PARA CÁ, DE BAGDÁ: BREVE PANORAMA DA INFLUÊNCIA ÁRABE-ISLÂMICA NO PENSAMENTO OCIDENTAL DURANTE...
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PARA CÁ DE BAGDÁ: BREVE PANORAMA DA INFLUÊNCIA ÁRABE-
ISLÂMICA NO PENSAMENTO OCIDENTAL DURANTE A IDADE MÉDIA
José Caetano Dable Correa
Mestrando HCTE – UFRJ
RESUMO
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Palavras-chave: xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
“Eu ia muito a ópera no São Carlos, no teatro de ópera de Lisboa.
E eu ia sempre para o galinheiro, para a parte de cima, de onde
via uma coroa. O camarote real começava lá embaixo, ia até em
cima e fechava com uma coroa dourada enorme. Coroa essa que
vista do lado da plateia, dos camarotes era magnífica. Mas do
lado em que nós estávamos não era, pois a coroa só estava feita
entre as quartas partes e dentro era oca e tinha teias de aranha e
pó. Isso foi uma lição que eu nunca esqueci: para conhecer as
coisas há que dar-lhes a volta, dar-lhes a volta toda.”
José Saramago (trecho do documentário “Janela da Alma”)
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Síntese da ascensão da Civilização Árabe-Islâmica durante a Idade Média
Dois grandes períodos históricos podem ser bem delimitados para o mundo
árabe-islâmico: o pré-islâmico (até o início do século VII) e o islâmico, iniciado
com a Hégira (ano 622 da cronologia ocidental) e que perdura até hoje, apesar
de que, para a Ciência no mundo árabe, o período significativo correspondeu
do século IX ao XII, tendo Bagdá, Cairo e Córdoba como centros principais.
No decorrer do período islâmico, menos de um século passado sobre o retorno
de Maomé a Meca em 629, uma nova civilização tinha nascido. As forças
islâmicas tinham conquistado um território imenso que se entendia pela Síria,
pelo Egito e Pérsia. Ameaçavam a Índia e partes da Ásia Central, dominavam o
norte de África e entendiam-se até à Península Ibérica. Governar tal império
não era fácil. O primeiro califado, originalmente estabelecido em Damasco,
desmembrou-se. Na parte oriental, um outro califado (abássida) conseguiu uma
paz prolongada e um crescimento econômico propício ao desenvolvimento das
ciências e das artes. Foram os abássidas que transferiram a capital da
civilização islâmica para Bagdá e estimularam seu crescimento econômico e
cultural ao ponto de se tornar o epicentro do mundo árabe da época.
No século IX, o califa Harun-al-Rashid, referido no romance Mil e Uma Noites
como patrono das artes, criou em Bagdá uma biblioteca onde reuniu diversos
tradutores que compilavam manuscritos de diversas áreas do saber para a
língua árabe. Alguns anos depois, o califa al-Mamun fundou o Bait al-Hikma
(Casa da Sabedoria), um centro de investigação intelectual e tecnológica que
esteve ativo durante dois séculos. Destacou-se como produção da Casa da
Sabedoria o grande esforço de tradução, interpretação e desenvolvimento dos
manuscritos científicos por parte da civilização árabe. A civilização árabe se
encontrava então na época dos califados (que sucedeu o controle político-
religioso árabe após a morte do profeta Maomé).
Com a morte de Maomé em 632, houve a unificação dos povos da península
arábica e a expansão desta civilização em direção ao Egito, Palestina, Síria,
Pérsia e Armênia. Em apenas 15 anos, a expansão árabe fez império Bizantino
recuar e no início do século VII já haviam agregado também ao seu império o
norte da África e da Península Ibérica. Em seu auge, o domínio do império
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árabe se estendia oceano Atlântico até a Índia. Dominando politicamente esse
território, a civilização árabe formada até então por povos nômades, tem
acesso ao conhecimento das áreas conquistadas. De maneira distinta do
padrão de conquista dos povos europeus, ao invés de empenhar esforços em
destruir as culturas dos povos conquistados, os árabes não só mantiveram os
centros de conhecimento da época, como criaram novos.
