filosofia da arte, histriae poltica, O visvel e o invisvel); Albert Camus (Filsofo e es-

  • Jaime Robredo 43

    critor. Existencialismo francs. Absurdo da existncia huma-na, incessante busca do sentido da vida, mesmo sabendo que atentativa est fadada ao fracasso. A queda; O estrangeiro; Apeste; O mito de Ssifo); Paul Ricoeur (Filsofo. Combina adescrio fenomenolgica com a interpretao hermenutica.O homem falvel; O simbolismo do mal; Freud e filosofia; En-saios sobre interpretao).

    Positivismo lgico, Racionalismo crtico (Crculo deViena). - Rudolf Carnap (Filsofo, lingista e terico da cin-cia. Epistemologia; lgica modal; semntica; filosofia da cin-cia; linguagens construdas. Sintaxe lgica da lngua; Introduo semntica); Karl Popper (Fundador do racionalismo crtico.Introduz o conceito de falseabilidade ou refutabilidade. L-gica da pesquisa cientfica; Conjecturas e refutaes; O eu e seu cre-bro um argumento sobre o interacionismo).

    Filosofia da Cincia. - Imre Lakatos (Filsofo da cincia.Epistemologia, matemtica, poltica, dialtica hegeliana e mar-xista. Critica e crescimento do conhecimento; Provas e refutaes; Tra-balhos filosficos); Thomas Samuel Kuhn (Pensador americano,estudioso da histria e filosofia da cincia. A cincia no evoluigradativamente no caminho da verdade, mas encara profundasrevolues peridicas quando ocorre uma mudana deparadigma. A estrutura das revolues cientficas); Paul Feyerabend(Pensador austraco. Filsofo da cincia e socilogo do conheci-mento cientfico. Viso anarquista da cincia; rejeita quaisquerregras metodolgicas universais. Contra o mtodo; Adeus ra-zo; Trs dilogos sobre o conhecimento). Daniel Dennet (Filsofoda cincia e da biologia. Relao entre a biologia evolucionista ea cincia cognitiva. Contedo e conscincia; A cincia intencional;A conscincia explicada; Tipos de mentes No caminho do entendi-mento da conscincia; A liberdade evolui; Onde nascem as idias?).

  • 44 Filosofia da cincia da informao ou cincia da informao e filosofia?

    Estruturalismo, Ps Estruturalismo. Pierre Bourdieu (Fil-sofo e antroplogo Terico e empirista. Linha de Weber,Foucault, Barthes e Lacan. Introduz a idia de campo social,onde o povo pode manobrar e pressionar na luta por seusdireitos. Quanto mais avanada a sociedade, maior o nmerode campos. A distino; Linguagem e poder simblico, Cinciada cincia e reflexividade); Michel Foucault (Filsofo, socilogoe historiador. Estruturalismo; concebe o sujeito modernocomo produto de um processo annimo, atravs do qual ascincias humanas fizeram do corpo e do esprito humanosum objeto de observao modelado pelo poder das institui-es (asilos psiquitricos, crceres, escolas e fbricas). Doen-a mental e personalidade; As palavras e as coisas uma arqueologiadas cincias humanas; A arqueologia do saber; Ceci nest pas unepipe Isto no um cachimbo, Histria da sexualidade).

    Desconstrucionismo. Jacques Derrida (Filsofo. Inciou umprocesso que levou desconstruo filosfica. Influncia deNietzsche, Heidegger, Foucault, Lvinas.V a filosofia oci-dental marcada por um fonocentrismo (preferncia pela pa-lavra falada); Isso se manifesta por um logocentrismo, umafixao na razo que pode-se considerar como um engano dopensamento que preciso desconstruir a partir de dentro.O problema da gnese na filosofia de Husserl; Alm das aparncias;A escrita e a diferena).