Durante a dinastia dos Abássidas em 750 d.C. o califa Al Mansur inicia um
projeto de transformar Bagdá, a capital do império Árabe, em um epicentro
cultural. É criada a Casa da Sabedoria em Bagdá onde reuniram-se filósofos,
astrônomos, matemáticos, médicos e tradutores de várias partes do império em
um esforço monumental de compilação, tradução e nova síntese do
conhecimento humano produzido até então. Rivalidades políticas entre a
dinastia dos Abássidas e a dos Omíada fizeram estes últimos incentivassem
outros centros de investigação paralelos a Casa da Sabedoria em Bagdá. Um
destes “centros periféricos” foi criado em Córdoba, na Península Ibérica. Nesta
época, Córdoba recebeu o fluxo de conhecimento trazido através das rotas
comerciais do norte da África. Foi em Córdoba que viveu entre 1126 a 1198 um
dos pensadores árabes mais polêmicos e um dos principais comentadores da
filosofia grega de Aristóteles: Ibn Rushd, ou Averróis, como é conhecido no
ocidente. A filosofia de Averróis não se desenvolvia tendo como premissa ser
consoante com a fé islâmica, o que levou a grupos fundamentalistas
perseguirem sua obra na tentativa de eliminá-la do pensamento que estava
sendo erigido. Como em outros episódios históricos de censura intelectual, o
efeito foi oposto: diversas cópias das obras de Averróis foram distribuídas para
bibliotecas dentro e fora do império árabe.
A chegada ao ocidente cristão desta parcela da produção de conhecimento do
império árabe foi uma das maneiras através das quais a civilização cristã
retomou o acesso á filosofia grega, devidamente revista à luz da cultura árabe,
durante a idade média. Assim como a filosofia de Averróis não foi bem aceita
pela fé islâmica, tampouco foi por parte dos estudiosos da fé cristã. Averróis
defendia uma total separação entre razão e fé, o que obviamente nunca foi
uma linha de pensamento estimulada por instituições religiosas.
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Entra então em ação Tomás de Aquino: teólogo e futuro santo católico. Ao
chegar a Paris em 1269, encontrou os estudiosos aturdidos com uma questão
persistente: o que fazer com as novas traduções dos filósofos gregos que
chegaram por intermédio dos árabes? Antes de entrar para a igreja, Tomás
estudou na Universidade de Nápoles, financiada pelo imperador romano
Frederico II que estimulava o estudo do pensamento árabe. Tomás foi educado
em meio a discussões das obras dos pensadores árabes Avicena e Averróis
além do judeu Maimônides contra os quais já se posicionava criticamente ainda
na universidade.
Combalida pela avalanche intelectual árabe, a igreja incentivou a partir do
século XII o surgimento de novas escolas teológicas (ordens religiosas) que
fossem capazes de se posicionar intelectualmente frente ao novo
conhecimento árabe que se impunha. Neste contexto surge a ordem dos
Dominicanos da qual Tomás fará parte: uma “tropa de elite” formada por
intelectuais devidamente equipados com instrumentos de análise e
argumentação aristotélicos para proteger o ocidente do conhecimento herege
que vinha do oriente.
“A física aristotélica, transmitida para a cultura medieval,
graças aos árabes, foi incorporada e modificada em alguns
aspectos secundários pela filosofia religiosa de Santo Tomás de
Aquino. Esta se tornou a doutrina oficial da Igreja e do poder
temporal. O Motor Imóvel de Aristóteles e o Pai personalizado dos
cristãos haviam se tornado uma só coisa na síntese escolástica
medieval da filosofia grega com a teologia judaico-cristã. No início
da Idade Média esta síntese se dera entre a teologia cristã e a
filosofia platônica ou neoplatônica, passando depois ao
aristotelismo, dominante ao fim da idade média. Era limitante e
autoritária, mas confortante e inteligível para o senso comum a
visão de mundo que aquela filosofia passava.” ¹
¹ ROSA, Luiz Pinguelli – Tecnociências e Humanidades, Vol 1 - Ed. Paz e Terra
, pag. 81
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A ciência antes do método
Inicialmente, ciência, filosofia e religião não podiam ser separadas como
correntes de pensamento independentes; todas compunham juntas explicações
de mundo (causas imediatas e ontológicas) que teciam a noção de cosmos da
antiguidade. Antes do conhecimento cientifico se tornar hegemônico através
da cultura ocidental, outras civilizações já desenvolviam o pensamento
investigativo da natureza. Houve no oriente diversas correntes de pensamento
científico e produção de conhecimento técnico muito anterior a ciência
ocidental como observa-se na historiografia materialista das civilizações
chinesa, hindu e islâmica.