    Ps-Modernidade. JeanFranois Lyotard (Filsofo ps-estruturalista.Teoria da ps-modernidade. Seu pensamentoapresenta uma inter-relao de filosofia, lingstica e crticaliterria comparada. Um discurso de [elevada] sabedoria, ins-crito no jogo do saber positivo, no poder se entender comoum discurso da experincia fenomenolgica, ou de uma ex-perincia esotrica, que tm, ambas, direito de cidadania no

  • Jaime Robredo 45

    pensamento contemporneo (o diffrend). Economia libidinal;A condio ps-moderna: relatrio sobre o saber; O Diffrend );Gilles Deleuze (Filsofo e escritor prolfico. Pensamento eformulaes originais e atpicos: Metafsica (influncia deEspinoza, Nietzsche, Bergson) pluralismo = monismo.Epistemologia as vises de Aristteles, Descartes, Husserlconfundem o conceito de pensamento: A verdade um negciodifcil de descobrir [...], conceitos no so solues de problemas, masconstrues que definem o alcance do pensamento; no lugar de pergun-tar verdade?, o que ?, a pergunta deveria ser o que faz?, comofunciona?; A filosofia a arte de formar, de inventar, de fabricarconceitos. Deleuze entende o indivduo e sua moralidade comoprodutos da organizao de desejos e poderes pr-individu-ais. Diferena e repetio; Lgica do sentido; A imagem-movi-mento; A imagem-tempo; O que a filosofia? colab. Guattari).

    3.2. O legado do sculo XX

    Na rea cientfica:

    Biologia, medicina, sade, psiquiatria: novas vacinas, transplan-tes de rgos, psicanlise, teoria da hereditariedade...

    Matemtica, cincia da computao: teoria dos conjuntos, lgicamatemtica, fractais, teoria do caos, computador pessoal,super-computadores, teoria algortmica, novos conceitos deprogramao, Internet...

    Fsica e qumica: Teoria da relatividade, radiatividade, estrutu-ra do tomo, energia nuclear, teoria quntica...

    Estudo do cosmos: Novas galxias, novas e super-novas, ori-gem do universo, buracos negros...

  • 46 Filosofia da cincia da informao ou cincia da informao e filosofia?

    Nas reas scio-poltica e scio-econmica:

    Marxismo e capitalismo na prtica, neo-liberalismo, globalizao,desequilbrio social...

    Na arte e na cultura:

    Pintura: Impressionismo, expressionismo, simbolismo,cubismo, abstracionismo, fauvismo, dadaismo, surrealismo...

    Msica: Modernismo, ps-modernismo, experimentao,msica eletrnica, neo-romantismo, neo-tonalismo...

    Literatura: Dificil separar escritores e pensadores (UmbertoEco, Bertolt Brecht, Eugne Ionesco...).

    No que se refere s grandes linhas do pensamento, convmreter alguns nomes (em ordem cronolgica):

    Bertrand Russell, Ludwig Wittgenstein, Willard Van OrmanQuine, Donald Davidson, Noam Chomski, Max Horkheimer, JrgenHabermas, Martin Heidegger, Hans Georg Gadamer, MauriceMerleau-Ponty, Paul Ricoeur, Rudolf Carnap, Karl Popper,Thomas Samuel Kuhn, Imre Lakatos, Paul Feyerabend, DanielDennet, Pierre Bourdieu, Michel Foucault, Jacques Derrida, JeanFranois Lyotard, Gilles Deleuze;.

    e registrar alguns temas recorrentes (em ordem alfabtica):

    Aparncia; Arquitetura da linguagem; Campo social; Ci-ncia intencional; Cincias humanas; Comunicao; Con-ceito; Conhecimento; Conjectura; Conscincia; Contedo;Corpo-mente; Corpo-sujeito; Descoberta; Desconstruofilosfica; Desconstrucionismo; Descrio fenomenolgica;Diferena; Diffrand, Distino; Empirismo; Entendimen-to; Epistemologia; Escrita; Essncia; Estrutura lgica dalinguagem; Estruturalismo; Estruturas sintticas; Evoluoda liberdade; Existncia; Experincia; Experincia feno-

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    menolgica; Fala; Falseabilidade; Fenomenologia; Fenomeno-logia da percepo; Filosofia da cincia; Filosofia da lin-guagem; Filosofia matemtica; Finalidade; Finitude;Fonocentrismo; Hermenutica; Identidade; Imagem; Ima-gem-movimento; Intencionalidade; Interacionismo; Interpre-tao; Interpretao hermenutica; Linguagem;Linguagem construda; Linguagem e mente; Linguagemnatural; Lgica; Lgica da linguagem; Lgica da pesqui-sa cientfica; Lgica das cincias sociais; Lgica do sentido;Lgica filosfica; Logocentrismo; Mente e linguagem; M-todo; Mtodo cientfico; Mudana de paradigma; Nasci-mento da idia; Norma; Objeto; Ontologia; Ontologiahermenutica; Paradigma; Percepo; Poder simblico;Racionalismo crtico; Razo; Razo objetiva; Razo sub-jetiva; Reflexividade; Refutabilidade; Refutao; Regra;Repetio; Representao; Revoluo cientfica; Sabedo-ria; Saber; Semntica; Ser; Significado; Simbolismo; Sm-bolo; Sintaxe lgica da lngua; Sujeito; Tempo; Verdade.

    Em resumo:

    O sculo XX um sculo de rupturas e descontinuidadesdramticas que marcam o modo de pensar e o modo de agirdos pases europeus, com influncias no continente ameri-cano, especialmente nos Estados-Unidos, e que, mais tarde,sob a marca de novos paradigmas econmicos e tecnolgicos,resultantes da capacidade inovadora desse pas, retornam aovelho Continente na forma de novos produtos, de novoscostumes, de novos mtodos de trabalho, de novas formasde pensar, agora mais pragmticas.

    O resultado que os avanos cientficos e tecnolgicos nasade, ou na forma de administrar crescem vertiginosamen-te, enquanto os crebros europeus migram para terras mais

  • 48 Filosofia da cincia da informao ou cincia da informao e filosofia?

    promissoras e o pensamento continental, diversificado, frag-mentado, fechado no crculo de uma arte que se busca e nose encontra, perde de dez a zero frente tecnologia.

    Somente nos ltimos anos, como fruto da vontade das ve-lhas e das novas geraes que construram a Unio Europia,e da miscigenao intelectual dos jovens dos pases que an-tes se desconheciam, tem se produzido uma recuperao comvelocidade vertiginosa que, ao que parece, tambm est atin-gindo a reflexo dos novos pensadores.

    Mas, antes de prosseguir, vamos fazer um comentrio sobrefilosofia e cincia, sobre o grau de sofisticao do aparelhomatemtico utilizado na pesquisa cientfica atual, e sobre a in-fluncia desse fato na ruptura da filosofia, que se isolou, ao sedistanciar da nova linguagem da cincia, enquanto esta cami-nha com velocidade acelerada, criando suas prprias filosofias(filosofia da cincia, filosofia de isto e de aquilo, lgica mate-mtica...), num espao, num universo onde tudo funciona comoprevisto, embora a lei maior seja a lei da incerteza).

    Dessa maneira, a verdadeira filosofia, de acordo com sua voca-o primgena, a que rene a reflexo e o conhecimento emtodos os nveis e degraus do saber, na busca do infinito que a nica forma de compreender e dominar o finito , enquantoa filosofia da razo pura, isolada da realidade concreta quemuda e evolui pode acabar, ao cortar suas razes essenciais,ontolgicas, de uma realidade que tenta, mas que no conseguemais apreender.

    E, seno, vejamos: O nmero de cientistas que invadem o cam-po da filosofia bem maior do que o nmero de filsofos queadentram o campo da cincia e de sua linguagem de expressoe de representao, em todas suas variadas formas e em todosos seus contextos.

  • Jaime Robredo 49

    A pgina reproduzida na Figura 1 uma amostra (fragmento)da linguagem cientfica utilizada para apresentar um raciocniosobre a formao dos buracos negros.

    Figura 1. Amostra da linguagem cientfica utilizada para apresentar um raciocniosobre a formao dos buracos negros.

    Black holes are predictions of Albert Einsteins theory of general relativity. There are many knownsolutions to the Einstein field equations which describe black holes, and they are also thought to be aninevitable part of the evolution of any star of a certain size. In particular, they occur in the Schwarzschildmetric, one of the earliest and simplest solutions to Einsteins equations, found by Karl Schwarzschildin 1915. This solution describes the curvature of spacetime in the vicinity of a static and sphericallysymmetric object, where the metric is,

    ,

    where is a standard element of solid angle.According to general relativity, a gravitating object will collapse into a black hole if its radius is smallerthan a characteristic distance, known as the Schwarzschild radius. [...] A gravitational singularity, aregion of theoretically infinite density, forms at this point. Because not even light can escape from withinthe Schwarzschild radius, a classical black hole would truly appear black. The Schwarzschild radiusis given by

    where G is the gravitational constant, m is the mass of the object, and c is the speed of light. For an object withthe mass of the Earth, the Schwarzschild radius is a mere 9 millimeters about the size of a marble. The meandensity inside the Schwarzschild radius decreases as the mass of the black hole increases, so while an earth-mass black hole would have a density of 2 1030 kg/m3, a supermassive black hole of 109 solar masses hasa density of around 20 kg/m3, less than water! The mean density is given by