Apesar de uma série infindável de evidências históricas, o senso-comum de
que a ciência é uma produção cultural exclusivamente ocidental se consolida
por alguns motivos: A história ocidental descreve, em geral, a civilização
europeia como autogerada, tomando a cultura grega como predominantemente
europeia e abstraindo suas raízes em outras culturas. Mesmo depois de ter sua
periodicidade histórica apontada como anterior ao conhecimento científico
produzido pelo ocidente, os conhecimentos técnico e empírico desenvolvidos
por culturas não europeias não costumam ser incluídos na história da ciência, o
que delimita a noção de “ciência” quase exclusivamente dentro do campo
europeu ocidental.
Indo em direção oposta a essa etimologia da exclusão, alguns historiadores da
ciência apontam a importância de diversas culturas orientais na formulação do
campo de saber da ciência moderna. Além disto, pesquisadores descobriram
que civilizações indígenas já relacionavam o movimento das marés à variação
do ciclo lunar, períodos de seca e chuva bem como outros conhecimentos
obtidos por um empirismo randômico natural da experiência cotidiana com o
meio. Só muitos anos depois esse mesmo conhecimento foi validado como
científico ao ser (re)descoberto através da análise racional de dados
quantitativos obtidos empiricamente dentro do método clássico da ciência
formal.
Embora tenham sido os gregos os primeiros a submeterem o conhecimento ao
exame racional, para tentar traçar relações causais, o conhecimento empírico
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já havia aparecido no Egito e na Babilônia na forma de unidades e regras de
medidas, aritmética simples, calendário e periodicidade na astronomia. Regras
empíricas egípcias para relacionar distâncias medidas no terreno foram
convertidas em teoria geométrica a partir de Tales de Mileto e de Pitágoras de
Samos. Tales visitou o Egito e usou tabelas da Babilônia para prever um
eclipse; julgava que a Terra era um disco sólido flutuando na água, inspirado
em teorias dos egípcios e babilônios de que o universo era uma caixa fechada,
da qual a Terra era o chão. Os primeiros filósofos gregos tiraram grande parte
de suas constatações sobre a natureza de fontes de informação transmitidas
de culturas mais antigas, como a astronomia da Babilônia e a geometria do
Egito. O mérito dos gregos foi submetê-los a uma análise racional exaustiva
além de adicionar conhecimentos novos.
O sucesso do método científico desenvolvido no ocidente talvez consista
justamente da fusão do pensamento analítico-racional grego com o
pensamento tecno-empirista oriental que o antecederam.
Delineando “ciência árabe” na época da idade média
Nenhum historiador foi tão categórico como Pierre Duhem (1861-1916), que
escreveu: “Não há ciência árabe. Os sábios Maometanos foram sempre
discípulos mais ou menos fiéis dos Gregos, mas foram destituídos de qualquer
originalidade” (Lindberg,1992, p. 175). Embora imperativa, a visão de Duhem
estava amparada pelos dados históricos disponíveis na época – ou melhor
dizendo, pela ausência destes.
Esta tese, a de terem sido os árabes meros guardiões e transmissores da
ciência grega, sem terem acrescentado qualquer pensamento ou conceito
relevante para o desenvolvimento científico, parece, hoje em dia, superada.
A expressiva maioria dos historiadores da ciência atuais defende a noção de
que os árabes teriam estudado, interpretado e comentado o conhecimento que
se apropriaram durante a expansão do seu império. As observações feitas
pelos estudiosos árabes sobre a base de conhecimento grego atestam sua
capacidade especulativa e criativa.
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Baseando-se na historiografia contemporânea, pode-se entender que a
revolução científica europeia dos séculos XVI e XVII foi a continuação natural
de uma produção intelectual e técnica que já vinha se desenvolvendo
anteriormente na civilização árabe, hindu e chinesa e que chegou ao ocidente
com a expansão do império árabe durante a idade média.