    Since the Earth has a mean radius of 6371 km, its volume would have to be reduced 4 1026 times tocollapse into a black hole. For an object with the mass of the Sun, the Schwarzschild radius is approximately3 km, much smaller than the Suns current radius of about 696,000 km. It is also significantly smaller thanthe radius to which the Sun will ultimately shrink after exhausting its nuclear fuel, which is several thousandkilometers. More massive stars can collapse into black holes at the end of their lifetimes.The formula also implies that any object with a given mean density is a black hole if its radius is large enough.The same formula applies for white holes as well. For example, if the observable universe has a mean densityequal to the critical density, then it is a white hole, since its singularity is in the past and not in the future asshould be for a black hole.

    Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Black_holes#Inside__the_event_horizon(Consultado em abril de 2007)

  • 50 Filosofia da cincia da informao ou cincia da informao e filosofia?

    Cabe perguntar:

    O filsofo da razo pura entende?.

    A resposta mais provvel parece que seria negativa. Depois deuma leitura atenta de muitas pginas semelhantes, comuns nabibliografia cientfica, o filsofo pode aprimorar suas refle-xes sobre a origem e as caractersticas do Universo, temarecorrente nas preocupaes filosficas de todos os tempos?

    A citao abaixo uma frase de Wittgenstein, filsofo da lin-guagem considerado geralmente obscuro, extrada do jogoVIII da segunda parte de suas Investigaes filosficas.

    Nossa linguagem descreve primeiramente uma imagem.O que deve acontecer com ela, como deve ser empregada,isso permanece no domnio das trevas. Mas claro que, sedesejarmos compreender o sentido de nossas afirmaes,o sentido deve ser pesquisado. A imagem, entretanto, pa-rece dispensar-nos dessa tarefa; ela j indica um determi-nado emprego. E, com isso, ela nos logra.

    (Wittgenstein, apud Os pensadores, 1984)

    Neste caso, a pergunta

    O cientista doubl de filsofo entende?

    mereceria, provavelmente, uma resposta positiva.

    Essa noo direcionada do uso da imagem mental que represen-ta um objeto traz, como conseqncia, que o conjunto de re-presentaes, com todas suas inter-relaes que, em soma,constituem o imaginrio de nosso conhecimento subjetivo, en-contrar dificuldades para se expressar, via qualquer forma dediscurso, pretendendo harmonizar o que pensamos em nossoforo interior, com o que expressamos com nossas palavras-ima-

  • Jaime Robredo 51

    gens, criadas, normalmente, em condies diferentes daquelasem que nos encontramos quando tentamos formalizar nossosconceitos. Em outras palavras, meu conhecimento e sua formade expresso terminam onde termina minha linguagem.

    Ento, possvel representar a realidade? Como?

    Voltemos no tempo ao Renascimento italiano, para dar umcerto destaque a trs grandes pintores que, no sculo XV, in-ventaram a perspectiva: Paolo Uccello,Thomas Massaccio ePiero della Francesca, e vejamos como andava o pensamentofilosfico naqueles tempos.

    Vamos dar uma olhada na obra de Paolo Uccello A cidade ide-al, representada na Figura 2. Mas, porque trazer essa pinturano meio de nossas consideraes filosficas? Primeiramenteporque, no Renascimento, a elaborao intelectual e a elabora-o artstica tm uma centralidade comum na relao do ho-mem com o mundo. Em segundo lugar porque escolhendouma obra do primeiro dos pintores citados, e mais particular-mente o afresco conhecido como A Cidade Ideal, que pode seradmirado no Palcio Ducal de Urbino, em Florena, podemosentender o imenso passo que foi dado pelo artista na percep-o sensorial de uma realidade que, uma vez apreendida,interiorizada, permite reproduz-la e eterniz-la, mesmo quan-do o original no existe mais.

    Figura 2. A Cidade Ideal, afresco de Paolo Uccello (1396-1475), Palcio Ducal deUrbino, Florena.

  • 52 Filosofia da cincia da informao ou cincia da informao e filosofia?

    Pela primeira vez as representaes pictricas, sem relevo nemprofundidade, so substitudas pela representao em pers-pectiva, e passam a ser vistas e entendidas por qualquer obser-vador como um retrato fiel da realidade.