O Pensamento tencno-empirista árabe
Os astrônomos árabes interpretavam o conhecimento já produzido por outras
civilizações com grande liberdade e se permitiam alterar elementos que não
condissessem com suas próprias observações. Os dados observacionais
produzidos pela investigação árabe eram obtidos por um empirismo que
dispunha de instrumentos técnicos extremamente apurados para época. No
entanto, o método usado na interpretação e correlação dos dados com a teoria
em construção seguia um raciocínio distinto da lógica analítica do pensamento
grego. A produção cientifica árabe de alguns pensadores como Avicena com
seu cânone de medicina, é continuamente revisitada pela ciência moderna na
busca de encontrar ali deduções empíricas que fogem do campo de
proposições lógicas do método científico utilizado sobre dados pontuais.
A Obra dos Comentadores Árabes lida no Ocidente
Ibn Rushd (1126-1198), ou Averróis como é mais conhecido no ocidente,
dedicou-se ao estudo da “partícula mínima” que pode-se chegar dividindo a
matéria. Para isto, partiu do conceito de substância utilizado por Aristóteles
para propor explicações para as mudanças dos estados físicos da matéria.
Aristóteles assumia uma ideia de “matéria prima” material: o que liga o estado
inicial ao final de uma transformação física da matéria é a substância desta
matéria, substância esta que não se circunscreve ao limite físico da matéria,
mas sim à sua potencialidade material. Para Aristóteles a matéria prima e a
forma substancial não existiriam através da matéria, tampouco independentes
desta, seriam então princípios determinantes. Averróis traz a discussão do
limite da possibilidade de divisão da matéria para uma lógica mais materialista
do que a empregada no pensamento aristotélico. Usa como exemplos
empíricos o fogo e o limite físico da divisão: ao removermos gradualmente
partes do fogo, este chegara a um mínimo e então se extinguirá; ao tentarmos
![Page 8: PARA CÁ, DE BAGDÁ: BREVE PANORAMA DA INFLUÊNCIA ÁRABE-ISLÂMICA NO PENSAMENTO OCIDENTAL DURANTE A IDADE MÉDIA](https://reader036.fdocumentos.tips/reader036/viewer/2022082418/5695d1781a28ab9b0296ab63/html5/thumbnails/8.jpg)
dividir sucessivamente em intervalos menores uma linha traçada na terra, nos
depararemos com o limite físico de operar uma nova divisão (embora seja
possível efetuá-la mentalmente). Averróis circunscreve o limite da divisibilidade
da matéria na sua própria dimensão física. Nota-se aqui um pensamento que
hoje seria classificado como tecnicista por operar nos limites da realidade
perceptível (e operacional) desprezando abstrações puramente mentais que
pudessem serem derivadas. O método científico atual deve muito do seu
pensamento técnico aos pensadores orientais. Embora desmerecidos no
ocidente pela sua devoção à fé como sistema de organização político-cultural,
talvez tivessem maior liberdade intelectual para desenvolver um pensamento
técnico emancipado das explicações místicas justamente por dedicarem à
religião a responsabilidade de lidar com a necessidade humana de explicações
primordiais, ontológicas e místicas.
Ibn Sina (980-1037), com nome latinizado para “Avicena” foi um pensador
árabe que continuou as investigações propostas pelo cristão neoplatônico João
Philoponus de Alexandria. Philoponus foi o primeiro a sintetizar uma crítica
sistemática a explicação aristotélica para o movimento e propor a esta uma
explicação alternativa tirando do ar o duplo papel de impulso e resistência ao
lançamento de projéteis. Avicena partiu da tese de força impressão do lançador
ao projetil proposta por Philoponus e concluiu que esta força tinha seu valor
alterado de acordo com a resistência do meio, deduzindo daí a impossibilidade
de vácuo no campo de ação dos movimentos observáveis. Avicena
desenvolveu um tratamento quantitativo para os movimentos deduzindo que se
imposta a mesma força de lançamento, a velocidade seria inversamente
proporcional ao peso dos projéteis. Outro crítico do estudo aristotélico do
movimento foi Ibn Bãja (Avanpace) que partindo da ideia de éter analisou a
possibilidade do movimento dos corpos celestes através desta tese de “fluido
perfeito”.
Alquimia
Entre os saberes árabes que mais se destacaram no mundo cristão ocidental,
destacam-se a o que se convencionou chamar de “Alquimia”. Na realidade,
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este não era um saber unificado, mas sim um conjunto de técnicas e
conhecimentos desenvolvidos designados pela palavra chemeia. Sua produção
não era apenas árabe, mas se originou da compilação de praticas realizadas
por diversos povos de civilizações como China, India, Pérsia, Mesopotâmia,
Síria e Egito. Ao serem incorporadas e desenvolvidas pela civilização árabe-
islâmica recebe o prefixo al tornando-se Alkymiya.
O nome árabe que figura como alquimista de maior importância foi Jabir Ibn
Hayyân (latinizado para “Geber”). No entanto, pouco se sabe sobre ele; alguns
historiadores apontam a possibilidade de um grupo de alquimistas assinar suas
produções sob este nome, o que era uma prática comum desde a Antiguidade.
Outro nome que se destaca é o de Abu Bakr Muhammad ibn Zakariyya
(conhecido no mundo latino como Al-Razi ou Razes). Sua obra deu grande
impulso no que viria a se tornar a medicina no ocidente. Conhecida como
iatroquímica, Al-Razi desenvolvia uma alquimia voltada para fins medicinais.
Buscando processos de transmutação, desenvolveu uma série de elixires
utilizados em seu hospital em Bagdá.
Conclusão
A criação e o desenvolvimento árabe-islâmico só foi possível pela conjunção de
dois poderosos fatores culturais aglutinadores: língua e religião. As conquistas
territoriais dos árabes, povo de origem semita, além da Península Arábica e da
Síria, em outras áreas (Iraque, Egito, Magreb e parte do Irã) “arabizaram”,
através de uma língua comum, toda esta região do Oriente Médio e Norte da
África. Outras etnias, porém, como os persas, os turcos, os curdos e os
berberes, não se “arabizaram” no sentido de adotar inicialmente uma mesma
língua, mas se “islamizaram”, adotando uma mesma referência mitológico-
religiosa e assim participando de uma confluência político-ideológica comum.
Desta forma, esses dois fatores de unidade cultural devem ser examinados em
conjunto, como expressão da mencionada característica arábico-islâmica, e
não de forma excludente. Pode-se então atribuir o grande desenvolvimento
cultural e científico da civilização árabe-islâmica à esta unidade linguística e
religiosa e graças a isto, uma confluência político-ideológica sobre a
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assimilação de fontes externas de conhecimento, ressignificação e
desenvolvimento de uma leitura própria.
Bibliografia consultada
ATTIE, Miguel - Falsafa – a Filosofia entre os Árabes (PDF disponível no site
pessoal do autor)
CRATO, Nuno - Da tradução à criação da ciência árabe - Revista História n.48,
Set 2002
GUERRA, Andréia - Breve História da Ciência Moderna, vol 1: Convergência
de saberes (Idade Média) - Zahar
HART-DAVIS, Adam - 160 séculos de ciência – vol 1: A Aurora da Ciência -
Duetto
LYONS, Jonathan – A Casa da Sabedoria – Zahar
RASHED, Rachid - Histoire des sciences arabes, Le Seuil, Paris.
ROSA, Carlos Augusto de Proença. - História da Ciência : da antiguidade ao
renascimento científico - FUNAG
ROSA, Luiz Pinguelli – Tecnociências e Humanidades, Vol 1 - Ed. Paz e Terra
RONAN, Colin – História Ilustrada da Ciência - Zahar
SZULC, Tadeus Witold - Abraão – Pai do Cristianismo, Islamismo e Judaísmo -
National Geographic, Dezembro 2001
VICENTINO, Claudio - História Geral
![Page 11: PARA CÁ, DE BAGDÁ: BREVE PANORAMA DA INFLUÊNCIA ÁRABE-ISLÂMICA NO PENSAMENTO OCIDENTAL DURANTE A IDADE MÉDIA](https://reader036.fdocumentos.tips/reader036/viewer/2022082418/5695d1781a28ab9b0296ab63/html5/thumbnails/11.jpg)
Anexo
ROSA, Carlos Augusto de Proença. - História da Ciência : da antiguidade ao renascimento
científico ─ vol 1 ─ Brasília : FUNAG, 2012. – pag 270