    Mas, passemos a contemplar a obra de Uccello. O que vemos?

    A obra nos mostra a percepo sensorial visual de um obser-vador eu, qualquer um de ns situado numa posiocentral do quadro, eqidistante dos dois prdios laterais doprimeiro plano, e do edifcio central circular, ao tempo quenosso campo de viso se estende, em profundidade at os l-timos edifcios do fundo da praa, a uma distncia do observa-dor que pode ser estimada em mais ou menos 100 metros .Assim, de uma forma belssima, a arte nos faz perceber a rela-o entre o homem e o mundo, entre sujeito e objeto, um dosgrandes temas de reflexo filosfica.

    Ao mesmo tempo, se visualizarmos com maior ateno o an-dar trreo do prdio do primeiro plano da esquerda, cujo p-direito pode ser, digamos, de 4 metros e 50 centmetros uma estimativa plausvel em relao a altura de um italianoadulto e, enfim, observamos que o prdio do primeiro planoda direita tem, aproximadamente, a mesma altura que o daesquerda mesmo com nmero de andares diferentes ,podemos, mediante rpidas e simples operaes matemticas(aritmticas), deduzir (inferir), alturas, distncias e muito mais.

    E, ainda, se queremos repetir a experincia num ambiente real,uma praa que realmente existe, podemos dizer a um eventualacompanhante que estamos fazendo um exerccio filosfico-cientfico, utilizando recursos matemticos num sistematridimensional de coordenadas ortogonais, para deduzir dis-tncias, alturas, etc, sem usar nenhuma trena, usando unica-mente nossos recursos perceptivo-sensoriais, assim como

  • Jaime Robredo 53

    certos dados e informaes armazenados em nosso acervode conhecimentos, que validamnosso processo reflexivo.

    E, o que ainda melhor, se duvidamos de ns mesmos e denossos resultados (atitude ctica), podemos utilizar uma tre-na e medir empiricamente as distncias e alturas reais. O maissensacional que, provavelmente, se temos trabalhado cientifi-camente, aps nos liberarmos de previses, intuies ou ilu-ses infundadas (objetividade cientfica), a diferena entre oestimado e o medido no deveria ser muito grande. Para deixarao nosso embasbacado e paciente acompanhante ainda maisboquiaberto, podemos acrescentar que podemos, tambm, cal-cular a margem de erro de nossas estimativas frente as medi-das reais, para saber se a qualidade (veracidade) de nossomtodo suficientemente boa (em relao a nossas exignciasou parmetros referenciais) ou se deve ser melhorado. Aficam introduzidas as bases do mtodo cientfico emprico.

    Em resumo, cincia, filosofia e arte, assim como os conceitosde percepo, reflexo, deduo, etc., tudo, em certo modo,farinha do mesmo saco.

    Vale a pena destacar que a linha de pensamento renascentista,com sua viso integrativa de filosofia, cincia e arte e suas idiassobre a posio do homem no mundo e sobre a aquisio doconhecimento, sofreu considervel atraso com a posio radicaldo Iluminismo sobre a primazia da razo e com as dvidas exis-tenciais e fenomenolgicas sobre a validade das percepes sen-soriais, atraso que somente viria a ser recuperado no sculoXIX, reintegrando conceitos revisitados dos sculos anteriores,e abrindo o caminho, aps mltiplas e dolorosas vicissitudes, reaproximao de filosofia e cincia, a partir da segunda metadedo sculo XX.

  • 54 Filosofia da cincia da informao ou cincia da informao e filosofia?

    Querem outro exemplo extrado, ainda, do mundo das artes,que mostra como a observao cuidadosa e objetiva do mundoexterior, permite adquirir e definir conceitos, e estabelecersuas representaes para reaproveitamento em empreendi-mentos mais complexos e mais ambiciosos? Poder-se-ia dizer,que uma boa imagem pode valer mais que um longo discur-so. Seno, vejamos as prximas figuras.

    A Figura 3 foi extrada do Trait sur les principes de la peinture,de Roger de Piles (1709)4. Representa as qualidades primrias(propriedades: tamanho, forma, repouso, movimento, quan-tidade, etc.) e secundrias (percepes subjetivas: iluminao,sombras, contrastes, color, etc.) de formas esfricas, isoladasou em grupos, sob ngulos diferentes.

    Figura 3. Percepo e representao de objetos esfricos

  • Jaime Robredo 55

    A Figura 4 uma reproduo da Nature morte, de Jean-BaptisteChardin (1699-1779)5. Observe-se, comparando as duas figu-ras, a semelhana da representao das mas de Chardin e dasesferas de Delius. Observe-se tambm a centralidade da luzno quadro e a crescente penumbra medida que o olhar sedirige aos extremos, destacando-se, assim, o centro de inte-resse escolhido pelo artista.

    Figura 4. Nature morte, de Chardin (1760).

    Essas reflexes permitem compreender o processo vivenciadopelo artista, desde o momento em que percebe um ou vriosobjetos do mundo exterior, at conseguir represent-los medi-ante uma linguagem pictrica, imagtica, que reflete ou espelhauma realidade, de forma que quem observa o quadro pode re-construir mentalmente a realidade representada, visualizando-a, mesmo a vrios milhares de quilmetros de distncia ouquando os objetos (ou a cena) representados, j no existem mais.

  • 56 Filosofia da cincia da informao ou cincia da informao e filosofia?

    No difcil perceber que, trocando alguns termos (por exem-plo, quadro por documento, linguagem pictrica por lingua-gem escrita, etc.), pode-se descrever de forma semelhante oprocesso da aquisio de conhecimento por um observador domundo exterior (cientista, pesquisador, cronista, poeta...), atra-vs de suas percepes sensoriais, e de suas reflexes, paraposterior registro num documento escrito (ou codificado deforma diversa em meio digital), tornando-o acessvel a outros,via publicao impressa, difuso televisiva, e assim por diante,para tomar conhecimento de coisas e eventos, sem ter tidocom eles nenhum contato real.

    Assim, a reflexo filosfica sobre aquisio do conhecimento, so-bre seu registro, sobre sua comunicao, que desde sempre temocupado estudiosos e pensadores, muito pode contribuir para nosensinar a ver, pensar e viver melhor nosso quotidiano no mbitoda Cincia da Informao e de seus mltiplos desdobramentos.

    Retomemos agora o fio da meada, interrompido por nossas re-flexes artstico-filosficas, para nos perguntarmos qual seria nossaviso do legado do sculo XX, e qual o marco em que haveramosde trabalhar para construir um mundo mais bem informado e,conseqentemente, mais consciente. Poderamos dizer:

    A conscincia de que o homem, como indivduo e comointegrante de estruturas e espaos sociais ou deveria ser o centro do mundo.

    Converter essa conscincia em realidade vivida no dado gra-tuitamente; precrio o equilbrio entre esse anseio e as pres-ses dos poderes dominantes para re-escravizar, em benefcioprprio, uma parte da humanidade.

    A concentrao da tecnologia e do saber nas mos dos ricose poderosos que se auto-alimentam com seus ndices cres-centes de desenvolvimento e bem-estar um fato.

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    O acesso a tais recursos no ser dado aos mais carentes,seno no quadro de estruturas democrticas enquanto elasainda durarem , e isso, somente se existem mecanismospara fazer ouvir a voz do povo, voz que somente pode atin-gir o volume necessrio para ser escutada atravs da educa-o que abra as conscincias a um pensamento filosfico deesperana.

    A educao deve revisitar seus conceitos, aplicando umareengenharia metodolgica ao desenvolvimento da reflexo in-tegrada e crtica sobre todos os campos do saber, eliminandocompartimentos e subdivises arbitrrias.

    Os mtodos filosfico e cientfico no so opostos, mas com-plementares. No processo vertiginoso do desenvolvimentodo saber moderno e contemporneo, a reflexo especulativa(lgico-dialtica), aplicada a problemas em que os mtodosempricos so impossveis (estrutura e origem do universo,origem da vida, hereditariedade, estrutura da matria,corporeidade da luz, teoria quntica...), os clculos realiza-dos com novas ferramentas lgico-matemticas com auxliode recursos computacionais super-potentes, sustentaram avalidade das hipteses levantadas, corroboradas posterior-mente por novas descobertas impensadas at ento, abrindoo caminho a novas hipteses, etc.

    O progresso cientfico, como o processo histrico, no acon-tece de forma contnua, mas por saltos, interrupes e mudan-as resultantes de acontecimentos externos que normalmenteacarretam o surgimento de novos paradigmas, os quais substi-tuem ou mudam os pr-existentes. A aceitao desses novosparadigmas acontece aps a reflexo crtica e dialtica das co-munidades envolvidas (polticas, sociais, cientficas, artsticas...)e, em maior ou menor grau, do povo como um todo.

  • 58 Filosofia da cincia da informao ou cincia da informao e filosofia?

    As decises impostas, sem participao popular nem con-sulta a quem de direito, so despticas, tirnicas, ditatoriais,arbitrrias e antidemocrticas.

    Enquanto no se demonstre o contrrio esperamos quenunca a percepo de qualquer fato, fenmeno ou expe-rincia aproxima-se mais de uma elevada probabilidade deverdade, quando a percepo individual (intrinsecamentesubjetiva, em maior ou menor grau) confirmada pelo con-senso dos pares.

    O conceito de verdade , como o de espao e tempo, contin-gente e limitado, privilegiando os conceitos de finitude e con-tingncia; s vale aqui e agora, por enquanto, enquantono surge uma verdade melhor.

    A transcendncia que no pode ser demonstrada, comprova-da, deve ser ignorada (o que no o mesmo que ser negada).

    No espao infinito aberto mente humana, a percepo doreal s pode pretender atingir um nvel aceitvel de verdadeobjetiva, no tempo e no espao limitados, finitos, em queessa percepo acontece.

    A identificao individualizada de uma coisa acontece medi-ante a identificao dos atributos e propriedades das outrascoisas que ela no possui.

    A relao sujeito-objeto no se limita relao unidirecionalentre duas entidades, uma pensante e outra pensada, poisquando intervm outro sujeito pensante, a relao entre estee o sujeito pensante inicial torna-se recproca, com alternnciadas posies de sujeito e objeto.

    No campo econmico, a concentrao da riqueza coincidecom a acumulao do saber e da tecnologia. A criao artifici-al de necessidades desemboca num consumismo desenfrea-

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    do que comeou a ser fortemente criticado pelas correntesestruturalista, ps-estruturalista e ps-moderna.

    Dessas correntes parecem surgir alguns pontos de apoio paranovas orientaes do pensamento contemporneo, buscan-do, quando possvel, uma sntese entre opostos, que, talvez,so menos opostos do que se pensava.

    Deixando de lado toda deriva de auto-ajuda mercantilista, quenada tem a ver com cincia ou filosofia, a relao mente-corpovai se esclarecendo, identificando regies cerebrais, verdadei-ros centros fsico-qumicos e eltricos, que enviam sinais paraos msculos, nervos e rgos vitais, em resposta a emoes,impresses, sentimentos ou percepes sensrias, como si-nais ou mecanismos de defesa. Muitos conceitos, tais comopercepo, mente, memria, conscincia, processo cognitivo,raciocnio e, esprito, havero de ser revistos.

    O conceito de linguagem, natural ou no, como representao,cdigo, etc., precisa tambm de uma cura de rejuvenescimento.

    4. Cincia da informao e filosofia

    Vamos, finalmente, fazer uma reflexo sobre o ttulo desteCaptulo:

    Filosofia da Cincia da Informao ou Cincia da Informao e Filosofia?

    Sendo conhecimento, informao e comunicao conceitosindissociveis (para ns, cientistas e profissionais da Cinciada Informao), surpreendente observar a baixssima fre-qncia com que os filsofos da modernidade e da ps-modernidade utilizam os termos informao e comunicaona formulao de suas reflexes. A questo, em nosso modo

  • 60 Filosofia da cincia da informao ou cincia da informao e filosofia?

    de ver, ainda no aprofundada de forma satisfatria, levanta,imediatamente outra dvida.

    Ser que possvel como atestam a tradio e a prtica filo-sficas, desde a Antigidade at nossos dias pensar, falar,argir sobre conhecimento (teoria, aquisio e representao),memria, saber, discurso (estrutura, formalizao verbal ouescrita), comunicao, anlise do contedo dos registros doconhecimento, e outros conceitos correlatos, sem fazer usodo conceito de informao?

    Ou ser que o termo informao corresponde a um conte-do necessrio?

    No nossa inteno polemizar sobre o assunto. Algumas pistaspodem servir para aprofundar as reflexes sobre o conceito ea natureza (essncia?) da informao, foram apresentadasanteriorimente pelo autor (ROBREDO, 2003).

    Resumindo, a informao pode ser: registrada, duplicada,transmitida, armazenada, organizada, processada, recuperada.Sim, mas somente quando extrada da mente e codificada, pelalinguagem natural (falada ou escrita), seguindo normas e pa-dr